domingo, 28 de janeiro de 2024

A crise sistêmica - cap. 30 - CRISE LATENTE DO APARATO DE REPRESSÃO

 

CRISE LATENTE DO APARATO DE REPRESSÃO

 

“Nesta terra de gigantes que trocam vidas por diamantes…”
Humberto Gessinger.

 

“A única garantia possível de democracia é um fuzil no ombro de cada trabalhador”

Lenin.

 

“O desarmado rico é o prêmio do soldado pobre.”

Maquiavel, A Arte da Guerra, LPM, p. 200.

 

A sempre possível luta entre Estados nacionais estimula como lei objetiva o alto desenvolvimento da maquinaria de combate. Por outro lado, para enfrentar a superprodução crônica latente, o capital produz uma pseudodemanda e um pseudoconsumo destrutivo com o desenvolvimento de um Departamento III da economia[1], o complexo industrial-militar (Mészáros, Para além do capital, 2011).

Derivamos de tais constatações duas conclusões que se revelam de modo latente, estrutural: 1) as condições são mais favoráveis para enfrentamentos anti-imperialistas e revolucionários; 2) gesta-se uma crise do aparato de repressão. Ao longo desde capítulo, vamos destacar fatores centrais sobre os quais se baseiam as duas caracterizações.

 

O MAQUINÁRIO DE GUERRA

Igual como nas fábricas, o maquinário tem ganhado peso significativo no exército burguês. Isto gera uma série de problemas insolúveis:

 

1.    Custos altos de construção e manutenção dos grandes aparatos (tanques, aviões, navios, etc.);

2.    Máquinas caras e pesadas, de alta tecnologia, podem tonar-se inválidas por explosivos e armamentos semiartesanais ou de baixo custo:

 

Os CBTPs sofrem ameaças ao seus deslocamentos e integridade de diversas fontes, e devido à natureza da guerra contemporânea qualquer forma de atraso ao movimento das colunas blindadas implica em tempo maior de duração do conflito, aumento de baixas e crescente oposição interna e externa às forças amigas. Portanto meros fossos AC podem se tornar armas estratégicas em uma luta onde o campo de batalha físico é apenas uma parte dela, na guerra assimétrica ou não convencional. (Carvalho & Carvalho, 2015)

 

Em seguida, há exemplos de armas AC – destacamos duas partes do artigo:

 

a) Foguetes - projéteis relativamente simples, providos de ogiva em formato de carga oca revestida por cobre, tem sua capacidade de perfuração associada com o diâmetro da ogica, pricipalmente. Tem baixo custo e não são guiados após o disparo. Os mais simples são os antigos RPG-7 russos e os mais modernos os Panzerfaust 3 alemães. Um mero RPG-7, equipado com granada tipo PG-7V pode perfurar 260 mm de aço balístico plano rolado.

            […]

            c) Explosivos Improvisados – Armadilhas nos campos de batalha não representam novidade, mas o acesso à arsenais de governos e o apoio de países simpatizantes faz com que pequenos grupos em luta tenham acesso a explosivos de grande potência e em grande quantidade. Na invasão do Iraque os americanos lidaram com granadas de artilharia e obuses em profusão, obtidos dos paióis dos antigo exército iraquiano, e que eram escondidos nas margens de rodovias e passagens movimentadas do país, causando explosões tão fortes, que eram capazes de despedaçar as viaturas Humvee, caminhões, CBTPs Bradley e mesmo imobilizar alguns CC Abrams M1. Toda viatura que se coloque hoje como sendo capaz de operar em cenários de guerra assimétrica ou convencional, terá que ser preparado desde a concepção do projeto para lidar com isto. (Idem)

 

Caso russo, vejamos uma das reações a isso:

 

As rodas e as lagartas dos mais recentes veículos blindados nacionais criados na base da plataforma Armata serão equipadas com uma proteção adicional. O projeto é conduzido pelo Instituto de Pesquisa Científica da Rússia (NII, na sigla em russo).

Ao longo do perímetro do veículo serão instalados “escudos laminares” que se assemelham visualmente às grades de proteção dos beliches do quartel.

Isso irá proteger os blindados contra os meios de destruição mais impactantes: granadas cumulativas e mísseis antitanque.

A tarefa do novo kit é deformar a cabeça da granada quando ela acertar o alvo e amortizar parte da energia da explosão.

Além disso, os projetistas ressaltam que, em termos de indicadores de desempenho de combate, as grades de proteção não ficam atrás da blindagem reativa.

"São mais baratas, tecnicamente mais simples, e permitem melhorar em algumas vezes a proteção do motor e da transmissão em condições de combate urbano. A principal desvantagem é a baixa universalidade. As grades de proteção protegem o blindado somente contra alguns tipos isolados de granadas de mão antitanques", disse à Gazeta Russa Dmítri Safonov, analista militar do jornal Izvêstia. (Litôvkin, 2016)

 

De imediato, percebemos uma das razões de tantos conflitos do pós-II Guerra terem sido derrotados por exércitos rústicos contra os de enorme aparato. A Guerra entre URSS e Afeganistão parece-nos um bom exemplo, pois o primeiro investiu em uma numerosa invasão de tanques fracassada diante da resistência guerrilheira da Al-Kaeda e dos camponeses. Exemplos semelhantes: Guerra do Vietnã, revolução chinesa, revolução cubana.

3.        Surge uma relação dúbia com a urbanidade. Nessa questão, o artigo a seguir revela:

 

O novo tanque será apresentado no stand russo na feira de armas Kadex-2016 […] O modelo, adaptado para combate urbano, é equipado com o novo sistema de controle de fogo com um sistema de mira Multicanal Sosna – o qual inclui um computador balístico digital e um conjunto de sensores bastante complexo (velocidade do vento, temperatura de propulsor, temperatura e pressão do ar, velocidade do tanque e sensores de velocidade angular).

De acordo coma Gazeta.ru, o novo T-72 foi concebido como base na experiência russa da guerra na Síria e em outros conflitos no Oriente Médio. (Padilha, 2016)

 

A matéria conclui-se com chave de ouro:

 

“Se você olhar bem, os conflitos armados no mundo ocorrem principalmente dentro das cidades; ninguém se atreve a combater em campo aberto, pois isso levaria à destruição instantânea [dos veículos blindados]”, observou o vice-diretor da Uralvagonzavod, Viacheslav Khalitov. (Idem)

 

Percebemos, no entanto, no caminho oposto à tendência natural do aparelho burguês, que o espaço urbano é melhor para a infantaria, por sua mobilidade e capacidade de localização/ocultação. “Digo-vos, primeiro, que os cavaleiros não podem andar em qualquer lugar como o fazem os infantes” (Maquiavel, 2013, p. 65). O comentário citado leva em conta a guerra regular enquanto também destacamos a guerra revolucionária. Observamos que a altíssima urbanidade é um fator objetivo da luta revolucionária, pois concentra os oprimidos em grande quantidade para fins de mudança estrutural.

4.                  É conhecimento generalizado o balanço das guerras do Iraque e Afeganistão: a dominação militar direta demonstrou-se por demasiado custosa financeira e politicamente, empurrando os EUA para um atoleiro instável. Para isso, há influência do custo do maquinário, da matéria-prima (energia etc.) e da logística de transporte. Outro fator colabora: o lado que dispensa fazer engajamento em outra nação, que não precisa deslocar-se de suas fronteiras, em uma posição territorial defensiva (mesmo que ofensiva nas táticas), possui relativas vantagens: facilidade maior de prover seus exércitos, maior capacidade de unir a nação na defesa, custos de transporte e meios reduzidos, intimidade com o terreno, etc. Por si, assim igual à Guerra do Vietnã, temos um fator limitante para o capitalismo imperialista.

 

FATOR HUMANO

A infantaria é a essência do exército; o peso do maquinário revela uma lei geral da arte da guerra: “os povos ou reinos que estimaram mais a cavalaria do que a infantaria sempre ficaram frágeis e expostos a toda ruína” (Maquiavel, 2013, p. 63). No subcapítulo anterior, isso expomos como erro inevitável do conflito entre Estados. Porém o homem é uma ferramenta falha, difícil de adestrar:

 

5.    Os exércitos oficiais, principalmente os imperialistas, procuram oferecer aos subordinados alguma qualidade de vida, a mais próxima possível da dos seus países ricos; estes, desacostumados com a dificuldade e com o stress, tornam-se um problema em si nos momentos mais difíceis do conflito – e é um custo financeiro adicional; movimentos revolucionários e mesmo exércitos de países atrasados possuem um material humano acostumado com a escassez, com o stress, com o risco e com o limite.

6.    Ao mesmo tempo, os exércitos oficiais, dos Estados, têm um pouco mais de dificuldade para dar aos seus a causa, o sentido da luta e a percepção de “nobreza no ato” – as I e II grandes guerras estão cristalizadas na memória coletiva assim como a desmoralização causada pelas guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão. Do outro lado, exércitos religiosos (ISIS, etc.) ou subversivos e revolucionários possuem este fator ideológico-disciplinador mais apurado.

7.    Os filhos dos assalariados são a geração mais letrada, mais culta da história humana. Inteligência quando somada à moral pode ser um empecilho. No Brasil, políticos burgueses criticaram as greves da polícia militar com a justificativa correta de que os soldados eram defeituosos, pois boa parte deles havia feito curso superior, o que motivaria motins…

8.    A alta concentração urbana facilita lutas latentes contra as guerras do capital, além de facilitar as rebeliões dos escravos assalariados.

Das vantagens materiais – e eles são em si importantes – de um poderoso exército imperialista, um fator se impõe: toda a logística moderna envolvida faz com que seja necessário mais homens fora do combate – médicos, engenheiros, limpeza, segurança de perímetro, administrativo, comunicações, mecânicos, etc. – que aqueles para o enfrentamento. Há custo acrescentado e complicabilidade.

 

HIERARQUIA E MOBILIDADE

9.                  A gestão do tempo e suas consequências ganha importância maior. Assim sendo, o exército burguês tem uma dura desvantagem ao adotar uma hierarquia de comando vertical, complexa, cheia de subdivisões e centralizada. Isto torna as forças armadas lentas para ordenar, receber e executar ordens. Hierarquias como a do Exército vermelho de Leon Trotsky, onde cada batalhão respondia apenas a um oficial, possuíam decisão, ação-reação e mobilidade superiores. Neste ponto específico, assim igual organiza-se o ISIS, além de permitirem autonomia de ação de suas células:

 

É um típico combate de infantaria praticado com maestria pelo Estado Islâmico, conduzido de modo descentralizado – a iniciativa é transferida aos pequenos escalões e travado a curta distância – os últimos cem metros. Pressupõe, porém, grande savoir-faire na preparação das operações (reconhecimento, informações, treinamento com base em mapas, cenários e maquetes, instalação de depósitos avançados de munição e suprimentos), da utilização do micro terreno (ravinas, taludes, trilhas, construções, escombros, etc.) e de ações noturnas facilitando a infiltração e o combate aproximado.                                                                                                                                            (Aranha, 2015)

 

10.              Os oficiais e o alto comando das forças armadas são formados por gente “bem de vida”, acostumados ao trabalho “intelectual” e à vida de poucos círculos sociais. Os grupos militares subversivos, por outro lado, costumam ter no comando gente prática, conhecedora dos aspectos prático da vida, com ligação orgânica com sua base social, que entende a vida comum e estão acostumados a ter pouco. Esta diferença do material humano – acentuada neste momento histórico –, uma diferença que permeia as classes, determina perfis decisórios. Segue válida a contribuição de Clausewitz: os grandes comandantes surgem entre homens do povo.

11.              Em nossa época, os exércitos burgueses procuram profissionalizar seus membros em todos os níveis de hierarquia. Isto tem algumas consequências: afasta seus membros da vida real e da noção de como ela é para a maioria e recebem uma qualidade formal de vida que os “desadestram” para situações de colapso; além disso, há um custo acrescido para a manuntenção de profissionais. Na crise sistêmica do escravismo romano e, em parte, na do feudalismo, tornou-se um sinal do fim daqueles mundos o fim da força militar como sinônimo de cidadãos armados – senhores de escravos, cavaleiros medievais, etc. – e início da profissionalização do exército com salários tendo de ser pagos. Quando o Estado era incapaz de pagar seus funcionários, ocorriam greves e rebeliões.

 

PROBLEMAS LATENTES

12.              Por os pontos acima levantados, o ISIS pode fundar a “guerrilha ofensiva”; aproveita a lentidão do comando e de parte do maquinário oficiais para substituir a tática “atacar-recuar” por “atacar-desarticular” usando os princípio da guerrilha: armas leves, mobilidade, hierarquia simples, autonomia das ações, sabotagem, propaganda e guerra psicológica; porém, com caráter ofensivo, e não o defensivo do fraco em relação ao forte comum às guerrilhas. Como causa, os exércitos burgueses estatais incharam-se para o enfrentamento inter-Estados, mas isso os coloca em dificuldades latentes diante da luta entre classes.

13.     As empresas que atuam no campo militar – da produção de arma à mercenários – tendem a tornar a guerra um fim em si mesmo, uma fonte direta de lucro. Isso é um problema tratado na história da arte militar como a causa de ruína de reinos. Até mesmo empresas de construção visam a guerra de modo artificial para futuras reconstruções no país destruído.

14.   A urbanidade elevada fez surgir uma ampla categoria de assalariados armados nos setores públicos e privados, porém precários. As diferenças entre as condições de vida dos comandantes e a dos da baixa hierarquia tende a rachaduras no aparelho de policial e de segurança. Gesta-se, assim, parte da tendência à quebra do Estado burguês: as greves na polícia, por exemplo, são sintomas de que podem, parte da baixa hierarquia, no futuro passar para o lado da revolução.

15. A sempre latente possibilidade de corrupção da política e das forças armadas cresce hoje por causa da decadência sistêmica.

16.   Em um artigo que serviu de base para este capítulo (Estado Islâmico – aspectos Operacionais: Revolução Tática ou Infantaria Leve na Era Global, de Frederico Aranha), encontramos uma observação intuitiva do autor:

 

Neste sentido, pode-se conjecturar que uma tal forma de organização é comparável à que existiu entre o século quinto e o oitavo da nossa era, com o surgimento dos nômades das estepes (Vândalos, Avaros, Godos, Magiares) e os árabes, todos capazes de derrotarem os exércitos ocidentais graças a sua mobilidade extraordinária. Esta comparação tem como objetivo colocar a perspectiva "revolução tática" para identificar alguns elementos potenciais. A resposta do Ocidente para as invasões dos cavaleiros da estepe é esclarecedora sob diversos aspectos para a nossa realidade contemporânea. Sob os repetidos golpes, o Império Romano e o mundo carolíngio se desintegraram deixando espaço para outros mais capazes combater as ameaças. No caos deste período surgiram, em função das distâncias muito grandes e comunicações primitivas, inúmeros pequenos exércitos aptos a garantir uma defesa eficaz. Desse modo, a solução foi a transferência das responsabilidades militares à aristocracia local mais capaz de proteger áreas nacionais contra invasões e ataques. O historiador Michael Howard (v.bibl.) observa a este respeito: Não é de surpreender que um tipo de sociedade que pode garantir a sobrevivência dos povos da Europa em tais condições, apareceu: as gerações seguintes de historiadores deram-lhe o nome de 'feudalismo'. (John Poole apud Aranha, 2015)

 

Se o pesquisador fosse comunista, talvez percebesse: vivemos o último momento do sistema capitalista, por isso a realidade necessita e está mais que madura para um sistema de milícias operária e popular. Incluso pela alta urbanização, o armamento dos trabalhadores, sustentado na prosperidade socialista, permitirá a reorganização social após o colapso de nossa Roma, o mundo do capital.

Aqui entra a história nos limites internos dos exércitos. O modo do exército feudal provou-se algo intrínseco à classe que o sustentava. Assim, Oliver Cromwell conseguiu vencer a capitalista revolução inglesa porque ofereceu New Model Army (Exército de Novo Tipo) adotando a meritocracia e novos modos de comando. Napoleão Bonaparte fez algo semelhante em seu tempo, como instituindo o alistamento obrigatório, para fins de dominação burguesa contra o poder feudal. O que o conjunto desde capítulo argumenta, portanto, é que o modo militar burguês desenvolveu-se para seu limite histórico e deve ser superado por formas novas de força.

17. Para manter o poder geopolítico, posições estratégicas, ameaçar e reprimir a luta dos trabalhadores mais concentrados na urbanidade, cada vez mais o Estado deve sugar improdutivamente uma parte do valor global. Isso é tão mais verdade quanto a crise do valor, a redução tendencial de sua massa, como crise da sociedade, exige maior tentativa de controle das instabilidades. Algo semelhante aconteceu na Roma Antiga que profissionalizou e ampliou o exército para lidar com o território maior sob seu controle, reprimir as revoltas de escravos então muito concentrados nos campos de trabalho e conseguir nova leva de homens escravizados em territórios mais distantes; o custo social do aparato militar foi acrescido. Quando os impostos deixavam de bastar para pagar as contas estatais, pois o senhor de escravos tinham menos em relação ao custo acrescido, os motins militares facilitaram os motins dos escravizados rumo ao fim daquele sistema. Algo semelhante tende a ocorrer no capitalismo em sua fase tardia.

18. Os próximos Estados operários forçarão os estados capitalistas a aumentar o investimento militar, parte da crise desses Estados e do menor investimento em outras áreas necessárias.

19. Lenin e Trotsky mal tinham acesso ao artigo de luxo rádio, imaginavam a TV por meio da ficção e é duvidoso que sequer tenham imaginado a internet. Percebemos que nossas questões técnicas são qualitativamente diferentes das deles. E o que tais mentes raras diriam hoje? Eis a tarefa coletiva dos marxistas atuais.

O uso de robôs e satélites de combate, dois projetos em desenvolvimento, levará a guerra a outro patamar. Porém inexiste força militar contra limites históricos. O fim da civilização ou a consolidação da humanidade são as duas únicas alternativas viáveis nesta transição sistêmica.

É evidente que em si a robustez dos exércitos oficiais, os imperialistas em especial, é uma das vantagens imediatas do poder capitalista. Porém guarda fatores latentes que podem se revelar como desvantagens perante resistências anti-imperiais ou revolucionárias.

 

O FATOR HISTÓRICO

Parte vital da vitória militar deve-se ao acerto político. Ter uma política de acordo com a necessidade histórica, a implementação do socialismo, facilita vencer as guerras revolucionárias. Mas de modo algum determina, pois a extinção da civilização, talvez mesmo de nossa espécie, estará colocada nas próximas décadas. A certeza de que possui superioridade e de que tende a ganhar as batalhas já foi a ruína de muitos exércitos, já que foram assim pegos na “guarda baixa”. O medo é irmão da coragem. O fato de termos a história do nosso lado de modo algum é determinista quanto aos resultados da humanidade já que a crise sistêmica abre um leque limitado de possibilidades opostas. Por outro lado, erro tanto inverso quanto idêntico, enganam-se aqueles a pensar que as duras derrotas são sempre parciais, que o capitalismo sempre existirá enquanto não for derrubado de modo consciente e teremos, portanto, sempre uma outra chance até vencermos… O fim da civilização ou da humanidade é uma possibilidade também latente.

Se usarmos a lógica para justificar de algum modo as observações deste capítulo, lembramos que Hegel demonstra que o mundo que aparece é como o oposto do mundo essencial, o que é aparece como sorte é azar, e vice-versa. A robustez das forças armadas burguesas pode gerar problemas de manutenção e abastecimento, por exemplo, desde pequenos grupos de sabotagem etc. Dominar a arte militar, de qualquer forma, é obrigação de todo comunista.

 

 

 

PARA UM MANUAL MILITAR

Existem regras gerais, universais, para a arte da guerra? Há, pelo menos, afirmações que são encontradas de modo semelhante entre os principais tratados militares da história. Aqui, como um glossário geral, apresentamos certas “leis” que se repetem mesmo com alterações significativas na concretude dos conflitos. Abaixo, desenvolveremos cada um dos pontos.

 

 

5 LEIS DA OFENSIVA

 

1.  A guerra é resultado da economia

Razão militar

Cada época com sua forma de guerra

Empresas de guerra

2.  A guerra é a continuação da política

Há vantagens em estar de acordo com a história

O programa

Como o perfil afeta o perfil da guerra

Educação política

Evitar sentimento de “vitória antecipada”

3.  A quantidade de soldados importa

4.  A qualidade dos militares importa

Classe dos soldados

Comandante

Perfil nacional

Soldados dos países ricos e pobres

Higiene

5.  Priorizar outros setores que não a infantaria costuma levar à derrota

6.  É necessário desestimular o inimigo

7.  Sempre que possível e útil, engane o adversário

8.  Sem fórmulas fixas, deve-se avaliar sempre a situação concreta e o todo

9.  A guerra é uma otimização do uso de energia

10. A defesa territorial ativa costuma ser superior ao ataque

Terreno

Povo

Logística

Desgaste

11.  Davi pode vencer Golias – não há situação completamente sem saída

12.  Ousadia, ousadia, ousadia!

 

***

 

POLÍTICA DE GUERRA

INDEPENDÊNCIA NACIONAL

COMO IMPEDIR E COMBATER O FASCISMO

EM CASO DE GUERRA CIVIL BURGUESA

GUERRILHA

CRISE DO APARATO MILITAR

FORMAÇÃO ROMANA – PM

***

5 LEIS DA OFENSIVA

 

1.  A OFENSIVA É MENOS VANTAJOSA QUE A DEFENSIVA

Ao invadir o território, o exército invasor está diante de a) problemas na logística por se afastar de seu próprio país, b) um inimigo com moral alta por defender-se, c) um inimigo que, após recuar muito, está concentrado, d) um inimigo que conhece bem o território, e) um inimigo bem posicionado.

 

2.  OS PAPÉIS TERÃO DE SER INVERTIDOS, OFENSIVA E DEFENSIVA

Quem invadiu, ofensiva, deve, depois, defender parte daquilo conquistado, portanto defensiva. Quem foi invadido, defensiva, deve passar para a conquista ou retomada do perdido, portanto ofensiva.

 

3.  A FORÇA DE INVASÃO É CADA VEZ MENOR

É raro aumentar a força, ímpeto, o número de soldados e ao moral depois de meses ou anos. Perde-se poder com o tempo, tempo este que, via de regra, ajuda o invadido (desgaste político do invasor em seu próprio país etc.).

 

 

4.  SE INVADIR, USAR TODA A FORÇA DE UMA VEZ

Não se deve perder tempo no início: avançar o máximo possível e tão veloz quanto. Não ir por camadas e posições seguras.

 

5.  SE INVADIR, USE DA SURPRESA

Se possível, deve-se invadir com máximo segredo, de uma vez, de repente.

 

 

PARA UM MANUAL MILITAR

 

Existem regras gerais, universais, para a arte da guerra? Há, pelo menos, afirmações que são encontradas de modo semelhante entre os principais tratados militares da história. Aqui, como um glossário geral, apresentamos certas “leis” que se repetem mesmo com alterações significativas na concretude dos conflitos. Abaixo, desenvolveremos cada um dos pontos.

 

1.  A guerra é resultado da economia

 

Razão militar

 

Os filmes costumam afirmar a luta do poder pelo… poder, como algo abstrato e vazio. É um grande engano; via de regra, a guerra tem objetivo de gerar riquezas ao vencedor ou ao agressor. Pode-se invadir uma ilha próxima para ter apenas melhor localização militar, mas mesmo indiretamente há o objetivo lucrativo.

O Estado socialista, que visa ao bem-estar da maioria, com economia planejada e centralizada, tem mais facilidade de girar recursos para o conflito, rumo à vitória.

 

Cada época com sua forma de guerra

 

Cada época exige uma forma de fazer guerra. O problema, então, é que se cristaliza um modo militar obsoleto, mas que teima em manter-se até o último grão de minuto.

O escravismo no início tem um modo militar diferente de seu auge-crise. Via de regra, quando a força militar deixa de ser feita com os cidadãos livres armados, quando se profissionaliza a força de guerra, a decadência ocorre; foi assim no escravismo e é assim hoje, no capitalismo. Uma casta com desejos próprios surge e desestabiliza o estado.

O modo militar feudal baseava-se no feudo isolado, em autodefesa desde os cavaleiros em postos de comando. Ora, isso resolveu a crise militar anterior, do escravismo romano – mas também se tornou atrasado. Os novos exércitos inglês e francês mudaram radicalmente o modo de guerrear, de acordo com o mundo novo, burguês; por exemplo, o cargo de comando passou a ser dado por mérito, não mais por origem de sangue; com o crescimento das cidades, o abastecimento das tropas passou a ocorrer nos locais urbanos por onde se passava por meio de compras, confisco ou em harmonia com o poder local.

O socialismo substituirá progressivamente, desde seu começo, o exército por o povo armado, com leves e pesados calibres, e com treinamento básico, até que o comunismo tenha armas apenas para jogos e esportes, numa humanidade unificada. Isso é condição da democracia, do bom governo, da segurança e da superioridade militar socialista em seu começo, quando ainda haverá países capitalistas. Diz Maquiavel: apenas o mau governante teme seu povo armado.

De qualquer modo, vale destacar a regra geral: raramente o objetivo é destruir totalmente o inimigo, mas tornar para ele demasiado custoso manter o conflito.

 

Empresas de guerra

 

Se a guerra em si, de modo direto, passa a ser fonte de lucro, seja do infante ou seja do exército, então o Estado ou o governo cai. Se o capitalismo hoje se levasse a sério, proibiria empresas de mercenários, empresas privadas de produção para guerra etc. Mas o caminho é, agora, o oposto: até pseudoestados como o de Israel dependem da construção civil e da empresa militar para sua economia, logo necessita de guerra para tomar terras, reconstruir e aumentar as ações na bolsa de suas empresas militares.

A guerra, se injusta em especial, tantas vezes derruba o governo ou mesmo o sistema nos países em conflito.

 

2.  A guerra é a continuação da política

 

A máxima acima vem de Von Clausewitz, de imediato apropriado pelo marxismo. O silogismo torna-se este:

 

A guerra é a continuação da política (por outros meios),

A política é economia concentrada;

Logo, a guerra é a continuação da economia.

 

Desenvolvamos, portanto, as reflexões necessárias sobre.

Vejamos a guerra do Vietnã. Os EUA venceram quase todos os conflitos militares naquele país asiático, mas perdeu a guerra porque o seu prolongamento do conflito fez o governo perder apoio de sua população. Também os EUA não invadem sua vizinha Cuba por fala de condições políticas, não militares.

 

Há vantagens em estar de acordo com a história

Estar do lado certo, junto ao futuro, dá alguma força; mas não absoluta, nenhuma garantia de vitória certa. Diante da superioridade militar do lado sul na guerra civil americana, Marx, ainda assim, apostou no norte industrial por estar de acordo com as leis do desenvolvimento capitalista.

Che Guevara cometeu um pesado erro vanguardista e blanquista ao pensar que, em geral, pode uma pequena guerrilha vencer um exército nacional sem as devidas condições econômicas e políticas favoráveis. Para ele, a própria guerrilha faz suas condições. É um grande erro, que levou a perdemos muitos lutadores.

 

O programa

O primeiro passo para vencer uma guerra é convencer cidadãos, na prática, de sua justa luta. Quando os operários russos conquistaram jornada de 8 horas diárias e os camponeses ganharam terras novas, eles foram com máxima disciplina para a luta contra 14 – 14! – exércitos entre os mais poderosos do mundo. E venceram. Na guerra civil americana, o general do norte decretou: está abolida a escravidão em todo o território. Isso atuou para desestabilizar o sul escravista, facilitando a vitória.

 

Como o perfil afeta o perfil da guerra

 

Na guerra civil russa, os 14 exércitos invasores agiram cada um por si, em disciplina nacional, em busca de um pedaço próprio do território russo. Na outra ponta, o exército vermelho reuniu sob sua força, desta vez, unificada 5 milhões de combatentes. Veja-se que causas econômicas e políticas afetaram o perfil dos exércitos e da guerra, pendendo para a vitória de um lado contra o outro. O grande exército da URSS Pôde, assim, enfrentar um por um os invasores separados.

Ainda na revolução russa, uma nova guerra “mundial” logo em seguida da primeira grande guerra, somado com a nova pátria socialista, levou a uma onda de greves e protestos nos países invasores, em solidariedade com a URSS, o que desestimulou o conflito.

 

Educação política

 

Os soldados e o povo devem ser convencidos. Portanto, uma luta por suas consciências deve ser permanente. Não basta fé, pois é preciso ter clareza do motivo de estar lutando.

 

Evitar sentimento de “vitória antecipada”

 

Dizer, por exemplo, “fascistas não passarão!” revela mais o medo de que passem – e podem passar, mesmo – do que uma palavra de ordem útil; ela, na verdade, desarma o lado antifascista. A arrogância de vitória certa já foi a ruína de muitos em batalha. Por isso, deve-se manter o sinal de alerta, sempre e sempre. Em geral, o exército mais fraco é o mais criativo e ousado exato por medo da derrota.

O desânimo e o medo total devem igualmente ser evitados. A esperança de vencer, portanto, deve ergue o moral dos soldados.

 

3.  A quantidade de soldados importa

 

Muitos soldados, ainda que medianos, ganham de poucos soldados bem treinados. O número tem grande peso. Um exército gigantesco contra um pequeno pode, ainda assim, perder, pois o defeito da força é confiar apenas na força. Assim, a tática fabiana de evitar conflito direto e cortar, em ataques surpresa, a comunicação e a logística do poderoso (e custoso) inimigo pode levar à vitória. A concentração alta de um exército leva à fragmentação guerrilheira de outro pequeno. Nem tudo é número: quem é dono de fato do território também tem certa vantagem, mesmo que em minoria.

Nos países, aqueles exércitos que não têm grande tecnologia investem na quantidade maior de materiais menos avançados e de soldados.

 

A quantidade é, ela mesma, uma qualidade.

 

4.  A qualidade dos militares importa

 

Engels, ao tratar das primeiras e fracassadas revoluções burguesas, toma nota que mendigos, vagabundos, ladrões etc. participarem de exércitos, o que atrapalhou, por exemplo, a disciplina.

Na guerra, basta um treinamento médio, mas com alguns grupos de “elite” melhor preparados.

 

Classe dos soldados

 

Trotsky, ao fundar o Exército Vermelho, fez questão que a primeira leva de oficiais e soldados fossem operários, base social do novo Estado. Só então chamou os camponeses, mas apenas aqueles que não exploravam trabalho alheio.

Os operários, e os camponeses, são gente prática, disciplinada “naturalmente” no trabalho duro, acostuma com pouco e tensão, útil para diferentes serviços. Já os membros da classe média, em geral, não têm tais características e psicologia.

 

Comandante

 

O perfil do comandante, sua personalidade, afeta o perfil geral do seu exército e da guerra. Se for, por exemplo, um homem disciplinado, mas, ou por isso, sem criatividade, afeta toda a operação.

 

Perfil nacional

 

Euclides da Cunha observou que o soldado brasileiro não serve para manobras complexas, logo seu comandante, além de demonstrar vigor, deve dar instruções gerais aos subordinados e, então, confiar em suas iniciativas próprias. Cada país tem, assim, uma cultura particular que deve ser levada em conta no perfil do soldado.

 

Soldados dos países ricos e pobres

 

Um soldado brasileiro é, via de regra, mais tolerante à tensão do que um suíço. São vidas reais muito diferentes, um deles precário desde o nascimento. Eis uma armadilha para os imperialistas.

 

 

 

 

Higiene

 

Tantas vezes, a principal causa de baixas no exército são as doenças, evitáveis algumas delas. Por isso, manuais simples sobre como ferver ou filtrar a água são muito úteis e devem ser seguidos à risca.

 

5.  Priorizar outros setores que não a infantaria costuma levar à derrota

 

Os EUA no Vietnã, a URSS no Afeganistão – ambos priorizaram a maquinaria sobre a infantaria, e perderam. É irresistível a um comandante usar sua vantagem, seus tanques etc. Isso é uma lei poderosa: deve-se priorizar a infantaria, os soldados.

Veja-se que com a alta urbanização e a guerra urbana, a infantaria ganha ainda maior importância para manobras de terreno (os soldados lidam melhor com o caos da cidade em guerra do que as máquinas). Já o maquinário pesado exige muito custo de manutenção e conserto, além de exigir muita energia, o que por também exige ainda mais da logística. Os custos necessários, como manter operadores especializados no uso e no trato do material tecnológico, multiplicam-se. Nas batalhas, armas baratas ou semicaseiras podem prejudicar meios pesados. A máquina é necessária ao combate, mas sua prioridade é causa comum de derrotas.

 

2.      É necessário desestimular o inimigo

 

Tratar bem quem desiste no outro lado – punir com a morte quem do seu lado desiste. Eis uma regra de ouro, pois evita que se lute até o limite.

Aqui, propagandas sobre os soldados do inimigo também são válidos.

Nunca cercar totalmente o inimigo, sempre deixar uma brecha para ele fugir – ou, então, sempre lutará com máxima disciplina e heroísmo.

 

3.      Sempre que possível e útil, engane o adversário

 

Sun Tzu diz algo do tipo: 1) se és mais forte, pareça mais fraco para o inimigo tomar uma ação precipitada; 2) se és mais fraco, pareça mais forte para o inimigo ter dúvidas, hesitar.

Deve-se ter a sabedoria de enganar quando necessário, de modo criativo, ou ocultar informações. Na guerra da Ucrânia o exército ucraniano deu a intender que atacaria uma cidade para fazer os russos esvaziarem outra, o que deu certo, permitindo retomar o território em outro ponto.

 

4.      Sem fórmulas fixas, deve-se avaliar sempre a situação concreta e o todo

 

Inexiste norma ou modo de combate exemplar. Um bom comandante primeiro colhe todos os dados possíveis, trata de adivinhar as ações do inimigo e toma postura ativa, iniciativa.

 

9.  A guerra é uma otimização do uso de energia

 

É preciso não esgotar, extensiva ou intensivamente, seus soldados, ainda que se exija grande disciplina deles. Nesse sentido, a logística é importantíssima para abastecer as tropas. Um comandante tem de pensar em termos energéticos.

 

10.            A defesa territorial ativa costuma ser superior ao ataque

 

Pensa-se a defesa como passivo e o ataque como ativo. Mas, por exemplo, quem está na defensiva, pode tomar a iniciativa de cercar o inimigo ou operar surpresas. Dito isso, de imediato, temos esta lei: a vantagem defensiva, como defender o próprio território, usada em geral pelo mais fraco, serve para, assim que possível, ir, mudar, para a ofensiva.

A coisa acontece muito assim: o lado invasor, ofensivo, vai pra luta com força máxima, arrasa cidades e avança com força imensa por boa parte ou quase todo o território do inimigo. Parece que ele vai ganhar fácil, mas há um engano: 1) ficou mais longe de seu próprio país, logo tem custos maiores de manter o exército por causa da distância; 2) logo, sabotadores podem cortar seus transportes e comunicações; 3) logo, o povo do país invadido é hostil e os sabota; 4) logo, concentrou-se os soldados inimigos em um pequeno território, o que lhes dá uma vantagem, mais força; etc. Então, começam as demissões de generais do país invasor, pois seu exército começa, passo a passo, a perder o território antes conquistado. Veja-se: o atacante invasor vai com máxima força, mas essa força vai caindo cada vez mais por morte, por doença, por cansaço, por falta de recursos, por desgaste político etc.

Um dos aspectos da defesa é a formação de linha de defesa, uma atrás da outra. A primeira linha, diante do inimigo, deve ser a mais forte; pois, mesmo que o adversário rompa tal linha, isso custará muito para ele, e ganhará apenas um pedaço do território.

 

Terreno

 

Quem está na defensiva tem a vantagem de posicionar-se em pontos vantajosos antes, como locais altos (por onde vê, atira e localiza-se melhor – mas, em si, não é uma vantagem absoluta, mistificada).

Uma das vantagens é, assim, ao conhecer o cenário, poder operar surpresas contra o invasor.

 

Povo

 

O apoio popular na marcha, na logística, na moral, na camuflagem entre o povo fortalece o exército que está defendendo o território. Franco atiradores, selecionados para matar alvos específicos, podem misturar-se na população, por exemplo.

O povo armado em milícias pode ser condição da vitória da defesa, antes de ir ao ataque. Pequenos grupos de cidadãos armados podem ter a iniciativa, com apoio simpels do exército, de atacar e recuar os flancos (lados) do exército invasor

 

Logística

 

Quem defende território pode ter facilidade de comunicação e transporte. Já quem avança sobre outro país, tem este custo aumentado. Na II Guerra, a Alemanha avançou por demais na grande Rússia, o que dificultou a retaguarda e a manutenção das tropas; além disso, permitiu que grupos especiais atacassem suas provisões a caminho.

 

Desgaste

 

O exército que avança, que invade, na ofensiva tem desgaste maior. Uma defesa ativa, não passiva, aumentar ainda mais o desgaste militar. Assim, na guerra assimétrica, de um grande exército contra um pequeno, este aposta no prolongamento do conflito, tornando muito custoso ao inimigo.

 

11.            Davi pode vencer Golias – não há situação completamente sem saída

 

O século 20 é cheio de exemplos em que o lado mais fraco derrota o mais forte, usando, por exemplo, de sua leveza, de seu agilidade, ou seja, do movimento.

Os elementos são estes: movimento e energia – tempo e espaço, campo – matéria e massa. O comandante pensa sobre tais aspectos. Se não tem matéria e massa, deve compensar com outro, equivalente, como a mobilidade, movimento. Exércitos pequenos (matéria) em grandes territórios (espaços) apostam na manobra e na velocidade (movimento); uma pequena guerrilha contra um grande exército (matéria, massa) aposta na mobilidade (movimento); um exército sem grande tecnologia (matéria) aposta em maior infantaria (matéria); um pequeno grupo militar (matéria) pode vencer ou repelir outro grande (matéria, massa) se se localiza numa montanha (espaço-matéria) embora um terreno elevado não seja uma vantagem absoluta ou garantia.

A pequeníssima Chechênia venceu da grande Rússia compensando com mobilidade e uso do terreno montanhoso. Os comboios com tanques russos teriam de passar por regiões montanhosas com estradas estreitas, então a guerrilha inimiga quebrava alguns carros de combate russos para inutilizar toda a estrada, impedindo aproximação. Além disso, a aviação russa destruiu a capital chechena, mas isso facilitou o movimento de infantaria e dos guerrilheiros no ambiente urbano, não do pesado exército russo, o que facilitou ataques e manobras. Davi, de fato, pode vencer Golias.

 

12.            Ousadia, ousadia, ousadia!

 

Às vezes, é preciso a defensiva ativa ou mesmo recuar, nada de ofensiva permanente artificial. Clausewitz diz que a máxima ousadia às vezes é o que há de mais sensato. Tal afirmação tem reforço nos comandantes do Exército Vermelho, como Tukachev. Na origem, a palavra de ordem vem dos revolucionários da revolução Francesa, os jacobinos. E a história comprovou que ousadia imensa, bem calculada, muitas vezes define resultados. Portanto, ousadia!

 

 

POLÍTICA DE GUERRA

 

A guerra entre candidatos a império deve ser boicotada. Outro caso, exceção clara se for uma luta de países socialistas contra países capitalistas, pois sempre defendemos a sociedade com traços socialistas. Se os países nazistas imperialistas se unem contra os imperialismos “democráticos”, cabe analisar se tomamos os lados contra as nações fascistas ou o boicote total ao conflito. Se um país dominante entra em guerra contra um país atrasado, sempre apoiamos este contra aquele. Se dois países fracos e dominados entram em guerra, tomamos o lado do invadido contra o invasor, contra o atacante.

 

INDEPENDÊNCIA NACIONAL

 

Neste campo, seguimos o seguinte princípio: 1) queremos unidade humana, logo militamos contra a separação dos povos; mas, 1) se um povo decide livremente por separar-se, logo defendemos com unhas e dentes seu direito de independência.

 

 

COMO IMPEDIR E COMBATER O FASCISMO

 

Se o fascismo cresce, quer dizer que a esquerda está frágil e cometeu muitos erros. Por isso, devemos chamar uma frente única antifascista com toda a esquerda. Devemos organizar grupos de defesa dos sindicatos, partidos, greves e protestos – que serão atacados por bandos nazistas. No Brasil, os trotskista liderados por Mário Pedrosa chamo a frente única e promoveu um ataque contra o desfile dos fascistas brasileiros, os integralistas. Depois desse ataque, tal movimento sombrio nunca mais se reergueu. Além disso, temos que ter política, propostas práticas, que atraiam os trabalhadores e, pela força de sua luta, parte da classe média. Em geral, se há um risco fascista, há, oposto, um risco de socialismo – o parlamento corrupto burguês pode ser destruído por uma ditadura totalitária, ou, ao contrário, por uma democracia superior e verdadeira. Nesse sentido, não defendemos em exato a democracia corrupta atual, pois focamos nos problemas econômicos centrais dos trabalhadores na crise. Claro, a pior democracia é mil vezes melhor que a mais leve ditadura.

Mais um detalhe: chamamos por uma frente de combate físico antifascistas. Se os reformistas aceitam, a luta cresce; se os reformistas negam, seus liderem se desmoralizam, então os comunistas crescem. Dos dois modos, ganhamos.

O PSTU chamou uma frente apenas com revolucionários para combater o fascismo, o governo de extrema-direita. Assim, seu movimento agregou apenas eles, alguns centristas e todas as seitas lunáticas do país. De nada serviu.

 

EM CASO DE GUERRA CIVIL BURGUESA

 

Se dois setores burguesas iniciam ou ameaçam a luta armada, devemos ver qual o lado progressivo – se há, se existe. Por exemplo, sem apoiar de fato seu governo, lutamos juntos com a ala democrática. Mas se ambos forem reacionário e a luta for apenas aoportunista, podemos fazer campanha pelo boicote à guerra.

 

GUERRILHA

 

Para pensar a guerrilha, pense no assalto urbano, a ladroagem: ação surpresa, rápida, intensa – e focada na fuga fácil e rápida. O mais fraco usa isso para enfrentar o mais forte, atacar e fugir.

Temos, também, o foquismo. Basta pensar nas milícias e tráficos no Brasil: controla uma área, governa tal espaço, impede roubos etc. para ganhar apoio popular, faz festas gratuitas por apoio etc. O foquismo pode ser rural, urbano, revolucionário ou contra. Mas, via de regra, as guerrilhas não são estáticas, vivem em movimento – o movimento é uma grande arma para si, diante de outros defeitos.

Temos, ainda, antiga tática Fabiana: evitar o confronto direto contra um poderoso exército. Então focar em destruir suas linhas de comunicação, de abastecimento etc. (um grande exército exige muito recurso). Atacar, desarticular e fugir.

A guerrilha tem comitê central, mas dá enorme autonomia de ação, iniciativa, aos seus grupos. No entanto, via de regra, o marxismo é contra o guerrilheirismo; algumas exceções há se forem apoiadas de uma real ação das massas revoltadas.

A guerrilha nova pode usar da tática de atacar para dominar o espaço ao desarticular o exércto inimigo – isso é possível, por exemplo, se o adversário está muito longe de sua fonte de recursos.

A guerrilha forma pequenos grupos na cidade – e maiores no campo, aonde é mais fácil de escapar e se esconder.

A guerrilha começa com um grupo que, ao crescer, faz outro, que faz outro, e assim por diante (sem abandonar os locais originais aonde criou simpatia popular). Mas as batalhas finais não são separadas e autônomas: nas últimas lutas, todos os grupos guerilheiros passam aagir como um exército regular já que cresceram, ficaram fortes e o inimigo cambaleia.

A guerrilha faz dura guerra psicológica, tenta esgotar os nervos do inimigo. Por exemplo, ataca com toda a força e depois anula-se; o quartel general do unimigo relaxa; então ataca com toda força de uma vez de novo – e anula-se com rapidez uma vez.

A guerrilha faz sabotagem, mas evita terrorismo (todo membro é valioso, especializado)

A guerrilha, por causa do avanço tecnológico, costuma estar obrigada a usar as mesmas armas do exército unimigo, para dele tomar as ferramentas e as balas.

Uma das táticas de guerrilha é permitir ser cercado pelo inimigo, que pensa vencer em poucos instante. Mas, de repente, vem um contra-cerco: outra parte da guerrilha cerca o “cercador”, o exército unimigo. É uma emboscada.

A guerrilha pode cercar pelos 4 cantos de modo que um canto ataca, logo, é atacado, então os oturos 3 passam também a atacar. E assim, mantendo certa diância mínima, vai-se esgotando o inimigo cercado.

A guerrilha guevarista, porém, tem um defeito: supõe que o inimigo fortíssimo sempre será passivo e reativo.

Reforçamos que, via de regra, somos contra a tática guerrilheira – até que realidade imponha algo do tipo. Um dos erros de Che foi pensar que guerrilha produz as condições da revolução, no lugar de esperar por elas maduras. Ora, a realidade é muito maior que um foco guerrilheiro. Apenas em certas condições especiais a guerrilha pode ser uma boa tática – sempre baseada na luta direta das massas e na crise econômica.

 

FORMAÇÃO ROMANA – PM

 

Uma linha reta de PMs é melhor rompida se atacamos seu meio, seu centro. A PM resolve isso coma formação de “v”, de cone, com o centro forte, Solução: um pequeno grupo rodeia o quarteirão e ataca por detrás a formação.

Coquiteis Molotov são feitos de um combustível (álcool, gasolina etc.) mais um aderente (clara de ovo, óleo etc.) que faz grudar o fogo no inimigo. Se houver tempo, alguns matérias adicionais, como fibras de madeira bem cortadas etc. De resto, guarrafa fácil de quebrar e um pano seco ajudando a tampar a boca, por onde começa o fogo (com ponta emudecida por combustível).

Quanto aos jatos de pimenta – paciência. Saiba que o destacamento observar antes a direção do vento para saber de onde surgir na rua ou avenida de forma que o gás não afete os soldados. Assim, podemos antecipar de onde eles virão.

 

CRISE DO APARATO MILITAR

 

O aparato e o modo militar romano, causa de sua glória escravista, foi também um fardo de modelo que o levou às derrotas e ao seu fim. O feudalismo resolve isso com muralhas de castelos e grupos de defesa locais. No fim da era feudal, os defensores do então novo sistema, o capitalismo, fundaram modos de guerra novos: o novo exército na Inglaterra, que se baseou no mérito no lugar do medieval posto de comando por sangue; Bonaparte inaugurou o serviço militar obrigatório, o abastecimento de tropas nas cidades por onde passavam etc. Mas o sistema militar burguês também encontra sua crise, seu limite, após largo desenvolvimento. A luta entre Estados força investir na artilharia e em máquinas; mas, na história humana, aqueles que investiram mais em outros setores do que na infantaria, nos soldados, conheceram quase sempre a desgraça – ao fortalecerem-se para enfrentar uns aos outros, facilitam um tanto a vitória de exércitos revolucionários e das revoluções. Máquinas caras e modernas podem ser danificadas por armas e munições baratas ou semicaseiras, além do alto custo de manutenção, abastecimento e especialização de operadores. Em nossa época, depois de duas grandes guerras mundiais, o conflito armado não revolucionário ou não anti-império perde sentido na cabeça dos cidadãos. Um sistema de milícias operárias e populares, com todo o povo trabalhador armado com leves e pesados calibres, substituindo os aparatos militares, surgirá após a dissolução do exército revolucionário e ao mesmo tempo deste. 

Na revolução, os trabalhadores lutam apenas por reformas, para melhorar suas condições, para levar dignidade ao país de modo sempre pacífico. Quando a burguesia vê que vai perder a luta geral sem sangue algum, toma a decisão de usar o exército e os bandos fascistas para derrotar o movimento dos trabalhadores com métodos de guerra civil. Sempre são os grandes patrões e seu Estado que cruzam a linha, passam do limite, iniciam a violência contra os assalariados desarmados. Assim, eles obrigam os operários e setores populares a se defenderem para manter-se vivos e melhorar de vez sua nação. O exército racha ao meio, uma parte da baixa patente vai para o lado da revolução. Nessas condições, ou muda tudo ou nada muda. Toda revolução é impossível – até que se torne inevitável.

 

UM FUZIL GERAL?

 

Existe mais de uma centena de tipos de balas e cartuchos. É possível um engenheiro, ou grupo, fundar um fuzil adaptável à maioria e principais balas e cartuchos – mesmo que perca um pouco de eficiência? O objeto seria mais móvel, mas não necessariamente muito mais complexo. Tanto mais com as atualizações. Isso mudaria parte da lógica da guerra e aposentaria, em parte, o AK47. Eis a hipótese para a moderna mecânica de armas.

 

 

 



[1] Departamento I é o setor de produção de meios de produção; departamento II produz os meios de consumo. Tais conceitos, não o departamento III, são de Marx no livro II d’O Capital.

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