APÊNDICE II
O BRASIL ESTÁ
MADURO PARA O SOCIALISMO
O BRASIL
ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO
Apesar da
força interna do marxismo brasileiro, poucos marxistas concluem o que já está
quase óbvio: o Brasil beira o socialismo, não apenas a barbárie evidente. Para
isso, deixamos claro: apenas em situações muito específicas, em duras crises ou
logo após elas, a revolução é conjunturalmente possível e viável. Mas, aqui,
tratamos da estrutura social; faremos, neste ensaio, uma breve análise de
estrutura, madura para a próxima sociedade, não de conjuntura específica.
Vejamos o estrutural da economia (infraestrutura), as classes (estrutura), as
mentalidades (superestrutura subjetiva) e as instituições (superestrutura objetiva).
Não será necessário cansar o leitor com dados, gráficos e tabelas; pois todos
os fatos que servem de base são amplamente conhecidos e reconhecidos, embora
raramente interpretados, quanto mais de maneira correta. Veremos a mudança
radical em, em média, 100 anos brasileiros. A inspiração bibliográfica é o
artigo público de mesmo título produzido por Edmilson Costa
Economia
(Des)industrialização
Como
sabemos, o socialismo apenas é possível após um alto desenvolvimento do sistema
anterior, o capitalismo. É o caso do Brasil: tão maduro para a próxima
sociedade quanto pode ser um país dominado. Portanto, algo verificável.
Há 100 anos,
éramos um país rural, que exportava café, sem indústria. Em um século,
tornamo-nos um dentre os países mais industrializados do planeta. Em termos
relativos, no período recente, nossa indústria tem perdido espaço para os
serviços (algo “natural” e geral após toda alta industrialização); em termos
absolutos, há uma desindustrialização relativa e continuada. Temos, então, dois
fatores opostos, ambos estimulando a revolução social: alta industrialização,
base para a próxima sociabilidade, e perda de indústria, decadência industrial,
o que empurra os trabalhadores a mudar o país.
Estamos na
segunda revolução industrial e, ainda que de modo tímido, acessamos a terceira.
A revolução socialista atuará para ampliar a automação e a robótica, algo
difícil ao capitalismo de um país dominado, aonde opera baixos salários e
condições de vida.
Matéria-prima
Produzimos,
hoje, boa parte da matéria-prima necessária à produção. Tal fator, não central,
dará mais estabilidade e resistência a uma sociedade socialista recém-fundada,
embora necessite que a revolução seja mundial. “Temos” uma das maiores
mineradoras do mundo, o melhor regime de energia por queda de água do planeta,
facilidade de produzir energia eólia e solar, petróleo abundante com a tecnologia
de extração necessária, domínio da produção de energia nuclear etc.
Agroindústria
Somos um dos
celeiros do mundo. Com a estatização das grandes propriedades do campo,
formando uma só empresa rural, poderemos manter e aumentar a escala, defender o
meio ambiente e tornar os produtos agrícolas centrais de consumo popular muito
baratos, tornando a fome algo do passado bárbaro.
Faz pouco
tempo, os canaviais eram o local do trabalho humilhante, quase escravo; mas
agora máquinas modernas, de tratores até drones, substituem o trabalho manual.
Bancos
A altíssima
concentração bancária tem vantagens e desvantagens. Nos EUA, há mais de 5 mil
fragmentados bancos enquanto no Brasil, 6 dominantes, 3 estatais. Nosso sistema
bancário é moderno, mas degenerou em máfia, em oligopólio, que impõe duras
taxas de juros, sugando de modo parasita a economia. Nosso sistema bancário
impede o desenvolvimento das forças de produção. Eles são poderosos, forçando
uma revolução socialista para impor um banco único do Estado, com empréstimos
baratíssimos, reanimando a produção e a economia, além de cancelar, contra a
escravidão bancária, a dívida enorme e crônica dos trabalhadores e pequenos
empresários.
Comércio
O pequeno
comerciante existirá por um bom tempo, pois é fácil criar um pequeno comércio.
Mas já é regra haver supermercados e hipermercados em quase todos os bairros
das cidades brasileiras. A rede comercial está interligada pelo mercado
financeiro e pela internet. Assim, temos a base para as primeiras formas de
depósitos públicos de produtos no socialismo. Uma rede única estatal de
distribuição e grande comércio pode surgir. A concentração e centralização do
capital comercial atingiram níveis altos nesta nação.
Dívida
pública
O Estado é
imensamente sugado para o pagamento da dívida estatal. Nesse sentido, veio o
absurdo de aumentar como nunca os impostos sobre os trabalhadores e a classe
média, reduzindo sobre os ricos (o imposto sobre lucros e dividendos foi
retirado etc.). A dívida impede um investimento correto nos serviços público,
levando a tensões sociais. O sistema de impostos impede a criação de novas
empresas, mantendo o domínio das maiores.
América
Latina
A América
Latina tende a ser o palco inicial da revolução socialista por não ser rica
como a Europa nem atrasada como a África. Está sobre a ameaça constante de ser
pobre como os africanos, tanto mais nesta época de decadência, e tem ânsia de
ser tão bem posta como os europeus. Por isso, por aqui, há imensa influência do
trotskismo em suas variadas ramificações, além de ter sido o lugar de tantas
rebeliões e revoluções nos últimos 100 anos.
Integração
mundial
O Brasil não
pode ser simplesmente “desligado” no mundo – somos um continente, não uma ilha.
Assim, continuaremos juntos ao mercado mundial em caso de socialismo. Nossas
exportações e importações são igualmente vitais ao sistema global. Uma
revolução socialista no Brasil provavelmente levará consigo toda a América
Latina.
Classes
sociais
Urbano
Há 100 anos,
o Brasil era 90% rural; agora, 90% urbano. Pequenas, médias e grandes cidades
produzem concentração humana, risco de revoltas, greves, luta de ideias – a
cidade é a casa da democracia socialista. As demandas sociais da urbanidade –
caótica neste país – empurram para a luta de classes mais intensa. Dito isso,
vale observar: o enorme tamanho absoluto de explorados e oprimidos, uma das
maiores populações do mundo, é a força imensa da revolução brasileira.
Burguesia
parasita
A burguesia
tornou-se parasitária. Em vez de investir na produção e na circulação, investe
em dívida pública, na renda passiva da terra, no mundo financeiro e bancário
etc. Os superricos moram nos EUA, adquirem até sotaque estadunidense, perdem
noção da realidade brasileira.
Surgiu
também uma burguesia comercial poderosa, que vive de juros no cartão da
empresa, na dívida dos trabalhadores, cuja origem social em parte é a
hiperinflação por décadas até os anos 1990.
Outra parte
da burguesia é dependente de contratos com o grande Estado brasileiro, que é um
capitalista impessoal (o Estado capitalista é um capitalista impessoal).
Nossa
burguesia aceitou, contra sua classe operária, ser sócia menor da burguesia
imperialista. Ela é bruta, de origem escravista, mas sabe contratar as mentes
mais inteligentes do país para gerir o caos nacional.
Operariado
Temos uma
das maiores classes operárias do mundo. Ademais, sua nova geração é
culturalmente superior. Criou-se, aqui, uma tradição de greve e de luta nas
categorias. Tendemos a reduzir numericamente o número de seus membros, mas eles
continuam a ter força, pois podem parar a produção vital, além da circulação no
caso do setor de transportes.
Classes
médias
Há altíssima
concentração de setores populares precários nas cidades, que costumam ganhar
menos que boa parte dos operários. A tendência a salários menores nas classes
médias faz com que se esquerdizem, como com greves, e tendendo à aliança
operário-popular.
O paraíso
dos ricos
O Brasil é o
verdadeiro país dos ricos, mesmo. Não se paga aqui imposto sobre lucros e
dividendos que todo país cobra, enquanto o trabalhador e a classe média pagam
imposto de renda pesado. Enquanto quem vive de salário paga imposto sobre seus
transportes, os ricos não pagam imposto sobre jatinhos, iates, alimentos de
luxo, helicópteros etc. Os ricos pagam, em termos relativos, menos impostos que
os pobres. O imposto para retirar dinheiro da nação, levar a outro país, IOF, é
pífio. O imposto territorial das grandes fazendas é algo irrisório em
comparação ao acumulado com as habitações urbanas. As dívidas dos empresários
para com o Estado são ciclicamente perdoadas enquanto a dívida dos assalariados
bate recordes. Isenção de impostos para grandes empresas ocorrem em todo o
país, com os Estados disputando quem atrai mais. Enquanto no mundo, há
importante imposto sobre heranças, o Brasil cobra, via de regra, apenas 4%. Os
bancos são certa máfia legalizada, sem grande resistência, lucrando
absurdamente por cima da desgraça popular – os juros mais altos do mundo.
Superestrutura
Marxismos
É difícil
encontrar um país aonde o pensamento marxista não seja marginal, dentro e fora
das universidades. O Brasil é uma das exceções. Temos os mais variados tipos de
marxismos, criando um bom caldo cultural. Temos o maior partido trotskista do
mundo, o PSTU (o trotskismo tem força na América Latina inteira – são inúmeras
as correntes inspiradas em Trotsky no Brasil – todos os fatores aqui tratados
cabem, grosso modo, à Argentina). O PCB, embora centrista, hoje é muito
diferente do antigo e pelego PCB. O PSOL tem revolucionários que não degeneraram,
mesmo que oscilem bastante.
Erguemos
movimentos incríveis como o MST, no campo, e o MTST, na cidade, além de uma
central sindical e popular revolucionária, CSP-Conlutas, que possui força nos
principais batalhões da classe operária (embora, muitas vezes, aristocrático).
Os
pesquisadores marxistas ou de esquerda costumam ser os melhores, mais
responsáveis e mais originais do país. Somos minoria na universidade, às vezes
perseguidos, mas com posições que são difíceis de ignorar ou boicotar. Isso é incomum.
A
diversidade do país mais sua pobreza fazem com que a dialética seja um caminho
natural para o pensamento. Por exemplo, difícil para um escritor de ficção não
falar da pobreza nacional.
Além disso,
temos uma natural vocação internacionalista como com a marginalidade do
pensamento xenofóbico entre as camadas populares.
Letrados
Há 100 anos,
especialistas como economistas, advogados, engenheiros, arquitetos,
administradores etc. eram raros, sem universidades no país. Hoje, temos uber,
taxista, formado em engenharia… Temos uma elite intelectual. Além disso, apesar
dos pesares, a alfabetização das massas é o maior da história, com poucos
analfabetos totais.
Esquerda na
economia, direita nos costumes
Os
trabalhadores têm instinto de classe, desconfiam de medidas capitalistas. Mas
são conservadores em pautas de costumes. Mesmo assim, as novas gerações são
mais abertas ou tolerantes relativo aos seus pais e avós.
Correntes e
partidos
Os partidos
burgueses degeneraram, deixam de ser um celeiro de quadros para gerir um país
tão complexo. A corrupção é regra. A causa imediata disso é a decadência do
capitalismo brasileiro. Na mente da maioria, a democracia é vista como farsa.
Risco do
fascismo neopentecostal e miliciano
O socialismo
não é inevitável, podemos ser derrotados. Antes da extinção do Brasil como
civilização ou talvez da humanidade como espécie, pode ocorrer um período
transitório muito duro. Uma ditadura militar não é capaz de se manter em pé com
as “necessárias” políticas de aumento da pobreza somadas à urbanidade. Logo, o
regime fechado, feito para evitar o socialismo, degenerará em liderança
miliciana, em máfia, e regime “religioso”, teocrático, das igrejas evangélicas
oportunistas. O país cairá no fascismo aberto. A democracia burguesa, ao ser
incapaz de melhorar a vida da maioria, pode fechar o corrupto parlamento de
duas formas, opostas: ou substituída por uma democracia superior e direta, ou
grupos armados fascistas encerrando as duas câmaras. É necessário, portanto,
disputar a consciência dos trabalhadores e das classes médias precárias para o
projeto de outro Estado, o operário com apoio popular. Apenas quem tem medo
pode ter coragem.
Temos a
oportunidade de ser, finalmente, o país do futuro no presente; e erguer, com o
mundo, a bandeira mundial do comunismo, talvez entre os primeiros a mudar tudo.
Um povo tão resistente e tão criativo pode servir de inspiração feliz às outras
nações irmãs, aos trabalhadores sedentos por alternativa.
EXTRA: UMA
“NEP” À BRASILEIRA?
Demonstramos
que é impossível reformar o capitalismo brasileiro, tão maduro quanto pode ser,
na época de decadência mundial do sistema do dinheiro-valor. Se ficássemos
isolados após uma revolução nacional, enquanto esperamos a revolução mundial –
o que poderíamos fazer? Façamos o exercício, que pode ser educativo.
1.
Antes de
fundar o banco único estatal, antes de extinguir o dinheiro, liberar para que muitos
bancos privados, não estatais, apenas um por país, para evitar acordos
secretos, entrem no Brasil, para fomentar alta concorrência, baixando o juro
real, estimulando a economia.
2.
Antes de
estatizar, sem indenização e sob gestão operária, as empresas; unificar as
empresas médias, ou não grandes o bastante, em grandes empresas nacionais
únicas, com uma só fábrica ou complexo fabril de preferência. Unir, por
exemplo, os grandes fabricantes de sapatos para que invistam seu capital numa
só grande empresa do setor, usando alta tecnologia, impondo alta escala, o que
barateia o produto individual. O Estado teria parte do capital, além de poder
de veto na administração. Ademais, seria necessária uma taxa de lucro menor que
a média mundial, imposta por lei rígida, por lucro geral e por produto
(evitando, assim, preço de monopólio; e estimulando a exportação, além do
aumento da produtividade para aumentar a massa de lucro total) – lei válida por
30 anos, por exemplo. Após 30 anos de lucro, o capital se tornaria todo do
Estado e de seus operários, sem indenização aos antigos acionistas. Nesses
casos, o capital acionista apenas poderia ser nacional.
3.
Imposto
progressivo ao lucro dos serviços privados de educação, saúde, transporte,
segurança, alimentação etc. para financiar serviços iguais estatais.
4.
Um “Amazon”
das editoras focado tanto em venda como em gráfica, uma gráfica nacional das
editoras.
5.
Mediante acordos especiais de comércio
prioritário, surgirá um banco de compensações entre países latino-americanos
para economizar dólares, aumentando a integração regional.
6.
A
capitalização, transitória, da previdência terá como um dos focos de
investimento a criação do complexo da saúde na área de medicamentos de modo que
uma poderosa empresa automatizada, roborizada, será a fonte do retorno
financeiro aos aposentados (o que, ademais, superará nossa necessidade de
importar insumos e remédios).
7.
Reforma na
lei para permitir imposto de valor maleável sobre alimentos exportados como
garantia de segurança alimentar caso os preços subam muito por demanda
internacional.
8.
Uma pequena
porcentagem das grandes empresas de agronegócio serão obrigadas a plantar
certas espécies, sem agrotóxicos, para preservar a população de abelhas.
9.
Obrigar que
uma parte das grandes terras, uma porcentagem progressiva, seja de determinados
grãos e carnes para consumo interno, de modo a tornar as mercadorias baratas e
acessíveis.
10.
Instauração
da prisão perpétua para crimes graves, incluso desmatamento.
11.
Substituir o
dinheiro físico por digital, com internet para todos e em amplos ambientes.
12.
Pesado
imposto sobre grandes heranças e sobre lucros e dividendos empresariais.
13.
Criação de
centros sociais em cada bairro.
14.
Erguer uma
poderosa rede ferroviária, que reduz em até 5 vezes os custos de transporte.
15.
Treinar todo
cidadão que vive de seu salário no manuseio de armas leves e pesadas, além de
facilitar seus acessos a tais armas, de modo gratuito na medida do possível.
16.
Reduzir,
tanto quanto se pode, a jornada de trabalho, mesmo que isso exija relativa
inflação – isso é inegociável, condição para governo dos trabalhadores. Pode-se
compensar isso, por enquanto, com um organismo de câmbio de empregos, por
exemplo, se o trabalhador e o patrão (se este há) estão de acordo, será
permitindo de uma empresa para outra, trocando com outro funcionário, mantendo
o pleno emprego.
17.
Estatização,
sob gestão operária, das empresas centrais da economia, apenas elas – não todas
ou a maioria. Estatizar aquelas empresas que são vitais para os preços:
transporte, petróleo, energia elétrica, regime de águas etc. e as que são
monopólios naturais.
18.
Criar uma
reserva grande de ouro no meio geográfico país.
19.
Criar forte
indústria de defesa longe do litoral e no meio geográfico do país.
20.
Empresar
pequenas ou não centrais tornem-se cooperativas temporais quando tomadas por
seus trabalhadores, funcionários.
21.
Imposto
sobre renda, não sobre consumo. Alta taxação de produtos de luxo.
22.
Concorrência
cooperativa. Pequenos e médios comércios, concorrentes, compram juntas, ao
mesmo tempo, em grupo, para assim ter força de negociar melhores preços e
maiores quantidades de mercadorias com seus fornecedores.
23.
O Estado
repassar aos seus serviços (educação, saúde etc.) não dinheiro, mas coisas,
produtos – assim, reduzindo custo total, ao fazer grandes compras unificadas, e
evitando as pequenas corrupções locais de diretores etc.
24.
Trazer
médicos cubanos também para ampliar muito os cursos de medicina, tão queridos
pelos jovens.
25.
Pôr acima da
medida dos países centrais o investimento em pesquisa e desenvolvimento – rumo
à informatização, automação e robotização da economia e da sociedade.
26.
Grandes e
novas empresas estatais, sob gestão operária, podem permitir o surgimento de
empresas satélites privadas ou cooperativas, menores, que oferecem certos
insumos à matriz – mas a empresa central, de produto final, terá direito de
veto na administração de tais empresas.
27.
Plano de
reaproveitamento quase máximo do que ora é transformado em lixo para defender o
meio ambiente, reduzir importações e reduzir custos.
28.
Para
qualquer caso de corrupção ou manobra ilegal empresarial, a lei deve de
imediato condenar à estatização da empresa, sem indenização, sob gestão dos
trabalhadores e seu comitê de fábrica que analisa os dados da empresa no
cotidiano – e prisão irrevogável da direção empresarial.
29.
Após reduzir
a jornada de trabalho para gerar pleno emprego permanente, subir os salários acima
da inflação por dois anos, de modo planejado para evitar grande inflação.
Então, forma-se um plano para alcançar o salário mínimo constitucional burguês,
do DIEESE, em 10 ou 20 anos, com aumentos anuais planejados do salário mínimo
acima da inflação; al[ém disso, com planos, como aumento da produtividade
técnica, ara baratear os insumos e, além disso, fornecer serviços públicos no
lugar de privados.
30.
Os
sindicatos, centrais sindicais e partidos que tiverem do lado da revolução
depois terão direito a jornais impressos próprios, independentes e gratuitos
distribuídos em todo o país e para os membros de suas categorias.
31.
Aproveitar o
programa burguês industrial de Ciro Gomes, complexos industriais específicos:
complexo industrial da saúde, do agronegócio, da petroquímica e da defesa. Por
que eles? Porque: 1) as patentes estão vencidas (80% dos remédios importados
são patente vencida, por exemplo), 2) temos especialistas para desenvolver tais
áreas, 3) o Estado já tem demanda alta por tais produtos, 4) substituímos de
modo importante importações, 5) há alta demanda popular interna. Além disso,
podemos escolher alguns campeões nacionais internacionais para dominar o
mercado mundial de alta tecnologia.
Tais
propostas são indicações, pistas, nesta época de pouca criatividade, de baixa
imaginação, de falta de projetos. É preciso aprender a pensar, ensaiar governo,
a arte de governar. Os exemplos acima demonstram a maleabilidade possível se
somos forçados a mediações por algum tempo. Apenas na situação concreta, sem
listas ou manuais, poderemos dizer quais as medidas necessárias e possíveis. O
programa acima, se prático for, é inferior, claro, pois o foco é implementar,
já de início, tão rápido quanto possível, o programa de transição.
EXTRA: TESES
SOBRE O BRASIL
1.
Marx inicia
a lógica de sua grande obra com o início histórico, a pré-história do capital.
Assim, trocas aleatórias, sem sinal de proporção e medida, passaram para trocas
mais ou menos medidas, mas casuais, vez ou outra; em seguida, certas
mercadorias trocam-se por várias ao crescer o mercado; em seguida, várias
trocam por uma especifica. Em seguida, todas trocam por dinheiro, o ouro em
especial. Pois bem; assim foi iniciado o país Brasil: os portugueses trocavam
produtos-mercadorias por, por exemplo, pau Brasil, outra mercadoria. Rir-se
como se fosse uma troca injusta, mas o espelho, por exemplo, era um produto, na
oferta e demanda, absolutamente raro ao indígena, incapaz de ver a si mesmo com
toda clareza. O transporte também aumenta o valor da mercadoria, de um
continente ao outro pela primeira vez. Só em base ao mercado, como na obra O
Capital, pôde surgir a produção para o mercado mundial, mas com trabalho
escravo. Assim, o mercado como Brasil rapidamente passou ou pulou as etapas
expostas acima.
2.
O Brasil
nunca passou por uma revolução burguesa porque, desde 1500, sempre foi burguês,
embora sui generis.
3.
Diz-se ora
que a escravidão acabou por impulso da classe dominante, ora por pressão da
Inglaterra, ora por revolta crescente. A última explicação é a mais correta,
mas ela tem por base, além de esconder, uma razão econômica. A escravidão
existiu por falta de mão de obra desemprega, ou seja, regulada pelo mercado.
Uma falta de mão de obra porque os índios sabiam fugir, conheciam o cenário e a
floresta. Mas, quando a quantidade de escravos tornou-se imensa tanto em termos
absolutos quanto em relativos, surgiu a base econômica para fundar o exército
industrial de reserva, o desemprego, a superpopulação relativa artificial. Com
quantos quilos de medo se faz uma tradição? Era, no entanto, difícil mudar as
relações de produção, exigia muita mediação para algo gradual antes do salto.
Por isso, isso se deu mais de modo gradual que por revolução real, final.
Assim, um mercado consumidor interno de mercadorias tinha iniciado ao menos sua
base latente e mínima.
4.
O regime
escravista era pouco produtivo, o que dificultou acumular capital; por outro
lado, estimulou aumentar o mais-produto pela extensividade, aumento do número
de terras em agricultura, logo, o número de escravizados.
5.
As
revoluções e revoltas nacionais fracassaram por ainda não terem caráter
nacional, o que expressava indiretamente as forças produtivas pouco
desenvolvidas.
6.
A guerra do
Paraguai foi, antes e também, um aviso do Brasil e da Argentina contra toda a
América do Sul para que não ousassem produzir políticas protecionistas, maior
autonomia econômica e projetos grandiosos próprios.
7.
De modo
inconsciente, inconsciente social; o Estado combater a inflação e manipular os
juros para manipular câmbio e, assim, controlar a inflação desde 1990, têm por
objetivo controlar a luta de classes, impedir a revolução brasileira a qual
beiramos nas décadas de 1980 e 1990. Fazem, mas não sabem.
8.
Surge, hoje,
uma cultura própria das pequenas urbanidades, que devem ser interpretadas
crônica e sociologicamente. Têm o poeta oficial (em geral, romântico ou
parnasiano, adotador como pode do poema fixo), a família política oficial (em
geral, duas inimigas), o radiologista, o louco ou bêbado oficial, a prostituta
– e o burguês oficial, em geral quase único na cidade. Hábitos próprios como
vestir-se com exagero de beleza para ir comer uma simples pizza. Veem de modo
impressionista, via TV e internet, as grandes cidades. Por impressionante, a
atividade sexual das jovens costuma ser ainda mais ativa e livre, hoje, em
relação às da capital. Em geral, um pastor domina a religião do município,
impedindo, por exemplo, a obtenção de preservativos no posto de saúde.
CRISE DOS INTELECTUAIS
MARXISTAS DO BRASIL
Nos anos
2000, o crescimento econômico acima da média das últimas décadas permitiu ao
governo ampliar as universidades públicas. Isso permitiu, também, que uma série
de marxistas se tornassem professores universitários. Hoje, somos certa minoria
com qualidade acima de média.
Ao elevar a
qualidade de vida, muitos abandonaram o marxismo, outros o defendem na
academias, alguns mantiveram a militância. É difícil ser imune ao novo ambiente
e ao novo salário. Houve, portanto, uma pressão para o centrismo.
Sérgio
Lessa, universitário da velha guarda, disse, em palestra em 2013, que a nova
geração de intelectuais marxistas se livrou das armadilhas da antiga. Vejamos
seus argumentos:
1. Os novos intelectuais marxistas não se
impressionam com as ditaduras “socialistas”, pois surgiram após a queda do muro
de Berlim.
2. Não se iludem com a democracia, pois já
cresceram nela e em sua decadência.
3. Não cedem ao governo de esquerda, pois já o
viu no poder.
4. Têm acesso a textos basilares com muito maior
facilidade.
5. Vivem a crise evidente do sistema.
No entanto,
hoje apoiam o terceiro governo Lula, do PT. Bastou o bafo quente do fascismo
sobre suas nucas para tornarem-se o último vagão do trem da burguesia. É
difícil escapar de seu perfil de classe. Passaram a louvar o lulismo e petismo.
O problema é
que não passaram pela escola dura da luta operária, ou seja, formaram-se nos
anos de refluxo, não de Ascenso das lutas. De qualquer modo, tenderam à
esquerda porque a miséria sempre está diante dos olhos brasileiros.
Quando junho
de 2013 e a onda inédita de greves parciais surgiram, eles enlouqueciam com a
tese sem fundamento de que o país estava diante de uma “onda conservadora”. No
fundo, a pequena burguesia desagrada-se com as lutas sociais e o trabalho que
exigem. Revolucionários, porém não muito. Por isso, na revolução russa, os
marxistas acadêmicos ficaram, em geral, na margem da história. Tudo contra o
petismo para eles é reacionário, no mínimo.
Nos partidos
de esquerda, posições da classe média são defendidas pintando-se de linguagem
vermelha. O exemplo mais triste e risonho é o veterano trotskysta Valério
Arcary: outrora revolucionário, hoje afirma que o governo Lula III está em
disputa; tornou-se conselheiro da frente popular, tudo que sua tradição
original – e suas próprias palavras anteriores! – condena.
A USP, maior
universidade da América Latina, torna-se a montanha que pariu um rato. No lugar
de teses úteis, procura-se o novismo e o jogo de palavras. No lugar de
originalidade, a eterna repetição dos clássicos. No lugar de ciência,
comentários sagazes e dispensáveis. Sequer sabem elaborar política de modo
marxista os membros marxistas de tal instituição. O cinismo e o meio-termo
tomam conta dos espíritos. Esse tipo de gente dirige os partidos vermelhos ou
amarelos.
Chico de
Oliveira afirmou que o intelectual brasileiro é um ornitorrinco, ou seja,
escreve sobre marxismo e revolução, mas na política prática é do polo da
direita ou da burguesia. Tal afirmação deve ser levada a sério. O Brasil
produzirá originais e interessantes intelectuais marxistas, mas devemos cuidar
para que não percam o rumo.
Lula
corrompeu os marxistas ajudando-os a dar aula.
SÃO PAULO:
CASA DO BOLCHEVISMO DO BRASIL
O título
parece absurdo. Além disso, reclamamos da falta de espaço de quadros
nordestinos, região mais precária que tem se urbanizado e se industrializado,
nos cargos nacionais e partidários. O autor deste livro, por exemplo, mora num
dos Estados mais pobres do Brasil, no nordeste. Mas O sul-sudeste, valerá a
justificativa, têm o perfil para a formação partidária bolchevique:
1.
Concentram
massa de imigrantes de todo o mundo
2.
Concetram
massas de imigrantes do norte e nordeste
3.
Têm
altíssimo caldo cultural
4.
Possuem os
melhores intelectuais (USP etc.), apesar de a melhor educação básica ser do
nordeste, do Cerará em especial
5.
Concentram o
grosso da enorme indústria do país
6.
Por isso, concentram com força imensa a classe
operária
7.
Possuem
grandes bairros operários
8.
Possuem grandes
periferias
9.
Suas enormes
cidades são anormalmente extressantes sobre a psique e o corpo do trabalhador,
o que acumula pautas sociais
10.
Em São
Paulo, principal e melhor exemplar, tem-se a cultura da leitura de jornais no
cotidiano – o que estimula e dá espaço para jornais partidários e operários
11.
São Paulo é
conhecido pela disciplina forçada, artificial, sobre o trabalhador, que tende a
ser natural também no militante
12.
Possuem
concentração urbana absoluta imensa
13.
Possuem
tradição de luta secular, Sâo Paulo em especial
Tais fatores
ajudam muito, até determinam. São Paulo destaca-se, tem de maneira avançada
todos os elementos acima. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
também ganham peso extra. No norte, o Pará operário e ambiental. No nordeste, o
radicalizado Ceará, com sua tradição operária e com até políticos burgueses
muito esquerdizados (família de Ciro Gomes, que garantiu, por exemplo, uma
superior educação pública relativo a todo o resto do país); Pernambuco com sua
cultura e perfil ímpar, além de tradição revolucionária; e, claro, a destacável
Bahia. Eis os centros de um trabalho comunista, os centros da revolução
brasileira. Por uma incapacidade de adiar até condições nacionais melhores, por
precarização extra etc. a revolução pode começar no Piauí – uma segunda luta
por independência, uma segunda Batalha do Jenipapo –, mas apenas será vitoriosa
se vencer, também, em São Paulo.
BALANÇO
DESDE JUNHO DE 2013
10 ANOS DE
LUTA
APRESENTAÇÃO
Após 10 anos
da rebelião de junho de 2013, fato que ainda não acabou, pois é processo ainda
vivo, muitos balanços surgiram sobre a data e o que houve depois. Porém, todos
são balanços parciais, angulares e, em principal, externos; por isso na senti
necessidade de escrever uma obra tão clara e completa possível sobre os últimos
dez anos, desde aquele dia. O formato é de ensaio, mas o centro é científico e
político. Todos os dados e fatos são conhecidos e reconhecidos, mas não ou mal
interpretados.
Quase todas
as pessoas, hoje, diz-se de esquerda ou de direta, familiares dividem-se e
brigam, humor contra a exploração laboral tornou-se popular na internet. Tudo
isso começou em 2013. Em especial, entre os jovens. Muitos deles dizem algo do
tipo: “se você me conheceu antes de 2013, peço desculpas.” Ou seja, eles
mudaram desde aquela data.
Já aviso que
minha visão é comunista e otimista em relação aos fatos: uma onda de greve
surgiu após as manifestações, ou seja, as classes trabalhadoras
esquerdizaram-se. Mas ninguém sabe muito bem a causa disso, o que pretendo
explicar.
Como
observamos, ninguém saiu imune. Partidos entraram em crise, o Estado balançou,
a direita e a alta classe média reagiram, a burguesia planejou reação etc. As
mudanças na base da sociedade, na economia e nas classes, operam mudanças no
resto do tecido social, nas assim chamadas superestruturas – mentalidades,
moral, instituições etc.
A figura do
militante, mesmo se tratada de modo debochado, parece ter chegado para ficar.
Cada local de trabalho, cada sala de aula tem aquele membro mais ativo, mais
politizado. As conversas de bar rechearam-se com tempos específicos para
conversar sobre política, às vezes com o sangue fervendo diante de polêmicas
entre os membros à mesa.
Está claro
que mudou. Também está cristalino que algo estar por se resolver, parece que
estamos em suspensão e uma névoa paira no ar. É a sensação de que algo deve ser
resolvido de vez, de fato. Parece que o país não se encaixa nele mesmo. Isso
tem implicações socialistas, como debateremos. Ou a ditadura do capital ou o
socialismo, a democracia direta e de base socialista, a ditadura do
proletariado, vencerão. O tempo do meio-termo está definhando.
SITUAÇÃO
MUNDIAL
Uma crise
econômica inicia-se antes da crise propriamente dita, antes de sua fase
destrutiva. Isso ficará mais fácil em outro capítulo; por agora, isso deve
ficar claro: ondas de luta, via de regra, surgem antes de uma quebra da
economia. A crise brasileira começou em 2008, nos EUA e na Europa. Aquela crise
quase levou ao colapso do sistema, mesmo. As bolsas de valores foçaram feriados
para impedir a quebradeira. Depois, surgiram ineditismos: empresas
imperialistas foram parcialmente estatizadas, uma onda de dinheiro foi lançada
sobre a economia mundial. Isso salvou o capitalismo e o movimento socialista,
pois este último estava de todo despreparado para o que poderia vir e quase
veio.
A onda de
falências e demissões nos centros mundiais, reduziu o consumo das famílias e
das empresas. Logo, a demanda por produtos chineses cairia. Logo, a demanda
chinesa por matéria-prima vinda do Brasil cairia. Crise geral. Porém, a China
reagiu forçando o pleno emprego com onda de investimentos públicos. Assim,
demandou ainda mais produtos brasileiros como ferro e outros produtos
primários. Lula e o PT respiraram aliviados. A ação do poderoso Estado chinês
permitiu exportar muito, o que baixou o dólar (entrou dólar, mais oferta da
moeda derruba seu preço em relação ao real), que caiu para abaixo de 2 reais! A
alegria reformista imperou, o consumismo tomou conta dos espíritos.
Lula disse
que a crise no Brasil seria “marolinha”, não tsunami. A esquerda radical
criticou tal posição, mas ele acertou – e errou, pois tal crise foi apenas
adiada para 2015. Vendo o problema econômico mundial, e ao acreditar ser algo
conjuntural, não estrutural, o governo do PT, guiado pelo de fato reformista
honesto Mantega, tomou uma série de medidas para aquecer a economia: Minha casa
Minha vida, aumento real do salário mínimo (acima da inflação), imposto
sindical (falaremos dele novamente), grandes obras públicas cujo setor gera
mais emprego, redução dos juros da dívida etc.
Merece
destaque a redução dos juros. De um lado, os especuladores trouxeram dólar para
o Brasil, a fim de comprar títulos da dívida estatal, porque o mundo
desenvolvido estava em crise – isso valorizou nossa moeda relativo ao dólar.
Por isso, e apenas por isso, o governo viu oportunidade de manter os juros
baixos, de reduzi-los após anos mantendo-os altos. Uniu a fome com a vontade de
comer. Ao “apenas por isso” devemos acrescentar, claro: o câmbio tendeu a cair,
repetimos, porque aumentou muito a demanda chinesa por nosso produtos brutos, o
que facilitou e permitiu reduzir juros.
Do ponto de
vista da luta de classes, a Europa fez jus a sua tradição com duras lutas e
protestos de rua. Os EUA estavam aprendendo a organizar suas guerras de classe.
E no mundo árabe revoluções aconteciam. Todos são respostas, iniciais e
desproporcionais, à crise. A situação começou a ficar favorável para partidos
revolucionários.
ANTECENDENTES
Junho de
2013 nada tem de raio em céu azul. Se quisermos dar um começo, diremos que foi
2011 no Piauí, região do autor. Aqui, uma repressão policial contra um ato de
vanguarda gerou revolta de rua. A luta contra o aumento do preço da passagem de
ônibus colocou 30 mil nas ruas em seu auge, o que é muito para a cidade de
Teresina, a capital. Vitória tamanha que os governos municipais seguintes
evitavam aumentar o preço da passagem para estudantes (e a prefeitura deu 32%
de aumento salarial, muito acima da inflação, após forte greve). Em todo o
país, greves vitoriosas e radicalizadas aconteciam, em especial na construção
civil; motins de policiais multiplicavam-se. Havia um aumento das lutas, com um
detalhe: pequenas vitórias aconteciam, o que temperava os ânimos. Com o
crescimento econômico, mesmo se fraco, migalhas poderiam ser cedidos pelos
governos e pelos patrões.
Um dos
pontos auges foi a destruição, em 2012, do já consolidado bairro Pinheirinho,
liderado pelo PSTU. Quando o governo estadual decidiu destruir tal
avançadíssima experiência, Canudos moderno, que inclua democracia direta,
surgiu algo inusitado: uma situação revolucionária em apenas um bairro! Grupos
de combate e autodefesa surgiram na ocupação, prontos para enfrentar a tropa de
choque. A intenção de fundo era política: quebrar a base social de tal partido,
pois uma comuna numa das regiões mais industrializadas da América Latina era
inaceitável.
OS ATOS
Qual a causa
dos protestos de Junho de 2013? O pleno emprego. Quando o desemprego fica baixo
por anos, os trabalhadores mais grevam, mais ousados ficam, mais lutas há.
Isso, que evoluiu passo a passo, precisou de um salto – os grandes protestos no
meio daquele ano. Os jovens, mais afeitos ao risco, até tinham emprego; mas
usavam mais o transporte público ruim para ir até à faculdade e ao
trabalho. Até tinham trabalho, mas
ganhavam mal. O estresse aumentava dia a dia, acumulava-se.
A luta por
educação, saúde, transporte e segurança estava em alta. Por serviços públicos
gratuitos e de qualidade. Problema: durantes os protesto, ninguém da esquerda
transformou tais pautas gerais em pautas diretas, como por 10% do PIB para a
educação. O PSTU, aliás, com sua mania impressionista, chamou a ditadura do
proletariado (!) na forma de “Nem direita nem PT: trabalhadores no poder!”
Exigência sem chão na realidade e totalmente marginal. Pois não era uma
situação revolucionária: a economia crescia e vinha de um crescimento, ainda
que fraco, e o emprego era pleno.
O desemprego
baixo, mais precarização da vida, era a causa oculta da grande luta. Nenhum
teórico percebeu isso. Mesmo naquela data, aos comunistas de classe média soava
incompreensível tal jornada de massas. Qual a causa daquilo tudo? Sobre devo
dizer algo inesperado: havia, sim, aspectos de cartase coletiva como certo
“delírio” coletivo – por exemplo, ia-se ao protesto porque outros iam, como a
retroalimentação positiva. A causa consciente expressava um inconsciente
social, pois as condições eram melhores para lutar.
Por décadas
de ultraesquerdismo, a esquerda radical foi confundida com os demais partidos
da ordem. Assim, apanharam nas ruas. Eu mesmo tive que lutar em protesto em
minha cidade. Os dirigentes, que engordaram com o tempo e com as
circunstâncias, na verdade nada entendiam da nova realidade, do país.
Anos depois,
o PT e o PCdoB caluniaram a luta e o povo dizendo que se tratou de “guerra
híbrida” ou ação do imperialismo contra a esquerda. O cálculo oportunista do
petismo é claro: lutou durante ou contra o governo, logo é algo, no mínimo,
ruim. O PCdoB, em alguns Estados, proibiu a militância de ir aos protestos, o
que lhe gerou crise; eles dirigem até hoje a UNE, que ficou, de propósito,
paralisada.
Desde esses
dias, o país se dividiu – finalmente e ainda bem. Estamos próximos, muito mais,
daquele momento em que ou o país se resolve ou nada muda. A classe média passou
a protestar e ser ativa, em geral, pela direita. As empregadas domésticas
estavam muito rebeldes, os pobres invadiam os aeroportos.
O petismo
diz que Junho de 2013 foi raiz de todos os males. É um erro: ele foi sinal e
consequência de algo que ocorria e ocorre no subterrâneo, ou seja, a crise do
capitalismo. A causa da queda do governo Dilma foi suas medidas de governo logo
após a reeleição: estouro do câmbio, estouro da taxa de juros, aumento dos
preços controlados pelo governo, corte de investimentos e serviços etc.
IMPOSTO
SINDICAL
Mantega fez
sua parte com sua tradição ao impor aos trabalhadores um imposto, um desconto
nos salários de maio para financiar seus sindicatos. A burocracia sindical
adorou, a extrema-esquerda colocou-se contra. Mas o melhor estava por vir. Ao
irritar os trabalhadores com tal desconto salarial, estes passaram a exigir
mais da instituição, a cobrar e prestar atenção nas eleições sindicais.
Criou-se um laço forçado entre a base e os dirigentes sindicais. As greves
anuais de rotina, campanhas salariais em central, tornaram-se mais obrigatórias
para os oportunistas dos sindicatos. Junto com a onda de greves, uma onda de
novos sindicatos surgiu. A burguesia viu o erro, então passou a preparar o fim
do imposto anos depois, como fez, para quebrar tal dinâmica.
A
IMPORTÂNCIA DO ÓDIO POLÍTICO
A união de
esquerda pequeno burguesa com ofensiva de direita levou ao amor ao amor… Mas o
ódio tem razão de existir: devemos odiar os ricos, os manipuladores, os
corruptos. Luta de classes é razão e emoção. O ódio de classe importa. A classe
média quer a conciliação quando não é a hora, ou possível, ou mesmo bom.
Pensa-se o
ódio como algo apenas subjetivo e, assim, artificial. Ele é necessário. Porque
há luta de classes, há luta subjetiva. A causa é crise econômica, que gera
crise social, que gera crise política, que gera luta de classes. Que bom que
estamos divididos de modo claro, não mais de modo oculto. Então, o ódio
classista não veio do nada – ele só se revolve resolvendo a crise econômica, ou
seja, o socialismo. É a crise econômica que está dividindo a sociedade: ou
vencemos ou vencem eles, os grandes patrões.
REPRESSÃO
Em 2023, um
protestos de massas surgiram na França por causa de repressão policial, no
caso, contra um imigrante. Em 2011, como dissemos, uma repressão da polícia
gerou protesto de massa em Teresina. Junho de 2013 também surge como reação á
repressão policial. Há, entre outras questões, um instinto de justiça, em
especial entre a juventude. Isso deu base para solidariedade. Por exemplo:
tanto em 2011 quanto em 2013, vi taxistas e trabalhadores derem transporte aos
jovens de graça rumo ao centro.
ALGUNS DADOS
Observemos
os dados a partir de 2013. A quantidade de greves explodiu:
Fonte:
(Dieese, 2020)
O número de
horas paradas também – desde 2009:
Fonte:
(Dieese, 2020)
Aqui, temos
de retomar a dialética. A realidade total nunca é como certa máquina ou relógio
ou computador com sua causalidade mecânica; o real é um sistema orgânico, um
organismo, por isso a causa, o (quase) pleno emprego em nosso caso, apenas de
modo atrasado tem efeito nas mobilizações dos trabalhadores; pela mesma lógica
da materialidade, o processo de fim do emprego pleno atrasadamente passa a
reduzir a onda de paralizações. Como razão, o baixo desemprego correspondeu ao
aumento das lutas:
Fonte:
(IBGE, 2020)
Fonte:
(idem, 2021)
Veja-se que
o governo petista adiou, não impediu, a forma destrutiva da crise por anos, com
ações anticíclicas que fundamentaram um conflito distributivo de longa duração,
que começa a ser revertido apenas com a entrada de vez do desemprego, com o
processo de fim do pleno emprego:
Fonte: (IBGE,
2020)
Todos esses
dados são impressionantes. Apesar dessa empiria, os intelectuais marxistas
falaram em “onda conservadora”. Depois, fingiram que não criarame defenderam
tal absurdo, saiu de moda. Muitos desses revolucionários da USP hoje apoiam o
governo Lula.
NÍVEL
CULTURAL
Nas famílias
da classe trabalhadora, temos a primeira geração letrada, com diploma de curso
superior. Porém, sem emprego. Mesmo uma faculdade mediana transforma o
indivíduo, dá-lhe novos ângulos. Ou seja: a nova geração trabalhadora tem nível
cultural superior, mas mais dificuldade de ter uma vida igual ou melhor em
relação à dos seus pais. Antes, quem estudasse muito tinha certeza de
empregar-se – não é mais o caso. De qualquer modo, mesmo com educação ainda
péssima, as novas gerações são mais maduras para o socialismo, são
culturalmente mais fortes. Isso pesa nas revoltas. Antes e depois de 2013,
vários políticos da ordem creditavam as greves de policiais ao fato de os
militares da baixa patente terem feito curso superior (em especial: história),
o que os deixou rebeldes em demasia. Há verdade nosso, embora a educação não
seja a causa real da mudança de um país.
SITUAÇÃO
PRÉ-REVOLUCIONÁRIA?
Em seu
congresso de 2014, o PSTU defendeu que situação era pré-reovlucionária, dado
junho de 2013 e as novas greves. Fiz um documento para o congresso contrariando
a caracterização, afirmando ser impressionista. Isso me rendeu certos
desconfortos e perseguições partidárias. Ora, crescimento econômico pode ser
igual às lutas ativas. De novo, baixo desemprego estimula muito lutas sociais.
Basta ver o caso, hoje, 2022 e 2023, dos EUA, onda de greves, desemprego
voluntário por melhor salário e… sinais de próxima crise. As grandes lutas são,
então, nesses casos, sinais de crise, transições dentro de um situação
não-revolucionária. Por acertos e erros políticos, poderia surgir, grosso modo,
dois caminhos: ou um situação reacionária ou uma situação, agora sim,
pré-revolucionária – após a transição. Isso exige o conceito “momento”, pois
dentro de uma situação, por exemplo, não revolucionária pode haver momento de
recuo, avanço de uma contrarreforma etc., ou avanço, grandes greves por baixo
desemprego etc. No nosso caso, surgiu uma situação reacionária, e momento
defensivo, entre 2016 e 2017. Veja-se que a causa da situação reacionária não
é, não é em si ou não apenas o golpe de Estado contra o governo – pois a
totalidade deve ser para caracterizar, fomos para defensiva, para derrotas etc.
A INTERNET
O trotskysmo
operário argentino criticava o trotskysmo dos cafés, bares aonde os
intelectuais de classe média se reuniam para falar – e apenas falar – de Marx e
revolução. De modo mecânico, alguns dizem o mesmo das redes virtuais sociais.
Mas isso está em parte errado. Hoje, temos fóruns e espaço para propaganda e
agitação de massas no meio da internet. Se pude escrever um livro tórico
qualitativo com mais mil páginas, apenas possível graças à nova forma de
comunicação. Até o nível cultual geral das gerações não muito jovens tendeu a
crescer (cursos e aulas no youtube etc.). Em junho 2013, quem criasse o evento
no Facebook do próximo protesto passava a ser considerado líder natural do
movimento. A esquerda não tomou iniciativa nesse sentido porque, de um lado,
organizações devem ser mais lentas, de outro, porque não tem iniciativa nem
entendia o novo mundo. O PCB fez de modo planejado um trabalho de propaganda na
internet que rendeu bons frutos; por exemplo, patrocinou vários grupos de
debates sobre temas de esquerda, que lhe deu destaque (e poder de censura caso
alguém de outra organização se destacasse demais). Mas, no geral, a esquerda
chegou muito atrasada. Hoje, esse campo é da direita; além de contar com o
senso comum em seus vídeos e textos ou com financiamento mais fácil, a direita
foi ativa na busca de seus meios. Depois, Bolsonaro renovou nas eleições
usando, com ajuda dos EUA, de fake news disparados via grupos de internet, o
que lhe deu larga vantagem. Bolhas, sabemos, se formaram com o algoritmo
mostrando-nos apenas temas e pessoas de nosso agrado.
A internet,
com suas próximas renovações, chegou para ficar. O papel da esquerda radical é
produzir material de qualidade, claro e contínuo. Até terroristas nas montanhas
fazem vídeos melhores do que os nossos. Também devemos dar mais inciativa e autonomia
aos jovens sem esperar tudo do chefe ou dirigente. Nossos partidos não
estimulam criatividade, reconheçamos.
A TENDÊNCIA
A FECHAR O REGIME
O regime
tende a fechar – mas por qual motivo? Porque a burguesia necessita derrotar o
movimento operário e popular, impor uma derrota histórica; acabar com os
serviços públicos, as greves, as ocupações e os diretos trabalhistas. A crise
do capital obriga a isso se se quer manter altas taxas de lucro, se quer
sobreviver à industrialização da China e, depois, da Índia. Sua tática burguesa
está errada, mas é o que ela sabe fazer.
O regime
começou a fechar com medida do governo Dilma: a lei antiterrotista. Uma
legalidade genérica que pode e será usada contra os movimentos sociais. Depois,
veio o golpe de Estado formalmente contra o governo do PT. Depois, as eleições
mudaram: menor tempo de campanha, restrições contra partidos menores, incluso
os de extrema-esquerda. Depois, Temer colocou militares no governo. Depois,
Bolsonaro ampliou muito a presença de militares no executivo. São fatos
separado que mostram, juntos, a tendência ao regime fechar. Parece casual e
contingente que Bolsonaro tenha sido eleito com militares – mas o acaso e o não
necessário expressam o necessário oculto.
No futuro
próximo, o parlamento pode fechar de duas formas: democracia direta e de base
socialista (ditadura do proletariado) ou ditadura fascista. A decadência
econômica do mundo e do Brasil obrigam duas saídas, apenas um lado sendo saída
real ao país.
Desde junho
de 2013, o povo passou a votar com os pés – contra tal voto reage a burguesia.
QUEDA DO
GOVERNO DILMA II
Dilma foi
eleita verbalizando contra a precarização, contra altos juros, em defesa dos
direitos etc. Ela adiou medidas impopulares no fim do primeiro mandato para
conseguir se reeleger. Uma vez reeleita, jogou a bomba: aumentou os juros com
muita força, atacou o orçamento etc. Veja bem; a culpa não é de todo do
governo: o capitalismo é inevitavelmente crise, precisa da crise. Nenhum
governo pode evitar, nem o chinês: após o PCC estimular a economia de modo
artificial, o processo esgotou-se. O minério de ferro que o Brasil vendia para
a china saiu da hiperinflação para um preço pífio, o petróleo bruto que o
Brasil exportava caiu de 140 dólares o barril para 30 – 30! Isso pesou no
câmbio, que estourou, pois parou de entrar dólares no país. A reação do governo
seria aceitar a crise, do ponto de vista burguês, e suplicar por mais dólares,
por capital especulativo, aumentando os juros, o preço pago pelos papéis de
dívida do governo.
Em dois
anos, 2015 e 2016, o governo Dilma criou uma terra arrasada. Diminuiu-se a
concorrência por onda de quebras, o comércio recuou, o desemprego ressurgiu.
O governo
perdeu todo apoio das classes não burguesas. Quando surgiu os primeiros rumores
de queda do governo, logo após sua reeleição, surgiram notas dos sindicatos
patronais em defesa da governabilidade. Nesse momento, quando toda a esquerda
considerou histeria absurda falar em impedimento de Dilma, fiz uma nota
afirmando que, por razões econômicas, o governo iria cair – o problema seria
como. Mas eu mesmo não sentia o sabor ou o clima para isso, apesar de publicar
a previsão. Pouco tempo depois, tudo mudou: o golpe ou queda estava em jogo.
A coisa
tinha que ter algo legalista, pois a farsa deve parecer seu oposto. Com a ajuda
oculta dos EUA, um acordo ilegal de promotores e o juiz Sérgio Moro procurava
preparar o terreno para direita assumir o governo. Passou a perseguir os
grandes políticos para forçá-los ao impedimento de Dilma, para o PMDB e, se possível,
o PSDB assumirem o executivo. Prendeu-se Lula para evitar que ele assumisse a
próxima gestão federal. Veja-se: o PT reina na corrupção, de fato, mas o jogo é
entre oportunistas – quebrou-se a legalidade para forçar um arranjo de governo.
Mesmo que exista, e existe, corrupção no petismo, não foi o centro real do
problema, mas sua cortina de ferro.
Formalmente,
o golpe foi contra Dilma, sem o PT querer resistir de fato, mas foi na verdade
contra os trabalhadores. O PSTU diz que não foi golpe, portanto defendia o
artificial e fora do lugar FORA TODOS. Ora, se golpe ou não, o certo seria
forçar o regime, ou seja, pedir eleições gerais antecipadas e já. O fato é que
Dilma, por perder apoio popular, tornou-se incapaz de implementar mais medidas
contra a classe trabalhadora. Tal limite, que soou à burguesia como limite de
classe, como partido popular, foi a causa oculta da queda, do golpe.
Os EUA, por
seu lado, queria quebrar a construção civil brasileira, que havia se
internacionalizado com a ajuda do BNDS, e ter chances de acessar nosso novo
petróleo, do novo pré-sal. O jornalista William Waack, conhecido agente antes
secreto dos EUA, chegou a rir em seu
jornal da pretensão do governo de ser grande produtora de energia.
Dilma sabe e
sabia que a culpa de sua queda devia-se muito aos erros do governo, mas nunca
os petistas fizeram a autocrítica. Eles sabiam que Temer e Eduardo Cunha eram
oportunistas, a nata da bandidagem, até o talo, mas preferiu andar com eles.
Temer empogou-se: seria presidente do país, aprofundando o programa da
burguesia. Para garantir que ele fizesse tudo que a classe dominante queria, o
judiciário decidiu que ele estaria proibido de se reeleger. O objetivo era
fazer com que não tomasse medias populares para reeleição como fez Dilma. Sim:
há um poder que planeja tais coisas. No jornal, porém, tudo aprece apenas como
fato, apenas como juridicamente impedir de reeleger, mas a causa disso está
oculta ao povo.
Em 2017,
quando a situação de um giro, veio a greve geral contra a reforma da previdência
e a reforma trabalhista. A primeira paralização teve alguma força. Em protesto
nacional em Brasília, o PSTU, que estava internamente desmoralizado e em crise,
após ruptura, tentou ganhar moral entre os seus forçando um ato de vanguarda
irresponsável que avançou sobre prédios e locais públicos, enfrentando a
polícia. Para nada. O ultraesquerdismo, que alegrou tanto os militantes, não
era necessário naquele momento. O ato, melhor, sua forma foi revolucionária,
mas a intenção era oportunista – ainda que a organização não o seja. O fato era
que situação do país havia mudado, um giro negativo para nós surgiu.
Antes da
queda de Dilma, golpes já ocorriam na América Latina: Paraguai, Honduras. Quem
tivesse olhar internacionalista, logo perceberia a tendência a partir da crise
de 2008. Após o golpe no Brasil, a porta do inferno foi aberta, como a
tentativa na Bolívia ou na Venezuela. Eles têm um padrão comum: são golpes
reacionários, não contrarrevolucionários, ou seja, querem derrubar o governo,
não fechar, de todo, o regime. Além disso, tentam dar justificativas, como
legais, ao golpismo. Por fim, são contra governos de esquerda burgueses. Um
governo de esquerda, chamado frente popular, costuma ser a antessala de um
golpe. Isso é uma lei relativa: governos de esquerda geram golpes, não porque
são de esquerda, mas porque são incapazes de melhorar a vida da maioria dentro
do capitalismo.
No caso de
Dilma II, mesmo abandonando o apoio do governo, as classes trabalhadoras
desconfiavam do processo de golpe como algo feito para os ricos, contra a
maioria.
A LUTA DA
BURGUESIA CONTRA O PLENO EMPREGO
Como
dissemos, o pleno emprego foi a causa oculta de junho de 2013 – era sinal
invertido de uma crise em gestação. Pleno emprego é, para a burguesia, crise.
Ela precisava de uma quebradeira econômica para mais lucrar e mais dominar.
O desemprego
baixo deixa o trabalhador mais ousado, mais desobediente – as greves
multiplicam-se, os salários sobem, os gerentes ficam à flor da pele.
A burguesia
identificou o pleno emprego como ação do Estado. O aparelho investiu, reduziu
juros, estimulou a economia real e artificialmente. Por isso, para ela, era
necessário aumentar os juros, cortar investimento etc. A coisa tomou forma
séria e original: após quebradeira de Dilma, que seguiu a cartilha, Temer e, em
2023, Lula (!) garantiram um teto de gastos, ou seja, um impedimento de o
Estado investir, gastar, ampliar serviços. A burguesia rebela-se contra seu
próprio Estado, cerca-o e limita-o.
A onda
semi-keynesiana, semiestatista, chegou ao fim por decreto. A causa de fundo e
oculta das greves e lutas foi o emprego pleno – a causa da quebra das lutas,
desde 2017, foi a volta do desemprego. Em 2017, passamos para uma situação
reacionária. Não tanto pela queda do governo via golpe, mais porque vieram
grandes derrotas e o nosso lado recuou, enquanto a direita e a classe média
foram para a ofensiva.
No final de
2016, o empresário das lojas Riachuelo, disse: “O mito do Estado Robin Hood
acabou!” Eis aqueles que têm a escravidão como herança. A empresa, os donos, já
foi condenada na justiça por praticar escravidão, mesmo. Tal é instinto: a meta
dos patrões é impor condições chinesas de exploração do trabalho.
CRISE DO
PSTU
O momento de
crescimento mais lutas, até 2013, gerou esquerdização da vanguarda. O PSTU
crescia muito, o PSOL ia-se de crise em crise, grupos entravam naquele
primeiro, o PCB estagnava. Mas cresceu na classe média, estagnado na classe
operária. Isso gerou uma diferença que caiu na diversidade, na oposição e na
contradição. Após 2 décadas de recuo e quase estabilidade, o partido acumulou
vícios, muitos. Então, após 2013, a luta de classe levou à luta partidária: no
geral, duas frações de classe média surgiram na organização. Isso expressava a
realidade fraturada. Dentro de várias ações imorais dos dois lados, decidiram
por elevar o debate e esquecer a sujeita prática. A crise econômica social em
gestação afetou o partido, o que seria inevitável dada a composição social:
questões quase pessoais eram expressões ocultas de problemas da realidade
total.
A
organização quebrou-se em duas, surgiu o MAS, depois renomeada Resistência,
dentro do PSOL. Seu perfil centrista, hoje apoia o governo Lula, deriva de sua
composição social: muitos intelectuais, professores, operários aristocráticos (petroleiros)
e estudantes de alta classe média. Foram incapazes de fundar uma reorganização
revolucionária hoje necessária.
O PSTU é,
hoje, um partido sindical. Seu trabalho nos sindicatos, além de gerar
burocratização relativa dos dirigentes, gera empregados do partido no aparelho:
advogados, jornalistas, vigias etc. Há uma crise estrutural do partido, que de
algum modo se resolverá. Apresenta-se como centrismo ultraesquerdista. Sua
crítica foi feita por mim em outro momento.
O PSOL
cresceu após 2016 por dois motivos combinados: crise mais redução das lutas. O
recuo das lutas leva a ter esperanças no voto, não nas ruas. Têm-se esperanças
mais reformistas. O PCB também cresceu, muito; em parte, por causa de acertos
táticos e boa propaganda. O PSTU, mais consequente do que os dois citados,
estagnou; no fundo, como no PCB, parte dos dirigentes não quer o crescimento da
organização, pois isso lhes tiraria o poder partidário.
OS TRÊS
PODERES
Nos últimos
anos, Ciro afirma que, se eleito presidente, cada poder voltará para sua
caixinha. Mas ele deixa de explicar o motivo deles estarem instáveis e suas
funções. É, grosso dito, a crise do regime como efeito da crise econômica. O
mais destacado: cada vez mais, o judiciário legisla e age como executivo. Foi por
isso, então, que até a justiça começou a se desmoralizar perante as massas: de
um órgão na aparência neutro e acima da política, para algo político e, no
mínimo, cheio de problemas. Um caso curioso, vejamos. O PT decidiu não lutar na
rua contra o golpe, escolher a cair fazendo teatro de resistência, mas às vezes
passa do ponto de acordo. No senado, Gleisi Hoffmann (PT) levantou a voz contra
o golpismo; então, o tradicional homem da ordem burguesa, Renan Calheiros,
pretextou ao microfone da tribuna em seguia, dizendo que a senadora havia
prometido ao supremo não ser contra o impedimento (golpe), contato ela e seu
marido não fossem “vítimas” da justiça por motivos de um caso de corrupção…
Está gravado para a eternidade. O rosto dela constrangida é impagável, aliás.
Renan exigiu dela a palavra e a lealdade prometidas!
PERSONALIDADES
A história
também é feita por indivíduos e seus perfis, portanto destaquemos alguns.
Dilma.
Incapaz de fazer um discurso inteiro coerente, tratava-se de uma mulher
honestíssima, mas incapaz para a política. Seu papel no PT era de quadro
interno, nenhuma dose de trabalho público. Por improviso, com os principais
quadros do PT presos, ela foi escolhida como a figura dos oprimidos, do
operário para a mulher.
Eduardo
Cunha. Do ponto de vista clínico, o presidente da câmara dos deputados, na data
do golpe, nada mais é que um psicopata, mesmo. Lula deu a ele a Caixa econômica
para roubar… Líder do chamado baixo clero, tornou-se habilidoso em burlar
estatutos e roubar. A partir de certo ponto, fez do jogo e do holofote seu
centro. Certo momento, disse que não encaminharia o processo de impedimento
porque isso o derrubaria no outro dia… Mas, por não ter emoção, psicopatas
erram: o dia da votação na câmara, ao vivo para todo o país, demonstrou os que
votavam o “sim” como palhaços ou caricaturas, enquanto do voto “não” como gente
séria. Foi um show de horrores.
Temer.
Homem de aura sombria, como indica seu
próprio nome, tinha seu discursos para assumir a presidência “vazados”. O PT
sabia de sua índole, e exato por isso o escolheu na tentativa de controlar o
PMDB.
Aécio Neves.
Tão logo perdeu a eleição, pediu vistas para rever os votos. Traficante – disse
Jucá: todo mundo sabe do esquema do Aécio! –, tentou de tudo para dar o golpe
e, via PMDB, colocar o PSDB no poder. Em certo momento, vaza na Globo ele
pedindo para seu primo assumir um cargo, pois, qualquer coisa, bastava
matá-los… Aécio não iria sequer ao segundo turno, não fosse a queda misteriosa,
durante o primeiro turno, do avião de Eduardo Campos, única capaz de tirar
Dilma do poder.
Jucá. O
suprassumo do oportunismo, sua função foi preservar em modo de máfia o regime.
Ele tomou a iniciativa de fazer um grande acordo – até com o supremo – para
garantir a queda de Dilma – estancar a sangria – e preservar os políticos
oficiais. Jucá foi parte de um projeto
milionário para comprar deputados e senadores, que deveriam dizer “Em nome de
Deus e da minha família!” durante seus votos. O lado petista também tentou
comprar. Corioso que Tiririca, um palhação por profissão, negou-se, de início,
e com violência em ser comprado. Logo um palhação agiu de modo sério… Mas, após
pressões, cedeu.
Sérgio Moro.
Juiz de baixa estatura intelectual e moral, péssimo orador, mal podia disfarçar
que sua função era garantir o golpe contra Dilma e servir indiretamente ao
imperialismo, além de ao PSDB. A mídia televisiva, perdendo espaço para a
internet, viu no espetáculo jurídico uma forma extra de lucrar mais; assim, o
vilão foi visto como herói. Aproveitou erros e desvios da lei para promover uma
completa deformação jurídica. No mais, como já demonstrado, todo o processo era
uma farsa, pois ele trabalhava, o que é ilegal, junto com os promotores.
Depois, participou do governo Bolsonaro, algo inaceitável em qualquer país
visto que ele ajudou aquele a se eleger. Quando a ele foi negado a vaga no STF,
rompeu com o governo e ensaiou uma candidatura própria à presidência; mas
preferiu garantir um cargo via Senado. Há que destacar: após demitido do
governo, contratado pela empresa que lucrou com a perseguição contra as – de
fato, corruptas – empreiteiras brasileiras. Um absurdo após outro, que acontece
no Brasil sem pudor por se perfil enlouquecido.
SOBRE AVIÕES
De modo
misterioso, o avião de Eduardo Campos (PSB) cai em plena eleição, quando ele ia
para seu auge eleitoral. É verdade que, com a comoção gerada, a vice, Marina
Silva, poderia ganhar o pleito, mas ao discursar para os ricos em busca de
apoio na classe dominante (defendendo autonomia do banco central etc.), perdeu apoio
popular. Depois, no dia em que levaria à frente a investigação dos principais
nomes corruptos do poder oficial, o avião de
Teori Zavascki cai – também. Meses antes, seu filho já falava, de modo
nebuloso, sobre ameaças à família e ao pai.
Vale um caso
apenas curioso, sem quedas de aeronaves. Assim que um parlamentar do Maranhão
assumiu a câmara dos deputados, ele tentou ser herói e usou o regimento da
Câmara para recuar do processo de impedimento de Dilma. Esse homem foi tão
ameaçado que recuou de modo vergonhoso; depois, uma série de processos, por
corrupção etc., foram abertos contra ele, mesmo após o recuo. Ele foi, assim,
desmoralizado. Deveria servir de exemplo para disciplinar os demais. O roteiro
estava pronto e deveria ser seguido…
SOBRE JUROS
Uma das
raivas da burguesia contra Dilma foi que manteve a taxa de juros baixa de modo
artificial para se reeleger – mas, com Levi, uma vez reeleita, disparou a mesma
taxa. Porém, após a quebradeira de 2015 e 2016, de 2017 em diante a economia
apenas patinou. Começou, após inflação, uma deflação ou inflação perigosamente
baixa. Não podendo aumentar os gasto públicos, desde Temer tentou-se liberar
todo tipo de benefício retido nos bancos. Mas não foi suficiente: os juros
chegaram a 2% - 2%! – sob um governo de extrema direita! Algo inédito. Isso
refuta o discurso fácil e o “falso socialismo” (Marx) de que há apenas máfia
dos bancos manipulando juros altos etc. na medida do possível, a burguesia leva
a sério a gestão de seu sistema. Para eles, o universo inteiro é simples:
inflação, logo sobem juros – deflação ou baixa inflação, logo descem juros. São
incapazes de raciocínio mais sofisticado.
O ponto alto
da reação burguesa no tema foi a independência do Banco Central aprovada, mas
de maneira ilegal por ser em votação virtual durante a pandemia. De qualquer
modo, o presidente ou o Senado podem solicitar sua demissão, do presidente de
tal banco. A graça toda é que, em 2023, Lula finge que não pode demitir o
diretor para melhor por culpa nos juros altos juros nos lugar de nos limites de
seu governo. A intenção da burguesia não era exatamente oferecer o Banco
Central aos banqueiros, que de fato formam grande máfia no Brasil, mas blindar
a política econômica de fatores como a vontade do governo de se reeleger, tal como
fez Dilma. Por exemplo: a taxa de juros cresceu e permaneceu alta durante a
tentativa de reeleição de Bolsonaro.
Complementemos
o roteiro. Após evitar a perigosa deflação, o Banco central cometeu o erro de
manter os juros muito baixos por muito tempo, erro de cálculo. Isso afastou
dólares, capital especulativo; os títulos da dívida, ao pagarem menos,
tornaram-se menos atrativos ao “investidor” internacional. Assim, o câmbio
estourou, até 6 reais 1 dólar – e todos os importados ficaram caros, incluso os
insumos da indústria. Assim, os combustíveis nacionais, mas lastrados em dólar,
na PPI, explodiram de preço, o que afetou os demais preços e a economia em
conjunto. (A PPI foi feita para o investidor estrangeiro na Petrobrás lucrar o
mesmo, independente da variação de câmbio – mesmo que isso prejudicasse a
maioria, os trabalhadores e da classe média.) No mais, com dólar nas alturas,
os nosso produtos primários, como o agronegócio, venderam como nunca, muito –
começou a faltar alimentos no mercado interno, agora exportados, logo aumento
dos preços. Isso começou a ser resolvido com o disparo da taxa de juros do
Banco Central, para acima, enfim, de 13%, algo anormal em qualquer país, mas
comum no nosso desde a década de 1990, que manipula o câmbio via juros para
combater a inflação. Isso, em 2013, começou a gerar queda do câmbio, por isso
queda dos preços importados, por isso queda dos combustíveis – por isso, meses
de deflação! Ademais, a inflação dos alimentos, estimulou o crescimento da
oferta com algum inevitável atraso, típico do setor, como a espera da próxima
colheita. Nessa montanha russa de queda e ascenção dos juros, o Estado adia sua
crise final como pode.
Podemos obter
uma conclusão, demonstrada a seguir pelos números: desde o primeiro estouro
absurdo dos juros no início da década de 1990, observamos a tendência 1) os
juros da dívida pública tendem, cada vez mais, a ficarem menores; 2) o auge de
juros seguinte apenas com dificuldade chega, se chega, ao auge anterior; 3) o
mínimo posterior tende a ser menor que o mínimo de taxa de juros anterior.
1994 68,91
1995 53,38
1996 27,46
1997 25,02
1998 28,99
1999 25,85
2000 17,44
2001 17,34
2002 19,19
2003 25,50
2004 16,50
2005 18,25
2006 18,00
2007 13,00
2008 11,25
2009 11,25
2010 8,75
2011 11,25
2012 10,50
2013 7,25
2014 11,00
2015 12,75
2016 14,25
2017 13,75
2018 7,00
2019 6,50
2020 4,25
(Fonte:
http://www.ipeadata.gov.br )
Nos seus
ziguezagues, a taxa de juros tende a zero, real e nominal. Ou seja: a
ferramenta de adiar e arrastar a crise sistêmica via manipulação dos juros, ou
seja, do câmbio, ou seja, também do orçamento estatal, tende a esgotar-se de
maneira relativa, como um dos meios – ainda que o Banco Central não tenha
consciência histórica de seus atos.
De maneira
grosseira e aproximativa, as causas são as seguintes: 1) em tendência, a taxa
de juros cai cada vez mais, quando há queda, porque é cada vez mais difícil estimular
a economia, que está no seu limite sob bases capitalistas num país não
imperialista; 2) em tendência, sobe cada vez menos, quando sobe, porque a taxa
de juros mundial, lastrada na taxa de lucro em queda secular, tende a subir
menos no mundo rico, logo, menos concorrência entre moedas. De modo direto, um
marca a crise sistêmica interna; outro, a crise sistêmica mundial.
O ERRO DOS
REVOLUCIONÁRIOS APÓS O GOLPE
Já dissemos
que o certo seria chamar por eleições gerais diante do golpe. Mas nenhuma
corrente relevante, à época, lançou o chamado. Com a crise, surgiu desemprego
crônico, mais gente desempregada, se incluirmos os informais, relativos aos com
carteira assinada. Qual foi, então, a política da esquerda radical contra tal
nova situação? Nenhuma, nenhuma. O PSTU, por exemplo, está povoado de
servidores públicos estáveis, classe média e sindicalistas que pensam apenas
nos contratados, na luta sindical direta. Por isso, incapaz de ver a tempo a
política correta, qual seja, chamar pela escala móvel de tempo de trabalho, ou
redução da jornada para 30 horas semanais sem redução dos salários – desemprego
zero! Tal política exigiria, primeiro, grande agitação nas bases, depois, uma
frente única por tal pauta, depois, um encontro nacional para amplificar a
luta. Mas nada foi feito. Se fizéssemos, poderíamos gerar uma situação
pré-revolucionária e reverter o momento geral.
Outro
problema foi que o PT incentivou o consumo popular via dívida. Quando a crise
veio, trazendo consigo o desemprego, ficamos inadimplentes, ou seja,
endividados – mais de 70% das famílias. De novo: qual a política da esquerda
radical para um problema tão gritante? Nenhuma… O certo seria chamar a anulação
total e irrestrita da dívida dos trabalhadores e pequenos empresários.
Veja-se que
um jovem marxista do Piauí está fazendo um balanço de política que quadros de
comitê central partidário foram incapazes de fazer… Isso é um absurdo, uma
distorção, mas explicação há.
Mal
Bolsonaro foi eleito, ou seja, com máximo apoio, PSTU e outros chamaram o
“fora”. Algo irresponsável. Apenas chamamos o fora governo se ele deixa de ter
apoio popular. No mais, nem sempre chamamos, mesmo nessas condições: havia o
risco de o vice militar assumir! Logo, o certo seria desgastar o governo ao
máximo – e chamar o fora, se chamar, apenas no caso do governo perder largo
apoio.
Outro erro,
algumas organizações foram contra formar frentes de esquerda diante da situação
reacionária e o crescimento da extrema-direita. Tal unidade não seria a solução
para todas as questões, mas seria um começo e uma importante ajuda.
A REVOLTA DA
CLASSE MÉDIA
O militante
reformista diz odiar a classe média, mas apenas porque ela não vota nos oportunistas
de esquerda. No mais, inevitável que sua ala mais aristocrática esteja com a
burguesia, embora tenha inveja dela, e com a direita.
A classe
média tomou para si os métodos de luta dos trabalhadores, exceção das greves. O
governo PT tinha que agradar a burguesia e pacificar os trabalhadores – logo, a
classe média saia perdendo, pois alguém deveria sair prejudicado. O programa
“Mais Médicos”, por exemplo, era uma reforma positiva do governo Dilma como
resposta à Junho de 2013, mas prejudicava a classe média aristocrática dos
médicos, que tinha de lidar com concorrentes, pressão para baixar seus grandes
salários. O petismo garantiu pleno emprego e formalização da carteira de
trabalho para empregadas domésticas, o que estressava as dondocas de
apartamento. Os gerentes sentiam raiva da ousadia dos trabalhadores. Não
bastasse, no auge da crise, o estouro do câmbio, impedia viagens para Disney e
encareceu os desejados produtos importados… Despois, o preço da gasolina
cresceu, e toda classe média ama usar seus bons carros.
Com cinismo,
a alta casse média foi para as ruas. Diziam defender o país contra a corrupção;
mas, no fundo, todos sabiam que estavam por lá contra os pobres, os
trabalhadores, as empregadas domésticas. Quando digo cinismo não é modo de
dizer. Como seria negativo para todos falar das pautas reais, fingiram que as
pautas eram morais. Para eles, petismo era sinônimo de dar vantagens aos pobres
e trabalhadores contra a classe média. Não era, de todo, um engano, havia base
empírica. Assim, a classe média foi para a direita e aproximou-se ainda mais da
burguesia – então, do fascismo.
Protestos e
orações na porta de quartéis, pedidos de golpe militar, debate contra educação
do povo (contra Paulo Freire), teorias da conspiração, contra as leis trabalhistas,
seguir um falso filósofo irracionalista-conspiracionista do tipo de Olavo de
Carvalho (para ele: a Terra é plana e outras tantas coisas absurdas mais).
Marçons diziam: “Às masmorras os comunistas!” Torturadores passaram a ser
homenageados…
Vale um destaque:
todos, incluso a direita, falam de comunismo todos os dias – menos os
comunistas! Um panfleto popular sobre como será a próxima sociedade seria algo
de sucesso dado o tema. Por todo canto, há acusação de comunismo, sobre o qual
não se sabe muito bem.
Voltando á
classe média. O pequeno e médio comerciante odeia os diretos trabalhistas, mas
também odeia a bandidagem (que invade seu local de renda). E a esquerda nada
tem de programa para resolver a violência urbana extrema do Brasil. Assim a
extrema direita e o fascismo ganharam apoio entre eles com demagogia e com
proposta de armamento da população. Isso merece destaque: toda pauta
democrática, como feministas etc., não são em si nem de direita ou de esquerda.
Logo, o armamento popular, com preços baratos, faz parte do projeto de
segurança da extrema-esquerda, ou deveria.
REELEIÇÃO DE
LULA E 8 DE JANEIRO
Bolsonaro,
após perder a eleição, foi chamado a organizar o golpe. Mas ele temeu, covarde
que é, e viajou para os EUA no último momento. Então, problemas de organização
surgiram, o ato que daria pretexto ao golpe começou atrasado, depois da hora,
depois de o governo assumir, 8 de janeiro. A minuta “jurídica” do golpe já
estava escrita e impressa.
Os generais
e alta patente são, hoje, parasitas vagabundos; para eles, governar dará muito
trabalho… Mais ou menos, deixaram a chance passar. Mas, onde teve apoio, o
protesto golpista não foi reprimido.
O governo
sabia via inteligência que o ato ocorreria, e deixou ocorrer. Se reprimisse,
perderia moral; se não reprimisse, sairia como vítima.
Com a
derrota eleitoral, com o escândalo da morte de indígenas etc. a direita foi
para a defensiva. Mas tentou reverter a situação, em vão. Agora, enquanto
escrevo, os parlamentares de direita tentam de novo reverter a situação:
avançam, fazem CPI do MST, aprovam leis absurdas, perseguem as parlamentares
mulheres de esquerda, chantageiam o governo etc. Ainda possuem chão.
O governo
dos EUA foi contra o golpe por três razões: 1) fortaleceria a oposição nos EUA,
Trump; 2) as condições para um golpe ainda não estavam mudarias, o que
incluiria uma desmoralização geral do regime democrático; 3) ditaduras têm
chances maiores de, durante a luta interimperialista EUA-China, ganhar
autonomia, mediar dos dois lados e afastar-se.
HADDAD
O
ex-prefeito de São Paulo, ainda no governo municipal foi incapaz de se
reeleger, sequer de ir a um segundo turno! Ainda assim, Lula forçou que o
professor da USP fosse seu candidato em 2018 e seu futuro herdeiro político. No
principal ministério do novo governo, Haddad trata de provar à burguesia que é
o melhor nome para o futuro no Estado burguês, após a era lulista. Assim, vai
ganhando rejeição e desconfiança. Como Lula não quer mais tratar dos detalhes
de rotina governista, o paulista cuida disso. Haddad tem sido centro de
gravidade das, segundo ele mesmo, medidas impopulares. Ele tem a ânsia de ser o
preferido dos empresários. Graças ao seu esforço, o novo teto de gastos, por
exemplo, foi aprovado. Não é exagero caracterizá-lo como idiota oportunista. Se
o PT mandar dizer A, ele diz A; se mandar, ao contrário, dizer B, diz B. Quando
mais uma vez foi candidato, contra seus fracassos, em 2022, fez questão de
atacar o PSOL como principal inimigo… O PSOL, que na figura de Boulos queria se
dobrar ao petismo o quanto antes, recuou e decidiu apoiar o rapaz… Haddad quer
ser o novo amigos dos banqueiros. Tem algo a seu favor: os paulistas querem
monopolizar, desde a força de sua indústria, a política nacional. FHC quebrou
Minas Gerais e Rio Grande do Sul contra suas rebeldias históricas antipaulistas
do passado. Haddad, um liberal de esquerda, quer para si o legado sombrio. É o
Fernando Henrique do PT.
BOLSONARO E
BOLSONARISMO
Em meus
textos, via a possibilidade de o bolsonarismo ganhar força de massas. Mas, mais
uma vez, não sentia o sabor de minhas próprias palavras. A figura era risível,
expressava-se mal, passava vergonha nos debates – seu interesse por
candidatar-se teve algo de delirante. Mas ele estava baseado num chão que
pendia, também, para a radicalização à direita.
Como se
sabe, de um candidato medíocre e sem chances, ele ganha total força após um
atentado contra sua vida em um encontro de rua com apoiadores. O sentimento de
solidariedade pendeu para o messianismo (por curioso, seu nome tem Messias).
Duas coisas
devem ser ditas, ainda não vistas por mim em nenhuma análise. Primeiro: com a
prisão de Lula e toda a confusão política de nosso tempo, como o impedimento
(golpe), o povo deixou de acreditar na via política normal, no dito popular,
“virou bagunça” – muitos dos que votaram em Bolsonaro votariam em Lula.
Segundo: com junho de 2013, gente oportunista, de moral destrutiva (até consigo)
e sem responsabilidade, de repente, teve de tomar partido, escolher, ter
opinião; assim, procuram o mais ridículo, absurdo e caótico possível para se
representarem.
Se a facada
foi falsa, uma armação, uma peça de propaganda – apenas o futuro poderá ter chance
de desmascaras, se o caso for. Nós temos que aceitar os fatos até aonde eles
nos informam: o atentado, para todos os fins, foi real. Mas o que mais importa,
mesmo se sim ou se não, são suas consequências políticas.
Fato é que
Bolsonaro tem relação com máfias milicianas. Fato é que, de algum modo, ele tem
relação com o assassinato de Mariele, a vereadora do PSOL. Ninguém pode dizer
isso de modo direto e clero, sob risco de processo. Todos sabem, mas todos
falam baixo quando falam sobre. Mais uma vez, não podemos avançar aqui sem mais
provas, sob risco de cair em conspiracionismo.
Bolsonaro,
como um lupem oportunista, queria fazer da presidência suas férias especiais.
Trabalhar não é com ele: passeava, portanto, quanto podia. Mas caiu a bomba da
pandemia nas suas costas. O que, então, ele fez? Manteve as férias permanentes,
disse que não era coveiro. Assim, fomos o país com maior número de mortes.
Se o PT e
Haddad fossem responsáveis, teriam feito unidade eleitoral com Ciro,
elegendo-o. Mas o PT sempre, de um modo ou outro, prepara o caminho do
fascismo, ajeita a cama para eles. Preferiram a derrota, que sabiam ser certa
numa tática de chapa própria. Eles erraram de propósito, aceleraram
negativamente a história. A ideia era deixar a terra arrasada para depois
voltarem ao governo, talvez com Lula solto. Veja-se: Lula não chamou para os
atos pelo Fora Bolsonaro e não assinou nenhum dos pedidos de Impedimento do
então presidente. Ele queria Bolsonaro como seu adversário, queria arriscar o
pescoço da esquerda e do país em nome de maior facilidade para se eleger.
Por pouco,
muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu. Se ele tivesse tomado mais medidas
populares, o risco seria ainda mais alto. Reduziu muito, via corte de impostos
necessários, o preço dos combustíveis; garantiu uma bolsa de 600 reais; fez
concessões etc. Mas ainda não foi o suficiente. Ele se apresentava como
“candidato contra o sistema”. No fundo,
ele era uma expressão deformada e inversa da raiva sistêmica da maioria em
forma de instinto.
CONSPIRAÇÃO
E CONSPIRACIONISMO
Sobre esse
assunto, há dois caminhos errados e o correto caminho do meio. De um lado,
afirmam conspirações em todo canto, como se história se movesse de modo
organizado por manipulação de alguns poucos indivíduos. De outro, há um realismo
inocente que deixa de entender que ah história, também inclui algo nível de
conspiracionismo. Por que os dois aviões caíram? Tendo a por a culpa na ABIN,
serviço secreto nacional, mas não tenho prova alguma para supor algo do tipo,
logo, não devo defender hipóteses. Mas, que há movimentações de bastidores, há
– claro, influenciam sem controlar o destino da nação. Do ponto de vista
matemático, impossível esconder uma conspiração. Mas o fato de ela ser
descoberta não se deduz de modo mecânico que ela será evitada, desmascarada
etc.
POR UMA
CONCLUSÃO
Insatisfeita
com a situação desde 2013, as classes médias deram base para uma nova
extrema-direita com seus protestos. Militares e grupos de luta marcial
alinharam-se, grosso modo, ao neofascismo, um pré-grupo de combate. Inúmeros e
nacionais grupos fascistas discretos ou secretos existem hoje, esperando o
melhor momento para expor-se com clareza. É a luta de classes quando há crise
semiconstante do capital, ao tempo de decadência do sistema. Os revolucionários
devem conquistar a classe trabalhadora jovem e, então, por sua força,
conquistar parte da classe média. Por exemplo, nós teríamos maior simpatia se
liderássemos uma campanha por redução drástica do preço dos combustíveis quando
eles atingiram um exagerado auge. De novo, nada fizemos.
Temos risco
de fascismo, sim, mas porque temos risco de socialismo. O fascismo é uma reação
ao movimento operário e seu projeto estratégico. É uma reação desesperada da
pequena burguesia á crise final o capital, embora não saiba. Um ditadura
bonapartista, militar, deve decair em fascismo neopetencostal para manter-se
minimamente estável num país de capitalismo decadente, dominado pelo
imperialismo e urbano.
A esquerda
radical apenas finge que abriu os olhos. Temo que apenas uma ditadura faça a
renovação necessária dos quadros e dos perfis dos partidos vermelhos. Não
poucas vezes, como na crise do PCB em 2023, parece que precisamos de uma
organização nova e limpa, sem os entraves das velhas. Mas espero estar errado,
muito errado. De qualquer modo, acostumados e viciados em voos rasos, nossos
dirigente estão aquém da tarefa, incapazes de governar. E a questão toda é
governar.
Junho de
2013 já dura 10 anos. Aquele mês de lutas não acabou, portanto. Somente anos a
fio de crescimento econômico poderiam diminuir as tensões, ou seja, adiar o
inevitável conflito; um crescimento da economia algo, hoje, improvável.
A crise da
democracia burguesa no Brasil é apenas a manifestação da crise geral do
capitalismo. Para evitar a revolução e a guerra civil, os militares passaram o
poder para os partidos da ordem, a redemocratização na década de 1980. Diante
de greves e rebeliões, a burguesia concedeu o SUS, a educação pública
universal, alguns novos direitos como participação nos lucros e resultados etc.
Teve de ceder. A democracia, para os ricos, custa caro. A questão para eles é
esta: como amortecer a luta de classes? Ceder ou impor uma nova ditadura? Com a
queda da taxa de lucro, com a industrialização da China, com a crise mundial
sistêmica, com a altíssima urbanização – ceder já não podem e, por isso, não
querem. A democracia representativa desmoraliza-se porque se tornou incapaz de
melhorar a vida da maioria. Aproxima-se o colapso. A culpa, claro, não é em si
do regime, pois o capitalismo brasileiro e mundial encontrou uma parede impossível
de ser superada por meios comuns. Por outro lado, apenas outro regime, a
democracia socialista, poderemos fazer o país do futuro no presente. Como deve
ser.
Ser oposição
de esquerda ao governo Lula é a única alternativa moral e política consistente.
Se a crise mundial próxima for muito forte, desmoralizará o lulismo. Se o povo
tiver apenas a direita, ou pior, a extrema-direita como alternativa, teremos a
mais dura derrota sob a democracia.
Lulismo e
petismo são juntos, mas diferentes; o petismo decaiu mais do que lulismo, que
ainda tem certa moral, embora tenha perdido na eleição nos estados centrais. O
lulopetismo é um dos alicerces do regime democrático burguês, mesmo. As novas
gerações já cresceram e crescem tendo o governo petista como parte da ordem e
do poder. São, então, menos iludidos, ainda que o apoiem. No meio militante,
diz-se: filho de petista, PSTU é (caso, por exemplo, do autor). Assim,
aceleramos a experiência com o reformismo coma ajuda da renovação geracional.
As tarefas
burguesas do Brasil foram cumpridas: industrialização, urbanização e moderna
propriedade rural. Podemos acrescentar, por exemplo, que temos muito mais
especialistas e, ademais, capacidade de formar novos. Por enquanto, temos
engenheiros formados a trabalhar como taxista da Uber…
Mesmo
crescimentos fracos depois de 2015 e 2016 foram incapazes de tirar da sociedade
a tensão tênue presente em cada casa e local de trabalho. Tudo é econômico.
Enquanto não resolvermos tal nó, nada resolve – para isso existe o assim
chamado Programa de Transição, a política econômica dos trabalhadores, hoje
esquecido ou mal usado.
A extrema
esquerda tem ido de erro em erro e deve agradecer por ainda resistir à crise
interna das correres e à tendência de isolamento. Não é exagero dizer que erram
muito e em quase todas as questões importantes. Mas não precisava ser assim,
dadas as décadas de militância dos principais quadros. A pergunta de um milhão
é esta: por que erram? Ou melhor: por que necessitam errar?
Não há mais
saída para o capitalismo brasileiro. Dito isso, a tarefa, agora, trata-se de
preparar as condições para dirigir uma revolução ou impedir uma
contrarrevolução. Se os militares tivessem dado um golpe em 2023, seria como
1964, ou seja, sem resistência real. Tal é nossa situação. Os dirigentes de
esquerda iriam se exilar no exterior enquanto os militantes de base iriam para
tortura. No fundo, os velhos quadros perderam a esperança com a revolução,
tornaram-se cínicos. Eles evitam ao máximo confessar isso, mas esta é a
verdade: eles envelheceram e, ainda, não viram o grande momento. Desde a queda
do muro de Berlim, o cinismo e o teatralismo tomou conta: falamos de revolução
e socialismo, mas isso é apenas modo de dizer, algo que, no fundo, não se leva
de fato tão a sério. E a democracia, então, adestrou tais quadros. Há uma crise
dos nossos partidos vermelhos, devemos reconhecê-la.
A conclusão
deste ensaio quer ir junta da conclusão da história, de Junho de 2023. A
realidade tensa e dinâmica pressiona por renovação, por elevação. O dia, além
do tempo, das nossas vidas está mais perto do que longe, pertíssimo. Se nos
prepararmos, ganharemos. Nunca podemos fazer do futuro uma roleta russa.
Sim, o
Brasil tende a uma revolução. Sim, tende à guerra civil. Sim, tende à crise
crônica. Sim, há ameaça de fascismo. A vida é dura, mas bela. Não diga, depois,
que não avisamos. Apenas o socialismo pode erguer a civilização brasileira. É o
momento mais decisivo de nossa história – haverá um antes e um depois. Os
socialistas que consideram isso exagero, perderam a fibra vital do coração e do
pensamento. A verdade grita, está aí. Devemos aparecer ao país como os mais
ousados e, ao mesmo tempo, os mais responsáveis e sérios. A radicalização da
realidade exige contrapor uma outra radicalização, nada de bom-mocismos. Em
todo o mundo e no Brasil, a extrema-direita tem roubado nosso papel de ser
antissistema, anti-Estado, de denúncia da falsa democracia etc. Tenhamos
vergonha e levantemos a bandeira correta e de modo correto. Já sabemos perder –
chegou a hora de aprendermos a vencer.
HIPÓTESES
SOBRE O PIAUÍ
Na história
oficial: pesquisar sobre um manicômio no Rio de Janeiro é história nacional –
no Piauí, história regional… Ao menos para fins de alargamento de análise, vale
ao leitor ver o caso do mágico Reino distante do Piauí.
1. Boi,
vaqueiro e escravidão
Para evitar
que os ricos plantios, cana etc., fossem comidos pelo gado – criou-se tais
seres à distância. O Piauí foi uma potência bovina. Mas num tempo de escravos…
Ora, o boi era criado solto, criação extensiva – a liberdade da coisa, da
mercadoria, levou à maior liberdade do trabalhador; menos escravos e mais
vaqueiros. Mas é uma lenda afirma que no Piauí não houve escravidão.
Porém, o
Piauí nada tinha a oferecer ao mercado mundial, logo, perde boa parte do laço
com ele. Assim, o comércio capitalista estimulava a escravidão, muito menos no
Piauí. Temos dois fatores, baixo comércio intercontinental e liberdade bovina,
contra a escravidão. O outro era o baixo mercado interno na província. Ora, era
um lugar de passagem, de movimento, logo, um lugar mais transitório, contra as
correntes.
2. A pobreza
na história
O Piauí tem
pobreza na sua história no capitalismo, porque é distante de si e do mundo,
como diz João Cláudio Moreno. Há menos para historiadores.
3.
Positivismo prático
Com economia
fraca, o Estado tornou-se relativamente forte e superior. Um positivismo
prático leva ao positivismo na historiografia.
4. Efeitos
social, geográfico e biológico
A pobreza da
terra estimulou a pobreza da economia – tão simples quanto isso. A população baixa e o abismo de classe;
levaram à reprodução entre parentes, o que talvez deva ser levada em conta.
Talvez, até ao alto índice de suicídio deva ser considerado com fatores
extressantes como o calor.
5. Entre
dois gigantes
O Piauí é
esmagado entre dois irmãos, Ceará e Maranhão. A indústria prefere ambos ao
primo pobre. Pernambuco e Bahia, de certa foam, devem ser considerados já que
fronteiriços.
6. Teresina
- cosmopolitismo regional
É uma
“cidade artificial” que se torna cada vez menos isso, apesar do pesares. Ela é
casa de migrantes. Assim, mistura culturas e sotaques.
7. A
Diáspora homossexual
De maneira
invisível, o homossexual vai para sul e sudeste do país sempre que pode, sempre
que não há outro jeito. Algo a ser levado a sério pela teoria.
8. 2011 –
aviso ao país
Os protestos
de 2013, marcos no país, tiveram um aviso – junho de 2011 em Teresina. As
causas imediatas e externas de ambos são os mesmos: aumento da passagem de
ônibus mais repressão policial.
9. Ânsia modernizadora
do povo – contradição e comunicação moderna
O piauiense
é fetichista sobre sul e sudeste. Por querer ser como fantasiam eles, coloca
para si um alto nível, alta meta, alto padrão. Por resultado, vez ou outra
surpreende as demais regiões, como a qualidade dos alunos e a educação acima da
média. Mal se sabe da mediocridade dos professores da USP…
10. A força
do petismo
Os votos do
PT em 2022 foram enormes no Piauí, 70% para Lula. Grosso modo, o petismo fez no
estado apenas o “feijão com arroz”, mas os antecessores de direita nem o básico
faziam. Por outro lado, os líderes do PT, como Dias, com o Estado forte
relativo à economia, controla como um quase imperador os meios de comunicação,
a oposição, os movimentos sociais etc.
11. Peso
anormal nos cargos nacionais
Nos cargos
do Senado, ex-governador como ministro, Ciro Nogueira como homem do governo
federal etc. São casos de destaque incomum de membros de um pobríssimo Estado.
Por quê? Porque nossos políticos oficiais representam o atraso, o atraso derivado
do atraso do Estado, o atraso no qual a classe dominante quer nos aprisionar.
12. Projetos
possíveis
Teresina
(centro) não quer um porto em Parnaíba (norte) ou um forte turismo em Serra da
Capivara (sul). Isso lhe tiraria poder e centralidade, em parte artificiais.
Por outro lado, um porto, já havendo no Maranhão e no Ceará, apresenta-se como
de fato desnecessário, uma vaidade megalomaníaca provinciana.
Mas projetos
podem ser feitos. Por exemplo: uma rede ferroviária de mercadorias e turismo
que vá de Fortaleza, passa por Parnaíba, passa por Sete Cidades, passa por
Teresina, passa pela Serra da Capivara e vai até a fonte de alimentos (e
turismo) Juazeiro-Petrolina. Assim, transporta-se de modo eficiente e barato os
grãos do cerrado piauiense, garante rede integrada de turismo, barateia
mercadorias importadas (o que barateia a força de trabalho etc.). O plano de
obras públicas, com outros projetos, aquece a economia. No mais, pode-se
financiar, por exemplo, cobrando 8%, não 4%, do imposto sobre heranças.
13. Batalha
do Jenipapo
Do ponto de
vista militar moderno, o português Fidié, mesmo experiente contra Napoleão, ir
ao Piauí tomar parte do território do Brasil diante da independência – foi uma
loucura. De todo cercado, população hostil, resistência, geografia (terreno)
incomum, longe da fonte de insumos etc. Mesmo com toda dificuldade e exigência
de heroísmo, o Piauí tendia a vencer. Bastava, antes, medir . Ele até venceu a
batalha, mas a guerra estava perdida de começo.
APÊNDICE III
COMO
ELABORAR POLÍTICA MARXISTA
Minimanual
do revolucionário
Crítica à
direção do PSTU
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