domingo, 28 de janeiro de 2024

A crise sistêmica - cap. 22 - CRISE DA DEMOCRACIA DOS RICOS

 

CRISE DA DEMOCRACIA DOS RICOS

 

A democracia alemã deu poder a um louco, Hitler. Hoje, temos Bolsonaro e Trump (e um longo etc.), dois desequilibrados, que sonham ser ditadores, mas cabem nos limites da democracia decadente. Com a decadência da economia escravista grega, Platão e Sócrates erraram o tiro, pois culparam a democracia de todos os males. Assim se faz nos nosso dias. Na Roma antiga, a decadência do império, lenta e gradual, gerou uma longa ditadura militar.

Hoje, por decadência, luta de classes e urbanização, além de outros fatores nacionais, alguns países não conseguirão abrir mão da democracia burguesa, ainda que tentem muito, até vir a democracia operária. Mas isso não é prova da estabilidade mística do regime.

Dissemos em outro lugar que democracia e ditadura podem conviver. A democracia grega tinha escravos, a democracia israelita tem campos de concentração abertos na palestina, a democracia americana tem ditadura nas fábricas. Portanto, nada de mistificar o mundo tal como é ainda.

A crise da democracia burguesa é nada mais do que expressão da crise do capitalismo – nada mais, mesmo. Desde 1970, a burguesia necessita atacar os diretos e qualidade de vida dos trabalhadores. A classe dominante está usando a democracia formal para atacar os votantes! Justificam seus ataques por legitimidade dos votos, dos trabalhadores ou dos parlamentares. Quando espremerem ao máximo a democracia, até o limite, poderão tentar, então, golpes profundos.

Vota-se na esquerda ou na direita, mas o resultado é o mesmo. A maioria sente, então, que seu voto de nada vale – para romper o teatro, vota em loucos (no péssimo sentido). São sinais dos tempos. Um programa neoliberal quase nunca passaria nas eleições, então, simplesmente mente-se. Até a esquerda nova é neoliberal (um consenso oculto existe). Em 2023, o poder máximo do executivo francês passou uma reforma da previdência, negativa, burlando o parlamento. Foi um escândalo geral – logo na casa da democracia!

Mesmo o voto na extrema direita indica uma intenção antissistêmica, a vontade de arriscar, a raiva perante os ataques do capitalismo etc. Os sinais estão no ar, portanto. E não adiantará votar em radicais de esquerda: no poder, ou cairão ou mudarão de roupa. O Siriza grego conspirou e derrotou sua própria vitória em plebiscito! O sistema já não admite reformas. Mesmo quando uma ocorre, ela vem, hoje, com armadilhas – por exemplo, facilitar acesso ao ensino superior, mas em faculdades privadas para endividamento bancário.

Nas décadas de 1950 e 1960, o socialismo “real” e o capitalismo melhoravam a vida da maioria e ambos prometiam um futuro brilhante, seja por qual escolha. Era visível que a vida poderia ser melhor relativa aos dos seus pais ou avós. Hoje, o contrário: o amanhã avisa que virá pior – e todos sabemos disso.

Tentarão todo tipo de golpe – jurídico, parlamentar, militar, fascista. Muitos, incluso, serão vitoriosos. Mas nem um péssimo regime garantirá estabilidade duradoura, o fim da dura luta de classes. Em pouco tempo, tais modos de governar entrarão, também, em descrédito, balançarão.

O parlamento odiado cairá – e deve cair, mesmo – ou para gerar um parlamento operário superior ou, ao contrário, para fundar um fascismo. Mas cairá de um ou outro modo.

Devemos impedir golpes de Estado, mas não recuar e defender a democracia que todos sabem ser degenerada. A luta contra o golpe pode exigir armas, logo, uma revolução socialista! Isso ainda se com atraso relativo à resistência imediata. Nunca defender a democracia em abstrato, como se valor universal abstrato. Deixemos isso ao pequeno-burguês advogado de esquerda, que enche a boca para falar em Estado democrático de direito. O ódio à democracia dos ricos tem razão de ser, está correta – devemos alimentá-la! Meio passo já foi dado na consciência geral dos assalariados.

O Estado é incapaz de parar seus ataques contra os trabalhadores. Isso aprece até como sua força, mas é seu túmulo. Cava, cava, cava – a própria cova. Perderemos muito ao ponto de, depois, sermos obrigado a agir em massa, a vencer.

O processo se retroalimenta. Políticos de extrema direita lançam dúvidas sobre a contagem de votos. Isso gera respostas, mas fica aquela dúvida. As falsas notícias, porém, não são causa primeira ou segunda da crise da democracia. De todo modo, a combinação de novas tecnologias (substância) com as atuais relações sociais (relação) geram tais defeitos e deformações. No socialismo, com novas relações, isso será passado cômico.

Como o mundo político é muito corrupto, atrai-se ainda mais oportunistas como a as igrejas atraem amentes do dinheiro. O honesto evita o mundo público, pois sabe que na tentativa de mudar o país será, no fim, ele quem será mudado… Isso é fato. A máquina estatal é feita para corromper. A tal ponto isso que perdemos a era dos grandes estadistas; no Brasil, o último, beirando a morte, é Ciro Gomes, marginalizado pela própria burguesa apesar de seu grande projeto burguês. Não há mais projeto, planejamento. Lado bom: nossos inimigos não são mais, via de regra, gênios – ainda que sejam geniais manobradores, mentirosos etc. Há um problema, no entanto: o povo e os trabalhadores pensam que a causa da crise, da carestia etc. é culpa do indivíduo governante, não do sistema (algo imaturo, da figura do herói e do vilão, algo individualista, algo idealista) – por isso, na luta contra o governo devemos forçar uma luta geral, de início inconsciente para consciente depois.

Qualquer marxista ortodoxo – se de fato isso for – chegou ou chegará a tais conclusões por si, porém em nosso tempo não paramos para pensar, ou refletir, ou expor. É preciso dizer, portanto.

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