domingo, 28 de janeiro de 2024

PROBLEMAS DO PROGRAMA

 

APÊNDICE VII

PROBLEMAS DO PROGRAMA

 

 

 

 

 

 

 

Os textos abaixo ferem o senso comum da esquerda e dos falsos revolucionários. Gerará enorme resistência e mal-entendidos cínicos. Mas há muito tempo aprendi a querer mudar o mundo, não receber aplausos. Muitas vezes, ou um ou outro.

Várias verdades “óbvias” devem sofrer resistência. Se não combatermos certos preconceitos e limites, difícil avançarmos.

São tabus, assuntos intocáveis. No entanto, a verdade deve ser dita, mesmo se gere desmoralização momentânea – apostamos nos ganhos futuros diante das perdas presentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ESTATAL OU PRIVADO? O TERCEIRO EXCLUÍDO

 

Com a queda da taxa de lucro, o capital vê na privatização uma nova forma de rendimento. A esquerda, mesmo a radical, luta pela estatização ou pela não privatização. Ou seja, luta por fortalecer e preservar o aparelho burguês.

Entre o estatal e o privado, há a propriedade coletiva. No lugar de ficar contente com a propriedade “pública”, ou seja, o Estado como patrão, deve-se lutar pela gestão operária da empresa em questão. Isso ainda não é socialismo, mas já é muito. No lugar de empresas para acionistas privados, um poderio operário.

Pode-se argumentar que tal proposta, por ser radical, deve ser levantada apenas nas crises, à beira da revolução. Ora, não só. O governo as empresas estatais grandes elefantes mancos para ganhar a opinião pública na tarefa de privatizar. O único modo de evitar isso é a gestão operária da empresa.

A burguesia é bastante pragmática. Se precisa comprar produtos de uma fábrica ocupada, ela comprará sem mais – a experiência já o demonstrou.

Alguns serviços, claro, deverão ser gratuitos, mesmo se sob gestão similar à operária, como prisões e hospitais – que deverão ser ainda estatais.

Mas sequer na crise chama-se a gestão operária, apenas a estatização. É o “socialismo” do servidor público – que vê, no fundo, sem perceber, o Estado burguês como fonte potencial de racionalidade.

Em alguns casos, a gestão deverá ficar sob controle da comunidade local por meio de eleições e assembleias regulares obrigatórias (não de presença ou voto, mas no sentido de o evento ocorrer).

Se a gestão operária ocorrer perante um crescimento econômico, que seja! Tentaremos ter o melhor e mais barato produto, já que o lucro cai por terra, além das melhores condições de trabalho, ao aproveitar a onda ascendente.

Se o Estado tenta provar ao mundo que ele mesmo é ineficiente, então gestão operária, com controle popular, da empresa!

Mesmo em pequenas fábricas isso é possível, à vezes, mais fácil. Servirá de exemplo, educação, maturação etc. Os revolucionários devem aprender a gerir de modo completamente diferente. O capital político adicionado é enorme quanto e enquanto há tal modo de lidar com a produção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O LIMITE DO “FORA GOVERNO”

 

Nahuel Moreno tomou para si uma proposta que soou nas ruas: o fora governo, o fora presidente. Mas uma das defesas do capitalismo é afirmar que a culpa toda é do indivíduo, não do sistema.

Quantos presidentes devem cair até cair o modo de ser do mundo? É um ciclo infinito, um loop, uma armadilha.

O central é defender o que a burguesia, no momento, evita em nome da estabilidade – eleições gerais! Ao menos no presidencialismo, isso é uma força enorme. Colocamos o povo na jogada, pois a populações, via de regra, nunca aprovará via voto o programa que a burguesia quer impor pelo golpe ou pela manutenção do governo.

Se a burguesia quer a queda do governo, de novo, eleições gerais! Forçamos os limites inerentes da democracia burguesa. Milhões nas ruas por voto direto tem consequências muito maiores no chão da fábrica.

Já o “fora ministros burgueses” deve ser chamado apenas em situações muito especiais. Claro, aquele secretário de educação pode ser alvo de uma campanha por sua demissão.

O “Fora todos”, por outro lado, de nada ajuda. Ele significa, também, “fora revolucionários, qualquer partido!” Uma organização pequena levantar isso não mudará o fato de ainda ser um alvo, confundido com as demais organizações. É uma palavra de ordem da classe média, como se governo ao menos das coisas não fosse necessário… Não é porque as massas assalariadas levantam uma forte e popular palavra de ordem que ela está correta. Ela é negativa, nenhum poder real necessário aponta.

No Brasil, o fora Dilma passou para o fora todos, que passou para o fora temer, que passou para fora Bolsonaro… De pouco adiantou. Além disso, um grave erro: apenas chamamos o fora governo se, se chamamos algo do tipo, o governo perde apoio popular significativo pelo menos em algum setor social importante. Mas chamou-se o “fora” quando o governo ainda surfava em popularidade. Amadorismo puro.

Quando as condições da revolução estão maduras, clamar pelo ”Fora” não é errado como trata-se de uma proposta contrarrevolucionária. Nesses casos, devemos levantar algo positivo como todo poder às assembleias de base etc.

O erro do “Fora” tal como é usado tem como fonte de fundo a ideia de racionalidade do Estado burguês. O “socialismo” do servidor público alegra-se ao poder mudar de gerente, de patrão. Foca mais no Estado que no poder da fábrica, da qual estão longe demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O PROBLEMA DA REFORMA AGRÁRIA

No Brasil, neste grande celeiro do mundo, opõe-se agronegócio à reforma agrária. Mas o país nunca teve propriedade feudal para destruir e distribuir terras – e aqui terras não faltam. Nossa produção no campo, mesmo a escravista, foi voltada para o comércio mundial.

Os dirigentes do MST já disseram, por exemplo, que dá para fazer a reforma agrária completa apenas distribuindo as terras hoje improdutivas, mas privadas. Eis aí: o socialismo fará uma reforma agrária, mas secundária, não central – por quê?

O agronegócio é uma indústria como qualquer outra. Quando temos a grande propriedade privada capitalista, devemos, então, estatizá-la, ou melhor, colocar a empresa sob controle e gestão de seus funcionários. A questão toda, porém, é que a agroindústria emprega pouquíssimo e tende à automação.

Se déssemos todas as grandes propriedades produtivas ao sem-terras, com suas pequenas propriedades privadas, a produtividade cairia de modo imenso, pesado. Inflação e fome tomariam conta do brasil e do mundo.

Do mesmo modo, deixaríamos de exportar em larga escala. Com isso, deixaríamos de ter dólares – preço de tal moeda, por menor oferta, dispararia. De novo, inflação e hiperinflação dos tantos e necessários importados.

Isso é o ABC que não se observa por questões conservadoras e ideológicas.

A defesa da reforma agrária, contra a estatização om gestão operária, é uma pauta pequeno-burguesa, ou seja, o desejo da pequena propriedade privada.

Mesmo para defender o meio ambiente, torna-se necessário unificar todas as grandes propriedades privadas numa única e planejada propriedade comum.

Abaixo todas as cercas!

No refluxo pesado dos anos 1990, o MST foi nossa grande reserva moral ativa, ofensiva. Hoje, sua direção preocupa-se mais em preservar a governabilidade do petismo. Isso tem várias razões de ser. Os sem-terra foram para a cidade e para a construção civil, houve esvaziamento. Além disso, a direção pequeno-burguesa, incluso no princípio da pequena propriedade, quer ainda preservar o Estado, como se ele fosse mais ou menos neutro, em disputa.

O destino da grande propriedade privada é sua socialização, não sua fragmentação.

MEIO AMBIENTE E TOTALIDADE

O tema ambiental tem oferecido um grande argumento dos revolucionários contra a barbárie capitalista. Em muitos países, a direta nega-se a reconhecer a verdade científica. Em outros, viu-se obrigada a abarcar a pauta, de modo formal, para ter apoio.

Mas quando a pauta ambiental é vista de modo único, sem o contexto e sem a totalidade, perde-se a mão e um pouco mais.

Por exemplo: certo ou errado construir a hidrelétrica de Belo Monte no Pará? Quem é a favor na esquerda, logo se desmoraliza e cai em ostracismo. Mas aí vem a pergunta: de onde virá a energia necessária – e na escala necessária – para as novas necessidades sociais? Do nada? Do vazio? Sem uma contraproposta, ficamos à deriva.

Podemos ser contra a forma como ela será construída, não contra sua construção em si. O projeto deve ser adaptado às exigências sociais e ambientais.

 Nós temos uma dívida impagável com os índios. Mas nada impede que o movimento indígena tenha oportunismo, desvios etc. Nãos os infantilizemos. Certos Líderes mentem para afirmar que suas tribos estão logo em regiões chaves para haver indenização etc. Isso é um tabu na sociedade e nos movimentos sociais.

É impossível o homem não agredir a natureza – a questão é como, quanto e com quais compensações.

É do interesse de potências estrangeiras que deixemos de construir hidrelétricas, poços de petróleo, energia nuclear, agronegócio. Para isso, usam certos movimentos coais para barrar tal desenvolvimento nacional. Usa-se de modo oportunista uma pauta vital para a sobrevivência de nossa espécie nas próximas décadas, o meio ambiente.

Devemos abandonar a moda de ser apenas feminista, apenas ambientalista, apenas sindicalista etc. Devemos ver a unidade inevitável do todo – e seu devir. Qual nosso projeto de país e de mundo? Sem um programa e um plano geral, nada avança.

A esquerda radical foi de todo contra a transposição do rio São Francisco, uma reforma. Deveria ser contra apenas aos limites e formas de sua execução. Deveria exigir mais em defesa do nordeste e da natureza, arrancar o possível do Estado inimigo.

Quer-se que o Estado cuide de modo artificial de tudo, cada pauta em seu caixa particular.

OPRESSÃO E ESTADO

 

Segundo Hegel, o Estado é a racionalidade encarnada, a solução e amortecimento do conflito inerente. Como um rei filósofo, o Estado pairaria por cima das classes e da realidade mesma.

Segundo Marx, o Estado serve a uma classe, a classe dominante, e seu principal setor são as forças armadas. O Estado serve para sustentar uma irracionalidade social.

As feministas, lutadores LGBTs etc. Ficam, de um lado, com Hegel: querem que o Estado, de maneira artificial, adote a razão suprema, porque sim, e permita seus direitos. Eles e elas não tentam ganhar o apoio ou a tolerância da maioria da sociedade. Nunca observei um coletivo pela legalização da maconha fazer campanhas de conscientização em bairros vitais. Ao contrário, fazem apenas atos anuais de vanguarda para si mesmos, algo pouco útil.

Por outro lado, estão aquém de Hegel. Este afirmou que a lei apernas expressa os valores que a sociedade civil já adota, já aceita. Ou seja: temos de ganhar corações e mentes.

A maioria das mulheres, em principal da classe trabalhadora, rejeitam o feminismo. Porque o pior feminismo, o de classe média, fica em chocar e chamar atenção no lugar de conscientizar.

O feminismo da classe trabalhadora deseja creche, escolas, lavanderias e restaurantes públicos, gratuitos e de qualidade nos bairros. A feminista pequeno burguesa já pode pagar por tudo isso, logo foca em “pronome neutro”, em “batom vermelho” etc. São mundos diferentes que produzem feminismos completamente diferentes.

Nós lutamos contra o Estado, os patrões, as patroas, os governos e governadoras para arrancar de todos eles mais direitos e qualidade de vida. O Estado é inimigo do feminismo classista e socialista.

O poder burguês é inevitavelmente machista, mesmo se gerido por uma mulher.

Nas eleições, partidos radicais chamaram a votar em “bancadas feministas” ou “candidatura feminista coletiva” que, veja só!, é feito para pessoas e por pessoas! Ou seja, candidaturas que fizerem questão de esconder a pauta classista no feminismo etc. Quer-se o voto de todas as classes, claro…

Vejamos um a caso polêmico. Sem armas, as mulheres nuca serão de todo livres, mesmo. Por isso, o alistamento militar obrigatório regular também deverá valer ara elas. Isso ajuda a libertá-las. Mas nem todos estão prontos para tal conversa…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VIOLÊNCIA URBANA

 

O conjunto da população é radicalizada na pauta da violência urbana. Mas a esquerda radical clama por bom-senso… Nessa pauta, parece inexistir meio-termo possível.

Pedir o “Fim da PM”, por exemplo, exige a pergunta: de que modo? Se a dissolvemos, logo haverá motins militares, formação maior de milícias, formação de mercenários, tentativas de golpe de Estado…

A desmilitarização da PM, embora positivo, nada muda em qualidade. Mesmo a Polícia Civil, mais difícil de corromper por suas tarefas, é corrupta em altíssimo grau.

É da natureza da polícia corromper-se. Um grupo destacado armado e assalariado irá, de maneira inevitável, cair em oportunismos de todo tipo.

Podemos ter várias pautas positivistas. Por exemplo: prisão perpétua para assassinato consciente, mas não prisão em caso de crimes leves (roube de celular etc.) para evitar a escola do crime nos presídios. Não é difícil elaborar boas propostas, mas é impossível revolver sob o capital o problema.

A violência urbana ou se revolve de todo ou não se revolve. Ou seja: só mudaremos isso de modo positivo e de vez coma revolução social.

Devemos defender que todas as famílias, homens e mulheres, tenham armas leves e pesadas, além de treinamento básico.

A sociedade justa é aquela em que seus cidadãos são os soldados, sem um grupo artificial destacado com monopólio da força. Um cidadão que não sabe atirar é um irresponsável, merece ser escravo. Logo, devemos defender a dissolução das forças de segurança na sociedade, nos bairros e locais de trabalho.

A impossibilidade de reformar as forças de segurança no capitalismo é um fato. Não nos impede, porém, de tentar estas ou aquelas melhorias. A violência urbana é uma demonstração dos limites sistêmicos do capitalismo, que a era da revolução começou, que a era das reformas acabou e reformismo são vitualmente impossíveis.

 No Brasil, a esquerda radical evita o tema da violência, elaborar um programa, por vários motivos: 1) foi torturada na ditadura, 2) está atrasada programaticamente, 3) a pauta é dificílima, 4) os dirigentes vivem nos castelos estáveis dos condomínios etc.

A bandidagem, incluso policial, é inimiga de classe da classe trabalhadora. Não são anarquistas incompreendidos ou potenciais, ou coitados.

Quanto às prisões, elas devem ser punição real, logo devem ser um inferno maior do que o inferno que é o mundo fora de seus muros. Apenas um mundo com qualidade de vida encerrará isso.

Mais uma vez, aqui, a esquerda servidora pública, incluso dentro dos sindicatos, quer um Esdtado racional buguês que resolva isso… Ainda que tal esperança vã seja inconsciente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IMIGRAÇÃO E XENOFOBIA

 

Para susto de marxistas formais, a classe operária está contra os imigrantes, os refugiados. Ora, não seria os valores dominantes os valores da classe dominante?

Isto é fato: a entrada de estrangeiros empurra para diminuir os salários e precarizar o trabalho. Sem falar nas questões culturais. Porque, sim, uma cultura, por exemplo, que preza a higiene é, neste aspecto específico, superior – não em raça, mas em hábito.

No Brasil, quase que total e simplesmente não existe xenofobia. Nós gostamos de receber os de outros países. Bem, até agora. Isso aponta que há modo de mudar tal ideologia.

O que fazer?

Em primeiro, deve surgir uma vantagem em receber pessoas de outros países – para os trabalhadores, não para os ricos.

Devemos obrigar os Estados reduzir a jornada de trabalho sempre que entrar uma onda de novos trabalhadores no país. Mais: reduzir a jornada ao ponto de trabalho para todos. Nem mais nem menos. Aí surgiria um grande acordo!

Vamos mais ao fundo. O parlamento europeu planeja fazer um exército da Europa – contrarrevolucionário! – que deve ser boicotado. Brinquemos com seu cinismo: para agora e ontem, uma legislação trabalhista da extrema-esquerda que dê aos trabalhadores de toda a União Europeia os melhores direitos de cada país, unificado!

Qual país tem a menor jornada, por exemplo? Ela será a jornada geral, portanto. Mais: vamos exigir escala móvel de tempo de trabalho europeu – pleno emprego permanente já!

Uma legislação trabalhista unificada já deve ser exigida com propostas ousadas e muito claras, bem postas para evitar desvios.

Será que a União Europeia do capital durará despois disso?

Mais uma vez, aqui, demonstramos a ilusão esquerdista de esperar por um Estado que tudo resolve, sem luta real e sem revolução. O Estado é, antes, parte do problema.

 

ESQUERDA E TAXA DE JUROS

 

Em ciclos pouco explicados pela economia comum, a taxa de juros de curto prazo, que dão o preço dos títulos do Estado, sobem para depois descerem, para depois subirem – e assim por diante.

O aumento da taxa de juros obriga o governo tirar dinheiro de outros setores (educação, investimento etc.) para entregar aos bancos e donos da dívida. Isso desestimula a economia por o Estado lançar menos dinheiro no país real – Talvez menos inflação.

O aumento da taxa faz os bancos internos investirem na dívida, no lugar de emprestar. Então, emprestam sob preço, juro, mais altos, mais caros. O dinheiro tona-se caro. Com menos empréstimos, menos investimento, menos consumo, menos inflação – supostamente.

O aumento da taxa de juros força a indústria e o comércio a dedicarem mais do que seria lucro para os bancos, o que tira dinheiro da economia real – pressão por menos inflação.

O aumento da taxa de juros, ou seja, dar mais lucros a quem investe na dívida pública, atrai investidores (especuladores) internacionais, donos de dólares. Eles dão seus dólares ao Banco Central do país, logo, sobra mais de tal moeda no mercado, ou seja, a oferta de moeda mundial é maior do que sua procura. Resultado? O câmbio se valoriza: se 1 real valia 5 dólares, agora 1 real vale 3 dólares. Resultado? Os importados tornam-se mais baratos, muito mais – menos inflação. Além disso, com a entrada da concorrência de mercadorias mundiais no país, empresas instaladas na nação quebram, o que gera desemprego, o que gera menor consumo, o que diminui a procura, o que derruba os preços por menor procura dos consumidores e das empresas por produtos.

Veja-se: a taxa de juros mais alta não é a causa da crise – não a causa primeira ao menos. Porque a crise já dá seus sinais no subsolo (inflação, desemprego baixíssimo, queda da taxa de lucro por grande concorrência interna, aumento do preço das matérias-primas, maior demanda por dinheiro, greves por todo lado etc.) – torna-se obrigatório o Banco Central aumentar a taxa de juros (às vezes, faz, mas não sabe que faz ou o motivo real).

Os falsos marxistas, porém, pensam que é revolucionário exigir juros baixos sempre, sempre. Isso, na verdade é política burguesa industrial, nada comunista. Há uma luta entre bancos e industriais pela taxa de juros – que não é luta nossa de modo direto. Cabe-se apenas entender o que ocorre e ferir as consequências. Veja-se: se forçamos baixa taxa de juros o tempo todo, logo, haverá hiperinflação porque o câmbio, o preço da moeda, irá estourar – os necessários importados serão caríssimos por muito tempo. Logo vemos que muitos marxistas nada entendem de economia de fato, e reptem mantras sem pensar.

Marx nomeia a luta por baixa taxa de juros “falso socialismo” (Salário, preço e lucro). Ou seja, não é por aí… Mais uma vez, cai-se na ilusão de esperar por um Estado racional hegeliano, uma utopia tola. Boas ideias, gente preparada, não muda a realidade se a realidade mesma não quer – e não pode – mudar e nada permite.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OS VALORES DO OCIDENTE

 

Zizek sofreu certo ostracismo por defender a assim chamada civilização ocidental. A ultradireita fala em defender os “valores cristãos do ocidente”. Ora, primeiro, o melhor que temos veio apesar da religião, contra sua resistência.

A China e a Índia foram, por muito, a vanguarda em todos os sentidos. Devemos muito ao extremo oriente. Na escura Idade Média, o Oriente Médio foi a vanguarda da civilização.

Mas, hoje, de fato, o ocidente é a vanguarda cultural – e isso deve ser defendido. Desde os anos 1970, temos conquistas ocidentais que devem ser defendidas com fervor.

Aonde mais a mulher é mais respeitada?

Aonde mais há certa liberdade LGBT?

Aonde mais há liberdade de pensamento?

Aonde mais há democracia, mesmo que artificial?

É verdade que tal civilização ergue-se em base à barbárie e ao imperialismo – mas ergueu-se e deve ser defendida.

Se o Médio Oriente fosse a vanguarda, sairíamos em sua defesa cultural completa.

Por isso, estamos contra o relativismo cultural. É possível medir o nível de civilização. Por exemplo, pelo respeito ao feminino. Se a mulher é proibida de estudar, logo é uma civilização inferior na escala histórica.

A medida é o quanto de alienação existe. De outra maneira, o quanto respeita verdades corretas da ciência. Afinal, nada diz que a mulher é inferior ao homem, por exemplo.

Então, nas últimas décadas o ocidente acumulou certas conquistas que devem ser defendidas e estimuladas, além de aprofundadas para todo o mundo. Neste sentido, deve ser guia ao oriente.

Por ocidente, aqui, incluímos a América Latina e o Japão. Talvez, enquanto a avança, a África.

Claro que tais valores nunca podem ser desculpas para imperialismo, golpes, invasões, perseguições, sanções etc.

No ocidente, a ideia de revolução, contra a obediência, tonou-se um valor cultural comum – algo imensamente progressivo. Assim, a liberdade é valorizada, ainda que de modo individualista.

A cultura geral oriental tem muito a ensinar. Mas, em certos campos, em especial nos costumes, ainda é reacionária e, até, contrarrevolucionária. Um reforma, ou revolução, cultural deve ser feita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OS FALSOS REVOLUCIONÁRIOS

 

A velha guarda militante cansou-se. Envelheceu sem ver a revolução. Ao contrário, o socialismo real, que tanto os estimulou, caiu, ruiu, desabou.

O cinismo tomou conta da esquerda radical. Eles fingem ser revolucionários para manter cargos, pequenos prestígios, rotinas etc.

Moralmente degenerados, fazem todo tipo de teatro militante.

São homens de sindicato, não de Estado. Embora tenham décadas de militância, nada sabem sobre arte militar (a revolução não exigirá guerra civil?). Muito além disso: são incapazes de governar. Mesmo se os trabalhadores derem a eles o poder na mão, nada saberão fazer.

Eles não possuem programa de governo. O que fazer, como fazer, de onde tirar os recursos necessários para tal? Afinal, nada esperam governar – para quê aprender? Mesmo se contratando especialistas, isso nunca virá de bandeja aos governantes da extrema-esquerda. É preciso saber elaborar, propor e governar.

Estão muitíssimo aquém das tarefas históricas. No fundo, pensam que o socialismo nunca virá ou surgirá daqui a 100, 200 anos…

Muitos dos jovens militantes também são assim. Estão nos partidos para ter vida social extra, por prestígio, por moda.

Novos e velhos militantes, boicotarão a revolução quando ela chegar. Uma parte irá “viver a vida” porque as tarefas serão duras demais. Outra parte, finalmente, será convencida a ir para frente.

São revolucionários, porém não muito nem tanto. Se precisarmos pegar em armas em outro país, muitos jogarão corpo fora ou mandarão os jovens para isso…

Assim, são ações teatrais, protestos teatrais, reuniões teatrais.

A verdade é que, repetimos, nada mais esperam de uma revolução. Acostumaram a voos baixos, pequenos. Numa tortura, em caso de ditadura, serão os primeiros a entregar os companheiros ou serão infiltrados. Não darão conta de ser resistência.

Apenas um “como se”. Os partidos de extrema-esquerda estão infestados por esse tipo de gente, em principal nas direções partidárias.

Para manter o sindicato, nada mau erguer de vez em quando o punho para cantar a Internacional… Contato que o clubismo permaneça em pé.

Com isso, a moral degenera. Apostam na manobra, na ação informal, no jogo. Tudo para manter as aparências. De vez em quando, expulsar quem quebra a brincadeira ou aquele militante que ficou esperto demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O NOVO PROBLEMA DO MACHISMO

 

Este assunto é dificílimo. Por 5000 mil anos, a mulher foi escrava do homem – em grande medida, ainda continua em tal posição. Mas é evidente que, nos países ocidentais, houve alguma relativa mudança.

Quanto mais as mulheres conquistam direitos e liberdade, mais condições têm de conseguir mais direitos e liberdade. Surge um ciclo, efeito em cadeia, positivo, uma tendência ainda com grandes resistências.

A coisa mudou de rumo. Antes, o homem matava sua mulher como afirmação de sua independência em relação a ela, e seu domínio – enquanto ela estava isolada, por exemplo, na cozinha. Hoje, ao contrário, o homem mata sua parceira por depender emocionalmente dela – enquanto a mulher afirma maior independência, sem domínio claro. O sinal inverteu-se: mesmo efeito por causas opostas, com os mesmos elementos em jogo.

Há, de fato, o lado biológico afetando a reação violenta masculina, mas isso é menor; pois, neste caso, trata-se de outra razão, o contexto social. Antes, a vida social (clube, política, sindicato etc.) era algo masculino. Hoje, porém, os homens estão mais isolados uns dos outros, enquanto as mulheres, por seus perfis, tendem ao grupo, ao agrupamento.

A nova realidade confirma isso. Exceção do caso de gravidez possível, muitos empregadores preferem mulheres em tantos ramos porque grevam menos (são mais “responsáveis”) e são, de fato, mais responsáveis – enquanto o machismo, além de fatores biológicos, fazem do homem ousado demais, caindo tantas vezes na irresponsabilidade, no desleixo etc. Assim, as mulheres vivem mais ciclos sociais como no trabalho mais coletivo, menos isolado.

Exige-se muito do perfil masculino, mas o capitalismo hoje o frustra o tempo todo, como com o desmoralizante desemprego.

A degeneração moral, enfim, afetou o elo mais resistente, as mulheres (veja-se que as prisões femininas deram um salto repentino, algo raro antes). Assim, a luta de todos contra todos na fase de decadência imperialista leva ao oportunismo nas relações familiares e sexuais. Quer-se o dinheiro, o prazer imediato, a renda, o melhor restaurante etc. É mais difícil, hoje, encontrar uma boa parceira.

As tecnologias também mudam a situação. Por exemplo, o famoso aplicativo mundial Tinder é projetado para facilitar todo o processo para as mulheres e dificultá-lo ao máximo aos homens, para que eles paguem pelo melhor serviço. Redes sociais, por outro lado, facilitam a poligamia feminina – ainda bem.

Como crise da família atual, prenúncio da próxima saudável, além do amor livre, muitos homens são subordinados de modo alienador às suas mulheres. Muito mais do que antes, tal tipo de inversão tornou-se mais comum.

Devemos ter isso em conta, a saúde mental e social dos homens, das novas gerações em especial. Tanto o machismo quanto, agora, a nova situação os prejudica em modo de alienação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ESTATIZAÇÃO MORAL

 

No auge positivo do capitalismo, quando Keynes reinava na teoria econômica, do fim da II guerra à década de 1970, surgiu como natural este pensamento: monopólios naturais deveriam ser estatais – para controle de preços etc. Havia um consenso. Até hoje as tentativas da França de privatizar o seu regime de águas e energia do país tendem a obrigar reestatização, algo mais difícil num país não imperialista, dominado pelo capital imperialista sedento pelo capital estatal.

Feita a introdução, nossa tese: alguns negócios devem ser considerados imorais para a opinião comum, para o Estado, para o governo. Hospitais privados lucrarem coma doença alheia é um crime – e se matarem o paciente que apenas oferece custo? Escândalos do tipo são conhecidos e tanto outros ocultos. Além disso, tantos outros problemas ocorrem por lucro em tais serviços. Da mesma maneira, a indústria farmacêutica deve ser estatal, toda, em todo o mundo.

O caso ainda mais absurdo é a indústria de guerra. Empresas privadas de armas ganham mais em suas ações financeiras quando há conflito armado (caso, por exemplo, das empresas militares de Israel). Literalmente, o lucro aumenta com o aumento da morte. De soldados até produção de balas, tudo deve ser estatal – se possível, evitar lucro por lei. Isso não resolverá o problema, mas atenuará.

Qualquer acidente fatal contra o meio ambiente produzida por uma grande empresa privada deve desencadear de imediato a estatização sem indenização. E boa parte do lucro irá para um fundo de compensação rigorosa e ampla de danos.

A imprensa não deve ser “democratizada”, ou seja, com mais concorrência – mas deve ser estatizada, no mínimo como no modelo da BBC. Notícia é algo muito sério para receber, nos intervalos, propaganda de bancos.

Por fim, de fato os monopólios naturais – hidrelétricas etc. – devem ser, pelo menos, monopólios estatais. É óbvio que isso é racional até para o capitalismo, apesar de sua loucura crescente.

 

 

O PROBLEMA DO FUNCIONALISMO PÚBLICO

 

Com o longo aquecimento da economia após a segunda grande guerra, o estado disputou quadros capazes contra a iniciativa privada. Assim, deu direitos extras aos seus funcionários como a estabilidade no emprego. Desde então, surgiu um falso socialismo do funcionário estatal – quer-se um Estado forte, ainda que pinte isso com cores vermelhas e radicais.

Marx fere, no entanto, a intuição comum:

 

“Compreende-se de imediato que, num país como a França, em que o Poder Executivo dispõe de um exército de funcionários de mais de meio milhão de indivíduos, mantendo constantemente, portanto, uma enorme massa de interesses e existências na mais absoluta dependência, em que o Estado enreda, controla, disciplina, vigia e tutela desde as mais abrangentes manifestações de vida da sociedade civil até os seus movimentos mais insignificantes, desde os seus modos de existência mais universais até a existência privada dos indivíduos, em que esse corpo de parasitas adquire, em virtude da sua extraordinária centralização, um grau de onipresença, de onisciência, de acelerada capacidade de movimento e de reação que só tem analogia na impotente falta de autonomia, na disformidade desordenada do organismo social real, compreende-se que, em um país como esse, a Assembleia Nacional, perdendo o poder sobre os postos ministeriais, daria por perdida qualquer influência real, caso não simplificasse simultaneamente a administração estatal, reduzisse tanto quanto possível o exército de funcionários e, enfim, permitisse à sociedade civil e à opinião pública criar os seus próprios órgãos, independentes do poder governamental. Porém, o interesse material da burguesia francesa está entretecido da maneira mais íntima possível justamente com a manutenção dessa máquina estatal extensa e muito capilarizada.”

Marx, 18 Brumário de Luís Bonaparte, Boitempo, p. 76, 77; versão digital.

 

Ora, isso contraria a extrema-esquerda. Mas devemos criar formas de o povo, os trabalhadores, controlarem os funcionários: eleições reais, controles diretos, avaliação de desempenho (relatos dos usuários do serviçovia inernet após o uso), prêmio por meta e bom atendimento, os funcionários serem daquela comunidade do hospital ou escola, abstecer com valores de uso prontos no lugar de verba em dinheiro etc. 

Devemos defender e ampliar os direitos do trabalhador estatal, mas, ao mesmo tempo, desestimular a corrupção, a manobra, o corpo mole, a malandragem. É preciso controle social, controle direto, bandeira da Comuna de Paris.

Todos conhecemos casos absurdos de funcionários mais preguiçosos do que deveriam, mais ligados ao Estado abstrato do que aos necessitantes de seus serviços. A coisa é feita para dar errado: evitar, por exemplo, que o desejante por aposentadoria se aposente logo. Cria-se forte burocracia, no duplo sentido, para atrasar ou impedir direitos.

Controle social – controle social – controle social!

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