CENTRISMO – DOENÇA SENIL DO COMUNISMO
Quando
escreveu Esquerdismo, Lenin tinha em mente um radicalismo estéreo no movimento
comunista. Hoje, todo tipo de oportunista usa tal obra para pensar o erro
oposto, o oportunismo de tipo militante. Ultraesquerdismo e reformismo (como o
centrismo) são dois lados da mesma moeda, acabam no mesmo erro, na mesma
politica etc. Estão de mãos dadas. Moreno, o maior trotskista depois de
Trotsky, teve de combater mais o perfil ultra relativo ao perfil oportunista.
Por exemplo, a tara geral por formar guerrilhas independente das circunstâncias
concretas, a vontade de levantar sempre as palavras de ordem as mais radicais
etc. Mas, com a queda do chamado socialismo real, a vara girou-se para o polo
oposto. Hoje, quem canta a Internacional não acredita de fato naquilo que
defende. Surge um teatro aonde o leninismo é defendido de modo apaixonado, mas
ainda teatral. São constrangedores os elogios exagerados para Lenin enquanto
defende-se um governo burguês de esquerda.
O grande
escritor Saramago, embora centrista honesto, afirmou ser comunista por uma
questão hormonal. Ao envelhecer, um veterano comunista adoece, perde hormônio,
sente que algo como revolução tornou-se muito perigoso para si… Acovarda-se,
seu corpo e sua mente decaem. Seu estilo de vida pede moderação, meio-termo,
mais negociações. Assim, esse tipo contamina a direção dos partidos vermelhos.
Claro, eis apenas um motivo, o menor, do oportunismo dito vermelho. O
ultraesquerdismo deriva, ao contrário, mais da imaturidade política e pessoal.
Os velhos mencheviques riam com ar superior da larga juventude dos membros do
bolchevismo. Mesmo jovem, Lenin era nomeado “o velho” entre seus camaradas.
O GOVERNISMO
Há clara
razão para os intelectuais comuns evitarem os textos políticos de Marx. Querem
um mouro apenas pesquisador, nada prático. Mais: em momento algum ele declara
apoio a qualquer governo burguês. A independência frente a todos os tipos de
governo é um princípio básico do marxismo. Apenas o governo operário de
democracia direta pode ter nossa defesa, ainda que somente crítica.
Mas os
trotskistas cedem à pressão hostil na luta de classes. Basta sentir o quente
bafo do fascismo e do golpe sobre seus pescoços gelados para recuarem e
apoiarem a esquerda do capital. Assim, prepara-se o caminho da derrota. Como
nesta época revela-se impossível profundas reformas, os governos de esquerda
fazem duros ataques à qualidade de vida da maioria, que hoje empurra estes para
os braços da extrema-direita.
A história
ensina, mas é preciso certa posição social para aprender de fato. É claro que,
em certos momentos, defendemos o voto crítico na esquerda burguesa contra o
candidato neofascista. Isso não cria qualquer dependência. Mas apoiar, mesmo se
com críticas formais, qualquer governo é enganar os trabalhadores de já. Para o
oportunismo, o problema não é o presidente, mas aquele ministro liberal… No
entanto, os dirigentes de Estado têm tudo, menos inocência. Sabem o que fazem,
sabem a que classe servem.
A questão
toda é que, sob o capitalismo, impossível uma economia planejada. Mesmo que o
Estado faça muito, a realidade econômica tem tal grau de autonomia de modo que
o poder estatal pode ter influências, porém nunca determinar os ritmos
comerciais, produtivos etc. Se o governo passa por um período de grande
crescimento econômico, então, vida de regra, tem apoio popular, reelege-se etc.
Se o governo, ao contrário, ou depois, passa pela inevitável crise do capital,
então, desmoralizar-se, cai etc. Tanto faz ser de direita ou de esquerda. O
governo neoliberal de FHC reelegeu-se em primeiro turno, contra gigantes como
Lula e Ciro, porque conheceu prosperidade; mas hoje é um desprezível na memória
da maioria desde a desigual crise mundial desde o fim da década de 1990, seu
segundo mandato. Ou seja, nada das medidas governamentais determina se o
governo terá ou não apoio, se será ou não mais reformista – deve-se mudar o
sistema de economia, não o governo fantoche de plantão. Um ensinamento básico
da tradição marxista que insistem em esquecer.
O retorno de
um fascismo “eleitoral” nada mais é que sinal doentio de um sistema econômico à
beira do seu fim, incapaz de melhorar a vida da maioria. Se queremos acabar com
o nazismo, devemos destruir sua fonte – o capital. A necessidade dos
capitalistas de aprofundarem os ataques sociais obriga fechar o regime político
se possível. A era dos golpes retornou.
Lenin pensou
que os comunistas ingleses deveriam facilitar o Partido Trabalhista entrar no
poder. Não foi porque queria um bom governo, mas porque facilitaria a revolução
os trabalhadores já terem se desiludido com o velho partido opositor, traidor.
ENTRISMO
TWI e a ASI,
dois partidos internacionais trotskystas, transformaram em tática permanente
estar dentro de organizações reformistas. Fazem tudo, menos preparar um partido
próprio, grande o bastante, para seguir seu caminho. A história já provou que
sem um partido centralizado nunca poderemos vencer uma sempre difícil revolução
e uma guerra civil que é consequência natural de tal revolucionamento.
Ao conviver
muito tempo por dentro de partidos amarelos, os revolucionários criam vários
vícios do meio ambiente reformista e centrista. Então, torna-se, quanto mais o
tempo passa, mais difícil pensar grandes voos, construir uma organização
própria.
O medo
correto da marginalidade leva ao erro oposto: fugir dela a todo custo. Os
Bolcheviques foram contra a guerra mundial quando seu país inteiro estava numa
onda nacionalista e belicista. Os seus militantes apanhavam na porta das
fábricas quando panfletavam contra a guerra. Mas suportaram a marginalidade em
nome de ganhos futuros e em nome de uma política de todo correta. É preciso
saber ser minoria, marginal e maioria.
Lenin e
Trotsky pensaram que seus partidos, em alguns casos, poderiam entrar em outros
partidos de esquerda. Mas apenas para ganhar jovens militantes radicalizados e,
depois, mais breve possível, construir sua própria, ainda pequena, corrente.
PERFIL DEC
LASSE
O perfil de
classe típico do centrismo é a classe média, incluso a burocracia sindical,
entre o operário e o burguês. São até cientes de que o perfil classista de suas
organizações pode gerar degeneração, mas sequer suspeitam que já estão muito
afetados pela baixa presença operária em seus organismos. É um idealismo
tacanho como se a inteligência por si salvasse tais correntes de sua composição
social concreta tantos anos depois.
OPRESSÕES –
PAUTAS DEMOCRÁTICAS
A TWI
confunde reivindicar a classe operária com absorver para si a consciência
atrasada da mesma classe. Assim, caem no erro de serem contra o feminismo, a
luta LGBTT, a legalização das drogas etc. Ou seja, ignoram as pautas
democráticas. Por isso, houve uma ruptura internacional que gerou a ASI com o
erro oposto de dar muito peso a tais pautas não em si socialistas.
Há, em nosso
tempo, uma crise das opressões, tanto mais no chamado ocidente. Devemos
combinar pautas classistas, econômicas, transicionais com pautas democráticas.
Eis a revolução permanente. Por dificuldades extras, mulheres, negros, gays,
imigrantes tendem a ser os mais disciplinados na revolução – por seus modos de
vida e por mais necessitarem do socialismo. Serão a vanguarda da vanguarda.
TWI e ASI
comentem erros opostos, ambos derivados do centrismo.
O centrismo,
por ter grande presença de servidores públicos, pensa com frequência no “Fora
governo” de plantão. Quer mudar de patrão, mas não de Estado. Faz isso sem o
querer, sem consciência, mas faz ainda. Ao contrário, deseja um aparelho
estatal mais forte, fonte de seu salário.
O partido
internacional Fração Trotskista é ainda mais radical: querem transformar os
serviços que devem ser públicos, educação e saúde etc., em cooperativas, logo,
propriedade privada, logo, o povo deve pagar pelo serviço… É a influência
pequeno burguesa do anarquismo em nosso meio, povoado de estudantes de classe
média.
O centrismo
anda de tática em tática, conjutura em conjuntura – sem lastrear sua elaboração
pelo desejo necessário da tomada revolucionária do poder. Quando situação pesa,
justifica suas ações e recuos pela consciência ainda atrasada das massas. Ora!
A função do partido é disputar, alevar, tal consciência que nos soa objetiva de
tão pesada para um pequeno partido.
POLÍTICA
INTERNACIONAL
Surge algo
curioso. Sendo centrista ou reformista na política nacional, o velho antes
revolucionário usa suas antigas ferramentas para, agora assim, pensar como
comunista de fato. Como é algo distante, como não tem grandes consequências,
finge ser revolucionário com boas políticas internacionais. É um jogo,
autopropaganda.
Mas até aí
costumam falhar. Os trotskistas tantas vezes tomam a mesma política dos
reformistas e centristas estalinistas, sem tirar nem pôr. Sequer refletem a
causa disso. A tradição geopolítica conspiracionista invade nosso movimento
(mas há, de fato, o erro oposto de desconsiderar o geopolítico na centralidade
correta da luta de classes, usado elo sindicalismo vermelho, e da economia para
a análise). É um passo para chamar a revolução de antirrevolução. Como a
esquerda não apoia o governo do Egito – é revolução; como a esquerda apoia o
governo da Síria – é invasão ou manipulação imperialista… O socialismo num só
país separa tudo em rígidas fronteiras nacionais. Mas crise, a natureza (as
novas secas longas na região) e a revolução são processos mundiais, ainda que
desigualmente desenvolvidos.
Quer-se a política
internacional que lhe gera destaque, a mais exótica possível, a que livra de
responsabilidades, sempre o meio-termo. Diante da invasão russa da Ucrânia,
aonde uma nacionalidade historicamente oprimida é invadida por uma potência,
quer-se a neutralidade, o pacifismo sem critério, iguala-se os lados, diz-se
que a guerra é de modo direto da OTAN contra os russos etc.
Queriam um
processo perfeito, sem nuances e sem a sujeira da realidade. Querem uma
revolução exata, como nos seus modelos ideais.
Os outros
capítulos e pontos partidários desta obra bem combatem a doença senil do
comunismo. Aqui, temos um esboço para uma obra mais dedicada. Além disso, longe
de se comparar com o grande Esquerdismo de Lenin. Deformar o leninismo é parte
daqueles que estão sempre em busca de um acordo.
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