domingo, 28 de janeiro de 2024

A crise sistêmica - cap. 28 - CENTRISMO – DOENÇA SENIL DO COMUNISMO

 

CENTRISMO – DOENÇA SENIL DO COMUNISMO

 

Quando escreveu Esquerdismo, Lenin tinha em mente um radicalismo estéreo no movimento comunista. Hoje, todo tipo de oportunista usa tal obra para pensar o erro oposto, o oportunismo de tipo militante. Ultraesquerdismo e reformismo (como o centrismo) são dois lados da mesma moeda, acabam no mesmo erro, na mesma politica etc. Estão de mãos dadas. Moreno, o maior trotskista depois de Trotsky, teve de combater mais o perfil ultra relativo ao perfil oportunista. Por exemplo, a tara geral por formar guerrilhas independente das circunstâncias concretas, a vontade de levantar sempre as palavras de ordem as mais radicais etc. Mas, com a queda do chamado socialismo real, a vara girou-se para o polo oposto. Hoje, quem canta a Internacional não acredita de fato naquilo que defende. Surge um teatro aonde o leninismo é defendido de modo apaixonado, mas ainda teatral. São constrangedores os elogios exagerados para Lenin enquanto defende-se um governo burguês de esquerda.

O grande escritor Saramago, embora centrista honesto, afirmou ser comunista por uma questão hormonal. Ao envelhecer, um veterano comunista adoece, perde hormônio, sente que algo como revolução tornou-se muito perigoso para si… Acovarda-se, seu corpo e sua mente decaem. Seu estilo de vida pede moderação, meio-termo, mais negociações. Assim, esse tipo contamina a direção dos partidos vermelhos. Claro, eis apenas um motivo, o menor, do oportunismo dito vermelho. O ultraesquerdismo deriva, ao contrário, mais da imaturidade política e pessoal. Os velhos mencheviques riam com ar superior da larga juventude dos membros do bolchevismo. Mesmo jovem, Lenin era nomeado “o velho” entre seus camaradas.

 

O GOVERNISMO

Há clara razão para os intelectuais comuns evitarem os textos políticos de Marx. Querem um mouro apenas pesquisador, nada prático. Mais: em momento algum ele declara apoio a qualquer governo burguês. A independência frente a todos os tipos de governo é um princípio básico do marxismo. Apenas o governo operário de democracia direta pode ter nossa defesa, ainda que somente crítica.

Mas os trotskistas cedem à pressão hostil na luta de classes. Basta sentir o quente bafo do fascismo e do golpe sobre seus pescoços gelados para recuarem e apoiarem a esquerda do capital. Assim, prepara-se o caminho da derrota. Como nesta época revela-se impossível profundas reformas, os governos de esquerda fazem duros ataques à qualidade de vida da maioria, que hoje empurra estes para os braços da extrema-direita.

A história ensina, mas é preciso certa posição social para aprender de fato. É claro que, em certos momentos, defendemos o voto crítico na esquerda burguesa contra o candidato neofascista. Isso não cria qualquer dependência. Mas apoiar, mesmo se com críticas formais, qualquer governo é enganar os trabalhadores de já. Para o oportunismo, o problema não é o presidente, mas aquele ministro liberal… No entanto, os dirigentes de Estado têm tudo, menos inocência. Sabem o que fazem, sabem a que classe servem.

A questão toda é que, sob o capitalismo, impossível uma economia planejada. Mesmo que o Estado faça muito, a realidade econômica tem tal grau de autonomia de modo que o poder estatal pode ter influências, porém nunca determinar os ritmos comerciais, produtivos etc. Se o governo passa por um período de grande crescimento econômico, então, vida de regra, tem apoio popular, reelege-se etc. Se o governo, ao contrário, ou depois, passa pela inevitável crise do capital, então, desmoralizar-se, cai etc. Tanto faz ser de direita ou de esquerda. O governo neoliberal de FHC reelegeu-se em primeiro turno, contra gigantes como Lula e Ciro, porque conheceu prosperidade; mas hoje é um desprezível na memória da maioria desde a desigual crise mundial desde o fim da década de 1990, seu segundo mandato. Ou seja, nada das medidas governamentais determina se o governo terá ou não apoio, se será ou não mais reformista – deve-se mudar o sistema de economia, não o governo fantoche de plantão. Um ensinamento básico da tradição marxista que insistem em esquecer.

O retorno de um fascismo “eleitoral” nada mais é que sinal doentio de um sistema econômico à beira do seu fim, incapaz de melhorar a vida da maioria. Se queremos acabar com o nazismo, devemos destruir sua fonte – o capital. A necessidade dos capitalistas de aprofundarem os ataques sociais obriga fechar o regime político se possível. A era dos golpes retornou.

Lenin pensou que os comunistas ingleses deveriam facilitar o Partido Trabalhista entrar no poder. Não foi porque queria um bom governo, mas porque facilitaria a revolução os trabalhadores já terem se desiludido com o velho partido opositor, traidor.

 

ENTRISMO

TWI e a ASI, dois partidos internacionais trotskystas, transformaram em tática permanente estar dentro de organizações reformistas. Fazem tudo, menos preparar um partido próprio, grande o bastante, para seguir seu caminho. A história já provou que sem um partido centralizado nunca poderemos vencer uma sempre difícil revolução e uma guerra civil que é consequência natural de tal revolucionamento.

Ao conviver muito tempo por dentro de partidos amarelos, os revolucionários criam vários vícios do meio ambiente reformista e centrista. Então, torna-se, quanto mais o tempo passa, mais difícil pensar grandes voos, construir uma organização própria.

O medo correto da marginalidade leva ao erro oposto: fugir dela a todo custo. Os Bolcheviques foram contra a guerra mundial quando seu país inteiro estava numa onda nacionalista e belicista. Os seus militantes apanhavam na porta das fábricas quando panfletavam contra a guerra. Mas suportaram a marginalidade em nome de ganhos futuros e em nome de uma política de todo correta. É preciso saber ser minoria, marginal e maioria.

Lenin e Trotsky pensaram que seus partidos, em alguns casos, poderiam entrar em outros partidos de esquerda. Mas apenas para ganhar jovens militantes radicalizados e, depois, mais breve possível, construir sua própria, ainda pequena, corrente.

 

PERFIL DEC LASSE

O perfil de classe típico do centrismo é a classe média, incluso a burocracia sindical, entre o operário e o burguês. São até cientes de que o perfil classista de suas organizações pode gerar degeneração, mas sequer suspeitam que já estão muito afetados pela baixa presença operária em seus organismos. É um idealismo tacanho como se a inteligência por si salvasse tais correntes de sua composição social concreta tantos anos depois.

 

OPRESSÕES – PAUTAS DEMOCRÁTICAS

A TWI confunde reivindicar a classe operária com absorver para si a consciência atrasada da mesma classe. Assim, caem no erro de serem contra o feminismo, a luta LGBTT, a legalização das drogas etc. Ou seja, ignoram as pautas democráticas. Por isso, houve uma ruptura internacional que gerou a ASI com o erro oposto de dar muito peso a tais pautas não em si socialistas.

Há, em nosso tempo, uma crise das opressões, tanto mais no chamado ocidente. Devemos combinar pautas classistas, econômicas, transicionais com pautas democráticas. Eis a revolução permanente. Por dificuldades extras, mulheres, negros, gays, imigrantes tendem a ser os mais disciplinados na revolução – por seus modos de vida e por mais necessitarem do socialismo. Serão a vanguarda da vanguarda.

TWI e ASI comentem erros opostos, ambos derivados do centrismo.

O centrismo, por ter grande presença de servidores públicos, pensa com frequência no “Fora governo” de plantão. Quer mudar de patrão, mas não de Estado. Faz isso sem o querer, sem consciência, mas faz ainda. Ao contrário, deseja um aparelho estatal mais forte, fonte de seu salário.

O partido internacional Fração Trotskista é ainda mais radical: querem transformar os serviços que devem ser públicos, educação e saúde etc., em cooperativas, logo, propriedade privada, logo, o povo deve pagar pelo serviço… É a influência pequeno burguesa do anarquismo em nosso meio, povoado de estudantes de classe média.

O centrismo anda de tática em tática, conjutura em conjuntura – sem lastrear sua elaboração pelo desejo necessário da tomada revolucionária do poder. Quando situação pesa, justifica suas ações e recuos pela consciência ainda atrasada das massas. Ora! A função do partido é disputar, alevar, tal consciência que nos soa objetiva de tão pesada para um pequeno partido.

 

POLÍTICA INTERNACIONAL

Surge algo curioso. Sendo centrista ou reformista na política nacional, o velho antes revolucionário usa suas antigas ferramentas para, agora assim, pensar como comunista de fato. Como é algo distante, como não tem grandes consequências, finge ser revolucionário com boas políticas internacionais. É um jogo, autopropaganda.

Mas até aí costumam falhar. Os trotskistas tantas vezes tomam a mesma política dos reformistas e centristas estalinistas, sem tirar nem pôr. Sequer refletem a causa disso. A tradição geopolítica conspiracionista invade nosso movimento (mas há, de fato, o erro oposto de desconsiderar o geopolítico na centralidade correta da luta de classes, usado elo sindicalismo vermelho, e da economia para a análise). É um passo para chamar a revolução de antirrevolução. Como a esquerda não apoia o governo do Egito – é revolução; como a esquerda apoia o governo da Síria – é invasão ou manipulação imperialista… O socialismo num só país separa tudo em rígidas fronteiras nacionais. Mas crise, a natureza (as novas secas longas na região) e a revolução são processos mundiais, ainda que desigualmente desenvolvidos.

Quer-se a política internacional que lhe gera destaque, a mais exótica possível, a que livra de responsabilidades, sempre o meio-termo. Diante da invasão russa da Ucrânia, aonde uma nacionalidade historicamente oprimida é invadida por uma potência, quer-se a neutralidade, o pacifismo sem critério, iguala-se os lados, diz-se que a guerra é de modo direto da OTAN contra os russos etc.

Queriam um processo perfeito, sem nuances e sem a sujeira da realidade. Querem uma revolução exata, como nos seus modelos ideais.

 

Os outros capítulos e pontos partidários desta obra bem combatem a doença senil do comunismo. Aqui, temos um esboço para uma obra mais dedicada. Além disso, longe de se comparar com o grande Esquerdismo de Lenin. Deformar o leninismo é parte daqueles que estão sempre em busca de um acordo.

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