sábado, 24 de fevereiro de 2024

3 críticas à crítica marxista do fetiche

 TRÊS CRÍTICAS À CRÍTICA MARXISTA DO FETICHE

 

J. P. Teresina-PI

Dos livros, A crise sistêmica e A metafísica Marxista.


Uma teoria geral, mais geral, correta costuma abarcar e explicar dentro de si a teoria por ela superada. Penso que seja o caso do ponto que iremos tratar agora. Todos os aspectos do marxismo foram atualizados ou reformulados em minha obra; o mesmo vale para a teoria do fetiche, que ganha natureza nova e mais objetiva. Vejamos as teses críticas.

 

1.         O valor é, de fato, seu valor de uso

Ao criticar o fetiche da mercadoria, Marx afirma que uma relação social entre homens aparece coisificada e enquanto relação social entre coisas. Parece, de parecer, que 1 quilo de arroz é igual a um tanto certo de feijão, como se iguais e trocáveis por si, entre si.

Ora, o processo cristaliza-se na estrutura. Essa afirmação produz um valor-matéria, pois o processo de trabalho cristaliza-se na mercadoria, na materialidade. O valor-matéria depende de três fatores: material, propriedades e contexto. São três elementos materiais, que dizem o valor do objeto. O material é o mais claro e evidente relativo aos demais, daí a dificuldade teórica. Mas a perecibilidade do objeto, por exemplo, propriedade, também tem relação com seu valor.

Assim como Platão está para Sócrates, esta teoria – e as obras que a sustentam – está para Marx. Ou como Aristóteles está para Platão. Marx duplica o mundo em valor e valor de uso, mercadoria e dinheiro, capital fixo e circulante, trabalho por peça e por tempo etc. Reunifico-os: a alma é o próprio corpo. Há relação direta e identidade entre materialidade e valor. Mais materialidade, no sentido amplo, mais valor tem.

Assim, o professor produz valor porque produz um valor de uso, o novo trabalhador especializado, mas produz pouco porque produz um valor de baixa materialidade. Como, antes, o valor era tratado como algo separado e invisível, todo tipo de teoria surgiu. Uma confusão geral. Mas sua fusão, do valor, com o valor de uso, o valor-matéria, resolve tudo.

Ainda sobre o fetiche do dinheiro, do ouro. É claro que o ouro em si não é dinheiro, mas apenas numa sociedade, mas ele é em si o melhor como dinheiro, em potência. O ouro exige muito trabalho e tempo, muita matéria, para ser produzida nas estrelas – daí sua raridade. Sim: o valor da mercadoria depende até do trabalho e da materialidade natural, além do contexto e das propriedades. Ele é materialmente “pesado”. As propriedades do ouro fazem ele ter seu valor singular: raro, imperecível, pode ser separado e fundido à vontade, maleabilidade certa etc. Do mesmo modo, o petróleo é tão importante hoje, até lastro do dinheiro, por suas propriedades – vários valores de uso de base surgem dele.

Valor de uso é o valor.

  

2) Há, sim, relação “social” entre coisas

Para Marx, um processo objetivo produz a ilusão subjetiva de relação entre coisas. Para mim, isso também é objetivo: há uma relação social entre coisas, de fato. O capitalismo é a sociedade das coisas, a sociedade secreta e conflituosa coisal. Visto de modo individual, consumismo e usamos-destruímos as coisas; mas, no todo, a coisidade domina-nos, explora-nos. Nós somos coisificados na sociedade capitalista porque esta é uma sociedade delas, coisificante.

O dinheiro que gera mais dinheiro, em busca de mais de si, não é uma ilusão, mas uma realização, que tem o trabalhador como fardo necessário assim como precisamos da gravidade que pesa sobre nossos ombros. Não é uma relação social que parece como relação coisal – não é mero aparecer, pois assim é de vez. Cabe-nos domar o mundo das coisas.

O capitalismo é nossa matrix.

 

3) O fetiche não é apenas um reflexo subjetivo

Com Lukács, buscou-se focar no aspecto subjetivo do fetichismo. Mas ele é objetivo, primeiro, acontece; e ontológico. Para Marx, há um engano, um quiproquó, uma ilusão. Está certo, mas está errado. O fetiche é uma realidade: o mundo das coisas quer manter-se, dominar e ampliar-se. Isso assim como o inorgânico, o biológico e o social – temos uma quarta e falsa modalidade de ser, o coisal, um colateral. Assim como o homem humanizou a natureza, o ser coisal coisifica o homem e o mundo.

Deve-se, portanto, destruir o fetiche concreto, não apenas abstrato. O fetiche abstrato revela-se fetiche concreto. O erro total de pensar fetiche em Marx como tara por mercadorias e consumismo, ou tara por dinheiro, passa a ter certa verdade.

 

Nada há aqui de discordância de tudo como um vício opositor: afirmarmos a teoria de Marx ao superá-la. Temos nova teoria do fetiche.




 

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