A
FUNÇÃO HISTÓRICA DOS EX-ESTADOS “SOCIALISTAS”
“Estamos no
socialismo, mas os dirigentes já estão no comunismo.”
Ditado popular
soviético.
“Contudo é preciso
lembrar que uma economia planejada ainda não é socialismo. Uma economia
planejada pode ser acompanhada por uma escravização completa do indivíduo. A
realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sociopolíticos
extremamente difíceis: como é possível, em face da centralização abrangente do
poder político e econômico, impedir que a burocracia se torne todo-poderosa e
prepotente? Como se podem proteger os direitos do indivíduo e garantir com isso
um contrapeso democrático ao poder da burocracia?”
“A atual geração do
povo soviético viverá sob o comunismo [na década de 1980].”
Nikita Khrushchov,
em 1962.
“Nada pior pode
ocorrer ao chefe de um partido radical que se viu obrigado a tomar o poder em
uma época em que o movimento não está ainda maduro para a classe que representa
e para a execução das medidas que exigem o domínio dessa classe (...) O que
pode fazer está em contradição com toda a sua atuação anterior, os princípios e
os interesses imediatos do seu partido; o que deveria fazer não poderia ser
colocado na prática. Em uma palavra, é obrigado a representar não o seu partido
e a sua classe, mas a classe para a qual o domínio do movimento se encontra
maduro. “
Friedrich Engels
A luta pelo
socialismo marcou o século XX. Polêmicas, lutas sociais, revoluções e
contrarrevoluções, II Grande Guerra, guerra fria, etc. comunicam-se todos com o
fato de um terço da humanidade ter vivido sob “regimes não capitalistas”. Após
a queda do estalinismo, do muro de Berlim e da planificação burocrática, podemo-nos
perguntar: qual era, afinal, o caráter daquelas sociedades?
Para iniciar
o leitor ao argumento, comecemos com um trecho de A Revolução Traída
de Trotsky, que nos servirá de pista. Na obra, encontramos uma profunda análise
da URSS e uma caracterização marxista dessa sociedade. Vejamos:
Lenin […] acrescenta: ‘o
direito burguês, em matéria de repartição dos artigos de consumo, supõe
naturalmente o Estado Burguês, pois o direito não é nada sem um aparelho de
coação que impõe suas normas. Surge-nos assim o direito burguês a
subsistir durante um certo tempo no seio do comunismo, e até mesmo o Estado
burguês a subsistir sem burguesia!’
Esta significativa
conclusão, absolutamente ignorada pelos teóricos oficiais de hoje, tem uma
importância decisiva para a inteligência da natureza do Estado soviético de
hoje ou, mais exatamente, para uma primeira aproximação nesse sentido. O
Estado que toma por tarefa a transformação socialista da sociedade, sendo
obrigado a defender pela coação a desigualdade, isto é, os privilégios da
minoria, torna-se, em certa medida, um Estado “burguês”, embora sem burguesia. Estas
palavras não implicam louvor nem censura, chamam simplesmente as coisas pelo
seu nome.
As normas de repartição,
quando incitam o crescimento da força
material, podem servir a fins socialistas. Mas o Estado adquire
imediatamente um duplo caráter: socialista, na medida em que defende a
propriedade coletiva dos meios de produção; burguês, na medida em que a
repartição de bens tem lugar segundo padrões de valor capitalistas, com todas
as consequências que decorrem desse fato. [...]
A fisionomia definitiva
do Estado operário deve definir-se pela modificação da relação entre as suas
tendências burguesas e socialistas. A vitória das últimas deve significar a
supressão irrevogável da polícia, o que significa a reabsorção do Estado em uma
sociedade que se administra a si própria. Isto basta para fazer ressaltar a
enorme importância do problema da burocracia soviética, fato e sintoma. (Trotsky, A revolução traída, 1980,
p. 41, grifos nossos)
O marxismo
cindiu-se em duas posições opostas sobre os assim nomeados Estados Operários.
Uma posição reitera o caráter socialista de suas revoluções, ainda que o regime
político fosse criticado com dureza, por exemplo, pelos trotskistas; a outra
vertente considera que havia capitalismo de Estado, domínio do valor
A posição
destinada a este capítulo chama-os dupla revolução e, também por isso, duplo
caráter de Estado. Trotsky demonstrou que, na era imperialista, a revolução
democrático-burguesa era viável apenas por meio de uma revolução socialista,
uma revolução em permanência. Assim, as tarefas da revolução capitalista –
industrialização, unidade nacional, educação universal, reforma agrária, etc. –
são cumpridas pelo Estado Operário. Daí que os trotskistas tenham considerado o
lado burguês de tais revoluções apenas na medida em que é superado pela
revolução social, portanto deixam de considerar um dos lados daqueles
processos.[1]
A formação
de um amálgama entre diferentes tipos de sociedades é algo reconhecível na
história. A colonização europeia nas Américas fundaram produções destinadas ao
mercado mundial, capitalista, porém, por suas condições, adotaram relações de produção
escravistas e, ao mesmo tempo, mas e mais, superestrutura feudal (instituições,
cultura, etc.) com influências culturais de diferentes épocas (feudalistas,
primitivas indígenas e africanas e valores capitalistas nascentes)[2]. A
combinação interna, oculta e inconsciente das duas sociedades, capitalismo e
socialismo, é a nossa conclusão de amálgama histórico.
Na medida em
que as forças produtivas em desenvolvimento nos países revolucionados eram
baseadas no trabalho manual, isto é, na produção pertencente à fase histórica
do capital, o caráter duplo dessas sociedades se formava. De um lado, foi
necessário dois passos à frente para dar outro atrás, foi necessário um salto
histórico, quer seja, adotar a economia planejada, ainda que de modo
burocrático, a grande propriedade estatal e o controle do comércio exterior. De
outro, a técnica na produção ainda não era a socialista, baseada na III
revolução industrial, na microeletrônica e na informática. Na citação acima,
Trotsky tratava do uso, mesmo que parcial, do dinheiro e do comércio; porém o
decisivo do destino da sociedade está na produção, que ainda se baseava no
trabalho abstrato, quer seja, à etapa do capital[3]. Para
clarear, vejamos que, ao lado da produção com maquinaria, o setor produtivo na
URSS tinha de lidar, por exemplo, com o taylorismo, ou seja, com a produção
cooperada pré-I revolução industrial.
Trotsky
deixou de levar sua observação até as últimas consequências. Em geral, recuou
para a avaliação de apenas o conceito Estado operário burocratizado. Também
perdeu a oportunidade de ver o caráter duplo da URSS ao teorizar que a
revolução burguesa tenderia a se tornar socialista. Esse limite teórico é um
dos pontos que pretendemos resolver neste capítulo. O conhecimento da verdade é
aproximativo, por aproximações sucessivas, por isso reconhecemos o legado de Leon
Trotsky como, por muito tempo, a mais avançada teoria, impedida de ir ainda mais
longe por limites históricos, que precisa hoje ser revista e atualizada[4].
RESTAURAÇÃO
E BUROCRACIA
Em outro
capítulo observamos a importância da automação-robótica para a economia
socialista. A restauração do capitalismo veio exato quando chegou a hora de os
países revolucionados implementarem uma infraestrutura avançada, útil e sua por
natureza. Se a burocracia estatal implementasse tal revolução industrial,
destruiria as bases de sua própria dominação, de sua razão de ser. Tal atitude,
se houvesse, mudaria todo o tecido social e a superestrutura: a casta
governante não duraria mais um dia porque seria dispensável. A dificuldade de,
diferente dos EUA, transferir as conquistar técnicas do aparato
militar-espacial para a produção revela-se muito mais que um erro tático,
define-se como limitação objetiva da casta burocrática. Por temor do tempo
livre para todos, da abundância geral, da facilidade de planejamento econômico
e do consequente impulso à revolução mundial, boicotaram a “reforma
revolucionária” em nome de um prazer humano anormal e pouco acessível. Em
síntese: as forças produtivas, a partir de certo ponto, poderiam desenvolver-se
por apenas dois caminhos, ou socialismo e democracia socialista ou capital.
Em
entrevista, Guennádi Krasnikov, presidente do conselho de diretores da Mikron,
empresa russa líder na produção de semicondutores, e integrante da Academia de
Ciências da Rússia, descreve a limitação técnica da extinta URSS:
Revista Itogi: O senhor acha que a microeletrônica
soviética era mesma tão pobre e digna de ser objeto de piadas?
Guennádi Krasnikov: Claro que não. Na União
Soviética, a microeletrônica era nosso orgulho e símbolo da nossa liderança no
mundo. Naquela época, estávamos no grupo dos três líderes mundiais em
microeletrônica, que incluía os EUA e o Japão, e mantínhamos a frente
incondicional em todos os indicadores, desde volume de produção e nível
tecnológico até a política do governo para o setor.”
R.I.: Os soviéticos não estavam cientes disso?
G.K: Cerca
de 99% dos produtos da microeletrônica soviética eram destinados à indústria
bélica, enquanto 0,5% era voltado para a fabricação de eletrodomésticos.
Portanto, as pessoas comuns só podiam julgar o desenvolvimento da indústria
eletrônica nacional pela presença de equipamentos eletrônicos no mercado de
bens de consumo. Como essa não era uma prioridade das empresas, os
eletrodomésticos de qualidade escasseavam no mercado interno. Cada empresa de
microeletrônica tinha a obrigação de ter em sua gama de produtos um determinado
percentual de artigos como relógios, calculadoras, brinquedos etc.
Mas como os
esses produtos não estavam entre as prioridades, seu desgin e qualidade
deixavam a desejar. Essa atitude dificilmente pode ser considerada correta, mas
tem uma explicação.
R.I.: Muitas empresas de microeletrônica soviéticas
sobreviveram?
G.K.: De jeito nenhum! A URSS tinha uma indústria
microeletrônica desenvolvida, que
empregava mais de um milhão de trabalhadores e englobava uma infraestrutura
colossal. Apenas algumas delas sobreviveram. E o processo de extinção não
terminou: muitas das sobreviventes se mantém vivas, mas não se modernizaram. (Pokataeva, 2012, grifo nosso)
Percebemos
uma limitação ao desenvolvimento das forças produtivas e dos produtos.
Em outro
capítulo, caracterizamos políticos, administradores de empresas e cargos afins burocracia
burguesa. Os burocratas “vermelhos” revelavam em si seu duplo caráter na medida
em que impediam a existência da democracia operária e o avanço das forças
produtivas socialistas por excelência. Havia, portanto, contradição entre a
necessidade de desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção
e superestruturais.
Vejamos
outro exemplo, a internet:
A história é relativamente desconhecida - mas foi
investigada pelo historiador e professor da Universidade de Tulsa, nos EUA,
Benjamin Peters. Ele é autor do livro “How Not to Network a Nation: The Uneasy
History of the Soviet Internet” (“Como não conectar uma nação: a complicada
história da internet soviética”, em tradução livre), ainda sem edição em
português.
O Ogas foi conduzido pelo cientista soviético
Viktor M. Glushkov, que era diretor do Instituto de Cibernética de Kiev, na
Ucrânia, nos anos 1950 e 1960, e era considerado por colegas cientistas “a
frente de seu tempo”.
“A proposta era construir uma rede descentralizada,
hierarquizada e em tempo real de gerenciamento de informação - algo semelhante
ao que hoje chamamos de “computação na nuvem”.”
“O objetivo era facilitar o controle do Estado
soviético sobre fábricas e empresas do regime e integrar economicamente todos
os Estados da URSS.”
“Na União Soviética, uma rede centralizada de
computadores significaria, portanto, um aumento das possibilidades e do apelo
do controle do Estado sobre a economia: seria dar um largo passo à frente na
demonstração de que o comunismo era um regime superior e inclusive com
viabilidade administrativa.”
“A URSS tinha, à época, além dos motivos, os
conhecimentos tecnológicos necessários e infraestrutura para fazer com que um
projeto desse acontecesse. Além disso, o regime era conhecido pelas ambições e
projetos megalomaníacos na área tecnológica.”
Mas:
De acordo com a pesquisa de
Peters, a falha do projeto aconteceu por divergências administrativas, falta de
consenso, burocracia, corrupção e falta de pragmatismo entre os dirigentes da
URSS e aqueles que conduziam o projeto.
Documentos importantes se
perdiam, reuniões eram adiadas, manda-chuvas discordavam constantemente sobre
os detalhes da rede, seus propósitos e sobre quem e como ela deveria, de fato,
beneficiar quando fosse implantada.”
“O resultado da série de entraves
que impediram o projeto Ogas de ganhar vida foi que, nos anos 1980, ele acabou
implementado com um caráter completamente diferente da proposta em sua
concepção: servidores desconectados entre si, sem interoperabilidade, em
centros locais de controle de fábricas da URSS - bem diferente da ideia da
internet.
Apesar das discussões mais
recentes sobre como a internet se dividiu em pequenas redes constituídas de
bolhas sociais e sobre o controle de órgãos governamentais e empresas privadas
sobre a informação, a internet foi concebida de forma técnica pelos EUA como
uma rede cujo conceito não concebia hierarquias entre computadores.
É uma rede descentralizada e que
cresceu por meio de cultura colaborativa de consumo e alimentação de
informações. E esse é um conceito oposto àquele empregado ideologicamente pelo
regime soviético: censura, hierarquias de comando e uma cultura de controle em
todas as esferas.
Para o autor do livro, uma
internet criada pela URSS teria valores muito diferentes daqueles que a nossa
internet possui - talvez sequer tivesse se transformado na internet comercial
como a conhecemos. (Idem)
O autor destacado na citação afirmou que
“The historic failure of that network was neither natural nor inevitable”
A partir do
Livro II d’O Capital, observamos a importância do sistema de comunicação e
transporte para organização, diminuir o tempo de rotação do capital, diminuir
desigualdades entre setores produtivos, integração
internacional etc. Ao negar e relegar ao capitalismo tal meio superior; a
burocracia impôs sua contradição com as necessidades produtivas e
distributivas, elevando as contradições gerais, rumo a esta ou aquela solução –
capital ou democracia socialista. A internet permitiria – tal como permitirá
caso o socialismo vença –, enfim, o planejamento econômico pleno, a organização
centralizada da produção e da distribuição; ademais, oferece as condições
materiais para a democracia socialista, para a democracia participativa[5].
Uma das
manifestações da contradição entre a burocracia burocratizada e a necessidade
de desenvolvimento das forças produtivas é a observação de que as empresas de
baixo rendimento produtivo mantinham-se abertas apesar de seus resultados, pois
a existência delas era o que sustentava a existência do burocrata como tal,
como casta privilegiada. Nestas circunstâncias, a defesa do emprego dos
funcionários era apenas demagógica já que, num governo de fato socialista, a
redução da jornada de trabalho seria a solução posta para absorver a mão de
obra disponível.
Sem tirar
todas as conclusões necessárias de suas observações, Elias Jabbour comenta em
suas palestras e aulas que a URSS iniciou a terceira revolução industrial e a
implementou na siderurgia, mas apenas nela; depois, exportou a moderna técnica
ao Japão, que a generalizou tanto quanto foi possível; enquanto isso, as
empresas “soviéticas” estagnaram sua produtividade, sua intensividade técnica,
sem nova revolução industrial e cheias de burocratas em cargos de comando e
intermediários. Ou mudaria tudo ou nada mudaria. A fusão ou a aglutinação de
valores de uso, por exemplo, num só produto-suporte, numa só fábrica, era algo
impensável ao burocrata dependente da existência da quase sua empresa, ainda
mais uma empresa sem ou quase sem subordinados diretos no trabalho manual, sem
exercerem comando despótico esclarecido no lugar de uma gestão de fato
científica.
Outra
expressão do limite da burocracia como forma de regime é a qualidade dos
produtos. Quando se tentou medir a produção pela extensão ou quantidade, os
produtos eram “esticados” e ficavam frágeis; quando se media a partir do peso,
os produtos ficavam cada vez mais pesados. Isso é uma contradição com as
tendências da matéria do produto tal como afirmamos quanto à forma mercadoria
em outro capítulo. A gestão burocrática tentava burlar as formas de controle.
A casta
burocrática tomou uma série de medidas para enfrentar os problemas de
crescimento após a II Guerra
A produção
automatizada, a internet, a microeletrônica dariam um impulso gigantesco à
reorganização das nações sob dupla revolução. A redução da jornada de trabalho
seria enorme, por exemplo, e tiraria as condições materiais da necessidade de
uma casta dirigente mais ou menos autônoma em relação à sua base social. Em um
Estado operário com democracia socialista seria interesse majoritário
direcionar forças para superar o trabalho manual e garantir altíssima
produtividade, além de dar todo apoio possível às revoluções.
Essencialmente,
havia uma contradição entre as tendências burguesas e socialistas em
desenvolvimento naquelas sociedades, paralisando-as. Como revolução burguesa, o
regime de Estado, ditatorial, negava a democracia socialista, de tipo
soviético; como revolução socialista, o Estado planejava centralmente a
economia. Como revolução burguesa, ainda havia sistema de preços em parte dos
produtos e em parte das nações revolucionadas, ainda havendo subprodução real
ou em termos absolutos; como revolução socialista, os preços eram
constrangidos, tabelados e limitados. Como revolução burguesa, baseava-se no
desenvolvimento do trabalho manual, abstrato e produtor de valor; como
revolução socialista, o desemprego era proibido e o trabalho ou o estudo era
obrigatório. Uma série de contradições expressa a contradição geral. A luta por
qual seria o polo determinante estava por ser revolvida. Tomemos o caso da
China. Como revolução burguesa, sua revolução ofereceu pequena propriedade
privada aos camponeses, principal classe revolucionária no país; como revolução
socialista, por outro lado, limitava o desenvolvimento da propriedade. Como o
camponês deveria dar seu excedente ao governo, à cidade, sua produtividade era
baixíssima, o que colocava aquela sociedade diante de estagnações. Isso só foi
revolvido quando a burocracia estatal liberou os preços dos produtos agrícolas
e a venda livre no mercado da maior parte do que excedia na produção camponesa
– ou seja, fortaleceu e consolidou o polo burguês daquela sociedade, no lugar
de uma formação democrática e progressiva de grandes cooperativas com
propriedade estatal do campo, que seria parte da solução socialista.
A REVOLUÇÃO PERMANENTE
Uma pergunta
faz-se inevitável: a restauração do capitalismo era o caminho natural? Não,
segundo a Teoria da Revolução Permanente. Se a revolução socialista fosse
vitoriosa na Alemanha em 1918, se a II Guerra Mundial tornasse a Europa
ocidental um grande continente vermelho, se revoluções políticas impusessem a
democracia operária naqueles países sob o stalinismo… Poderia existir outro
caminho, mas ao "destruir o capitalismo, mas não o
capital" (Mészaros) internacional[6], a
revolução ficou bloqueada no terreno nacional.
Segundo
Trotsky:
Os diferentes países
chegarão ao socialismo com ritmos diferentes. Em determinadas circunstâncias,
certos países atrasados podem chegar à ditadura do proletariado antes dos
países avançados, mas só depois destes chegarão ao socialismo.
Pois:
A revolução socialista
não pode se realizar nos quadros nacionais. Uma das principais causas da crise
da sociedade burguesa reside no fato de as forças produtivas por ela
engendradas tenderem a ultrapassar os limites do Estado nacional. […] A
revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena
internacional e termina na arena mundial. Por isso mesmo, a revolução
socialista se converte em revolução permanente, no sentido novo e mais amplo do
termo: só termina com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso
planeta. (Idem)
O rio da
história poderia desaguar em duas diferentes águas: ou revolução socialista por
meio da revolução democrático-burguesa ou revolução democrático-burguesa por
meio da revolução socialista. Estes são os casos de Rússia, China e Alemanha
oriental por suas proporções, colocando outros países – um terço da humanidade
– em suas órbitas, como “efeitos colaterais”. Quando a URSS caiu, por exemplo,
Cuba, que dependia de sua relação com os demais Estados Operários, restaurou o
capitalismo pelas mãos da própria direção da sua revolução ao fechar o centro
de planejamento estatal, encerrar o controle do comércio exterior e atrair
capital estrangeiro. A fórmula de Lênin acabou por ser invertida: dois passos à
frente para, em seguida, um passo para trás.
A revolução
mundial faltou. Pode-se dizer que ocorreu em parte a exigência histórica de
apoio internacional, pois aconteceram revoluções sociais em países atrasados. A
revolução permanente em parte se impôs, mas não em nações desenvolvidas. Pelo
contrário, os países imperialistas conheceram grande e inesperado desenvolvimento,
o que afastou por décadas a possibilidade de revoluções sociais onde as forças
produtivas eram mais avançadas. Lenin e Trotsky erraram ao suporem que o
capital havia cumprido todas as suas possibilidades históricas. Vejamos como o
fundador do Exército Vermelho dá as bases dessa explicação, embora apenas
desconfie:
Si el mundo
capitalista pudiera ahora generar un nuevo ascenso orgánico, y si encontrara un
nuevo equilibrio como base para un desarrollo ulterior de las fuerzas
económicas, nosotros, como Estado socialista, colapsaríamos. Se puede ilustrar esto en forma teórica y práctica
em dos palabras. Teóricamente, porque un
ascenso del capitalismo en Europa crearía una tecnología colosal para la
burguesía, y cambiaría la psicologia del proletariado. Si el proletariado
ve que el capitalismo puede levantar la economía nacional, esto se reflejará
inevitablemente sobre la clase obrera que trató de hacer una revolución, fue
aplastada, y experimento un desengaño. Si el capitalismo lleva la economía
hacia arriba, habrá conquistado al proletariado por segunda vez, arrastrando a
las masas tras él. Desde el punto de
vista teórico, vemos que el socialismo tiene derecho a existir precisamente
porque el capitalismo no es capaz de desarrollar las fuerzas productivas.
Nuestra revolución creció sobre bases económicas, y antes de la revolución
éramos parte integrante de la economía mundial. Si el capitalismo es capaz de
desarrollar las fuerzas productivas, tendríamos que llegar a la conclusión de
que nos equivocamos de raíz en nuestro pronóstico – el capitalismo es una
fuerza progresiva, desarrolla sus fuerzas más rápido que nosotros; el
bolchevismo llegó al poder demasiado pronto, y la historia castiga muy
rudamente a los nacimientos prematuros. Esto sería así si el pronóstico
optimista para el capitalismo tuviera alguna base. ¿Pero tiene alguna base? Es
difícil de demostrar. Pero por el momento la burguesía no ha podido probarlo, y
no puede hacerlo. En Europa no hay ningún desarrollo de las fuerzas
productivas. Lo que están sucediendo son crisis y una fractura de las fuerzas
productivas disponibles –este es el hecho básico. Por lo tanto debemos decir
que el socialismo tiene derecho a existir, a desarrollarse y a todas las esperanzas
de victoria. (Trotsky, El capitalismo y sus
crisis, 2008, pp. 203, 204; grifos nossos)
Para terminar, plantearé una cuestión que, a mi
juicio, dimana del fondo mismo de mi informe. El capitalismo, ¿ha cumplido o no
há cumplido su tiempo? ¿Se halla en condiciones de desarrollar en el mundo las
fuerzas productivas y de hacer progresar a la humanidad? Este problema es
fundamental. Tiene una importancia decisiva para el proletariado europeo, para
los pueblos oprimidos de Oriente, para el mundo entero y, sobre todo, para los
destinos de la Unión Soviética. Si se
demostrara que el capitalismo es capaz todavía de llenar una misión de
progreso, de enriquecer más a los pueblos, de hacer más productivo su trabajo,
esto significaría que nosotros, Partido Comunista de la URSS, nos hemos
precipitado al cantar su de profundis; en otros términos, que hemos tomado
demasiado pronto el poder para intentar realizar el socialismo. Pues, como
explicaba Marx, ningún régimen social desaparece antes de haber agotado todas
sus posibilidades latentes. Y en la nueva situación económica actual, ahora
que América se ha elevado por encima de toda la humanidad capitalista,
modificando hondamente la relación de las fuerzas económicas, debemos
plantearnos esta cuestión: el capitalismo ¿ha cumplido su tiempo, o puede
esperar aún hacer uma obra de progreso? (Idem, p.234; grifos nossos)
A citação longa
deixa clara uma previsão na forma de uma aposta histórica. E ela estava errada.
Uma das condições da teoria da revolução permanente, o capital encontrar seus
limites internos absolutos, apenas consolidou-se muito depois da revolução de
1917.
As nações
que passaram pela dupla revolução, socialista e capitalista, eram todas
atrasadas e necessitaram de um salto histórico, um esforço de avanço imenso,
para evitar o colapso de suas sociedades, para modernizar-se.
A história
tem seus mecanismos, mas falta-lhe bom senso: inexiste caminho mecânico,
desprovido de tropeços. Dito de outro modo, os grandes acontecimentos
históricos ocorrem primeiro como ensaios gerais e depois como processo maduro. Assim,
o século XX foi nosso teste inicial quando o tempo da revolução burguesa havia
passado e o tempo da revolução socialista ainda não havia surgido. Nesse
sentido, toda uma época de transição, algo cinza entre o preto e o branco. É
preciso ter esta clareza: por limites de época, por ser o início e ascensão da
fase imperialista, as revoluções foram burguesas parciais e, pela mesma razão, ainda
ser o período de elevação do imperialismo, foram revoluções socialistas também
parciais.
Detenhamo-nos
um pouco mais no assunto, pois fere o dogmatismo de certo marxismo “ortodoxo”.
Pode haver certo consenso de que a Comuna de Paris tinha como uma de suas
dificuldades a economia, já que o capitalismo ainda poderia se desenvolver e
ainda faltava alcançar sua fase superior, o imperialismo; mais fácil, portanto,
alcançar a conclusão de que o socialismo era ali mais possível que necessário.
Mas o que dizer da revolução russa e as demais até a década de 1970? Lenin
observou o nascer e o desenvolver inicial do imperialismo, seu período de
ascensão, não seu período de decadência e consolidação.
Observemos
os critérios de Trotsky. O capitalismo fez “enriquecer más a los pueblos, de
hacer más productivo su trabajo”? Sim: a produção desenvolveu-se até a III
revolução industrial sob o regime do capital; países dominantes promoveram o
“Estado de bem-estar social”, que impossibilitou por décadas revoluções sociais
no centro do mundo; países atrasados determinantes, como o Brasil, cresceram de
modo espetacular pelo menos até durante a década de 1970. Percebemos, logo, que
as condições do socialismo passaram a estar postas de fato desde 2008, que
anuncia a crise geral sistêmica (de acordo com a curva de desenvolvimento do
capitalismo). O critério oferecido pelo fundador do Exército Vermelho aponta a
prematuridade das revoluções sociais do século XX. Ele desconfiou tal
resultado, mas sua posição dirigente do processo revolucionário soviético e a
própria empiria dos fatos históricos daquele período dificultavam uma
interpretação negativa da realidade.
A
possibilidade, antes de tornar-se necessidade, testa-se a si própria. De modo
algum afirmamos que os bolcheviques, por exemplo, deveriam ter recuado; apenas
devemos perceber as causas materiais da derrota, da ascensão do regime estalinista
e da posterior restauração do capitalismo. No balanço da primavera dos povos,
principalmente na França, Engels destacou que Marx considerava a crise
econômica como uma constante e apenas depois ambos tomaram consciência de que o
crescimento econômico posterior esteve na base da derrota assim como a crise econômica
foi a base do levante. Apenas hoje a situação é outra. Como demonstramos em
outro momento, o capitalismo tem macrociclos e está diante de seu último, a
fase de declínio da atual curva de desenvolvimento, caracterizado por crises
longas ou duras entremeadas por crescimentos fracos ou curtos (cuja destruição
é base para a prosperidade posterior, o ascenso).
É do
conhecimento comum do marxismo que um sistema cai e é substituído apenas depois
de desenvolver todas as suas possibilidades latentes. É preciso também que as
bases da próxima sociedade já estejam a ponto de realizar-se dentro da
sociedade anterior; a produção automatizada e a informática são exemplos de tal
condição enfim madura.
No campo
lógico, citemos Moreno:
A necessidade era considerada anteriormente como
uma categoria que começava a atuar desde o começo de um processo, fazendo com
que seus resultados se impusessem. Se um processo era provável não era
necessário. Piaget encontra – na fórmula citada – uma resposta em um terceiro
termo, o qual une os que se apresentavam como antagônicos até então. Com a
“probabilidade crescente”, síntese dinâmica de probabilidade e necessidade,
esta só surge e se impõe ao final do processo e não no começo.
A
probabilidade crescente[7] –
atualizemos a citação – revelava-se nas revoluções sociais, porém antes de a
necessidade se impor por completo já que
“esta só surge e se impõe ao final do processo e não
no começo”. A possibilidade verifica-se antes de se tornar realidade.
O pensamento
vulgar supõe que as revoltas sociais põem sempre em possibilidade um novo mundo
e são em si expressões de um revolucionamento social latente. Mas a história da
luta de classes nem sempre foi assim. Havia inúmeras revoltas de escravos no
mundo antigo, porém procuravam a liberdade dos revoltosos, não o fim de toda
escravidão ou do sistema. As revoltas camponesas da Idade Média não podiam
propor algo novo sob aquelas condições, mesmo assim ocorriam. O diferencial da
guerra de classes hoje é que a classe oprimida tem de modo latente um projeto
social próprio, mas suas revoltas também podem acontecer antes que as condições
estejam de fato maduras para um revolucionamento completo. A conjuntura pode
estar em descompasso com a estrutura, uma contradição dialética.
Vale a pena
pousarmos mais um tanto na dialética.
Em sua
Lógica, Hegel diz da “Indiferença como relação inversa de seus fatores”
Agora, vale
a pena ver os saltos de qualidade. Um pouco antes de a água saltar de líquida
para congelada, formam-se pequenos cristais, mas eles logo se desfazem, não se
generalizam nem têm resistência própria, apenas anunciando o salto qualitativo
caso a temperatura caia ainda mais; do mesmo modo, a água como gás forma
pequenas gotículas, que se desfazem logo por não ter força o bastante para se
manter, também anunciando a mudança de estado caso algum fator como a
temperatura mude ainda mais. Pois bem, a mesma dialética dos ensaios antes do
salto qualitativo se vê no século XX.
As
tentativas de salto histórico, apesar das condições globais imaturas, tiveram
como motor e estímulo os problemas da guerra, tema de outro capítulo.
***
Em sua
crítica-atualização da teoria da revolução permanente, Moreno lida com a própria
lei do desenvolvimento desigual e combinado para demonstrar que revolução
socialista pode ser igual à base camponesa, não operária, tal como Trótski
havia usado a descoberta para dizer revolução democrático-burguesa é igual à
protagonismo operário, não burguês. Assim, o argentino atualizou a teoria.
Podemos dar
novo passo.
As
Revoluções em países atrasados tiveram duplo caráter: democrático-burguesas e
socialistas. Percebendo a mesma lei material, vemos que o caráter dessas
revoluções abriam a possibilidade de liderança sob base camponesa por outra
razão além da percebida por Moreno: o campesinato é base social histórica das
revoluções burguesas. A imaturidade desses países os fez necessitarem de uma
revolução onde o proletariado ainda era pouco capaz de um papel ativo ou estava
derrotado.
As
revoluções sociais do século XX tendo duplo caráter, socialista e democrático-burguesa,
abriam a possibilidade de substituir o sujeito revolucionário do operariado por
camponeses, pois estes últimos são a base social das revoluções burguesas
clássicas. Assim ocorreu no pós-II Guerra. A lei do desenvolvimento desigual e
combinado já aponta a substituição do sujeito social, de uma classe cumprir as
tarefas de outra – uma lei que prova toda sua validade em nível mais intenso.
Mesmo a de
fato operária revolução social, a russa, expressa o duplo caráter, pois a
revolução de 1905, o chamado ensaio geral, foi derrotada por razão da ausência
do campesinato na arena política revolucionária. Já em 1917 associava, segundo
Trotsky, “a guerra camponesa, movimento característico da aurora do
desenvolvimento burguês[8],
com o levante operário, movimento que assinala o crepúsculo da sociedade
burguesa”
A burocracia
estatal apoiou-se na pequena burguesia rural precária, falida e sem terra
(aspira a uma pequena propriedade privada) usando as bases do Estado operário
mais, em contradição, regime de Estado “bonapartista”. Foi preciso saltar
etapas históricas: antes de forças produtivas maduras foi preciso base
socialista para amadurecer as forças de produção, logo também é um Estado burguês.
Quando Lenin afirmou “o socialismo é o poder dos sovietes mais a eletrificação
do país”, em outras palavras, disse: o Estado “Operário” está obrigado a
cumprir tarefas burguesas, sustentar um desenvolvimento ainda burguês das
forças produtivas. A base sobre a qual o socialismo deveria se erguer estava,
ao contrário, sendo erguida pelo Estado, por isso o duplo caráter da
superestrutura, burguês e proletário, e da revolução era inevitável.
Pela mesma
razão, o duplo caráter das revoluções, tornou-se menor a necessidade de um
partido revolucionário nestes processos, pois, também, 1) as contradições eram
elevadíssimas; 2) as tarefas poderiam ser geridas por organizações
pequeno-burguesas; 3) os países tinham formações sociais que dificultavam a
construção de verdadeiros partidos comunistas. Por isso, Moreno percebe que
todas as revoluções vitoriosas, após a II Guerra Mundial, foram de base
camponesa e não operária, em países atrasados e dirigidos por partidos centristas
centralistas burocráticos com liderança pequeno-burguesa. Passaram por fora das
formulações de Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Observado desde a macro-história,
reforçamos, os saltos revolucionários expressavam em seus duplos caracteres o
tempo da revolução burguesa encerrando e o tempo da revolução socialista ainda
nascente.
***
Vejamos a
particularidade russa, a mais proletária das revoluções socialistas do século
XX. Os problemas econômicos da I Guerra, a guerra civil revolucionária contra
14 exércitos e as dificuldade advindas junto ao isolamento econômico tiveram
como efeito imediato: 1) desarticulação da indústria interna; 2) morte de parte
dos operários mais avançados; 3) esvaziamento das duas grandes cidades, com
deslocamento humano para o campo na intenção de evitar a fome ao dispor da reforma
agrária então implementada. Esses três fatores foram base do regime “bonapartista”
inaugurado por Stálin e fortalecimento do polo burguês do Estado, expresso no
regime político.
Vários
autores denunciam que as demais revoluções sociais já se concluíam
burocratizadas, diferente da revolução russa em seu começo, baseada na
democracia dos soviets. A explicação dada por muitos é que o caráter
burocrático dos partidos e das guerrilhas afetou o regime de Estado. A nosso
ver, a resposta é insuficiente. A questão é descobrir o motivo da
burocratização inicial, da imposição de “bonapartes vermelhos”, ou seja,
descobrir a realidade objetiva que fez tais condições e tais resultados. Se os
países em questão estivessem prontos para uma transição ao socialismo, ainda
que necessitassem do apoio internacionalista, não teriam desde o princípio a
imposição da burocracia. O mesmo atraso que forçou a tentativa de avanço
histórico por salto condicionou a burocratização.
Como observamos,
a conclusão de que os Estados operários, e a URSS em particular, eram formas de
“Estado burguês sem burguesia” (Lenin) foi considerada apenas parcialmente
pelos teóricos, incluso pelo formulador da expressão, não levada às últimas
consequências, preponderando a ideia de “Estado operário deformado” apenas.
Também observamos que o fato de a burocracia ter restaurado o capitalismo
deveria ser alinhado aos motivos econômicos das crises daqueles países, em
relação à superestrutura estatal, mas é comum somente reconhecer e descrever o
processo. Algo semelhante ocorre com o tema da prematuridade das revoluções.
Muitos marxistas consideram o regime de Estado estalinista desde sua versão,
por assim dizer, russa, como se o isolamento internacional e a guerra fossem as
únicas causas fundamentais da burocratização; porém as outras revoluções,
especialmente a chinesa e a cubana, refutam tal caracterização, que pode ser
remetida também a Trotsky, porque já surgiram, mesmo que com uma brevíssima
transição, sob o poder da burocracia, sob o regime despótico. Logo o caso russo
não era mera anomalia – como supuseram, até aqui, Trotsky e os trotskistas. Aqui
também há reconhecimento e descrição, mas falta saber do seu fundamento. Como
explicar tais características? A única solução possível é ver que a base
econômica e social, nacional e principalmente mundial, ainda estava imatura
para revoluções plenas, completas e socialistas. Apenas assim podemos
compreender o susto de Trotsky diante da rapidez com que o Estado da URSS
encontrou a degeneração de seu regime, de democracia soviética para ditadura
estalinista, em menos de 10 anos.[9]
As respostas
dadas neste capítulo são das questões que os importantes aportes de Moreno não
avançaram, pois consideravam a revolução democrático-burguesa apenas na medida
em que ela era superada pela revolução socialista, sem supor que esta primeira
estava viva ao seu modo no seio do inimigo. A razão disso era a quase certeza
de que o capitalismo estava com os dias contados, dada a enorme quantidade de
países formalmente não-capitalistas e as revoluções vitoriosas ou em processo.
Após o impacto da restauração no Leste Europeu, Kurz e Mészàros penderam para a
ponta oposta, erro inverso, o caráter burguês daquelas sociedades. De modo
geral, todos os pensadores marxistas críticos à casta burocrática
aproximaram-se das conclusões aqui expostas, quase as alcançando.
***
Trotsky
observou que as sociedades sob revolução social não eram ainda socialistas mas
de transição ao socialismo. A consideração de três etapas – transição,
socialismo e comunismo – é uma das mais importantes atualizações marxistas.
Tais formas
transicionais deixaram de existir nas últimas décadas. Na obra O Veredicto da
História, Martin Hernandez (2008) demonstra que os assim chamados Estados
operários, de transição, possuem três características:
1)
Controle
estatal do comércio exterior;
É o aspecto
mais importante, mais universal. Na revolução russa, esteve presente já nos
primeiros anos.
2)
Grande propriedade
estatal;
Uma grande
quantidade de empresas estatais não é um critério, haja vista que Mussolini
expropriou alguns burgueses e elogiava-se ao afirmar que dois terços da
economia pertenciam ao Estado. O critério é se a propriedade estatal na
economia está a serviço ou não do mercado e se a tendência é o império da
propriedade privada ou pública.
3)
Economia
centralmente planejada.
As estatais
francesas no pós-II Guerra faziam planejamento, para fins de mercado, e os
atuais monopólios e oligopólios fazem planificação. O salto qualitativo para a
transição ao socialismo é que o grosso da economia, com controle do comércio
exterior e grande propriedade estatizada, passe por um plano central.
Por tais
critérios mínimos, Cuba e China são hoje países capitalistas. O primeiro, por
ex., fechou a Junta Central de Planificação, encerrou o controle estatal do
comércio exterior (as empresas passaram a ter liberdade de negociação nesse
tipo de comércio) e absorveu grande capital privado de outros países,
pincipalmente os imperialistas europeus e canadenses
China
primeiro começou as medidas de restauração em 1979, com as Quatro
Modernizações; o governo da URSS seguiu o exemplo chinês para enfrentar sua
estagnação, em 1986, com a Perestroika. Cuba, como demais países do Leste Europeu
sob regimes estalinistas, entrou em decadência com o fim dos subsídios da
Rússia às exportações dos países parceiros (como ao açúcar cubano) e retoma o
capitalismo na década de 1990.
Martin
Hernandez afirma que na Europa do Leste e na ex-URSS há revoluções como crítica
à burocracia e suas medidas de restauração do capitalismo que afetavam a
qualidade de vida da maioria dos povos, mas que em China e Cuba faltaram
rebeliões de mesma intensidade diante das medidas estatais. No território
chinês, houve protestos atrasados e parciais que foram rapidamente reprimidos;
já no território cubano, a crise gerou as famosas fugas por meio de botes ao
mar rumo ao exílio estadunidense. O teórico citado também afirma que, diferente
da ex-URSS, onde a restauração via burocracia causou um recuo social e
degeneração econômica semelhante a uma guerra, em Cuba e China, em oposição,
houve algum avanço contraditório das forças produtivas e do estilo de vida, não
uma grande destruição geral (como, aliás, previa Trotsky, acertando quanto à
URSS). A que se devem tais diferenças? Hernandez não explica, apenas constata.
A razão a que chegamos é a que se segue: as sociedades cubana e chinesa ainda
eram bastante imaturas, isto é, rurais e pouco industrializadas; ao contrário,
os países do Leste Europeu eram industrializados e urbanos (com todas as
ressalvas, também com a grande e moderna propriedade rural), logo mais
explosivos e com menor possibilidade de desenvolvimento interno do capital. Tal
explicação demonstra a razão central da manutenção das ditaduras em Cuba e em
China enquanto em outros países houve mudança para democracia burguesa.
***
Observação
destacável são as manobras para fins de restauração do capitalismo. Na medida
em que os governos burocráticos pretendiam restaurar o poder do capital,
praticaram um tipo específico e especial de despotismo esclarecido burguês.
Medidas de Estado tornavam operários acionistas privados de suas empresas,
cooperativas eram estimuladas, fábricas deixavam de servir a um plano geral
para apenas um plano particular, terras eram dadas aos camponeses, liberava a
venda no mercado dos excedentes no campo. Foi-se minando o duplo caráter
daquelas sociedades, destruindo o polo operário determinante. Por fim, diante
da derrota estratégica, a restauração do capitalismo, uma vitória tática –
tanto positiva quanto negativa – era cedida, em alguns países, por pressão ao
substituir as ditaduras por democracia burguesa e, assim, arrefecer as tensões
sociais.
***
O fanatismo
de esquerda leva à adoração de heróis, “iluminados” que supostamente não
prestam contas à realidade. Esta forma positivista e idealista de ver os
líderes leva à concepção de que, por exemplo, na Rússia o capitalismo foi
restaurado apenas pela mera vontade de gente como Gorbatchov, que dirigia o
país no momento da restauração.
O método
marxista explica as grandes ações desde a realidade. Se bastou a vontade de
poucos homens para restaurar o poder do capital, logo o “socialismo” era apenas
algo contingente, sem fundamento histórico (como demonstramos, há algo
verdadeiro aí – este é o caso, mas não explica todo o processo). A verdade é
que o retorno ao capitalismo era um problema real e foi a forma negativa como
uma contradição social, que inclui a contradição interna entre as tendências
socialistas e capitalistas, passou a ser resolvida. A ideia restauracionista
teve uma base material que a formou e a permitiu.
Quando o
baixo crescimento da economia exigiu mudanças nas relações sociais e na
supererstrutura política, a casta burocrática fez seu trabalho de coveira da
revolução, concluiu sua contrarrevolução nacional. Houve, portanto, um momento
propício para a radical mudança, isto é, quando as forças produtivas
encontraram barreiras ao seu desenvolvimento.
A burocracia
era um setor privilegiado, ainda que não formasse uma classe social, e como tal
defendia seus privilégios e desejava aumentá-los. Era materialmente
oportunista, inexistia controle da base social sobre os dirigentes. Há,
portanto, um bom grau de verdade na crítica inocente aos restauradores: o fato
de os países estarem sob ditaduras sobre o proletariado, não do proletariado, com
muitas semelhanças de regime de Estado com o fascismo, foi parte essencial do
que tornou possível o caminho do retorno pleno ao sistema socioeconômico adversário.
Se os Estados fossem governados por democracia direta, participativa e,
portanto, socialista, apenas em hipotéticos casos anormais os trabalhadores
aprovariam em votações e debates medidas de retorno ao capitalismo.
***
Os
estalinistas diziam que os países atrasados deveriam passar ainda pela etapa da
revolução burguesa, sob liderança da burguesia; mas em lugar algum se encontrou
tal caminho concluído. No oposto, os trotskistas diziam que o tempo da
revolução burguesa havia passado, logo as revoluções nos países atrasados
tornar-se-iam socialistas; mas aí veio do desgosto geral deles, pois as
revoluções radicais foram de base camponesa, não operária, de liderança
oportunista, não revolucionária, em países atrasadíssimos, não combinando
atraso e avanço, gerando regimes de Estado ditatoriais, não com democracia
socialista, frutos de guerras, não de revoluções. Ninguém saiu satisfeito. A
questão é que a impossibilidade da revolução burguesa não era igual à plena possibilidade
de revolução socialista. Quod erat
demonstrandum.
***
Tivemos 3
teses sobre a revolução russa desde 1905, válidas para países atrasados:
1.
Mencheviques:
a revolução socialista é inviável, pois é preciso uma revolução burguesa
liderada pela burguesia que desenvolva as forças de produção;
2.
Lenin,
Bolcheviques até 1917: a burguesia é fraca e covarde, por isso revolução será
burguesa, mas com um governo e regime de aliança dos operários e camponeses,
com maioria destes por ter grande população e pela etapa histórica;
3.
Trotsky: A
revolução será burguesa, mas, porque a burguesia é fraca e covarde, a liderança
será operária, com apoio dos camponeses, logo tornar-se-á uma revolução
socialista.
Pois bem;
ocorreu a combinação das três teses. Em 1: de fato, a revolução seria burguesa,
mas a burguesia não liderará; mesmo assim, a pequena burguesia foi a liderança
em outras revoluções similares; além disso, a revolução socialista era relativamente
improvável. Em 2: de fato, o operariado perderia a chance de liderar várias das
revoluções; de fato, a burguesia recuaria; de fato ,o socialismo pleno era
inviável. Em 3: de fato, a revolução avançaria em permanência; de fato, era
impossível novas revoluções burguesas; de fato, a burguesia recuaria; de fato,
o operariado poderia ser gigante na Rússia; mas o socialismo era relativamente
impossível ainda. Ocorre que cada tese limitava a outra não somente no plano
das ideias – na prática, na realidade. Todos eles erraram ao não preverem a
burocratização do Estado como a mais radical democracia da história humana, a
dos soviets, degenerar numa das mais duras ditaduras da história humana, como o
mais revolucionário partido da história degenerar num dos maiores aparatos
contrarrevolucionários da história.
***
Como dito
antes, Trotsky atualizou – inconscientemente – a teoria marxista ao descrever
que a nova forma de sociedade teria três, não duas, etapas: transição,
socialismo, comunismo. Os países que passaram pelas revoluções parciais estavam
na primeira etapa, a transição, onde o capitalismo ainda não poderia ser
totalmente superado. Logo, do ponto de vista científico, é errado chamar
aqueles países socialistas ou comunistas até a década de 1990. Eram sociedades
transicionais onde a transição era muito mais difícil, pois ainda havia muito a
amadurecer dentro dos limites do imperialismo. Em sua Ontologia, Lukács afirma
a irreversibilidade dos processos, incluso sociais, como a impossibilidade de
retornar ao feudalismo após a revolução francesa. A aparência dos fatos no fim
do século XX o contradiz, mas apenas para percebemos a prematuridade dos
processos forçados por altas contradições conjunturais e estruturais.
Aqui a
confusão teórica é completa. O socialismo inicia-se como ainda herdeira direta
do capitalismo, com elementos capitalistas ainda dentro de si. Por causa dessa
consideração, os marxistas viram apenas o caráter transicional socialista
naquelas sociedades sob (dupla e parcial) revolução; o polo capitalista
aparecia apenas como parte desse incômodo passageiro do processo. Mas os revolucionamentos
ocorreram em países muito atrasados e, ao mesmo tempo, décadas antes de as
condições internacionais para o fim do capitalismo começarem de fato a amadurecerem
(a época de decadência, consolidação, do imperialismo desde – como início – a década
de 1970, aprofundada em 2008, que tende
a durar, como sua ascensão, como vimos em outro capítulo, 100 anos, com salto
qualitativo até mais ou menos os anos 2050, como ascensão). É como se a
revolução burguesa e o caráter também burguês daquelas nações estivessem por detrás,
pelas costas da revolução vermelha, escondido embaixo da aparência. Se eram
transição ao socialismo, eram igualmente transição ao capitalismo – os polos
opostos anulavam-se em seu conflito e diferença. Mas a vitória final, após certo
progresso pela relação dos em contraste, só poderia ser dada a um dos
lutadores. Lenin disse que não há situação absolutamente sem saída, como
caráter probabilístico e não determinístico; mas a história é cruel com os
grandes líderes mais maduros do que as circunstâncias, diria Engels. As
revoluções burguesas prematuras, ainda segundo Engels, como na Alemanha,
jogaram este e outros países por muito tempo em atraso e fragmentação, pagando
pesado preço pela ousadia antes da hora marcada. As revoluções duplas, por
serem duplas, pelo menos foram ainda muito mais longe[10]
como esboços do que os esboços capitalistas de seu nascimento. Ficamos,
portanto, como o duplo de um poeta: “Força não há capaz de enfrentar/uma ideia
cujo tempo tenha chegado/A força não é capaz de salvar/uma ideia cujo tempo
tenha passado/(…)/Pra pegar a onda tem que estar/na hora certa num certo lugar…”
***
Percebendo a
bifurcação do destino da URSS – ou revolução política, devolver o poder aos
trabalhadores, ou retorno ao capitalismo – Trotsky elaborou possiblidades de
restauração, de diferentes formas:
1)
Invasão
estrangeira – tentada por Hitler cuja derrota deu fôlego ao regime de Estado do
país vitorioso;
2)
A classe
trabalhadora soviética ser ganha ao capital pelo prazer do acesso de
mercadorias baratas e de qualidade de outros países – a crise inflacionária nos
países capitalistas retardou a expressão do avanço técnico na produção de bens
de consumo nos preços, mas as crises de subprodução e a baixa qualidade dos
produtos também atuaram internamente para desmoralizar o lado vermelho do
mundo;
3)
A burocracia
desenvolver-se ao ponto de minar a sociedade para transformar a grande
propriedade estatal-planejada em propriedade privada – esta foi a possibilidade
que ganhou concretude, a mais correta. Porém Trotsky supunha daí um processo
violento de guerra civil por razão da contrarrevolução burguesa,
restauracionista. As lutas aconteceram em quase todos os países sob ditaduras burocráticas,
mas de maneira confusa e em proporção desigual ao tamanho do ataque. A
contrarrevolução deu seus golpes finais por meio de “reformas”.
A pergunta
imposta é por que a restauração deu-se por contrarreformas, não por
contrarrevolução, diferente do que previu o fundador do Exército Vermelho. Esta
diferença entre a previsão e a realidade foi pouco observada pelos teóricos. Se
o Estado era operário, ainda que deformado, o salto regressivo só poderia ser
feito por ruptura brusca. Trotsky nomeou reformismo regressivo, reformismo
investido, teorizar o fim do “socialismo real[11]” sem
altíssimos conflitos, pois seria supor o retorno ao capitalismo por via gradual
assim como a concepção reformista de avanço pacífico ao socialismo. A
explicação do erro de Trotsky e do processo tal como ocorreu também está no
fato de estarmos diante de Estados de duplo caráter, operários e burgueses, além
de revoluções de duplo caráter, e a burocratização da burocracia ou, o que é o
mesmo, o regime de Estado expressava o polo capitalista, o passado insistente
representado. O fato de terem duplo caráter as revoluções e os
Estados, somado ao atraso histórico de onde partiam, demonstra que o polo
capitalista poderia impor-se por “reformas liberalizantes”. Por outro lado,
porque havia também um polo socialista naquelas sociedades, mais do que apenas
“capitalismo de Estado”, é que as medidas puderam ser tal como de fato foram,
ou seja, destruíram o monopólio estatal da economia, o planejamento geral
centralizado, o controle do comércio exterior, o uso de vales em substituição
ao dinheiro, o emprego pleno obrigatório, etc.
A teoria da
revolução permanente fazia previsões cujos resultados poderiam ser positivos ou
negativos. Ou a democracia socialista era imposta pelos trabalhadores, dando
novo impulso à revolução mundial, ou o capitalismo retornaria. Tal conclusão foi
considerada absurda, contrarrevolucionária e irrealista quando proposta por
Trotsky, porém a história lhe deu razão da pior maneira.
***
As
revoluções parciais, limitadas por suas próprias épocas, permitiram inúmeras
reformas e conquistas sociais em todo mundo, mais do que apenas naqueles países
revolucionados. Muito mais do que isso: como ensaios gerais antes de o palco
estar pronto, legaram-nos uma fina flor teórica como a teoria do partido de
tipo bolchevique, a teoria do imperialismo, renovações na arte militar, a
teoria da revolução permanente (a mais correta e avançada de sua época), a lei
do desenvolvimento desigual e combinado, a teoria da curva de desenvolvimento
do capitalismo, o programa de transição ao socialismo, acertos e erros de medidas
transicionais, e assim por diante. Nestes casos, a revolução russa deixou
inúmeros ensinamentos vitais para podermos acertar, como saber, por exemplo, de
que modo devemos organizar um partido de fato comunista; este conhecimento
permaneceria até hoje marginal não fosse a ousadia de Lenin e Trotsky.
***
A teoria da
revolução permanente antecipou nossa época, mas ela via, já naquele tempo, que
os países atrasados apenas cumpririam sua modernização por meio do socialismo
diante da opressão imperialista. Para Trotsky, o socialismo era a única
alternativa civilizatória imediata.
O Brasil, por
exemplo, entrou no século XX, digamos desse modo, com a contrarrevolução de
1930. O semifascismo de Getúlio Vargas pôde iniciar ou consolidar:
1 – O
processo de urbanização do país;
2 – Uma
sólida indústria de base – estatal;
3 – Maior
número de letrados, especialistas;
4 – A
preparação para a entrada do capital internacional.
Em um
discurso de balanço mais que simbólico, afirmou o ditador:
A qualquer observador de bom senso não escapa a
evidência do progresso que alcançamos no curto prazo de 15 anos. Éramos, antes
de 1930, um país fraco, dividido, ameaçado na sua unidade, retardado cultural e
economicamente, e somos hoje uma nação forte e respeitada, desfrutando de
crédito e tratada de igual para igual no concerto das potências mundiais!
Há certo
exagero na citação, mas porque a realidade foi, de fato, impressionante em seu
salto qualitativo interno – outro Brasil surgiu, embora o mesmo e com seu
passado. Não por acaso, neste país tivemos a famosa construção “façamos a
revolução antes que o povo a faça”.
Se
pedíssemos a Lenin a demonstração da crise do sistema desde a queda da taxa de
lucro a níveis limites, ele nada poderia dizer. Se exigíssemos de Trotsky a
redução do trabalho manual e do valor como tendência do fim sistêmica, ele não
poderia expor algo do tipo. Se perguntássemos a Sverdlov sobre a crise
ambiental que ameaça nossa espécie, ele não entenderia muito bem do assunto. Se
usássemos o nível de urbanização daquela época, nada seria dito pelos dados.
Portanto, apenas hoje temos a crise no fundamento. Antes, eles usariam apenas a
empiria das duríssimas guerras e crises. Finalmente, uma crise – de máxima
dialética, no fundo.
***
Demonstrada
a impossibilidade do socialismo no século XX, resta uma pergunta que nos forçará
a antecipar temas de modo telegráfico: por que, então, tais países
atrasadíssimos conseguiram implementar alguns aspectos socialistas, mesmo que
por curto período conjuntural e histórico? O capitalismo é todo um modo de
vida, uma época da história. Mas, ao mesmo tempo, é transição, quase mera transição,
entre o passado classista e o futuro aclassista do comunismo. Seu caráter
transicional, mesmo que precise de maturação, permitiu aspectos socialistas em
sociedades muito atrasadas. Como desenvolvimento imenso da química no universo,
o grafite e o diamante são diferentes, mas o mesmo, átomos organizados de modo
distinto. Em sua fase madura, o capitalismo é socialismo de cabeça para baixo.
***
O grande
significado histórico é que o capitalismo foi restaurado pelas castas
burocráticas quando o desenvolvimento das forças produtivas estava tornando-se
enfim maduro para o socialismo. Sendo mais preciso, e aqui entra a ironia da
história, a restauração do capitalismo ocorreu porque as forças produtivas estavam tornando-se maduras para a via
socialista.
“Se todas as
condições de uma Coisa estão presentes, então ela entra na existência.” (Hegel,
2017, p. 130.) Demonstramos que faltava fundamento histórico para o socialismo,
ou seja, faltava o indispensável desenvolvimento alto das forças produtivas
mundiais e nacionais; por isso foi fácil a restauração completa do capitalismo,
por isso a burocracia na China viu uma oportunidade de ouro retornar completamente
ao capital, por isso houve ditaduras em todos os Estados de transição com duplo
caráter. Mas, por outro lado e oposto, porque as condições tornavam, cada vez
mais, possível e necessário a sociedade socialista, encerrando o império dos
privilégios despóticos crescentes, houve a assim chamada restauração. A China,
por exemplo, apenas poderia manter o caminho ao socialismo por saltos
econômicos rumo à automação com informática e por revolução política que implementasse
a democracia do socialismo – o que daria grande impulso à revolução mundial.
TESES – NOVA
REVOLUÇÃO PERMANENTE
Pela
importância do tema, apresento de modo telegráfico a maior parte de nossas
conclusões, em resumo:
1. As revoluções sociais do século XX tinham duplo
caráter, burguês e socialista.
2. Eram sociedades transicionais de dupla natureza,
socialista e capitalista.
3. A restauração plena do capitalismo ocorreu
porque as forças produtivas – a partir de um certo ponto, quando a nova técnica
passou a guardar um conteúdo oculto socialista – só poderiam se desenvolver se
mudasse o regime social, pois havia uma contradição entre governo burocrático e
as novas possibilidades tecnológicas (automação, informática etc.).
4. Derivada
da primeira, além dos demais pontos anteriores, a segunda causa da restauração
é que a contradição entre as tendências socialistas e capitalistas, que teve
certo efeito progressivo e movente no começo, paralisou aquelas sociedades,
levando-as a decidir qual dos dois caminhos prosperaria.
5. A premissa da revolução permanente, estar na
época de transição ao socialismo, estava errada até há poucas décadas.
6. Tais revoluções sociais se deram em uma época
em que o tempo da revolução burguesa já havia passado e o da revolução socialista
ainda não estava madura.
7. O regime ditatorial da burocracia em países
além da URSS prova que eram revoluções prematuras, antes das condições nacionais
e internacionais maduras.
8. O papel importante do campesinato até mesmo na
revolução russa se dá porque as revoluções também eram burguesas, por isso a
base social histórica correspondente (os camponeses são base social das clássicas
revoluções capitalistas).
9. O retorno pleno ao capitalismo deu-se por
contrarreformas, feitas em silêncio pela burocracia, não por contrarrevolução
(diferente de como previa Trotsky), porque eram também capitalistas – e as
medidas específicas (fim do planejamento geral, do uso de vales em substituição
ao dinheiro, etc.) ocorreram porque eram também socialistas.
10. As
nações “socialistas” não centrais apenas poderiam manter-se com elementos
socialistas se permanecessem com elementos de socialismo os países centrais
Rússia, China e Alemanha oriental. Por essa dependência econômica e social, a
queda do socialismo “real”, fictício, nos três citados impôs capitalismo aos
demais.
11. As novas revoluções sociais serão de
liderança operária – primeiro, variante mais provável. Mas a concentração
enorme de setores populares (comerciários, funcionários públicos, autônomos,
bancários etc.) no espaço urbano dá base, depois, estimulada, pela revolução
operária, para novas revoluções socialistas de força popular, não proletária.
12. Os países onde o Estado é
privatizado ou há fusão entre líderes políticos e patrões – Arábia Saudita,
Egito, Síria, etc. – é praticamente impossível uma revolução para implementar
apenas democracia, por isso as revoltas em tais nações devem lutar diretamente,
em permanência, avançando, pelo socialismo, pela democracia superior e real.
13. A falta
de revoluções socialistas vitoriosas nas últimas décadas avisa que a próximas
primeiras revoluções devem ser, em certo sentido, “ortodoxas”, de liderança operária
e com partidos leninistas.
14. Para ser
liderança em revoluções, em grande medida a classe operária precisará, por
estar mais fragmentada e reduzida, de seu próprio partido, leninista, como
liderança.
15. A
revolução socialista, sob certas circunstâncias, tendem a ocorrer antes nos
países dominados por serem mais atrasados, por terem menos possibilidade
capitalistas de desenvolvimento, por serem mais contraditórios, por combinação
do velho e do novo, por tarefas democráticas ainda não resolvidas etc.
16. Porque o
capitalismo, além de ser de fato um sistema, ser também e quase apenas a
transição entre o passado classista e o futuro comunista, permitiu que
revoluções parciais e duplas em países atrasados adotassem certas medidas socialistas.
Mesmo assim, a transição, o capitalismo, precisa de seu próprio tempo e
maturação.
17. Graças à
internacionalização quase máxima da economia e da sociedade atuais, como com a
internet, tonou-se mais fácil, possível e necessária a internacionalização da
revolução socialista – antes muito difícil e improvável.
18. A
história tem a seguinte lei: algo do tipo grandioso primeiro ocorre como
"ensaio geral" e depois como fato para si. O século 20 foi o ensaio
geral da revolução socialista, própria do século 21.
A nova
revolução permanente, herdeira direta da anterior, deriva de seu caldo
histórico, torna-se necessária.
QUATRO
CAUSAS E SOCIALISMO DITO REAL
Sabe-se que Aristóteles, ao fazer balanço
da filosofia grega, levantou quatro causa: material, formal, eficiente e final.
Começo pela exposição lógica para adentrar no tema. Vejamos nas história
tratada neste capítulo.
Causa
eficiente: “intenção” clara ou inconsciente das revoluções – tentou-se mover o
mundo causalmente para o socialismo.
Causas
material e formal: o conteúdo e a forma real daqulas sociedades, que deram base
também para suas revoluções.
Causas
final, teleologia (objetiva, inconsciente): suas realidades finais, suas
consequências – como desenvolver o mundo do capital pela negação parcial dele.
Por outro lado, o objetivo dos revolucionários e dos burocratas.
Eis a lógica
ideal na lógica real. Em nosso debate sobre metafísica, ficará ainda mais
claro.
PREMISSAS
FINAIS
Retromemos
as premissas textuais, não de início, que serviram de abertura deste capítulo:
“Estamos no
socialismo, mas os dirigentes já estão no comunismo.”
Ditado
popular soviético.
Ou seja,
alienação, ou seja, não socialismo real. Eisntein foi ainda mais longe:
“Contudo é preciso lembrar que uma economia
planejada ainda não é socialismo. Uma economia planejada pode ser acompanhada
por uma escravização completa do indivíduo. A realização do socialismo requer a
solução de alguns problemas sociopolíticos extremamente difíceis: como é
possível, em face da centralização abrangente do poder político e econômico,
impedir que a burocracia se torne todo-poderosa e prepotente? Como se podem
proteger os direitos do indivíduo e garantir com isso um contrapeso democrático
ao poder da burocracia?”
(Einstein A.
, 2007)
Ele não
poderia resolver a questão porque ela ainda não tinha solução. Mas o motivo da
impossibilidade de resolução precisavar ser dita. Exato quando as condições do
socialismo foram, grosso modo, dadas, ocorreu o retorno ao capitalismo:
“A atual
geração do povo soviético viverá sob o comunismo [na década de 1980].”
Nikita
Khrushchov, em 1962.
Ele não
estava mentindo, nem foi aposta cega. Mas passemos para a ultima citação: os
bolcheviques tiveram que tomar decisões muito diferentes de seus perfis; com a burocratrização,
em todos os países revolucionados os revolucionários foram mortos (perseguidos
etc.) ou degeneraram. Engels dá a pista imensa:
“Nada pior
pode ocorrer ao chefe de um partido radical que se viu obrigado a tomar o poder
em uma época em que o movimento não está ainda maduro para a classe que
representa e para a execução das medidas que exigem o domínio dessa classe
(...) O que pode fazer está em contradição com toda a sua atuação anterior, os
princípios e os interesses imediatos do seu partido; o que deveria fazer não
poderia ser colocado na prática. Em uma palavra, é obrigado a representar não o
seu partido e a sua classe, mas a classe para a qual o domínio do movimento se
encontra maduro.”
Friedrich
Engels
O estado
“apenas” socialista, ao promover forças produtivas ainda de conteúdo burguês,
cumpriu tarefas burguesas, tarefas democráticas etc. logo, um estado “apenas”
burguês. Chegamos cedo demais, mesmo. Por isso, agora, chegaremos um tanto
atrasos, pois a derrota histórica impactou por demais.
CRÍTICIA À
CRÍTICA DE MORENO À REVOLUÇÃO PERMANENTE
De modo
correto, Moreno vê que a teoria de Trotsky estava incorreta (algo curiosamente
deixado de lado por morenistas), mas não aponta a causa do erro, não sabe dela.
Nós descobrimos: o general russo partida de duas premissas verdadeiras hoje e
erradas no seu tempo – 1) de que havia chegado o esgotamento do capital e 2)
havia começado a época da revolução socialista. Ainda assim, o argentino
observa (como nosso complementos):
1. Previa-se que, grosso modo, apenas o partido
revolucionário lideraria as revoluções – mas a regra foi oposta, partidos
centralistas burocráticos e centristas.
2. Previa-se que haveria apoio de revoluções nos
países adiantados – não ocorreu.
3. As tarefas democráticas burguesas só seriam
satisfeitas via socialismo – não foi em todos os casos, embora ocorresse.
Mas ocorreu
a previsão certa de 1) revoluções antiburocráticas, mas derrotas; 2) risco de a
burocracia restaurar o capitalismo, o que aconteceu; 3) revoluções socialistas
acontecerem em países em si imaturos, que foi a regra universal.
Moreno
afirmou que dois fatores mais um (derivado natural) deveriam permanecer da
teoria 1) a necessidade de um bom partido, 2) a necessidade de revolução se
tornar internacional, 3) a necessidade imperiosa de democracia. Porém, exceção
talvez de 1, os outros dois são vivos princípios desde Marx, nenhuma novidade
real.
Trotskystas
conservadores ao extremo, incluso morenistas, deixam de olhar a realidade de
modo cru e permanecem intactos na teoria, da permanente revolução, que precisa
e foi atualizada agora. A teoria que apresento, aqui, explica porque Trotsky e
Moreno acertaram e erraram aonde acertaram e erraram. Se estes capítulo e livro
não lhes abrir os olhos, não expandir suas consciências; então, com dificuldade
serão bons dirigentes ou capazes de ver o mundo.
Valem ainda
observações sobre a revolução permanente em Marx e Engels. O critério permanece:
a criatividade tentou resolver o problema da revolução em países imaturos numa
época não pronta para o socialismo na essência, mas pronta na aparência. Na
Ideologia Alemã, afirmam: mesmo países atrasados como Alemanha poderiam ir ao
socialismo se com apoio internacional. Vale insistir que a revolução ser, em
pouco tempo, mundial, trata-se de uma premissa comum do marxismo, não do
trotskysmo em si – em Princípio básicos do Comunismo, texto que prepara o
Manifesto, já há tal orientação internacionalista clara. Depois, na revolução
alemã da primavera dos povos, Marx e Engels avisam que aburguesia não iria para
a sua própria revolução (tese de revolução peramente) e que a pequena burguesia
tomaria o leme no começo (substituição de classes no papel histórico, teses
também da teoria) – mas que os operários deveriam ser independentes, exigir
cada vez mais, rumo ao socialismo, numa revolução permanente (expressão deles!)
de fato (outro aspecto da revolução permanente aí, embora cru: exigências
transitórias, que forçam ir ao socialismo). Em famosa carta à uma
revolucionária russa, Marx, já bastante velho, afirma que a comuna atrasada do
campo russo poderia saltar direto para o socialismo sem necessidade de toda a
longa etapa burguesa da propriedade rural. O caldo estava pronto, embora
Trotsky desconhecesse tais textos. Há um detalhe: no texto militar “Os
bakhunistas em ação”, Engels dá por base da influência anarquista, dos erros
militares, da derrota do processo revolucionário etc. o caráter imaturo da
economia espanhola à época, ainda incapaz de socialismo. Nem sempre o
raciocínio mais sofisticado é o mais correto. Vale pontuar que a teoria da
revolução permanente de Marx na Alemanha provou-se errada, ao menos em seus
resultados, pois foi-se do feudalismo ao capitalismo de modo gradual e por
cima, sem saltos; os motivos disso são: a) como classe privilegiada, os
senhores feudais, diante de um mundo hostil, alegraram-se em transmultar-para
burgueses (a contra gosto, em oposição, o senhor de escravo tornou-se senhor
feudal, mas seu sangue imperou ainda); b) o capitalismo já havia se consolidado
no mundo; 3) já haviam ocorrido muitas revoluções como na América inteira, na
Fança, na Inglaterra – evitou-se a revolução pequeno buguesa, não burguesa, o
que demonstrou a pressa histórica de Marx na sua critatividade política e
teórica. Apenas agora, com todas as crises maduras numa crise sisêmica, como
veremos ao longo desta obra, a revolução permanente pode ser compreendida,
prosperar e ser atualizada.
INCÔMODA
HIPÓTESE
O trotskismo
hoje é centrista, burocrático, passivo, sindicalista, rotineiro, sectário, amante da marginalidade etc. Antes, partidos
com este perfil, mas estalinistas, foram obrigados a tomar o poder, apesar de
si. Talvez, desta vez, aqueles que supostamente reivindicam Trotsky tomem o
poder por força das circunstâncias, apesar de suas incapacidades. No entanto,
tal variante deve ser apenas considerada, pois não devemos arriscar o destino
da humanidade tomando como certo esse caminho impróprio. Se uma seita tomar o
poder sem se revolucionar por dentro, influenciará de modo negativo, por um
lado, o perfil dos partidos vermelhos em outros países, mesmo que a revolução
vitoriosa estimule o movimento comunista por outro lado.
[1] Se
nos é permitido um debate filosófico, as posições caíram na oposição do
entendimento, ou-ou, quando deveriam avançar para e-e. Melhor. Isto e aquilo mais nem isto nem aquilo,
Estado operário e burguês ao mesmo tempo que nem propriamente operário nem propriamente
burguês.
[2] A
exposição deste amálgama, da colonização, apenas reproduz conclusões de Moreno.
Sobre, ver:
[3]
Mandel também vai rumo à posição de Trotsky: “Uma economia híbrida. Entretanto,
apesar do funcionamento da economia soviética não ser dominado pela lei do
valor, ela também não pode abstrair-se de sua influência. Apesar de não ser uma
economia capitalista, isto é, uma economia baseada na produção generalizada de
mercadorias, também não é uma economia socialista voltada para a satisfação
direta da necessidade humana, uma economia na qual o trabalho possui um caráter
imediatamente social. É uma economia pós-capitalista com elementos de mercado.
A sobrevivência parcial da produção de mercadorias é combinada com o domínio
parcial da alocação direta de recursos produtivos.”
[4]
Aqui, pode ser útil uma comparação. As ideias de gravitação de Newton são
corretas até certo importante grau: resolveram questões científicas e
permitiram fazer previsões acertadas. No entanto, algumas questões ficavam em
aberto, como a precessão anômala do periélio de Mercúrio. Uma teoria nova, de
Einstein, concluiu que a gravidade não era uma força mas a curvatura do tecido
espaço-tempo provocada pela massa (e pela energia). A teoria anterior
permaneceu útil até certo grau, porém outra solucionava as questões postas.
Toda essa digressão visa ganhar o leitor para nossas conclusões. O autor
reivindica o ortodoxismo trotskista, embora dialogue criticamente com outras
tradições ao longo da obra; é reconhecível o grande valor da teoria da
revolução permanente, que dela surgia uma luta justa. Porém: o próprio Trotsky,
enquanto estivesse vivo, atualizaria suas formulações à luz dos novos fatos. A
mente aberta é, portanto, uma vantagem dos marxistas, a negação do dogmatismo.
[5] O
fato de estas condições materiais estarem maduras apenas na história recente é
uma demonstração de que a realidade antes estava imatura para a revolução
socialista e seu regime de Estado, a democracia socialista.
[6] Sendo um grande entre os nossos, Mészaros
obteve respostas inconclusas ao lhe faltar, neste tema, a devida atenção à
Revolução Mundial. A ele, como a Lukács, bastavam outras medidas de Estado,
internas, à revelia da revolução internacional, para haver outro rumo. A
categoria “pós-capitalismo” revela-se, se correta a formulação geral deste
capítulo, uma categoria apenas em parte certa, de aparência. No Grundrisse,
Marx diz que o capital somente pode existir como muitos capitais e luta entre
eles, o que parece refutar Mészàros, pois tudo estava unido no Estado, mas isso
é parcial, pois, vendo desde o mundo, não desde um país isolado, a URSS etc. tinham
de lidar com o mercado mundial. O capital interno era, portanto, Sui Generis.
[7]
Faltou Moreno e Piaget destacarem, por outro lado, na dialética, a necessidade crescente.
[8] O
programa dos Bolcheviques era avançado, ainda mais considerando aquele país
naquela situação, ou seja, a estatização da grande propriedade rural sob
controle de seus funcionários, do operariado rural. Porque a revolução também
era burguesa, além de socialista, além de parcial, o partido teve de recuar da
sua proposta, apoiando a luta por reforma agrária, fragmentação da terra. Isso
tem consequências até hoje: atualmente, os partidos vermelhos ainda insistem na
reforma agrária, como eixo e não secundária, um recuo programático, como sua
proposta central para o campo. Está mais do que na hora de corrigir tal limite.
Devemos ir para frente, não para o passado: a grande propriedade rural, se
unificando as terras e empresas do campo, permitirá, por exemplo, comida
barata, até gratuita, além de manter, no socialismo em seu começo, saudáveis as
contas internacionais com a exportação de grãos, carne etc.
[9]
Sendo trotskysta, o autor tem maior facilidade de criticar ao trotskismo. Os
argumentos externos sobre as causas da burocratização – morte da vanguarda,
desarticulação da produção, isolamento momentâneo etc. – são, na verdade, a
regra, grosso modo, de todas as revoluções socialistas… Se levamos seus
argumentos a sério, deriva-se daí que todas as revoluções socialistas futuras
degenerarão em ditadura bonapartista de uma burocracia, assim como toda
revolução burguesa tronou-se ditadura militar… Mas o único argumento que se
sustenta por inteiro é que aqueles países revolucionados eram imaturos, assim
como imaturos os países considerado avançados à época. Para Trotsky, a
burocratização na Rússia era uma anomalia em princípio irrepetível, além de
breve no tempo. Apenas hoje, em nosso tempo, temos um beco sem saída para o
capital.
[10]
Isso foi facilitado, também, pelo fato de o capitalismo ser uma transição,
quase mera transição, entre as sociedades de classes e o socialismo –
debateremos ainda em outros momentos.
[11]
Por nossa teorização, concluímos que o chamado socialismo real era, em certa
medida, na verdade, uma ficção de socialismo.
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