A EMPIRIA DOS LIMITES INTERNOS
“O
quantum, uma vez que é tomado como um limite indiferente, é o lado no qual um
ser aí é agredido insuspeitadamente e é direcionado para seu sucumbir. É a
astúcia do conceito de capturar um ser aí nesse lado, onde a qualidade do ser
aí não parece entrar no jogo, - e, com efeito, de tal modo que o aumento de um
Estado, de um patrimônio etc., aumento que provoca o azar do Estado, do
proprietário, até aparece, inicialmente, como sua sorte.”
O
capitalismo tem elevado sua produtividade por meio de aumento da composição técnica
do capital, fator que produz queda da taxa de lucro na medida em que aumenta o
peso monetário da máquina e da matéria-prima e substitui trabalhadores, o
chamado aumento de composição orgânica. A queda da taxa de lucro manifesta e
está ao lado da tendência latente à superprodução crônica, que só pode
revelar-se de modo latente, concluindo-se ou em economia planejada ou em destruição
sistêmica e barbárie.
Observemos
estes gráficos, que revelam a queda secular da taxa de lucro:
Fonte:
Fonte: idem
Fonte Idem
Fonte: Idem
Fonte Idem
Fonte: Idem
Fonte: Idem
Percebemos
que a taxa de lucro caiu tendencialmente até alcançar patamares muito baixos na
história recente – nos países centrais, em torno de 40% no século XIX para, com
ondulações, com contratendências relativas, em torno de 10% no começo do século
XXI. O autor, Esteban Ezequiel Maito, de onde obtemos os gráficos[1]
acima expostos, afirma:
Embora a taxa de lucro de 0% não seja considerada
como o limite real do capital, mas níveis mais altos, os anos em que a linha de
tendência atinge 0% foram considerados. Para o ano 1900, a tendência teria
atingido 0% em 1990. Para 1919, em 2024. Para 1932, em 2007. Para 1944, em
2025. Para 1955, em 2040. Para 1970, em 2055. Para 1980, em 2046 Para 2010, em
2056. Para os países periféricos, este exercício marcou, para o ano 1970, uma
taxa de 0% projetada no ano de 2072. Para o ano de 1980, em 2050 e para 2010,
em 2064.
O artigo
conclui-se como poderia, colocando o limite da queda histórica da taxa de lucro
no meio deste século:
Dois pontos podem ser destacados a partir desses
exercícios de projeção. Conforme observado anteriormente, a tendência não se
desenvolve de forma constante, mas muda sua inclinação de acordo com o momento
histórico e os fatores contrários. Assim, até 2010, o limite previsto em 1900
mudou 66 anos, de 1990 a 2056. No entanto, e, em segundo lugar, o progresso desta tendência continua
diminuindo cada vez mais o número de anos em relação ao limite projetado, que
tende, por outro lado, a permanecer fixo no meio deste século. A
incapacidade do capital, e dos fatores contrários, em reverter sua própria
tendência nas últimas décadas é refletida, assim, como sendo incapaz de avançar
este limite hipotético. Vale a pena repetir neste ponto a citação de Grossmann:
“… à medida que essas contratendências são gradualmente fragilizadas, os
antagonismos do capitalismo mundial se tornam progressivamente mais nítidos e a
tendência para a ruptura aproxima-se cada vez mais da forma final de um colapso
absoluto” (Idem, grifos nossos.)
Além de
também poder adicionar o custo com capital circulante (matéria-prima, salários,
etc.), mais do que somente com capital fixo; para percepção mais profunda da
queda da taxa de lucro, levemos em conta teoricamente que o cálculo mais exato
inclui o capital comercial e os transportes cujos pesos do capital constante
sobre o capital variável – grandes redes de supermercados, colossais meios de
navegação, etc. – adquire visível nova proporção[2].
Em resumo,
as próximas três décadas, no máximo quatro, são as decisivas para a crise
sistêmica, expressa em uma taxa de lucro que tende a cair para próximo de 0%. O
limite do capitalismo torna-se evidente.
O marxismo cindiu-se
em opostos sobre a questão acima exposta: os limites do sistema são o
desenvolvimento das forças produtivas em contradição com as relações de
produção ou queda da taxa de lucro? Dito de outro modo: os limites do sistema
capitalista ocorrem por crise do valor, redução absoluta de sua massa, ou queda
da taxa de lucro? Ora, esta expressa aquela: a empiria estatística da queda da
taxa de lucro aos níveis atuais revela tanto problemas na produção de valor
quanto a contradição sistêmica. Vejamos como Marx expõe de modo claro a relação
produtividade e queda da taxa de lucro:
Mas, se v [capital variável] cai de 30 para 20, por
se empregar 1/3 menos de trabalhadores, ao mesmo tempo que aumenta o capital
constante, teremos o caso normal da indústria moderna: produtividade crescente
do trabalho, domínio de quantidades maiores de meios de produção por menos
trabalhadores. Na parte terceira deste livro, ver-se-á que este movimento está
necessariamente ligado à queda simultânea da taxa de lucro.
A melhor
postura é evitar o defensismo das escolas teóricas e perceber que manifestam o
mesmo processo social por diferentes ângulos, de modo unilateral. O melhor método,
portanto, é considerar o nível de validade das diferentes contribuições, pois
apenas de modo artificial podemos descartar a relação íntima entre taxa de
lucro e aumento da composição orgânica ou a crise do valor.
Observemos,
por sua vez, o efeito da queda da taxa sobre a produção:
“Se cai a taxa de lucro, o capital se torna tenso,
o que transparece no propósito de cada capitalista de reduzir, com melhores
métodos etc., o valor individual de suas mercadorias abaixo do valor médio
social, e assim fazer um lucro extra, na base do preço estabelecido pelo
mercado; ocorrerá ainda especulação
geralmente favorecida pelas tentativas
apaixonadas de experimentar novos métodos de produção, novos investimentos de
capital, novas aventuras, a fim de obter um lucro extra qualquer, que não
dependa da média geral e a ultrapasse.” (Idem, p. 338, grifo nosso.)
Assim,
a superestrutura financeira é o meio para reação contra a queda da taxa ao
prover uma massa de recursos para investimentos. Uma superprodução crônica é
gestada no interior do capitalismo, isto é, surge no seio do capital, por meio
de suas leis inerentes, a base da produção socialista. Ao mesmo tempo, a queda
dessa taxa de lucro na produção leva à queda da taxa de juros, pois este tira
seu lucro em parte do lucro daquele; surge a tendência à morte da taxa de juros
em todo o mundo, como as taxas negativas operadas por governos imperialistas
POR QUE
CAI O (CRESCIMENTO DO) INVESTIMENTO
Michael
Roberts, além de outros economistas, observa que o (crescimento do) investimento
sofre uma tendência de queda em nosso tempo. Eis um sinal de fim do sistema: o
desenvolvimento das forças produtivas, que é base para justificar a existência
do capitalismo, começa a encontrar seus limites. Em diante, reforçando o final
do subcapítulo anterior, listaremos as principais razões disso com respostas
não alcançadas por Roberts.
1.
Queda da
taxa de lucro
Roberts
é unicausal quanto ao tema, com o seguinte argumento: a queda da taxa de lucro
em nossa época desestimula o investimento porque a burguesia investe apenas se
ela tem perspectiva de lucro futuro, a partir da análise da lucratividade no
presente; se esta é baixa, logo há pouco a esperar do amanhã, não vale o risco.
Mas sua observação está parcialmente correta, então parcialmente errada. Marx
demonstra no livro III d’O Capital que a queda
da taxa de lucro estimula, faz, a concorrência, logo impulsionando investimento
(ainda que atrasado pela crise – mas Marx também afirma que a crise também tem
como consequência, ainda que, complementamos, num “segundo momento”, novo
investimento para substituir as máquinas). Por outro lado, os oligopólios
atuais têm muito mais condições de fazer investimentos do que na livre
concorrência anterior com empresas menores, ainda que seja alto investimento
apenas em termos absolutos. A tese de Roberts não se sustenta bem, ao menos não
sozinha, pois é apenas um pé da cadeira. A queda da taxa, em si mesma, tem
efeitos opostos de reduzir e de estimular o investimento. Se há causa central
empírica é esta: a crise do valor como superprodução crônica, porém latente, de
mercadorias e capitais.
2.
Tendência
ao monopólio
Com
o evolver do capitalismo, surgiram monopólios “naturais”, empresas que somente
podem existir como monopólios e a concorrência encaminha-se, ela mesma, para
poucos vencedores. A monopolização atual empurra para redução do investimento –
mas os preços de monopólios altos estimulam, por outro lado, o surgimento de
concorrentes, logo é contratendência relativa à própria queda do investimento.
Se
os oligopólios, como quase monopólios, desestimulam, de um lado, o
investimento, por outro, o estimulam porque a concorrência é agora mais dura e
mais capaz, entre gigantes. A causa tem efeitos opostos.
Destacamos
que muitos dos produzos modernos exigem pesada tecnologia e pesado maquinário,
e por isso muito investimento, logo, o valor de uso empurra para o monopólio,
logo, para menor investimento.
3.
Baixo
custo unitário do trabalho
Reforçamos
o capítulo anterior. Cada vez mais, uma renovação técnica da produção aumenta
os custos com maquinário e com matéria-prima (pois maior produtividade exige
mais insumos). Por outro lado, empregam-se poucos trabalhadores com custo
unitário do trabalho baixo, ainda que os salários individuais sejam altos (a
tendência, em geral, é de queda na remuneração). Essa combinação faz com que
não compense substituir operários por máquinas já que o custo de produzir
mercadorias seria maior, não menor. O custo por razão da substituição seria
maior, em muitos casos, do que o custo com funcionários. Daí, também, a redução
do investimento na produção voltado à renovação tecnológica e novas empresas. A
atual significativa queda da taxa de lucro é insuficiente, embora essencial,
para explicar o fenômeno do baixo investimento.
4.
Inflação
fictícia
A
própria inflação artificial, por meio da moeda fiduciária, de nossa época,
desestimula investimentos, pois 1) derruba os salários reais; 2)inflaciona o
preço das mercadorias – é um imposto inflacionário sobre os pobres para os
ricos. Além disso, há a inflação parasitária dos preços dos imóveis, da terra,
apenas “deixando o tempo passar” sem grande investimento.
Antes,
em geral, o aumento dos preços causava o aumento da quantidade de dinheiro em
circulação; agora, ao contrário, em geral, o aumento da quantidade de dinheiro
aumenta os preços. Para sentirmos o peso qualitativo do acréscimo de moeda na
inflação, desde o fim do lastro em ouro, dispomos o gráfico a seguir:
GRÁFICO 4
Fonte: (Shaaikh apud Prado, A ameaça de estagflação, 2021)
Uma
inflação quase constante, arrastada e singela no curto prazo tem efeitos no
rumo da queda do investimento. Por outro lado, a inflação pode, ao contrário,
estimular concorrência já que os preços e os custos compensam.
5.
Transferência
de investimentos
O
investimento nos países mais ou menos maduros para o socialismo, focos teóricos
de Roberts, cai também porque o
investimento transfere-se para países atrasados, onde é mais fácil explorar e
há mercado consumidor novo e potencial. A atual interligação dos países
acompanhada do alto desenvolvimento dos transportes e comunicações empurra para
tal transferência.
6.
Altíssimos
custo e risco de investimento
É
famosa a passagem d’O Capital I em que Marx demonstra o começo do valor como
capital, como valor que se autovaloriza na produção, quando o candidato a
capitalista tem uma quantidade mínima exigida de valor na forma de dinheiro
para começar o negócio, para explorar força de trabalho, pagando por
matérias-primas, instalações e trabalhadores. O mínimo exigido para iniciar um
empreendimento é um mínimo dado historicamente
7.
Período
de duras crises
No
próximo capítulo, veremos que há épocas, como a nossa, onde as crises são mais
duras e/ou mais longas e os crescimentos são mais curtos e/ou frágeis; para
nosso comentário, devemos incluir a fase transição, anterior, onde as crises
são mais duras, mas com algum crescimento, uma estagnação ou quase estagnação.
Pois bem; isso significa que, no médio e longo prazos, o investimento caia.
Embora a saída das crises inclua a adoção, investimento, de novo maquinário, por
exemplo – o que dá condições para mais, maiores e novas crises –, uma realidade
por muito tempo tensa econômica, social e politicamente empurra para redução do
investimento.
8.
Alta
massa de lucro
No
livro III d’O Capital, Marx elaborou a hipótese de que, com a alta queda da
taxa de lucro, a massa altíssima de lucro poderia, no futuro, mais do que
compensar a queda dessa mesma taxa, logo o investimento desabaria – tal
previsão não se confirmou, ao menos ainda, em absoluto, mas tem verdade relativa
hoje, tendencial, pois a existência de bilionários e grandes milionários, com
seus oligopólios e monopólios, tem duro efeito contraestimulante ao
investimento. É um caso, um exemplo, como nos demais pontos, em que a
permanência de relações de produção, com suas relações superestruturais e
jurídicas, impede ou atrasa o desenvolvimento das forças de produção.
9.
Excesso
crônico de capital
Como
as empresas são grandes demais para quebrarem, como suas falências seria um
risco ao próprio sistema, os governos – incluso defendendo a própria
governabilidade – atuam para mantê-las em parte artificialmente, logo há um
excesso de capital, o que desestimula investir
10. Esgotamento da criação de novos tipos
de mercadorias
Outro
motivo para a queda do investimento observa-se ao olharmos as mercadorias. O
primeiro papel do capitalismo foi mecanizar a produção de artigos feitos
artesanalmente, aumentando a escala. Mas logo ele teve de usar os avanços da
ciência para criar uma quantidade enorme de novos produtos, de inéditas
mercadorias. Isso aconteceu claramente no século XX, mas esgotou-se na história
recente (por outro lado, inventar algo novo é cada vez menos artesanal e
individual, exigindo mais recursos e esforços). Aglutinam-se valores de uso,
diminui-se o tamanho do produto quando possível, troca-se a matéria do valor de
uso, etc.; mas criar uma quantidade nova de tipos de mercadorias, de novas
necessidades sociais, não ocorre como antes (o que estimula, em
contratendência, a aglutinação, etc.). Isso também limita o investimento.
11. Política neoliberal (privatizações,
etc.)
A
queda da taxa de lucro aos atuais níveis é a base do conhecido como
neoliberalismo. A privatização de empresas estatais, por exemplo, produziu um
pseudoinvestimento capaz de aumentar a massa de lucro da burguesia (desestímulo
ao investimento real). A liberalização financeira foi a saída final, a
contragosto dos próprios governos de início, para lidar com a crise sistêmica.
Criando massa maior de desempregados, o poder burguês quis recuperar a
lucratividade, aumentar o mais-valor com redução dos salários, direitos e
aumentando a intensidade e, quando possível, a extensividade da jornada de
trabalho. Para isso, pesa a entrada da Ásia com produtos mais baratos também
por baixos direitos sociais pressionando a “austeridade”, a retirada de
direitos no ocidente se quer concorrer no mercado mundial.
12. Financeirização
Como
a taxa de lucro está muito baixa, rumo ao mínimo histórico absoluto, o
investimento financeiro, de curto prazo, mais compensa. Grandes empresas formam
“braços financeiros” para especular na bolsa, etc.
13. Modelo de Gestão
Alguns
países e empresas têm modelo de gerência que faz forcar no curto prazo.
Enquanto dura seu mandato, o gerente executivo tenta conseguir o máximo de
lucro no mínimo de tempo. Isso não é um elemento propriamente central para a
queda do investimento, mas merece ser destacado.
Listamos
todos os elementos centrais para a tendência de queda do investimento. Tais
elementos, tomados em isolado, são tendências com contratendências; a mesma
causa comum, o alto desenvolvimento do capitalismo, ou contradição entre forças
produtivas e relações de produção, produz efeitos opostos. A verdade desta
queda está na combinação dos elementos, que faz imperar as tendências (e elas
são tendências também enquanto focamos na atual fase do capitalismo). Assim,
por exemplo, a inflação artificial, em si, tanto desestimula quanto estimula
investir; porém a primeira, tendência, impõe-se porque está combinada com a
exigência prévia de altíssimos recursos mínimos para investir.
***
Observado
o ótimo trabalho de Maito; o mérito central sobre a percepção da queda da taxa
de lucro como importante fator da crise de nossa época, como a queda estrutural
do investimento[3], cabe a
Michael Roberts. Sua limitação foi deixar de perceber as consequências para
além da pura economia (como o Estado burguês sendo corroído pela lógica do
lucro) e pouco focar no fundamento do problema, a crise do valor, etc. Ademais,
ele deixa de considerar que a tendência à queda da taxa de lucro tem em si
mesma a contratendência. De qualquer modo, foi seu acerto vital que também tem
algo do seu contexto, a tradição empirista, não dialética, anglo-americana[4].
AS
RELAÇÕES DE CONTRAEFEITO
O
leitor tem direito de ter pressa, acessar tudo central da obra já nas primeiras
páginas. Mas, apesar de ter propriedades próprias, compreende-se melhor o todo
por meio também da análise de suas partes inerentes. Por isso, antecipamos
assunto que seria para o último capítulo formal, antes dos apêndices
necessários, sobre O capital.
Ø SUBSTITUIÇÃO DO TRABALHADOR PELA
MÁQUINA
Adam
Smith pensou que a quantidade de trabalhadores cresceria por causa da especialização
em pequenas tarefas repetitivas, mas o maquinário mudou isso. Como demonstramos
antes, Marx mostrou e previu a redução do número de operários na produção, algo
visto hoje com clareza por meio da automatização e da robótica. Porém, a quantidade
de operários cresceu em alguns momentos curtos ou médios, como nos primeiros ¾
do século XX, logo concluímos que a tendência de substituição do homem pela
máquina, com a concorrência geral, tem contrantendências relativas, que atrasam
o processo. Vejamos as principais causas do retardamento:
1. Redução da jornada de trabalho, fruto da luta
de classes, como de 12 horas no século XIX para 8 horas diárias no século XX,
obriga a contratar mais operários.
2. Os momentos de euforia econômica fazem surgir
mais empresas, mais concorrentes.
3. Novos tipos de produtos exigem novas empresas,
logo mais operários, algo reduzido hoje com a aglutinação de diferentes valores
de uso no mesmo suporte.
4. Monopólios e oligopólios retardam o uso de
novas técnicas de produção, novas máquinas.
5. A redução dos salários, por desemprego
“tecnológico” em central, faz compensar manter funcionários e o trabalho
manual.
6. O barateamento de matérias-primas ajuda na
sobrevivência de empresas menos tecnológicas.
7. Momentos de inflação, em especial de demanda
acima da oferta, ajuda a manter empresas de menor intensidade de capital, menor
composição técnica e orgânica de capital, pois os preços de seus produtos
compensam.
8. Em algumas empresas, muito difícil diminuir o
tempo de rotação do capital industrial, por causa do valor de uso produzido
etc., em especial reduzir o tempo de trabalho e de produção, o que obriga criar
outra fábrica com trabalho manual para atender a demanda.
9. Protecionismo nacional comercial e industrial
tem força relativa para impedir o avanço da tendência à diminuição do trabalho
manual abstrato.
Por
tais fatores, os marxistas empiristas “esqueceram” que O Capital de Marx
demonstra que o caminho é a redução do número de operários, não seu
crescimento. Temos, portanto, a queda tendencial da massa nova de valor.
Vale
a pena destacar, em contraposição, que o inchaço enorme e colateral do setor de
serviços estimula relativamente a automação, pois, por ser pouco produtivo e de
baixa tecnologia, emprega muito, forçando momentos de pleno emprego com suas
duras greves e aumentos salariais – o que empurra para substituição do
trabalhador pela máquina.
Ø TAXA DE LUCRO NA CRISE SISTÊMICA: CAUSA
E CONTRACAUSA[5]
A
queda da taxa de lucro é o sinal do aumento da produtividade. Os custos
produtivos (máquinas, matérias-primas, salários) crescem, tendem a crescer, em
relação ao lucro real. Pois bem; Marx afirma que a própria substituição do
homem pela máquina produz efeitos opostos à queda da dita taxa, ou seja, uma
contracausa, ou contraefeito. Vejamos uma por uma em nosso tempo.
1. Aumento do grau de exploração do trabalho.
Hoje,
tornou-se muito difícil ao capital aumentar a extensividade das horas
trabalhadas – a jornada de 8 horas tornou-se parte da cultura, da tolerância
operária e popular. Além disso, a intensividade alta impede a extensividade
maior. Não bastasse, a intensividade alta tem também um limite, um limite
humano, alcançado, em geral, no nosso tempo.
2. Redução dos salários.
O
salário mínimo por lei, também parte da normalidade e da cultura, além de
efeitos contra o desemprego, deixam de pressionar tanto a queda de salários. A
inflação constante das últimas décadas elavam à luta de classes e a reajustes.
3. Baixa de preço dos elementos do capital
constante.
As
modernas matérias-primas são terras raras ou produzidas por monopólios e
oligopólios internacionais, logo os preços não caem ou não tanto. A produção de
máquinas também exigem altíssima especialização hoje, além de poucos
fornecedores por consequência, além da alta renovação, o que pesa contra a
queda de seu preço.
4. Superpopulação relativa.
A
população que vem do campo esgotou-se, há dificuldade de importar mão de obra,
os partos diminuem e o desempregado ou recebe auxílio do Estado ou vive às
custas de outros – ou entra artificialmente no setor de serviços (autônomo
etc.). A burguesia tenta compensar isso com medidas como aumentar a idade
mínima para aposentar-se, estímulo à natalidade etc.
O
alto nível de mecanização alcançado (automação etc.) diminui o peso da superpopulação
relativa e da queda de salários na luta contra a queda da taxa.
5. Comércio exterior.
Eis
um fator importante, mas o mercado mundial já se tornou mundial – a mercadoria
já está em todo canto.
6. Aumento do capital por ações.
A
financeirização, o capital fictício, já ocorreu, diferente de seu crescimento
na época de Marx, já atingiu seu auge.
Os
efeitos de oposição à queda da taxa de lucro continuam operando, mas não como
antes. Por outro lado, já demonstramos antes as causas, que reforçam umas às
outras, que levam à queda do crescimento do investimento – contracausa,
contraefeito, contratendência.
OUTRA
CONTRATENDÊNCIA
Entre
as contratendências colocadas, uma foi negligenciada por Marx: as mundança no
valor de uso da mercadoria. Ademais, isso afeta o custo com matéria-prima
(mudança de materiais etc.) e, eventiuamlente, no maquinário. O fato de a
empresa produzir o mesmo suporte para vários valores de uso, por exemplo, serve
de contratendência à queda da taxa de lucro e aumenta a massa de lucro. Ou se a
mercaodoria pode reduzir de tamanho e de materialidade. Ou um processo pode ser
superado, como a secagem. Nosso tempo facilita ver isso na realidade e,
portanto, teorizar.
[1] Dos
dados e metodologia nos gráficos: “A taxa de lucro no capital fixo foi, de
longe, a medida mais comum em estudos sobre a rentabilidade do capital. Em um
estudo anterior, realizamos uma comparação entre quatro países sobre a taxa de
lucro marxista, mas, com exceção à este caso, todos os estudos que abordaram
uma comparação internacional, devido à disponibilidade dos dados, focam na taxa
de lucro sobre o capital fixo. Chan-Lee e Sutch, em uma das primeiras análises
comparativas, estudaram as taxas de lucro dos países da OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) durante o período de 1960-1980,
refletindo claramente o declínio devido à crise de rentabilidade nos anos
setenta. Lee e Sutch realizaram um estudo que considerava a rentabilidade à
longo prazo no Reino Unido, EUA, Japão e na zona do euro (a partir dos anos 60)
no contexto de uma análise histórica da hegemonia global de estados sucessivos
no sistema mundial. Duménil e Lévy também compararam os níveis de taxas de
lucro desses países, embora em um intervalo de tempo mais curto. Zachariah faz
um exercício semelhante, acrescentando também a China e a Índia. No entanto,
ele não estima o retorno do capital fixo reprodutivo, mas inclui moradias, que
não fazem parte do capital fixo e do próprio processo de produção capitalista.”
“As estimativas para catorze países são apresentadas
neste artigo, em alguns casos cobrindo mais de um século de história e
representando mais da metade da produção mundial nos últimos setenta anos. Em
relação ao trabalho destes pesquisadores, são incorporados a longo prazo (série
de mais de um século de extensão) estimativas para Alemanha, Argentina, Suécia
e Holanda. A inclusão da Argentina no início do século XX, bem como da Coréia e
da China nas últimas décadas, nos permite uma melhor interpretação das áreas
periféricas, de acumulação mais dinâmica, durante alguns períodos específicos,
em relação com a tendência geral de rentabilidade.”
[2]
Por isso Marx excluiu a indústria dos transportes no cálculo comum da taxa
ainda no século XIX.
[3] Ao
mesmo tempo, refutamos e agregamos, suprassumimos, a tese de Michael Roberts sobre
a razão da queda do investimento.
[4]
Uma nota metodológica. Uma parte do trabalho científico é superar o limite
nacional no perfil do pesquisador (Tanto Roberts quanto seu opositor, David
Havey, têm o mesmo defeito, não dominar a dialética). Marx foi cosmopolita,
indo da Alemanha à Inglaterra e França, o que afetou seu perfil. Este livro
quer transcender os limites pátrios (facilitado pela internet, etc.). Kurz, por
exemplo, absolutizou e percebeu o papel da automação por seu olhar desde a
Alemanha.
[5] Em
meus registros eletrônicos, que servem de prova formal, tenho tal tese desde
2017. Em 2023, apareceu novamente por outras mãos (estrangeiras) – o que revela
a maturidade sosical da teoria. Não fui plagiado, porém, pois não publiquei de
modo oficial e amplo, mas apenas um manuscrito em português em grupos de
economia etc.
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