domingo, 28 de janeiro de 2024

ESBOÇO SOBRE ARTE MARCIAL E DIALÉTICA

 

APÊNDICE VIII

ESBOÇO SOBRE ARTE MARCIAL E DIALÉTICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar de suas popularidades, as artes marciais com raridade são tema de eruditos, intelectuais etc., daqueles que pouco se movimentam. Esta obra busca introduzir o marxismo e sua dialética em várias áreas, como nas questões “estoicas” das lições de vida. Vejamos um esboço para um ensaio filosófico mais amplo, rumo a uma proposta geral de luta.

 

O QUE DEFINE UMA ARTE MARCIAL

De um amigo, Jairo Resende, em conversa informal; afirmo que uma arte marcial se define, em grande medida, pelos pontos corporais em que deseja acertar seu adversário. O Jiu Jitsu procura os pontos nodais das “alavancas do corpo”, pescoço, ponto em que o braço não pode girar, ou seja, naqueles pontos em que as partes do corpo se conectam. O Boxe foca no queixo, no plexo solar etc. Já o Wing Chun procura as partes moles e frágeis do corpo, em especial aqueles na “linha central”, no meio, entre a esquerda e a direita corporal: joelho, saco escrotal, plexo solar, estômago, garganta, olho, nariz, cerebelo.

 

A FORÇA DO BOXE

A efetividade do boxe ocidental deriva de sua extrema simplicidade, poucos movimentos e golpes. Isso permite alta especialização, repetição continuada (causa de um movimento útil à luta), poucas combinações.  Na luta de rua, tal arte é limitada para enfrentar, por exemplo, um inimigo com facas e madeira; além de ser uma arte um por um. O boxe exige muita energia, o que não é em si um problema em lutas curtas, como são as de rua.

 

CAPOERIA, UMA ARTE ESPECIAL

Tal arte disfarçou-se de dança para evitar repressão escravista. Com o movimento e o gingado, protege as áreas sensíveis da parte alta do corpo e ataca de modo efetivo o inimigo. Porém, muitas vezes degenera em arte de dança, em exibição. Além do mais, apesar de sua genialidade, basta o inimigo procurar a curta distância, no lugar do instinto de recuar, para a vida do capoeirista complicar-se.

 

WING CHUN: O SISTEMA DE LUTA DIALÉTICO!

Digo, com alto nível de certeza, que a arte chinesa Wing Chun é, por enquanto, a mais completa arte marcial, a superior (assim como os lutadores de Jiu Jitzu consideram sua arte como a melhor – logo veremos porque ambos fazem a mesma afirmação). Logo veremos seu limite e defeito, apesar desse elogio. Mas deve-se fazer um alerta: se não se treina corretamente, de modo realista, claro que um estudante perde com facilidade para, por exemplo, um lutador de boxe.

Vejamos algumas características desse sistema dialético.

 

Unidade dos opostos: defesa é ataque

Em geral, as artes maciais fazem uma defesa passiva, ou seja, evitam o efeito do golpe inimigo, mas não prejudicam o adversário. Já as principais defesas do Wing Chun (tan sao, bon sao etc.) causam muita dor, desestimulam e fraturam o oponente.

 

Unidade dos opostos: defesa é ataque

Os movimentos nas artes marciais são defesa aqui, golpe ali – um após o outro, vice-versa. No Wing Chun, ao mesmo tempo em que defende, ataca (soco etc.); ao mesmo tempo em que ataca, defende (fecha partes do corpo contra possível contra-ataque).  Isso quebra o tempo da luta, reduz o tempo de reação, causa surpresa etc.

 

Unidade dos opostos: base

Como organizar as pernas? Muay Thai põe o peso na parte anterior (gato) para facilitar o chute – o karatê foca o peso na perna posterior (arqueiro) para dar estabilidade. Isso, cada um, tem vantagens e limites. Os limites tentam ser superados, na medida do possível, por exemplo, a estabilidade excessiva do arqueiro é compensada como saltos pequenos e constantes, ficar pulando; ou o movimento gingado da capoeira. Mas é no Wing Chun que encontramos o terceiro excluído, que superar e aproveita ambos, pois o peso é igual nas duas pernas, 50% por 50%, o que permite tanto a estabilidade do arqueiro quanto a mobilidade do gato. Algumas escolas de tal arte, muitas vezes charlatões, costumam colocar o joelho “para dentro”, o que é um erro grosseiro; além disso, uma perna não fica atrás da outra, formado uma linha, mas fica afastados por linha diagonal, ao menos nas boas escolas.

 

Sistema

Como a dialética na lógica, a dialética do Wing Chun forma um sistema total, por exemplo, luta em todas as distâncias possíveis – e com todas as variações possíveis. Isso de tal forma revolucionário que, não sendo “arte” mas “sistema”, segundo seus próprio adeptos, tem um terceiro nível chamado Biu Jee, que é uma crítica ao próprio sistema, um colateral, que preenche suas falhas e limites (nesses nível, o praticante também desenvolve seu próprio estilo, sua maneira ou modo). Assim como a dialética vai de 3 em 3, em tríade, o sistema citado vai de tríade em tríade, por exemplo, o primeiro nível, de um tríada básica, Siu Lin Tau, divide-se também em três.

 

 Sistemático – do abstrato ao concreto

A dialética sistemática do abstrato ao concreto faz como no aprendizado da língua: começa pela vogal, consoante, sílabas, palavras, frases etc. Os movimentos do Wing Chun não se estruturam como blocos fixos ou katás; aprende-se cada golpe e defesa, de modo individual e abstrato, então o praticante passa a formar “frases”, combinações de acordo com as circunstâncias.

 

Relação com o inimigo

Toda a movimentação do Wing Chun parte do princípio de que o inimigo é mais forte, mais rápido, maior, em maior número e mais habilidoso. Assim, tal sistema usa a estrutura óssea dura para a luta, escolhe as partes moles do corpo do inimigo para golpear, quebra o tempo de luta como com defesa e ataque simultâneos etc.

 

Dispersar energia

O Wing chun não opõe, a uma força que vai do para o oeste, uma força para o leste, no sentido oposto. Ele direciona a força inimiga para o lado, para o norte ou sul – ou usa a direção do golpe do inimigo contra ele próprio. Se o inimigo vai para frente, recua; se o inimigo vai para trás, avança. O Wing chun procura ir para a lateral do oponente, sair de seu centro, evita o frontal.

 

Sistematizar o instinto

Um dos aspectos revolucionários do Wing Chun é que seus movimentos são, em geral, os mesmos movimentos que alguém sem nenhuma habilidade faz quando é atacado, ou seja, torna o instinto algo consciente. Isso também vale para a tática. Quando enfreamento alguém de enorme envergadura e tamanho, tendemos naturalmente a focar nos seus braços, não na cabeça etc.; isso faz o Wing Chun de modo consciente, para desestimular o inimigo, quebrar suas armas. 

 

Unidade Wing Chun e Jiu Jitzu

As duas artes são de mesmo princípio, as duas mais efetivas em suas respectivas áreas. O Wing Chun é a Jiu Jitzu em pé; o Jiu Jitzu éo Wing Chun no chão. Observemos:

 

1.  Princípio do contato

As duas buscam o contado no combate, a aproximação, a curta distância. Assim, deixam de usar tanto a visão, e usam o tato (chi sao) como base de seus movimentos e golpes.

2.  Princípio da triangulação, do triângulo, da tríade

Ambos usam tal metáfora geométrica abstrata para dar base aos seus movimentos.

3.  Principio da superioridade formal do inimigo

O Jiu Jitzu leva ao chão o adversário para anular sua habilidade de luta e sua superioridade física. O Wing Chun faz isso por outros modos, como já expomos.

4.  Princípio da suavidade, da arte suave

Ambos fizeram uma lenda de que não exigem tanta força, mas exigem. Mesmo assim, o princípio tem valor relativo, de economia e otimização de energia.

5.  Princípio do aprendizado rápido

Ambos exigem que o aluno aprenda o central no começo, não no fim, não nos último níveis.

6.Princípio da gestão da força do oponente

 

O defeito do Jiu itzu é apenas focar em um inimigo, um por um, no chão. Mas ainda há unidade com a Wing Chun: ambos tornaram-se únicos e superiores quando surgiram porque apresentaram formas inteiramente novas de luta, exigindo um tempo de adaptação por parte de outras artes marciais.

 

Os defeitos do Wing Chun

Apesar de dialético, o sistema tem seus limites.

1.  Excessivamente complexo

Boa arte é repetição, mas o grande programa do Wing Chun exige muito conhecimento, pouca repetição

2.  Pouca beleza

Esse defeito é sua qualidade, pois foca na efetividade, na prática, no resultado.

3.  Não tem um sistema no chão

Pensando na guerra antiga, cair é perder.

4.  Exige inteligência de seu praticante

Pessoas de baixa cognição preferirão o boxe, por exemplo.

5.  Não foca nas armas possíveis

6.  Não realismo no treino, não uso de ferramentas (para proteger boca etc.).

7.  Princípio budistas da paz

O inimigo costuma atacar primeiro, o que lhe dá vantagem.

8.  Idealismo

Para o Wing Chun, deve-se manter sereno na batalha. Um erro.  Ora, as batalhas de rua são curtas e exigem alta adrenalina (tal substância fortalece o lutador). A emoção nem sempre nega a razão, pois muitas vezes a emoção eleva a razão assim como a razão eleva a emoção. Ademais, a “paz” do lutador deriva de treinos muito realistas, concretos.

 

MMA

Wing Chun e Krav Magá são inúteis para o MMA porque o local em que seus golpes principais querem acertar – pescoço, saco escrotal etc. – são proibidos no esporte. De qualquer maneira, podem oferecer um movimento ou outro, além de táticas e princípios de combate aos boxeadores.

 

Esporte marcial

Várias artes marciais têm degenerado em esportes, ou seja, tornam-se menos efetivos. Em campeonatos, lutadores de Karatê perdem a medalha exato porque nocautearam o adversário, por excesso de agressividade… Mesmo assim, importante, até vital, participar de tais eventos para acostumar-se ao estresse, à luta e ao teste de habilidade.

 

 

POR UMA ARTE MARCIAL REVOLUCIONÁRIA, DIALÉTICA

Tenho meditado sobre os princípios de uma arte marcial, ou melhor, um sistema tão completo quanto possível, útil para treinamentos rápidos e efetivos no cotidiano. Vejamos os elementos com o que tenho avançado – chamo-o sistema Batalha – até agora, a partir de princípio do Wing Chun e da dialética marxista.

1.  Princípio da simplicidade do boxe

A arte marcial nova deve ter poucos movimentos, a maioria do Wing Chun, forma Siu Lin Tao de preferência, além dos ganchos e socos laterais de tal arte, e da faixa branca e parte das próximas do Jiu Jitzu.

2.  Princípio da ferramenta

O estudante deve começar seu ensino aprendendo ferramentas, faca e cacetetes, princípio de improviso com cadeiras etc. Nós somos um animal que produz ferramentas, logo devemos usar tal princípio. A base da mão livre do Karatê deve ser substituída: evitar lutar sem um objeto. Em seus filmes, assim faz Jackie Chan. Os movimentos e as guardas com ferramentas devem ser, grosso modo, os mesmos de com as mãos livres (ver pontos 5 e 6) de modo que aprender de uma forma é aprender indiretamente a etapa seguinte.

3.  Pequenos Katás móveis para repetição rotineira

4.  Usar da capoeira o golpe “negativo” e suas variações, para casos de queda – mas evitar todo tipo de chute alto, apenas os chutes baixos e mais fáceis, além de seguros, do Wing Chun serão usados.

5.  Guarda invertida

Assim como na capoeira, a mão-braço na frente é a com a da perna atrás (um braço mais recuado para esquerda, por exemplo, e o outro braço também para a esquerda e alto). Isso gera uma positiva tensão corporal e engana o inimigo, que pensa ter um espaço livre para atacar. Via de regra, mãos livres ou com armas, deve-se focar na guarda próxima à da capoeira.

6.  Variedade de guardas

Usa-se a guarda principal do Wing Chun, do Boxe, do Muai Tai, do ponto anterior (“capoeira”) e uma guarda invisível com braços cruzados (que permite, por exemplo, tan da, soco com defesa, de maneira rápida). Cada situação exige sua guarda ou variação.

7.  Treino com roupas comuns, similares às usadas em ambiente de conflito real

8.  Agregar o anti-Jiu Jitzu do mestre Wing Chun Pedro Santos, do Ceará (sua escola e a do “Wing Chun aplicado” são as melhores).

9.  Usar equipamentos de treino modernos para dar máximo realismo

10.            No nível final, deve-se ensinar a último nível de distância de combate, a fuga, ou aproximação, com Parkour

Assim, superamos, em geral, os limites do Wing Chun, seus defeitos, a partir dele mesmo. Grosso modo, coma guarda dos braços de capoeira, propomos a fusão daqueles movimentos e técnicas mais usados no Wing Chun e no Jiu Jitzu. Talvez, se não tornar o sistema muito complexo, agregar algo simples para “derrotar o adversário na própria queda” próprio do Judô, em especial o novo judô do Piauí.

 

 

 

 

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