CRISE DA DEMOCRACIA DOS
RICOS
A democracia alemã deu poder a um louco,
Hitler. Hoje, temos Bolsonaro e Trump (e um longo etc.), dois desequilibrados,
que sonham ser ditadores, mas cabem nos limites da democracia decadente. Com a
decadência da economia escravista grega, Platão e Sócrates erraram o tiro, pois
culparam a democracia de todos os males. Assim se faz nos nosso dias. Na Roma
antiga, a decadência do império, lenta e gradual, gerou uma longa ditadura
militar.
Hoje, por decadência, luta de classes e
urbanização, além de outros fatores nacionais, alguns países não conseguirão
abrir mão da democracia burguesa, ainda que tentem muito, até vir a democracia
operária. Mas isso não é prova da estabilidade mística do regime.
Dissemos em outro lugar que democracia e
ditadura podem conviver. A democracia grega tinha escravos, a democracia
israelita tem campos de concentração abertos na palestina, a democracia
americana tem ditadura nas fábricas. Portanto, nada de mistificar o mundo tal
como é ainda.
A crise da democracia burguesa é nada
mais do que expressão da crise do capitalismo – nada mais, mesmo. Desde 1970, a
burguesia necessita atacar os diretos e qualidade de vida dos trabalhadores. A
classe dominante está usando a democracia formal para atacar os votantes!
Justificam seus ataques por legitimidade dos votos, dos trabalhadores ou dos
parlamentares. Quando espremerem ao máximo a democracia, até o limite, poderão
tentar, então, golpes profundos.
Vota-se na esquerda ou na direita, mas o
resultado é o mesmo. A maioria sente, então, que seu voto de nada vale – para
romper o teatro, vota em loucos (no péssimo sentido). São sinais dos tempos. Um
programa neoliberal quase nunca passaria nas eleições, então, simplesmente
mente-se. Até a esquerda nova é neoliberal (um consenso oculto existe). Em
2023, o poder máximo do executivo francês passou uma reforma da previdência,
negativa, burlando o parlamento. Foi um escândalo geral – logo na casa da
democracia!
Mesmo o voto na extrema direita indica
uma intenção antissistêmica, a vontade de arriscar, a raiva perante os ataques
do capitalismo etc. Os sinais estão no ar, portanto. E não adiantará votar em
radicais de esquerda: no poder, ou cairão ou mudarão de roupa. O Siriza grego
conspirou e derrotou sua própria vitória em plebiscito! O sistema já não admite
reformas. Mesmo quando uma ocorre, ela vem, hoje, com armadilhas – por exemplo,
facilitar acesso ao ensino superior, mas em faculdades privadas para
endividamento bancário.
Nas décadas de 1950 e 1960, o socialismo
“real” e o capitalismo melhoravam a vida da maioria e ambos prometiam um futuro
brilhante, seja por qual escolha. Era visível que a vida poderia ser melhor relativa
aos dos seus pais ou avós. Hoje, o contrário: o amanhã avisa que virá pior – e
todos sabemos disso.
Tentarão todo tipo de golpe – jurídico,
parlamentar, militar, fascista. Muitos, incluso, serão vitoriosos. Mas nem um
péssimo regime garantirá estabilidade duradoura, o fim da dura luta de classes.
Em pouco tempo, tais modos de governar entrarão, também, em descrédito,
balançarão.
O parlamento odiado cairá – e deve cair,
mesmo – ou para gerar um parlamento operário superior ou, ao contrário, para
fundar um fascismo. Mas cairá de um ou outro modo.
Devemos impedir golpes de Estado, mas
não recuar e defender a democracia que todos sabem ser degenerada. A luta
contra o golpe pode exigir armas, logo, uma revolução socialista! Isso ainda se
com atraso relativo à resistência imediata. Nunca defender a democracia em
abstrato, como se valor universal abstrato. Deixemos isso ao pequeno-burguês
advogado de esquerda, que enche a boca para falar em Estado democrático de
direito. O ódio à democracia dos ricos tem razão de ser, está correta – devemos
alimentá-la! Meio passo já foi dado na consciência geral dos assalariados.
O Estado é incapaz de parar seus ataques
contra os trabalhadores. Isso aprece até como sua força, mas é seu túmulo.
Cava, cava, cava – a própria cova. Perderemos muito ao ponto de, depois, sermos
obrigado a agir em massa, a vencer.
O processo se retroalimenta. Políticos
de extrema direita lançam dúvidas sobre a contagem de votos. Isso gera
respostas, mas fica aquela dúvida. As falsas notícias, porém, não são causa
primeira ou segunda da crise da democracia. De todo modo, a combinação de novas
tecnologias (substância) com as atuais relações sociais (relação) geram tais
defeitos e deformações. No socialismo, com novas relações, isso será passado cômico.
Como o mundo político é muito corrupto,
atrai-se ainda mais oportunistas como a as igrejas atraem amentes do dinheiro.
O honesto evita o mundo público, pois sabe que na tentativa de mudar o país
será, no fim, ele quem será mudado… Isso é fato. A máquina estatal é feita para
corromper. A tal ponto isso que perdemos a era dos grandes estadistas; no
Brasil, o último, beirando a morte, é Ciro Gomes, marginalizado pela própria
burguesa apesar de seu grande projeto burguês. Não há mais projeto, planejamento.
Lado bom: nossos inimigos não são mais, via de regra, gênios – ainda que sejam
geniais manobradores, mentirosos etc. Há um problema, no entanto: o povo e os
trabalhadores pensam que a causa da crise, da carestia etc. é culpa do
indivíduo governante, não do sistema (algo imaturo, da figura do herói e do
vilão, algo individualista, algo idealista) – por isso, na luta contra o
governo devemos forçar uma luta geral, de início inconsciente para consciente
depois.
Qualquer marxista ortodoxo – se de fato
isso for – chegou ou chegará a tais conclusões por si, porém em nosso tempo não
paramos para pensar, ou refletir, ou expor. É preciso dizer, portanto.
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