CRISE LATENTE DO APARATO DE REPRESSÃO
“Nesta terra de gigantes que trocam vidas por
diamantes…”
Humberto Gessinger.
“A única garantia possível de democracia é um fuzil
no ombro de cada trabalhador”
Lenin.
“O desarmado rico é o prêmio do soldado pobre.”
Maquiavel, A Arte da Guerra, LPM, p. 200.
A sempre possível luta entre Estados nacionais
estimula como lei objetiva o alto desenvolvimento da maquinaria de combate. Por
outro lado, para enfrentar a superprodução crônica latente, o capital produz
uma pseudodemanda e um pseudoconsumo destrutivo com o desenvolvimento de um
Departamento III da economia[1], o
complexo industrial-militar
Derivamos de tais constatações duas conclusões que
se revelam de modo latente, estrutural: 1) as condições são mais favoráveis
para enfrentamentos anti-imperialistas e revolucionários; 2) gesta-se uma crise
do aparato de repressão. Ao longo desde capítulo, vamos destacar fatores centrais
sobre os quais se baseiam as duas caracterizações.
O MAQUINÁRIO DE GUERRA
Igual como nas fábricas, o maquinário tem ganhado
peso significativo no exército burguês. Isto gera uma série de problemas
insolúveis:
1.
Custos altos
de construção e manutenção dos grandes aparatos (tanques, aviões, navios,
etc.);
2.
Máquinas
caras e pesadas, de alta tecnologia, podem tonar-se inválidas por explosivos e
armamentos semiartesanais ou de baixo custo:
Os CBTPs sofrem ameaças ao seus
deslocamentos e integridade de diversas fontes, e devido à natureza da guerra
contemporânea qualquer forma de atraso ao movimento das colunas blindadas
implica em tempo maior de duração do conflito, aumento de baixas e crescente
oposição interna e externa às forças amigas. Portanto meros fossos AC podem se
tornar armas estratégicas em uma luta onde o campo de batalha físico é apenas
uma parte dela, na guerra assimétrica ou não convencional.
Em seguida, há exemplos de armas AC – destacamos
duas partes do artigo:
a) Foguetes - projéteis
relativamente simples, providos de ogiva em formato de carga oca revestida por
cobre, tem sua capacidade de perfuração associada com o diâmetro da ogica,
pricipalmente. Tem baixo custo e não são guiados após o disparo. Os mais
simples são os antigos RPG-7 russos e os mais modernos os Panzerfaust 3
alemães. Um mero RPG-7, equipado com granada tipo PG-7V pode perfurar 260 mm de
aço balístico plano rolado.
[…]
c)
Explosivos Improvisados – Armadilhas nos campos de batalha não representam
novidade, mas o acesso à arsenais de governos e o apoio de países simpatizantes
faz com que pequenos grupos em luta tenham acesso a explosivos de grande
potência e em grande quantidade. Na invasão do Iraque os americanos lidaram com
granadas de artilharia e obuses em profusão, obtidos dos paióis dos antigo
exército iraquiano, e que eram escondidos nas margens de rodovias e passagens
movimentadas do país, causando explosões tão fortes, que eram capazes de
despedaçar as viaturas Humvee, caminhões, CBTPs Bradley e mesmo imobilizar
alguns CC Abrams M1. Toda viatura que se coloque hoje como sendo capaz de
operar em cenários de guerra assimétrica ou convencional, terá que ser
preparado desde a concepção do projeto para lidar com isto. (Idem)
Caso russo, vejamos uma das reações a isso:
As rodas e as lagartas dos mais
recentes veículos blindados nacionais criados na base da plataforma Armata
serão equipadas com uma proteção adicional. O projeto é conduzido pelo
Instituto de Pesquisa Científica da Rússia (NII, na sigla em russo).
Ao longo do perímetro do veículo
serão instalados “escudos laminares” que se assemelham visualmente às grades de
proteção dos beliches do quartel.
Isso irá proteger os blindados
contra os meios de destruição mais impactantes: granadas cumulativas e mísseis
antitanque.
A tarefa do novo kit é deformar a
cabeça da granada quando ela acertar o alvo e amortizar parte da energia da
explosão.
Além disso, os projetistas
ressaltam que, em termos de indicadores de desempenho de combate, as grades de
proteção não ficam atrás da blindagem reativa.
"São mais baratas,
tecnicamente mais simples, e permitem melhorar em algumas vezes a proteção do
motor e da transmissão em condições de combate urbano. A principal desvantagem
é a baixa universalidade. As grades de proteção protegem o blindado somente
contra alguns tipos isolados de granadas de mão antitanques", disse à
Gazeta Russa Dmítri Safonov, analista militar do jornal Izvêstia.
De imediato, percebemos uma das razões de tantos
conflitos do pós-II Guerra terem sido derrotados por exércitos rústicos contra
os de enorme aparato. A Guerra entre URSS e Afeganistão parece-nos um bom
exemplo, pois o primeiro investiu em uma numerosa invasão de tanques fracassada
diante da resistência guerrilheira da Al-Kaeda e dos camponeses. Exemplos
semelhantes: Guerra do Vietnã, revolução chinesa, revolução cubana.
3.
Surge uma
relação dúbia com a urbanidade. Nessa questão, o artigo a seguir revela:
O novo tanque será apresentado no
stand russo na feira de armas Kadex-2016 […] O modelo, adaptado para combate
urbano, é equipado com o novo sistema de controle de fogo com um sistema de
mira Multicanal Sosna – o qual inclui um computador balístico digital e um
conjunto de sensores bastante complexo (velocidade do vento, temperatura de
propulsor, temperatura e pressão do ar, velocidade do tanque e sensores de
velocidade angular).
De acordo coma Gazeta.ru, o novo
T-72 foi concebido como base na experiência russa da guerra na Síria e em
outros conflitos no Oriente Médio.
A matéria conclui-se com chave de ouro:
“Se você olhar bem, os conflitos
armados no mundo ocorrem principalmente dentro das cidades; ninguém se atreve a
combater em campo aberto, pois isso levaria à destruição instantânea [dos
veículos blindados]”, observou o vice-diretor da Uralvagonzavod, Viacheslav
Khalitov. (Idem)
Percebemos, no entanto, no caminho oposto à
tendência natural do aparelho burguês, que o espaço urbano é melhor para a
infantaria, por sua mobilidade e capacidade de localização/ocultação.
“Digo-vos, primeiro, que os cavaleiros não podem andar em qualquer lugar como o
fazem os infantes”
4.
É
conhecimento generalizado o balanço das guerras do Iraque e Afeganistão: a
dominação militar direta demonstrou-se por demasiado custosa financeira e
politicamente, empurrando os EUA para um atoleiro instável. Para isso, há
influência do custo do maquinário, da matéria-prima (energia etc.) e da
logística de transporte. Outro fator colabora: o lado que dispensa fazer
engajamento em outra nação, que não precisa deslocar-se de suas fronteiras, em
uma posição territorial defensiva (mesmo que ofensiva nas táticas), possui
relativas vantagens: facilidade maior de prover seus exércitos, maior
capacidade de unir a nação na defesa, custos de transporte e meios reduzidos,
intimidade com o terreno, etc. Por si, assim igual à Guerra do Vietnã, temos um
fator limitante para o capitalismo imperialista.
FATOR HUMANO
A infantaria é a essência do exército; o peso do
maquinário revela uma lei geral da arte da guerra: “os povos ou reinos que
estimaram mais a cavalaria do que a infantaria sempre ficaram frágeis e
expostos a toda ruína”
5.
Os exércitos
oficiais, principalmente os imperialistas, procuram oferecer aos subordinados
alguma qualidade de vida, a mais próxima possível da dos seus países ricos;
estes, desacostumados com a dificuldade e com o stress, tornam-se um problema
em si nos momentos mais difíceis do conflito – e é um custo financeiro
adicional; movimentos revolucionários e mesmo exércitos de países atrasados
possuem um material humano acostumado com a escassez, com o stress, com o risco
e com o limite.
6.
Ao mesmo
tempo, os exércitos oficiais, dos Estados, têm um pouco mais de dificuldade
para dar aos seus a causa, o sentido da luta e a percepção de “nobreza no ato”
– as I e II grandes guerras estão cristalizadas na memória coletiva assim como
a desmoralização causada pelas guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão. Do outro
lado, exércitos religiosos (ISIS, etc.) ou subversivos e revolucionários
possuem este fator ideológico-disciplinador mais apurado.
7.
Os filhos
dos assalariados são a geração mais letrada, mais culta da história humana.
Inteligência quando somada à moral pode ser um empecilho. No Brasil, políticos
burgueses criticaram as greves da polícia militar com a justificativa correta
de que os soldados eram defeituosos, pois boa parte deles havia feito curso
superior, o que motivaria motins…
8.
A alta
concentração urbana facilita lutas latentes contra as guerras do capital, além
de facilitar as rebeliões dos escravos assalariados.
Das vantagens materiais – e eles são em si
importantes – de um poderoso exército imperialista, um fator se impõe: toda a
logística moderna envolvida faz com que seja necessário mais homens fora do
combate – médicos, engenheiros, limpeza, segurança de perímetro,
administrativo, comunicações, mecânicos, etc. – que aqueles para o
enfrentamento. Há custo acrescentado e complicabilidade.
HIERARQUIA E
MOBILIDADE
9.
A gestão do
tempo e suas consequências ganha importância maior. Assim sendo, o exército
burguês tem uma dura desvantagem ao adotar uma hierarquia de comando vertical,
complexa, cheia de subdivisões e centralizada. Isto torna as forças armadas lentas
para ordenar, receber e executar ordens. Hierarquias como a do Exército
vermelho de Leon Trotsky, onde cada batalhão respondia apenas a um oficial,
possuíam decisão, ação-reação e mobilidade superiores. Neste ponto específico,
assim igual organiza-se o ISIS, além de permitirem autonomia de ação de suas
células:
É um típico combate de infantaria
praticado com maestria pelo Estado Islâmico, conduzido de modo descentralizado
– a iniciativa é transferida aos pequenos escalões e travado a curta distância
– os últimos cem metros. Pressupõe, porém, grande savoir-faire na preparação
das operações (reconhecimento, informações, treinamento com base em mapas,
cenários e maquetes, instalação de depósitos avançados de munição e
suprimentos), da utilização do micro terreno (ravinas, taludes, trilhas,
construções, escombros, etc.) e de ações noturnas facilitando a infiltração e o
combate aproximado.
10.
Os oficiais
e o alto comando das forças armadas são formados por gente “bem de vida”,
acostumados ao trabalho “intelectual” e à vida de poucos círculos sociais. Os
grupos militares subversivos, por outro lado, costumam ter no comando gente
prática, conhecedora dos aspectos prático da vida, com ligação orgânica com sua
base social, que entende a vida comum e estão acostumados a ter pouco. Esta
diferença do material humano – acentuada neste momento histórico –, uma
diferença que permeia as classes, determina perfis decisórios. Segue válida a
contribuição de Clausewitz: os grandes comandantes surgem entre homens do povo.
11.
Em nossa época,
os exércitos burgueses procuram profissionalizar seus membros em todos os
níveis de hierarquia. Isto tem algumas consequências: afasta seus membros da
vida real e da noção de como ela é para a maioria e recebem uma qualidade
formal de vida que os “desadestram” para situações de colapso; além disso, há
um custo acrescido para a manuntenção de profissionais. Na crise sistêmica do
escravismo romano e, em parte, na do feudalismo, tornou-se um sinal do fim
daqueles mundos o fim da força militar como sinônimo de cidadãos armados –
senhores de escravos, cavaleiros medievais, etc. – e início da
profissionalização do exército com salários tendo de ser pagos. Quando o Estado
era incapaz de pagar seus funcionários, ocorriam greves e rebeliões.
PROBLEMAS
LATENTES
12.
Por os
pontos acima levantados, o ISIS pode fundar a “guerrilha ofensiva”; aproveita a
lentidão do comando e de parte do maquinário oficiais para substituir a tática
“atacar-recuar” por “atacar-desarticular” usando os princípio da guerrilha:
armas leves, mobilidade, hierarquia simples, autonomia das ações, sabotagem,
propaganda e guerra psicológica; porém, com caráter ofensivo, e não o defensivo
do fraco em relação ao forte comum às guerrilhas. Como causa, os exércitos
burgueses estatais incharam-se para o enfrentamento inter-Estados, mas isso os
coloca em dificuldades latentes diante da luta entre classes.
13. As empresas que atuam no campo militar –
da produção de arma à mercenários – tendem a tornar a guerra um fim em si
mesmo, uma fonte direta de lucro. Isso é um problema tratado na história da
arte militar como a causa de ruína de reinos. Até mesmo empresas de construção
visam a guerra de modo artificial para futuras reconstruções no país destruído.
14. A urbanidade elevada fez surgir uma ampla
categoria de assalariados armados nos setores públicos e privados, porém
precários. As diferenças entre as condições de vida dos comandantes e a dos da
baixa hierarquia tende a rachaduras no aparelho de policial e de segurança.
Gesta-se, assim, parte da tendência à quebra do Estado burguês: as greves na
polícia, por exemplo, são sintomas de que podem, parte da baixa hierarquia, no
futuro passar para o lado da revolução.
15. A sempre
latente possibilidade de corrupção da política e das forças armadas cresce hoje
por causa da decadência sistêmica.
16. Em um artigo que serviu de base para este
capítulo (Estado Islâmico – aspectos
Operacionais: Revolução Tática ou Infantaria Leve na Era Global, de
Frederico Aranha), encontramos uma observação intuitiva do autor:
Neste sentido, pode-se
conjecturar que uma tal forma de organização é comparável à que existiu entre o
século quinto e o oitavo da nossa era, com o surgimento dos nômades das estepes
(Vândalos, Avaros, Godos, Magiares) e os árabes, todos capazes de derrotarem os
exércitos ocidentais graças a sua mobilidade extraordinária. Esta comparação
tem como objetivo colocar a perspectiva "revolução tática" para
identificar alguns elementos potenciais. A resposta do Ocidente para as
invasões dos cavaleiros da estepe é esclarecedora sob diversos aspectos para a
nossa realidade contemporânea. Sob os repetidos golpes, o Império Romano e o
mundo carolíngio se desintegraram deixando espaço para outros mais capazes
combater as ameaças. No caos deste período surgiram, em função das distâncias
muito grandes e comunicações primitivas, inúmeros pequenos exércitos aptos a
garantir uma defesa eficaz. Desse modo, a solução foi a transferência das
responsabilidades militares à aristocracia local mais capaz de proteger áreas
nacionais contra invasões e ataques. O historiador Michael Howard (v.bibl.)
observa a este respeito: Não é de surpreender que um tipo de sociedade que pode
garantir a sobrevivência dos povos da Europa em tais condições, apareceu: as
gerações seguintes de historiadores deram-lhe o nome de 'feudalismo'. (John
Poole apud Aranha, 2015)
Se o pesquisador fosse comunista, talvez percebesse:
vivemos o último momento do sistema capitalista, por isso a realidade necessita
e está mais que madura para um sistema de milícias operária e popular. Incluso
pela alta urbanização, o armamento dos trabalhadores, sustentado na
prosperidade socialista, permitirá a reorganização social após o colapso de
nossa Roma, o mundo do capital.
Aqui entra a história nos limites internos dos
exércitos. O modo do exército feudal provou-se algo intrínseco à classe que o
sustentava. Assim, Oliver Cromwell conseguiu vencer a capitalista revolução
inglesa porque ofereceu New Model Army (Exército de Novo Tipo) adotando a
meritocracia e novos modos de comando. Napoleão Bonaparte fez algo semelhante
em seu tempo, como instituindo o alistamento obrigatório, para fins de
dominação burguesa contra o poder feudal. O que o conjunto desde capítulo
argumenta, portanto, é que o modo militar burguês desenvolveu-se para seu
limite histórico e deve ser superado por formas novas de força.
17.
Para manter o poder geopolítico,
posições estratégicas, ameaçar e reprimir a luta dos trabalhadores mais
concentrados na urbanidade, cada vez mais o Estado deve sugar improdutivamente
uma parte do valor global. Isso é tão mais verdade quanto a crise do valor, a
redução tendencial de sua massa, como crise da sociedade, exige maior tentativa
de controle das instabilidades. Algo semelhante aconteceu na Roma Antiga que
profissionalizou e ampliou o exército para lidar com o território maior sob seu
controle, reprimir as revoltas de escravos então muito concentrados nos campos
de trabalho e conseguir nova leva de homens escravizados em territórios mais
distantes; o custo social do aparato militar foi acrescido. Quando os impostos
deixavam de bastar para pagar as contas estatais, pois o senhor de escravos
tinham menos em relação ao custo acrescido, os motins militares facilitaram os
motins dos escravizados rumo ao fim daquele sistema. Algo semelhante tende a
ocorrer no capitalismo em sua fase tardia.
18. Os próximos Estados operários forçarão os
estados capitalistas a aumentar o investimento militar, parte da crise desses
Estados e do menor investimento em outras áreas necessárias.
19. Lenin e Trotsky mal tinham acesso ao artigo de
luxo rádio, imaginavam a TV por meio da ficção e é duvidoso que sequer tenham
imaginado a internet. Percebemos que nossas questões técnicas são
qualitativamente diferentes das deles. E o que tais mentes raras diriam hoje?
Eis a tarefa coletiva dos marxistas atuais.
O uso de robôs e satélites de combate, dois projetos
em desenvolvimento, levará a guerra a outro patamar. Porém inexiste força
militar contra limites históricos. O fim da civilização ou a consolidação da
humanidade são as duas únicas alternativas viáveis nesta transição sistêmica.
É evidente que em si a robustez dos exércitos
oficiais, os imperialistas em especial, é uma das vantagens imediatas do poder
capitalista. Porém guarda fatores latentes que podem se revelar como
desvantagens perante resistências anti-imperiais ou revolucionárias.
O FATOR HISTÓRICO
Parte vital da vitória militar deve-se ao acerto
político. Ter uma política de acordo com a necessidade histórica, a
implementação do socialismo, facilita vencer as guerras revolucionárias. Mas de
modo algum determina, pois a extinção da civilização, talvez mesmo de nossa
espécie, estará colocada nas próximas décadas. A certeza de que possui
superioridade e de que tende a ganhar as batalhas já foi a ruína de muitos
exércitos, já que foram assim pegos na “guarda baixa”. O medo é irmão da
coragem. O fato de termos a história do nosso lado de modo algum é determinista
quanto aos resultados da humanidade já que a crise sistêmica abre um leque
limitado de possibilidades opostas. Por outro lado, erro tanto inverso quanto
idêntico, enganam-se aqueles a pensar que as duras derrotas são sempre
parciais, que o capitalismo sempre existirá enquanto não for derrubado de modo
consciente e teremos, portanto, sempre uma outra chance até vencermos… O fim da
civilização ou da humanidade é uma possibilidade também latente.
Se usarmos a lógica para justificar de algum modo as
observações deste capítulo, lembramos que Hegel demonstra que o mundo que
aparece é como o oposto do mundo essencial, o que é aparece como sorte é azar,
e vice-versa. A robustez das forças armadas burguesas pode gerar problemas de
manutenção e abastecimento, por exemplo, desde pequenos grupos de sabotagem
etc. Dominar a arte militar, de qualquer forma, é obrigação de todo comunista.
PARA UM MANUAL MILITAR
Existem regras gerais, universais, para a arte da
guerra? Há, pelo menos, afirmações que são encontradas de modo semelhante entre
os principais tratados militares da história. Aqui, como um glossário geral,
apresentamos certas “leis” que se repetem mesmo com alterações significativas
na concretude dos conflitos. Abaixo, desenvolveremos cada um dos pontos.
5 LEIS DA OFENSIVA
1. A guerra é
resultado da economia
Razão militar
Cada época com sua forma de guerra
Empresas de guerra
2. A guerra é
a continuação da política
Há vantagens em estar de acordo com a história
O programa
Como o perfil afeta o perfil da guerra
Educação política
Evitar sentimento de “vitória antecipada”
3. A
quantidade de soldados importa
4. A
qualidade dos militares importa
Classe dos soldados
Comandante
Perfil nacional
Soldados dos países ricos e pobres
Higiene
5. Priorizar
outros setores que não a infantaria costuma levar à derrota
6. É
necessário desestimular o inimigo
7. Sempre que
possível e útil, engane o adversário
8. Sem
fórmulas fixas, deve-se avaliar sempre a situação concreta e o todo
9. A guerra é
uma otimização do uso de energia
10. A defesa territorial ativa costuma ser superior
ao ataque
Terreno
Povo
Logística
Desgaste
11. Davi pode
vencer Golias – não há situação completamente sem saída
12. Ousadia,
ousadia, ousadia!
***
POLÍTICA DE GUERRA
INDEPENDÊNCIA NACIONAL
COMO IMPEDIR E COMBATER O FASCISMO
EM CASO DE GUERRA CIVIL BURGUESA
GUERRILHA
CRISE DO APARATO MILITAR
FORMAÇÃO ROMANA – PM
***
5 LEIS DA OFENSIVA
1. A OFENSIVA
É MENOS VANTAJOSA QUE A DEFENSIVA
Ao invadir o território, o exército invasor está
diante de a) problemas na logística por se afastar de seu próprio país, b) um
inimigo com moral alta por defender-se, c) um inimigo que, após recuar muito,
está concentrado, d) um inimigo que conhece bem o território, e) um inimigo bem
posicionado.
2. OS PAPÉIS
TERÃO DE SER INVERTIDOS, OFENSIVA E DEFENSIVA
Quem invadiu, ofensiva, deve, depois, defender parte
daquilo conquistado, portanto defensiva. Quem foi invadido, defensiva, deve
passar para a conquista ou retomada do perdido, portanto ofensiva.
3. A FORÇA DE
INVASÃO É CADA VEZ MENOR
É raro aumentar a força, ímpeto, o número de
soldados e ao moral depois de meses ou anos. Perde-se poder com o tempo, tempo
este que, via de regra, ajuda o invadido (desgaste político do invasor em seu
próprio país etc.).
4. SE INVADIR,
USAR TODA A FORÇA DE UMA VEZ
Não se deve perder tempo no início: avançar o máximo
possível e tão veloz quanto. Não ir por camadas e posições seguras.
5. SE INVADIR,
USE DA SURPRESA
Se possível, deve-se invadir com máximo segredo, de
uma vez, de repente.
PARA UM MANUAL MILITAR
Existem regras gerais, universais, para a arte da
guerra? Há, pelo menos, afirmações que são encontradas de modo semelhante entre
os principais tratados militares da história. Aqui, como um glossário geral,
apresentamos certas “leis” que se repetem mesmo com alterações significativas
na concretude dos conflitos. Abaixo, desenvolveremos cada um dos pontos.
1. A guerra é
resultado da economia
Razão militar
Os filmes costumam afirmar a luta do poder pelo…
poder, como algo abstrato e vazio. É um grande engano; via de regra, a guerra
tem objetivo de gerar riquezas ao vencedor ou ao agressor. Pode-se invadir uma
ilha próxima para ter apenas melhor localização militar, mas mesmo indiretamente
há o objetivo lucrativo.
O Estado socialista, que visa ao bem-estar da
maioria, com economia planejada e centralizada, tem mais facilidade de girar
recursos para o conflito, rumo à vitória.
Cada época com sua forma de guerra
Cada época exige uma forma de fazer guerra. O
problema, então, é que se cristaliza um modo militar obsoleto, mas que teima em
manter-se até o último grão de minuto.
O escravismo no início tem um modo militar diferente
de seu auge-crise. Via de regra, quando a força militar deixa de ser feita com
os cidadãos livres armados, quando se profissionaliza a força de guerra, a
decadência ocorre; foi assim no escravismo e é assim hoje, no capitalismo. Uma
casta com desejos próprios surge e desestabiliza o estado.
O modo militar feudal baseava-se no feudo isolado,
em autodefesa desde os cavaleiros em postos de comando. Ora, isso resolveu a
crise militar anterior, do escravismo romano – mas também se tornou atrasado.
Os novos exércitos inglês e francês mudaram radicalmente o modo de guerrear, de
acordo com o mundo novo, burguês; por exemplo, o cargo de comando passou a ser
dado por mérito, não mais por origem de sangue; com o crescimento das cidades,
o abastecimento das tropas passou a ocorrer nos locais urbanos por onde se
passava por meio de compras, confisco ou em harmonia com o poder local.
O socialismo substituirá progressivamente, desde seu
começo, o exército por o povo armado, com leves e pesados calibres, e com
treinamento básico, até que o comunismo tenha armas apenas para jogos e
esportes, numa humanidade unificada. Isso é condição da democracia, do bom
governo, da segurança e da superioridade militar socialista em seu começo,
quando ainda haverá países capitalistas. Diz Maquiavel: apenas o mau governante
teme seu povo armado.
De qualquer modo, vale destacar a regra geral: raramente
o objetivo é destruir totalmente o inimigo, mas tornar para ele demasiado
custoso manter o conflito.
Empresas de guerra
Se a guerra em si, de modo direto, passa a ser fonte
de lucro, seja do infante ou seja do exército, então o Estado ou o governo cai.
Se o capitalismo hoje se levasse a sério, proibiria empresas de mercenários,
empresas privadas de produção para guerra etc. Mas o caminho é, agora, o
oposto: até pseudoestados como o de Israel dependem da construção civil e da
empresa militar para sua economia, logo necessita de guerra para tomar terras,
reconstruir e aumentar as ações na bolsa de suas empresas militares.
A guerra, se injusta em especial, tantas vezes
derruba o governo ou mesmo o sistema nos países em conflito.
2. A guerra é
a continuação da política
A máxima acima vem de Von Clausewitz, de imediato
apropriado pelo marxismo. O silogismo torna-se este:
A guerra é a continuação da política (por outros
meios),
A política é economia concentrada;
Logo, a guerra é a continuação da economia.
Desenvolvamos, portanto, as reflexões necessárias
sobre.
Vejamos a guerra do Vietnã. Os EUA venceram quase
todos os conflitos militares naquele país asiático, mas perdeu a guerra porque
o seu prolongamento do conflito fez o governo perder apoio de sua população.
Também os EUA não invadem sua vizinha Cuba por fala de condições políticas, não
militares.
Há vantagens em estar de acordo com a história
Estar do lado certo, junto ao futuro, dá alguma
força; mas não absoluta, nenhuma garantia de vitória certa. Diante da
superioridade militar do lado sul na guerra civil americana, Marx, ainda assim,
apostou no norte industrial por estar de acordo com as leis do desenvolvimento
capitalista.
Che Guevara cometeu um pesado erro vanguardista e
blanquista ao pensar que, em geral, pode uma pequena guerrilha vencer um
exército nacional sem as devidas condições econômicas e políticas favoráveis.
Para ele, a própria guerrilha faz suas condições. É um grande erro, que levou a
perdemos muitos lutadores.
O programa
O primeiro passo para vencer uma guerra é convencer
cidadãos, na prática, de sua justa luta. Quando os operários russos
conquistaram jornada de 8 horas diárias e os camponeses ganharam terras novas,
eles foram com máxima disciplina para a luta contra 14 – 14! – exércitos entre
os mais poderosos do mundo. E venceram. Na guerra civil americana, o general do
norte decretou: está abolida a escravidão em todo o território. Isso atuou para
desestabilizar o sul escravista, facilitando a vitória.
Como o perfil afeta o perfil da guerra
Na guerra civil russa, os 14 exércitos invasores
agiram cada um por si, em disciplina nacional, em busca de um pedaço próprio do
território russo. Na outra ponta, o exército vermelho reuniu sob sua força,
desta vez, unificada 5 milhões de combatentes. Veja-se que causas econômicas e
políticas afetaram o perfil dos exércitos e da guerra, pendendo para a vitória
de um lado contra o outro. O grande exército da URSS Pôde, assim, enfrentar um
por um os invasores separados.
Ainda na revolução russa, uma nova guerra “mundial”
logo em seguida da primeira grande guerra, somado com a nova pátria socialista,
levou a uma onda de greves e protestos nos países invasores, em solidariedade
com a URSS, o que desestimulou o conflito.
Educação política
Os soldados e o povo devem ser convencidos.
Portanto, uma luta por suas consciências deve ser permanente. Não basta fé,
pois é preciso ter clareza do motivo de estar lutando.
Evitar sentimento de “vitória antecipada”
Dizer, por exemplo, “fascistas não passarão!” revela
mais o medo de que passem – e podem passar, mesmo – do que uma palavra de ordem
útil; ela, na verdade, desarma o lado antifascista. A arrogância de vitória
certa já foi a ruína de muitos em batalha. Por isso, deve-se manter o sinal de
alerta, sempre e sempre. Em geral, o exército mais fraco é o mais criativo e ousado
exato por medo da derrota.
O desânimo e o medo total devem igualmente ser
evitados. A esperança de vencer, portanto, deve ergue o moral dos soldados.
3. A quantidade
de soldados importa
Muitos soldados, ainda que medianos, ganham de
poucos soldados bem treinados. O número tem grande peso. Um exército gigantesco
contra um pequeno pode, ainda assim, perder, pois o defeito da força é confiar
apenas na força. Assim, a tática fabiana de evitar conflito direto e cortar, em
ataques surpresa, a comunicação e a logística do poderoso (e custoso) inimigo
pode levar à vitória. A concentração alta de um exército leva à fragmentação
guerrilheira de outro pequeno. Nem tudo é número: quem é dono de fato do
território também tem certa vantagem, mesmo que em minoria.
Nos países, aqueles exércitos que não têm grande
tecnologia investem na quantidade maior de materiais menos avançados e de
soldados.
A quantidade é, ela mesma, uma qualidade.
4. A qualidade
dos militares importa
Engels, ao tratar das primeiras e fracassadas
revoluções burguesas, toma nota que mendigos, vagabundos, ladrões etc.
participarem de exércitos, o que atrapalhou, por exemplo, a disciplina.
Na guerra, basta um treinamento médio, mas com
alguns grupos de “elite” melhor preparados.
Classe dos soldados
Trotsky, ao fundar o Exército Vermelho, fez questão
que a primeira leva de oficiais e soldados fossem operários, base social do
novo Estado. Só então chamou os camponeses, mas apenas aqueles que não
exploravam trabalho alheio.
Os operários, e os camponeses, são gente prática,
disciplinada “naturalmente” no trabalho duro, acostuma com pouco e tensão, útil
para diferentes serviços. Já os membros da classe média, em geral, não têm tais
características e psicologia.
Comandante
O perfil do comandante, sua personalidade, afeta o
perfil geral do seu exército e da guerra. Se for, por exemplo, um homem
disciplinado, mas, ou por isso, sem criatividade, afeta toda a operação.
Perfil nacional
Euclides da Cunha observou que o soldado brasileiro
não serve para manobras complexas, logo seu comandante, além de demonstrar
vigor, deve dar instruções gerais aos subordinados e, então, confiar em suas
iniciativas próprias. Cada país tem, assim, uma cultura particular que deve ser
levada em conta no perfil do soldado.
Soldados dos países ricos e pobres
Um soldado brasileiro é, via de regra, mais
tolerante à tensão do que um suíço. São vidas reais muito diferentes, um deles
precário desde o nascimento. Eis uma armadilha para os imperialistas.
Higiene
Tantas vezes, a principal causa de baixas no
exército são as doenças, evitáveis algumas delas. Por isso, manuais simples
sobre como ferver ou filtrar a água são muito úteis e devem ser seguidos à
risca.
5. Priorizar
outros setores que não a infantaria costuma levar à derrota
Os EUA no Vietnã, a URSS no Afeganistão – ambos
priorizaram a maquinaria sobre a infantaria, e perderam. É irresistível a um
comandante usar sua vantagem, seus tanques etc. Isso é uma lei poderosa:
deve-se priorizar a infantaria, os soldados.
Veja-se que com a alta urbanização e a guerra
urbana, a infantaria ganha ainda maior importância para manobras de terreno (os
soldados lidam melhor com o caos da cidade em guerra do que as máquinas). Já o
maquinário pesado exige muito custo de manutenção e conserto, além de exigir
muita energia, o que por também exige ainda mais da logística. Os custos
necessários, como manter operadores especializados no uso e no trato do
material tecnológico, multiplicam-se. Nas batalhas, armas baratas ou
semicaseiras podem prejudicar meios pesados. A máquina é necessária ao combate,
mas sua prioridade é causa comum de derrotas.
2.
É necessário desestimular o inimigo
Tratar bem quem desiste no outro lado – punir com a
morte quem do seu lado desiste. Eis uma regra de ouro, pois evita que se lute
até o limite.
Aqui, propagandas sobre os soldados do inimigo
também são válidos.
Nunca cercar totalmente o inimigo, sempre deixar uma
brecha para ele fugir – ou, então, sempre lutará com máxima disciplina e
heroísmo.
3.
Sempre que possível e útil, engane o adversário
Sun Tzu diz algo do tipo: 1) se és mais forte,
pareça mais fraco para o inimigo tomar uma ação precipitada; 2) se és mais
fraco, pareça mais forte para o inimigo ter dúvidas, hesitar.
Deve-se ter a sabedoria de enganar quando
necessário, de modo criativo, ou ocultar informações. Na guerra da Ucrânia o
exército ucraniano deu a intender que atacaria uma cidade para fazer os russos
esvaziarem outra, o que deu certo, permitindo retomar o território em outro
ponto.
4.
Sem fórmulas fixas, deve-se avaliar sempre a
situação concreta e o todo
Inexiste norma ou modo de combate exemplar. Um bom
comandante primeiro colhe todos os dados possíveis, trata de adivinhar as ações
do inimigo e toma postura ativa, iniciativa.
9. A guerra é
uma otimização do uso de energia
É preciso não esgotar, extensiva ou intensivamente,
seus soldados, ainda que se exija grande disciplina deles. Nesse sentido, a
logística é importantíssima para abastecer as tropas. Um comandante tem de
pensar em termos energéticos.
10. A
defesa territorial ativa costuma ser superior ao ataque
Pensa-se a defesa como passivo e o ataque como
ativo. Mas, por exemplo, quem está na defensiva, pode tomar a iniciativa de
cercar o inimigo ou operar surpresas. Dito isso, de imediato, temos esta lei: a
vantagem defensiva, como defender o próprio território, usada em geral pelo
mais fraco, serve para, assim que possível, ir, mudar, para a ofensiva.
A coisa acontece muito assim: o lado invasor,
ofensivo, vai pra luta com força máxima, arrasa cidades e avança com força
imensa por boa parte ou quase todo o território do inimigo. Parece que ele vai
ganhar fácil, mas há um engano: 1) ficou mais longe de seu próprio país, logo
tem custos maiores de manter o exército por causa da distância; 2) logo,
sabotadores podem cortar seus transportes e comunicações; 3) logo, o povo do
país invadido é hostil e os sabota; 4) logo, concentrou-se os soldados inimigos
em um pequeno território, o que lhes dá uma vantagem, mais força; etc. Então,
começam as demissões de generais do país invasor, pois seu exército começa,
passo a passo, a perder o território antes conquistado. Veja-se: o atacante
invasor vai com máxima força, mas essa força vai caindo cada vez mais por
morte, por doença, por cansaço, por falta de recursos, por desgaste político
etc.
Um dos aspectos da defesa é a formação de linha de
defesa, uma atrás da outra. A primeira linha, diante do inimigo, deve ser a
mais forte; pois, mesmo que o adversário rompa tal linha, isso custará muito
para ele, e ganhará apenas um pedaço do território.
Terreno
Quem está na defensiva tem a vantagem de
posicionar-se em pontos vantajosos antes, como locais altos (por onde vê, atira
e localiza-se melhor – mas, em si, não é uma vantagem absoluta, mistificada).
Uma das vantagens é, assim, ao conhecer o cenário,
poder operar surpresas contra o invasor.
Povo
O apoio popular na marcha, na logística, na moral,
na camuflagem entre o povo fortalece o exército que está defendendo o
território. Franco atiradores, selecionados para matar alvos específicos, podem
misturar-se na população, por exemplo.
O povo armado em milícias pode ser condição da
vitória da defesa, antes de ir ao ataque. Pequenos grupos de cidadãos armados
podem ter a iniciativa, com apoio simpels do exército, de atacar e recuar os
flancos (lados) do exército invasor
Logística
Quem defende território pode ter facilidade de
comunicação e transporte. Já quem avança sobre outro país, tem este custo
aumentado. Na II Guerra, a Alemanha avançou por demais na grande Rússia, o que
dificultou a retaguarda e a manutenção das tropas; além disso, permitiu que
grupos especiais atacassem suas provisões a caminho.
Desgaste
O exército que avança, que invade, na ofensiva tem
desgaste maior. Uma defesa ativa, não passiva, aumentar ainda mais o desgaste
militar. Assim, na guerra assimétrica, de um grande exército contra um pequeno,
este aposta no prolongamento do conflito, tornando muito custoso ao inimigo.
11. Davi
pode vencer Golias – não há situação completamente sem saída
O século 20 é cheio de exemplos em que o lado mais
fraco derrota o mais forte, usando, por exemplo, de sua leveza, de seu agilidade,
ou seja, do movimento.
Os elementos são estes: movimento e energia – tempo
e espaço, campo – matéria e massa. O comandante pensa sobre tais aspectos. Se
não tem matéria e massa, deve compensar com outro, equivalente, como a
mobilidade, movimento. Exércitos pequenos (matéria) em grandes territórios
(espaços) apostam na manobra e na velocidade (movimento); uma pequena guerrilha
contra um grande exército (matéria, massa) aposta na mobilidade (movimento); um
exército sem grande tecnologia (matéria) aposta em maior infantaria (matéria);
um pequeno grupo militar (matéria) pode vencer ou repelir outro grande
(matéria, massa) se se localiza numa montanha (espaço-matéria) embora um
terreno elevado não seja uma vantagem absoluta ou garantia.
A pequeníssima Chechênia venceu da grande Rússia
compensando com mobilidade e uso do terreno montanhoso. Os comboios com tanques
russos teriam de passar por regiões montanhosas com estradas estreitas, então a
guerrilha inimiga quebrava alguns carros de combate russos para inutilizar toda
a estrada, impedindo aproximação. Além disso, a aviação russa destruiu a
capital chechena, mas isso facilitou o movimento de infantaria e dos
guerrilheiros no ambiente urbano, não do pesado exército russo, o que facilitou
ataques e manobras. Davi, de fato, pode vencer Golias.
12. Ousadia,
ousadia, ousadia!
Às vezes, é preciso a defensiva ativa ou mesmo
recuar, nada de ofensiva permanente artificial. Clausewitz diz que a máxima
ousadia às vezes é o que há de mais sensato. Tal afirmação tem reforço nos comandantes
do Exército Vermelho, como Tukachev. Na origem, a palavra de ordem vem dos
revolucionários da revolução Francesa, os jacobinos. E a história comprovou que
ousadia imensa, bem calculada, muitas vezes define resultados. Portanto,
ousadia!
POLÍTICA DE GUERRA
A guerra entre candidatos a império deve ser
boicotada. Outro caso, exceção clara se for uma luta de países socialistas
contra países capitalistas, pois sempre defendemos a sociedade com traços
socialistas. Se os países nazistas imperialistas se unem contra os
imperialismos “democráticos”, cabe analisar se tomamos os lados contra as
nações fascistas ou o boicote total ao conflito. Se um país dominante entra em
guerra contra um país atrasado, sempre apoiamos este contra aquele. Se dois
países fracos e dominados entram em guerra, tomamos o lado do invadido contra o
invasor, contra o atacante.
INDEPENDÊNCIA NACIONAL
Neste campo, seguimos o seguinte princípio: 1)
queremos unidade humana, logo militamos contra a separação dos povos; mas, 1)
se um povo decide livremente por separar-se, logo defendemos com unhas e dentes
seu direito de independência.
COMO IMPEDIR E COMBATER O FASCISMO
Se o fascismo cresce, quer dizer que a esquerda está
frágil e cometeu muitos erros. Por isso, devemos chamar uma frente única
antifascista com toda a esquerda. Devemos organizar grupos de defesa dos
sindicatos, partidos, greves e protestos – que serão atacados por bandos
nazistas. No Brasil, os trotskista liderados por Mário Pedrosa chamo a frente
única e promoveu um ataque contra o desfile dos fascistas brasileiros, os
integralistas. Depois desse ataque, tal movimento sombrio nunca mais se
reergueu. Além disso, temos que ter política, propostas práticas, que atraiam
os trabalhadores e, pela força de sua luta, parte da classe média. Em geral, se
há um risco fascista, há, oposto, um risco de socialismo – o parlamento
corrupto burguês pode ser destruído por uma ditadura totalitária, ou, ao
contrário, por uma democracia superior e verdadeira. Nesse sentido, não
defendemos em exato a democracia corrupta atual, pois focamos nos problemas
econômicos centrais dos trabalhadores na crise. Claro, a pior democracia é mil
vezes melhor que a mais leve ditadura.
Mais um detalhe: chamamos por uma frente de combate
físico antifascistas. Se os reformistas aceitam, a luta cresce; se os
reformistas negam, seus liderem se desmoralizam, então os comunistas crescem.
Dos dois modos, ganhamos.
O PSTU chamou uma frente apenas com revolucionários
para combater o fascismo, o governo de extrema-direita. Assim, seu movimento
agregou apenas eles, alguns centristas e todas as seitas lunáticas do país. De
nada serviu.
EM CASO DE GUERRA CIVIL BURGUESA
Se dois setores burguesas iniciam ou ameaçam a luta
armada, devemos ver qual o lado progressivo – se há, se existe. Por exemplo,
sem apoiar de fato seu governo, lutamos juntos com a ala democrática. Mas se
ambos forem reacionário e a luta for apenas aoportunista, podemos fazer
campanha pelo boicote à guerra.
GUERRILHA
Para pensar a guerrilha, pense no assalto urbano, a
ladroagem: ação surpresa, rápida, intensa – e focada na fuga fácil e rápida. O
mais fraco usa isso para enfrentar o mais forte, atacar e fugir.
Temos, também, o foquismo. Basta pensar nas milícias
e tráficos no Brasil: controla uma área, governa tal espaço, impede roubos etc.
para ganhar apoio popular, faz festas gratuitas por apoio etc. O foquismo pode
ser rural, urbano, revolucionário ou contra. Mas, via de regra, as guerrilhas
não são estáticas, vivem em movimento – o movimento é uma grande arma para si,
diante de outros defeitos.
Temos, ainda, antiga tática Fabiana: evitar o
confronto direto contra um poderoso exército. Então focar em destruir suas
linhas de comunicação, de abastecimento etc. (um grande exército exige muito
recurso). Atacar, desarticular e fugir.
A guerrilha tem comitê central, mas dá enorme
autonomia de ação, iniciativa, aos seus grupos. No entanto, via de regra, o
marxismo é contra o guerrilheirismo; algumas exceções há se forem apoiadas de
uma real ação das massas revoltadas.
A guerrilha nova pode usar da tática de atacar para
dominar o espaço ao desarticular o exércto inimigo – isso é possível, por
exemplo, se o adversário está muito longe de sua fonte de recursos.
A guerrilha forma pequenos grupos na cidade – e maiores
no campo, aonde é mais fácil de escapar e se esconder.
A guerrilha começa com um grupo que, ao crescer, faz
outro, que faz outro, e assim por diante (sem abandonar os locais originais
aonde criou simpatia popular). Mas as batalhas finais não são separadas e
autônomas: nas últimas lutas, todos os grupos guerilheiros passam aagir como um
exército regular já que cresceram, ficaram fortes e o inimigo cambaleia.
A guerrilha faz dura guerra psicológica, tenta
esgotar os nervos do inimigo. Por exemplo, ataca com toda a força e depois
anula-se; o quartel general do unimigo relaxa; então ataca com toda força de
uma vez de novo – e anula-se com rapidez uma vez.
A guerrilha faz sabotagem, mas evita terrorismo
(todo membro é valioso, especializado)
A guerrilha, por causa do avanço tecnológico,
costuma estar obrigada a usar as mesmas armas do exército unimigo, para dele
tomar as ferramentas e as balas.
Uma das táticas de guerrilha é permitir ser cercado
pelo inimigo, que pensa vencer em poucos instante. Mas, de repente, vem um
contra-cerco: outra parte da guerrilha cerca o “cercador”, o exército unimigo.
É uma emboscada.
A guerrilha pode cercar pelos 4 cantos de modo que
um canto ataca, logo, é atacado, então os oturos 3 passam também a atacar. E
assim, mantendo certa diância mínima, vai-se esgotando o inimigo cercado.
A guerrilha guevarista, porém, tem um defeito: supõe
que o inimigo fortíssimo sempre será passivo e reativo.
Reforçamos que, via de regra, somos contra a tática
guerrilheira – até que realidade imponha algo do tipo. Um dos erros de Che foi
pensar que guerrilha produz as condições da revolução, no lugar de esperar por
elas maduras. Ora, a realidade é muito maior que um foco guerrilheiro. Apenas
em certas condições especiais a guerrilha pode ser uma boa tática – sempre
baseada na luta direta das massas e na crise econômica.
FORMAÇÃO ROMANA – PM
Uma linha reta de PMs é melhor rompida se atacamos
seu meio, seu centro. A PM resolve isso coma formação de “v”, de cone, com o
centro forte, Solução: um pequeno grupo rodeia o quarteirão e ataca por detrás
a formação.
Coquiteis Molotov são feitos de um combustível
(álcool, gasolina etc.) mais um aderente (clara de ovo, óleo etc.) que faz
grudar o fogo no inimigo. Se houver tempo, alguns matérias adicionais, como fibras
de madeira bem cortadas etc. De resto, guarrafa fácil de quebrar e um pano seco
ajudando a tampar a boca, por onde começa o fogo (com ponta emudecida por
combustível).
Quanto aos jatos de pimenta – paciência. Saiba que o
destacamento observar antes a direção do vento para saber de onde surgir na rua
ou avenida de forma que o gás não afete os soldados. Assim, podemos antecipar
de onde eles virão.
CRISE DO APARATO MILITAR
O aparato e o modo militar romano, causa de sua
glória escravista, foi também um fardo de modelo que o levou às derrotas e ao
seu fim. O feudalismo resolve isso com muralhas de castelos e grupos de defesa
locais. No fim da era feudal, os defensores do então novo sistema, o
capitalismo, fundaram modos de guerra novos: o novo exército na Inglaterra, que
se baseou no mérito no lugar do medieval posto de comando por sangue; Bonaparte
inaugurou o serviço militar obrigatório, o abastecimento de tropas nas cidades
por onde passavam etc. Mas o sistema militar burguês também encontra sua crise,
seu limite, após largo desenvolvimento. A luta entre Estados força investir na
artilharia e em máquinas; mas, na história humana, aqueles que investiram mais
em outros setores do que na infantaria, nos soldados, conheceram quase sempre a
desgraça – ao fortalecerem-se para enfrentar uns aos outros, facilitam um tanto
a vitória de exércitos revolucionários e das revoluções. Máquinas caras e
modernas podem ser danificadas por armas e munições baratas ou semicaseiras,
além do alto custo de manutenção, abastecimento e especialização de operadores.
Em nossa época, depois de duas grandes guerras mundiais, o conflito armado não
revolucionário ou não anti-império perde sentido na cabeça dos cidadãos. Um
sistema de milícias operárias e populares, com todo o povo trabalhador armado
com leves e pesados calibres, substituindo os aparatos militares, surgirá após
a dissolução do exército revolucionário e ao mesmo tempo deste.
Na revolução, os trabalhadores lutam apenas por
reformas, para melhorar suas condições, para levar dignidade ao país de modo
sempre pacífico. Quando a burguesia vê que vai perder a luta geral sem sangue
algum, toma a decisão de usar o exército e os bandos fascistas para derrotar o
movimento dos trabalhadores com métodos de guerra civil. Sempre são os grandes
patrões e seu Estado que cruzam a linha, passam do limite, iniciam a violência
contra os assalariados desarmados. Assim, eles obrigam os operários e setores
populares a se defenderem para manter-se vivos e melhorar de vez sua nação. O
exército racha ao meio, uma parte da baixa patente vai para o lado da
revolução. Nessas condições, ou muda tudo ou nada muda. Toda revolução é
impossível – até que se torne inevitável.
UM FUZIL GERAL?
Existe mais de uma centena de tipos de balas e
cartuchos. É possível um engenheiro, ou grupo, fundar um fuzil adaptável à
maioria e principais balas e cartuchos – mesmo que perca um pouco de
eficiência? O objeto seria mais móvel, mas não necessariamente muito mais
complexo. Tanto mais com as atualizações. Isso mudaria parte da lógica da
guerra e aposentaria, em parte, o AK47. Eis a hipótese para a moderna mecânica
de armas.
[1]
Departamento I é o setor de produção de meios de produção; departamento II
produz os meios de consumo. Tais conceitos, não o departamento III, são de Marx
no livro II d’O Capital.
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