APÊNDICE VIII
ESBOÇO SOBRE ARTE MARCIAL E DIALÉTICA
Apesar de
suas popularidades, as artes marciais com raridade são tema de eruditos,
intelectuais etc., daqueles que pouco se movimentam. Esta obra busca introduzir
o marxismo e sua dialética em várias áreas, como nas questões “estoicas” das
lições de vida. Vejamos um esboço para um ensaio filosófico mais amplo, rumo a
uma proposta geral de luta.
O QUE DEFINE
UMA ARTE MARCIAL
De um amigo,
Jairo Resende, em conversa informal; afirmo que uma arte marcial se define, em
grande medida, pelos pontos corporais em que deseja acertar seu adversário. O
Jiu Jitsu procura os pontos nodais das “alavancas do corpo”, pescoço, ponto em
que o braço não pode girar, ou seja, naqueles pontos em que as partes do corpo
se conectam. O Boxe foca no queixo, no plexo solar etc. Já o Wing Chun procura
as partes moles e frágeis do corpo, em especial aqueles na “linha central”, no
meio, entre a esquerda e a direita corporal: joelho, saco escrotal, plexo
solar, estômago, garganta, olho, nariz, cerebelo.
A FORÇA DO
BOXE
A
efetividade do boxe ocidental deriva de sua extrema simplicidade, poucos
movimentos e golpes. Isso permite alta especialização, repetição continuada
(causa de um movimento útil à luta), poucas combinações. Na luta de rua, tal arte é limitada para
enfrentar, por exemplo, um inimigo com facas e madeira; além de ser uma arte um
por um. O boxe exige muita energia, o que não é em si um problema em lutas
curtas, como são as de rua.
CAPOERIA,
UMA ARTE ESPECIAL
Tal arte
disfarçou-se de dança para evitar repressão escravista. Com o movimento e o
gingado, protege as áreas sensíveis da parte alta do corpo e ataca de modo
efetivo o inimigo. Porém, muitas vezes degenera em arte de dança, em exibição.
Além do mais, apesar de sua genialidade, basta o inimigo procurar a curta
distância, no lugar do instinto de recuar, para a vida do capoeirista
complicar-se.
WING CHUN: O
SISTEMA DE LUTA DIALÉTICO!
Digo, com
alto nível de certeza, que a arte chinesa Wing Chun é, por enquanto, a mais
completa arte marcial, a superior (assim como os lutadores de Jiu Jitzu
consideram sua arte como a melhor – logo veremos porque ambos fazem a mesma
afirmação). Logo veremos seu limite e defeito, apesar desse elogio. Mas deve-se
fazer um alerta: se não se treina corretamente, de modo realista, claro que um
estudante perde com facilidade para, por exemplo, um lutador de boxe.
Vejamos
algumas características desse sistema dialético.
Unidade dos
opostos: defesa é ataque
Em geral, as
artes maciais fazem uma defesa passiva, ou seja, evitam o efeito do golpe
inimigo, mas não prejudicam o adversário. Já as principais defesas do Wing Chun
(tan sao, bon sao etc.) causam muita dor, desestimulam e fraturam o oponente.
Unidade dos
opostos: defesa é ataque
Os
movimentos nas artes marciais são defesa aqui, golpe ali – um após o outro,
vice-versa. No Wing Chun, ao mesmo tempo em que defende, ataca (soco etc.); ao
mesmo tempo em que ataca, defende (fecha partes do corpo contra possível
contra-ataque). Isso quebra o tempo da
luta, reduz o tempo de reação, causa surpresa etc.
Unidade dos
opostos: base
Como
organizar as pernas? Muay Thai põe o peso na parte anterior (gato) para
facilitar o chute – o karatê foca o peso na perna posterior (arqueiro) para dar
estabilidade. Isso, cada um, tem vantagens e limites. Os limites tentam ser
superados, na medida do possível, por exemplo, a estabilidade excessiva do
arqueiro é compensada como saltos pequenos e constantes, ficar pulando; ou o
movimento gingado da capoeira. Mas é no Wing Chun que encontramos o terceiro
excluído, que superar e aproveita ambos, pois o peso é igual nas duas pernas,
50% por 50%, o que permite tanto a estabilidade do arqueiro quanto a mobilidade
do gato. Algumas escolas de tal arte, muitas vezes charlatões, costumam colocar
o joelho “para dentro”, o que é um erro grosseiro; além disso, uma perna não
fica atrás da outra, formado uma linha, mas fica afastados por linha diagonal,
ao menos nas boas escolas.
Sistema
Como a
dialética na lógica, a dialética do Wing Chun forma um sistema total, por
exemplo, luta em todas as distâncias possíveis – e com todas as variações
possíveis. Isso de tal forma revolucionário que, não sendo “arte” mas “sistema”,
segundo seus próprio adeptos, tem um terceiro nível chamado Biu Jee, que é uma
crítica ao próprio sistema, um colateral, que preenche suas falhas e limites
(nesses nível, o praticante também desenvolve seu próprio estilo, sua maneira
ou modo). Assim como a dialética vai de 3 em 3, em tríade, o sistema citado vai
de tríade em tríade, por exemplo, o primeiro nível, de um tríada básica, Siu
Lin Tau, divide-se também em três.
Sistemático – do abstrato ao concreto
A dialética
sistemática do abstrato ao concreto faz como no aprendizado da língua: começa
pela vogal, consoante, sílabas, palavras, frases etc. Os movimentos do Wing
Chun não se estruturam como blocos fixos ou katás; aprende-se cada golpe e
defesa, de modo individual e abstrato, então o praticante passa a formar
“frases”, combinações de acordo com as circunstâncias.
Relação com
o inimigo
Toda a
movimentação do Wing Chun parte do princípio de que o inimigo é mais forte,
mais rápido, maior, em maior número e mais habilidoso. Assim, tal sistema usa a
estrutura óssea dura para a luta, escolhe as partes moles do corpo do inimigo
para golpear, quebra o tempo de luta como com defesa e ataque simultâneos etc.
Dispersar
energia
O Wing chun
não opõe, a uma força que vai do para o oeste, uma força para o leste, no
sentido oposto. Ele direciona a força inimiga para o lado, para o norte ou sul
– ou usa a direção do golpe do inimigo contra ele próprio. Se o inimigo vai
para frente, recua; se o inimigo vai para trás, avança. O Wing chun procura ir
para a lateral do oponente, sair de seu centro, evita o frontal.
Sistematizar
o instinto
Um dos
aspectos revolucionários do Wing Chun é que seus movimentos são, em geral, os
mesmos movimentos que alguém sem nenhuma habilidade faz quando é atacado, ou
seja, torna o instinto algo consciente. Isso também vale para a tática. Quando
enfreamento alguém de enorme envergadura e tamanho, tendemos naturalmente a
focar nos seus braços, não na cabeça etc.; isso faz o Wing Chun de modo
consciente, para desestimular o inimigo, quebrar suas armas.
Unidade Wing
Chun e Jiu Jitzu
As duas
artes são de mesmo princípio, as duas mais efetivas em suas respectivas áreas.
O Wing Chun é a Jiu Jitzu em pé; o Jiu Jitzu éo Wing Chun no chão. Observemos:
1. Princípio do contato
As duas
buscam o contado no combate, a aproximação, a curta distância. Assim, deixam de
usar tanto a visão, e usam o tato (chi sao) como base de seus movimentos e
golpes.
2. Princípio da triangulação, do triângulo, da
tríade
Ambos usam
tal metáfora geométrica abstrata para dar base aos seus movimentos.
3. Principio da superioridade formal do inimigo
O Jiu Jitzu
leva ao chão o adversário para anular sua habilidade de luta e sua
superioridade física. O Wing Chun faz isso por outros modos, como já expomos.
4. Princípio da suavidade, da arte suave
Ambos
fizeram uma lenda de que não exigem tanta força, mas exigem. Mesmo assim, o
princípio tem valor relativo, de economia e otimização de energia.
5. Princípio do aprendizado rápido
Ambos exigem
que o aluno aprenda o central no começo, não no fim, não nos último níveis.
6.Princípio da gestão da força do oponente
O defeito do
Jiu itzu é apenas focar em um inimigo, um por um, no chão. Mas ainda há unidade
com a Wing Chun: ambos tornaram-se únicos e superiores quando surgiram porque apresentaram
formas inteiramente novas de luta, exigindo um tempo de adaptação por parte de
outras artes marciais.
Os defeitos
do Wing Chun
Apesar de
dialético, o sistema tem seus limites.
1. Excessivamente complexo
Boa arte é
repetição, mas o grande programa do Wing Chun exige muito conhecimento, pouca
repetição
2. Pouca beleza
Esse defeito
é sua qualidade, pois foca na efetividade, na prática, no resultado.
3. Não tem um sistema no chão
Pensando na
guerra antiga, cair é perder.
4. Exige inteligência de seu praticante
Pessoas de
baixa cognição preferirão o boxe, por exemplo.
5. Não foca nas armas possíveis
6. Não realismo no treino, não uso de
ferramentas (para proteger boca etc.).
7. Princípio budistas da paz
O inimigo
costuma atacar primeiro, o que lhe dá vantagem.
8. Idealismo
Para o Wing
Chun, deve-se manter sereno na batalha. Um erro. Ora, as batalhas de rua são curtas e exigem
alta adrenalina (tal substância fortalece o lutador). A emoção nem sempre nega
a razão, pois muitas vezes a emoção eleva a razão assim como a razão eleva a
emoção. Ademais, a “paz” do lutador deriva de treinos muito realistas,
concretos.
MMA
Wing Chun e
Krav Magá são inúteis para o MMA porque o local em que seus golpes principais
querem acertar – pescoço, saco escrotal etc. – são proibidos no esporte. De
qualquer maneira, podem oferecer um movimento ou outro, além de táticas e
princípios de combate aos boxeadores.
Esporte
marcial
Várias artes
marciais têm degenerado em esportes, ou seja, tornam-se menos efetivos. Em campeonatos,
lutadores de Karatê perdem a medalha exato porque nocautearam o adversário, por
excesso de agressividade… Mesmo assim, importante, até vital, participar de
tais eventos para acostumar-se ao estresse, à luta e ao teste de habilidade.
POR UMA ARTE
MARCIAL REVOLUCIONÁRIA, DIALÉTICA
Tenho
meditado sobre os princípios de uma arte marcial, ou melhor, um sistema tão
completo quanto possível, útil para treinamentos rápidos e efetivos no
cotidiano. Vejamos os elementos com o que tenho avançado – chamo-o sistema
Batalha – até agora, a partir de princípio do Wing Chun e da dialética
marxista.
1. Princípio da simplicidade do boxe
A arte
marcial nova deve ter poucos movimentos, a maioria do Wing Chun, forma Siu Lin
Tao de preferência, além dos ganchos e socos laterais de tal arte, e da faixa
branca e parte das próximas do Jiu Jitzu.
2. Princípio da ferramenta
O estudante
deve começar seu ensino aprendendo ferramentas, faca e cacetetes, princípio de
improviso com cadeiras etc. Nós somos um animal que produz ferramentas, logo
devemos usar tal princípio. A base da mão livre do Karatê deve ser substituída:
evitar lutar sem um objeto. Em seus filmes, assim faz Jackie Chan. Os
movimentos e as guardas com ferramentas devem ser, grosso modo, os mesmos de
com as mãos livres (ver pontos 5 e 6) de modo que aprender de uma forma é
aprender indiretamente a etapa seguinte.
3. Pequenos Katás móveis para repetição rotineira
4. Usar da capoeira o golpe “negativo” e suas
variações, para casos de queda – mas evitar todo tipo de chute alto, apenas os
chutes baixos e mais fáceis, além de seguros, do Wing Chun serão usados.
5. Guarda invertida
Assim como
na capoeira, a mão-braço na frente é a com a da perna atrás (um braço mais
recuado para esquerda, por exemplo, e o outro braço também para a esquerda e
alto). Isso gera uma positiva tensão corporal e engana o inimigo, que pensa ter
um espaço livre para atacar. Via de regra, mãos livres ou com armas, deve-se
focar na guarda próxima à da capoeira.
6. Variedade de guardas
Usa-se a guarda
principal do Wing Chun, do Boxe, do Muai Tai, do ponto anterior (“capoeira”) e
uma guarda invisível com braços cruzados (que permite, por exemplo, tan da,
soco com defesa, de maneira rápida). Cada situação exige sua guarda ou
variação.
7. Treino com roupas comuns, similares às usadas
em ambiente de conflito real
8. Agregar o anti-Jiu Jitzu do mestre Wing Chun
Pedro Santos, do Ceará (sua escola e a do “Wing Chun aplicado” são as
melhores).
9. Usar equipamentos de treino modernos para dar
máximo realismo
10. No nível final, deve-se ensinar a
último nível de distância de combate, a fuga, ou aproximação, com Parkour
Assim,
superamos, em geral, os limites do Wing Chun, seus defeitos, a partir dele
mesmo. Grosso modo, coma guarda dos braços de capoeira, propomos a fusão
daqueles movimentos e técnicas mais usados no Wing Chun e no Jiu Jitzu. Talvez,
se não tornar o sistema muito complexo, agregar algo simples para “derrotar o
adversário na própria queda” próprio do Judô, em especial o novo judô do Piauí.
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