domingo, 28 de janeiro de 2024

O BRASIL ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO

 

APÊNDICE II

O BRASIL ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O BRASIL ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO

 

Apesar da força interna do marxismo brasileiro, poucos marxistas concluem o que já está quase óbvio: o Brasil beira o socialismo, não apenas a barbárie evidente. Para isso, deixamos claro: apenas em situações muito específicas, em duras crises ou logo após elas, a revolução é conjunturalmente possível e viável. Mas, aqui, tratamos da estrutura social; faremos, neste ensaio, uma breve análise de estrutura, madura para a próxima sociedade, não de conjuntura específica. Vejamos o estrutural da economia (infraestrutura), as classes (estrutura), as mentalidades (superestrutura subjetiva) e as instituições (superestrutura objetiva). Não será necessário cansar o leitor com dados, gráficos e tabelas; pois todos os fatos que servem de base são amplamente conhecidos e reconhecidos, embora raramente interpretados, quanto mais de maneira correta. Veremos a mudança radical em, em média, 100 anos brasileiros. A inspiração bibliográfica é o artigo público de mesmo título produzido por Edmilson Costa (Costa E. , 2016). Deixamos apenas um aviso prévio: países africanos, por exemplo, rurais e sem base para o socialismo podem fazer a revolução socialista se saem em seu socorro outras revoluções ou nações socialistas de países importantes. A revolução é mundial. Mas é necessário que países determinantes alcancem certos “máximos” relativos como alto nível de urbanização.

 

Economia

(Des)industrialização

Como sabemos, o socialismo apenas é possível após um alto desenvolvimento do sistema anterior, o capitalismo. É o caso do Brasil: tão maduro para a próxima sociedade quanto pode ser um país dominado. Portanto, algo verificável.

Há 100 anos, éramos um país rural, que exportava café, sem indústria. Em um século, tornamo-nos um dentre os países mais industrializados do planeta. Em termos relativos, no período recente, nossa indústria tem perdido espaço para os serviços (algo “natural” e geral após toda alta industrialização); em termos absolutos, há uma desindustrialização relativa e continuada. Temos, então, dois fatores opostos, ambos estimulando a revolução social: alta industrialização, base para a próxima sociabilidade, e perda de indústria, decadência industrial, o que empurra os trabalhadores a mudar o país.

Estamos na segunda revolução industrial e, ainda que de modo tímido, acessamos a terceira. A revolução socialista atuará para ampliar a automação e a robótica, algo difícil ao capitalismo de um país dominado, aonde opera baixos salários e condições de vida.

 

Matéria-prima

Produzimos, hoje, boa parte da matéria-prima necessária à produção. Tal fator, não central, dará mais estabilidade e resistência a uma sociedade socialista recém-fundada, embora necessite que a revolução seja mundial. “Temos” uma das maiores mineradoras do mundo, o melhor regime de energia por queda de água do planeta, facilidade de produzir energia eólia e solar, petróleo abundante com a tecnologia de extração necessária, domínio da produção de energia nuclear etc.

 

Agroindústria

Somos um dos celeiros do mundo. Com a estatização das grandes propriedades do campo, formando uma só empresa rural, poderemos manter e aumentar a escala, defender o meio ambiente e tornar os produtos agrícolas centrais de consumo popular muito baratos, tornando a fome algo do passado bárbaro.

Faz pouco tempo, os canaviais eram o local do trabalho humilhante, quase escravo; mas agora máquinas modernas, de tratores até drones, substituem o trabalho manual.

 

Bancos

A altíssima concentração bancária tem vantagens e desvantagens. Nos EUA, há mais de 5 mil fragmentados bancos enquanto no Brasil, 6 dominantes, 3 estatais. Nosso sistema bancário é moderno, mas degenerou em máfia, em oligopólio, que impõe duras taxas de juros, sugando de modo parasita a economia. Nosso sistema bancário impede o desenvolvimento das forças de produção. Eles são poderosos, forçando uma revolução socialista para impor um banco único do Estado, com empréstimos baratíssimos, reanimando a produção e a economia, além de cancelar, contra a escravidão bancária, a dívida enorme e crônica dos trabalhadores e pequenos empresários.

 

Comércio

O pequeno comerciante existirá por um bom tempo, pois é fácil criar um pequeno comércio. Mas já é regra haver supermercados e hipermercados em quase todos os bairros das cidades brasileiras. A rede comercial está interligada pelo mercado financeiro e pela internet. Assim, temos a base para as primeiras formas de depósitos públicos de produtos no socialismo. Uma rede única estatal de distribuição e grande comércio pode surgir. A concentração e centralização do capital comercial atingiram níveis altos nesta nação.

 

Dívida pública

O Estado é imensamente sugado para o pagamento da dívida estatal. Nesse sentido, veio o absurdo de aumentar como nunca os impostos sobre os trabalhadores e a classe média, reduzindo sobre os ricos (o imposto sobre lucros e dividendos foi retirado etc.). A dívida impede um investimento correto nos serviços público, levando a tensões sociais. O sistema de impostos impede a criação de novas empresas, mantendo o domínio das maiores.

 

América Latina

A América Latina tende a ser o palco inicial da revolução socialista por não ser rica como a Europa nem atrasada como a África. Está sobre a ameaça constante de ser pobre como os africanos, tanto mais nesta época de decadência, e tem ânsia de ser tão bem posta como os europeus. Por isso, por aqui, há imensa influência do trotskismo em suas variadas ramificações, além de ter sido o lugar de tantas rebeliões e revoluções nos últimos 100 anos.

 

Integração mundial

O Brasil não pode ser simplesmente “desligado” no mundo – somos um continente, não uma ilha. Assim, continuaremos juntos ao mercado mundial em caso de socialismo. Nossas exportações e importações são igualmente vitais ao sistema global. Uma revolução socialista no Brasil provavelmente levará consigo toda a América Latina.

 

Classes sociais

 

Urbano

Há 100 anos, o Brasil era 90% rural; agora, 90% urbano. Pequenas, médias e grandes cidades produzem concentração humana, risco de revoltas, greves, luta de ideias – a cidade é a casa da democracia socialista. As demandas sociais da urbanidade – caótica neste país – empurram para a luta de classes mais intensa. Dito isso, vale observar: o enorme tamanho absoluto de explorados e oprimidos, uma das maiores populações do mundo, é a força imensa da revolução brasileira.

 

Burguesia parasita

A burguesia tornou-se parasitária. Em vez de investir na produção e na circulação, investe em dívida pública, na renda passiva da terra, no mundo financeiro e bancário etc. Os superricos moram nos EUA, adquirem até sotaque estadunidense, perdem noção da realidade brasileira.

Surgiu também uma burguesia comercial poderosa, que vive de juros no cartão da empresa, na dívida dos trabalhadores, cuja origem social em parte é a hiperinflação por décadas até os anos 1990.

Outra parte da burguesia é dependente de contratos com o grande Estado brasileiro, que é um capitalista impessoal (o Estado capitalista é um capitalista impessoal).

Nossa burguesia aceitou, contra sua classe operária, ser sócia menor da burguesia imperialista. Ela é bruta, de origem escravista, mas sabe contratar as mentes mais inteligentes do país para gerir o caos nacional.

 

Operariado

Temos uma das maiores classes operárias do mundo. Ademais, sua nova geração é culturalmente superior. Criou-se, aqui, uma tradição de greve e de luta nas categorias. Tendemos a reduzir numericamente o número de seus membros, mas eles continuam a ter força, pois podem parar a produção vital, além da circulação no caso do setor de transportes.

 

Classes médias

Há altíssima concentração de setores populares precários nas cidades, que costumam ganhar menos que boa parte dos operários. A tendência a salários menores nas classes médias faz com que se esquerdizem, como com greves, e tendendo à aliança operário-popular.

 

O paraíso dos ricos

O Brasil é o verdadeiro país dos ricos, mesmo. Não se paga aqui imposto sobre lucros e dividendos que todo país cobra, enquanto o trabalhador e a classe média pagam imposto de renda pesado. Enquanto quem vive de salário paga imposto sobre seus transportes, os ricos não pagam imposto sobre jatinhos, iates, alimentos de luxo, helicópteros etc. Os ricos pagam, em termos relativos, menos impostos que os pobres. O imposto para retirar dinheiro da nação, levar a outro país, IOF, é pífio. O imposto territorial das grandes fazendas é algo irrisório em comparação ao acumulado com as habitações urbanas. As dívidas dos empresários para com o Estado são ciclicamente perdoadas enquanto a dívida dos assalariados bate recordes. Isenção de impostos para grandes empresas ocorrem em todo o país, com os Estados disputando quem atrai mais. Enquanto no mundo, há importante imposto sobre heranças, o Brasil cobra, via de regra, apenas 4%. Os bancos são certa máfia legalizada, sem grande resistência, lucrando absurdamente por cima da desgraça popular – os juros mais altos do mundo.

 

Superestrutura

 

Marxismos

É difícil encontrar um país aonde o pensamento marxista não seja marginal, dentro e fora das universidades. O Brasil é uma das exceções. Temos os mais variados tipos de marxismos, criando um bom caldo cultural. Temos o maior partido trotskista do mundo, o PSTU (o trotskismo tem força na América Latina inteira – são inúmeras as correntes inspiradas em Trotsky no Brasil – todos os fatores aqui tratados cabem, grosso modo, à Argentina). O PCB, embora centrista, hoje é muito diferente do antigo e pelego PCB. O PSOL tem revolucionários que não degeneraram, mesmo que oscilem bastante.

Erguemos movimentos incríveis como o MST, no campo, e o MTST, na cidade, além de uma central sindical e popular revolucionária, CSP-Conlutas, que possui força nos principais batalhões da classe operária (embora, muitas vezes, aristocrático).

Os pesquisadores marxistas ou de esquerda costumam ser os melhores, mais responsáveis e mais originais do país. Somos minoria na universidade, às vezes perseguidos, mas com posições que são difíceis de ignorar ou boicotar. Isso é incomum.

A diversidade do país mais sua pobreza fazem com que a dialética seja um caminho natural para o pensamento. Por exemplo, difícil para um escritor de ficção não falar da pobreza nacional.

Além disso, temos uma natural vocação internacionalista como com a marginalidade do pensamento xenofóbico entre as camadas populares.

 

Letrados

Há 100 anos, especialistas como economistas, advogados, engenheiros, arquitetos, administradores etc. eram raros, sem universidades no país. Hoje, temos uber, taxista, formado em engenharia… Temos uma elite intelectual. Além disso, apesar dos pesares, a alfabetização das massas é o maior da história, com poucos analfabetos totais.

 

 

Esquerda na economia, direita nos costumes

Os trabalhadores têm instinto de classe, desconfiam de medidas capitalistas. Mas são conservadores em pautas de costumes. Mesmo assim, as novas gerações são mais abertas ou tolerantes relativo aos seus pais e avós.

 

 

Correntes e partidos

Os partidos burgueses degeneraram, deixam de ser um celeiro de quadros para gerir um país tão complexo. A corrupção é regra. A causa imediata disso é a decadência do capitalismo brasileiro. Na mente da maioria, a democracia é vista como farsa.

 

Risco do fascismo neopentecostal e miliciano

O socialismo não é inevitável, podemos ser derrotados. Antes da extinção do Brasil como civilização ou talvez da humanidade como espécie, pode ocorrer um período transitório muito duro. Uma ditadura militar não é capaz de se manter em pé com as “necessárias” políticas de aumento da pobreza somadas à urbanidade. Logo, o regime fechado, feito para evitar o socialismo, degenerará em liderança miliciana, em máfia, e regime “religioso”, teocrático, das igrejas evangélicas oportunistas. O país cairá no fascismo aberto. A democracia burguesa, ao ser incapaz de melhorar a vida da maioria, pode fechar o corrupto parlamento de duas formas, opostas: ou substituída por uma democracia superior e direta, ou grupos armados fascistas encerrando as duas câmaras. É necessário, portanto, disputar a consciência dos trabalhadores e das classes médias precárias para o projeto de outro Estado, o operário com apoio popular. Apenas quem tem medo pode ter coragem.

 

Temos a oportunidade de ser, finalmente, o país do futuro no presente; e erguer, com o mundo, a bandeira mundial do comunismo, talvez entre os primeiros a mudar tudo. Um povo tão resistente e tão criativo pode servir de inspiração feliz às outras nações irmãs, aos trabalhadores sedentos por alternativa.

 

EXTRA: UMA “NEP” À BRASILEIRA?

Demonstramos que é impossível reformar o capitalismo brasileiro, tão maduro quanto pode ser, na época de decadência mundial do sistema do dinheiro-valor. Se ficássemos isolados após uma revolução nacional, enquanto esperamos a revolução mundial – o que poderíamos fazer? Façamos o exercício, que pode ser educativo.

1.    Antes de fundar o banco único estatal, antes de extinguir o dinheiro, liberar para que muitos bancos privados, não estatais, apenas um por país, para evitar acordos secretos, entrem no Brasil, para fomentar alta concorrência, baixando o juro real, estimulando a economia.

2.    Antes de estatizar, sem indenização e sob gestão operária, as empresas; unificar as empresas médias, ou não grandes o bastante, em grandes empresas nacionais únicas, com uma só fábrica ou complexo fabril de preferência. Unir, por exemplo, os grandes fabricantes de sapatos para que invistam seu capital numa só grande empresa do setor, usando alta tecnologia, impondo alta escala, o que barateia o produto individual. O Estado teria parte do capital, além de poder de veto na administração. Ademais, seria necessária uma taxa de lucro menor que a média mundial, imposta por lei rígida, por lucro geral e por produto (evitando, assim, preço de monopólio; e estimulando a exportação, além do aumento da produtividade para aumentar a massa de lucro total) – lei válida por 30 anos, por exemplo. Após 30 anos de lucro, o capital se tornaria todo do Estado e de seus operários, sem indenização aos antigos acionistas. Nesses casos, o capital acionista apenas poderia ser nacional.

3.    Imposto progressivo ao lucro dos serviços privados de educação, saúde, transporte, segurança, alimentação etc. para financiar serviços iguais estatais.

4.    Um “Amazon” das editoras focado tanto em venda como em gráfica, uma gráfica nacional das editoras.

5.     Mediante acordos especiais de comércio prioritário, surgirá um banco de compensações entre países latino-americanos para economizar dólares, aumentando a integração regional.

6.      A capitalização, transitória, da previdência terá como um dos focos de investimento a criação do complexo da saúde na área de medicamentos de modo que uma poderosa empresa automatizada, roborizada, será a fonte do retorno financeiro aos aposentados (o que, ademais, superará nossa necessidade de importar insumos e remédios).

7.      Reforma na lei para permitir imposto de valor maleável sobre alimentos exportados como garantia de segurança alimentar caso os preços subam muito por demanda internacional.

8.      Uma pequena porcentagem das grandes empresas de agronegócio serão obrigadas a plantar certas espécies, sem agrotóxicos, para preservar a população de abelhas.

9.      Obrigar que uma parte das grandes terras, uma porcentagem progressiva, seja de determinados grãos e carnes para consumo interno, de modo a tornar as mercadorias baratas e acessíveis.

10.  Instauração da prisão perpétua para crimes graves, incluso desmatamento.

11.  Substituir o dinheiro físico por digital, com internet para todos e em amplos ambientes.

12.  Pesado imposto sobre grandes heranças e sobre lucros e dividendos empresariais.

13.  Criação de centros sociais em cada bairro.

14.  Erguer uma poderosa rede ferroviária, que reduz em até 5 vezes os custos de transporte.

15.  Treinar todo cidadão que vive de seu salário no manuseio de armas leves e pesadas, além de facilitar seus acessos a tais armas, de modo gratuito na medida do possível.

16.  Reduzir, tanto quanto se pode, a jornada de trabalho, mesmo que isso exija relativa inflação – isso é inegociável, condição para governo dos trabalhadores. Pode-se compensar isso, por enquanto, com um organismo de câmbio de empregos, por exemplo, se o trabalhador e o patrão (se este há) estão de acordo, será permitindo de uma empresa para outra, trocando com outro funcionário, mantendo o pleno emprego.

17.  Estatização, sob gestão operária, das empresas centrais da economia, apenas elas – não todas ou a maioria. Estatizar aquelas empresas que são vitais para os preços: transporte, petróleo, energia elétrica, regime de águas etc. e as que são monopólios naturais.

18.  Criar uma reserva grande de ouro no meio geográfico país.

19.  Criar forte indústria de defesa longe do litoral e no meio geográfico do país.

20.  Empresar pequenas ou não centrais tornem-se cooperativas temporais quando tomadas por seus trabalhadores, funcionários.

21.  Imposto sobre renda, não sobre consumo. Alta taxação de produtos de luxo.

22.  Concorrência cooperativa. Pequenos e médios comércios, concorrentes, compram juntas, ao mesmo tempo, em grupo, para assim ter força de negociar melhores preços e maiores quantidades de mercadorias com seus fornecedores.

23.  O Estado repassar aos seus serviços (educação, saúde etc.) não dinheiro, mas coisas, produtos – assim, reduzindo custo total, ao fazer grandes compras unificadas, e evitando as pequenas corrupções locais de diretores etc.

24.  Trazer médicos cubanos também para ampliar muito os cursos de medicina, tão queridos pelos jovens.

25.  Pôr acima da medida dos países centrais o investimento em pesquisa e desenvolvimento – rumo à informatização, automação e robotização da economia e da sociedade.

26.  Grandes e novas empresas estatais, sob gestão operária, podem permitir o surgimento de empresas satélites privadas ou cooperativas, menores, que oferecem certos insumos à matriz – mas a empresa central, de produto final, terá direito de veto na administração de tais empresas.

27.  Plano de reaproveitamento quase máximo do que ora é transformado em lixo para defender o meio ambiente, reduzir importações e reduzir custos.

28.  Para qualquer caso de corrupção ou manobra ilegal empresarial, a lei deve de imediato condenar à estatização da empresa, sem indenização, sob gestão dos trabalhadores e seu comitê de fábrica que analisa os dados da empresa no cotidiano – e prisão irrevogável da direção empresarial.

29.  Após reduzir a jornada de trabalho para gerar pleno emprego permanente, subir os salários acima da inflação por dois anos, de modo planejado para evitar grande inflação. Então, forma-se um plano para alcançar o salário mínimo constitucional burguês, do DIEESE, em 10 ou 20 anos, com aumentos anuais planejados do salário mínimo acima da inflação; al[ém disso, com planos, como aumento da produtividade técnica, ara baratear os insumos e, além disso, fornecer serviços públicos no lugar de privados.

30.  Os sindicatos, centrais sindicais e partidos que tiverem do lado da revolução depois terão direito a jornais impressos próprios, independentes e gratuitos distribuídos em todo o país e para os membros de suas categorias.

31.  Aproveitar o programa burguês industrial de Ciro Gomes, complexos industriais específicos: complexo industrial da saúde, do agronegócio, da petroquímica e da defesa. Por que eles? Porque: 1) as patentes estão vencidas (80% dos remédios importados são patente vencida, por exemplo), 2) temos especialistas para desenvolver tais áreas, 3) o Estado já tem demanda alta por tais produtos, 4) substituímos de modo importante importações, 5) há alta demanda popular interna. Além disso, podemos escolher alguns campeões nacionais internacionais para dominar o mercado mundial de alta tecnologia.

 

Tais propostas são indicações, pistas, nesta época de pouca criatividade, de baixa imaginação, de falta de projetos. É preciso aprender a pensar, ensaiar governo, a arte de governar. Os exemplos acima demonstram a maleabilidade possível se somos forçados a mediações por algum tempo. Apenas na situação concreta, sem listas ou manuais, poderemos dizer quais as medidas necessárias e possíveis. O programa acima, se prático for, é inferior, claro, pois o foco é implementar, já de início, tão rápido quanto possível, o programa de transição.

 

EXTRA: TESES SOBRE O BRASIL

1.      Marx inicia a lógica de sua grande obra com o início histórico, a pré-história do capital. Assim, trocas aleatórias, sem sinal de proporção e medida, passaram para trocas mais ou menos medidas, mas casuais, vez ou outra; em seguida, certas mercadorias trocam-se por várias ao crescer o mercado; em seguida, várias trocam por uma especifica. Em seguida, todas trocam por dinheiro, o ouro em especial. Pois bem; assim foi iniciado o país Brasil: os portugueses trocavam produtos-mercadorias por, por exemplo, pau Brasil, outra mercadoria. Rir-se como se fosse uma troca injusta, mas o espelho, por exemplo, era um produto, na oferta e demanda, absolutamente raro ao indígena, incapaz de ver a si mesmo com toda clareza. O transporte também aumenta o valor da mercadoria, de um continente ao outro pela primeira vez. Só em base ao mercado, como na obra O Capital, pôde surgir a produção para o mercado mundial, mas com trabalho escravo. Assim, o mercado como Brasil rapidamente passou ou pulou as etapas expostas acima.

2.      O Brasil nunca passou por uma revolução burguesa porque, desde 1500, sempre foi burguês, embora sui generis.

3.      Diz-se ora que a escravidão acabou por impulso da classe dominante, ora por pressão da Inglaterra, ora por revolta crescente. A última explicação é a mais correta, mas ela tem por base, além de esconder, uma razão econômica. A escravidão existiu por falta de mão de obra desemprega, ou seja, regulada pelo mercado. Uma falta de mão de obra porque os índios sabiam fugir, conheciam o cenário e a floresta. Mas, quando a quantidade de escravos tornou-se imensa tanto em termos absolutos quanto em relativos, surgiu a base econômica para fundar o exército industrial de reserva, o desemprego, a superpopulação relativa artificial. Com quantos quilos de medo se faz uma tradição? Era, no entanto, difícil mudar as relações de produção, exigia muita mediação para algo gradual antes do salto. Por isso, isso se deu mais de modo gradual que por revolução real, final. Assim, um mercado consumidor interno de mercadorias tinha iniciado ao menos sua base latente e mínima.

4.      O regime escravista era pouco produtivo, o que dificultou acumular capital; por outro lado, estimulou aumentar o mais-produto pela extensividade, aumento do número de terras em agricultura, logo, o número de escravizados.

5.      As revoluções e revoltas nacionais fracassaram por ainda não terem caráter nacional, o que expressava indiretamente as forças produtivas pouco desenvolvidas.

6.      A guerra do Paraguai foi, antes e também, um aviso do Brasil e da Argentina contra toda a América do Sul para que não ousassem produzir políticas protecionistas, maior autonomia econômica e projetos grandiosos próprios.

7.      De modo inconsciente, inconsciente social; o Estado combater a inflação e manipular os juros para manipular câmbio e, assim, controlar a inflação desde 1990, têm por objetivo controlar a luta de classes, impedir a revolução brasileira a qual beiramos nas décadas de 1980 e 1990. Fazem, mas não sabem.

8.      Surge, hoje, uma cultura própria das pequenas urbanidades, que devem ser interpretadas crônica e sociologicamente. Têm o poeta oficial (em geral, romântico ou parnasiano, adotador como pode do poema fixo), a família política oficial (em geral, duas inimigas), o radiologista, o louco ou bêbado oficial, a prostituta – e o burguês oficial, em geral quase único na cidade. Hábitos próprios como vestir-se com exagero de beleza para ir comer uma simples pizza. Veem de modo impressionista, via TV e internet, as grandes cidades. Por impressionante, a atividade sexual das jovens costuma ser ainda mais ativa e livre, hoje, em relação às da capital. Em geral, um pastor domina a religião do município, impedindo, por exemplo, a obtenção de preservativos no posto de saúde.

 

CRISE DOS INTELECTUAIS MARXISTAS DO BRASIL

Nos anos 2000, o crescimento econômico acima da média das últimas décadas permitiu ao governo ampliar as universidades públicas. Isso permitiu, também, que uma série de marxistas se tornassem professores universitários. Hoje, somos certa minoria com qualidade acima de média.

Ao elevar a qualidade de vida, muitos abandonaram o marxismo, outros o defendem na academias, alguns mantiveram a militância. É difícil ser imune ao novo ambiente e ao novo salário. Houve, portanto, uma pressão para o centrismo.

Sérgio Lessa, universitário da velha guarda, disse, em palestra em 2013, que a nova geração de intelectuais marxistas se livrou das armadilhas da antiga. Vejamos seus argumentos:

 

1.  Os novos intelectuais marxistas não se impressionam com as ditaduras “socialistas”, pois surgiram após a queda do muro de Berlim.

2.  Não se iludem com a democracia, pois já cresceram nela e em sua decadência.

3.  Não cedem ao governo de esquerda, pois já o viu no poder.

4.  Têm acesso a textos basilares com muito maior facilidade.

5.  Vivem a crise evidente do sistema.

 

No entanto, hoje apoiam o terceiro governo Lula, do PT. Bastou o bafo quente do fascismo sobre suas nucas para tornarem-se o último vagão do trem da burguesia. É difícil escapar de seu perfil de classe. Passaram a louvar o lulismo e petismo.

O problema é que não passaram pela escola dura da luta operária, ou seja, formaram-se nos anos de refluxo, não de Ascenso das lutas. De qualquer modo, tenderam à esquerda porque a miséria sempre está diante dos olhos brasileiros.

Quando junho de 2013 e a onda inédita de greves parciais surgiram, eles enlouqueciam com a tese sem fundamento de que o país estava diante de uma “onda conservadora”. No fundo, a pequena burguesia desagrada-se com as lutas sociais e o trabalho que exigem. Revolucionários, porém não muito. Por isso, na revolução russa, os marxistas acadêmicos ficaram, em geral, na margem da história. Tudo contra o petismo para eles é reacionário, no mínimo.

Nos partidos de esquerda, posições da classe média são defendidas pintando-se de linguagem vermelha. O exemplo mais triste e risonho é o veterano trotskysta Valério Arcary: outrora revolucionário, hoje afirma que o governo Lula III está em disputa; tornou-se conselheiro da frente popular, tudo que sua tradição original – e suas próprias palavras anteriores! – condena.

A USP, maior universidade da América Latina, torna-se a montanha que pariu um rato. No lugar de teses úteis, procura-se o novismo e o jogo de palavras. No lugar de originalidade, a eterna repetição dos clássicos. No lugar de ciência, comentários sagazes e dispensáveis. Sequer sabem elaborar política de modo marxista os membros marxistas de tal instituição. O cinismo e o meio-termo tomam conta dos espíritos. Esse tipo de gente dirige os partidos vermelhos ou amarelos.

Chico de Oliveira afirmou que o intelectual brasileiro é um ornitorrinco, ou seja, escreve sobre marxismo e revolução, mas na política prática é do polo da direita ou da burguesia. Tal afirmação deve ser levada a sério. O Brasil produzirá originais e interessantes intelectuais marxistas, mas devemos cuidar para que não percam o rumo.

Lula corrompeu os marxistas ajudando-os a dar aula.

 

 

SÃO PAULO: CASA DO BOLCHEVISMO DO BRASIL

O título parece absurdo. Além disso, reclamamos da falta de espaço de quadros nordestinos, região mais precária que tem se urbanizado e se industrializado, nos cargos nacionais e partidários. O autor deste livro, por exemplo, mora num dos Estados mais pobres do Brasil, no nordeste. Mas O sul-sudeste, valerá a justificativa, têm o perfil para a formação partidária bolchevique:

 

1.    Concentram massa de imigrantes de todo o mundo

2.    Concetram massas de imigrantes do norte e nordeste

3.    Têm altíssimo caldo cultural

4.    Possuem os melhores intelectuais (USP etc.), apesar de a melhor educação básica ser do nordeste, do Cerará em especial

5.    Concentram o grosso da enorme indústria do país

6.     Por isso, concentram com força imensa a classe operária

7.    Possuem grandes bairros operários

8.    Possuem grandes periferias

9.    Suas enormes cidades são anormalmente extressantes sobre a psique e o corpo do trabalhador, o que acumula pautas sociais

10.                       Em São Paulo, principal e melhor exemplar, tem-se a cultura da leitura de jornais no cotidiano – o que estimula e dá espaço para jornais partidários e operários

11.                       São Paulo é conhecido pela disciplina forçada, artificial, sobre o trabalhador, que tende a ser natural também no militante

12.                       Possuem concentração urbana absoluta imensa

13.                       Possuem tradição de luta secular, Sâo Paulo em especial

 

Tais fatores ajudam muito, até determinam. São Paulo destaca-se, tem de maneira avançada todos os elementos acima. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também ganham peso extra. No norte, o Pará operário e ambiental. No nordeste, o radicalizado Ceará, com sua tradição operária e com até políticos burgueses muito esquerdizados (família de Ciro Gomes, que garantiu, por exemplo, uma superior educação pública relativo a todo o resto do país); Pernambuco com sua cultura e perfil ímpar, além de tradição revolucionária; e, claro, a destacável Bahia. Eis os centros de um trabalho comunista, os centros da revolução brasileira. Por uma incapacidade de adiar até condições nacionais melhores, por precarização extra etc. a revolução pode começar no Piauí – uma segunda luta por independência, uma segunda Batalha do Jenipapo –, mas apenas será vitoriosa se vencer, também, em São Paulo.

 

BALANÇO DESDE JUNHO DE 2013

10 ANOS DE LUTA

 

 

APRESENTAÇÃO

Após 10 anos da rebelião de junho de 2013, fato que ainda não acabou, pois é processo ainda vivo, muitos balanços surgiram sobre a data e o que houve depois. Porém, todos são balanços parciais, angulares e, em principal, externos; por isso na senti necessidade de escrever uma obra tão clara e completa possível sobre os últimos dez anos, desde aquele dia. O formato é de ensaio, mas o centro é científico e político. Todos os dados e fatos são conhecidos e reconhecidos, mas não ou mal interpretados.

Quase todas as pessoas, hoje, diz-se de esquerda ou de direta, familiares dividem-se e brigam, humor contra a exploração laboral tornou-se popular na internet. Tudo isso começou em 2013. Em especial, entre os jovens. Muitos deles dizem algo do tipo: “se você me conheceu antes de 2013, peço desculpas.” Ou seja, eles mudaram desde aquela data.

Já aviso que minha visão é comunista e otimista em relação aos fatos: uma onda de greve surgiu após as manifestações, ou seja, as classes trabalhadoras esquerdizaram-se. Mas ninguém sabe muito bem a causa disso, o que pretendo explicar.

Como observamos, ninguém saiu imune. Partidos entraram em crise, o Estado balançou, a direita e a alta classe média reagiram, a burguesia planejou reação etc. As mudanças na base da sociedade, na economia e nas classes, operam mudanças no resto do tecido social, nas assim chamadas superestruturas – mentalidades, moral, instituições etc.

A figura do militante, mesmo se tratada de modo debochado, parece ter chegado para ficar. Cada local de trabalho, cada sala de aula tem aquele membro mais ativo, mais politizado. As conversas de bar rechearam-se com tempos específicos para conversar sobre política, às vezes com o sangue fervendo diante de polêmicas entre os membros à mesa.

Está claro que mudou. Também está cristalino que algo estar por se resolver, parece que estamos em suspensão e uma névoa paira no ar. É a sensação de que algo deve ser resolvido de vez, de fato. Parece que o país não se encaixa nele mesmo. Isso tem implicações socialistas, como debateremos. Ou a ditadura do capital ou o socialismo, a democracia direta e de base socialista, a ditadura do proletariado, vencerão. O tempo do meio-termo está definhando.

 

SITUAÇÃO MUNDIAL

Uma crise econômica inicia-se antes da crise propriamente dita, antes de sua fase destrutiva. Isso ficará mais fácil em outro capítulo; por agora, isso deve ficar claro: ondas de luta, via de regra, surgem antes de uma quebra da economia. A crise brasileira começou em 2008, nos EUA e na Europa. Aquela crise quase levou ao colapso do sistema, mesmo. As bolsas de valores foçaram feriados para impedir a quebradeira. Depois, surgiram ineditismos: empresas imperialistas foram parcialmente estatizadas, uma onda de dinheiro foi lançada sobre a economia mundial. Isso salvou o capitalismo e o movimento socialista, pois este último estava de todo despreparado para o que poderia vir e quase veio.

A onda de falências e demissões nos centros mundiais, reduziu o consumo das famílias e das empresas. Logo, a demanda por produtos chineses cairia. Logo, a demanda chinesa por matéria-prima vinda do Brasil cairia. Crise geral. Porém, a China reagiu forçando o pleno emprego com onda de investimentos públicos. Assim, demandou ainda mais produtos brasileiros como ferro e outros produtos primários. Lula e o PT respiraram aliviados. A ação do poderoso Estado chinês permitiu exportar muito, o que baixou o dólar (entrou dólar, mais oferta da moeda derruba seu preço em relação ao real), que caiu para abaixo de 2 reais! A alegria reformista imperou, o consumismo tomou conta dos espíritos.

Lula disse que a crise no Brasil seria “marolinha”, não tsunami. A esquerda radical criticou tal posição, mas ele acertou – e errou, pois tal crise foi apenas adiada para 2015. Vendo o problema econômico mundial, e ao acreditar ser algo conjuntural, não estrutural, o governo do PT, guiado pelo de fato reformista honesto Mantega, tomou uma série de medidas para aquecer a economia: Minha casa Minha vida, aumento real do salário mínimo (acima da inflação), imposto sindical (falaremos dele novamente), grandes obras públicas cujo setor gera mais emprego, redução dos juros da dívida etc.

Merece destaque a redução dos juros. De um lado, os especuladores trouxeram dólar para o Brasil, a fim de comprar títulos da dívida estatal, porque o mundo desenvolvido estava em crise – isso valorizou nossa moeda relativo ao dólar. Por isso, e apenas por isso, o governo viu oportunidade de manter os juros baixos, de reduzi-los após anos mantendo-os altos. Uniu a fome com a vontade de comer. Ao “apenas por isso” devemos acrescentar, claro: o câmbio tendeu a cair, repetimos, porque aumentou muito a demanda chinesa por nosso produtos brutos, o que facilitou e permitiu reduzir juros.

Do ponto de vista da luta de classes, a Europa fez jus a sua tradição com duras lutas e protestos de rua. Os EUA estavam aprendendo a organizar suas guerras de classe. E no mundo árabe revoluções aconteciam. Todos são respostas, iniciais e desproporcionais, à crise. A situação começou a ficar favorável para partidos revolucionários.

 

ANTECENDENTES

Junho de 2013 nada tem de raio em céu azul. Se quisermos dar um começo, diremos que foi 2011 no Piauí, região do autor. Aqui, uma repressão policial contra um ato de vanguarda gerou revolta de rua. A luta contra o aumento do preço da passagem de ônibus colocou 30 mil nas ruas em seu auge, o que é muito para a cidade de Teresina, a capital. Vitória tamanha que os governos municipais seguintes evitavam aumentar o preço da passagem para estudantes (e a prefeitura deu 32% de aumento salarial, muito acima da inflação, após forte greve). Em todo o país, greves vitoriosas e radicalizadas aconteciam, em especial na construção civil; motins de policiais multiplicavam-se. Havia um aumento das lutas, com um detalhe: pequenas vitórias aconteciam, o que temperava os ânimos. Com o crescimento econômico, mesmo se fraco, migalhas poderiam ser cedidos pelos governos e pelos patrões.

Um dos pontos auges foi a destruição, em 2012, do já consolidado bairro Pinheirinho, liderado pelo PSTU. Quando o governo estadual decidiu destruir tal avançadíssima experiência, Canudos moderno, que inclua democracia direta, surgiu algo inusitado: uma situação revolucionária em apenas um bairro! Grupos de combate e autodefesa surgiram na ocupação, prontos para enfrentar a tropa de choque. A intenção de fundo era política: quebrar a base social de tal partido, pois uma comuna numa das regiões mais industrializadas da América Latina era inaceitável.

 

OS ATOS

Qual a causa dos protestos de Junho de 2013? O pleno emprego. Quando o desemprego fica baixo por anos, os trabalhadores mais grevam, mais ousados ficam, mais lutas há. Isso, que evoluiu passo a passo, precisou de um salto – os grandes protestos no meio daquele ano. Os jovens, mais afeitos ao risco, até tinham emprego; mas usavam mais o transporte público ruim para ir até à faculdade e ao trabalho.  Até tinham trabalho, mas ganhavam mal. O estresse aumentava dia a dia, acumulava-se.

A luta por educação, saúde, transporte e segurança estava em alta. Por serviços públicos gratuitos e de qualidade. Problema: durantes os protesto, ninguém da esquerda transformou tais pautas gerais em pautas diretas, como por 10% do PIB para a educação. O PSTU, aliás, com sua mania impressionista, chamou a ditadura do proletariado (!) na forma de “Nem direita nem PT: trabalhadores no poder!” Exigência sem chão na realidade e totalmente marginal. Pois não era uma situação revolucionária: a economia crescia e vinha de um crescimento, ainda que fraco, e o emprego era pleno.

O desemprego baixo, mais precarização da vida, era a causa oculta da grande luta. Nenhum teórico percebeu isso. Mesmo naquela data, aos comunistas de classe média soava incompreensível tal jornada de massas. Qual a causa daquilo tudo? Sobre devo dizer algo inesperado: havia, sim, aspectos de cartase coletiva como certo “delírio” coletivo – por exemplo, ia-se ao protesto porque outros iam, como a retroalimentação positiva. A causa consciente expressava um inconsciente social, pois as condições eram melhores para lutar.

Por décadas de ultraesquerdismo, a esquerda radical foi confundida com os demais partidos da ordem. Assim, apanharam nas ruas. Eu mesmo tive que lutar em protesto em minha cidade. Os dirigentes, que engordaram com o tempo e com as circunstâncias, na verdade nada entendiam da nova realidade, do país.

Anos depois, o PT e o PCdoB caluniaram a luta e o povo dizendo que se tratou de “guerra híbrida” ou ação do imperialismo contra a esquerda. O cálculo oportunista do petismo é claro: lutou durante ou contra o governo, logo é algo, no mínimo, ruim. O PCdoB, em alguns Estados, proibiu a militância de ir aos protestos, o que lhe gerou crise; eles dirigem até hoje a UNE, que ficou, de propósito, paralisada.

Desde esses dias, o país se dividiu – finalmente e ainda bem. Estamos próximos, muito mais, daquele momento em que ou o país se resolve ou nada muda. A classe média passou a protestar e ser ativa, em geral, pela direita. As empregadas domésticas estavam muito rebeldes, os pobres invadiam os aeroportos.

O petismo diz que Junho de 2013 foi raiz de todos os males. É um erro: ele foi sinal e consequência de algo que ocorria e ocorre no subterrâneo, ou seja, a crise do capitalismo. A causa da queda do governo Dilma foi suas medidas de governo logo após a reeleição: estouro do câmbio, estouro da taxa de juros, aumento dos preços controlados pelo governo, corte de investimentos e serviços etc.

 

IMPOSTO SINDICAL

Mantega fez sua parte com sua tradição ao impor aos trabalhadores um imposto, um desconto nos salários de maio para financiar seus sindicatos. A burocracia sindical adorou, a extrema-esquerda colocou-se contra. Mas o melhor estava por vir. Ao irritar os trabalhadores com tal desconto salarial, estes passaram a exigir mais da instituição, a cobrar e prestar atenção nas eleições sindicais. Criou-se um laço forçado entre a base e os dirigentes sindicais. As greves anuais de rotina, campanhas salariais em central, tornaram-se mais obrigatórias para os oportunistas dos sindicatos. Junto com a onda de greves, uma onda de novos sindicatos surgiu. A burguesia viu o erro, então passou a preparar o fim do imposto anos depois, como fez, para quebrar tal dinâmica.

 

A IMPORTÂNCIA DO ÓDIO POLÍTICO

A união de esquerda pequeno burguesa com ofensiva de direita levou ao amor ao amor… Mas o ódio tem razão de existir: devemos odiar os ricos, os manipuladores, os corruptos. Luta de classes é razão e emoção. O ódio de classe importa. A classe média quer a conciliação quando não é a hora, ou possível, ou mesmo bom.

Pensa-se o ódio como algo apenas subjetivo e, assim, artificial. Ele é necessário. Porque há luta de classes, há luta subjetiva. A causa é crise econômica, que gera crise social, que gera crise política, que gera luta de classes. Que bom que estamos divididos de modo claro, não mais de modo oculto. Então, o ódio classista não veio do nada – ele só se revolve resolvendo a crise econômica, ou seja, o socialismo. É a crise econômica que está dividindo a sociedade: ou vencemos ou vencem eles, os grandes patrões.

 

REPRESSÃO

Em 2023, um protestos de massas surgiram na França por causa de repressão policial, no caso, contra um imigrante. Em 2011, como dissemos, uma repressão da polícia gerou protesto de massa em Teresina. Junho de 2013 também surge como reação á repressão policial. Há, entre outras questões, um instinto de justiça, em especial entre a juventude. Isso deu base para solidariedade. Por exemplo: tanto em 2011 quanto em 2013, vi taxistas e trabalhadores derem transporte aos jovens de graça rumo ao centro.

 

ALGUNS DADOS

Observemos os dados a partir de 2013. A quantidade de greves explodiu:

Fonte: (Dieese, 2020)

 

O número de horas paradas também – desde 2009:

 

 

Fonte: (Dieese, 2020)

 

Aqui, temos de retomar a dialética. A realidade total nunca é como certa máquina ou relógio ou computador com sua causalidade mecânica; o real é um sistema orgânico, um organismo, por isso a causa, o (quase) pleno emprego em nosso caso, apenas de modo atrasado tem efeito nas mobilizações dos trabalhadores; pela mesma lógica da materialidade, o processo de fim do emprego pleno atrasadamente passa a reduzir a onda de paralizações. Como razão, o baixo desemprego correspondeu ao aumento das lutas:

 

 

Fonte: (IBGE, 2020)

 

 

 

Fonte: (idem, 2021)

 

Veja-se que o governo petista adiou, não impediu, a forma destrutiva da crise por anos, com ações anticíclicas que fundamentaram um conflito distributivo de longa duração, que começa a ser revertido apenas com a entrada de vez do desemprego, com o processo de fim do pleno emprego:

 

 

Fonte: (IBGE, 2020)

 

 

Todos esses dados são impressionantes. Apesar dessa empiria, os intelectuais marxistas falaram em “onda conservadora”. Depois, fingiram que não criarame defenderam tal absurdo, saiu de moda. Muitos desses revolucionários da USP hoje apoiam o governo Lula.

 

NÍVEL CULTURAL

Nas famílias da classe trabalhadora, temos a primeira geração letrada, com diploma de curso superior. Porém, sem emprego. Mesmo uma faculdade mediana transforma o indivíduo, dá-lhe novos ângulos. Ou seja: a nova geração trabalhadora tem nível cultural superior, mas mais dificuldade de ter uma vida igual ou melhor em relação à dos seus pais. Antes, quem estudasse muito tinha certeza de empregar-se – não é mais o caso. De qualquer modo, mesmo com educação ainda péssima, as novas gerações são mais maduras para o socialismo, são culturalmente mais fortes. Isso pesa nas revoltas. Antes e depois de 2013, vários políticos da ordem creditavam as greves de policiais ao fato de os militares da baixa patente terem feito curso superior (em especial: história), o que os deixou rebeldes em demasia. Há verdade nosso, embora a educação não seja a causa real da mudança de um país.

 

SITUAÇÃO PRÉ-REVOLUCIONÁRIA?

Em seu congresso de 2014, o PSTU defendeu que situação era pré-reovlucionária, dado junho de 2013 e as novas greves. Fiz um documento para o congresso contrariando a caracterização, afirmando ser impressionista. Isso me rendeu certos desconfortos e perseguições partidárias. Ora, crescimento econômico pode ser igual às lutas ativas. De novo, baixo desemprego estimula muito lutas sociais. Basta ver o caso, hoje, 2022 e 2023, dos EUA, onda de greves, desemprego voluntário por melhor salário e… sinais de próxima crise. As grandes lutas são, então, nesses casos, sinais de crise, transições dentro de um situação não-revolucionária. Por acertos e erros políticos, poderia surgir, grosso modo, dois caminhos: ou um situação reacionária ou uma situação, agora sim, pré-revolucionária – após a transição. Isso exige o conceito “momento”, pois dentro de uma situação, por exemplo, não revolucionária pode haver momento de recuo, avanço de uma contrarreforma etc., ou avanço, grandes greves por baixo desemprego etc. No nosso caso, surgiu uma situação reacionária, e momento defensivo, entre 2016 e 2017. Veja-se que a causa da situação reacionária não é, não é em si ou não apenas o golpe de Estado contra o governo – pois a totalidade deve ser para caracterizar, fomos para defensiva, para derrotas etc.

 

A INTERNET

O trotskysmo operário argentino criticava o trotskysmo dos cafés, bares aonde os intelectuais de classe média se reuniam para falar – e apenas falar – de Marx e revolução. De modo mecânico, alguns dizem o mesmo das redes virtuais sociais. Mas isso está em parte errado. Hoje, temos fóruns e espaço para propaganda e agitação de massas no meio da internet. Se pude escrever um livro tórico qualitativo com mais mil páginas, apenas possível graças à nova forma de comunicação. Até o nível cultual geral das gerações não muito jovens tendeu a crescer (cursos e aulas no youtube etc.). Em junho 2013, quem criasse o evento no Facebook do próximo protesto passava a ser considerado líder natural do movimento. A esquerda não tomou iniciativa nesse sentido porque, de um lado, organizações devem ser mais lentas, de outro, porque não tem iniciativa nem entendia o novo mundo. O PCB fez de modo planejado um trabalho de propaganda na internet que rendeu bons frutos; por exemplo, patrocinou vários grupos de debates sobre temas de esquerda, que lhe deu destaque (e poder de censura caso alguém de outra organização se destacasse demais). Mas, no geral, a esquerda chegou muito atrasada. Hoje, esse campo é da direita; além de contar com o senso comum em seus vídeos e textos ou com financiamento mais fácil, a direita foi ativa na busca de seus meios. Depois, Bolsonaro renovou nas eleições usando, com ajuda dos EUA, de fake news disparados via grupos de internet, o que lhe deu larga vantagem. Bolhas, sabemos, se formaram com o algoritmo mostrando-nos apenas temas e pessoas de nosso agrado.

A internet, com suas próximas renovações, chegou para ficar. O papel da esquerda radical é produzir material de qualidade, claro e contínuo. Até terroristas nas montanhas fazem vídeos melhores do que os nossos. Também devemos dar mais inciativa e autonomia aos jovens sem esperar tudo do chefe ou dirigente. Nossos partidos não estimulam criatividade, reconheçamos.

 

A TENDÊNCIA A FECHAR O REGIME

O regime tende a fechar – mas por qual motivo? Porque a burguesia necessita derrotar o movimento operário e popular, impor uma derrota histórica; acabar com os serviços públicos, as greves, as ocupações e os diretos trabalhistas. A crise do capital obriga a isso se se quer manter altas taxas de lucro, se quer sobreviver à industrialização da China e, depois, da Índia. Sua tática burguesa está errada, mas é o que ela sabe fazer.

O regime começou a fechar com medida do governo Dilma: a lei antiterrotista. Uma legalidade genérica que pode e será usada contra os movimentos sociais. Depois, veio o golpe de Estado formalmente contra o governo do PT. Depois, as eleições mudaram: menor tempo de campanha, restrições contra partidos menores, incluso os de extrema-esquerda. Depois, Temer colocou militares no governo. Depois, Bolsonaro ampliou muito a presença de militares no executivo. São fatos separado que mostram, juntos, a tendência ao regime fechar. Parece casual e contingente que Bolsonaro tenha sido eleito com militares – mas o acaso e o não necessário expressam o necessário oculto.

No futuro próximo, o parlamento pode fechar de duas formas: democracia direta e de base socialista (ditadura do proletariado) ou ditadura fascista. A decadência econômica do mundo e do Brasil obrigam duas saídas, apenas um lado sendo saída real ao país.

Desde junho de 2013, o povo passou a votar com os pés – contra tal voto reage a burguesia.

 

QUEDA DO GOVERNO DILMA II

Dilma foi eleita verbalizando contra a precarização, contra altos juros, em defesa dos direitos etc. Ela adiou medidas impopulares no fim do primeiro mandato para conseguir se reeleger. Uma vez reeleita, jogou a bomba: aumentou os juros com muita força, atacou o orçamento etc. Veja bem; a culpa não é de todo do governo: o capitalismo é inevitavelmente crise, precisa da crise. Nenhum governo pode evitar, nem o chinês: após o PCC estimular a economia de modo artificial, o processo esgotou-se. O minério de ferro que o Brasil vendia para a china saiu da hiperinflação para um preço pífio, o petróleo bruto que o Brasil exportava caiu de 140 dólares o barril para 30 – 30! Isso pesou no câmbio, que estourou, pois parou de entrar dólares no país. A reação do governo seria aceitar a crise, do ponto de vista burguês, e suplicar por mais dólares, por capital especulativo, aumentando os juros, o preço pago pelos papéis de dívida do governo.

Em dois anos, 2015 e 2016, o governo Dilma criou uma terra arrasada. Diminuiu-se a concorrência por onda de quebras, o comércio recuou, o desemprego ressurgiu.

O governo perdeu todo apoio das classes não burguesas. Quando surgiu os primeiros rumores de queda do governo, logo após sua reeleição, surgiram notas dos sindicatos patronais em defesa da governabilidade. Nesse momento, quando toda a esquerda considerou histeria absurda falar em impedimento de Dilma, fiz uma nota afirmando que, por razões econômicas, o governo iria cair – o problema seria como. Mas eu mesmo não sentia o sabor ou o clima para isso, apesar de publicar a previsão. Pouco tempo depois, tudo mudou: o golpe ou queda estava em jogo.

A coisa tinha que ter algo legalista, pois a farsa deve parecer seu oposto. Com a ajuda oculta dos EUA, um acordo ilegal de promotores e o juiz Sérgio Moro procurava preparar o terreno para direita assumir o governo. Passou a perseguir os grandes políticos para forçá-los ao impedimento de Dilma, para o PMDB e, se possível, o PSDB assumirem o executivo. Prendeu-se Lula para evitar que ele assumisse a próxima gestão federal. Veja-se: o PT reina na corrupção, de fato, mas o jogo é entre oportunistas – quebrou-se a legalidade para forçar um arranjo de governo. Mesmo que exista, e existe, corrupção no petismo, não foi o centro real do problema, mas sua cortina de ferro.

Formalmente, o golpe foi contra Dilma, sem o PT querer resistir de fato, mas foi na verdade contra os trabalhadores. O PSTU diz que não foi golpe, portanto defendia o artificial e fora do lugar FORA TODOS. Ora, se golpe ou não, o certo seria forçar o regime, ou seja, pedir eleições gerais antecipadas e já. O fato é que Dilma, por perder apoio popular, tornou-se incapaz de implementar mais medidas contra a classe trabalhadora. Tal limite, que soou à burguesia como limite de classe, como partido popular, foi a causa oculta da queda, do golpe.

Os EUA, por seu lado, queria quebrar a construção civil brasileira, que havia se internacionalizado com a ajuda do BNDS, e ter chances de acessar nosso novo petróleo, do novo pré-sal. O jornalista William Waack, conhecido agente antes secreto dos EUA,  chegou a rir em seu jornal da pretensão do governo de ser grande produtora de energia.

Dilma sabe e sabia que a culpa de sua queda devia-se muito aos erros do governo, mas nunca os petistas fizeram a autocrítica. Eles sabiam que Temer e Eduardo Cunha eram oportunistas, a nata da bandidagem, até o talo, mas preferiu andar com eles. Temer empogou-se: seria presidente do país, aprofundando o programa da burguesia. Para garantir que ele fizesse tudo que a classe dominante queria, o judiciário decidiu que ele estaria proibido de se reeleger. O objetivo era fazer com que não tomasse medias populares para reeleição como fez Dilma. Sim: há um poder que planeja tais coisas. No jornal, porém, tudo aprece apenas como fato, apenas como juridicamente impedir de reeleger, mas a causa disso está oculta ao povo.

Em 2017, quando a situação de um giro, veio a greve geral contra a reforma da previdência e a reforma trabalhista. A primeira paralização teve alguma força. Em protesto nacional em Brasília, o PSTU, que estava internamente desmoralizado e em crise, após ruptura, tentou ganhar moral entre os seus forçando um ato de vanguarda irresponsável que avançou sobre prédios e locais públicos, enfrentando a polícia. Para nada. O ultraesquerdismo, que alegrou tanto os militantes, não era necessário naquele momento. O ato, melhor, sua forma foi revolucionária, mas a intenção era oportunista – ainda que a organização não o seja. O fato era que situação do país havia mudado, um giro negativo para nós surgiu.

Antes da queda de Dilma, golpes já ocorriam na América Latina: Paraguai, Honduras. Quem tivesse olhar internacionalista, logo perceberia a tendência a partir da crise de 2008. Após o golpe no Brasil, a porta do inferno foi aberta, como a tentativa na Bolívia ou na Venezuela. Eles têm um padrão comum: são golpes reacionários, não contrarrevolucionários, ou seja, querem derrubar o governo, não fechar, de todo, o regime. Além disso, tentam dar justificativas, como legais, ao golpismo. Por fim, são contra governos de esquerda burgueses. Um governo de esquerda, chamado frente popular, costuma ser a antessala de um golpe. Isso é uma lei relativa: governos de esquerda geram golpes, não porque são de esquerda, mas porque são incapazes de melhorar a vida da maioria dentro do capitalismo.

No caso de Dilma II, mesmo abandonando o apoio do governo, as classes trabalhadoras desconfiavam do processo de golpe como algo feito para os ricos, contra a maioria.

 

A LUTA DA BURGUESIA CONTRA O PLENO EMPREGO

Como dissemos, o pleno emprego foi a causa oculta de junho de 2013 – era sinal invertido de uma crise em gestação. Pleno emprego é, para a burguesia, crise. Ela precisava de uma quebradeira econômica para mais lucrar e mais dominar.

O desemprego baixo deixa o trabalhador mais ousado, mais desobediente – as greves multiplicam-se, os salários sobem, os gerentes ficam à flor da pele.

A burguesia identificou o pleno emprego como ação do Estado. O aparelho investiu, reduziu juros, estimulou a economia real e artificialmente. Por isso, para ela, era necessário aumentar os juros, cortar investimento etc. A coisa tomou forma séria e original: após quebradeira de Dilma, que seguiu a cartilha, Temer e, em 2023, Lula (!) garantiram um teto de gastos, ou seja, um impedimento de o Estado investir, gastar, ampliar serviços. A burguesia rebela-se contra seu próprio Estado, cerca-o e limita-o.

A onda semi-keynesiana, semiestatista, chegou ao fim por decreto. A causa de fundo e oculta das greves e lutas foi o emprego pleno – a causa da quebra das lutas, desde 2017, foi a volta do desemprego. Em 2017, passamos para uma situação reacionária. Não tanto pela queda do governo via golpe, mais porque vieram grandes derrotas e o nosso lado recuou, enquanto a direita e a classe média foram para a ofensiva.

No final de 2016, o empresário das lojas Riachuelo, disse: “O mito do Estado Robin Hood acabou!” Eis aqueles que têm a escravidão como herança. A empresa, os donos, já foi condenada na justiça por praticar escravidão, mesmo. Tal é instinto: a meta dos patrões é impor condições chinesas de exploração do trabalho.

 

CRISE DO PSTU

O momento de crescimento mais lutas, até 2013, gerou esquerdização da vanguarda. O PSTU crescia muito, o PSOL ia-se de crise em crise, grupos entravam naquele primeiro, o PCB estagnava. Mas cresceu na classe média, estagnado na classe operária. Isso gerou uma diferença que caiu na diversidade, na oposição e na contradição. Após 2 décadas de recuo e quase estabilidade, o partido acumulou vícios, muitos. Então, após 2013, a luta de classe levou à luta partidária: no geral, duas frações de classe média surgiram na organização. Isso expressava a realidade fraturada. Dentro de várias ações imorais dos dois lados, decidiram por elevar o debate e esquecer a sujeita prática. A crise econômica social em gestação afetou o partido, o que seria inevitável dada a composição social: questões quase pessoais eram expressões ocultas de problemas da realidade total.

A organização quebrou-se em duas, surgiu o MAS, depois renomeada Resistência, dentro do PSOL. Seu perfil centrista, hoje apoia o governo Lula, deriva de sua composição social: muitos intelectuais, professores, operários aristocráticos (petroleiros) e estudantes de alta classe média. Foram incapazes de fundar uma reorganização revolucionária hoje necessária.

O PSTU é, hoje, um partido sindical. Seu trabalho nos sindicatos, além de gerar burocratização relativa dos dirigentes, gera empregados do partido no aparelho: advogados, jornalistas, vigias etc. Há uma crise estrutural do partido, que de algum modo se resolverá. Apresenta-se como centrismo ultraesquerdista. Sua crítica foi feita por mim em outro momento.

O PSOL cresceu após 2016 por dois motivos combinados: crise mais redução das lutas. O recuo das lutas leva a ter esperanças no voto, não nas ruas. Têm-se esperanças mais reformistas. O PCB também cresceu, muito; em parte, por causa de acertos táticos e boa propaganda. O PSTU, mais consequente do que os dois citados, estagnou; no fundo, como no PCB, parte dos dirigentes não quer o crescimento da organização, pois isso lhes tiraria o poder partidário.

 

OS TRÊS PODERES

Nos últimos anos, Ciro afirma que, se eleito presidente, cada poder voltará para sua caixinha. Mas ele deixa de explicar o motivo deles estarem instáveis e suas funções. É, grosso dito, a crise do regime como efeito da crise econômica. O mais destacado: cada vez mais, o judiciário legisla e age como executivo. Foi por isso, então, que até a justiça começou a se desmoralizar perante as massas: de um órgão na aparência neutro e acima da política, para algo político e, no mínimo, cheio de problemas. Um caso curioso, vejamos. O PT decidiu não lutar na rua contra o golpe, escolher a cair fazendo teatro de resistência, mas às vezes passa do ponto de acordo. No senado, Gleisi Hoffmann (PT) levantou a voz contra o golpismo; então, o tradicional homem da ordem burguesa, Renan Calheiros, pretextou ao microfone da tribuna em seguia, dizendo que a senadora havia prometido ao supremo não ser contra o impedimento (golpe), contato ela e seu marido não fossem “vítimas” da justiça por motivos de um caso de corrupção… Está gravado para a eternidade. O rosto dela constrangida é impagável, aliás. Renan exigiu dela a palavra e a lealdade prometidas!

 

PERSONALIDADES

A história também é feita por indivíduos e seus perfis, portanto destaquemos alguns.

Dilma. Incapaz de fazer um discurso inteiro coerente, tratava-se de uma mulher honestíssima, mas incapaz para a política. Seu papel no PT era de quadro interno, nenhuma dose de trabalho público. Por improviso, com os principais quadros do PT presos, ela foi escolhida como a figura dos oprimidos, do operário para a mulher.

Eduardo Cunha. Do ponto de vista clínico, o presidente da câmara dos deputados, na data do golpe, nada mais é que um psicopata, mesmo. Lula deu a ele a Caixa econômica para roubar… Líder do chamado baixo clero, tornou-se habilidoso em burlar estatutos e roubar. A partir de certo ponto, fez do jogo e do holofote seu centro. Certo momento, disse que não encaminharia o processo de impedimento porque isso o derrubaria no outro dia… Mas, por não ter emoção, psicopatas erram: o dia da votação na câmara, ao vivo para todo o país, demonstrou os que votavam o “sim” como palhaços ou caricaturas, enquanto do voto “não” como gente séria. Foi um show de horrores.

Temer. Homem  de aura sombria, como indica seu próprio nome, tinha seu discursos para assumir a presidência “vazados”. O PT sabia de sua índole, e exato por isso o escolheu na tentativa de controlar o PMDB.

Aécio Neves. Tão logo perdeu a eleição, pediu vistas para rever os votos. Traficante – disse Jucá: todo mundo sabe do esquema do Aécio! –, tentou de tudo para dar o golpe e, via PMDB, colocar o PSDB no poder. Em certo momento, vaza na Globo ele pedindo para seu primo assumir um cargo, pois, qualquer coisa, bastava matá-los… Aécio não iria sequer ao segundo turno, não fosse a queda misteriosa, durante o primeiro turno, do avião de Eduardo Campos, única capaz de tirar Dilma do poder.

Jucá. O suprassumo do oportunismo, sua função foi preservar em modo de máfia o regime. Ele tomou a iniciativa de fazer um grande acordo – até com o supremo – para garantir a queda de Dilma – estancar a sangria – e preservar os políticos oficiais.  Jucá foi parte de um projeto milionário para comprar deputados e senadores, que deveriam dizer “Em nome de Deus e da minha família!” durante seus votos. O lado petista também tentou comprar. Corioso que Tiririca, um palhação por profissão, negou-se, de início, e com violência em ser comprado. Logo um palhação agiu de modo sério… Mas, após pressões, cedeu.

Sérgio Moro. Juiz de baixa estatura intelectual e moral, péssimo orador, mal podia disfarçar que sua função era garantir o golpe contra Dilma e servir indiretamente ao imperialismo, além de ao PSDB. A mídia televisiva, perdendo espaço para a internet, viu no espetáculo jurídico uma forma extra de lucrar mais; assim, o vilão foi visto como herói. Aproveitou erros e desvios da lei para promover uma completa deformação jurídica. No mais, como já demonstrado, todo o processo era uma farsa, pois ele trabalhava, o que é ilegal, junto com os promotores. Depois, participou do governo Bolsonaro, algo inaceitável em qualquer país visto que ele ajudou aquele a se eleger. Quando a ele foi negado a vaga no STF, rompeu com o governo e ensaiou uma candidatura própria à presidência; mas preferiu garantir um cargo via Senado. Há que destacar: após demitido do governo, contratado pela empresa que lucrou com a perseguição contra as – de fato, corruptas – empreiteiras brasileiras. Um absurdo após outro, que acontece no Brasil sem pudor por se perfil enlouquecido.

 

SOBRE AVIÕES

De modo misterioso, o avião de Eduardo Campos (PSB) cai em plena eleição, quando ele ia para seu auge eleitoral. É verdade que, com a comoção gerada, a vice, Marina Silva, poderia ganhar o pleito, mas ao discursar para os ricos em busca de apoio na classe dominante (defendendo autonomia do banco central etc.), perdeu apoio popular. Depois, no dia em que levaria à frente a investigação dos principais nomes corruptos do poder oficial, o avião de  Teori Zavascki cai – também. Meses antes, seu filho já falava, de modo nebuloso, sobre ameaças à família e ao pai.

Vale um caso apenas curioso, sem quedas de aeronaves. Assim que um parlamentar do Maranhão assumiu a câmara dos deputados, ele tentou ser herói e usou o regimento da Câmara para recuar do processo de impedimento de Dilma. Esse homem foi tão ameaçado que recuou de modo vergonhoso; depois, uma série de processos, por corrupção etc., foram abertos contra ele, mesmo após o recuo. Ele foi, assim, desmoralizado. Deveria servir de exemplo para disciplinar os demais. O roteiro estava pronto e deveria ser seguido…

 

SOBRE JUROS

Uma das raivas da burguesia contra Dilma foi que manteve a taxa de juros baixa de modo artificial para se reeleger – mas, com Levi, uma vez reeleita, disparou a mesma taxa. Porém, após a quebradeira de 2015 e 2016, de 2017 em diante a economia apenas patinou. Começou, após inflação, uma deflação ou inflação perigosamente baixa. Não podendo aumentar os gasto públicos, desde Temer tentou-se liberar todo tipo de benefício retido nos bancos. Mas não foi suficiente: os juros chegaram a 2% - 2%! – sob um governo de extrema direita! Algo inédito. Isso refuta o discurso fácil e o “falso socialismo” (Marx) de que há apenas máfia dos bancos manipulando juros altos etc. na medida do possível, a burguesia leva a sério a gestão de seu sistema. Para eles, o universo inteiro é simples: inflação, logo sobem juros – deflação ou baixa inflação, logo descem juros. São incapazes de raciocínio mais sofisticado.

O ponto alto da reação burguesa no tema foi a independência do Banco Central aprovada, mas de maneira ilegal por ser em votação virtual durante a pandemia. De qualquer modo, o presidente ou o Senado podem solicitar sua demissão, do presidente de tal banco. A graça toda é que, em 2023, Lula finge que não pode demitir o diretor para melhor por culpa nos juros altos juros nos lugar de nos limites de seu governo. A intenção da burguesia não era exatamente oferecer o Banco Central aos banqueiros, que de fato formam grande máfia no Brasil, mas blindar a política econômica de fatores como a vontade do governo de se reeleger, tal como fez Dilma. Por exemplo: a taxa de juros cresceu e permaneceu alta durante a tentativa de reeleição de Bolsonaro.

Complementemos o roteiro. Após evitar a perigosa deflação, o Banco central cometeu o erro de manter os juros muito baixos por muito tempo, erro de cálculo. Isso afastou dólares, capital especulativo; os títulos da dívida, ao pagarem menos, tornaram-se menos atrativos ao “investidor” internacional. Assim, o câmbio estourou, até 6 reais 1 dólar – e todos os importados ficaram caros, incluso os insumos da indústria. Assim, os combustíveis nacionais, mas lastrados em dólar, na PPI, explodiram de preço, o que afetou os demais preços e a economia em conjunto. (A PPI foi feita para o investidor estrangeiro na Petrobrás lucrar o mesmo, independente da variação de câmbio – mesmo que isso prejudicasse a maioria, os trabalhadores e da classe média.) No mais, com dólar nas alturas, os nosso produtos primários, como o agronegócio, venderam como nunca, muito – começou a faltar alimentos no mercado interno, agora exportados, logo aumento dos preços. Isso começou a ser resolvido com o disparo da taxa de juros do Banco Central, para acima, enfim, de 13%, algo anormal em qualquer país, mas comum no nosso desde a década de 1990, que manipula o câmbio via juros para combater a inflação. Isso, em 2013, começou a gerar queda do câmbio, por isso queda dos preços importados, por isso queda dos combustíveis – por isso, meses de deflação! Ademais, a inflação dos alimentos, estimulou o crescimento da oferta com algum inevitável atraso, típico do setor, como a espera da próxima colheita. Nessa montanha russa de queda e ascenção dos juros, o Estado adia sua crise final como pode.

Podemos obter uma conclusão, demonstrada a seguir pelos números: desde o primeiro estouro absurdo dos juros no início da década de 1990, observamos a tendência 1) os juros da dívida pública tendem, cada vez mais, a ficarem menores; 2) o auge de juros seguinte apenas com dificuldade chega, se chega, ao auge anterior; 3) o mínimo posterior tende a ser menor que o mínimo de taxa de juros anterior.

 

1994      68,91

1995      53,38

1996      27,46

1997      25,02

1998      28,99

1999      25,85

2000      17,44

2001      17,34

2002      19,19

2003      25,50

2004      16,50

2005      18,25

2006      18,00

2007      13,00

2008      11,25

2009      11,25

2010      8,75

2011      11,25

2012      10,50

2013      7,25

2014      11,00

2015      12,75

2016      14,25

2017      13,75

2018      7,00

2019      6,50

2020      4,25

(Fonte: http://www.ipeadata.gov.br )

 

Nos seus ziguezagues, a taxa de juros tende a zero, real e nominal. Ou seja: a ferramenta de adiar e arrastar a crise sistêmica via manipulação dos juros, ou seja, do câmbio, ou seja, também do orçamento estatal, tende a esgotar-se de maneira relativa, como um dos meios – ainda que o Banco Central não tenha consciência histórica de seus atos.

De maneira grosseira e aproximativa, as causas são as seguintes: 1) em tendência, a taxa de juros cai cada vez mais, quando há queda, porque é cada vez mais difícil estimular a economia, que está no seu limite sob bases capitalistas num país não imperialista; 2) em tendência, sobe cada vez menos, quando sobe, porque a taxa de juros mundial, lastrada na taxa de lucro em queda secular, tende a subir menos no mundo rico, logo, menos concorrência entre moedas. De modo direto, um marca a crise sistêmica interna; outro, a crise sistêmica mundial.

 

O ERRO DOS REVOLUCIONÁRIOS APÓS O GOLPE

Já dissemos que o certo seria chamar por eleições gerais diante do golpe. Mas nenhuma corrente relevante, à época, lançou o chamado. Com a crise, surgiu desemprego crônico, mais gente desempregada, se incluirmos os informais, relativos aos com carteira assinada. Qual foi, então, a política da esquerda radical contra tal nova situação? Nenhuma, nenhuma. O PSTU, por exemplo, está povoado de servidores públicos estáveis, classe média e sindicalistas que pensam apenas nos contratados, na luta sindical direta. Por isso, incapaz de ver a tempo a política correta, qual seja, chamar pela escala móvel de tempo de trabalho, ou redução da jornada para 30 horas semanais sem redução dos salários – desemprego zero! Tal política exigiria, primeiro, grande agitação nas bases, depois, uma frente única por tal pauta, depois, um encontro nacional para amplificar a luta. Mas nada foi feito. Se fizéssemos, poderíamos gerar uma situação pré-revolucionária e reverter o momento geral.

Outro problema foi que o PT incentivou o consumo popular via dívida. Quando a crise veio, trazendo consigo o desemprego, ficamos inadimplentes, ou seja, endividados – mais de 70% das famílias. De novo: qual a política da esquerda radical para um problema tão gritante? Nenhuma… O certo seria chamar a anulação total e irrestrita da dívida dos trabalhadores e pequenos empresários.

Veja-se que um jovem marxista do Piauí está fazendo um balanço de política que quadros de comitê central partidário foram incapazes de fazer… Isso é um absurdo, uma distorção, mas explicação há.

Mal Bolsonaro foi eleito, ou seja, com máximo apoio, PSTU e outros chamaram o “fora”. Algo irresponsável. Apenas chamamos o fora governo se ele deixa de ter apoio popular. No mais, nem sempre chamamos, mesmo nessas condições: havia o risco de o vice militar assumir! Logo, o certo seria desgastar o governo ao máximo – e chamar o fora, se chamar, apenas no caso do governo perder largo apoio.

Outro erro, algumas organizações foram contra formar frentes de esquerda diante da situação reacionária e o crescimento da extrema-direita. Tal unidade não seria a solução para todas as questões, mas seria um começo e uma importante ajuda.

 

A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA

O militante reformista diz odiar a classe média, mas apenas porque ela não vota nos oportunistas de esquerda. No mais, inevitável que sua ala mais aristocrática esteja com a burguesia, embora tenha inveja dela, e com a direita.

A classe média tomou para si os métodos de luta dos trabalhadores, exceção das greves. O governo PT tinha que agradar a burguesia e pacificar os trabalhadores – logo, a classe média saia perdendo, pois alguém deveria sair prejudicado. O programa “Mais Médicos”, por exemplo, era uma reforma positiva do governo Dilma como resposta à Junho de 2013, mas prejudicava a classe média aristocrática dos médicos, que tinha de lidar com concorrentes, pressão para baixar seus grandes salários. O petismo garantiu pleno emprego e formalização da carteira de trabalho para empregadas domésticas, o que estressava as dondocas de apartamento. Os gerentes sentiam raiva da ousadia dos trabalhadores. Não bastasse, no auge da crise, o estouro do câmbio, impedia viagens para Disney e encareceu os desejados produtos importados… Despois, o preço da gasolina cresceu, e toda classe média ama usar seus bons carros.

Com cinismo, a alta casse média foi para as ruas. Diziam defender o país contra a corrupção; mas, no fundo, todos sabiam que estavam por lá contra os pobres, os trabalhadores, as empregadas domésticas. Quando digo cinismo não é modo de dizer. Como seria negativo para todos falar das pautas reais, fingiram que as pautas eram morais. Para eles, petismo era sinônimo de dar vantagens aos pobres e trabalhadores contra a classe média. Não era, de todo, um engano, havia base empírica. Assim, a classe média foi para a direita e aproximou-se ainda mais da burguesia – então, do fascismo.

Protestos e orações na porta de quartéis, pedidos de golpe militar, debate contra educação do povo (contra Paulo Freire), teorias da conspiração, contra as leis trabalhistas, seguir um falso filósofo irracionalista-conspiracionista do tipo de Olavo de Carvalho (para ele: a Terra é plana e outras tantas coisas absurdas mais). Marçons diziam: “Às masmorras os comunistas!” Torturadores passaram a ser homenageados…

Vale um destaque: todos, incluso a direita, falam de comunismo todos os dias – menos os comunistas! Um panfleto popular sobre como será a próxima sociedade seria algo de sucesso dado o tema. Por todo canto, há acusação de comunismo, sobre o qual não se sabe muito bem.

Voltando á classe média. O pequeno e médio comerciante odeia os diretos trabalhistas, mas também odeia a bandidagem (que invade seu local de renda). E a esquerda nada tem de programa para resolver a violência urbana extrema do Brasil. Assim a extrema direita e o fascismo ganharam apoio entre eles com demagogia e com proposta de armamento da população. Isso merece destaque: toda pauta democrática, como feministas etc., não são em si nem de direita ou de esquerda. Logo, o armamento popular, com preços baratos, faz parte do projeto de segurança da extrema-esquerda, ou deveria.

 

REELEIÇÃO DE LULA E 8 DE JANEIRO

Bolsonaro, após perder a eleição, foi chamado a organizar o golpe. Mas ele temeu, covarde que é, e viajou para os EUA no último momento. Então, problemas de organização surgiram, o ato que daria pretexto ao golpe começou atrasado, depois da hora, depois de o governo assumir, 8 de janeiro. A minuta “jurídica” do golpe já estava escrita e impressa.

Os generais e alta patente são, hoje, parasitas vagabundos; para eles, governar dará muito trabalho… Mais ou menos, deixaram a chance passar. Mas, onde teve apoio, o protesto golpista não foi reprimido.

O governo sabia via inteligência que o ato ocorreria, e deixou ocorrer. Se reprimisse, perderia moral; se não reprimisse, sairia como vítima.

Com a derrota eleitoral, com o escândalo da morte de indígenas etc. a direita foi para a defensiva. Mas tentou reverter a situação, em vão. Agora, enquanto escrevo, os parlamentares de direita tentam de novo reverter a situação: avançam, fazem CPI do MST, aprovam leis absurdas, perseguem as parlamentares mulheres de esquerda, chantageiam o governo etc. Ainda possuem chão.

O governo dos EUA foi contra o golpe por três razões: 1) fortaleceria a oposição nos EUA, Trump; 2) as condições para um golpe ainda não estavam mudarias, o que incluiria uma desmoralização geral do regime democrático; 3) ditaduras têm chances maiores de, durante a luta interimperialista EUA-China, ganhar autonomia, mediar dos dois lados e afastar-se.

 

HADDAD

O ex-prefeito de São Paulo, ainda no governo municipal foi incapaz de se reeleger, sequer de ir a um segundo turno! Ainda assim, Lula forçou que o professor da USP fosse seu candidato em 2018 e seu futuro herdeiro político. No principal ministério do novo governo, Haddad trata de provar à burguesia que é o melhor nome para o futuro no Estado burguês, após a era lulista. Assim, vai ganhando rejeição e desconfiança. Como Lula não quer mais tratar dos detalhes de rotina governista, o paulista cuida disso. Haddad tem sido centro de gravidade das, segundo ele mesmo, medidas impopulares. Ele tem a ânsia de ser o preferido dos empresários. Graças ao seu esforço, o novo teto de gastos, por exemplo, foi aprovado. Não é exagero caracterizá-lo como idiota oportunista. Se o PT mandar dizer A, ele diz A; se mandar, ao contrário, dizer B, diz B. Quando mais uma vez foi candidato, contra seus fracassos, em 2022, fez questão de atacar o PSOL como principal inimigo… O PSOL, que na figura de Boulos queria se dobrar ao petismo o quanto antes, recuou e decidiu apoiar o rapaz… Haddad quer ser o novo amigos dos banqueiros. Tem algo a seu favor: os paulistas querem monopolizar, desde a força de sua indústria, a política nacional. FHC quebrou Minas Gerais e Rio Grande do Sul contra suas rebeldias históricas antipaulistas do passado. Haddad, um liberal de esquerda, quer para si o legado sombrio. É o Fernando Henrique do PT.

 

BOLSONARO E BOLSONARISMO

Em meus textos, via a possibilidade de o bolsonarismo ganhar força de massas. Mas, mais uma vez, não sentia o sabor de minhas próprias palavras. A figura era risível, expressava-se mal, passava vergonha nos debates – seu interesse por candidatar-se teve algo de delirante. Mas ele estava baseado num chão que pendia, também, para a radicalização à direita.

Como se sabe, de um candidato medíocre e sem chances, ele ganha total força após um atentado contra sua vida em um encontro de rua com apoiadores. O sentimento de solidariedade pendeu para o messianismo (por curioso, seu nome tem Messias).

Duas coisas devem ser ditas, ainda não vistas por mim em nenhuma análise. Primeiro: com a prisão de Lula e toda a confusão política de nosso tempo, como o impedimento (golpe), o povo deixou de acreditar na via política normal, no dito popular, “virou bagunça” – muitos dos que votaram em Bolsonaro votariam em Lula. Segundo: com junho de 2013, gente oportunista, de moral destrutiva (até consigo) e sem responsabilidade, de repente, teve de tomar partido, escolher, ter opinião; assim, procuram o mais ridículo, absurdo e caótico possível para se representarem.

Se a facada foi falsa, uma armação, uma peça de propaganda – apenas o futuro poderá ter chance de desmascaras, se o caso for. Nós temos que aceitar os fatos até aonde eles nos informam: o atentado, para todos os fins, foi real. Mas o que mais importa, mesmo se sim ou se não, são suas consequências políticas.

Fato é que Bolsonaro tem relação com máfias milicianas. Fato é que, de algum modo, ele tem relação com o assassinato de Mariele, a vereadora do PSOL. Ninguém pode dizer isso de modo direto e clero, sob risco de processo. Todos sabem, mas todos falam baixo quando falam sobre. Mais uma vez, não podemos avançar aqui sem mais provas, sob risco de cair em conspiracionismo.

Bolsonaro, como um lupem oportunista, queria fazer da presidência suas férias especiais. Trabalhar não é com ele: passeava, portanto, quanto podia. Mas caiu a bomba da pandemia nas suas costas. O que, então, ele fez? Manteve as férias permanentes, disse que não era coveiro. Assim, fomos o país com maior número de mortes.

Se o PT e Haddad fossem responsáveis, teriam feito unidade eleitoral com Ciro, elegendo-o. Mas o PT sempre, de um modo ou outro, prepara o caminho do fascismo, ajeita a cama para eles. Preferiram a derrota, que sabiam ser certa numa tática de chapa própria. Eles erraram de propósito, aceleraram negativamente a história. A ideia era deixar a terra arrasada para depois voltarem ao governo, talvez com Lula solto. Veja-se: Lula não chamou para os atos pelo Fora Bolsonaro e não assinou nenhum dos pedidos de Impedimento do então presidente. Ele queria Bolsonaro como seu adversário, queria arriscar o pescoço da esquerda e do país em nome de maior facilidade para se eleger.

Por pouco, muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu. Se ele tivesse tomado mais medidas populares, o risco seria ainda mais alto. Reduziu muito, via corte de impostos necessários, o preço dos combustíveis; garantiu uma bolsa de 600 reais; fez concessões etc. Mas ainda não foi o suficiente. Ele se apresentava como “candidato contra o sistema”.  No fundo, ele era uma expressão deformada e inversa da raiva sistêmica da maioria em forma de instinto.

 

CONSPIRAÇÃO E CONSPIRACIONISMO

Sobre esse assunto, há dois caminhos errados e o correto caminho do meio. De um lado, afirmam conspirações em todo canto, como se história se movesse de modo organizado por manipulação de alguns poucos indivíduos. De outro, há um realismo inocente que deixa de entender que ah história, também inclui algo nível de conspiracionismo. Por que os dois aviões caíram? Tendo a por a culpa na ABIN, serviço secreto nacional, mas não tenho prova alguma para supor algo do tipo, logo, não devo defender hipóteses. Mas, que há movimentações de bastidores, há – claro, influenciam sem controlar o destino da nação. Do ponto de vista matemático, impossível esconder uma conspiração. Mas o fato de ela ser descoberta não se deduz de modo mecânico que ela será evitada, desmascarada etc.

 

POR UMA CONCLUSÃO

Insatisfeita com a situação desde 2013, as classes médias deram base para uma nova extrema-direita com seus protestos. Militares e grupos de luta marcial alinharam-se, grosso modo, ao neofascismo, um pré-grupo de combate. Inúmeros e nacionais grupos fascistas discretos ou secretos existem hoje, esperando o melhor momento para expor-se com clareza. É a luta de classes quando há crise semiconstante do capital, ao tempo de decadência do sistema. Os revolucionários devem conquistar a classe trabalhadora jovem e, então, por sua força, conquistar parte da classe média. Por exemplo, nós teríamos maior simpatia se liderássemos uma campanha por redução drástica do preço dos combustíveis quando eles atingiram um exagerado auge. De novo, nada fizemos.

Temos risco de fascismo, sim, mas porque temos risco de socialismo. O fascismo é uma reação ao movimento operário e seu projeto estratégico. É uma reação desesperada da pequena burguesia á crise final o capital, embora não saiba. Um ditadura bonapartista, militar, deve decair em fascismo neopetencostal para manter-se minimamente estável num país de capitalismo decadente, dominado pelo imperialismo e urbano.

A esquerda radical apenas finge que abriu os olhos. Temo que apenas uma ditadura faça a renovação necessária dos quadros e dos perfis dos partidos vermelhos. Não poucas vezes, como na crise do PCB em 2023, parece que precisamos de uma organização nova e limpa, sem os entraves das velhas. Mas espero estar errado, muito errado. De qualquer modo, acostumados e viciados em voos rasos, nossos dirigente estão aquém da tarefa, incapazes de governar. E a questão toda é governar.

Junho de 2013 já dura 10 anos. Aquele mês de lutas não acabou, portanto. Somente anos a fio de crescimento econômico poderiam diminuir as tensões, ou seja, adiar o inevitável conflito; um crescimento da economia algo, hoje, improvável.

A crise da democracia burguesa no Brasil é apenas a manifestação da crise geral do capitalismo. Para evitar a revolução e a guerra civil, os militares passaram o poder para os partidos da ordem, a redemocratização na década de 1980. Diante de greves e rebeliões, a burguesia concedeu o SUS, a educação pública universal, alguns novos direitos como participação nos lucros e resultados etc. Teve de ceder. A democracia, para os ricos, custa caro. A questão para eles é esta: como amortecer a luta de classes? Ceder ou impor uma nova ditadura? Com a queda da taxa de lucro, com a industrialização da China, com a crise mundial sistêmica, com a altíssima urbanização – ceder já não podem e, por isso, não querem. A democracia representativa desmoraliza-se porque se tornou incapaz de melhorar a vida da maioria. Aproxima-se o colapso. A culpa, claro, não é em si do regime, pois o capitalismo brasileiro e mundial encontrou uma parede impossível de ser superada por meios comuns. Por outro lado, apenas outro regime, a democracia socialista, poderemos fazer o país do futuro no presente. Como deve ser.

Ser oposição de esquerda ao governo Lula é a única alternativa moral e política consistente. Se a crise mundial próxima for muito forte, desmoralizará o lulismo. Se o povo tiver apenas a direita, ou pior, a extrema-direita como alternativa, teremos a mais dura derrota sob a democracia.

Lulismo e petismo são juntos, mas diferentes; o petismo decaiu mais do que lulismo, que ainda tem certa moral, embora tenha perdido na eleição nos estados centrais. O lulopetismo é um dos alicerces do regime democrático burguês, mesmo. As novas gerações já cresceram e crescem tendo o governo petista como parte da ordem e do poder. São, então, menos iludidos, ainda que o apoiem. No meio militante, diz-se: filho de petista, PSTU é (caso, por exemplo, do autor). Assim, aceleramos a experiência com o reformismo coma ajuda da renovação geracional.

As tarefas burguesas do Brasil foram cumpridas: industrialização, urbanização e moderna propriedade rural. Podemos acrescentar, por exemplo, que temos muito mais especialistas e, ademais, capacidade de formar novos. Por enquanto, temos engenheiros formados a trabalhar como taxista da Uber…

Mesmo crescimentos fracos depois de 2015 e 2016 foram incapazes de tirar da sociedade a tensão tênue presente em cada casa e local de trabalho. Tudo é econômico. Enquanto não resolvermos tal nó, nada resolve – para isso existe o assim chamado Programa de Transição, a política econômica dos trabalhadores, hoje esquecido ou mal usado.

A extrema esquerda tem ido de erro em erro e deve agradecer por ainda resistir à crise interna das correres e à tendência de isolamento. Não é exagero dizer que erram muito e em quase todas as questões importantes. Mas não precisava ser assim, dadas as décadas de militância dos principais quadros. A pergunta de um milhão é esta: por que erram? Ou melhor: por que necessitam errar?

Não há mais saída para o capitalismo brasileiro. Dito isso, a tarefa, agora, trata-se de preparar as condições para dirigir uma revolução ou impedir uma contrarrevolução. Se os militares tivessem dado um golpe em 2023, seria como 1964, ou seja, sem resistência real. Tal é nossa situação. Os dirigentes de esquerda iriam se exilar no exterior enquanto os militantes de base iriam para tortura. No fundo, os velhos quadros perderam a esperança com a revolução, tornaram-se cínicos. Eles evitam ao máximo confessar isso, mas esta é a verdade: eles envelheceram e, ainda, não viram o grande momento. Desde a queda do muro de Berlim, o cinismo e o teatralismo tomou conta: falamos de revolução e socialismo, mas isso é apenas modo de dizer, algo que, no fundo, não se leva de fato tão a sério. E a democracia, então, adestrou tais quadros. Há uma crise dos nossos partidos vermelhos, devemos reconhecê-la.

A conclusão deste ensaio quer ir junta da conclusão da história, de Junho de 2023. A realidade tensa e dinâmica pressiona por renovação, por elevação. O dia, além do tempo, das nossas vidas está mais perto do que longe, pertíssimo. Se nos prepararmos, ganharemos. Nunca podemos fazer do futuro uma roleta russa.

Sim, o Brasil tende a uma revolução. Sim, tende à guerra civil. Sim, tende à crise crônica. Sim, há ameaça de fascismo. A vida é dura, mas bela. Não diga, depois, que não avisamos. Apenas o socialismo pode erguer a civilização brasileira. É o momento mais decisivo de nossa história – haverá um antes e um depois. Os socialistas que consideram isso exagero, perderam a fibra vital do coração e do pensamento. A verdade grita, está aí. Devemos aparecer ao país como os mais ousados e, ao mesmo tempo, os mais responsáveis e sérios. A radicalização da realidade exige contrapor uma outra radicalização, nada de bom-mocismos. Em todo o mundo e no Brasil, a extrema-direita tem roubado nosso papel de ser antissistema, anti-Estado, de denúncia da falsa democracia etc. Tenhamos vergonha e levantemos a bandeira correta e de modo correto. Já sabemos perder – chegou a hora de aprendermos a vencer.

 

 

 

HIPÓTESES SOBRE O PIAUÍ

 

Na história oficial: pesquisar sobre um manicômio no Rio de Janeiro é história nacional – no Piauí, história regional… Ao menos para fins de alargamento de análise, vale ao leitor ver o caso do mágico Reino distante do Piauí.

 

1. Boi, vaqueiro e escravidão

Para evitar que os ricos plantios, cana etc., fossem comidos pelo gado – criou-se tais seres à distância. O Piauí foi uma potência bovina. Mas num tempo de escravos… Ora, o boi era criado solto, criação extensiva – a liberdade da coisa, da mercadoria, levou à maior liberdade do trabalhador; menos escravos e mais vaqueiros. Mas é uma lenda afirma que no Piauí não houve escravidão.

Porém, o Piauí nada tinha a oferecer ao mercado mundial, logo, perde boa parte do laço com ele. Assim, o comércio capitalista estimulava a escravidão, muito menos no Piauí. Temos dois fatores, baixo comércio intercontinental e liberdade bovina, contra a escravidão. O outro era o baixo mercado interno na província. Ora, era um lugar de passagem, de movimento, logo, um lugar mais transitório, contra as correntes.

 

2. A pobreza na história

O Piauí tem pobreza na sua história no capitalismo, porque é distante de si e do mundo, como diz João Cláudio Moreno. Há menos para historiadores.

 

3. Positivismo prático

Com economia fraca, o Estado tornou-se relativamente forte e superior. Um positivismo prático leva ao positivismo na historiografia.

 

4. Efeitos social, geográfico e biológico

A pobreza da terra estimulou a pobreza da economia – tão simples quanto isso.  A população baixa e o abismo de classe; levaram à reprodução entre parentes, o que talvez deva ser levada em conta. Talvez, até ao alto índice de suicídio deva ser considerado com fatores extressantes como o calor.

 

 

 

5. Entre dois gigantes

O Piauí é esmagado entre dois irmãos, Ceará e Maranhão. A indústria prefere ambos ao primo pobre. Pernambuco e Bahia, de certa foam, devem ser considerados já que fronteiriços.

 

6. Teresina - cosmopolitismo regional

É uma “cidade artificial” que se torna cada vez menos isso, apesar do pesares. Ela é casa de migrantes. Assim, mistura culturas e sotaques.

 

7. A Diáspora homossexual

De maneira invisível, o homossexual vai para sul e sudeste do país sempre que pode, sempre que não há outro jeito. Algo a ser levado a sério pela teoria.

 

8. 2011 – aviso ao país

Os protestos de 2013, marcos no país, tiveram um aviso – junho de 2011 em Teresina. As causas imediatas e externas de ambos são os mesmos: aumento da passagem de ônibus mais repressão policial.

 

9. Ânsia modernizadora do povo – contradição e comunicação moderna

O piauiense é fetichista sobre sul e sudeste. Por querer ser como fantasiam eles, coloca para si um alto nível, alta meta, alto padrão. Por resultado, vez ou outra surpreende as demais regiões, como a qualidade dos alunos e a educação acima da média. Mal se sabe da mediocridade dos professores da USP…

 

10. A força do petismo

Os votos do PT em 2022 foram enormes no Piauí, 70% para Lula. Grosso modo, o petismo fez no estado apenas o “feijão com arroz”, mas os antecessores de direita nem o básico faziam. Por outro lado, os líderes do PT, como Dias, com o Estado forte relativo à economia, controla como um quase imperador os meios de comunicação, a oposição, os movimentos sociais etc.

 

11. Peso anormal nos cargos nacionais

Nos cargos do Senado, ex-governador como ministro, Ciro Nogueira como homem do governo federal etc. São casos de destaque incomum de membros de um pobríssimo Estado. Por quê? Porque nossos políticos oficiais representam o atraso, o atraso derivado do atraso do Estado, o atraso no qual a classe dominante quer nos aprisionar.

 

12. Projetos possíveis

Teresina (centro) não quer um porto em Parnaíba (norte) ou um forte turismo em Serra da Capivara (sul). Isso lhe tiraria poder e centralidade, em parte artificiais. Por outro lado, um porto, já havendo no Maranhão e no Ceará, apresenta-se como de fato desnecessário, uma vaidade megalomaníaca provinciana.

Mas projetos podem ser feitos. Por exemplo: uma rede ferroviária de mercadorias e turismo que vá de Fortaleza, passa por Parnaíba, passa por Sete Cidades, passa por Teresina, passa pela Serra da Capivara e vai até a fonte de alimentos (e turismo) Juazeiro-Petrolina. Assim, transporta-se de modo eficiente e barato os grãos do cerrado piauiense, garante rede integrada de turismo, barateia mercadorias importadas (o que barateia a força de trabalho etc.). O plano de obras públicas, com outros projetos, aquece a economia. No mais, pode-se financiar, por exemplo, cobrando 8%, não 4%, do imposto sobre heranças.

 

13. Batalha do Jenipapo

Do ponto de vista militar moderno, o português Fidié, mesmo experiente contra Napoleão, ir ao Piauí tomar parte do território do Brasil diante da independência – foi uma loucura. De todo cercado, população hostil, resistência, geografia (terreno) incomum, longe da fonte de insumos etc. Mesmo com toda dificuldade e exigência de heroísmo, o Piauí tendia a vencer. Bastava, antes, medir . Ele até venceu a batalha, mas a guerra estava perdida de começo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

APÊNDICE III

COMO ELABORAR POLÍTICA MARXISTA

Minimanual do revolucionário

Crítica à direção do PSTU

 

 

 

 

 

 

 

 

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