A ETAPA HISTÓRICA PÓS-QUEDA DO MURO: EM QUAL ETAPA HISTÓRICA ESTAMOS?
É verdade que a década de 1990 marca uma derrota com
o fim dos Estados operários degenerados e, por consequência, recuo na
consciência das massas e degeneração dos partidos vermelhos. Também é verdade,
por outro lado, que se liberaram possibilidades contidas pelo aparato
estalinista em todo o mundo e a história deu razão ao trotskismo. Como resolver
esta equação? A resposta que oferecemos é esta: abriu-se uma etapa reacionária
mundial. A hipótese alternativa é a de que, além das etapas revolucionárias e
contrarrevolucionárias, há outros tipos perceptíveis. Um exemplo no nível de
nação em Moreno:
Por exemplo,
nesta etapa de revolução iminente que vivemos a nível mundial desde 1943,
muitos países atravessaram ou atravessam etapas contra-revolucionárias a nível
nacional (Indonésia, o Cone Sul latino-americano, a URSS, etc.). Outros países
mantiveram-se em etapas de pouca luta de classes, de equilíbrio na relação de
forças entre o proletariado e a burguesia, quer dizer, etapas
não-revolucionárias (quase todos os países imperialistas e muitos
semicoloniais). E outros que já mencionamos, finalmente, que são os que marcam
a dinâmica, o signo da etapa revolucionária, atravessaram etapas
revolucionárias que levaram ao triunfo da revolução, que foi abortada ou congelada,
ou que foi derrotada.
Assim, não estamos numa etapa não revolucionária,
revolucionária ou contrarrevolucionária, mas numa derrota gerando forte recuo
reacionário. Para que o leitor melhor abstraia uma possível etapa reacionária,
damos um exemplo comparativo em outra escala, de situação reacionária:
Da mesma
forma, dentro de uma etapa podemos encontrar diferentes tipos de situações. Uma
etapa revolucionária não pode deixar de sê-lo se a burguesia não derrotar
duramente, na luta, nas ruas, o movimento operário. Porém, a burguesia, se
tiver margem, pode manobrar, pode convencer o movimento operário que deixe de
lutar. Assim se abriria uma situação não-revolucionária, porém a etapa
continuaria sendo revolucionária, porque o movimento operário não foi
derrotado. Inclusive, a burguesia pode reprimir, sem chegar aos métodos de
guerra civil, o movimento operário e impor derrotas que o fazem retroceder,
abrindo uma situação reacionária, porém continuaria estando dentro da etapa
revolucionária. Por exemplo, o governo de Gil Robles, que ocorreu no meio da
revolução espanhola, iniciada em 1931, foi um governo reacionário que reprimiu
duramente o proletariado e criou uma situação reacionária. Porém, ao não ser
derrotado o conjunto do movimento operário espanhol, a etapa continuou sendo
revolucionária. A melhor prova disso é que poucos anos depois estourou a guerra
civil. (Idem.)
Fomos duramente derrotados, entretanto não anulados
por nazismos, invasões imperialistas à URSS, etc. Disto vale recordar: os
movimentos anti-restauração, como a confusa e heroica luta chinesa, que se
encerrou no massacre na Praça da Paz Celestial, nem sempre geraram democracia
burguesa, não mudaram o regime político. Mesmo a Rússia fechou seu regime, de
democracia para semibonapartismo, pouco após seu retorno ao capital.
A etapa é determinada, em primeiro, pela relação de
superestrutura objetiva – instituições, Estado, partidos, organização etc. –
derivada de uma determina correlação de forças entre burguesia e proletariado.
Ao lado da queda do aparato stalinista ocorreu a restauração do capitalismo – a
queda do caráter de transição ao socialismo do Estado –, mecanismo que fez
recuar a consciência das massas, degenerou e fragilizou organizações,
fortaleceu a posição da burguesia no cenário mundial, impôs-se derrotas a
movimentos contra o neoliberalismo.
Vejamos a oposição unilateral em lista:
Etapa revolucionária |
Etapa contrarrevolucionária |
Caiu o estalinismo de Estado |
Caiu o caráter operário do Estado |
Aconteceram reações revolucionárias |
As revoluções do Leste não salvaram o socialismo,
nem foram sempre vitoriosas ao mudar o regime de Estado |
Liberou-se espaço político para o trotskismo, a
LIT cresceu |
A LIT entrou em crise, partidos e ativistas
honestos degeneraram em todo o mundo |
Há espaço novo para a verdadeira ideologia
socialista |
A consciência das massas recuou pesadamente em
todo o planeta |
Aconteceram revoluções após a queda do Muro de
Berlim |
A burguesia foi para a ofensiva, conseguiu impor o
neoliberalismo em todo o mundo e nenhuma revolução socialista vitoriosa
surgiu nestes tempos |
O imperialismo perde guerras |
O imperialismo tem condições de impor guerras |
As duas posições apenas são explicadas se a etapa
for, na verdade, reacionária, nem um nem outro. Dura derrota, mas que não
fechou por longo período nosso espaço.
A caracterização de etapa reacionária desde a queda
do muro de Berlim pretende resolver a polêmica entre duas posições opostas, se
estamos numa etapa revolucionária ou contrarrevolucionária. Ambas as posições
destacaram na análise aspectos unilaterais da realidade.
A crise desde 2008, porém, obrigará novas
caracterizações[1].
Após mais de 30 anos da queda do socialismo “real” e mais de 40 anos sem uma
revolução socialista vitoriosa, parece que finalmente podemos sair da ressaca
histórica. Para isso, a renovação geracional muito ajuda. O central é que a
crise sistêmica, que deu um salto de qualidade em 2008, fará seu papel de
pressionar as mentalidades, tendencialmente, para saídas revolucionárias entre
os oprimidos.
Dizer que após a queda do socialismo real, tal como
foi, gerou-se uma etapa revolucionária ou contrarrevolucionária torna
incompreensível a natureza do visível salto qualitativo desde 2008. Ao que parece,
a partir dessa crise, entramos numa etapa, e numa situação, pré-revolucionária,
superando a etapa reacionária anterior. A vitória socialista em alguma nação de
peso certamente mudará mais uma vez a etapa.
Organização internacional à qual reivindico, a LIT
erra com a posição majoritária de etapa revolucionária após a queda do Muro de
Berlim. Além da unilateralidade, de causas mais profundas, há duas causas
imediatas: 1) centrismo, que vê sempre balanço positivo nas situações e ações,
se não for um desastre completo, desejoso por estimular a psicologia dos
militantes; 2) incapacidade de reconhecer erros, de voltar atrás, fazer balanço
e perceber as causas do engano, com os militantes agindo como religiosos,
adotando de pronto a posição oficial, sem grandes críticas – assim sem retorno
ou mudança de posição. Mas creio que ainda há tempo de aprender.
[1]
Diga-se de passagem, os comunistas tiveram sorte ao o Estado amortecer o peso
da crise mundial de 2008. Nossas organizações estavam, na prática e na teoria,
despreparadas para uma implosão econômica como aquela que quase ocorreu a
partir daquele ano. Agora, pode-se amadurecer os partidos vermelhos com algum
tempo para experiência, acumular forças e obter posições mínimas para quando
houver as próximas crises. A base real para a fermentação e a consolidação de
partidos de fato revolucionários passa a existir.
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