A METAFÍSICA
MARXISTA
Nova
dialética da natureza
Uma teoria
de tudo
ESPAÇO = MATÉRIA
Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma
coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada,
plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.
No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa
sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa
coisa sensível-suprassensível.
(Idem,
ibidem)
O valor do ferro, do linho, do
trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas…
(Idem, p. 170)
Aqueles que
acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem
que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante
(in actu).
(Marx, O
Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
Mais-valia e
taxa de mais-valia são, em termos relativos, o invisível e o essencial a ser
pesquisado, enquanto a taxa de lucro e, portanto, a forma da mais-valia como
lucro se mostram na superfície do fenômeno.
Tem que se
deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.
ALERTA AO
LEITOR
Embora não
saiba, tu tens necessidade de uma obra qualitativa, que mude teu modo de pensar
ou, se jovem for, o faça dar um salto necessário. Sentes, mas não percebes. Os
livros comuns apenas fazem digressão, contribuem pouco, repetem os ritos e as
palavras já postas etc. O texto adiante é uma ruptura com a tradição até aqui,
mesmo. Trará uma visão completa de mundo, base para a ciência-filosofia geral.
Se duvidas, leia-o! Aqui, não cultivamos falsas humildades, pois temos de dizer
a verdade na sua medida tão exata quanto possível: um novo paradigma surge. Com
esta obra, concluímos a história da ciência e da filosofia nos seus aspectos
gerais e essenciais. Parece muito, algo impressionista e megalomaníaco, talvez
delirante – porém estás avisado dos desafios e da aventura das próximas
páginas.
GLOSSÁRIO
Prefácio
Marx, o capital e a metafísica
Por que a metafísica é antiburguesa?
O que é metafísica?
Seção um
O ser, o
cosmo
A história
da e na ciência
A igualdade
de tudo
O cosmo, o
ser
As leis
gerais da metafísica materialista
O ser e o
socialismo
O ser e a
natureza humana
O ser e a
dialética
O “outro
lado” metafísico
O abstrato é
o concreto em processo
O absoluto
A vitória do
materialismo
Antinomias
de kant contra o materialismo
Objetivo ou
subjetivo?
Gnosiologia
ou ontologia?
Materialismo
ou idealismo?
A liberdade
objetiva ou dialética
Teleologia
objetiva
As causas
O que é a
consciência, a mente?
Seção dois
Nova teoria
geral do valor
Valor-trabalho
e valor-matéria
Generalização
do valor-trabalho
Teoria do valor-matéria
Tríade una do valor
Seção três
Teses sobre
questões abertas nas ciências naturais
As questões
abertas na física moderna
A crise da
física moderna
Física
quântica e dialética
Hegel: pai
da teoria do Big Bang
Biologia e
dialética
Seção quatro
O método
dialético empírico dedutivo
Leis e
categorias da dialética
Os métodos
científicos
Método
empírico-dedutivo
Seção cinco
A filosofia
e a ciência
A filosofia
científica, da ciência
Força, átomo
e campo
Sobre a
teoria do Big Bang
Matemática
Teoria do
caos
A superação
social dos métodos científicos
Tempo
Causalidade
O fim do
paradigma aristotélico
Trabalho,
linguagem e sociabilidade
Críticas
contemporâneas à metafísica
As duas
oposições científicas
Platão e
Nietzche
Dialética
Sentir e
pensar na ciência
As feridas
narcísicas da humanidade
A teoria de
tudo
Ideologia
Objetivismo
A duplicação
dos mundos moderna
Geral, particular
e singular
Dedução do
espaço ou campo como linha
Dedução da
unidade espaço-matéria
Dedução da
quarta dimensão
Sobre o nada
Extra: os
paradoxos
O colapso
ambiental
Marxismo e
metafísica
Tecnologia
moderna
Educação
O
terrraplanismo
Religião e ateísmo
Axiomas
formais
O idealismo
de Lukács
A dialética
nos marxismos
Categorias e
sistemas
Linguagem e
metafísica
Linguagem e
metafísica
Sobre o
sujeito
Modas
intelectuais
Sobre
teóricos marxistas
Reformar ou
revolucionar a filosofia?
As pulsões
do homem
Sistema
filosófico ou científico?
Ainda sobre
sujeito e objeto
Teoria
marxista da alienação
Pós-modernismo
e método empírico-dedutivo
Amuleto
metafísico
Esboço por
uma história materialista das ideias
Sobre esta
obra
Poemas
científicos, universais
Apêndices
A categoria mais-poder
O capitalismo como (modo de) transição
PREFÁCIO
Hegel
alertou que uma introdução de obra, um prefácio, precisa evitar ser um resumo
do conteúdo logo em seguida. Sigo tal norma dialética. No entanto, alguns
esclarecimentos e reforços continuam necessários. Vejamos juntos.
O tempo da
filosofia profunda parecia ter passado em nossa época de distração e modos
rasos. Nada pode ser maior. Até na política, interrompeu-se a noção de projeto,
pois o muro de Berlim caiu sobre nossas consciências. Assim, no fragmentado soa
como algo distante qualquer projeto sistemático. Mas a necessidade por
conclusões gerais hora ou outra iria impor-se, de um modo ou de outro. Uma
possibilidade crescente amadureceu no real, exigindo tradução e organização
teórica.
O PAPEL DE
ENGELS
Quando um
pensador meio marxista quer negar Marx de algum modo, costuma atacar de maneira
covarde, indireto, culpando Engels de todos os pecados mortais. Se há o “erro”
da dialética, a suposta farsante caluniada, cabe a este o peso do uso dessa
filosofia… Para mim, no entanto, ele é um mestre imenso. Cabe lembrar que Marx
aprovou, em cartas, a busca de Engels por uma dialética da natureza e apoiou em
vida a obra Anti-During, escrita por seu amigo, onde este expôs de modo claro
sua visão do não social como dialético.
Mas também
evitamos a visão dogmática dos mestres, que cometeram alguns erros ou pararam
em limites parciais, em grande medida empostas por suas épocas. Minha dialética
é um desenvolvimento qualitativo da dialética desses materialistas; além disso,
discordo em profundidade da afirmação engelsiana de que dialética e metafísica
são totalmente diversos, água e óleo. Dialética é certa e correta metafísica
dinâmica. Por isso, nesta obra, permito-me a ousadia de tentar responder várias
lacunas da filosofia e da ciência, mais do que demonstrar que a concepção
dialeticista é confirmada pela ciência moderna.
A CIÊNCIA
MODERNA
Após Engels,
apenas Lenin tentou pesquisar sobre o mundo não social, oferecendo alguma
conclusão sobre. Porém, ao fazê-lo, o líder russo ainda não havia estudado a
Ciência da Lógica de Hegel, que tanto o transformará nos anos da grande guerra.
De qualquer modo, mais de 100 anos depois, sua contribuição está desatualizada.
A física
quântica travou-se numa quase revolução, quase respostas. A física moderna foi
longe, muito, recentemente descobrindo que o universo está em expansão
acelerada, por exemplo (até tal expansão tem história, modifica-se!). A química
também avançou, e continua motor vital para o desenvolvimento da indústria. A
biologia impulsionou a genética e avançou para sua unificação coma teoria de
Darwin, a nova síntese evolutiva. Os exemplos são muitos, e precisam de uma
visão filosófica unificadora.
Nesse
sentido, muita pressão recebi do meio ambiente hiperespecializado de nossa
época. Mas o perfil pessoal de querer o impossível, saber de tudo, ao menos nos
aspectos gerais corretos, levou-me de modo inconsciente a uma concepção geral.
Via de regra, o filósofo tem uma premissa ou visão de mundo do qual deriva suas
conclusões, seguindo seu sistemismo. Tive de fazer diferente, o oposto:
primeiro, cheguei a conclusões relativamente separadas na arte militar, na
psicologia e na essência humana, na física, na filosofia, na história etc.
para, apenas então, derivar, perceber, que havia um fio condutor comum, que
unificava numa teoria de tudo a realidade. O sistema filosófico-científico é,
portanto, conclusão, não o começo ou o primeiro.
É comum que
os marxistas e pessoas das chamadas “humanidades” entendam pouco de ciências da
natureza e da matemática. Meu caso não era diferente, por isso fiz todo um
programa de estudo e pesquisa que partia do básico, matemática básica, para
evitar qualquer lacuna, até a matemática e ciências avançadas. É raríssimo
encontrar marxistas que dominam bem as ciências humanas de um modo geral, da
economia até a ciência militar passando pela psicologia, e, ao mesmo tempo, uma
visão estável da moderna ciência natural. A especialização excessiva cobra
muito caro.
Isso nos
leva à questão da metodologia. Aqui, exponho de modo resumido o método
empírico-dedutivo junto com um desenrolar da dialética para nosso tempo. Tal
método nada mais é que o dialético sob nova roupagem, em oposição, real e conceitual,
ao limitado hipotético-dedutivo.
A FILOSOFIA
Com este
material, quero resolver com um ponto final, e como ponto de partida, a milenar
disputa sobre a questão do Ser. A filosofia de nossa época ou rejeitou a
questão a priori, diante da enorme dificuldade, ou deu passos ruins nessa
direção. Lukács poderia ter resolvido a polêmica já na década de 1960, mas
limitou-se à ontologia, metafísica, apenas do ser social. Ver-se-á nas próximas
páginas como sua ontologia, correta, está abaixo da nossa, mais geral e
profunda. A questão do Ser mobilizou os melhores filósofos não marxistas nos
últimos 200 anos, mas que se perderam na sua pureza suposta, na negação do
ente, na falta de domínio da ciência natural etc. Os marxistas antimetafísicos
estão com Kant e com os positivistas, em má companhia. Kant contrapôs os
avanços da física contra a estagnação da metafísica; ora, deixou de ver que a
metafísica correta deve surgir da física contemporânea e da ciência; eis o
segredo.
Se esta obra
apresentar algo correto nos seus aspectos gerais, trata-se, junto com a obra A
crise sistêmica, de uma revolução copernicana na ciência e na filosofia, logo
precisa ser reconhecida como tal. Dois limites subjetivos atrapalham tal
reconhecimento: 1) acadêmicos sentem-se na obrigação de sempre discordar, nunca
entrar em acordo; 2) esta obra foi escrita por um autodidata, sem prestígio e
cargos. Algo novo tende a causar, quando não a cínica indiferença, a rejeição
inicial.
Eis que
entra em questão os pares. Nunca tivemos tantos doutores em filosofia, e nunca
eles foram tão inúteis. Em geral, apenas comparam um autor com outro, criando
relações artificiais entre eles, ou tornam-se interpretes oficiais de algum
pensador europeu ou americano, ou usam o jogo de linguagem e “conceitos” para disfarçar
a baixa criatividade e ausência de ousadia, ou aumentam apenas uma vírgula e um
ponto a mais no pensamento geral. A situação é deplorável. No entanto, exato a
falta de gênios entre nós deve exigir mais criação, mais riscos – e que seja
posto sob crítica para novos apoios e aperfeiçoamentos. Os filósofos oficiais,
se fazem filosofia ou ciência, trata-se de algo colateral, quase um acidente,
pois o que importa é um texto de doutorado comportado, que garanta aquela vaga
de professor estável.
Enfim, para
concluir, sou repetitivo em certos temas na obra. Ao menos isso ajuda a fixar o
conteúdo, mas sua razão central é que o objeto exposto exige tal insistência.
Há que ser rigoroso. Por outro lado, ganhamos em clareza, herança que guardo da
letra de Engels, com quem aprendi a simplicidade da escrita para o público
popular potencial.
Peço a
indulgência do leitor, incluso do especializado, pois tive de abarcar
literalmente o mundo na busca das verdades primeiras. A riqueza de material,
inesgotável, impõe certos limites. A questão sobre se há ou não certa
metafísica real, material, apenas poderia ser solucionada na sua busca, nunca
por críticas externas ou de princípio do tipo feito por Adorno. Ademais, ao
lidar com aqueles a confundir metafísica e religião, faço certas “metáforas”
com o mundo religioso apenas para reforçar a riqueza do materialismo dialético.
A incapacidade de suportar o materialismo na ideia é a incapacidade de suportar
o materialismo na matéria.
A crise
sistêmica exige obra sistemática, sistêmica. Temos, enfim, a metafísica pronta
em seus aspectos gerais, ou seja, uma teoria que é metateoria.
MARX, O
CAPITAL E A METAFÍSICA
Faço esta
introdução para agradar paladares do marxismo oficial, o acadêmico. De tal
modo, aqui não estará exposto em exato um resumo do livro inteiro ou algo do
tipo; por isso, adianto temas que apenas serão claros no desenrolar da obra.
Como o assunto é difícil e desagrada o senso comum teórico, senti necessidade
de antecipar algo, para facilitar a aceitação de nossas teses. Portanto, peço
mente aberta, sem críticas a priori.
O QUE É
METAFÍSICA
Metafísica é
saber os aspectos mais gerais da realidade. Não se limita ao físico ou ao
químico, ao biológico, ou social – quer o comum deles, neles, juntos. E pronto,
apenas isso. É saber o Ser – a realidade total, incluso suas relações –
enquanto Ser. Por que o mundo é assim e não de outra forma? Quais são as leis
universais do mundo? Qual a origem de tudo? Qual a natureza do tempo? Há liberdade
ou determinismo? Eis perguntas metafísicas, gerais. Trata-se de saber o “por
que” o mundo é assim, não apenas o “como” ele opera, age, repete-se. Ninguém
com mente saudável negaria tal objetivo.
A metafísica
medieval é religiosa, mas nem toda ciência metafísica precisa estar ligada à
religião. Ela é a área mais ampla da filosofia e, logo, da ciência. Levantamos
isso porque se confunde muito em tal tema; por exemplo, a metafísica não
precisa ser uma série de princípios arbitrários, tirados não sei de onde, que
guiam toda uma dedução de pensamento. Nossa metafísica deriva da física, da
realidade, da materialidade, do empírico e sensível.
O CAPITAL E
A METAFÍSICA
Marx “diz”
do capital que ele é uma metafísica real, concreta, materialista. Por isso, o
dinheiro é o Deus efetivo e real de nosso tempo, o demônio a ser destruído. Tal
divindade sensível desconhece qualquer limite e dobra a humanidade aos seus
pés. Pois bem; isso ainda é dizer pouco, muito pouco em verdade. A coisa toda é
muito mais sofisticada, ainda clara.
Jadir
Antunes, que também trata da metafísica em O Capital, embora pense a obra
apenas como base de uma “crítica da metafísica”, nunca sua afirmação positiva,
lembra que é pedra angular da metafísica isto: o abstrato domina o concreto. Quem leu a obra de Marx com atenção
toma de pronto um susto! De fato, o
valor domina o valor de uso! O trabalho abstrato domina o trabalho concreto!
Mas para
Jadir, o valor é algo relacional, então cai em erro. Descobri – e exponho em um
capítulo – que uma das grandes oposições unilaterais da ciência moderna é entre
relacionalismo e substancialismo (se quiser, fetichismo). No capítulo 1 d’O
Capital, o nosso mestre demonstra que o valor é substância, “algo”, propriedade
real, até mesmo “sujeito”; mas a forma do valor – como a forma preço – trata-se
de algo relacional, comparativo etc.
Lembremos
que valor não é preço: a mercadoria pode estar com o preço acima ou abaixo do
seu valor real. O preço é mero nome do valor. Dito isso, nada custa lembrar que
quase todo o marxismo até hoje não entendeu isso, o mais básico ensinamento,
nas primeiras páginas da obra citada. É insuficiente ter bons olhos e boa razão
para bem ler.
O preço,
dado pelo comerciante, é ideal; o valor é material – repetimos, material. Vamos
às citações. Para Marx, o valor existe; leiamos:
“O valor do
ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias
coisas…”
(Marx, O
capital I, 2013,, p. 170; grifos meus)
Que absurdo!
A realidade, social ou quântica, tem o direito de ser absurda. Por exemplo: a
energia existe, embora não seja diretamente observável, apenas indiretamente
por meio de suas formas e manifestações.
Como cada um
tem um Marx para chamar de seu – diga-se de passagem: com frequência, culpando
Engels de todos os pecados –, vamos para mais uma citação:
“Aqueles que acham que atribuir ao valor
existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital
industrial é essa abstração como realidade operante (in actu).”
(Marx, O
Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120; grifos meus)
Como
dissemos, abstração que domina o concreto. Em minha metafísica – marxista,
ortodoxa até – descubro uma equação qualitativa: o abstrato é o concreto em processo. Assim, o trabalho abstrato,
produtor de valor, é o trabalho concreto, produtor de valor de uso, em
processo, no tempo, em movimento. Assim, o capital (abstrato, que não é coisa)
é o valor (material, embora invisível) que se altovaloriza (processo, movimento).
Sobre este ponto, deixo ao leitor a curiosidade de saber mais no decorrer da
obra. Passemos, portanto, para as demais questões.
Quando Marx
abre sua obra propondo tirarmos todas as qualidades, determinações e
características da mercadoria – cor, peso, tamanho, massa etc. –, afirma:
sobrou apenas uma gelatina (abstrata!) de trabalho. Veja bem; isso não é mera
metáfora! Mais que isso: uma dedução da empiria! Isso é a chamada “coisa-em-si”
– exclusão das propriedades da coisa – que Kant supôs ser metafísica, portanto,
para ele, inalcançável tanto aos sentidos quanto à razão. Marx, assim, refuta o
kantismo antimetafísico. Vemos que ser contra a metafísica é abraçar sem mais o
kantismo e a ciência aburguesada.
Na última
citação, Marx critica os economistas que, eles sim, perceberam o valor como
algo, propriedade real, mas disseram se tratar de “mera” abstração
(gnosiológica, não ontológica). Anos depois, Engels também comenta nesse
sentido no posfácio ao livro III: para os críticos, o valor seria uma categoria
útil, mas fictícia, artificial, própria para entender a realidade. Ou seja,
kantismo. Engels, ao contrário, afirma a existência do valor.
Vale, então,
dois pontos antes de avançamos para o próximo aspecto. Postone acerta ao dizer
que o valor é como o “espírito absoluto” de Hegel, embora tenha errado o tiro.
E Jadir Antunes acerta ao dizer que o ouro, a suposta forma final do dinheiro,
é o modo metafísico da forma de valor, pois com tal matéria dourada e rara ele
se torna imperecível, melhor, O Imperecível. No entanto, a teoria do dinheiro
em Marx está incompleta, algo que atualizo na minha obra “A crise sistêmica”,
cujo capítulo específico indico já que não é nosso foco por aqui.
O QUE É,
AFINAL, O VALOR?
Na física,
energia é capacidade de trabalho. Ainda em tal ciência, trabalho é
transferência de energia. Desde algumas notas de rodapé de Marx, penso que ele
tomou da física clássica (correta) sua concepção de valor. A energia, não
força, de trabalho – uma redundância necessária – produz uma outra forma de
energia, o valor, a forma social, presa ainda à natural, de energia.
Isso resolve
tudo, mesmo: trata-se da explicação definitiva da obra de Marx e de nosso modo
de produção. Por exemplo: o valor, como propriedade energética sui generis,
apenas pode estar numa coisa material – logo, serviços não produzem valor.
A leitura
imanente da parte sobre extensividade e intensividade do trabalho demonstra tal
tese com toda clareza. Primeiro, se aumento a intesividade, reduzo a
extensividade da jornada, pois o trabalhador cansa mais rápido. Se, ao
contrário, aumento a extensividade, reduzo a intensividade, por cansaço também.
O que une os conceitos opostos? A energia do trabalhador .
Mas há muito mais a dizer.
O valor não
é – não é, diferente do que pensa a maior parte dos marxistas – tempo de
trabalho (socialmente necessário para reproduzir uma mercadoria). O valor é
apenas MEDIDO assim; medida inexata, aliás, imperfeita, defeituosa, apenas
aproximada. Vejamos. Se trabalho por 1 hora com certa intensidade normal, logo
produzo um tanto de valor de uso e um tanto de valor, pois gastei um tanto
certo de energia. Ora, se, na mesma 1 hora, dobro a intensidade do trabalho,
trabalho em dobro no mesmo tempo, logo produz o dobro de valor! No mesmo tempo,
1 hora! Tudo porque gastei o dobro de energia. Valor é forma social de energia,
substância invisível.
Marx afirma
que o desgaste da máquina é, também, sua perda de valor – e isso não é modo de
dizer, metáfora ou algo kantiano. O valor está preso na materialidade. Seja por
uso na produção, seja por fatores temporais e ambientais; o desgaste do
maquinário o faz perder ou transferir a substância social que está em si mesmo.
Idealmente, isso se expressa – na idealidade – pela contabilidade da empresa
como a depreciação do capital.
Isso fere
nosso senso comum e o bom senso. Mas assim é, então devemos aceitar a verdade
intragável. Como ideia nova, nova interpretação, natural que seja atacada e
minoritária, mesmo em meios racionais. Vamos digerir o produto. “Tem que se
deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.” (Hegel G.
W., 2016, p. 53)
O valor
entra em crise em nosso tempo – e apenas podemos acessar o socialismo se sua
categoria central entra em crise. Do ponto de vista externo, apresenta-se
assim: o valor-energia torna-se, cada vez mais, capital-massa, claro, menor
quantidade de trabalhadores a produzir valor. A crítica do valor acerta aqui,
ainda que de modo unilateral e impressionista , embora erre em quase tudo.
Marx diz que
podemos virar e desvirar a mercadoria, mas não encontraremos nela nenhum átomo
de valor! No entanto, ela gira! Daí derivaríamos a casa do valor e da energia
não empíricos como quarta dimensão espacial, o “lugar” da infinitude
qualitativa e causa do movimento, isto é, de queda da matéria em si mesma?
Nesse momento, o leitor apegado aos olhos e ao que há apenas diante de si –
como Aristóteles! – salta da mesa e grita contra o texto! Isso soa um delírio
completo e desmoralizante porque ainda não o derivamos passo a passo, com todo
o cuidado necessário – algo feito na obra inteira. A verdade está próxima da
irracionalidade, sem nela desabar. Mas esqueçamos este parágrafo saltitante
como um deslize do autor… Vejamos, portanto, o método!
O MÉTODO
METAFÍSICO DE MARX
O que Marx
faz não é mera descrição da realidade; para isso, nada de fato científico seria
necessário. Ele vai direto para a empiria, para os dados, para os fatos, para o
sensível – sem premissas, postulados mentais, concepções, conceitos, modo de
separar o complexo concreto etc. Mas isso é metade do caminho: o método dialético é, grosso modo,
empírico-dedutivo; da empiria, deduz-se o que não é empiria. Do sensível,
deduz-se o não sensível, o suprassensível, ou seja, o invisível aos olhos ou
essência. Vai-se ao Ser, isto é, observa-se o qualitativo, o quantitativo e,
então, mede; depois, por isso, deduzimos seu lado essencial, antes oculto;
depois, apenas no fim, chegamos aos conceitos e à concepção de como o mundo de
fato é em si mesmo, longe de artificialidades mentais.
Ouçamos Marx:
“Inicialmente,
eu não parto de “conceitos”, portanto, nem mesmo do “conceito de valor”, e,
assim, de modo algum tenho também que o “dividir”. Parto da forma social mais
simples na qual o produto do trabalho se apresenta dentro da sociedade atual, e
essa forma é a “mercadoria”. Eu a analiso, em primeiro lugar, precisamente
dentro da forma pela qual ela aparece. Aqui descubro então, que, de um lado,
ela é, dentro de sua forma natural, uma coisa de uso, também conhecida de valor
de uso; de outro lado, ela é portadora de valor de troca e, desse ponto de
vista, é por si mesma, “valor de troca”. A análise posterior desse último me
mostra que o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo
de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do
valor.”
(Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp.
57, 58; grifo meu)
Tomando as
pistas da própria empiria, Marx foi cada vez mais ao mais puro e simples,
diluindo, separando, abstraindo tal como fez, ao seu modo, o metafísico Platão.
Levou tal processo químico e metodológico até as últimas consequências. Assim,
ele alcançou o mais abstrato, o conceito mais simples e geral, além de não
diretamente empírico, o valor; que é conceito real, realidade e conceito. A
inspiração de Platão, por exemplo, levou Marx a elevar a teoria ao conceito
puro de trabalho, de trabalho abstrato, puro trabalho, trabalho em geral –
abstraído as concretudes do trabalho. Algo que acontece na ideia porque na
matéria.
Ainda como
Platão, Marx divide a realidade econômica em duas: do valor de uso e do valor.
Assim, surgem as oposições desdobradas dessa forma de opor: forma relativa e
forma equivalente, medida do valor e padrão de preços, mercadoria e dinheiro,
capital e trabalho, máquina e trabalhador, composição orgânica e composição
técnica, salário por tempo e salário por peça, força de trabalho (com trabalho)
e valor da força de trabalho etc. Isso contraria, em parte, a teoria do
valor-matéria, tentativa de reunificação dos opostos, do qual trataremos num dos
capítulos.
Seguindo o
pesado perfil de suas épocas, Marx e Engels foram contra a ontologia (que é
apenas uma parte da metafísica, lembremos). No entanto, Lukács provou a
existência de uma ontologia marxista desde a nossa tradição. De igual maneira,
foram contra a metafísica, embora, sobre e sob o capitalismo, Marx tenha
deixado claro seu lado metafísico real. As chamadas formas platônicas, por
exemplo, tomaram o modo de “forma do valor”, “forma preço”, “forma mercadoria”
etc., que não são coisas como o objeto, o valor de uso (toca-se o produto, não
a mercadoria; não se pode tocar de fato o preço, apenas sua representação
numérica). Engels – e afirmou-me de já
como engelsiano – contrapôs dialética e metafísica em sua Dialética da
natureza. É compreensível, mas foi um erro do fundador de nossa tradição.
Ademais, as condições para a metafísica marxista em forma teórica apenas deu-se
na história recente. Antes, seria improvável, talvez relativamente impossível.
Salvamos, assim, a metafísica de sua suposta crise final. Dialética é o oposto
– mas – idêntico da metafísica, uma forma de metafísica materialista.
Aos que
dizem que Marx, à maneira gnosiológica, deseja destruir a metafísica,
respondemos de modo ontológico: Marx quer destruir a metafísica – real, do valor-capital.
Vale dizer
que Popper acusa, com razão, Darwin de ser um metafísico. Diante da crítica
dura, ele recua parcialmente e diz que a teoria darwiniana é uma “metafísica bem
sucedida”. Tal método metafísico é colher os dados, sua diversidade, então,
deduzir o que não é dado, não empírico, e o que é histórico. Assim também fez
Einstein: do movimento empírico Browniano, por exemplo, um movimento caótico,
algo empírico, deduziu algo não empírico, que a realidade é feita de átomos.
Por fim, o caluniado Freud também colhe dados para, então, deduzir
indiretamente algo como o inconsciente; por exemplo, o analista ouve o paciente
que fala de modo aparentemente solto e desconexo e, então, deduz a unidade de
suas palavras, o fio condutor – o que faz a teoria avançar para novas
conclusões. Os quatro grandes cavaleiros do apocalipse – Marx, Eisntein, Darwin
e Freud – são metafísicos materialistas, usam o empírico-dedutivo e suas
teorias apontam para uma história necessária de seus objetos de estudo. Não por
acaso são os principais gigantes do pensamento em nossa era – não por acaso são
tão atacados.
UMA
ANTECIPAÇÃO
Há três leis
gerais do Ser, a partir do inorgânico:
1. Ser é energia em busca de mais energia.
No social,
produtividade crescente – e trabalho. Na biologia a célula e o animal que caça
têm de conseguir mais-energia (lembra-nos o mais-valor!) do que o gasto na sua
obtenção. No inorgânico, temos a gravidade que atrai mais energia-massa. Ainda
no social, mais-valor como forma de mais-energia.
2. Ser é ir-se do simples ao complexo.
Isso é
evidente no ser social, biológico e físico-químico – hoje, apenas hoje. Para
Hegel, o simples já é o complexo, sem o tempo. No marxismo, de modo ainda
instintivo, o simples avança ao complexo. No social, isso significa afastamento
das barreiras naturais – e sociabilidade.
3. Ser é interconexões crescentes.
O instinto
marxista diz que tudo está conectado, em interrelações, ou seja, uma concepção
estática. Ao contrário, átomos separados aproximam-se e formam moléculas. O
olho teve de surgir 6 vezes na história animal, como nova conexão necessária.
No social, apresenta-se como tendência lukacsiana de unificação global de nossa
espécie (incluso internet etc.) – e como linguagem.
Por fim,
nossa dialética marxista.
A lógica
formal diz: A = A. Por exemplo, luta política aqui e luta econômica ali,
opostos e sem contato. Por exemplo, a verdade é relativa ou absoluta, sem
terceira alternativa.
A velha
dialética diz: A = A e não-A. Por exemplo, luta política já é luta econômica e,
vice-versa, luta econômica é, também, luta política. Por exemplo, a verdade é
relativamente relativa, entre o relativo e o absoluto – a terceira alternativa.
A nova
dialética, marxista, diz: A = A e… não-A. Por exemplo, luta política torna-se
uma série de greves econômicas (após junho de 2013!); luta econômica torna-se
luta política, como uma greve geral após muitas greves parciais por salário.
Por exemplo, a verdade vai-se de relativa, parcial, limitada, angular para cada
vez menos relativa e mais absoluta, cada vez mais verdadeira, do relativo ao
absoluto por aproximação.
As duas
outras lógicas estão dentro, são internas, desta lógica marxista.
Pela
profundidade dessas contribuições, ademais do risco tomado, torna-se necessário
colocar sob avaliação e, se caso for, crítica dos pares no sentido de desfazer
preconceitos e aperfeiçoar a teoria.
POR QUE A
METAFÍSICA É ANTIBURGUESA?
A burguesia
teve sua era de ouro do pensamento quando ainda era candidata à classe
dominante. Para seus negócios, precisava do desenvolvimento técnico e, por
isso, enquanto mal necessário, desenvolvimento científico.
Mas, uma vez
no poder, e uma vez que seu poder gera miséria, necessitou mistificar a
realidade. Uma concepção geral do mundo leva ao instinto de compreender este
mesmo mundo, logo, deve ser desestimulado. E é. Pelas conclusões necessárias
que derivam de um estudo profundo, os teóricos travam-se, inconscientemente
evitam ver a essência do real e da sociedade.
As ciências,
para fins práticos, devem ser cada vez mais particulares, especializadas. Nada
de interligar e integrar as diferentes áreas! Nada de unidade interna! Uma
concepção geral da realidade tornou-se possível, e tão negada quanto mais
possível tornou-se.
A vida
fragamentada do indivíduo, incluso do intelectual, levou ao pensamento
fragmentado. Tudo isso faz com que se exija um esforço imenso, quase desumano,
agir como um humano e ser capaz de ver a essência do mundo. O custo subjetivo
tonou-se altíssimo, um caro preço a pagar. No meu caso, tive esgotamento pelo
esforço alto de tentar alcançar as conclusões aqui expostas.
Tornou-se um
preconceito comum, até no meio marxista, considerar a metafísica o inverso da
ciência concreta. A concepção da universidade burguesa, que tanto contribuiu,
afetou os intelectuais radicais, incluso os dos partidos vermelhos. Mas, como
tende a ser, quase toda importante e correta contribuição, da ciência à arte,
deu-se meio ou de todo à margem da academia, ou apesar dela.
A concepção
burguesa, hoje, em sua decadência, nega a totalidade, e a categoria de
totalidade, logo, nega uma visão geral do mundo. Deixa-se de ver o sistema como
real sistema. Tudo nessa direção seria nomeado ideologia, no seu pior sentido.
Tudo que não se limitasse a colher fatos seria uma ruptura com o empírico, por
isso, anticiência. Deixou-se, diria Lukács, de confiar no poder da razão.
Saber que a
realidade, o Ser, é movimento é saber, também, que o capitalismo nada tem de
eterno. Isso seria impensável. Existem leis gerais e de desesenvolvimento de
toda a realidade – física, biológica e social juntas? Por que há o Ser e não o
Nada? É tarefa da humanidade responder tais questões metafísicas, científicas.
A ciência
burguesa nega-se a ver, de fato, o geral do particular e do singular. Ser
contra a metafísica materialista é ser a favor, ainda que não queira, da
decadência atual de nossa espécie. Saber o “como” (padrões, leis regulares)
pode mudar a técnica, mas saber o “motivo” pode mudar toda a realidade. Sem
compreender o mundo não se muda este mesmo mundo.
O QUE É
METAFÍSICA?
Na vida
intelectual, um adversário acusa o outro de ser metafísico – e este, vice-versa,
rebate seu inimigo de ideias com a mesma acusação. No senso comum acadêmico,
metafísica seria algo místico, religioso, deísta etc. Confundem metafísica com
metafísica medieval e de Aristóteles com seu Primeiro motor imóvel, Deus e
causa do movimento. No dicionário, metafísica é isto:
“no
aristotelismo, subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela
investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de
fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a
respeito da natureza primacial do ser; filosofia primeira.”
A metafísica
materialista, histórica, dialética, objetiva ou marxista, como quisermos
chamar, diferencia-se da metafísica comum, embora use a mesma palavra. Mas a
confusão ocorre: quando Lukács anunciou uma ontologia, todos diziam que isso
era antimarxista, pois ontológico, para eles, excluía o movimento – mas a
ontologia marxista é movimento puro, história. Um dos equívocos é este:
pensa-se que a metafísica sempre será ideias abstratas e gerais tiradas “do
nada”, portanto, artificiais; mas minha metafísica tem tais ideias como
resultado da empiria, não de um começo arbitrário. Vejamos algumas questões
metafísicas e nossa telegrafia de repostas:
1. Qual a causa do movimento?
O universo
teve um início, um colapso do infinito para dentro de si do infinito quando
surgiu o “átomo primordial” (o Uno). A matéria cai na quarta dimensão espacial
como em si mesma. Na dialética, a causa do movimento, em geral, é a contradição
– mas deve haver, antes, movimento para a oposição ser contradição.
2. Há liberdade?
Liberdade é
ter mais opções para escolher o que já vamos escolher, mesmo. O “o que”
ocorrerá é determinístico, mas “o como” está em jogo.
3. Qual a origem do universo?
Eis uma
pergunta que deve ser necessariamente respondia. O nada vazio, infinito e
caótico puro decaiu no seu oposto, o Ser preenchido, finito e com leis
regulares. Ora, antes do universo só poderia existir o não existir, o nada!
4. O que é o tempo?
O tempo é a
manifestação indireta da quarta dimensão espacial, oculta e relativamente
separada do mundo. É a medida do movimento e da mudança.
Ainda no
dicionário, temos a concepção de Kant:
“no
kantismo, estudo das formas ou leis constitutivas da razão, fundamento de toda
especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica,
Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento
empírico.”
Não existe
alma, mas existe psique – explicaremos o que, grosso modo, demonstra-se
natureza da mente e da consciência, além da natureza humana em geral. Também
sabemos que não existe Deus, logo a questão resolve-se por si mesma. Mas existe
mundo, e ele deve ser explicado para além e por debaixo de seus fenômenos
(limitar-se aos fenômenos, aos dados, à empiria, à aparência e às formas é
antimetafísico, além de antimarxista, ou seja, antidialético). Para Kant, o
mundo não seria inteligível, compreensível, acessível. Provaremos ele que é,
sim, de fato – hoje.
Neste ensaio
científico, temos uma virada nova, giro ou revolução copernicana do pensamento,
que supera de vez os limites kantianos já frágeis desde Hegel, Marx, Darwin e
Eisntein. Por exemplo, há quatro críticas de Kant contra o materialismo, que
ele nomeia “contra a metafísica”, que serão o foco de um capítulo específico.
1. O universo é finito ou infinito no espaço e no
tempo?
2. A matéria é ou não divisível ao infinito?
3. Há ou não uma causa primeira?
4. Há liberdade humana ou apenas leis rígidas,
causais, do universo?
Somente uma
teoria sistemática correta, enfim possível, pode responder tais indagações.
Enquanto não respondíamos, havia uma lacuna enorme no pensamento universal. Até
agora, o marxismo não tinha nenhuma resposta para tais questões, sequer de
maneira fraca, evitava o assunto por não poder responder. Ou seja, o
materialismo ainda tinha uma incompletude de base.
Aos que
ainda resistem à palavra metafísica – paciência. Toda superestrutura, incluso o
pensamento, apresenta-se conservadora em duplo caráter da palavra, no sentido
de conservar conquistas, mas também no sentido de resistir ao novo, mesmo se
necessário e correto.
SEÇÃO UM
O SER, O
COSMO
A HISTÓRIA
DA E NA CIÊNCIA
A grande
preocupação dos idealistas gregos era saber daquilo imóvel, sem mudança e
movimento. Assim, a antiga metafísica supôs um mundo das Ideias e das formas
(Platão), um Ser absoluto (Parmênides), o primeiro motor imóvel (Aristóteles).
O que lhes faltou é saber que há as leis da mudança, além das leis da
regularidade, algo apenas resolvido na moderna dialética. Até o gigante
Heráclito orientava descartar os sentidos, pois no empírico reinava apenas o
caos e o acaso – tema que aprofundaremos em outro capítulo. Para o filósofo
escravista grego, era necessário negar a historicidade do mundo, pois queria a
estabilidade e a perpetuação do seu modo de vida. A filosofia medieval, desde
Agostinho, tratou de manter o império da rotina, da tradição, como com a cidade
de Deus perfeita e estática e a cidade dos homens imperfeita e alterável.
Então, veio
o capitalismo e sua necessidade de saber como, não o porquê, o mundo funciona.
O princípio da tradição cai por terra, a novidade ocorre sempre, nada é
estável. O objetivo é econômico: saber navegar bem, produzir novas ferramentas.
Assim, toda a filosofia antiga, a aristotélica em principal, é atingida de
morte: as leis da terra são as leis do céu!
Mas para
Newton o espaço era absoluto, independente e imóvel como o palco de um teatro.
Também o tempo era inalterado em seu movimento. E esse foi o paradigma por
séculos. O universo, criado por Deus, ainda era eterno e imóvel, além de sem
limites, como pensavam já os gregos.
Newton foi,
após seu grande sucesso teórico, desafiado: se sua fórmula estava correta, logo
o universo deveria colapsar! Por que isso não acontecia? Ele pensou: porque o
universo é infinito e as gravidades, no geral, em ampla escala, assim, se
anulam de um ponto para outros. Mais uma vez, a história saiu do caminho!
Os químicos,
por sua vez, pensavam que os elementos sempre existiram e sempre existirão –
sem criação, sem destruição. O papel seria, assim, descobri-los, isolá-los,
classificá-los e dar-lhes bom uso industrial. E pronto.
Algo análogo
tinha-se na biologia. Os materialistas sempre ensaiavam formas de fazer alguns
animais surgirem de outros, mas falhavam. Os idealistas, por sua vez, diziam
que os seres sempre existiram e sempre existirão.
A primeira etapa da ciência é conhecer,
reconhecer e classificar os seres; isso é o seu começo. Mas logo sente sinais
de que há um filme sendo contado ali, pistas surgem, especulações ainda tímidas
ocorrem aqui e acolá.
Hegel inicia
a ideia de que o homem tem uma história, que o passado é a causa do futuro, que
há um caminho a percorrer. Antes, a história de Roma era tratada como
indiferente à história atual, sem progressão e progresso. Mas foi em Marx que a
história humana foi materialisticamente explicada: com a necessidade de satisfazer
necessidades materiais, os homens produzem objetos e relações sociais novos;
assim, a produtividade crescente muda as coisas, o ambiente – e os próprios
homens. Então, Marx generalizou: o inorgânico, a biologia e a sociedade são
históricos, possuem um processo! Ele o fez de modo filosófico, resolvendo a
charada apenas na história humana. Depois, Darwin deu forma científica à
conclusão marxista: a vida e as espécies têm uma origem e um desenvolvimento,
como dos seres simples aos mais complexos, menos diferenciados aos mais
diferenciados. Algumas espécies e indivíduos prosperam se bem se adaptam e
outros definham se mal sobrevivem.
Apesar de
ser o mais simples, o inorgânico e o cosmos foi o mais difícil de saber de sua
historicidade. Nossa geração já cresce tendo contato com a teoria do Big Bang,
logo perdemos a noção de quã recentíssima é tal concepção de mundo. Mas o
próprio Einstein demonstrou resistência à ideia, com sua concepção estática – a
constante cosmológica! – de universo. Ele teve de lidar com a mesma contradição
de Newton, ou seja, por que o universo não colapsava para dentro de si ou, ao
contrário, não se expandia?
Descobrimos
que o nosso universo teve um início, uma expansão rápida (não explosão) quando
o “átomo primordial”, imensamente concentrado em si mesmo, decaiu em partículas
cada vez menores, fundamentais. Tal teoria leva à concepção termodinâmica de
Engels; o universo acabar-se-á frio, morto e estático. Mas a teoria nunca
poderá parar aí. Para uns, o universo “esquecerá” que se expandiu ao máximo e
fará um novo big bang. Para outros, ele é como um pulmão indiano, expande-se
para depois contrair-se, sabe-se lá como – embora isso seja muito mais
dialético, tal como veremos. Outros tantos defendem que há muitos universos
depois deste, infinitos. Em geral, temos duas teorias: o multiverso no tempo,
que se expande e se contrai; o multiverso no espaço, uns ao lado dos outros.
Aqui, proponho o universo no espaço-tempo, uma fusão: a expansão ou contração
de um universo se dá junto e porque outros expandem-se ou contraem-se. Mas
suponhamos que exista apenas o nosso universo, não o cosmos como união de todos
os universos existentes – qual a solução? Alguns físicos defendem que a próxima
era cósmica, a dos buracos negros, gerará a fusão e atração destes, reiniciando
o universo inteiro. Tudo bem, mas como? Há aí apenas descrição, não explicação.
Na verdade, ao que me parece, apresento a hipótese, os buracos negros –
maiores, ao menos – sugam espaço (que, debateremos, torna-se provavelmente
matéria e luz), são produtivos, por isso não há buracos negros intermediários,
nem observados no número necessário. Outro problema: se o espaço expande-se
mais rápido do que a luz, o que ele é? Ora, matéria e espaço – nossa terceira
hipótese – são o mesmo, sendo ainda diferentes, a matéria inicial em parte
decaiu e decai em espaço. O próprio espaço tem história, modifica-se e nasce!
Ainda outros, dizem que até o tempo tem uma história, que teve um início.
Há, ademais,
uma versão científica e pouco ortodoxa que diz: as leis da física são
históricas, não permanentes, segundo a fase e configuração do universo. A
dialética nem rejeita nem corrobora esta tese, penso. Vejamos: a história
humana tem leis universais e tem leis
que pertencem somente e tão somente àquela época específica, capitalismo ou
feudalismo etc., ao modo de vida de um determinado tempo e sistema. Mas isso
não significa, mecanicamente, que é assim também na biologia e na física, pois
ambos são mais simples e menos dinâmicos que o sistema social humano. Para a
dialética, no entanto, importa o contexto; por exemplo, um material não
condutor em temperatura ambiente torna-se condutor em temperatura elevada.
Fica, portanto, esta máxima: o mundo total vai do menos para o mais dialético –
muito acima da lei de ir do menos ao mais perfeito.
Agora,
entramos de novo na química. Apenas hoje, há pouco tempo, soubemos que os
elementos mais pesados surgem da fusão dos elementos químicos mais leves nas
estrelas, como o Sol. Há fusão nuclear. Os elementos ainda mais pesados, por
outro lado, exigem ainda mais energia para seus surgimentos, frutos das
explosões estelares. A mera descrição da tabela periódica teve de dar espaço
para uma narração épica!
A revolução
espácio-historicista da ciência ainda está incompleta, mas avançou de maneira
qualitativa, contra a mentalidade estática dos próprios cientistas, que cederam
à realidade. Os gregos, como os iniciadores dessa história, tinham o direito de
errar – nós temos o dever de acertar.
Nosso
marxismo é histórico, mas é mais: diacrônico. Para isso, a história torna-se
espaço-temporal, espaço-histórico, histórico-geográfico, ou melhor, mais geral
e abstrato – diacrônico-sincrônico, para agradar paladares eruditos,
diassincrônico. Por exemplo: algo não é apenas o que de fato é por sua
história, por sua genética, por sua origem; pois também determina-se de acordo
com o complexo de complexos sincrônico do qual faz parte. O diacrônico
cristaliza-se no sincrônico. Por exemplo: para saber a natureza humana, não
basta ver a história do homem, pois é necesário ver, também, a história e a
estrutura do cérebro humano. Quando Marx diz que o homem faz sua própria
história, diz, também, porém, que ela a faz sob certas condições materiais
inevitáveis e não escolhidas (e que o passado cristalizou-se em tais contextos
do presentes, que pesam) – eis a unidade dos opostos, diassincronia.
A IGUALDADE
DE TUDO
O início da
filosofia grega foi a intuição da igualdade universal. Assim, buscavam apenas o
geral e o único, esqueciam o papel da diversidade. Tales, o primeiro físico,
afirmou, pela primeira vez na história, que tudo é um porque tudo é, vem da,
água. A dedução tem sua lógica, pois todos os seres vivos precisam beber,
precisam retornar às suas origens. Seu primeiro passo permitiu ao discípulo
Anaximandro ir ainda mais longe: o princípio de todas as coisas não é algo
específico, mas alguma coisa não empírica, no fundo do fundo, sem qualidades ou
limites, que ele nomeou Apeíron. Também Heráclito algo propôs, o fogo como
origem e causa de transformação de tudo. Anaxímenes, o ar. Logo surgiria a
ideia natural de que o terra, o fogo, a água e o ar mudam-se uns para os
outros, além de combinação e separação. Mas eles, em geral, ficaram muito
presos ao sensível. Um dos pontos alto é o atomismo de Demócrito, de que o
mundo é feito de átomos e vazio, muito depois seguido por Epicuro.
A física
clássica, além de outras ciências, tratou, primeiro, de separar, clarear e
destacar a diferença no mundo e nos conceitos. Mas logo, com a ajuda da
matematização, ensaiou a unidade ou identidade dos diversos, como v = s/t,
velocidade é igual ao espaço dividido pelo tempo; dirá Hegel, o movimento é a
unidade de espaço e tempo.
Maxwell deu
um gigantesco passo ao perceber que seus 4 cálculos poderiam ser unificados,
formando a união do magnetismo e da eletricidade em eletromagnetismo – logo
percebeu que a luz caberia dentro de tal descrição.
Mas foi
Einstein quem deu o passo imenso na unidade de tudo. Ele disse que massa e
energia são um, são diferentes manifestações de algo comum (já debateremos o
que é, para nós, este objeto comum). E foi ainda mais longe ao perceber que
espaço e tempo são espaço-tempo, pois tempo é espaço! Mais: as duas formas de
massa são um! Gravidade e aceleração são iguais!
Hegel diz,
inspirado no começo da filosofia:
Entretanto, por meio do conceito de diferença
interior, esse desigual e indiferente, espaço e tempo etc. são uma diferença
que não é diferença nenhuma, ou somente uma diferença de homônimo. E sua essência
é a unidade. Em sua relação recíproca são animados como o positivo e o
negativo; mas seu ser consiste antes em pôr-se como não ser, em suprassumir-se
na unidade. Subsistem ambos [os termos] diferentes, são em si como opostos;
isto é, cada qual é o oposto de si mesmo, tem o seu outro nele, e os dois são
apenas uma unidade.
Veja-se que
Hegel antecipou o princípio da ciência moderna! Não foi algo vago, mera
intuição, mas afirmado com clareza como espaço e tempo enquanto apenas em
unidade.
E se
levarmos unidade até as últimas consequências, por generalização? Surge esta
fórmula qualitativa:
Movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= massa =
luz = campo)[1]
Chegamos à
teoria de tudo! Ao leitor especializado, pedimos que avance neste e nos
próximos capítulos, que daremos as provas necessárias de nossa formulação. A
busca de uma teoria do todo, como fórmula que unifique o micro e, por meio do
meso, o macro, a relatividade e a quântica, tem uma proposta clara nesta obra.
Isso passa
por unificar as 4 forças fundamentais: a nuclear forte, que mantém o núcleo do
átomo unido; a nuclear fraca, que é responsável pelo decaimento do átomo; a
eletromagnética, que trata da relação de elétrons; a gravidade, que cuida da
atração da matéria. Mas o conceito “força”, com seu quase misticismo, entra em
crise, não corresponde a um objeto real. A gravidade não é uma força, mas uma
curvatura do espaço-tempo. Podemos deduzir, por generalização, que as demais 3
“forças” também não são forças de modo nenhum. Os físicos unificaram as três
forças, menos a gravidade – meio caminho andado, portanto. Mas talvez trata-se
de olhar por outro ângulo. Tudo é energia (em busca de mais de si), a matéria-luz
decai em espaço; por outro ângulo, tudo é espaço condensado, concentrado, para
dentro de si! Assim, a mesma “força” que mantém o núcleo do átomo unido, por
exemplo, é a energia produzindo uma gravidade, uma queda para adentro de si no
espaço. Nossa formulação, junto com a equação acima, reduzir tudo a espaço,
formas de espaço, resolverá em outro capítulo todas as polêmicas científicas da
física. A matéria primordial decaiu e decai em espaço, mas, por enquanto,
concluímos este tópico pela palavra de Feyman:
Os momentos mais dramáticos no desenvolvimento da
Física são aqueles quando grandes sínteses acontecem, onde fenômenos que
previamente pareciam ser distintos são subitamente revelados como sendo apenas
diferentes aspectos da mesma coisa. A história da física é a história de tais
sínteses, e o sucesso da ciência baseia-se principalmente no fato de que somos capazes de sintetizar.
Basta
substituirmos o sentido limitado de física para a física enquanto sua toda
realidade. Tudo é um e múltiplo, unidade interna no diverso externo.
PARADOXO DE
EINSTEIN
Nesta obra,
corremos vários riscos de desmoralização por apostar em ideias e caminhos
incomuns, mas que me parecem corretas. Por isso, convido o leitor a insistir no
adiante, pois em outro capítulo exporemos melhor nossas ideias, passo a passo,
de modo que parecerão muito razoáveis, ainda que estranhas. Penso, como
debaterei mais uma vez ao final deste ensaio, que Einstein, além de fazer
descobertas geniais, apresentou paradoxos como se fatos fossem – mas a lebre
ultrapassa a tartaruga. Por exemplo: o núcleo da Terra está como se 2 anos
atrasado no tempo em relação ao resto do planeta. Como isso é possível? Um
paradoxo. O núcleo e as demais camadas mais externas da terra relacionam-se
direta e imediatamente, sem efeito temporal. Como resolver, ainda que corramos
riscos de erros? Para Einstein e para os físicos tempo é o espaço; as coisas
viajam no tempo, alteram seu tempo segundo sua velocidade. Veja-se que a
matéria, aí, é algo externo ao espaço e ao tempo, não se sabe como. Tempo é
espaço, espaço é matéria – tempo é energia. Ao acelerar, ao ganhar velocidade,
o objeto reverte ou combate a entropia da decadência, ganha energia, ganha espaço,
ganha matéria (massa) – o que aparece como ganho de tempo, mudança de tempo,
mas isso é apenas a aparência, não a essência real. A coisa é a si mesma apenas
em movimento; quanto mais movimento, mais velocidade, mais é-se (por mais
tempo). A medida matemática de tempo é útil enquanto medida indireta da energia
(podemos fazer uma analogia com a economia política: o valor-energia não é
tempo de trabalho, pois o tempo aí é medida inexata e indireta do gasto de
energia no trabalho manual). Porém, não é fácil defender isso, em especial sem
o aparato matemático que o sustente. E é um ponto quase de todo consensual na
física o paradoxo de Einstein. A filosofia deve apresentar alternativas de modo
humilde, para a crítica de especialistas.
ENERGIA
Na Lógica de
Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não
cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia,
mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia
para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social.
Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo –
massa é energia, a energia-massa (ou a “matéria” sem massa que tem energia,
como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com
colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da
força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o
homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser
ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.
O Ser é
energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como
com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições, veremos
no decorrer do texto.
A ciência
oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de
energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma
categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da
energia-valor na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do
valor-energia e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).
Cada
modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que a anterior na captação
energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social
suprassume aquele. Mas energia é insuficiente, pois, como o movimento, seu
igual, não se sustenta sozinha.
ESPAÇO-TEMPO:
O ELEMENTO PRIMEIRO
Vários
filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade.
Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter etc. Com o
desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo
amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor,
embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.
Raciocinemos
juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis
campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples
é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado,
condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria
é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de
espaço e tempo faz-se necessária).
É possível
supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou
seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto,
este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais
pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo
podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se
demonstrem falsos.
A tendência
de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu
histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no
cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo
menos lógico-ontologicamente .
Diz o
princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao
mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si
mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não
poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se,
digamos, condensado.
Demócrito
afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda:
há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora
diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se
expressa também na matéria, com ou sem massa.
Tal modo de
ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do
também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é
acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para
observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive,
contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de
câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda
seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica).
Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída
de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a
filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma
expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.
O
espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são
dois.
O Ser,
enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia
em busca de mais energia aparece como para si.
Espaço-tempo
e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma
identidade.
Espaço-tempo,
este sendo aquele, apenas um, equivalem ao sincrônico-diacrônico,
processo-estrutura e o Ser como histórico, mas, derivado, Ser é
histórico-geográfico.
Quando se
diz “a verdade está no meio” (na realidade, no todo contraditório em evolver),
diz-se mais do que se pretendia: a verdade está, de fato, no – Meio, no espaço.
Nossa Arkhé.
Como se
verá, porque tudo = tudo, o primeiro não necessariamente é primeiro no tempo.
Descobrimos
que espaço é matéria, incluso luz e campo, assim como a matéria, incluso luz e
campo, é equivalente ao espaço. São diferentes e opostos que são também apenas
um. Uma parte do fato de isso ser descoberto apenas agora deve-se da maturidade
social e científica; outra parte, porque eruditos, doutores, sempre têm de
discordar, nunca concordar, dos demais ao mesmo tempo em que evitam a qualquer
custo qualquer risco real na teoria. Assim, quase se descobriu este fato novo
por várias vezes, faltando a ousadia. Vejamos Aristóteles na sua Metafísica que
fez longa escola:
E comprimento, largura e profundidade, não
substâncias: a quantidade não é substância, mas é substância o substrato
primeiro ao qual inerem todas as determinações. Mas se excluímos cumprimento,
largura e profundidade, vemos que não resta nada, a não ser aquele algo que é
determinado por eles. (Aristóteles, 2002, p. 293)
Nem todo
olho, mesmo um bom, consegue sempre ver o que está diante de si. O salto exige
ousadia, portanto. É preciso explicar de modo correto, dizer que o aparente
flogisto é, na verdade, gás oxigênio, por exemplo.
SER,
MATÉRIA, MATERIALISMO
Ser, puro
ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas
há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu
começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação,
sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque
cai dentro de si mesmo (o espaço é, na verdade, o sem qualidades, a
transparência transparente).
Aqui, por
força negativa da abstração, nenhum movimento.
A matéria,
aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da
energia. A própria energia é matéria, pois é material. Ademais, Hegel
demonstrou que a substância (matéria, espaço condensado) é igual, está
presente, nos acidentes, nas propriedades (massa), são apenas um como dois –
matéria é sua propriedade, a massa. Isso deriva uma hipótese. Os neutrinos
vindos do Sol são, uma parte, mais pesados do que o esperado, o que leva à
dedução de que o neutrino mais leve tem alguma certa massa irrisória – mas
daqui, deste texto, podemos derivar que o neutrino do elétron tem apenas
matéria, ou seja, massa potencial, não real e direta, passando a adquirir massa
nas versões mais pesadas. É uma hipótese, da origem filosófica, a ser posta em
crítica pelos físicos especialistas.
MOVIMENTO
Movimento,
puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.
O movimento
é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar,
movimento. O movimento e a estabilidade estão, no sincrônico, em unidade, A=A e
não-A, mas também é claro que o movimento antecede o estável, A=A… e não-A, no
diacrônico.
A
contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também
faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a
diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta
à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.
Qual é,
então, a causa central do movimento? Se, além das três dimensões, finitas,
temos a quarta dimensão espacial, ponto do infinito, base da energia, a matéria
e a luz caem em tal dimensão como em si mesmas. Eis a explicação metafísica
científica, materialista, do mover.
A lei da
mudança é uma lei que muda, mas uma mudança permanente.
DEVIR
A verdade da
matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o
devir.
O devir é
mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.
De imediato,
a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas
tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o
outro, são apenas um.
Ao movimento
corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.
METAFÍSICA E ARTE MILITAR
Trotsky, em
seus escritos de teoria militar, teve de combater várias concepções fixas de
luta, de guerra. Logo, ele protestou sobre certa metafísica, baseada em
princípios gerais, que não deveria existir. Ora, temos uma equação qualitativa
em nossa filosofia primeira:
Movimento =
energia = tempo = espaço = matéria
A variedade
da arte militar trabalha com tais elementos. O próprio Trotsky disse que o uso
amplo da manobra na sua guerra (movimento) ocorria por causa do espaço amplo do
território em disputa. Os cinco elementos acima dinamizam-se e devem ser
considerados juntos e em separado pelo estrategista. Por exemplo, ir a uma
distância muito grande em território inimigo (espaço), exige muita energia e
logística – um dentre as razões de defender a nação é uma vantagem sobre quem a
invade.
Já disse em
outro local que os marxistas mais capazes devem escrever um manual militar
completo e claro. Nesse sentido, ajuda a organizar o pensamento considerar a
identidade na diversidade dos elementos acima.
Uma leitura
atenta de Da Guerra de Clausewitz demonstra por toda a obra que tais aspectos,
elementos, estão presentes com centralidade e devem ser considerados mais do
que de modo instintivo ou pela experiência, também ideal e teoricamente.
Um exército
muito pequeno em relação ao inimigo, por exemplo, força a aposta – compensador
– em outro aspecto que não sua matéria, logo, na sua mobilidade. Surge a
guerrilha. Um exército concentrado e grande força o outro a desmembra-se, a
fragmentar-se para melhor combater.
METAFÍSICA E
LUTA DE CLASSES
Podemos
demonstrar que a luta de classes aparenta os conceitos e as equivalências
movimento, energia, tempo, espaço e matéria? Sim. A luta por recursos concretos
e abstratos estão em jogo. Vejamos:
1. Movimento
A luta
contra a intensificação da produção é luta de classes, contra movimentos mais
rápidos. Movimento é também o dirieito de ir e vir negado por quem não tem
dinheiro, além da privatização do espaço.
1. Energia e tempo
O
trabalhador em todas as épocas classistas quer trabalhar mais para si e
trabalhar menos. A burguesia, hoje, controla a energia e o tempo de trabalho.
2. Espaço
A luta pela
cidade, pela reforma urbana, contra a especulação mobiliária, pelo direito de
ir e ver etc. A luta de classes também é espacial.
3. Matéria
Hoje pela
mediação do dinheiro, há uma luta distributiva de valores de uso e uma luta
entre lucro e salário.
A questão nunca foi colocada de tal modo
até aqui. Tais lutas têm algo de comum com a luta biológica entre espécies e
membros da mesma, mas em nível superior; de qualquer modo, demonstra que a luta
de classes é uma barbárie, a divisão dos homens em classe é animalesco, até a
greve é algo bárbaro, embora aponte para a civilização.
METAFÍSICA E
SETORES DA ECONOMIA
Como a
questão das classes, os setores produtivos também podem ser classificados
segundo os conceitos da identidade dos diversos. Vejamos:
1. Movimento
Aqui, em
principal o setor de transportes. Marx afirma no livro II de sua grande obra
que o transporte é parte do capital produtivo e industrial, mesmo sendo algo
externo. O transporte de mercadorias oferece valor novo a estas.
2. Energia
Por energia,
incluímos também a cesta básica do trabalhador e tudo o que ele precisa comprar
para manter-se, sobreviver.
3. Tempo
As máquinas
economizam tempo ou o otimizam.
4. Espaço
Destaca-se a
construção civil.
5. Matéria
Da
matéria-prima aos produtos de luxo e finais estão incluídos.
Tal modo de
expor mantém em pé os departamentos de produção de Marx. Sua formulação é
completamente correta, embora possamos pensar outro modo de classificação
móvel. Marx pensou mais em questão de
valor, a riqueza no capitalismo, enquanto pensamos mais em questão de valor de
uso, a riqueza social geral.
METAFÍSICA E
ORIGEM DA VIDA
Para
iniciar, substituamos o conceito sensível e instintivo de espaço por “meio”,
algo abstrato e geral. Feito isso, podemos ir aos ingredientes da sopa vivente:
1.
Movimento
Precisa-se
reunir materiais, compostos.
2.
Energia
Calor, como
fontes terrnais no fundo do oceano, tona-se condição para a vida.
3.
Tempo
O processo,
por ser processo, exige-o.
4.
Meio
A água como
solvente por excelência e o espaço necessário torna-se base inescapável para a
vida.
5.
Matéria
Compostos
químico com certa complexidade são condição.
De tal modo:
1) o simples tornou-se complexo, 2) algo em busca de mais energia surgiu, 3)
inéditas conexões iniciaram-se.
Como se deu
de modo real e concreto o surgimento do primeiro autorreplicante, trata-se de
assunto direto da ciência parcial biologia, não da filosofia como ciência
geral, metafísica. No entanto, tal exposição é inescapável: pode ter origem por
diferentes tipos de energia, mas teve de contar com fatores energéticos extras,
por exemplo.
O COSMO, O
SER
É necessário
uma concepção geral de mundo, do Ser. Como diz Aristóteles, o Ser se diz de
vários modos: Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si, Ser
é espaço condensado (concentrado, formas de espaço), Ser é espaço-matéria, Ser
é trabalho, Ser é produção, Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico,
Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório. De modo geral: movimento
= energia = tempo = espaço = matéria (= luz = campo = massa), (no nível físico,
há em principal identidade sobre a unidade dos diversos; nos níveis acima,
ganha algum relevo, ainda subordinado, a unidade dos diversos). Se tudo é igual
a tudo, logo tudo é um, ainda sendo também diverso dentro de si.
1. Ser (tudo) é energia em busca de mais energia
ou mais de si.
O senso
comum orientalista diz que tudo é energia. Tendo algum fundamento, o mais
correto é afirma que é energia em busca de mais de si. Um corpo com
energia-massa atrai outros para si com a curvatura do espaço. Muitos animais
começam a reprodução na primavera, quando aumenta a incidência de luz solar. É
muito claro que a vida singular é energia em busca de mais energia; isso foi
considerado no homem enquanto animal e enquanto indivíduo – mas também vale
para a história de toda a sociedade. Assim, somos ainda a civilização nível
zero, ou melhor, 0,75, na escala de Kardashev, porque sequer dominamos a
energia no nosso planeta.
A ciência
primeiro descobriu formas de energia, depois as unificou com o conceito
apropriado. Os físicos e químicos dizem que a energia não existe, apenas um
conceito útil; mas o conceito necessário é, também, real. Contra o empirismo,
há a energia, em geral, que podemos deduzir de suas formas aparentes.
Graças a
Einstein podemos deduzir que o Ser, o cosmos, tem por pulsão ser energia em
busca de mais de si mesma, algo difícil de descobrir na cosmologia. Já o que
energia, no fundo, de fato é, sua verdade, será exposto no próximo ponto.
Para
paladares marxistas, afirmamos que energia em busca de mais de si revela-se no
capitalismo como valor em busca de mais valor, dinheiro em busca de mais
dinheiro.
2. Ser é espaço condensado (concentrado, formas
de espaço).
O mais
simples no universo, o mais sem determinações e qualidades, o mais abstrato – o
espaço. Ele é o primeiro lógica e ontologicamente, além de talvez no tempo. O
espaço é a transparência transparente e, ao mesmo tempo, com as maiores
características como infinito (debateremos qual infinito), o puro, o
indivisível etc. O átomo é o maior, o espaço, não o menor. Além disso, energia
é espaço. Curioso que uma xícara, o café nela, o bebedor da substância etc. são
todos espaço condensado, concentrado, para dentro de si.
3. Ser é espaço-matéria.
Espaço e
matéria são vistos como diferentes e opostos. Este é ativo; aquele, passivo.
Mas isso está prestes a mudar: matéria é espaço, embora não seja; espaço é
matéria, embora não seja. A união de ambos permite o movimento. A matéria, ou a
luz, decai em espaço; e este tem propriedades semelhantes à matéria, como a ter
energia.
4. Ser é trabalho e produção.
Lukács em
sua metafísica disfarçada apenas de ontologia, certa matéria interna àquela,
diz que o diferencial do homem é o trabalho, a categoria fundante do ser
social, mais do que biológico. Mas é necessário generalizar, pois há trabalho
no reino da vida e da não vida. Os animais necessitam de um esforço coordenado
para adquirir mais-energia do que o gasto na sua aquisição (caça etc.). As
células produzem mais-energia do que exigido para produzi-la. Uma estrela, como
o Sol, funde átomos por meio da gravidade, produzindo elementos mais pesados,
perdendo energia no processo. Temos a entropia e energia enquanto “capacidade
de trabalho”.
Em sua
metafísica, Aristóteles toma o artesão, tão comum em sua sociedade, enquanto
modelo para suas conclusões. Assim, alcança as quatro causas e a ideia do
primeiro motor, o artesão que move o mundo. Influenciado pela forte propaganda
pela disciplina do trabalho no socialismo “real”, Lukács faz algo semelhante em
sua metafísica ao colocar o trabalho como a categoria fundante do complexo ser
social. Por as duas concepções serem mecânicas, são limitadas também, erradas e
certas, não orgânicas. Ambos generalizaram de modo parcial ou de modo
equivocado. De qualquer maneira, o trabalho-produção é algo próprio de todo o
Ser, para além do trabalho humano social. Veremos que, por exemplo, também
ambos confundem, por exemplo, teleologia orgânica com o modelo mecanicista do
trabalho humano.
Até a
psicologia afirma o trabalho, além de as demais formas do Ser. Nada fazer gera
angústia, logo o sujeito encontra uma tarefa, uma distração, um hábito, um
problema (nem que seja no pensamento). A inércia, no sentido comum, torna-se
negativo como expressão da necessidade de trabalho, no sentido amplo. Somos
seres ativos.
A categoria
trabalho tem sentido amplo e sentido restrito, no social e na física. No mundo
físico, tomando um exemplo de Feymann, subir a escada é trabalho; uma pessoa
manter suspenso e parado um bloco pesado, não. Assim, no social também ocorre:
a produção material (fábrica, mina etc.) é trabalho; os serviços, embora sejam
trabalho no sentido amplo, não são de fato trabalho no sentido essencial. Há
ainda o trabalho propriamente intelectual feito para o ato produtivo.
Pelas suas
particularidades, há três tipos de trabalho:
1.
Trabalho
inorgânico
2.
Trabalho
biológico
3.
Trabalho
social, humano
O último tem
a determinação de, em alto grau, modificar o mundo e ao próprio homem, produzir
o novo – não apenas o outro ou o mesmo. O trabalho inorgânico é dividido em
positivo (produzir novos átomos nas estrelas etc.) e negativo (grosso modo,
entropia, igualação de temperatura aonde há diferença de). O trabalho humano
divide-se em concreto e abstrato, ainda mais juntos relativo ao anterior, em
produtivo e improdutivo, em intelectual e manual, em subjetivo e objetivo.O
biológico, em produtivo e reprodutivo.
Façamos,
agora, em complemento, uma digressão sobre o ouro, o dinheiro por excelência.
Ele tem altíssimo valor porque para tê-lo exige-se muito trabalho humano e
muito tempo de trabalho. Ora, o ouro exige muito trabalho por ser relativamente
raro, pois exige muito também trabalho-energia-tempo para o processo estelar
criá-lo, produzi-lo.
5. Ser é histórico em desenvolvimento e
geográfico.
Entre as
mais importantes bases científicas jamais criadas é a descoberta de que tudo é
feito de história, em processo e desenvolvimento. Mas os fatos e o evolver
nunca ocorrem no completo vácuo, por isso o cenário importa. O ambiente, o
lugar, o espaço etc. também tem dinâmica, movimento e história.
6. Ser é totalidade integrada em automovimento
contraditório.
Ser é
totalidade; este, em movimento, não apenas repetitivo, circular, pois também
como se uma espiral e um evolver. Ademais, tudo está cheio de contradição;
equilibra-se nesse paradoxo real, concreto.
No fundo, no
fundamento, o Ser é integração (auto)relacionada em processo.
Tais
afirmações, determinações do Ser, estão, de modo direto, ligados à nossa
equação qualitativa movimento = energia = tempo = espaço = matéria. Assim, Ser
enquanto histórico refere-se ao tempo; o Ser enquanto trabalho e produção, ao
movimento e à energia etc. pelo modo de exposição, parece que deduzimos tais
elementos a partir do conhecimento anterior, da equação qualitativa. No
movimento real da pesquisa, eles foram descobertos de modo relativamente
independente, então depois percebi, deduzi, o nexo interno dos dois capítulos,
dos dois temas. Outras determinações do Ser – como matéria formada etc. –
reforçam a elaboração.
AS LEIS
GERAIS DA METAFÍSICA MATERIALISTA
Uma vez
surgido, quais as leis gerais do universo? Com nosso alto conhecimento do
mundo, temos condição de abstrair leis íntimas, validas paras as três
modalidades do Ser – inorgânico, biológico e social.
Há três leis
gerais do Ser:
I. Toma-se
como energia em busca de mais de si, de mais energia.
Isso
considerado o espaço-matéria; este em sentido amplo, como centro. No social,
vale a seguinte máxima: não se faz civilização plantando alfaces. Nesse
sentido, até o café e o açúcar do Brasil e a batata americana cumpriram papéis
importantes no avanço da humanidade (vale destacar que as flores usam açúcar e
cafeína para atrair abelhas, que trabalham assim mais intensamente). Os
senhores de escravos brasileiros davam feijão aos escravizados para que
tivessem energia de trabalho.
Bem
observado, esta é a lei primeira.
II. Ir-se do
simples ao complexo.
Hegel e
Engels demonstram que o simples é tanto simples quanto complexo, como uma
célula viva, A=A e não-A. Ora, também, ao mesmo tempo, vai-se do simples ao
complexo, A=A e… não-A, como do ente unicelular para um pluricelular. Tal é
movimento geral, lembrando, no entanto, que a entropia, se considerado como
universal, não é medida de desordem, uma confusão comum.
III. Encaminha-se à interconexão universal, à maior
interconexão.
Tanto Hegel
quanto, séculos depois, Mario Bunge afirmaram que toda a realidade é um sistema
orgânico, em que as partes apenas têm sentido em suas relações, integrados –
exceção, dizem ambos, no aspecto físico ou no mecanismo. Para eles, a partir do
aspecto químico já há conexão sistemática. Se assim é, vai-se da desconexão
rumo à interconexão universal. Mesmo assim, mesmo isso sendo aprofundado com o
aumento da complexidade do Ser, fruto da energia em busca de mais de si, talvez
o mundo físico puro tenha uma conexão interna oculta e “leve”, com as partes
independentes entre si apenas de modo aparencial – ou, ainda, isso se
desenvolve como evolver cósmico. Vejamos: se tudo é espaço condensado, já há
uma ligação íntima, embora indireta; se as partículas fundamentais, ou quase
todas, não rompem com espaço, logo tudo está conectado via espaço enquanto
entidade geral.
Os átomos
individuais são instáveis por suas energias e matérias, logo necessitam fazer
ligações químicas com outros. Compostos cada vez mais complexos surgem até
fundar-se a vida. Esta integra-se e desenvolve-se até fundar o ser social, a
humanidade, que tende a unificar-se. Na física, a gravidade toma tal tarefa
para si.
O erro dos
marxistas que intuíram a conexão global de tudo é não ver isso como lei de
movimento, como processo, como evolver. A coisa já seria dada e fixa.
Os três
aspectos – as três leis do movimento – estão mais do que ao lado um do outro ou
juntos, pois um está dentro dos demais, derivando-os. A energia em busca de mais
de si faz o material cada vez mais complexo que exige novas interdependências,
interconexões.
As três leis
são, no nosso universo, absolutas, mas seus entes falham muitas vezes em
cumprir tais metas; logo o absoluto é também relativo.
O Ser, a
matéria, tem três modalidades internas, cada uma mais complexa do que a outra
anterior – inorgânico, orgânico ou vida (biologia) e social ou humano. Os mais
avançados são dependentes do nível ontológico precedente, como a biologia
depende da não vida. O inorgânico, o pôr do outro, tem como suas as três leis
gerais acima postas e expostas; o biológico, o pôr do mesmo, tem leis
específicas ditas abaixo, em seguida; e Lukács sistematizou as da sociedade, o
pôr do novo, como demonstramos. Em síntese, tornar-se assim as leis de
movimento:
O inorgânico
e o Ser em geral (totalidade, integração):
1. Energia em
busca de mais energia;
2. Do simples
ao complexo;
3. Ruma-se
para maior interconexão.
O alto
desenvolvimento deste, de tais leis materiais, leva ao salto para a vida. Na
biologia, em específico (contradição, relação):
1. Processo
de diversificação das espécies;
2. Afastamento
das barreiras do inorgânico;
3. Cada vez
mais capaz de lidar com externo.
A segunda
lei de desenvolvimento foi já descoberta por Lukács enquanto as demais estão de
alguma forma ou de outra existentes desde Darwin. O alto evolver da vida leva
ao salto para o ser social. Em resumo, uma vez mais, no homem (movimento,
matéria-espaço):
1. Produtividade
crescente;
2. Afastamento
das barreiras naturais;
3. Tendência
à unificação global como espécie.
O alto
desenvolvimento do inorgânico realiza-se em parte e tendencialmente no
biológico; em relação ao inorgânico, o biológico é ativo como energia em busca
de mais energia, enquanto aquele é, de modo relativo, passivo. O biológico
realiza-se em parte e tendencialmente no social, pois este é mais capaz de
lidar com o ambiente e com o externo.
Tais
aspectos gerais do Ser ligam-se bem com os três aspectos gerais do ser social
em Lukács; as leis da humanidade são: 1) produtividade crescente – energia em
busca de mais de si; 2) afastamento das barreiras naturais – do simples ao
complexo; 3) unificação da espécie global – aumento das interconexões. Ou,
outro aspecto: 1) produção, trabalho – energia em busca de mais de si; 2)
sociabilidade – do simples ao complexo; 3) linguagem – interconexão. A
ontologia de Lukács está, portanto, subordinada, em sentido positivo, à nossa
ontologia geral e metafísica. Suprassumimos – suprimimos, elevamos e
conservamos – o lukacsianismo, elevamos a teoria a um nível superior.
Vejamos
agora a ontologia geral, e do inorgânico, e sua expressão no biológico. A
energia em busca de mais de si relaciona-se com a capacidade cada vez maior dos
seres vivos de lidar com o externo, como passar a controlar a própria
temperatura, obter novas habilidades de caça etc. O caminho do simples ao
complexo ocorre por meio do aumento de diversificação das espécies, por
exemplo. O aumento da interconexão é revelado na lei descoberta por Lukács, o
afastamento das barreiras do inorgânico, como animais que se alimentam de
outros animais, estes herbívoros, que por sua vez se alimentam de plantas,
estas últimas mais próximas e ligadas à inorganicidade. Claro é que expomos de
modo simples e quase esquemático; vejamos um exemplo menos abstrato; o olho
surgiu de modo independente por 6 vezes, talvez mais, na história da vida, pois
era necessário que surgisse algo do tipo no desenvolvimento e na diversificação
das espécies; isso é energia em busca de mais de si, ou, no concreto, maior
capacidade de lidar com o externo; mas também é uma forma de aumentar as
ligações, interconexões.
No mais:
energia é o abstrato; complexo, o concreto; conexão, o processo. O abstrato é o
concreto em processo – como energia no complexo em conexão (crescente). Mais à
frente desenvolveremos tais aspectos. Podemos, então, observar: energia –
geral; complexo – particular; conexão – singular. E o geral faz o particular
rumo ao singular – e o inverso: o singular permite o particular e o geral.
Vejamos,
grosso modo. O inorgânico é o geral (e energia). O biológico é o particular
rico (e complexo). O social é um gênero, homo, e uma espécie que se
singulariza, singular – e algo singular (interconexões). Das tarefas centrais
do inorgânico – pôr o geral, universal. Das tarefas centrais da biologia – pôr
o particular. Das tarefas centrais do social, humano – pôr o singular, o
individual (personalidade, individuação, o novo etc.). Como a palavra
universal, “singular” tem aqui mais de um significado. O “Modelo” geral soa
claro agora.
A estrutura
e movimento real é da forma de uma derivação do juízo qualitativo: o singular é
universal – o singular é particular – o singular é singular. O ser inorgânico,
tem o singular e o universal em si, no particular (esta última palavra em seus
vários sentidos). O ser biológico vai de uma espécie que determina o singular –
até que, por suas particulares singularidades, forma uma nova espécie singular,
um novo universal (especiação), singularidade (algo singular também em outro
sentido). O ser social, ao contrário, vai do singular como universal até ser
cada vez mais singular (no capitalismo, ainda mais no socialismo). Grosso modo,
até aqui, para simplificar, a biologia é ir do singular ao universal; o
inverso, o ser social é ir do universal ao singular; o ser inorgânico é o
universal singular se particularizar.
Sendo ainda
um tanto unilaterais e por peso, destacam-se as três leis dialéticas de Engels
do seguinte modo, grosso modo: 1) oposição, contradição, unidade e interpenetração
dos opostos – ser inorgânico; 2) mudança de qualidade por mudança de quantidade
– ser biológico (novas espécies por lenta e progressiva mudança etc.); 3)
negação da negação – ser social, humanidade.
Enfim, nas
três modalidades do Ser, há movimento rumo à simetria: no Ser inorgânico –
simetria das leis; no Ser biológico – destaca-se a simetria dos corpos (bom
para locomoção etc.); no Ser social – eleva-se a simetria dos homens, pois
tendemos a sermos juntos o que somos, ou seja, iguais, fraternos e livres.
ALGUMAS
CONTRATENDÊNCIA ÀS LEIS TENDENCIAIS DO SER
Vemos que as
três leis gerais do Ser e do inorgânico, o ser primeiro, são:
1. Energia em busca de mais energia;
2. Do simples ao complexo;
3. Ruma-se para maior interconexão.
O que tende
a impedir isso? Os átomos são autocentrados. Curvam o espaço, são o espaço
curvado; mas se isolam e se afirmam – o que dificulta, por exemplo, fusão
nuclear. Além disso, quase não existe matéria no universo; quase tudo é espaço
vazio, longas distâncias astronômicas.
No
biológico, temos:
1. Processo de diversificação das espécies;
2. Afastamento das barreiras do inorgânico;
3. Cada vez mais capaz de lidar com externo.
Pelo menos a
primeira lei tem a resistência de que a seleção natural e a seleção sexual
atuam contra a diversificação, pela unilateralização das espécies. É a busca do
pôr do mesmo.
No social:
1. Produtividade crescente;
2. Afastamento das barreiras naturais;
3. Tendência à unificação global como espécie.
A busca da
integração produz sua própria resistência. Um estado nacional, resultado da
tendência de integração, tende a resistir e cristalizar-se, resistindo à
integração internacional. Por outro lado, por exemplo, união global da espécie
também facilita pandemias, o que pesa contra a lei.
Comum em
sistemas orgânicos a ocorrência de leis gerais etc. opostas, que se relacionam
de inúmeros modos. Assim, energia em busca de mais energia tem consigo a
entropia; interconexão crescente pressupõe abstração; ir-se do simples ao
complexo pode produzir simples (vírus etc.) da complexidade crescente.
Vale ainda
uma nota. Lukács diz que o inorgânico é o pôr do outro; o biológico, o pôr do
mesmo; o social, o pôr do novo. Tudo certo, mesmo com a imperfeição empírica
(há a evolução, p. ex.). Podemos notar, também: inorgânico, posto – oposto –
composto; biológico, tese – antítese – síntese; social, afirmação – negação –
negação da negação. Mas tudo isso na matéria, não na ideia, que apenas reproduz
o material.
O SER E O
SOCIALISMO
O socialismo
é a realização do Ser social e uma do Ser em geral. Para haver sociedade livre
e igualitária, fraterna, são necessárias algumas condições maduras ou em
possibilidade latente. São elas: 1) energia em busca de mais energia, ou seja,
produtividade altíssima, com a superprodução crônica latente, energias de
fissão e fusão nucleares etc.; 2) interconexões crescentes, ou seja, internet e
mercados globais, união da produção mundial via sistema financeiro (e a
interdependência enorme entre os bancos), por exemplo; 3) complexidade elevada,
ou seja, hiperinflação da urbanidade e dos serviços etc. As concepções
limitadas, embora corretas, de Lukács – trabalho, linguagem e sociabilidade;
produtividade crescente, tendência à unidade global da espécie humana e
afastamento das barreiras naturais – não permitem ainda ver com clareza o que
expomos aqui.
Tais
elementos demonstram de modo claro e simples que o socialismo era impraticável
de modo completo e correto antes do século XXI. Foi necessário um comércio
saturado em todo o globo terrestre, comunicação e transportes avançados,
supercomputadores, automação-robótica na produção etc.
O socialismo
é uma ruptura com a natureza, com o Ser, quando nos tornamos mais sociais,
finalmente sociais – com aquilo natural socializado, socialmente adaptado ou
modificado. Ao mesmo tempo, no fundo do fundo, o socialismo é uma afirmação da
natureza, do Ser. O homem realiza as leis naturais de movimento, realiza-se.
Teremos uma sociedade correspondente coma natureza humana, que a respeita – a
humanização dos seres humanos antes coisificados, sequer animalizados, pois
nega-se até a condição animal do homem sob a sociedade de classes.
Como espécie
capaz de ser o modo como o cosmo compreender a si próprio, o universo
estudando-se, dominando-se, desenvolvendo-se; o homem também assim, com a
última revolução científica unida à ultima revolução social-política,
tornar-se-á outro modo de realização tendencial do Ser. No princípio, era a
religiosidade, o misticismo das lendas e mitos, o modo de ver o mundo em sua
inteireza e causa – um modo primitivo de ver típico de uma sociabilidade
primitiva. Na sociedade avançada, teremos um modo avançado, uma visão de mundo
definitiva.
O SER E A
NATUREZA HUMANA
Em outro
momento, abaixo, debatemos qual a natureza natural-histórica humana. Em resumo,
são estas características, determinações: 1) ser integrado, grupal, logo, o
simples (indivíduo) no complexo (comunidade); 2) ser mutualista, logo,
interconexões crescentes; 3) ser ativo, afirmador de si, trabalhador etc.,
logo, energia em busca de mais energia.
O inorgânico
é ser em si; o biológico, para si; o social, para outro. Mais profundo: o
inorgânico, em si; o biológico, em si e para si; o social, em si, para si e
para outro. O “para outro” significa também: 1) que ele se faz na experiência,
de algo alguém para outro alguém; 2) que é reconhecido pelo outro, 2) que é
solidário potencialmente ao outro. Em si, ser integrado; para si, ser ativo;
para outro, ser mutualista.
***
Em O Capital I, Marx toma nota:
Aplicado ao homem, isso significa que,
se quiséssemos julgar segundo o princípio da utilidade todas as ações,
movimentos, relações etc. do homem, teríamos de nos ocupar primeiramente da
natureza humana em geral e, em seguida, da natureza humana historicamente
modificada em cada época. Bentham não tem tempo para essas inutilidades.
O mouro faz uma crítica e aponta o
procedimento metodológico. No entanto, os marxistas
1) Confundem
natureza humana com personalidade;
2) Confundem
natureza humana com moral;
3) Enfim,
confundem “natureza humana em geral” com “natureza humana historicamente
modificada em cada época”.
O primeiro passo para avançarmos dar-se
por meio da teoria marxista da alienação. Em resumo, alienação é
1) Fragmentação
do homem, seu afastamento de relações plenas com a comunidade;
2) Domínio
do homem sobre o homem, a coisificação do semelhante (machismo, classes
sociais, homofobia, xenofobia etc.);
3) Exclusão
do homem de sua criatividade, capacidade singular da espécie, de imaginar e
colocar em prática de modo ativo.
Ou seja:
1) Separação
do homem da sociedade a qual integra;
2) Separação
do homem dos iguais, dos outros homens;
3) Separação
do homem de si próprio.[2]
Em duas sentenças de Marx: a
valorização do mundo das coisas em proporção à desvalorização do mundo dos
homens; humanização das coisas e coisificação dos homens.
Dada a base, basta-nos rastrear a
equação: se há alienação, há algo negado – algo alienado. Invertamos,
deduzamos: seria qual a solução da alienação, o inverso?
1) Integração
dos homens (totalidade, integração);
2) Relações
mutualistas (relação);
3) Ser
ativo (movimento, matéria-espaço).
Estamos diante da essência biossocial.
E esta descoberta tem implicações sobre todas as ciências humanas, além da
psicologia.
Qual, portanto, a origem da natureza
humana? Dos primatas que desceram das árvores nas savanas[3]
até o homo sapiens sapiens ocorreu um longuíssimo período de formação da nossa
espécie por meio da seleção dos mais aptos à sobrevivência. Aqueles cujo perfil
facilitava a prática do que hoje é essência humana adquiriam probabilidade
maior de sobrevivência, perpetuavam-se[4].
Por isso, por história da humanidade devemos considerar, também, a história da
formação da nossa própria espécie, isto é, a importância da biologia na
formação do pensamento marxista. Resolvemos, então, a oposição sobre se a
essência é histórica ou natural. Assim, superamos o falso “historicismo” e a
tese pós-moderna de que tudo é – limita-se à – construção social[5]. É a
formação do homem como formação do próprio homem, do orgânico ao social[6].
Em elaboração geral, a alienação ocorre
quando o mundo gerado pelo homem ganha autonomia frente a este e volta-se
contra ele – a criatura passa a dominar o criador. É preciso, pois, ver a
alienação como um fenômeno subjetivo, objetivo e intersubjetivo, assim como a
natureza humana – interno e externo ao indivíduo. Tem sua existência na
totalidade social e na psique. Destacamos aqui a psicologia por ser esta a
questão que esta ciência faltou resolver, a natureza humana, seja por ideologia
ou por pouco interesse pela filosofia marxista na ciência oficial.
No entanto, curioso o espanto causado
por esta exposição entre marxistas. Ficamos diante das observações: se a
natureza é apenas histórica no sentido dos modos de produção, o homem é de fato
adaptável – logo a alienação social não explicaria a onda de depressão e
suicídio? Se explica, há algo de fato negado. Se o homem é, em essência, apenas
o determinado pelo modo de produção, adaptar-se-ia às condições dadas sem
maiores prejuízos, senão físicos, pelo menos psíquicos. Por isso, uma resposta
própria do marxismo percebe contradição entre natureza humana historicamente
modificada em cada época e natureza humana em geral. Entre as tarefas dos
homens e mulheres no e rumo ao socialismo será resolver este problema objetivo.[7]
Mário Bunge, o menos limitado dos
filósofos oficiais da atualidade, socialista utópico que nada compreendeu do
método de Marx, assim expressa, de modo correto:
Estamos vivendo a década do cérebro.
Avança-se bastante, mas também ignora-se bastante. Não sabemos exatamente quais
são as partes do cérebro conscientes de si mesmas; mas acaba-se de descobrir
que dar traz muito mais prazer que receber, e que é o mesmo tipo de prazer que
sentimos ao comer algo saboroso. Descobriu-se também, que a desigualdade é
muito mais nociva que a pobreza. A desigualdade causa stress e este, por sua
vez, acarreta em uma superprodução de substâncias nocivas que destroem o
cérebro. Nos países mais igualitários, as pessoas são mais longevas. Os
costarriquenhos e os cubanos vivem muito mais que os norte-americanos. Ganham
muitíssimo menos, são muito mais pobres, mas vivem mais porque são mais
igualitários.
Complementamos que, socialmente, o
altruísmo, não significando necessariamente desprazer, pode ter na outra ponta
da relação um impulso egoísta de quem recebe a ação. Por isso mais correto é o
estabelecimento do mutualismo, que supera os opostos, como expressão categorial
da essência humana[8].
Vejamos o que diz Mèszáros:
Termos como malevolência, egoísmo,
maldade etc. Não podem existir sozinhos, ou seja, sem a contrapartida positiva.
Mas isso também se aplica aos termos positivos
desses pares opostos. Desse modo, não importa qual o lado adotado por um
determinado filósofo moral em sua definição de natureza humana como
inerentemente egoísta ou maldosa, ou altruísta e bondosa: ele acabará
necessariamente com um sistema totalmente dualista de filosofia. Não se pode
evitar isso sem negar que ambos os lados desses opostos são inerentes à própria
natureza humana. (Mészáros, A teoria da alienação em Marx, 2006, p. 151)
Ele Critica o kantismo, porém continua
preso à dialética kantista. Deve-se ver a unidade superante dos opostos, além
do desenvolver lógico e histórico das categorias. O nem positivo nem negativo
passa para o positivo e negativo, que são superados em um novo nem negativo nem
positivo. Assim, a negação prática da natureza humana levou a formar uma
oposição entre egoísmo e altruísmo, superada – suprassumida – pelo mutualismo.
Se o caráter comunitário, por exemplo,
é natural entre nossos primos evolutivos, ele salta de natural para social na
espécie humana. Tal mudança qualitativa de natureza é incompreendida. O aspecto
natural da espécie não é destruída mas suprassumida numa nova natureza, a
natureza humana[9]. É mais do
que o comunitário natural, sendo elevado, mais dinâmico e complexo, ao social
por meio do trabalho.
Se abstraímos as origens físicas, parte
significativa das doenças mentais possui origem na alienação, ou melhor, na não
satisfação da natureza humana. A solidão excessiva, por exemplo, degenera e
pode acarretar problemas como a paranoia, que expressa a necessidade de
interação. Essa observação simples demonstra a inerência de certas
características. Viver agrupado é mais do que uma vantagem evolutiva externa,
pois está instalada no aparelho psíquico como necessidade, como exigência a ser
satisfeita. O trabalho alienado, repetitivo e vazio de sentido, negação do
caráter ativo do homem, é outro exemplo de insatisfação, que estressa o
trabalhador.
A teoria unificada da psicologia é uma
tarefa por se fazer, no entanto muitos marxistas recuam. Não contradição na relação
entre as naturezas humanas geral e histórica é o que se pode concluir de modo
equivocado. É tarefa socialista desenvolver, na medida em que sua base material
amadurece, uma nova relação, ainda dinâmica, entre natureza humana e sociedade
e entre natureza humana e a superestrutura subjetiva (moral, concepções, etc.)
À concepção neoliberal de natureza
humana – individualista, concorrencial e otimizador de bens – opomos outra,
esta sim assentada na mais avançada apreensão científica de nossa época, corroborada
pelas descobertas da ciência[10]. A
concepção burguesa, sempre requentada, corresponde à imposição do mundo das
coisas sobre a psique, tem caráter empírico mas naturalizado, não histórico,
incorrespondente, também, com a história da formação de nossa espécie. Trata-se
de diferenciar o conjuntural do estrutural e de expor a contradição que daí
deriva.
Por seu lado, o falso “historicismo”
foi uma forma incompleta mas muito eficiente ao afirmar o homem, o caráter
social da espécie. O enfrentamento contra o darwinismo social puxou a balança
para o lado oposto. Agora devemos limpar caminho contra o determinismo genético
por outro meio: considerando o natural, o social e o “um no outro” entre os
humanos. As condições históricas, científicas e ideológicas permitem o avanço. Supera-se
a unilateralidade da observação focada exclusivamente num ou noutro polo, sendo
o polo determinante o social.
Apoiados na categoria trabalho como
categoria fundante do homem, podemos enfim superar a obra de Freud, que tem
resistido bem até aqui às duras críticas e elaborações alternativas. A
psicanálise, por não ter uma concepção própria de natureza humana, acaba
cedendo à visão oficial, o homem enquanto lobo do homem. Todas as versões
críticas anteriores sucumbiram e tomaram posição inferior no trato sobre a
psique porque falharam onde também a concepção freudiana falhou. Não mais se
trata de atualizar mas de ir além, suprassumir o legado psicanalista[11].
***
Vale o
alerta para evitar confusões. A base de nossa psicologia marxista, acima, nada
tem de derivação desde os princípios gerais, as três leis da matéria. Primeiro,
na pesquisa, as conclusões deram-se de modo separado e independente – apenas
depois apareceu o nexo interno de tais elaborações. O modo de exposição, por
outro lado, faz soar como se a exposição lógica e a própria lógica fosse outra.
Os princípio legais são resultado, não começo real na teoria – embora começo
real na realidade.
O SER E A
DIALÉTICA
Em outro
momento, iremos debater as três categorias centrais da dialética, que aqui
expomos de modo direto. Assim: 1) totalidade é integração, portanto o complexo;
2) o que está “por debaixo” da contradição e da cooperação, opostos, é a
relação, portanto interconexões crescentes; 3) o movimento e o automovimento apontam
para o espaço-matéria, portanto a energia em busca de mais de si.
Lukács
reclama de Hegel por este unificar ontologia (metafísica) e dialética, a
lógica. Fez-se, portanto, uma lógica ontológica ou ontologia lógica. Ora, uma
lógica correta deve corresponder à realidade, ao Ser e à essência. Nem mais nem
menos. As categorias de todo o Ser têm um desenvolvimento, uma razão de ser e
um modo de acessá-lo. O mundo não é puro caos, pois ele é categorial. O erro
seria separar a questão do Ser de sua logicidade, como mundos especializados e
separados.
Hegel,
assim, desceu a lógica ao chão. Cabe ao cientista e ao filósofo absorver a
lógica do concreto, do Ser. Além disso, descobrir e desenvolver novas
categorias, leis e relações categoriais, o que faremos em outro capítulo de
modo o mais completo e definitivo possível.
Toda
tentativa de tomar o Ser sem concretude, como o nada, parando aí, fracassa por
não ver que a coisa-em-si pura, sem suas propriedade, nada é – apenas existe
com suas propriedades mesmas.
O Ser,
ademais, apensas pode ser corretamente compreendido dialeticamente, por
exemplo, em seu movimento, em seu desenvolvimento, em seu avançar
contraditório. Em sua riqueza de determinações sintetizadas. Ser é totalidade
contraditória em movimento. Mas reconhecer a movimentabilidade é limitada, pois
ela pode ser tratada como ilusão, como apenas caos, como sem rumo e direção,
como o mero permanecer ou meroacontecer, como desenvolvimento limpo e linear
rumo ao progresso, como evolução sem revolução ou sem saltos de qualidade etc.
Em sua
Dialética da natureza, Hegel apresenta uma carta a Marx pedindo segredo
temporário de uma descoberta: a física e a química tratam do movimento da
matéria; a biologia, do movimento da vida; o marxismo, do movimento social.
Claro é, como ambos são hegelianos, que se trata de um movimento contraditório
em desenvolvimento de totalidades dinâmicas.
Tudo é história, não cansamos de repetir: o passado é a causa do
presente, vai-se do simples ao complexo, os processo macros são irreversíveis.
O “OUTRO
LADO” METAFÍSICO
Parmênides
dividiu o mundo em Ser permanente, perceptível apenas à razão, e não-Ser móvel,
empírico; depois, Platão separou o mundo entre o mundo da Ideia, das Formas, e
o mundo sensível, impermanente; em seguida, Agostinho separa a cidade de Deus,
fixa, e o mundo instável, a cidade dos homens. Apenas separam, sem unidade, ao
modo idealista. Nossa metafísica científica vê um colateral, um aspecto dentro
do próprio mundo, necessário se observamos o infinito (similar a um círculo sem
começo nem fim) no finito universo, a origem do movimento e do tempo, o valor
real invisível na economia e a energia em geral abaixo de suas formas
particulares – chegamos à quarta dimensão, não empírica, do espaço, dimensão
para dentro, para dentro de si. Assim, o “outro lado” típico do idealismo é, de
fato, um outro lado, a quarta dimensão espacial, responsável pela energia, pelo
tempo e pela infinitude. A teoria moderna exige e até intui a dimensão extra,
perceptível pelo trabalho teórico-filosófico. Talvez uma causa do movimento
eterno seja que a matéria, que aparenta possuir três dimensões, cai o “tempo”
todo na quarta dimensão como em si mesma, assim como a Lua está caindo sempre
na Terra por sua energia-massa-gravidade. Resolve-se o metafísico problema do
movimento e sua origem. Até aqui, a existência do “outro lado”, em duplo
sentido, sempre foi uma proposta do idealismo, não do então passivo
materialismo.
Um dos
momentos que facilitaram tal dedução, a quarta dimensão “espacial”, ocorreu ao
ler O Capital livro I, pois, após afirmar que podemos virar e desvirar a
mercadoria, mas nenhum átomo de valor encontraremos nela, Marx afirma: “O valor
do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias
coisas...” (Marx, O capital I, 2013, p. 170) Eis uma pista metafísica, ao mesmo
tempo sensível e suprassensível, como afirma o próprio alemão.
A causa
primeira do movimento é este eterno cair em si mesmo como na quarta dimensão, o
vazio infinito (a quarta dimensão do espaço é representada, incluso na
geometria, por números imaginários, como a raiz de menos um. Tal número
imaginário aparece aqui e ali nas equações, como na de geometria, substituída
pelo tempo por Einstein, e na equação de Schrödinger – mas eles tratam tal
presença como algo incômodo, um problema apenas, limitado ao formalismo
matemático.). A ciência moderna desde Galileu pensou o movimento como fato
dado, sem maiores explicações, como algo que simplesmente é, foi e será – de
fato, o estado natural é o movimento, não o repouso, diferente do que pensava
Aristóteles. Pousar-se é dissolver-se, desabar-se, diluir-se; desmanchar-se no
ar. Ao evitar as perguntas metafísicas, caíram em outra metafísica. Neste
ensaio, buscamos unificar as visões metafísicas, suprassumindo-as como unindo
as categorias da metafísica antiga (substância, conteúdo etc.) com a moderna
(massa, matéria, energia etc.), o que inclui o papel do espaço. Enfim, a causa
primeira do movimento não é um antes ao infinito, mas um abaixo, ou, se se
quer, um dentro do ser – o infinito qualitativo, a dimensão quarta. O infinito
não cabe todo dentro do finito, transborda-o, indiretamente observável e
dedutível.
Antecipando
conteúdo; se observamos em 3 dimensões espaciais, então, se o mundo real tem,
para além de nossos sentidos, 4 dimensões, algo deveria desparecer aqui e
reaparecer ali em seu movimento. Isso é condição para haver quatro dimensões
observadas em apenas três. Pois bem: tal fenômeno existe e está bem conhecido:
um elétron desaparece aqui e reaparece ali, em seu movimento, mesmo se não
orbitando um núcleo atômico. Seu movimento, portanto não é contínuo na
aparência, mas discreto. Algo bizarro, já descrito, até agora sem maiores
explicações.
A divisão
metafísica de mundos na filosofia está lastreada na divisão social de classes.
De fato, o capitalismo está dividido em dois mundos, dos ricos e dos pobres. Na
geopolítica, fala-se em primeiro e terceiro mundos. Na filosofia antiga, quanto
à psicologia, o senhor de escravo filósofo pouco se movimentava, pouco
trabalhava, pouco agia; logo, por falta de prática, de ação, de contato, de
matéria – duvidava do estatuto real do real.
METAFÍSICA
OU DIALÉTICA?
Engels
contrapõe a dialética à metafísica. Para ele, aquele foca no movimento e este
no estático; aquele vê o processo enquanto este a coisa. Mas a metafísica de
Aristóteles quer saber a origem e a natureza do movimento. Ora, a dialética é o
exato oposto da metafísica, mas os opostos têm uma identidade interna, logo são
também o mesmo; identidade da identidade e da não identidade. Por outro ângulo,
elas são iguais porque possuem os mesmos objetos de estudo – o mundo, o Ser e
as suas categorias.
Metafísica é
ir além, ou por debaixo, da física, das formas, ver o essencial da existência.
Associar tal matéria à religião é crítica vulgar do iluminismo ao mundo
medieval. De qualquer modo, devemos saber a natureza do movimento, algo ainda
não respondido dentro dos limites da ciência.
Temos, aqui,
a metafísica científica, projeto abandonado por Kant. Evitar a metafísica é
ceder lugar ao atraso religioso, que deseja ser a única visão geral de mundo.
Engels, um dos maiores gênios da humanidade, cedeu, sem perceber, ao kantismo,
contra a dialética, ao negar a metafísica materialista, dialética e objetiva.
O ABSTRATO É
O CONCRETO EM PROCESSO
A
investigação do movimento continua para reforçarmos nossas teses. A equação
categorial, ou qualitativa, acima, diz que o abstrato é o concreto em processo,
em movimento, em evolver, em devir. Na metafísica, o abstrato domina o
concreto. Aqui, isso é revelado pelo fator de igualdade e conversão, o
movimento. O concreto cai no abstrato, movimentando-se, como na quarta
dimensão, como queda em si próprio.
Tal fórmula
tem expressões mais diretas, em nível abaixo, como F=ma, força é igual à massa
vezes a sua aceleração, ou, também, E=mc2, energia é igual à massa vezes a
velocidade da luz ao quadrado. Nos dois casos o movimento, para nós, tem importância
ainda maior do que dada pelos físicos, nada tem de passivo. Pois a “força” e a
energia, típicas da quarta dimensão, em reação ao concreto, como a
massa-espaço, dão origem ao movimento. Na quântica, temos E=hv, energia do
fóton é igual à constante de Planck vezes a frequência da onda. O cálculo
clássico v=s/T pode ser expresso como T=s/v, tempo é igual ao espaço sobre a
velocidade. O momento linear é igual à massa vezes a sua velocidade, p=mv. Até
no cálculo de Einstein da massa relativística, que a massa ganha mais massa com
o aumento da velocidade, tem a sombra de nossa fórmula, com o movimento na
divisão como denominador:
Ser é matéria,
em geral, em movimento – movimento apenas existe com matéria, e vice-versa.
Mais puro: A = A e… Não-A. Em física, temos divergência negativa (aproximar) ou
positiva (afastar) expressa no símbolo ∇. No livro didático para
universitários, Lições de Física, capítulo (6, p. 1) O campo elétrico em várias circunstâncias, Feynman afirma
(…) a solução (…) merece atenção especial, porque
existem muitas situações em física que levam a equações como
∇² alguma coisa = outra coisa
Os exemplos
são muitos. Assim, demonstram tais casos, o abstrato, além de igual ao
concreto, também é equivalente ao processo; pois, por exemplo, o decaimento de
átomos gera partículas com massa (concreto) menor já que esta se tornou energia
(abstrato) em forma de maior velocidade (processo) – vemos aí também que
movimento = energia = massa-matéria etc.
A quarta
dimensão espacial, por ser a casa do infinito, não tem borda, limite, fronteira
ou outro. Está, assim, ao mesmo tempo dentro e fora desta realidade. Eis a
falha dos filósofos gregos ao saberem a origem do real e do seu movimento.
Quando Hegel
diz que o movimento é a unidade de espaço e tempo, deixa de perceber que o
tempo é o outro de si do espaço, a manifestação da quarta dimensão espacial.
No processo
caótico da pesquisa e do estudo, algo próprio do método dialético, que não tem
passo a passo, lidei com os vários fatores singulares, como as equações acima,
até que, por “acaso” tive a “sacada” ou insight quando reli um trecho de Marx
em O Capital, livro 2. Ei-lo:
O capital, como valor que acresce, implica relações
de classe, determinado caráter social que se baseia na existência do trabalho
assalariado. Mas, além disso, é movimento, processo com diferentes estádios, o
qual abrange três formas diferentes do processo cíclico. Só pode ser apreendido
como movimento, e não como algo estático. Aqueles que acham que atribuir ao
valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do
capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu). (Marx, O
Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
O valor
(abstrato) é o capital (concreto) em movimento (processo); o melhor, o capital,
que não é coisa, abstrato, é o valor, que é material, concreto, em processo, ou
seja, valor “que valoriza a si mesmo” (processo). Assim, pretendo convencer os
marxistas da veracidade desta ideia – de seu ortodoxismo, além do seu valor
para todo o Ser – e do conjunto de nossa metafísica marxiana.
Vale como
nota notar que a mente, o ideal, a ideia ou a consciência (abstratos) não são
coisas, pois são, na verdade, resultado do cerebral e do meio (concretos) em
atividade (processos). É a busca do permanente, querer a repetição, na mudança[12].
O nada
(abstrato) é o Ser (concreto) no devir (processo), por exemplo. Em nossa
metafísica o espaço (abstrato) é a matéria (concreto) em movimento, em
decaimento, em dissolução de si (processo). A quarta dimensão, vazio infinito,
(abstrato) é o espaço (concreto) gerando movimento (processo).
Na
dialética, a verdade (abstrato) é o todo contraditório (concreto) em evolver
(processo).
Uso os
vários sentidos de abstrato, de concreto e de processo. Mas duas observações
precisam ser feitas. Primeiro, para Hegel, a verdade é o todo, logo uma fórmula
do tipo “isto é aquilo”, torna-se algo limitado, verdadeiro e falso. Mas, aqui,
ainda respeitando o limite hegeliano, dizemos “isto é aquilo no processo”, de
maneira superior. Por isso, ainda assim, não usamos a equação qualitativa como
chave fácil para todos os detalhes da grande obra marxista. Segundo, ainda para
Hegel, uma equação particular, como a da gravitação, não pode ser elevada à
teoria de tudo, à teoria geral, universal – exato por ser particular, estar ao
lado de outras leis, equações etc. Mas as categorias que usamos – abstrato,
“é”, concreto, processo – têm tendências gerais.
Por fim,
mais um exemplo: massa (abstrato, propriedade) é energia (concreto) em forma de
movimento (processo) – como a massa do próton ser suas partículas internas em
agitação.
As três leis
da metafísica materialista, já tratadas:
ABSTRATO (geral) – |
CONCRETO |
PROCESSO |
Ser |
Energia |
Em busca de mais de si |
Ser |
Do simples ao concreto |
Ir-se |
Ser |
Interconexões |
Crescentes |
O mesmo vale
para outros modos de ser do Ser:
Ser |
Espaço |
Condensado, por |
Ser |
Totalidade contraditória |
Em devir |
Ser |
Geográfico |
E histórico |
Ser |
Espaço-matéria |
Cuja unidade produz movimento |
Ser |
Matéria |
Sob trabalho e produção |
Ser |
Matéria |
Formada, formatada |
Ser |
Realidade |
Em desenvolvimento contraditório |
Ser |
Infinito |
Que se expressa no tempo |
Ser |
Finito |
Posto pelo infinito |
Ser |
Ordem |
Dinâmica, em processo, dotada de caos |
A descoberta das equações
qualitativas demonstra-se muito frutífera. Em outro capítulo trataremos a maior
parte das categorias ontológicas nessa formulação. Para tornar simples, basta
ver que 10 = 6 nada diz, precisamos de um movimento, de uma operação
combinatória, 10 = 6 + 4. O ato de somar é movimento e processo, em que o
resultado é o abstrato do concreto. Aqui, fomos ao quantitativo de modo direto;
o processo não é em exato o número 4, mas sua operação +4, como a
multiplicação, a divisão etc. Eis a base de todas as equações, incluso as mais
extensas e complexas, pois o abstrato é o concreto em processo.
Ao longo da
obra, já tentamos convencer marxistas da presença de tal equação, tal fórmula,
em O Capital. O trabalho abstrato (abstrato) é o trabalho concreto (concreto)
no tempo, no devir, no movimento (processo). O valor ou mercadoria (abstrato) é
o valor de uso (concreto) na troca (processo), no mercado. Citamos antes tal
modo na relação entre valor e capital.
No externo,
o abstrato domina o concreto – no interno, no entanto, o concreto, com o
movimento, torna-se base total do abstrato.
CRISE GERAL
– CRISE DE ABSTRAÇÃO: CASO DO ESTADO
A crise do
dinheiro ver-se por sua maior abstração, quase puro conceito. A crise da
mentalidade dar-se por abstração (isolamento) do indivíduo, por sua redução a
um perfil geral etc. No Estado, a crise de abstração do concreto se dá de três
modos. Primeiro: o Estado, sendo parte de uma totalidade, quer afirmar sua autonomia
relativa tornando-a mais alta, mais autonomia, abstraindo-se; assim, a crise
dos sistemas escravista, feudal e capitalista (modo de transição) tem como
repetição clara a substituição do exército como armamento dos homens livres –
sob o capital, alistamento militar popular etc. – por exércitos profissionais
(gente militar fixa e assalariada no capitalismo recente);o Estado, assim, desprende-se,
ainda que de modo ilusório e negativo até para si. Segundo: a lógica do lucro
corrói a materialidade do Estado, como a redução do número e peso das empresas
estatais lucrativas. Terceiro: o Estado deve lidar com sua generalização, como
com a urbanidade altíssima, maior do que seu perfil de classe e sua forma
suportam. Em outro momento, veremos outro aspecto ou tipo de crise: crise geral
do valor e sua crise de medida. No mais, Kurz brinda-nos com a ideia de crise
categorial.
O ABSOLUTO
Aqui,
pretendemos fundir os opostos eleatas e jônicos. Hegel, idealista, pensou o
absoluto como o Espírito, que sai para fora de si mesmo como natureza; na
economia, Marx, materialista, pensou a substância valor. Nós pensamos em
energia, ou melhor, no espaço-matéria. Os antigos pensavam do que o mundo é
feito como, por exemplo, água ou ar, pois são simples, transparentes e
abundantes. O que é mais simples, mais vazio, com menos determinações? Ora, o
espaço é isso. E, com a quarta dimensão, ele põe categorias-determinações em si
próprio como o da infinitude. Vejamos como o espaço tem os atributos dados a
algum Deus:
Esta extensão infinita e imóvel (que é percebida
tão seguramente na natureza das coisas) não tem só a aparência de algo real
(que comentaremos adiante), mas também de algo divino, quando enumeramos os
Nomes divinos ou atributos que lhes convém exatamente, os quais darão ainda
mais razões para crer que ela, com tantos atributos notáveis, não pode ser
nada. Tantos são os que pensam assim, que os Metafísicos a assimilam ao
Primeiro Ser: Uno, Simples, Imóvel, Eterno, Completo, Independente, Existente
por Si, Subsistente por Si, Incorruptível, Onipresente, Incorpóreo, Aquele que
Penetra e Envolve Tudo, Ser por Essência, Ser em Ato, Ato Puro. Pelo menos
vinte atributos existem para designar habitualmente a Potência Divina, e todos
convêm perfeitamente a esse Lugar infinito interior que demostramos existir na
natureza das coisas; sem esquecer que ela, a Potência Divina, é chamada pelos
cabalistas de “makom”, ou seja, lugar. (More apud Jammer, Conceitos de espaço,
2009, p. 73)
Ele, assim,
ESTÁ no MEIO de nós… – E a verdade ESTÁ no MEIO. “a extensão é atributo de
Deus, ou seja, Deus é coisa extensa.”
Pelo menos
em nosso universo; o princípio, o absoluto, a essência não é o primeiro no
tempo, mas primeiro ontologicamente, ou seja, a matéria-luz decai em espaço.
Tudo é espaço concentrado. O espaço é a transparência transparente. O absoluto,
dito de modo hegeliano, é resultado.
O meio é o
meio – também. A física moderna diz que a luz enquanto onda precisa de um meio
que seria um campo próximo; cada tipo de partícula e matéria com seu próprio
campo. Nesta obra, colocamo-nos contra a posição majoritária, pois, como a
matéria, a luz e o espaço são o mesmo, sendo ainda diferentes, a luz, por
exemplo, se propaga no espaço, não num campo. O chamado campo nada mais é que
espaço condensado, a partícula ou a onda faz o campo correspondente e próximo por
ser espaço concentrado, para dentro de si.
Bohm, o
físico dialético, afirma:
Ainda não se pode dizer que tenha sido exaurido o
problema de qual meio material, se há algum, transporta o campo eletromagnético. (…) Em vez
disso, simplesmente se supôs a existência de campos, sem referência direta à
questão de se o éter existia ou não. (…) levado adiante por Einstein e hoje
sustentado pela maioria dos físicos
Para
Einstein, tudo poderia ser reduzido a campos que permeiam todo o universo. Para
nós, tudo é reduzível ao espaço ou espaço-tempo. Quando a ideia de éter
enquanto meio caiu, criou-se a gambiarra teórica do campo; mas, se usarmos a
velha navalha, o conceito de espaço pode cumprir tal função. Por exemplo: a
expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia para o vermelho.
O espaço não é barreira para luz, é "transparente", porque a luz é o
próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da luz não é a
sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que são o mesmo,
um identidade interna. O meio é o fim.
O abstrato é
o concreto em processo – a realidade é a substância em autorrelações. O espaço
(abstrato) é as partículas (concretos) em relações. O decaimento dos átomos
primordiais produziu o espaço – nesse sentido, lógico, o espaço-substância
(abstrato) é-são as partículas-acidentes(s) (concreto) em processo, em
decaimento (movimento). A substância espaço é as partículas em (auto)relações,
em processo.
A VITÓRIA DO
MATERIALISMO
A filosofia
grega já se inicia materialista, rompendo como a mitologia enquanto explicação
válida. Mas o idealismo de Platão e Aristóteles, com muitos outros como os
pitagóricos, tomaram o papel mais ativo e criativo – o idealismo vencia todas
as disputas. Platão propôs que os escritos do materialista Demócrito fossem
destruídos; logo vemos que a corrente concreta contra a ideal sempre passou por
marginalidade como ocorre hoje com o materialismo marxista. Hoje, na física
quântica, surgiu a hipótese absurda de que a realidade não em existe por si,
mas para nós. Para nossa alegria, tal hipótese não é majoritária.
Em resumo
extremo, o idealismo diz que as ideias fazem a realidade, incluindo um mundo
das ideias ou um céu místico etc.; o materialismo, ao contrário, diz que a
matéria faz a ideia, e esta é uma forma bastante desenvolvida da matéria, ou
seja, a cabeça segue o chão que os pés pisam. Para Marx, o campo das ideias,
por ser material para ele, não é passivo, pois a criatividade, a decisão, a
disputa de consciências também importam.
O início da
ciência atual teve de afirmar-se perante a visão de mundo medieval, da Igreja.
Para isso, para atender a demanda por novos conhecimentos, formaram-se duas
teses de mediação: 1) conhecemos Deus por suas obras, logo conhecer a natureza
agrada a Ele (Aquino); 2) o “como” funciona o mundo deve ser interesse da
ciência, mas o “porquê” ele assim opera deve ser obra da religião (Belarmino).
Para sobreviver e prosperar, os cientistas absorveram como parte de suas
personalidades tais resoluções. Por outro lado, muitíssimo mais fácil ver as
regularidades, as repetições, o “como” do que o “porquê” tudo é de fato tal
como é.
Até o gênio
Feynman, no século XX, coloca-se contra a filosofia e a busca da razão de ser
das tantas leis descobertas:
Outra coisa que pode acontecer é que, afinal, caso
tudo venha a ser conhecido ou se torne muito sem graça, desapareça gradualmente
a atenção que se dá a essas coisas sobre as quais falei. Os filósofos, que
estão sempre de fora fazendo observações estúpidas, poderão se aproximar,
porque não poderemos empurrá-los, dizendo: “Se vocês estiverem certos,
poderíamos encontrar leis ainda desconhecidas.” Quando todas as leis forem
conhecidas eles terão uma explicação para elas. Por exemplo, há explicações
sobre a razão de o mundo ser tridimensional. (…) Se tudo for conhecido, haverá
alguma explicação de por que essas leis são certas. Mas essa explicação estará
num contexto que não poderemos criticá-las, argumentando que este tipo de
raciocínio não nos permite avançar. Haverá uma degeneração das ideias, do mesmo
tipo que os grandes exploradores sentem que ocorre quando turistas começam a
chegar a uma região.
Ele, sem
saber, estava sendo colonizado pela religião, que manda a ciência evitar os
assuntos de maior profundidade, da razão de ser do mundo.
Daí vem,
também, a tradição de igualar a metafísica e o misticismo, a religião, ao
anticientífico; até marxistas caem nesse engano. Para Martin Heidegger,
metafísica é saber porque há algo (e o Ser) em vez de nada; para Aristóteles, o
estudo metafísico é a filosofia primeira, por que o mundo é assim, qual e se há
a causa do movimento, qual a natureza essencial da realidade. Quem é contra
tais metas científicas e, ou seja, metafísicas? Toda escola de ciência adota
alguma variante metafísica, mesmo que não tenha disso consciência.
A segunda
grande vitória do materialismo é a descoberta de que os átomos são partes
vitais da existência, que há partículas fundamentais. Para os atomistas, as
partículas tinham apenas substância, forma e grandeza; depois, Platão supôs,
com algum exagero, que cada elemento básico – fogo, terra, ar e água – tinha
uma forma peculiar de esfera, como a esfera do fogo ser formada por triângulos,
figura mais semelhante a uma chama. Hoje, teoriza-se as pequeníssimas cordas
vibrantes e de modo variado articuladas, fechadas ou abertas etc., com 11
dimensões, como hipótese (teoria das cordas) para a forma real das partículas.
Tanto ontem como hoje, faz-se ao mesmo tempo ciência e filosofia; a diferença é
que hoje temos mais ferramentas, como a complexa matemática moderna. De
qualquer modo, acrescentamos, os átomos são acompanhados por ondas. O atomista
Demócrito disse que apenas há o ser (átomo) e o vazio (não ser); além disso,
afirmou que o ser vem do não ser! Hoje, sabemos que fótons e partículas
virtuais surgem do “nada”. Mas, para nós, o não ser, ou nada, ou vazio é o próprio
espaço, com existência ontológica.
A terceira
vitória do materialismo ainda está incompleta. O Big Bang foi o começo de tudo?
Então, Deus pode ser a sua causa primeira, o primeiro motor. De qualquer modo,
discordamos, o que teria criado Deus já que tudo tem uma origem? É chegada a
hora de substituir tal teoria por uma que a mantenha viva, mas superada, como a
concepção de que o universo ora expande-se e ora contrai-se. Sobre a primeira
vez que isso aconteceu no passado, veremos em outro momento; antecipamos que a
quarta dimensão põe o finito universo nosso.
A quarta
vitória é a teoria da evolução e a genética. Antes, Platão e Aristóteles
pensavam haver um conceito por detrás da realidade, uma ideia. Parece evidente:
um filho é como seus pais, logo deve haver um texto fixo, mas ideal, dando
forma àquela matéria. A genética pousou tal concepção no chão da realidade;
temos os genes, o DNA e o RNA. A vida, de fato, possui informações básicas e
faz cópia delas; mas isso de modo materialista, não idealista. Além disso, as
cópias podem ser imperfeitas, levando a diversificação de espécies por seleção
dos mais aptos a sobreviver.
A quinta
vitória é o marxismo, a concepção materialista da história. Por não ser o foco,
apenas indicamos o grande acerto. O homem precisa produzir para se reproduzir,
logo trabalha de certo modo e, por isso, com certa organização social.
A psicologia
moderna, como Freud, Wallon, Piaget etc., além da neurociência e da
psiquiatria, reforçam o aspecto psíquico como material, como ligado ao meio e à
experiência, ademais também ativo. A busca do prazer e, em especial, do sexo,
move a psique humana de modo singular. Nenhuma alma, separada, existe para além
da complexa organização cerebral.
Toda
anticiência, ligada à religião, procura atacar tais vitórias. Os religiosos
dizem que a Terra é plana, que a descoberta dos dinossauros é uma farsa, que
Darwin e Marx são satanistas, que há um Design inteligente na natureza, que
Freud faz pseudociência ou é um tarado, que é absurdo o universo surgir de uma
“explosão”. No fundo, estão negando a história universal.
Uma ciência
correta causa espanto, muitas vezes positivo, e também uma negação desesperada
contra suas ideias. Isso é próprio quando alcançamos um grande nível de
verdade. A teoria de Darwin e a moderna biologia foram atacadas porque feriam
de morte a religião. A teoria marxista foi negada com violência por religiosos,
pelos ricos e pela classe média desejante de ser burguesa numa sociedade que
não é a forma eterna, mas transitória. A teoria de Freud foi negada pela prisão
mental de muitos, incapazes de aceitar sua própria mentalidade, além de ir
contra a religião ao afirmar o sexo com sua grande importância. A teoria de
Einstein derivou a teoria do Big Bang, além das modernas teorias do universo,
para desespero de cientistas e professores ligados à física clássica e da
religião com sua noção de mundo teísta, com um criador.
O
socialismo, se vencer, ao dar razão a Marx e Engels, colocará o materialismo no
seu devido lugar, no auge da cientificidade.
ANTINOMIAS
DE KANT CONTRA O MATERIALISMO
Kant, o
organizador e o desenvolvedor do senso comum, apresentou ataques contra o
materialismo, suas famosas antinomias, que são teses opostas que parecem ambas
verdadeiras. Vejamos como nossa concepção, espaço = matéria etc., resolve isso
nas questões físicas.
1. O universo é finito ou infinito no espaço e no
tempo?
Ora, a
quarta dimensão, responsável pelo infinito do finito é para dentro, para dentro
de si – o finito é uma parte de dentro do infinito (Hegel), o infinito é como
um círculo (Hegel) sem começo e sem fim – não como uma linha reta que pode ser
sempre maior – no espaço e no tempo, sem borda. O infinito “circular” exige
quarta dimensão.
O próprio
espaço e talvez o tempo são finitos porque têm origem e desenvolvimento,
história. Em três dimensões mais o tempo o universo é finito, mas a infinitude
real, qualitativa e intensiva no lugar de quantitativa e extensiva, não tem
começo nem fim.
2. A matéria é ou não divisível ao infinito?
A matéria
apenas é estável sob certas proporções, do contrário, decai em outras
partículas. Se dividirmos as partículas ao “infinito”, logo as dissolveremos em
espaço, pois este é o mesmo que a matéria, pois esta é espaço condensado. O
espaço é o átomo.
Hegel diz
que o contínuo é os discretos (partículas etc.) juntos, reunidos. Assim, o
espaço poderia ser feito de partículas de espaço, mas ligados e unificados,
formando algo como um tecido. Por outro lado, demonstraremos que as partículas,
unidas, uma apenas no princípio, decaíram em espaço, continuaram unidas umas
com as outras via espaço. Assim, de imediato, sem a história, o contínuo, o
espaço, forma as partículas, que são espaço condensado – embora na história do
nosso universo tenha ocorrido o oposto, as partículas (discretas) decaíram em
espaço (contínuo). O contínuo, espaço, faz o discreto, partículas, assim como
os discretos, partícula(s), fazem o contínuo, espaço. No próximo capítulo,
apresentaremos uma proposta de espaço contínuo e discreto ao mesmo tempo por
diferentes ângulos.
3. Há ou não uma causa primeira?
O espaço é
causa sui, causa de si mesmo, automovente, logo substância, contanto que
mantenhamos a pluralidade (energia, movimento, tempo, matéria etc.). Junto
disso, temos a quarta dimensão espacial, provável causa do movimento (cai-se no
infinito, quantar dimensão, como em si mesmo). Hegel disse que a causalidade é
recíproca, causa torna-se efeito e vice-versa, o que apenas encaminha a
solução.
No vazio
infinito inexiste tempo e espaço em si, por isso nem causalidade. Kant afirmou
nossa impossibilidade de pensar o absoluto, por nossa limitação mental. De
fato, nossa mente é feita para lidar com nossa realidade, nosso universo. A
noção de espaço e tempo de modo algum é a priori, mas uma adaptação ao real que
tem o próprio espaço-tempo. Mas podemos entender o absoluto de modo indireto,
com metáforas e analogias – e por conceitos, categorias sem a imagem limitada.
Assim, o infinito hegeliano é simplesmente o infinito, mas podemos facilitar
sua compreensão por meio da imagem do círculo sem início nem fim, envolto em si
próprio – produzindo o finito de si, dentro de si, desabando-se em si mesmo.
O problema
de se existe ou não uma causa primeira falha porque pensa que uma coisa ou fato
produz outra coisa ou outro fato apenas. Em verdade, a ideia de causa primeira
leva a que a primeira causa e o primeiro efeito não vêm da parte, de uma coisa
que passa para outra particular, mas da totalidade vazia. Toda a causa no todo.
É o infinito vazio como totalidade que produz o início, a primeira causa.
O infinito,
quarta dimensão, desaba para dentro de si no finito, mas a causalidade parcial
aparece como um movimento para fora, não para dentro, expansivo e não
intensivo.
A ideia de
fato ou causa singular originar outro fato ou causa singular é espaço-temporal.
Digamos de outro modo: a totalidade vazia do infinito antes do universo era
puro caos, sem causalidade; e não tendo lei alguma, teve a lei do caos, de si,
de passar a si mesma para a ordem, o nosso cosmos com espaço-tempo e
matéria-luz – por não se suportar, por se autoanular. Assim, a primeira causa
ao mesmo tempo não é uma causa, mas fruto de um sistema não sistemático, puro
de acasos e aleatoriedade caso possamos expressar o antes de tudo de tal modo
por aproximação. O (e tal) acidente ou o acaso é uma causa acidental, uma
concessão da probabilidade.
Os gregos
antigos imaginaram que o universo era puro caos (material), então um deus o
organizou, produzindo a ordem cósmica. Para nós, o caos vai a si próprio, sem
um artesão, para a ordem. Em nosso tempo, Husserl, inspirado por Hegel, pensou
o zero como relação do zero do conjunto infinito com o (mesmo) zero do conjunto
vazio que desaba, por isso, no um. Pois bem; o mesmo deve ter valor na
realidade, como fundação do universo, a autorrelação do vazio infinito, do
vazio com o seu infinito, desabou na primeira geração universal, no finito não
vazio prenhe de ordem.
Sobre, Marx
diria: temos dificuldades totais no tema do início do universo, portanto
foquemos em outros temas – abaixo a metafísica! Mas isso é dar de bandeja o
tema para pseudociência, ou seja, para a religião. A Igreja quer ser a única a
falar sobre o início de tudo. Por seu lado, a teoria do Big bang – criada por
um padre! – foca na expansão do universo, não em seu início ou em sua origem.
Aliás, uma teoria correta, mas incompleta, pois o universo cresce e contrai-se
ciclicamente, ciclicamente. No nosso tema, o início real do Ser, dizer que o
universo expande-se e contrai-se apenas adia a questão, a resposta. É impossível
imaginar o vazio, o infinito e o caos puro – mas é possível pensá-los de modo
conceitual, sem imagem limitada. Do ponto de vista gnosiológico, nossa
formulação, aqui exposta, torna-se a única aceitável, existente e correta:
antes do todo, havia um vazio infinito e caótico (sem forma e vazio). Tal
não-ser, o nada, desabou-se no oposto, presença, finitude e possibilidade de
ordem. Única resposta coerente. O começo só pode ser um acidente, uma causa
acidental, uma concessão da probabilidade; a realidade total apenas pode ser um
infinito qualitativo; antes do Ser, do cosmos, o nada, o vazio que, por ser
vazio, era e é infinito e sem ordem profunda.
4. Há liberdade humana ou apenas leis rígidas,
causais, do universo?
Com a física
quântica, redescobrimos o que já Marx sabia, a existência é a fusão de ordem e
caos, de necessidade (determinismo) e, dentro de si, acaso ou contingente – na,
afirmamos, probabilidade. Para Hegel, liberdade é reconhecer as necessidades,
como as necessidades históricas. Marx diz que o trabalho é o reino da
necessidade no socialismo que sustentará e dará base para o reino da liberdade
no cotidiano. A necessidade é a base da liberdade parcial ou plena. Tal
antinomia é mais própria do homem, da humanidade; mas dá oportunidade para debatermos
de modo mais amplo.
Lukács
afirma que liberdade é uma categoria apenas social, humana. Com o avançar da
história da humanidade, com o aumento da produtividade do trabalho, o homem é
cada vez mais livre, mais individual, com mais opções.
Vejamos uma
nova conclusão, própria. Em primeiro lugar, a liberdade é objetiva, não
subjetiva. A realidade dá opções, tem opções para si própria. A liberdade
subjetiva é tomar a decisão para a qual já tem uma inclinação natural – a
liberdade de fazer valer sua necessidade. Se o mundo não oferece a opção
típica, de acordo com a personalidade, ou perfil natural, logo se pode escolher
entre as opções que melhor expressam o determinismo no ser livre. Aí está o
núcleo das soluções dessa polêmica, pois a liberdade é objetiva, do próprio
real, antes de ser subjetiva e a confusão se dá por pensar o contrário ou
desaperceber um dos polos. Mesmo quando há apenas uma opção, um “o quê”, então
“o como” irá se efetivar está em jogo. Assim também, fundindo de fato liberdade
e necessidade, superamos visões substancialistas e relacionalistas unilaterais
sobre a liberdade. Temos a liberdade dialética.
Nem Hegel
nem Marx e Engels atacaram de modo completo e de frente a parte física, não
social, do problema das antinomias. Com imensa dificuldade poderiam fazê-lo,
caso fosse possível, pois a ciência ainda não havia dado as pistas necessárias.
Percebemos que as perguntas de Kant, antinomias, estavam erradas, escondiam
armadilhas na aparente obviedade, então exigiram esforço histórico e trabalho
para desembaraçar os problemas. Por exemplo, se há apenas causalidade ou também
liberdade humana oculta que a liberdade pode ser objetiva, não “humana”, do
real; se há ou não primeira causa oculta que a causa primeira não é coisa ou
fato primeiro, mas uma totalidade, o vazio infinito, quarta dimensão, que
desaba sobre si – indo para dentro como se para fora.
Em resumo,
primeiro, a dialética é considerar que uma afirmação e sua oposta são ambas
verdadeiras, como a primeira causa ser também um acaso, como termos o
determinismo da liberdade, como o universo ser finito no espaço mais o tempo
estando por dentro do infinito; em segundo, se a verdade está também na
afirmação oposta, as duas afirmações são ao mesmo tempo verdadeiras e falsas,
pois elas são parciais e unilaterais ao excluir a outra e o todo; isso
significa, terceiro, que são, também, nem verdadeiras nem falsas.
Em
complemento, segundo aspecto, Kant ainda afirma: há três conhecimentos
impossíveis – a alma (psicologia), o mundo (cosmologia) e Deus (teologia).
Vejamos um por um.
1. Alma (psicologia)
A alma
enquanto psique era uma ciência quase nula na época de Kant, mas o século 20
operou uma verdadeira revolução, desde Freud, nessa matéria. Nós temos, hoje,
altíssimo conhecimento do espírito humano, faltando apenas uma teoria
unificada, mais fácil de produzir.
2. Mundo (cosmologia)
Com Newton,
soubemos como atua a gravidade, mas não o seu motivo. Ele disse, sobre isso,
que “não elaboro hipóteses”. Assim, usou o conceito de força, mas de maneira parcial,
para dar lógica às suas descobertas; mas também considerava duvidosa a
gambiarra teórica da força como conceito. Desse tipo de situação, Kant pensava
que apenas podemos saber do fenômeno do mundo, não do mundo ele mesmo ou seu
“númeno”. Mas Einstein, além de tantas contribuições, chegou à coisa em si da
gravidade, que ela é uma curvatura do espaço-tempo, não uma força, causada pela
massa-energia[13].
Mais uma vez, o kantismo cai por terra.
3. Deus (teologia)
É impossível
conhecer Deus porque ele não existe. O mais próximo disso é o infinito como
quarta dimensão espacial, sem começo nem fim, em automovimento, sem imite nem
borda, fundante do nosso universo finito e de seu movimentar primeiro; mas que
não é separado de nosso mundo, pois está como se dentro dele, apenas
relativamente separado.
O Deus real,
material, de nossa época, o dinheiro, foi devidamente exposto e conhecido, além
de reconhecido, por Marx, em O Capital. O valor invisível, que busca mais de
si, causa de si mesmo, substância, tornou-se visível por meio da teoria.
Kant ainda
apresenta um terceiro aspecto contra o materialismo: as categorias são mentais,
para dar sentido à realidade, não reais. Mais uma vez, Einstein deu uma
contribuição enorme; pois, para o kantismo, espaço e tempo são ideias do
pensamento, mas o físico moderno demonstra que o tecido espaço-tempo existe,
há. O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma
verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan
demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física.
Até hoje, os
físicos e os químicos consideram que energia é um conceito necessário, mas que
ela não existe, porque não diretamente observável. Os conceitos necessários são
o que são por serem objetivos, por existirem no real. Idealistas como Hegel
pensavam o átomo não existia, embora fosse um conceito, porque era impossível
de ver um. Ora, Einstein – de novo! – demonstra que o movimento aleatório de um
pólen sobre uma poça de água, movimento browniano, somente é explicável se a
realidade for constituída por átomos. O mundo atómico é, considerado aí a onda,
muito mais que apenas ideal.
Devemos
considerar a “crise categorial”, que pode ocorrer no campo das ideias ou a
crise daquilo que uma categoria expressa. No caso primeiro, a categoria
“força”, usada de modo amplo e absurdo como criticou Engels, entra em crise e
desuso, de início por meio de Einstein ao demonstrar que a gravidade não é
força e sim uma curvatura do espaço-tempo por razão da energia-massa. Energia e
campo aposentaram e ainda aposentam a força como conceito; e este livro reforça
isso demonstrando que as “forças” fundamentais são campos do espaço condensado.
NOTA
Quando Kant
pergunta se a matéria é divisível, ou não, ao infinito – dizemos: ao infinito.
Ou seja, rumo ao infinito. Rumo ao espaço, que é o infinito com a quarta
dimensão. Sim: em direção ao infinito por matéria dissolve-se em espaço,
trata-se de espaço concentrado.
O universo
é, de fato, finito, nas três dimensões espaciais – mas é também, de fato,
infinito na quarta dimensão espacial.
A primeira
causa é e não é uma causa, logo, é e não é uma primeira causa – pois é
acidente, causa acidental; concessão da probabilidade. Então, temos uma causa
primeira e não a temos.
Enfim, tudo
é regido por causalidade, claro; mas meu cérebro usa a causalidade para
produzir, para pensar, planejar etc. Assim, no externo, interage com o mundo
comum em si e para si. Usa a própria causalidade para se separar do mundo, de
modo relativo – e para interagir com ele como com um outro e para outro. Por
outro lado, a liberdade, é, antes objetiva, além de subjetiva, ou seja, a
realidade é que tem opções – para que eu descarte as opções que não sou levado
a escolher, escolher o que já tendo a escolher. Ter opções para descartar
opções. Enfim, o “o que” será pode ser determinístico, mas “o como” será pode
estar em pleno jogo.
Uma verdade
(afirmação) e sua oposta são assim ambas corretas, certas e erradas, nem certas
nem eradas, misturadas, fundidas, unificadas, unidade – identidade. Preto é
igual a branco porque o preto absorve todas a cores enquanto o branco expele
todas. As cores em conjunto, assim, os unifica. Era impossível – no mínimo,
dificílimo por época – Kant, Hegel, Marx, Lenin etc. conseguirem responder tais
oposições, antinomias, paradoxos.
OBJETIVO OU
SUBJETIVO?
Kant, como
idealista, inspirado na divisão cartesiana de sujeito e objeto, põe como centro
o sujeito pensante, contra a realidade. A verdade é objetiva ou subjetiva? A
beleza é objetiva, na coisa, ou subjetiva, na pessoa? Assim, ele se limita à
oposição e escolhe um lado – longe de ver a unidade interna.
Ora, desde
Darwin, sabemos que o homem é um animal e parte de uma evolução histórica
natural e longa. Assim, nós e o conjunto da biologia evoluímos para bem captar
o mundo. Nós temos noção de espaço e de tempo porque a realidade tem espaço e
tempo (este, movimento) – adaptamo-nos a tal realidade necessária. Nosso
cérebro percebe causalidade porque evoluiu para perceber a causalidade de fato
existente, no real. Assim, a beleza é do objeto, do mundo, e evoluímos para
percebê-la. Eis a unidade sujeito e objeto, a identidade de fundo, do subjetivo
e do objetivo. Nosso cérebro e nossos sentidos evoluíram para compreender o
mundo, este mundo.
Se evoluiu
para perceber o universo, seria incapaz de perceber o que o transborda? Não é
possível imaginar o infinito, apenas o finito – mas o conceito, vindo da
linguagem, expressa melhor que a imagem aquilo que queremos expressar. A
palavra salva a metafísica. É verdade, porém, que alguns são incapaz de
ascender para isso ou para dialética; então, limitam-se à brincadeira de
criança da lógica formal, A=A, mesmo se com sofisticação matemática – são
incapazes, por exemplo, de entender a ironia na conversa e na realidade, em que
algo diz de seu contrário, de seu oposto, por meio e através de si.
Dizer que a
causalidade provavelmente não existe, existindo apenas uma noção abstrata e
artificial dela, é absurdo completo, mas o papel aceita qualquer coisa. Os
filósofos sentem-se à vontade para dizer, até, que a realidade é uma ilusão,
não uma ilusão concreta.
O
objetivismo tem o como erro extremo, oposto e impressionista o subjetivismo.
Nós de fato captamos a realidade, ao mesmo tempo, como ela é e como ela não é.
Captamos o mundo de modo correto, mas por aproximação e tendencialmente.
Correto o bastante. E, com o tempo, desenvolvemos técnicas e ferramentas
melhores para melhor capitar o cosmos e suas partes. No fim, isso é tudo.
O
subjetivismo cai no kantismo dedutivo; o objetivismo, no empirismo dedutivo. O
método mais correto, mais exato, está em apenas colher os dados para, depois,
deduzir, criar, “sacar” e denunciar os erros da empiria por meio dela mesma.
O kantismo é
filho do capital e sua afirmação exagerada de toda individualidade,
individualismo e atomismo social. Um sujeito soberano que a nada deve prestar
contas. O centro do sujeito produz um introvertido negativo, incapaz de
desbravar o mundo interior e exterior, ou um por meio o doutro dada a ligação
intima de ambos.
Dizer, por
exemplo, que o mundo apenas é ordenado na nossa mente, de modo artificial,
parece obra de gente que não pratica trabalhos manuais e não lida bem com a
concretude, embora Kant tenha vindo da pobreza relativa.
GNOSIOLOGIA
OU ONTOLOGIA?
Kant afirma
que devemos antes refletir sobre nossa capacidade de conhecer para determinar
os limites dele. Ora, Hegel reponde: aprendemos a nadar nadando, sabemos se
somos capazes de aprender a nadar tentando, ou seja, sabemos os limites de
nosso conhecimento tentando conhecer a realidade, não com reflexões abstratas.
Pelo menos a
maior parte dos limites do conhecimento são históricos, não cerebrais. Ideias e
provas viváveis hoje na ciência eram inviáveis aos gregos antigos. Até certas
teses apenas podem surgir hoje, não na antiguidade.
Há, no
entanto, dois candidatos a limites de nosso conhecimento. Primeiro, na física
quântica, nós podemos saber ou a posição da partícula ou sua velocidade, ou um
ou outro, o princípio da incerteza. Segundo, buracos negros não permitem sequer
à luz escapar de si, assim não temos seu externo do interno, não temos dados.
No segundo caso, talvez simulações de supercomputadores nos salvem.
Há ainda
outro fator histórico que impede o conhecer – a posição de classe do cientista
ou sua posição diante do mundo. Nunca um economista defensor do capitalismo
chegaria às conclusões profundas de Marx em O Capital, mesmo se honesto e
rigoroso. Isso tem um reforço estrutural da psique, pois uma vida mais dinâmica
e com stress relativo leva a ser mais produtivo intelectualmente, como a
macieira produz maçã quando sente-se ameaçada[14].
Enfim, a
ontologia é a prioridade do objeto, não a prioridade do sujeito do conhecer,
pois é ir até o mundo. A prova de que podemos conhecer o real é que podemos
lidar com ele na prática. A ontologia tem uma gnosiologia sua, derivada e, por
assim dizer, instável, móvel.
Se há
limitação ao saber, será uma limitação dada pela realidade externa, não ao
sujeito pesquisador como pensava Kant – mas até isso, mesmo que provado por
algum tempo, pode ser derrubado pela evolução posterior da ciência.
No mais, a
ontologia madura não deve significar um sujeito científico passivo, que apenas
se adapta ao objeto ou que apenas colhe os dados e os organiza, como se fosse
mero espelho. Para, por exemplo, deduzir, precisa-se de um sujeito ativo,
criativo, ousado. Como a Terra em seu sistema, o sujeito gira em torno do
objeto e, também, em torno de seu próprio eixo.
MATERIALISMO
OU IDEALISMO?
Grosso modo,
o idealismo é afirmar que a ideia e seu desenvolvimento faz a realidade
enquanto o materialismo, oposto, afirma que a realidade, a matéria, faz o
pensamento. Marx adota a segunda posição, às vezes de modo muito intenso. Mas o
mais correto é dizer: o marxismo é a fusão de idealismo e de materialismo num
terceiro, o terceiro excluído incluído. É verdade que a matéria faz, primeiro,
a ideia, mas, sendo a ideia uma forma toda especial e mui complexa de matéria,
ela tem uma autonomia parcial, relativa, além de ser trabalho, de ser produtiva
(cérebro) – a ideia, a idealidade, também afeta o mundo, em principal o social.
O polo determinante dessa unidade é o materialismo, mas não de modo mecânico,
unicausal, sem mediações (ele se medeia, no externo, consigo mesmo como se com
outro, outro de si). Por isso fazemos de fato nossa história, pessoal e social,
mas sob dadas condições materiais. O marxismo supera a oposição unilateral
entre materialismo e idealismo, conclui a história da filosofia.
Vale uma construção lógica. Na lógica aristotélica, A = x ou não-x, sem
terceira resposta, sem um terceiro, que é excluído – ou materialismo ou
idealismo. Na velha dialética, existe a verdade exato nesse terceiro, que passa
a ser incluído. Mas o terceiro costuma não ser nomeado, “entre” o relativo e o
absoluto, podemos apenas aproximar com o relativamente relativo; “entre” o
materialismo e o idealismo não há, também, nomeação. Na nova dialética,
mantendo em pé a velha, x vai até não-x em “A”. Assim, o materialismo em
autodesenvolvimento constrói o ideal, o idealismo, sem deixar de ser o
“material” o verdadeiro motor primeiro e o centro, a verdade. Esse caminho do
materialismo para o idealismo relativo é o caminho da sociabilidade cega
existente até a sociabilidade organizada e planejada, central e
democraticamente, no socialismo, quando a ideia fazer a matéria ganhará mais
peso, ainda subordinado ao polo oposto unilateral, o materialismo. O terceiro,
que supera o materialismo e o idealismo, desenvolve-se, dinamiza-se. O
idealismo (abstrato) é o materialismo (concreto) em autodesenvolvimento
(processo).
Eis nossas conclusões, um novo marxismo. Mas precisamos limpar o terreno
para ganhar outros marxistas para nossa concepção. O velho Marx, d’O Capital,
adotou o materialismo “duro e rígido”. Após elogiar muito um dos seus críticos,
ele cita um comentário à sua obra, que diz:
Para tanto, é plenamente suficiente que ele demonstre, juntamente com a
necessidade da ordem atual, a necessidade de outra ordem, para a qual a
primeira tem INEVITALVELMENTE de transitar, sendo ABSOLUTAMENTE INDIFERENTE se
os homens acreditam nisso ou não, se têm consciência disso ou não. (…) Se o
elemento CONSCIENTE desempenha um papel tão subalterno na história da
civilização, é evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização
está impossibilitada, mais do que qualquer outra, de ter como fundamento uma
forma ou resultado qualquer da consciência.
Segundo o próprio Marx, o comentador foi preciso, exato:
Ao descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método, bem como a
aplicação pessoal que faço deste último, que outra coisa fez o autor senão
descrever o método dialético? (Idem, p. 90)
O trecho tem outros pontos semelhantes ao exposto. Ademais, para Marx, a
vontade do capitalista não é a vontade dele próprio, mas do capital impessoal,
que se expressa no indivíduo.
O jovem Marx, em textos não publicados em especial, ao menos esboçou
nossa concepção. A posição materialista unilateral é substancialista; a
idealista, relacionalista. Em outro capítulo, demonstraremos que Marx pendula
entre a concepção de substância e de relação, apesar de sua revolução
teórica-metodológica e resolver várias oposições entre esses dois pontos de
partida.
A velha geração marxista afirma que tentar antecipar aspectos gerais do
socialismo, mesmo durante o ocaso maduro do atual sistema, trata-se de
idealismo… Mas o ideal importa, a arte marxista é, também, prever, uma
historiografia do futuro possível a partir das bases materiais presentes.
O materialismo focou no aspecto animal do homem; o idealismo, na sua
diferença para com os demais seres
A própria realidade quebra-se em materialismo e idealismo. Materialismo
– trabalho manual; idealismo – trabalho espiritual, intelectual. Como a verdade
é o todo, a realidade supera e abarca ambos.
A verdade supera e funde o materialismo subjetivo e o idealismo objetivo.
A LIBERDADE
OBJETIVA OU DIALÉTICA
Outra entre
as grandes questões da psique é sobre se somos subjetivamente livres ou não –
há ou não liberdade? Há livre arbítrio? Se há, de que tipo é ela? Vejamos em
alguns de nossos mestres, antes de oferecer uma nova resposta.
Kant
Ele produz
uma das quatro antinomias suas, que serão resolvidas nesta obra, perguntando se
1) a realidade inteira, incluso nosso pensamento, segue a causalidade, a
necessidade, causa e efeito ou 2) há ao menos também liberdade humana. Ele não
responde e considerava uma questão irresolvível. Antes de chegar a uma
conclusão, vejamos como outros tentaram solucionar a pergunta.
Hegel
Ele oferece
pelo menos três respostas sobre a oposição liberdade-causalidade.
Primeiro, a
liberdade é reconhecer a necessidade. Por exemplo, respeitar as leis e as
tendências da história. Um divulgador marxista afirmou que o animal tem a opção
de evitar o fogo, sua liberdade de não se queimar é uma necessidade. Um burguês
tem a liberdade de seguir a luta por mais lucro, embora possa escolher ser
mendigo, ou seja, prejudicar-se.
Segundo,
Hegel afirma que o uno, o um, o indivíduo, parece afirmar-se ao isolar-se do
conjunto (muitos, múltiplos), mas isso é sua destruição. Então, apenas se pode
ser livre e individual em comunidade. Assim também, um átomo é instável
energeticamente quando isolado, por isso deve ligar-se a outros átomos,
formando uma molécula, para ganhar estabilidade.
Terceiro,
ele funde causalidade e liberdade afirmando a interação dos corpos, dos
acidentes, das partes de um todo. A causalidade é recíproca, pois uma parte age
sobre outra parte, e esta, vice-versa, também faz o mesmo. Mas todas as partes
de uma totalidade, sendo causa e efeito ao mesmo tempo, pertencem uma única
substância comum, que está no fundo, no fundamento (necessidade). As partes do
todo-substância aparecem, de modo externo, umas independentes das outras, e o
mesmo ao contrário, são fora umas das outras, apenas interagindo (liberdade).
Mas essas partes são também o mesmo, uma mesmidade, pois são uma substância
apenas.
Marx
No final de
O Capital, Marx afirma que no socialismo a produção será o reino da
necessidade, onde o cidadão trabalha, mesmo que apenas jornada curta de 2, 3 ou
4 horas diárias. O que é produzido de modo organizado permitirá o reino da
liberdade, fora da fábrica, quando nos dedicaremos à arte, à família, ao ócio
etc. Como sabemos, tudo que puder ser robotizado, automatizado, informatizado o
será, o que reduzirá com toda força o tempo de trabalho ou de serviço – o
trabalho manual será superado, mesmo que não extinto.
Lukács
O grande
filósofo do século XX afirma que a humanidade tem produtividade crescente, cada
vez mais produtivo – e com o aumento da produção aumenta também o grau de
liberdade. O escravo antigo era não livre, o servo foi mais livre que o
escravo, o assalariado (com liberdade formal) é mais livre que o servo, o
trabalhador associado socialista será substancialmente livre. Nosso destino é
cada vez mais determinado por escolha ou acaso, cada vez mais com mais opções.
Outro
aspecto da liberdade lukacsiana é que o homem no trabalho antes pensa ou
imagina como e o que produzir (teleologia, prévia ideação, liberdade) e depois
manipula as leis causais da natureza (necessidade) para produzir algo útil.
Para Lukács,
a liberdade era uma categoria apenas humana, social, além de histórica.
Nossa
proposta
Vejamos como
resolvemos o problema kantiano. Ora, se a realidade tem possibilidades e
probabilidades, ela as tem em si mesma, dentro de si própria. Logo, a liberdade
é objetiva antes de subjetiva – é dialética. O homem ou a partícula toma a
decisão que tem já tendência, na sua personalidade ou perfil, além de contexto,
de tomar. Um chiste famoso ajuda a esclarecer: podemos escolher o que quisermos
(entre as opções), mas não escolhemos qual é nosso desejo, o que de fato
desejamos. Se temos 4 opções, escolheremos aquela que melhor corresponde ao que
somos. A liberdade é ter tais opções exato para escolhemos a que de fato somos
levados a escolher, causalidade e necessidade (e nossa liberdade está dentro da
realidade objetiva). Esse é o primeiro modo de fundir causalidade e liberdade.
O segundo é que o “o que” irá ocorrer é algo necessário, causal, determinístico
até, mas “o como” isso irá acontecer está, em geral, em jogo. Por exemplo,
certo é que o capitalismo irá cair, mas pode desabar de várias formas, mesmo
opostas, como por revolução ou por extinção da humanidade etc.
O cérebro e
a realidade externa são um que são dois. O cérebro age por necessidade (lei,
causalidade etc.) e a realidade, também. Ora, confronta-se consigo uma só
necessidade como se fosse duas opostas. Eis a autonomia, mas apenas relativa,
do cerebral – parte do todo.
Necessidade
é reconhecer a liberdade.
TELEOLOGIA
OBJETIVA
Para ganhar
moral no meio acadêmico, um dos segredos é ser contra a teleologia, a concepção
que a realidade tem finalidade, um fim, um objetivo. É uma crítica fácil e
famosa, mas pouco refletida. Os erros nesse assunto se deram à visão
mecanicista do tema, desde Aristóteles até Lukács. Vejamos a confusão, as
igualdades falsas na crítica:
1) Teleologia exige uma consciência que planeja.
Isso é a
concepção mecanicista de um trabalho artesão ou artístico, generalizada e,
logo, rejeitada por muitos. Mas as leis inerentes da realidade podem levar a um
rumo específico.
2) A teleologia exige separar fim e meio.
Falso. Ainda
uma visão mecanicista, priorizando uma forma de trabalho, como vemos. O fim
pode estar, em sistemas orgânicos, no próprio meio, vai-se realizando no
processo, rumo a si mesmo. O socialismo vai rumo a si na lutando por ele, com
práticas de acordo com o fim almejado. O fim (abstrato) é o meio (concreto) em
desenvolvimento (processo).
O fim, realizado
tanto quanto pode, é, por sua vez, meio para algo realizar; por exemplo, o
socialismo é o fim, mas, ao existir, será meio para a felicidade humana.
3) Teleologia é determinística.
Nada
justifica essa hipótese. O homem, por exemplo, tende ao socialismo – tende. Mas
pode se extinguir antes de se realizar. A teleologia não é nem determinística
nem contingente, pois é tendencial.
4) Não existe teleologia fora da sociedade.
Outra
hipótese sem comprovação. Por exemplo, o olho surgiu 6 vezes de modo independente
na história da natureza, pois era necessário que o olho surgisse. No social, a
história ocorre como teleologia objetiva e insconciente até que a sociedade
ganha consciência alta, toma as rédeas da história.
5) Teleologia exige um fim (absoluto).
Na verdade,
a teleologia pode ter um alto grau de autorrealização, mas ele permanece como
pulsão, movimento, desenvolvimento. Não se encerra quando se encerra.
Temos a
teleologia objetiva (finalidade objetiva). Lukács afirma que na arte há
identidade sujeito-objeto, forma-conteúdo, essência-aparência e nós completamos
com criar-descobrir e nada-ser. Logo vemos que Hegel se inspirou no trabalho
artístico para pensar sua Lógica, caindo em mecanicismo em certo sentido.
Vale a pena
fazer uma observação histórica. Engels e Marx, em cartas pessoais famosas,
concordaram que A origem das Espécies de Darwin marcava uma crise na
teleologia, que elas associaram então à visão essencialista religiosa. Isso
pode ser deduzido de sua grande obra, embora errado, mas, da própria letra de
Darwin, este afirmou em mais de uma passagem que há uma tendência à perfeição
das espécies, ou seja, evolução, para ele, não é apenas diversificação – e o
homem, sendo animal, é um ápice biológico apaixonante, mas perigoso até aqui (a
natureza viva criou seu próprio algoz, se próprio inimigo, caso não alcancemos
o socialismo).
A economia
planejada, planificada, do socialismo é uma economia teleológica. Isso tem dois
sentidos: 1) realização relativamente relativa da teleologia social, 2) uma
economia consciente e organizada. Fusão da teleologia subjetiva com a objetiva.
As relações
causais e de interação fazem, produzem, teleologia objetiva ou finalidade.
Já está determinado
de antemão se haverá socialismo ou não no futuro. Mas, dada a complexidade
social, impossível prever qual será o resultado determinado, real. Por isso,
somos obrigados a tentar, planejar, preparar – buscar a vitória da
possibilidade formal de socialismo. A mera sensação de que temos opções e de
que podemos fazer nosso destino já afeta por si o resultado final
determinístico.
Demonstraremos
que a causalidade do cérebro, cerebral – e em relação com a causalidade externa
–, produz, também, a teleologia, teleologia subjetiva, o planejamento mental.
Mais algo
deve ser dito. Quando Marx afirma “eles fazem, mas não sabem” (que fazem),
inaugura o inconsciente social e, logo, a teleologia objetiva e inconsciente.
Como demonstramos em outro momento, várias pontos da obra O Capital descrevem
ações sem conhecimento delas, de que fazem. Os produtores vão, e são
impelidos, ao mercado igualar seus
trabalho, mas não sabem que estão fazendo exato isso. Teleologia, portanto.
AS CAUSAS
Ainda
segundo Lukács, com sua teleologia subjetiva apenas e mecanicista, a teleologia
(humana, subjetiva, individual) usa a causalidade – posição correta em si, no
entanto limitada. Mas, oposto, as relações causais dialéticas, ou seja, a
interação recíproca produz de modo “inconsciente” a teleologia. A teleologia
faz a causalidade como a causalidade faz a teleologia.
Aristóteles levantou quatro causas
separadas: 1) causa material (água, éter etc.), causa formal (forma geométrica,
forma social etc.), causa eficiente (causa para efeito) e causa final
(teleologia, ir rumo ao). O grego tratou cada uma de modo separado, mas elas
ocorrem juntas, de maneira simultânea e unificada, ao mesmo tempo, com relações
recíprocas. Além de sincrônicas, ocorrem, por isso, de maneira diacrônica, como
se depois, tempo lógico: a matéria, causa material, cuja forma é sua
informidade, passa a ser com cada vez mais forma, causa formal, que impulsiona
a causalidade mecânica e dialética, causa eficiente, o que produz uma
teleologia, causa final. A ciência moderna focou apenas na causa eficiente
enquanto o grego focou na separação delas ou na causa final. A causalidade
eficiente produz imediatamente a teleologia, a causa final.
Tal
movimento “real”, mantida a sincronia, também foi ideal nas sucessivas gerações
filosóficas antigas, dos gregos. Dialética real expressada na dialética ideal.
Os primeiros filósofos gregos tiveram, do ponto de vista da mente, que fundar o
materialismo para afirmar-se contra a religião, separar-se dela (Novack). Tal
materialidade expressa, também, certa materialidade em desenvolvimento, a sociedade
grega, sua vida e seu comércio etc. Daí iniciar pela causa material, supondo
que a realidade é um único elemento, ou combinação de muitos. A matemática pura
algo separa-se do uso de engenharia etc., surgem os pitagóricos e a realidade
profunda enquanto número, formas numéricas. Platão avança para a separação
entre mundo das formas – perfeitas, puras, imóveis – contra o mundo terreno, da
aparência, da inconstância. A afirmação do movimento dá importância para a
causalidade, o tempo, a relação. Então, intui-se a teleologia, a causa final, o
destino para onde a existência tende a ir, vai-se.
Hegel, o
grande gênio, deixou claro que causa e efeito podem mudar de posição na
causalidade recíproca. Então, ele passa para um conceito unificado de ambos os
opostos, a interação. O marxismo vulgar toma a causalidade mecânica, como se a
economia determinasse de modo único, direto, mecânico, determinista e
unilateral as mentalidades e as instituições. Embora a produção, em principal,
e os demais setores econômicos tenham prioridade, numa hierarquia do ser
social, a causa é um “ida e volta” dinâmico, incluso ao mesmo tempo, simultâneo
– interação.
A causa
fazer, também, a teleologia, ser como um antes, está ligado, em principal, às
teleologias gerais e objetivas. É claro, portanto, que o pensar humano
teleológico e subjetivo faz a realidade, usa a causalidade do real. Mas o
cérebro, de onde surge a teleologia individual e subjetiva, opera com relações
causais, ainda que orgânicas e dialéticas. Assim, mesmo aí, a causalidade faz a
teleologia.
Vejamos um
pouco mais. Para Aristóteles, a forma demonstra-se superior à matéria; em
seguida, aquele seria inferior à causalidade eficiente, que faz a própria
forma; por último, a teleologia, causa final, seria superior à causalidade eficiente.
Cada um é superior ao interior. Isso está correto em si e de modo mecanicista,
como um artesão que com sua teleologia usa a causalidade e ,assim, dá forma à
matéria bruta. O mesmo limite de Lukács com sua apologia do trabalho. Nós, aqui, descobrimos que o geral,
no geral, promove-se o caminho oposto: matéria, forma, causalidade e
teleologia. A matéria, em relação consigo, ganha cada vez mais forma, além de
ser sua condição; tal processo tem a causa eficiente que produz, primeiro, a
própria teleologia. Para Aristóteles e, de certo modo, para Lukács, a mente com
sua teleologia apenas subjetiva age como causa primeira, primeiro motor,
autônomo e movente por si. Os biólogos atuais dizem que não há por exato,
evolução, mas apenas adaptação e diversificação. Ora, a diversificação, que tem
causalidade em si, faz a evolução relativa – chega-se ao homem, um dos ápices
da vida. A biologia tem, assim, teleologia objetiva, inconsciente e tendencial
não determinista derivada da causalidade. Um dos efeitos da causa, em geral, é
a teleologia – teleologia é consequência da causalidade, incluso esta como
interação.
.
O QUE É A
CONSCIÊNCIA, A MENTE?
A dialética
não usa, grosso modo, definição, algo dicionário – ela desenvolve o conceito,
mais do que o explica. Dito isso,
mostramos uma dentre as respostas possíveis, nossa proposta. A consciência
dar-se, no ser complexo, quando a realidade muda, torna-se incerta, sem padrão
aparente enquanto o cérebro continua preso ao passado, à repetição, ao padrão.
Busca-se, assim, naturalmente, a permanência na mudança. A mente e a
consciência (abstratos, que não são coisas) são o cérebro e a realidade
(concretos) em movimento (processo). A contradição em “querer” manter o
permanente e a mudança incerta produz a mente e a consciência. Uma situação de
crise, instável, empurra para elevar a consciência. A consciência é, portanto,
antes, fruto da objetividade, do externo.
Aqui,
inspiramo-nos nos gregos. Eles negavam a empiria aparentemente aparência,
instável, caótica, sem lógica, sem rumo, contingente e queriam acessar o mundo
por meio da boa reflexão, do pensamento dedicado, de deduções abstratas, de
lógica e conflito de ideias com palavras. Assim, continuavam querendo o
permanente na mudança – e fizeram, portanto, filosofia! A filosofia
experimental, a científica e a objetiva, claro, hoje baseiam muito mais
diretamente nos dados, no fatos, na empiria, embora saiba que a aparência ao
mesmo tempo revela e esconde a essência, a verdade.
Isso
leva-nos ao debate sobre inteligência artificial: podem os programas e robôs
tornarem-se conscientes? Para nós, o que é, em primeiro lugar, consciência?
Devemos responder tal pergunta milenar, até hoje um enigma insuperável, com
suas diferentes escolas e polêmicas. Consciência é, também (pois o que ela é
não cabe no dicionário), autoconsciência, consciência de si. Mas ser consciente
de si é ao mesmo tempo diferenciar, ter consciência do outro e do externo. Por
isso, dizer que consciência é consciência de algo tem tal algo igualmente como a
si próprio, alguém. Assim, ter consciência exige ter consciência da sua
finitude, de perceber ser algo que não outro, ou seja, ter borda e limite, ou
seja, ter fronteira. O erro de dizer que pensamos e temos consciência por meio
de todo o corpo deve ser (re)considerada – não pen(s)amos com o corpo inteiro,
mas é quase isso. O cérebro é também sua função. Ademais, consciência é
finitude não só espacial, também temporal – consciência exige falta, logo,
necessidade, logo, desejo.
Dito isso,
considerando a consciência de seu lugar abstrato, ou seja, separado e isolado
nas nuvens ideais, vemos a dificuldade de uma inteligência artificial tornar-se
de fato consciente. Ademais, o cérebro é a coisa mais complexa e difícil de
replicar do universo. Pode-se, com mais rapidez, simular um “como se” tivesse
consciência. Mas, ao oferecer algo como um sistema nervoso completo ao robô,
além de sentir necessidades (falta de energia, incômodo etc.), quem sabe a
singularidade finalmente ocorra, para o bem ou para o mal. Marx diz que a há
humanização das coisas e coisificação dos homens; e isso tende a ser literal,
atingir um máximo: das máquinas simples que imitavam o movimento repetitivo das
mãos humanas às máquinas complexas que imitam a sua inteligência e consciência.
Ter (auto)consciência
(elevada, humana) é, também, nomear, também, a consciência. Aparece como objeto
de si mesmo, então, numa representação
outra.
Penso, logo
a realidade existe. Meu pensamento existe graças ao meu cérebro e ao fato de a
realidade ser movimento.
A mente ou
consciência não é coisa nem estática – é processo. Com Marx e, em especial, com
Darwin a consciência evolui para saber do mundo como mundo, pois isso permite
sobreviver. A divisão sujeito-objeto parou de fazer sentido: evoluímos para
saber do objeto, ainda que de modo sempre imperfeito. O abstrato é o concreto
em processo – a mente é o cérebro-corpo-mundo em movimento (de preferência, não
repetitivo, ou a repetição contínua da novidade, na novidade). Tenho de ter uma
origem e, como origem tenho e origem tenho na realidade, minha espécie surgiu
como um pedaço de si, dela (do real), logo, que respeita sua matéria e suas
propriedades – meu pensamento, assim, tem de ser como o próprio mundo.
SEÇÃO DOIS
NOVA TEORIA
GERAL DO VALOR:
VALOR-TRABALHO
E VALOR MATÉRIA
NOVA TEORIA
GERAL DO VALOR:
VALOR-TRABALHO
E VALOR MATÉRIA
Chegado
aqui, o leitor já percebeu a originalidade rara desta obra. Agora, faremos duas
ações, uma após a outra: 1) oferecer uma teoria do valor marxista a partir da
generalização da teoria apenas do valor econômico em Marx e 2) apresentar uma
teoria nova do valor, o valor-matéria, que abarca dentro de si o primeiro
generalizado (melhor: nele abarcado). Assim, nossa teoria do valor é sobre todo
tido de valoração, não apenas na economia. Friedrich Nietzsche chamou por
duvidar do valor que damos aos valores “bom”, “mau” etc. Para ele, ser bom pode
ser negativo, degenerativo… Bem: ele esqueceu de criticar e teorizar o próprio
conceito de “valor”, quer seja, o valor mesmo.
GENERALIZAÇÃO
DO VALOR-TRABALHO
O homem
primitivo necessitou compreender cada vez mais as propriedades do mundo, ou
seja, de modo rústico, já fazia ciência. Ao analisar o mundo, teve de descobrir
– não criar, caro Lukács – valores, valorizar; esta pedra é ruim para este
machado, mas bom para tal tarefa. Pois bem; grosso modo, isso está em Lukács,
então apenas vale tratarmos do assunto se algo novo houver para ser dito.
O valor
artístico, por exemplo, dar-se pelo quanto de trabalho útil foi destinado na
sua produção, incluso o ganho de habilidade do artista. Mas o guia é o valor de
uso da arte, a mensagem fictícia. Se um “artista” dedica mil horas para pintar
um quadro preto de preto, perdeu seu tempo.
Lukács diz
da valoração com o exemplo do valor positivo de um bom vento para a embarcação.
Ora, a diferença atmosférica deslocou ar de um ponto para outro, logo trabalho
realizado. Na verdade, o valor tem origem direta em dois fatores opostos e
complementares, unidos: o trabalho exigido e o trabalho economizado (que pode
ser resumido no primeiro). Um mau vento exige mais trabalho, gasto extra –
menos valor tem, menos bom, ruim, é ele.
Considerado
isso, que trabalho e economia de trabalho são ambos base da valoração, o que os
unifica? O objetivo, a finalidade, o valor de uso – eis a medida, ou melhor, o
lastro da valoração. Uma arte somente é arte se tem mensagem fictícia (podendo
ser afirmada como bem ou mal, ruim, elaborada).
Na relação
homem e objeto, a valoração divide-se, no contexto, em bom e ruim. Nas relações
humanas, em bom e mau. Nada nisso de maniqueísmos, pois, por exemplo, um
operário lutador da causa operária, logo bom, pode ser machista, logo mau. O
que guia é o rumo da humanização da humanidade, o fim da alienação – a
finalidade.
Assim, a
valoração dos valores está lastreada, no trabalho, por isso, na história, por
isso, nas relações contextuais, logo, na finalidade.
Já dissemos
em outro lugar que o ouro vale muito porque se exige imenso trabalho para
extraí-lo da terra. Mas tal imenso trabalho é exigido porque se exige muita
energia-tempo-trabalho para produzi-lo nas estrelas, nas explosões estelares.
MORAL E
METAFÍSICA
Platão
ascende a conceitos cada vez mais gerais e abstratos até alcançar o Belo, o Bom
e o Bem. Para ele, os mais puros. Ora, existe um conceito ainda mais puro,
geral e abstrato. O belo, o bom e o bem – são o quê? São valor! Com tal
conceito, na economia Marx foi de fato ao mais abstrato. O bem (coisa privada)
não é o mais profundo ou, se quisermos, o mais etéreo: isso é o que está dentro
do valor de uso, o bem, ou seja, seu valor invisível dentro de si. Marx poderia
dar qualquer nome ao valor, já que é descoberta sua, mas lastreou a palavra na
metafísica.
EXEMPLOS DE
OUTRAS ÁREAS
O sofista
Pródico afimou que os deuses são falsos, pois os egípcios divinizam o rio Nilo
por dele depender; outros, o Sol ao verem sua imensa importância. Ora, isso –
tanta importância ao ponto de mistificação adoradora – é medido pelo trabalho,
pelo valor-trabalho (que permite ou que, ou também, economiza) e pelo
valor-matéria, que trataremos em seguida (água abundante e rica em nutrientes
no deserto!). No direito, área particular da moral, uma vida assassinada
trocava-se por outra vida; depois, décadas de prisão passavam, de modo
inconsciente (social), certa ideia de justiça média, compensação, correta
medida – mais uma vez, valor-trabalho (diacrônico) e valor-matéria
(sincrônico).
TEORIA DO
VALOR-MATÉRIA
Marx convida
a duvidar de tudo, de todas as certezas – incluso as de sua poderosa produção.
Dito isso, José Paulo Netto afirma que, quando se quer atacar ou adaptar o
marxismo, foca-se em três eixos: contra a dialética, contra a teoria da
revolução e contra a teoria do valor-trabalho. Nosso foco será a questão do
último elemento.
Todas as
tentativas de negar ou ver contradição na teoria marxista do valor são, quando
muito, risíveis. Isso ocorre, simplesmente, porque ela está certa, completa e
correspondente em alto grau à realidade. Os críticos confundem, por exemplo,
valor e preço. Ora, por que a água, com a altíssima utilidade, apresenta-se tão
barata – mas o ouro, carente de utilidade, tão caro? Eis contradição da teoria
do valor subjetivo, do utilitarismo. Resposta de Marx e nossa: um exige mais
trabalho social e humano para produzir em relação ao outro, muito mais.
Mas é
possível afirmar totalmente a teoria marxista do valor e, ao mesmo tempo,
superá-la? Façamos a digressão e o exercício para fins filosóficos, pois é uma
teoria de todo correta. Apresento, agora, minha própria teoria – do
valor-matéria.
O ERRO
PARCIAL DE MARX
Marx começa
sua obra com a seguinte pergunta: se duas mercadorias são qualitativamente,
completamente, diferentes – como elas são igualadas? Como isso é possível? Como
uma é trocável pela outra em certas quantidades? Como 1 casaco = 3 quilos de
uva? Como a passagem é famosa entre o publico leitor deste livro, destacamos
apenas o caso de Aristóteles. O grego afirmou que um tanto de sofás são
trocáveis por uma casa. Mas por quê? A troca é consciente, mas a razão de tal
trocabilidade é inconsciente, inconsciente social. No entanto, o pensador
antigo conclui que isso – a proporção de troca, a permutabilidade – era mero
jogo subjetivo, para fins práticos. Segundo Marx, o gênio não foi capaz de
responder por causa de sua época e por ser senhor de escravos – mais uma vez,
complementamos, o inconsciente social a agir. Ora, responde ele, são iguais as
mercadorias porque elas são frutos iguais de trabalho humano! O tanto de
trabalho gasto gera um tanto de valor, que as iguala no mercado. Um tanto de
linho ou uva é trocável por um casaco porque ambos possuem dentro de si a mesma
quantidade de trabalho gasto em suas produções. Mas, porém, todavia: elas não
são completamente qualitativamente diferentes! Elas, as mercadorias, ou melhor,
os valores de uso, são átomos concentrados, ou seja: – prótons, elétrons e
nêutrons. São matéria e material igual, massa igual, ou seja, peso igual (com a
gravidade). O que lhes iguala são suas matérias. Se o valor é (forma de)
energia, temos de ver que energia é massa (E=mc²), segundo Einstein,
propriedade da matéria. Marx não vê a qualidade igual, o fato de serem as
diferentes mercadorias materiais, matérias.
DEMONSTRAÇÕES
DO VALOR-MATÉRIA
O valor-trabalho
do qual tratamos antes e generalizamos, ainda é válido e completo, mas abaixo e
dentro do valor-matéria. Entremos mais no absurdo.
Primeiro. A
máquina perde valor ao desgastar-se, ao desmaterializar-se.
Segundo. O
dinheiro ganha valor ao materializar-se na forma ímpar, o ouro (átomo pesado);
depois, perde valor ao desmaterializar-se (prata, cobre, papel, bits.).
O ouro
tornou-se dinheiro por sua matéria e, ou seja, suas propriedades materiais: as
mercadorias podem ser separadas e remendadas, mas nenhuma ou quase nenhuma como
o ouro; mercadorias são resistentes, mas raramente na medida do ouro;
mercadorias podem ser uniformes, mas o ouro costuma ser muito mais etc. E
poucas, raríssimas, como a prata, têm a mesmas propriedades juntas, como o ouro.
Ora, seu valor de uso, ou melhor, seu conteúdo material, o destacou, tornou-se,
por isso, dinheiro.
Há três
lacunas aparentes na teoria marxista: 1) a transformação dos valores em preços
de produção, 2) o valor do capital fictício da terra ou renda da terra, 3) o
valor no dinheiro após o fim do padrão ouro. Ora, o dinheiro em papel hoje é
dinheiro por seu valor de uso, por suas propriedades objetivas, por isso tem ou
representa um valor real, desde sua materialidade, de acordo, portanto, com seu
contexto, o intensivíssimo e extensivíssimo mercado, a poderosa produtividade
hoje. Nossa teoria do valor-matéria pode resolver as polêmicas. Na física
clássica, pensava-se que bastava resolver um ou dois problemas para o sistema
físico teórico estar completa; mas uma revolução completa surgiu de tais
pequenos e poucos problemas – o mesmo pode acontecer nas chamadas ciências
humanas.
Terceiro.
Lamentamos muito mais a morte de um grande elefante contra a morte de uma reles
formiga. Por instinto, de causa inconsciente, associamos valor com
materialidade – mais materialidade, aliás, mais raro, além de mais trabalho e
energia exigir.
Quarto. Uma
pedra mais material é, via de regra, mais útil e tem mais valor relativo à
outra pedra inferior materialmente de mesmo tamanho etc.
Quinto. O
ouro é difícil produzir nas estrelas, concentra muitos átomos.
Sexto.
Tenta-se tirar componentes “desnecessários” da máquina para diminuir, assim,
seu valor.
Sétimo. A
deterioração de certa mercadoria também é sua perda de valor.
Oitavo. A
abundância material é a base da liberdade e da felicidade.
Novo. Valor
só pode existir dentro e junto de algo, de certa matéria.
Décimo. O
que tem mais massa, em geral, mais matéria, tende a ter valor e preço maiores.
Décimo
primeiro. A redução do valor e do preço da mercadoria está, hoje, ligada à
redução de sua materialidade, ou seja, os produtos estão mais frágeis. Isto é:
valor-matéria. Minha teoria da obsolescência programada é diferente da usual,
embora reconheça seu valor relativo, não absoluto. É do ponto de vista da
demanda, não da oferta (esta, necessidade de fragilizar para mais vender, para
forçar nova oferta e nova demanda etc.). Digo isto: as pessoas querem consumir,
mas não têm renda. Por isso, as empresas oferecem versões do produto mais
baratas, e, em geral, mais frágeis, trocáveis etc. Eis a desmaterialização em
base ao valor.
Décimo
segundo. Marx afirma que o valor de certa mercadoria (forma relativa) se
expressa na materialidade de outra (forma equivalente). Assim, sua separação
por um abismo entre valor de uso e valor cai e desaba para dentro de si: a
medida dos valores e o padrão de preços, por exemplo, fundem-se, ainda que de
modo a abarcar a diferença etc.
Décimo
terceiro, enfim. A água é barata por sua molécula ser fácil de se formar,
precisa de átomos simples e “leves”, pouco materiais, oxigênio e hidrogênio,
abundantes por facilidade relativa de produzir. O ouro é caro porque, como
observamos, seus átomos unidos são “pesados”, complexos, com mais matéria-massa
concentrado, logo mais raro, logo mais trabalho para produzir na estrela e
extrair da terra, logo mais caro via de regra e tendencialmente.
Décimo
quarto. Vejamos a relação com a dialética. Marx exclui todas as propriedades
físicas da mercadoria (cor, massa, matéria, peso etc.) para chegar numa
coisa-em-si invisível, o valor, a gelatina de trabalho dentro da coisa.
Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias,
resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o
produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu
valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem
dele valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer
coisa útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é
mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro
trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho
desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também
as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns
dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano
abstrato. (Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)
E:
Consideremos agora o resíduo dos produtos do
trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma
simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de
força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O
que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida
força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações
dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores
mercantis. (Idem, 116.)
Mas, contra Kant,
Hegel afirmou, Ciência da Lógica – Doutrina da Essência, embora não tenha sido
o único, que a coisa ou a coisa-em-si sem suas propriedades nada é – e que tais
propriedades são, veja só, matérias ou materiais. Assim, a coisa-em-si valor
nada mais seria que suas próprias propriedades e, ou seja, sua materialidade. A
coisa-em-si, o valor, é a coisa.
Décimo
quinto. Tanto no mundo inorgânico (Sol, buracos negros etc.), passando pelo
biológico (macho dominante, o mais alto etc.), quanto no social (concentração
de capital, ter mais dinheiro, ter maior população etc. – no social mental: ter
grande casa ou carro, mais dinheiro etc.) ocorre o seguinte processo: mais
matéria-massa concentrada, em relação aos demais e à média, logo, tende a ser a
causa de atração, de ser orbitado, de agregar para si.
Décimo
sexto. A desmaterialização relativa de mercadorias leva à rupturas relativas
com o valor. Por exemplo: livro digital gratuito ou pirateado.
Décimo
sétimo. Unidade do valor e valor de uso: o ouro tornou-se dinheiro por
excelência por sua materialidade singular – raro porque muito material (átomos
pesados), imperecível, uniforme, fácil de dividir e fundir.
Décimo
oitavo. A baixa materialidade da linguagem parece corresponder com seu baixo
peso material sobre o mundo material
Décimo nono.
Por ora abstraída em parte a oferta e a procura, um trabalhador especializado,
com mais tempo de formação, possui propriedades ímpares – logo, mais caro.
Vigésimo. O
dinheiro hoje é lastrado, grosso modo, no petróleo. Tal matéria-prima produz
energia e matérias vastas, amplas e essenciais. Veja-se o plástico, seu
derivado, em todo canto. É o valor de uso (e valor!) por excelência, que deriva
muitas matérias vitais ao modo de vida atual.
Em sua
concretude, a teoria do valor-matéria exige observarmos três fatores:
I.
A matéria (singular)
II.
Suas propriedades (particular)
III.
Seu contexto material[15]
(geral)
A teoria do
valor-trabalho de Ricardo e, depois, de Marx tem função revolucionária, útil
para o movimento social e para a humanidade. Além disso, está correta. Mas, por
sua exatidão alta, impediu-se, além de tanto outros fatores, de ver o
valor-matéria. Naquele tempo, mal se sabia dos átomos, por exemplo. A teoria do
valor-trabalho está dentro da do valor-matéria, e vice-versa.
VALOR-TRABALHO,
VALOR-MATÉRIA E OFERTA-DEMANDA
Assim,
também, conectamos a teoria do valor-trabalho com a teoria da oferta e da
demanda (procura). Algo é raro, logo, com muito valor por ser difícil de
extrair ou produzir, porque tem mais materialidade – porque tem mais
materialidade, é muito mais difícil de existir. Por isso o ouro tem valor, sua
raridade, ao exigir mais átomos para existir, exige trabalho extra.
Se a oferta
e demanda se igualam, deixam de explicar o preço e valor. Tal teoria apenas
explica-se desde a teoria do valor-trabalho e do valor-matéria.
A MATÉRIA É
A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
A matéria é
a própria realidade – por isso seu valor, sua base de valor. A medida da coisa
está na própria coisa! Quando dizemos que movimento = energia = tempo = espaço
(meio) = matéria – dizemos, portanto, que a energia-valor nada mais é que a
matéria. Assim fazemos a unidade (e identidade), ainda que ainda contraditória,
entre valor e valor de uso. Não mais externos um ao outro, não mais apenas
estranhos.
Vejamos o
parágrafo anterior. Marx diz que o preço da terra virgem não tem valor, pois
não há trabalho gasto em sua produção, portanto, capital fictício; apenas há
preço. Mas a terra, primeiro, tende a valer mais se ela é melhor, mais
produtiva, então, mais rica materialmente! E, segundo, o
oposto-idêntico-diferente de matéria é espaço ou movimento, logo, a terra mais
distante tende a perder valor, preço. Portanto: a matéria é a medida de todas as
coisas!
Marx não vê
que que há unidade do quantitativo (valor) e do qualitativo (valor de uso) na
medida. Quando Marx diz que uma terra com queda d’água natural, esta fonte de
energia em potência, tem seu preço-não-valor acrescentado, deixa de ver, agora
em outro sentido, no qualitativo o quantitativo, a materialidade rica afetando
o valor daquilo “fictício”
DEDUÇÃO DA
UNIDADE DO VALOR
As
diferentes teorias sofisticadas do valor são muito mais do que apenas
diferentes ou lado a lado: são uma só teoria com diferentes graus de abstração.
Temos, então, uma teoria unificada da valorização. Assim, o valor dado está
ligado à sua
1) Raridade
Que nada
mais expressa além do
2) Trabalho médio – social ou natural – exigido
para sua produção ou economizado
Que é um
dado gasto de energia expresso de maneira imperfeita no
3) Tempo médio exigido em sua criação
Ligado,
portanto, à sua
4) Utilidade
Que é, por
sua vez e em cadeia, expressão pobre de sua
5.
Materialidade (valor-matéria)
Tanto no
sentido quantitativo quanto, em principal, qualitativo.
A conexão
mais difícil de observar está entre 4 e 5. Vejamos. O ouro parece ter
baixíssima utilidade, o que deveria gerar baixíssimo valor; mas ele é dinheiro
por excelência por ser “pesadamente” material, logo, raro etc., o que faz dele
o valor de uso útil por excelência, ou seja, trocável por tudo o mais. Por sua
natureza social e natural, o ouro é o que é, natural socialmente desenvolvido,
ou seja, socializado, natural socializado.
Nos meios
vulgares, diz-se que o valor é subjetivo porque a água vale muito mais do que o
ouro no deserto. Ora, em tal ambiente seco, a água é uma materialidade rara,
difícil de produzir e pouco material presente. Aí a água vale muito por sua
materialidade e propriedade em seu contexto. Portanto, valor-matéria.
VALOR-MATÉRIA
E MORAL
Já vimos a
diferença entre o assassinato do elefante e formiga. No mais, o direito moral
trata da perda de certa propriedade (roubo) ou de certa materialidade
(dinheiro, vida-corpo etc.).
VALOR-MATÉRIA
E TOTALIDADE
Isso
afastaria um tanto, como solução, o marxismo de sua necessária metafísica do
valor – tão rejeitada pelos próprios marxistas, contra Marx. Um ponto de apoio
seria que a empiria – econômica etc. – mostra-se impura, suja, concreta,
impedindo a manifestação exata da lei do valor-matéria (no preço etc.). Tal
visão, enfim, reconecta o mundo dos homens com o mundo natural. Marx nunca
poderia, ou teria imensa dificuldade de, criar a teoria do valor-matéria, que,
grosso modo, afirma que o valor deriva de maior materialidade relativa. Isso
ocorre porque a ciência, a metafísica (a verdade está no todo), a física, a
filosofia, a Dialética da natureza e a sociedade ainda não haviam atingido seus
ápices, de origem comum, durante sua vida. Quando Marx diz que se pode virar e
desvirar a mercadoria, mas nela não se encontrará nenhum átomo de valor;
esquece que a matéria, representada no átomo etc., é o próprio valor.
A teoria do
valor-matéria é a raiz de dois do marxismo. Como entender de fato o
capitalismo, com o conceito central de valor econômico, sem entender o cosmos e
o lado universal da valoração? Avança-se imensamente, mas até certo ponto.
Darwin refinou sua teoria por 10 anos na esperança de evitar acusações e
polêmicas – mas o escândalo foi geral e inevitável. Aqui, apresento algo
primeiro, a ser desenvolvido para além do modo de ensaio.
ASPECTOS
QUANTITATIVOS
Demonstramos
que massa, tamanho e quantidade estão relacionados no qualitativo, no seu
valor. E damos também a prova qualitativa do valor-matéria. Vejamos agora a
tabela periódica e sua relação, tendencial, por aproximação, entre peso atômico
e preço:
É visível tendência.
Veja-se que, para direita e para baixo, os elementos mais pesados tendem a ter
preços maiores. Certos desvios parciais dão-se por questões conjunturais, além
de desvios como certo nível de monopolização (ou propriedade). Outros, por
estruturais: o hidrogênio só há na realidade associado quimicamente, mesmo que
com outro exemplar de si. Além do mais, o contexto material importa: a formação
do Sol, por disputas gravitacionais, tendeu a atrair elementos mais leves, que
escaparam das formações planetárias em curso, deixando um tanto mais de
elementos pesados de maneira relativa. Os elementos ainda mais pesados sequer
preço claro possuem de tão raros e caros, de tão materiais e de tanto trabalho
exigidos.
A raridade
e, por isso, a materialidade, determina também limites de presença nos elementos
químicos. Nessa indústria de base, todos os produtos mais avançados na linha de
produção devem responder aos preços das mercadorias ou elementos de base, mesmo
que por mediações.
Pelo
valor-trabalho, mesmo que seja o central, a explicação de tal precificação fica
incompleta e recheada de jogos teóricos. Se só o valor-trabalho atuasse, os
preços tenderiam a se igualar por mais investimento, visto o lucro alto, maior
controle estatal dos preços e, também, por, dada a raridade, substituição por
materiais de similar propriedade e, claro, máquinas moderníssimas com altíssima
produtividade barateadora. Isso deformaria tudo, fazendo um caos sem padrão.
Mas não acontece, não e nem de longe no nível esperado. A coisa se explica pela
“renda da terra”, ou seja, a materialidade, suas propriedades, seu contexto e
sua raridade, base do trabalho maior na sua produção ou extração. Pode-se usar
o argumento do monopólio, e seu preço, mais comum no setor, mas ele, quando de
fato há, é, antes, consequência, não causa! O valor-matéria, no lugar de negar,
afirma e aprofunda o valor-trabalho, além de conectar melhor este com a a lei
da oferta-demanda.
A ideia de
energia como massa combina com a ideia de valor como matéria. A ideia da mente e
do cérebro (corpo) como o mesmo, contra o dualismo – também. Eis a unificação
do mundo natural com o mundo social, uma das formas de. Claro, existe apenas
uma ciência universal e completa, a ciência da história. É o valor-história –
no fundo do fundo.
No preço da
terra; fertilidade, queda d’água e ser próxima da cidade aumentam seu “valor”.
Eis o valor-matéria; mas, além disso, em unidade, eles são sinais claros de
economia trabalho, logo, valor-trabalho no significado amplo – positivo e
negativo – expresso por nós no capítulo anterior, na generalização do
valor-trabalho de Marx a qual operamos. No socialismo, a economia de trabalho
será a base clara da percepção de valor, de valoração, como afirmam Lukács e
outros marxistas.
VALOR-MATÉRIA:
UNIDADE DO MUNDO
Vale uma
comparação histórica. Platão teve de dividir o mundo em dois opostos e
separados: o mundo das ideias ou formas e o mundo da aparência ou material.
Depois, em oposição, Aristóteles – ainda idealista, mas com toque materialista
evidente – defendeu um só mundo, aqui, onde está a própria substância, a
essência, o conteúdo, a forma etc. Marx dividiu economia em dois: mundo do
valor de uso e mundo do valor. Agora, unifico ambos os mundos no
valor-material. Um crítico de Marx afirmou que ele dividiu um conceito, valor
(econômico), em dois, valor de uso e (valor de troca); o pai do socialismo
científico responde para si, em manuscrito, que isso é um absurdo – haveria
mesmo os dois, opostos, em unidade e contradição na coisa. Mas eis que há grau
de acerto no crítico vulgar!
Segundo
ponto. Marx inspira-se em Kant, pois este separou a coisa (mercadoria! Valor de
uso!) da coisa em si (valor). Se tiramos todas as propriedades sensíveis da
coisa (que aparecem aos enganadores sentidos, segundo o kantismo), há por
detrás uma coisa em si impossível de apreender, de conhecer. Marx refuta-o de
modo parcial: se tiramos todas as propriedades da mercadoria, resta, sim, uma
coisa em si, uma gelatina abstrata de trabalho! É possível deduzir, sim, a
coisa em si abstrata e oculta! Pois bem; Hegel refuta tal dualismo: a coisa em
si sem suas propriedades nada é, um vazio que é vazio – a coisa é, ela mesma, a
própria coisa em si! Mais: as propriedades são matérias ou materiais. Assim
fazemos aqui, Hegel contra Kant: o valor de uso é o próprio valor, são um – não
dois de fato. O fetiche, por exemplo, é um falso, mas um fato também; aponta
para a verdade. A duplicação dos mundos chega ao fim, finalmente. Ou isso ou,
também, o valor é propriedade de uma quarta dimensão espacial.
HEGEL, MARX,
OURO, QUÍMICA E MEDIDA
Na sua
Lógica, na seção sobre medida; Hegel inspira-se na química para igualar dois
“algos” diversos (átomos, compostos etc.) – depois: para igualar um “algo” a
vários, diversos, “algos” – depois: haver preferência por um “algo” ligar-se
apenas com alguns “algos” específicos; chamado “afinidade eletiva”. Isso em
Hegel é lógico, sem movimento, sem tempo; ao contrário, para mim e para Marx –
isso evolve, evolui assim. Pois bem; como dissemos, Hegel inspira-se de modo radicalmente
direto na química, de onde tira o conceito de
“afinidade eletiva”. Marx usa tal método, temporalmente, na história,
até chegar ao dinheiro, ou seja, o “algo” pelo qual todas as mercadorias,
outros “algos” têm preferência, têm afinidade. Ora; o que é, por excelência, o
dinheiro? – ouro e prata! E ouro e prata – são o quê? São química, matérias, ou
seja, valor-matéria! Marx estava mais perto da química do que imaginava. Tanto
lógica quanto materialmente! Tanto abstrato quanto concreto!
TRÍADE UNA
DO VALOR
Na
dialética, nada é – tudo está. Um conceito diz-se de muitas formas – uma só
classificação e significado dá lugar aos muitos. Isso é superar o limite da
mera e pobre definição. Desdobramos a categoria acima de seu simples e unitário
definir.
Feita a
exposição metodológica, vejamos nossa teoria. O valor diz-se de muitos modos.
Portanto, a busca de teoria geral deve considerar isso, elevar-se. O conceito
geral e abstrato, valor, tem conceitos gerais e abstratos, mais e mas abaixo,
seguintes:
1.
Bom
2.
Belo
3.
Bem
Eis os eixos
unificados, separado a apenas na teoria, do valor. Nossa exposição é, aqui,
esquemática para facilitar a apreensão, mas tudo ocorre de modo misturado e sob
hierarquia do “bem”. Podemos observar, então, que cada fator corresponde a um
aspecto:
1.
Bom –
trabalho
2.
Belo –
natural
3.
Bem –
matéria, materialidade
Indo mais ao
fundo:
1.
Bom – Ser
social
2.
Belo – Ser
biológico, orgânico
3.
Bem – Ser
inorgânico
A aliteração
que, em nossa língua, surge dos três fatores é uma boa coincidência. Repetimos
que eles são ou estão misturados, não separados por uma parede, sob o bem –
matéria – inorgânico. Diz-se que o consumidor capitalista procura o “bom,
bonito e barato”, sendo que este último, descobrimos, demonstra o
valor-matéria.
O belo como,
em primeiro e mesmo se mediado, ter base natural e na biologia nos lembra que
um animal venenoso parece um animal venenoso. Um ambiente sombrio parece um
ambiente sombrio.
Vejamos o
caso de um carro caríssimo e belo. Nada diz, na aparência, que beleza e valor-preço
estão associados, juntos. No entanto, estão na empiria! Por quê? Por que os
carros mais belos são mais caros? Um carro popular poderia ser mais belo de
modo fácil e natural? Veja-se que o carro caro e mais belo exigiu mais trabalho
para fazer algo mais raro, que os sentidos percebem como especial. Bem, Belo e
Bom estão unidos, desde suas fontes.
.
A
OBJETIVIDADE NATURAL DA BELEZA
A arte não
necessita ser agradável, mas, por derivação, a beleza é um tema importante – o
belo é objetivo ou subjetivo? Está na realidade ou nos olhos de quem vê? Em
primeiro lugar, beleza está na própria coisa, portanto, natural em si (tanto
natural para a percepção do externo quanto no próprio externo); trata-se da
beleza no geral, no universal, pois o lado animal do homem e suas percepções
capta a beleza do mundo, desde sua vida prática para com animais e situações (o
sombrio na arte tem, remete a, traços do sombrio na vida real). Mas, por outro
lado, a beleza é algo humano no sentido histórico, determinada historicamente,
socialmente; porém, sendo a beleza no particular, não nega de todo a beleza
geral, natural, antes pode mediá-la ou deformá-la. Por último, temos a beleza
no singular, no individual, que responde à própria formação pessoal e da
psique, algo único – este medeia e, ao mesmo tempo, é mediado pelos outros
dois. Assim, as polêmicas sobre o caráter do belo, dentro e fora da arte, são
resolvidos, percebendo os próprios “níveis” que se misturam, um sendo a base do
outro. Tenta-se refutar, por exemplo, a beleza natural geral, com o fato de
existirem pessoas com gostos exóticos; por outro lado, tenta-se refutar a
instância da beleza individual com a constatação de consensos gerais sobre se
algo é belo, apontando para o objetivo ou, ao menos, o intersubjetivo. Os
pontos de vista opostos acertam e erram ao mesmo tempo, são incompletos e sem
mediações.
EXTRA: O
LIMITE NO ACERTO DE LUKÁCS
Sou, além de
trostskista ou kurziano etc., um lukacsiano. Mas o conjunto de minha obra
refuta parte importante de sua produção e, outra parte, suprassume, supera o
ainda mantido. Entre outros tantos erros, Lukács pensou a valoração como, em
primeiro, algo subjetivo, ideal, ideologia. Com a generalização do
valor-trabalho e a descoberta do valor-matéria, podemos ver com facilidade seu
erro e seu limite em seus manuscritos finais. O valor da coisa está na própria
coisa, pois é ela mesma. Algo, portanto, objetivo, no mundo, factual - material
e materialista, antes de idealista. Muitas vezes, apenas de modo inconsciente
sabe-se do valor, ou seja, sabe-se o valor na consciência, para fins práticos,
mas não se sabe a sua causa (um inconsciente ao mesmo tempo pessoal e social) –
algo a ser desvendado pela teoria. A matéria é a medida da matéria, dela mesma,
repetimos: a matéria é a medida de todas as coisas! Spinosa pensou a existência
de uma só substância, mas ele perde a mediação: os atributos são formados por
variadas substâncias, não apenas uma spinozista - estas, por sua vez, são, no
fundo, a mesma substância, apenas um agora, em quantidades diferentes, o que
gera qualidades (substâncias) diferentes, pois meras mudanças de quantidade
geram mudanças de qualidade - tal substância única e essencial, a matéria,
dilui-se em espaço, causa da infinitude na quarta dimensão, que é a própria matéria
decaída. Espaço é matéria, são um sendo dois. No fim, o movimento é a queda da
coisa em si mesma (orbita a si mesma), na quarta dimensão espacial – casa do
infinito, da energia, do valor, do movimentar, ou seja, um abismo para dentro
de si. Lukács, um mestre para todo o resto da história da humanidade, sequer
chegou perto dessas considerações. Além disso, valor-matéria significa
considerar, além da materialidade, as propriedades e o contexto (totalidade)
inevitável e mutante.
Aqui,
fundimos o valor como valor-história (e diacrônico) com o valor como
valor-estrutura (e sincrônico), a matéria e o tempo-movimento. Dissemos em
outro momento que o diacrônico cristaliza-se no sincrônico, que a história
forma, cristaliza-se na, sua estrutura; o valor-trabalho, portanto,
cristaliza-se no valor-matéria (matéria, propriedades, contexto). O
valor-trabalho generalizado, para além da produção de capital, é, grosso modo,
valor quantitativo (tempo, movimento); por outro lado, o valor-matéria é,
grosso modo, valor qualitativo (coisa, propriedade); mas é claro que a coisa
toda se mistura no concreto e um passa para seu oposto. A unidade de ambos é
espaço-tempo ou, em nossa identidade de espaço e matéria, matéria-tempo,
matéria-movimento. A realidade, a verdade, é diassincrônica. Vemos que é
impossível negar Marx; o caminho correto é, portanto, desenvolver e aprofundar
suas contribuições até o ponto em que adquiram feições novas e completas.
PARADOXOS
Nossa teoria
geral do valor, os fundidos teoria do valor-trabalho geral e valor-matéria,
resolve inúmeros problemas e oferece a teoria de base materialista, não
subjetiva como em Lukács, para a questão da valorização em todas as áreas –
além disso, explica com rapidez dois paradoxos marxistas, o valor da terra
(aparentemente sem) e o valor do dinheiro (aparentemente) sem lastro e sem
valor. Mas há dois paradoxos ainda: 1) do valor minguante com o desenvolmento
técnico, 2) a transformação dos valores em preços de produção. Um especializado
no último pode revolver por meio de nossa indicações, mas já apresentamos um
caminho resultado.
Com máquina
mais moderna, mais produtiva, o valor da mercadoria cai – não sobe. Mas nós
dizemos que economia de trabalho gera, também, valor; isso não impede, por
outro lado, o capital de ser unilateral em tal assunto. Mais eis que vemos a
parte e o ente, a mercadoria individual, não o todo – o conjunto do produzido.
Máquinas novas são mais produtivas que o tanto de trabalhadores por elas
demitidos. Além disso, exige-se mais matéria-prima. A quantidade de mercadorias
dá um salto, então, o intensivo se torna mais extensivo. A mercadoria
individual tem menos valor consigo, porém o conjunto da fábrica e das
mercadorias expelidas têm mais valor, não menos – e mais matéria,
valor-matéria.
A questão
segunda é que, no cálculo, o valor geral deve estar de acordo, no quantitativo,
com o preço de produção geral – iguais. Mas o cálculo não bate (apenas acerta
no modo simplificado como Marx tratou, ou seja, com o capital constante, as
coisas produtivas, valendo pelo seu valor, não pelo preço de produção guiado
pela taxa média de lucro). O assunto é difícil de explicar e detalhado, mas o
leitor terá noção – não desista. Com a dificuldade; matemática, filosofia e
ciência foram ampliados para tentar explicar o paradoxo, resolver o problema do
problema; mas tiveram algo de manobra, de jogo; não por menos, já que os
economistas burgueses fizeram de tal dificuldade matemática a acusação de que a
teoria marxista estava errada no todo e nas partes.
Piero Sraffa
inclui no cálculo a quantidade de coisas, capital constante, na produção, na
medida do preço de produção – o que indica nossa teoria do valor-matéria. Além
do mais, o setor I da economia, que inclui produzir matéria-prima, tira da
natureza o que não tem em si valor (renda da terra, preço sem valor), então,
mais uma vez o valor-matéria entra em questão no cálculo.
Mas há ainda
uma resposta. Marx usou uma taxa geral de lucro para calcular, mas apenas o
aplicou no setor II, produção de meios de consumo. Ora, o aumento de lucro no
setor I, em geral vem com aumento do preço, da taxa de lucro, e até mesmo
possivelmente do (mais-) valor – e exato isso gera uma tensão no setor II, que
compra dele, ou seja, máquinas e matérias-primas mais caras geram tensões,
redução da produção, falências e crises no setor I! Assim, o setor II reduz o
consumo, por exemplo, a compra de mercadorias do setor I. Assim, empresários do
setor II passam a investir no setor I, mais lucrativo (ou o empresário de
máquinas passa a investir em matérias-primas, e vice-versa). Assim, enfim!, o
setor II, mais dinâmico, mais afastado da natureza, regula a taxa de lucro do
setor I – para que a taxa de lucro do setor II continue normal, na sua média,
fazendo os preços de produção seus estarem de acordo com os valores ao final de
todo o processo produtivo global – e até se tornem igual aos seus valores. A
taxa de lucro de um, setor II, regula a taxa de lucro do outro, setor I (embora
haja certa reciprocidade externa). Isso é ver a coisa em movimento, para além
de tabelas estáticas. O paradoxo teórico é um paradoxo real, na concretude, que
se movimenta e se revolve só para depois se reestabelecer como contradição
movente. Lógica concreta: eis a unidade interna lutando para ser externa na
diversidade externa. Já pensei que o lucro extra da diferença entre lucro e
mais-valia seria destinado a outros setores da economia, outros investimentos,
como pelo fato de o comerciante receber a mercadoria abaixo de seu valor real
(portanto, possivelmente também abaixo de seu preço de produção), mas isso
ainda tem traços bastante subjetivos.
EXEMPLO:
VALOR E RENDA DA TERRA
Solo rico,
queda d´água e estar perto da cidade – aumento do valor, o preço, da terra
virgem. Solo pobre, sem queda d´´agua e longe da cidade – queda do valor, o preço,
da terra virgem. Mas o primeiro caso economiza trabalho! Mas o segundo caso
exige mais trabalho! Eis a unidade das tuas teorias do valor (generalizado,
completo), que são uma, que no externo passam uma para a outra, e vice-versa.
FAZEM, MAS
NÃO SABEM
A frase
acima é de Marx, famosa – base de uma teoria do inconsciente social. Comparamos
trabalho com trabalho ao compararmos mercadoria com mercadoria. Grosso modo; a
razão dos valores “sabe-se sem saber”, por isso, sem saber a fonte, medimos,
compramos. Praticamos o valor-trabalho e o valor matéria, mas não sabermos.
CRISE DO
VALOR, DOS VALORES
O destaque
maior, na teoria e na prática, ao valor-matéria nessa fase do capitalismo, o
que facilitará sua teorização, deriva de uma sociedade à beira do socialismo,
onde a qualidade importa mais que a quantidade, aonde há redução tendencial do
trabalho manual e da criação do valor, crise do valor econômico e demais
valores – arte e moral em destaque. Há uma crise geral do valor. Seu lastro,
claro, está na economia, na produção, no trabalho da atual fase. A crise do
valor econômico, base central da crise dos valores, também é, apresenta-se como,
crise das medidas, de medida
SEÇÃO TRÊS
TESES SOBRE
QUESTÕES ABERTAS NAS CIÊNCIAS NATURAIS
AS QUESTÕES
ABERTAS NA FÍSICA MODERNA
Nada é maravilhoso
demais para ser verdade.
Michael
Faraday
Em sua
Dialética da natureza, Engels apenas levanta várias questões ainda não
resolvidas pela ciência. Muitos pontos foram resolvidos, mas a ciência moderna
trouxe novos enigmas. Aqui, iremos um tanto mais longe, pois apresentaremos uma
proposta de resolução das lacunas teóricas. A base é nossa equação qualitativa
antes exposta resumida em matéria como espaço concentrado. Uma proposta teórica
no geral correta deve apresentar soluções para quase todas as lacunas da
ciência.
Vejamos as
conclusões de pesquisa que se tornaram premissas na exposição. Nossos
postulados são:
1)
espaço =
matéria, matéria é espaço concentrado, espaço é matéria decaída;
Deve-se
levar em conta que espaço, energia, matéria e luz foram a mesma coisa no
passado distante, na origem. E ainda são o mesmo, mas de modo oculto aos
cientistas, ou seja, de modo mediado. Daí a esquiva do espaço como matéria. O
unitário se diversifica permanecendo ainda unidade no fundo. Diversidade
externa com unidade, até identidade, interna.
2) o espaço,
contínuo-discreto, organiza-se como linhas de espaço (tese não central, se os campos
como linhas não foram diretamente espaço);
3) a equação
QUALITATIVA geral é “movimento = energia = tempo = espaço = matéria” ( = massa
= luz[16]
= campo).
4) a matéria
não apenas curva o tecido do espaço, mas é também o próprio tecido espacial
curvado, para dentro, para dentro de si, concentrado na forma particular.
5) o
meio-termo de matéria e espaço é a luz. O Espaço torna-se luz, esta torna-se
matéria. Toda matéria é formada por – concentração de – fótons e/ou, talvez,
neutrinos.
1. Efeito Casimir
Comecemos
por uma questão apenas na aparência resolvida, que reforçará na empiria nossa
tese. O experimento é este: põe-se duas placas especiais próximas dentro de uma
caixa a vácuo. Ocorre que tais placas aproximam-se, revelando uma pressão maior
do lado de fora delas, forçando rumo ao encontro de ambas. Seria a prova de uma
energia de ponto zero! Partículas virtuais surgem e deixam de surgir do “nada”!
Mas o vácuo não exclui o espaço e, teorizamos, espaço é energia – logo
flutuações do espaço faz ele se concentrar produzindo as tais partículas. Eis a
prova de que espaço é matéria e energia (e luz etc.).
Veja-se o
autolimite posta pelos físicos e seus filósofos ao focarem na diferença entre
espaço e todo o resto no lugar de ver sua unidade, e identidade de fundo, real:
Notamos já que na relatividade geral o próprio
espaço-tempo tem massa-energia. Mas a massa-energia é o aspecto básico
característico da matéria, tal como a entendemos habitualmente. Se até a
distinção entre a matéria e o próprio espaço-tempo é problemática, podemos
ainda falar de “relações entre coisas materiais” em oposição ao “próprio
espaço-tempo”? (Sklar, 2020, p. 60)
Há
consequências totais de nossa reinterpretação de um experimento. Bohm critica a
aleatoriedade da física quântica afirmando que existe um nível ainda mais
abaixo, fundamental, subquântico; são, para ele, as variáveis ocultas da
causalidade oculta na probabilidade. Neste reino, haveria uma substância e suas
entidades, partículas etc. Mas há um grande problema: um nível micro tem um
nível ainda mais abaixo, que tem outro mais abaixo, que tem outro etc. – ao
infinito, má infinitude. Aqui, para nós, o nível mais fundamental é o espaço,
talvez com partículas espaciais (a matéria escura como espaço discreto,
particular etc.). Assim, concluímos, flutuações do meio, do espaço, afetam as
partículas fundamentais. Um grande problema teórico aparece como com solução
óbvia apenas depois de resolvido.
Reforcemos
nossas teses com outro fenômeno. Se, sob investigação, para melhor estudá-la, desacelera-se
cada vez mais a velocidade uma partícula de elétron, o que ocorre? Ela cada vez
mais espalha-se, expande-se, torna-se menos condensada, torna-se menos pontual
– ou seja, tende a dissolver-se em espaço, por ser o espaço condensado, para
dentro de si, sem romper de todo com este. Matéria é igual ao espaço.
Terceiro
fenômeno. Um pósitron (antielétron), positivo, e um elétron, negativo, iguais
mas opostos, encontram-se por atração de cargas opostas e tornam-se fóton de
alta energia. Pois bem; tal partícula de luz, fóton, pode tornar-se outras
partículas do Modelo Padrão de partículas fundamentais, uma espécie de tabela
periódica. Como faz isso? Sugando energia ao sugar partículas viruais ou de
espaço. É a visão aprticular: basta, para ver melhor, que a partícula suga
espaço para si, por ser atrativo, por ser espaço condensado, concetrado, para
dento de si. O problema de como e se a partícula dobra o espaço é resolvido com
a solução de que a partícula é o próprio espaço dobrado, para dentro,
concentrado.
2. Positivo e negativo nas partículas (química)
A ciência da
natureza, em geral, foca no como, o caminho mais fácil, e esquece de saber o
motivo. O que é positivo ou negativo? Não sabemos, sequer fazemos a pergunta.
Na verdade ocorre algo do tipo: algo inteiro, nem negativo nem positivo em si,
decai em pedaços, inteiros por si mesmos, que são também partes. O nêutron
decai em dois, próton e elétron; um desliza para dentro do outro porque são, no
fundo e na origem, apenas um, um algo de fato completo. Assim, são opostos no
externo, mas atraem-se porque são o mesmo e semelhantes no interno. Isso vale
para vários tipos de decaimento, de opostos que já foram juntos e um, como o
elétron e o antineutrino, além dos famosos elétron com próton.
Por que,
então, dois prótons se repelem? Ou por que o elétron não cai no próton? Parecem
duas perguntas, mas têm o mesmo princípio e resposta. O senso comum pensa o
campo como certa camada protetora, o que os cientistas negam; mas o próton é
mais do que sua parte “visível”, pois tem um “campo próximo” e, portanto, uma
fronteira, um limite. Dois prótons se repelem porque são excessos, desencaixe
um relativo ao outro; o mesmo para dois elétrons. Um elétron e um antielétron,
pósitron, atraem-se porque são antes, ontologicamente, o mesmo, como se pedaços
inteiros de um inteiro. Também assim, o elétron não cai naturalmente no próton
porque ambos, sendo pedaços, são ainda inteiros por si, com fronteira própria.
Na química e
na física, o próton é tomado como carga +1 e o elétron, -1. Como que dois
objetos tão diferentes têm exato a mesma carga com sinais opostos? Que sorte do
próton! (a única resposta decente, nesse caso, seria que o próton e o elétron
são o mesmo, iguais, só que um é mais partícula que espaço-campo e o outro, ao
contrário, mais espaço-campo do que partícula – daí as cargas iguais). Em
verdade, tal matematização apenas expressa a aparência, enquanto pomos a
essência de tal fenômeno.
Isso nos
leva à próxima questão.
3. A matéria e a antimatéria no início do
universo
A física
atual postula que o decaimento do universo em sua expansão original deveria
formar a mesma quantidade de matéria e antimatéria, logo elas se atrairiam
mutualmente, aniquilando-se em forma energia, de luz – mas isso não aconteceu,
pois temos ainda a matéria comum no nosso universo, bariônica. Por quê? Uma resposta
é que o universo se contrai e se expande para sempre sem cair nesse estágio
inicial. Os físicos tratam de afirmar como evidente que não existiu tal
“explosão” ou que há uma pequena diferença, até hoje não encontrada, entre os
opostos. Outra resolução, propomos, é que de fato houve mesmo o grande encontro
de matéria e antimatéria, destruindo ambos, e a energia resultante disso decaiu
rapidamente em espaço, este expandindo-se salvando um pequena parte da matéria
e, talvez e longe, da antimatéria do universo.
Se nossa
ideia de que luz, sendo espaço condensado, concentra-se em matéria está certa,
então, houve de fato tal encontro de opostos, matéria e anti, que rendeu luz,
raios gamas, decaíram ou colapsaram em ondas de luz energéticas. O encontro
aleatório de luzes, de “fótons”, pode ter sido destrutiva em sua maioria,
encontro de ondas em vale e pico de onda (espaço?), mas o encontro de algumas
ondas de luz eventualmente formou, formaram, partículas, encontro de vários
vales ou vários picos de onda, poucas delas, ou seja, matéria bariônica rara,
como acontece em nosso universo (apenas 3% do que existe são partículas
comuns). Isso explica até a assimetria aparente, desigualdade, da distribuição
de matéria no universo.
4. O segredo da matéria escura e da energia
escura.
A gravidade
extra nas partes mais distantes da galáxia não corresponde com a massa-matéria
existente, logo há alguma matéria transparente, invisível, criando a gravidade
extra encontrada, uma espécie de cola. Como resolver tal quebra-cabeça? Matéria
é espaço condensado, logo matéria escura é uma forma leve de matéria, de espaço
(o que está de acordo com a tese semelhante de Marcelo Gleiser[17]).
Segunda hipótese, talvez – ou também –, por a matéria ser espaço concentrado
para dentro de si, a matéria bariônica e/ou os buracos negros sugam para si
mesmos uma parte do espaço, esticando-o, tornando-o tenso, logo com mais
energia, logo com gravidade extra.
E a energia
escura? O universo está se expandindo, o que sugere uma energia escura,
transparente, de repulsão. Se formos logicistas: matéria é energia e espaço;
logo energia e matéria escuras são o mesmo, além de opostos, este decaindo
naquele. A matéria (escura) e a luz do universo decaem em espaço (energia
escura), o que expande o cosmos. Talvez outras causas incluem como o contrair
dos universos vizinhos, por ação de seus buracos negros, esticando o nosso.
Pode ser que
a diferença de matéria escura e energia escura é que um seja espaço contínuo e
o outro como espaço discreto, granulado.
A matéria escura,
extra, entre galáxias pode ocorrer porque os buracos negros e a matéria sugam e
esticam parte do espaço, gerando nele tensão, logo energia, logo gravidade.
É possível
observar também, de modo matemático, se os buracos negros servem de
trituradores da matéria, produzindo espaço, que tem velocidade de escape o
bastante, ao menos não nos grandes buracos negros[18], o
que exigiria adaptação de nossa formulação universal aqui, como o fato de por
isso produzir matéria escura que decai em energia escura (espaço).[19]
Neste
capítulo, demonstramos a resposta sistemática e, então, uma hipótese isolada.
Vejamos. A órbita dos planetas em torno Sol não é circular, mas em elipse, ou
seja, há dois centros elípticos (de gravidade, formal), um deles aonde há o
grande astro; minha hipótese inicial é que o outro ponto central é, também, uma
“sombra”, assim nomeio por efeito da quarta dimensão espaço-material em três
dimensões, e o próprio Sol tem dimensão
quarta já que é espaço concentrado; assim, isso, mesmo se equivocado, serve de
pista para o espaço, a luz e a matéria produzirem a gravidade extra da matéria
escura, e talvez da energia escura, por ser expressão de partes de si em outra
dimensão oculta, a quarta, apenas indiretamente observável.
5. Entrelaçamento quântico
Descobriu-se,
primeiro no cálculo e depois na empiria, que dois fótons que juntos surgem e
são separados estão “ligados” mesmo se distantes um do outro, ou seja, se
medirmos um aqui e descobrimos que ele está com o spin para cima, logo o outro
ali estará com o spin para baixo (antes, ambos estavam no estado de
sobreposição, nem para cima nem para baixo em exato). O assunto irritava
Einstein, então ele supôs que a teoria quântica estava incompleta. Ora, basta
aceitar, de modo materialista, que eles estão de fato em uma “ação
fantasmagórica à distância”, instantânea, pois estão ligados por um fio de
espaço, por um fio de linha de campo comum.
6. Enigma da fenda dupla
Imaginemos
uma placa com duas fendas, duas entradas; se um elétron ou fóton passa por um,
logo não deveria passar por outro, agindo como uma partícula que de fato é.
Mas, ao passar, vez por vez, várias partículas, elas batem na última placa e
forma um padrão de onda, não de partícula! No lugar de baterem em apenas dois
lugares, por serem duas fendas, elas batem em vários, como se ondas fossem
ainda sendo particular! Às vezes, os físicos se apaixonam demais pela magia de
seus mistérios no lugar de resolvê-los. Talvez, algumas partículas não rompam
totalmente, apenas de modo relativo, com o espaço ao redor; ou, ao menos, eles
têm um “campo próximo” que se afeta pela outra fenda (a partícula passar por
uma fenda, mas sofre interferência como se passasse pelas duas).
A segunda
fenda pode afetar a linha de espaço. Mas a coisa pode ficar melhor: o anteparo
final, no qual bate sempre uma partícula e não uma onda (apesar do padrão
ondulatório que forma), pode ser como certo medidor com fótons, ou seja, pode
colapsar a onda em partícula por efeitos atômicos, ou quânticos, ou
subquânticos – ao final!
A partícula
apenas é no seu contexto, é o seu contexto – um com o seu meio ambiente. Contra
o reducionismo, ver-se o todo. Assim ainda, sejamos mais concretos, ou seja,
mais abstratos. A partícula pode produzir ondas de espaço, resistência espacial
ao movimento (a causa deve ser igual ao efeito, mas o espaço é levíssimo,
produzindo um meio ondula ímpar, incluso passando pela outra fenda). Mais: a
partícula, o caso do elétron, sendo feito de fótons (nossa hipótese), libera
fótons; atirar um elétron faz atirar fótons por consequência, que passam pelas
duas fendas (que alteram, incluso, o meio ambiente e o espaço, produzem ondas
de espaço e mais que isso). Capturar fótons para medir os experimentos a)
altera o meio ambiente por si (aparelho etc.), 2) quebra as ondas, 3) reduz o
efeito dos fótons. Nossa concussão é oposta. O anormal, por isso, não é a fenda
dupla; ao contrário, apenas uma fenda aberta uniletariza o fenômeno e o objeto
particular.
7. Salto quântico
Um elétron
“orbitando” o núcleo está aqui e desaparece, reaparecendo quase ao mesmo tempo
ali, em ouro ponto. Como ele saltou, como desparecer e reaparecer “longe” e não
percorrer um caminho até o outro local? A posição do elétron depende de si (nível
de energia), do núcleo e do seu contexto. Pense-se no lençol esticado; pois
bem; ele, sendo o espaço, é concentrado um pouco num canto por uma mão,
formando um pequeno “morro”, nossa partícula; se, então, fazemos outro “morro”
em outro canto do lençol, aquele primeiro se desfaz, pois houve novo
esticamento. Assim, o elétron desaparece aqui e reaparece ali. Outras formas de
dizer isso, são estes: 1) o elétron decai, colapsa, em espaço que se
reconcentra em outro ponto segundo seu contexto; ou 2) o elétron desaba em
neutrinos “emaranhados” (ou, ou também,
neutrinos e antineutrinos que se atraem) que se reconcentram em outro
local, reformando o elétron mais uma vez. Esse caso serve para o exemplo da
passagem do elétron por uma chapa fotográfica, deixando marcas não contínuas,
discretas e afastadas umas das outras, de gotículas de prata (repetimos:
decaindo ou decaindo em neutrinos-antineutrinos “emaranhados” que se atraem).
Para o positivismo, apenas descreve-se que a coisa desaparece aqui e aparece
depois ali, sem mais, sem caminho para, sem continuidade. Outra hipótese é que
o elétron se torna energia pura, sem uma de suas formas, na quarta dimensão,
então retorna, mas isso me parece nem sequer indiretamente verificável, além de
improvável também. Outra afirmação, que se sustenta, junta às demais inclusive,
afirma que o espaço são linhas, enquanto as partículas são pontas, saliências,
de tais linhas, linhas concentradas; por isso, a partícula desaparece aqui,
torna-se mais parte da linha, decai em apenas linha, e reaparece ali, a tensão
direcionada gera, produz, nova concentração, nova onda ou, ou seja, condensação
da corda. Enfim, uma tese centrada: o elétron é feito de ondas de luz que se
anulam, cristas com vales, logo desaparece, depois se separam de modo desigual,
logo o elétron reaparece). Torna-se, assim, espaço e, pela tensão e direção,
forma-se nova ponta-onda, partícula (à semelhança do comportamento de expansão
da onda de som na atmosfera, aqui é corda-espaço concentrado, concentra e por
isso expande etc.). A ideia da realidade como particular ou ondulatória
torna-se superada, a oposição unilateral é superada.
Dois
comentários ainda devem ser feitos. Em quatro dimensões (espaciais), vemos em
três dimensões algo desaparecer aqui e (re)aparecer ali, do “nada”. Ora, isso
faz o salto quântico (e outros fenômenos, como demonstraremos). Mas não é comum
ver no meso e no macro. Sobre o onda-partícula, a ideia de “ondas de matéria”
demonstra que a posição de onda ou de partícula estão unilaterais, mas mal fundidas
nessa expressão conceitual – a matéria é (talvez linha de, talvez) espaço
condensado.
8. A escassez de buracos negros intermediários
Ainda não
encontramos buracos negros de tamanho intermediário nem sequer na quantidade
esperada; eis o mistério. Ao que parece, tais entidades cósmicas são
produtivas, sugam matéria e… espaço. Por isso, são maiores do que deveriam ser
se passivas ou semipassivas.[20]
9. Unificação de campos
Para a
teoria quântica de campos, cada partícula é a “ponta”, a expressão de um campo
específico e amplo. No real, todos os campos são um porque são apenas o espaço,
já que cada partícula é espaço condensado, ou o campo é a forma mais leve do
próprio espaço, mas um tanto condensado. É, antes, a partícula que faz o campo;
não o campo, a partícula – a união faz a força. O fato de ela ser espaço
condensado, ser algo com “peso”, a gravidade em nível superior (força forte
etc.), forma o campo correspondente ou o campo próximo.
2.
As dimensões
A teoria das
cordas diz que as partículas são, na verdade, cordas de uma só dimensão,
unidimensionais, que vibram cada qual de modo diferente e são de formas
diferentes. Até o momento, provou-se impossível comprová-la. Tal hipótese
trabalhava com 11 dimensões, agora reduzidas para 6. Para nós, há quatro, incluso
uma espacial oculta, que se manifesta como tempo. A fita de moebius tem apenas
um lado, mas parece ter dois quando vista por apenas um pedaço dela. Algo
semelhante temos na garrafa de Klein, com seu dentro-fora unitário. Penso que
as três dimensões são também, assim, há apenas uma dimensão, o infinito, o
todo, que por isso é dimensão nenhuma, mas tem quatro dimensões quando visto
por seus pedaços, suas partes.
3.
Dualidade onda-partícula
A física
dividiu-se por séculos entre aqueles que diziam a luz ser partícula ou, ao
contrário, onda. A dialética pede a substituição possível do “isto ou aquilo”
por “isto e aquilo” em inúmeros casos. Se houvesse uma boa formação filosófica,
os cientistas teriam ao menos levado em conta a hipótese de que ambas as posições
acertam e erram ao mesmo tempo, bem antes do século XX. Luz não é apenas onda
“e” partícula, mas propriamente uma sobreposição dos dois estados opostos – o
dialético em ato! Mantendo nossa posição de que, em resumo da fórmula, tudo é
espaço, ainda que concentrado, a parte ondular das partículas ocorre porque
elas não rompem totalmente com sua base, o ambiente primeiro, o espaço, mas
flui assim mesmo por ele, nele, sendo ele. Talvez exista “resistência” e
“atrito” do espaço, gerando instabilidade e ondulação.
Assim, as
verdades primeiras são: é-se 1) partícula; 2) onda, 3) onda-partícula, 4)
partícula com propriedades de onda, 5) onda com propriedades de partícula.
Adicionamos: nem onda nem partícula, pois, não só por ser ora um e ora outro,
mas por ser espaço condensado, concentrado (provavelmente: sem romper com sua
base, o espaço) – o que permite propriedades aparentemente contraditórias, num
um terceiro, uma terceira resposta de fato. Assim: tese – partícula; antítese –
onda; síntese – espaço autoconcentrado, que explica as propriedades duplas. A
onda vai-se para a partícula, cada vez mais partícula (em dialética diacrônica:
x vai-se para não-x em A) – raios gama são muito mais partícula do que raios X,
a luz ultravioleta é mais partícula que a infra vermelha (eis uma origem de
partículas logo após o encontro destrutivo de matéria e antimatéria no início
do universo, sob novas circunstâncias); mas há também outro modo de terceira
resposta, o “nem um, nem outro”, unilaterais, mas a constituição do não espaço
como o próprio espaço condensado, com as propriedades opostas, agora
complementares.
Mais uma
dentre as hipóteses. Se o espaço for como linhas de espaço, então uma partícula
é como quando balançamos uma corda presa numa das pontas, formando uma ondulação
que avança, que se movimenta, algo que toda criança faz ao brincar. Um fóton,
por exemplo, expande-se assim, no e sendo o espaço acentuado, concentrado, em
movimento, em vibração. Superamos a teoria das cordas assim! A teoria das
cordas exige cordas pequenas, particulares, de uma só dimensão, num universo de
11 dimensões. Agora, superando essa ideia ainda atomista, individualista e
corpuscular, temos uma teoria de tudo nova, completa – ao que parece, correta.
Temos duas
posições opostas centrais: a majoritária
– ao lançarmos um fóton, para medir a partícula, a onda colapsa em partícula; a
de Einstein – a partícula medida já era partícula antes, não onda que colapsa.
A ideia de “onda de matéria” De Broglie é um passo que permite outro passo,
novo: a partícula já é onda 1) seja porque partícula é espaço concentrado,
linha de espaço ondulando; 2) seja porque a matéria é feita de ondas de luz.
Assim, no nível quântico é, em principal, partícula; mas onda no nível
subquântico. Entendimento: ou partícula ou onda. Dialética negativa: colapsa
num, apenas um, onda de matéria. Dialética positiva, positivamente dialético: a
partícula é, no subterrâneo, onda.
12. Excesso de raios cósmicos
Sabe-se que
a maior parte dos raios cósmicos que encontramos no espaço interplanetário não
vem do Sol. De onde viriam? Uma parte pode ter origem nas flutuações do espaço,
produzindo tal matéria-luz.
Minha
primeira hipótese foi não-sistemática: uma partícula ou onda (de espaço?) viaja
acima da velocidade da luz, gerando luz, fótons, raios cósmicos. Uma onda que
viaja acima da velocidade permitida por seu meio, produz ondas, luz etc. Um
objeto acima da velocidade do som produz som, ondas sonoras.
13. Spin do elétron
O spin do
elétron é uma “rotação” muitas vezes maior que o permitida pelas leis da
física. Na falta de explicação, os físicos dizem “é assim mesmo, um mundo
diferente” e ponto, e pronto. Isso não ajuda, apenas esconde uma ignorância.
Como demonstramos em nossa equação qualitativa, movimento = energia = tempo =
etc. Assim, o que medimos como apenas movimento de rotação é na verdade mistura
com seus diferentes, outros de si, que são também idênticos, iguais. Outra
explicação força antecipar assunto: nossa hipótese, o elétron é feito de luz,
fótons, e/ou neutrinos, logo, a “rotação” acima do normal deriva da mistura de
ação dos elementos fundamentais dentro do elétron.
14. A origem do movimento
O movimento
é, sempre foi e será. Mas qual a sua causa primeira? A matéria e a luz caem na
quarta dimensão espacial, no infinito, como a si mesmas (o infinito não cabe
dentro do universo finito, por isso se manifesta como tempo, sendo a quarta
dimensão espacial). É possível, também, que o vazio infinito cai sempre em si
próprio e, sob tensão, desabe no “´átomo prrimordial”, dando origem ao primeiro
Big Bang.
O paradoxo
de Zenão é resolvido assim: a flecha percorre o espaço-tempo porque ela é o
próprio espaço-tempo em Movimento – está e não está parada; pousada sobre si,
move-se, cai-se.
15. Multiverso no tempo e no espaço
Retomemos o
assunto acima: há o multiverso no tempo, com o nosso universo crescendo e,
depois, reduzindo de modo cíclico, para crescer novamente; e o multiverso no
espaço, com vários universos separados. Mas podemos fundir no universo no
espaço-tempo. Porque o universo se expande? Uma das causas, além das internas,
é que outros universos estão contraindo, sugando espaço em alto nível por fusão
de seus buracos negros, que sugam o tecido espacial (ainda que lentamente). O
problema de os universos separados no espaço não serem empiricamente observável
está resolvido porque eles interagem por meio do espaço único deles, caso
existam.
Deriva-se,
então, outra hipótese. Se 1) todo o destino do universo está determinado desde
o Big Bang e se 2) o universo contrai-se e expande-se ciclicamente – então o
mesmo universo, exatamente igual, surge e ressurge, repetindo tudo num “eterno
retorno”; temos, neste caso, a “reencarnação”, pois reapareceremos no próximo
universo fazendo sempre o mesmo. Mas se há processo, além de circular, pode ser
que o próximo início, do próximo universo, tenha pequenas variações de começo
que mudam todo o destino, as condições iniciais determinam as condições finais.
Eis uma questão em aberto, mas que aterroriza o pensamento, logo o meio
científico evita tais tipos de questões.
Quanto ao
tempo no espaço, espaço-tempo, tempo ser espaço: por que o infinito não pode
revelar-se diretamente no finito universo, não nele cabe, logo ele se manifesta
como tempo, como fenômeno temporal, indiretamente.
O nosso
universo tem fim e é finito nas três dimensões mais o tempo – mas infinito na
quarta dimensão. Assim, como no planeta, ir por demais ao leste te leva ao
oeste, embora apareça como mágica ou salto numa mente comum capaz de fazer tal
viagem cósmica. No mais, existe um centro inicial do universo verificável, pois
o argumento de que todo ponto do universo é o centro não se sustenta de todo
(apenas no sentido de que tudo estava concentrado, entes de espalhar-se);
portanto, possível dizer, mais ou menos, por aproximação, a priori, qual o
centro do universo, que tem, nas três dimensões, “borda”.
16. As quatro forças unificadas
Em minha
filosofia, temos a tríade, algo hegeliano, e o colateral, nossa atualização,
algo que está ao mesmo tempo dentro e fora. Isso parece se confirmar com a
unificação das três forças fundamentais (a nuclear forte, a nuclear fraca e a
eletromagnética) sem conseguir incluir a gravidade, a quarta. Mas isso é
logica, não ciência concreta. Ao que me parece, por tudo ser espaço concentrado
para dentro de si chegamos à unificação das quatro “forças”, que não são, na
verdade, força alguma (a união faz a força). Assim, a força nuclear forte é a
mesma da gravidade, pois é o núcleo atômico concentrado, para dentro de si,
caindo em si próprio, mantendo-se unido. A força repulsiva nuclear fraca deriva
pela mesma causa, com efeitos opostos, pois a gravidade é também espaço
condensado, para dentro de si, na coisa, o que causa repulsão das partes no
núcleo, por exemplo.
17.A unidade
do próton
O próton,
partícula do núcleo do átomo, é formada por três partículas, os quarks, que,
diferentes e opostos, dois para um, se atraem e se repelem. O que mantém sua
unidade na sua força forte é o glúon, certa partícula mediadora que transita
entre elas. Isso vale também para o nêutron, um pouco mais pesado. Se operamos
uma força enorme para arrancar um quark, este ato dá energia, força, tensão, ao
material unido, permitindo criar do “nada” (espaço!) outra partícula, pois elas
só existem em três, juntas, um sistema orgânico. O ato de arrancar dá
condições, como algo elástico esticado, de criar. Ora, se tudo é espaço
condensado, talvez tais pequenas entidades estejam ainda por “dentro” do
espaço, logo esticar uma delas para que saia do conjunto, dá energia-espaço ao
próprio espaço, fazendo brotar dele nova parceira (espaço condensado).
Esta
hipótese, além de outras, quebra o ortodoxismo, mas isso não significa que a
versão ortodoxa, não esta, está incorreta (o espaço concentrado serve de
“cola”). Um novo paradigma muda a forma de ver o mundo, de interpretar os
fenômenos físicos, caso, por exemplo, do Efeito Casimir logo acima. Ademais,
muitas conclusões aparentemente provadas pela empiria terão de ser revistas, se
outro modo de visão surgir. Partículas efêmeras, de pouca duração, surgem
simplesmente porque é possível suas existências, sem necessariamente significar
que há um campo específico subjacente, caso do Bóson de Higgs, já que todos os
campos tornam-se um, o espaço, e é a partícula quem faz seu campo próximo, não
o inverso. A matéria torna-se massa, a substância cria seu próprio acidente a
partir de si mesmo como matéria-prima, sem a necessidade de campo específico ou
da brevíssima “partícula de Deus”, talvez pelo limite imposto pelo espaço
“vazio” e “sem” atrito (a metáfora de andar mais lentamente na água é usada
para explicar o campo que dá massa, mas pode ser reduzida ao espaço também).
Mas é claro que rirão de um marxista metendo a colher naquilo que não domina…
Afirmar que o gigantesco colisor de partículas – templo do empirismo e do
reducionismo – de pouco serviu também não ajuda. Logo, devemos ter paciência
sobre a intromissão, necessária mesmo com seus deslizes, da filosofia no mundo
científico.
Diz-se que o
campo permeia o espaço; era, se o espaço é algo, logo nada pode permeá-lo,
estar com ele, nele em si; a matéria (e luz), por exemplo, existe “ao lado” do
espaço, sendo, por isso, espaço concentrado, condensado. Uma consideração
lógica como essa já demonstra a inconsistência da teoria de campos. A hipótese
dos muitos campos apenas se sustentam, no máximo, como propriedades do próprio
espaço, ele mesmo. Temos, em principal, espaço, possivelmente linhas de
espaço-campo (ainda que se revelem espaço condensado). As partículas, portanto,
fazem seu campo próximo, como acidentes do espaço, este condensando. Assim, as
quatro forças são todas espaço condensado, atraindo e repelindo ao mesmo tempo,
ou seja, são campos, um só campo na verdade, como o campo gravitacional, sendo,
no fundo, este
18.
Tunelamento quântico
Na memória
de computador SSD, faz-se um elétron “atravessar” um isolante ao ser atraído
para o lado de dentro positivo do material, isolado – como ele atravessa? É
como se uma bola de futebol atravessasse uma parede grossa sem destruí-la. Uma
partícula alfa, núcleo de um hélio, dois prótons e dois nêutrons, logo
radiação, sai de dentro de um núcleo atómico pesado e instável, mas isso
exigiria muito mais energia do que a disponível para ir-se, para ir além da
força forte – como ele atravessa? O elétron ao ser atraído, ao ser puxado,
força o isolante inatravessável – mas isso faz o elétron desmanchar-se talvez
em onda, mas principalmente em espaço, pois energia é espaço, desse modo a
barreira não é barreira alguma, pois tudo é feito basicamente de espaço vazio
com alguns ponto atômico ligados (o campo próximo do núcleo, do núcleo, que
atrai e repulsa ao mesmo tempo, é o próprio espaço, espaço condensado, além de
talvez dar a energia extra necessária por repulsão). “Por meio de” e “através
de” são o mesmo nesse nível, nesse caso – por meio e através do espaço, do
meio. Vejamos outra conclusão, igualmente derivada de nossa filosofia: a
“parede” se torna, na outra ponta, a própria “bola” "nova", e a
“bola” torna-se “parede”. Do próprio campo próximo surge, sob pressão externa
ou interna o elemento que quer transitar, que desaparece aqui e reaparece ali,
por mediação. A metáfora da parede e da bola esconde que a ambas são o mesmo,
espaço condensado, não apenas qualitativamente diferentes e de modo algum
incomunicáveis; a “parede” torna-se
“bola” “nova” e a “bola” torna-se a “parede”.
Podemos
aprofundar. Na quarta dimensão, podemos entrar dentro de uma esfera sem passar
por suas camadas externas, por sua borda etc.; do ponto de vista de três
dimensões espaciais, parece que algo desapareceu aqui e reapareceu ali, por
salto. Assim, o salto cidado para dentro da “caixa” do SSD do compudador, o
elétron saltar (desparecer e reaparecer) camadas no átomo e o elétrón em
movimento desparecer e reaparecer logo à frente – tais exemplos demonstram que
há uma quarta dimensão espacial, que é visto como tempo no aspecto macro,
quando algo desloca-se desparecendo aqui e reaparecendo ali.
19.Causa da
velocidade da luz – e da massa
A velocidade
da luz no vácuo é constante, além de máxima possível. Mas por quê? Ninguém
responde, sequer a pergunta é comum. Diz-se que é assim, apenas. Talvez o
espaço vazio, por dentro do qual a luz-energia flui, sendo ele, seja o atrito
necessário, o limitante. Tal resposta, claro, é insuficiente, mas já é um
começo.
A luz teria
velocidade infinita não fosse o espaço, não fosse criação do próprio espaço
(linha de espaço concetrado, cujas propriedades limitam). A luz não tem,
portanto massa, além da chamada relativística, sendo a o mais veloz, porque
simplesmente é pouca, pequena, breve. As outras partículas ditas mediadoras têm
massa já que são, grosso modo, maiores, ou seja, mais espaço concentrado,
condensado, relacionando-se com o próprio espaço como se com um outro (de si),
como barreira e limite. Eis a inércia. Eis porque correm abaixo da velocidade
da luz. Não preciamos de um campo de Higgs, aparentemente provado, pois o
espaço é o próprio “campo” viscoso. Reforçamos: dois objetos não podem ocupar o
mesmo lugar ao mesmo tempo, logo, nenhum campo pode permear o espaço; a matéria
(com massa) existe porque, ontologicamente e não no tempo, é espaço condensado,
e fica, portanto, nos “poros” do espaço. Assim como o ar oferece resistência,
tanto mais aos objetos maiores e mais massivos, também o espaço. Tais objetos,
logo, também oferecem resistência à mudança por si e em relação ao espaço, sem
necessidade de campos.
20.
Princípio da incerteza
Cumpre notar o princípio, talvez transitório,
da incerteza de Heisenberg, que afirma: quanto com mais precisão medimos uma
propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos
instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo,
um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição
da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o
tempo etc.
Vejamos uma
tentativa, uma pista, para salvação da física. Se tudo = tudo; se energia,
tempo, espaço, movimento, matéria etc. são todas iguais e mudáveis uns nos
outros, logo podemos saber indiretamente, com algum grau de precisão a medida
de uma propriedade por meio da medida e da alteração da sua oposta ou
“lateral”.
Além disso,
tal princípio, embora possa ser superado, revela nossa hipótese de que o espaço
é como linhas, então a matéria é como pontas dessas linhas, ondas, como linha
concentradas para dentro de si. Em um livro de mecânica quântica para
universitários, encontramos o autor falar de cordas, de linhas, e ondas, mas
apenas de modo metafísico, como se! Na exposição do princípio da incerteza,
diz, embora não desconfie que sua metáfora tenha valor real, ontológico:
Imagine que você está segurando a ponta de uma
corda muito longa e produz uma onda ao chacoalhá-la para cima e para baixo
ritmicamente. Se alguém perguntar “onde precisamente está a onda?” você vai
achar que a pessoa é meio louca: a onda não está precisamente em lugar nenhum.
Ela está distribuída por 45 m ou mais. Mas se essa pessoa perguntar qual o
cumprimento de onda, você poderia dar uma resposta razoável. Algo em torno de 7
m. por outro lado, se você der um safanão na corda, terá um impulso
relativamente estreito passando pela corda.
Enfim,
espaço é matéria que decaiu – e matéria é espaço concentrado. Talvez, o espaço
contínuo visto de modo amplo, tenha modo de linhas de espaço visto em
específico. O “em lugar nenhum”, na verdade, trata-se do próprio lugar, o
espaço!
21. O que é
a gravidade
Como
gambiarra teórica, Newton afirmou que a gravidade era uma força, força
atrativa. Depois, Einstein demonstrou que ela é uma curvatura do tecido
espaço-tempo, não uma força. Usa-se a metáfora do tecido real que se dobra
diante da massa-peso de uma esfera. Tal visão é útil, facilita a compreensão,
mas leva também ao erro. Dela, deveria-se deduzir que o planeta está
“mergulhado” no tecido espaço-tempo ao seu redor, por todos os cantos – veja
bem: isso significa que a massa-energia atrai o próprio espaço-tempo, ou seja,
voltamos ao conceito de força! Como resolver isso? O problema se explica porque
cada átomo do planeta ou estrela não apenas curva o espaço-tempo, mas é o
próprio espaço tempo curvado, para dentro de si, na forma de partícula, o que
deforma, ao concentrar, o tecido em sua volta. Se isso está correto,
conseguiu-se o mais difícil, aparentemente improvável até aqui: ir além do
próprio Einstein, após ir além de Newton. Um adendo: as pesquisas atuais dizem
de exoplanetas, planetas em outros sistemas solares, que não possuem a
gravidade esperada para seus perfis (!), não se diferenciando tanto da Terra,
por exemplo, apesar da variação de massa – isso pode ser uma pista de nossa
nova teoria, hipótese na verdade, da gravidade, que não apenas nega, mas guarda
e ao mesmo tempo supera a de Einstein. Caso, um hipotético tipo de resposta e
solução, as partículas do núcleo do planeta não sejam tão pesadas, menos espaço
concentrado, afeta a gravitação de tais partículas e corpos gerais.
Façamos uma
recapitulação breve de algumas ideias para fazer a dedução devida. Vimos: 1)
espaço é matéria, espaço-matéria; 2) tudo, partículas, é espaço condensado; 3)
as partículas atraem as outras por serem espaço condensado; 4) as partículas
repelem as outras por serem também espaço condensado, formando um campo de
espaço próximo; 5) assim, todas as “forças” são a mesma força, a gravidade.
Isso significa que a constrangedora semelhança desses dois cálculos clássicos,
da gravidade e da carga, no macro e no micro, na verdade é uma consciência
real, expõe uma igualdade real, a mesmidade. Vejamos:
Ora, isso é
a teoria de tudo! Façamos apenas dois comentários, adendos possíveis. Um: o
campo elétrico e magnético são curvos se vistos de modo amplo porque o espaço é
curvo perto da partícula, porque esta é espaço condensado – logo gravidade,
mesmo que sob outra forma (as linha da campo são espaço, mesmo se condensado).
Dois: para nós, o espaço é contínuo, não discreto; mas talvez ele tenha a forma
de linha de campo, assim, por exemplo, discreto num rumo, como da esquerda para
direita, dividindo espaço com outras linhas de campo espacial ao lado e colado,
mas contínuo em outros sentidos e direções, exato por ser linha[21]
(a esperança é que isso seja uma pista para o problema quântico de por que a
partícula prefere o desvio para direita, direção do movimento “hiperleve” da
linha de campo, linha de espaço, ainda que condensado, além do emaranhamento
quântico já citado e proposto – temos, assim, duas possíveis evidências
indiretas de linhas espaciais; grosso modo, a terceira pode ser a fenda dupla,
pois não há de todo e de fato partícula, e sim uma linha de espaço com “ponta”,
que é afetada pela segunda fenda, ondulando-se, partícula-onda, nem partícula
nem onda).[22]
Daí semelhanças “apenas” matemáticas curiosas como m.a = |q|.E , isto é, massa
vezes a aceleração (ou, também, gravidade, m.g) é igual à carga vezes o campo.
O campo acelera, a massa é a carga – e o que mais possa ser deduzido.
22.
Orbitação do elétron
A teoria
planetária do átomo põe o próton no centro com elétrons particulares orbitando
o pesado núcleo. Demonstramos que isso é mais do que metáfora, na gravidade
como “força” única ou curvatura do espaço, mas a física quântica diz não saber
de fato o que o corre e substitui pelo abstrato e não real em si “nuvem de
probabilidade” de um elétron estar aqui ou ali. Mantendo em pé a visão
planetária da partícula elétron; podemos supor, em filosofia experimental, que
a nuvem é de fato uma “nuvem” com o elétron colapsando em campo próximo (e/ou
onda circular-esférica – na camada certa), em movimento, desigualmente
distribuído e quase espaço; assim, ele engloba o núcleo e, se afetado por um
fóton, colapsa-se em – retorna à forma de – partícula por brevíssimo momento. O
eléttron não cai no núcleo, por atração, porque ele colapsa para fora de si,
não para dentro em forma de partícula, ou seja, envolve como um “campo” e
envelopa o núcleo atômico. Se um fóton o acerta, ele colapsa em partícula
acima, elevada, para depois retornar ao seu estado nuclear como “campo” a
envolver. Enfim: o elétron não perde energia em seu momento-movimento porque,
grosso modo, ele não se movimenta!
23. Quantificação
(quantum) – e espaço
A energia ou
o fóton existe de modo quantificado, expresso em números inteiros (1, 2, 3…).
Por quê? Não se sabe. Mas a matéria ser espaço e linhas de espaço poderia
explicar? O capítulo sobre “Modos”, das Lições de física de Feynman, dá-nos a
pista: “[em ondas confinadas] … uma corda tem a propriedade que ela pode ter
movimentos senoidais, mas apenas em
certas frequências.” (Destaque meu e do original.) Algo semelhante ocorrem
nas linhas espaciais, embora isso deva ser melhor quantificado e qualificado.
Vejamos por
outro ângulo, que é o mesmo. As relações de quantização são por números
inteiros (1, 2, 3, 4…) por causa do fato oculto de que são discretos feitos de…
discretos. Cada “coisa” agrega em si certa quantidade de “um” concreto,
portanto, trata-se de um “muitos” (assim como 2 é feito de dois 1, uns). As
coisas são feitas de partículas fundamentais, sejam neutrinos ou fótons, ou
ambos (no máximo, ou seja, no mínimo, partículas de espaço). Um fóton discreto
de medida 2 pode muito bem ser feito de dois fótons unidos; assim, 3, 4.... O
composto feito de simples.
24. O que é
massa
A matéria é
espaço concentrado – matéria é concentração de elementos mais simples (elétron
é feito de luz, quark é feito de elétron etc. – por isso cada tipo de elétron
tem seu tipo de neutrino, este provavelmente compõe aquele). A massa é uma
propriedade da matéria, mas a matéria também é sua própria massa. Como a
partícula é espaço concentrado (não por exato, em si, matéria), o fio – linha –
de espaço é mais “gordo” em certo ponto, afastando ao redor de si as demais
linhas de espaço (que também, por isso, resistem mais ao movimento daquele).
Daí a resistência à mudança, daí ter massa etc. O fóton, por ser linha de
espaço condensado, também tem massa, mas irrisória, sendo massa o próprio
espaço concentrado. O fóton tem menos massa porque, sendo menos concentrado,
luta menos com o meio, com o espaço, com as linhas de espaço ao redor (por
isso, não há campo de higgs, por isso supostamente o fóton não interage com tal
suposto campo). A mesma atmosfera que causa resistência ao voo do pássaro
permite que ele voe; no nosso caso, pássaro e ar são, no fundo, um.
Por algum
tempo, perguntei-me porque espaço concentrado. Parecia um paradoxo: se espaço
concentra-se, logo, há poros nele, vazios, ou seja, um espaço do espaço, dentro
do espaço… Não faz sentido. Difícil mesmo considerando uma quarta dimensão. A
solução da charada: a concentração é, ou muito mais é, extensiva que intensiva,
um ponto concretado, um aglomerado de espaço num fio espacial, ao lado e dentro
de tantos outros fios (daí a resistência espacial ao movimento e sua
constância). Além disso, as partículas maiores podem ser feitas de partículas
menores, como elétrons de neutrinos e/ou fótons. A átomo único universo do
início de tudo continua sendo átomo único, o cosmos, mas muito mais rico dentro
de si, mantendo sua autounidade por linhas espaciais. Assim, a matéria formou
espaço, decai neste-nele.
Sem atrito
forte, meso e macro, não há porque parar, estacionar. À pergunta da causa do
movimento pelos antigos, os modernos respondem: e por que não? O que deveria
ser explicado é o repouso. Sem atrito, ondular-tensionar uma corda pode ter um
resultado de onda permanente, constante.
25.A teoria
de tudo
Vemos uma
teoria de tudo. Em resumo, tudo é espaço condensado, para dentro de si – o que
não significa que este é sempre o primeiro no tempo, embora seja primeiro por
sua simplicidade. Temos a igualdade e identidade na diferença de tudo:
movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= massa = luz = campo). Exigirá
um trabalho específico para quantificar tal equação qualitativa (testaremos
algo em seguida). Tudo é espaço-matéria (e luz), tudo = tudo. Conseguimos,
assim, colocar a gravidade, a relatividade, no micro, fundindo com o macro,
pois tudo é espaço concentrado. Temos a teoria unificada de campos, pois o
campo único unificado é, na verdade, apenas o espaço.
Vejamos uma
prova da relatividade, que massa é igual à energia. Quando um átomo decai,
libera partícula mais leve, com menor massa, do que a esperada ao mesmo tempo
em que sua velocidade, ou seja, sua energia, aumenta. Provou-se Einstein. Mas
por que isso ocorre? Podemos suprassumir, não superar, a teoria einsteana. A
massa, como propriedade da matéria (como a matéria sendo sua própria propriedade),
decai em espaço ou linhas de espaço-campo; logo, tal linha ganha “espaço”,
“aumenta”, o que faz com que a velocidade aumente também naquele ponto de
espaço condensado, agora menos condensado – a massa, assim, menos pode resistir
ao movimento. Tudo é espaço, ainda que condensado. Por outro lado: o espaço
(abstrato) deriva das partículas primordiais (concreto) que decaíram e decaem
(movimento) - o abstrato é o concreto em processo.
Nossa
hipótese natural de que tudo é espaço condensado, logo podendo ser linhas de
espaço, pode ser nomeado, para fins populares, teoria das hipercordas e a
teoria M – pois unifica criticamente as demais. O espaço é correntes, como a
teoria quântica em loop, mas não é; as partículas são cordas, como diz a teoria
das cordas, mas não é, pois as cordas-partículas, nem partículas nem ondas, são
pontas de cordas de espaço.
Ao que
parece, se não for um absurdo a formulação, que deriva os 25 pontos acima,
conseguimos unificar as soluções e os fenômenos do micro e do macro. Uma teoria
de tudo. A dificuldade é se tratar de um caminho feito de modo filosófico, não
matemático, por um físico amador. Se está correta, a crise da física, crise
esta quase nunca reconhecida pelos seus profissionais, está resolvida no geral.
Temos em torno de 100 anos de questões misteriosas pedindo solução, mas sem
respostas. Confiou-se no “sucesso” da mera descrição e do uso prático apenas. O
defeito era, em parte, confiar em demasia nos dados empíricos, nas aparências,
limitando-se a eles e, em parte, a baixa formação dialética dos cientistas.
Deixamos, no
entanto algumas questões auxiliares em aberto. Ei-las:
1)
O espaço é
contínuo? Ou linhas de espaço discretas-contínuas?
2)
As linhas de
espaço seriam não espaço, mas campos próprios?
O fato,
antes inesperado, de os físicos experimentais formarem entrelaçamento quântico
entre partículas não de mesma natureza, de natureza diferentes, serve como
evidência de que são linhas de espaço, não de campo específico.
3)
Como
explicar o paradoxo do gato de Schrödinger?
4)
Apenas buracos
negros grandes o bastante sugam espaço, tensionando o tecido? Os menores
produzem espaço-matéria escura, que decai em espaço-energia escura?
5)
As
partículas rompem com o tecido ou linha espacial ou são parte direta dela,
apenas relativamente autônomas?
Uma dose de
medição, empiria e especialização alta, incluso matemática avançada, serão
exigidos para provar, ao menos no geral, nossas premissas e conclusões. A ideia
geral, a igualdade de espaço e matéria-luz – aquele sendo este diluído, este
sendo aquele concentrado –, resiste em pé, correta, mesmo que leve a conclusões
diferentes, até opostas.
Vejamos um
caso, uma pista. Hawking teorizou que os buracos negros “suavam”, ou seja,
evaporavam por causa de efeitos quânticos perto do seu horizonte de eventos.
Tal radiação seria térmica. Mas, então, nessa forma, a informação seria
perdida, algo proibido por princípios da física quântica. Então cientistas
pensaram, para resolver tal contradição, que tal radiação seria como “pelos” do
buraco negro. Ora, tais “pelos” podem ser pista de que o buraco negro acumula
espaço ou campo em forma de linhas, seja absorvendo espaço, seja liberando-o
para o meio externo, ou seja, evaporando, produzindo espaço como matéria escura
que decai em energia escura, o espaço propriamente dito.
Vejamos
outro caso. Filamentos externos aos buracos negros, em espacial ao de nosso
centro de galáxia, podem ser a pista para fios de espaço ou campo, que estão a
sair ou a entrar em relação à estrela negra – algo a ser analisado por
hiperespecialistas. Mas nosso foco é outro. Vejamos. No seu Lições de Física,
Feynman destaca no capitulo 32 (amortecimento da radiação. Espalhamento da
luz), as seguinte citações, a primeira com certa mensagem inconsciente: “Em uma
resistência comum, a energia “perdida” vira calor; nesse acaso a energia
perdida vai para o espaço.” Mas as duas citações seguintes são mais
interessantes, pois demonstram um problema inconcluso na ciência: “Contra qual
força realizamos trabalho [no elétron isolado]? Essa é uma questão interessante
e muito difícil que nunca foi respondida completa e satisfatoriamente para
elétrons…” Se ainda soa confuso, oferecemos uma citação completa e
esclarecedora:
O problema no caso de um único elétron é que se
existe apenas uma carga, no que a força irá agir? Foi proposto, na velha teoria
clássica, que a carga era uma pequena bola, e que uma parte da carga agia na
outra parte. Por causa do atraso na ação através do minúsculo elétron, a força
não está exatamente em fase com o movimento. Isto é, se temos o elétron parado,
sabemos que “ação igual à reação”. Portanto, as várias forças internas são
iguais e não existe uma força resultante. Mas se os elétrons estão acelerando,
então por causa do atraso no tempo através dele, a força que está agindo na
frente devido à parte de trás não é exatamente a mesma que a força atrás devido
à frente, por causa do atraso no efeito. Esse atraso no tempo causa uma falta
de balanço, portanto, como efeito resultante, a coisa se segura por si só! Esse
modelo para a origem da resistência para acelerar, a resistência de radiação de
uma carga em movimento, tem encontrado muitas dificuldades, pois nossa visão
atual do elétron é que ele não é uma “pequena bola”; esse problema nunca foi
resolvido. Entretanto podemos calcular exatamente, é claro, o que força da
resistência de radiação precisa ser quando aceleramos uma carga, apesar de não
saber diretamente o mecanismo de como as forças funcionam.
A questão
toda é a seguinte: os físicos tomam a partícula como partícula – de todo
isolada, independente, tal como o homem moderno e contemporâneo na aparência. A
solução é ver a partícula como ponta, como parte do espaço e com ele
interligado. Daí a resistência. Resolvemos ou encaminhamos a solução de todos
os problemas centrais e interessantes da física atual; resta ver se problemas
como o motivo de ocorrer uma breve luz azul quando o açúcar é partido
(Triboluminescência) podem ser também solucionados.
A matéria
escura não interage com a luz porque ela é espaço, ainda que concentrado. E, em
nossa tese, espaço é transparente porque é o meio por onde flui a própria luz
(sendo luz e matéria espaço condensado). Temos duas hipóteses opostas, mas que
podem ser ambas verdadeiras: 1) o buraco negro, os menores em especial, produz
espaço, que tem velocidade acima da luz, logo vaza da estrela negra, o que
aparece como excesso de espaço, matéria escura (mas matéria é igual a espaço,
em nosso sistema); 2) os buracos negros, oposto, em especial os maiores, sugam
o tecido do espaço, gerando nele tensão, logo, energia, logo, gravidade, o que
aparece como matéria escura.
Nossa
teoria, espaço = matéria, como as demais, tentam unificar o micro e o macro.
Mas uma das diferenças e vantagens da nossa posição é que, de fato, respondemos
também os principais mistérios da cosmologia, da astrofísica, não apenas do
quântico.
SIMPLES,
COMPLEXO E COSMOS: UMA HIPÓTESE QUASE ARBITRÁRIA
Vai-se do
simples ao complexo e este pode, então, ir simplificando-se em seguida. É algo
fácil de ver hoje e deduzir. No começo, o cosmos era simpíssimo, homogêneo e
hipermicro que decaiu-se em partículas. Mas, do ponto de vista quântico,
pode-se ver outro caminho: o espaço (o mais simples) concentra-se no elemento
menos energético mais simples do Modelo Padrão (a Tabela Periódica de elementos
do mundo subatômico); depois, a união dos exemplares de tal elemento
hipersimples, acima do espaço, gera o elemento um pouco mais “pesado”, mais
energético, mais material com novas propriedades. Mas diz-se que tais elementos
(elétrons, neutrinos, fótons etc.) seriam elementares, indivisíveis (já
demonstramos que decaem em espaço); de qualquer modo, um elétron que perde
energia libera um antineutrino, por exemplo. Não tenho nenhuma prova empírica,
sequer indireta, de tal hipótese – logo ela talvez possa ser abandonada sem
mais (mas um aviso: há o fenômeno de um fóton energético, por ex., no lugar de
voltar a ser elétron e antielétron, acumular supostas “partículas de espaço” e
ir, progressivamente, tornando-se, de modo instável e momentâneo, materiais
cada vez mais pesados e alguns ditos elementares). A teoria do Big Bang – cujo
precursor é a relação uno-múltiplo de Hegel em sua Lógica – continua imbatível
e recheada de provas. Uma muito mais hipotética unidade de ambos – teoria e
hipótese – seria o fenômeno hipotetizado logo após o encontro da matéria e
antimatéria no início de tudo, encontro que teria gerado o colapso em forma de
energia (raios gama). (Ironia: seríamos, no fundo do fundo, luz, tal como dizem
os jovens místicos de classe média… De certa forma, por linhas de espaço e onda
de luz, tudo é vibração…) Diz-se que a luz em seu estado mais “pesado”
encontraria um suposto limite em sua transformação, ou seja, dali não passa… Mas,
penso, sob certas circunstâncias, contextos, tal eletromagnetismo, tal onda,
torna-se mais partícula mais que apenas onda. O sinal entre ser partícula e ser
onda inverte-se. Assim, se a hipótese está correta, como dedução de prova
indireta, o elétron lança e absorve fótons porque, no íntimo, ele é feito de
fótons – de luz! Talvez aí haja uma interpretação de fundo da unidade do
eletromagnetismo com a luz. O composto (ou o mais elevando) é formado pelos simples e o simples, como o
fóton, apresenta-se como o mais abstrato e o mais abundante. Se o elétron é
feito de luz (mais acima, de neutrinos e antineutrinos)[23],
então os quarks são feitos de elétrons (de modo indireto, portanto, de luz[24])
já que podem decair e lançar este último em seu decaimento. É-se, em final
instância, aquilo em que se decai.
Se falarmos
em provas, diretas e indiretas, façamos duas listas.
Provas
ontológicas (empíricas):
1.
Elétrons
absorvem e expelem fótons – o que indica ser aqueles feitos destes
2.
Nada impede
em si que, em certos contextos, raios gamas tornem-se mais partículas
3.
Fótons
energizados podem tornar-se outros materiais
4.
Ao que
parece, a coisa é feita, no fundo, pelo que libera ou decai-se
Provas gnosiológicas:
1.
Vai-se do
simples ao complexo
2.
O mais
elevado tem o menos elevado dentro de si, forma-o
3.
O mais
simples, geral e abstrato costuma ser a fonte, quando “aglutinado”, dos demais
4.
A proposta é
a única teoria completa e unificada (como o espaço-matéria)
5.
A nova
qualidade externa vem da mera mudança de quantidade interna
Usou-se da
generalização dedutiva.
Pensava-se
que a Tabela Periódica, das partículas atômicas, era um tapete, apenas um
elemento ao lado do outro, sem progressão, fusão ou desenvolvimento. Hoje,
sabe-se o oposto. Agora, proponho o mesmo, grosso modo, para o Modelo Padrão,
das partículas subatômicas.
Temos a
santíssima trindade material: espaço, matéria e luz. Assim, o espaço é matéria
por meio da luz. Matéria é luz concentrada; do elemento simples (luz) ao
complexo por fusão.
Na
dialética, o mediador, a mediação, não tem conteúdo próprio, um nada em si; seu
conteúdo é o conteúdo apenas dos opostos dos quais ele é a mediação. Então, do
ponto de vista lógico, a luz é em si um conteúdo interno dos elétrons, por
exemplo, sendo o fóton (ou fóton virtual) o bóson mediador de dois elétrons em
relação recíproca, segundo hipótese da teoria quântica de campos.
Por um vício
antididático, diz-se que o encontro de matéria e antimatéria, por exemplo,
resulta em energia, em energia, não se diz que é em raios gamas, luz, fótons,
ondas. Pois bem; nossa teoria de que o cosmos é “energia em busca de mais
energia” seria traduzido, por mediação, como fóton (ou neutrino) em busca de
mais de si, de mais fótons[25].
Quero
deixar, então, um destaque. A força de repulsão do próton (entre dois) é,
grosso modo, igual à força de repulsão do elétron (entre dois). Como objetos
completamente diferentes são, nisso, iguais? Resposta: não são diferentes, são
iguais, pois o próton é ou feito de elétrons e/ou feito do mesmo material do
elétron (espaço, fótons ou neutrinos). Antes pensei que um é mais campo que
partícula e o outro mais partícula que campo – mas isso não parece se
sustentar. O conteúdo de fundo tem uma resposta melhor. Eis outra prova empírica.
EINSTEIN E O
TEMPO ONTOLÓGICO
Adoto todas
as conclusões e premissas de Einstein, menos a ideia de que o tempo é relativo,
ou seja, que ele de fato existe. Tempo é espaço em movimento (t=s/v), e matéria
é espaço concentrado; logo, o que existe é espaço-movimento. A premissa
einsteana de que a velocidade da luz no vácuo é constante é verdadeira, podendo
a constante mudar em outros tempos; mas a segunda premissa, de que as leis da
física são iguais se parados ou em movimento constante cai em erro. Velocidade
e aceleração são o mesmo, têm identidade interna (v=a.t); idealmente, a
aceleração pode ser decomposta em velocidades instantâneas. Assim, o corpo
diminui e a massa aumenta se aumenta a velocidade, mas o tempo é geral,
abstrato e absoluto – expressão indireta da quarta dimensão espacial.
Reforçamos: a coisa é apenas em seu movimento; se deixa de mover-se, deixa de
existir, desmancha-se; logo, mais movimento, mais velocidade – mais
preserva-se, mais é-se como por mais tempo. Se espaço e matéria são objetos de
todo diferentes, apenas com relação externa, então o tempo existe; mas se
espaço e matéria são o mesmo, no fundo, então um altera o outro e vice-versa, e
o tempo é apenas medida. C.Q.P.
Reforço: exceção
do tempo em si, toda teoria de Einstein é afirmada e reafirmada, ma(i)s
aprofundada ao máximo, como a ideia de que a matéria é espaço concentrado, não
apenas o curva.
UM CASO
Poucos dias
antes deste texto, a análise da galáxia NGC 1277 demonstrou que ela não tinha
matéria escura, ao menos não no esperado pelos modelos. Ora, na astronomia
certa medida apressada foi, várias vezes, superada, o que encerrava polêmicas.
Mas suporemos que não é o caso, de fato há escassez de matéria escura na
galáxia. Só o meu modelo, grosso modo, pode explicar isso. Se matéria é espaço
concentrado; se matéria, como buracos negros, concentram espaço e produzem, por
isso, gravidade extra como matéria escura; tal concentração pode eventualmente
transformar matéria escura, aparência de, em partículas como neutrinos, ou
seja, em matéria comum bariônica (similar e análogo estranho da radiação
Hawking). É uma das respostas possíveis desde o modelo novo. Deve-se, antes,
ver as propriedades da galáxia em questão para saber se alguma particularidade
seria base da diferença, da anormalidade – por exemplo, se é uma galáxia
antiguíssima e isolada, poderia seu buraco negro central evaporado muito,
consumido pouco, logo, menos espaço sugar para si, o que não produziria a
aparência de matéria escura, por pressão menor? Fato é que tanto o modelo
majoritário quanto as alternativas anteriores à apresentada aqui passam longe
de responder a questão.
FIM DA
CATEGORIA “FORÇA”
A categoria
força chegou ao seu fim, mesmo por meio de suas partículas mediadoras. Vamos
resumir o que dissemos acima de modo fragmentado.
1.
Sabe-se que
gravidade não é força – e não há partícula gráviton
2.
A “força”
nuclear forte, que mantém o núcleo atômico coeso, é espaço concentrado,
gravidade, na forma de partículas (espaciais)
3.
A força
nuclear fraca, de repulsão do núcleo, ocorre porque a força nuclear forte
falha, tem limites, e o espaço concentrado, sendo atração, também é repulsão
relativa – resultado da gravidade
4.
Elétrons e
prótons, como espaços concentrados, são repulsivos com os iguais e atrativos
com os opostos, pois eles são partes inteiras em si de algo inteiro e neutro
(nêutron), por isso, encaixam-se os opostos, deslizam uns nos outros, mas não
encaixam com os iguais – como espaço concentrado, atraem, mas, como pedaços
inteiros por si, repelem relativamente os semelhantes – além disso, o elétron
não cai dentro próton por este (e aquele) ser, por exato, espaço concentrado,
logo, com barreira e limite relativos.
Aí está:
unificamos a gravidade com as demais “forças”. Porque não são de fato forças
naturais. A força mais fictícia, no caso, trata-se da nuclear fraca, mera
consequência da forte. Isso torna duvidosas a função, a importância e a
existência dos mediadores (bósons), ao menos nestes contextos.
Tal posição
quebra a física atual, a de campos em destaque, e vai contra provas empíricas
parciais. Não seria a primeira vez na história da ciência. Nenhuma teoria até
agora, exceto a nossa, explica, ainda que não matematicamente, mas no
qualitativo, tão ampla gama de questões, algumas sequer levantadas, como o fato
de o elétron não cair no próton. Isso tem importância máxima. Os teóricos agem
de modo viciado, quer seja, apresentam uma hipótese ou tese e, então,
apresentam todas as suas provas e pistas empíricas que a validam – mas, de um
modo ou outro, diminuem o papel daquilo que não cabe, que está por fora etc. Ao
apoiarem uma teoria, deixa-se até de expor nos manuais os casos desencaixados
(ou apresentam tautologias ou misturam fatos e hipóteses). A lei da gravitação
estaria certa, apesar dos imensos pesares… A teoria quântica de campos, mesmo
quando imensamente adaptada, necessita dos grávitons, que, ao que parece, não
existem. Mas ignora-se isso em nome daquilo em que parece acertar, em que os
fatos parecem fortalecer o modelo. Nossa teoria, ao contrário, responde todas
as questões ou tem potencial, de fato, de responder qualquer lacuna. Temos,
portanto, de atacar a teoria da moda e mais vitoriosa até o momento. A física
teórica, no lugar de ver a simplicidade interna na conexão dos conceitos
objetivos existentes, foi preenchendo a realidade com conceitos, “cores” etc.
mal explicados; a coisa tornou-se uma bagunça e um enigma aparentemente
impossível de desvendar. Tornou-se necessário um novo paradigma que
simplificasse a visão total e unificasse o todo, macro e micro.
Neste
ensaio, torna-se necessário dizer mais de uma vez: se minha teoria física –
pois a metafísica já é estável e demonstrada correta – for confirmada no geral,
mesmo se com todo tipo de inicial resistência, então a dialética entrará na
moda intelectual; se, ao contrário, estiver tudo ou quase tudo errado, a
dialética permanecerá marginal, até mesmo ainda mais marginalizada como se fosse
algo inútil. Infelizmente, após 15 anos de pesquisa dedicada, cheguei a um
esgotamento pessoal intelectual, o que me impede de aprofundar ainda mais na
física. Diante disso, disponho mais teses gerais e iniciais para avaliação jugando ser tal atitude arriscada melhor que o
segredo das deduções entre meus esboços.
FORÇA DE
NOSSA TEORIA
Nossa
formulação, como teoria de tudo, é a melhor em termos de simplicidade
(ontológica e gnosiológica, incluso menos conceitos) e por a quantidade enorme
de fenômenos explicados (potencialmente todos). Tem-se, por exemplo, o
problema: quase um terço da matéria esperada no universo não foi encontrada –
aonde, então, está? Se espaço e matéria são o mesmo, no fundo, talvez pelo
menos uma parte dela tenha se tornado espaço universal. Outro problema, já
tratado: aonde estão os buracos negros intermediários, nem pequenos nem
grandes, que derivam ser tão abundantes? Ora, eles, estrelas negras, sugam
espaço, crescendo com rapidez. Uma onda reduz seu comprimento ao se aproximar de
um corpo massivo por causa da gravidade, da curvatura maior do espaço e, logo,
do fato de o próprio espaço estar mais concentrado.
O CALCANHAR
DE AQUILES DA TEORIA DO BIG BANG
A teoria
errada de Newton, mas ainda útil para fins práticos (matemáticos de nossa
escala), obteve várias provas de sua validade, exceto algo ou outro fora da
norma. Depois, descobrimos que as anormalidades apontavam para algo bastante
novo, uma revolução (relatividade geral, uma refutação da física clássica).
Bem; penso que não é o caso da teoria do Big Bang, ela está correta; mas também
tem um nó pesado: era para surgir a mesma quantidade de matéria e antimatéria
no universo – e era para elas, sendo opsostas, atraírem-se e aniquilarem-se
mutualmente!
Os físicos
erraram no raciocínio, penso. Deduziram idealmente, não desde a matéria, assim:
1) a matéria e a antimatéria deveriam ter se aniquilado de todo, 2) mas a
matéria existe, nós existimos 3) logo, não houve o encontro de matéria e
antimatéria! Quem disse? De fato, houve – eis minha aposta. Mas os teóricos
abraçaram tais deduções artificiais como verdade sem mais e prontas, repetidas
até a náusea, até ser parte do inconsciente acadêmico como premissa absoluta.
Daí tentaram explicar o inexplicável, quer seja, como foi evitado o grande
encontro energético. Procurou-se, por exemplo, alguma diferença entre matéria e
antimatéria que justificasse existir apenas uma delas diante de nós e em nós –
não encontramos. Refutação da teoria? um fosso? Não tão rápido. O que o
pensamento formal, treinado na matemática, deixou de ver é que a luz, energia,
surgida de tal encontro explosivo pode ter sido o material (junto ao espaço de
fundo) para formação posterior, sob certas condições, das partículas
elementares! Aí está! Os fótons de raios gama concentrados, associação e
conflito, fizeram as novas partículas!
Outra lacuna
oculta da teoria do Big Bang é como o espaço tem se expandido desde o começo.
Só existia matéria! De onde vem mais-espaço, portanto? Ora, se matéria e luz
são espaço (condensado), eles dacaem em espaço. Até se eles esfriam, ou seja,
diminuem o movimento, ou seja, concentram-se menos, produzem novo espaço,
talvez linhas de espaço que os interligam de modo rasteiro, como no
emaranhamento quântico.
O possível
erro científico é considerar as coisas como qualitativamente completamente
diferentes, sem interpenetração, sem desenvolvimento, sem unidade oculta
interna, sem salto de qualidade, sem contradição real. Vejamos o tunelamento
quântico apenas para clarear nosso argumento lateral. Para o público e para si
(!), o cientista usa a metáfora: joga-se uma bola na parede, logo, claro, a
bola não deve atravessar tal muro; ora, na quântica, a bola atravessa, mesmo
(!); mas quem disse que a “parede” (mesmo oferecendo resistência por ser o que
de fato é) não pode tornar-se, por pressão etc., a própria “nova” “bola” do
outro lado, logo, “atravessando”? Pensar de modo dialético materialista é quase
uma obrigação. É evidente que minha tese sobre o tunelamento pode estar errada,
mas é apenas para servir de exemplo cristalino. Até aqui, a “bola” e a “parede”
são consideradas, na prática, “intocáveis”, não intercambiáveis, não
transformáveis.
Salvamos a
teoria, resolvemos seu defeito fundamental. Mas, para isso, já deduzindo a
teoria de tudo, devemos aceitar que a luz é a base da matéria (com conteúdo,
com massa). E a luz surge da própria flutuação do espaço (embora não no tempo e
em primeiro), pois matéria e luz são espaço concentrado. A luz (diz-se:
energia) que surgiu no grande encontro dos opostos de algum modo colidiu e
reuniu-se, uns com os outros, luz com a luz, formando a matéria, ou seja, o
material de nível acima (das partículas fundamentais mais abstratas e simples
surgiram, por fusão e aglutinação, as mais concretas e complexas).
Tudo é Luz –
Tudo é Espaço – Tudo é Matéria.
CRISE DA
FÍSICA MODERNA
A física
moderna iniciou como crise da física clássica, mas ela mesma está incompleta e recheada
de contradições. Pela sua duração e por usos práticos e técnicos da mera
descrição, os físicos evitam tratar o problema de modo direto ou reconhecê-lo.
A grande quantidade de interpretações da quântica revela o limite, que algo
está por faltar. Mas tratam-se absurdos empíricos e teóricos com toda
normalidade.
Os físicos
teóricos nada mais são do que bons filósofos contemporâneos: eles filosofam com
a ajuda de ferramentas, como a matemática avançada e as medidas, ausentes aos
filósofos gregos. Mas, às vezes, perdem a mão, a proporção da realidade – a
idealidade afasta-se em demasia da matéria em sua autonomia relativa.
Aparece um
subjetivismo e relativismo que fere o necessário materialismo. Chega-se ao
ponto de afirmar que é o observador quem faz a realidade ser tal como é. Mas
parte-se de problemas concretos. Por exemplo: se uma partícula está se movendo
para cima e para baixo, como um pêndulo, um observador parado vê um campo
surgir e manter-se – no entanto, um observador na mesma velocidade que a partícula
nada vê. Ninguém explica o motivo. Como pode ocorrer isso? Parece que o real
depende do ponto de vista, da vista de um ponto, e ela seria uma para cada um.
Nossa resposta, contra tal relativismo subjetivista: o observador em movimento
adentra mais e um tanto claro na quarta dimensão, tal como a partícula, por
isso, nada observa; já um aparentemente e relativamente parado, está como se
numa “frequência” de dimensão quarta diferente, logo algo observa, uma
diferença. A ideia de que há uma quarta dimensão espacial revolve esta e
inúmeras outras questões, por dedução, como veremos ao longo deste ensaio e em
capítulo específico.
No capítulo
anterior, resolvemos, ao menos de modo geral e inicial, todos os problemas
conhecidos ou não reconhecidos centrais da física. Quero dar um ponto final
nessa terna em disputa. No século XIX, pensava-se que havia poucos e breves
problemas na física, mas que quase tudo estava resolvido, com ponto final.
Esses “poucos e breves problemas” geraram uma revolução completa na ciência e
na forma de ver o mundo. Mas uma questão: um avanço científico pode também
impedir, por suas concepções parciais, o próprio avanço do pensamento. Ainda há
muito a resolver, temos mistérios.
Um caso para
ilustrar o fim do parágrafo anterior. Adoto toda a teoria de Einstein como
correta, mas ampliando ou adaptando um ponto ou outro, negando quase nada. Mas
ele usa um exemplo popular: para um observador num trem, dois raios caindo em
duas torres distantes ao mesmo tempo aparecem como em tempos diferentes para
ele, primeiro um e depois o outro cai; já para um observado entre as duas
torres e parado, acontece a queda dos raios ao mesmo tempo. Daí a relatividade.
Ora, a verdade é o todo – há referencial prioritário, menos relativo: se
colocamos detectores em ambas as torres, com o mesmo tempo de contagem, os
raios de fato cairão ao mesmo tempo! Ou seja, o observador parado entre as
torres terá razão – por quê? Porque ele está na mesma velocidade, da Terra, em
relação às torres (velocidade e aceleração, sendo diferentes, são o mesmo, por
isso afirmo que velocidades diferentes constantes mudam as leis da física, como
demonstrei em parágrafo anterior). Por outro lado, diz Einstein, se estamos
dentro de um elevador fechado, que se rompe ou algo do tipo, não sabemos se
estamos caindo ou sem gravidade. Mas pelo todo podemos saber – se gravidade e
aceleração são mesmo, mesmo assim, eles ainda são diferentes, ainda que com
igual efeito, ou seja, causas imediatas, mesmo se não de fundo, diferentes. Ele
cai em certo relativismo e subjetivismo da experiência, mas a teoria, a
reflexão, pode superar a empiria imediata, aquilo angular.
Por mais de
mil anos, a ideia de ímpeto de Aristóteles imperou contra o óbvio. O grego
afirmou que uma pedra ou bola lançada numa trajetória de arco avança até perder
seu impulso, então, caindo de modo reto, não mais em arco. Sabemos que isso é
falso, mas ninguém contestou. Ora, dizer que um ou outro observador está em
movimento é uma falsidade completa, não é relativo; ou eu no trem está em
movimento e a árvore fora do transporte está parada, ou o contrário, a árvore
em movimento e eu parado no trem… em movimento… É claro que a árvore está
parada e o observador no trem está em movimento, relativamente relativo; da
relação entre ambos, abstraindo o movimento terrestre etc., um está de fato
parado e outro de fato em deslocamento – sem mais. Mas se diz o oposto. Não é
algo de todo relativo e dependente apenas do ponto de vista, do observador; um
erro evidente que é piada entre alunos adolescentes, porém que partiu do
individualismo capitalista, de seu atomismo do ponto de vista particular contra
o mundo, contra a sociedade.
Seja pela
quarta dimensão, seja pelas linhas espaço, seja pela identidade de espaço e
matéria, seja pela explicação da causa do movimento etc. temos, enfim, uma
resposta sistemática e materialista.
FÍSICA
QUÂNTICA E DIALÉTICA
Já há algum
tempo, tem-se o instinto de tentar relacionar física quântica e a dialética
marxista. Porém, ambos, até esta obra ao menos, estavam incompletos: a Lógica
de Hegel ainda não havia sido positivamente superada. Antes disso, todo
trabalho seria incompleto e recheado de falhas. Ainda assim, nenhuma unificação
textual delas estaria garantida a priori.
Os
comunistas e os marxistas – e por isso, dialéticos instintivos – Einstein e
Born eram contra as conclusões da física quântica. Born sentiu a necessidade de
estudar a dialética de Hegel para fundamentar suas discordâncias e expor sua
própria interpretação. Não é por acaso que eles tenham tomado tal postura tão
incomum em suas épocas. A mecânica quântica defendida por Bohr, contra a
vontade deles, tornou-se obrigatória no meio universitário a tal ponto que um
pesquisador que discordasse de um vírgula da interpretação dominante tinha a
carreira encerrada de maneira prematura. Assim, os dois físicos citados,
nadaram contra a maré – defenderam, por exemplo e centralmente, que a
causalidade permanece no mundo quântico. Para eles, a realidade não era
probabilística, mas causal, mas nossos limites é que fazem parecer “não
determinística” a realidade.
Para Born, a
intepretação dominante é mecanicista, mas de um mecanicismo indeterminado, sem
causalidade. Portanto, novo mecanicismo, oposto unilateral e impressionista ao
antigo. O acaso, para ele, quando vemos de modo mais amplo, expressa uma causa
oculta, determinada – acaso e causa, opostos, são o mesmo, no fundo. O
determinismo, as suas diferentes formas, não percebe contradição, saltos
qualitativos, organicidade, que o todo é mais que a mera soma das partes etc.
Para
Einstein, a física quântica – que ele ajudou a fundar – está correta, mas
incompleta. Há, pois, fatores ocultos ainda não descobertos na realidade. Apoio
a posição do mestre, mas ele erra, por exemplo, quando considera, tal como
todos até hoje, a partícula como partícula, como algo pontual, ou seja, isolado
em si mesmo (mais uma vez, como o indivíduo autocentrado capitalista). Foi
provado, contra o alemão, que o emaranhamento quântico instantâneo existe, ou
seja, a informação pode viajar, sim, mais rápido que a velocidade inalcançável
da luz! Então, qual a solução? Uma linha de espaço ou campo unifica as duas
partículas-ondas, que são pontas ou concentrações de tais linhas (lembremos de
nota lateral, ademais, que o espaço é mais rápido que a luz, e acelera). Assim,
tudo se conecta. Se a linha gira, ambas as partículas giram ao mesmo tempo e
juntas, ou mais rápido que a luz, assumindo posições opostas.
A física
quântica soa mágica e irracional porque ela é, mesmo. Seus mistérios avisam que
ainda não alcançamos a verdade, a teoria final. Isso demonstra a mais de uma
dúzia de interpretações alternativas, incluso a teoria absurda dos muitos
mundos (multiverso). Um dos problemas das teorias sobre é este: não criticam os
pressupostos e a própria empiria. Todo fato isolado é um fato e um falso. Quem
disse que a realidade é formada por partículas apenas isoladas, senhoras de si
e autossuficientes? Sobre o caos, podemos supor: o todo, a totalidade, pode ser
determinista; mas, dentro dele, nas partes e singularidades, ocorre o caos, o
acaso, o não padrão, ao menos no nível matemático e gnosiológico; que, no
entanto, no geral, empurra para a lei, para um rumo. Einstein, de maneira
crítica à teoria majoritária, chegou a supor que uma onda está associada à partícula
(na fenda dupla etc.), mas deixa de ver que tal onda é algo, uma linha espacial
ou de campo. Foi assim que ele ganhou o ódio discreto de muitos cientistas.
A
intepretação oficial da física quântica é, por isso, positivista, da pior
maneira de fazer ciência. Por isso, está incompleta – tem muito a deduzir, o
não empírico do empírico – e aparece de modo enlouquecido. Os menos rebeldes
dizem que “é assim mesmo, outro mundo, impossível de traduzir na nossa escala”.
Assim, escapam do constrangimento, da resposta correta e do esforço necessário.
Os físicos apenas apanharam os padrões, por mais absurdos que fossem, e os
descreveram e os matematizaram – e somente. Ficam presos à empiria, à aparência
e ao externo, ou seja, mera descrição. Mas a mera descrição já é errar, tem uma
concepção oculta sendo defendida. O método correto e melhor para física
quântica é, grosso modo, empírico-dedutivo, dialético, partir da empiria (sem
pressupostos ou premissas, até criticando-os) para interpretar, incluso, o erro
da mera empiria.
As
tentativas de relacionar dialética e quântica ainda falham porque esta ainda
está por se resolver. Mas são ousadias louváveis. Por exemplo: a luz é
partícula ou onda? É ora um e ora outro! Pura dialética, ainda que parcial.
Mas, no uso da dialética, concluo que a partícula está associada a uma linha de
espaço ou campo, sendo uma “onda” concentrada de tal linha; portanto, outro
modo de resolver a oposição. Se minha interpretação da física estiver, no
geral, correta, a dialética ganhará imenso prestígio. Se estiver, no entanto,
errada no fundamental, ao contrário, permanecerá vanguardista e marginal. Nesse
caso, talvez apenas a revolução salvará o avanço da ciência.
Que a paixão
causada pela física quântica com suas magias atraia jovens inteligentes e
ousados, dispostos a resolver os enigmas de nosso tempo. A tentativa prematura
de unir dialética e quântica parte do fato de que ambas são razões lógicas
quase enlouquecidas. Mas a dialética tem muito ainda a ajudar e precisa
atualizar-se. Quando apresento minhas teses aos físicos, costumam responder
“você está sendo dúbio”, “você está sendo impreciso”, “você está sendo
ambíguo”; por estudarem apenas matemática, criam vícios, deixam de perceber que
a “ambiguidade” é da realidade, não em primeiro do pensamento, que apenas
expressa aquela.
HEGEL: PAI
DA TEORIA DO BIG BANG
Esta tese,
exposta no título, apresenta-se ousada; porém, estava sempre diante de nós. Na
sua metafísica lógica, Ciência da Lógica, Hegel ofereceu a base de sua
cosmologia, cujo movimento se repete no concreto de outras modalidades do Ser
(ser biológico e ser social). Vejamos, passo a passo.
A TEORIA
A teoria da
grande expansão (não se sabe sua causa) afirma que tudo no universo estava
concentrado em um só ponto menor que um átomo. De onde veio tal átomo
primordial, evita-se perguntar (Hegel responderá). O espaço expandiu-se por
algum misterioso motivo (também respondido por Hegel, mas minha resposta é mais
completa) e a matéria decaiu-se em partículas menores, cada vez menores. Em
certo ponto, a quantidade igual e nova de matéria e antimatéria deveria forçar
uma atração entre elas e se aniquilarem em luz – mas, segundo os físicos, de
modo mágico, não aconteceu tal encontro e, ainda, só temos matéria praticamente,
sem antimatéria no cosmos… Com o esfriamento do universo, formaram-se átomos,
por atração, por união de prótons e elétrons. O encontro de partículas formou
estrelas, que produzem átomos mais pesados.
HEGEL
Hegel afirma
que o infinito cósmico, único existente, algo como um círculo, sem começo nem
fim, desaba, colapsa, no “um” ou “uno”. É o início de tudo. Tal um, em relação
com o vazio (sendo o próprio vazio, podendo ser o vazio o espaço),
fragmentou-se nos “muitos”, nos vários “unos”. Ai, na Lógica do Ser, já vemos a
teoria do Big Bang. Tal movimento do uno para os muitos ocorre em toda a
realidade, mas ele tinha em mente o universo, como veremos.
O segundo
movimento, após a repulsão do “um” em “muitos”, está na atração: os muitos
unem-se em um “um”. Mais: o “um” por tal reunir formado é produtivo. Assim,
temos as estrelas, que produzem novos uns, ou seja, novos elementos químicos,
novos fótons, novos neutrinos.
Então há o
movimento eternizante de o um colapsar em muitos – os muitos unirem-se em um etc.
Está lá, na Ciência da Lógica.
De modo
abstrato, “um” ou “uno” no lugar de átomo, Hegel é o pai real da teoria
(lembremos que na sua época a química e a física de partículas eram iniciais em
demasia e confusas, recheadas de teses diversas e opostas). Ele não insinuou
uma resposta sobre o início de tudo – fez muito mais: propôs.
LEITORES DE
HEGEL
Os leitores
de O Capital de Marx, sendo marxistas, não conseguiam ver o que estava diante
dos olhos, que o valor era uma substância interna nas mercadorias (invisível,
mas real e dedutível). Do mesmo modo, Hegel foi adaptado aos leitores e às suas
visões de mundo limitadas. Ninguém percebeu sua contribuição cosmológica porque
não eram capazes de ver. Há que se verificar em biografia se Georges Lemaître
pensou a teoria do Big Bang também inspirado em Hegel, pois padres costumam ler
o filósofo com afinco.
TESES DE
HEGEL
Hegel tem
mais a dizer. Para ele, a uno produtivo (estrela) pode produzir do nada ao ser
– em nossa adaptação, o espaço é concentrado, em concentração por gravidade,
formando fótons e/ou neutrinos.
Já dissemos
que, para ele, o infinito qualitativo desaba no átomo primordial (uno). O
motivo disso, explicamos em outro momento.
De Hegel,
também podemos extrair a ideia - vinda já da Grécia antiga - de que o universo
expande-se e contrai-se, em ciclos universais, de reinício.
KANT
Na sua
teoria do Big Bang, Hegel está a criticar Kant sem rodeios. Este afirmava que
havia uma nuvem de partículas que se concentrou e formou o Sol e os planetas.
Certo, mas de onde vieram as partículas espalhadas? Ora, do um! – Seja o um
primeiro “um” ou a geração anterior de estrelas.
Isso, porém
abre de duas teses. Ou o “um” foi primordial e único, o que está explícito em
Hegel, ou, derivação natural, todas as estrelas do universo sugiram separadas,
como do nada ao ser, como do espaço à matéria – e, talvez, ao mesmo tempo. Mas
isso seria, de certo modo, anti-histórico, logo, anti-hegeliano.
UM E
MUITOS(UNS): BORN E OS BIÓLOGOS DIALÉTICOS
Para Born
uma causa (um) tem várias consequências (muitos) – uma consequência (um),
muitas causas associadas (muitos). É assim que trata da dialética da questão.
Os biólogos dialéticos, de outro modo, dizem que um gene (um) afeta vários
características (muitos) – uma característica (um) deriva de vários genes
(muitos). Tudo isso é dialético, correto, hegeliano etc. Mas Hegel trata, em
exato, de repulsão e de atração ao mesmo tempo e, em principal, a passagem um
para o outro e na formação por meio disso dos uns e muitos. O Um dissolve-se em
vários uns, muitos, por repulsão (que deve ser primeiro nesse sentido) – os
muitos atraem-se, depois ou como se depois, formando o Um produtivo, a reunião
de muitos, muitos uns. Em O Capital, Marx passa do Um produtivo, ou seja, a
fábrica, para repulsão e atração variada
de uns, de muitos, ou seja, as empresas ora atraem e ora repelem operários,
além da ação simultânea. Eis um exemplo. Na verdade, devemos repetir mais de
uma vez, Hegel tratava da passagem do infinito real, existente, para a
quantidade depois por meio do um e muitos, por meio, grosso modo, da origem e
aglutinação de átomos (que é o começo real da quantidade) – o Big Bang e sua
história.
A homenagem
dos físicos a Hegel até hoje não foi feita. Ele é um pensador revolucionário
demais para ser reconhecido sem luta. Com minhas explicações adicionais
(resolução das lacunas) para a teoria completa do Big Bang – a matéria e a luz
decaem, ou esfriam, formando mais espaço; espaço, luz e matéria são o mesmo no
fundo, espaço-matéria; houve o encontro de matéria e antimatéria que formou luz
pesada e, logo, de modo colateral, alguma matéria por encontro construtivo de
ondas etc. – temos a dialética no seu devido lugar. Hegel continua um gigante
incontornável. O problema era que, antes, não estávamos á sua altura,
incompreensível. Apenas com dialética, chegamos às verdades totais, primeiras e
gerais.
BIOLOGIA E
DIALÉTICA
O marxismo
empolgou-se com as descobertas de Darwin, pois este colocou de vez a história
na biologia, a evolução (diversificação) das espécies. Há inúmeras sacadas
dialéticas na obra do inglês. Os críticos marxistas mais dogmáticos reclamam
que a inspiração darwiniana é o capitalismo e sua economia política. Ora, nada
de errado há nisso, em princípio, pois o mundo do capital é o sistema mais
dialético já existente no universo, até agora.
No entanto,
os biólogos dialéticos Lewontin e Lewin, desde o século XX, propuseram
atualizações e correções à teoria, reformas desde uma visão não cartesiana mecanicista,
que separa organismo e meio. Vejamos um resumo das muitas entre suas
contribuições.
A espécie
seleciona o meio, o ambiente
Na biologia
teórica, comum apenas a espécie se adaptar ao meio, ou ruir. Isso é uma
separação cartesiana de meio e sujeito, este como mero objeto da seleção
natural. No entanto, se as condições não são favoráveis, indivíduos e espécies
agem como sujeitos, migram-se, mudam-se, para outro local.
As espécies
modificam o ambiente
O ambiente
costuma ser posto como dado, ponto final. Mas a verdade é que o ambiente muda a
espécie assim como a espécie muda o ambiente.
A adaptação
é relativa
Os biólogos
pensam que o formato do corpo do animal é um estado ótimo, como certa máquina,
perfeito. Nada mais falso. A adaptação não é absoluta, antes é relativa, ou
seja, o bastante. As nadadeiras da tartaruga são usadas para cavar e enterrar
ovos, mas são ferramentas falhas, imperfeitas.
A evolução é
contraditória
A orelha
maior de um habitante do quente deserto faz com que a temperatura seja
regulada, mas, por outro lado, facilita ser atacado por carrapatos.
Nem tudo é
adaptação
Hegel, ao
tratar de fundamentos, na sua Lógica, fala do fundamento como uma casa, em si
necessária, mas que pode ter cores diferentes, quadros na parede, enfeites
arbitrários etc. Os dois biólogos citados usam tal inspiração. Nem todas as
características de um ser vivo são necessárias ou para fins adaptativos e
reprodutivos.
Darwin intui
no sentido oposto:
(…) com base nos conhecimentos colhidos nos últimos
poucos anos estou convencido de que se poderá demonstrar depois a utilidade de
muitíssimas estruturas que agora nos parecem inúteis e que entrarão
consequentemente no âmbito da seleção natural.
Mas a verdade
costuma ser contraintuitiva – a verdade suporta opostos.
Outro
sentido de “nem tudo é adaptação” é que a espécie e o indivíduo são ativos,
sujeitos, não só adaptativos sob o risco de se extinguir.
Maior
reprodução pode ser extinção
Uma espécie
que, por mutação, quadriplica sua reprodução pode ser extinta, pois atrai mais
predadores.
Um gene
trata de várias características, uma característica deriva de vários genes
“juntos”
Dizer que um
gene corresponde apenas a uma, somente uma, qualidade, relação um por um, nada
diz, não corresponde ao real, que é mais complexo.
As
características físicas representam seu meio
A
aerodinâmica dos peixes, baleias etc., animais aquáticos, expressa o meio em
que vivem.
As
características físicas são fruto da relação gene, espécies e ambiente
A biologia
vulgar pensa que apenas a genética afeta e determina as características da
espécie. Mas a mosca tem o aparelho visual mais ou menos complexo a depender da
temperatura com a qual conviveu durante sua maturação. Além disso, a prática da
espécie também afeta sua morfologia.
Até o
ambiente vaginal atua como certo meio que seleciona os melhores
espermatozoides.
Relação
ambiente e espécie
Para a
presa, o predador é parte do ambiente. Para o predador, a presa é parte do ambiente.
As partes do
corpo são interdependentes
Uma parte do
corpo pode não se desenvolver muito ou de modo exagerado porque está em relação
necessária e mais ou menos proporcional comas demais.
O grupo
seleciona também (Wilson)
Além da
mudança diretamente genética, o grupo “social” regula o perfil do indivíduo,
operando uma seleção. Isso é muito evidente nas formigas, abelhas e entre os
homens.
O passado importa (complemento)
Darei agora uma contribuição que não
encontrei de modo claro nos seus textos: o peso do passado como fonte do
presente. A mudança muitas vezes depende do passado, da resignificação de seu
material e daquilo que já foi, como espinho sendo folhas modificadas e velhos
órgãos adaptados para novas funções. A natureza viva raramente consegue criar
“do nada”.
GENÉTICA
Os genes
eram postos como individuais e separados uns dos outros. Hoje somos mais
dialéticos, por exemplo, a cor branca de uma flor está associada à saliência
típica de suas pétalas – se um muda, o outro muda.
PROPOSTAS
Vejamos,
agora, algumas hipóteses, filosofia experimental, que derivam de modo natural
de nossa filosofia e, primeiro, do próprio conhecimento científico (e
empírico) atual, por dedução. Tais
ideias, claro, devem ser demonstradas, após expostas.
LEI DA POPULAÇÃO
Darwin
inspira-se no erro teórico, para humanos, da teoria da população de Malthus: a
população cresce, mas encontra um limite de alimentos, logo deixa de crescer. E
se nos inspirarmos na lei de população de Marx sobre o capitalismo? Vejamos.
Vamos, mesmo assim, deduzir, de início, um limite fixo de recursos. Assim: mais
se reproduzem aqueles que estão mais ameaçados, pois isso ajuda a aumentar a
possibilidade de passar seus genes (o que não impede que Darwin também esteja
correto – que abundância é que produz mais reprodução). Vejamos uma pista dessa
nova lei relativa. A macieira, quando levada ao clima tropical brasileiro,
clima este que não é de sua origem, prefere investir em si do que na sua
reprodução, pois tem muita luz, água, nutrientes etc. Então, os agricultores
nacionais são obrigados a cortar a água da árvore, cortar galhos etc. para
estressá-la – então surgem as maçãs novas, ela reage à sensação de ameaça
ambiental, à escassez.
Hibernar
Na falta de
alimentos, as espécies podem hibernar no inverso para guardar energia. Isso
diminui o efeito da escassez sobre a população.
Estocar
Há um
pássaro americano que, ao perceber a chega do inverno, cria enormes reservas de
produtos, rumo ao consumo no inverno rigoroso.
Variar ração
Espécies
podem mudar ou variar seu consumo. Por exemplo, surgiu uma abelha abutre que
lida com carcaças.
Mudar o
ambiente
Ao consumir
uma fruta, o animal, depois, defeca fezes e sementes, ampliando extensivamente
a quantidade de árvores úteis.
Mudar de
ambiente
Os biólogos
dialéticos Lewontin e Lewin haviam exposto tal movimento.
Tamanho da
espécie e dos indivíduos
Uma
quantidade maior de membros, constantes os recursos, tendem a ser menores, o
que aumenta de modo relativo, em comparação, a quantidade de recursos mesmos. No longo prazo, tende-se a diminuir o tamanho
da espécie, pois os menores têm, nesse sentido, mais chances de sobreviver.
Capacidade
de armazenar aumentada
Uma falta de
alimentos pode levar os descendentes imediatos a ter mais facilidade de
armazenar energia, diminuindo a demanda, a procura. No nível celular, isso
ocorre por redução do metabolismo causado pelo maior autoenrolameto do DNA.
Roubo
Algumas
espécies e indivíduos podem se especializar em roubar outras, além de membros
da mesma espécie, ou agregar este hábito.
Formar bando
Formar
grupos permite otimizar o sucesso da caça, afastando a barreira individual da
alimentação.
Passar a
produzir e criar ferramentas
Vez ou
outra, uma espécie que não produz, passa a produzir (e o estresse relativo, com
a imprevisibilidade, com o movimento, aumenta a cognição). No caso das
ferramentas, macacos aprenderam a quebrar cocos e a produzir varetas para
apanhar cupins. As abelhas, ou algum ancestral, em algum momento passaram a
produzir mel. Na internet, há inúmeros vídeos de pássaros usando ferramenta
externa para pescar. O peixe tegastes
diencaeus domesticou camarões para nutrir, fertilizar, seu cultivo (!) de
algas, sua fazenda.
Tais
elementos relativizam, contratendenciam, a lei da população na natureza tal
como pensou Darwin. No mais, nossa lei da população, oposta à de Darwin, tem
prova empírica na própria humanidade: as comunidades mais pobres têm mais
filhos, não menos. Aqueles com melhor qualidade de vida, entre humanos,
costumam ter menor prole, mesmo tendo mais recursos. A quebra de 1929 levou
ricos falidos aos bordeis antes do suicídio; na segunda guerra, os homens
engravidavam as mulheres antes de ir ao combate; com o impacto, incluso
midiático, da queda das torres gêmeas nos EUA, surgiu uma onda de nascimento
algo como 9 meses após o fato. A causa da vontade de fazer sexo e filhos,
nestes exemplos, o stress etc., está oculta e inconsciente – a consciência
justifica de algum modo ou outro. No caso das árvores frutíferas, os biólogos
apenas constatam sem interpretar ou generalizar; muitas árvores do nordeste
brasileiro florescem e frutificam quando inicia-se o período de seca, rnenor
humidade e mais calor, maior rico potencial; no Piauí, os ipês florescem o ano
inteiro diante da temperatura e da baixa humidade, levando à sensação de risco.
Na
psicologia individual, acompanhei um “caso” de uma jovem adulta excessivamente
sexualizada, mesmo para padrões brasileiros, com imensa dificuldade em manter
fidelidade sexual em um relacionamento. Em nossas conversas, suas falas
deixavam claro o impacto sob(re) si que teve a descoberta de uma doença
degenerativa autoimune. O medo da morte, lidar tão diretamente com a finitude,
concluí, foi a base de sua sensualidade acima da média, que guiava sua rotina e
relações. Tal pista não foi a princípio tratada como tal; apenas enquanto caso
individual, singular e isolado. Necessitei de vários anos e outros aspectos
para derivar uma teoria geral.
Os seres
menores, quanto menores, mais se reproduzem. Por quê? Porque vivem pouco. Mas
algo mais pode ser acrescentado, evitando a tautologia anterior. Seres menores
e mais frágeis, ou seja, em estágio inferior na cadeia alimentar em enorme
quantidade de casos, são mais estressados, logo se reproduzem mais do que a
alcateia de leões. A lógica darwiniana continua em pé no assunto desde
parágrafo, porém atualizado.
Como
dissemos, a fruta do homem diante da adversidade é sua criatividade. Pois bem;
Deleuze diz da saúde frágil geral de artistas e intelectuais – sem saber aí a
causa, a causalidade interna.
GRANDES
EXTINÇÕES E VARIEDADE
Grandes
extinções, ao reduzir exemplares, força a copulação entre espécies próximas,
não tão, produzindo novos exemplares com o tempo, novas espécies por
combinação. Assim, a extinção em massa que leva à redução de espécies, produz
também o efeito oposto, dá base para variação. Além disso, grandes extinções
aumentam riscos e estresse, estímulo à libido.
GENES E
CARACTERÍSTICAS
A sabedoria
popular do nordeste brasileiro diz “dois pobres feios fazem um bonito”. Assim,
por combinação, dois pais de baixa inteligência natural podem produzir um filho
superdotado. A combinação é mais rica e inesperada, menos mecânica – embora
tendencial.
GENES E
EVOLUÇÃO
É provável
que a totalidade genética tenha elementos “duros”, difíceis de consolidar
mutação, e, por outro lado, elementos “fluidos”, mais fáceis de mutar e
permanecer alterados (em alguns casos, ativados ou desativados). Talvez seja
mais fácil a mutação da cor da pele, ou da asa da borboleta, do que alguma composição
do fígado. Por exemplo, a estrutura básica central muta-se com mais dificuldade
do que os aspectos em si não centrais. Isso tem seu risco, pois mutações na
estrutura fundamental tende a matar o ser, torna-o menos capaz de se
reproduzir; então gera a ilusão que as mutações ocorrem mais nas asas etc. Mas
é evolutivo que se preserve uma parte “dura” da informação genética, logo nada
impede que algumas partes sejam mais mutáveis.
A segunda
hipótese é que, embora de modo fraco, o ambiente leva a que alguns genes, uma
parte deles, em poucos aspectos e de modo colateral, se regule para se adaptar
ao meio, como a geração seguinte à que passou fome ter mais capacidade de
absorver e guardar energia.
GENES E
PERSONALIDADE-COMPORTAMENTO
A biologia
vulgar torna o homem como fruto direto do gene, sem cultura. Isso leva, por
resistência, ao erro oposto, nenhuma influência genética. Pelo menos entre os
humanos, quase tudo vem do meio e da experiência – mas há um efeito
minoritário, sim, do gene. Mas, então, vem um giro: a parte genética é ela
mesma mediada, o conteúdo genético do “temperamento” é um conteúdo que pode
adquirir as mais variadas formas a depender do meio ambiente social. Boa parte
dos problemas teóricos se resolvem quando deixa-se de confundir conteúdo e
forma, aparência e essência etc.
A verdade é
o todo. Portanto, afirmações como “isto é aquilo” são certos e errados porque
parciais, não totais. Dizer que “tudo é construção cultural” é tão certo e
errado quanto dizer que “tudo é construção biológica ou adaptativa”. Há efeitos
biológicos e adaptativos – há cultura e ambiente. Nem pós-modernismo, nem
determinismo genético e biológico! O marxismo relacionalista deve ser superado,
pois ele considera o corpo enquanto mera carcaça viva.
Há o
biológico, há o social – e há no natral socialmente adaptado.
.
MAL DE
ALZHEIMER
Qual a causa
do Mal de Alzheimer? Talvez, há várias causas, possivelmente o excesso de
açúcar. Mas dois casos, embora pouca amostra, indicam que ao eletromagnetismo
em excesso pode causar o fenômeno da degeneração celular cerebral e a
consequente perda de memória. É, aparentemente, o caso de Faraday, o cientista
que fazia experimentos didáticos com a eletricidade passando por seu corpo – e
de uma senhora que, apesar de ainda adulta, não idosa, estava tendo lapsos de
desligamento e perda da memória após anos de trabalho com alta tensão de fios
de eletricidade. Tais experiências causam “curto-circuito” de neurônios, ou
suas degenerações. Ambos os casos são precoces.
HOMEM
NATURAL-SOCIAL
Na civilização,
desenvolvemos contradição entre o homem natural e o homem social. Um atrapalha
o outro. Eis tarefa comum da medicina e do socialismo. No futuro, se vencermos,
o homem social respeitará o homem natural, e vice-versa (com mediações etc.),
ainda que ainda de modo dinâmico.
Marx afirma
que uma das formas de alienação (separação) é a separação do homem e da
natureza, como se fossem apenas externo um ao outro. Assim, nós temos de
desenvolver boas integração, relação e ativismo com o natural.
A CONQUISTA
SEXUAL
Embora
imensamente alegre com as conquistas de Darwin, Marx usou sua ironia, comum no
meio marxista, ao afirmar que o inglês descobriu a sociedade e a economia
inglesa na natureza não humana. Assim, o fato de, no ambiente de Londres, os
homens ousados cortejarem as, em oposto, educadas e contritas damas,
disputando-as entre si, teria o equivalente no mundo natural.
Ora, Marx
deixa de ver que talvez o hábito social tenha origem natural, do homem – e da
mulher – como animal que é de fato, tal como os pássaros. Temos o natural
socialmente modificado ou adaptado. A natureza adapta-se ao e no social.
Mas vamos
muito além. A ideia da fêmea passiva deve ser superada. O macho solicita a
fêmea, claro. Mas fêmea “solicita ser solicitada” pelo macho, também. Assim,
ela atrai e altera o comportamento do macho por seu cheiro de cio, por exemplo.
Uma fêmea de gato castrada não mais atrai um macho qualquer para si. Assim, a
fêmea perece passiva, mas ela é ativa, até mesmo ela inicia o processo de
conquista.
Isso se vê
na sociedade ocidental contemporânea, quando se tornou mais comum a mulher
tentar conquistar o homem. Mesmo quando a mulher evita a conquista, ela
atiça-o, por exemplo, ao mover seus cabelos, dando inconscientemente o sinal
para aproximação dele, daquele. Ele, por sua vez, estufa os peitos, em sinal de
interesse, em resposta. Tudo, evidente, nem sempre feito com a devida
consciência.
Os
“sociobiólogos”, amantes do gene egoísta, desesperam-se sociobiologicamente
quando lidam com casos em que alguns machos ajudam outro a conquistar a fêmea,
sem a comum de fato disputa entre eles. Para eles, egoísmo é igual à prazer;
altruísmo, igual a desprazer. Não veem a cooperação como ajuda possível na
seleção natural e na seleção sexual. Argumentam, por exemplo, que o pássaro
ajudante logo aprende algo, para si. Como são péssimos em filosofia, deixam de
ver que o altruísmo e o egoísmo são ao mesmo tempo fundidos e superados pelo
mutualismo, pela cooperação, pela ajuda mútua.
Curioso
notar que certas cobras machos, ao falharem em atrair fêmeas, toram-se
travestis, atraem outros machos por um odor hormonal alterado. Leoas em cio
forçam o leão a mais sexo.
Enfim,
oferta e procura. Excesso de machos permite à fêmea ter vários parceiros,
selecionando-os. Mas grande excesso de fêmeas, por sua vez, com a escassez de
machos, faz com que estes tenham várias companheiras, temporárias ou fixas. Nos
quilombos antigos, as mulheres tinham vários maridos, uma poligamia delas com
monogamia tendencial deles. Se há tendência de uma espécie fazer vingar muito
mais fêmeas ou machos, por exemplo, afeta as relações sexuais.
PERFIL E
ANATOMIA
Em outro
momento, demonstramos como – por meio das mudanças hormonais, por exemplo –
hábitos, ambiente e perfis, além de em parte a genética, afetam o perfil físico
de um indivíduo humano, expressando seu perfil psíquico. Indicou-se que
pesquisas observam isso em cachorros e em raposas recém-domesticadas, além de
animais de pasto. Pois bem; um leão tem perfil físico-mental de leão, interno e
externo; um coelho tem o perfil ou “personalidade” de um coelho. Pode haver, no
entanto, diferenças entre eles, quanto mais complexo é o ser, como mais
introvertido e mais extrovertido, mais corajoso ou mais medroso etc. Quando se
diz que a moral tem senso estético ao condenarmos matar uma borboleta mas
aprovarmos matar uma barata – tal senso não é de todo injusto ou arbitrário,
tem realidade de fundo. A rejeição física à barata expressa um mal possível.
OS GENES
APRENDEM
Parece
absurdo, mas de modo parcial os genes aprendem, embora não aprendam muito. Um
castor criado fora de seu ambiente, como numa casa, mesmo assim terá o impulso
de criar represas com o material do lar onde vive (um primerio castor ou
ancestral fez isso, então passou aos descendentes tal impulso). A genética cria
a estrutura corporal, incluso cerebral, e seu modo de funcionamento. Mas
aprende apenas o essencial: nos humanos, a sociedade complexa obriga um
aprendizado apenas cultural, de geração a geração. Os mecanismos desse
aprendizado em pássaros que fazem ninhos etc. trata-se de algo ainda a
descobrir. Isso parece uma concepção pré-darwinista: os jogadores de basquete
são altos porque jogam esse esporte, jogam esse esporte porque são altos, ou
ambos? A coisa toda se resolve vendo o limite de mudanças: os genes aprendem,
em geral, apenas o essencial – e há mudanças que ocorrem apenas na relação do
indivíduo com o meio, sem passar aos descendentes. Entre as tantas referências
indiretas a Platão nesta obra, temos mais uma, pois o grego afirmou que recordamos,
já sabemos o que sabemos, embora sem perceber; isso tem valor, de modo parcial
e relativo, no aspecto biológico em seres complexos, mas pouco entre os homens.
O parco
aprendizando genético parece exigir – no hábito etc. – intensidade, repetição e
importância daquilo que reconfigura de modo fraco e raro a genética.
BIOLOGIA E
IDEOLOGIA
A teoria das
raças humanas fez um estrago em todo o mundo com seu darwinismo social. Ficou
famosa a pesquisa feita ontem no tempo histórico: os negros americanos têm QI
médio menor, logo a “raça” negra é menos inteligente. A equipe de tal pesquisa,
além do seu baixo nível científico, não soube de Machado de Assis e Milton
Santos… Hoje, a sociobiologia apela para o determinismo genético, requentando
antigas teses. De modo algum é acaso que eles sejam, via de regra,
antimarxistas e de direita. A intensão é justificar este mundo e mantê-lo de
pé, apesar de todos os imensos pesares.
Podemos
provar que, ainda sendo biológico, o ser social fundou algo inteiramente
novo. Repetindo Lukács: somos a única
espécie com produtividade crescente (trabalho, produção, energia em busca de
mais energia), a única espécie que se afasta das barreiras naturais
(sociabilidade e “sociabilidade” dinâmica, do simples ao complexo) e a única
espécie que tende a uma interconexão global (linguagem e “linguagem” complexa,
interconexões crescentes). O ser biológico é assim – no aspecto de todo e geral
do Ser, como dizemos antes, energia em busca de mais de si etc., entre
parênteses – de modo geral, não específico, não em cada espécie individual.
Mesmo forçando a mão para ver tais aspectos em outras espécies elas não têm os
três juntos e na mesma intensidade, que produz salto qualitativo.
O machismo
também afeitou muito a “objetividade fria” da ciência biológica. Hoje, sabe-se
que não apenas os espermatozoides são ativos no útero; este seleciona e o óvulo
guia o caminho daqueles. Já citamos que a conquista também tem o lado ativo
feminino entre humanos. Como as leoas, as mulheres também iam à caça nos tempos
primitivos, pois era mais importante a ação grupal relativo à fibra muscular
mais, homens, ou menos, mulheres, desenvolvidos.
O mundo
aristocrático, ditatorial e monarquista levou a ver a colmeia apenas como
regime despótico. Hoje, sabemos que o regime das abelhas é mais democrático do
que parece, algo permitido de ver pela etapa histórica atual.
Ter a ideia
de evolução apenas como diversificação é o modo inconsciente de negar a
necessidade do progresso hoje difícil, o o socialismo. Há progresso, ainda que
relativo e contraditório.
O AMBIENTE
DEVE ADAPTAR-SE À ESPÉCIE
Em sua
separação de sujeito e objeto, ao colocar a espécie – e o indivíduo – como
reativa apenas, adaptativa apenas etc., a biologia como ciência esquece que o
ambiente também deve se adaptar à espécie e às espécies presentes. Certa
mutação que melhora a espécie tende e pode desequilibrar o sistema ecológico
local. Um vírus pode ter força geral, o que gera desequilíbrio (o ganho geral
de resistência ao vírus pode ser bom, no geral, para o próprio vírus). Como
organismo vivo que é, o ecossistema deve reagir e adaptar-se à nova realidade,
mesmo que de modo imperfeito. Casos extremos vemos quando o homem traz uma
espécie de outro continente, invasora, que, sem predadores, coloca em risco
toda a vida complexa de uma ilha etc. A mangueira, por exemplo, foi bem
englobada no Brasil, no organismo ecossistêmico, vinda da Índia; a mangueria
adaptatou-se ao ambiente e, vice-versa, o ambiente adaptou-se à mangueira. Para
uma nova espécie prosperar, o ambiente deve modificar-se ou ser por ela
relativamente modificada, adaptada. Em certos casos, o ecossistema pode ser
resistente ao ponto de extinguir a presença da espécie invasora ou nova.
ADAPTA-SE À
INADAPTAÇÃO
Nem sempre
as mudanças de genética chegam à tempo ou prosperam. As espécies convivem com
dificuldades que são obrigadas a conviver de modo permanente. Por exemplo.
Quase todos os animais complexos são obrigados a dormir completamente e sempre,
então, como isso não muda com o tempo, aprendem a cavar buracos, a subir em
árvores, a andar em grupo, a trocar de turno, a produzir fogo etc. – para
dormir em paz relativa. Se consideramos que nem tudo é adaptação e que a a
evolução é um precesso cego, então fica mais fácil aceitar tal ideia. A
adaptação à, na e da inadaptação; que obriga tantas vezes certa sapiência,
torna relativamente denecessária uma evolução positiva para o problema,
atrapalhando sua prosperidade genética.
ADAPTAÇÃO
PODE SER EXTINÇÃO
Uma espécie
nova ou que gera nova adaptação pode revolver uma contradição que lhe
atrapalha, mas cair com o tempo em outra ainda maior, que se torna um problema
absoluto (o ser é complexo, não simples; uma vantagem pode ser, ao mesmo tempo,
uma desvantagem). Ou uma adaptação pode atrapalhar na seleção sexual, tornar-se
menos atraente. Ou adapta-se aqui, o que atrapalha a adaptação ali. A
eficiência evolutiva do Ebola, matar em 8 dias, atrapalha porque, por
isso, não consegue contaminar tanto. Uma
adaptação boa pode levar a extinção de outras espécies (presas etc.) ou até de
um ecossistema.
A VIDA É UM
AUTOSSISTEMA – TAMBÉM
A vida como
auto-organismo entra em contradição consigo como quando criar as espécies que
gerarão extinções em massa, como a início da produção venenosa de oxigênio ou
dos seres humanos até o capitalismo. Além de fatores externos, como ciclos
cósmicos, além de fatores inesperados como chuvas de meteoros; há a causa em
si, a autoimposição de limites e dificuldades. É uma possibilidade o surgimento
de um hipervírus, muito adaptado e mutável, que produza extinção em massa.
UM E MUITOS
NA EVOLUÇÃO
O que diremos
a seguir já se sabe, mas não exposto de modo dialético. De modo puro e
abstrato, ocorre assim se não há interrupção: um (uma ou poucas espécies), que
se torna muitos (diversifica-se), que então, por extinção e seleção, e mais uma
vez se reduz a um... (uma ou poucas espécies sobram). Se pode, se cair em um
não for o fim, volta mais uma vez ao muitos. Mas o segundo “um” não tem por
necessidade ser como o primeiro “um”, apenas deve ser produtivo e reprodutivo.
De um ancestral comum, surgiram várias espécies homo, que depois foram
extintas, exceção da nossa; apenas a seleção social e a falta de tempo impedem
de voltar aos muitos, novas espécies humanas ou de outro tipo de ser biológico.
CONTRADIÇÃO
ENTRE SELEÇÃO NATURAL E SEXUAL
Este ponto
não é muito original: já é bem conhecido, mas não reconhecido ou formalizado.
Em resumo: uma vantagem na seleção natural pode ser negada na seleção sexual –
uma vantagem na seleção sexual pode, ao contrário, ser negada na seleção
natural. Ser calvo pode ser bom desde a seleção natural, mas gerar rejeição
sexual, nessa seleção. O veado ganha na seleção sexual quando tem chifres
maiores, mas tais chifres maiores dificulta correr de predadores (seleção
natural). O fato de uma característica
ser boa para reproduzir-se, mas ruim para a seleção natural (ou melhor,
ambiental), não significa que deixará de existir de imediato: como adaptação é
relativa, a espécie pode existir por muito tempo com a contradição dos opostos
– até ela se resolver ou a espécie em questão ser extinta.
INTELIGÊNCIA
Inspirados
em Darwin e no darwinismo, muitos pensadores afirmaram que a inteligência é
capacidade de adaptação, logo, deriva-se, adaptação ao meio. Isso é um erro com
elementos de acerto. A inteligência é algo ativo, criativo, criador – também
adapta o meio para si, modifica-o etc. Inteligência tem algo de subversão, de
transformação ambiental mais do que de si. Inteligência é perceber a natureza
da mudança, o que inclui saber o que permanece naquilo que muda. A concepção
burguesa de inteligência, supostamente evolucionista, tenta criar um sujeito
que nada tem de sujeito, ou seja, sujeita-se à realidade de modo passivo,
escravizado, derrotista etc. Mas o homem é o cozinheiro das coisas, o mais
inteligente por sua interação prática transformativa do mundo. Inteligência é a
novidade e o novo.
A VANTAGEM
DAS MISTURAS DE RAÇAS (E ESPÉCIES)
Generalizo,
de modo um tanto forçado, o que observei em cães brasileiros, a mistura
bastante comum (vira-lata). Parece que a mistura de raças e, eventualmente, de
espécies, ou formando novas espécies, produz algo novo com vantagens por causa
do amálgama (dialética do novo):
5.
Mais
inteligência
6.
Mais
resistência
7.
Mais
sensualidade
Isso é fácil
de entender e perceber, mas no caso da sensualidade não tem uma boa explicação
(a pulsão exagerada ou acumulada que levou à copulação de diferentes raças foi,
então, repassada de modo genético ou epigenético?). Surgem novas raças ou, ou
com o tempo, espécies mais capazes.
Muito antes
de ser marxista, tive influência da teoria das raças brasileiras. Parecia-me
que o cidadão moreno – mistura de europeu, indígena e africano – tinha, também,
tais três características. Mas era viés de confirmação já que a humanidade, do
ponto de vista genético, não possui mais de uma raça. Segunda curiosidade,
também dialoga com a primeira: Nietzsche afirma que o super-homem, o além do
homem, combina três características: 1) suportar grande sofrimento (2); 2)
caminhar pela arte profunda (1) e grande interesse sexual (3). Há alguma
verdade em seu erro completo.
A LEI ZERO
DA EVOLUÇÃO
A concepção
vulgar diz que o mais forte vence. Mas os biólogos corrigem: os mais adaptados
prosperam. Isso é muito mais correto, mas ainda errado um tanto, pois parte da
ideia de ser vivo apenas passivo e reativo ao meio (que se subordina de todo ao
meio, ao capitalismo…). Na verdade: “prosperam os mais aptos” – que dá uma
ideia tanto ativa quanto reativa, além de sugerir a seleção sexual. Biologia
não apenas é mera adaptação e diversificação.
Dito isso,
temos três legalidades iniciais da vida:
1) luta e
associação (geral)
1)
diversificação (particular)
2) evolução
relativa (singular)
A luta, por
exemplo, inclui luta contra o meio, mais do que entre espécies e indivíduos.
A
luta-associação leva à diversificação, que, por sua vez, leva à evolução
relativa. Cada lei, embora com autonomia parcial, leva, deriva, a outra.
Grosso modo:
a luta é contratendenciada pela associação (vida coletiva, mutualismo,
reprodução); a diversificação, pela extinção; a evolução, pela sua relativização
(ambiente etc.).
O homem é,
assim, tanto mais no futuro socialista, uma vitória da natureza contra a
natureza. Pois: tem altíssima associação, relativiza a seleção-evolução (pelo
trabalho humano, constrói ferramentas contra os limites ambientais: casacos de
pele contra o frio etc.), tende a unificar-se, tende a ser mais do que espécie
ou natural. Ele, de algum modo, afirma as contradendências, que só poderiam ser
relativas, contra as tendências, que só poderiam ser absolutas, ainda que
sofram resistências e autorresistências.
SELEÇÃO É,
TAMBÉM, AUTOSSELEÇÃO
A interação
entre as partes, as vidas, e a vida e o ambiente, ajuda a produzir leis de
totalidade que não são decididas e escolhidas, mas que são parcialmente
produzidas coletivamente, sem consciência de tal processo. Em segundo lugar, a
seleção sexual leva em conta a qualidade das partes em possível conquista. E o
animal, também, seleciona-se. Por outro lado, o grupo (animais coletivos)
selecionam, regulam. A trapaça entre machos, por exemplo, pode fazer com que o
menor e menos atraente possa copular com a fêmea em questão, engana-se a fêmea,
estupro, os filhotes de tubarão matam uns aos outros ainda quando por dentro da
mãe etc.
A
autosseleção pode ocorrer como contratendência relativa à seleção.
Dois casos
devem ser destacados. Primeiro: as leis gerais da seleção e da biologia tentam
afirmar-se enquanto leis, autorreforço (leis particulares de ambiente e de
época aprecem e desaparecem); há seleção das leis. Segundo: o ecossistema e a
biosfera, ou população etc., selecionam-se, a si mesmos. A biologia (biosfera
etc.) entra em contradição interna consigo mesma dentro de sua unidade e
harmonia dinâmica externa.
TRABALHOS
Demos dois
trabalhos ao biológico: produtivo e reprodutivo. O primeiro tende, quase que
apenas de modo relativo, a diminuir com a evolução e o segundo a crescer como o
maior cuidado da prole e sua dependência mais duradoura. Isso é consequência, e
efeitos opostos, natural do evolutivo, da complexificação, do ganho de habilidades
etc.
LUTA OU
COOPERAÇÃO?
Inspirado
pela economia real da Inglaterra, pelos economistas de seu país, e para negar a
visão de harmonia da natureza; Darwin afirmou que a luta reina nela. Mas
façamos uma sequência de pensamento: 1) reina a luta contra os demais – de
outras e, ainda mais, da mesma espécie (dirá o inglês) – pela sobrevivência; 2)
mas, até para enfrentar a luta, surge cooperação (formigas, mutualismo, bandos
etc.); 3) mas a luta é externa enquanto há comunhão interna, unidade etc. –
autonomia e contradição externa com unidade e comunidade interna. O terceiro é
mais sofisticado e difícil de perceber. Quando o pássaro come e destrói o
fruto, espalha as sementes via suas nutritivas fezes. O leão come o cervo, mas,
ao fazer tal atrocidade, diminui a concorrência (externa) entre os cervos da
espécie. O cervo devorado como se doa sua energia para o leão, apesar da
resistência, de novo, externa. A semente comida evita excesso danoso de uma
espécie, assim, em defesa da própria espécie devorada. Destruir é, assim, ao
mesmo tempo, conservar e construir (elevar, ajudar etc.) – suprassumir. Nossos
tempos de egoísmo e capitalismo tardio dificultam, também, aceitar isso;
cenário que, no auge do sistema, inspirou Darwin na óptica da luta geral. Mas
temos isso já, de modo errado no social, em Adam Smith: o egoísmo de todos no
mercado gerará um bem comum, uma bondade invisível. Não bem assim no biológico,
mas dá pista daquilo que é para além de como o mundo da vida de fato se mostra
– um fato externo ao mesmo tempo falso. Claro, pode haver anomalias e desvios
da lógica real essencial interna, oculta. Há, de modo inconsciente,
inconsciente biológico, cooperação geral.
PARADOXO DO
PREDADOR
O predador
tende a selecionar as melhores presas, então, estas se reproduzem e vivem menos
– tal preferência leva, por isso, à extinção de particularidades preferidas. O
paradoxo é real, não um problema lógico a ser resolvido. No médio prazo, o
predador cria um problema para si.
DESVANTAGEM
RELATIVA DO AVANÇO
Consideremos
que 1) há diferentes níveis de pressão seletiva, 2) a relação entre animais
adversários é de muitos para um (uno-múltiplos), e vice-versa, tem-se vários
predadores e várias presas. Dito isso, vamos a um exemplo real metafórico. A
Kodak era a empresa superior no mercado de fotografia, reinava absoluta; um de
seus engenheiros desenvolveu a fotografia virtual (digital), mas ela engavetou
o projeto, porque, caso fosse ao mercado com o novo produto, perderia seu
lucro; logo, para ela, evoluir seria igual a perder, não ganhar; depois,
surgiram empresas novas menores que aplicaram a nova tecnologia, por isso a
empresa citada declarou falência, sua (quase) extinção. O mesmo ocorre em animais
“superiores”; por estagnarem em sua vantagem relativa, acabam por 1) serem
extintos, 2) passarem de predadores para presas, 3) diminuem em quantidade ou,
por isso, aumenta a concorrência com outras espécies. Mais um detalhe: 1)
grupos dominantes encontram mais estabilidade duradoura, menor pressão
seletiva; 2) grupos (populações etc.) não dominantes entram mais em crise e
maior pressão seletiva até alcançar maior equilíbrio.
A VIDA É
DESMEDIDA, SEM MEDIDA
Por si, uma
espécie não encontra limites em sua reprodução e sobrevivência – sua regulação
é externa, forçada. Ela tem a pulsão constante e não autocontrolável de crescer
sem limites, até esgotar o mundo. É o caso famoso das nuvens enormes de
gafanhotos que comem tudo pelo caminho e, depois, definham de fome por falta de
alimentos. Uma espécie invasora pode, de fato, destruir uma ecossistema antes
de, enfim, por fome, destruir-se (superadaptação) – já que não encontra limite
externo, um predador natural, ou artificial, ou novo. Uns regulam aos outros e
vice-versa, limitam-se de modo recíproco, limites e barreiras recíprocas. Mas a
pulsão está ali, testando-se, disposta a desregular o ambiente. O conjunto
instável das desmedidas gera o equilíbrio ambiental relativo. A desmedida
realizada produz crise.
Por outro
lado, em geral, indiferente em si, para si – não para o ecossistema –, se a
espécie diminui ou aumenta.
“FAZEM, MAS
NÃO SABEM”
Marx Afirma
que os produtores vão ao mercado igualar seus trabalhos – mas fazem tal
igualação sem saber que fazem, como se igualação apenas das coisas que querem
trocar. Temos aí uma teleologia, finalidade, objetiva e inconsciente. A abelha
é um mediador que carrega o conteúdo de uma flor, o pólen, para outra flor,
outra planta. Então, vital fecundação. Com tal exemplo, Darwin afirma que não
há consciência ou intensão disso, logo, deduz-se que não há qualquer tipo de
teleologia ou finalidade. Mas há – fazem, mas sem saber. Pelo contexto, incluso
perfil corporal (como a co-evolução), as abelhas cumprem uma função biológica
finalista, apesar de si mesmas, objetiva e inconsciente.
ABSORÇÃO DE
FUNÇÃO
Se uma
função é necessária ou possibilidade, então, alguma espécie, ou muitas, tendem
a assumi-la. A necessidade e a possibilidade de gerar espécies carniceiras
geram exato isso, nova adaptação ativa. Por que esse tipo de coisa ocorre?
Porque, diante da lei da selva, há vantagens em tal novo. Por isso, também, a
natureza parece harmônica e obra de um Deus.
TOTALIDADE E
FUNÇÃO
O que
diremos aqui é conhecido e reconhecido. Um membro corporal etc. tem sua função
dada pelo seu contexto, pela totalidade aonde vive, pelo meio ambiente. Antes
(e talvez ainda) servia para algo, agora serve para outra função. Além disso,
pode ter mais de uma função, duplo caráter. Daí vemos com susto que biólogos
sigam gente como Popper, não Hegel e Marx, os dialéticos.
A MEDIDA NECESSÁRIA
Os seres
tendem a ter o tamanho que devem ter, a medida
a medida relativamente correta - ou extinção.
Geral: do tamanho
das moléculas componentes e parte celulares até elementos como a gravidade
Particular: o ambiente
tende a impor tamanhos, o contexto
Singular: por
exemplo, animais grandes demais têm superaquecimento e definham.
O ambiente
tem a medida que deve ter também, pois, maior ou menor de modo sensível, muda
sua natureza coma mudança de proporção.
Nada disso
parece novo, exceção talvez do modo de expor.
DESENVOLVIMENTO
DESIGUAL
É preciso
lembrar que espécies de um ecossistema desenvolvem-se – crescem, sofrem
mutações etc. – de modo desigual. Isso gera combinações de sistema ora
instáveis, ora com crise.
ESTRUTURA SISTEMÁTICA
DA VIDA
Temos
infraestrutura, estrutura, superestrutura em várias áreas como sociedade e
psicologia, como veremos em outro momento. Plantas, bactérias etc. que extraem
substâncias do solo, produzem oxigênio e fazem fotossíntese são o
infra(estrutura), o equivalente na sociedade da economia. Herbívoros e outros
seres são a estrutura. Carnívoros superiores e sua regulação do meio são a superestrutura.
Tal estrutura, veremos também dentro da célula viva complexa.
TAMANHO E
MASSA
Em
dialética, vai-se da cada vez maior materialização para a desmaterialização
relativa ou progressiva. Assim com os animais por crescimento e, depois, queda
de oxigênio; crescimento e, depois, queda de energia; pequeno para grande
número de membros. - Outra forma de observar está na dialética do
intensivo-extensivo. Há menos animais de uma espécies, intensivo, logo grandes
e massivos; mas, por concorrência interna ou falta de alimentos etc., tendem a
diminuir de tamanho e de massa, logo, aumento em quantidade de membros,
extensivo. O aumento do tamanho-massa, menos membros – intensivo; redução de
tamanho-massa corresponde, via de regra, ao aumento de membros – extensivo.
Isso afeta, por relação mútua, o intensivo e o extensivo, a materialização e a desmaterialização,
de outros seres. Mantida constante a quantidade de alimento, abstraído outros
fatores: maiores, menos membros – menores, mais membros – grosso modo, a
quantidade de massa-energia total da espécie permanece igual, vinda, claro, do
alimento.
BIOLOGIA E
HISTÓRIA
Os seres vivos
e a vida em geral (biologia) fazem suas próprias histórias, mas as fazem em
condições – incluso corporais – que não escolhem e não controlam, junto ao peso
do passado que permanece. As condições do inorgânico são na maioria dos casos,
dados – só depois podem ser em parte alterados (incluso migração). O passado
pesa, por exemplo, na anatomia do ser vivo.
ÁPICE
RELATIVO
O mutualismo
e a cooperação é um tipo, relativo, de ápice evolutivo e adaptativo, do mais
apto. A vida coletiva e de “moral” coletiva (uma formiga doente costuma
isolar-se, por ex.) ajuda a afastar um tanto o peso bruto da seleção. Nesse
sentido, o homem também expressa tal ápice, apesar do classismo (propriedade
privada), da alienação social nos últimos 5 mil anos.
AMBIENTE E
SER VIVO COMPLEXOS
A existência
de animais complexos pressupõe ambiente, também, complexo; vice versa, ambiente
complexo pressupõe vida complexa. O grau de um motiva e estimula o grau do
outro.
TAMANHO DO
CÉREBRO RELATIVO AO CORPO
Aqueles de
pensamento vulgar, mas quase apenas eles, pensam o desenvolvimento do cérebro na
história da vida como desenvolvimento apenas do intelecto – mas o instinto, os
sentidos e a emoção também foram desenvolvidos – e os eles ajudam uns aos
outros, reciprocamente, em interação no desenvolvimento de cada particular,
ainda que haja descompassos aqui e ali.
ADESTRAMENTO
Nossa
vantagem é, também, grande adestramento e seleção artificial – ou seja,
adestramento da evolução! (Assim como adestramos tantas leis.) No caso prático
cotidiano, adestrar é a vantagem das mãos humanas, pois, além de punir, oferece
o singular carinho. No caso do autoadestramento da espécie, cumpre grande papel
a seleção da fêmea, por parte das fêmeas.
RELAÇÃO DE
CONTEXTO
Há
interação, oposição, interpenetração, disputa e cooperação de ambientes e
ecossistemas. Entre um em outro, há o cinza, a zona cinzenta, de transição, a
fronteira de travessia dos seres vivos. As nuvens de terra do Saaara são vitais
para a riqueza da Amazônia, aonde “chovem”.
MENOS CAPAZ
MAIS CAPAZ
Se é menos adaptado, habilidoso etc., a algo
em desuso (voar etc.), antes vantajoso no ambiente, então, tem-se uma vantagem,
pois economiza energia etc. – torna-se, assim, o mais adaptado. O menos capaz
torna-se o mais capaz. Outros aspecto: um defeito aqui é, porém, uma qualidade
ali – na circunstância ou no meio. Daí uma forma, entre outras aqui expostas,
de ver a relatividade da seleção.
TIPO “IDEAL”
OU “FORMAL” E CONTRAVARIAÇÃO
Ainda mais
hipótese que os demais. E se a regra for a diferenciação (mutação, combinação
de parceiros etc.), o que garantiria a permanência? Há, nos animais complexos
em especial, uma espécie material de tipo “ideal” a ser seguido, procurado e
perseguido. Claro, isso pode estar no cérebro, que tem peso… Há, portanto, no
grupo ou na seleção sexual etc., um tio de preferência, um padrão, que regula a
mudança e até a impede de modo relativo. Isso tem relação com algo neste e
noutros aspectos: uma seleção evolutiva para rejeitar a imperfeição (espinhas,
piolhos na pele etc.), prazer em corrigir.
O tipo
formal pode ser a imagem própria, de parte de si, ou dos pais; isso é uma forma
de seleção e autosseleção ao procurar parceiros parecidos consigo e com os
familiares – unilateralização (base biológica
do complexo de Édipo; o oposto, complexo de Cronos, pode vir da semelhança dos
filhos com os avós; tendemos a escolher parceiros desde a relação com o nosso
cuidador do sexo oposto[26]).
Isso gera especiação.
TRÊS
ADAPTAÇÕES
Temos a
adaptação comum, relativa e imperfeita. A superadaptação, como espécies
invasoras vitoriosas (sem predadores). E a hiperadaptação, bastante ativa, do
homem.
BIOLOGIZAÇÃO
DA NATUREZA
O meio
ambiente com seu poder de seleção também é, de volta, biologizado. Plantas
aparecem como desbravadoras, colonizam um espaço e preparam terreno para
receber outras vidas. O é meio inorgânico torna-se cada vez mais orgânico,
também inorgânico biologizado. Vida e meio tendem a se tornarem cada vez mais
um, além de seu lado interno já unitário.
EXTINÇÃO: O
NEGATIVO POSITIVO – ERAS OU CICLOS
As grandes
extinções podem estimular espécies e evolução. Em primeiro lugar, há deriva
genética no sentido de mistura aleatória das populações (lembramos, ademais,
que estresse estimula a sensualidadade para manter vivo o DNA). É bem provável
que a extinção dos dinossauros abriu terreno para a prosperidade dos pequenos,
pouco e escondidos mamíferos. Além disso, os sobreviventes, deste longo período
em escala humana, são os mais aptos – uma seleção elevada à décima potência.
Crise é, também, oportunidade. Deve-se lembrar que as crises são formas, uma
dentre elas, de marcar eras ou ciclos. Provável por efeito cósmico, temos
extinções em massa a cada 27 milhões de anos.
TIPOS DE
SELEÇÃO
A seleção
natural divide-se em:
1)
Seleção
natural ambiental (o meio seleciona)
2)
Seleção
sexual
3)
Seleção de
grupo (incluso autodomestificação)
4)
Seleção de
ambiente (a espécie seleciona o ambiente ou o modifica)
5)
Seleção
social (feita pelo homem)
6)
Seleção por
grande extinção
7)
Seleção por
parasitagem
8)
Seleção
cognitiva
9)
Seleção por
família (matar filhotes “incomuns”)
10)
Seleção de
leis (a relatividade delas etc.)
Deve-se
destacar, enfim, que o ambiente também diversifica-se e evolui, ainda que de
modo relativo. Mas, de todo modo, o pensamento de Darwin sobre, ainda que com
grãos de sal atuais (biólogos dialéticos etc.), já nos permite uma compreensão
geral. Enfim, tais seleções podem entrar em oposição e contradição.
RELATIVIDADE
E APTO
É o mais
apto quem sobrevive. Mas há situações em que aptidões maiores não geram
seleção, prioridade, reprodução maior. Se, numa espécie, alguns produzem por si
um elemento enquanto outros não conseguem fazer o mesmo processo interno, mas a
alimentação já nutre com abundância com tal mesmo elemento, a vantagem até
desaparece com o passar das gerações. A vantagem é selecionada para saber se é
necessária, contingencia que se torna necessária, ou contingente.
REAÇÃO CONTRA
A EXTINÇÃO
As espécies
em proximidade da extinção reagem contra a extinção de seu núcleo, de sua
genética. Isso é feito por mistura de espécies (ou raças e variações) próximas.
O javali no Brasil, invasor, copula com o porco e deixa descendentes. Talvez os
neandertais perante o fim, com poucas opções de reprodução, tenham escolhido
homo sapiens – uma razão para termos um pouco de DNA deles conosco. Claro que
isso é por lei e inconsciente.
OPOSTOS
A biologia
descobriu a corrida armamentista: o predador fica mias rápido – as presas mais
rápidas escapam e deixam filhotes capazes – então o predador tem de ser mais
rápido, os mais capazes comer mais, vivem – e assim por diante. Mas temos
muitos opostos: além do fato de partes do corpo serem duplos (a boca serve para
introjetar e expelir etc.) – o ambiente seleciona as espécies, mas também as
espécies selecionam o ambiente – a espécie se adapta ao ambiente, mas o
ambiente também deve se adaptar à espécie – extinção em massa destrói, mas
prepara o terreno para a evolução – lei: ao caçar e preferir as melhores
presas, o caçador gera no médio prazo um problema para si, pois a melhor presa
não se reproduz como deve – e assim por diante.
CÉLULA E
ESTRUTURA
Se as
células iniciais de um corpo novo são iguais e são o mesmo material genético –
como, então, se tornam tecidos e órgãos tão diferentes? Resposta: quando surgem
e, no fundamental, até pelo modo de receber energia etc., a posição espacial
relativa aonde estão determina seus destinos, seus perfis. A integração,
relação e luta das partes as determina também.
O AMBIENTE
SELECIONA PARA SI
Sabe-se que
o homem selecionou espécies para si, funcionais para si (utilidade ou
estética), mas até mesmo incapazes de viver no ambiente original de seu
ancestral selvagem. Pois bem; o ambiente também seleciona para si, à semelhança
do homem, não apenas a seleção natural de todo cega, e de modo imperfeito –
reforçamos: um “também”. Aliás, à semelhança ao produto humano, espécies como o
Gavião Real brasileiro não sobrevivem fora de seu ambiente, pois dependem do
mutualismo com insetos capazes de limpar suas vias aéreas.
DUAS
HIPÓTESES TORTAS
Aqui, nosso
foco não é tanto apresentar teses novas, mas demonstrar a dialética na verdade
da biologia; então, o novo. Mesmo assim, rompemos o limite do bom senso para
produzir e deduzir. Vejamos dois eixos novos possíveis. Primeiro: há seleção
natural (geral), há seleção sexual (singular) – e há seleção estética
(particular); isso é comum entre nós, pois uma bela espiga de milho indica espiga
de qualidade; um animal venenoso não será comido se parece venenoso (se raro amarelo
etc.); a beleza pode ser via de seleção natural e sexual de modo extra (não
apenas o mais forte etc.); já dissemos em outro momento que a beleza é um
categoria de origem biológica, ainda que socialmente adaptada ou negada.
Segundo: há um inconsciente biológico ao menos em muitos seres mais
desenvolvidos; a lhama lambe o barro antes de comer a “venenosa” batata; como
se por nada, os negros brasileiros gostaram de misturar limão ao seu feijão
regular.
ESTÉTICA,
MULHERES E NATUREZA
Enfrentando
ou rompendo o machismo, a história da humanidade demonstra que há genialidade
artística entre as mulheres, muito ainda em potência por opressão. No entanto,
observe uma anormalidade: a maioria dos artistas são homens (machismo) – mas as
mulheres consumem mais arte, sustentam os artistas. Isso se resolverá com o
socialismo, mas merece uma observação. Sendo iguais aos homens, as mulheres são
o polo emocional unilateral da divisão sexual – e talvez tenha algo de natureza
aí, embora nada determinista. Os machos pássaros são coloridos, dançam,
preparam o cenário – porém fazem isso para o agrado das fêmea. O leão tem uma
volumosa juba – porém para o agrado da leoa. As mulheres se emanciparam, neste
sentido, com ferramentas – algo típico humano, fruto de seu trabalho – como o perfume, as tintas,
as danças tribais e o espelho. Em vez de ver no macho, algo externo, e para
fins apenas sexuais, já que animais não têm tais recursos via de regra – a
mulher colocou para si o prazer estético, não apenas artístico, interno mais
que externo ou no outro. Autoadmiração saudável, bom narcisismo. Ainda hoje, o
adolescente aprende violão para conquistar, mas, o futuro terá cada vez mais
garotas violonistas de alta qualidade. O socialismo tem rosto de mulher.
O SISTEMA
TENTA SE AUTORREGULAR
Ao entrar um
vírus no corpo, este defende-se com seus mecanismos. O sistema biológico também
tenta regular-se, tenta. Se uma espécie cresce de modo anormal, mais predação
vive. A quantidade absurda de doenças humanas é uma tentativa do sistema biológico
de nos limitar, de oferecer barreira. Mas somos mais do que isso, somos
sociais. Quando a água de um rio tem mais poluição, mais plantas com capacidade
de “limpeza” surgem.
BIOLOGIA E
METAFÍSICA
Apresentamos
como uma das bases da metafísica materialista, marxista, tal equação estendida:
movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= luz =massa = campo). Pois
bem; isso salta aos olhos na biologia. Tem-se luta por energia e, logo, por
matéria, além da energia solar ser base da alimentação geral (uma parte da
matéria, diz-se, retorna no ciclo enquanto a energia seria desperdiçada e de
caminho unilateral ascendente; mas ambas são, no fundo, o mesmo). Vemos também
que há luta por espaço como território. Há, ainda, luta pelo tempo, por exemplo,
matar um animal garante mais-tempo para o predador e menos-tempo para o
herbívoro caçado; há, portanto, luta de energia contra energia, esta
apresentando-se externamente como duas em conflito. De tais categorias, em
identidade interna, derivamos uma série enorme de questões biológicas, por
exemplo, a necessidade de selecionar o espaço, o meio. Em outro momento, já
usamos tal equação qualitativa para deduzir a origem a vida. Destaco que, como
meio é o meio, tem-se dependência da água.
REVOLUÇÃO
BIOLÓGICA
A teoria da
evolução de Darwin está no polo opostos à teoria genética, logo era necessária
uma unificação consistente. O gigante da biologia leu o artigo de Mendel sobre
genes, sua pesquisa; mas foi incapaz de ver sua importância, ignorando. Ora; se
um animal é igual-semelhante aos demais e aos pais, logo um “texto” (conceito) replicado
e orientador passa de uma vida para outra – os genes, o DNA e o RNA. Vejamos um
exemplo de tal unificação. A mutação opera a unidade íntima de acaso
(contingência) e necessidade (causalidade, lei): a mutação ocorre por acidente,
acaso, seja por erro de cópia, de replicação, seja por algum raio cósmico, e
talvez um etc.; mas logo tal mudança deve se por à prova, ou seja, deve ser
verificado se está de acordo com as leis duras da seleção natural e sexual, ou
seja, prospera ou deixa de existir com o tempo. A dialética em ato! O acaso
pode estar em acordo ou em contradição com as leis cegas e gerais. A teoria da
seleção natural-sexual pressiona sempre para o fim da diversidade, o que não
tem valor empírico; foi com a genética o momento de ver a realidade como
totalidade, que o diverso é necessidade biológica. Darwin deu o passo primeiro
e mais importante da revolução biológica, mas muito mudou desde então. A nova
síntese, união de darwinismo e genética, os biólogos dialéticos renovando as
interpretações com maior riqueza, novas conclusões e, enfim, a teoria evolutiva
do desenvolvimento (evo-devo); são renovações imensas como se A origem das
espécies fosse uma criança cujos traços apenas gerais permanecessem no adulto
que se tornou. A teoria do desenvolvimento, por exemplo, muda todo o foco: o
centro seria não explicar a diversidade das espécies, algo que deve de fato
acontecer, mas porque a mesmidade de uma espécie permanece com o tempo! Isso é
um ângulo totalmente novo, que deve ser unificado com a chamada nova síntese.
Dele, sugiram teses como a da seleção interna. Espero que a breve contribuição
deste capítulo, a teoria da população em especial, contribua em tal rumo, em tal
avanço qualitativo.
A obra maior
de Darwin teve de focar no aspecto central, pois isso foi unilateral e
unidirecional. Para ele, o meio seleciona a espécie – mas a espécie também
seleciona o meio, modifica-o, muda-se de lugar etc. Nesse sentido, os biólogos
dialéticos, que não fundam uma nova biologia em geral, fazem boas correções,
complementos e adaptações da teoria. Aqui, também em filiação aos dialéticos,
dissemos que o meio deve também adaptar-se à espécie, além de a espécie se
adaptar ao meio. Darwin iniciou a revolução, que deve ser aprofundada.
GENE EGOÍSTA
Richard
Dawkins, na tentativa de afetar o sentimento de solidariedade religiosa, erra o
tiro. Ele reduz a existência da vida ao seu conteúdo, à genética. Mas a realidade,
muito mais complexa, o refuta: há solidariedade entre seres, há seres que
apenas a “rainha” se reproduz, há ajuda para que outros “concorrentes” consigam
a fêmea. Diante de tais fatos, os biólogos de tal escola tangenciam, manobram,
tentam encaixar etc. O fato é que a vida não se reduz ao genético. E mutualismo
ou algo parecido não é, no fundo, apenas uma forma outra de egoísmo – coisas
como relações mutualísticas superam tanto o conceito de egoísmo quanto de
altruísmo, que podem estar presentes, ora um e ora outro, ora um mais vantajoso
que o outro. O gene nada tem de egoísta, pois tal categoria pouco se cabe nele.
O ser é todo o ser, não apenas sua parte.
FUNÇÃO DO
HOMEM
A pereira
produz peras – ela tem tal função, sua criação. E o homem? Diz-se que não tem
destino certo, que pode ter vários caminhos e perfis – e isso é cada vez mais
diverso quanto mais diversa for a sociedade em que vive. Mas a verdade é que o
homem – entro da diversidade de alternativas – é um ser para criar, criativo,
prática e mentalmente, criador; essa é sua função. Põe o novo, pode. É uma
condição biológica, e nova, que lhe faz social, mais que natural. Quem não é
criativo, está ainda mais distante de ser homem. Derivado disso; somos, também,
preservadores. E criar é, também, destruir.
UMA NOTA
Aqui, trato
de afirmações consolidadas, atualizações, concepções, teses – e hipóteses. É um
filósofo entrando aonde não é chamado… Por isso, às vezes, por exemplo, deslizo
de certos conceitos em nome do público amplo ou por limite pessoal. No caso,
entre outros, tive dois objetivos: 1) reforçar a relatividade relativa das
regras e leis, algo ainda incomum; 2) demonstrar que algo passa-se para seu
inverso. São duas formas, além de outras expostas acima, de visão dialética
materialista, foco no “movimento estrutural”, diacronia sincrônica, ou
história.
SEÇÃO QUATRO
O MÉTODO
DIALÉTICO EMPÍRICO-DEDUTIVO
LEIS E
CATEGORIAS DA DIALÉTICA
Antes de
debatermos os métodos científicos, vamos à logica das categorias opostas.
Falaremos das três lógicas – formal, velha dialética, nova dialética – com
demonstrações da realidade e, quando necessário, a diferença entre minha
dialética e a de Hegel.
LÓGICA
FORMAL
Vejamos as
leis desta lógica simples:
1. A=A, lei da identidade
Algo é igual
a si mesmo, um elefante é um elefante. Ele é o começo da ciência: distinguir e
classificar os seres. Assim, o finito é finito; o infinito, infinito.
Um dos
problemas desta fórmula é pensar o objeto de modo isolado, sem seu contexto, e
de modo estático, sem seu processo. A dialética vê a estrutura e o movimento de
que depende o objeto.
2. A=A ou não-A, lei da não contradição
Ou algo é
finito ou é infinito; não pode o infinito, nesta lógica, ser finito. A fórmula
é apenas um consequência natural da anterior.
3. A=x ou não-x, sem terceira resposta, lei do
terceiro excluído
Algo é ou
relativo ou absoluto. E ponto, e pronto. Não há meio-termo, caminho do meio ou
um “terceiro excluído”.
Vejamos
nossos exemplos. Hegel descobre que o finito é apenas um pedaço do infinito,
aquele está dentro deste, eles são um, não externos um do outro; finito =
infinito, ou melhor, igual a si mesmo e ao seu oposto. Mais: a ciência é
relativa, ou seja, parcial, incompleta, temporária ou, ao contrário, é
absoluta, chega à verdade ela mesma? Ora, há o caminho do meio, a ciência vai
rumo à verdade, está cada vez mais correta, por aproximação – entre o relativo
e o absoluto, ou seja, um absoluto relativo ou um relativo ele mesmo relativo.
Refutemos a
falsidade, embora também correta, da formulação aristotélica. Diz-se: ou a luz
(A) é onda (x) ou partícula (não-x), não havendo, portanto, meio-termo ou o
terceiro excluído. Ou um ou outro. Mas a física moderna descobre que a luz é
uma sobreposição dos dois estados opostos, tanto onda quanto partícula, podendo
também ser ora um e ora outro. Curioso que universitários insistam na clássica
lógica quando a realidade já a superou.
A VELHA
DIALÉTICA
A dialética
de Hegel diz que
A=A e não-A
identidade
da identidade e da não identidade. Ou seja, o finito é ele mesmo e o infinito,
o interno é ele mesmo e o externo, energia é ela mesma e a massa, tempo é ele
mesmo e o espaço etc. Preserva-se a diferença dos opostos e, ao mesmo tempo, a
mesmidade deles, que são iguais, ou em unidade, ou em identidade. Repitamos o
caso anterior, pois é paradigmático. Antes, dizia-se que luz (A) é ou partícula
(x) ou onda (não-x), sem permitir uma terceira resposta, o terceiro excluído.
Mas hoje sabemos que a luz é um sobreposição de dois estados opostos,
partícula-onda.
Pensar
dialeticamente é, em parte, pensar assim: algo é ele mesmo e seu oposto; ou,
senão, pelo menos em unidade com o seu contrário. O repouso é uma forma de movimento,
por exemplo.
A NOVA
DIALÉTICA
Hegel
preserva a lógica formal dentro de si e, ao mesmo tempo, a supera. Aqui,
preservamos quase toda a dialética de Hegel, além da lógica formal, numa nova
dialética, com peso ainda maior ao movimento (diacrônico). A fórmula é esta:
A=A e…
não-A.
O infinito
põe o finito, o universo; o caos passa, a si mesmo, por não se suportar, para a
ordem; o relativo desenvolve-se, tanto quanto pode, para o absoluto (o caminho
do conhecimento – A=x e… não-x). O homem (A) é biologicamente determinado (x),
mas torna-se, cada vez mais, tendencialmente (…), socialmente determinado
(não-x). Demonstraremos melhor a seguir, perpassando a Lógica hegeliana e a
nossa.
Nota
histórica
A evolução
da humanidade leva à evolução da lógica, mesmo se com tropeços e atrasos. A
lógica formal pertence ao escravismo e seu desejo de naturalidade e eternidade
da escravidão – a negação do movimento e do contexto. Mas o reino da
permanência, da rotina e da tradição dá lugar ao reino frenético da impermanência.
O reino do
produzido, almejado e isolado valor de uso ou produto (A=A) passa para o reino
da mercadoria de algum modo igual a outra qualitativamente totalmente diferente
e oposta (A=A e não-A); o dialético faz, mas não sabe – de seu fundamento histórico
de raciocínio. A lógica de Hegel sustenta os opostos contraditórios, e quer
focar a unidade deles para além ou por debaixo do movimento. É uma dialética
sincrônica apenas. Pertence ao modo de transição que é o capitalismo, entre o
passado classista e o futuro sem classes, que tenta equilibrar-se e manter-se
em pé, como se fosse mais do que modo de transição. É uma revolução parcial e
interrompida. Veja-se que o terceiro excluído, excluído na lógica formal
(neste, ou A é x ou não-x, ponto final), é agora a verdade como se estática,
como se ”entre” um extremo, x, e outro extremo, não-x. É um não-se. Um querer
declarar o fim da história quando ela sequer começou. É a próxima lógica que
dirá que o objeto vai de x para não-x, aquele ainda no interior deste.
A lógica
marxista olha para o futuro – do e no presente: observa o mundo tal como é ele,
e aponta aquilo que tende da ser por suas próprias forças. É a dialética também
diacrónica, que aceita a transição como transição, a contradição como
contradição. Em seguida, veremos o trabalho novo com os conceitos da Lógica
hegeliana: a necessidade produz a liberdade em seu autodesenvolvimento, o nem
positivo nem negativo passa-se para o positivo e o negativo apenas para depois
fundar um novo neutro etc. Em Hegel, por exemplo, o neutro, o negativo e o
positivo existem apenas juntos, uns dentro do outro, e ao mesmo tempo, sem
movimento real, além de lógico, de passagem.
Vejamos mais
sobre positivo-negativo. Para Aristóteles, A aqui e B ali, ou seja, senhor de
escravos e escravos são opsotos separados, humano e ferramenta, e que não haja
conflito!, com o mínimo de contato real possível, um mundo e estático e
permanente. Para Hegel o positivo e o negativo são, juntos, algo neutro no
todo, ou seja, na totalidade, sem contradição ou movimento real como
desenvolvimento concreto. Assim, temos o buguês (positivo) e o operário
(negativo), opostos que formariam, na amplidão geral, um capitalismo neutro,
harmônico, o fim da história. Para nós, ao contrário, o nem positivo nem negativo,
neutro, ou seja, o artesão medieval, passa-se para o burguês positivo e o
operário negativo, então, contradição e movimento, então, tal oposição
contraditória e atraente é superada pelo novo nem positivo nem negativo, o fim
das classes – o fim do fim da história, encerra-se o capitalismo. Adorno sequer
arranha nossa crítica ao afirmar que Hegel força a unidade contra a contradição
e a diferença. O capital permite e proíbe o desenvolvimento da dialética.
Por muito
tempo, tentou-se atualizar a dialétrica sem salto de qualidade, sem salto para
si, mantendo intacto seu passado. Chega-se, porém, ao ponto em que uma nova
dialética, filha legítima da anterior, deve ser consolidada.
CATEGORIAS
CENTRAIS DA DIALÉTICA
1. Totalidade (integração, geral).
Direto ao
ponto: a totalidade é mais do que a mera soma de suas partes, pois ela é a
síntese das partes e suas inter-relações. Além disso, a relação da parte com o
todo. O exemplo clássico na natureza é este: a água (totalidade) apaga o fogo,
mas ela é formada por átomos de hidrogênio, que causam combustão, e de
oxigênio, que permite a combustão. Assim, a totalidade tem características que
suas partes não têm.
Para saber o
que é um próton não basta saber quais são suas partes num colisor de
partículas. É preciso teorizar com e para debaixo dos dados.
Mario Bunge
redescobriu, sem saber, de modo incompleto, Hegel, ao dizer que não é nem
holístico, com a visão apenas do todo, nem individualista, reducionista, que
foca no individual e na parte. Chama o foco em ambos como sistemático. Ele
acerta, embora não seja o primeiro, mas esquece que a totalidade forma-se,
desenvolve-se, movimenta-se. Aliás, a totalidade não é apenas “espacial”,
estrutura e sincrônico, pois também é “temporal” processual, diacrônico e com
história.
A teoria da
complexidade não dá crédito a Hegel. Ela diz que há níveis ontológicos em que
um nível apresenta leis e características que não existem no nível anterior, de
onde veio (propriedades emergentes). Ora, isso já é conhecimento na dialética!
A complexidade é assunto desde o início do século XIX, de modo algum é uma
grande novidade.
A categoria
totalidade exige, antes, a categoria de integração – numa totalidade. Sem isso
totalidade não haveria. As árvores parecem mera coleção e indivíduos separados,
mas elas estão ligadas, inclusive ajudando umas às outras, por ligações ocultas
abaixo da superfície.
Lembramos
que para Hegel e, mais uma vez, para Bunge, séculos depois, o mundo físico
(mecânico) não apresenta um caráter de interdependência geral das partes, estas
são separáveis e divisíveis. Não dependem umas das outras, não existem apenas
por união. Já no nível de imediato seguinte, a química, já existe essa
integração necessária. Assim, vamos do não interconectado à conexão universal –
ou a internconexão física é demasiadamente leve, difícil de teorizar. Bunge
poderia ter poupado neurônios para outras lacunas intelectuais se tivesse lido
Hegel com atenção.
Destacamos,
ainda, dois aspectos. Um bioma é um sistema que funciona por si, como
totalidade. Mas se o homem põe, por exemplo, um animal novo sem predador
natural naquela região, todo o sistema se desequilibra. Em um lago organizado e
dinâmico, se pescamos e retiramos muitos peixes, o fluxo de matéria e energia
se desregula podendo leva ao colapso do sistema inteiro. Na física, com
características de química, os 3 quarks que formam o próton apenas podem
existir se juntos, unidos, colados pelo mediador, o gluon. Quando se exerce uma
energia para retirar uma das partículas, isso gera tensão, logo energia maior
naquele local; assim, a energia de arranque gera logo a energia necessária para
surgir de imediato outro quarks, mantendo a tríade e a “cola que se estica”
(gluon, ou, para minha pesquisa, espaço no mais fundamental).
Enfim, uma
parte, ao ganhar energia, desenvolve-se num todo. Uma parte pode entrar em
contradição com o todo ou com este por meio de outra parte, como na disputa
energética – o que pode fundar nova totalidade. Um todo, ao acumular energia,
torna-se outro todo.
2. Contradição (relação, particular).
Para Hegel,
a base do movimento é, em geral, a contradição. Em dialética, apenas é logico o
que é contraditório. Mas a contradição está na própria realidade, na própria
coisa, não em primeiro no pensamento ou no argumento. Uma estrela como o Sol
tende a colapsar para dentro de si mesma por causa de sua gravidade, mas tal
pressão gravitacional é produtiva, produz novos átomos mais pesados, logo
liberando fótons na direção aposta à da gravidade, empurrando para a expansão
estelar; uma estrela dura bilhões de anos em equilíbrio dinâmico, na
contradição, entre as tendências de contração e as de expansão. Na biologia,
temos o exemplo da “corrida armamentista”: um leopardo corre em busca de um
cervo, logo apenas sobrevivem os cervos mais rápidos; porque estes aumentaram
sua velocidade média, as novas gerações de leopardos têm de ficar também mais
velozes; assim, um e outro se tornam cada vez mais rápidos, geração após
geração, por causa do conflito entre ambos.
Os críticos
de Hegel e Engels, dizem que o mundo natural tem identidade, diferença,
diversidade, até oposição, mas nunca a contradição. Em geral, os pensadores de
humanas do século XX foram, ao que parece, péssimos alunos de ciências da
natureza. Na biologia, temos a seleção natural, do meio, e a seleção sexual; o
cervo macho luta com outro cervo macho pela fêmea, logo quem tem galhas maiores
tende a vencer as lutas; mas galhas cada vez maiores por seleção sexual gera
peso extra, logo torna-se mais fácil de ser vítima de um predador por causa da
dificuldade de correr – eis a contradição. Refutar a contradição como apenas
social ou apenas capitalista é fácil, basta evitar a hiperespecialização de
nossa época.
Para Hegel,
porém, a contradição é externa perante a unidade interna; para Marx, a contradição
também é essencial. A contradição, para ambos, é produtiva, não só destrutiva.
Para haver
contradição, deve existir, antes, a relação ou a autorrelação. Por exemplo, os
biólogos passaram da cooperação na natureza para a lei da luta de modo absoluto
e unilateral, mas ambos existem na realidade biológica. A verdade, unidade, da
contradição e da cooperação é a relação, relação recíproca ou relação consigo.
Tudo apenas é em relação.
3. Movimento (espaço-matéria, singular).
Os antigos
pensavam o movimento como circular, caótico ou ilusório. Hoje, sabemos que
apenas permanece aquilo que muda – e só a mudança é permanente. Trata-se de,
além de saber as leis regulares do mundo, saber também as leis de mudança, de
modificação – e até as leis mudam!
Movimento
tem dois significados válidos: 1) deslocamento; 2) mudança. Adicionamos o
terceiro: 3) mudança por deslocamento. Quando um objeto é muito acelerado,
ganha massa e diminui seu volume.
Movimento é
processo, desenvolvimento; mais do que mero movimentar; mais do que circular;
também em espiral ascendente.
Por outro
lado, para haver movimento deve haver o espaço e a matéria (aqui, em sentido
amplo), o espaço-matéria. Movimento é unidade de espaço e matéria.
LEIS DA
DIALÉTICA
1. Mudança de quantidade para qualidade;
Hegel usa o
exemplo da água: ele torna-se gelo de repente, no salto - não de modo gradual, aos poucos. A água
torna-se cada vez mais gelada, mudanças apenas quantitativas, então salta de
qualidade, torna-se gelo, sólida. O marxismo vê também a mudança de qualidade
sem salto como a criança que se torna adulta de modo gradual.
2. Unidade, contradição e interpenetração dos
opostos;
O átomo é
formado por prótons, positivo, e elétrons, negativo. Os sexos opostos devem se
unir. A adrenalina serve tanto para lutar quanto, oposto, para fugir. Mais a
frente desenvolveremos melhor tal aspecto.
3. Negação da negação;
Hegel usa
tal exemplo: a fruta nega a flor, o broto nega a fruta e assim o ciclo
continua.
4. Desenvolvimento desigual e combinado.
As partes de
uma totalidade se desenvolvem de modo desigual, em ritmo desigual, não
sincrônico, formando uma combinação. Uma estrela, por exemplo, produz elementos
pesados no seu centro, mas suas camadas mais externas ainda são feitas de
elementos leves. Um feto inicia com desenvolvimento desigual de suas partes.
Como
dissemos, mantemos de pé a dialética de Hegel, além da lógica formal, mas
pesamos a mão no movimento, no diacrônico. Além disso, damos a base que falta à
lógica de Hegel com nossa equação qualitativa, em especial aqui, a energia.
OBSERVAÇÃO
PRELIMINAR: UNIDADE DOS OPOSTOS NO PROCESSO
Hegel tentou
unifica as categorias opostas infinito e finito, conteúdo e forma etc. de modo
reflexivo, mostrando a unidade interna e oculta delas, que são o mesmo ainda
sendo diferentes. Mas ele permaneceu, em geral, estático, não diacrônico. Nesta
obra, neste ensaio, demonstramos outros modos de ver tal unidade, como uma
categoria passando tendencialmente à outra, ou a energia como base. Mas vamos
mais longe: a categoria A é igual à categoria oposta B em processo. Assim, o
contínuo (abstrato) é o discreto (concreto) em concentração, concentrado
(processo) (veja-se: um feixe de luz aparece como contínuo porque várias
partículas, fótons, os discretos, estão em movimento e juntas) – fórmula geral:
o abstrato é o concreto em processo. O movimento de uma categoria, ou sua
oposta, ou vice-versa, faz que com que haja a unificação delas. Isso é uma
revolução na lógica dialética, junto a elementos como considerar a energia no
“fundo” das relações categoriais, além da contradição das categorias mais do
que apenas a oposição entre elas. Se não todas, quase todas as categorias em
oposição externa fazem tal movimento, expressando essa igualdade no processo, o
que dispensa uma exposição exaustiva. Os não marxistas não podem mais reclamar
que nossa dialética parou na, ainda revolucionária, ainda na vanguarda
científica, lógica de Hegel do século 19. Aqui, uma categoria passa para a
outra não só no pensamento, também na prática, na matéria, em devir
real-conceitual de uma para outra. Sempre que for interessante, daremos
exemplos nas ciências, ou seja, no Ser, no objeto, na realidade, contra a
exposição apenas abstrata hegeliana e kantiana.
MÉTODO
DIALÉTICO
No início do
século 19, Hegel tornou-se imortal por sua grande Lógica, o moderno método
dialético. Suas contribuições, ainda hoje, em permanência ao que parece, são
insuperáveis; uma dialética superior soa impossível. Além disso, deu-se-nos uma
dialética materialista, embora de cabeça para baixo. A força hegeliana é o
fato, entre o outros, de ser não unilateral, de suprassumir as grandes
oposições da filosofia. Este ensaio, portanto, toma a Ciência da Lógica como
sua base correta e primeira, mas incompleta. Por isso, também, trata-se de um
ensaio.
Quando
perguntamos a um hegeliano ou marxista “O que é ou como procede o método
dialético?”, logo gaguejam, ficam desconfortáveis, improvisam. De um lado, de
fato inexiste um procedimento investigativo fixo, o que perdoa tais intelectuais
– na dialética, pesquisar é estar dentro de um labirinto, tentando descobrir o
caminho correto; de outro, como disse Hartmann, o método dialético é irmão do
fazer artístico, criativo e associativo, que “saca” a realidade até ali
invisível.
O método
dialético é, em resumo grosseiro, o inverso do método hipotético-dedutivo, ou
seja, em linguagem inferior e falha, um método empírico-dedutivo. Parte-se
sempre da empiria para alcançar a verdade do mundo, mas, como os dados mentem e
escondem, além de revelarem, usa-se a razão para perceber aquilo oculto ou
deformado. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o
conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade
saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles,
mas neles mesmos. Assim, o empírico faz parecer que há apenas custos de
produção somados a um cálculo do patrão para ter um preço de produção de suas
mercadorias, mas Marx vai para além ou para dentro da empiria e descobre que
há, na verdade, trabalho necessário com trabalho gratuito do operário ou
mais-trabalho, valor e mais-valor, exploração e roubo. É verdade que os dados
empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas
também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e
enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão
interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir
além e abaixo ou dentro daquilo empírico.
Eis o método
dialético.
Em minha
pesquisa, além de procurar nos dados a verdade, evitando a mera descrição,
percebi que o marxismo caiu em teorias opostas, em oposições. Minha tarefa,
portanto, foi listar as principais polêmicas e, colocando-as em movimento,
resolvê-las – com o raciocínio, claro, mas em base à empiria. Eis, de outro
modo, o método dialético.
A verdade é
não empírica. Descobrimos na pesquisa empírica aquilo que não é palpável,
tocável, mas que se revela ao pensamento desde a própria empiria. A dialética é
a verdadeira fusão – mais do que mera aglutinação, como é o caso do
hipotético-dedutivo – de empirismo e racionalismo; pois ao pensamento deve-se
dois lados ativos, após colher o material necessário: 1) perceber os enganos
dos dados; 2) perceber a verdade daquilo pesquisado.
Daqui para
frente, teceremos comentários e propostas críticas de atualizações da obra
Ciência da Lógica de Hegel. Uma crítica possível, mesmo que parcial, tem, de um
lado, de agregar o melhor daquilo criticado para si, de outro, acertar o outro
exato no seu ponto mais forte, de base – o ser e o nada.
SER, NADA,
DEVIR
O puro ser é
como o puro nada. Vejamos: se o ser não tem qualidade, nem características, nem
determinações – ele, enquanto puro, é nada! Já o nada é, logo ele é como o ser!
A coisa se mostra assim, numa anedota: tem cara de jacaré, tem olho de jacaré,
tem focinho de jacaré – não pode ser um coelho. Assim o puro ser é como o puro
nada; são diferentes e opostos, mas estão em unidade. Já o materialismo afirma
que o nada amplo não pode existir, que ser não pode vir do nada. Eis que há
teses na física que afirmam ir-se do vazio ao cosmos. Em minha elaboração, tal
vazio total seria o espaço, o mais próximo do chamado puro ser por ser mais
simples, o transparente. Para os físicos, o vazio teria campos e nessa
autorelação surgiriam fótons que decaiam em elétrons e pósitrons que, de novo,
tornar-se-iam fótons, num ciclo repetitivo até tudo mudar; mas demonstrei em
outro local que a energia de ponto zero é, na verdade, autoflutuações do próprio
espaço.
É o ser quem
põe o nada como nada de um ente. Em nossa equação qualitativa, categorial: nada
é ser no devir. O devir do ser, ele em movimento, põe o nada. Ou, se correto, o
início do ser é tão simples que ele, sendo como nada, é um nada.
Na matemática,
torna-se assim, desde Husserl: o zero é o vazio e o infinito, o infinito e o
vazio; um, porém o outro; a relação do zero do conjunto infinito com o zero do
conjunto vazio – põe o um. O que é uma lógica da matemática pode ser sintoma da
própria realidade, da origem do universo. Talvez, acomode-se na quarta
dimensão.
Ir do nada
ao ser é nascer; ir do ser ao nada, perecer, processo de morrer. Mas as coisas
e vidas, os entes, não surgem do nada, mas de outro ente. O nada no ente é
apenas ausência e falta; o que pode ser diferente no nível, do Ser, do cosmos.
A unidade,
não identidade, do Ser e do Nada é, para Hegel, o devir, o vir-a-ser, o
tornar-se. Nesta obra, o devir é a unidade de matéria e movimento; estes,
separados não tem verdade alguma. Destacamos que matéria, aqui, inclui não
apenas a matéria na física, pois tudo é matéria – nada existe divino.
Em Hegel,
ser não é nada, nada são de idênticos, mas estão em unidade. Para nós, o nada é
substituído por energia e sua base, a quarta dimensão espacial, fora e dentro
da coisa ou ente.
O vazio
infinito, quarta dimensão espacial, não tem porque não se movimentar dentro de
si próprio. Ao menos ele tem uma tensão que desaba no finito, funda nosso
universo finito.
O Ser passa
para a matéria e o nada, para o espaço. E um passa para o outro, como
desmonstramos em nossa física. Tanto matéria quanto espaço são, sendo um,
portanto, quadridimensionais.
SER |
NADA |
Limitado, potencialmente infinito |
Ilimitrado, infinito real |
Leis, regularidades, regras |
Caos |
Material |
Imaterial |
Preenchido |
Vazio, vácuo absoluto |
Os antigos
filósofos, Parmênides etc., faziam completa confusão entre ser e nada, por
exemplo, o ser seria infinito, não finito em si (não, claro, na quarta
dimensão). O ser seria sem movimento. Mas a unidade, e relação, da matéria e do
espaço faz o movimento, não em exato do espaço e do tempo. O ser é permanece,
matéria, enquanto o ente e suas propriedade é sendo nada-ente-nada
CONCEITO
SUPRASSUMIR
Hegel usa a
palavra em alemã Aufheben ou Aufhebung para expressar três significados ao
mesmo tempo: superar, guardar (conservar) e destruir. São significados opostos,
conservar e destruir, na mesma palavra! E é isso que acontece na realidade
(como o devir, viar-a-ser, como o suprassumir do nada e do ser).
O
socialismo, por exemplo, destrói de fato o capitalismo, mas, ao mesmo tempo, o
preserva – e também o eleva. O capitalismo não apenas simplesmente superado ou
destruído – é suprassumido.
A DIFERENÇA
E O MESMO
A dialética
é uma filosofia ao mesmo tempo da diferença e da mesmidade. Ser e nada são de
fato diferentes e, ao mesmo tempo, o mesmo. Causa e consequência são diferentes
e são também o mesmo. Finito e infinito são diferentes, mas são o mesmo. E
assim por diante. Em todas as categorias duplas que trataremos daqui em diante
é preciso ver a unidade delas na diferença.
Essa é a
dialética. Por exemplo: Lenin errou ao apenas opor a luta econômica (por
salário, etc.) contra a luta política, como se esta última fosse a realmente
válida e superior. Ora, a luta econômica é política e, ao contrário, a luta
política é econômica. A grande luta política de 2013 no Brasil produziu uma
onda de greve., por exemplo.
SER AÍ, ALGO
E OUTRO
O devir,
como unidade de ser e nada, passa para o Ser aí.
A
determinação torna-se QUALIDADE, ou seja, determinação que é aí. Por sua vez, a
qualidade torna-se REALIDADE.
Observemos
bem: se determinação torna-se qualidade e, depois, realidade – e se
determinação é negação –, então a própria realidade é negação. A realidade é
negação de outra realidade.
Na
realidade, o ser vai para dentro de si mesmo, torna-se ALGO.
ALGO E OUTRO
Algo passa
por mudança qualitativa e torna-se Outro. Este Outro é, assim, um Algo que
também passa para um Outro – ao infinito.
Aprofundemos
Temos um
livro e uma caneta. Se um livro é algo, logo a caneta é outro (o outro do
livro). Ora, isso é artificial, pois a própria coisa não está nos dizendo se é
algo ou outro – somo nós arbitrariamente que decidimos isso. Mais abaixo, vamos
resolver esse problema.
Os dois, livro
e caneta, são algos e, ao mesmo tempo, os dois são outros (cada um é o outro do
outro). Se o primeiro é algo e outro e o segundo também é algo e outro – logo
eles são o MESMO. Vamos para o exemplo. No começo de O Capital, Marx fala de
uma dúvida de Aristóteles: é possível trocar 3 sofás por uma casa, mas casa e
sofá são coisas completamente diferentes! Como coisas diferentes podem ser
iguais? Aristóteles não soube responder, disse que era apenas um artifício
mental. Já Marx resolveu o problemas ao dizer que eles são também o mesmo, são
igualado, porque são ambos frutos do trabalho humano – três sofás tem tanto
trabalho humano quanto uma casa.
Aprendido
isso, avancemos.
Como fazer
com que o algo não seja outro, com que seja de fato algo – e que o outro seja
de fato outro? A consequência é de fato o outro causa, por exemplo. Vamos para
o reino místico: a alma, se existisse alma, é de fato algo e corpo da alma é de
fato o outro. Veja que algo, uma pessoa, dividiu-se em dois algos, alma e
corpo, um sendo verdadeiramente algo e
outro sendo verdadeiramente outro. Isto ser algo e aquilo ser outro já não é
uma decisão artificial, uma escolha.
SER EM SI E
SER PARA OUTRO
Como algo
divide-se em dois algos, que são também algo e outro, ocorre que eles se tornam
ser em si e ser para outro. O ser em si é o ser dentro de si – enquanto o ser
para outro é externo, digamos. Na metáfora da alma e do corpo, o ser em si é a
alma e o ser para outro é o corpo pertencente à alma (por isso, para outro).
Há ainda
outra interpretação. Os dois algos, separados um do outro, nesta relação são,
cada um, ser em si – ou seja, independente do outro, sem relação com o outro,
relacionado apenas consigo mesmo. Mas cada um é, por outro lado, ao contrário e
ao mesmo tempo, ser para outro – ou seja, ser que está nessa relação com o
outro.
Em
movimento, o ser em si torna-se para outro – depois pode ser para si. O
trabalhador artesão torna-se operário (para outro, o burguês, que é para si) e,
por meio da revolução, torna-se para si. Quando um torna-se para si, pode ter
outro que é para outro, para ele.
DETERMINAÇÃO,
CONSTITUIÇÃO
A
determinação é, por exemplo, o fato de uma bolsa ter a determinidade, para
dentro, de guardar objetos; ele é um só com a sua constituição, que são o
mesmo. O que nos interessa é que se põe na determinação a ideia de núcleo. O
átomo é determinado pelo seu centro, formado de prótons e nêutrons, sendo a
quantidade do primeiro o que determina a natureza primeira de uma partícula
atômica. O núcleo preserva-se enquanto os elétrons em volta dele sofrem as
ações do meio externo, ao menos de modo mais direto. O núcleo desenvolvido da
vida complexa é o cérebro; na célula, evoluiu-se dos seres procariontes, sem
núcleo, para seres eucariontes, com o código genético determinante protegido.
A
constituição pode revelar-se como tal ao fundar a determinação, e este último
torna-se a si mesmo com a construção da constituição.
LIMITE, MAU
INFINITO, O INFINITO QUALITATIVO
O infinito
qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão
espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia. O
infinito está já aí sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito
está diante de nós, no meio de nós, não avançamos até ele. O bom infinito
produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão. Este infinito
ruim se expressa na natureza como com a altíssima reprodução de gafanhotos,
formando uma nuvem, comendo tudo em sua volta, logo faltando depois comida
(energia) para sua própria sobrevivência, passando assim por algum tempo do
nível de equilíbrio de sua população.
Aqui vermos
o erro de Hegel ao esquecer o conteúdo. O que é infinito, o infinito, senão o
espaço? Ele abarca o finito dentro de si, além de o formar. Quando a Lógica diz
que o Ser passa a ter a determinação da infinitude, diz apenas que o espaço,
como o vazio, está no centro da ontologia. Finalmente, resolvemos a questão,
encontramos o fundo.
Se o
infinito produz o tempo, manifestar-se como, a hipótese insistente de muitos
sobre o tempo produzir o espaço, não o inverso, ganha novo significado: o
infinito produz as três dimensões, ou melhor, as quatro. Curioso notar que a
garrafa de Klein, sem externo nem interno, tal como a fita de Möbius, tem uma
dimensão a mais; e, nestes casos, os “lados” são uma quase ilusão ao se focar
na parte, no pedaço, não no todo – o que aponta para as três ou quatro
dimensões como pedaços do infinito, parcialidades relativas.
Nossa teoria
atual e os dados dizem que nosso universo é finito. Mas se ele tem fim, há algo
depois de si e este também tem algo, como outro universo, depois de si – ao
infinito. O problema é a concepção de infinito como uma linha reta cada vez
maior, sempre podendo avançar mais, ou seja, o mau infinito, da progressão
contínua, pois encontra um limite-barreira e o supera, encontra outro e o
supera, e assim por diante. Como dissemos, o infinito como um círculo sem
começo nem fim hegeliano tem por resposta prática a quarta dimensão
espacial-temporal. Nosso universo é finito, mas infinito quando visto “para
dentro”, além da possibilidade de haver outros universos irmãos. O universo em
3 mais um tempo dimensões, finito, tem a pulsão extensiva, amplia-se, um finito
que quer ser infinito, má infinitude.
A ideia de
que há infinitos maiores do que outros também cai na má infinitude do
progresso. Mesmo uma teoria errada pode ser desenvolvida ao limite, como é o
caso.
Sobre o
limite, sabemos que a célula tem uma borda sua, uma membrana que a separado
externo. Na física, dois espelhos ou duas placas de ferro não se fundem, não se
tornam apenas um, quando encostados porque possuem sujeira feita de outros
materiais nas suas superfícies, que servem como limite e borda, barreira; se
eles são polidos, limpos, fundem-se, tornam-se apenas um. Em nossa teoria, o
próton não se funde com o elétron porque são ambos pedaços em si inteiros como
espaço concentrado, logo com limite, borda, barreira; logo, necessário muita
força e energia para fundirem-se no nem positivo nem negativo, em nêutron
(inteiro de fato inteiro, antes dividi em duas partes, um positivo e outro
negativo).
O vírus é
vida por que possui: 1) determinação, ou seja, DNA, 2) constituição e limite,
ou seja, uma borda celular que o separa do meio, e 3) quer superar o limite
como barreira, ou seja, parasita células para se multiplicar. Vida, portanto.
UNO E VAZIO
– ATRAÇÃO E REPULSÃO
Para Hegel,
o infinito real desaba no uno, no ser para si. Ou seja, ele é um dos
precursores da teoria do Big Bang e da concussão de que uma estrela expande-se
e contrai-se num ciclo de repetição.
É provável
que o infinito, aqui exposto como quarta dimensão espacial, forme nosso
universo, como o núcleo pequeno e denso do primeiro Big Bang.
O que é
vazio para Demócrito e Hegel, para nós é espaço. O uno, para ambos, é o mesmo
que o vazio; para nós, o mesmo que o espaço, só que concentrado, como partícula
e onda. O universo expandiu-se porque a matéria e a luz decaíram em espaço,
facilitando a expansão, repulsão. Para Hegel, a relação do vazio com o uno
(átomo etc.) é a causa da transformação do único uno em muitos unos, no
múltiplo. O movimento, ao menos, está correto. O Big Bang foi uma expansão, as
estrelas como exemplo de unos explodem em uma nuvem cósmica de partículas (os
muitos, o múltiplo, os muitos unos). Mas Hegel foi além: a repulsão do uno
único dá lugar à atração dos novos muitos unos; ou seja, o universo voltará a
unificar-se como no seu começo e a nebulosa que surge da explosão da estrela
reúne-se mais uma vez, e de novo, numa nova geração de estrela.
Aqui, Hegel
antecipa a teoria das estrelas e a do Big Bang, assim como a crítica superante
desta última. Kant primeiro considera as partículas estáticas e apenas depois
adiciona a repulsão e a atração nelas, teorizando a origem do Sol e de seu
sistema. Hegel, de modo lógico, foi mais longe, pois havia antes outra estrela,
outro Sol, que se expandiu, explodiu-se, e formou as tais partículas das quais
começa Kant.
Entre outras
genialidades, duas se destacam neste ponto, entre elas: o Uno é produtivo. O
animal é produção de energia, a estrela produz novos elementos químicos, a
fábrica produz etc. Minha tese é a de que os buracos negros também são
produtivos sob suas condições extremas como, talvez, transformando espaço em
matéria ou elementos químicos excessivamente pesados estranhos.
As
descobertas e as teorias modernas reforçam Hegel, mas ainda há outro ponto: o
isolamento do para si do uno na repulsão parece como sua afirmação, ao
isolar-se dos demais, mas é sua negação, exato por seu isolamento. Por excesso
ou fata de energia, como um átomo isolado, precisa ligar-se com os demais para
de fato afirmar-se, em comunidade. Na biologia, uma árvore cresce melhor na
floresta do que se isolada, pois a presença de outras espécies torna seu
ambiente mais saudável, como maior disponibilidade de energia na terra.
Para fazer
jus, o primeiro filósofo a pensar algo como um Big Bang, onde algo concentrado
dispersa-se no cosmos foi o grego Melisso de Samos:
Com efeito, quando o Todo se dissolve em seus
elementos sob a ação do Ódio, o fogo se une em um todo e cada um dos outros
elementos. Inversamente, quando de novo sob a ação do Amor, há redução ao um, e
as partes são forçadas a se separarem outra vez em cada (elemento).
(pré-socráticos, p. 203)
São palavras
de Aristóteles sobre Melisso que demonstram a poderosa intuição científica,
recuperada em nosso tempo.
O ISOLAMENTO
DO PARA SI
Quando o Uno
(um) desmancha-se, dissolve-se, fragmenta-se, ou seja, ocorre a repulsão de si
mesmo, surge os vários unos, os muitos (múltiplos). Cada uno novo nega o outro
uno, isola-se. Mas esse isolamento, que aparece como sua afirmação absoluta, é
na verdade sua negação, sua destruição. Ele somente consegue afirmar-se de
verdade em comunidade, em união, em atração. Assim, uma pessoa isolada passa
por instabilidades físicas e mentais – somos um ser social. Assim, um átomo
isolado é instável, logo, para resolver isso, ele se liga a outros átomos
formando moléculas. Darwin descobriu que a planta desenvolve-se melhor se
agrupada com outras plantas, de outras espécies. Ademais, sabe-se hoje, as
árvores têm uma conexão abaixo da superfície por onde trocam nutrientes e
informações, ajudam umas às outras etc.
ATUALIZAÇÃO:
CRISE DE PRODUÇÃO DO UNO PRODUTIVO
Os uns, os
muitos, os muitos uns (átomos, células, mercadorias etc.) unem-se em um grande
“um” ou “Uno” – estrelas, corpos vivos complexos, fábricas. É o uno produtivo.
Temos,
então, a contradição, crise: o uno produtivo, reunião dos muitos ou dos vários
uns, falha, após seu largo desenvolvimento, em produzir!
A estrela
não consegue fundir o pesado ferro em seu núcleo antes produtivo, então colapsa
em supernova, estrela de nêutrons, buracos negros.
O corpo vivo
complexo – animal – falha na reprodução das células (muitos, uns) com o
envelhecimento – câncer.
A produção
da fábrica produz mercadorias (unos, muitos) demais, superprodução, por outro
ângulo, produz menos valor por empregar menos (unos, muitos) trabalhadores
(robótica, automação). Menos trabalho, menor transferência de energia.
Crise,
crise, crise!
Ao seu modo,
até a crise do uno é produtiva.
ATUALIZAÇÃO:
CONTRADIÇÃO ATRAÇÃO-REPULSÃO
Ao negar
parcialmente a contradição, Hegel não vê com clareza que atração e repulsão
também ocorrem ao mesmo tempo, ou um derivando o outro, além da dominação de um
sobre o oposto e vice-versa. Vê com mais clareza a alternância de ambos.
SIMPLES E
COMPLEXO
Engels, em
sua Dialética da Natureza, tenta demonstrar que o simples é, ao mesmo tempo ele
mesmo e o seu oposto, o complexo, A=A e não-A. Assim, uma célula viva é
simples, mas muito complexa quando observada por outro ângulo, dentro de si,
pois é todo um grande sistema interno. Nossa nova dialética, além disso, inclui
o momento do simples rumo ao complexo, A=A e… não-A. Assim, o ser vivo simples,
unicelular passa para um ser composto, complexo, pluricelular, como a água viva
e um elefante.
INTENSIVO E
EXTENSIVO
Hegel diz da
identidade de ambos, intensivo e extensivo. Um grito mais intenso, por exemplo,
torna-se ouvido numa extensão maior. O que unifica os dois opostos é a energia,
mas esta sendo limitada para o uso gera uma contradição, a afirmação energética
do intensivo reduz a extensividade e vice-versa.
Uma estrela
com mais intensidade de energia poder ser muito menor que uma com menos
energia, pois produz mais gravidade, maior curvatura do espaço.
As quatro
“forças” fundamentais da física são apenas um, similares à gravidade, talvez
excluída apenas a nuclear fraca, responsável pelo decaimento do átomo. A
gravidade é a força mais extensa, logo a mais fraca em intensidade; a nuclear
forte, que mantém o núcleo do átomo unido, é a mais curta, logo a mais intensa
– além de ser a mesma da gravidade em proporções de intensidade e extensividade
diferentes e opostas, como espaço condensado, para dentro de si.
Para Hegel,
o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro,
energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade.
Mas a intensidade é, também, espaço-tempo condensado; mas a extensividade é,
também, energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.
A
intensividade passa para a extensividade, vice-versa, a extensividade passa
para a intensividade.
CONTÍNUO E
DISCRETO
A realidade
é fluido ou feito de partículas? Ambos. A união de partículas, uns, unos, forma
algo contínuo, como a água contínua é formada por moléculas discretas. A
energia permite a separação ou a união dos unos, dos discretos, formando algo
contínuo. O espaço é tanto contínuo quanto discreto, o que pode ser visto, uma
solução, pela teoria da gravidade quântica em loop, que defende o espaço ser
como correntes cujas partes estão ligadas umas às outras. Ou, nossa tese,
linhas de espaço.
Como o
contínuo tem fim, tem borda, ele é ao mesmo tempo discreto.
Nossa nova
dialética põe os conceitos “estáticos” em movimento, pois o abstrato é o
concreto em processo – o contínuo são os discretos reunidos (como o feixe de
luz), o discreto é o contínuo espalhado ou concentrado (como o espaço
concentrado faz a partícula). Mas as categorias contínuo e discreto podem ser
traduzidos como contínuo e descontínuo. Assim, repetindo as palravas de Lukács,
o contínuo no tempo modifica-se, logo há a descontinuidade dentro da
continuidade; e o descontínuo tem dentro de si continuidade também. Do broto,
flor, fruto, árvore há o DNA que permanece no fundo, há a mesmidade ou
continuidade de repetir todo o processo sempre, voltando ao ponto inicial ao
final.
Ainda sobre
colocar em mais movimento as categorias. Podemos pensar contínuo e discreto de
modo “estático”: como dissemos, algo contínuo tem borda, logo é discreto; algo
discreto tem extensão, logo é contínuo. Mas há, também, a visão em movimento:
os discretos reúnem-se em algo contúnuo.
SALTO DE
QUALIDADE
Engels diz
que a natureza não tem salto porque ela já opera por saltos. Como dissemos, a
água não se torna gelo aos poucos, mas salta para tal estado após esfriar-se
muito. Mas há saltos por sobre etapas na natureza? Porque há etapas necessárias
é que pode haver saltos por sobre elas. Primeiro, surgem as estrelas, ao juntar
a matéria por gravidade, e depois, os buracos negros. Mas a computação moderna
demonstrou que no início do universo partes dele colapsaram diretamente em
pequenos buracos negros. Na biologia, dados empíricos de salto por cima de
etapas é dificílimo de conseguir, mas deve haver.
O salto de
qualidade ocorre por ganhar ou perder energia, de modo absoluto ou relativo.
O
qualitativo pode “degenerar”, cada vez mais, em quantitativo – e vice-versa.
QUALIDADE E
REARRANJO
Para
dialética, a coisa ocorre assim: mudanças de quantidade nada afetam a
qualidade, mas, chega-se a um ponto em que mudanças altas de quantidade
produzem uma mudança qualitativa – salto de qualidade por mudanças de
quantidade. Caso famoso da água que congela de uma vez ao esfria-se muito. As
diferenças de qualidade são diferenças, no fundo, de quantidade: a diferença da
luz vermelha para a violeta é a de quantidade, de frequência; a diferença
qualitativa de átomos diferentes é a diferença quantitativa da quantidade de
prótons e elétrons de cada um. Pois bem; há outro modo de diferença qualitativa
que exclui a quantidade em si – o arranjo ou rearranjo dos elementos
constituintes. A diferença qualitativa do diamante e do grafite não é a
quantidade nem o tipo de partículas, que são iguais para ambos, mas a forma em
que elas estão organizadas. Na hipótese da teoria das cordas, as partículas são
cordas unidimensionais em que seus formatos-arranjos, se abertos ou fechados
etc., importa para o que são. A primeira das três fases do socialismo é, grosso
modo, um rearranjo – nova forma de organizar e hierarquizar os elementos – da
última fase do capitalismo. O rearranjo pode até manter a qualidade como nas
moléculas e nas diferentes formas de democracia.
Na obra O
Capital, de Marx, este usa de modo inconsciente nossa formulação: primeiro,
reúnem-se, a partir do capitalista, diferentes artesãos na oficina comum, cada
qual com sua tarefa – todos fazendo, por si, alfinetes, por exemplo; depois,
surge, por isso, o rearranjo das partes, pois, no lugar de trabalho mais
isolado, cada trabalhador não faz uma agulha por si, mas uma das partes do
processo de produzir agulhas – da cooperação simples à cooperação complexa,
manufatura. Salto qualitativo sem mudança em si de quantidade.
Tal
formulação é tão gritante que duvido ter sido o primeiro a formulá-la, mas,
ainda assim, não conheço nenhum autor que a tenha exposta, tanto mais no modo
como fiz acima.
No mais,
mudanças quantitativas causam mudanças de arranjo, logo qualitativas. Rearranjo
que tem por base, como em todas as categorias aqui tratadas, a energia,
categoria central e unificadora, o calor e a pressão no caso diamante-grafite.
SALTO PARA
SI
Na física,
temos três tipos de neutrino, cada um mais elevado, mais pesado (com mais
energia), em relação ao outro, mas ainda neutrinos, três sabores: neutrinos do
Elétron, neutrinos do Múon e neutrinos do Tau. Como se o geral fosse o mesmo,
ainda que diferentes e “maior” em certos aspectos e no particular.
CAOS E ORDEM
O caos não
suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo
lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos,
por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que
veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto,
o caos, dentro de si.
Na coisa, a
ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e
ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo. Isso se vê
na previsão do tempo, que deve ser sempre curta.
O caos
absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade
de caos e ordem cai-se na probabilidade.
O socialismo
é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central
e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.
O caos é
mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.
Com o tempo,
a Lua e a Terra se sincronizaram para que a rotação da Lua em torno de si esteja
com o mesmo lado sempre direcionado para o nosso planeta. Na biologia, nos
estágios iniciais de uma comunidade, formada por várias espécies em determinado
espaço, há instabilidade; depois, com o seu avanço, adquire estabilidade, como
população constante, e tudo o que a comunidade consome é por ela mesma
produzido.
Dentro da
ordem como a totalidade, reina o caos relativo.
SOBRE A
PROBABILIDADE
A
probabilidade revela a contradição de ordem e caos no mesmo. Há que separar o
resultado geral do resultado particular. Em 2014, percebi que o governo Dilma,
por causa das circunstâncias, iria cair, isso é o geral como resultado. O modo
como iria cair poderia ser vários: 1) golpe, 2) renúncia, 3) impedimento, 4)
protestos dos trabalhadores, não da classe média. São formas de cair. Há uma
quinta forma de derrubar o governo, embora o mais improvável, o governo mudar
radicalmente a politica e mobilizar nas ruas para impedir o processo;
conhecendo-se a tradição pelega do PT, era pouco viável. O capitalismo cairá,
isso é determinístico, mas a modo de cair, se vai ao socialismo ou à barbárie,
ou à extinção, é algo em jogo.
O erro do
paradigma do mundo como certa máquina, ou computador, ou relógio, não como
sistema orgânico, leva ao foco na coisa, como um dado ou moeda. Ora, no dado
perfeito ou moeda ideal, o que acontece é acaso, aleatoriedade, além de
possibilidade, não probabilidade como algo de ½ de ser cara ou coroa. Já no
sistemático há, de fato, probabilidade ou possibilidade crescente.
INFINITO
QUANTITATIVO
Antes, tratamos
da má infinitude qualitativa; agora, o oposto, trataremos da má infinitude
quantitativa. Perceba que o quantum ou quanto, como quantidade sem limite em
si, pode ir para o infinitamente grande ou infinitamente pequeno. Sempre há um
número maior do que o qualquer outro. Avançar para um número maior faz com que
suja a má infinitude quantitativa. Na má infinitude da qualidade, algo supera
sua barreira e se torna outra coisa – a semente é limite e barreira de si
mesma, e supera-se tornando-se broto, depois planta, etc. No quantitativo, ao
contrário, essa mudança não ocorre: a passagem de 5 para 6 não muda a
qualidade, apenas a quantidade é alterada. E torna-se algo repetitivo: 6, 7, 8…
Pequemos o
Número 8: ele é um quanto ou quantum. E o que existe além de dele, fora dele?
Existe o infinito da quantidade, do 9 adiante. Então temos o finito, de um
lado, e seu oposto, seu além, o infinito, de outro. Esse finito tem natureza
oposta, tem duas determinações opostas: 1) ele é uma quantidade determinada,
por exemplo, 8; 2) mas tem o impulso irresistível de ir ao infinito, ou seja,
de tornar-se 9, 10…
Quando
separamos o quantum, quanto, e seu além, o infinito, descobrimos uma relação de
opostos – o quantum e seu além. Mas Hegel faz uma bela manobra: o além, onde está
o infinito, é também um quantum! Logo surge uma relação entre 2 quantum, entre
duas quantidades. Então entramos no próximo tema: a relação quantitativa. O
quantum tinha um limite apenas indiferente, quer dizer, ele poderia
simplesmente saltar de 8 para 9, para 100… Tanto faz. Mas, agora, limitado por outro quantum
externo a ele, ele torna-se um quantum determinado, uma quantidade determinada
e limitada por outro quantum.
RELAÇÃO
QUANTITATIVA
Vamos tratar
de quantidades, de quantum, que só têm sentido em relação um com o outro, nunca
isolados. São três tipos de relação: a direta, a inversa (ou indireta) e a de
potências.
Vejamos a
relação direta. Se pegarmos números como 4/2, quatro sobre dois, temos uma
relação em que o 4 e o 2 só têm sentido nessa relação. A divisão dá 2. Mas
podemos mudar a quantidade, mantendo o mesmíssimo resultado (chamado expoente
por Hegel): 6/3, seis sobre três, que também é igual a dois. O mesmo resultado,
a mesma natureza, é expresso em quantidades diferentes.
Vejamos,
agora, a relação inversa. Se dizemos que 3+2=5, podemos dizer, também, que
4+1=5. Se um número cresce, o outro número cai – e vice-versa. Simples assim.
Um número nega o outro para manter o mesmo resultado, 5. O limite dessa relação
é igualar ao resultado, como 5+0=5. O último 5 aparece como limite, como
barreira, além do qual está o infinito.
Por último,
vejamos a relação de potências. Se dizemos 22 ou 23, dois
elevado a dois ou dois elevado a três, dizemos, então, que o 2 está em relação
consigo mesmo como se fosse relação com outro, 2x2 ou 2x2x2. Essa relação
consigo mesmo na potência é o quantitativo retornando para o qualitativo – o
quantitativo qualitativo ou o qualitativo quantitativo. Uma interpretação extra
sobre, al´[em de adicianarmos o “relação consigo como com outro” ao pensamento
hegeliano e dialético: quando, na física, há potência de 2 em E=mc², ou d² na
gravitação de Newton, a potência de dois já diz que não falamos em exato da
velocidade da luz, c², ou do espaço e da distância, d², mas de algo outro
qualitativo que eles representam quantitativa e qualitativamente, erxpressam e
medeiam, o que nos insinua o cálculo qualitativo deste livro: movimento =
energia = tempo = espaço = matéria.
Para passar
ao próximo ponto, digamos algo especial. O quantitativo, inicialmente, aparece
como aquilo que pode subir e descer sem limite, sem mudar nada. Mas a
quantidade é verdade da qualidade. Para subir e descer como queira, o
quantitativo deveria pertencer a algo que não muda nenhum pouco nesse subir e
descer – mas isso nunca existe. A mudança de quantidade chega a um ponto em que
muda a qualidade daquilo ao qual ele pertence – por isso chegamos à medida,
unidade da qualidade e da quantidade.
UMA
INTERPRETAÇÃO
O marxismo
percebeu que quantidade e qualidade podem entrar em contradição. Vejamos dois
casos. Para vender mais quantidade de mercadorias, os patrões fragilizaram a
qualidade das mesmas mercadorias para forçar o consumidor a logo comprar um
novo exemplar. Hoje, a produção científica se mede pela quantidade de artigos
publicados, mas isso diminui a qualidade de tais artigos, pois produzir algo
relevante leva tempo. Como a quantidade vem da qualidade como sua base, ao
deteriorar a qualidade, a quantidade acaba, por fim, a deteriorar a si mesma –
embora de início a medida tome partido da quantidade, tal contradição tem de
ser resolvida por causa da deterioração do seu oposto, logo de si mesma.
MEDIDA
O que os
qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa
por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada
um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas
serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).
Na medida,
Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração
importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado
com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas
inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na
biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado
seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem
crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste, limita
a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele, limitando a
energia. No social, o inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu
deslocamento de espaço-tempo condensado e energia de sua base necessária, por
exemplo. Vejamos um exemplo mais próximo. A Coreia do Norte não produz
alimentos e materiais como petróleo com suficiência, o que dá base para o
regime autoritário, ou seja, não produz energia suficiente para homens, outros
seres vivos e para as coisas; por isso, por salto, teve de compensar produzindo
energia nuclear para bomba atômica, assim atraindo recursos para si em forma de
chantagem internacional.
Outro ponto
é que, para muitos, por suas naturezas concretas muito diversas, maçã, por
exemplo, não é igualável à xícara. Ora, ambas têm energia, logo certa
quantidade de maçãs têm tanta energia quanto certa quantidade de xícaras. Em
nível inferior, a quantidade de elementos atômicos também são iguais sob certas
proporções de uma e outra.
POSITIVO E
NEGATIVO
Vejamos. 1)
o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo
e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo.
Eis o movimento puro e uma pista para o pensar científico.
Para Hegel,
o nem positivo nem negativo estava apenas ao mesmo tempo com o positivo e o
negativo. Uma estrada vai, ao mesmo tempo, para o leste, positivo, e o oeste,
negativo; mas estrada mesma é nem positivo nem negativo, abarcando os opostos
dentro de si; o átomo neutro tem dentro de si o positivo e o negativo. Nós
vamos mais longe, mantendo a contribuição estática hegeliana.
No início do
universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de
prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do
universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do
próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem
negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e
o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o
nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula
pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a
antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo
nem negativo”, diferente do elétron e do próton. Um fóton, sem carga, de alta
energia divide-se em elétron, negativo, e anti-elétron ou pósitron, positivo,
e, atraindo-se, colidem e tornam-se um novo fóton, também sem carga, nem
positivo nem negativo.
O próton e o elétron atraem-se porque são
opostos, no nível externo, mas porque são o mesmo, no nível interno. Ambos são
completos incompletos, pedaços de algo antes uno (nêutron). Já que são partes,
além de proporções gerais diferentes, um cai no outro com facilidade; mas como
cada um, sendo parte, é também um inteiro, o elétron e o próton afirmam-se, têm
fronteira (campo), um não cai no outro como deveria. A fronteira também se dá
pelo motivo de ambos serem espaço condensado, com campo próximo próprio. O
mesmo fato da atração, ser espaço concentrado, causa a repulsão, ser algo em si
como espaço condensado.
A
contradição entre o positivo e o negativo revela-se no exemplo da contradição
entre proletariado e burguesia. A contradição de elétron e antielétron se dá
porque, na atração, cada um afirma-se diante do outro – mas exato isso
aproxima.
Na biologia,
os primeiros seres reproduziam-se por si, assexuadamente, e, por intermédio do
herrmafrodismo, surgem seres mais complexos com sexos opostos. Nestes, os opostos,
que podem disputar, por exemplo, espaço e energia, unem-se num nem positivo nem
negativo para a reprodução dos genes e da espécie.
Os opostos
externos atraem-se porque são, no fundo, semelhantes, pois semelhante atrai
semelhante.
Em Hegel,
tanto faz o que é nomeado positovo ou negativo, um ou outro pode ser chamado
positivo etc. Mas pode, sim, haver critério: o positivo é o que domina na
situação (burguesia, próton) e o negativo é o subordinado (operariado, elétron)
– o negativo é a mudança, via de regra.
A REGRA
A regra é
uma forma de medir exterior, fora, daquilo medido. Mede-se, por exemplo, o
tempo como uma forma de medir os segundos, os minutos, as horas, etc.
A MEDIDA
ESPECIFICANTE
Agora, a
medida específica de algo: diz, por exemplo, qual o tempo específico daquele
objeto, daquele evento.
RELAÇÃO DE
AMBOS OS LADOS COMO QUALIDADES
Para pensar
o título deste subcapítulo, pensemos o seguinte cálculo: velocidade é igual ao
espaço sobre o tempo – v=s/t. Para medir a velocidade, uma qualidade, eu
preciso medir, dizer o quanto, de duas outras qualidades, o espaço e o tempo.
Na fórmula, parece importar apenas a quantidade, não a qualidade, do espaço e
do tempo – mas eles estão aí como qualitativamente por "detrás".
O SER PARA
SI DA MEDIDA
O ser para
si da medida é que, por exemplo, o cálculo da medida, como v=s/t, refere-se às
características de algo, de um objeto, de um momento, de certa matéria, de uma
coisa.
COMBINAÇÃO
DE DUAS MEDIDAS
Como a
medida se refere a algo, duas medidas se combinam. Vamos ter de dar um exemplo
do capítulo 1 d'O Capital de Marx, onde ele usa as próximas observações para
demonstrar o desenvolvimento lógico e histórico da mercadoria rumo ao
nascimento do dinheiro.
Nos povos
antigos, não existia dinheiro. Dentro das tribos, as coisas não eram exatamente
trocadas, mas apenas compartilhadas. Foi quando começou o contato entre uma
tribo e outra, na fronteira entre aqueles povos, que começou a troca, o escambo
-- produto por produto, mercadoria por mercadoria, de uma tribo para outra, e
vice-versa. Aí não havia dinheiro algum: aquela mercadoria media-se em certa
quantidade de outra mercadoria, de outra tribo. Algo parecido com: 1 casaco = 3
braças de linho. Veja-se que há duas medidas de duas coisas que se combinam.
A MEDIDA
COMO SÉRIE DE RELAÇÕES DE MEDIDA
Com o tempo,
a quantidade de trocas entre povos diferentes aumentou. Então uma certa
mercadoria tornou-se trocável por certa quantidade de qualquer outra
mercadoria. Algo parecido com: 1 casaco = 3 quilos de feijão ou 5 quilos de
arroz ou 10 quilos de algodão ou 7 quilos de ferro -- ao infinito.
Veja que
qualquer mercadoria pode ser a mercadoria central pela qual todas são
trocáveis. 7 quilos de ferro = 1 casaco ou 3 quilos de feijão, e assim por
diante, e assim por diante.
Se duas ou
mais coisas podem ser aquilo pelo qual todas as outras se trocam, se medem –
logo: deve haver algo em comum entre elas, nem que seja apenas tal relação
mesma. No caso das mercadorias, de Marx, o comum é que todas são frutos do
trabalho -- todos têm valor -- e se medem pelo tempo de trabalho socialmente
necessário para construir a mercadoria.
No caso da
química, podemos observar que todos os elementos têm anergia ou todos são
formados pela mesma base - prótons, elétrons e nêutrons. O que diferencia QUALITATIVAMENTE
os diferentes tipos de átomos -- hidrogênio, ouro, ferro, carbono etc. -- é que
eles têm "apenas" QUANTIDADE diferentes do mesmo material (de
elétrons, etc.).
A AFINIDADE
ELETIVA
A expressão
"afinidade eletiva" vem da química e da alquimia. Significa que algo
tem preferência, atração ou facilidade de combinação com outro algo específico.
No caso em que estamos focados, sobre a mercadoria, surge uma mercadoria pela
qual todas passam a ter preferência de troca, atração -- o ouro, tornando-se o
dinheiro. Por que ele? Bem; ele exige muitíssimo trabalho para ser retirado do
fundo da terra, logo têm muito valor dentro de si (e muito valor em pequenos
pedaços), por outro lado, ele pode ser fundido ou repartido como se queira (já
um casaco é ruim para ser dinheiro, pois não pode ser cortado e remendado à
vontade).
LINHA NODAL
DE RELAÇÕES DE MEDIDA
Para este
ponto, primeiro diremos de modo puro, abstrato, depois concreto, com exemplos.
A mudança quantitativa, para mais ou para menos, vai aumentando, aumentando até
que deixa de ser possível continuar mudanças de quantidade -- ocorre um salto
de uma qualidade para outra. A mudança passo a passo, gradual, é interrompida e
ocorre uma ruptura, uma mudança de qualidade.
É famoso até
hoje a ideia de que na natureza não há saltos. Isso está errado. A água líquida
fica cada vez mais gelada, mas ela continua água líquida -- ela não fica
gradualmente mais sólida, ao poucos, ou cada vez mais rígida. A água salta de
líquida para sólida, um salto de qualidade. Veja-se que mudança de quantidade,
de estar cada vez mais frio, é interrompida para uma mudança de qualidade. A
morte também é um salto: vai-se envelhecendo aos poucos, passo a passo, até que
não basta, então salta-se de uma vez para a morte, interrompendo o gradual, o
pouco a pouco. Na história, isso também acontece: mudanças graduais na
sociedade -- como a tecnologia nas empresas levar ao desemprego -- leva a que,
por salto, ocorra uma revolução.
O SEM MEDIDA
O sem medida
ou o desmedido não é apenas uma qualidade, pois também é um substrato, uma
coisa, uma substância ou matéria. É como se as mudanças de quantidades e de
qualidade de algo fosse apenas uma mudança externa, na superfície da coisa –
por dentro ela permanece igual a si mesma (mesmo se mudando).
O lado
externo é com medida – o que ele é por dentro é o sem medida, o que não se
deixa limitar pela medida. Existem vários tipos de elementos químicos
diferentes entre si em quantidade e qualidade. Ora, por dentro todos eles têm
algo que permanece em todos – prótons, elétrons e nêutrons (eles são o sem
medida em relação aos elementos).
Como
qualidade, o processo social chamado capital é desmedido, sem medida. A
concorrência empurra para produzir mais mercadorias, mais quantidade de
empresas. O problema é que o patrão não sabe se suas mercadorias serão
vendidas, se há procura real por elas, pois a economia capitalista é sem
planejamento central – ele só descobre depois de produzir, no mercado. Assim, com
a vontade incontrolável de crescer a produção, o capital é o sem medida. O
dinheiro sempre quer mais dinheiro, num acumular rumo ao infinito, um processo
sem medida que o agrade de todo.
Complementemos.
Comum que o com medida torne-se, em seu evolver, sem medida – e o inverso.
Em estática,
o sem medida é o que não tem limite, borda, que não tem quantidade fixa. Em
movimento, o sem limite é algo que está em regreção ou em avanço sem limite,
sem respeitar limites, enfrentado-os até.
O sem medida
é 1) ou indiferente, indiferença 2) ou com um impulso em si ilimitado, imedido.
No todo, as
partes em si são sem medida – o contexto, a relação com as demais partes e
entes nos dá medida (limitação recíproca para obter conteúdo e forma – um átomo
no vácuo real colapsa). Na moral, os demais humanos ao redor ajudam-nos a
calibrar nosso atos e valores; o isolamento na internet, por exemplo, sem a
ameaça-presença dos outros, faz-nos perder a medida, ou seja, somos mais
agressivos, críticos negativos etc.
A
INDIFERENÇA ABSOLUTA
Aquilo que é
a parte interna de algo, a substância ou substrato, que permanece igual a si
mesma na mudança, onde a mudança aparece como apenas externa, na superfície de
algo – é a indiferença. Nós costumamos pensar a indiferença como "não dar
atenção para aquilo", mas aqui o significado é outro: o indiferente é o
que não tem diferença dentro de si, sua própria diferença é apenas externa,
quase pelo lado de fora de si.
A
INDIFERENÇA COMO RELAÇÃO INVERSA DE SEUS FATORES
O
indiferente tem a diferença que ocorre na sua superfície como algo que pertence
a si próprio. Ele é indiferente, mas a diferença pertence a ele mesmo. Vamos
oferecer um exemplo.
Em minha
pesquisa, percebi que os países chamados socialistas eram, na verdade, frutos
de revoluções, ao mesmo tempo, de duas naturezas, tanto capitalista quanto
socialista, e eram então sociedades como duas naturezas apostas, capitalistas e
socialistas. O indiferente é a própria realidade material daquelas nações -- as
pessoas, as pontes, as fábricas, e assim por diante. Nesta realidade de base,
do chão do real, ocorreu uma luta entre as tendências socialistas e as
tendências capitalistas daquelas regiões -- isso é a relação inversa dos
fatores. Na medida em que as tendências capitalistas cresciam, as socialistas
eram, em oposto, diminuídas. Até que a tendência capitalista fosse total,
engolisse toda a sociedade, reduzisse a nada o seu inverso -- na década de
1990, todos esses países tornaram-se totalmente capitalistas.
No século
20, a sociedade mundial estava dividida entre países formalmente socialistas e
capitalistas. O socialismo inicia em um país, mas nunca suportará sozinha ser
cercada pelo capitalismo, logo o socialismo tem de acontecer em outros países
durante algumas poucas décadas. O crescimento do número de países socialistas
diminui seu oposto, o capitalismo – e vice-versa. O que não avança recua.
UM POUCO
MAIS DA RELAÇÃO INVERSA
No ponto
anterior, vimos que O indiferente, aquilo indiferente, divide-se por fora como
dois fatores opostos, um cresce enquanto o outro diminui. Vamos aprofundar mais
um pouco primeiro indo ao exemplo prático, depois à ideia pura. No século 20,
os países formalmente socialistas tinham, na verdade, também elementos
capitalistas dentro de si enquanto os países capitalistas amadureciam as bases
do socialismo dentre de si mesmos – uns eram mais socialistas do que
capitalistas enquanto outros eram mais capitalistas que socialistas. Veja que
da oposição de um lado socialista e outro capitalista surgiu que os dois lados
têm um tanto do lado oposto dentro de si mesmo. Até que o capitalismo domasse
tudo, embora amadurecesse dentro de si as condições finais para o socialismo.
Os opostos, assim, têm cada um mais de algo do que de outro algo.
PASSAGEM
PARA A ESSÊNCIA
O ser tem
tudo dentro de si. Até onde chegamos, temos algo que tem um lado dentro e um
lado fora, um interno e um externo, uma essência e uma aparência, um conteúdo e
uma forma. Todas as determinações (qualidades) que vimos até aqui foram
tornando o ser menos vazio, menos abstrato: determinação, constituição, limite,
uno, algo e outro, e assim por diante. Antes puro e esvaziado, o ser foi
preenchido. Ele, o ser como substância ou substrato, repele-se a si mesmo,
repulsão de si próprio, nega-se, desenvolve-se -- assim se preenche de
qualidades ou determinações. Agora ele aparece como algo que é o substrato, a
substância, a matéria em oposição ao seu lado "de fora". Mas essa
oposição é apenas formal, errada: aquilo que é O indiferente, O sem medida -- o
interno ou dentro -- também preenche o que aparece como o externo, as
determinações. Isso ficará mais claro nos próximos pontos, onde resumiremos a
doutrina da essência.
DOUTRINA DA
ESSÊNCIA
A essência é
a verdade do ser, o ser torna-se essência, a essência é o ser desenvolvido que
foi para dentro de si mesmo. Quando pesquisamos o ser – os dados estatísticos
etc. –, logo desconfiamos que este mesmo ser esconde algo, uma essência, que
está atrás, ou melhor, dentro de si, dentro dele. O trabalho científico vai do
ser (qualidade, quantidade) para a sua própria essência.
A Doutrina
da Essência é a mais difícil, mas também a mais interessante (além de ser um
livro bem menor que os outros dois). Sobre, reforçamos o que dissemos na
introdução: aqui, uma categoria aparece em outra: essência aparece na
aparência, o interno aparece no externo, etc.
DETERMINAÇÕES
DE REFLEXÃO
Aqui, vamos
já resumir a ideia central que unifica o livro, a grande “sacada” de Hegel.
Vejamos: ele percebeu que se dizemos a categoria “positivo”, então
necessariamente vem a categoria “negativo”, pois um somente pode existir com
seu oposto. Outro caso: se há causa, logo deve haver a consequência desta
causa. O fundamento exige o fundamentado, o conteúdo exige a forma, e assim por
diante. Isso são as determinações de reflexão, pois um conceito reflete o
outro, e eles ficam nessa relação.
Parece que a
categoria, determinação, “causa” é totalmente autossubsistente,
autossuficiente, que se sustenta sozinho – mas percebemos que a categoria
“consequência” é sua derivação natural com o qual está ligado.
Nas
categorias da Doutrina do Ser – Ser, algo, constituição limite, uno, muitos,
etc. – um conceito é fora do outro, passa para o outro, que passa para o outro,
que passa para o outro… Agora, na essência, é diferente: como num espelho, um
conceito se reflete no outro – um interno exige um externo, por exemplo.
Os conceitos
da Doutrina da Essência passam a ideia de um lado “dentro” e de outro lado
“fora”: uma essência e uma aparência, um conteúdo e uma forma, um interno e um
externo, um fundamento e um fundamentado, uma parte e um todo, etc.
ESSENCIAL E
INESSENCIAL
O
inessencial é, por assim dizer, o lado de fora de algo, de um ser aí. Ele é o
ser em oposição ao lado de dentro, a essência. Essa essência em relação com seu
oposto não é mais exatamente essência, mas é o essencial. Então temos a
essência transformada em essencial – e o inessencial que é a transformação do
ser, do “lado de fora”.
Mas nada diz
num “ser aí” qual pedaço dele é o essencial e qual é o oposto, o inessencial.
Temos um problema, então. Como resolver isso? Hegel soluciona assim: na
verdade, o inessencial não é o ser – o ser é a própria essência, e a essência é
o próprio ser. Não sobra nada para o inessencial, que se torna zero, nulo, ou
seja, mera aparência.
ESSÊNCIA E
APARÊNCIA
A essência
tem que aparecer.
A filosofia
anterior a Hegel separou essência e aparência. Por exemplo, Platão dividiu o
mundo em dois mundos separados: 1) o mundo da essência, o mundo da ideia, o mundo
perfeito, onde não há movimento; 2) o mundo do sensível, o mundo que vivemos,
onde há movimento, onde tudo morre ou é perecível. Hegel supera esse tipo de
visão: a aparência é o nulo, pois a aparência não é diferente da essência – a
aparência é, na verdade, a própria essência, que aparece a si mesma.
Em seu
movimento de si mesma, a essência torna-se aparência. A essência não é morta,
inerte, parada: ele movimenta-se para fora e para dentro de si mesma, modifica
a si mesma, desenvolve a si mesma. A aparência é o aparecer da essência nesse
movimento de si própria.
Não está a
essência aqui, escondida, e, em oposição, a aparência ali, exibindo-se. Na
realidade, a aparência sequer existe de fato – existe apenas a essência que
aparece. Somos nós que, quando vermos o mundo, vemos apenas um pedaço dele, um
ângulo dele (por isso a aparência, como se nos aparece aquilo); mas o mundo
mesmo é apenas essência aparecente.
APARÊNCIA
COMO ENGANO
Marx diz
algo assim: se a aparência do mundo revelasse de imediato a sua verdadeira
essência, toda ciência seria desnecessária. Com certa inocência, os filósofos
antigos pensavam que bastava olhar o mundo, como ele é imediatamente, para
saber como este mesmo mundo é.
A aparência
esconde a essência, deforma a essência, aparece até como o inverso da essência.
Vejamos o
caso na física, no inorgânico. Pela maior parte da história da humanidade, a
ideia de sucesso foi a de que a Terra era o centro do universo e o Sol girava
em torno da Terra, de nós. Isso aparece assim, o Sol nos rodeando, para visão
imediata. Ora, isso tem até mesmo utilide prática, para nosso dia a dia: todos
os dias dizemos que o Sol está se pondo ou surgindo, guiamos nossa vida nesse
“fato”, embora saibamos a essência real, que é a Terra que está girando em torno
do próprio eixo e em torno do Sol.
Na biologia,
parece que as espécies mudam-se para adaptar-se por uso e desuso, por esforço:
por se esforçar para comer em árvores altas, a girafa tem pescoço longo; porque
a neve a branca, o urso é branco. Mas isso é um engano. Na verdade, acontecem
mudanças genéticas ao acaso, que, se são úteis para a sobrevivência, são
repassadas para os filhos. Surgiu um urso branco filhote por acaso, logo ele
sobreviver melhor na neve, podendo camuflar-se, logo teve mais chances de sobreviver
e reproduzir-se.
Na vida
social, na mente do escravo todo o trabalho dele é totalmente trabalho para o
outro, para o senhor de escravo que o domina. Aparece para ele assim, como se
todo o fruto de seu esforço fosse destinado para outra pessoa. Mas isso é um
engano da aparência. De fato ele trabalha de graça uma parte de sua jornada de
trabalho para o senhor escravista, mas este “senhor” tem de manter vivo o homem
escravizado, tem de fazer com que parte do seu trabalho retorne para ele mesmo.
No capitalismo
é o contrário: parece que o trabalhador é pago totalmente pelo seu trabalho,
nem mais nem menos. Esse engano tem “dados empíricos” que parecem provar que é
este o caso, por exemplo: 1) o salário sobe se trabalha 1 hora a mais e cai se
trabalha 1 hora menos; 2) o trabalhador qualificado ganha mais enquanto o
trabalhador não qualificado, menos. Foi preciso o trabalho científico para
superar esta aparência, para chegar à essência: o operário trabalha uma parte
da jornada para si, para pagar o valor da sua força de trabalho, mas outra
parte da jornada é trabalho para outro, de graça, não pago, um roubo do patrão.
CONTRADIÇÃO
ESSENCIA-FENÔMENO-APARÊNCIA
A essência
quer permanecer, permanece, mas ela é o próprio fenômeno, que muda e é
inconstante, então, nessa contradição, este força aquela a mudar – mas são dois
em um, o mesmo. Eis uma das formas de contradição unitária possíveis.
REFLEXÃO
Voltamos ao
tema da determinação de reflexão. Desta vez, vamos desenvolver, derivar, este
resultado do qual falamos antes.
Agora,
faz-se preciso atenção. A reflexão não é reflexão mental, filosófica, subjetiva
– é mais parecida com reflexão da luz ou uma “flexão para trás”, algo que vai,
bate e volta.
Para ficar
claro, em diante usaremos a determinação de reflexão de essência e aparência,
embora outros casos (interno e externo, etc.) ainda serão trabalhados no
avançar deste capítulo.
REFLEXÃO
POSTA, PONENTE
Este é o
caso inicial em que uma categoria põe a outra, sua oposta. A essência põe a
aparência, o conteúdo põe a forma, o fundamento põe o fundamentado, o interno
põe o externo e assim por diante.
Veja que há
uma “hierarquia” como a essência ser a base da aparência.
Na verdade,
esse pôr é, também, nenhum pôr. Por quê? A aparência, como dissemos, é nula – é
apenas a própria essência que aparece. A aparência (ou o externo em relação ao
interno, ou a forma em relação ao conteúdo, etc.) não é um outro, não é
separado daquilo de onde veio, não tem vida própria, não é independente.
Consideremos
o fato de “a aparência ser a própria essência”. Pois bem; essência sai de si
mesma, bate na aparência, e assim retorna de novo para si mesma (reflexo,
reflexão). Esse é o movimento, mas que, ao mesmo tampo, não é nenhum movimento
– porque a aparência não é um outro, mas “parte” da própria essência.
REFLEXÃO
EXTERNA, EXTERIOR
Mas agora
vamos pensar o contrário, o inverso. Pelo menos como as coisas parecem ser, a
aparência é um e a essência é o outro. A aparência é, agora, a outro da
essência. Reflexão externa porque elas estão formalmente separadas uma da
outra.
Aqui, o
trabalho científico acontece assim: partimos da aparência (dos dados
estatísticos, das qualidades de algo) para descobrir a essência desta
aparência. A partir da própria aparência é que descobrimos a essência – nunca jogamos
fora a aparência, pois ela permite chegar à essência.
Tudo parece
e aparece ao contrário: é fato que a essência põe a aparência, mas desta vez
partimos da aparência para chegar na essência da realidade – outro: é fato que
a essência é a própria aparência, mas aqui ele parecem como cada um no seu
canto.
Também
partimos do fundamentado para descobrir qual é o fundamento de algo. Partimos
do externo para descobrir o interno. Partimos da forma para descobrir o
conteúdo. Partimos da consequência para saber a causa. É invertido.
REFLEXÃO
DETERMINANTE, DETERMINADA – DETERMINAÇÃO DE REFLEXÃO
Quando
fazemos o trabalho da “reflexão exterior”, descobrimos finalmente que aquela
aparência (ou externo, ou fundamentado, etc.) da qual iniciamos não é nada sem
sua essência. Cada um só existe com o outro e dentro do outro.
Chegamos, de
novo, às determinações de reflexão. Essência sempre põe a aparência – e elas
são o MESMO. O interior, o interno, sempre põe seu oposto, o exterior, o
externo – e eles são o MESMO. Um continua a si mesmo dentro do seu outro; cada
um tem seu outro dentro de si mesmo. Assim, o outro não é verdadeiramente um
outro, mas o mesmo. Vejamos o segundo caso: se sou internamente um mau poeta,
logo farei maus poemas; se, ao contrário, sou internamente um bom poeta, farei
bons poemas – o interno se torna o próprio externo.
DETERMINAÇÕES
DE REFLEXÃO
Neste ponto,
vamos das ideias abstratas para, depois, exemplos concretos.
IDENTIDADE -
DIFERENÇA
A essência é
igual a si mesma, A=A, assim ela é identidade. Mas ela é, também, a negação de
si mesma, ou seja, um movimento.
Nesse
automovimento da identidade, da essência, ela se torna diferente de si própria.
É tanto diferente quanto idêntica a si, dentro de si: a diferença tem a
diferença e, ao mesmo tempo, a identidade.
O diferente
ou o diverso não está do lado de fora ou ao lado da identidade. Ao contrário: a
mesma coisa idêntica consigo, a essência, é que desenvolve uma diferença
interna, por dentro da identidade mesma.
Assim, a
filosofia e a dialética de Hegel são tanto uma filosofia da identidade
(mesmidade, do mesmo) quanto da diferença.
DIVERSIDADE
– (DES)IGUAIDADE
Como temos
dois, a diferença e a identidade, chegamos à diversidade. As coisas diversas
têm apenas uma relação externa umas com as outras – são indiferentes em relação
às outras, cada uma em seu próprio canto, sem relação real.
A relação
dos diversos é a igualdade ou a desigualdade. Mas nada neles, nos diversos, diz
se eles são iguais ou desiguais uns dos outros. Essa comparação, que iguala ou
desiguala, é externa, feito por outro, por um terceiro, por alguém.
Há algo mais
sofisticado aí. Somente posso ser igual se eu for igual a outro, a um diferente
de mim – um desigual. Por outro lado: somente posso ser desigual de outro se
sou igual a mim. Veja-se que cada um, o desigual e o igual, estão um dentro do
outro, e vice-versa.
OPOSIÇÃO –
CONTRADIÇÃO
Os lados da
mesma coisa tornam-se mais do que diversos uns dos outros – tornam-se opostos,
o positivo e o negativo.
O positivo e
o negativo são, no começo, apenas o negativo um do outro, um para o outro –
cada um nega seu oposto apenas. Depois, segundo momento, fica bastante claro
que o positivo é de fato positivo; e o negativo é de fato o negativo. Enfim,
terceiro momento, descobre-se que o positivo e o negativo são apenas nessa
relação um com o outro, aquilo que são eles são em uma relação necessária.
Tudo está em
polos opostos, tudo tem oposição dentro de si mesmo.
Em muitos
casos, a mesma COISA é tanto positivo quanto negativo. O dinheiro que o credor
empresta ao devedor é, este mesmo dinheiro, negativo para um e positivo para
outro, passivo para um e ativo para outro. A estrada que vai para o leste,
positivo, também vai para o oeste, negativo; a estrada tem os opostos em si. O
átomo tem prótons, positivo, e elétrons, negativo, dentro de si próprio. Se eu
digo +A e –A, o que existe de igual e comum entre eles é “A”.
Já a
contradição é, em geral, a fonte de todo movimento, automovimento. Tudo tem
contradição de polos opostos, tudo está “quebrado por dentro”. Algo é tanto
contraditório dentro de si mesmo como, ao mesmo tempo, é esta mesma contradição
dissolvida.
O negativo
afirma a si mesmo excluindo o positivo; também, o positivo afirma-se excluindo
o negativo de si. Ora, eles somente existem nesta oposição, dentro desta
oposição – mas, ao mesmo tempo, eles recusam seu oposto, repelem um ao outro.
Isso é a contradição. Pense-se na luta de classes: o movimento operário repele
a classe dos patrões, embora ambos estejam unidos por atração na produção, na
fábrica; o fim deles é o fim das classes sociais, o socialismo.
A
contradição não pode ser eterna, ela tem que se dissolver, se resolver. A
filosofia comum pensa a contradição apenas como fonte de destruição, de
fenecer, de morte; mas ela também é a fonte do desenvolvimento, do progresso,
do movimento.
ESSÊNCIA
COMO FUNDAMENTO
Assim, a
essência foi para “fora de si mesma” e foi ganhando determinações de reflexão
(diferença, positivo e negativo, etc.). Os opostos em contradição, o positivo e
o negativo, são no fundo o mesmo, porque eles têm um fundamento igual (veja-se
a semelhança das palavras “fundo” e “fundamento”). Vejamos um caso já citado.
Uma pessoa impulsiva (fundamento, essência) torna-se “sem noção” em algumas
situações, logo algo negativo, mas também torna-se criativa, logo algo
positivo. A mesma “base”, a essência que se tornou fundamento, faz os elementos
“externos”, as qualidades e defeitos, o positivo e o negativo.
Como a
essência tornou-se fundamento? Indo dela mesma rumo à… ela mesma. Ou seja,
desenvolvendo-se: ela se diferenciou dentro de si, se diversificou, se tornou
oposição, positivo e negativo, contradição e… retornou para dentro de si porque
os opostos nada são de fato, apenas dissolvem-se naquela essência que se tornou
seu fundamento, que retornou para dentro de si mesma.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Há em Hegel
um erro no seu grande acerto: as categorias identidade, diferença, diversidade
oposição, contradição – acontecem ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum!
Além dessa maneira de pensar, há outra mais ativa: a identidade passa, de fato,
para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para a contradição. As
duas formas de pensar tais categorias, ao mesmo tempo e uma após a outra, são
corretas, acontecem juntas.
Vamos para
casos práticos que saem do tempo, do passar, lógico de Hegel rumo ao tempo
comum, histórico – esta elaboração não está mais em Ciência da Lógica. Vejamos.
O operário e o patrão são IDÊNTICOS, pois ambos são pessoas livres no mercado.
Mas são DIFERENTES: um é vendedor de sua força de trabalho enquanto o outro é
comprador desta mesma força. Logo, eles são DIVERSOS já que cada um é diverso
do outro. Quando o patrão contrata o operário, eles formam a OPOSIÇÃO, pois um
é operário e o outro é, ao contrário, o seu patrão – um só pode ser patrão se o
outro for operário, e vice-versa. Enfim, vem a CONTRADIÇÃO: as greves, a luta
do patrão por aumentar a jornada ou acelerar as máquinas etc.
O homem e a
mulher primitivos eram IDÊNTICOS, mas logo se vê que eles têm DIFERENÇAS. Como
essa diferença, tornam-se DIVERSOS. São também, formalmente, OPOSTOS. Quando
surge a propriedade privada, o homem tem de saber se deixará herança para um
filho legítimo, não de outro, logo a OPOSIÇÃO entre os sexos tornou-se
CONTRADIÇÃO, controle do homem sobre a mulher.
O ancestral
dos atuais seres vivos era igual a si mesmo, ou seja, IDÊNTICO. Seus
descendentes foram, geração a geração, tornando-se cada vez mais DIFERENTES do
seu ancestral. Depois, por muitas mutações genéticas, surge uma DIVERSIDADE de
espécies (cuja origem é aquele ancestral idêntico e comum). A diversidade cai
na OPOSIÇÃO e CONTRADIÇÃO entre os animais, entre os seres.
O império
romano fez do Latim a língua da Europa – identidade. Mas as diferentes regiões
desenvolveram diferentes sotaques – diferença. Estes diferentes sotaques
avançaram para as variadas línguas latinas (português, italiano, espanhol,
francês) – diversidade. Daí surge a oposição e, quem sabe, a contradição entre
as línguas europeias.
NEM POSITIVO
NEM NEGATIVO – UMA INTERPRETAÇÃO
O nem
positivo nem negativo avança-se, para além de si, até a oposição entre o
positivo e o negativo; por sua vez, esta oposição é resolvida – formando um
novo “nem positivo nem negativo”.
O
trabalhador artesão medieval (nem positivo nem negativo) é modificado pela
relação entre o capitalista (positivo) e o operário (negativo); um afirma-se na
realidade, por isso positivo; e o outro está em desvantagem, precisa mudar o
mundo, por isso negativo. Ocorre a negação da negação com o socialismo – e o
próprio operário nega-se, deixa de ser operário ou classe. Por outro ponto de
vista: o primeiro, o artesão, é o positivo em relação ao que lhe substitui, a
oposição entre o operário e o burguês, ou negativo.
No início do
universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de
prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do
universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do
próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem
negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e
o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o
nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima,
tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de
si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”,
diferente do elétron e do próton.
Para Hegel o
nem positivo e nem negativo acontecer somente ao mesmo tempo que o positivo e o
negativo. A estrada é nem positivo e nem negativo, que tem dentro de si o rumo
para o leste, positivo, e para o oeste, negativo (qualquer um dos dois pode ser
considerado o positivo ou o negativo). Mas nós vamos mais longe. Um fóton de
alta energia, nem positivo nem negativo, passa, a si próprio, para o elétron,
negativo, e o antielétron, positivo, que se atraem e tornam-se, de novo, um
fóton, nem positivo nem negativo.
FUNDAMENTO
A essência
que foi para “fora” de si e, então, retornou para si – torna-se fundamento. É
claro que o fundamento tem um fundamentado, logo desconfiamos que tudo
existente tem um fundamento “atrás de si”.
FORMA E
ESSÊNCIA
A essência é
total, mas seu lado externo por ser visto como a FORMA. O lado externo é aquele
onde vimos a diferença, a diversidade e a contradição – a forma está aí. Na
verdade, a essência tem tudo em si, mas poderemos analisar forma e essência de
modo – separado? É o que faremos na próximo ponto.
FORMA E
MATÉRIA
Quando
essência e forma se separam, a essência já não é essência de imediato, pois é
reduzida à matéria, ao material. Podemos dizer que a matéria é passiva, pois é
formada pela forma, enquanto a forma é ativa, pois dá forma à matéria.
Aqui, parece
que a matéria existe por si mesma e, do outro lado, a forma só tem sentido se é
a forma de um material. Essas são as consequências do método de separar o que,
dentro da realidade, está necessariamente unido, em unidade.
Não existe
forma pura, sem matéria; não existe matéria pura, sem forma. O que existe é
matéria formal ou forma material. Vamos aos exemplos. A forma de moeda, para
ser moeda, não pode ser apenas forma – ela é feita ou de cobre, ou de ferro, ou
de prata, ou de ouro, ou seja, de algum material.
Indo além de
Hegel: uma das unidades de forma e matéria é – a proporção, ou melhor, a
proporção daquilo concentrado, para dentro de si.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Em minha
pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a
desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para,
depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais
material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo
ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre,
para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais
até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a
desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade
maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor
tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade
deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade,
aumenta o tempo de vida.
FORMA E
CONTEÚDO
A união da
forma e da matéria – é o conteúdo. Vejamos um caso. Se eu tenho uma pintura
retratando um jogo de futebol, esta mesma pintura tem a forma (da bola, dos
jogadores, do campo, etc.) e também, junto, a matéria, a tinta principalmente,
com diferentes cores. Ora, esta forma e esta matéria, unidas, passam uma
mensagem fictícia, artística um conteúdo. Elas têm um conteúdo.
Vejamos
outro caso. Marx diz que a relação de contrato entre trabalhador e patrão, quando
aquele está no mercado trabalho procurando emprego, tem a FORMA de uma relação
entre iguais – ambos, operário e patrão, são livres, estão no mercado, estão
fazendo um contrato livremente aceito. Mas o CONTEÚDO é outro, de exploração,
em que ou o operário vende sua força de trabalho para ser explorado por outro
ou morrerá de fome.
Vamos para a
terceira visão, comum no marxismo. A economia e a luta de classes, as classes
sociais, são o conteúdo – já o Estado, os partidos, as organizações são a
forma. Nesse modo de ver, tanto o conteúdo quanto a forma têm, cada qual, dupla
natureza, duplo caráter. O conteúdo (economia, classes) é 1) muito mais
dinâmica, mas 2) também mais instável, inconstante; por outro lado, a forma é
1) conservadora, lenta, paralisadora, mas 2) conservadora no sentido de
conservar, de preservar (as conquistas, etc.). Assim, os conflitos e as
instabilidades do conteúdo fazem surgir, de si mesmo, uma forma para
“compensar”. Mas o conteúdo se desenvolve a tal ponto em que a forma conservadora
torna-se um fardo, algo muito atrasado – o conteúdo renovado supera aquela
forma e funda uma forma nova, para suas novas necessidades.
Uma forma
pode estar em contradição com seu conteúdo: um partido comunista pode estar
organizado de forma incompatível com seu conteúdo, com o perfil dos membros e
com seu programa.
FUNDAMENTO
FORMAL
O fundamento
formal é fácil de entender, pois é o chamado “argumento circular”, uma
tautologia. Vejamos: Por que a Terra gira em torno do Sol? Por causa da
gravidade. E o que é gravidade? O que faz a Terra girar em torno do Sol…
Percebe que foi do nada ao lugar nenhum? O argumento não avança, o conteúdo e
forma estão aí fundidos num fundamento apernas formal, digno de riso. A ciência
tem vários tipos de tautologias óbvias do tipo, que devem ser combatidas.
FUNDAMENTO
REAL
A gravidade,
por exemplo, é de fato o fundamento da estrutura de uma casa, de uma base. Ou
seja, os alicerces da casa têm a gravidade como seu fundamento. Estes alicerces
e a gravidade são a base para o “enfeite”, o inessencial, o não essencial. Por
exemplo: as paredes de uma casa podem ser pintadas de vermelho ou azul – mas
tanto faz a cor, e a gravidade não é fundamento dessa cor escolhida para pintar
a casa. Então, além do fundamento e do fundamentado, tem uma porção enorme de
“coisas” que não tem fundamento naquele fundamento.
Hegel faz
uma crítica ao fundamento real. Um trabalhador consegue o emprego porque é
disciplinado, tem experiência, tem beleza, tem contatos, etc. Qual dessas
características é o fundamento? Nada diz que um – por exemplo, a disciplina –
foi o fundamento da contratação dele enquanto os outros fatores seriam o
fundamentado… Assim, a reflexão que procura um fundamento de algo pode escolher
entre centenas de fatores para um apenas ser o central, o que é em si um erro.
FUNDAMENTO
COMPLETO
O fundamento
(real) tem, ele mesmo, um fundamento! Então temos 1) o fundamentado; 2) o
fundamento deste fundamentado; 3) o fundamento do fundamento… Este 2 que ficou
no meio é unidade tanto do fundamento real quanto do fundamento formal, pois
ele é de fato fundamento (do fundamentado), mas ao mesmo tempo é um
fundamentado. Com isso, Hegel fecha o ciclo total – não é necessário ir, ao
infinito, para o fundamento do fundamento, do fundamento, do fundamento, etc.
O método de
Hegel foi pegar o que é junto, a forma e o conteúdo enquanto fundamento formal,
então separou a forma e o conteúdo no fundamento real, depois juntou novamente
tudo no fundamento completo. Ele fez, também, assim antes: essência e forma
estavam juntas, então as separou para chegar até a matéria e a forma, depois
juntou no conteúdo e forma. Esse método será usado mais vezes, portanto merece
atenção a este aspecto.
Ainda sobre
o fundamento completo, o grande marxista Valério Arcary diz sobre o caráter
(fundamento) de um partido, como o PT: “Partidos podem ser julgados pelo
programa que apresentam para a transformação da sociedade. Ou podem ser
explicados: (a) pela história de suas linhas políticas e de suas lutas
políticas, sobretudo, as internas; (b) pelo confronto entre suas posições
quando estão na oposição,
e quando se aproximaram do
poder; (c) pelos valores e ideias
que inspiram seu programa (d) pela
composição social de seus
membros, militantes ou simpatizantes, ou dos seus eleitores, ou
da sua
direção; (e) pelo regime interno
do seu funcionamento; (f) pelas formas de seu financiamento; (g) pelas
suas relações internacionais.
Todos estes critérios são válidos e significativos, e a construção de uma
síntese exige uma apreciação da sua dinâmica de evolução.” Ora, cada um pode
ser, por si, o fundamento real dos demais; mas o fundamento tem, também, um
fundamento! Chegamos à necessidade do fundamento completo. Qual seria o do PT,
o fundamento do fundamento? Este: o fato de ser um partido ligado diretamente,
organicamente, com Estado burguês, logo com a burguesia.
CONDIÇÃO
O
RELATIVAMENTE INCONDICIONADO
Aqui, temos
duas personagens, a condição (ou as condições) e o fundamento. Vamos, primeiro,
separá-los e considerar tal separação. A condição é mero ser aí imediato, sem
ser por ela mesma qualquer condição para algo. Ela é apenas material variado,
material como seu próprio conteúdo. Por outro lado, isolado consigo mesmo, o
fundamento vai para fora de si em seu automovimento e tem, portanto, também seu
próprio material, seu próprio conteúdo. Assim: um é incondicionado em relação
ao outro, e vice-versa.
O
ABSOLUTAMENTE INCONDICIONADO
Nosso papel,
agora, é ver a unidade real daqueles dois, que se colocaram como opostos e
separados um do outro. A condição, como material externo, na verdade é o que
representa o Ser (com o qual começamos este capítulo); ora, se ele é o Ser,
vale comentar que este, este Ser, “evoluiu” a si mesmo rumo à essência (que
aqui é fundamento); o ser aí imediato, indiferente, não se nega ao se prender
ao fundamento, ao contrário, ele se realiza, ele é ser que vai para a essência
(o material do fundamento, para o fundamento). Assim, o fundamento põe seu
fundamentado, vai para fora de si, dando forma ao material da condição. Por
outro lado, o fundamento só se realiza a si mesmo quando passa, ele mesmo, para
seu fundamentado, que é feito com o material da condição.
Mas há uma
virada incrível.
O fundamento
e condição estão aonde? Ora, eles estão dentro do “absolutamente
incondicionado”, de uma Coisa incondicionada – estão dentro de uma totalidade!
Esta Coisa, este Todo, tem dentro de si própria tanto o fundamento quando as
condições, desmancha eles dois dentro de si.
O SURGIR DA
COISA NA EXISTÊNCIA
Quando todas
as condições de uma Coisa existir estão prontas, então estão ela entra na
existência. Por exemplo: não se deve tentar criar um sindicato antes de estarem
reunidas pelo menos as condições mais básicas necessárias para fundar tal
organização. A vida na Terra surgiu depois que as condições – temperatura,
ambiente, compostos, etc. – estavam prontas para isso.
As condições
se reúnem, “caem” juntas, internalizam-se – e assim surge uma Coisa na
existência. Algo, como uma revolução, é impossível até que se torne inevitável.
É interessante ver que esta união das condições cria um lado “interno” na
Coisa, ou seja, as condições produzem o próprio fundamento!
Por outro
lado, o fundamento também cria a Coisa na existência. O fundamento sai de si
mesmo, se externaliza – passa para o fundamentado. Mas, com isso, ele não fica
atrás ou no fundo, não: o próprio fundamento está naquele seu fundamentado.
Vimos duas
formas que parecem fazer a Coisa surgir, pelo lado das condições e pelo lado do
fundamento. Porém: a verdade final é que a Coisa vai rumo a si mesma,
desenvolve-se a si mesma, põe a si mesma – ela já existe antes de existir (era
uma coisa e tornou-se outra).
Há outra
forma de ver o parágrafo anterior. O fundamento torna-se o fundamentado, logo
ele deixa de existir em si – a coisa é, então, um sem fundamento, embora tenha
vindo dele. Por outro lado, a condição faz a coisa, mas, esta coisa, uma vez
feita, é sem condição, é incondicionada, a condição superou a si mesma como o
fundamento também o fez.
EXISTÊNCIA
Primeiro
veremos a essência e a imediatidade como juntas (existência), depois como
separadas (aparecimento), depois como reunidas e relacionadas (relação
essencial). Comecemos, portanto, pelo começo, em que a essência tem que
aparecer.
Assim como o
Ser, que é o geral, tem dentro de si o algo (algo como uma caneta é um ente do
Ser) a existência tem como sua expressão nas coisas, na coisa.
A grande
questão deste capítulo é o fato de que Kant, antes de Hegel, afirmou: nós
conhecemos apenas a coisa como ela é para nós, sua aparência, sua manifestação
– não como esta coisa é em si mesma, não a “coisa em si”. Há, então, um duplo:
de um lado, a coisa em si e, de outro, como aquilo aparece, sua manifestação.
Vamos resolver este problema, como acessar a essência da coisa.
A COISA E
SUAS PROPRIEDADES
A coisa divide-se
em 1) coisa em si e 2) no seu lado externo, em dois. Mas, ora, este lado
externo é também uma coisa, uma coisa em si, pois cai para dentro de si mesmo.
Assim, essas duas coisas em si, a coisa em si original e a manifestação desta
como outra coisa em si, são, na verdade, a mesmíssima coisa – que apenas
aparece como relação de dois.
A
propriedade da coisa em si aparece como aquilo que uma coisa se torna diferente
de outra coisa, o lado de fora, da superfície, da coisa. Mas nas duas (ou mais)
coisas em si diferentes, como a propriedade é algo externo a elas duas, esta
mesma propriedade fica do lado de fora delas, logo elas são internamente, por
dentro, iguais, duas coisas em si iguais, são o mesmo.
Na verdade,
não existe coisa em si sem propriedade, a coisa em si não fica escondida ou por
detrás, mas é a própria propriedade mesma. Uma coisa não é feita de
propriedades, ela é apenas as próprias propriedades!
Assim, o que
chamamos de coisa em si pura, não é o lado essencial, como parece, mas o lado
inessencial, sem essência, sem tanta importância. É o lado das propriedades
aquele grande lado em que as coisas são de verdade, de fato. Uma coisa em si
pura não é nada! Nada há que descobrir dela e nela, pois algo só é de fato algo
em suas propriedades, com suas propriedades. Se queremos saber sobre alguma
coisa, devemos estudar suas propriedades e a união delas, destas.
Na
astronomia, nós sabemos o que é uma estrela distante por meio de suas
porpriedades: ver-se sua gravidade, seus efeitos, seu brilhos, observa-se ela
no infra vermelho e no ultravioletas, e assim por diante, e assim por diante.,
conectamos esses dados, até que sabemos o bastante sobre ela.
O CONSISTIR
DAS COISAS EM MATÉRIAS, MATERIAIS
A separação
entre uma “coisa em si”, que é o lado sem importância por si, e o lado das
propriedades faz com que estas mesmas propriedades se revelem como matérias,
materiais. A coisa é feita de matérias (partículas, átomos, etc.). Sem ser
feita de propriedades, ou seja, de matérias, a coisa nem sequer é coisa alguma.
De imediato,
a coisa é feita de matérias que são independentes, indiferentes, umas das
outras, apenas juntas externamente dentro desta coisa. Mas logo se vê que elas,
ao se afirmarem como si mesmas, negam as outras matérias. Mas, outra conclusão,
oposta, elas penetram umas nas outras e, ao mesmo tempo, por outro lado, são
indiferentes umas das outras nessa mesma penetração. Assim, a coisa é
contradição entre a independência de cada material e a penetração umas nas
outras ao mesmo tempo.
A coisa se dissolve.
As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira
para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e
um “também” (menos ou mais matérias).
APARECIMENTO
Antes de
Hegel, alguns filósofos, como Patão, separaram o mundo em dois mundos: de um
lado o mundo que é em si e para si, o mundo essencial, o mundo das leis; de
outro, oposto, o mundo que a parece, o mundo do aparecimento. Ora, existe
apenas um mundo, somente UMA totalidade, que se divide em duas totalidades, que
são, ao mesmo tempo, separadas e unidas. O mundo essencial tem de aparecer,
logo ela também é seu oposto, o mundo que aparece. Por seu lado, o mundo que
aparece tem dentro de si um fundamento, o lado mundo essencial. Cada um de ambos
é ele mesmo e seu oposto.
O mundo que
aparece mostra ou revela o mundo essencial, mas de modo invertido, ao
contrário. O que é positivo no mundo essencial aparece como negativo no mundo
que aparece; assim, no inverso, o que é negativo no mundo essencial é positivo
no mundo que aparece; um azar essencial aparece como sorte no mundo que
aparece, e vice-versa. Serve o exemplo já citado: no mundo que aparece, o Sol
gira em torno da Terra, o Sol nasce e se põe; mas no mundo essencial, a terra é
que gira em torno de si mesma e do Sol.
RELAÇÃO
ESSENCIAL
A relação
entre o “mundo que é em si” e o “mundo que aparece” torna-se relação essencial.
São um só que aparece como dois, ou seja, relação consigo do mundo como e fosse
relação com um outro.
UMA
INTERPRETAÇÃO
O mundo que
é claro e evidente desdobra-se, em seu autodesenvolvimento(diversificação
etc.), em mundo essencial e mundo aparencial – para depois promover novo mundo
unificado transparente. No feudalismo, Idade Média, tudo era claro, cristalino
e evidente: não somos iguais, uma parte do trabalho fica com a classe dominante
(outra como Estado, outra com a Igreja etc.), o Estado serve aos ricos etc. Com
o capitalismo, o mundo duplicou-se: parece que somos iguais, parece que somos
pagos pelo nosso trabalho, parece que o Estado é um mediador não classista etc.
O socialismo, enfim, encerra tal duplicação, tornando tudo transparente mais
uma vez, de novo modo. O que no capitalismo é aparência e farsa objetiva, será,
em muitos casos, essência real no socialismo. O capitalismo anuncia o
socialismo, mesmo se com trombetas desafinadas.
O TODO E AS
PARTES
De início, o
todo não é as partes – e as partes são o oposto do todo. Mas há algo mais
profundo. O todo sem partes é vazio, sequer é um todo, pois somente pode ser um
todo de partes relacionadas umas com as outras. As partes, por outro lado
apenas são partes se dentro de uma relação com outras partes dentro de um todo
– como dissemos, um dedo, como parte, somente tem sentido se como parte do
corpo ao qual ele pertence. Se ele sai desse todo, se é decepado, cortado, ele
é uma parte que é uma totalidade em si mesmo, mas uma totalidade morta, inútil,
um dedo que se decompõe. Há, assim, quase máxima unidade do todo e das partes,
um necessitando do outro.
Complementemos
isso: as partes são dependentes umas das outras ou independentes umas das
outras? Derivamos: Tese – as partes são totalmente independentes umas das
outras; Antítese – as partes são totalmente dependentes umas das outras;
Síntese – as partes são relativamente autônomas umas das outras enquanto são,
ao mesmo tempo, relativamente dependentes umas das outros – mas a
interdependência entre elas é o lado superior de ambos.
O todo é
mais do que a mera soma das partes, pois é a união das partes e suas
interelações umas com as outras, recíprocas. Como dissemos: o hidrogênio
queima, o oxigênio permite a queima – mas a união de ambos numa totalidade,
H2O, produz a água, que apaga o fogo, tem função oposta.
CONTRADIÇÃO
TODO E PARTE
A parte pode
entrar em contradição com o todo ou com o todo como se apenas com outra parte
(oposta etc.). Mas queremos destacar as partes com o todo. O todo quer ser todo
e as partes querem ser partes, afirmar suas autonomias. Por outro lado, com o
avançar do sistema, a totalidade tem as partes cada vez mais integradas, ou
seja, cada vez mais totalidade; mas as partes resistem à maior integração,
cristalizam-se relativamente.
SOBRE A
TOTALIDADE
A totalidade
pode ter um rumo, determinístico até. Ela é assim, porém, permitindo que suas
partes internas sejam caóticas. Nesse caso, temos a lei do caos.
A totalidade
é por um avanço irreversível, a irreversibilidade lhe pertence, mesmo que
pareça recuar. Mas suas partes, com relativa autonomia, podem avançar e recuar,
são reversíveis.
Em geral, a
totalidade avança de modo desigual; as partes desiguais, então, combinam-se por
associação e/ou contradição.
O todo é
etapista, a totalidade cumpre etapas necessárias; por outro lado, as partes
podem, de modo relativo, saltar por cima de certas etapas, dadas certas
condições (autocontradição, atraso etc.), como a influência de outras partes.
O que é ruim
na totalidade, no contexto – aparece como bom para a parte isolada. O que é
inviável à totalidade – aparece como viável à parte com sua autonomia relativa.
O todo é
causal da causa para o efeito, o passado é a causa do presente e do futuro. As
partes adotam a interação, reciprocidade, causalidade recíproca. O modo destes
faz aquele.
O todo
sistemático e orgânico tem finalidade, causa final. As partes participam, quando
podem, da realização da finalidade do todo.
A totalidade
primeira é o Ser que deriva do Nada. As totalidades secundárias, partes e entes
vêm de outro ser, de outro ente, nunca do nada.
O todo vai
ao concreto; as partes, podem ir ao abstrato.
O todo é a
verdade; já a parte, a parcialidade.
FORÇA E
EXTERIORIZAÇÃO
Ora, o que
faz do TODO de fato um todo, ou seja, que as partes não sejam apenas o mero
juntar, um mero agregado indiferente, um mero unido artificialmente? A força. A
força gravitacional, se força for aqui, mantém o todo do sistema solar junto em
um sistema, além de mantar unido nosso próprio planeta como um todo. O que
mantém o capital geral e o capitalismo como um todo, como mais do que meras
partes? Resposta: o valor, valor este que há dentro das máquinas,
matérias-primas, mercadorias, capitais, etc. O valor geral é o que unifica o
sistema.
A força se
externaliza, assim ela aparece como duas ou mais forças – mas no fundo é uma
força só que aparece como forças diferentes, diversas. Por exemplo: há apenas
UM valor global na sociedade – uma única massa total de valor, uma só energia,
apenas uma substância. Mas ela aparece como vários valores porque se colou por
dentro de várias mercadorias diferentes. Veja que as mercadorias concorrem umas
contra as outras, os capitais concorrem uns contra os outros; desse modo, por
terem valor dentro de si, o valor (força) luta ou se junta com ele mesmo como
se com um outro, um valor com ou contra outro valor, uma força com ou contra
outra força (mas, na verdade, são a mesma força); externamente há vários
valores, mas internamente há apenas um valor social global. O exemplo torna-se
mais claro se o leitor domina a economia marxista.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Vale
destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo
forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O
todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade.
O todo é um reunir atrativo de partes, pela força; um todo vem, também, de outro
todo que se suprassume; uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é
também em si um todo, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um
antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o
crescimento e desenvolvimento de um todo dar-se, por isso, pela força ou, ou
melhor, energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como
espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Na ciência
física, o conceito de força está em “crise categorial”. Por muito tempo usada,
parece não ter mais tanta sustentação. Cabe aos hegelianos e marxistas
avaliarem se é o caso ou não de suprassumir tal categoria.
Curiosos que
a crise categorial, ideal, do conceito de força coincide na mesma época do
início da crise categorial, real, do valor, da força de trabalho manual
reduzida. Pura coincidência temporal e de forma? Não; na verdade, o
desenvolvimento científico, que supera a força, e o desenvolvimento técnico,
que supera o trabalho manual direto sobre a matéria-prima, andam juntos, mesmo
que um pouco atrasado em relação ao outro.
EXTERNO E
INTERNO
A relação de
força e sua exteriorização produziu o interno e o externo. O externo é o
próprio interno, que vai, este último, para fora, digamos assim. Um artista
somente pode fazer uma arte, exterior, que expresse seu interior – fará grande
obra se for, por dentro, um grande artista. O externo não está em unidade com o
interno, pois o externo é, ele mesmo, o próprio interno. Eles estão separados,
como se fossem dois, apenas na aparência. O externo NÃO esconde o interno, na
verdade o revela, o mostra – se se quer saber o interno de algo, observe seu
externo, pois o lado exterior é a revelação da essência, essência agora
determinada como um interno. Uma personalidade, interno, revela-se na sua
prática do sujeito, externo.
O EFETIVO
O efetivo ou
realidade é a unidade de essência e existência. A essência que não aparece se junta
coma existência que é apenas aparecimento; juntas formam a efetividade, a
realidade. Veremos melhor a seguir.
O ABSOLUTO
Lembra-se
que o exterior e o interior não mais do que uma unidade de opostos porque na
verdade eles são UM? Por bem; este um, apenas um total, é o absoluto.
Pensemos na
palavra absoluto para pensar o absoluto real. O absoluto nega-se a se confundir
com algo, com quaisquer coisas, pois é o absoluto. Por outro lado, oposto, ele
tem tudo dentro de si, pois é o absoluto.
EXPOSIÇÃO DO
ABSOLUTO
Tudo que
vimos até agora é a exposição ANTERIOR do absoluto: ser, quantidade, qualidade,
essência, existência etc. Mas é uma exposição para trás, digamos assim. E para
frente? O absoluto tem o lado “externo”, mas que é ele próprio, um ir para frente
dele mesmo, uma exposição dele mesmo não apenas como UM, mas como
multiplicidade, como várias expressões.
ATRIBUTO
ABSOLUTO
Pensemos a
multidão de coisas diferentes. Elas são, na verdade, “transparentes”, pois uma
reflexão filosófica perceberá que elas têm uma atributo em comum, de todas elas
– esse atributo é o absoluto que há pro meio de toda, mas um absoluto parcial
porque determinado como o atributo, atributo geral. Cada coisa tem vários
atributos, mas, juntas, apenas o atributo geral, o absoluto.
Mas esse
método, de ir das coisas rumo a saber que elas tem um absoluto dentro delas em
comum, é errado, defeituoso. Por, primeiro, devemos derivar o absoluto, como
fizemos neste capítulo todo, e, depois, derivar o atributo e em seguida, o modo
(maneira).
MODO
(MANEIRA)
O atributo
tem dois extremos em si. Por “debaixo”, tem o absoluto; por “cima”, tem o modo
ou a maneira. O modo é como uma variedade externa, do lado de fora.
Mas logo
descobrimos que o modo “externo”, na verdade, é próprio absoluto mostrando a si
mesmos, manifestando-se, exibindo-se, sendo esta própria manifestação ele
próprio – não fora dele. Assim, o absoluto vai para dentro de si indo para fora
de si, negação da negação; sua autoexibição é ele entrando unidade com ele
mesmo, pois o modo ou maneira não é um outro.
EFETIVIDADE
Agora,
veremos as categorias modais: efetividade (realidade), possibilidade,
contingência (acidente), necessidade. De imediato, saiba que este último, a
necessidade, tem força de lei, de que algo tem que ser necessariamente assim.
Dito isso, sigamos juntos, unificando opostos.
CONTINGÊNCIA,
EFETIVIDADE, NECESSIDADE, POSSIBILIDADE – FORMAIS
Vejamos,
primeiro, a efetividade e a possibilidade como separadas uma da outra, como
formais. A possibilidade formal é o pensamento de que há várias e opostas
possibilidades; um pensamento limitado, que pensa todas as possibilidades
futuras, sem hierarquia.
A união, a
unidade, da possibilidade e da efetividade (realidade) é – a contingência.
Contingente é aquilo que pode ser ou pode não ser, tanto faz, pode acontecer ou
não; por exemplo, uma inflação antes de uma crise pode tanto acontecer como não
acontecer, não é necessário que ocorra. Veja: sendo o efetivo (realidade) e a
possibilidade exatos opostos, eles estão fundidos num meio-termo, a
contingência, pois o contingente, quando acontece, é ou existe, logo é efetivo,
mas poderia também não acontecer, logo é possibilidade. É um e outro.
Como
derivamos a contingência, devemos agora derivar seu oposto, a necessidade, o
necessário formal. Para isso, também usaremos, de novo, a possibilidade e a
efetividade (realidade) formais. Sigamos juntos. De um lado, a possibilidade é
algo que existe (por exemplo, um ovo tem em si mesmo a possibilidade, é a
própria possibilidade, de ser comido pelo homem por causa de suas PROPRIEDADES,
que fazem dele um ovo) – logo a possibilidade é o seu oposto, a efetividade ou
realidade. Por outro lado, o efetivo separado do “em si”, da essencialidade, ou
seja, separado do interno-possibilidade, é uma efetividade sem chão, sem base,
sem por onde sustentar-se – logo, assim, torna-se apenas possibilidade, ou
seja, seu oposto. Pelo fato de um cair no outro, e vice-versa, surge daí a
necessidade formal.
NECESSIDADE
FORMAL RELATIVA, EFETIVIDADE (REALIDADE), POSSIBILIDADE E NECESSIDADE – REAIS
Passaremos
do formal para o real. Ora, como a efetividade tem a necessidade, como vimos
antes, ele é uma efetividade ou realidade real. Melhor: se juntarmos, como deve
ser, efetividade e seu oposto, seu lado de dentro, a possibilidade, então temos
a efetividade real.
Mas, então,
a possibilidade também é real. Para vermos tal tipo de possbilidade, isso
ocorre quando avaliamos o mundo e vemos, de fato, com atenção e profundidade,
as condições, as características, as tendências, as propriedades a organização
e a desorganização desse mesmo mundo. Se na possibilidade formal, havia várias
hipóteses futuras, na possibilidade real ocorre a hipótese limita.
A
possibilidade real tem de ser, tem de acontecer, necessariamente assim por
causa de tais condições e circunstâncias – logo chegamos à necessidade real. A
possibilidade real já é a necessidade real, pois são opostos apenas na
aparência e na observação descuidada.
Se olharmos
o mundo como de fato é, ele é, ao mesmo tempo, tanto possibilidade quanto
efetividade (realidade). É ambos, os opostos juntos. Ele é uma efetividade, uma
realidade, mas que “deseja” ser uma nova efetividade depois, por dentro dele
mesmo.
Aqui, Hegel
faz uma nova sacada. A necessidade real vem da possibilidade e da efetividade;
mas a possibilidade e a efetividade é, também, uma unidade que produz o
contingente, o contrário da necessidade! Por isso, conclui-se: o contingente
produz o necessário, além de estar unido com ele!
NECESSIDADE
ABSOLUTA
O que existe
de verdade, no todo, é unidade de essência e ser, de externo e interno no
absoluto. A totalidade é necessidade.
O
contingente não só produz a necessidade como, o oposto, é produzido por ela. Temos
a necessidade absoluta.
Vamos
derivar, agora, a contingência absoluta da necessidade absoluta. Atenção. A
necessidade absoluta é um efetivo, um real, logo o efetivo é um efetivo
absoluto. Mas, se o efetivo ou real é absoluto, logo tem a possibilidade dentro
de si mesmo, porque é absoluto. Ora, qual a unidade do efetivo e do possível?
Já dissemos duas vezes – é o contingente. Então a unidade do efetivo absoluto e
da possibilidade também absoluta é o contingente absoluto (da e dentro da
própria necessidade absoluta).
A
necessidade absoluta tem a possibilidade absoluta. O feudalismo teve de passar,
por força de uma lei histórica, para o capitalismo!
CRÍTICA DE
LUKÁCS
Lukács diz
que a realidade não tem necessidade absoluta, pois o mundo é probabilístico, por
probabilidade. Para isso, ele usa uma frase de Lênin: “não há situação
absolutamente sem saída”. Assim pode ser 80% sem saída, 99, 9% sem saída, mas
sobra, ao menos, O,1% de saída. Assim, tendemos a ir do capitalismo para o
socialismo, mas podemos ser derrotados e humanidade ser extinta numa catástrofe
econômica e ambiental. Deixo ao leitor a escolha sobre quem tem razão, Hegel ou
Lukács.
As duas
posições fizeram a cabeça dos físicos no século XX. Alguns afirmaram que é
impossível causalidade e determinismo na física quântica, portanto
deveríamos nos limitar a cálculos de
probabilidade – apenas. Einstein e Born fizeram uma luta de morte contra tal
concepção, afirmaram que nosso conhecimento hoje ainda é limitado, por isso
usamos apenas aspectos probabilísticos – mas há uma solução oculta, causal, em
variáveis ainda ocultas.
Minha
posição, conclusão, afirma que, por a realidade ser complexa, praticamente ou por
muito tempo apenas poderemos acessar ela de modo tendencial e probabilística –
mas ela é, no fundo, determinística. No mais, 1) o “o que” é e acontecerá de
fato é determinista, mas “o como” está em jogo; 2) a realidade tem opções para
si e a partícula ou homem escolhe a opção que já deveria escolher, incluso pelo
contexto.
ACASO E
NECESSIDADE
Em primeiro,
separo contingência de acaso. Isso faz o marxismo. O acaso é o oposto da
necessidade, mas está, ao mesmo tempo, em unidade com ele. O caso mais famoso é
ao da evolução das espécies na biologia. Uma mutação genética acontece por
acaso; pois bem; ao mudar os descendentes a mutação prospera se facilita a
sobrevivência da espécie ou deixa de existir se dificulta a sobrevivência dessa
mesma espécie. O acaso aí não nega as leis da biologia, da evolução, mas atua
dentro dessas leis (necessidade). Se o presidente morre hoje por um enfarto ao
acaso, isso pode acelerar ou atrasar a história, suas leis ou necessidades, as
tendências históricas, mas não nega a existência do acaso dentro da
necessidade, atuando aí.
POSSIBILIDADE
E NECESSIDADE CRESCENTES
Piaget atualizou
a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais
possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a
necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao
final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais
possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo
estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.
Penso que,
ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a
necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a
partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária.
Além disso,
é possível que a possibilidade teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade
plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas
fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas
fracassadas.
ATUALIZAÇÃO:
PROBABILIDADES COMBINADAS
Para Hegel
existe apenas uma possibilidade real, que já é realidade e necessidade ao mesmo
tempo; as demais seriam apenas formais. Já dissemos da possiblidade crescente
como a probabilidade maior de ter câncer com o maior envelhecimento. Mas há
outro caminho: as probabilidades diversas, até opostas, podem se combinar numa
única solução, a nova realidade. Em outro momento demonstrei que as teses dos
Bolcheviques, dos Mencheviques e de Trotsky sobre a revolução russa entes de
1917 estavam todas certas e erradas, um pouco de ambas – e aconteceu a
combinação do acerto delas. Na física já existe enorme desconfiança de ser
assim como a probabilidade ocorre no mundo físico, resultado como combinação de
diferentes probabilidades. Todas as possibilidades pensadas – que aproximamos
ora da palavra probabilidades – são visões angulares, pontos de vista, de
aspectos parciais do real; têm chão, mas de um pedaço dele; por isso, a
realidade rica combina de alguma forma os vários caminho que soam racionais ao
seu modo.
PROPOSTA DE
ATUALIZAÇÃO
Além das atualizações
anteriores, o acaso leva-nos à reflexão do caos e da ordem.
O caos não
suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo
lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos,
por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que
veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto,
o caos, dentro de si.
Na coisa, a
ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e
ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo.
O caos
absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade
de caos e ordem cai-se na probabilidade.
O socialismo
é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central
e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.
ATUALIZAÇÃO:
CONTINGENTE E NECESSÁRIO
Ao surgir, o
contingente testa se é necessário, necessidade – se bem cabe no seu contexto,
torna-se necessidade. Mas o contexto muda, logo, o necessário que foi
contingente um dia, revela mais uma vez sua contingência. Porque ele não é
primeiro, mas derivado.
PROPOSTA DE
ATUALIZAÇÃO
Movimento =
energia = tempo = espaço =matéria = massa = luz = campo
Tudo = Tudo.
Tudo é espaço-matéria, espaço condensado, para dentro de si. Tudo e energia em
busca de mais energia, em busca de mais de si.
RELAÇÃO
ABSOLUTA
Agora que o
absoluto é sua própria autoexposição, a própria aparência total, podemos ver a
relação de substancialidade e a relação de causalidade.
SUBSTÂNCIA E
ACIDENTES
Os acidentes
são aquilo que não é essencial (a cor de algo etc.). A substância é, então, o
oposto, o essencial de algo. Porém, Hegel descobre a unidade dos opostos: que a
substância produz seus próprios acidentes, põe eles, põe eles como se fossem
externos a si (embora não sendo de fato) – mas os acidentes são apenas
expressão da substância ao mesmo tempo em que a substância somente é em, dentro
de, seus acidentes.
Eles são uma
unidade, mas insistamos na diferença deles mais um pouco. A substância vai para
fora de si e põe os próprios acidentes, mas, depois, ela “abandona” os
acidentes e volta para dentro de si mesma. Substância e acidentes separados
produz um meio-termo que os unifica, a potência.
Veja-se. Em
nossa metafísica o espaço, embora não primeiro em nosso universo, torna-se
substância e as partículas-ondas são os acidentes.
CAUSALIDADE
FORMAL
Como
potência, a substância é a causa dos acidentes, pois põe estes como se fossem outros
para ela, não ela mesma.
Ocorre que a
causa só pode ser causa sem tem um efeito e, ao inverso, o efeito só é efeito
se tem uma causa – um depende do outro, apesar de ainda não fundidos com apenas
um. Ora, se a causa se realiza no efeito, esta mesma causa deixa de existir,
logo o efeito deixa de ser efeito. O que sobra disso? Um imediato, uma
substância, um conteúdo indiferente em relação à causa e ao efeito – um “mesmo”
que está tanto em um quanto, depois, no outro.
CAUSALIDADE
DETERMINADA
Aquilo que
está na causa é aquilo que estará, também, no efeito. Uma chuva molha o chão –
logo tanto na chuva quanto no chão há o mesmo, a água.
A
causalidade produz, além disso, sua própria causalidade. A água que foi ao chão
evapora e produz, novamente, uma nova chuva.
Mas essa
causalidade tem o defeito do mau infinito: uma causa tem outra causa, que tem
uma causa, que tem uma causa… Um efeito tem um efeito, que tem um efeito, que
tem um efeito… Como resolver isso?
EFEITO E
CONTRAEFEITO
A causa numa
substância ativa produz um efeito sobre outra substância, logo esta segunda, a
afetada, faz um contraefeito naquela primeira – ida e volta, efeito e
contraefeito, a causa passou para outro e, depois, retornou para sua origem.
Temos a causalidade recíproca.
A causa passou,
ela mesma, para o efeito, tornou-se o efeito, mas teve de retornar para sua
origem como contraefeito, como nova causa.
Os humanos
modificam o mundo e o mundo modificado modifica o próprio homem. O poderio
econômico imperialista dos EUA produz o poderio militar, que, por sua vez,
produz mais poderio econômico. O vício em bebida pode causar depressão, e esta
última causa, por sua vez, mais vício; ou, ao contrário, começa-se com
depressão que produz vício – num ciclo vicioso que se aprofunda. A causa torna-se
consequência e a consequência torna-se causa, efeito e contraefeito.
Temos,
então, a interação em que a mesma substância absoluta age como várias
substâncias diferentes em interação umas com as outras. A interação de algo com
outro algo ocorre para ambos ao mesmo tempo, vice-versa, o conceito “interação”
supera a ideia de causa antes e efeito depois, verdadeira mas limitadíssima.
CAUSA E
ACASO
Segundo
Lukács, há unidade de causa e acaso. Uma totalidade é feita de muitas partes
que causam umas às outras e vice-versa; isso permite que ocorram acasos por
causa da complexidade das interações das partes entre elas.
Outra visão,
complementamos: O acaso nada mais é, para nós, que uma causa causada, mas fora
do padrão, da lei regular, do esperado, do geral – ou acidental.
UMA
INTERPRETAÇÃO
D’O Capital,
de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização
da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar
dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o
oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam
importar insumos e máquinas do exterior.
Há duas
formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez,
produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro
numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente,
aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com
capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.
Um efeito
pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Para a economia vulgar, a
inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias
origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro
circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação
da moeda cai, por exemplo.
Uma causa
pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta
produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois,
revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em
circunstâncias diferentes).
Os teóricos
da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito
enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa
das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que
fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências.
Causas
diferentes, até opostas, que ocorrem ao mesmo tempo possuem, também, uma causa
mesma comum a todas elas.
Spinosa diz
que o passado não pode ser causa do presente, pois ele não-é; o futuro também
não, pois ainda não-é. Ora, claro que o presente é causa de si como interação,
mas o passado e o futuro (teleologia) se fazem presente por meio da matéria, da
materialidade.
UMA INTERPRETAÇÃO
Em minha
pesquisa concreta, não lógica, pude abstrair a relação de causas interna e
externa. Um conjunto de causas externas, fatos, podem ter, no fundo, uma causa
comum, única etc. A causa interna é o desafio teórico. Os trotskystas explicam
a ditadura estalinista por causas externas (morte de revolucionários, guerra
civil, isolamento temporário, baia cultura das massas etc.), enquanto eu
apresentei a causa interna – a causa das causas. O trotskysmo – e eu, como
membro da corrente, por muito repeti o mantra – costuma apresentar causas que
ocorrem em toda e qualquer revolução… Mas a burocratização de todas as
revoluções leva a ver que tal burocratismo não tem causas apenas externas,
factuais etc.
IDENTIDADE,
DIFERENÇA ETC.
Para a
dialética de Hegel, as categorias passam apenas logicamente umas para as
outras, pois são sincrônicas, não diacrônicas: a identidade, a diferença, a
diversidade etc. já estão todas aí, ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum.
Em minha dialética, além de tal sincronia, existe também a diacronia das
categorias: a identidade passa, a si própria, para a diferença, para a
diversidade etc. Na biologia, com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus
descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a diversidade:
diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se depois,
começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito. Passou-se
no processo, no diacrônico, da identidade, para a diferença, para a diversidade
etc.
CONTRADIÇÃO IDENTIDADE-DIFERENÇA
A identidade
guarda em si a diferença; a diferença, a identidade. Mas pode haver contradição
movente de ambos, que se torna processo ou se resolve. As espécies e os seus
indivíduos tendem a se diferenciar por mutação enquanto seleção natural e
sexual, ao contrário, age no sentido inverso, para unidade, para o homogêneo,
fazendo vencer a luta pela sobrevivência apenas os mais capazes de adaptação.
A passagem
real da identidade para a diferença etc. vem da posição e da desigualdade
energética. Há mudanças graduais de uma e mesma espécie que se divide em
membros na montanha e membros no pântano; há diferenças de sotaques, como
priorizar a consoante no lugares frios, de uma língua em comparação ao seu uso
maior de vogais no ambiente quente.
OPOSTOS
Já vimos
isso no inorgânico antes. Cumpre notar o princípio, talvez transitórios, da
incerteza de Heisenberg que afirma: quanto com mais precisão medimos uma
propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos
instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo,
um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição
da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o
tempo etc.
Na biologia,
além de tudo evidente, como a luta entre os seres e os sexos, vemos que o corpo
humano possui sistemas opostos, simpático e para simpático.
Os opostos
estão assim, em unidade, ainda que contraditória.
Na física
quântica, Dirac percebeu que os resultados dos seus cálculos poderiam ser tanto
com sinal positivo quanto negativo, prevendo a existência da antimatéria, isto
é, a matéria com sinal oposto, como neutrino e antineutrino, elétron (-) e
antielétron (+). Nesta obra, expomos que os opostos em carga são, no fundo, o
mesmo, o que antes era unido e dividiu-se, explicando a atração e a repulsão.
Na química, temos a quiralidade, a produção de moléculas quase idênticas, mas
opostas, uma canhota e outra destra.
No nosso
sistema solar, formado desde um disco de partículas, temos os planetas gasosos
e rochosos. Os gasosos têm grande massa; os rochosos, pequena. Os gasosos têm
grande tamanho; os rochosos, pequeno. Os gasosos, pequena densidade; os
rochosos, grande. Os gasosos, elementos leves; os rochosos, elementos pesados.
Os gasosos, longe do Sol; os rochosos, perto.
(DES)MATERIALIZAÇÃO
Em minha
pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a
desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para,
depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais
material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo
ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para
o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até
surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a
desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade
maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor
tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade
deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade,
aumenta o tempo de vida.
Se há
retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao
empírico. Isso está relacionado com a energia disponível. A falta de energia
pode diminuir o tamanho de uma espécie.
FORMA E
CONTEÚDO
Dentro do
próton há quarks que têm menos massa, mas seu movimento-energia (conteúdo)
aparece como massa extra (forma) de sua totalidade, o próton.
O conteúdo é
matéria formada (o abstrato é o concreto em processo).
O
desenvolvimento do conteúdo pode entrar em contradição coma forma conservadora.
Ou a forma exige muita energia etc. do conteúdo, tendo de resolver tal
contradição.
DO MENOS
PARA O MAIS FORMAL
A realidade
vai do informe, do menos formal, à forma. Uma nuvem informe, nebulosa cósmica,
torna-se uma estrela com seus planetas “redondos”. Do organismo ameba quase
informe até células mais formais como neurônios e seres complexos formatados.
TODO E
PARTES
Hegel afirma
que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um
todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna
(Jammer, Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica, 2011),
substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.
Mas essa
energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo,
seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No
segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então
desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.
Vale
destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo
forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O
todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade.
O todo é um reunir atrativo de partes, pela “força” (na verdade, pela energia);
um todo vem, também, de outro todo que se suprassume, que entra em contradição
consigo, ou com parte(s) de si, pela missão, do todo e da parte, de acumular
energia. Uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si
um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era
apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o
crescimento e desenvolvimento de um todo dá-se, por isso, pela energia que
concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo
condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.
Provável,
Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do
sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma
força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A
gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por
meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.
No
capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo
como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso. Mais à frente, veremos
o papel do circulante, do mediador, na manutenção do todo sistemático.
Aqui, vemos
o limite de Hegel; ele: 1) tomou as partes; 2) derivou o todo; 3) disse que as
partes formam um todo pela força. Ora, se ele é o filósofo da unidade dos
opostos, dos diferentes e diversos, qual a unidade da parte ou das partes e da
força? Ele não responde, sequer levanta a questão. Se substituímos força por
energia, se energia é massa e espaço, e matéria etc., logo a parte, como
matéria, é um só com a “força”, ou seja, com a energia, são diversos e, ao
mesmo tempo, o mesmo, um dentro do outro, um sendo o outro. Logo vemos que
nossa elaboração, embora direta, é superior à hegeliana em estado puro.
Uma parte,
afirmando-se como todo em si, entra em contradição com o todo ou com outra
parte por meio do qual entra em contradição também com todo com que qual este é
alinhado.
CONCRETO E
ABSTRATO
O concreto inicial,
junto de si, passa para a abstração, a separação, que volta ao concreto. Padrão
da geologia: do concreto amorfo, surgiram progressivamente os continentes
iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após processo
longo, fundiram-se no Pangeia; este, então, separou-se nos atuais continentes
do planeta. O atual afastar aproxima. O nosso universo, provável, sai de um
ponto comum (concreto), expande-se com o afastar das partes (abstrato) para
possivelmente unir-se de novo (concreto). O abstrato é o concreto em processo.
TRÍADE E
COLATERAL
A lógica
dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de
tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no
real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a)
infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c)
inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios,
burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo,
indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas
natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc.
Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que
está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.
No social
hoje, essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em
especial na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor
de serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais
são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema
capitalista.
Na física,
podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido,
gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear
forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade
está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas
curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar
as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças
consideradas.
Continuemos
com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural
(abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar –
método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de
modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que
no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos
de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros
dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80;
Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para
classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje
aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo
na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou
metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou
raros (colateral).
Utilizando
tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio,
muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor
disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os
Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns
climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que
Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários
sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens),
onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde
o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é:
colateral.
Façamos uma
aproximação. A tríade não é pura quantidade, mas pura qualidade, pura qualidade
em quantidade. Temos 10 dedos nas mãos, não 3, porque aí impera o quantitativo.
A tríade com seu possível colateral trata de qualidades, do qualitativo, do
estado – é a qualidade quantitativa ou quantidade qualitativa.
REAL E
FICTÍCIO
O movimento do
real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este desenvolve
aquele em si – ocorre na materialidade.
O real
produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio
processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o
fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece
como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se
ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o
fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a
unidade de nada e ser.
A categoria
fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo
diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A
relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata
de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o
fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade
desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e
irreal.
Em
matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da
humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros,
racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.
O real
encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das
partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos
são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como
pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação
científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui,
portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.
A unidade do
real e do fictício é o real efetivo ou completo.
CENTRAL E
ORBITANTE
Lucáks
critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da
Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a
forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács,
Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o
qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro
apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a
relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que
aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante,
e vice-versa; daí a unidade deles.
Quando o
leigo pergunta a algum físico sobre a semelhança entre a orbitação do elétron
em torno do núcleo e dos planetas em torno do Sol, logo explicam que esta visão
atômica é antiga e, portanto, forçada. Percebamos que usa-se a comparação
visual no lugar do conceito. Em nível de categoria, a relação próton e elétron
é a mesma natureza de Sol-planetas. Entre os seres vivos isso também ocorre,
como um macho forte agregando em torno de si outros de sua espécie ou fêmeas.
GERAL,
PARTICULAR, SINGULAR
Para Hegel,
o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de
si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido;
logo comentaremos o motivo de seu erro.
Hegel deixa
de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A
descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular
do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal
capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.
O que se
reproduz, o gene individual ou a espécie geral? Ora, a oposição é desnecessária
e unilateral. Quando, por exemplo, um animal quer se reproduzir normalmente,
ele deve encontrar outro semelhante do sexo oposto, logo não pode ser algo de
todo individual, singular.
Há
contradição temporária entre o geral e o singular. Quando uma fêmea chimpanzé
mata seu filho albino, ela afirma o singular-geral dominante. A singularidade
de um indivíduo destoa do geral, da espécie, até formar espécie nova. O
coletivo pode oprimir, não afirmar, o individual.
Podemos ver
de modo estático: algo pertencente ao geral se torna singular por meio de suas
particularidades. Mas podemos ver de modo emmvimento: o que é geral vai se
perticularizando e se singularizando – ou o singular vai se generalizando. Pra
Hegel, ir do geral ao singular por meio do particular é algo estático ou da
análise.
GÊNERO
Na Doutrina
do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na
estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por
exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a
tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.
Os erros de
Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a
Teoria da Evolução das Espécies, que dirá a do Big Bang. Mesmo para um gênio
isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele,
valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente,
valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da
física de sua época. Diz Hegel, sobre o geral-singular e o gênero; “Mas a
natureza orgânica não tem história…”
POSSIBILIDADE
E NECESSIDADE CRESCENTES
Piaget
atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada
vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a
possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade.
Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é
cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando
o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se
desenvolveu.
Penso que,
ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a
necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a
partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não
retorno).
Além disso,
é possível que a possibilidade, em seu evolver, teste-se a si mesma antes de se
tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções
burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções
socialistas fracassadas.
A
contradição aí se dá de duas formas: 1) a necessidade constrange a
possibilidade, a subordina a si; 2) a possibilidade tenta afirmar-se antes da necessidade
madura.
A
necessidade nem sempre encontra a possibilidade de realizar-se. Vejamos a
biologia. 1. Folhas verdes – mas absorveriam mais luz se fossem negras; 2.
reprodução sexuada dominante – mas a
assexuada seria mais simples, rápida e fácil; 3. dormir – isso faz perder muito tempo e há duros
riscos, melhor seria "desligar" parte do cérebro por vez. São limites
a partir dos quais os seres devem se adaptar, pois lhes é impossível uma
adaptação máxima, perfeita, como folhas negras.
CAUSALIDADE
D’O Capital,
de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização
da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar
dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o
oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam
importar insumos e máquinas do exterior. No inorgânico: a explosão de uma
estrela produz onda de choque que impulsiona a formação de novas estrelas. Na
biologia: 1) a hipólise estimula uma glândula no corpo humano, mas esse aumento
passa a inibir o hormônio hipofisário.
Há duas
formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez,
produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro
numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente,
aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com
capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.
Um efeito
pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Os olhos do polvo e dos
animais terrestres têm origens diferentes. Para a economia vulgar, a inflação
sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens,
como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode
mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai,
por exemplo.
Uma causa
pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta
produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois,
revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em
circunstâncias diferentes).
Os teóricos
da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito
enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa
das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que
fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências. Vejamos a
contradição. A condição, ao redor, se opõe à causa, mas se torna assim, também,
causa. Na década de 1930, a França viveu uma greve geral revolucionária com
ocupação massiva de fábricas; os trabalhadores, com esta imensa ousadia,
poderiam ter tomado o poder, mas exigiram, depois de tanto esforço e
sacrifício, apenas aumento salarial, que logo foi consumido pela inflação. É
uma contradição, por exemplo, que uma grande causa cause um pequeno efeito ou
que o efeito seja o oposto da natureza e intenção da causa.
Além disso,
a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o
efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise
econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.
Isso permite
rápido comentário. Einstein, nosso gênio, ao que parece, igualou aceleração e
gravidade, pois ambos produzem o mesmo efeito. Ora, efeito igual pode ter
causas completamente diferentes, não necessariamente iguais de imediato, apenas
no fundo como em movimento = massa = energia etc.
As diversas
causas, muitas vezes simultâneas, possuem, elas mesmas, juntas, uma causa
comum. As várias causas simultâneas de uma crise cíclica têm a mesma causa,
mesmo núcleo comum, as questões de produtividade.
Para
registro, Lukács, afirma que as partes de um todo interagem entre si
reciprocamente, causando-se umas às outras – e isso permite que ocorram acasos.
De modo
resumido, a causalidade é recíproca, a causa torna-se efeito e o efeito
torna-se causa, em processo de construção. A economia afeta a cultura, mas a
cultura afeta a economia. Além disso, o que está na causa continua-se no efeito
como a bola de sinuca transfere seu movimento-energia para a outra bola com a
qual se choca.
A causa
reciproca ocorre em desenvolvimento porque as partes em relação estão em
mudança, como energia em busca de mais de si.
A contradição
entre efeito e causa, é que aquele contraria a base deste, como um oposto. O
crescimento do Estado é a causa da destruição do próprio estado, consequência.
Vejamos um caso na biológico, na obra “O biólogo dialético”:
Suponhamos que aparece uma mutação em uma espécie
com alimento limitado, a qual causa a duplicação da fecundidade sem mudar a
eficiência de colheita de alimento e o metabolismo. A mutação vai ser
rapidamente estendida através da população, a qual vai ter logo o dobro de
fecundidade. Mas como a espécie tem comida limitada, a população adulta não vai
ser maior que a anterior. A população recentemente evolucionada estará em
melhores condições de crescer rapidamente se há um incremento na provisão de
alimento, porém seu número final não será maior que si tivesse fecundidade mais
baixa. Por outro lado, se os predadores que se especializam em ovos ou jovens
mudam sua imagem de busca a espécies que têm mais abundância nos estados
juvenis, , pode reduzir-se a população ou incluso chegar a extinguir-se. (…) As
mudanças evolutivas dentro de uma espécie podem causar sua propagação,
incrementar seu número ou tamanho da população ou provocar sua extinção.
Ademais,
como produz efeitos opostos, o avanço se dá pela passagem da causalidade para a
tendência.
TENDÊNCIA E
CONTRATENDÊNCIA
A tendência
produz, de si mesma, a própria contratendência relativa. Eis a contradição em
movimento. Uma estrela tende a colapsar dentro de si, mas, além da resistência
natural dos átomos, estes se fundem e produzem fótons que empurram para fora.
Novas formas de vida que passaram a produzir oxigênio abriram o caminho para
maior diversificação biológica, mas, pouco depois de surgirem, tal elemento químico
atuou como veneno contra as formas viventes então existentes. Um estrela que
explode produz um impulsos que, em outro ponto, empurra para a união de
partículas, o que forma nova estrela.
COISA EM SI
E MATERIAIS
Para nosso
trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si
nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas
materiais, matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela
não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um
“isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais
matérias).
Destaco que,
para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado,
elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo
não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo,
tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto,
em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se
que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que
permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o
que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o
mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a
interpenetração.
Mais uma
observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas
sabemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não
sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando,
tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas
propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por
causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece
provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual
mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características
destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para
fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos
levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia,
impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.
A coisa em
si (abstrato) é suas propriedades (concreto) expressando-se (processo).
FIM E MEIO -
TELEOLOGIA OBJETIVA
Em Hegel, na
Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como
meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo
objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa
ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um
fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado
objetivo.
Há outra
consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se
realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de
unidade de fim e meio. Eis a teleologia objetiva, orgânica, que dispensa uma
razão pensante ou superior.
Existe ainda
o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e
circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si
mesmo. Esta contradição com o fim real deve ser resolvida. O fim continua
afirmando-se como necessidade contra a autonomia do meio.
Para evitar
interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria,
na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos
antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa confusão,
entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se das mais
variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir seres cada
vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a própria
temperatura, teleologia relativamente realizada no homem.
Enfim, Hegel
e outros, como Lukács e Aristóteles, colocam o trabalho como centro e caem no
maquinismo, separando meio e fim adotando o modelo escolhido como universal, ou
metáfora. É uma forma indireta de mecanicismo.
INTERNO E
EXTERNO
Hegel
demonstra que os opostos tem certa mesmidade. Um poeta faz um poema na
qualidade externa de sua qualidade interna como poeta. O externo expressa o
interno; este, por sua pulsão, passa para aquele. O próprio Hegel diz do fato
de que, no começo, o objeto é apenas externo, logo apenas interno – então
desenvolve-se para algo interno-externo. O externo se internaliza – o interno
se externaliza. A matéria externaliza-se ao decair-se em espaço; o espaço
internaliza-se ao formar partículas.
Em equação
qualitativa, temos, por exemplo: o interno é o externo que se internaliza
(ambos, interno e externo podem ser, ora um e ora outro, abstratos; o interno é
abstrato por não ser diretamente observado ou o externo, por ser visto de modo
isolado – assim, o abstrato é o concreto em processo).
DUPLO
CARÁTER
Algo tem
duplo caráter: a religião é um alívio humanizante, mas fonte de alienação; a
luz é uma sobreposição de estados, partícula-onda; a mercadoria é valor de uso
e valor. Nesse duplo, um domina o outro, o oposto, uma contradição que é
resolvida no evolver. Além disso, um é, na coisa, um em si enquanto o outro é
um em contexto (e no processo). Em si, a religião é alienação; no contexto, tem
algo oposto, humanitário. Talvez a física descubra o que é “em si” e “em
contexto” na dualidade partícula-onda da luz e do elétron. Por exemplo: diz-se
que a partícula não é partícula, mas onda e campo, que colapsa em partícula
porque a medimos, ou seja, lançamos um fóton nela.
Mario Bunge,
que nada entendeu de marxismo para além de erros acadêmicos, tentou refutar o
“duplo caráter” em Hegel. Vejamos, de novo, um exemplo da natureza: segundo a
seleção sexual, o cervo ter grandes galhas é positivo, uma vantagem, pois vence
adversários de espécie em batalhas pela fêmea; mas, segundo a seleção natural,
isso é negativo, uma desvantagem, pois dificulta correr para longe de seus
predadores – positivo e negativo, vantagem e desvantagem, duplo caráter! Na
anatomia, as mãos servem para destruir e construir, e a boca é usada para
engolir e expelir.
PROCESSO E
CRISE
A lógica
deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia,
no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais
ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo,
desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou
menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou
desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou,
antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito
central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria
comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas
após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio,
mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas
o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande
cérebro formular algo do tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além
de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no
século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande
desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece
externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na
verdade, sua condição de autoelevação.
A crise,
desde o processo, é uma questão, em resumo, em igualdade com os demais,
energética, como crise de produção. Uma estrela como Sol entra em crise quando
a fusão nuclear, sua produção, gera muito ferro, um elemento muito estável, que
impede que a gravidade produza novos elementos, interrompe-se o trabalho – a
estrela explode, o que produz elementos mais pesados. A crise dos modos de
produção – contradição entre forças de produção e relações de produção – começa
com problemas de produção e a destinação da energia social-natural, como o
Estado sugando muito da sociedade para sustentar o mundo, a própria sociedade,
tal como ele é (mas acaba realimentando a crise). Os ciclos planetários, talvez
também cósmicos, crises, na nossa Terra geram problemas como a falta de
alimento-energia para os seres vivos.
Em geral,
amplos processos e crises, que são o mesmo, produzem eras (eras do capital,
eras biológicas, eras cósmicas, eras sistêmicas da sociedade etc.).
Kunh informa
que as crises científicas levam ao foco em filosofia e novas teorias. Em
semelhança, as crises sociais também produzem uma pressão pelo pensamento, por
novos guias mentais. As crises biológicas podem levar animais com alguma
complexidade a algum traço de pensamento um pouco mais complexo ou
protoconciência, como nas abelhas antigas.
AUTORRERULAÇÃO
DO SISTEMA ORGÂNICO
Em seu Da
Guerra, Clausewitz faz uma afirmação válida até hoje: as grandes nações atuam
para que a correlação de forças entre os Estados mantenha-se estável, não mude,
permaneça. Assim, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, todo o mundo ocidental de
maior peso saiu em defesa deste contra aquele. A Coisa se autorregula. Assim, o
sistema orgânico, que tende a mudar, tende a impedir a mudança de si próprio,
age contra si nas duas pontas, contra a permanência e contra a mudança, pela
permanência e pela mudança. Assim, os EUA fazem o possível para impedir que um
concorrente à altura surja contra si, caso da subordinação do ascendente Japão
no final do século XX, algo difícil de fazer contra a China por razão das
circunstâncias.
Na biologia,
as comunidades e populações são contraditórias e desiguais, mas busca-se o
equilíbrio. Na química, o princípio de Le Chatelier diz que a nova combinação
de átomos em moléculas por efeito de reagentes pode até se reverter
parcialmente, sair do anterior equilíbrio, onde mudança e contramudança se
igualavam na equação, para uma adaptação ativa; assim, se aumentamos a pressão,
as moléculas podem se recombinar em parte para o modo anterior de maneira a
reduzir de novo a pressão, tornar a pressão como a de antes de seu aumento.
Vale, sobre o quimismo, um comentário: a pressão externa é, na verdade,
internalizada – não é apenas, como pensa um químico ou professor apressados,
uma busca abstrata por equilíbrio.
CONDIÇÃO
Hegel diz:
1) o todo é absolutamente incondicionado; 2) a condição é relativamente
incondicionado em relação ao fundamento; 3) algo somente surge quando todas as
condições de seu surgir estão presentes – as condições colapsam para dentro do
resultado novo, logo as condições estão no seu condicionado. Algo mais deve ser
dito, complementado sobre: algo surge apenas quando as condições de seu surgir
e de seu consolidar estão maduros – pois pode surgir sem se consolidar; e isso
pode tornar até um tanto mais difícil seu ressurgir. A vida deve ter surgido
várias vezes de modo independente, e talvez até hoje surja, mas apenas uma das
oportunidades deu certo. E ela surge e ressurge porque há condições para tal
como compostos complexos, o meio solvente água e energia alta.
NECESSIDADE
E ACASO
O acaso
ocorre dentro da necessidade, que é o geral. Pode haver contradição entre
ambos: o acaso pode adiar a realização da necessidade; por outro lado, o acaso
que entra em oposição com a necessidade, definha-se e destrói-se. O fluxo geral
da água pode ser determinado, mas, ao ir ao fundo dela, às suas pequenas
partes, impera o acaso, um paradoxo real, que aparece como intelectual sem o
ser de fato. O acaso de uma mutação prospera se está de acordo com as leis da
vida ou definha se dificulta a sobrevivência da espécie por meio do indivíduo.
NECESSIDADE
E LIBERDADE
A
necessidade, ao desenvolver-se, produz a liberdade, a rede de possibilidades. A
liberdade é a necessidade que se desenvolve, desenvolvida, ou em processo.
ENTRE O
JUÍZO E O SILOGISMO
Hegel diz
que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições
impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a
formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser
no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o
simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no
silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer
dizer “A = BC” ou “A é BC”; esta é a fórmula básica, como nas equações
quantitativas, por exemplo, o abstrato é o concreto em processo. Quando Lenin diz
“política é economia concentrada” chega ao nosso formato, sendo a palavra
“concentrada” ou fator de igualdade e conversão.
Na fórmula
de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias
interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes
interpretações ), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe
o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é
igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito
energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a
velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de
nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.
No mais,
tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos
A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o
movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.
Segundo Ruy
Fausto, Marx descobriu novo juízo em que o sujeito passa por diferentes
predicados sem se confundir com um deles. Dinheiro é – medida dos valores –
padrão de preços – capital – meio de pagamento – meio de entesouramento –
expressão ímpar do valor. Na verdade, já está como primeiro caso criado de
equação qualitativa, entre o juízo e o silogismo.
Para
concluir este ponto, valerá a pena esforço teórico para sistematizar modos como
“se, então”, “todos, exceto”, “tanto quanto”, “tende à” etc. Um trabalho que
não cabe nesta obra.
É comum que
um dos elementos de “A é BC”, em geral o “C”, represente movimento, processo.
Lenin diz que “política é economia concentrada” e Carl von Clausewitz afirma
que “a guerra é a continuação de política por outros meios”; eis duas equações
qualitativas bastante concretas, mas inconscientes.
Se não
todas, quase todas as categorias opostas são unificadas na seguinte equação
qualitativa: a categoria A é a categoria B no processo. Desse modo, o caos
(abstrato) é a ordem (concreto) em movimento (processo). Descobrimos, assim,
uma nova forma de unidade e identidade das categorias, expressa pelo movimento
de pelo menos uma delas.
CONCEITO
Para Hegel,
como para Aristóteles, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao
acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em
busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a
antecipação lógica, idealista, da realidade do DNA, materialista, o bloco de
informação da vida, que se reproduz.
Com a
unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo,
que se condensa em matéria, espaço-matéria, temos a Arkhé, o absoluto, ou seja,
uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega,
inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas científicas,
não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da Ciência da Lógica
de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação completa, que tem a
dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter avançado – mas base
ainda limitada, sem correto fundamento.
Hegel
pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se
apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo,
conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o
devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse
desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do
espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí (na física
atual, tanto espaço quanto o próprio tempo estão apenas do lado de fora da
coisa, não se sabe como). Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como
nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A
categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser –
ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia
de Freud do sexo como pulsão elementar da psique , tem dentro de si o conceito
puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo
dialético.
SISTEMÁTICO
Hegel diz do
método sistemático, para pesquisa e para exposição, com a analogia do
aprendizado da escrita, em sequência: começamos com as vogais, as consoantes,
as sílabas, as palavras, as frases e, enfim, o todo do texto. Ora, isso também
é diacrônico, no tempo: o homem primitivo teve de evoluir sua fala nesta mesma
sequência, assim como a fala da criança. As duas formas de serem sistemáticas
são juntos e apenas um, mesmo que ocorram, aqui e ali, certas
incorrespondências. Hegel diz que o mais simples e abstrato é o mais geral
(hidrogênio, mercadoria, células etc.), logo o começo da exposição, mas também
é isso porque é o primeiro na história!
Inspirado na
química, completamos: temos: o analítico, que desenvolve a coisa sem nada nela
acrescentar, o sintético, que adiciona algo como o oposto na coisa – e o
combinatório, simples ou composto.
Exemplo: A -
BC para AB - C.
Exemplo:
máquina (construção etc.) e matéria-prima como capital constante e força de
trabalho como capital variável.
Passa para
Máquina,
construção etc. como capital fixo e matéria-prima junto com força de trabalho
como capital circulante.
Vejamos
outro caso. A combinação de capital comercial e produtivo produziu o domínio do
primeiro sobre a produção e as finanças. O domínio do capital produtivo,
produziu subordinação do capital comercial e das finanças. O domínio das
finanças, combinado com o industrial, produziu dominação do capital industrial
e do comercial. Hoje, temos a hiperinflação e domínio do capital fictício. Se
limitássemos a combinatória aos maquinário, insumos e força de trabalho;
diríamos que tivemos 300 anos de domínio dos “insumos”, 300 de domínio da
“máquina”, 300 da força de trabalho, socialismo antes do comunismo. Mas isso
logo se demonstra limitado.
A unidade do
analítico e do sintético, ambos válidos por si, é o combinatório. Este tanto
põe (sintético) quanto, por outro lado, não põe (analítico). Hegel apenas
apresenta os opostos e, como dissemos, não viu o movimento, desenvolvimento, do
sintético no sistemático; para ele, passamos do analítico para o sintético e
vice-versa, como apenas dialética negativa, não positivamente dialético.
Contra Kant,
Hegel diz que 7+5=12 é analítico, não sintético. Mas é, bem observado, tanto um
quanto o outro, combinatório. 7 e 5 estão separados, depois unidos pela “cola”
interna; eles se combinam. O conteúdo – que Hegel diz ser igual antes e depois
– é e não é o mesmo, pois combinaram-se, e a forma, algo tão importante para a
dialética, mudou, tornou-se 12 unitário.
Outro
sentido, lateral, de sistemático vem de uma coincidência curiosa entre
psicanálise e história humana, ainda não encontrada por mim na natureza, mas
cuja correspondência parece existir na célula viva. Na sociedade, temos:
economia, classes, superestrutura subjetiva (mentalidades) e superestrutura
objetiva (instituições). Pois bem; a psique arranja-se de modo análogo: ID ou
instintivo e impulsivo (economia), ego (classes), parte do superego repressivo
(instituições, Estado em central) e parte do superego da idealização de si
(mentalidades). Assim, temos: infraestrutura, estrutura e superestrutura, sendo
que este último se duplica – e eles se formam, em geral, a partir do infra. Ao
que parece, pode-se elevar à lógica ontológica tal sistema. A base (infra e
estrutura) é dinâmica e produtiva enquanto a superestrutura dupla é
conservadora, conservativa, estrutural. Na célula, temos o infra citoplasma,
produtivo; a estrutura como a membrana plasmática ou componentes internos do
infra e do superestrutural; e o núcleo como superestrutura, com suas duas
funções centrais: controle das atividades que ocorrem na célula e armazenamento
da informação genética. Aqui, indicamos um possível caminho para ver a célula,
podendo ser adaptado. [No macrobiológico: o infra são (os produtores em si)
plantas, fungos – fixo e trabalham com a luz e com os nutrientes do solo –, e
os seres unicelulares costumam estar aqui; a estrutura (variável, circulante)
que são, em principal, os herbívoros, os
que comem folhas, frutos, mel etc. – mais diversos etc.; o super são os
seres superiores, de topo da cadeia alimentar, como os carnívoros (quase)
finais, leões e águias etc., que são reguladores e auge genético. Aqui, também,
pode ser melhorado, aperfeiçoado e corrigido, sendo esboço geral.] No átomo,
temos o seguinte: a estrutura é o elétron; a infraestrutura, quarks, glúon,
neutrinos, espaço; a superestrutura dupla, que se duplica, os prótons e os
nêutrons no núcleo, que determinam o átomo, mantêm a unidade (função dos
nêutrons) e atração total.
De modo
geral, visto do ponto de vista vertical, a superestrutura está acima da base
(infra e estrutura), mas dependente desta última; do ponto de vista horizontal,
a superestrutura está rodeada pelos demais.
O método
empírico-dedutivo que temos defendido nesta obra é um juízo analítico a
posteriori, considerado impossível por Kant. Este defendeu a existência do
juízo analítico a priori, sintético a posteriori, além do sintético a priori,
que não depende da experiência, para ele a fonte de toda ciência real. Ao
contrário, partimos do empírico, da experiência, para saber o que já está nele,
mas oculto.
Aproveito este ponto para apresentar uma
diferença leve para com Marx, mas inspirada nele. Há três posições sobre o
sistema humano: 1) a economia é o centro, mas as partes (Estado, classes,
mentalidades etc.) do todo agem em interação recíproca, marxismo ortodoxo; 2) a
economia determina todo o resto, marxismo antidialético; 3) todas as partes são
sincrônicas e externa umas às outras, sem hierarquia, marxismo estruturalista.
Minha posição está com o marxismo ortodoxo, o primeiro, com um adendo: 4) tudo
no sistema e todo o sistema é, no fundo, economia. O sexo que praticamos tem
função econômica, como gerar filhos trabalhadores, repondo a força de trabalho,
por exemplo. A educação tem função na economia, assim como o Estado etc. Isso é
um “determinismo” econômico, mas de outro modo, de maneira não externa
impositiva. Assim, fundimos e superamos as três posições anteriores, sob
hierarquia da primeira. Tudo parece ser política, mas tudo é economia; e
política é economia concentrada. Quando Foucault deixa entender que tudo –
escola etc. – tornou-se uma imitação do modo de ser da fábrica, não por exato
prisão, quase reconhece a totalidade como totalidade.
A verdade é
processo-estrutura. Mas há contradição na unidade do diacrônico e no sincrônico
– como constradição da Coisa consigo mesma. Isso se expresxsa nas partes, como
a contradição entre forças produtivas que avançam e as relações de produção
conservadoras.
Na exposição
de ideias, na teoria e na arte, parto do modo sistemático que vai-se
dissolvendo-se, torna-se assistemático em seu final, como arranjo de ideias
complementares. Isso tem lastro ontológico, ver-se claro. O sistema entra em
crise como sistema, crise sistemática.
UNIDADE DE
PRODUÇÃO – FIXO E CIRCULANTE
Hoje sabemos
que o Ser é produção. As estrelas, por gravidade, produzem elementos novos,
cada vez mais pesados, perdendo energia em forma de fótons e neutrinos. A
célula é uma unidade produtiva que produz mais energia do que aquela exigida em
sua produção. O homem teve, por exemplo, o campo de trabalho escravo, o feudo,
a fábrica com trabalho manual e, agora, a fábrica sem trabalho manual. Temos,
então, três fatores universais: a produção-consumo e a distribuição. Ser, não
apenas o social, é trabalho também.
Assim, as
três modalidades de ser têm o fixo e o circulante. Mas o fixo é, também,
circulante, apenas relativamente fixo. No sistema solar, nível inferior de
sistema orgânico, a luz é exemplo de circulante. Os elétrons compartilham
fótons. Na biologia, o sistema circulatório bombeia o sangue – o DNA permanece
“guardado” e fixo enquanto o RNA movimenta-se. No capitalismo, temos o capital
fixo (máquina, instalações etc.) e o capital circulante (matéria-prima, força
de trabalho etc.). O circulante costuma servir de cola adicional que mantém o
sistema como sistema; assim, o dinheiro unifica o mundo do capital. Assim, o
próton é formado por 3 quarks que se unificam em sistema com o auxílio da
partícula glúon, compartilhada entre eles, em movimento. No partido de tipo
leninista, revolucionário, o jornal une a militância. Até onde se sabe, aquilo
circulante é, em termos absolutos e quantitativos, menor em matéria do que
aquilo relativamente fixo.
Em primeiro
lugar, o circulante distribui energia, embora possa fazer mais do que isso. As
abelhas são o circulante na biologia, em busca de energia, mas também polinizam
as flores.
A INDUÇÃO
DEDUTIVA
A indução,
ter grande amostra igual que permite afirmar que “todos os x são y“, e a
dedução, partir de dois ou mais postulados (em certo sentido, arbitrários) para
ter nova conclusão, são opostos. Vejamos, no entanto, a unidade negativa deles
para depois alcançar a positiva. Se todos os muitos patos que observo são
negros, logo deduzo que todos os patos são negro, dedução por indução. Se
deduzo algo a partir de premissas “aleatórias” ou “intuitivas”, logo tenho que
provar uma e várias vezes tal conclusão, indução por dedução.
Mas há a
indução dedutiva, unidade positiva dos opostos. Dois postulados (ou mais) podem
ter origem indutiva, que derivam uma dedução. Vejamos. Se digo apenas “todas as
revoluções socialistas vitoriosas formaram ditaduras”, logo, por indução,
“socialismo é ditadura”; mas, se faço a outra, segunda, indução “todas as
revoluções socialistas ocorreram em países imaturos”, unificando com a
primeira, logo deduzo “as revoluções socialistas caíram em ditaduras porque
eram países imaturos para o socialismo”.
Isso não se
confunde de todo com o método dialético, que expomos aqui, empírico-dedutivo.
Uma prova
melhor é provar algo tanto de modo indutivo quanto dedutivo.
A PASSAGEM
LÓGICA
Demonstramos
A=A e… não-A. A dialética comum diz que o simples é complexo, pois um simples
ser vivo unicelular é complexo em si próprio. O socialismo é uma complexidade
simples (daí sua maior facilidade de gestão). Isso é correto, mas apenas
sincrônico, não diacrônico (o simples de fato, também, avança para o complexo).
Agora, porém, seremos sincrônicos ao já termos pesado a mão nos processos.
A=A já põe o
segundo A como diferente, logo A=não-A, ou seja, A=A e não=A. Ora, se isso é
uma passagem, mesmo se apenas mental ou lógica, logo A=A e… não-A. Façamos
agora o caminho inverso. A=A e… não-A. Logo A tem em si a potência de Não-A,
logo A=A e não-A (e A permanece em não-A). Assim, se A e não-A são o mesmo ou
em unidade, A=Não-A, por isso A=A! Em nossa dialética, em A=A e… não-A, até o
“e” importa como impulso de adição, de acréscimo, pois mais é mas, e, ao mesmo tempo, mas
é mais.[27]
O “…” demonstra o tempo, o movimento, o processo, o genético, o diacrônico, o
evolver, o (auto)desenvolvimento, evolução e revolução.
De certa
forma e modo, a fórmula A=A e... Não-A funde, em movimento, a lógica formal,
A=A, e velha Dialética, A=A e Não-A. Dizer “A=A e não-A” é transição, lógica e
histórica, entre o classificatório “A=A” e o dinâmico “A=A e… não-A”.
Lênin, antes
de estudar Dialética, caiu na lógica de Kant, dos opostos fixos. Assim, opôs a
luta econômica e a luta política, preferindo esta última. Toda a diferença fica
assim:
A=A: luta
política aqui, luta econômica ali.
A=A e não-A:
luta econômica é, ao mesmo tempo, luta política.
A=A e...
não-A: a luta econômica torna-se luta política, e vice-versa.
Após uma
luta política grande, em geral surgem lutas econômicas; o aumento das lutas
econômicas as unificam numa luta política.
As duas
formas anteriores, lógica formal e a velha dialética, estão dentro da terceira
forma, não apenas negadas.
A unidade e
contradição dos opostos categoriais no sincrônico leva ao desenvolvimento das
mesmas categorias no diacrônico. O simples vai ao complexo porque o simples é
complexo. A identidade vai para a diferença, diversidade, oposição e
contradição porque a identidade já é diferença, diversidade, oposição e
contradição. Vele observar que certas categorias já podem ser tratadas como
estrutura ou processo: “acidente” pode ser processo acidental ou característica
acidental; “potência” pode ser possibilidade ou impulso e pulsão; o contínuo
com o discreto, algo fixo, pode passar para o contínuo para e com o
descontínuo, algo em movimento ou circulação. Mas, em geral, devemos demonstrar
o movimento real-conceitual interno.
UNIDADE E
IDENTIDADE
Na natureza
sem vida, impera a identidade de fundo, acima – abaixo – da unidade apenas. A
unidade aparece como externa, enquanto a identidade é interna. No ser social,
porque o mais complexo ou mediado e resultado dos seres anteriores, aumenta
muito o relevo da unidade, tanto externa quanto interna, dos opostos e
diversos, mantendo ainda viva por debaixo a identidade interna.
SUJEITO E
OBJETO
Adorno opõe
a dialética fechada de Hegel à dialética aberta (Adorno, 2013, p. 65). Mas há o
caminho do meio, o terceiro “excluído”. Pode-se chegar ao todo estável, amplo e
correto no geral, sem esgotar, sem domar tudo. Isso permite reformas apenas,
atualizações, mesmo que reformas revolucionárias. Veremos neste livro e neste
capítulo uma dialética nova, que preserva completamente Hegel, e põe, desta
vez, o todo, ainda que não tudo.
A ciência
conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em
essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais
do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando
der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias etc.
Entre as
condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da
ciência e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo,
de suas possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a
sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para
perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal
identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova
revolução científica, para sua realização socialista.
A verdade é
revolucionária.
O sujeito é
o objeto em desenvolvimento, isto é, o objeto é o sujeito em desenvolvimento.
Por enquanto, isso se tem dado por meio de um processo contraditório, por um
amálgama de ambos e por uma inversão alienante de papéis. O mundo é maior do
que nós sempre, mas, ao mesmo tempo, somos o fruto maior do mundo por se
realizar como deve – ser. Ter é a condição para ser, embora estejam ainda hoje
em oposição contraditória. A abundância responsável do socialismo permitirá o
reino da liberdade e da compreensão do cosmos. Cada humano será um universo de
universos – e o todo será visto, enfim, como o indivisível. A revolução é a
verdade, o verdadeiro.
o ABSTRATO é o |
CONCRETO |
Em PROCESSO |
O nada é o |
Ser |
Em devir |
O ser é o |
Nada-infinito |
Que implode |
Outro é o |
Algo |
Que passou para outro |
A determinação é a |
Constituição |
Formada |
O mal infinito é o |
Finito |
Indo além de seu limite e barreira |
O finito é o |
Bom infinito |
Que produz a finitude |
O muito (múltiplo) é o |
Uno (um) |
Que se fragmenta, pluraliza |
O uno (um) é o |
Múltiplo (muitos) |
Que se reúne, concentra-se |
O intensivo é o |
Extensivo |
Concentrado |
O extensivo é o |
Intensivo |
Que se expande |
A qualidade é a |
Quantidade |
Em mudança |
A quantidade é a |
Qualidade |
Em alteração |
O contínuo é o |
Discreto |
Concentrado, reunido |
O discreto é o |
Contínuo |
Disperso |
A aparência é a |
Essência |
Que aparece |
O conteúdo é a |
Matéria |
Formada |
O fundamentado é o |
Fundamento |
Que avança |
A Coisa é as |
Condições |
Que desabam “para dentro” |
O interno é o |
Externo |
Que se interrnaliza |
O externo é o |
Interno |
Que se externaliza |
O acaso ou o acidente é a |
Necessidade |
Que se revela |
A liberdade é a |
Necessidade |
Desenvolvida |
O acaso das |
relações causais recíprocas das partes-todo |
Ocorre |
A necessidade é a |
possibilidade |
Crescente |
A realidade é o |
Desigual e combinado |
Desenvolvimento |
O sujeito é o |
Objeto |
Que se transcende |
A realidade é a |
Substância |
Em autorrelações |
O desigual e combinado é a Realidade em Desenvolvimento
O sujeito é o Objeto em Desenvolvimento
O Objeto é o Sujeito em Desenvolvimento
O complexo é os Simples Reunidos,
integrados
A matéria é o Espaço
condensado
O espaço é a Matéria diluída
A coisa em si é a
propriedade-matéria
reunida
O singular é o Geral que se Particulariza
O geral é o Singular que
se Particulariza
(indutiva-se)
O particular é o Geral que se Singulariza
(deduz-se)
O particular é o Singular que se Generaliza
APÓCRIFOS
LÓGICA
UNITÁRIA
Na idade
Média, a filosofia dividiu-se, entre outras divisões, entre aqueles que
consideram o singular como único verdadeiro ou, ao contrário, o geral como
único verdadeiro. Um seria o falso do outro, ou vice-versa. Nos meus estudos,
percebi que podemos generalizar tal tipo de raciocínio: existe apenas o
discreto, não o contínuo – ou vice-versa; existe apenas a essência, não a
aparência – algo já comum entre nós, pois a aparência é para a consciência;
existe apenas o necessário, não o contingente; existe apenas a matéria, não a
forma; existe apenas a unidade, não o diverso ilusório; existem apenas as
partes, não o todo etc. Desde o caso da aparência e da essência em nossa
tradição, a coisa toda parece se sustentar. Uma categoria seria real e
ontológica; a outra, ideal, fictícia, gnosiológica etc. Uma em si e outra para
nós. Ser contra o nada, infinito contra o finito, real contra o fictício, mundo
sensível contra mundo das ideias e formas etc. Mas, por exemplo, o qualitativo
e o quantitativo são, ambos, reais – apenas a medida, o terceiro, poderia ser,
se forçamos, artificial. A questão é que a mente, o pensamento, importa para a
ciência: logo, de um deduz-se o outro, seu oposto idêntico; um põe o seu
inverso ou passa para ele. Se um conceito é necessário, então ele é real.
Campo, gene, valor, espaço etc. foram, antes, apenas conceitos, que depois
provaram suas validades ontológicas, ou seja, eram necessários, portanto reais.
O conceito de fato necessário é real, ainda que abstrato ou relacional etc.
Bem: seria uma nova forma de dialética esta descoberta por mim, mas não se
sustenta sob seus próprios pés.
Tanto mais
no capitalismo, nós tendemos a pensar em apenas um conceito entre o oposto, em
especial ao conceito que é para nós: quantidade contra a qualidade, finito
contra o infinifo, extenividade contra a intensidade, aparência contra a
essência, diversidade contra a unidade. São mais imediatos.
A negação de
nossa exposição é a seguinte afirmação: se o conceito existe na consciência –
se seu conceito oposto existe na consciência e na realidade – logo, o primeiro
ou existe, ou existiu, ou existirá.
Em tal eixo, lógica unitária, a contribuição para a física (quântica) pode ser esta, dos opostos (grosso modo, quanto mais preciso a medida de um, menos será a medida do outro – princípio da complementariedade): a posição é para nós – o movimento é para si; o tempo é para nós – a energia é para si a probabilidade quântica (Bohr) é para nós (nossa limitação diante de um objeto tão complexo) – o determinismo causal (Einstein) sem jogo de dados é para si etc. etc. Quando a ciência começa a falhar, a filosofia é obrigada a elevar-se e ganha importância para pensar alternativas.
Apesar da
tentativa de simetria, esta lógica também é concreta: matéria dominar contra
antimatéria, quirilidade quebrada na química da vida, raridade ao menos da vida
inteligente. Isso é o que Marcelo Gleiser nomeia criação imperfeita. A lógica
unitária aparece como lógica do real, real.
O idealismo
objetivo ou o absoluto diz abarcar os opostos, que são então apenas um, num
todo unitário. Fazemos algo parecido, mas diferente. No externo, há
materialismo e idealismo, por exemplo, mas no todo ou no interno há apenas
materialismo – se há idealismo é por dose materialista de idealismo. Há
movimento e fixidez na nossa imediatidade para nós, porém, bem observado,
existe apenas movimento e até o estático é um modo de movimentar-se, além de
ser algo relativo e para nós. Se A = A e não-A, o movimento é igual ao
não-movimento, no entanto, o não-movimento, não-A, inexiste de fato, na
essência. Adicionemos o relativamente relativo: na abstração necessária, alguém
na parada de ônibus está, sim, parado, relativo ao observador dentro do ônibus
em deslocamento – dizer que, nessa situação, cuja base comum é o chão imediato,
a pessoa sentada à espera do transporte está em movimento é relativismo e
individualismo extremado como se tudo dependesse do ponto de vista, sem o todo
e a totalidade em questão, havendo apenas os dois átomos desconfiados em
relação. Por fora, por assim dizer, ou externo; há essência e aparência,
todavia esta última é apenas para nós, externa, pois o mundo é todo a essência
apenas. Logo veremos, mais à frente, que um conceito base, de fundo, decai-se
em si mesmo e em seu oposto na consideração comum.
Há, então,
dois chamados movimentos categoriais: 1) um conceito desenvolve-se, põe o outro
oposto, relativo e externo; 2) um conceito devora o outro, como parte de si.
POR UMA
LÓGICA OBJETAL OU DO ENTE
Por objeto,
aqui, incluímos, por exemplo, os indivíduos vivos de diferentes espécies. Tanto
borboletas etc. quanto produtos na forma de mercadorias procuram imitar uns aos
outros, parecer com outra espécie. Aquelas, para evitar serem consumidas;
estes, ao contrário, para serem consumidos por preferência. A causa é
diferente, mas a lógica (categoria) é a mesma (mimetismo). Na vida e na
mercadoria, as cores aderentes externas servem para indicar, sugerir, algo,
certa mensagem (um sapo venenoso amarelo). Um carro é como um rinoceronte ou
outro animal: tem “olhos”, um “sistema digestivo” para obter energia, poros
para expelir impurezas, meios de locomoção etc. Com um pouco de imaginação e
mente aberta, carros em movimento lembram animais de grande porte em vários
sentidos. Tal estrutura coisal deve ser refletida e pensada. Na filosofia, há
quem estude porque raios, nervos, galhos de árvore etc. têm estrutura
semelhante. Por que padrões naturais preferem o padrão, sequência, de
Fibonacci? Demonstramos que o dinheiro, por exemplo, como os animais, tem em
sua forma, em sua fisiologia, uma expressão da fase da sociedade, do meio
pertencente e do contexto. Regra geral, a ferramenta inorgânica de produção tem
a tendência universal, não na história particular, de aumentar a resistência, a
materialidade e o tamanho. Eis um novo continente a desbravar.
Se quisermos
fazer o laço com a dialética de Hegel, Marx e a nossa – eis.
A categoria
de qualidade como estado do real decai para qualidade como característica. A
categoria de essência como o que permanence no movimento decai para a categoria
de essência como um material de fundo. A categoria de substância como o que há
de universal decai para a categoria de substância como substrato. A categoria
de Ser como o cosmos decai para a cateogria de Ser como algo, ser-aí, coisa
(Hegel). A categoria de nada como totalidade decai para a categoria de nada
como determinado, ou seja, falta de algo, ou seja, mera ausência singular. A
categoria de necessidade decai para a categoria de necessidade como precisão. A
categoria de teleologia como lei inerente de desenvolvimento, de origem causal,
decai em categoria de teleologia subjetiva que, ao contrário, manipula a
causalidade. A categoria de determinação, dirá Hegel, decai na categoria de
qualidade. A categoria de contexto (totalidade) decairá na categoria de
contexto interno, ou seja, propriedades, perfil etc.. As categorias de interno
e externo decairão na categoria de composição. A categoria de forma decairá na
categoria de forma enquanto formato. A categoria de aparência como expressão da
essência decairá em aparência enquanto estética. O objeto expressa ou
internaliza seu meio. Um átomo expressa a pressão pelo qual passou, a
internalizou. O fato de a América Latina passar por duras e longas ditaduras
fez Nahuel Moreno diminuir a democracia partidária de seus partidos, proibindo
frações fora de períodos congressuais – internalizou o externo. Vimos o efeito
da pressão do meio no inorgânico e no social; agora, veremos no biológico: a
pressão de seleção natural produz efeitos como a camuflagem, a imitação do
contexto.
TOTALIDADE
ENCARNADA
Na mitologia
cristã, Deus encarna-se em seu filho de carne e osso, e são apenas um. Na
mitologia de Tolkien, a música dos deuses que deu origem ao universo, sendo
este, e à Terra-média provavelmente encarnou-se em um ser especial chamado Tom
Bombadil. No materialismo, a totalidade expressa-se. O todo encarna-se numa
parte ou num singular, um singular do universal. No capitalismo, primeiro a
mercadoria e, depois, o dinheiro. Lenin e Trotsky possuem, como se magicamente,
a personalidade necessária para uma revolução duríssima; depois, Stalin, com
sua personalidade doentia, bem expressa a profunda burocratização inevitável
daquela sociedade. O pensamento criativo revolucionário e ousado de Napoleão
combina muito com a revolução francesa e seus limites burgueses. Ora, a
totalidade tende, tende, a formar homens com certos perfis. A totalidade ou a
universalidade encarna-se quando e como pode. Produz o exemplar típico. O
Manifesto, por ex., é um modo de totalidade encarnada.
DECAIMENTO
DE CONCEITOS
Nas minhas
conclusões, uma relação categorial foi imposta sem que eu planejasse: certa
categoria geral decai-se nela “mesma” e em outra, ou outra oposta, ou outras
opostas. O romantismo decai-se em romantismo com suas derivações e o oposto de
si. Em psicologia, a qualidade (característica) decai-se em qualidade e
defeitos (má qualidade). A sorte decai-se em sorte e azar (má sorte). A
qualidade enquanto categoria decai-se em qualidade e quantidade, que é por si
uma qualidade também. Na estética, a beleza de estilo deica-se em beleza e
feiura. A pulsão de vida decai-se em pulsão de construção (de vida), de
conservação e de destruição. A crise do capitalismo, o capitalismo é crise como
transição, decai-se em crise e crescimento. A moral (ou ética) decai-se em
moral e imoral – e o “entre” amoral com raridade e se. A economia (total)
decai-se em economia e não economia. Ciência, em ciência e filosofia. Matéria,
em espaço e matéria com mediação da luz.
A = X… NÃO-X
– EXEMPLOS
Para
facilitar a compreensão de minha dialética, darei exemplos claros de minhas
obras. O terceiro excluído é o foco da dialética, descobri-lo; mas ele pode vir
na forma de um x que vai até não-x. Vejamos.
A revolução
socialista (A) será operária (x) ou popular (não-x)?
Resposta: as
revoluções socialistas (A) operárias (x) aumentarão a possibilidade de
revoluções socialistas de base popular (não-x), serão incentivo e
facilitadores.
A crise do
sistema (A) é crônica (x) ou há crises cíclicas apenas (não-x)?
Resposta:
temos crises (A) cíclicas (x) cada vez mais duras (não-x) e uma superprodução
crônica ou absoluta latente.
A revolução
(A) depende da liderança (x) ou é objetiva (não-x) de todo?
Resposta: as
primeiras revoluções, por serem exato as primeiras, (A) dependerão ainda mais
de partidos e lideranças destacas (x), mas, exato por isso, as próximas
revoluções serão um tanto mais, cada vez mais, objetivistas e menos dependentes
de genialidades (não-x); pois serão mais fáceis e “naturais” também.
O terceiro
excluído “estático”, hegeliano, da primeira contradição seria: a revolução
socialista será, ao mesmo tempo, operária e popular. O que não está errado, mas
está incompleto.
A principal
lei da lógica formal é A = A, a primeira. De modo negativo, Hegel foca na
segunda, A = A e não-A, identidade da identidade e da não identidade. Também de
modo negativo, focamos mais na terceira, A = x… não-x, o terceiro excluído
incluído. Por exemplo: a energia (A), a identidade de fundo, ora se expressa
como extensividade (x) e ora como intensividade (não-x), pendula entre um e
outro. A jornada de trabalho mais intensa força a redução da sua extensão, do
tempo de trabalho; a jornada mais extensa, ao contrário, pesa contra a
intensividade do trabalho. Uma contradição sem movimento é apenas, apenas,
oposição.
O QUASE
Newton da
Costa defendeu a quase-verdade sem perceber uma categoria geral, certa medida
qualitativa. Aqui, falamos de quase-arte, o capitalismo como “quase mera
transição”, quase estaganação permanente etc. O “quase” é e não é, beira e
contamina-se de seu outro. Na física, temos a quasipartícula.
MATÉRIA,
ESPAÇO E TEMPO
Na língua,
temos – Duração: tempo, espaço e matéria. Os três sentidos demonstram uma
unidade íntima. Algo Breve pode ser isso no tempo e no espaço, mas tem de ser
algo material. Animais cada vez maiores tendem a viver cada vez mais. Eis
pistas para o valor-matéria, respeitando valor-trabalho medido pelo tempo. Ser
em inglês, to be, é estar como “estar fazendo” (movimento, tempo), estar como
lugar e propriamente ser ou é. Ser em português, no passado, pode expressa o
“foi” tanto no sentido de tempo e coisidade como no sentido de movimento (verbo
verbo ir). A palavra Contexto passa a ideia de matéria (total), tempo e espaço
especificos. A verdade não está nas palavras e na gramática, mas ela pode
facilitar e operar pistas. O alemão hegeliano “Aufhebung” significa destruir
(tempo), guardar e conservar (espaço) e elevar (matéria, aquilo que existe).
Einstein provou que tempo nada mais é que espaço; mais um pouco de coragem lhe
faria ver que tudo é um interno na sua diversidade externa e conceitual –
matéria e espaço são iguais, unidade e identidade. Por isso, no fundo
metafísico, de modo inconsciente, falamos em espaço de tempo. Curiosidade: os
casais em crise pedem um tempo, dizem que precisam de espaço. A relação do
espaço com a matéria produz o movimento, medido pelo tempo. Aliás, desde os
gregos a filosofia considera movimento como 1) deslocamento, 2) mudança do
objeto – completamos com 3) mudança por deslocamento, como o objeto
preservar-se mais, abstraído o atrito, quanto mais rápido está, ou seja, decai
menos ou envelhece menos porque se é mais matéria concentrada, mais para dentro
de si, o que é medido (mas apenas medido) pela temporalidade, como se o tempo
em si fosse relativo e fosse em si.
LÓGICA
FORMAL E TOTALIDADE
E se
aplicarmos a lógica formal não apenas nas partes, mas no todo? Vejamos:
Lei da identidade: A = A
O todo é
igual a ele mesmo, a si mesmo, logo, a diversidade externa tem uma unidade
interna – há uma única substância comum.
Lei da não contradição: A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e sob o
mesmo aspecto
Claro: o
universo é uno, apenas um universo, não dois ou multiversos reais. Ora, mas A
pode passar para Não-A contanto que não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo
aspecto!
Lei do terceiro excluído: A = x ou não-x, apenas, sem terceira resposta
(excluído)
Assim seja:
o Ser absoluto não é o Nada Absoluto – ainda, mas, que deste derive…
O Ser vir do
Nada é a única resposta viável tanto na ontologia quanto na gnosiologia.
Observamos,
logo: a primeira lei é o geral – a segunda, o particular – a terceira, o
singular. Isso vale tanto para a visão aristotélica, que foca na parte, quanto
em nossa visão, que foca na totalidade.
TOTALIDADE,
CONTRADIÇÃO E MOVIMENTO
As três
categorias centrais da dialética são unilaterais, evitam o oposto. Quando
colocamos a integração acima da totalidade, tal palavra já passa a ideia de
todo e partes – pois as partes têm propriedades que o todo não possui. Por
isso, integração. A contradição evita seu conceito oposto com cuja unidade
temos a relação. Já o movimento precisa da matéria-espaço para existir.
LINGUAGEM
Os biólogos
dialéticos fazem dura crítica: a ciência escrita tenta usar uma linguagem dura,
objetivista, artificial, de todo impessoal. Até para fins de sucesso da obra,
além de reforçar o lado humano do fazer científico, os dialéticos devem negar
tal proceder. A obra ser um “todo artístico” também tem esse caráter – contanto
que a forma nunca se sobreponha ao conteúdo.
A pergunta
sobre “se algo é” já é estática, antidialética. Poderia ser, por exemplo, “eu
estou sendo isso” como caminho alternativo.
CIÊNCIA COMO
COISA
A ciência
foi abstraída, coisificada, fetichizada, reificada. Toma a forma de um novo
deus, coisa divina. Esquece-se que é uma obra humana, por isso bela ao mesmo
tempo que imperfeita. Não é possível excluir o homem da ciência – robôs nunca
farão ciência efetiva. A emoção potencializa a razão! A ciência não é apenas um
método – trata-se até de um estilo de vida. Por isso, impossível um método de
todo frio e objetivo, sem carne e osso, e sem alma. Defender a ciência contra
todos os duros ataques inclui dar sua medida tão exata quanto possível,
aproximá-la dos homens. Sentimos dor profunda quando nossa hipótese é refutada
ao mesmo tempo em que somos felizes e conformados com um passo a mais na
cultura humana. Sois homens – não sois máquinas!
METAFÍSICA
A palavra
metafísica tem dois significados. Primeiro, além da física, além do
sensível. Segundo, o cair da matéria
dentro dela mesma. A segunda significação é nossa prioridade. Quando dizemos
metalinguagem, significa a linguagem falando dele mesma, um poema sobre a arte
de fazer poemas etc. Metafísica é o homem, sendo parte do universo, conhecendo
o próprio universo, a si mesmo. A metafísica moderna é materialista, um entrar
dentro da fisicalidade. Um dobrar-se para dentro de si.
UMA DÚVIDA
FÍSICA
É-me de todo
estranho que exista a mesma quantidade de elétrons e prótons no universo, uma
simetria singular. Soa a dedução de que eles foram, antes, juntos, um mar único
de nêutrons ou, ao menos, de neutrinos. O sinal está no ar quando os opostos se
unificam em algo neutro, indicando ser de fato inteiro e completo. No passado
distante, pouco depois do início ou os nêutron decaíram ou os neutrinos
fundiram-se?
CRISE NA
LÓGICA DE HEGEL
Há mais
implícita que explícita crise nas categorias em Hegel. Não foi longe, pois
colocou a unidade e identidade muito acima da contradição e da diferença. A
pulsão de ir além do limites, que se torna barreira assim, vê a barreira como
limite algum; tende-se, então, ao mau infinito, ao cada vez maior – sem limite.
Depois, ele diz que o uno – indivíduo, Estado etc. – isolado parece afirmar seu
ser para si no isolamento, mas isso é, ao contrário, sua destruição. Em
seguida, afirma que o Estado, a propriedade etc. ficar abaixo ao acima da
medida correta gera o fim do próprio Estado, da propriedade, etc. (Mesmo que de
inicio, por exemplo, o crescimento apareça como sorte – sem ver a totalidade,
por exemplo). Nomeio “crise de medida”, embora tal expressão categorial tenha
para mim mais de um sentido, mais amplo. Mas ele não viu a contradição-crise em
todas os pares categoriais nem no sistema categorial de conjunto, como sistema,
dentro de uma sistemática concreta.
De certo
modo, há crise da lógica de Hegel – que pretendemos superar aqui. Temos a
dialética da dialética.
INDUTIVO E
DEDUTIVO CONCRETOS ETC.
Nossa mente
algo imita a realidade. Por repetição, a natureza faz uma indução concreta – grosso
modo, a primeira flor deu origem às demais flores. Por derivação (do novo
etc.), a natureza faz uma dedução concreta. Assim como faz experimentação na
prática. Nesse sentido, o hipotético-dedutivo e o empírico-dedutivo são
consequências, também realidade no mundo, dos dois primeiros. Por exemplo: leis
atuam na realidade que é ela mesma, nela.
A vaca induz
que tudo capim é capim porque tal planta se multiplicou, faz indução concreta.
Até nosso método de unilateralização relativa existe na realidade: os elos
intermediários da evolução dos seres vivos foram instintos, permitindo vernos
apenas espécies bem definidas, como se unilaterais, sem uma pluralidade de
formas total.
As
diferentes formas de metodologia de abstração ocorrem na mente como ocorrem na própria
realidade.
SER OU
DEVIR?
A
importância da história e dos modos de movimento pode levar à negação da
primazia do ser. Hegel afirma que o devir, o tornar-se, o vir-a-ser – é a
verdade do ser e do nada… Mas é a verdade de algo, do ser-nada que se unilateraliza
no ser (ser-aí). A obra tem por subtítulo “Doutrina do Ser” por um motivo
claro.
O movimento
apenas pode existir se for movimento de algo. Do mesmo modo, a forma apenas
pode ser forma da matéria. A aparência apenas pode ser se pertence à essência.
CRISE
CATEGORIAL IDEAL
Como a
categoria é algo real, sua crise está no mundo. Além disso, crises de categoria
no pensamento são acompanhadas de mudanças objetivas, como a técnica e a
sociedade etc. Há ainda, de modo relativo, crises categoriais próprias, ideais
– cujo objeto em si não está em crise. Temos a crise ideal do conceito, antes
amplo, de força na física. Se estamos certos, há crise das energia e matéria
escuras; não em si, no material, mas no conceito que sobra, externo. Não está descartada, também, a retomada de
categorias antes superadas na ideologia.
“O ABSTRATO
É CONCRETO EM PROCESSO”
Vejamos
desde a tabela da qual tratamos antes. O sujeito ser o predicado quer dizer que
o sujeito na mais é que seu predicado, algo sobre o predicado. O foco no
sujeito esconde a verdade que está no predicado. Como a coisa em si ser tão somente
suas propriedades e seus materiais.
O sujeito
deve ter o predicado de ser sujeito. Eis unidade, na palavra e no mundo, de
sujeito e predicado.
TRABALHO
A falta é o
nada, como pressão de vácuo do desejo. O mundo exterior, que deve ser
modificado e consumido – o ser. Dessa unidade complicada, eis o devir. O homem
para si torna o externo um “para outro”. Ser aí: objeto alcançado; Algo e
outro: eu e o objeto. Quantidade: a produtividade aumenta pela ferramenta, o
algo no outro - rompendo os limites e barreiras do outro porque quer suas
determinações e constituições (até o interno escondido pelo externo). A coisa
se torna suas propriedades, sua matéria. Então, a intensividade e a
extensividade são colocadas em questão. Mede-se, precisa-se, compara-se,
iguala-se. Quer-se energia sem medida.
IDENTIDADE
(OU UNIDADE) E DIFERENÇA
Afirma-se
que Hegel vê a identidade dos diferentes enquanto Marx parte da unidade para
ver, então, a diferença. Temos, assim, dois partidos. Ora, escolher um ou outro
é artificial e gnosiológico, não ontológico. Devemos, isto sim, tão
simplesmente investigar – sem escolher um ou outro caminho de antemão. O novo
pode vir por separação, ou por união, ou por combinação (separados unidos).
Pode haver, aliás, identidade tanto quanto unidade.
A NOVA
DIALÉTICA
Minha
dialética tem o DNA imediato de Hegel e de Marx, porém é nova. Um trabalho
científico é confuso, caótico – apenas no final parece fruto de uma ordem
natural, passo a passo. Em primeiro lugar, foi a pesquisa concreta e empírica
(o livro sistemático A crise sistêmica etc.) que me fez perceber uma nova
dialética; de modo algum ela surgiu por meio de reflexões abstratas, ou seja,
arbitrárias. Da tentativa de compreender o mundo, surgiu um método de ciência
(nova relação dos conceitos etc.) ; tentar
saber do sistema do mundo obriga, via de regra, a desenvolver o próprio método
científico – a pesquisa também é descobrir como descobrir a realidade. Antes de
ler Hegel, porém, eu conheci a dialética de modo “errado”: desenvolvimento
desigual e combinado (Trotsky), possibilidade crescente (Piaget), a versão
“vulgar” da relação forma e conteúdo etc. Todos são conceitos em movimento, em
devir. Por isso, na primeira leitura da Lógica de Hegel, observei os conceitos
de modo equivocado e, por isso, novo; não foi uma leitura imanente. Depois, fiz
uma leitura de todo focado da obra (alguns capítulos foram lidos algo como 15
vezes, grosso modo), algo raro mesmo entre seus leitores, o que me levou a ver
a diferença entre minha e a dele posições. A partir de certo momento, as
derivações e deduções ganharam força máxima, ideia sobre ideia. Devo
acrescentar, aqui, algo que evitei no resumo-crítica-atualização das
categorias: os juízos, em principal, e os silogismos tratados por Hegel no
livro III ocorrem como processo real, etapa a etapa, não só na mente, mas
precisamente no mundo – Engels já tinha tal desconfiança (Dialética da
natureza). Por exemplo, na biologia das espécies e na história da humanidade,
ocorre, ainda que de modo invertido nos dois seres, isto: o singular é
universal – o singular é particular – o singular é singular (juízos
qualitativos). Claro, ressignificamos as palavras de Hegel: se o leitor desejar
um exemplo mais concreto de juízos concretos, indico minha Ética. Enfim,
considerei mais o tempo e o movimento do que o legado hegeliano, ou marxista
até aqui, que já os tinha em grande estima e como base. As novas contribuições
à dialética, como o contínuo e descontínuo em Lukács, ou a interpretação
“errada” (Eleutério Prado) ou mal traduzida de “o desmedido” ou “o sem medida”
– já davam pistas, que poderiam ser generalizadas, universalizadas. Sem
conhecer a dialética de Hegel e de Marx, torna-se mais difícil reconhecer a
nova; mas nesta obra fiz resumos bastante claros de suas concepções, até em
aspectos até agora inéditos (o abstrato-concreto, também, “platonista”
materialista; exemplos nas três modalidades do Ser etc.). Espero, com isso,
ajudar a humanidade a compreender melhor a si e ao mundo, para mudá-lo. Apenas
com interpretação correta do mundo se pode modificá-lo.
OS MÉTODOS
CIENTÍFICOS
É muito
comum em meios universitários e entre militantes de esquerda dizer “isso é
dialético” para afirma que algo é complicado, confuso, misturado. A dialética é
algo sobre o qual muitos falam, mas poucos sabem exatamente do que se trata. Os
textos a seguir pretendem oferecer uma introdução de fato completa e clara.
A dialética
é 1) um método científico, 2) uma lógica da realidade e do pensamento (logo,
uma concepção de mundo, como afirmar que o real é necessariamente
contraditório) e 3) uma forma de exposição da pesquisa científica concluída. No
nosso dia a dia, comum ouvir alguém reclamar “isso não tem lógica, é
contraditório!”; ao contrário, o dialético é o contraditório – apenas há lógica
na contradição! Na Grécia antiga, a dialética era vista como parte da arte do
diálogo, como Sócrates fazendo os adversários com os quais debatia cair em uma
posição contraditória, a corrigir seus argumentos. Muitos séculos depois, o
alemão Hegel escreveu uma obra chamada Ciência da Lógica, que toma para si toda
a história do pensamento, e chega a conclusões inteiramente novas. Por exemplo:
a história da filosofia caiu numa oposição: ou o universo era formado pelo
acaso ou, ao contrário, por leis necessárias, então Hegel resolveu com a
conclusão de que o acaso atua junto e em base à lei, à necessidade (a
necessidade é aquilo que, de fato, é); a lei dá as condições para o acaso, seu
oposto, acontecer, o acaso é o acontecer da própria necessidade (lei) –
demonstra uma unidade, ainda que contraditória, dos opostos, acaso e
necessidade (lei). Mas, se pareceu difícil, não adiantemos demais os assuntos:
avancemos aos poucos e progressivamente.
A HISTÓRIA
DO MÉTODO CIENTÍFICO
RELIGIÃO
O primeiro
método é o mais distante de si próprio, seu oposto e negação – ou seja, um
método não científico. Os homens percebiam padrões tantas vezes reais, então
davam uma explicação mística àquela regularidade, à repetição. Assim os antigos
sacerdotes judeus diziam que Deus desejava que lavássemos as mãos antes das
refeições.
FILOSOFIA
Separando-se
e derivando da mitologia, a filosofia antiga tinha de lidar com a falta de
dados empíricos. Para isso, contava com o pensamento, com a busca de bons
raciocínios e argumentos para tentar explicar o mundo.
Os filósofos
negavam o empírico como algo sem permanência, incerto, perecível. Buscavam – aí
está o lado forte – a essência da realidade, porém consideravam esta mesma
essência como imutável, imóvel (diferente do que considera a dialética
moderna). Um dos lados fortes de tal postura é querer saber das coisas nas
próprias coisas, “deixar a pedra falar por ela mesma”.
EMPIRISMO
O empirismo
afirma que o cientista deve limitar-se a colher e organizar os dados empíricos.
Apenas, e talvez um ou outro comentário lateral entre os gráficos. Para Bacon,
por exemplo, os sentidos revelavam a realidade, por isso devemos usar o
seguinte procedimento: colher dados e, depois, generalizá-los – chamamos método
indutivo. Segundo esse pensador, o erro seria colocar nossos pensamentos,
nossos valores, nossos pontos de vista enganadores sobre os dados. O lado
positivo é seu apreço pelo empírico, mas seu lado negativo é limitar-se aí.
Hegel usa a
seguinte metáfora para sua crítica: afirma que o empirismo separa as camadas da
cebola, que, na verdade, crescem conjuntamente, e esquece-se de reunir o que
foi separado (abstraído). Eles veem as partes do todo, mas esquecem da
interação delas e que o todo tem características próprias, que as parte não
têm.
O empirismo
toma dados empíricos e generaliza aquilo que é repetido. O problema é que deixa
de tomar a realidade em seu movimento, em seu desenvolvimento.
Um exemplo
desse método é seu uso por Freud. Ele observou que várias pessoas tinham esta
ou aquela característica central, logo ele pensou: existem três tipos de
personalidade – 1) a psicótica, que é rígida nas ideias, 2) a neurótica, que
reformula as ideias, 3) a perversa, que adota esta ou, depois, ao contrário,
aquela ideia se causará prazer para si, se lhe dá alguma vantagem. É uma
generalização, uma indução.
Outro método
indutivo é o experimental, experimentar de modo controlado.
Hoje, quando
temos computadores que percebem vários padrões ocultos, o trabalho apenas
empirista tornou-se desnecessário, a máquina faz o trabalho melhor, cabendo ao
cientista a interpretação dos dados.
Vale
destacar o empirismo que fez escola e imperou, o de Newton. Seu método era
colher dados separados, sem conexão entre si, e encontrar uma lei matemática
comum deles, entre eles. Assim, ele descobriu a lei da gravitação universal,
que serve para a Terra ao redor do Sol quanto para a maçã que cai da árvore.
Pois bem; assim, ele vê apenas o lado externo da realidade, a aparência, a
forma, a repetição. O que é, então, a gravidade? Ele não responde. Apenas
Einstein, séculos depois, com o método (empírico-)dedutivo, ofereceu a
resposta: a gravidade é a curvatura do espaço, desse tecido não absoluto.
Antes, quem discordasse de Newton e de seu método cairia em descrédito.
RACIONALISMO
O
racionalismo defende que se deve ir de conclusões racionais encaminhando novas
conclusões racionais. É o método dedutivo. O cientista faz uma afirmação que
considera verdadeira, então deduz daí as consequências de tal proposta.
O lado
positivo da visão é que colocar tudo sob dúvida, como as supostas premissas
obrigatórias. O lado negativo, segundo Hegel, é que não propõe verdadeiramente
um método.
Os
racionalistas pensavam que os dados poderiam nos enganar com muita frequência,
logo é a razão que deveria guiar o trabalho do cientista – o oposto da ideia
dos empiristas.
Einstein
usou e defendeu o método dedutivo, embora, no fundo, sem saber, seu método
fosse outro, como demonstraremos. Ele partia, por exemplo, das premissas
“arbitrárias” 1) as leis do universo são as mesmas se o observador não está em
aceleração; 2) a velocidade da luz é a maior possível no universo. Daí ele
derivava conclusões, que poderiam se provadas.
A EVOLUÇÃO
DAS TENTATIVAS DE UNIFICAÇÃO
A história
da filosofia caiu-se em uma oposição entre empirismo e racionalismo. Veremos
agora dois outros métodos científicos que procuram, cada um depois e mais
avançado que o outro, resolver a questão – os métodos hipotético-dedutivo e
dialético em principal.
KANTISMO
Kant tentou
unir empirismo e racionalismo com a seguinte proposta: temos conceitos feitos
pelo homem (racionalismo) que organizam a empiria, os dados confusos
(empirismo). A crítica dialética é a de que os conceitos devem mudar se os
dados empíricos mudam, se a realidade muda, ou seja, os conceitos devem se
adaptar aos dados, não é os dados que devem caber dentro dos conceitos – os
conceitos nada têm de fixos, eternos, imóveis, diferente do que defendia o
kantismo.
A ideia de
Kant entrou em decadência por muitos fatores. Entre eles: ele pensava o espaço
e o tempo como categorias apenas mentais, para organizar o pensamento “por
fora”, mas a física einsteana provou que o espaço-tempo existe.
HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
Sobre o
método hipotético-dedutivo de Popper, dito em resumo: diante de um problema
científico, delimita-se uma hipótese (ideia, racionalismo, subjetividade) e o
cientista escolhe, ele mesmo, o método de verificação empírica (empirismo). A
hipótese é, assim, testada – verificada. Como os demais, esse método rendeu muitos
frutos, mas tem seus limites: um deles é que muitas vezes descobrimos o “como”
da realidade, porém também temos de descobrir o “motivo”, o “porque”. Além
disso, pensar hipóteses é quase um tiro no escuro, mesmo com critérios que
limitam tais hipóteses. O mesmo fato pode ter vários e vários fundamentos,
razões diferentes, causas diferentes.
A crítica
conclui:
1) Nem sempre se parte de hipóteses, pois podemos
simplesmente ir colher dados como primeira ação.
2) Uma hipótese não precisa ser falsificada, como
quer Popper, mas, antes, comprovada.
3) Uma teoria errar uma previsão não significa
que ela seja descartável, mas que deve ser apenas adaptada, em parte alterada,
mantendo seu núcleo central de pé.
4) Há casos na ciência em que uma teoria erra a
previsão, não acerta o fato, mas depois, por insistência nela, descobre-se que
é, na verdade, correta. Por exemplo: a teoria da gravidade levava à previsão de
novos planetas no sistema solar, mas não eles foram encontrados; mesmo assim, a
teimosia de defender a teoria “errada”, fez depois descobrir tais planetas
ocultos.
Portanto, a
concepção científica de Popper demonstrou-se limitada. Para ele, tanto o
marxismo quanto a teoria da evolução não são ciências. Diante do prestígio da
segunda teoria, atacado por isso, recuou, no início apenas de modo parcial,
afirmando que a teoria de Darwin era certa metafísica bem sucedida, mas não em
exato ciência. A questão é que o método defendido por Popper não é capaz de
lidar com ciências que levam em conta a história do objeto de estudo, como a
história humana, a história biológica, a geologia, a cosmologia etc.
DIALÉTICA
(EMPÍRICO-DEDUTIVO)
Indo direto
ao ponto, muito resumido: a dialética é o ir aos dados empíricos, colhê-los,
depois, ou quase depois, passar a fazer intepretações, conclusões (não somente
comentários) deles – e critica-se os limites e enganos dos dados empíricos. Do
objeto em pesquisa, ver-se a estrutura e o processo, o sistemático e o
histórico, o genético, a aparência e a essência, o externo e o interno, o diverso
e a unidade interna e oculta.
Leiamos o
próprio Marx sobre seu método:
A investigação deve se apropriar da matéria (…) em
seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente
depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento
real. (Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo. P. 90; grifo nosso.)
Ao longo
deste livro, evito colocar citações, porém é impossível fazer um resumo tão
claro quanto. Vejamos, agora, um comentador de O Capital elogiado por Marx:
Para Marx, apenas uma coisa é importante: descobrir
a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa. E importa-lhe não só a
lei que os rege, uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem
numa inter-relação que se pode observar num período determinado. Para ele, importa sobretudo a lei de sua
modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transformação de uma forma a
outra, de uma ordem de inter-relação a outra. Tão logo tenha descoberto essa
lei, ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se manifesta
na vida social. (Idem)
Lembramos o
leitor que o método não é o critério da verdade. Com os demais métodos, ao
menos uma parte importante da realidade foi compreendida pelos cientistas. O
método dialético é apenas o mais profundo – também o mais difícil, por isso
merece mais de um capítulo nesta obra.
Vejamos o
que diz Hegel:
Mas a filosofia não deve ser uma narração daquilo
que acontece, e sim um conhecimento daquilo que é verdadeiro no acontecimento
e, além disso, a partir do verdadeiro, ela deve compreender aquilo que, na
narração, aparece como um mero acontecer. (Hegel, Ciência da Lógica, Doutrina
do Conceito, Ed. Vozes, p. 50.)
Para esta
citação, vale um exemplo. A mera descrição da história da humanidade dirá que
tivemos o escravismo; depois, a servidão (feudalismo); depois, o trabalho
assalariado (capitalismo); depois, o trabalho associado (socialismo). Mas o que
isso diz, embora sem dizer? Veja que a passagem de um sistema de trabalho para
outro, com o aumento da produtividade, torna o homem cada vez mais livre: o
servo é mais livre que o escravo; o assalariado moderno, formalmente livre, é
mais livre que o servo; o trabalhador associado, verdadeiramente livre, é mais
livre que o assalariado – há uma tendência para a liberdade. Isso, a conclusão,
não é algo palpável, sensível ou tocável, mas descobre-se que é verdadeiro a
partir do empírico.
O método
dialético evita de todo elaborar hipóteses, fazer especulações, histórias
metafóricas etc. O cientista colhe o conjunto dos dados empíricos (empirismo, o
papel necessário das informações) e busca descobrir, a partir daí, o não
empírico (racionalismo, o papel ativo do pensamento, do sujeito). Em linguagem
de Hegel: descobrir o suprassensível, o não sensível, por meio do sensível.
A dialética
funde racionalismo e empirismo. É verdade que os dados empíricos são vitais e
são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os
dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o
racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para
perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro
daquilo empírico.
Vejamos o
método dialético. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma
saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na
diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca
fora deles, mas neles mesmos. É possível perceber, mas não é possível tocar a
verdade, pois ela não é uma coisa.
Chamo tal
método, aqui exposto e desenvolvido enfim, método empírico-dedutivo
(dialético). A conclusão, o não empírico, vem dos dados, mas os dados não
dizem, ou melhor, escondem e revelam ao mesmo tempo. Reforçamos, portanto: 1)
do empírico podemos chegar, também, a algo real, mas não diretamente
observável, como o valor econômico, ou o elétron, ou a energia; 2) Os dados e a
aparência podem enganar, não basta colher pistas ou provas.
Bem ou mal,
cientes ou não; Darwin, Einstein, Marx e Freud usaram o método
empírico-dedutivo (dialético). As premissas das quais partia Einstein eram
razoáveis no sentido de já terem sido observadas, não eram arbitrárias e
criativas, daí derivava conclusões. Darwin percorreu o mundo para conhecer a
natureza viva em sua empiria para, daí, alcançar concussões – Wallace fez o
mesmo. Freud ouvia sonhos dos pacientes e suas falas aparentemente soltas e
desconexas para, aí então, perceber uma unidade interna oculta.
Hegel
explica que devemos começar pelos dados empíricos, sem impor conceitos:
O saber que, de início, ou imediatamente, é nosso
objeto, não pode ser nenhuma outro senão o saber que é imediato: - saber do
imediato ou do essente. Devemos proceder também, de forma imediata ou
receptiva, nada mudando assim na maneira como e se oferece e afastando de nosso
apreender o conceituar.
E critica o
começo dedutivo do racionalismo:
Quando se apresenta à ciência, como pedra de toque
– diante da qual não poderia de modo algum sustentar-se –, a exigência de
deduzir, construir, encontrar a priori (ou seja como for) o que se chama esta
coisa ou um este homem, então seria justo que a exigência dissesse que é esta
coisa, o qual é este Eu que ela “visa”; porém, é impossível dizer isso. (Idem,
p. 87)
No
procedimento dialético, partimos do Ser, ou seja, vemos o qualitativo, o
quantitativo e medimos; em seguida, chegamos, assim, no não empírico, na
essência antes oculta; a partir disso, no fim, alcançamos os conceitos
necessários.
A diferença
é que este método não é fruto de bons raciocínios externos, mas é fruto da
própria realidade e de sua observação – resultado ontológico. Ele é descoberto,
não criado.
A seguir,
comparamos a metodologia comum nas universidades com o procedimento dialético.
COMPARAÇÃO
ENTRE OS MÉTODOS
No geral,
veremos que, na relação sujeito-objeto ou objeto-sujeito, a prioridade, o mais
correto, é adaptar-se ao objeto de pesquisa.
Paradigmas
A ciência
anterior procurou objetos físicos como exemplares do funcionamento da
realidade. O mundo, a sociedade, o universo seriam como um relógio, uma
máquina, um computador. Um erudito sociólogo pode, assim, reclamar da
existência de greves, pois os operários dessa forma negam seu papel no relógio
social, isto é, rompem com um modelo artificial, posto de fora…
A realidade
é sistemática ou orgânica. Veja que tais palavras são mais abstratas,
intocáveis. A concepção de sistema orgânico – ou complexo dinâmico – é, na
verdade, mais concreto porque permite antever o objeto de estudo como complexo,
composto de partes interligadas e mutualmente causais, em desenvolvimento,
mutável, contraditório etc. Vejamos em psicologia: aspectos específicos do
cérebro podem ser semelhantes a circuitos mecânicos, mas o todo é irredutível a
tal concepção, se bem observada, muito pobre. A realidade também não é como o
corpo humano, pois, além da estrutura orgânica, temos de ver, também, o
processo, a história do objeto de estudo.
A concepção
de mecanicista de mundo tem origem histórica e efeito até mesmo no inconsciente
dos cientistas. A cientificidade no capitalismo estava ligada à necessidade de
produzir novas ferramentas, produtos-mercadorias e máquinas. Daí que a visão
mecânica teve uma pesada base para impor. O maquinário, não a visão orgânica
sistemática, tornou-se majoritária. Mas se a ciência que alçar voos mais altos
ou menores, no macro e no micro, terá de considerar a realidade de outro modo,
tal como ela é.
Escolha de
premissas
Segundo o
procedimento comum, o cientista precisa escolher entre duas premissas opostas:
ou o homem é o lobo do homem ou o homem nasce bom e a sociedade o corrompe.
Ora, escolher qualquer um dos caminhos é limitar a visão da realidade já na
partida. O correto é escolher a realidade empírica como sua base; uma
antecipação filosófica, uma concepção, deve ser resultado de pesquisa – não o
começo. De igual maneira, um postulado ou princípio deve ser a solução final, o
resultado que resolve, no lugar de ser o começo da pesquisa.
Com quais
conceitos?
Em projetos
de pesquisa é comum perguntar com quais categorias o estudioso contará para
alcançar conclusões. É o método científico anterior, inspirado em Kant. O
método dialético tem, primeiro, de pesquisar a fundo para descobrir as
categorias: elas são resultados, não o começo. Os conceitos não são inventados,
fazendo a realidade caber neles; são descobertos e devem corresponder a um
objeto real. Tem-se um conjunto categorial após a pesquisa. Enquanto o objeto é
histórico, ele tem início com desenvolvimento e um fim. O trabalho surge num
momento específico da história. Desde sua origem, modifica-se: trabalho
primitivo, trabalho escravo, trabalho servil, trabalho assalariado, trabalho
associado.
Parte do
esforço científico é a crítica das categorias. Há categorias de essência e de
aparência. Por exemplo: dividir partidos em direita e esquerda é usual e
correto em seu nível, mas é limitado na ciência mais profunda; partidos e
líderes políticos representam com seus programas interesses de classes e
frações de classes sociais; há partidos cujo programa representa os bancos, os
industriais, a classe média servidora pública, os operários, etc. As categorias
de aparência avançam em certos aspectos e limitam em outros, por isso a tarefa
é descobrir as categorias de essência. As categorias de aparência são, também,
em certo sentido, o ponto de partida, mas ao mesmo tempo em que são criticados.
Kant
considera que os conceitos são anteriores, algo puramente mental,
principalmente o espaço e o tempo. Assim, tenta guardar para si o lado
racionalista. No parágrafo anterior demonstrados que se pode ser mais
sofisticado.
É mais fácil
ao esforço científico alcançar conceitos de aparência da realidade, que tanto
avançam quanto impedem o avançar da compreensão do real. Ir à essência,
compreender a essência da realidade, é o salto necessário à resolução dos mais
profundos problemas científicos, que não cabem nos limites do aparencial. Valor
de troca e valor de troca preço são categorias importantes, porém a realidade
social capitalista apenas pode ser explicada pela categoria interna a elas, que
elas expressam e ao mesmo tempo ocultam, como o valor-trabalho. Daí que o
projeto inicial de Marx e Engels levava o nome de "crítica das categorias
da economia política".
Vejamos um
caso de atualização categorial. Marx percebeu que, diferente de outros tipos de
sociedade, o desemprego é uma lei social no capitalismo, chamou “exército
industrial de reserva”. Com o desemprego crônico, Leon Trotsky necessitou
atualizar o conceito para “subclasse de desempregados”.
Em
psicologia é cobrado em doutorado sobre os conceitos com os quais contará. Se
escolhesse, por exemplo, os da psicanálise – pulsão de morte, complexo de Édipo
etc. –, começaria limitando sua pesquisa a categorias arbitrariamente eleitas.
No mais, o
método dialético evita trabalhar com definições: o conceito é cada vez mais
preenchido. Exemplo: o conceito de consciência não cabe numa simples definição
única, ao contrário, vai sendo “encharcado”; aparece como “a consciência é
sempre consciência de algo”, depois como “imaginação determinada”, depois é
“alucinação relativa” etc. Exemplo de Marx: o capital é, no decorrer de seu
livro, dinheiro e mercadoria, valor que se autovaloriza, trabalho morto que
suga trabalho vivo, uma relação social e não uma coisa, etc. Na física, energia
como conceito tem inúmeros significados, todos corretos e limitados.
Os conceitos
de positivo e negativo na físico-química são de aparência. Como o próton e o
elétron, tão diferentes e desproporcionais, seriam de carga +1 e -1?
Descobrimos que os opostos são, antes, partes, embora também inteiros em si, de
algo antes uno, por isso um encaixa-se e desliza-se no outro.
Fontes
Toda fonte é
útil e, em certa medida, obrigatória: estatísticas, entrevistas, relatos,etc. A
história positivista considerava válido apenas o material empírico das fontes
oficiais do Estado… É uma concepção limitada. Os pós-modernos caem no erro
oposto, qual seja, desconsideram dados estatísticos, quantitativos.
Em geral, é
o objeto de pesquisa que determina como ele será descoberto, logo nossa pesquisadora
evita escolher por si como avaliar o real e tenta esgotar todas as fontes
possíveis rumo à verdade.
A pesquisa
dialética é como estar em um labirinto. É preciso andar, aprender, percorrer,
testar até entender o ambiente inteiro e, somente depois disso, encontrar o
caminho correto.
Espaço e
tempo
A
orientadora de uma psicóloga pede que, para simplificar a pesquisa, limite em
um determinado espaço, como um bairro da cidade, e em um determinado tempo,
talvez uma década. Ora, mais uma vez é o objeto da pesquisa que deve delimitar
o tempo e o espaço necessários para compreender de fato, por exemplo, o
fenômeno do suicídio em Teresina/PI.
Interdisciplinaridade
Hoje, não é
clara a fronteira da química e da física na física quântica. A ciência hiperespecializada
não alcança a verdade.
O caso acima
é hipotético, mas indica como é o trabalho científico: a especialização deve
ser acompanhada com uma cultura mais geral. Em parte, no decorrer da pesquisa,
que costuma demorar anos, o cientista modifica-se, adquire tais conhecimentos.
A verdadeira pesquisa costuma unir várias áreas de conhecimento, antes
separadas e especializadas.
A hipótese
O método
hipotético-dedutivo começa com a hipótese diante de um problema. O método
dialético, ao contrário, termina com hipóteses, previsões e tendências. Foi a
partir da avaliação da realidade que Marx percebeu que a livre concorrência de
sua época desemborcaria no seu oposto, na sua negação, nos monopólios e
oligopólios; concluiu que a tendência seria a redução do número de operários
nas fábricas, substituídos pelo maquinário, o que corresponde hoje à
automação/robótica; expôs que a taxa de lucro tende à queda no longo prazo (na
sua época, foi mais uma demonstração lógico-matemática enquanto hoje é
empiricamente observado, pois temos dados de duração secular). Por fim,
destacamos que nem tudo permite previsão exata apenas porque foi explicado;
Marx explicou as crises cíclicas do capitalismo, mas é impossível daí fazer
previsões de quando e onde será exatamente a próxima quebra econômica (porque o
objeto, a realidade, é muito complexo).
Historicidade
A realidade
deve ser vista no espaço e no tempo. Interessa mais as leis da mudança da
realidade, além das leis regulares e “permanentes”. É preciso ver, portanto a
estrutura e a mudança, o que é próprio de cada época.
Como
organizar o material
Na ciência
comum, cabe ao pesquisador organizar como deseja os dados empíricos, tecer
alguns comentários, aqui e ali, entre uma estatística e outra, e talvez
encerrar seu livro com alguma proposta. A dialética descobre, ao contrário, que
a organização de um livro, de uma sequência de capítulos, deve surgir do
próprio objeto de pesquisa – nunca é uma junção arbitrária. Um capítulo, por
exemplo, deve derivar o próximo, que deriva o outro, que deriva o seguinte, e
assim por diante. O que é tratado no primeiro capítulo é condição para entender
o segundo capítulo e todos os demais. Em minha pesquisa, A crise sistêmica,
tive de tratar primeiro da economia, depois das classes, depois da subjetividade,
depois das organizações – em sequência. Fiz isso não por um “modelo”
artificial, mas porque a própria realidade tem essa hierarquia, exigindo uma
hierarquia semelhante também no avançar do livro. Se fizesse diferente, quase a
todo momento teria de remeter a assuntos ainda não tratados.
O que
pesquisar
De imediato,
a liberdade de tema para pesquisa deve ser completa, pois o pesquisador vai ao
rumo daquele assunto que lhe interessa. Mas, se o pesquisador tem
responsabilidade, ele pesquisa o que a realidade ou a teoria estão de fato
necessitando. Pode-se, por exemplo, listar uma série de temas centrais,
urgentes, e escolher entre eles qual tem mais afinidade. No fundo, o objeto, o
real, determina qual vai ser o tema da pesquisa – se se quer fazer algo
relevante, útil. No Brasil, pesquisa-se bem menos sobre violência urbana do que
a importância do tema, do problema.
Prioridade
do objeto
Nos tópicos
anteriores, fomos demonstrando a “prioridade ou centralidade do objeto” na
pesquisa. Isso é o dialético. Kant colocava, ao contrário, o sujeito como
central, pois ele escolheria o espaço e o tempo, os conceitos, como organizar a
pesquisa etc. Esse é método inferior, anterior a Hegel e Marx. Tomar para si a
prioridade do objeto é a grande conquista científica.
Bibliografia
Devemos
revisar o que já foi dito sobre o nosso objeto de pesquisa. É preciso ver, em
outros autores, seus acertos nos seus erros e seus erros nos seus acertos, além
de criticar as categorias usadas por eles. Em geral, uma área de pesquisa cai
em teorias ou teses opostas inimigas e ambas unilaterais, parciais, erradas e
certas ao mesmo tempo; isso nos dá a oportunidade de resolver a polêmica e
encontrar uma terceira resposta que explica porque erraram e também acertaram
os teóricos anteriores. Levamos ideias de outros ao máximo desenvolvimento até
que são superadas por elas mesmas, transcendem ou são por si mesmas
extrapoladas. Assim é a refutação dialética de outra tese: mostrar sua
incompletude, desenvolvê-la ao máximo e corrigi-la.
Ideologia
Toda grande
teoria tem sua versão vulgar. Entre alguns cientistas, afirma-se que é preciso
separar a informação objetiva de ideologias. Mas ideologização é, apenas, uma
concepção de mundo; se uma descoberta científica altera nosso modo de ver a
realidade, ele gera uma nova ideologia como um dos produtos seus. Se o Sol
passa a estar no centro do universo, não mais a Terra – tudo muda. Nossa
sensibilidade, nossa capacidade de ver o mundo, é, assim, histórica, avança na
história.
Podemos
separar a verdadeira ideologia da falsa ideologia. A primeira está revelando
com o mundo tal como ele é – por aproximação da verdade; a segunda, ao inverso,
mistifica ou deforma a realidade, produz um engano.
Filosofia
Desde Kant e
Hegel, a filosofia separada da ciência tornou-se uma fraqueza. O
desenvolvimento de uma pesquisa é tanto mais filosófica quanto mais profunda,
por isso o método dialético funde ciência e filosofia na exposição de suas
pesquisas.
O perfil do
cientista
Nas ciências
humanas, a posição do cientista perante a realidade – se é conservador ou
revolucionário, se é religioso ou ateu etc. – e sua própria realidade – se é
ligado aos trabalhadores ou aos ricos, se sua vida é ativa e contraditória ou
extremamente estável – afeta a capacidade de ver o mundo tal como ele é de
fato. Em geral, a posição verdadeiramente crítica é superior.
Nas ciências
exatas e biológicas, isto não é uma verdade em si. Mas é de se supor que o
estilo de vida do cientista, no sentido amplo, ajuda ou atrapalha indiretamente
seus avanços.
Na
psicologia, percebe-se que certos estudantes limitados sexualmente têm
dificuldades com a teoria freudiana (estando tal teoria correta ou não). Outros
negam as demais teorias e refugiam-se em Jung para evitar a crise de lidar com
a crítica irreligiosa, para fugir de conclusões ateístas.
Nas áreas
como história, economia e sociologia, os pensadores têm mais ou menos
dificuldade – e mesmo capacidade – de ir a fundo no objeto de pesquisa, de
acessar a realidade, segundo o projeto social que reivindicam, a classe ao qual
pertencem etc. por mais que sejam muito esforçados. Nunca os economistas
ligados aos patrões chegariam às conclusões tão profundas de Marx em O Capital.
A moderna
ciência da mente reforça isso. Certo grau de estresse, ao menos sob o
capitalismo, é necessário para a criatividade como a árvore dá flor e fruto
quando se sente ameaçada. A vida dos militantes socialistas é sem rotina, com
novidade constante, com desafios, com ameaças – por isso, também, o movimento
comunista produziu tantos gênios.
Além disso,
como sujeito-ferramenta, o cientista tem que ser capaz de ver, deve ser culto,
como conhecimento do melhor na filosofia. Indicamos os seguintes filósofos: os
pré-socráticos, Platão, Aristóteles, Epicuro, Hegel, Marx e Engels.
O critério
da verdade
A teoria das
cordas na física, por exemplo, quer “provar” sua validade por ser matematizada,
elegante, única disponível etc. – já que faltam provas empíricas. São maus
critérios. A ideia de que a Terra era o centro do universo justificava-se por
seus cálculos, que davam conta de movimentos e previsões… A teoria
heliocêntrica, ao contrário, foi defendida por ter cálculos mais simples. Ora,
o critério não pode ser de tal tipo. Marx afirma que, ao contrário, a prática é
o critério da verdade – não simplicidade de cálculos, elegância da teoria etc.
Uma teoria
deve ser, antes de mais, verificável. Mas a falha de uma construção teórica não
deve necessariamente indicar a negação de toda a sua teorização; pode ser que
aspectos tenham de ser modificados, alterados, acrescentados – mantendo firme
boa parte daquilo teorizado. Assim, a "falseabilidade" é relativa,
não é o melhor critério.
MÉTODO
EMPÍRICO-DEDUTIVO
Quando a civilização grega antiga atingiu seu apogeu, com o devido afastamento
das barreiras naturais, o homem ainda mais social numa sociedade de classes,
produziu a filosofia dos sofistas, onde a verdade, na prática, não importava,
seria inalcançável. Algo semelhante acontece hoje. Com os avanços do século XX,
em base a uma sociedade fraturada em classes, a filosofia pós-moderna, na área
de humanas, declarou as várias verdades, as narrativas, a fragmentação, o
culturalismo, o grande indivíduo – sentiu-se à vontade para desprender-se, em
parte e ilusoriamente, do real. Duas questões
Por exemplo, dizer que tudo é construção social – à semelhança dos
antigos sofistas – soa subversivo, até socialista, mas é idealismo puro, como
se valores e hábitos pudessem mudar por pura decisão, por pura tomada de
consciência. É absurdo que marxistas tomem tal posição como na questão da
natureza humana. Tal erro tem uma base, qual seja, somos, de fato, mais sociais
que antes, bem mais, além de estarmos sob escravidão assalariada ainda.
Mas a solução não é o seu oposto, uma tomada conservadora. Aqui, entra a
reflexão sobre o método propriamente científico. O método hipotético-dedutivo
de Popper foi superado como paradigma pela moderna filosofia da ciência, mas
cientistas atrasados ou pouco afeitos à filosofia permanecem no erro. Isso tem
motivo. Não há método científico, no singular, mas métodos científicos, no
plural; e o hipotético-dedutivo certamente ajuda a fazer descobertas, embora
limitadas, por isso a sua resiliência.
Mas permanece a mera aglutinação, não a fusão em um terceiro, do
empírico e do racional. Einstein defendeu sempre o método dedutivo, por
exemplo, enquanto outros, o indutivo. É necessário resolver a oposição e a
contradição. O empirismo afirma que devemos nos limitar a colher e organizar
dados, fazendo generalizações indutivas quando for razoável, evitando de todo
refletir sobre eles; o racionalismo, ao contrário, diz que os dados enganam,
logo devemos confiar na razão humana para, de ideias racionais, chegar a
conclusões novas e racionais. Ora, ambos acertam e erram ao mesmo tempo. O
método empírico-dedutivo, o oposto do superado hipotético-dedutivo e o
adversário mortal da pós-modernidade, inicia pela apreensão dos dados
empíricos, pois eles são o começo e vitais como fonte da verdade; mas tal
empiria, além de revelar, esconde e engana, logo usamos a razão para saber
desviar das armadilhas, para saber do interno por meio do externo, da unidade
por meio da diversidade, da essência por meio da aparência enganosa – pois o
essencial é invisível aos olhos e a realidade tem uma lógica própria a ser descoberta,
não criada pelo cientista.
Além de ter uma estrutura, a realidade tem um processo inerente –
queremos ambos na nossa investigação. Queremos o mundo em seu vir-a-ser, em seu
devir, em seu tornar-se, em seu desenvolvimento. A ciência já atrasou por
demais seus avanços por falta da dialética como instinto básico da pesquisa. O
universo estático, repetitivo, passou, com muito atraso, para o universo com
história, com evolução; já podemos tomar como ainda mais racional que o cosmos
teve e terá ciclos, gerações de universo, um após outro.
Não se deve apenas interpretar os dados. A física quântica, por exemplo,
tem uma dezena de interpretações conflitantes sobre tal estágio do mundo, todas
baseadas nos dados. Mas estes nem sempre são criticados: antes, tomava-se como
verdade incontestável que o salto quântico é instantâneo; hoje, ainda toma-se o
spin como algo do reino quântico, como uma propriedade fora da nossa
racionalidade, sem maiores explicações, portanto. Deve-se deduzir, também, o
limite do empírico. A verdade está em algum lugar, nem que seja no meio ou na
fusão.
Deve-se evitar de todo iniciar
por hipóteses, premissas, postulados, modelos, “métodos”, princípios ou mesmo
conceitos – eles devem ser a conclusão da pesquisa, não seu início. E são descobertos,
não criados de modo arbitrário. Em especial, os conceitos mudam se a realidade
muda, não são fixos, são móveis, muitos com início e fim.
A verdade é não empírica, impalpável, mas deriva sua descoberta da
empiria. Ao que parece, Darwin correu o mundo colhendo dados multíplices,
contingentes, diversos, caóticos – até perceber as leis gerais do
desenvolvimento da vida. Nesse sentido, foi um dialético.
É o objeto de pesquisa que diz como ele será explicado e apreendido. De
modo algum, o cientista tem a honra de escolher um ângulo ou método para sua
investigação como fazem o kantismo e o pós-modernismo. A verdade é o todo
contraditório em evolver.
Se há responsabilidade básica, nunca será escolha de todo pessoal do
pesquisador qual será seu objeto estudado. É a realidade, o objeto, as
necessidades sociais ou teóricas, que determina qual será o tema de pesquisa,
nunca a mera vontade subjetiva do sujeito. Claro, entre assuntos urgentes e
relevantes, pode-se escolher aquele pelo qual se tem mais afinidade.
Até o modo de organizar e expor um livro deve ter origem no objeto, não
no sujeito. A organização do objeto impõe uma organização clara da obra.
O método dialético torna-se o método empírico-dedutivo. Em outro
capítulo, demonstramos como no trato da lógica de tal método, Hegel deixou de
observar como se deveria o diacrônico, o processo.
Marx, Darwin, Einstein e Freud revolucionaram o pensamento e a
sociedade. Além desse fator comum, todos foram base para uma concepção
histórica do cosmos – Ser é histórico, ou melhor, histórico-geográfico. Mas
algo ainda mais de fundo também os une. Consciente ou inconscientemente, com
maestria ou com improviso; todos usaram o método empírico-dedutivo, dialético,
bem ou mal. Marx percebeu, pelos dados, as leis de desenvolvimento da histórica
capitalista e da humanidade. Darwin percorreu o mundo colhendo dados e
experiências variadas sobre a vida, até deduzir a evolução das espécies. Freud
deixava os pacientes falarem à vontade, de modo relaxado e aparentemente
desconexo, até que era percebido o nexo interno oculto na diversidade externa,
além de aspectos da história do paciente – o que lhe permitiu consolidar uma
teoria. Einstein defendeu com veemência o método dedutivo, não o
empírico-dedutivo, porém suas premissas, muitas vezes, já estavam sendo
confirmadas na realidade, como a velocidade da luz e sua medida como a máxima
do universo, aproximando-o intimamente do método aqui defendido (resumo
grosseiro: partir do empírico para deduzir – Einstein declara: “Vale então o
princípio: a massa gravitacional e a massa inercial de um corpo são iguais uma
à outra. Até hoje a mecânica, na verdade, registrou
este importante princípio, mas não o interpretou”
(Einstein, 1999, pp. 57, 58; destaques feitos
por Einstein)). Sua formulação foi a base da teoria do Big Bang, da
história, ainda incompleta, do universo. Isso explica o motivo do limitado
Popper ter afirmado que a teoria da evolução de Darwin, a teoria da história
humana de Marx e a teoria freudiana não serem, para ele, ciência… Depois,
recuou no caso da biologia darwiniana para evitar desmoralização diante da
merecida autoridade de Darwin. Popper desconhece as ciências históricas.
Veja-se que todas as teorias acima são atacadas das mais diferentes formas;
negadas por estados, correntes e religiões. Nenhum acaso há aí. Concepções de
Marx como o lado não eterno do capitalismo fere interesses lucrativos, de
classe e religiosos. A teoria da evolução derruba uma premissa da religião,
logo é negada com fervor. A teoria freudiana tira o lugar consolador da fé e
agride os bloqueios inconscientes de muitos (homossexuais enrustidos, pessoas
que mal lidam com seu complexo de édipo etc.), levando até a acusação máxima de
pseudociência (enquanto consideramos, aqui, ela incompleta). Einstein é acusado
de charlatanismo até hoje, mas nunca refutado, nem superado (embora possa ser
ao mesmo tempo preservado e superado no futuro como tentamos esboçar em outro
capítulo) – além de ser acusado, com razão, de ser… comunista! As ditaduras
têm, em geral, horror às teorias de essência, mais do que instrumentais. Se são
obrigadas, aqui e ali, a adotá-las, como para fazer uma bomba atômica, ou para
parecer marxista enquanto rouba o povo, trata-se da verdade impondo-se. Ainda
assim, o método dialético, como empírico-dedutivo, demonstrou apenas metade de
suas capacidades revolucionárias na ciência. Em outro momento, demonstramos
construções como A=A e não-A, sincrônicas em geral, suprassumidas por A=A e…
não-A, também diacrônicas. Isso casará bem com E=mc², a identidade dos
diferentes no movimento ou no desenvolvimento.
Marx abre sua grande obra,
primeiro capítulo, ao fazer uso do método de investigação e, ao mesmo tempo,
método de exposição empírico-dedutivo. Observemos o que ele mesmo diz sobre si
ao comentar um crítico:
Inicialmente, eu não parto de “conceitos”, portanto, nem mesmo do
“conceito de valor”, e, assim, de modo algum tenho também que o “dividir”.
Parto da forma social mais simples na qual o produto do trabalho se apresenta
dentro da sociedade atual, e essa forma é a “mercadoria”. Eu a analiso, em
primeiro lugar, precisamente dentro da forma pela qual ela aparece. Aqui
descubro então, que, de um lado, ela é, dentro de sua forma natural, uma coisa
de uso, também conhecida de valor de uso; de outro lado, ela é portadora de
valor de troca e, desse ponto de vista, é por si mesma, “valor de troca”. A
análise posterior desse último me mostra que o valor de troca é apenas uma
“forma de manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na
mercadoria, e então inicio a análise do valor.
Temos, portanto, um pesquisador que inicia pelo fato e pela aparência
(diz: “pela qual ela aparece.”) – e vai até a essência, ao valor, que está
escondida por detrás das variações errantes, sem constância e padrão, do valor
de troca e do preço. Empírico, mas dedutivo; empírico que deduz os enganos da
empiria e o que ela esconde. Por isso, o próprio Marx diz que afirmar a mercadoria
como unidade de valor de uso e valor de troca é, na verdade, falso – trata-se
de unidade de valor de uso e valor. Um empírico; outro não empírico, mas
igualmente real, objetivo[28].
A posição ao final da vida de Marx, ainda que instintiva, já estava em
seu começo, no manuscrito A Ideologia Alemã:
Os pressupostos de que partimos não são
arbitrários, dogmas, mas pressupostos reais, de que só se pode abstrair na
imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de
vida, tanto aqueles por eles já encontradas como as produzidas por sua própria
ação. Esses pressupostos são, portanto, constatáveis por via puramente
empíricas (MARX, ENGELS; 2007; 86-7
Logo o
mestre toma nota de que a única ciência é a história, portanto devemos
considerar sempre o tempo e o espaço, o contexto e a origem, além do rumo, a
estrutura e o processo, as partes e a totalidade.
Platão
ascendia da materialidade até os conceitos puros – bom, bem, belo – mais
elevados; depois, votava ao mundo material. Marx faz o mesmo ao contrário:
dissolve e separa a realidade até chegar ao conceito mais puro – energia,
valor, espaço etc. –, ou seja, vai cada vez mais para baixo, descendente, para
o fundo e o profundo; também tal como o grego, chega ao mais geral, abstrato,
puro, insensível, quase conceitual. Então, retorna para a caverna: chegado à
essência luminosa, mas oculta porque cega, vai-se de volta para o mundo da
empiria e da aparência. O método de Marx é metafísico e materialista.
SEÇÃO CINCO
A FILOSOFIA
E A CIÊNCIA
A FILOSOFIA
CIENTÍFICA, DA CIÊNCIA
Muitos
filósofos demitem-se da arte de pensar com a seguinte justificativa: a
filosofia formula perguntas, não respostas… Assim, a filosofia científica
apenas expõe os problemas de certa ciência, apresenta de modo organizado as
diferentes propostas. E só. Na verdade, se quer alguma relevância, deve
apresentar soluções e hipóteses, além de boas indagações.
Uma
filosofia baseada em evidências e na ciência chamo filosofia objetiva, quando a
realidade guia o pensamento. Isso é o que está exposto neste ensaio. Em geral,
os cientistas têm baixa formação filosófica, logo fazem má ciência; por isso,
precisamos de filósofos dignos do nome e das tarefas modernas do pensamento.
A filosofia
válida é de Hegel para frente… A Ciência da lógica de Hegel e a filosofia de
Marx, sua cientificidade, são as mais importantes para alguém ligado à ciência.
As descobertas modernas afirmam os dois filósofos como os grandes e mais
avançados paradigmas ainda não reconhecidos. Questões ideológicas e classistas,
no entanto, atrapalham tal avanço.
REVOLUÇÕES
CIENTÍFICAS
Nossa
concepção de ciência é evolucionária e revolucionária. Thomas Kuhn teorizou “A
estrutura das revoluções científicas”, como o seguinte movimento: ciência
normal – resolução de quebra-cabeças – paradigma – anomalia – crise –
revolução. Mas para ele não há evolução e saltos ontológicos na ciência. Se bem
observado, a ciência vai de teorias de aparência para teorias de essência.
Newton tomou o espaço desde a empiria imediata, como imóvel e independente.
Depois, chegamos mais perto da essência, o espaço enquanto móvel e ligado à
matéria. É natural que a história da ciência avance assim, rumo ao mundo
essencial que se demonstra oposto e inverso do mundo que aparece.
Em resumo
Kuhn erra nos seguintes aspectos; sobre a ciência, não observa:
1) que vai
da aparência à essência;
2) que
chega-se ao ponto em que pode haver reformas, não rupturas;
Chegaremos
muito próximo da verdade absoluta, algo entre o relativo e o absoluto. O
conhecimento geral, não nas firulas e detalhes, poderá ser alcançado coma
devida sociabilidade. Assim como o socialismo é fim da época de revoluções, a
ciência fará apenas reformas, ainda que revolucionárias – apenas atualizações,
correções etc.
2)
que o
próprio método científico segue tal roteiro de desenvolvimento e crise;
Ele toma o
método científico como único, inteiro, sem evolução – apenas os resultados e as
teorias prontas mudam, entrem em crise e se revolucionam. Mas há uma história
do método científico que se conclui na dialética contemporânea, exposta nesse
livro. Tal desenvolvimento por saltos do método ocorre como se pelas costas dos
cientistas, em geral sem domínio da filosofia. Os métodos científicos até agora
operantes estagnaram, não alcançam mais tantas conclusões de essência.
4) que a
ciência tem valor ontológico, que chega-se à verdade ela mesma.
5) A teoria
escolhida entre as opções deriva da realidade.
Realidade,
aqui, em dois sentidos: a) a teoria deve corresponder bem com o real, 2) a
realidade social tende a aceitar mais uma teoria e menos outra. O marxismo é a
melhor teoria social, a correta, mas a sociedade capitalista não é incapaz de
aceita-la, por isso a verdade torna-se marginal. A (meta)física aristotélica
servia à sociedade escravista, por exemplo.
Curioso que
Kuhn descreveu as revoluções científicas do mesmo modo que as crises
periódicas, cíclicas, do capitalismo. A realidade parece ter produzido uma boa
influência sobre seu cérebro, abstraindo o concreto em teoria. Sua obra é
genial, incluso supera muitos dos limites grosseiros de Popper, mas não é
materialista o suficiente, como demonstramos com nossas propostas e críticas.
SISTEMA
FILOSÓFICO
A decadência
da filosofia moderna leva a negar, a priori, a possibilidade de um pensamento
sistemático. Assim, o contemporâneo filósofo justifica sua falta de esforço e
competência declarando uma limitação final à reflexão. Ao contrário, este livro
expõe de modo acabado a base de um sistema científico-filosófico completo o
bastante, que corresponde a uma concepção de natureza, de natureza humana, de
estética, de arte militar, de teoria da história e da crise dos sistemas
sociais etc. (expostos na obra A crise sistêmica). Pode parecer, visto assim,
que se partiu de um princípio e de uma premissa para derivar, em dedução, toda
uma rede de conclusões. Não é meu método, que é o oposto, o dialético.
Primeiro, percebi a essência humana, a natureza comum das crises sistêmicas
etc. para, a partir daí, perceber que há uma sistemismo por detrás, como
conclusão, nunca enquanto começo da pesquisa. Assim, posições como movimento=
energia = tempo = etc. e tudo como integração relacional em movimento são bases
de um pretendido definitivo sistema de pensamento, ainda que relativamente
aberto.
Hegel afirma
que uma premissa ou postulado é verdadeiro e ao mesmo tempo é falso, porque, de
um lado, expressa uma parte da realidade, mas, de outro, expressa apenas uma
parte da realidade. A verdade, diz ele, é o todo. Pois bem; com construções
como nossa fórmula categorial movimento = energia = tempo = espaço = matéria
etc. chegamos à totalidade, a todos os elementos de base.
FORÇA, ÁTOMO
E CAMPO
Na busca da
unidade de tudo, os cientistas procuram tal unicidade em algo por demais
concreto ou por demais abstrato. Assim, tornou-se mania nomear este e aquele
fenômeno como “força”, até tal categoria vulgar entrar em crise. Depois, tudo
era átomo, nem sequer onda, supondo-se, por exemplo, uma partícula calorífica,
responsável pelo calor. Por fim, tudo seria campo, um vício de nosso tempo.
Para Einstein, toda a realidade física poderia ser reduzida a um conjunto de
campos universais. Há unidade por debaixo, mas há diversidade externa. A
pluralidade deve ser afirmada junto com a unidade de fundamento, de fundo,
oculta.
Ora, se
campos permeiam o espaço, aonde fica o próprio espaço como entidade. Veja-se:
uma partícula ou montanha não ocupam espaço, pois são, eles mesmo, espaço,
espaço concentrado, condensado, para dentro de si; o espaço mesmo, a
substância, rodeia-os. Logo, os campos e o espaço não podem ambos ocuparem o
mesmo espaço, pois o espaço já ocupa a si próprio. Campos, logo, não existem;
no máximo, são espaço concentrado, talvez em modo de linhas. Ou, se quisermos,
propriedades do espaço, o de fato existente.
A teoria de
vários campos, bem observado, impossível manter-se em pé, no entanto é
majoritária na ciência. Para cada aspecto ou partícula, um campo – multidão de
campos. Assim, a partícula seria prova do campo e o campo a prova da partícula,
pois, segundo o argumento circular, a partícula nada é mais do que manifestação
do seu campo próprio.
Tudo fica
mais fácil se tomarmos tudo como espaço concentrado, em diferentes proporções
quantitativas, o que produz diferenças, por sua vez, qualitativas.
FORMA E
ESPAÇO
Dizer que o
espaço é a possibilidade de forma tem um significado maior agora, em nossa
teoria – mais do que o “aonde”. Alguns físicos afirmam que as partículas são,
como em Platão, puras formas, sem matéria, sem conteúdo. As partículas-ondas
têm, na verdade, conteúdo, forma e grandeza – como pensavam os antigos
atomistas. O conteúdo da forma é o espaço, o conteúdo “material” das matérias.
A matéria é espaço condensado, apesar da matéria vir antes do espaço no tempo
de nosso universo, aquele tornando-se este. O espaço é matéria-luz que decai.
SOBRE A
TEORIA DE BIG BANG
Embora
bastante correta, a teoria da inflação cósmica é incompleta. Ela é algo
inocente em sua exposição, além de lhe faltar a resposta sobre por que o
universo expandiu-se e o a que havia antes, ou seja, como tudo surgiu. A ideia
de que o universo é como um pulmão que se expande e se contrai, geração a
geração, soa muito melhor, mas não explica a origem de tudo (antes da primeira
geração) ou a causa de tal movimento. Já a hipótese de que havia apenas o
espaço vazio preenchido de campos em se começo nada explica de fato.
O universo
expande-se porque a matéria decai em espaço; o universo contrai-se porque os
buracões negros maiores sugam o espaço. Eis a resposta. Ademais, a ideia de
infinito obriga a pensarmos uma quarta dimensão, dentro e fora da nossa
realidade, onde a matéria cai como se caísse em própria; assim a causa do
movimento primeiro não seria um primeiro motor ou a contradição, mas tal queda
na dimensão quarta.
Antes do
universo apenas poderia existir o nada; tal nadidade só poderia ser infinita;
além disso caótica pura. O vazio infinito e caótico pôs os seu contrário, seu
inverso: universo finito (em 3 dimensões mais o tempo) e com leis. Impossível
imaginar o nado infinito (qualitativo) e caótico. Nosso cérebro é feito para
compreender nosso universo, mas do ponto de vista da imagem; do ponto de vista
conceitual, conseguirmos pensar o antes de tudo.
A matéria e
a antimatéria no início do universo, atraindo-se aniquilaram-se, decaindo
rapidamente – por causa das circunstâncias – em espaço. Assim, um pouco de
matéria e, talvez, antimatéria conseguiram ainda persistir. Salvamos a teoria
do Big Bang, embora de modo a também a superar, porque o enigma da matéria e
antimatéria parecia refutá-la, falseá-la, uma contraprova à hipótese.
O padre
Georges Lemaître pensou um átomo primordial, um ponto de singularidade que se
expandiu, não se sabe como. A ciência caminha por aproximações sucessivas:
primeiro, a teoria do Big Bang; 2) depois, a ideia do universo cíclico; 3) em
seguida, a ideia de causa da expansão e do nada infinito, como expomos neste
livro. Talvez, o padre tenha se inspirado em Hegel, que afirma, em sua lógica,
que o infinito desaba no ponto (um, uno); logo depois, esse “uno” expande-se,
fragmenta-se, na sua relação com o vazio, formando os “muitos” ou “múltiplos”,
ou seja, os muitos unos que se atraem.
Enfim, o
universo surgiu de uma causa acidental, de um acidente ou acaso – uma concessão
da probabilidade. O caos do nada infinito, a relação do vazio consigo enquanto
infinito, pôs o espaço-tempo, ou seja, a matéria. Isso é a forma aproximada de
entender o mundo. Do nada, o Ser.
MATEMÁTICA
A matemática
é uma invenção ou existe na realidade? Sobre, a resposta correta deve revelar a
causa da longa polêmica. Um e outro e, ao mesmo tempo, nem um nem outro. A
matemática é uma construção humana feita para corresponder à realidade. Parece
existir no real porque quer ser retrato dele, ao menos no quantitativo. Mas aí
há um nó. A matemática não surgiu de dentro para fora do sujeito apenas ou
primeiro; antes, "veio" de fora, do mundo, para dentro do pensamento.
Quando se fala em matemática como invenção parece algo como na arte, uma pura
inspiração, algo quase arbitrário, um raio em céu azul. Nada disso. A
quantidade existe na própria matéria. Dito isso, fica clara, além de resolvida,
a oposição, o ou-ou, de longa data.
De modo
lateral, incluímos que o limite matemático trata de indeterminações com
resultados infinitos (indeterminação) ou zero sobre zero, o vazio infinito.
Isso é uma expressão matemática indireta da nossa tese sobre o início do
universo, o vazio infinito. No chamado limite, torna-se preciso certa manobra
para evitar tais resultados e, enfim, cair na finitude numérica.
Nosso
terceiro comentário sobre a matemática beira o delírio, mas prefiro sua
exposição. Os números positivos são os números naturais, logo os números
negativos são artificiais, inaturais, formais. Não há -2, há ausência una de
dois, ou seu retirar. Uma prova disso é que, além da engenharia fazer seu uso,
para fins concretos, somos obrigados a produzir a raiz de menos 1, para tornar
positivo o cálculo, a operação. A subtração, a divisão, a raiz, de um lado, e a
soma, multiplicação e a potência, de outro, são apenas formas de adição, ainda
que negativa. Daí a inexistência, também, na matemática comum do uso de raízes
negativas. A ausência quantificada em número é muito própria do mundo social,
artificial, como a dívida monetária. Nesse sentido, os números negativos são
imaginários. Então, ao menos sete provas do imaginário e da artificialidade
útil dos números de fato negativos: 1) ausência de raiz de números negativos;
2) os artifícios para trabalhar com potências de números negativos (se com ou
sem parênteses); 3) o uso do número “i”, raiz de menos um, para manobrar um
cálculo, torná-lo viável; 4) a soma, a multiplicação e, de certo modo, a
potência têm propriedades (permutabilidade etc.) que seus opostos não têm, são
mais limitados; 5) o logaritmando apenas pode ser positivo; 6) a probabilidade
não pode ser negativa; 7) surge a necessidade de incluir o módulo, o valor
absoluto, sempre positivo, 8) costuma ser regra comum (integral etc.) pôr o
maior antes de subtrair pelo menor.. O número negativo: há e não há, ser-nada,
real-ficção. Temos númereos naturais e inaturais ou artificiais.
Uma
coincidência não arbitrária ainda merece ser destacada. No limite matemático,
tende-se à, por exemplo, zero ou três sem nunca alcançar eles, tais números. Na
lógica formal, A = x ou não-x, nunca uma terceira reposta. Já a dialética
aposta justos no terceiro excluído, que não costuma ser o meio-termo entre x e
não-x. Na nossa dialética, em “A”, x tende, também, até não-x, sem alcançar
absolutamente este último. O conhecimento (A) vai de relativo (x) até mais do
que relativo (…) sem nunca conseguir alcançar absolutamente o absoluto (não-x).
A = A e… não-A. A matemática avançada aproxima-se da dialética, em especial de
sua renovação. A nova dialética merece, portanto, formalização maior.
Dissemos em
outro momento: “A quarta dimensão do espaço é representada, incluso na
geometria, por números imaginários, como a raiz de menos um. Tal número
imaginário aparece aqui e ali nas equações, como na de geometria, substituída
pelo tempo por Einstein, e na equação de Schrödinger – mas eles tratam tal
presença como algo incômodo, um problema apenas, limitado ao formalismo
matemático.” A solução da última equação, elevar tudo ao quadrado, pode ser
generalizada para todos os casos em que “i”, raiz de menos um, aparece. Talvez,
para tirar o sinal negativo de 1, -1, fazer dupla elevação à dois, duas
operações de potência quadrada.
INFINITO
Hegel
demonstrou, num toque de genialidade, que o infinito é qualitativo, não
quantitativo. O mau infinito é o infinito da progressão, que algo pode ser cada
vez maior ou menor, pois encontra uma barreira e supera, então encontra outra e
etc. O bom infinito, ele diz, apresenta-se à semelhança de um círculo, sem
começo nem fim, não como certa linha sempre esticável. Nisso, ele deu a
resposta geral correta para o problema da infinitude, mas foi ignorado pelos
filósofos, matemáticos e físicos posteriores. Assim, surgiu a ideia absurda,
embora apaixonante, por Cantor, de que há infinitos maiores do que outros;
assim, surgiu o Hotel de Hilbert, aonde sempre se pode colocar mais um
visitante num dos infinitos quartos, bastando passar os demais para o quarto
seguinte da infinitude liberando a vaga do primeiro quarto.
Hegel foi
crítico duro da matemática e da redução quantitativa, mas a topologia e os nós,
como qualitativos, têm feito escola. Assim, pode-se supor que um nó não
possível de desfazer em 3 dimensões pode-se desfazer em quatro, mais uma
espacial. A fita de Moebius, com todas as suas derivações como, juntando duas
de tais fitas, que só têm um lado, forma-se a garrafa de Klein,
quadridimensional. Em tal garrafa não tem externo e interno! Em sua lógica,
Hegel já afirma que o externo e interno são o mesmo, são um, uma unidade.
Enfim, o infinito real é como a quarta dimensão, sem borda, que transborda para
fora e para dentro do nosso universo finito. É o vazio infinito e caótico que
desaba no nosso universo preenchido, finito e com ordem-lei.
Devo
acrescentar, aqui, a ideia de relação infinita. Por exemplo: a partir de poucos
átomos, podemos formar milhões, talvez bilhões, de novas combinações, compostos
cada vez mais complexos (por sua vez, tais compostos entram em relações). A
relação do homem com a natureza é uma relação infinita, um alterando o outro e
vice-versa, por meio do trabalho e da produção. Na matemática, 7/3, sete divido
por três, tem o resultado inexato e sem fim, 2,333333333333…Uma relação
infinita do ponto de vista matemático. Uma evolução infinita de átomos cada vez
maiores, mais pesados, cai de modo direto na má infinitude, além de ser algo
virtualmente impossível - mas, por outro lado, as combinações atômicas produzem
também o novo.
PITAGÓRICOS
O gregos
antigos de tal escola ensinavam que o mundo era regido pelos números, o que tem
certa verdade em padrões regulares na existência. Nosso foco é lembrar: para
eles, a realidade, como o pensamento matemático, vai do ponto para a linha,
para a superfície, para o corpo – nesta sequência. Aqui, resgatamos isso de
modo moderno: o “átomo” único, ponto, do unício do iniverso decaiu-se em várias
partículas, pontos, que, ao mesmo tempo, mantiveram a unidade interna comum por
meio de fios, linhas, de espaço; logo, surgiu, or derivação natural, a
superfície e o corpo (nuniverso). É claro, para nós, que linas (de espaço)
também fazem o ponto. De tal modo agregamos e superamos os atomistas e os
pitagóricos.
MATEMÁTICA E
HISTÓRIA
Quando o
capitalismo toma a forma maior de caos, temos o assistemático pós-modernismo, a
teoria do caos, a indeterminação quântica etc. Qual o nexo ou mediação interna
disso? A probabilidade avança com o avançar do capitalismo, aonde há mais liberdade,
mais possobilidades. O determinismo grego seria, ao contrário, um entreve
social e mental. O modo de produção, o desenvolvimento das forças produtivas e
o avançar da história permitem, ou limitam, certo avanço ideal, da matemática.
Em certas épocas, criar a probabilidade – um hipervanguardismo raríssimo – pode
significar a morte de seu criador.
MÉTODO DA
PROBABILIDADE
Além do que
já se sabe sobre, a probabilidade gera seu próprio método e, ao mesmo tempo,
seu método de verificação. Isso está implícito na sua ciência. Vejamos o que
queremos dizer. Temos uma tese; passamos por fenômenos não enviesados, não
manipulados etc., aonde tentamos verificar a tese proposta; se o fenômeno que
esperamos ocorre, apenar de sua baixíssima probabilidade formal, se ele se repete,
então, temos prova de sua validade. Vejamos um caso mecanicista. Tenho 100 bola
dentro de uma caixa escura; digo que tendencialmente todas devem ser vermelhas;
se, guiado pelo absoluto acaso, tiro de dentro da caixa 10 bolas todas
vermelhas, logo, minha tese tem fortíssima prova empírica probabilística – nada
dizia em si que seriam 10 da mesma cor em uma evento tão ao acaso, ao sabor do
caos. Mesmo sem elaborar a tese, tê-la após o fato apenas, o central é ver
padrão aonde se veria apenas aleatoriedade.
SOBRE A
CRISE DO REINO QUANTITATIVO
A
verificação quantitativa e a medida vieram para ficar. Sobre, devemos fazer
mais, não menos, do já conquistado. No entanto: para o qualitativo ganhar mais
relevo novamente é preciso certa crise do quantitativo? Por exemplo: objetos
complexos demais, constantes que se alteram com o tempo, probabilidade, caos,
aleatoriedade, esgotamento das descobertas por quantificação, aspectos que não
cabem na quantificação ou na medida. Seria uma superação, se houver, ainda mais
ontológica do que gnosiológica?
A LÓGICA DA
MATEMÁTICA
Husserl
afirma que o zero do conjunto infinito relaciona-se com o zero como do conjunto
vazio – “decai”, então, no um (1). Não se deve, portanto, usar o infinito com o
vazio com o 1, 2… Veja-se: o um é o um quantitativo, e sua qualidade está como
se por detrás. O lado qualitativo do um decai em vários uns – muitos, 2, 3… O
três, por exemplo, está na reunião de muitos uns. Ele é novo porque os uns se
juntam e se atraem em sua mesmidade.
Certamente,
Husserl inspirou-se na Ciência da Lógica de Hegel – e tal livro pode inspirar
uma derivação lógica para a matemática ainda mais profunda. Zero e um são quase
como se únicos, base da lógica computacional.
ABTRATO E
CONCRETO
De um lado,
a matemática é cada vez mais abstrata. De outro lado, cada vez mais concreta, pois,
por exemplo, a posição de um número – álgebra linear etc. – cada vez mais
importa.
TEORIA DO
CAOS
A concepção
determinista e mecanicista entra em crise por vários caminhos, uma revolução do
pensamento ainda incompleta. Nesse sentido, a teoria do caos reforça ou rejeita
a dialética? Vejamos as premissas:
1.
Há ordem no
caos, caos na ordem.
Isso é unidade dos opostos,
dialética pura! Além disso, há sistemas que passam do caos para ordem, para
novo caos, para nova ordem regular, e assim por diante. O próprio caos pode ter
regularidade – a própria ordem pode ser irregular.
2.
As leis
interagem para produzir o oposto da lei, caos, não repetição.
Uma
legalidade pode dar em caminhos diferentes! Isso reforça a dialética unidade de
necessidade (lei) e contingência ou acaso.
3.
O todo não
pode ser analisando separando as partes e tomando-as de modo apenas individual.
A dialética afirma que o todo
possui propriedades que as partes individuais suas não possuem, mas que é
necessário analisar também as partes, suas relações recíprocas e sua história –
para entender o todo (o todo “espacial”, estrutura, mas também processo, no
tempo). Assim, vemos outra concordância, em que não basta o empirismo de
separar as partes e juntá-las apenas externamente.
4.
A
sensibilidade do processo às suas condições iniciais.
Aí
encontramos a historicidade, que o passado é a causa do futuro.
5.
O caos não
se desaba na ordem.
Aqui, parece haver uma
contradição aparente com nossa dialética. Mas o caos é sistemático, tem e
desenvolve própria dinâmica e regularidade-irregular. Além disso, a permanência
do caos é típico de sistemas mecânicos, não dialéticos. Em processos, o caos,
por exemplo, a atmosfera complexa e intratável, produz o furacão, algo regular.
6.
Pode-se
fazer previsões curtas, mas não de longo prazo, pois pequenas variáveis ocultas
no início ganham importância tal que modificam o destino do processo.
7.
Um todo
ordenado tem caos dentro de si.
O marxismo
sabe que uma crise vem a cada 10 anos – mas “mais ou menos”. Se passarmos 10
anos sem crise alguma, podemos dizer que ocorre uma probabilidade crescente de
quebra econômica nos anos seguintes; mas não podemos dizer exato quando e onde
a bolha vai estourar. Uma análise de conjuntura nunca é perfeita simplesmente
porque é impossível saber e medir todas variáveis em jogo – e tal análise deve
ser de “conjuntura”, com possibilidade de caminho do real logo à frente, não
capaz de medir ou antecipar em longo prazo. O processo estrutural é
antecipável; mas o “como” e os detalhes, não. No mais, há marxistas tentando,
genialmente, aplicar a matemática moderna para atualizar O Capital de Marx.
O cosmo
escreve certo por linhas tortas.
A SUPERAÇÃO
SOCIAL DOS MÉTODOS CIENTÍFICOS
Já dissemos
aqui: métodos científicos avançam para depois entrarem em crise por seus
limites, anomalias. Outro modo de ver é que surgem vários métodos alternativos,
como várias teorias químicas ou quânticas conflitantes, até uma vencer a luta
de ideias. No mais, a história supera e funda métodos científicos.
Na
antiguidade, o método científico era, grosso modo, dedutivo. Por quê? Porque
havia poucos dados empíricos, porque havia pouco desenvolvimento de medidas (e
seus instrumentos), porque conheciam pouco o mundo. Assim, confiavam na razão,
na mente, no bom raciocínio – contra a realidade caótica, diversa, instável.
Foi de tal modo que se deduziu: a realidade é estática, o movimento seria uma
ilusão. Até a matemática era buscada como ciência pura, na verdade, lógica e
linguagem – embora pioneiros como Erastóstenes, quem fez medidas muito exatas
da Terra, tenham feito genialidades com tal meio.
O inicio do
capitalismo trouxe consigo um avanço anterior de experiência, conhecimento e
fundaram-se novas medidas. O capitalismo é o reino do quantitativo. Supera-se o
racionalismo grego com o apreço pela empiria, pelo método indutivo, pela
repetição. Newton propõe perceber padrões matematizáveis nos fatos, nos apenas fenômenos
externos.
Mas o método
dedutivo, hipotético-dedutivo e suas variações foram necessários, pois a ainda
falta de dados e métodos modernos sobre os objetos de estudo levaram a
hipotetizar leis, conclusões etc. A criatividade teve de ganhar mais força.
O método
indutivo e a matemática como ferramenta entram em decadência, hoje, porque
temos computadores que bem calculam, melhor coletam dados e melhor percebem
padrões – cabe-nos, então, interpretar, algo apenas humano, ou seja, o método
empírico-dedutivo. Que as máquinas cuidem do pensamento mecânico!
O método
dedutivo, com suas variantes como a popperiana, entra em decadência, hoje,
porque não nos faltam dados, até temos excesso deles, não precisamos apelar
tanto à imaginação arbitrária para criar ou supor novas ideias e conclusões.
Isso dar-se, em destaque, pelo desenvolvimento social técnico. Cabe-nos, então,
deduzir da empiria, ou seja, método empírico-dedutivo.
Os dois
métodos, um mais empirista (indutivo) e outro mais racionalista (dedutivo), são
suprassumidos, superados de maneira positiva, e fundidos. O método
“empírico-dedutivo” nada mais é que a versão “vulgar” do método dialético,
histórico.
Na ciência
da humanidade, o marxismo chegou cedo por dois motivos: 1) muitos dados
empíricos e 2) o objeto é o mais complexo existente. A dialética é o método das
ciências sociais, embora negada na cientificidade burguesa. Agora, outras
ciências aproximam-se. A geologia de base, por exemplo, pratica de modo
instintivo o método empírico-dedutivo.
A evolução
dos métodos científicos vem, grosso modo, da evolução da sociedade. Ademais,
expressa o perfil social – a dialética só será majoritária enfim no socialismo.
Portanto, o capitalismo limita o avanço dos métodos científicos. As condições
sociais e técnicas para o método dialético, agora, existem; ainda que o usem de
modo instintivo, parcial ou deformado. A própria noção clara de que tudo é
história, tudo é histórico, apenas pode surgir quando a história humana passou
por inúmeros enredos e desenvolvimentos, por parte de sua história mesma.
TEMPO
O tempo
abstrato é o tempo concreto (clima etc.) em processo, em movimento, em mudança.
Desde
Einstein, há a coisificação do tempo, que é relação e abstração real, além de
manifestação (da energia, do infinito, do espaço, da quarta dimensão, do
movimento). Não se vê uma cor andando por aí. Por isso, há um tempo geral – não
se avança ou recua no tempo, ambos impossíveis, embora o primeiro seja
considerado real. Quando se discorda de uma concepção científica tão vitoriosa,
tão correta e que dá tantos resultados, costuma-se cair em desmoralização e
ostracismo. A teoria de Einstein está correta, mas incompleta. Porque a Lua
gira em torno da Terra, pensa-se que o Sol também gira desse modo; porque o
espaço existe, pensa-se que também o tempo enquanto “coisa”. Em velocidades muito maiores que a média, o
“tempo” passa mais devagar porque diminui a entropia, o objeto torna-se mais
espaço concentrado.
Com sua
poderosa lógica abstrata – o ser é, o nada não é –, Parmênides “provou” que o
movimento não existe, uma ilusão. Com sua poderosa lógica matemática, Einstein,
entre os maiores gênios da história universal, “provou” que o tempo é relativo,
além de existir. Ora, o fóton mover-se e não se mover, o tempo passar, mas não
passar nele é uma, em lógica, redução ao absurdo – logo o tempo não é.
Vale notar
que o verbo “durar” trata tanto do tempo quanto do aspecto físico, da
resistência. Um objeto (satélite, relógio, luz etc.) em velocidade maior, por
concentração, dura mais durando aparentemente menos.
Adotamos, ao
mesmo tempo em que superamos, mantemos em pé, toda a teoria de Einstein –
atualizada para produzir uma teoria de tudo. O único aspecto deixado de lado é
a relatividade real do tempo, como se fosse um em si. Contra a resistência
conservadora natural de toda superestrutura, não dogmatizamos a autoridade. As
matemáticas físicas de Newton são úteis para nossa escala, são funcionais –
massa a teoria estava errada. Já nossa teoria de que não só se curva o
espaço-tempo, como diz o alemão, mas matéria é próprio espaço-tempo curvado,
para dentro de si, não anula a teoria einsteana como acontece com a teoria de
Newton. O velho já nasce novo.
Talvez, a
premissa errada de Einstein é afirmar que as leis da física são as mesmas – na
forma – se parado ou em velocidade constante, sem aceleração. Mas velocidade e
aceleração são o mesmo, apesar de ainda diferentes (v=at). Assim como na
química a lei falha relativamente em diferentes pressões atmosféricas, em
diferentes velocidades também, com certo desvio da norma, do cenário comum.
UMA HIPÓTESE
INCÔMODA
É difícil
resumir a enorme contribuição revolucionária de Einstein, que tem sido
confirmada pelas atuais e rigorosas medições. Sua teoria, ademais, permitiu
prever o Big Bang, teoria contra a qual ele protestou por algum tempo, e os
buracos negros, que ele pensava ser algo impossível na prática existir. No
entanto, deve-se lançar a questão: e se parte das conclusões de Einstein são,
na verdade, paradoxos científicos-lógicos abertos, não propriamente conclusões?
Por exemplo, para a luz, o objeto mais rápido, o tempo não passa nem o espaço
(isso reforça que movimento = espaço = tempo = etc. com um tornando-se o
outro); isso é um paradoxo a ser resolvido, pois é claro que o fóton de luz
vai-se do Sol para a Terra – mas, do ponto de vista da luz, isso não ocorre! Na
antiguidade grega, dizia-se que o movimento de uma flecha, como todo movimento,
seria uma ilusão ou que Aquiles nunca alcançaria a tartaruga porque sempre
teria um caminho a vencer antes dela. Nesse caso, a ideia moderna de
velocidade, espaço sobre o tempo, resolveu a questão. Talvez tenhamos de pensar
uma nova e agregada teoria do movimento; por exemplo, uma pessoa que gira na
terra sobre a linha do equador tem velocidade diferente de alguém que faz o
mesmo giro no polo norte, pois eles percorrem o mesmo tempo, 24 horas, mas um
espaço diferente na mesma temporalidade. Mas deve existir alguma medida de
movimento que os iguale.
A solução
seria um novo conceito ainda oculto? Talvez. Os homens antigos rejeitaram a
ideia de que a Terra estava girando, pois, se fosse o caso, os pássaros estariam
em apuros com dada rotação – logo o Sol é que estaria em movimento. Eles não
conheciam o conceito de inércia, ou que tudo terrestre está a girar junto, tão
importante para ciência moderna.
TEMPO E
ENTROPIA
A ideia de
entropia está correta, mas é incompleta e relativa – pois é, na essência,
energia em busca de mais energia. Que o tempo e a entropia tenham a mesma
direção leva à intuição de que são o mesmo e ligados. Ora; a maçã decai,
degenera; mas, antes, ela teve de acumular energia, teve de se desenvolver e se
complexificar. O caminho inverso da entropia não faz o tempo andar no sentido
oposto. A entropia não é igual ao tempo, mas à energia e, de modo mais direto,
ao movimento. Há movimento, não em si o tempo. Reforçamos, portanto: entropia
foca na energia, não na matéria, logo não é sinal de complexidade ou
desordem-confusão maior.
TEMPO
O abstrato é
concreto em processo – o tempo é a matéria-espaço em movimento.
O gregos
eleatas negavam o tempo ao afirmarem que o movimento não existe. Agostinho
dizia poder falar à vontade sobre o tempo, mas não sabia dizer o que o tempo é
(conceito consciente com sua natureza enquanto inconsciente social-pessoal).
Newton afirmou que o tempo existe e seria, de alguma forma, absoluto, sem
interação com o mundo, sem ser afetado por ele. Kant afirmou que o tempo é um
conceito criado pelo cérebro, a priori, para organizar os dados do real.
Einstein deduziu que o tempo é espaço – concordamos com ele (para nós, tudo –
energia, tempo etc. – é espaço). E que o tempo é relativo, muda-se. Mas isso exige
interpretação: o tempo é propriedade do espaço? Ou é uma quarta dimensão, ou
também dimensão quarta espacial? Ou o tempo nada é, sendo espaço? Em
velocidades relativísticas a coisa não se deteriora tanto, logo, o tempo não
está só no espaço, logo, também está na matéria mesma! Deduzimos que matéria é
espaço, e vice-versa. O tempo é medida, não uma coisa ou a própria coisa.
Usa-se a
segunda lei da entropia – vai-se de mais para menos energia, cada vez menos
trabalho (transferência de calor e energia em si) pode ser feito, como no
capitalismo e na humanidade em geral –, mas se deveria usar a primeira lei, ou
seja, que nada se destrói ou se cria, tudo se transforma (diríamos, já que o
ser vem do nada ou o ser era como o nada no começo: O nada se cria, O nada se
destrói; pois O tudo, depois, se transforma). No nosso nível algo se desgasta
mais ao mover-se mais, como a máquina, mas algo se preserva ao se mover-se mais
no nível cósmico-quântico – do mesmo modo, talvez a segunda lei da
termodinâmica seja mais complexa em nível macro, pois o universo talvez não
pare num grande vazio frio. O tempo ser relativo é só aparência, pois o tempo é
apenas medida do movimento[29],
isto é, do quanto o objeto preserva a si, a sua energia, com a velocidade. Um
gêmeo à velocidade da luz envelhece nada relativo ao seu irmão na Terra, mas
eles conversam entre si, por emaranhamento quântico, ao mesmo tempo, na mesma
passagem temporal, apenas um preserva-se, decai-se, menos.
Vejamos uma
prova. Tornou-se famoso o caso de um homem cuja cabeça esteve, por acidente,
dentro de um acelerador de partícula de altíssima energia; esta passou por ele;
e o resultado é que uma parte de seu rosto não envelhece, como se tivesse
parado no tempo; mas foi, descobrimos, apenas efeito do contato energético; o
seu rosto no “passado” não está no passado, está no presente. Porque temos
memória e temos expectativa (ansiedade etc.), porque há causa e consequência,
deliramos existir passado e futuro, não presentismo.
CAUSALIDADE
Bunge
defende que a causalidade é base da ciência e deve ser, portanto, defendida.
Tudo bem: mas qual causalidade? Hegel suprassume a ideia de causa e efeito por
efeito e contra-efeito, por causalidade recíproca – enfim, por interação!
Assim, a economia influencia a cultura e esta, a economia (Bunge, que não
entende bem de marxismo, mas se pôs a falar sobre, não percebe isso em sua
crítica a Marx e sua tradição). O processo de ida e volta é movente,
desenvolvedor, além de contraditório como contradição enquanto causa do
movimento em geral. Além disso, aquilo que está dentro da causa passa a estar,
depois, dentro do efeito.
A ideia de
acausalidade de Jung é revolucionária apenas no sentido de ser uma nova e
original contribuição – errada… Coincidências acontecem, influências
inconscientes do ambiente acontecem. Nem tudo se mede por probabilidade rara de
acontecer ao mesmo tempo: um astronauta não pode confiar na probabilidade
baixíssima de um lixo espacial acertá-lo dado o grande tamanho do espaço
sideral, pois o aleatório não se limita à matemática com sua exatidão numérica.
No mais, se consideramos os relatos de Jung sobre as muitas coincidências
enquanto corretas, verdadeiras, elas podem esconder apenas que os diferentes
fatos têm uma origem comum, uma base, uma circunstância, um padrão, uma só
condição comum – além dos acasos muito prováveis, mas na aparência improváveis.
A causa
mecânica existe, afinal, máquinas existem… Mas em sistemas orgânicos a
causalidade é muito mais complexa, como a mesma causa produzindo efeitos
contrários aqui e ali; causas opostas produzindo o mesmo efeito, aqui e ali.
Aliás, a
causalidade vulgar de uma causa que tem uma causa, que tem uma causa, que em
uma causa – deve explicar a causa primeira. Como dissemos, ela foi, uma
totalidade “causal”, o caos da relação do vazio com o seu infinito interno, um
acidente, uma causa acidental, uma concessão da probabilidade.
Kant também
foi outro ousado equivocado: insistiu na ideia já existente que a causalidade é
uma forma subjetiva, humana, cerebral para dar ordem ao que não a tem, o mundo…
Seria apenas método, gnosiológico. A ciência refuta-o todos os dias, no seu
cotidiano.
Einstein e
Born, dois dialéticos e socialistas, os melhores de suas gerações de gênios,
militaram contra o positivismo da interpretação “correta” de Bohr, que apenas
via o externo, as regularidade empíricas, dava forma de cálculo às
manifestações; pois, supostamente, assim é se assim (a)parece. Por isso, caíram
no acaso (que nada mais é que o outro lado, oculto, da causalidade, este como
se por detrás), ou seja, na probabilidade incerta e inconstante. Mas o caos
apenas expressa a lei e a ordem subterrâneas. A crise da física é uma crise
científica geral ainda não devidamente reconhecida – crise da cientificidade
burguesa, que se esgotou. Para fins industriais, as interpretações positivistas
são úteis ao se limitarem à manipulação do real, sem compreendê-lo. Mas a
essência é a causa da aparência – ir ao invisível e ao não empírico já! Se com
sorte, nossa formulação anterior de teoria de tudo pode, com correções, ser a
base do fim de tal crise, que ainda precisa de uma revolução social…
Há uma
causa, que interage externamente com diferentes causas – que se anulam, que se
impulsionam, que se contradizem, que se combinam. Enfim, comum haver, entre
elas, uma causa única comum.
O todo é a
causa das partes – as partes, e suas relações, são a causa do todo.
Alguns
afirmam que a relatividade de Einstein permite que o efeito venha antes da
causa. Confundem manifestação e essência. Na essência, ocorre causa antes e
efeito depois; mas a coisa pode aparecer invertida, na aparência. Isso
acontece, por exemplo, em economia, quando a subida de juros, consequência da
crise iniciando no subterrâneo oculto, aparece na economia vulgar, positivista
e que vê apenas o nexo externo, enquanto causa da crise mesma.
Born
demonstrou que, se vemos numa perspectiva mais ampla, o acaso é uma expressão
da causalidade. Lukács demonstrou que as muitas partes de uma totalidade
interagindo em causalidade recíproca pode gerar relações ao acaso, acidentes de
relação. Desde a teoria do caos, podemos incluir, demonstrar: as leis causais,
necessárias, produzem o caos, e as contingências, o acaso como totalidade. As leis inerentes ao capitalismo produz um
sistema irracional.
Dado tal
conteúdo pesado, vejamos um caso comum, de valor popular: quem veio antes, o
ovo ou a galinha? O raciocínio semifixo pula de um para o outro, sem conseguir
se decidir. Falamos de um ovo de galinha e de uma galinha de ovo de galinha.
Pois bem, resposta: o processo de formação da espécie galinha é, também, o
processo de formação de um ovo para si, de galinha, que “produz” e comporta a
espécie… Tudo parece melhor, mesmo na vulgaridade, quando treinamos o
raciocínio dialético, em movimento. Na verdade, tal caso popular guarda em si
uma grande questão abstrata.
SIMULTANEIDADE
A gravidade
move-se na velocidade da luz. No social, as crises sistêmicas diferentes, do
ponto de vista externo, amadurecem juntas, porque suas bases, a economia, a produção
em principal, amadurecem. Se todas as partículas são espaço condensado, logo o
surgir de uma altera instantaneamente, simultaneamente todo o universo, que é
um só tecido. Assim como concentrar parte de um lençol esticado altera todo o
objeto, ao mesmo tempo. Linhas de espaço ou de campo específico unem dois ou
mais fótons, emaranhados quanticamente, alterando um ao mesmo tempo em que se
muda o outro.
O FIM DO
PARADIGMA ARISTOTÉLICO
As ideias de
Aristóteles tiveram sucesso milenar, passando por toda a Idade média como
teoria majoritária sobre o mundo. Mas a ciência moderna e contemporânea
significa a superação de tal paradigma, que é baseado no inocente “basta olhar”
ou “se assim aparece, assim é”.
Dante inicia
o enfrentamento ao aristotelismo afirmando que uma obra aonde o conteúdo não é
comédia tem a estrutura, a forma, de comédia. Assim, subverte a estética de
Aristóteles. Depois, Cervantes tornou o conteúdo da comédia alta literatura,
nada vulgar, diferente do que pensava o antigo.
Segundo, o
grego afirmava que o estado natural das coisas e do mundo é o repouso. Mas
Galileu demonstrou que o repouso é forçado e o movimento é natural.
Terceiro,
afirmou que a física excluía a matemática e, assim, o quantitativo. Newton
consolidou a revolução de Galileu e Copérnico com sua obra Principia, que
matematizou o mundo. Ainda hoje temos o erro oposto, isto é, considerar o
quantitativo sem o qualitativo e suas mudanças. Além disso, provou, contra
Aristóteles, que as leis da Terra e do Céu são as mesmas, não diferentes no
fundamental.
Para
Aristóteles, cada coisa tinha seu lugar natural por seu peso, por isso o ar
ficava acima da terra. Mas os conceitos abstratos desenvolvidos de líquido,
sólido e gasoso, além de plasma, superaram a visão de líquido igual à água.
Kant disse
que ao menos a lógica formal, aristotélica, A=A, o princípio da não
contradição, estava preservada no seu tempo e para sempre. E eis que entra em
cena Hegel ao, ao guardar e manter o passado, descobrir a lógica dialética, A=A
e não-A, e a ideia de que o mundo objetivo é autocontraditório, em movimento e
em contexto. Ademais, superou a separação aristotélica de ontologia
(metafísica) em um canto e dialética em outro.
Outra
concepção resiliente foi a ideia do mundo enquanto mecanismo ou máquina. Assim,
passamos das esferas cristalinas universais, que governavam o mundo para os
medievais e antigos, para uma concepção coisal do universo. Apenas o
hegelianismo e o marxismo fizeram um combate de frente contra tal visão, defendendo
o “todo orgânico” em desenvolvimento e em processo mais do que circular
repetitivo. A física e a química desde o século XX também têm dado grandes
aportes novos sobre.
Para
Aristóteles não existia o “espaço”, havia apenas o “lugar” concreto. Porém, Einstein
demonstrou a concretude espacial.
A concepção classificatória dos seres, por
características comuns, elevada por Aristóteles foi substituída pela
cladística, que organiza os seres biológicos segundo a teoria da evolução, ou
seja, segundo sua história evolutiva.
Até o fim da
primeira metade do século 20, até anteontem, continuou em pé a hipótese
aristotélica do éter, meio por onde a luz fluiria. Mas, sabemos hoje, há pouco
tempo, que tal substância não existe, descartada. Nesta obra, incluímos o espaço,
não o campo, enquanto meio e meio da luz.
Em resumo, a
ciência atual é a refutação da construção aristotélica, baseada nas aparências.
As ideias de Aristóteles pareciam, assim, autoevidentes. Por exemplo, um corpo
pesado cai naturalmente mais rápido que um corpo leve – no entanto, sabemos que
isso se deve ao atrito e resistência do ar; no vácuo, caem quase exato ao mesmo
tempo, com desprezível diferença.
Nesta obra,
uma das formar de superar Aristóteles é separar, de vez, metafísica da reflexão
sobre algum Deus ou algo do tipo.
TRABALHO,
LINGUAGEM E SOCIABILIDADE
Demonstramos
antes, em nossa metafísica, que trabalho é uma categoria central de todo o Ser,
não apenas no ser social, não apenas trabalho humano. Assim, o ser imediatamente
anterior ao o primeiro humano já trabalhava, como trabalho biológico, como
animal. Lukács afirmou que o trabalho (humano, social) é fundante do ser
social. Mas como surgiria aquilo que dele depende e de que ele também tem
dependência – a linguagem e a sociabilidade? A resposta dele foi esta: os três
sugiram juntos, ao mesmo tempo, mas todos de modo leve, inicial, primário – e
foram, então desenvolvendo-se reciprocamente, com o trabalho como “centro”, ou
primeiro motor na prática. Pois bem; essa forte hipótese pode ser contraposta
por outra, que aqui apresento: de modo leve e inicial, a sociabilidade e a
linguagem humanas sugiram antes de trabalho (humano), dando condições, então,
para este último surgir. Depois de iniciado o trabalho humano, apenas depois
disso, ele passou a ser de fato o centro e o centro desenvolvedor principal da
linguagem e da sociabilidade, cada vez mais complexos por seus lastros no
trabalho social (além, é claro, da ação recíproca entre eles, deles). Após a
ação da linguagem humana e da sociabilidade, o trabalho natural torna-se
trabalho social, humano, mais ainda “central” e fundante. Para clarear, vejamos
outro caso. Se não tivéssemos dados empíricos sobre a origem do capitalismo,
naturalmente teorizaríamos que o comércio, o dinheiro e a produção de
mercadorias surgiram ao mesmo tempo e juntos de modo leve, de modo primário…
Mas não foi o caso: o comércio e, depois, o dinheiro surgiram antes, dando base
material para surgir, apenas daí, o “centro”, ou seja, o trabalho produtor de
mercadorias e assalariado e a produção capitalista. Dialética: os pressupostos
tornaram-se, então, postos – o posto torna-se, logo, pressuposto. O trabalho é
de fato o “centro” e o fundante, mas sua história tem uma pré-história mais
complexa.
O processo
concreto apenas pode ser descrito pela pesquisa arqueológica e antropológica –
se for possível. Todo início tem sua dificuldade de compreensão: como surgiu o
universo? Como surgiu a vida? Como surgiu o ser social? A distância, a
simplicidade e a falta de dados empíricos complicam toda a pesquisa. Deduções,
argumentos e generalizações passam a ter importância vital. O simples é, assim,
o complexo. A religião baseia-se em tal ignorância parcial para afirmar-se, até
mais uma vez ser superada. Sabe-se que as condições para a vida, por exemplo,
exige muita energia, um meio solvente (água) e compostos moleculares ricos,
possivelmente baseado necessariamente em carbono, que é capaz de fazer as
corretas ligações atômicas. O resto são hipóteses bastante corretas,
correspondentes: energias termais do fundo do oceano, atmosfera ativa e com
raios, raios cósmicos etc. Não temos como, de início, o início não ser confuso.
METÁFORA E
COISA
Muitos
cientistas apelam para a metáfora como meio de explicar, mas logo o exemplo
imaginativo torna-se exemplo supostamente real, exemplar – eis o fetichismo na
ciência. Na outra ponta, Kant e Hegel são contra exemplos, pois, dizem, deve-se
acessar a ideia pura, mas ambos acabaram por exemplificar inúmeras vezes. São
duas armadilhas. Vi um ótimo divulgador científico afirmar que a entropia é
aumento de desordem (não é, na verdade, pois o foco é na energia, não na
matéria) com o exemplo de um prédio explodir e ser impossível reunir seus
pedaços. Outro caso é o da maçã que degenera, apodrece. Ora, se o universo se
reúne novamente e reinicia-se, se a maçã teve antes de surgir, desenvolver-se e
amadurecer-se; logo a entropia é e segue válida, mas também à, acima, energia
em busca de mais energia. Temos o paradigma da coisa, ou melhor, da mercadoria,
quando se quer usar um objeto, como máquina ou computador, como paradigma, ou
mesmo algo sensível e direto. Um dado, porque não conhecemos e não temos a
medida de todos os fatores, é apenas um jogo aleatório, de acaso, não
probabilístico. Para nós, reina o acaso, mas há uma causalidade complexa oculta
no seu jogo (o acaso é a causalidade por acidente, acidental – o abstrato é o
concreto em processo). Por outro lado, a probabilidade é como conseguimos
acessar a realidade, que é determinística de modo oculto, no fundo, difícil de
acessar. Peguemos o caso dos pedaços do prédio e transformemos cada parte, por
salto, em pedados de universo, em galáxias ou aglomerados de galáxias; ora,
esses “pedaços” serão atraídos uns pelos outros e formarão, de novo, algo uno,
reiniciarão o universo em nova geração universal, por repulsão nova após a
atração.
No mais, há
um desafio que pode, talvez, mesmo renovar ainda mais a dialética, para além do
que este livro fez. Olhando nossa geração universal, vemos que o mundo vai do
simples ao complexo. Mas pode ser que ele vá, também e depois, do complexo ao
simples (diz-se que um buraco negro é bastante simples). Vemos, assim, apenas a
aparência e metade da verdade, pois a entropia, correta, também tem energia em
busca de mais de si.
MECANICISMO
E TRABALHO
A realidade
é um sistema orgânico: tem causalidade recíproca, mudanças qualitativas,
contradição, desenvolvimento etc. Mas a ciência moderna caiu no mecanicismo
determinado, ou seja, a realidade seria como certa máquina repetitiva, sem
mudanças qualitativas, sem contradição, apenas ordem, fixa etc. O erro tem
origem no nível da ciência naquele, daquele, tempo. Segundo Born, caiu-se,
termo dele, no mecanicismo indeterminado, ao a física quântica negar a
causalidade dentro do acaso (a identidade dos opostos, acaso é, visto no mais
amplo, algo causal), ao não considerar o qualitativo e seus saltos etc.
O
mecanicismo fez escola. Aristóteles adotou o trabalho artesão como seu modelo,
algo próprio do mecanismo. Assim, um deus artesão formou o universo, um
primeiro motor imóvel. Daí que ele tenha pensado, desde o mecanicismo do
trabalho, as suas quatro causas (matéria, forma, causa, teleologia ou
finalidade). O trabalho também afetou Hegel com sua versão de unidade e identidade
sujeito-objeto (nesse formato, válido apenas à arte e à psicologia –
apresentamos outro “modelo” em capítulo anterior); daí, também, pensar que a
razão, a planejadora do trabalho, é o que move a realidade, o Espírito absoluto
hegeliano.
Lukács cai
no mesmo erro mecanicista do trabalho, reduzindo-o ao social, por isso pensando
a teleologia como apenas subjetiva, algo da pré-ação humana. Não viu a
teleologia objetiva e inconsciente. O marxismo cai nesse erro quando deixa de
ver que a causalidade é recíproca, colocando a economia ou a produção como
centro absoluto de tudo sem mais.
O PRIMEIRO
MOTOR
Lukács cai
em idealismo ao considerar a razão ou a idealidade como motor primeiro, sendo a
categoria central do trabalho a teleologia. Para ele, focado nesse indivíduo
que faz a história, pensamos em fazer o machado; então, fazemos o artefato;
então, mudamos o meio ambiente, o mundo; então, o mundo nos muda; então, o novo
ambiente exige de nós uma segunda teleologia. E assim por diante o processo
repte-se, circular-espiral. Ora, a consciência é a busca permanente do
permanente na mudança. É porque a realidade muda, que a mente eleva-se de seu
patamar anterior. Uma mudança forte e inesperada do real, força a ainda buscar
o permanente – o que é base para a criatividade. O primeiro motor é o mundo.
Como isso acontece, apenas a pesquisa e a antropologia especializada poderá
dizer. Vejamos casos hipotéticos. Uma mudança de clima em todo o mundo, seja
por abundância seja por escassez, permite à mulher coletora na antiguidade
pré-histórica perceber que da semente nasce a planta nova, o que inicia a
agricultura. No mundo todo, a agricultura surgiu na mesma época, o que sugere
uma causa comum (um clima que força ou, ao contrário, favorece perceber com
rapidez a causalidade semente-árvore). O mundo força a teleologia ou dá suas
condições.
CRÍTICAS
CONTEMPORÂNEAS À METAFÍSICA
Mostramos
que a metafísica materialista supera bem as objeções kantianas. Mas cabe algum
espaço à crítica comum. Vejamos, então, os principais autores.
Friedrich
Nietzsche. Sua crítica era contra o mundo duplicado metafísico (mundo das
ideias e formas contra o mundo da matéria etc.). Ele e o marxismo[30],
afirmam a unidade do mundo. Mas a unidade, na dialética, não nega a diferença e
a duplicidade dentro de si, ao mesmo tempo. O outro lado é, dissemos, à maneira
de uma quarta dimensão.
Não por
acaso, ele é o pai do irracionalismo filosófico.
Martin
Heidegger. Denunciou que a filosofia afastou-se do Ser, mas, ao focar nele, o
separa do ente. Depois, de modo arbitrário, coloca o homem, o ser-aí, como a
expressão direta de todo o Ser. Na dificuldade, apostou na quebra da linguagem.
Ele não entende quase nada da ciência de sua época, não viu na cientificidade a
pista para uma nova metafísica, correta em seus aspectos gerais.
Analíticos.
Tal escola atua para, na prática, destruir a filosofia. Negam as questões de
ontologia, ou seja, de metafísica, e afirmam que a tarefa do filósofo é
meramente esclarecer conceitos… Em vez de darem um passo à frente, logo quando
a metafísica pode concluir sua história universal, dão passos atrás.
Positivismo.
O mau cientificismo acusa a metafísica porque confiam apenas naquilo
diretamente verificável, empírico. Não veem que do empírico partimos para o não
empírico, que da física chegamos à metafísica, que o argumento sustentável
também faz parte da verdade na ciência (neste caso, por exemplo, se o Ser é
possibilidade de ordem e finito, o Nada anterior é, ao contrário, vazio
infinito e caótico). O positivismo mereceu sua crise, pois nem tudo são as
aparências com suas leis apenas externas.
Como vemos,
os críticos atuais da metafísica não são boa companhia, atrasam o
desenvolvimento científico e filosófico.
AS DUAS
OPOSIÇÕES CIENTÍFICAS
Desde a
vitória do retumbante materialismo sobre o idealismo; duas oposições surgiram,
ganharam relevo maior: 1) reducionismo contra dialética; 2) substancialismo
contra relacionalismo.
O
reducionismo diz que o todo nada mais é que a mera soma de suas partes, que
algo pode ser reduzido aos seus elementos básicos constituintes, que as partes
são iguais, que não há mudanças de qualidade. Já a dialética afirma que as
partes são elas mesmas e suas interrelações recíprocas, que o todo tem
propriedades que as partes isoladas não têm, que as partes são qualitativamente
diferentes umas das outras e operam saltos qualitativos, que as partes ganham
novas funções no todo quando deixadas de ser observadas isoladamente. A
realidade é como um organismo vivo, orgânico, incluso com história, não como
certa máquina ou qualquer objeto.
O
reducionismo, enquanto premissa errada, pode fazer avançar a ciência – mas só
até certo ponto, quando encontra uma parede intransponível. A genética cresceu
muito de modo reducionista, por exemplo.
Bunge fala
em “sistemismo”, sua suposta descoberta. Ele funde, de maneira dialética, mesmo
sem reconhecer isso, o holismo, que foca no todo, e o reducionismo, que foca
nas partes, nos elementos individuais, no atomismo. Usa ambos. Pois bem; ele,
sem o querer, plagiou Hegel… Até o nome é o mesmo: o alemão nomeia “método
sistemático” ir das partes até o todo, do abstrato (isolado, individual) até o
concreto (totalidade rica, integrada). É como aprender vogais primeiro,
consoantes depois, sílabas em seguida, palavras após, frases logo, texto
completo posteriormente… Do abstrato ao concreto. No Mais, Bunge deixa de ver a
história tanto das partes como do todo, que deve ser vista, além das leis
históricas como as gerais. Como poucos leem A Lógica de Hegel, menos ainda
entendem, menos ainda devoram os três livros até o final; poucos sabem que o
método do abstrato ao concreto, sistêmico, tratado por Marx como seu método já
está exposto ao mundo pelo outro alemão, no final de sua grande obra.
Quanto à
oposição unilateral entre relacionalismo e substancialismo, este livro supera
ambos em quase todas as suas páginas. Assim, o espaço e a massa seriam ou
relacional ou substâncias; a essência humana seria ou relacional ou
natural-substância; seríamos determinados pela biologia e genética ou pela
construção social; a realidade humana seria materialista ou idealista; a
psicologia seria relação homem-homem ou homem-objeto; a crise sistêmica seria
econômica ou baseada na urbanidade elevada; o centro seria as forças produtivas
ou as relações de produção; etc.
Vale notar
que as oposições científicas costumam estar acompanhadas por posições políticas
e visões de mundo opostas, mesmo nas ciências naturais. Daí que Margaret
Thatcher tenha dito, ao modo reducionista, que não há sociedade, apenas
indivíduos. Daí que a classe trabalhadora inglesa, ao modo dialético, tenha se
reunido para comemorar sua morte nas ruas.
SUBSTANCIALISMO
E RELACIONAISMO
A ciência e
sua filosofia caíram em duas teses unilaterais e opostas, a de substância e a
de relação. Assim, a massa ou é substância ou relacional, o espaço existe de
modo absoluto ou é apenas expressão de relações, a evolução das espécies é ou
relaciona (lamakismo) ou genético. O substancialismo chegou a pensar que o
calor seria uma partícula calorífera.
Em
Aristóteles, em sua metafísica, tal oposição limitante já existia:
Mas, é absurdo dizer que são os mesmos para tudo:
de fato, dos mesmos elementos derivam tanto as relações como a substância. E
qual poderia ser esse elemento comum? Além da substância e das outras
categorias não existe elemento comum; o elemento existe anteriormente àquele de
que é elemento. Na realidade, nem substância é elemento das relações, nem
qualquer uma das relações é elemento da substância.
Pode-se
perguntar se são diferentes ou idênticos os princípios e as causas das
substâncias e das relações e do mesmo modo para cada uma das outras categorias.
A teoria
substanciaista do espaço de Newton imperou por muito tempo, mas começou a ser
superado por Einstein ao se descobrir, a partir de suas teorias, que o espaço
curva-se em relação com a matéria e movimenta-se. Neste livro, a ideia de que a
matéria e a luz decaem em espaço visa superar também a oposição limitante entre
substancialismo e relacionalismo.
A verdade
está no terceiro “excluído”. É verdade que somos, por exemplo, determinados
pela genética, mas também é verdade que o ambiente nos altera reativamente. Os
descendentes de um povo que passou fome tende a ter mais capacidade de acumular
gordura.
CIÊNCIAS
FETICHISTA E RELACIONALISTA
Em outro
livro, expomos os dois erros impressionistas e unilaterais que parece caírem
todas as ciências de todas esferas do ser – inorgânico, biológico e social: a
teoria fetichista e a teoria relacionalista. A verdade está em um terceiro que
superar tal oposição. Pensa-se a massa como propriedade relacional, o espaço
como apenas relacional, o comportamento como apenas relacional (social) ou
apenas natural etc. Lembramos que a palavra fetiche aqui de modo algum tem o
significado comum do cotidiano; é prender-se em demasia ao empírico e tomar
como natural, propriedade da coisa, algo que tem outra origem; o ouro tem um
valor dado socialmente, pelo tanto de trabalho exigido para sua extração, mas
parece ser seu valor uma propriedade natural dele, como se brotasse junto da
terra; outros pensam, erro oposto, que o valor das mercadorias tem origem
relacional, da comparação entre elas. Marx começa O Capital exato contra as
duas unilateralidades. Vejamos o caso da física: o espaço e o tempo são
relacionais, como pensava Leibniz, ou substâncias absolutas, atributos de Deus,
sem origem nem fim, como pensava Newton? Nem um nem outro. Einstein começa
resolver a polêmica, pois 1) o espaço e o tempo são apenas um, 2) o
espaço-tempo é relativo, 3) sofre efeitos da matéria, pois tudo este
interconectado, mesmo que fracamente. Além disso, hoje sabemos que o espaço
está em movimento – e por quê? Penso ajudar em mais um passo na polêmica,
resolvendo os opostos, com a concepção de espaço-matéria, pois o espaço-tempo
não é absoluto e sem história, a matéria torna-se espaço, o espaço condensado
torna-se matéria. Parece que a questão foi resolvida em seus aspectos centrais.
A matéria-luz (energia), por meio do trabalho, decai em espaço. Pensava-se que
a evolução das espécies vivas era relacional, como se a girafa esticasse o
pescoço porque a comida está alta demais nas árvores; depois, caiu-se no erro
oposto da pura genética e no darwinismo social. Hoje, é fato que há mudanças,
ainda que apenas parciais, causadas pela experiência paterna (pais que passaram
fome têm filhos com maior tendência a reter energia no corpo) ou ambientais
(tese: nossa genética total tem partes mais firmes, que não mudam tanto ou com
facilidade, juntas com partes mais maleáveis, com mais riscos, com mais imprecisão
e menos essenciais). Além disso, certa mutação genética aleatória deve ser
afirmada ou reprovada pelo meio ambiente; uma positiva mutação em si, como a
mudança de cor da pele que melhor camufla, pode gerar reação da mãe do filhote
mutado, matando-o. Isso significa que há um trabalho genético de DNA, RNA, de
gene, de cromossomos que regula a existência (além disso, sabe-se, ou melhor,
suspeita-se na ciência recente que uma parte do material genético é mais “duro”
e o outra, menos “protegida”, menos “conservada”). Eis que o trabalho atua contra o relacionalismo e
o fetichismo!
Em geral, a
resolução das teses opostas vindas de teóricos marxistas conflitantes,
aconteceu superando, também, o relacionalismo e o fetichismo (substancialismo).
Por exemplo: Kondratiev pensava ciclos longos do capital determinado apenas por
questões objetivas, mecanicistas, mais ou menos de 50-60 anos – fetichismo; na
outra ponta, Trotsky pensava que não havia temporalidade, sequer tendencional,
nos ciclos longos, pois passava as mudanças e as ações das superestruturas e da
luta de classes – relacionalismo. Ambos acertam e erram, são unilaterais,
embora Trotsky tenha sido mais sofisticado; isso significa que há uma tendência
de 100 anos para cada macrociclo, que inicia na fase de “transição”, não do
ascenso, e com a correspondente
revolução industrial. O marxismo também caiu no fetichismo e no relacionalismo
entre aqueles que colocam prioridade às forças produtivas ou, ao contrário, às
relações de produção. Isso produz os marxismos unilaterais, uma disputa entre
economicistas e sociológicos. Superando os dois extremos, vê-se que eles são
juntos, ambos centrais, e apenas a análise concreta pode dizer o peso de um ou
outro na prática. Assim, a oposição entre forças produtivas e relações de
produção é unificada por Marx no conceito modo
de produção.
O
relacionalismo nas ciências humanas revela-se, em principal, com o
pós-modernismo, que afirma “tudo é construção social”, que a essência humana é
fruto apenas do ambiente, que nosso aspecto biológico é neutro etc. Na outra
ponta, retornam elementos teóricos de biologismo, geneticismo etc.
Para irmos
ao próximo ponto, levantemos ainda duas questões internas. As partes e o todo
fazem com que o todo seja mais do que a mera soma e união das partes, pois ele
é tanto as próprias partes (substância) e suas interações (relações), estas não
existiriam sem aquelas. Os marxistas usam a frase de O Capital: o capital não é
coisa, mas relação social por meio de coisas. Ora, isso não anula de modo algum
o papel das coisas, pois se é por meio delas, e elas são historicamente
específicas da época do capital. Marxismo, quando acerta o alvo, não é
relacionalismo, pois é sua suprassunção.
Vejamos
algumas das oposições tratadas nem neste livro:
SUBSTANCIALISMO |
RELACIONAISMO |
Por leis objetivas o capitalismo será substituído
pelo socialismo |
O capitalismo apenas cai se for conscientemente
derrubado |
As forças produtivas impõe a robotrização |
As relações de produção imperam |
Há a queda da taxa de lucro para níveis baixos
absolutos |
Há queda do investimento |
Os macrociclos do capital são fixos |
Os macrociclos do capital tem duração dependente
de fatores extraeconômicos |
O dinheiro é endógeno |
O dinheiro é exógeno |
Por estar na produção, as revoluções socialistas
será de liderança operária |
Por seu grande número e concentração, as
revoluções socialistas serão de base popular e urbana |
O socialismo caiu por fatores objetivos |
O capitalismo foi restaurado por ação da
burocracia |
A essência
humana é natural |
A essência
humana é histórica |
A noção de
beleza é natural |
A noção de
beleza é social ou individual |
A
homossexualidade é natural |
A
homossexuaidade é social |
As falsas
notícias são fruto da tecnologia |
As falsas
notícias são fruto do meio vigente |
O homem é
determinado pela biologia |
O homem é
determinado pelo meio |
O central
são as forças de produção |
O central
são as relações de produção |
Há o fim
do trabalho |
Há
permanência do trabalho |
A vitória
da revolução depende, em última instância, das lideranças, incluso
individuais |
A vitória
da revolução depende de fatores objetivos, podendo ser liderada, portanto,
por figuras e por organizações menores. |
Para ver a
resolução desses opostos unilaterais, convido à leitura do livro A crise
sistêmica, deste autor.
MARX ENTRE O
RELACIONALISMO E O SUBSTANCIALISMO
Em outros
momentos desta obra, explicamos como o bom marxismo supera a oposição entre
relacionalismo e substancialismo, ambos unilaterais. Lógico que há relações,
que não são coisa, e que há substância, mas é comum uma “terceira resposta” nos
objetos de estudo mais complexos.
Nesse
sentido, vejamos um erro imenso de Rubin. Para ele, o trabalho abstrato não é
trabalho, substancial, mas relação feita na troca, algo sociológico. Assim, o
trabalho só se torna abstrato no comércio, pois é aí que os trabalhos concretos
são igualados, possuem valor (ver-se outra oposição do tipo; ora, o valor surge
apenas na produção, mas se revela e só se realiza apenas na circulação, ambos
baseiam o valor).
Como se
fosse nada, Rubin se vê forçado a citar trechos onde Marx associa trabalho
abstrato com atividade de trabalho:
“Se prescindirmos do caráter concreto da atividade
produtiva, e portanto da utilidade do trabalho, o que permanece dele em pé?
Permanece simplesmente, o ser um dispêndio de força de trabalho humana. O
trabalho do alfaiate e do tecelão, ainda que representem atividades produtivas
qualitativamente distintas, tem em comum o ser um dispêndio produtivo de
cérebro humano, de músculos, nervos, braços etc.., portanto, neste sentido, são
ambos trabalho humano” (C., I p. 11). (…) “Todo trabalho é, de um lado,
dispêndio de força de trabalho humana sob uma forma especial e voltada a uma
finalidade e, como tal, como trabalho concreto e útil, produz valores de uso”
(C., I, pp. 13-14). (Marx apud Rubin, 1987, p.
150)
Mas, no
lugar de ir para frente, aceitar as palavras de Marx, Rubin vai para o lado
como um caranguejo. Ele não vê que o uso da força de trabalho, que é natural,
ainda que socialmente modificada ou desenvolvida, faz, com o trabalho, a
mediação do social e do natural. Ele coloca uma parede entre o social e o
natural neste aspecto:
De duas coisas, uma é possível: se o trabalho
abstrato é um dispêndio de energia humana em forma fisiológica, então o valor
possui também um caráter material reificado; ou então, o valor é um fenômeno
social, e o trabalho abstrato deve ser entendido também como um fenômeno
social, relacionado a uma determinada
forma social de produção. (Idem, p. 151)
Então, cai
na oposição não dialética ou-ou, ou isto ou aquilo, como se não houvesse um
“terceiro excluído” a incluir. Ele salta do natural ao social, sem mediação.
É curioso
como Rubin se vê forçado a citar Marx contra ele mesmo, mas ainda insiste no
relacionalismo puro. Diz o fundador do marxismo, afirmando que o trabalho
abstrato existiu por eras, mas a diferença atual é que se consolidou, contra o
argumento “historicista”, como algo apenas de nosso tempo:
“(… )Assim,
a abstração mais simples, que a Economia moderna situa em primeiro lugar e que
exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só
aparece, no entanto, nesta abstração praticamente verdadeira como categoria da
sociedade moderna” (Marx apud. idem p. 161)
Rubin finge
que não vê, diz que não foi nada – e leva mais socos. Vamos agora à
demonstração de que Marx, de modo implícito, não explícito, ainda que com
passos tortos, evita cair no relacionalismo ou no substancialismo, neste caso
abarcando ambos. Vejamos a nota de rodapé produzida pelo autor criticado:
Na primeira edição alemã de O Capital, Marx resumiu
a diferença entre o trabalho concreto e o abstrato da seguinte maneira
“segue-se do que dissemos que uma mercadoria não possui duas formas diferentes
de trabalho, mas um único e mesmo trabalho é definido de maneiras diferentes e
mesmo opostas, conforme esteja relacionado ao valor de uso das mercadorias como
seu produto, ou ao valor mercantil como sua expressão material” (Kapital, I,
1867, p. 13; grifos de Marx). O valor não é produto do trabalho, mas uma expressão
material, fetiche, da atividade laboriosa das pessoas. Infelizmente, na segunda
edição Marx substituiu este resumo que destaca o caráter social do trabalho
social pela bem conhecida sentença conclusiva da Parte 2 do Capítulo I, que deu
a muitos comentadores uma base para compreender o trabalho abstrato num sentido
fisiológico: “todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força humana de
trabalho no sentido fisiológico” (C., I, p. 13). Parece que o próprio Marx
percebeu a inexatidão da caracterização preliminar de trabalho abstrato que
dera na segunda edição de O Capital. Prova notável disso é o fato de que na
edição francesa do Livro I de O Capital (1875), Marx achou necessário completar
essa caracterização: aqui, na página 18, Marx deu simultaneamente ambas
definições de trabalho abstrato…” (Idem,
p. 163)
Assim, ele
quase percebe o que está diante de seu nariz, mas recua – nem relacionalismo
nem substancialismo. Rubin diz que até o valor é relacional, algo da troca. Não
uniu produção (substância) e mercado (relação), tornou-se unilateral. Além
disso, o trabalho social é trabalho também individual como necessidade natural
do homem, algo desconsiderado por Rubin.
Não é
suficiente ter olhos para ver – aceitar dói mais. Toda a genialidade de Rubin
sucumbe ao adotar premissas, como a sociológica e a relacionalista, no lugar de
criticar-se desde o objeto.
O abstrato é
o concreto em processo – o trabalho abstrato é o trabalho concreto em processo,
ou seja, no tempo (processo) e como gasto de energia de trabalho (processo).
Hegel afirma
na sua Lógica: aquilo que está na causa continua-se, transfere-se, na
consequência. Ele cita a água da chuva que passa para o chão agora molhado,
ambos com água. Assim, o trabalho abstrato, a energia de trabalho, passa para a
mercadoria como valor. O trabalho abstrato, como gasto e transferência de
energia humana (abstrato), é causa do valor. Rubin conclui suas observações
citando Marx, quando este afirma que se todas as empresas aumentassem a
intensidade do trabalho ao mesmo tempo e da mesma forma, nada mudaria, o valor
expresso em dinheiro nas mercadorias seria o mesmo, nem mais nem menos. Ora,
isso não acontece, pois a regra e a realidade é alguma empresa ou setor
aumentando a intensidade por si, de modo desigual em relação a outras empresas
e setores. O tempo de trabalho socialmente necessário como medida do valor é
impreciso, imperfeito, inexato; pois o valor não vem do tempo, vem da energia,
incluso cerebral, do homem. Assim, Marx afirma na sua grande obra algo do tipo:
12 horas de trabalho produz X valor, mas se aumentamos a intensidade do
trabalho, no mesmo tempo, a quantidade de mercadorias produzidas será maior e a
quantidade de valor também será maior, não alterando o preço individual do
produto nesse nível de abstração. Se o operário leva 2 minutos para produzir
dada mercadoria, mas, por maior velocidade da mesma máquina, produzir em apenas
1 minuto o mesmo produto, logo a quantidade de valor é igual, antes e depois,
pois antes, em 2 minutos, e agora, em 1 minuto, são gastos a mesma quantidade
de energia humana.
Os trabalhos
privados de fato se igualam no comércio, na circulação, mas porque, ao mesmo
tempo, se igualam como trabalho abstrato, gasto de energia, de fato na
produção. A superação do substancionalismo e relacionalismo puros pede
passagem.
Dizer que a
igualação é algo do mercado é cair no erro de Aristóteles, criticado por Marx
jpa no início de sua grande obra, de considerar que não há igualdade real,
apenas existe o artifício de igualação para fins práticos. Marxismo não é
relacionalismo! Hegel, fundador da moderna dialética, inspirou Marx ao dizer
que, primeiro, há, no fundo, a substância e, segundo, ela – esta substância –
expressa a si mesma nos seus “acidentes”, que estão, no externo, em interação
livre, solta, (o mercado!) como se não houvesse o lado de “dentro”, digamos
assim, o substancial. Assim, Hegel funde, na diferença, substância e relação,
substancialismo e relacionalismo. Eis uma das bases “literárias” dos primeiros
capítulos d’O Capital, em especial o primeiro. A verdade está em um terceiro, o
excluído incluído.
PLATÃO E
NIETZCHE
O leitor
acostumado percebe os dois filósofos como inspiração interna, oculta, de outra
obra, A crise sistêmica. De certo modo, reescrevemos a República de Platão. Por
exemplo, há referência às três ondas plantonistas (os macrociclos do capital),
o fim da família e da propriedade privada, os “filósofos” no poder etc. Sendo
Platão uma inspiração oculta e culta de Marx; na obra citada, A República, o
grego fala em “pessoas acorrentadas” numa caverna, a alegoria da caverna, o que
estimulou o alemão, milênios depois, dizer aos trabalhadores: “Vós não tendes
nada a perder a não ser vossos grilhões!”. Eis a metafísica materialista por
detrás do marxismo!
Vale uma
digressão: na versão inicial, pomos Cronos, deus do tempo, o valor, contra
Zeus, deus do raio, da energia, a classe operária – relacionando as eras, com
Hera. A mitologia e a realidade casaram-se.
Quanto a
Nietzsche, façamos uma digressão própria.
Pluralismo
O sistemismo
de uma obra é um sinal de sua verdade e de sua qualidade, de um esforço e de um
nexo real expresso no nexo textual, conceitual. Tal modo de expor pode agregar
dentro de si o pluralismo das formas de exposição.
Dinamismo
Mas qual
dinamismo? O marxismo afirma que o movimento é desenvolvimento, movimento
contraditório. O irracionalista reconhece a contradição, mas concebe o
movimento como puro caos e apenas.
A vida
individual de fato é caótica. A vida social, o todo, tem ordem em seu caos. Uma
alternativa é o indivíduo ligar-se mais ao todo para dar rumo e ordem, sentido
– o socialismo ordenado.
Perspectivismo
No lugar de
ir ao argumento dedicado, ele analisa os diferentes pontos de vista e ângulos.
Ora, ambos podem ir juntos. Aqui, também, usamos o estilo contrito e direto.
Experimentalismo
Ele arrisca,
diz. Aqui, nesta obra, o experimentalismo é uma forma científica de ser
filosófico. Damos, então, rumo ao seu instinto.
Além-do-homem,
super-homem
Para ele,
tal ser surge por alguém sofrer muito e viver a arte. Outro modo de ver: o
homem fazendo a si mesmo, criatura e criador de si. Oferecemos outro caminho,
pois ainda sequer somos homens e, além disso, no futuro superaremos nossa
condição de espécie (programação genética etc.).
Apolíneo e
Dionisíaco
Afirma que
focamos, desde Sócrates, na razão, esquecendo a paixão e a emoção, o gozo.
Logo, defende a posição última. Se formos rigorosos, devemos fundir ambos, um
ajudando o outro e vice-versa.
Moral
Sua moral
busca a origem da moral na divisão de classes. Mas ele foi, de fato, elitista.
Isso se prova na sua campanha contra a Comuna de Paris. Ao menos, ele busca a
reflexão do valor dos valores, historiciza-os também.
A vontade de
potência
Ele me
inspira, junto com Clóvis de Barros, a pensar todo o Ser como energia em busca
de mais energia, não apenas a vida. Ele pensou em termos cosmológicos, o que é
incrível. Mas, para nós, a energia (para ele, força), vê como central sua
expansividade, não sua concentração.
Forças
Para ele, tudo
era um jogo de forças, no plural. Aqui, demonstramos que a categoria força é
superada por espaço, campo e energia. Para ele, as forças fazem o espaço; para
nós, a matéria decai-se em espaço. Se mantemos a categoria, para nós, há apenas
uma “força”.
O eterno
retorno
Como
metáfora, seríamos felizes se nossa vida repetisse igual a igual para sempre?
Trataríamos como sorte ou azar? Parece que ele considerava como algo também
cosmológico. Neste ensaio, atualizamos sua intuição física para a ideia de que
o universo reinicia-se para o ponto inicial, retrai-se após expandir-se.
Além do
mais, além do universo ter gerações ciclos, também houve de fato um início de
tudo e do tempo, depois do vazio infinito. Em Nietzsche, porém, não há começo
real.
Amor fati
A ideia de,
de modo ativo, aceitar o mundo, ser alegre com ele tal como é, de modo,
repetimos ativo. Isso casa com o marxismo: ser ativo e buscar a felicidade
hoje, e já, não amanhã. Se todos buscassem uma vida que vale a pena, o
capitalismo cairia.
Fusão arte e
vida
Diz do
futuro como fusão de ambos. Adapto isso no uso constante do conceito de ficção.
Além do mais, o realismo diz que o socialismo será a poesia concreta.
Uma obra
digna tem de estar pousada no ombro de antigos gigantes. A refutação dialética
não é apenas negar uma teoria ou filosofia, com porcos adjetivos, mas
aproveitá-la no que ela tem de verdade, desenvolvê-la, levar a tese adversária
até as últimas consequências, modificá-la e adaptá-la. Eis o ensinamento de
Hegel e Adorno.
Nietzsche
expressa o seu mundo no seu estilo. O pluralismo deriva de uma sociedade
altamente diferenciada, aonde o caos aparente reina; o dinamismo vem também do
caos que é o capitalismo; o perspectivismo vem de pluralidade social e da ação
social contra a verdade; e o experimentalismo também deriava de tal falta da
verdade. No seu estilo, expressa um mundo do capital em formação, em nova fase.
DIALÉTICA
DIFERENÇA NA
UNIDADE
A unidade e
identidade dos opostos na lógica de Hegel é uma conquista de toda a civilização.
Mas erros acontecem por se confundir forma com conteúdo, aparência com
essência, conjuntura com estrutura etc. É preciso ver a diferença também. Nesse
sentido, estamos com Adorno e Althusser, unindo ambos. A aparência nem sempre
releva de todo a essência, pois o mundo que aparece pode ser, por exemplo, o
oposto do mundo essencial, mesmo aquele estando dentro deste. A mesma forma
pode servir a conteúdos diferentes, até opostos. O mesmo conteúdo pode ter
diferentes formas.
O MAIS
ABSTRATO
O mais geral
é o mais simples e o mais abstrato, serve de base – a célula na biologia, a
mercadoria no capitalismo, o átomo na química. Em método, devemos pegar o todo,
ver suas partes em seguida, decompor, decompor – até alcançar o conceito real
mais abstrato, mais puro, mais geral e invisível. Assim, temos o valor na
economia; assim, temos a energia-espaço na física e na química (e na biologia,
e o valor é energia); assim, o Bem em Platão. É outra forma de abstração, que
não se reduz a isolar, a separar; também vê tal unidade interna oculta de tudo,
do todo. Portanto, chegamos ao espaço, pobre em características (determinações
etc.) e à energia apenas indiretamente observável. Levamos o limite mecanicista
– decompor o todo em partes iguais, reduzir o todo às partes etc. – do método
de Descartes até as últimas consequências, superando-o.
Vejamos. O
método cartesiano propõe dividir um problema, uma totalidade, em partes, tantas
quantas forem necessárias – isolá-las e, então, sendo mais simples, logo
compreensíveis, tratar com elas como modo de saber do todo. Do que isso se
diferencia do método abstrato-concreto de Hegel e Marx? Curioso notar que os
marxistas que afirma ser o método de Marx o “abstrato-concreto” não leram ou
não entenderam a Lógica de Hegel até o final do último, terceiro, livro. O método é, antes, de Hegel, o sintético, não
de Marx ou dos economistas políticos… Ademais, n’O Capital, Marx corrige seu
caminho, mostrando, de modo relativo, que o abstrato faz, sim, o concreto e a
totalidade num processo lógico-histórico, mais aquele do que esse, claro (o
abstrato, as abstrações, é o concreto em autoprocesso). A questão é que a
dialética volta a reunir as partes, a integração, o todo “síntese de múltiplas
determinações”. A dialética sabe que as partes dependem do todo; que o todo tem
propriedades inexistentes nas partes; que o todo e as partes são
contraditórios, com saltos de qualidade e em desenvolvimento.
Chasin, ao
criticar Lukács, afirma que o marxismo não opera com “abstrações razoáveis”,
instintivas e decididas pelo pesquisador. Não separamos as partes, não fazemos
abstrações, de modo como escolhemos ao modo de Descartes. Na pesquisa do
próprio objeto, desprovido de qualquer critério antecipador, o pesquisador vai
descobrindo as abstrações, as partes, as divisões e como decompor a totalidade.
Assim, nenhum critério anterior, artificial ou gnosiológico guia a pesquisa,
pois vamos direto ao objeto. É ao pesquisar que descobrimos como separar,
dividir, abstrair o real.
À maneira
materialista e dialética, Marx unifica o método científico de Platão com o
método científico de Aristóteles. Do primeiro, vai decompondo – por “elevação”
– a realidade até alcançar o conceito mais abstrato, puro, geral etc. Temos o
valor. Então, faz-se o caminho inverso, de retorno, ou seja, de volta ao
sensível, empírico, não puro, não geral e não abstrato (contreto). Do segundo,
observa o todo, descobre suas partes e suas inerências, indo cada vez mais às
partes – à Parte das partes – para voltar, depois, de modo progressivo, ao todo,
ao concreto, à síntese unificadora do que foi antes separado. No abstrato,
antes e depois do concreto, temos a mercadoria. Supera-se, assim, tais dois
grandes idealistas. São duas formas, e sentidos das palavras, diferentes de ir
do abstrato ao concreto, sendo o concreto o início real e no pensamentro.
Deve-se ver
a separação daquilo que aparece junto. Deve-se ver a unidade daquilo que
aparece separado.
Tal
afirmação ou gerará silêncio enorme ou crítica em demasia. Para mim, não teria
problema afirmar que o método duplo é meu, pertence-me, uma “sacada” pessoal.
Mas é Marx quem me permitiu perceber tal metodologia da fusão de filósofos tão
antagônicos.
Aquilo mais
abstrato como o mais geral é, também, o mais abstrato como o mais individual,
separado; então, inclui-se como o mais abstrato como o mais pobre de
propriedades, determinações, características, matéria etc.; por isso, enfim, o mais abstrato como o mais
conceitual. Tende a ser o abstrsato, o mais, em todos os sentdos da palavra.
MÉTODO DE
EXPOSIÇÃO CRÍTICO
O método
pode ir do simples ao complexo, do passado ao futuro, do abstrato ao concreto.
Ademais, um método possível é o crítico: exponha-se a ideia do adversário de
maneira honesta, ponto a ponto, então se faz o comentário crítico. A própria
ideia é apresentada na maneira de uma crítica, passo a passo. Pode-se, por
exemplo, expor todas as teorias relevantes sobre Ética, dos antigos até os
contemporâneos, ao mesmo tempo em que a própria ideia é exposta por contraste e
por refutação. Todas as teorias quânticas podem ser expostas, discordando
delas, demonstrando seus limites, rumo à solução. O precursor disso foi Marx
com suas “teorias da mais-valia” e outros manuscritos.
MODELOS
Parte da
ciência foi ao racionalismo, unilateral. Alguns, o dedutivo a partir de
postulados e leis intuídas, uma aposta. Depois, o hipotético-dedutivo, uma
hipótese quase arbitrária a ser testada. Depois, os modelos hipotéticos para
explicar, melhor, encaixar, o conjunto de fenômenos. Todos são úteis e
científicos, mas limitados. O melhor método é ter o “modelo” como conclusão, no
final, como consequência necessária da empiria com a teoria. A ideia de modelo
teórico parte do sujeito para o objeto quando se deveria partir do objeto ao
sujeito.
FALÁCIAS
Em geral,
grosso modo, as falácias ocorrem porque se quer focar na estrutura abstrata,
numa lógica a priori, na gnosiologia, de uma argumentação – no lugar de focar
na realidade, em seus nexos reais, na ontologia. Por exemplo, a falácia do
apelo à tradição foca na “mente” ou na cultura no lugar de no próprio objeto;
do mesmo modo, o apelo à novidade tenta dar um critério externo ao objeto; o
apelo ao erro de, contra, focar em algo antigo, também é um critério externo,
como se a verdade não estivesse na coisa e no real, pois o fato de ser uma
ideia antiga nada diz se está errada ou certa em si.
Vejamos a
falácia quanto à correspondência temporal, à coincidência como causalidade: se
algo vem antes de outro algo, fato, logo aquele é a causa deste, pois a causa
vem antes do efeito. Veja-se que, em vez de fazer uma pesquisa direta e
disciplinada, fez-se uma dedução abstrata, não concreta, querendo supor nexos
pela externalidade, no lugar de descrever o processo como – se há. Isso parte
de uma premissa falsa de que a coisa em si, logo o nexo causal, é
incognoscível, inalcançável. É um erro substituir a ontologia por gnosiologia,
aquela deve dominar esta.
Tentar fazer
ciência apenas com formas lógicas é um erro comum, que desdenha a empiria. Sob
tal base frágil ergue-se a ciência burguesa, em especial na economia. Uma
teoria pode estar logicamente bem estruturada, mas completamente, ou quase de
todo, errada, equivocada, unilateral etc. É um erro, por exemplo, escolher
premissas maiores não empíricas nas ciências concretas.
A DIALÉTICA
NAS CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
O marxismo
é, de longe, o melhor que há nas ciências humanas, apesar de inevitavelmente
minoritário sob o capitalismo (as ideias dominantes de uma época são as ideias
de sua classe dominante). Na psicologia, o freudismo agrega também os mais
eruditos, junto com a psicologia marxista. Por que tal sucesso, embora minoria?
Porque está numa posição social que necessita da verdade, saber como o mundo de
fato funciona e suas razões. Por outro, a pobreza material e espiritual comove
a muitos talentos; daí, por exemplo, a força do marxismo e do marxismo
acadêmico na América Latina, em especial no Brasil e na Argentina. O
capitalismo não é capaz, hoje, de provar que é um sistema merecedor de
permanência. Mas a dialética é forte também porque 1) o objeto social é o mais
complexo, incluindo aí a ciência da psique; 2) temos uma riqueza enorme de
dados empíricos nesse objeto. Tais características não existem com tanta força
nas ciências da natureza. De todo modo, o século XX teve muitos influenciados,
de modo direto ou indireto, pelo marxismo e pela dialética, Born e Einstein em
destaque. Isso levou ao ponto de conservadores acusarem a teria da evolução, a
quântica e a relatividade de “ciências marxistas”. Vale recordar que o método não
é o critério da verdade, embora a dialética prove-se um meio superior.
LEIS DA
DIALÉTICA
Engels
listou as três leis da dialética:
1)
A lei da
conversão da quantidade em qualidade e vice-versa;
2)
A lei da
interpenetração dos opostos;
3)
A lei da
negação da negação.
O problema é
que apenas listou as leis, sem derivar umas das outras. Observemos, vejamos. As
mudanças qualitativas por mudanças quantitativas produzem a diversidade
necessária para haver opostos que se interpenetram (já que há certa mesmidade
entre eles); na contradição da relação íntima e dinâmica dos opostos, opera-se
a negação da negação com seus saltos qualitativos. Tal processo funda, e é
fundado pela, a lei do desenvolvimento desigual e combinado (por exemplo,
desenvolvimento de desigual da quantidade e, logo, da qualidade). Essa
formulação inspira-se, mas com movimento, à passagem, mais do que lado a lado,
da lei da identidade, para a lei da não contradição, para a lei do terceiro
excluído feita por Hegel na sua Lógica.
DESCREVER E
EXPLICAR
Descrever é
errar, pois se prende às aparências, não vai até a essência tantas vezes
inversa em relação ao mundo que aparece. Descrever o e no processo melhora, mas
ainda é limitado e externo. Dos dados, dos fatos, devemos interpretar, até para
ver os enganos fenomênicos. Mas, quando expomos nossas conclusões, descrever e
explicar tornam-se um apenas, então parece que apenas descrevemos, como se nada
explicássemos. O trabalho, então, está bem feito. Explicar não deve ser
justificar a realidade diante dos olhos, que isso seria explicação nenhuma,
pois deve dizer o que o olho vê mais o que apenas insinua aquela, oblíqua e
dissimulada. Como nota histórica, Marx vez ou outra pendeu para a defesa da
descrição; mas, como qualquer autor relevante, sua obra é recheada de idas e
voltas, e mais vale seu acerto. A criatividade humana, quando respeita a
empiria, tem valor científico altíssimo. Na pesquisa, apenas explicamos o que,
antes, descrevemos (narramos). Inspiremo-nos no, no geral limitado, Althusser:
ficar apenas na aparência, nas formas, no externo – é mais ideologia, em
sentido limitado, que ciência; aqueles se diferenciam da essência, do conteúdo,
do interno – o oculto a ser descoberto, embora tenham uma identidade-unidade
interna com aqueles primeiros. Diz Marx, o que todo marxista já sabe: se a
aparência das coisas revelasse – de todo – suas essências, toda ciência seria
desnecessária. Bastaria apenas o importante olhar, copiar o empírico. Mas o
cientista de valor é muito mais do que máquina de carne a imitar as máquinas
modernas de obtenção de dados, padrões, cálculos. Sois homens – não máquinas!
EVOLVER AO
ABSTRATO
Fomos do
conceito de espaço como lugar, algo aristotélico, para o conceito de espaço
como algo que existe e pobre de determinizações. Foi necessário a ideia, antes,
de que tudo é água na tentativa de pensar o abstrato, para conseguir, depois,
pensar pelo menos a substância Ápeiron. A ideia de deuses animalescos passou
para a ideia de deus abstrato geral cristão, muçumano, judeu – algo visto em Hegel.
A arte tende a ser cada vez mais abstrata. Hoje, certos conhecimentos
científicos do mundo concreto exigem altíssimo nível de abstração, incluso
matemática difícil de traduzir em palavras comuns. Avançamos para a matemática,
e física, abstrata. A economia global avançou para o valor e para o trabalho
abstrato. Alcançamos o conceito de energia, superando o conceito de força
incluso. Há a desmaterialização do dinheiro. Avançamos para conceitos
impalpáveis. A evolução da humanidade é, também, seu rumo ao abstrato. Por
abstrato, aqui, abarcamos todos os seus sentidos. O avançar concreto da
sociedade exige e permite o avanço intelectivo e material do abstrato, da
abstração. Daí que cientistas e filósofos separem, esquecendo, por exemplo, de
reunificar.
SENTIR E
PENSAR NA CIÊNCIA
Opõe-se
emoção e razão – mas a emoção pode, e muita vezes irá, impulsionar a razão.
Hegel diz que nada relevante foi produzido na história sem paixão, opondo-se,
com tal afirmação, à defesa da razão sobre os sentidos por Kant. Contra o
antigo realismo objetivista na literatura, dito cientificista, temos o cosmos
belo, apaixonante, deslumbrante e o sentimento filosófico superior.
Em condições
difíceis, os cientistas necessitam de um impulso subjetivo para perseverar. As
mulheres na ciência venceram o machismo por teimosia, por emoção. Claro, a
emoção científica pode ser negativa: os cérebros mais velhos procuram a
mesmidade, a repetição, a confirmação do já sabido contra as novidades e novos
paradigmas. Por isso Planck diz que a ciência avança de velório em velório.
O mesmo
cérebro que pensa é o mesmo cérebro que sente, dirá o professor Sérgio Lessa.
Bem sentir ajuda a bem produzir ciência, pensar.
Os
divulgadores científicos – e precisamos de mais deles! – devem fundir razão e
emoção, ainda que este subordinado àquele. O sentimento religioso pode ser
substituído por sentimento filosófico moderno. Poesia, o homem apenas é com
poesia!
No campo da
linguagem, os biólogos dialéticos reclamam com razão da posição neutralista nos
artigos científicos comuns. Nada de exclamações, figuras de linguagem ou jogos
etc. Nada de relatos pessoais da própria jornada do autor. Ao contrário, os
textos devem ser agradáveis, poéticos, claros e dinâmicos - humanos. Devem ter potencial
popular. Até os livros universitários devem estar vestidos de clareza e evitar
o formalismo enigmático. Se precisamos tanto de mais engenheiros, os livros de
cálculo devem prezar pelo didatismo ao máximo.
O trabalho
que a ficção científica cumpriu para a popularização da ciência é de enorme
valor. Tornam parte do imaginário popular fatos e hipóteses que rodeiam o meio
acadêmico – exemplo da popularíssima, mas improvável, hipótese do multiverso.
Devemos agradecer ao poder da arte, do cinema em especial, com suas fortes
imagens, pelo seu uso didático.
Mais uma
vez, emoção e razão podem entrar em contradição séria; mas, no geral, no longo
prazo, são amantes fecundos. A razão deriva da emoção. Amar ciência, amá-la
verdadeiramente, quando anda junta do amor pela humanidade, possui uma força
que nenhum limite natural encontra. Quem estuda e pesquisa por burocracia, por
obrigação, pouco avança; que os faz por pura paixão, primeiro, vez ou outra
será um nome lembrado pela civilização.
AS FERIDAS
NARCÍSICAS DA HUMANIDADE
Freud erra
ao levantar quais são as feridas que tiraram a humanidade de seu posto especial
nas ideologias e nas ciências. Vejamos como deve ser.
O homem, a
Terra, deixa de ser o centro do universo com a revolução copernicana: o Sol o é
central. Assim, o ser humano foi retirado de um dos seus postos divinos. Tal
ataque consolidou-se com Newton, depois, com Einstein. Até hoje, há ditaduras
religiosas que negam tal revolução.
O segundo
ataque ao narcisismo é a teoria da evolução de Darwin. O homem foi reduzido a
animal, à parte da evolução da vida. Mais uma vez, a religião perdeu chão ao
divinizar o homem. Por isso, tal teoria ainda sofre ataques. Vale lembrar, no
entanto, que Marx antecipou – contra a filosofia e a religião de seu tempo –
que o homem é, primeiro, um animal, que precisa primeiro satisfazer
necessidades.
Isso
leva-nos ao terceiro ataque ao narcisismo da humanidade, não reconhecido por
Freud: o marxismo. Marx demonstrou que, de modo inconsciente, somos frutos de
nosso tempo, de nosso modo de viver – que nossas ideias expressam nossas
materialidades reais (como pertencimento a classes, ao sistema em vigor etc.).
A moral, a filosofia etc. não são frutos puros do cérebro, mas em primeiro
lugar da realidade em que vivemos. Somos, enfim, frutos inevitáveis da
história. No mais, o capitalismo, o modo de vida que parece natural, passou a
ser visto como instável, transitório e efêmero. Por isso, o marxismo sempre
será caluniado e perseguido em todo o mundo, enquanto tal modo de produção
baseado no dinheiro existir. Curioso que Freud foi incapaz de reconhecer tal
revolução, sendo vítima da própria censura.
A quarta,
não terceira, ferida contra o narcisismo da humanidade foi, é claro, a
psicanálise. O homem é em grande parte governado pelo inconsciente, não pela
razão pura, e seus instintos, em especial o sexual, têm força enorme sobre o
indivíduo. Tal revolução teve como preparo direto o marxismo e o darwinismo,
indiretamente a revolução da física. Por isso, nunca será perdoado, será
caluniado e acusado de todo tipo de mal.
Veja-se que
as quatro revoluções do pensamento humano causaram tensões, crises e
perseguições (todas até hoje negadas por algumas ditaduras e por religiões).
Nem todos conseguem aceitar tais teorias, tanto mais no grau necessário. O
socialismo, se vitorioso for, trará a paz e o prestigio geral-popular a tais
descobertas, ainda que de modo superante como no caso da psicanálise, que ao
menos acertou o miolo da questão.
Mais
associado ao marxismo, a moderna dialética, desde sua forma avançada em Hegel,
também causa constrangimentos, desconfortos e resistências semi-inconscientes
sobre cientistas e não. Para muitos, inaceitável que a contradição deva ser
aceita e que ela é, ademais, produtiva, não apenas destrutiva; que a realidade
é movimento e desenvolvimento, ainda que contraditório. Difícil sair da apenas
individualidade para a integração, para o contexto, para a ideia de que o todo
é mais do que a mera soma das partes. Mas a unidade e identidade dinâmica dos
opostos, respeitando a diferença, torna-se o caminho inevitável. A vida é luta,
não o conforto da alta classe média. Nem todos são capazes, material e
mentalmente, de aceitar a dialética da matéria e da ideia. Mesmo que de maneira
inconsciente e cambaleante; Einstein, Darwin, Freud e Marx usaram o método
empírico-dedutivo, dialético, ou seja, colher criticamente os dados e, então
fazer as devidas interpretações, ir para debaixo da empiria, para o oculto nos
fatos.
Vale
destacar que nenhuma filosofia, nenhum modo de ver o mundo, sofreu tanta
perseguição quanto a marxista. Também raro causar tanta paixão entre vanguardas
e simpatia geral entre as massas. Nos EUA e na Inglaterra, países aonde o
estalinismo com seus partidos não fez grandes e tantos estragos, as novas
gerações, mais precárias, declaram simpatia pelo socialismo, pela ideia difusa
e instintiva que tal palavra levanta.
Tais
resistências narcísicas costumam estar lastreada na religiosidade. Para a
maioria, impensável uma vida sem religião, sem fé. A igreja garante vida
social, emoção, casamento, fuga da solidão, apoio etc. Aceitar a verdade, que
liberta, seria insuportável, tornaria suas vidas mais difíceis, material e
subjetivamente. Eles precisam de um compensador numa sociedade descompensada,
desequilibrada, precisam de uma droga simbólica. Por isso, resistem contra
Marx, Darwin, Freud etc.
A TEORIA DE
TUDO
Há mais de
uma dúzia de teorias quânticas, todas de acordo com os fatos observados. O erro
delas, em seus acertos parciais, está em não criticar os fatos – menos ainda
suas premissas. Contra fato há, sim, argumentos. O fato é ele mesmo e um falso.
É aparência. A ideia de descrição pura – dos fenômenos quânticos, da economia
etc. – esquece que descrever é enganar, enganar-se. O suposto apenas descrever
já parte de premissas, já parte de “obviedades”. Quem apenas descreve, ao
iludir-se que apenas isso faz, erra e erra-se. Nisso caiu o positivismo
quântico, a MMT na economia etc. Além do mais, o descritor parte de conceitos e
preconceitos. É preciso criticar as próprias premissas, por mais evidentes que
pareçam. A ideia de que a realidade é feita, primariamente, de partículas (ou
ondas), gerou inúmeros erros. Nossa ideia de que a partícula é espaço
condensado, condensação de linhas de espaço ou de linhas de campo supera a
concepção paradigmática anterior. No nível atômico, segue válido tomar a
realidade como atômica; mas a coisa se desfaz no nível subquântico, no
espaço-campo. A linha metafórica que liga as partículas emaranhadas são linhas
reais; as cordas que formam as partículas são cordas reais amplas, não apenas
discretas; as correntes do espaço-tempo são de fato algo continuo etc.
A tentativa
de unir o micro e o macro (e o meso) numa teoria de tudo teria de lidar com a
incompatibilidade em relação à teoria da relatividade. Veja-se. A teoria de
Einstein estava correta, mas, deixou-se de perceber, precisava ser desenvolvida
ao máximo, aprofundada, ir-se até seu limite. A matéria, o átomo, até a onda,
nada mais é – nada mais é! – que espaço condensado, concentrado, para dentro de
si. A gravidade é produzida pela concentração de espaço que é a partícula. Por
isso, a luz, que não tem massa, mas tem energia (energia é igual à massa),
também curva o tecido, pois é o próprio tecido de modo em linha em ondulação,
tecido condensado, ou linha condensada.
Deveria ser
obrigação de todo físico passar por um ano de formação filosófica intensiva, em
especial na dialética. Isso alarga o pensamento, produz criticidade, oferece
alternativas.
A ideia de
que tudo = tudo já povoa a humanidade desde os gregos, por milênios. Antes,
faltaram condições sociais, matemáticas, físicas e, enfim e o fim, ousadia. São
tempos covardes. Nossa teoria, porém, tem caráter qualitativo, faltante da
exigência quantitativa de nossa época – em que tudo deve ser abstrato, frio e
medido pela quantidade. Papel para o matemático ou para o físico com outras
qualidades que não a criatividade primeira.
Coisas
ficaram por exemplificar, talvez com a ajuda da futura matematização. Porque a
linha de espaço-campo tem preferência natural para a direita? Resolver
problemas geram novos desafios, novas perguntas. Explicamos, de modo geral, a
preferência dos elétrons pela via direita, contra a simetria tão endeusada
pelos físicos, e correta (a dialética trabalha, também, com opostos).
Finalmente: a fenda dupla, o positivo e o negativo, o emaranhamento quântico, o
desvio para a direita, o spin, a descontinuidade do movimento etc. estão
explicados em sua base. Assim, recuperamos a unidade lógica – o mecanismo
básico – da física clássica, de nosso nível, com a física quântica. Até agora,
marabalismos justificavam a diferença com jogos de linguagem, com pedidos de fé
etc.
Como
criador, descobridor, de tal interpretação física, tenho a esperança de que
intelectuais especializados consigam, daqui em diante, revisar, pela base,
quase todos os fenômenos estudados nos manuais universitários. Por exemplo: e
se o espalhamento do gás quando aquecido se dá – ou menos também – por que cada
“partícula” acumula, assim, mais energia, ou seja, mais espaço para si, com sua
autofronteira maior, afastando as demais? A megalomania parece não ser de todo
delirante.
As últimas
gerações de filósofos puros e de formação têm fugido do conhecimento geral,
universal, refugiando-se na ética etc. Se fossem sérios, teriam interesse
genuíno por questões científicas, em principal suas polêmicas centrais.
Filosofia nada mais é do que uma forma de ciência. Nossos doutores em filosofia
são, via de regra, inúteis, parasitas do dinheiro público. Pensam, aliás, que
todos os seus méritos e salários devem-se apenas ao esforço próprio e isolado –
o capitalismo esconde o nexo e a interdependência dos homens entre si assim
como das partículas exige-se muito para perceber o nexo interno entre elas, a
teia, numa teoria geral, do todo, de tudo. O critério da realidade é a própria
realidade.
IDEOLOGIA
A palavra maldita, ideologia, com a qual uns acusam os outros, e
vice-versa, de a praticarem em suas afirmações talvez ou supostamente
interessadas. Como veremos, todo este capítulo tem como centro tal objeto. Para
nós, a mentalidade não é epifenômeno, como até Marx deixou quase entender em
alguns momentos. Mas, mesmo assim, doloroso à consciência a ideia de que não
decidimos quando decidimos ou que não temos livre arbítrio. Às vezes, somos até
capazes de ver nos outros que eles e seus pensamentos são frutos do meio, de
sua experiência não escolhida, mas “esquecemos” de olhar com o olho de dentro
para fazer a autoanálise. Em geral, apenas quem está numa posição social que
necessita da verdade, a posição comunista e proletária, torna-se capaz do
julgamento muito pleno de si e dos demais, de saber a base concreta do
pensamento ou sentimento abstratos. Vejamos, agora, o resumo de alguns de
nossos mestres e uma conclusão específica sobre.
MARX E ENGELS
Eles começam a concepção marxista de ideologia enquanto sinônimo de
falsa consciência, como oposto à ciência. Depois, Marx avança para um conjunto
de ideias como forma de tomar consciência prática das tarefas e problemas de
seu tempo.
Eles elaboraram, então, a famosa máxima: as ideias dominantes de uma
época são as ideias de sua classe dominante.
LENIN
O teórico russo contrapõe ideologia como visão de mundo classista, das
diferentes classes. Há, assim, a ideologia operária e, oposta e inimiga, a
ideologia burguesa.
LUKÁCS
O húngaro nomeia ideologia toda a superestrutura subjetiva: ciência,
política, moral etc. Para ele, ideologia é ontológica, ou seja, tem função
prática na realidade para 1) convencer uns aos outros a trabalhar de tal ou
qual modo, 2) convencer os outros homens a organizar a vida social de certa ou
daquela maneira.
ALTHUSSER
O autor francês retomou a ideologia como falsa consciência, como uma
versão ou visão invertida, de cabeça para baixo, do mundo real. Na prática, ele
apenas retomou o senso comum e preconceitos de seu meio ambiente, a
universidade burguesa. Sua meta foi adaptar o marxismo à academia e suas
concepções de classe média.
OUTRA CONTRIBUIÇÃO
Como no tema da liberdade humana, todas as concepções acima estão certas
em algum nível. As diferentes ideologias – filosofia, arte etc. – subjetivam a
objetividade, ou seja, desenvolvem, unilateralizam e aprimoram o que já existe
na realidade. Por isso, muitas vezes apenas organizam e sistematizam o senso
comum, o cotidiano.
Engels afirma:
Vimos como os filósofos franceses do século XVIII que abriram o caminho
à revolução, apelaram para a razão como o juiz único de tudo o que existe.
Pretendia-se instaurar um Estado racional, uma sociedade ajustada à razão, e
tudo quanto contradissesse a razão eterna deveria ser rechaçado sem nenhuma
piedade. Vimos também que, em realidade, essa razão não era mais que o SENSO
COMUM do homem idealizado da classe média que, precisamente então, se convertia
em burguês. (Engels, Do Socialismo Utópico ao
Socialismo Cientifico, 2003, detaque meu)
Ele repete, na mesma obra:
Para o metafísico, as coisas e suas Imagens no pensamento, os conceitos,
são objetos de Investigação Isolados, fixos, rígidos, focalizados um após o
outro, de per si, como algo dado e perene. Pensa só em antíteses, sem
meio-termo possível; para ele, das duas uma: sim, sim; não, não; o que for além
disso, sobra. Para ele, uma coisa existe ou não existe; um objeto não pode ser
ao mesmo tempo o que é e outro diferente. O positivo e o negativo se excluem em
absoluto. A causa e o efeito revestem também, a seus olhos, a forma de uma
rígida antítese. À primeira vista, esse método discursivo parece-nos
extremamente razoável, porque é o do chamado SENSO COMUM. Mas o próprio SENSO
COMUM - personagem muito respeitável dentro de casa, entre quatro paredes -
vive peripécias verdadeiramente maravilhosas quando se aventura pelos caminhos
amplos da investigação; e o método metafísico de pensar, pois muito justificado
e até necessário que seja em muitas zonas do pensamento, mais ou menos extensas
segundo a natureza do objeto de que se trate, tropeça sempre, cedo ou tarde,
com uma barreira, ultrapassada a qual converte-se num método unilateral,
limitado, abstrato, e se perde em Insolúveis contradições, pois, absorvido
pelos objetos concretos, não consegue perceber sua concatenação; preocupado com
sua existência, não atenta em sua origem nem em sua caducidade; obcecado pelas
árvores, não consegue ver o bosque. (Idem, destaque meu)
Lukács fala que a ciência costuma derivar do cotidiano como a criação de
pombos observada por Darwin, mas não teve tanta clareza sobre isso quanto à
ideologia.
Marx diz n’O Capital:
O segredo da expressão do valor, a igualdade e a equivalência de todos
os trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral, só pode
ser decifrado QUANDO O CONCEITO DE IGUALDADE HUMANA JÁ POSSUI A FIXIDEZ DE UM
PRECONCEITO POPULAR. Mas isso só é possível numa sociedade em que a forma
mercadoria é a forma universal do produto do trabalho e, portanto, também a
relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a relação social
dominante.
Em seguida à citação, ele faz a famosa afirmação: por estar no mundo
antigo e ser senhor de escravos, Aristóteles era incapaz de perceber a
substância do valor.
A realidade é traduzida pelo pensamento, não criada neste nível. Uma
obra de moral expressa a moral objetiva da realidade, por assim dizer. Quando
pós-modernos falam de “Multidão” no lugar das classes em luta, eles estão
intuindo o fim das classes no comunismo de modo impressionista e imediatista,
pois as classes estão de fato em crise categorial. Quando outros pós-modernos
falam de fim do trabalho e besteiras semelhantes, de fato sentem com exagero a
crise do valor, a automação etc.
O filósofo ou o artista está na vanguarda do novo, ainda que algo seja
de curta vida. Adorno percebeu já e ainda no começo que a música se tornaria
apenas o fundo de um cenário, logo fato comum hoje desde o walkman, o MP3, o
celular, a internet etc. Claro, muitas vezes erram os ideólogos.
Se a realidade humana, pessoal, está fragmentada, logo surgirá uma
filosofia fragmentada. Passamos para a linguagem humana aquilo que não a é. O
espírito do tempo hegeliano, Zeitgeist, na verdade é a objetividade do tempo,
ou melhor, do meio, a carne e a coisa de uma época, corpo social e dinâmico –
espírito, mas espírito concreto.
Isso produz uma nova conclusão, teorema: se uma teoria parcial pode
surgir, ela surgirá. Vejamos dois exemplos. A artificialidade atual do
dinheiro, na artificialidade do sistema mantido pelo Estado, sua criação fácil,
leva a membros da classe média a pensarem como solução para tudo a criação
maior de moeda. A nova classe média e a aristocracia operária europeia fizeram
a cabeça de Sartre e seu existencialismo.
O materialismo parte, também, do senso comum: a realidade existe. Para
um cidadão médio é óbvio que a objetividade há, e é, pois Deus a criou. O
idealista apressado acusa tal ideia por ser vulgar, cotidiana, e eleva a voz
para duvidar da existência autônoma do real. Na verdade, sequer dá dois passos
à frente na sua elaboração.
A realidade é um inconsciente objetivo para além do inconsciente
individual, subjetivo. Assim, este é influenciado por aquele; então ocorre a
racionalização, no duplo sentido, psicanalista e não psicanalista. Lukács, por
isso, erra quando diz que o artista, similar ao Espírito hegeliano, vai para o
mundo e, enriquecido por ele, produz algo, retoma-se; não; o poeta já está na
realidade e sua inspiração vem de repente, tantas vezes do inconsciente duplo
para a consciência; depois, uma ideia leva à outra, e outra, e assim por
diante. Se o romancista pesquisa, parte da ideia inicial, age a posteriori, e
suas investigações são muito específicas, como estudar arte militar para melhor
descrever e narrar uma batalha.
Veja-se que os reformistas enrustidos no meio marxista insistem em negar
a validade teórica de três aspectos do socialismo científico: a dialética, a
queda da taxa de lucro rumo a crises e ao fim do sistema e a necessidade de um
partido democrático centralista. Fazem isso de modo, em geral, inconsciente,
mas o fazem. Em geral, expressam a classe média em suas entranhas cerebrais,
por isso, por exemplo, a maior dificuldade de ir além da lógica formal.
Enfim, a subjetividade dominante de uma época é a subjetividade de sua
objetividade dominante. O subjetivo é um espelho ampliador. A classe dominante
não cria ideologia em uma sala secreta de reuniões, caso contrário seria pura
falsificação, não ideologia; assim como não controla o próprio sistema, a
burguesia não controla a criação ideológica de modo direto e inteiro; “nós
criamos, mas criamos apesar de nós”. A realidade entra na cabeça da própria
classe dominante, que traduz o real de seu ponto de vista, e tenta ganhar a
sociedade para suas próprias posições, que têm origem primeira no objeto, ainda
que unilateral.
Uma ideologia, por mais força social potencial que tenha por si, costuma
precisar de uma superestrutura objetiva, uma instituição, para prosperar em
muitas cabeças. As teorias de Lenin e Trotsky somente deixaram de ser marginais
porque lideraram uma revolução, um partido e um Estado. Na França, a escola de
Annales apenas cresceu porque tomou espaços universitários. Para muitos
filósofos, cargos como o de reitor de universidade tiveram um efeito brutal na
popularidade de suas ideias. Fora de tais meios, costuma-se cair na
marginalidade.
O externo se internaliza. Os marxistas afirmam que apenas (re)conhecemos
o objeto quando ele está maduro; antes, conhecemos imperfeitamente o objeto
porque o objeto também ainda é imperfeito. Os mercantilistas na economia
pertencem à época mercantilista; a teoria da evolução de Darwin, a seleção do
mais apto, pôde surgir e ser corretamente aceita porque a revolução industrial
impôs o império da livre concorrência, permitiu surgir tal avanço científico
por sua estrutura-avanço social e tais ideias eram úteis para o desenvolvimento
das forças produtivas. Eis uma forma diferente de identidade e unidade
objeto-sujeito. Em duplo sentido, o objeto que se reconhece no sujeito. Além do
mais, a realidade tende a produzir homens e mulheres para si, que veem tanto quanto
podem ver.
A ideologia traduz e expressa as contradições e as dinâmicas do real,
ainda que seja para negar tais contradições e tais dinâmicas. A ideia de
tradição medieval vem de uma objetividade que pouco muda, em que o passado dava
respostas suportáveis – até não mais dar.
Temos, portanto, uma concepção ideológica de ideologia. A consciência
avança se sua base material avança; e recua se esta recua. Mas a consciência
também é matéria, então tem força na própria materialidade, e resistência à
mudança, para frente ou para trás, além de influenciar também o meio. Há
aprendizado, há tradição. De tal modo, damos um novo significado para a
dinâmica unidade e identidade sujeito-objeto; tal objeto como objetividade,
realidade. A ideia é matéria – a ideia é matéria em processo.
Platão
contrapõe filosofia (ciência, dialética) e senso comum. Nós fazemos diferente,
mais do que o oposto: o senso comum torna-se base tanto para o avançar quanto
parta o limite do pensamento de uma época. O próprio senso comum é mediação da
materialidade que gera e permite certo tipo de pensamento. Afinal: dizer que
senso comum e ciência são opostos totais é um senso comum… O processo é
reciproco, pois o avanço da ciência tende a gerar certos consensos.
OBJETIVISMO
A leitura desta
obra pode sugerir uma concepção objetivista: consciência como fruto da
atividade do meio e do cérebro, liberdade objetiva, inconsciente como o meio
ambiente social etc. Vejamos um tanto mais sobre o possível engano.
Em conversa
com marxistas parceiros dos EUA, Trotsky afirma que, para partidos muito
pequenos, a consciência das massas, algo subjetivo, revela-se como algo
objetivo. Ele, assim, revela seu agudo pensamento dialético: subjetivo =
subjetivo e objetivo. Identidade da identidade e da não-identidade, A = A e
não-A. Já nos serve de pista.
Em lógica
unitária, há de fato apenas o objetivo, a realidade, que se duplica no externo
em dois opostos. O subjetivo é para nós; o objetivo, para si. O subjetivo é o
objetivo em ação. O objetivo é o objetivo.
Se
venceremos ou não, está determinado de antemão na causalidade. Mas a realidade
é tão complexa que se torna impossível saber antes do fato consumado, mesmo se
com supercomputadores quânticos. Ora, está aí a força para arriscarmos,
tentarmos, testarmos. Porque posso, devo – porque devo, posso. A possibilidade,
ou as, é para nós; a necessidade da lei e o destino, para si. O mero agir ao
pensar que é possível, a mera ilusão de liberdade total, já está inscrito no
final da história. Pensar em determinismo, o socialismo como garantido, desarma
a luta e baixa a guarda (influencia para a derrota) – o fascismo já passou e
poderá passar de novo rumo ao fim da civilização (ouvi de um amigo uma
brincadeira que tem um fundo bastante sério: a palavra de ordem “o fascismo não
passará!” deveria ser proibida – e é como a criança assustada iludindo-se que
tudo dará necessariamente certo). Falar em realidade objetiva é pleonasmo, pois
a realidade apenas pode ser objetiva. Mas talvez precisemos reforçar o sentido
de uma palavra com a outra, tal qual faz a poesia. O que é real é objetivo. O
que é objetivo é real.
A consciência corre atrasada e com resistência
em relação aos fatores objetivos porque ela é um fator, algo, algo objetivo. O
foco dos marxistas atuais na disputa das mentalidades, diante dos ricos de
perder, torna-se uma ideologia necessária para vencer, útil. Se o socialismo
vencer, a coisa será tratada de modo mais sofisticada.
A DUPLICAÇÃO
DOS MUNDOS MODERNA
A ideia de
dois mundos é antiga, desde a religiosidade dos primeiros homens. Sua
popularidade atual vem do filme Matrix, que tanto influenciou a filosofia –
normalmente, o caminho é inverso, a filosofia afetar a arte.
Ainda há
dualismos e idealismos disfarçados por aí. O cérebro de Boltzmann diz que, num
tempo muito longo mais a entropia, há a possibilidade alta de fazer surgir um
cérebro vagando no vazio do universo, vivendo por alguns poucos segundos ou
minutos – e alucinando a nossa realidade. A imagem é maravilhosa, percebe-se.
Outra versão
é esta: estamos dentro de um programa de computador. Do ponto de vista
probabilístico, isso é o mais provável – o que reforça nossa crítica aos
limites da probabilidade na ciência. No mais, uma simulação gera outra
simulação, que gera outra etc.; isso tão logo a civilização virtual tenha
condições para isso, tecnologia.
A caverna de
Platão (mundo das ideias), a cidade de Deus etc. estão atualizadas. Há físicos
que afirmam que a realidade não existe, que a coisa só há se a medimos, se a
olharmos etc. É um erro crasso tratado como ciência séria. Outra ilusão é a
concepção de muitos mundos, de universos paralelos; assim, ao fazermos a medida
e o objeto colapsar numa de suas possibilidades, estados, outro universo é
criado, aonde a outra possibilidade também se realiza… Bom; a matéria e a
energia do universo são limitadas, não finitas, logo impossível que uma simples
ação de medida crie algo novo e paralelo completo.
A mais
sofisticada diz que o universo é um holograma de buracos negros. Ainda que a
matemática apresente alguma justificativa, a lógica numérica não é a própria
realidade total.
Uma
concepção real de mundo duplicado, mas ao mesmo tempo uno, deveria surgir –
este livro parece acertar em tal tentativa de expor sua natureza.
GERAL,
PARTICULAR E SINGULAR
A língua
gera as palavras lógicas por abstração. Mas: existe o geral (espécie etc.?)
Existe o singular de fato? Para Platão, o geral existe em outro mundo, pode
detrás deste, aonde os conceitos universais permanecem (o desejo de permanência
escravista). Com o comércio, com o avanço do Estado; os medievais tiveram de
dividir-se entre aqueles que defendiam a
existência do singular apenas ou do geral apenas.
O geral
existe: uma espécie em geral, em geral, não pode produzir filhos férteis com
outras espécies. Ou seja, o universal afirma-se. Mas novas espécies surgem porque as
particularidades acentuam-se até o singular formar algo singular, o singular
produz o singular. Porque os intermediários das variações de espécies animais
foram extintos, ficou imensamente mais fácil distinguir gêneros e espécies na
vida – produziu-se, por morte, gerais, particulares e singulares!
O singular
pode avançar até tornar-se um novo geral. O geral por particularizar-se para
formar singulares. Também, ao mesmo tempo: algo geral tem seus singulares na
particularização. Também, há níveis: espécie (geral), raças (particular) e
indivíduos (singular). Algo geral se singulariza por meio de suas
particularidades.
O geral é
abstração mental ao mesmo tempo em que abstração real, no próprio mundo. O
singular também afirma sua singularidade como a talvez preferência dos animais
por parceiros sexuais parecidos consigo ou com uma saliência sua. Alias, a
reprodução sexuada , a união dos opostos idênticos, mostra-se prova de que o geral
existe.
O que é
geral ou singular é relativo, posicional – a espécie é particular ou singular
em relação ao gênero; mas é geral em relação às raças e indivíduos de mesmo
tipo.
Mas a coisa
toda é mais confusa, menos classificatória: há o entremundos, a mistura, o
amálgama, a transição a duplicidade. Porque uns vêm de outros ou mesmo de
outro.
Em tantos
casos, em movimento: o geral é e não porque está, sendo.
DEDUÇÃO DA
QUARTA DIMENSÃO
Os físicos
há muito tempo estão familiarizados com a ideia de uma quarta dimensão
espacial, embora a concepção continue como curiosidade apenas ou apenas
instinto. Ninguém tem coragem de afirmar sua existência. De certa forma, isso
tem razão de ser: não é algo diretamente observável – se existe. A questão fica
flutuando no ar, esperando as condições atmosféricas de sua solidificação.
Há, no
entanto, como deduzir indiretamente sua existência, pois problemas filosóficos
e científicos obrigam sua existência se queremos soluções estáveis. Vejamos os
aspectos:
1. A energia, por debaixo de suas formas e formas
de manifestação, existe, mas não observável no nosso mundo tridimensional.
2. O universo em expansão é finito no
espaço-tempo, mas é necessário e inevitável que o universo seja infinito. Logo,
o infinito é hegeliano, ou seja, qualitativo, sem começo nem fim, tal como um
círculo.
3. A existência antes do universo só poderia ser
o nada infinito que põe o seu próprio oposto, o Ser ou algo finito.
4. Qual a causa de todo o movimento? Porque a
coisa não para? Por que seu estado natural é o movimento?
5. Marx afirma que podemos virar e desvirar a
mercadoria, mas nenhum átomo de valor há nela – no entanto, o valor existe na
própria coisa, apesar de invisível.
6. As
constantes abstratas na física e na química (G, constante de gravidade etc.)
obrigam pensar um aspecto oculto da realidade.
A resposta
necessária é uma quarta dimensão, espacial antes de ser temporal.
Primeiro,
ela é a casa da energia.
Segundo,
torna o cosmos infinito, como se para dentro de si.
Terceiro,
está conectadoacom a origem do Ser.
Quarto, a
matéria cai na quarta dimensão – movimenta-se – como se em si mesma.
Quinto, o
valor não empírico, mas real, encontra-se na dimensão quarta.
Sexto, o
tempo, algo relacional, expressa a quarta dimensão, algo substancial.
Sétimo, o
“ao quandrado” em cálculos de base para espaço e distância, até outros
espectos, indicam uma geometria de quatro “elementos”. Cada linha geométrica de
um quadrado simbolizaria, metáfora com fundamento, uma dimensão na expressão
como distância ao quadrado. Porém, afirma-se que se ouvesse mais um dimensão
espacial, o cálculo de gravitação de Newton seria d³, não d²; mas teorias como
a das cordas se demosntram racionais mesmo com 11 dimensões hipotetizadas;
caberia explicar por que, mesmo com quatro dimensões espaciais, tem-se d²:
porque é dimensão para dentro, porque é intensiva e não extensiva, porque ela
está dentro e fora de nossa realidade etc. Mas a solução principal é esta: como
a realidade aparece como tridimensional, associa-se sem mais, porque sim, de
maneira externa e artificial, o ao quadrado às três dimensões; isso esconde que
o ao quadrado em vários cálculos, incluso a probabilidade de encontrar a
partícula em um ponto, como descobriu Born, revela o lado quadricular das dimensões;
no erro, adicionar uma dimensão levaria ao d³ quando já de início se deveria
associar d², no micro e no macro, às quatro dimensões. Veja-se: Aristóteles
“refutava” a teoria de que a Terra girava porque, se assim fosse, tudo estaria
em movimento disforme; ele não conhecia o conceito de inércia; do mesmo modo,
temos com a quarta dimensão. No entanto, temos mais três provas diretas a
seguir.
A quarta
dimensão está, portanto, dentro e fora de nossa realidade. Outro modo de ver
isso é este: o infinito não cabe no universo finito, logo o transborda. O mar
não cabe dentro do navio.
E se o
centro de massa não for apenas ideal e hipotético – se for parte da queda da
coisa em si mesmo como na quarta dimensão? (A preservação do momento angular,
bem matematizado e conhecido, parece também reforçar: ao a bailarina girar, ao
aproximar seus braços abertos do corpo, do centro, ela aumenta a velocidade –
eis prova indireta da quarta dimensão.)
Talvez, a
ideia de quarta dimensão espacial responda algumas questões da física quântica,
embora tenhamos dado respostas neste livro que em geral dispensam tal premissa.
Podemos aprofundar. Na quarta dimensão, podemos entrar dentro de uma esfera sem
passar por suas camadas externas, por sua borda etc.; do ponto de vista de três
dimensões espaciais, parece que algo desapareceu aqui e reapareceu ali, por
salto. Assim, o salto citado para dentro da “caixa” do SSD do computador, o
elétron saltar (desparecer e reaparecer) camadas no átomo e o elétron em
movimento solto desparecer e reaparecer logo à frente – tais exemplos
demonstram que há uma quarta dimensão espacial, que é visto como tempo no
aspecto macro, quando algo desloca-se desparecendo aqui e reaparecendo ali. São
três fortes provas empíricas da quântica. Mas, no capítulo sobre física, pomos
teses com e sem quarta dimensão. Consideremos que matéria é feita internamente
por fótons (e/ou neutrinos); e consideremos que o espaço são linhas, logo, tais
materiais-luz, são ondas em linhas de espaço. Pois bem; se o elétron[31] é
feito de fótons, eles podem entrar em oposição como ondas (não “simétricas”),
em seu avanço, com cristais e vales se anulando, com o elétron desaparecendo
aqui e, depois, reaparecendo ali.
Vejamos uma
perigosa metáfora da quarta dimensão. Você está dentro de um navio; melhor, um
navio holandês do século 16, que é mais bonito. Mas está, de fato, dentro, não
há janelas, aberturas etc. Tudo escuro, aliás. Mas você sente o movimento, o
seu balançar, as ondas. Pensa que tal movimento é, então, puro movimento do
barco, de si. Na verdade, há um mar ativo e infinito lá fora, causa do
movimentar. Mas você não pode vê-lo, nem ver. Como é esperto, intui e deduz tal
coisa como a quarta dimensão causa do movimento, da queda constante, ou seja, o
oceano, existe. Mas o oceano não cabe dentro do seu navio, nem dentro de seu
cérebro – exceção se de modo indireto e conceitual.
SOBRE O NADA
Eis o tema
de maior dificuldade da metafísica, e um dos essenciais. Sobre ele, Heidegger
não fez mais do que um jogo sofístico de palavras. Hegel pensava que o nada e o
ser existiam ao mesmo tempo na coisa, logo, a relação de tais opostos geraria o
movimento, o devir.
Diz-se que a
dialética não pode romper com a lógica formal. Tudo bem: aceitemos tal limite,
vamos para os jogos infantis de lógica aristotélica e medieval.
Apenas para
clarear, está evidente que vazio, vácuo absoluto e nada são mais do que apenas
determinações – são os nomes do nada mesmo. Já temos o cenário, que não é
cenário algum.
Primeiro: se
a realidade vai do simples ao complexo – o mais simples é o nada.
Segundo: se
a realidade vai do abstrato ao concreto – o mais abstrato é o nada.
Terceiro:
impossível saber a primeira causa no tempo, sempre há um antes do antes, do
antes, do antes etc. – logo, temos de pensar um antes primordial, quando o
tempo sequer existia – o nada.
Quarto: toda
coisa é limitada porque de-limitada, delimitada; ou seja, dizer sobre ela é
limitar, dar seus limites; ora, o nada, por ser pura nadidade, não tem
deliminação, de-limitação, limitação, logo, - o nada é infinito, ilimitado, não
de-limitado.
Quinto: por
oposição, o Ser, o cosmos, tem-se como o oposto do Nada, o não-ser; ora, assim,
se o Ser cósmico é limitado finito (em três dimensões), com lei e preenchido –
o nada, ao contrário, deve ser ilimitado infinito, caótico e vazio. Categorias
opostas para os opostos.
A relação
caótica do nada como vazio e do nada, si mesmo ainda, como infinito – decai no
seu oposto. É lógico e, ao contrário, ontológico que a realidade total tenha
vindo do nada. E do ponto de vista mental, única resposta possível para
explicar o começo e o mundo.Que algo passe para seu oposto, estramos no terreno
arenoso da dialética.
O que
importa se isso não é diretamente observável? O átomo também não o é! Do
empírico podemos deduzir o não empírico. Só a teimosia cega pode negar o nada
como começo antes do começo.
Se existe
Deus, quem criou um Deus? De onde vem? Se existe o universo, de onde vem? Dizer
que de outros universos só adia para trás o problema, aumenta sua extensão. O nada absoluto teve de ser a fonte do Ser,
do universo, ainda que este se divida em multiversos “menores”.
O nada real
não pode ser imaginado, mas pode ser conceituado. Que é condição do nada, exato
por não ter características ou determinações, ter exato a determinação
característica de ser infinito – já demonstramos. A infinitude real,
qualitativa e não quantitativa, intensiva e não extensiva, também aparece como
impossível à imaginação, mas natural à conceituação.
Há uma forma
ainda mais comestível de expor. O Ser, cosmos, há, existe, uma categoria para
si; o Nada seria uma categoria para nós, oposta e criada, não existente no
real. Pois bem; o cosmos, o Ser, sabemos, tem uma história; por tanto, houve
uma fase, no começo do começo, em que ele era o mais simples e o mais abstrato
possível, ou seja, ele era apenas o Ser, mas era como se fosse o Nada; sendo o
Ser, ele era tão “puro” que era como se fosse Nada, sem determinações, sem
qualidades etc. Um transparente transparente. O ser era nada, embora não fosse.
Ele era e não-era, ser o não-ser. O Ser, em sua forma hipersimples e
hiperabstrata, em sua forma informe, era como se fosse o seu oposto.
A oposição
entre Ser e Nada passa para, em conceitos concreto atuais, Matéria e Espaço,
Massa e Energia.
Os antigos
filósofos, os atuais sequer merecem menção, confundiam determinações do Ser e
do Nada.
DEDUÇÃO DO
ESPAÇO OU CAMPO COMO LINHA
Diante da
refutação aparente da ideia de éter permeando o universo, pensou-se com pressa
na ideia de campos, uma gambiarra teórica. Seria muito mais correto e simples
supor o espaço como o meio por onde a luz flui-se. Talvez, apenas talvez, as
linhas de espaço sejam, também, linhas do campo próprio daquele tipo de
partícula. Vamos deduzir, pela empiria e por lógica concreta, que o espaço tem
a forma de linhas espaciais.
4.
As
partículas têm assimetria, preferência pelo desvio para a direita.
5.
O
entrelaçamento quântico – efeito fantasmagórico à distância, segundo o cético
Einstein – é, de fato, real e instantâneo, ao mesmo tempo nas duas partículas
distantíssimas. Algo parece ligar as partículas.
6.
Não se sabe
o motivo: o espaço expandiu-se, e
expande-se., quando havia apenas matéria no universo.
7.
Ao
atravessar uma fenda estreita de uma fenda dupla, parece que a partícula não
medida atravessa as duas fendas ao mesmo tempo e interage, assim, consigo mesma
como se com outra.
8.
O espaço é
transparente para a luz porque o espaço e luz são o mesmo, a luz fui pelo
espaço.
9.
Na lógica
superior, dialética, uma afirmação e sua oposta são verdadeiras: logo, o espaço
deve ser tanto contínuo quanto discreto, ou, ao menos, ter uma terceira
resposta ainda oculta. Uma linha é, por exemplo, discreta da esquerda para
direita, mas contínua de cima para baixo, por onde flui e é – ou seja: algo
contínuo-discreto, a linha.
10.
Ainda
segundo a lógica superior, pode-se ser partícula e onda ao mesmo tempo. Uma
onda percorrendo uma linha é algo, uma ponta ou linha concentrada.
Devemos,
portanto, superar de modo relativo o paradigma particular, dos objetos pontuais
e isolados. São úteis e práticos no nível quântico, mas não no nível
subquântico A aparência de autonomia externa esconde o nexo interno essencial.
A visão mecanicista vê tudo separado e apenas com relação externa; o extremo
disso é a concepção newtoniana de que o espaço é absoluto e sem relação com o
resto do mundo, um palco fixo e sem história. Mas a matéria no início do
universo decaiu e decai em espaço, a constante cosmológica real ou energia
escura real. Já os buracos negros maiores sugam espaço, crescendo, o que
reiniciará o universo por atração, fusão total. Fazemos, então, dedução
ontológica, antes de gnosiológica.
DEDUÇÃO DA
UNIDADE ESPAÇO-MATÉRIA
É um tanto
assustador que a ideia de expõe como igual à matéria não tenha sido pensada
antes. A ideia filosófica da igualdade de tudo não é nova, permeia todo o
conhecimento. Devemos uma dedução matemática: um tanto de matéria é equivalente
a quanto de espaço? Eis o desafio quantitativo. Do ponto de vista da qualidade,
podemos deduzir também.
1.
De onde
viria o espaço e sua expansão no início do universo, quando existia apenas a
matéria? Ora, da matéria mesma!
2.
O que sobra
da separação e dissolução da matéria o mais puro e abstrato, o espaço.
3.
Se ouve aniquilação
da matéria e antimatéria no início de tudo, o que dele sobrou? A luz decaiu em
espaço.
4.
Matéria e
espaço têm propriedades comuns.
5.
A matéria
não ocupa espaço, não concorre contra ele, porque é já espaço concentrado.
6.
Algo deve
conectar as partículas emaranhadas.
7.
Os opostos
têm unidade interna.
Estamos
diante da última revolução científica. Energia (luz), massa, matéria: são
espaço, formas de espaço. Mas ele não é o primeiro, embora seja o absoluto. É o
mais puro, abstrato e pobre de determinações (grosso modo, qualidades ou
características). É o Ápeiron concreto.
O desgaste
da matéria (desaceleração etc.) produz espaço, que, por isso, ainda expande-se.
O buraco negro, como alto, e auto, concentrador de matéria, suga o espaço,
tornando-o mais matéria, concentrando-o. Ao sugar espaço, o buraco negro
tensiona seu tecido, logo, produz energia, ou seja, gravidade – a matéria
escura na verdade não é por exato matéria, pois é espaço esticado ou
concentrado.
EXTRA: OS
PARADOXOS
A solução
dos problemas dos famosos paradoxos é que tais contradições deverão produzir ou
mudança ou colapso, movimento. Vejamos três casos de destaque:
1)
Se um barco
tiver toda a sua madeira restaurada, ele continuará sendo o mesmo barco?
E se a
madeira velha, retirada, for usada para produzir um barco, será um novo ou o
antigo? Ora, do ponto de vista hegeliano: ambos os barcos são novos e os
mesmos. Mas em nossa dialética diacrônica, a coisa é um pouco diferente. Um vai
tornando-se o outro. No quantitativo, um barco com 100 tábuas, se tira e
substitui 2, então ele é 98% antigo, 2% novo.
Mas ainda
cabe outra resposta: todo, a realidade,
do qual os dois barcos participam é outro ao mesmo tempo o mesmo, todo único. O
erro seria focar na coisa, nos objetos.
Outra
resposta; a coisa é , em primeiro, sua forma, que pode mudar de matéria, não a
própria matéria. Resposta hegeliana.
No mais: o
barco de Teseu é o barco dirigido pelo Teseu, aquele; teu corpo mutante – que
muda de células o tempo todo – torna-se o mesmo porque guiado pela tua
consciência. Mas o Teseu e a Consciência também são matéria que muda, mas há
continuidade na mudança, na descontinuidade. Por fim, importa a estrutura
daquilo que muda, sua formação material central, não apenas geométrica e ideal.
O barco é o barco de Teseu por seu contexto de assim ser, mais do que apenas
por seu em si isolado.
2) Quem
barbeia o barbeiro na cidade aonde ninguém barbeia a si próprio?
Como
resolver? Colapsando ou movendo. Vejamos: 1) o barbeiro pode barbear-se em
outra cidade, 2) ele colapsa a lei barbeando-se, 3) um não barbeiro o barbeia
etc.
Cria-se um
carinho pela contradição apaixonante, quer mantê-la em pé.
3)O paradoxo
de Ferrmi
Esse é um
paradoxo mais científico do que filosófico. Toda a probabilidade diz que há
civilizações extraterrestres, mas elas não aparecem – por quê? Porque o mesmo
Sol, estrelas, que dá vida e permite surgir uma espécie inteligente, destrói a
tecnologia avançada com suas explosões, com seus ventos solares especiais e
intensos. Civilizações, ademais, têm um ponto nodal, como no fim do
capitalismo, quando se extinguem, a si próprio, ou prosperam. Talvez, nossa
biologia tenha sido a mais rápida em produzir uma espécie especial. As
civilizações inteligentes e avançadas, se existem, estão em demasia distantes
umas das outras. Nem toda civilização inteligente é, de imediato, avançada. Por
fim, evita-se o contato direto.
O COLAPSO
AMBIENTAL
O Marx
marxista começa a sua produção expondo que uma das alienações de nossa
sociedade é que o homem não se vê como parte da natureza, põe-se enquanto
externo a ela. Pouco depois, levanta a questão da defesa do meio ambiente
contra a sua destruição, mas de modo muito limitado. Em O Capital, expõe que
rompemos metabolismo da natureza ao transferirmos material do campo para a
cidade, rompendo um ciclo natural. Observou também que a divisão da terra em
propriedades separadas e privadas não permite um manejo bom do solo. Mas suas
fortes observações param aí já que não percebeu que a crise ambiental é parte
vital das crises de um sistema, como o capitalista.
O homem
sempre agredirá o planeta. Mesmo o homem tribal levou à extinção de espécies. A
questão é que tanto podemos fazer isso hoje de modo profundo quanto temos
condições, por outro lado, de agredir o mínimo possível, de modo sustentável.
Uma hidrelétrica é necessária à sociedade, mesmo que agrida o natural, mas pode
ser reduzida e compensada a sua ação social sobre o meio ambiente.
Desde a
famosa década de 1970, quando tudo mudou, passamos a extrair mais da natureza
durante um ano do que ela é capaz de repor por si própria no mesmo período. A
pulsão infinita do capital, a má infinitude da progressão, ao tentar agredir o
infinito verdadeiro, na verdade agride sua própria base, o que pode nos levar à
extinção.
A vida –
tanto mais a de grande porte – se reerguerá nos próximos milhões de anos, com
ou sem a humanidade. Nossa tarefa é humanizar a natureza produzindo novos
elementos químicos e mudando os animais. Podemos criar sementes mais fortes,
mas, ao mesmo tempo, em nome do lucro, as tornamos estéreis na segunda
germinação para forçar a compra de novos insumos.
Torna-se uma
necessidade reaproveitar e reciclar quase todo o lixo ora descartado, mas isso
fere poderosos interesses. Além disso, o lucro não tem limites, quer sempre
mais, por isso o desmatamento avança apesar da ameaça ao ecossistema.
Ou
socialismo ou extinção! O atual modo de vida precisa passar para outro mais
organizado, planejado, sem lucratividade – mas não é algo inevitável. A produção
romana escravista levava a esgotar o solo, algo resolvido com o método de
descanso da terra praticado pelos medievais. Mas o feudalismo, em sua fase
final, também criou uma crise ambiental ao aumentar a quantidade de feudos e
destruir matas de nascentes etc. Cada fim de sistema classista tem sua crise do
meio ambiente, mas apenas a atual ameaça a espécie humana total.
ENERGIA
A
civilização pode ser medida por sua capacidade energética. Por exemplo,
impossível ergue uma civilização baseada em alfaces, logo precisamos plantar
aquilo que oferece mais energia. Nesse sentido, temos a escala de Kardashev,
aonde há civilizações de tipo 1, que domina a energia de seu planeta, de tipo
2, que domina a energia de seu sistema solar, e tipo 3, que domina a energia da
galáxia. Ainda somos a civilização de tipo 0, mais precisamente, 0,75 – ainda
não somos uma civilização.
Para ao
menos tocar o tema, destacamos que cada era do capital tende a uma própria
relação na produção de energia. Vejamos. Era mercantil: força humana, animais,
moinhos de água e vento; era industrial: máquina a vapor; era financeira:
eletricidade, hidrelétricas, petróleo, etc.; era fictícia: o mesmo da anterior,
como um salto para si, com a consolidação, após os anos 1950, da fissão
nuclear, e o uso recente de energias solar, eólica e maremotriz cada vez mais
aperfeiçoadas (nesta era, prepara-se o caminho técnico-científico da próxima
revolução energética, que inclui a fusão nuclear).
A fusão
nuclear, método que estamos tentando dominar, gerará energia global abundante e
limpa, além de sem grandes riscos. Ela é própria para a sociedade socialista,
por isso esta deve investir nela com máxima força. Isso nada mais é que imitar
a fusão nuclear da nossa estrela em escala menor.
Tal
revolução energética por vir facilitará com que nos tornemos uma civilização
interplanetária. Faremos, tanto quanto possível, mineração em outros planetas,
principalmente no próximo e estável Marte. Uma sociedade desse tipo exige uma
tecnologia mais avançada e tal mesma tecnologia mais avançada exige relações
sociais mais avançadas também, ou seja, socialistas. A revolução comunista
levará nossa espécie para além da atmosfera. É uma lei social que forças
produtivas mais elevadas exigem relações de produção e sociais também mais
elevadas.
Tudo isso
está de acordo com a necessidade drástica de redução do uso de petróleo. A
poluição está causando um efeito estufa, está aquecendo e desregulando o clima.
Mas o capital não demonstra o menor sinal de que combaterá o problema na sua
medida, pois a lucratividade não conhece limites. Faz algum tempo, a escola
americana MIT fez uma postagem na internet afirmando que o grande problema da
captação de energia solar é que é muito eficiente, então a energia torna-se
muito barata. Eis um problema capitalista!
A afirmação
de que o capital é incapaz de resolver tal problema não é um dizer por fé. Se
tal sistema for capaz de impedir a catástrofe, tanto melhor aos socialistas,
pois eles terão muito mais tempo histórico para mudar a realidade, com menor
risco de extinção. O fato de podermos ser extintos em algumas décadas é um peso
enorme, que reduz a margem de manobra da luta por outra sociedade.
MARXISMO E
METAFÍSICA
É muito
difícil enfrentar as tendências de seu tempo. No século XIX, a luta de Kant e
dos positivistas contra a metafísica tornou-se popular, digamos assim,
tornou-se uma obviedade científica, filosófica. Para que saber sobre o nada e o
ser? O iluminismo associou metafísica com metafísica medieval, aonde a religiosidade
impera – até nosso tempo, ser metafísico é considerado, no meio marxista, algo
religioso. Para que saber “o porquê” realidade, seus aspectos centrais e
universais, se podemos fazer bom uso do “como”? Assim, ficou para a Igreja
saber os fundamentos primeiros do mundo.
Marx e
Engels contrapuseram a dialética com a metafísica, sem atentarem que são o
mesmo, ainda que opostos. A dialética é uma forma de metafísica, contra o que
pensava, veja só, Aristóteles. O materialismo com história é uma concepção
geral de mundo, de cosmos, de como é a realidade.
Seguindo tal
tradição, Lenin e Trotsky também abominavam qualquer associação coma palavra
metafísica. Lukács corrigiu nosso caminho, usando um nome mais aceitável para a
academia universitária burguesa – ontologia, um aspecto e área da metafísica.
Como o
marxismo tornou-se, em grande medida, acadêmico, teve de ceder à antimetafísica
e burguesa concepção de ciência. Mas, entre não marxistas, aqui e ali, surgiam
sinais de renascimento da filosofia primeira, como em Heidegger, Ser e tempo;
como em Sartre, Ser e nada.
Diz-se que o
bibliotecário que organizou a obra de Aristóteles colocou os textos para além
dos textos da física por uma questão apenas de ordem. Mas ordem nas prateleiras
tinha, no fundo, uma correspondência coma ordem real. É a partir da física e
das demais ciências que podemos chegar a certa e correta metafísica. Tal meta
deve explicar e superar não só as ciências particulares, mas também soar como a
evolução natural de toda a filosofia, sua conclusão inicial.
O marxismo é
uma concepção geral de natureza, de sociedade, de ética etc. de realidade
primeira, de mundo. Não é a filosofia de nosso tempo; antes, filosofia do
tempo. Assim, consegue transcender de maneira imanente a época de sua elaboração.
Nas minhas
pesquisas e elaborações, fui chamado a tomar as conclusões às quais alcancei
como algo de todo novo, uma revolução imensa de ineditismos. Sou marxista como
Marx era hegeliano ferrenho e, ao mesmo tempo, crítico. Nomeio minha metafísica
marxista porque pertenço a uma tradição filosófica bastante clara. A ruptura
permanece na continuidade.
VALOR
Apenas com
Postone a questão da importância central do valor fez-se presente, para além e
por debaixo da categoria capital. No entanto, o marxismo continua considerando
tal conceito como não existente em si, como apenas relação. No posfácio de
Engels ao livro III d’O Capital, ele cita economistas que afirmaram ser o valor
algo inexistente, uma ficção, mas extremamente útil ao trabalho científico. O
comunista rico, ao contrário, afirmou a existência de tal “coisa” ou
“propriedade”.
Vejamos
citações que reforçam nossa tese:
Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma
coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada,
plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.
(Marx, O
capital I, 2013, p. 146)
No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa
sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa
coisa sensível-suprassensível.
(Idem, ibidem)
O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar
de invisível, existe nessas próprias coisas…
(Idem, p. 170)
Aqueles que acham que atribuir ao valor existência
independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é
essa abstração como realidade operante (in actu).
(Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
Mais-valia e taxa de mais-valia são, em termos
relativos, o invisível e o essencial a ser pesquisado, enquanto a taxa de lucro
e, portanto, a forma da mais-valia como lucro se mostram na superfície do
fenômeno.
(Marx, O capital 3, 2008, p. 34)
Metodologicamente,
Hegel dá a pista:
Tem que se deixar de lado a opinião de que a
verdade tem que ser algo palpável.
(Hegel G. W., 2016, p. 53)
O valor é
uma entidade não empírica, invisível, metafísica – não apenas relacional. É
nesse sentido que o dinheiro torna-se o deus real do mundo real, a medida de
todas as coisas.
No começo de
suas pesquisas, Engels e Marx negaram a categoria valor, talvez por seu lado
metafísico. Mas logo tiveram de recuperá-la, único modo de, no real, entender o
capitalismo.
O valor,
sejamos ousados, nada mais é que nada, energia, aspecto da quarta dimensão.
Hegel diz que o que está na causa passa para o efeito, como a água da chuva
estará no solo molhado; ora, a energia corporal do trabalhador passa para a
coisa, o objeto, a mercadoria física. São conhecidas as passagens em que Marx
afirma que a máquina perde seu valor durante seu uso, com seu desgaste
material, passando seu valor, imaterial, para a mercadoria em produção; assim,
a máquina parada sob agressão da natureza também perde valor com e por seu
desgaste físico. O valor-capital e o valor-material estão juntos, abstraídos
apenas na teoria. Idealmente, isso se expressa na contabilidade da empresa, em
que se calcula o desgaste médio do capital fixo, sua depreciação. O
valor-energia precisa estar numa coisa, num suporte material, ou seja, num meio
(sendo somente um com este); por isso nem todo trabalho é, de fato, trabalho.
Na física,
energia é capacidade de trabalho e trabalho é transferência de energia. Isso
ocorre no mundo físico, material, da produção: o trabalho transfere
energia-valor do trabalhador para a mercadoria. Assim, mais-valor é
mais-energia, energia não paga, gratuita, explorada – o operário cria seu valor
por gasto de energia, além de um valor extra também por tal gasto. Valor não é,
não é, tempo de trabalho (socialmente necessário para produzir a mercadoria).
Valor é apenas medido pelo tempo de trabalho. Isso fica muito claro com a
leitura do Livro I quanto à intensidade do trabalho. Se trabalho por 1 hora com
dada intensidade, produzo um tanto de valor, pela transferência de energia;
mas, se nessa mesma 1 hora, trabalho com o dobro da velocidade, logo temos o
dobro de valor produzido ou energia gasta no mesmo tempo! Valor é forma de
energia. De sua parte, energia é espaço, talvez uma dimensão extra, quarta; mas
essa identidade não é imediata para nós e neste assunto. Quando Marx diz, após
mostrar que a relação de mercado faz apenas a forma (de manifestação) do valor
sem fazer seu conteúdo, que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas nenhum
átomo encontramos de valor, diz de sua invisibilidade. A mercadoria tem, como
demonstramos em outras citações, o valor dentro de si, não como relação
externa. Refaçamos seu raciocínio. Se tirarmos todas as propriedades (físicas)
da mercadoria, resta apenas uma “coisa em si” kantiana vazia, o que há por
dentro dela, nela, sendo ela:
Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias,
resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o
produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu
valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem dele
valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer coisa
útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é mais o
produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho
produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o
caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também as diferentes
formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros,
sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato.
(Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)
E:
Consideremos agora o resíduo dos produtos do
trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma
simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de
força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O
que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida
força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações
dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores
mercantis. (Idem, 116.)
Trabalho
abstrato é, portanto, puro trabalho, apenas transferência de energia no tempo.
O abstrato é o concreto em processo – o trabalho abstrato é o trabalho concreto
no tempo.
Tal
conclusão, com ares de definitiva, soa bizarra até para mim, que fiz a
interpretação da obra de Marx. Fere nossa mentalidade presa à aparência, ao
prático, ao bom-senso, à empiria. Mas deve ser aceita – por mais absurda que
soe. O preço, dirá Marx, apenas é o nome do valor, algo outro, apenas forma,
forma de manifestação autônoma. O preço pode estar abaixo ou acima do valor
real da mercadoria singular. Preço é ideal; valor, material. Valor é um nada
que, apesar disso, é tudo. Valor é o maligno espírito santo que permeia todas
as coisas produzidas pelo homem, o Mamón oculto, o demônio bíblico do dinheiro.
O valor determina nossas vidas e pensamentos, mesmo que nada saibamos de sua
existência. Marx diz: “(…) o valor de troca é apenas uma “forma de
manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do valor.” (Marx,
Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58; grifo meu). Ou seja, o valor
está “contido na mercadoria”, mais do que algo apenas relacional, também
substancial.
TECNOLOGIA
MODERNA
O marxismo
parou de estudar as novas ciências e tecnologias, permanece vítima do mundo
acadêmico e da especialização. Talvez, criemos certa máquina de produzir novos
compostos químicos, o que revolucionaria tudo – mas disso nada sabemos. A
química tem vasto uso industrial; nesse sentido, de modo inconsciente, uma
ciência socialista por excelência.
As máquinas
estão substituindo de vez o homem na produção – seja por imitação da mão
humana, seja pela imitação de seu cérebro e sensibilidade (programas,
robótica). Em muitos aspectos, a máquina nos supera. O tempo do tempo livre
está por chegar, mas ele se manifesta hoje como desemprego desesperador. A
culpa, claro, nunca é dos físicos e engenheiros. Se há certa culpa dos
cientistas e técnicos é o fato de que os produtos estão sendo fragilizados,
feitos para quebrarem, o que gera lixo maior, mais consumir a natureza, lucro
acrescido e consumidores insatisfeitos. O socialismo acabará com essa palhaçada
que nos leva à extinção.
Programas
como o ChatGPT são capazes de fazer música – ainda não muito bem –, matérias de
jornais etc. É um recurso útil e inevitável em certo sentido. O desemprego
crônico e a precarização é um tendência inevitável sob o capital.
A verdade
também está sob risco. Vídeos perfeitos poderão ser produzidos, com voz
correta, com pessoas fazendo atrocidades que não cometeram em verdade. Mas a
tecnologia não é a causa única, polo substancialista, pois se estivéssemos numa
sociedade organizada e socialista, sem grandes lutas de classes, tais meios não
teriam base relacionalista para degenerarem em falsificação criminosa ou
caluniadora.
O mais
notável são os computadores e supercomputadores, incluso a emergente
hipercomputação quântica, que permitem – finalmente! – o planejamento geral,
central, técnico e democrático da produção, da distribuição e da economia.
Atrapalham,
no entanto, o desenvolvimento técnico o controle privado de patentes, o segredo
industrial e os monopólios e oligopólios. A solução, evidente, não é
propriedade em si estatal, mas social, o Estado e as empresas controladas pelos
trabalhadores e pelo povo.
Há uma
tendência efetiva em investir em ciência aplicada, para fins lucrativos, contra
a ciência de base, que estagnou em certo sentido. Isso prepara a queda da
burguesia ao criar as bases para o revolucionamento total da sociedade.
EDUCAÇÃO
Os
professores foram capaz de tornar o estudo da realidade algo tedioso,
insuportável, angustiante. A educação científica da humanidade é deplorável, e
o capital tem cada vez menos necessidade de gente com alta especialização (as
coisas ganham cognição).
Como tudo é
contraditório, a internet permite uma educação superior. Posso dizer que ela
mudou minha vida, permitindo-me ter cultura para escrever livros como este. De
modo que parte do currículo pode ser cumprido com a autoeducação, via canais de
vídeos etc.
Porém o QI
tende a cair por causa do pouco movimento e da pouca vivência prática das novas
gerações, vidradas na tela de celular desde o nascimento. Não é exagero dizer
que estamos destruindo o cérebro das novas gerações, e não teremos o direito de
reclamar depois. Alguns infantes apresentam sinais de autismo sem serem
geneticamente autistas.
Apenas
países dominantes investem na educação – e olhe lá! –, pois precisam de
especialistas na concorrência global de empresas. Os EUA têm um povo, no geral,
inculto, bom para controlar a classe trabalhadora; mas atrai para si os
melhores cérebros, que surgem com dificuldade ambiental em todo o mundo.
A educação
não muda o mundo; por isso temos, no meio da crise econômica brasileira,
engenheiros dirigindo taxi uber. É a economia, estupido! Apena s o socialismo é
capaz de garantir a humanidade intelectualizada, ativa e senhora de si –
reforçando o indivíduo e seus talentos.
Temos uma
educação do século 19 na era do conhecimento subatômico. Deve-se garantir a
internet como meio prazeroso de aprendizado e paixão científica. Professores
excepcionais, por didática e personalidade, precisam dispor cursos e aulas
completos sobre temas de suas especialidades.
Logo teremos
óculos que permitirão entrar no mundo paralelo virtual ou, melhor, ou melhor,
ampliar a nossa realidade. Isso permitirá, por exemplo, “ver” a célula em
tamanho amplo, seu funcionamento, suas partes e explicações. Mas isso depende,
em grande medida, de construirmos uma sociedade justa, que necessite de um povo
culto.
O
TERRAPLANISMO
Todos nós
somos carentes, desejosos de atenção, tarados por agrupamento; quem sabe,
sonhamos fama. De repente, não mais que de repente, o indivíduo instável e em
crise que defende supostas hipóteses absurdas – Terra plana, Terra jovem, cura
quântica etc. – ganha: um coletivo para chamar de seu, espaço na internet, olhares
e, se der um pouco de sorte, será entrevistado num daqueles programas de
entrevista pela madrugada, por aonde passam pessoas importantes. Sua vida
passar a ter sentido, na aparência – nem pensar largar sua “verdade”.
Gente genial
morreu ou sofreu repressão por defender que a Terra é redonda, que o Sol está
no centro, que há outros mundos com outros seres, que Deus nada mais é que a
natureza etc. A verdade liberta. Mas
opositores crônicos, uma deformação mental, querem se destacar contrariando a
realidade comprovada. Cada vez mais, precisam usar malabarismos para as suas
“hipóteses”.
Ciência é
algo difícil, tanto mais para gente religiosa. Para tentar conciliar razão e
fé, alguns psicólogos de baixa formação – e ser erudito é necessário – apelam
para o místico Jung. Uma parte grande do povo compra tais besteiras, como caso
da fama da acupuntura.
Cada área da
ciência costuma ter seu terraplanismo. Na história, temos dois centrais: 1) o
nazismo era de esquerda; 2) o estalinismo não era uma ditadura contra o povo,
sequer assassina dos revolucionários. Quase-marxistas caem na segunda onda,
insistindo que isso seria igualar nazismo e socialismo. Não: o regime de Estado
– não a economia, as relações de produção, certas superestruturas e não o
Estado mesmo – são parecidos, semelhantes (ambos aliás, buscavam derrotar o
movimento operário com força bruta). A categoria de totalitarismo é correta do
ponto de vista das categorias de forma e de aparência, certas até certo ponto.
Os dois regimes eram inimigos ditatoriais da humanidade. O estalinismo é um
tipo de terraplanismo.
As correntes negacionistas procuram manter de
pé a religião contra as avançadas concepções científica, que são, em geral,
históricas (para ales, os dinossauros não existiram há milhões de anos).
Portanto, enquanto a religião for uma necessidade viciante, o problema
existirá, aqui e ali. Apenas o socialismo, ao mudar e melhorar a realidade,
porá fim aos delírios compartilhados. Muitos homens do povo pensam que a Terra
é plana – bastaria ver! – sem assistir quer qualquer vídeo dos militantes da
“causa”. Se dizemos a verdade, que ele é redonda, suas consciências sentem um
sentimento de absurdo.
Muitas
verdades científicas devem ainda se tornar populares, mesmo que com alguma
deformação. É possível uma humanidade erudita.
RELIGIÃO E
ATEÍSMO
FÉ E RAZÃO
Além da
oposição emoção-razão, há entre fé e razão. Os mais moderados dizem que ambos
são necessários e complementares, portanto ambos devem ser preservados. Isso é dialética
kantista, resolvida pelo diacrônico (A=A e… não-A). A ideia absurda de que há
uma região do cérebro responsável, logo estrutural, pela religiosidade é um
erro científico de principiante. Ou melhor, no máximo, a mesma região serve
para cada oposto, pois o que o aparelho psíquico busca é compreender a
realidade, certa garantia da previsibilidade de um futuro bom etc. A
religiosidade foi uma das primeiras ferramentas, por isso a mais frágil. Porque
não tinham meios melhores, os antigos usaram a religião. Depois, vieram a
filosofia e a ciência maduras, além da arte desenvolvida. No socialismo, ao
poucos, sem imposições, as novas gerações serão cada vez mais ateias,
cientificas e filosóficas céticas ao admirarem o cosmos. A alta qualidade de
vida permitirá isso; um país com maior pobreza material e espiritual tem mais
religião e fanatismo; outro país mais agradável tem mais ateísmo e menos
fanáticos. Há, portanto, uma evolução, uma progressão, da religiosidade para o
sentimento filosófico futuro. Um passa para seu oposto. Se temos certo aumento
da religião onde há mais sofrimento por causa das guerras etc., temos, por
outro, a nova geração que “acredita em tudo” como ciência, astros, energia,
Deus etc. Tal bifurcação subjetiva expressa uma realidade bifurcada, com duas
possibilidades, socialismo ou barbárie. No mais, o novo e amplo ateísmo deve se
livrar de seu perfil de seita sectária, próprio de movimentos em seus inícios,
e focar, como orienta Trotsky, na divulgação científica popular (jornais,
panfletos etc.), na formação de clubes, na defesa das pautas sociais etc.
Curioso que muitos jovens ateus procurem Nietzsche, um anticientífico, pai do
irracionalismo atual, quando deveriam assumir a responsabilidade de ligar-se a
Marx, o revolucionário ateu e científico.
A história
da filosofia é, até e ainda agora, a história da luta filosófica contra o
necessário ateísmo, tentar afirmar racional o que é irracional. Tentou-se em
vão provar a existência de Deus. Mas o tempo de um ateísmo sereno está por
chegar.
NEOATEÍSMO
O ateísmo é
uma concepção antiga, mas imensamente marginal – imensamente, mesmo. Alguns
filósofos antigos eram ateus. Hoje, membros da nova geração adotam tal postura,
logo isso deve ser explicado. As razões são: 1) desenvolvimento da economia, o
que oferece ouros prazeres como TV, séries, alimentos baratos etc. 2) alta
urbanização, o que diminui o controle sobre o indivíduo; 3) alto
desenvolvimento da técnica e da ciência, oferecendo alternativas e respostas;
4) governos democráticos, sem maior controle; 5) onda permanente de escândalos
religiosos, como pedofilia e pastores ricos; 6) nível cultural médio maior das
novas gerações. Assim, os novos ateus podem surgir em muitos países, em
especial nos desenvolvidos e nos de cultura ocidental. Seus ares de seitas
ocorrem por ser um movimento em seu início, que deve aprender a baixar a guarda
dos seus adversários para ganhá-los aos poucos, pelas beiradas. De qualquer
modo, o futuro do ateísmo depende do futuro da economia, do resultado da luta
das classes. Uma sociedade de decadência não resolvida tende ao fanatismo
religioso.
AXIOMAS
FORMAIS
A dialética
não trabalha com axiomas iniciais. Ou melhor: coloca-os sob constante crítica e
atualização desde o estudo do objeto concreto. A lógica formal deu-nos axiomas
formais, que soam óbvios aos presos ao mundo sensível, ao cotidiano aparencial:
1) Tudo necessariamente
tem de existir/ser real/ser verdadeiro.
2) Algo não
pode existir e não existir ao mesmo tempo.
3) Nada pode
acontecer sem motivo ou causa, do nada.
4) Nada pode
ser criado a partir do nada.
5) Uma coisa
só pode ser ela mesma – ela não pode ser outra coisa nem outra coisa pode ser
ela.
6) Uma coisa
não pode ser ela e seu oposto/negação ao mesmo tempo.
7) Uma coisa
não pode ser ela mesma e outra coisa diferente dela ao mesmo tempo.
Foca-se na
coisa, no algo; não na realidade complexa que é foco do científico.
De 1,
sabemos que as coisas mudam-se, transformam-se etc. Até a verdade muda.
De 2, temos o caso do socialismo que existe e não
existe ao mesmo tempo dentro do capitalismo. A arte é e não é, ficção real.
De 3, o
universo veio do nada. Há acasos, que são o mesmo que causa de fundo. Acima da
causalidade há a interação ao mesmo tempo.
De 4, de
novo, o universo veio do nada ou, o que é mesmo, o universo era tão simples e
abstrato como o nada.
De 5, o
mesmo conteúdo pode ter diferentes formas – e diferentes formas, diferentes
conteúdos. O capitalismo já é socialismo, embora não seja. A partícula quântica
põe-se numa sobreposição de onda e partícula. Uma partícula pode ser partícula,
mas internamente formada por ondas.
De 6, A
religião é algo positivo, ajuda a respirar, e negativo, aliena.
De 7, já
demonstramos nos exemplos anteriores.
Nossa lógica
mais diacrônica relativa à de Hegel ajuda a afirma a lógica formal de
Aristóteles. Certo: x ou não-x, mas um pode ir para o outro. Ainda assim, a
dialética está aí porque x pode ir para não-x ainda sendo x.
O IDEALISMO
DE LUKÁCS
Para este
capítulo, devo reforçar: sou lukacsiano; crítico, mas ainda. Sem as 3 leis do
Ser social descobertos por ele, em sua ontologia, eu nunca teria generalizado
para as 3 leis de todo o Ser, a partir do não social inorgânico. Portanto, ele
é meu mestre, sou parte da tradição iniciada por Lukács.
Para deixar
cristalino o argumento, apresentarei de modo direto:
1. A teleologia como primeiro motor
No fundo,
ele é um aristotélico (na arte etc.) moderno. Demonstramos mais de uma vez que
é a realidade e suas mudanças causais que forçam a teleologia. O mundo é o
primeiro motor móvel.
2. Teleologia apenas subjetiva
Se o leitor
leu página a página até aqui, demonstramos que a teleologia é, também,
objetiva, produto de relações causais, diversificação etc.
3. Valorização correta, mas unilateral, da razão
Ele abraça
para si o racionalismo, neste sentido, dos iluministas e, claro, de
Aristóteles. Ele foi firme e forte contra a calúnia contra a razão da parte da
Escola de Frankfurt, filha dos destruidores da razão (Nietzsche etc.)
“emocionais”. Mas caiu no erro oposto e extremo.
4. “Abstrações razoáveis”
Como
demonstrou Chasin, palavras que repetimos, Lukács propõe como método o sujeito
escolher, desde a aparência ao menos, como dividir o objeto total concreto,
ou seja, fazer as abstrações. Ao
contrário, sem escolhas prévias, o pesquisador deve, antes, descobrir quais são
as divisões e abstrações internas do objeto de estudo – não apelar ao,
antecipador arbitrário, razoável abstração.
5. O método de Marx como conteúdo da verdade
Lessa, um
dos principais seguidores da tradição, diz, ao contrário, que o método – o
idealismo, gnosiolismo – não é o critério da verdade. O critério da realidade é
a própria realidade. Pode-se chegar a níveis de verdade ou níveis de erro por
diferentes métodos.
6. Valoração como subjetivo
Para Lukács,
o homem primitivo começou a valorar como se fosse algo subjetivo, de todo
humano, de todo ideal. O valor, ao contrário, é, antes, algo objetivo
substancial-relacional.
7. Real (ontológico) como probabilístico para
salvar a idealidade
Um erro de perfil,
o idealismo, por ter força e acertar certos tiros, alvos. Mas ver o mundo como
probabilístico, não necessário, trata-se de uma limitação nossa, não da
realidade em si. Termos opções, mesmo que uma alternativa seja de 2%, ainda é,
na prática, nada (a probabilidade não é zero, mas é impossível, como demonstra
a matemática).
8. Crítica subjetiva da burocracia
Na crítica
contra a ditadura “vermelha”, ele foca na política, traindo seu próprio método,
marxista, de forcar no trabalho. Assim, ele ergue moral e a ética como
problemas reais (Como Aristóteles na decadência grega) não lastreados na
produção e na reprodução.
9. Foco no lado subjetivo da alienação
No fim de
seu manuscrito, Ontologia, quando a letra começa a falhar, ele foca na
subjetividade, não na objetividade ampla da alienação, como a personalidade
etc. No mais, era um esboço.
10. Foco na idealidade
Focou no
ideal, no subjetivo, na ideologia, ou seja, o mesmo, na superestrutura
subjetiva. Deveria começar pela objetividade, ou seja, explicar, antes, seu
mundo, atualizar a teoria, tal como fizemos aqui.
11. Baixo uso da empiria, foco no método
ensaístico
O foco no
empírico, primeiro, ou o foco no raciocínio, central, divide o marxismo.
12. Quer normalizar e normatizar
idealmente a arte.
A questão é a
realidade que produz a arte, a ontologia. Além disso, neste tema, mais uma vez
aproxima-se de Aristóteles.
1.
Trabalho humano apenas
Separa o
homem da natureza como fazem os idealistas como trabalho ideal, subjetivo e
subordinado à teleologia subjetiva do trabalho. Curioso que na Bíblia a
humanidade inicia quando Deus manda o homem viver do suor de seu trabalho. Já
Engels considerou, de modo instintivo, embora não tenha desenvolvido, o
trabalho como categoria geral abstrata e real nas três modalidades do Ser –
inorgânico, biológico e social. Lukács considera apenas o trabalho humano, o
que, no fundo, idealiza.
14. História
como resultado do conjunto de teleologias subjetivas individuais humanas
Desde aí,
fica mais claro o idealismo lukacsiano. Em primeiro: o todo, a totalidade, tem
propriedades próprias e, também, influencia suas partes, que passam a ser
relativamente determinadas por aquele “maior” e “envolvente”. Em segundo: na
ação humana total, a realidade humana ganha autonomia relativo aos homens atomizados
e em conflito, então, surgem leis não decididas por ninguém, que determinam o
pensamento e a ação humanos – o mundo das coisas rege o mundo dos homens,
alienação. A história ocorre, em parte, como se por detrás dos próprios homens,
até que eles, estes, ganhem mais poder de decidir seus próprios destinos, ou
seja, alguma dose materialista de idealismo.
15. Peso
enorme da reificação
Seus
seguidores e até detratores (Adorno etc.) focaram em tal categoria. A
descoberta de fetichismo por Marx – relações sociais aparecerem como relações
entre coisas – levou Lukács a pensar a reificação, a coisificação, mas de modo
subjetivista, mas pesou a mão em demasia em tal eixo subjetivo. Ele nunca foi
capaz de se afastar de todo de sua obra de juventude, com marcas idealistas,
História e consciência de classe, apesar de a subjetividade ser um certo
mistério à tradição marxista, uma falha parcial e hoje quase superada.
16.Objetificação
e exteriorização
São
categorias centrais para o húngaro. Ora, demonstramos em outro momento, também
há a subjetivação, ou seja, subjetivação da objetividade e interiorização.
Aláis, eles são anteriores e primeiros, no duplo sentido, no sentido
ontológico, além de condições daqueles.
17. A
personalidade como efeito subjetivo
O húngaro
dirá que a personalidade é o conjuto de perguntas e respostas que o indivíduo
sujeito é capaz, faz e responde durante durante sua vida. Belo, mas errado:
apenas com aspectos parciais de acerto. Isso é idealismo, enquanto materialismo
é isto: como e quando o homem age, sente e reage às situações postas ao longo
da sua vida. O problema de alguns marxistas é que, quando passam a tratar da
mentalidade, tornam-se idealistas. Para ele, o pensamento, no lugar da
objetividade externa, seria como um primeiro motor da personalidade, não o
segundo, embora não diga isso de modo claro.
18.A negação
do nada
Como
Aristóteles, para ele apenas vai-se de ser em ser, de ente em ente. Mas isso é
dar ajuda ao idealismo religioso como seu deus necessário para a origem de
tudo. Como surgiu tudo? Na totalidade, não nas partes e singularidades, o nada
infinito e caótico “implodiu” no inverso, o ser finito e com leis. É a única
resposta materal e idealmente possível.
Podemos ter
acentuado ou exagerado alguns pontos, mas apenas para deixar claro e limpo o
diagnóstico. A caracterização, assim, se sustenta. Ele se preencheu de
materialismo, mas caiu no idealismo. Veja-se que é graças a ele o fato de
termos, hoje, muito maior clareza do método materialista de Marx, por exemplo.
Era um gênio, mas era-lhe impossível ir mais longe.
Um do seus
erros, que lhe levou ao idealismo inconsciente, foi deixar de ver a totalidade.
Estudar apenas a parte (complexo) de um todo pode levar a muito acertos assim
como a muitos erros; certamente, a muitos limites. Após escrever o primeiro
livro, de três, de sua Estética; viu-se obrigado a pensar a ética, mas, antes,
percebeu a necessidade de uma ontologia do ser social. Em primeiro lugar,
Lukács buscou apenas os primeiros passos de tal Ontologia (um PARA a ontologia
do ser social); em segundo, deixou de ver a totalidade, ou seja, a ontologia
(metafísica) total de todo o Ser, de toda a realidade. Só indo à totalidade
chegariam ao íntimo do mundo e das partes. Ademais, sem o querer, estimulou a
ideia de historicismo absoluto – não apenas relativo – do marxismo, que esquece
a estrutura e seu peso.
A DIALÉTICA
NOS MARXISMOS
O marxismo é
a teoria que permite ver as demais teorias – mais ampla, profunda e acima. No
entanto, nossa tradição algo que separou a lógica de Hegel de seu caráter de
ontologia, de metafísica. Sua lógica é a lógica objetiva, do próprio mundo; mas
deve ser atualizável. Ainda assim, pomos atualizações parciais, até esta obra,
na grande sistemática dialética. Vejamos.
Lenin
Lenin foi um
gênio. Dele temos a resposta mais correta sobre o imperialismo de seu tempo e a
teoria do partido. Mas os fanáticos teatralmente leninistas querem fazer dele a
fonte de tudo; assim, teria uma grande contribuição para a dialética. De seus
manuscritos pessoais, tiraram a teoria do reflexo, suposta teoria. Ele era um
dialético nato, ainda mais após ler Hegel; mas nenhuma grande contribuição tem
sobre o assunto – o que de modo algum algo o diminui.
A primeira
visão do reflexo é pensar seu uso como a mera descrição metódica, presa à
aparência. Mas a coisa toda pode ser melhor: o reflexo é o igual, mas inverso
daquilo refletido. A realidade se apresenta como diversa – a teoria vê sua
unidade; observa-se o externo – apenas
para ver, então, o interno oculto; têm-se a aparência – cuja riqueza dá
as pistas necessárias para quase ver a essência. E assim por diante. Mas seria
mais correto afirmar que uma categoria é para nós e a outra, oculta,
apresenta-se como para si: por exemplo; a diversidade é, em real, para nós,
algo mental, enquanto a realidade tem unidade para si, que deve ser descoberta.
Não nega Lenin, embora seja seu oposto e mais de acordo com o fazer científico
dialético. A dialética é a lógica apaixonada.
Trotsky
Quase toda a
sua teoria – revolução permanente, programa de transição etc. – deriva da lei
do desenvolvimento desigual e combinado, sua descoberta. Mas seus seguidores
focam no “desigual e combinado”, não no desenvolvimento. Ele abriu a janela
para a renovação da dialética tal como expomos neste livro – embora não a tenha
atravessado ou olhado para fora. Em resumo, os elementos de uma totalidade,
suas partes, desenvolvem-se de modo desigual, uns mais que os outros; e isso
produz uma combinação tantas vezes explosiva, contradição. Assim, o atrasado
tem uma vantagem relativa, porém relativa, no seu desenvolvimento – e é mais
fácil saltar exato por ser muito contraditório.
De modo
inconsciente, ele pensou a contradição entre o todo e as partes, como a
resistência à maior integração. Diz disso como contradição entre o
mercado-produção mundial ainda com importantes fronteiras nacionais
resistentes.
A amizade de
Marx e Engels foi o maior da história do pensamento. A de Lenin e Trotsky, a
maior da história das revoluções. Ambos são grandes dialéticos.
CRÍTICA À
DIALÉTICA DE LUKÁCS
Exceção
desta obra, quem mais contribuiu para a dialética foi o húngaro. Teremos de ir
de contribuição a contribuição, no máximo deixando escapar algo.
Contínuo e
descontínuo – negação da negação. Para ele, a essência (contínuo) se mantém na
mudança (descontinuidade). O DNA permanece o mesmo nas mudanças da vida, da
planta etc. Com isso, critica Engels por usar a negação da negação, que seria
um erro de tipo hegeliano… Ora, o próprio Marx usa tal eixo no final da obra O Capital
I, o que demonstra sua validade. A questão toda é que negar o negativo é algo
mais social enquanto tese-antítese-síntese é mais biológico; e posto (que põe o
seu)-oposto-composto é mais próprio do inorgânico. Daí a confusão.
Reflexão. No
Livro I da Lógica, Hegel diz que uma categoria passa para outra, por exemplo, a
qualidade passa para a quantidade; no livro II, as categorias são, diferentes,
reflexivas, ou seja, pensar a causa já é pensar a consequência, como no
espelho. O que diz Lukács? Que as categorias do livro I também deveriam ser
reflexivas – pensar qualidade é pensar quantidade em reflexo. Ora; concordamos,
mas, também ao contrário, coloco os movimentos de passagem de uma categoria
para outra do livro I no livro II, ou seja, algo mais rico, as obras
misturando-se em seus perfis.
Causa e
acaso são o mesmo. Acaso é (vem de) uma causa, mas acidental. Lukács diz que a
relação das partes de um todo, relação causal, interação, aparece como algo
regular, com regularidades; porém, vez ou outra as partes se relacionam de modo
incomum, inesperado, ou seja, acaso. Born afirmar diferente, mas serve de
complementar: o que é acaso num nível, tem causa muito clara num outro nível
mais amplo.
A teleologia
(subjetiva) usa a causalidade. Ora, mas o cérebro produz sua teleologia de modo
causal, por seus movimentos internos (e externos). Se deixamos de ver apenas o
artesão e observamos o mundo: as
relações causais geram uma teleologia inconsciente e objetiva, tendencial. A causalidade
da biologia, que produz diversificação, produz também seres relativamente mais
capazes.
Há
centralidade do objeto. Isso está certo; porém, por exemplo, para complementar
de modo posterior as provas empíricas e ontológicas, pode-se fazer uso de
recursos gnosiológicos e lógicos. Além disso, o homem é objeto para si mesmo.
Nada vem do
nada. Mas o ente era nada antes de ser ente, pois a pessoa não é nada antes de
nascer ou algo próximo (só sua matéria permanece). Além disso, o cosmos apenas
pode vir do nada inicial, o ser como se nada.
O complexo,
certa realidade, é um complexo de complexos. Isso é fato, contanto haja
hierarquia entre as complexidades. Por outro lado, pode-se chegar ao mais
simples, de fato simples.
A realidade
é probabilística, não determinística. Para ele, Hegel cede a Spinosa ao
considerar que o que pode acontecer (de fato) vai acontecer. As outras
possibilidades que não aconteceram seriam apenas possibilidades formais, não
reais. Em sua crítica, diz que a realidade tem opções, probabilidades,
alternativas. Resolvo isso de vários modos e juntos: ocorre uma combinação das
possibilidades diversas, o “o que” é determinístico enquanto o “o como” está em
jogo.
O particular
tem grande peso por ser a unidade do singular e do geral, meio-termo. Isso
levou à loucura de seus seguidores que fazem de tal categoria algo imenso. O
Geral tem, sim, sua prioridade, seu desafio de perceber, de ser percebido.
Piaget
Esse grande
psicólogo descobre que o novo surge da fusão de diferentes (dois átomos de
hidrogênio etc.) ou da fusão (combinação) de dois ou mais sistemas.
Também
descobriu a dialética da probabilidade crescente, fusão de possibilidade e
necessidade (lei).
No mais,
pensou, entre outros, dois tipos de pensamento: o que se acomoda à realidade,
adapta seu pensamento à sua natureza – ou a que adapta a (a visão da) realidade
aos modelos prévios mentais, suas estruturas. Claro, o marxismo prioriza o
primeiro; adota o segundo de modo crítico, critica os conceitos na pesquisa
etc.
Mao
Para
justificar sua política reformista, porque não queria o socialismo na China,
desenvolveu má dialética: contradição central e, por outro lado, não central.
Na verdade, há combinação de contradições – mas o chinês recusou-se a ver isso.
Usou da manobra teórica para justificar sua posição. Como o militante estalinista
não pensa em geral, adotou tal “lógica” como sua.
Althusser
Seguidor de
Mao, comete o mesmo erro. Vai além: para ele, a crise do sistema aumenta a
aleatoriedade ao máximo – ou seja, há vários destinos finais possíveis. Na
verdade, por dureza das condições, a aleatoriedade diminui, menor liberdade
conjuntural relativo à necessidade, seu oposto. Basta ver o xadrez: pode ter
vários movimentos e até movimentos finais, mas apenas três resultados são
possíveis, um ou outro vencedor, ou nenhum ganhar.
Negou a
dialética e sua historicidade radical por meio do estruturalismo, ver apenas a
estrutura sem real processo.
CRÍTICA À
DIALÉTICA DE ADORNO
O principal
nome da chamada escola de Frankfurt, Adorno pode ser nomeado marxista apenas se
ampliamos muito o conceito, a escola. Ele tentou associar a tradição desde
Hegel, o marxismo em principal (a crítica social), e, oposto, a tradição desde
Kant, que desaguou nos irracionalismos. Sua crítica, e seus erros, à dialética
de Hegel são:
1. O todo é o falso
Tal afirmação
não tem base nenhuma na ciência moderna. É óbvio que a totalidade tem
qualidades ausentes nas partes, logo ela tem verdade. Embora as partes
importem, a relação das partes transcende cada individualidade, e, mesmo com
determinação recíproca, existe hierarquia.
2. Totalidade é totalitarismo
Crítica
tacanha, baseada apenas na proximidade das palavras. O socialismo, por exemplo,
será um organismo sistemático de radical democracia – ver-se pela organização,
contra o caos capitalista do cada um por si. Como a totalidade é
autocontraditória, escapa a si mesma!
3. O verdadeiro é a contradição
Há verdade
enorme aí, mas unilateral. A verdade de fato é o que chamo de tríade una –
tríade, mas una: totalidade, contradição e movimento. Um tripé indissociável, necessário.
Veja-se que
ele comete o erro que condenará em seus textos: afirma, do todo, que “isto é
aquilo” trata-se de, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso, pois não está na
totalidade. Ora, quando ele diz “o todo é o falso” ou “o verdadeiro está na
contradição”, cai em parcialidade, em visão unilateral.
4. A dialética negativa não faz a conciliação
final hegeliana, a identidade final dos opostos
Além do fato
de Hegel não encerrar o movimento na conciliação, temos aí uma contribuição
boa, mas unilateral. Confundir forma e conteúdo, ao forçar a identidade de
ambos, pode levar a erros científicos, por exemplo: tanto no socialismo,
provável, quanto no capitalismo haverá a forma “meio de pagamento”, mas com
conteúdo de todo diferente; sob o último, tal forma inclui relações de e
substância valore a presença do capital – no outro, não. Se olhássemos apenas a
forma igual, sem pesquisar por si a DIFERENÇA de conteúdo, a DIFERENÇA entre
forma e conteúdo, nada teríamos além de confusão.
Mas seu
avanço acaba aí. O momento negativamente dialético deve dar lugar ao
positivamente dialético, quando o objeto não colapsa, claro. A contradição não
é estática e eterna – ela se resolve. Os conceitos mais elevados encontram, de
fato, como Hegel demonstrou, uma unidade íntima, uma identidade. Hegel é o
pensador da mesmidade na permanência da diferença – não abarca somente o mesmo.
No mais, deduzir a unidade do diverso e diferente é uma das tarefas mais
difíceis do pensamento universal.
5. A dialética não nega uma teoria ou tese – desenvolve-as
até as extrapolar por dentro de si mesmas
Genial, mas
parcial e unilateral – também. Tal método é efetivo e válido; incluso,
defendo-o. Mas, de fato, partindo mesmo da empiria, do real, podem surgir duas
teorias parciais e unilaterais corretas e erradas ao mesmo tempo. Por quê? O
pensamento se divide em dois porque a realidade também está dividida.
Materialismo no idealismo! Cabe ao cientista encontrar a unidade em movimento,
a verdade que tem a forma de devir e de passar.
6. Deve-se valorizar o sujeito no processo de
pesquisa, diante do objeto
De fato,
porém o objeto é começo e o centro efetivo: antes, colher dados etc.
7. A razão – no ocidente – levou ao nazismo etc.
Aqui, ele
presta homenagem aos irracionalistas. Seu erro é este: a barbárie da
civilização não se deu pela razão hipervalorizada, contra a emoção
(dionístico), mas porque o capitalismo é objetivamente – não e não apenas
subjetivamente – irracional, incontrolável e cego. Contra isso: economia
planejada e democrática já! Materialismo, Adorno, materialismo!
8. A busca da identidade lógica levou ao
holocausto
Para ganhar
prestígio, basta incluir feitos nazistas… O pensamento é este: a busca da
identidade, ou seja, apenas raça ariana, matou os judeus que representavam a
diferença, o diferente. Ora: a diferença e a identidade são o mesmo e uma
unidade: judeus e “arianos” são iguais na diferença! Isso é o básico para quem
pensa de modo dialético.
9. Algo escapa a totalidade, contra ela
Ser
dialético é ver que do processo da totalidade, incluso sua formação nova,
produz-se o que chamo colateral. No resumo, tríade-colateral. A burguesia é
fruto do feudalismo, por exemplo. No mais, a totalidade é autocontraditória –
repetimos: contraditória consigo, nega-se – como organicidade, desenvolve-se e
passa-se para outro.
10. A ontologia é negativa
A política
será dissolvida, também o Estado, também as classes etc. Ora, isso é ver por
apenas um ângulo: o velho já nasce novo, ou seja, há, ao mesmo tempo, junto,
ontologia positiva, construtiva, suprassunção. Por exemplo: uma associação
geral dos cidadãos reais, efetivos, surgirá – acima das precárias atuais. Em
processos dialéticos, criar é destruir – destruir é criar: historicidade
significa isso, na impermanência do que permanece, o que permanece na
impermanência.
11. A dialética de Hegel é fechada – a
de adorno, aberta
Há aí –
dialeticamente! – o terceiro excluído, incluído: a dialética marxista,
definitiva, revela-se nem absoluta nem relativa, mas relativamente relativa, ou
seja, apenas relativamente aberta. Chega-se, como desenvolvemos neste livro
inteiro, à verdade estável e ampla o bastante, além de ser de base ou
fundamento, mas que pode ser ampliada aqui e ali, corrigida, adaptada ou, ou
seja, atualizada.
Adorno foi,
em quase tudo, inferior a Lukács. Contra este, aquele foi apenas reativo em
muitos casos. Seu método era, também, o seguinte: o que Lukács afirmasse, ele
afirmaria algo contrário ou diverso; assim, manter-se-ia no sucesso do cenário
intelectual, teria audiência com um adversário permanente de alto nível. A
filosofia radical dividiu-se, o que esta obra busca reunificar. Digamos ao
túmulo de Adorno: se o socialismo é possível e necessário, seu pessimismo,
embora tenha seu charme, de nada ajuda.
As
atualizações citadas e criticadas deram-se por dentro de um limite de
paradigma, que deve ser guardado e superado ao mesmo tempo.
CATEGORIAS E
SISTEMA
Lukács
firmou: não temos, em Marx, um sistema de categorias fixas dentro das quais a
história se desenrola – mas as categorias, e o sistema, mudam, são históricas,
a própria história, e o sistema é movido e movente em si mesmo. Veja-se: as
categorias não são, em primeiro, ideais, são reais, na própria realidade, assim
como o sistema. Isso tudo é genial, e merece alguns comentários.
Primeiro. As
categorias concretas são, por assim dizer, duplicadas – o abstrato e o concreto
– ainda em completa unidade e identidade. Temos a categoria geral de trabalho –
e o trabalho primitivo, o escravo, o servil, o assalariado e o associado. O
geral e o particular.
Segundo.
Além de ganhar concretude, na duplicação, o concreto ou realiza-se ou tenta
avançar para seu próprio conceito, para o abstrato – no capitalismo, temos de
fato, enfim, trabalho geral, abstrato, indiferenciado, puro conceito de
trabalho.
Terceiro. As
categorias morrem – como possivelmente a categoria de trabalho, cava sua
própria cova em seu desenvolvimento. Se têm história, as categorias em geral,
têm fim – no concreto ou no abstrato.
Quarto. As
categorias mudam. Temos “elétrons” e neutrinos de: elétron, múon e tau.
Quinto. As
categorias podem ganhar outro significado e natureza pelo contexto (estrutura)
e pelo seu mudar. Tornam-se outras categorias.
Sexto. As
categoria do sistema mudam-se de modo desigual e combinado.
Sétimo. Na
formação e desenvolvimento de sistemas, as categorias – ou a categoria – produzem
novas categorias.
Oitavo. O
sistema é potencialmente contraditório e, ao mesmo tempo, unitário interno.
Nono.
Costuma haver a categoria central, fundamental.
Décimo. O
sistema categorial é aparência-essência; tem categorias de aparência e de
essência. No externo, a categoria geral do capitalismo é a mercadoria (mercadoria,
força de trabalho, matéria-prima, máquina, terra etc.: todos mercadorias) – mas
no interno, o valor.
Décimo
primeiro. Há uma categoria geral universal, de base. Por comum, ele se desdobra
em outras categorias, funda-os.
Décimo
segundo. As categorias, como seus significados, podem ter duplo caráter.
Décimo
terceiro. O sistema entra em contradição consigo, da parte com o todo
(operariado contra o capitalismo), da parte com o todo como se apenas com outra
parte (operariado contra a burguesia – aliás, o operário é mercadoria, mas o
burguês não o é).
Décimo
quarto. A categoria entra em contradição consigo.
Décimo
quinto. Pode, tantas vezes deve, haver contradição entre a diacronia (movimento
etc.) e a sincronia (estrutura etc.) do sistema categorial; isso pode se
apresentar como contradição entre o lado dinâmico e o lado que deseja ser fixo,
permanecer (superestrutura etc.). Entra-se em contradição consigo. Trotsky
afirmou a contradição entre as forças produtivas que tenderiam a ser mundiais
(a totalidade afirmando-se, a integração das partes afirmando-se) contra a permanência
insistente das barreiras nacionais dos estados nacionais (as partes ou
superestruturas afirmando-se: impostos de importação, controle de matéria-prima
etc.) – eis contradição entre diacronia e sincronia com exemplo da contradição
todo-integração e partes.
Décimo
sexto. Há, sim, ao contrário do que pensa Lukács, categorias gerais, eternas e
fixas – tanto quanto possível, relativamente relativo. Trabalho, produção,
troca, consumo, energia, matéria, interconexões etc., além das categorias da
dialética (ontologia: substância, qualidade, quantidade etc.), são em
permanência e em permanência movida e movente, estão presentes nos mais
variados sistemas – inorgânico, biológico e social. Tais categorias abstratas
desdobram-se nas suas concretudes particulares.
Décimo
sétimo. Kurz demonstrou haver crises categoriais – como a crise da produção do
valor com o fim do trabalho manual nas fábricas robotizadas.
Décimo
oitavo. Surgem, no real e no ideal, categorias opostas (claro: com
interpenetração, unidade e contradição).
Décimo novo.
O pensamento deve ser sistemático porque o objeto de estudo é, também,
sistemático. Nosso método deve ser o método da própria realidade – assim como é
no mundo deve ser no raciocínio. Mas como, de início, não sabemos como é a
realidade (mecânica, estrutural, dialética?), nosso começo real é caótico, um
tatear no escuro, uma longo andar no labirinto, uma busca desarmada por
descobrir sem método prévio como é a realidade, como ela se hierarquiza etc. Numa
análise de conjuntura, começamos pela economia, depois os grupos humanos,
depois as mentalidades, depois as instituições – fazemos assim não por capricho
externo, por escolha, mas porque o mundo social tem tal lógica, que
reproduzimos.
Fiz o
possível para expor tais ideias bastante abstratas desde as observações comuns
de Marx e do marxismo.
Michel
Foucault afirmou existir três sistemas de pensamento desde o fim da Idade
média: 1) as palavras correspondem às coisas; 2) as palavras são invenções para
entender de maneira externa as coisas, o mundo; 3) as palavras estão dentro de
um sistema de linguagem, gramatical, aonde ganham sentido. Ele põe Marx no
terceiro, aonde há desconfiança da existência de um lado oculto do real. Mas a
coisa toda não é bem assim. existem categorias de aparência, para fins
práticos, para a ciência tecnicista (todos em 2). Mas busca da verdade é a
busca, também, de palavras que correspondam ao mundo (1). Para isso, deve-se
pensar em modo de sistema e de querer a verdade essencial (3). As três
posições, assim, misturam-se no fazer científico. Um possível exemplo novo: na
pressa, nomearam novos fenômenos cósmicos de energia escura e matéria escura –
mas minha hipótese é que (ao esfriar, desacelerar, dissolver-se) matéria e luz
decaem em espaço (energia escura, mais espaço, repulsão); e buracos negros,
além da matéria em si, sugam espaço, gerando tensão espacial,
energia-gravidade, ou seja, mais espaço concentrado ou esticado (matéria
escura); basta o conceito de espaço, não precisamos criar externamente mais
conceitos, e até energia é espaço, nem que seja sua quarta dimensão. O conceito
de quarta dimensão seria o fato essencial oculto.
Algumas
considerações ainda merecem ser feitas. Além de um sistema vir de outros,
Piaget descobre que dois ou mais sistemas podem fundir-se, combinar-se, com ou
sem contradição especial. No mais, tirar uma parte-categoria do
sistema-totalidade ou pôr um estranho, mesmo que dele mesmo surja, pode colocar
o sistema em crise, até em colapso. Introduzir uma espécie invasora pode
destruir um ecossistema. A chegada do europeu na América gerou pandemia que
quase extinguiu por si os nativos.
A categoria
não é mero nome – ela é a coisa e o seu movimento. Isso inclui a reunião de
elementos de mesma natureza, suas interelações etc. Aliás, a categoria pode ser
dividida internamente em mais categorias, mesmo que apenas o
geral-particular-singular. Em outro momento, demonstramos, também, que vamos
mais ao fundo, ao chão, em movimento igual e oposto ao de Platão, rumo ao
conceito mais geral, abstrato, simples, “primeiro” etc.
De todas as
observações, deduzimos a crises sistêmica como crise de totalidade.
Por fim. Um
sistema orgânico é formado de premissas concretas, não ideais, opostas –
entropia e (mas) energia em busca de mais energia, seleção da espécie e (mas)
seleção do meio, apropriação privada e (mas) trabalho social, economia
planejada e (mas) democracia direta etc. Um sistema orgânico que resolve sua
contradição colapsa, e não apenas no sentido negativo de colapsar.
Em aspectos
gerais, temos um “sistema de sistemas” ao modo marxista, dialético.
LINGUAGEM E
METAFÍSICA
Faremos três
breves considerações sobre metafísica materialista, dialética e marxista, e
linguagem. A leitura de nossa Psicologia melhorará a compreensão, mas nada
limita a leitura direta aqui, neste ponto.
1. Lei geral metafísica e linguagem
Nossa lei é
esta: “movimento = energia = tempo = espaço = matéria”. A morfologia, por
exemplo, reproduz o real e, por desvio, o correto aristotelismo (substância
como substantivo etc.). Mas complementamos: A posição de verbo etc. podem
receber noções de energia, tempo, matéria etc.
2. Abstrato e concreto
O
substantivo abstrato é uma derivação do concreto (o pensamento exige corpo que
o sustente). Nas figuras de linguagem há rica relação de abstrato e concreto,
um expressando o outro – a multidão pernas, parte e abstração, correndo
expressam os corpos e as pernas, todo concreto; a metáfora ou a ironia tem um
concreto texto para um abstrato significado.
3. Desdobrar metafísico
As palavras
básicas da linguagem humana falada são não (nada) e sim (ser) – daí nada ser
não-ser. São tudo de que precisamos, digamos assim. Isso deriva do trabalho
básico e de seu orientar (ensinar etc.) primitivo. São curtos, em muitos
sentidos, nas diferentes línguas (yes, not etc.) porque são iniciais e muito
usados. Mas dizer sim é também dizer não ao oposto, e vice-versa. Deles, temos:
amigo e inimigo, certo e errado, animal e vegetal, móvel e imóvel, claro e
escuro, amor (atração) e ódio (repulsão) etc. Mas eles também se misturam, como
no “talvez”. A sombra permeia os opostos que se interpenetram. A linguagem
expressa a vida que ela expressa, torna-se mais complexa com a sua complexidade
maior. Mais liberdade, por exemplo, exigem mais palavras de meio-termo, de
transição de instabilidade, de duplo sentido. Logo, surgirá a necessidade de
linguagem essencial, por debaixo do aparencial e cotidiano. Tornam-se
necessários conceitos, juízos e silogismos. Primeiro, foi preciso pensar a
qualidade e, em seguida ou como se isso, desenvolver mais a quantidade,
complexificar a contagem etc. Logo virá a necessidade de medir.
SOBRE O
SUJEITO
Com o
capitalismo, a individualidade elevou-se. Surgiu, então, a ideia da matéria de
sujeito. O homem tomou a sociedade como sua potencial inimiga.
Com Hegel, a
Ideia ou Espírito é o sujeito histórico. Uma força que atua como se pelas
costas do homem, mas por meio dele.
Marx,
primeiro, toma o proletariado como o novo sujeito histórico, após a burguesia.
Os trabalhadores tomarão o poder de modo consciente.
Postone
descobre que, em O Capital, Marx, inspirado em Hegel, põe o valor ou o
valor-capital como sujeito, substância e sujeito. Ora, assim, seríamos meras
marionetes de uma força impessoal e incontrolável – e isso é textual na grande
obra. Para Eleutério Prado isso seria apenas questão de método de exposição,
mas não convence.
Qualquer
Trotskista logo percebe que o sujeito torna-se sujeito, antes objetado – de
potência para ato. Quanto mais objeto, mais tem o impulso íntimo de ser
sujeito.
Como inconsciente,
que governa boa parte da personalidade, Freud afeta um tanto a ideia de
sujeito. Mas o inconsciente também é mutável desde questões materiais. E,
embora sejam dois, consciente e inconsciente são um – o consciente, por
exemplo, revela o inconsciente, embora não suas motivações de modo sempre tão
direto.
Foucault
afirma que devemos dissolver o sujeito… Pura besteira. Mas ele se baseia no
estruturalismo. Nesta escola, Althusser diz que o processo todo, a estrutura, é
sem sujeito, objetivo, impessoal. Tentam enterrar o humanismo ainda vivo.
A questão
toda é esta: o sujeito, no caso, proletariado, passa a ser objetivamente
obrigado a ser sujeito. Para sofrer menos, para evitar sofrer ainda mais, tem
de deixar de ser mera mercadoria falante, coisa; na crise, para entender o
mundo mais difícil, na tentativa de resolver o problema, estará obrigado a
elevar sua consciência pessoal e social.
Vai de não
sujeito para sujeito – como deve ser, como tende a ser. Porque a estrutura
total totalitária não se sustenta em si mesmo, abre-se a brecha para o homem –
que deseja humanização.
Sim: somos
muito mais indivíduos, singulares e livres do que qualquer outra era da
humanidade. Eis a bomba de efeito retardado sob os pés da burguesia.
Que seja
obrigado a ser sujeito, o individual e a classe, trata-se de uma questão, mas
não muda o fato e o processo.
Na luta por
reformar o mundo, o proletariado irá revolucionar tudo, o todo – isso Kurz não
entende, talvez por nunca ter dirigido uma greve.
APOLO E
DIONISO
Friedrich
Nietzsche afirmou que a filosofia seguiu a tendência chamada apolínea: a
valorização absoluta da razão, da harmonia, do intelecto, da matemática e da
discrição. Ele se afirmou, ao contrário, dionisíaco: da festa, do caos, da
emoção, da desarmonia etc.
Adorno
afirmou que a razão iluminista levou às primeira e segunda guerras mundiais,
enfim, ao holocausto nazista. Lukács serve de refutação, pois ele demonstra
que, após Hegel, a filosofia tornou-se irracionalista, o que preparou o terreno
para o nazismo.
Mas hoje
sabemos que, em boa medida, a emoção faz a razão. E a razão também faz a emoção
em importante medida.
Claro que
podem entrar em oposição e contradição. Mas é uma contradição na unidade
interna.
O cérebro
animal foi, tendencialmente, evoluído em razão – e em emoção. A evolução da
emoção, por si, potencializa a razão. Por isso é tão importante aos cientistas
ter educação de suas sensibilidades e educação estética, artística. Melhor
sentir é melhor pensar.
Um psicopata
é pura razão, por isso faz o que faz; mas ele costuma ser de tipo emburrecido,
pois aprende pouco e mal já que a emoção facilita bastante o aprendizado.
Enfim,
defendo uma filosofia que idolatre tanto Apolo quanto Dioniso, ainda que ora
mais um e ora mais outro. Razão com emoção, dinâmica com ordem, contradição com
unidade etc. Nietzsche erra quando escolhe um contra o outro. Lukács, por
exemplo, também erra ao hipervalorizar a razão; diz que a intuição pode ser
útil, mas hiperleve, porém diz isso de modo negativo. Foi um erro iluminista a
hipervalorização unilateral da razão.
Bebamos
vinho enquanto resolvemos cálculos.
MODAS
INTELECTUAIS
Uma boa
teoria ou um bom paradigma estimula trabalhos produtivos, soluções etc. Uma
teoria muito parcial, por outro lado, gera trabalho improdutivo, quase
estagnação. Há ainda os modelos que diminuem o trabalho, o esforço, a
criatividade.
Bohr impôs à
física quântica seu esquema positivista, preso às legalidades matemáticas
externas e do fenômeno apenas. Por muito, quem discordasse teria a carreira
encerrada desde cedo… Bohm e Einstein puderam fazer resistência, ainda assim
muito defensiva, apenas por causa de suas altas considerações e feitos. As
lacunas da teoria eram evitadas pela exposição dos acertos e funcionalidades da
mesma construção. O positivismo teórico premia a preguiça inútil, sem
criatividade.
Sartre teve,
por força de moda, de adotar o marxismo, mesmo que do seu jeito – pois, do
contrário, não teria muita fama, ficaria isolado. Tentou, então, adaptar o
marxismo ao seu mundo pequeno-burguês europeu.
O mesmo fez
Althusser – entrou na moda marxista e tentou ver no marxismo seu espelho
estruturalista. Quando o estruturalismo começou a sair de moda, também se
afastou de tal paradigma para continuar sendo parte do modismo. Outros igualmente
abandonaram o barco estrutural por tal motivo.
Os
intelectuais acadêmicos são mais afetados pelas palavras, a grande abstração,
já que não vivem o mundo duro, concreto. Tendem a não conseguir resistir às
modas intelectuais. São mais sensíveis no sentido de instáveis em seu
pensamento. Depois que a mosca azul da vaidade os pica, difícil aceitar sair de
cena em nome de uma ideia.
A filosofia
burguesa do fim do trabalho, fim da classe operária, novos sujeitos etc.
Influenciou Kurz a dar linguagem marxista para tais ideias, algo em si sem
nenhum grande erro. Afinal, a ideologia do trabalho como centro é de origem
burguesa, não operária.
Hoje, a moda
é caluniar a psicanálise. Para ganhar moral nos grupos intelectuais, basta
levantar a voz, acusar de pseudociência. De um lado, o freudismo é bizarríssimo
– mas ser tragável não é critério da verdade. Segundo, o lacanismo transformou
a ciência em jogos de palavras, engodo, “filosofia” etc. Terceiro, a teoria
está de fato desatualizada – precisamos de uma psicologia marxista, porém que
respeite (e supere) seu legado. Quarto, Freud foi mecanicista e fisiologista
(biologista). Quinto, a educação intelectual hoje é porca, incapaz de ir à
essência tal como Freud foi tanto. Sexto, a família burguesa dissolve-se, a liberdade
sexual é maior, o superego alterou-se etc. Sétimo, Freud não entende o mundo
social, não entende o marxismo e a totalidade (condicional) do existente.
Oitavo, as condições de uma boa teoria surgir podem estar dadas, mas não as
condições de sua aceitação plena – um rico não aceita o marxismo, um religioso
de fato não aceita o darwinismo, um religioso indiano não aceita o Big Bang
desde Einstein, um gay enrustido não aceita o freudismo e assim por diante, e assim pro diante. Não basta querer a verdade para ser capaz de
aceita-la diante de si.
O marxismo
quer ser a teoria dominante; para isso, deve ser dinâmica, aberta, atualizável,
polêmica internamente – enfim, útil à humanidade.
SOBRE
TEÓRICOS MARXISTAS
Temos um
grupo firme, embora minoritário, de intelectuais marxistas nas universidades.
Eles são nosso patrimônio, vitórias, pois fazem o debate teórico necessário.
Eles preservam e esclarecem elementos de nossa tradição. São úteis e estarão
conosco, pelo menos até a dura revolução (quando a maioria recua, descem para a
passividade, reclamam dos métodos, não entendem a mediação chamada política
etc.). Precisamos também de eruditos amigos do socialismo. Mas, aqui, refiro-me
ao teórico militante, ao teórico em si ou propriamente dito. A vida de Marx,
Lenin, Trotsky, Lukács, Moreno e Kurz de certo modo (e, em oposição, em
contraste, o “marxismo ocidental”, Kautsky, Mandel etc.) dão-nos padrões que
ensinam. Vejamos alguns.
1. Deve-se evitar a vida de classe média
Aristóteles afirmou
que riqueza demais é degenerativo. Isso tem valor: se nossa sensibilidade hoje,
na sociedade ainda dividida, não sente as dores do mundo, como deve, então isso
afetará a mente, o raciocínio, a criatividade etc. Não somos imunes a isso. No
entanto, mais fácil quando um burguês, Engels, faz o caminho inverso, tornar-se
um rico socialista. Ouvi um dirigente do partido mundial da LIT afirmar: todos
os militantes que mandamos para a Europa se perderam. Isso tem muita verdade e
causa: nossa consciência socialista formou-se na difícil América Latina,
enquanto na Europa vive-se bem melhor… Um Militante do Brasil deve militar por
algum tempo na Bolívia, não na Suíça. O único aspecto a ser preservado da
classe média é algum tempo livre, até ócio, para pensar e criar (Aristóteles
também afirmou que a filosofia teve início quando os senhores escravos puderam
se afastar do trabalho nos campos de trabalho). A vida de professor
universitário pouco ajuda, atrapalha muito; vide Mandel etc. Grande parte da
melhor teoria e arte – as gerais, em especial – se fez fora da academia.
2. Deve-se aprender a fazer análise,
caracterização – e política
Tem de saber
avaliar a conjuntura e saber propor soluções programáticas, práticas. Sem
entender o mundo concreto nada entende do mundo abstrato. Isso exige treino,
estudo, convívio, errar e saber depois a causa do erro etc.
3. Deve-se militar no partido revolucionário –
mas não o dirigir se não abdica de uma vida de classe média
Aprende-se
muito e rápido na militância. Isso educa o espírito para o estresse, para o
inesperado, para o risco etc. E ajuda a reconhecer os problemas centrais. Estar
no posto dirigente ajuda na formação e na produção teórica – ver-se o todo, a
diversidade, convive com quadros de alto nível etc.
4. Deve-se tentar ser polímata, mais que erudito
De um bom
conhecimento da história até noções matemáticas de física quântica –
conhecimento tão profundo e geral quanto possível. Apenas com visão aproximada
do todo real é que conseguimos melhor olhar o todo parcial, social. Unir
especialização alta em certo assunto ou área com conhecimento geral não raso,
ainda que imperfeito e desigual.
5. Militar por algum tempo em algum – ou alguns –
país pobre que não o seu
Devemos ser
internacionalistas de corpo e alma, por experiência prática, o que nos educa
desde a diversidade de experiências.
6.
Deve-se
dominar economia, dialética e ciência militar – prioridade
As razões disso são evidentes.
Ou seja: uma
vida rica, prática, militante, sem rotina, sem tanta repetição, diversa e sem a
vida de nevoeiro dos setores aristocráticos. Contra a rotina e contra o
cinismo! Precisamos de gente que entenda da arte da guerra e física moderna.
REFORMAR OU
REVOLUCIONAR A FILOSOFIA?
O grande
Hegel afirmou que toda filosofia anterior estava morta. Depois, Marx, também ao
renovar de modo qualitativo, disse o mesmo sobre o pensamento antecedente. Stephen Hawking, mais uma vez, declarou seu
óbito. Mas a teimosa costuma ressuscitar.
O problema
da filosofia moderna e contemporânea está em tentar renovar-se evitando uma
ruptura renovadora real. No fundo, evita-se o risco.
A filosofia
deveria ter pontos certos, como a inexistência de deuses – mas parte importante
de sua história é lutar contra a força oculta do ateísmo em suas consciências.
O materialismo deverá ser outro ponto de partida, ainda que considerado
insuficiente. Ademais, o mundo é apenas
um que se duplica – dualista externo, mas monista interno. É óbvio, também, que
a realidade existe apesar e antes de nossa consciência. Enfim, que a realidade
é histórica, ou seja, avança e desenvolve-se, mesmo se com contradições, sendo
parte do real as contradições – deve ser um consenso normal, comum.
Mas tais
concepções, conquistas enormes, podem bloquear o pensamento. No social, o
materialismo, permanente no que é, adquire doses materialistas de idealismo, a
ideia fazer a realidade. A realidade é uma apenas, mas, devemos avançar, que
pode se duplicar dentro de si. A história deve ser uma visão unida à estrutura,
interna e contraditória etc.
A filosofia
lutou muito, por toda sua história, contra a contradição. O contraditório pode
ser tanto destrutivo quanto construtivo – e ambos ao mesmo tempo!
Devemos partir
de Hegel e de Marx, mesmo. Qualquer filosofia que se diga nova, porém negando
os dois gigantes de nosso tempo, andam de lado e para trás. Podemos superá-los,
mas nunca negá-los de fato ou de modo absoluto. Que se funde uma nova
dialética, como pretendemos aqui, mas nunca negar as conquistas hegelianas!
As
tentativas de reformar a filosofia, após alguns sucessos bons parciais,
estagnaram – o sistema inteiro precisa ser renovado e, logo, resolvido; de vez
e de fato. O fim da filosofia, segundo o jovem Marx, será quando houver sua
realização prática, para nós, o socialismo. O fim é o fim, a finalidade
realizada.
Vários
filósofos pensaram sua filosofia como definitiva. Em algum momento, alguém
acertará alvo – o que parece ser o caso desta obra. Pode-se, enfim, produzir
novas reformas, até reformas revolucionárias. Mas a metafísica, como movimento
para dentro do real, como o saber dos aspectos gerais fundamentais da
realidade, como revolução definitiva, parece ter sua conclusão neste ensaio.
AS PULSÕES
DO HOMEM
Em outro
momento, apresentamos a conclusão de que a alma pode ser compreendida se for
enquanto alma materialista, ou seja, psique. Também em outro instante, expomos
as teses gerais de nossa psicologia. Aqui, apresentaremos três pulsões vitais
do homem. São elas:
Pulsão de
felicidade (sentimento, emoção) (subjetivo) (singular, individual)
Pulsão de
trabalho (ação) (subjetivo-objetivo) (particular, relação do singular com o
geral)
Pulsão
ontológica (razão) (objetivo) (universal, geral)
A pulsão de
felicidade afirma que somos condenados a desejar sermos felizes. Tal
impulsividade é inevitável, necessária e em si positiva. Qualquer filosofia ou
religião a propor negar tal eixo, erra e luta contra a realidade.
A pulsão de
trabalho também tem sua inerência. Entre psicólogos e filósofos, pensa-se que a
pulsão primeira e fundamental seria o desejo (uma visão mercadológica e
burguesa), mas nós criamos um desejo (meta etc.) como justificativa para agir,
viver e, ou seja, trabalhar. Nós precisamos de trabalho, ou seja, de atividade
– o ócio prolongado e com ares de absoluto leva ao tédio. Deve-se trabalhar nem
que seja de modo onírico ou imaginativo. Há, portanto, uma necessidade natural
humana por trabalho (Marx). É verdade que a ideologia da valorização do
trabalho é uma criação burguesa, do burguês; por isso, algo histórico e falso –
mas a verdade básica foi alcançada.
A pulsão
ontológica é a necessidade de compreender o mundo ou de ter, ao menos, certa
explicação geral sobre ele. Daí a era das religiões. Um dos piores sentimentos
é sofrer, mas nada saber da causa de sua dor – dói-se em dobro. Kant (e as três
pulsões tratadas negam a tradição kantista) afirma que tem “tendência” (afirmo:
natural) a ir para além, ou por debaixo, do empírico, do sensível, dos dados,
da experiência; rumo à coisa em si, ao númeno, à essência, ao conteúdo. Ora,
não há motivo para resistir ao impulso inerente! Nosso cérebro pede explicação,
motivos, ontologia, metafísica, ou seja, ciência filosófica.
O abandono
de tais pulsões caracteriza doença, como a famosa depressão.
Parece
apenas que a pulsão de felicidade leva à de trabalho (para realizar e
realizar-se) e, logo, à de ontologia (compreender para trabalhar, modificar o
mundo). Mas isso é parcial, pois os três existem por si e com relativa
autonomia.
É curioso
como as três pulsões levam ao socialismo e se realizam, à maneira tendencial,
em alto nível, nele.
As três leis
do ser estão todas em cada uma das três pulsões, mas podemos expor de modo mais
unilateral. A pulsão de felicidade coordena-se com energia em busca de mais
energia. A pulsão por trabalho aparece como o meio de interação e de
interconexão (sujeito-objeto etc.). A pulsão ontológica prioriza o simples
(homem, indivíduo) ao complexo (mundo), diante e com este. Exige um tanto de
esforço e abstração perceber tais ligas.
De modo
unilateral, a pulsão de felicidade, contra a alienação etc., deriva do ser
biológico; a pulsão de trabalho, algo do ser social; a pulsão ontológica remete
ao enorme inorgânico.
SISTEMA
FILOSÓFICO OU CIENTÍFICO?
Nos últimos
séculos, parece que a era dos sistemas de pensamento chegou ao fim. Os
irracionalistas, de um lado, e os pobre analíticos, de outro, tratam de evitar,
de modo ou de forma, a questão.
É verdade
que todos os sistemas filosóficos erraram. Mas é claro, também, que iriam
errar: o pensamento universal (em duplo sentido), no passo do desenvolvimento
social da humanidade, também evolui, contradiz-se, tem etapas. O caminho do
acerto, sabemos, sempre é feito, hegelianamente, por meio de erros.
A cosmologia
dos pré-socráticos já tinha pretensões sistemáticas. Platão quis uma visão
geral, mas foi Aristóteles, como em tantos temas, quem deu o passo decisivo:
moral, física, metafísica, biologia etc. Todo um sistema completo ele ergueu.
Nos séculos seguintes, ninguém conseguiu ir além de Platão e, em principal, de
Aristóteles. Os sistemas de vida real impedia um novo sistema de pensamento.
Descartes começa a mudança de eixo; Newton impõe um modo de pensar pela força
de seus acertos; então, Spinoza lança sua obra revolucionária; depois, vem Kant
com seu sistema fenomenológico; enfim, Hegel opera um sistema de fato completo
e desdobrado na modernidade (biologia, física, lógica, ontologia, história
humana etc.). Este último fundou, grosso modo, o último sistema até agora, até
este livro, último sistema para uma classe dominante.
Marx
desenvolveu as bases de um sistema filosófico completo, mas isso ficou como
potência, não como ato ou fato consumado. A possibilidade passou muito tempo,
tempo demais, flutuando no ar. A moda antimetafísica da ciência e do marxismo
impediu, também, de avançar, lado ideal da coisa toda. Mas o limite era, antes,
material.
Com o
altíssimo desenvolvimento da ciência, e das ciências especializadas, começa a
surgir no horizonte confuso a ideia de reunificar todas as ciências
particulares numa concepção comum, ou seja, a metafísica.
A metafísica correta nunca deverá partir de
abstrações, deve partir do próprio mundo – empiria e dos avanços, enfim,
alcançados pelas ciências. Isso é a metafísica dialética, materialista,
objetiva, científica, além de filosófica.
Com o
pós-modernismo, até a verdade deixou de ser considerada parte do mundo. Com as
várias verdades, com a verdade pessoal de cada um, morre a ciência. Para a
metafísica vencer, tornou-se preciso superar todo o passado pesado e inútil.
A tarefa de
metafísica é das ciências humanas, porém estas estão em pesada crise. Cai-se em
empirismo inútil, limita-se a comparar um autor contra outro, artigos inúteis
abundam-se, forma-se na academia sempre por dinheiro e nunca por um genuíno
desejo de melhorar o mundo ou compreendê-lo. Um “acadêmico de humanas” cai em
hiperespecialização e nada intende de matemática avançada, física quântica,
biologia etc. – formação sempre necessária. Todo estudante de história deve,
antes, estudar o lado biológico do homem. Assim, a tarefa de fundar uma
definitiva, nos aspectos gerais e iniciais, metafísica tornou-se muito mais
difícil. Estudar tudo sobre tudo é impossível, mas os aspectos universais podem
ser corretamente acessados, o que permite produzir algo, no central, correto.
Mas isso leva tempo, muito; o que poucos estão dispostos a sacrificar, tanto
mais em época de decadência da civilização.
A metafísica
geral final é, grosso modo, metafísica marxista – assim como darwinista etc.
Mas como o marxismo é da área de humanidades, cabe a ele cumprir a tarefa sob
seu centro. A ciência é um ato humano, não uma entidade abstrata e objetivista.
A cientificidade de Marx provou-se a mais avançada com seu giro para o Ser,
para o objeto. Mas, por exemplo, uma dialética marxista, que preserve a de
Hegel, ainda era uma tarefa inconclusa, que penso ter concluído nesta obra em
quase todos os seus aspectos; o que extrapola o capítulo específico sobre sua
lógica, permeia o conjunto do texto.
Filosofia e
ciência são um, sendo dois. Um sistema filosófico correto deve, ao mesmo tempo,
ser um sistema científico correto. Precisamos de conclusões e empiria como de
capacidade generalizante, dedutiva etc. São dois sendo um. Nossa metafísica
(dialética etc.) é, assim, um sistema aberto, ou melhor, relativamente aberto –
atualizável.
Os filósofos
fecharam-se dentro de si, textos comentando textos etc. Mas tal canibalismo
interno esgotou-se. Apela-se, ainda, para jogos de palavras, barroquismos etc.
Todos devem levar em conta que a humanidade, em seu auge, pode extinguir-se:
eis o tema que realmente interessa. Mesmo que indiretamente, nosso sistema visa
contribuir com a humanização da humanidade. A Metafísica Marxista e a Crise
Sistêmica foram produzidas para dar uma contribuição qualitativa.
Reivindico a
modesta posição de último dos pré-socráticos.
DEGENERAÇÃO
DOS MÉTODOS
Os métodos
científicos, em si corretos, podem degenerar. O empirismo pode ser usado, por
exemplo, para estudar o “caso” de uma escola, sem nenhuma contribuição geral ou
útil – apenas para concluir e lançar mais um artigo “científico”. A dedução
pode degenerar em mera dedução, que parte de erro ou acerto e alcança sentidos
absurdos por suas premissas (diz Hegel, crítico: 1. A terra é um mundo com
vida, 2. A Lua é um mundo. 3. Logo, a Lua tem vida.). O método
empírico-dedutivo pode, também, degenerar, exemplo, se deixa de ver a história,
o processo, o desenvolvimento.
AINDA SOBRE
SUJEITO E OBJETO
Em todo
lugar e, em especial, no meio marxista; a não identidade, diferença e
desigualdade entre sujeito e objeto é afirmada. Toda tentativa de reunificação
caiu em filosofia capenga, por outro lado. Não avançou porque evitou as
conquistas do marxismo. Há uma tradição de repetição, como quem reza uma
ave-maria, sobre o tema – precisamos tirar, então, o assunto de sua transe
hipnótica. Aprofundaremos, por meio de acréscimos, o tema que já tratamos em
outros momento.
Quando Marx
afirma que o ser social faz sua consciência, não o inverso – que a matéria faz
a ideia – que a ideia é a ideia de uma época – que o avançar do mundo social
gera o avançar do mundo ideal – ele afirma aí a unidade de sujeito e objeto.
Certo pensar traduz criativamente seu mundo, transtradução. Como o mundo é
muito maior que nossa cabeça, como é mais valor-matéria, logo, o polo externo
da unidade está no objeto, não no sujeito como em Hegel, não no pensamento
quase imaterial, mas isso é externo ainda. Os gregos eram deterministas porque
a realidade era, em altíssimo grau, determinista – não mero erro, não erraram
em si. Somos probabilistas, aceitamos a ideia de liberdade como comum e
natural, porque temos mais alternativas hoje, a realidade tem mais opções
formais. Existem verdades dinâmicas fixas e há, muitas vezes abaixo e derivadas daquelas, verdades temporárias,
históricas. O marxismo é a história da história, a verdade da verdade.
Outro
aspecto da unidade de sujeito e objeto é que o homem faz seu próprio objeto, no
trabalho e em tudo o mais. Ele cria se próprio meio ambiente ao qual deve ou se
adaptar, ou agir, ou reagir. Mas faz um tanto apesar de si mesmo, um tanto
inconsciente.
Tais
observações já demonstram a diferença entre o intelectual marxista e o marxista
intelectual. Ao separar sujeito e objeto tal como fazem, os acadêmicos e
repetidores influenciados levam a concepção parcial e errada burguesa para o
seio do inimigo como se óbvio consenso fosse. Isso expressa sua abstração,
separação relativa maior, da realidade, do mundo, do concreto, do com peso, da
prática, da militância e da noção de realidade mesma.
A vida
social é toda a vida social. No todo, os oposto em reflexo são um. Que o
sujeito não se reconheça no objeto, que o teórico pensa que tirou tudo
puramente de seu crânio etc. – É um problema dele. A teoria consolidada deve
superar isso e alcançar a evidente verdade oculta. Se o mundo gira apesar de
nós, o conceito de “nós” inclui a parte “eu”; este nada cuja união de nadas dá
tudo. O homem é social – a sociedade é o homem
e os homens em ralação com outros homens e coisas, e coisas em relação
(por meio de homens, homens por meio de coisas). O “apesar” é um “com”, mas no
fundo do fundo. É a alienação no seu sentido também subjetivo: a minha criação
é que me aparece como criador primeiro. Há interação, influência recíproca e
retroalimentação. E: no externo, sujeito e objeto mudam de papéis apenas para,
se vencermos, o sujeito provar que é o sujeito. Unidade final e consolidada dos
opostos antes em contradição incontrolável e, porque incontrolável,
insuportável. Se a realidade é sujeito – o homem é o sujeito do sujeito. Uma
condição do consolidar do socialismo é o homem ter a potência de conhecer a si
mesmo, tal como é. Para isso, muita história deve ser vivida para perceber uma
concepção histórica, que inclua sua história com e na natureza. No socialismo,
o homem é, de fato e de vez, muito mais do que em qualquer outro tempo, objeto
para si mesmo, trabalhará para si sobre si próprio.
TEORIA
MARXISTA DA ALIENAÇÃO
É da cultura
comum afirmar que alguém sem interesse por política é um alienado. Tal
significado de alienação até está correta, mas é muito limitada. Comecemos com
uma reflexão. Se o trabalho é central para a espécie humana, porque só nos
sentimos humanos quando terminamos de trabalhar? Bem observado, sentimos os
prazeres mais básicos e animalescos de dormir, comer, praticar sexo, etc. Isso
ocorre porque vivemos em uma forma de sociedade que nega nossa humanidade.
Para nos
aproximarmos do conceito completo, o primeiro significado de alienação é
separação. E é ainda mais correto dizer “separação daquilo que deveria estar
integrado, unido”. Veremos: tal concepção é insuficiente ao mesmo tempo em que
permite uma aproximação bastante correta da teoria.
O CAMINHO DA
TEORIA DA ALIENAÇÃO
Hegel,
pensador anterior a Marx, elaborou: nosso pensamento, o subjetivo, cria o
objetivo, como, por exemplo, o Estado. Aquilo criado a partir de nosso “espírito”
separa-se de nós: é a subjetividade objetivada. A partir da ideia de Estado,
nosso exemplo, cria-se uma instituição que ganha vida própria, que ganha
independência. Aqui vale uma atenção: o processo de formação de algo separado
é, para Hegel, inteiramente positivo.
Outro
filósofo, desta vez da época de Marx, chamado Feuerbach, criticou Hegel com
imensa dureza. Elaborou uma teoria ateísta e materialista da realidade, contra
a religiosidade mais ou menos presente em Hegel. Feuerbach afirma: Deus não
criou o homem – foi o homem quem criou Deus! Porém: a ideia de Deus passou a
dominar o próprio homem, ou seja, a criatura passou a dominar o criador! Deus,
esse pensador diz, é a representação do próprio homem, de sua própria essência,
para o homem infeliz com sua realidade. Aqui vale outra atenção: para ele, a
alienação é inteiramente negativa.
Marx combina
as duas formulações, de Hegel e Feuerbach, para formar algo novo. O homem – ou
melhor, os trabalhadores – cria a realidade, mas essa mesma realidade volta-se
contra o criador e o domina. O Estado, por exemplo, só pode existir porque há
trabalhadores, porém o Estado existe para reprimir e controlar a classe
trabalhadora.
O mundo das
coisas criado pelo trabalhador ganha autonomia e independência, então a
criatura, como as mercadorias, controla o criador. Aquilo que chamamos
“capital”, que é um processo social, é também um processo cego, que impõe
regras sobre os homens. Porque os homens estão desorganizados como sociedade,
separados uns dos outros, surge uma série de leis sociais que não são decididas
por ninguém, pois surge uma lógica das coisas que passa a controlar a
humanidade.
Nas
fábricas, o fruto do trabalho, o resultado do esforço, é uma mercadoria que não
pertence ao trabalhador, ou seja, ao criador – pertence ao capitalista. Ele, o
operário, é separado do fruto de seu próprio trabalho e nada tem de identidade
com seu produto final. É muito comum o operário passar oito horas seguidas
apenas colocando uma única peça num aparelho, no entanto ele nada sabe da
função de seu ato de trabalho, para que serve aquele componente que ele instala
no produto.
O
trabalhador serve ao processo produtivo, não é o processo produtivo que serve
ao trabalhador. O operário torna-se uma ferramenta de carne e osso da máquina –
o maquinário passa a dominar os trabalhadores. Assim, a máquina é sujeito e o
operário é objeto – o trabalhador é coisificado, o maquinário é humanizado. Há,
portanto, coisificação dos homens com a humanização das coisas.
Vale a pena
oferecer relatos sobre não alienação no trabalho. Certa vez, fui vigia de
dependentes químicos; numa dessas vigilâncias, sentou perto de mim um paciente
que pintou as paredes e colocou grama no pátio da instituição; pois bem: ele
conversava com um colega e disse: fazer todo o trabalho é puxado, mas quando
vemos o resultado, dá um prazer enorme. Esse “prazer”, um sentimento, é muito
valorizado pelo marxismo; o trabalho escravo, feudal e assalariado negam esse
prazer sentimental do animal humano. Tenho um amigo que, por improviso, sem
formação oficial, produz, por exemplo, a própria mesa de sua casa; ele diz que,
quando vê o fruto do seu trabalho, lhe dá um prazer enorme – o cérebro premia a
criatividade, a criação ativa. No meu caso, a primeira vez em que tive tal
sentimento foi quando ensaiava com minha banda nossas próprias músicas; nós não
repetíamos as músicas como robôs musicais, ao contrário, experimentávamos,
dávamos propostas para as canções, e uns aos outros, tentávamos, corrigíamos
etc. – depois, era quase uma hora inteira sentido aquele sentimento sem nome,
agradável, do qual comentávamos. Também senti isso quando as reuniões
partidárias da qual participava eram dinâmicas, com observações, propostas,
votações etc. É um sentimento fortíssimo porque é raro hoje; mas será natural
no socialismo, pois, por exemplo, saberemos que nosso esforço é útil para a
comunidade, que ajuda tanto a nós quanto aos outros.
A alienação
também é a separação dos seres humanos com a dominação de uns sobre os outros.
A dominação de uma classe sobre outra, o machismo, o racismo, a homofobia, a
xenofobia são formas de separação daqueles que deveriam estar integrados,
unidos. Os que dominam a relação – o patrão, o homem machista, etc. – recebem
muitas vantagens por sua vida alienada enquanto o outro polo, o negativo – o
operário, a esposa, etc. –, tem uma série de prejuízos nessa forma de
alienar-se. A prática machista ou domínio do patrão sobre o empregado são
formas de coisificar o outro, de diminuir sua humanidade, de subordiná-lo.
A separação
dos homens é ainda mais profunda. Vemos o outro como inimigo, como adversário.
Os capitalistas lutam entre si por lucro e os trabalhadores entre si por
emprego. Por isso, a missão do socialismo é superar essa animosidade, colocando,
finalmente, fim à divisão da humanidade entre possuidores e despossuídos, entre
classes sociais.
A alienação
inclui a transformação do dinheiro em um Deus. Hoje, o dinheiro é apenas um
pedaço de papel pintado, mas guia nossa rotina e nossos pensamentos. A coisa
domina os homens, a criatura domina o criador. Se alguém nos mostra um bolo
enorme de notas de dinheiro, logo esticamos os olhos e ficamos afetados – e um
desejo estranho de ter aquilo nos possui. Pense-se que sempre nos sentimos mal
quando gastamos dinheiro, sentimento que nos pressiona a poupar, a guardar
nossas notas.
A humanidade
aliena-se em seu desenvolvimento e tal alienação desenvolve-se até que existam
condições para o reino da liberdade real. Em sua evolução, a humanidade nega-se
a si própria – coisifica-se, etc. – para, depois, afirmar-se de modo pleno. Ou
seja: o caminho da liberdade é feito por meio de seu oposto, de seu contrário,
de sua negação. Os modos de vida escravocrata, feudal e capitalista são etapas
necessárias para que o homem, no futuro, torne-se livre de fato. No escravismo
antigo, os trabalhadores eram como coisas, nenhum pouco livres. No feudalismo,
o homem na forma de servos medievais torna-se um tanto mais livre, preso ainda
à terra, e um pecador. No capitalismo, somos formalmente, juridicamente, livres
e iguais – apenas formalmente; ou trabalhamos como as condições difíceis nos
impõe ou fracassamos. No socialismo, seremos de fato e finalmente –
substancialmente – livres. A história da humanidade é a história por onde ela
se torna cada vez mais livre, liberta.
Em relação
às coisas, hoje, a alienação aparece assim:
1) Humanização das coisas na proporção da
coisificação dos homens;
2) Valorização das coisas na proporção da
desvalorização dos homens;
3) Integração das coisas – a internet! – na
proporção da fragmentação dos homens;
4) Ganho de características das coisas na
proporção da unilateralização dos homens;
5) Poetização, estetização, das coisas na
proporção da brutalização dos homens;
6) Ganho de cognição das coisas na proporção da
perda cognitiva dos homens.
Isso tem
consequências no perfil das mercadorias, além de tanto outros aspectos, como a
crise sistêmica.
A ESFERA COISAL
Lukács
afirmou que nem a psicologia nem o lado coisal seriam esferas ontológicas próprias.
Em acordo com ele, penso que a o mundo das coisas é, ao menos, um colateral,
uma falsa modalidade de ser – um é que, ao mesmo tempo, não é. Quando Marx diz
em sua grande obra que uma relação entre homens mostra-se como uma relação
entre coisas, não trata de apenas um engano; na verdade, as coisas impõe uma
lógica de si, uma relação entre elas mesmas tendo o homem como o suporte.
O máximo
desenvolvimento do ser inorgânico levou ao ser orgânico, ao biológico; o máximo
desenvolvimento deste último levou ao ser social, o homem humano; o auge do
desenvolvimento deste, o capitalismo, levou ao ser coisal. O anterior é sempre
base e suporte do próximo, como na relação homem-coisa em nosso atual modo de
vida.
A esfera
coisal, seu poder, inclui coisificar o homem. Como diz Marx, há humanização das
coisas e, em relação direta, coisificação dos homens; a máquina é o sujeito
enquanto o homem é um objeto, uma ferramenta de carne daquela. Assim como o
homem, em seu desenvolvimento, humaniza a natureza, que veio antes e de onde
veio, a coisa, em seu desenvolvimento, coisifica o homem, que veio antes e de
onde veio.
O ser coisal
consolida-se com a imitação de movimentos humanos na produção, substituindo
braços e cérebros. Mas não para aí: a robótica visa imitar a sensibilidade do
homem, até mesmo superá-la. Em nosso tempo, temos vírus de computador que se
multiplica, como um ser vivo, e recentemente criamos robôs com a pulsão, a
programação, de multiplicar-se a si próprios. A concorrência capitalista, que é
uma lei cega imposta pelas coisas tal como estão, leva a que surjam várias
tentativas de produzir a melhor inteligência artificial – poderá surgir uma
inteligência similar à humana, mas sem emoção?
A integração
das coisas tem vindo acompanhada do isolamento dos homens. Tal integração é
condição da integração humana no socialismo, mas não condição absoluta – é,
hoje, uma aposta social.
O dinheiro é
a coisa central, a Coisa das coisas; o valor é a alma objetiva delas, um verbo
que se quer fazer carne. Segundo Carcanholo, o valor era apenas um adjetivo da
coisa, do objeto, do produto como mercadoria; para ele, tornou-se, como
capital, um adjetivo substantivado[32].
Complementamos: tornou-se, depois, substantivo concreto, com a maquinaria e
suas consequências humana e coisais, para tender a ir ao substantivo abstrato
e, por outro lado, ao mesmo tempo, verbo que se faz carne (isto se relaciona
com as quatro eras do capital: a era do capital mercantil, a era do capital
industrial, a era do capital financeiro e a era do capital fictício). Com o
devido jogo de palavras, o valor é um sujeito oculto, que exige teoria por
detrás do preço, e um sujeito indeterminado, sem determinações. Como o
espaço-matéria e energia-massa; o valor é um sujeito simples que se torna
sujeito composto, valor e capital, valor-capital, que podem, como vimos, entrar
em contradição.
A esfera
coisal tem sua grande história já no início do ser social, como ferramenta e
produto. Marx diz que temos a coisa, o objeto, mas, por outro lado, a coisa nos
tem – isto é ontológico. Relacionamo-nos pessoalmente com as coisas, nós as
afetamos assim como elas nos afetam. Hoje, elas ganham poesia, estética,
enquanto nosso mundo perde arte. O mundo das coisas, embora misturado conosco,
opõe-se ao mundo dos homens. O valor, o capital, o coisal faz de nós um meio,
encarnações e representantes deles.
Os objetos
não são neutros. O dinheiro é típico do capital e do capitalismo, incompatível
com o socialismo. O mero microfone, usado por líderes autoritários, é condição
para a vida socialista com suas assembleias de bairros e fábricas. Ademais,
temos a concepção correta da lei geral da história humana “produtividade
crescente”, mas ela é apenas quantitativa. Temos ainda a produtividade
qualitativa. Quando o socialismo cumprir, em poucos anos ou décadas, todas as
necessidades humanas em quantidade, com a ajuda de mudanças qualitativas, terá
ainda mais condições de garantir maior qualidade aos objetos.
A alienação,
em resumo, apresenta-se assim:
O sujeito é
o objeto
O objeto é o
sujeito
De tal modo:
o sujeito é o sujeito por seus predicados – o objeto é o objeto por seus
predicados.
A verdadeira
unidade-identidade de sujeito e objeto, sem alienação, estará posta como tarefa
socialista.
PÓS-MODERNISMO
E MÉTODO EMPÍRICO-DEDUTIVO
Quando a civilização grega antiga atingiu seu apogeu, com o devido
afastamento das barreiras naturais, o homem ainda mais social numa sociedade de
classes, produziu a filosofia dos sofistas, onde a verdade, na prática, não
importava, seria inalcançável. Algo semelhante acontece hoje. Com os avanços do
século XX, em base a uma sociedade fraturada em classes, a filosofia
pós-moderna, na área de humanas, declarou as várias verdades, as narrativas, a
fragmentação, o culturalismo, o grande indivíduo – sentiu-se à vontade para
desprender-se, em parte e ilusoriamente, do real. Duas questões
Por exemplo, dizer que tudo é construção social – à semelhança dos
antigos sofistas – soa subversivo, até socialista, mas é idealismo puro, como
se valores e hábitos pudessem mudar por pura decisão, por pura tomada de
consciência. É absurdo que marxistas tomem tal posição como na questão da
natureza humana. Tal erro tem uma base, qual seja, somos, de fato, mais sociais
que antes, bem mais, além de estarmos sob escravidão assalariada ainda.
O marxista italiano Francesco Ricci, um dos marxistas militantes mais
interessantes da atualidade, também limita-se à crítica externa e quase apenas
superestrutural da pós-modernidade
Mas a solução não é o seu oposto, uma tomada conservadora. Aqui, entra a
reflexão sobre o método propriamente científico. O método hipotético-dedutivo
de Popper foi superado como paradigma pela moderna filosofia da ciência, mas
cientistas atrasados ou pouco afeitos à filosofia permanecem no erro. Isso tem
motivo. Não há método científico, no singular, mas métodos científicos, no plural;
e o hipotético-dedutivo certamente ajuda a fazer descobertas, embora limitadas,
por isso a sua resiliência.
Mas permanece a mera aglutinação, não a fusão em um terceiro, do
empírico e do racional. Einstein defendeu sempre o método dedutivo, por exemplo,
enquanto outros, o indutivo. É necessário resolver a oposição e a contradição.
O empirismo afirma que devemos nos limitar a colher e organizar dados, fazendo
generalizações indutivas quando for razoável, evitando de todo refletir sobre
eles; o racionalismo, ao contrário, diz que os dados enganam, logo devemos
confiar na razão humana para, de ideias racionais, chegar a conclusões novas e
racionais. Ora, ambos acertam e erram ao mesmo tempo. O método
empírico-dedutivo, o oposto do superado hipotético-dedutivo e o adversário
mortal da pós-modernidade, inicia pela apreensão dos dados empíricos, pois eles
são o começo e vitais como fonte da verdade; mas tal empiria, além de revelar,
esconde e engana, logo usamos a razão para saber desviar das armadilhas, para
saber do interno por meio do externo, da unidade por meio da diversidade, da
essência por meio da aparência enganosa – pois o essencial é invisível aos
olhos e a realidade tem uma lógica própria a ser descoberta, não criada pelo
cientista.
Além de ter uma estrutura, a realidade tem um processo inerente –
queremos ambos na nossa investigação. Queremos o mundo em seu vir-a-ser, em seu
devir, em seu tornar-se, em seu desenvolvimento. A ciência já atrasou por
demais seus avanços por falta da dialética como instinto básico da pesquisa. O
universo estático, repetitivo, passou, com muito atraso, para o universo com
história, com evolução; já podemos tomar como ainda mais racional que o cosmos
teve e terá ciclos, gerações de universo, um após outro.
Não se deve apenas interpretar os dados. A física quântica, por exemplo,
tem uma dezena de interpretações conflitantes sobre tal estágio do mundo, todas
baseadas nos dados. Mas estes nem sempre são criticados: antes, tomava-se como
verdade incontestável que o salto quântico é instantâneo; hoje, ainda toma-se o
spin como algo do reino quântico, como uma propriedade fora da nossa
racionalidade, sem maiores explicações, portanto. Deve-se deduzir, também, o
limite do empírico. A verdade está em algum lugar, nem que seja no meio ou na
fusão.
Deve-se evitar de todo iniciar
por hipóteses, premissas, postulados, modelos, “métodos”, princípios ou mesmo
conceitos – eles devem ser a conclusão da pesquisa, não seu início. E são
descobertos, não criados de modo arbitrário. Em especial, os conceitos mudam se
a realidade muda, não são fixos, são móveis, muitos com início e fim.
A verdade é não empírica, impalpável, mas deriva sua descoberta da
empiria. Ao que parece, Darwin correu o mundo colhendo dados multíplices,
contingentes, diversos, caóticos – até perceber as leis gerais do
desenvolvimento da vida. Nesse sentido, foi um dialético.
É o objeto de pesquisa que diz como ele será explicado e apreendido. De
modo algum, o cientista tem a honra de escolher um ângulo ou método para sua
investigação como fazem o kantismo e o pós-modernismo. A verdade é o todo
contraditório em evolver.
Se há responsabilidade básica, nunca será escolha de todo pessoal do
pesquisador qual será seu objeto estudado. É a realidade, o objeto, as
necessidades sociais ou teóricas, que determina qual será o tema de pesquisa,
nunca a mera vontade subjetiva do sujeito. Claro, entre assuntos urgentes e
relevantes, pode-se escolher aquele pelo qual se tem mais afinidade.
Até o modo de organizar e expor um livro deve ter origem no objeto, não
no sujeito. A organização do objeto impõe uma organização clara da obra. Neste
livro, tivemos de começar, primeiro, pelo primeiro na sociedade, a economia;
não fosse assim, o material textual seria confuso.
O método dialético torna-se o método empírico-dedutivo. Em outro
capítulo, demonstraremos como no trato da lógica de tal método, Hegel deixou de
observar como se deveria o diacrônico, o processo.
Marx, Darwin, Einstein e Freud revolucionaram o pensamento e a
sociedade. Além desse fator comum, todos foram base para uma concepção
histórica do cosmos – Ser é histórico, ou melhor, histórico-geográfico. Mas
algo ainda mais de fundo também os une. Consciente ou inconscientemente, com
maestria ou com improviso; todos usaram o método empírico-dedutivo, dialético,
bem ou mal. Marx percebeu, pelos dados, as leis de desenvolvimento da histórica
capitalista e da humanidade. Darwin percorreu o mundo colhendo dados e
experiências variadas sobre a vida, até deduzir a evolução das espécies. Freud
deixava os pacientes falarem à vontade, de modo relaxado e aparentemente
desconexo, até que era percebido o nexo interno oculto na diversidade externa,
além de aspectos da história do paciente – o que lhe permitiu consolidar uma
teoria. Einstein defendeu com veemência o método dedutivo, não o
empírico-dedutivo, porém suas premissas, muitas vezes, já estavam sendo
confirmadas na realidade, como a velocidade da luz e sua medida como a máxima
do universo, aproximando-o intimamente do método aqui defendido (resumo
grosseiro: partir do empírico para deduzir – Einstein declara: “Vale então o
princípio: a massa gravitacional e a massa inercial de um corpo são iguais uma
à outra. Até hoje a mecânica, na verdade, registrou
este importante princípio, mas não o interpretou”
(Einstein, 1999, pp. 57, 58; destaques feitos
por Einstein)). Sua formulação foi a base da teoria do Big Bang, da
história, ainda incompleta, do universo. Isso explica o motivo do limitado
Popper ter afirmado que a teoria da evolução de Darwin, a teoria da história
humana de Marx e a teoria freudiana não serem, para ele, ciência… Depois,
recuou no caso da biologia darwiniana para evitar desmoralização diante da
merecida autoridade de Darwin. Popper desconhece as ciências históricas.
Veja-se que todas as teorias acima são atacadas das mais diferentes formas;
negadas por estados, correntes e religiões. Nenhum acaso há aí. Concepções de
Marx como o lado não eterno do capitalismo fere interesses lucrativos, de
classe e religiosos. A teoria da evolução derruba uma premissa da religião,
logo é negada com fervor. A teoria freudiana tira o lugar consolador da fé e
agride os bloqueios inconscientes de muitos (homossexuais enrustidos, pessoas
que mal lidam com seu complexo de édipo etc.), levando até a acusação máxima de
pseudociência (enquanto consideramos, aqui, ela incompleta). Einstein é acusado
de charlatanismo até hoje, mas nunca refutado, nem superado (embora possa ser
ao mesmo tempo preservado e superado no futuro como tentaremos esboçar em outro
capítulo) – além de ser acusado, com razão, de ser… comunista! As ditaduras
têm, em geral, horror às teorias de essência, mais do que instrumentais. Se são
obrigadas, aqui e ali, a adotá-las, como para fazer uma bomba atômica, ou para
parecer marxista enquanto rouba o povo, trata-se da verdade impondo-se. Ainda
assim, o método dialético, como empírico-dedutivo, demonstrou apenas metade de
suas capacidades revolucionárias na ciência. Em outro momento, demonstraremos
construções como A=A e não-A, sincrônicas em geral, suprassumidas por A=A e…
não-A, também diacrônicas. Isso casará bem com E=mc², a identidade dos
diferentes no movimento ou no desenvolvimento.
AMULETO
METAFÍSICO
Nietzsche diz que ideias como Deus, socialismo etc. são verdadeiros
“amuletos metafísicos” para suportar a vida, para evitar viver e aceitar esta
vida mesma. Uso a mesma expressão conceitual em outro sentido: como um desvio
teórico para falsa resolução de problemas científicos-filosóficos. Já deixamos
claro que a metafísica não necessita ser mística, pode ser a matéria voltada
para ela mesma, para seus princípios básicos – imanente antes de transcendente
ou apenas transcendência como imanência.
Leibniz teorizou que tudo era
feito de mônadas eternas, imutáveis (sem história real) e separadas umas das
outras, sem relação entre si. Ou seja, a concepção burguesa nascente, o
superindivíduo, foi transtraduzida por ele numa visão de natureza. Como os
planetas são unificados num sistema via força gravitacional, seja lá o que tal
força era – teve de pensar uma força divina unificadora externa, Deus, que
fizesse do sistema um sistema unificado. Eis o amuleto metafísico: postulou e
“provou” a existência da divindade para salvar seu sistema de pensamento falho.
Descartes, temos antes, tomou para si o método de seus adversários,
levando ao limite – e duvidou do ser de tudo, de suas existências. Então, para
que a realidade exista, Deus deveria existir fundando a realidade. Mais uma
vez, temos o caso de amuleto metafísico.
Após duvidar com toda dureza da metafísica, Kant defendeu que ideias
como Deus etc. são essenciais para ele mesmo pensar a ética, o direito etc.
Outra tese que encontra beco saída, mas sai pela tangente por meio de
metafísicos amuletos.
A ideia de Espírito tal qual Hegel propõe vai-se no mesmo eixo, incapaz
de abraçar o ateísmo. Agiu como Spiniza para quem Deus é a natureza.
Tal uso de amuletos tem origem, como boa parte da filosofia, em Platão,
que postula um mundo das ideias, das formas, das almas com falsas provas
indiretas. É a luta pelo permanente, como se imóvel, contra a mobilidade
aparencial. Daí a concepção de cidade de Deus e cidade dos homens de Agostinho.
Em grande media, os limites da época impediam chegar à metafísica
definitiva, como real pondo de partida, após ser ponto de chegada, tal como a
expomos nesta obra. Foi necessário um desenvolvimento até o limite da
cientificidade burguesa, positiva em geral. Temos a metafísica sem amuletos,
sem postulados externos, sem derivações artificiais – matéria, apenas matéria.
ESBOÇO POR
UMA HISTÓRIA MATERIALSITA DAS IDEIAS
Hegel
escreveu a história das ideias na sua Fenomenologia, porém de modo idealista.
Urge, portanto, uma versão de cabeça para cima, desta vez – um O Capital do
pensamento. Não se trata de mera descrição passo a passo das teorias – deve-se
explicar, também, as leis de desenvolvimento das teorias. Direto ao ponto, pelo
menos três dessas leis de movimento podem ser destacadas:
1. oposição (particular) (contradição)
Desenvolve-se
teorias opostas e unilaterais – porque a realidade mesma é cindida em opostos.
Ao olhar de um ponto de vista, da vista de um ponto, o pensador avança tanto
que pensa ter encontrado a fonte de toda verdade e, por isso, despreza seu
opositor; e ambos adquirem perfis de seita.
A pobreza
unilateral é confundia, assim, com pureza de realidade, de verdade. Quer-se
evitar a oposição no mundo como o desejo do fim do opositor no campo das
ideias. Monismos e dualismo, materialismo e idealismo, unitarismo e pluralismo,
ontologia e gnosiologia, substancialismo ou relacionalismo, dialética ou reducionismo
– a história da luta das ideias tem sido, ora aberta e ora vela, a história da
luta das ideias, da luta de classes, da luta de matéria contra matéria, da luta
do fato contra fato etc.
Se as
condições históricas permitem, surge uma personalidade unificadora que vê o
acerto e o erro nos opostos, alcança o terceiro excluído, agora incluído. Mas a
marginalidade pode ser seu preço a pagar. Não agrada nem gregos nem troianos.
2. reflexão (geral) (totalidade)
A teoria
reflete a sociedade e o modo de vida do pensador. O modo como vivemos, descobre
Marx, determina o modo como pensamos – um reflete-se no outro. Por isso, a
regra é que uma ideia geral honesta errada tem algum elemento de verdade, em
regra. Uma época história: 1) permite surgir apenas certos pensamentos, 2)
necessita de certas ideias, 3) reprime certas teorias. Assim é, e será, e
foi. Se o gênio Einstein, o mais famoso
da história, não tivesse descoberto a relatividade, outro a teria – mais ou
menos na mesma época, mesmo se com atrasos interessantes.
Cada ideia
pertence a uma época. Aristóteles errou sobre quase tudo por culpa do seu
tempo, não de sua cabeça rara. O desenvolvimento histórico leva, grosso modo,
no geral, ao desenvolvimento das ideias. Simplesmente, desenvolver a tecnologia
exige melhor compreensão do mundo – e, por outro lado, melhor técnica de
trabalho gera homens livres com tempo de sobra para ler e pensar.
Mas, aqui,
quero fazer um adendo. É claro que, primeiro, a realidade faz as ideias – muda
a realidade, muda o pensamento –, mas, uma vez existentes, as teorias
influenciam de volta o resto do mundo, pois elas também são algo material,
existente abstrato. O pensamento de causalidade mecânica, comum até no
marxismo, leva a pensar de modo unilateral, apenas de baixo para cima, digamos
assim. Além disso, as ideias têm alguma autonomia, porém apenas relativa, de
seu desenvolvimento. Vejamos: quando passamos a catalogar e classificar
sociedades do passado e animais presentes e passados (fósseis etc.), logo somos
obrigados, pela mera organização dos dados, a intuir que há mais do que o “lado
a lado”, ou seja, há movimento, desenvolvimento e história – processo!
Por mais
estranho que soe, via de regra, a filosofia, como a ciência, deriva do senso
comum – mesmo. Platão pensava que filosofar é sair do senso comum. Mas a
materialidade gera sensos comuns pesados que influenciam decididamente os
pensadores. Raros os que saíram de sua órbita.
Uma das
grandes tarefas de um cientista é superar seus limites nacional, algo
dificílimo. Marx absorveu a Alemanha, a França e a Inglaterra na sua
personalidade e fazer científico. A mistura de perfis é sempre superior a
contar com apenas um ingrediente.
Como a
história humana, por causa do aumento da produtividade, está em aumentar a
sociabilidade e afastar-se das barreiras naturais – a teoria vai da
naturalização (busca ao princípio de todas as coisas ou arkhé, darwinismo
social etc.) para a concepção socializante (sofistas, marxismo, pós-modernismo
etc.). Mas a verdade abarca ambos e funde-os, como a natural socialmente
modificado, adaptado ou desenvolvido.
O modo de
vida (de um indivíduo, de uma classe, de uma sociedade) revela, em geral, o
modo de pensar – e o modo de pensar, em geral, revela o modo de viver.
Causa da
reflexão: mesmo que fracamente, matéria atua sobre matéria – ideia é matéria.
Em movimento
real, histórico e ideal; A reflexão (geral) leva à oposição (particular) e, por
isso, à abstração (singular).
3. Abstração (singular) (movimento)
O
conhecimento vai do concreto ao abstrato. Da ideia de água como fonte de tudo,
logo o pensamento saltou para o Ápeiron, ou seja, algo de todo abstrato. A
história da matemática é viva nesse sentido (o quadrado como desenho geométrico
para simples número etc.). E podemos, hoje, saltar da ideia de abstrato como
isolado para abstrato como geral. Até nosso tempo, porém, para muitos é difícil
pensar de modo abstrato, não no sentido hegeliano.
O
afastamento do pensador da vida prática o leva até ao máximo de duvidar se a
realidade de fato existe. Mas tal distância ajudou também, em parte, para
pensamentos elevados.
A causa
aqui, também, é simples: 1) para compreender mais o mundo, necessidade material
historicamente desenvolvida, deve-se saber de seu conceitos etc. mais profundos
e gerais, 2) afasta-se cada vez mais do mundo natural e manual, 3) ideias novas mais concretas abrem espaço para
ideias mais abstratas. Visto de modo amplo, uma sociedade mais complexa exige
pensadores mais complexos. Mas no concreto particular, a coisa toda nem sempre
é assim. Pensar de modo correto pode ser perigoso.
Avancemos
para mais três outras leis.
A história
da filosofia é a história da luta contra a contradição (e este como algo também
construtivo), a história (e também como desenvolvimento) e o materialismo
dialético (ou seja, contra o ateísmo etc.). Até Hegel caiu em tal erro: para
ele, a contradição era encerrada na totalidade, pura unidade; a história havia
acabado anteontem; o idealismo objetivo seria o auge do pensamento humano. Tal
luta nem sempre foi consciente; a classe dominante produzia ou apoiava os
pensadores, o que exigia negar, por exemplo, a transitoriedade da realidade e
de parte da verdade.
Outra lei,
demonstraremos que a história do pensamento é mais do que uma evolução em
diagonal, pois tem algo de espiral também. A ideia de que os animais mudam,
evoluem, foi, de certo modo, redescoberto, mas de modo superior.
Já citamos o
fato de a ciência ir da aparência à essência, de modo geral, algo hegeliano. A
razão comum é que o desenvolvimento social eleva o intelecto e as técnicas para
conhecer o mundo. Mas há o inverso: a abstração como lei de movimento geral
(geral) tem por base, por meio da oposição particular (particular), os momentos
históricos – reflexão – singulares (singular).
APONTAMENTOS
A partir de
agora faremos um resumo crítico de boa parte da filosofia ocidental. Em grande
medida, apenas repetirei palavras do professor marxista Sérgio Lessa em suas
aulas: ele estuou textos não marxistas sobre ontologia (na verdade, metafísica)
e combinou isso com seu profundo conhecimento da história. Por humildade
excessiva, afirma apenas repetir os passos de Lukács.
ANTES DO
ANTES
A filosofia
começa com o homem – trabalho, linguagem e sociabilidade. Há nele um impulso
metafísico, ontológico, filosófico, ou seja, científico. Com o tempo, percebeu
padrões no mundo – mas pensava que as suas causas eram divinas, almas etc. Era
incapaz de acessar as causas reais, logo, apelava para a imaginação fértil da
espécie. Com o tempo, dominou as propriedades da realidade, assim, melhorou o
trabalho, a linguagem, a sociabilidade e as ferramentas. Filosofar por meio de
mitos era quase a única alternativa.
MATÉRIA E
IDEIA
Falemos
sobre empiria e raciocínio. Os primitivos compensavam a falta de capacidade de
saber toda a verdade, as causas, por meio de imaginação, os deuses etc. Os
gregos forçavam generalizações via empiria, por exemplo; além disso, por o
empírico soar puro caos, clamavam pela confiança apenas na razão, no bom
raciocínio. Os modernos ou confiavam na razão dedutiva a partir de premissas
imaginadas, adivinhadas etc. ou empobreciam a ciência com o mero acúmulo de
dados e percepção quantitativa de regularidades (leis). Até hoje, tenta-se
fazer da criação científica algo como um procedimento burocrático passo a
passo, que exclui a subjetividade criativa e associativa. Hoje, quando dados
são frequentes, quando computadores fazem tal trabalho duro, podemos adotar uma
unidade de razão e empiria, o método empírico-dedutivo, e histórico, pois, bem
observado, há dois fatores centrais: 1) nem tudo é diretamente observável, 2) a
verdade é não sensível, não empírica, impalpável, não é coisa, mas é dedutível.
Os fatos, os dados, devem ser interpretados – incluso os limites dos dados
necessários.
Três
observações devem ainda ser feitas: 1) o indutivo foca no conteúdo – o
dedutivo, na forma; o empírico-dedutivo respeita a unidade dos opostos; é a
lógica da experiência; ambos são, em grande medida, tautológicos; 2) o amostral
do indutivismo parece algo subjetivo e arbitrário apenas – mas leva em conta o
tipo de materialidade (valor-matéria) do objeto de estudo, ainda que de modo
inconsciente; 3) diz-se que a pesquisa não é de todo neutra porque o
pesquisador tem teorias, concepções etc.; mas a coisa também é de outro modo:
focar na aparência, no externo ou na descrição já é errar – a verdade está
escondida, mas sem querer revela sua sombra.
Enfim,
materialismo ou idealismo? Como “A” vai de x para não x – o desenvolvimento
material da humanidade é materialista e tornar, um tanto mais, algo materialmente
idealista, pois passamos a ter mais liberdade e organização para decidir nosso
destinos. Assim, primeiro apresento provas empíricas e ontológicas; quase
sempre depois, as lógicas e as gnosiológicas; há uma hierarquia necessária
fruto da própria realidade.
CIÊNCIA E
MÉTODO
Não há
apenas um método científico – há vários. E o método é histórico, ou seja, muda
com as mudanças da realidade social, com seu desenvolvimento. A ciência não
começou no século 16, pois os gregos e mesmo muito antes deles, desde o começo
do homem, já se fazia ciência, ainda que não tão boa. Os gregos tentaram criar
métodos científicos, e criaram – também. A separação de filosofia e ciência é
arbitrária em grande medida.
Mas o que
queremos destacar aqui é isto: pesquisas profundas criam e exigem criar
métodos. Ao focarem nos seus objetos de estudo, Platão e Aristóteles, para
falar dos maiores, foram obrigados a pensarem métodos. Isso é típico de obras e
produções sistemáticas. Newton criou seu próprio método indutivo, hoje senso
comum, para ter seu sistemático Principia, sua física hoje clássica. Assim,
Hegel e Marx procederam – tiveram de pensar o método na própria pesquisa
concreta. Minhas obras teóricas também me forçaram, ao fim, a perceber uma
dialética que considera o tempo (o movimento) ainda muito mais do que Hegel e
Marx. Meu método foi criado no processo de pesquisa e, em grande medida, como
resultado final, não o começo arbitrário. Tentar descobrir a realidade é tentar
descobrir o método para descobrir a mesma misteriosa realidade. Querer fazer da
ciência um passo passo a passo, repetimos, burocrático, “rigoroso”, sem
subjetividade, sem educação filosófica, sem considerar até como a sociedade é
hoje – trata-se de um engano. Lukács pensou o método como total subordinação do
sujeito ao objeto; isso é fato, assim deve ser, mas tem algo de falso, pois o
cientista também é ativo.
MÉTODO E
VIDA
Lukács
lembra que toda vaca sabe que todas a gramas pertencem à grama, ou seja,
indutivo e vê o geral no singular. Quem tem certa ideia sobre algo,
naturalmente faz deduções, insinuações. Os métodos são, primeiro, naturais
porque evoluímos nosso cérebro para compreender a realidade, condição de
sobrevivência e, depois, de transformação. Kant diz que há certo impulso quase
irresistível de, ao colher os dados, o sensível, ir para além, debaixo ou
dentro deles (metafísica). Se o todo parece confuso demais, tendemos a ir para
suas partes. Os pensadores organizam, sistematizam, atualizam, desenvolvem e
fundem métodos; aqui e ali, desde tal procedimento, podem fazer algo mais
original, porém não necessariamente melhor ou mais correto. O método é natural
socialmente desenvolvido.
ARTE,
FILOSOFIA E CIÊNCIA
Costuma-se
afirmar o óbvio: arte, filosofia e ciência são diferentes, diversos e até opostos,
quando não contraditórios. Mas eles partem do mesmo tipo de cérebro e todos
eles se baseiam na mesma propriedade criativa do cérebro – são o mesmo nesse
nível. Todos visam compreender a realidade, todos visam criar, todos visam
moral como tornar a vida melhor.
FORA DO
LUGAR
Um produto
intelectual foi feito em uma época e, em geral, para uma época. Mas ele resiste
ao temo e ao espaço – muda de ambiente e
de circunstância. Assim, a produção é ampliada, adaptada, ressignificada, mais
ou menos valorizada, aperfeiçoada, reinterpretada – ou até finalmente
compreendida. Tal mudança de contexto é, em si, uma “força produtiva
intelectual”.
CRÍTICAS DO
EXISTENTE
Há duas
formas de criticar o mundo, de ser subversivo; a primeira, olhando-se para trás
ou para frente, ou seja, querer de volta o passado ou preparar um futuro. A
segunda, divide-se em reacionária ou progressista; a defesa de uma ditadura
aonde sempre houve democracia é olhar para frente, mas um querer
contrarrevolucionário. Hoje, tanto os revolucionários quanto os golpistas
criticam a decadência da arte hoje existente, mas aqueles desejam uma superação
positiva e estes desejam a mera tradição.
TEORIA E
TRABALHO
Até antimarxistas
são obrigados a adotar a tese marxista de que a teoria reponde a uma época e,
assim, um modo de trabalho. Diremos, portanto, algo mais. Primeiro, grande
teoria exige grande trabalho, não um artigo por semana (em geral) – leva tempo
e esforço, além de certo ócio; não é um raio em céu azul apenas e sempre ou em
principal. Segundo, uma teoria deve permitir trabalho, novas sacadas, novas
elaborações, novas deduções, novas resoluções de charadas etc. fazer a coisa
toda circular, fluir. Mas isso pode degenerar negativamente. A produção
científica de Freud foi degenerada pela especulação apenas filosófica de Lacan;
as pobres “teorias” pós-modernas exigem muito menos trabalho, mais-preguiça,
assim como o estruturalismo.
GREGOS
Todo
historiador da filosofia grega é obrigado a aceitar as teses marxistas sobre
sua origem, ainda que odeie Marx. O comércio forte (cosmopolitismo, contato com
várias culturas etc.), o tempo livre, cidades povoadas, um povo ameaçado por
outros maiores e a democracia – permitiram liberdade de pensamento, sua
elevação. Além disso, a mitologia grega, com a qual a filosofia rompeu, era
riquíssima enquanto inspiração.
Tales de
Mileto
Afirmou: no
fundo, tudo é água. Provas não faltavam como nossa dependência de tal matéria e
o fato de “nadarmos” no útero antes de nascermos. Ora, o que ele não percebeu:
a vida depende da água apenas – pois o meio é, também, o meio. O meio do
inorgânico, grosso modo, é, grosso modo, o espaço.
Sua
generalização da água como o elemento único estava errada. Mas tem duas
qualidades: 1) a água é transparente, quase sem qualidades, abstrata; 2)
abundante, o que indica seu lado primeiro. Gênio. Por fim, temos de lembrar o
fato de ele pensar a água como a unidade da diversidade evidente. Isso é
revolucionário: o diverso tem a mesma substância de fundo, a mesma fonte! Para
Hegel e Nietzsche, comentadores, tal água já não é a água empírica em si – mas
isso é duvidoso.
O comércio,
ao igualar coisas tão diferentes entre si, já dava ideia de algo oculto. A
igualdade dos homens livres na cidade – também.
Anaximandro
de Mileto
Disse: tudo
é Ápeiron. Vamos mais ao abstrato!: seria uma substância, um princípio, que é a
unidade de tudo, aquilo de que tudo é feito. Ele é um abstrato abstrato.
Superou seu mestre, mas ainda errou: o espaço é tal objeto misterioso, embora
ele não seja o começo em si.
Ele pensou
os opostos, mas não viu como algo de contradição construtiva e como unidade
interna. Apenas um ganhar ou ceder.
E deduziu
uma teoria da evolução!: que os animais derivam de outros animais. Além disso,
que os animais surgiram na água (por causa dos raios solares!) e, depois, foram
para a terra.
Considero
este e Heráclito os maiores e meus mestres entre os chamados pré-socráticos.
Anaxímenes
de Mileto
Disse: tudo
é ar. Tal elemento também é abstrato. Para justificar sua ideia, percebeu que o
ar produz o novo por meio da diluição e da condensação. O princípio dinâmico
está correto, pois matéria é espaço condensado – espaço é matéria diluída.
Sociedade
pitagórica
A matemática
começa junto com o homem. Antes dos gregos surgirem como civilização, outros povos
já tinham dedicação pelos números. Ora, a existência de quantidade e padrões na
natureza, nas estrelas etc., levava à quantificação e ao desenvolvimento
matemático. Mas os pitagóricos queriam a matemática pura e abstrata, tão longe
o possível da sujeira mundana dos escravos. Por sua pureza e padrão, amavam a
música. Diziam que o mundo era feito de números, um erro completo evidente.
Além disso, o avançar matemático levaria, tarde ou cedo, ao abandono da
perfeição (a raiz de 2!). Mas o mundo grego é cada coisa em seu lugar,
determinista, o que estimulava e limitava os estudos.
Os
pitagóricos afirmam que o pensamento e a realidade vai (vão) do ponto para a
linha, para a superfície, para o corpo – em progressão. Demonstramos isso,
vejamos: o “átomo” primordial decaiu em átomos (pontos) que, no entanto,
permaneceram em liga interna oculta por meio de fios de espaço (provados pelo
emaranhamento quântico) – daí a superfície e o corpo, que também é são união de
pontos.
Se se quer
mais concretude em nome da clareza, vejamos homem ou sociedade: um grupo humano
único cresce e expande-se, então, divide-se em vários grupos dispersos menores;
mas eles precisam criar, cedo ou tarde, conexões, estradas, rotas de comércio,
sistemas de solidariedade, sistemas de guerra, meios de transporte – ou seja,
linhas de matéria-espaço que geram internconexões entre os pontos comunitários.
Assim seja, assim é.
Narrativas
Textos como
o Édipo Rei ou os de Homero afirmam o mesmo: impossível fugir do destino das
leis rígidas e permanentes do cosmos ou dos deuses. A sociedade grega era
rígida e determinista em seus rumos escravistas, o que era uma imposição sobre
o pensamento. Ai de um escravo que sonhe escravizar seu senhor!
Heráclito
Disse: tudo
flui – ou seja, só a mudança é permanente. Para ele, tudo é fogo, pois o fogo
une materiais e transforma. O fogo também tem algo de abstrato. Ele descobre
que a contradição é, também, positiva. Mas diz isso no auge do império grego,
ou seja, quando a guerra trazem vitórias e… escravos. Daí seu valor para a luta
e para o conflito.
Parmênides
Ele disse: o
movimento não existe, uma ilusão. Reforça: o ser é – o não ser (nada) não é.
Isso tem sua força: desconfia do óbvio, dos fatos dos dados, da sensibilidade.
Mas pesa demais a balança para a razão. Quer fazer o mundo caber na razão no
lugar da razão caber no mundo. Isso expressa o afastamento do trabalho manual,
do mundo concreto. Também expressa o afastamento da filosofia das questões
práticas ou concretas.
Para ele, o
Ser real é imóvel e infinito (ilimitado). Se tiver limite, não seria todo o
Ser. Se fosse movido não seria o que é, logo, não ser. Deixa de perceber,
assim, que o nada primordial era o infinito “imóvel” (caótico puro); que, neste
caso, o ser absoluto vem do nada absoluto. Além disso, que o movimento deriva
de uma quarta dimensão – quase impossível de teorizar naquele tempo.
Zenão (o
“primeiro” dialético, que prova o erro adversário ao levar seu argumento até as
últimas consequências absurdas) tenta defender tais ideias afirmando: uma
flecha em movimento tem de percorrer um espaço infinito (que pode ser dividido
ao infinito), logo, ele, na verdade, nunca se move. Ora, resolvemos ao
considerar que a matéria – no caso: a flecha – não é externa ao espaço, mas é o
próprio espaço concentrado, para dentro de si, em movimento.
De um lado,
alguns defendem o pluralismo – outros, que existe apenas a unidade. Mas a
unidade tem a pluralidade e até a dualidade dentro de si.
Empédocles
Com os
acúmulos ideais da filosofia, ele tenta uma unificação. Existem todos os quatro
elementos como básicos: terra, fogo, água e ar – em unidade.
Antecipou
por milênios a teoria do Big Bang. Para ele, tudo era uma coisa única junta,
rodeada pelo caos. Tal caos, então, penetrou neste Um (verdadeiro átomo primordial)
e criou sua “expansão”, sua mudança. Por isso, há dois princípios internos:
amor (atração) e ódio (repulsão). Porém, deixou de ver a origem de tais
“forças” e que elas geram uma à outra, no tempo e ao mesmo tempo. Não vê que o
vazio infinito caótico geral deriva a matéria-espaço com leis e ordem.
Mas foi o
primeiro a pensar a evolução do universo de maneira científica e materialista,
com bastante acerto. Para ele, o universo é cíclico, crescer (expandir-se) para
depois juntar-se – e de novo, e de novo. Era-lhe impossível perceber melhor a
causa de tais movimentos.
Na espiral,
a física moderna recupera suas teses em nível superior.
Anaxágoras
Disse: o
mundo é feito por diferentes partículas (homeomerias). Mas, para ele, não
existiria uma partícula comum, como o fóton ou neutrino para nós, somente
infinitos tipos de partículas. Há a partícula da madeira, da pedra, do
plástico, da carne etc. É o cansaço da unidade interna das coisas, do princípio
único (Arkhé) após a tentativa anterior de unir os 4 elementos sensíveis. Pelo
menos, abriu caminho para pensar átomos.
Na
cosmologia, recuou ao pensar uma razão ou deus organizador do universo. Para
ele, impensável que o caos possa parir a ordem.
Atomistas
É o auge do
materialismo, e sua decadência. Os fundadores principais são Demócrito e
Leucipo. Ela afirma, claro, que tudo são átomos – eles são um, mas se
diferenciam em grandeza (tamanho), forma e substância (Marx usa os três
aspectos para saber a natureza de outro objeto abstrato, o valor). Apenas depois
incluiu-se peso.
Tudo seria
átomo em movimento e o que permite este mover-se, o vazio. Para nós, átomo e
espaço. No fundo, o vazio faz o átomo – mas o átomo também decai no “vazio”.
Como tudo na
maior parte da sociedade grega, o determinismo ordenava o mundo atômico – a
necessidade contra a liberdade. Apenas com o avançar social, séculos depois,
com a maior individualidade, na decadência romana, surge o atomismo do caos, da
liberdade de movimento, em Epicuro.
A nossa
teoria atômica atual inspira-se e é como um retorno elevado aos atomistas
antigos (espiral). Mas a ideia de átomos isolados e desconfiados, como os
cidadãos no capitalismo, está incompleta – não errada, incompleta. Há fios
invisíveis (de espaço) ligando tudo a tudo. Uma interdependência universal –
algo apenas é no seu meio comum, “comunitário”, ainda que em conflito e
afirmando-se, como deve ser.
Ademais: o
átomo, o indivisível, é o maior, não o menor – grosso modo, o cosmos ou o
espaço.
O atomismo
indica certo auge do escravismo grego, com maior individualidade, algo
aprofundado pelos sofistas (profissionais liberais).
Sofistas
O auge
grego, com sua democracia, gerou os sofistas. Com o homem mais humano, mais
citadino etc., ou seja, mais distante da natureza bruta, passou a ter mais liberdade
para dizer o que quiser, para especular – para colocar o próprio homem como
centro. A verdade não importava, o homem era medida de todas as coisas. Com a
democracia, a retórica ganhou alta importância.
Assim, um
filósofo, sendo comerciante e próximo de tal mundo, pode defende novas pautas
liberais como fim do Estado, maior liberdade individual etc.
Nossa
cultura socrática pensa os sofistas como menores e oportunistas, mas isso é
metade da verdade. Eles colocaram o homem no centro e suas questões mundanas,
preparando o terreno para seu inimigo Sócrates. Além disso, quase afirmaram que
o puro pensamento não alcança a verdade – sabemos que falta a dedicação à
empiria ao sensível porque o sensível (social) ainda estava imaturo.
A afirmar
que a verdade é relativa, crítica indireta às várias teses então improváveis do
princípio geral do mundo (Arkhé – fogo, água, ar, átomo etc.), abre-se caminho
para o idealismo, reação reacionária contra a decadência grega.
Sócrates e
Platão
Pensa-se que
tal gênio tomou veneno por ser rebelde. Mas, na verdade, ele defendia uma
ditadura contra a democracia. Como qualquer idealista, pensa que a culpa do
início da decadência grega é a política, não a economia. Sócrates passa a focar
– de modo inédito – no homem, na política, na cidade etc. por necessidade: seu
modo de vida, o escravismo grego, estava em crise.
Seu método
de ouvir sinceramente a opinião de um entendido sobre certo assunto, fazer
perguntas e descobrir que chegou a um impasse aparentemente insolúvel (aporia)
fez história. Seu erro é não ver que definição de coragem, justiça etc. não
precisa ser estático, com uma só descrição, sem contexto, sem matéria.
Ele inspirou
Platão de vários modos, por isso destacamos dois. A ideia romântica de Platão
do filósofo que saiu da caverna, viu a luz solar e voltou para avisar a todos
tem algo de menor beleza… Com tal alegoria ele quis defender que um
rei-filósofo – no caso, ele mesmo – deveria governar a cidade, sem democracia.
Era sua reação à decadência de seu povo. A busca pela verdade fixa é sua busca
por um regime de Estado fixo, uma ditadura que dispensa o debate.
No seu
método, ele propõe ascender até o conceito mais puro e abstrato – o belo, o
bem, a justiça etc. – e, depois, com tal categoria clara, voltar ao mundo mundano
para melhor compreender o que se passa.
O mundo
dividido em classes dividiu o pensamento platonista em mundo das ideias (ou
formas) e mundo sensível. Aristóteles refutou tal visão: o mundo da ideia
deveria ter, ele mesmo, outro mundo das ideias, que também deveria ter outro
etc. etc. etc. Como qualquer senhor de escravos decadente, Platão odiava a
mudança e queria o permanente, o imóvel.
A divisão em
dois universos – um em movimento e outro estático – foi uma originalidade de
Platão que me serviu de inspiração para pensar uma quarta dimensão espacial,
dimensão “para dentro”, causa em geral do movimento, pois a coisa cai nela como
em si mesmo (a matéria, sendo espaço, também é quadridimensional), além de ser
talvez a casa da energia (sendo espaço, ou melhor, sua outra dimensão oculta)
não diretamente observável, mas dedutível.
Outra
inspiração. A ideia do rei-filósofo foi adaptada para nosso tempo com a
existência, no socialismo, de um parlamento apartidário científico não eleito
(cargos assumidos por concurso etc.) – mas suas resoluções podem ser negadas
pelo outro parlamento, este também executivo, eleito e com mandatos perdíveis a
qualquer momento (além de salários limitados, diferente daquele outro com
salários maiores afim de segurar conosco os melhores cérebros). Assim unimos
“ditadura” e democracia, planejamento de longo prazo e controle social,
política e tecnicidade.
Há que
destacar: 1) o desenvolvimento do tipo grego permitiu a filosofia, 2) a
decadência produziu os melhores filósofos – Platão e Aristóteles. Mas tem uma
questão: ser bom ou melhor facilita manter os escritos por milênios, uma
tendência – mas exato a qualidade pode levar à destruição de textos. Talvez,
alguns tenham sido tão grandes quanto, mas os pensamentos de Aristóteles e
Platão eram os aceitáveis àquela sociedade.
Aristóteles
Para tratar
tantos e tão novos temas, ele teve um método: focar na descrição, classificação
etc. Sua qualidade e seu limite. Para ele, a essência do mundo não estava no
reinos das ideias, mas no mundo mesmo, nos entes ou coisas. Mas seria um
pluralismo de essências, cada um com a sua, sem uma unidade real.
Para
explicar o incômodo movimento, supôs o não movimento de um primeiro motor
imóvel (que seria um Deus-artesão) e imaterial. Algo como certa consciência que,
sendo isso, teria o poder de mover a si mesmo e gerar, roduzir. Seu paradigma é
o artesão urbano. Ora, ele não vê que a mudança é permanente – e a pausa,
artificial. E sequer suspeita que a matéria e o espaço em relação geram o
movimento, ou a queda permanente na quarta dimensão. Ele olhou o movimento
“para trás” – uma causa que tem uma causa, outra coisa, outra causa etc. – não
como “parta baixo”, uma queda em outra dimensão como em si mesmo. A causa do
movimento está presente, não apenas no passado.
Disse: para
compreender o mundo, basta olhar. O céu alto tem estrelas imóveis – de todo;
mais abaixo, planetas um pouco móveis, lentos; abaixo o Sol em movimento quase
regular; abaixo, a dinâmica Lua; abaixo, a dinâmica e violenta atmosfera;
abaixo, enfim, o mundo caótico dos homens – sem permanência. Não passou por sua
cabeça que a lentidão aparente era, na verdade, distância elevada. O fato de a
sociedade escravista ser transparente, tanto mais na sua crise, levou ao
pensamento da transparência do mundo; apenas no capitalismo em seu alvorecer,
quando as categorias práticas comuns são misteriosas (de onde vem o preço que
está, agora, em toda parte? etc.), é que a busca da essência foi ampliada e
aprofundada, como na física.
Para ele, a
razão dava ordem (classificação etc.) ao mundo – um dualismo mais discreto que
o de Platão.
Aristóteles
tem ainda dois métodos: 1) avaliar as partes de um todo – mas não vê as partes
e o todo de modo real, ou seja, dialético; 2) dedução: premissa maior mais
premissa menos geram uma conclusão final – mas isso é substituir o mundo pela
cabeça, querer agir pelo puro pensamento.
O marxismo
que advogo funde o método de “elevação-retorno” de Platão com o “todos-partes”
de Aristóteles. São duas formas de concreto (amorfo) para o abstrato – e de
volta ao concreto.
Cínicos
Eles abrem
caminho para os estoicos, os éticos, a seguir. De imediato, em principal em
Diógenes, são uma folosofia não classista, mas ao menos “dos de baixo”. Como
era impossível uma revolução, invenção burguesa, apostavam na revolta
individual, no desdém, na negação do luxo e do prestígio, contra as leis
humanas. Queriam a felicidade que parecia ser obra de uma vida simples,
mendicante, quase natural. O grau de liberdade dos não escravos permitia tal
tipo de revolta disciplinada rumo à grande pobreza. Como gente fora da classe
dominante, focavam na prática sobre a não prática.
Estoicos e
céticos
O estoicismo
é o cinismo para gente com renda num mundo decadente. Hegel diz que o ceticismo
é uma derivação natural do estoicos. A questão toda é que a sociedade mais
desenvolvida tinhas dois efeitos: 1) maior individualidade, 2) início da
decadência. Daí o foco na felicidade individual impossível. Até ideias malucas
de não se deixa afetar pelo meio… A dúvida quanto à verdade do mundo deveria,
então, surgir.
Agostinho
Diante da
violenta decadência do império romano e de todo o mundo escravista, o santo
católico pensou: estamos no processo do fim do mundo. A vida era pior agora em
relação ao que era antes… Era óbvio que o fim de uma civilização soava como o
fim de tudo. É a filosofia do apocalipse. Tem um algo importante aí, quer seja,
há história!: o mundo teve começo, meio e está à beira do fim. Minha teoria da
crise sistêmica é, de modo materialista e científico, uma forma um tanto
moderna de escrever um apocalipse, de anunciar um fim, e com analogias
possíveis com o agostianismo.
A ideia
platônica de mundo das formas puro e, contra, mundo sensível foi reformulado
catolicamente como cidade de Deus, puro e imóvel (paraíso nos céus), contra a
reles cidade dos homens, suja, instável, ou seja, e feita para nosso
sofrimento. Viver é sofrer.
Narrativas
Foca-se em
Deus, no pecado, no amor puro etc. Por motivos óbvios.
Tomás de
Aquino (Tomismo)
Séculos
depois de Agostinho e da decadência romana, o feudalismo começou a dar certo, a
mostrar para que veio: com os trabalhadores servos donos de suas próprias
ferramentas, diferente dos escravos, eles queriam muito o aumento da
produtividade para melhor comer, beber etc. Certa abundância surgiu. A
filosofia do fim do mundo adiante começava a fazer água: a vida melhorava,
havia comércio, as cidades cresciam, comia-se mais.
Por isso,
Tomás de Aquino precisou de nova filosofia: o homem – mais livre por maior
produção – tem livre arbítrio, pode escolher pecar ou não, nada de destino
determinista antigo! Sua ilusão filosófica expressava uma realidade de fato.
Assim, com
seu pensamento, ele abriu certo caminho para a ciência, pois saber como é mundo
é saber da obra de Deus. Desenvolver a ciência era uma necessidade social,
logo, precisava de uma boa desculpa… Ademais, os Árabes “pecadores” tinham
conhecimento muito mais avançado e – temos tal dívida eterna para com eles –
salvaram os textos antigos.
Inspirado em
Aristóteles – opondo-se de novo a Platão-Agostinho –, afirmou: o reino dos céus
(nos céus, mesmo) é imóvel e perfeito; mais abaixo, cada vez mais matéria, mais
confusão e sofrimento; e abaixo do nível problemático dos homens, tem mais
outro, quer seja, o inferno de larva no centro da terra, debaixo da terra, em
oposição aos belos céus; logo, os homens estão no meio, podem cair ou subir.
Os primeiros
modernos
Não mais que
de repente, o comércio continental e marítimo ganha força enorme, grupos de
trabalho urbano crescem, a cidade flui ideias – torna-se como nunca necessário
compreender o mundo e desenvolver técnicas novas. A burguesia, nova classe,
precisava disso.
É o começo
do fim do paradigma aristotélico. A ideia óbvia de que as coisas só se movem se
agredidas passa para ideia oculta de que o movimento é natural, não o repouso –
a aparência esconde a essência! Mas a inércia das ideias passadas insiste. A
igreja Católica percebeu, corretamente, o risco ao seu domínio.
Belarmino,
um pensador contrarrevolucionário, fez parte da perseguição contra Galilei
Galileu. Dele, saiu uma regra: a ciência deve saber o “como”, nunca o “porquê”,
pois este último é tarefa apenas da igreja. Este cínico indigno de ter sequer
um nome ajudou a criar uma prisão na ciência: até hoje os cientistas pensam que
sua tarefa é apenas saber o “como” sem sequer desconfiar que a capela maldita
está dentro de suas cabeças. Outros motivos ajudaram na vitória de tal ideia:
1) imensamente mais fácil saber o “como” em relação ao “porquê”, 2) imensamente
mais fácil fazer ciência sem o padre vigiando…
Assim surgiu
a manias de saber apenas das leis – sequer leis subversivas de movimento, de
desenvolvimento, apenas leis regulares! Leis de permanência! Que doce e
comportado! Leis para todo canto surgiram, até o esgotamento relativo de tal
prática, que passou a exigir, também, teoria, explicação.
Newton
demonstrou a legalidade da gravidade. Mas o que era a gravidade em si? A
pergunta era quase proibida, e o jovem cientista que ousasse levantar a voz
tinha a carreira encerrada prematuramente. A necessidade de leis do Estado para
controlar o trabalhador mais livre repercutiu nas leis da cabeça do pensador
físico.
Mas a ideia
de que o movimento é a regra venceu – a vingança tardia de Heráclito! Foi
preciso uma sociedade de movimento, de caos, de conflito, de igualação dos
opostos, de impermanência para a ideia ser aceita. Nada da rotina tradicional
medieva.
Como
transição para o materialismo e, por seu aprofundamento, o ateísmo, Spninosa
pensa deus como a própria substância única material da natureza – e
determinística.
A ciência e
sua matematização seguiu, grosso modo, com menos ou mais consciência, tal
derivação:
1.
Deus é
perfeito
2.
Por ser
fruto de Deus, a natureza é perfeita
3.
A matemática
é pura e exata
4.
Logo, a
matemática é modo de conhecer a obra divina
As premissas
estavam erras, e a conclusão de certo modo também. Em parte, a premissa foi
feita para justificar a conclusão. De qualquer modo, tais erros permitiram
imenso avançar da ciência em terreno religioso.
Duas
posições opostas surgiram, dois métodos.
Descartes
pensou o mundo como certa máquina, relógio, mecanismo. Tal mecanismo seria
harmônico, de causalidade mecânica, com partes autônomas em si. O mundo que
pedia novas ferramentas e produtos fez do método científico um produto. Até hoje,
pensar-se a realidade como certa máquina como computador; o cérebro seria mero
computador, por exemplo…
Ele tomar o
todo e divide, como quer, em partes e mais partes – até a coisa ficar simples.
Não entende que a existência é contradição, mudanças e saltos de qualidade,
influência recíproca, interdependência mútua, desenvolvimento desigual das
partes, conflito, interação, história e desenvolvimento – a realidade é um
sistema orgânico, dinâmico, dialético.
Ele também
desdenha da empiria: dos sentidos, do sensível, dos dados apenas veríamos
mentiras. Logo, deveríamos usar um método racional dedutivo novo: de certas
premissas que o próprio cientista escolhe, deduzo com conclusões. Que tais
premissas sejam um tiro no escuro, não interessa…
Bacon usa o
método oposto, um vício inglês. Deve-se apenas colher e organizar dados, quem
sabe aqui e ali algum comentário lateral, mas evitar qualquer coisa além disso,
que seria guiado por “preconceitos” do pesquisador. Soa pobre porque é. O
pensamento, não os dados, seria a fonte do engano. O pesado empirismo nos EUA e
na Inglaterra deriva do capitalismo avançado com sua tara quantitativa e, logo,
a necessidade de negar essências (daí o pragmatismo, a simpatia pelo
positivismo, a indução, a filosofia analítica etc.).
Qual a
solução dos opostos? Empírico-dedutivo; dedutivo, porém empírico; empírico,
porém dedutivo. As “premissas” devem ser empíricas, não “racionais” ou
“intuídas”, então, delas deduzir – considerando, claro, o movimento, a mudança,
a história. Eis a nova dialética. É possível deduzir o erro do empírico, quando
há. É possível provar o erro da dedução, quando há.
Deve-se
destacar que Newton produziu, por meio de sua pesquisa, um método indutivo:
colher dados e, então, generalizar tudo disperso numa lei comum. Einstein, ao
contrário, mas sem saber, fez o empírico-dedutivo: partiu de dados comuns (como
a razoável ideia, empiricamente consolidada, de que a velocidade da luz é a
máxima possível) para, então, deduzir.
O sucesso
enorme do universo newtoniano promovia a concepção de um universo repetitivo,
mecânico, infinito apenas extensivamente (infinito apenas quantitativo), com
leis rígidas e eternas, sem história. Perguntar pelos motivos do mundo foi
marginalizado. A concepção de todo com partes separadas levou Newton a pensar o
tempo e o espaço como absolutos, independentes, repetitivos, sem história,
imóveis e sem interação recíproca com os elementos da totalidade.
Consolidou-se
a visão do dinheiro: o quantitativo contra o qualitativo também na ciência, a
forma contra o conteúdo, a aparência contra a essência, a lei regular contra a
lei de desenvolvimento, a harmonia contra a contradição, o isolado contra a
integração. Mas tal salto apenas se consolida depois de Marx, quando a
burguesia largou a missão de saber do perigoso mundo e se recolheu nos seus
belos castelos.
Eis o
eclipse maldito da metafísica, sendo Kant um de seus auges sombrios. Ora, se
temos no marxismo uma ontologia do ser social, logo, talvez haja, via
verificação por pesquisa, uma ontologia geral, universal, de todo o Ser –
metafísica. Não basta saber que ser é movimento, pois devemos saber a causa do movimentar,
por exemplo. Para haver contradição deve haver movimentação. Por que o
inorgânico move-se, por que necessariamente e sempre? Uma rede de tabus
surgiram. Metafísica tornou-se sinônimo de metafísica medieval, esta sim
religiosa. Nas universidades, a tentativa de desmoralizar o adversário tinha um
segredo, acusá-lo de metafísico.
Os
estadistas
Os
contratualistas representavam a necessidade de um bom Estado para permitir o
funcionamento daquela sociedade híbrida, feudal e burguesa. A moral burguesa seria
a moral natural… Eis um vício comum na história do pensamento, uma lei: a
naturalização do que é social. Mas Rousseau, de origem pobre, foi a grande
inspiração subversiva, de traços socialistas até hoje não reconhecidos. Ele
sentia a nova alienação infestando o ar. De fato, deixado tudo solto, teríamos
uma guerra civil logo… Em 1789… Em 1848…
Idealismo
Alemão
Para afirmar
a revolução burguesa, Kant e Hegel defenderam o idealismo, que os homens fazem
a história por meio de suas ideias, que o homem é o centro de si mesmo etc.
Estavam na atrasada Alemanha carente de uma revolução francesa para chamar de
sua.
Kant, o
organizador do senso comum, coloca o indivíduo no centro. Temos os dados
empíricos e, então, impomos nossos conceitos arbitrários sobre eles. É um dos
auges do iluminismo.
Já Hegel
pensava que podemos desenvolver a pesquisa conceitualmente, de conceito a
conceito – pois o sistema universal, real-mental, havia sido descoberto.
Narrativa
Foca-se no
indivíduo, na sua liberdade, na sua ousadia – como o capitalismo gosta.
A vida
isolada, atômica, dos indivíduos capitalistas facilita aceitar, hipotetizar e
perceber os átomos, por exemplo.
ANTECIPAÇÃO:
CRISE DO DETERMINISMO
Antes de
tratarmos do último paradigma completo, o marxismo, vamos fazer um breve retorno
ao tema já focado.
No
escravismo grego, naquele nível de sociedade, a liberdade era pouca e rara. A
vida determinística fazia um pensamento determinístico. Pensar, por exemplo, em
probabilidades matemáticas era algo difícil, perigoso até.
Com o
capitalismo, tudo muda: trata-se da sociedade mais livre, individual e aberta
que já tivemos – ainda que de modo de negativo. Isso, tal caráter, permitiu ou
facilitou o desenvolvimento de teorias como a probabilidade matemática – ou a
ideia marxista, presente no Manifesto, de que a luta de classes é como a luta
de xadrez, pois pode ter milhões de movimentos singulares, porém, no geral e no
todo, apenas dois resultados, 1) extinção dos jogadores ou 2) a vitória de um
dos lados.
Esse é campo
social – e o capitalismo, no seu avançar tornou-se caótico demais, com
mediações demais, complexo demais, irracional demais. Assim, surgiram teorias
sociais afins como o pós-modernismo, pós-estruturalismo, materialismo aleatório
etc.
Na física,
deu-se do seguinte modo: com o avançar da sociedade, avançou a ciência, fomos
cada vez mais longe e dentro; mas, por isso, tudo ficou complicado, ou seja,
tronou-se difícil ver o mundo de modo causal e determinístico, como queria
Einstein. Então, surgiu o mecanicismo indeterminado ou aleatório; pode-se ter a
probabilidade de uma partícula estar ali, ou aqui, ou acolá, mas não sua
determinidade.
Ora, já
demonstramos a teoria provável de que um conceito é para nós e o conceito
oposto é para si, na realidade. O mundo pode ser determinístico, mas tão
complexo e difícil de saber sua essência que nosso conhecimento e previsão é
aproximativo, por probabilidades.
O avançar do
capitalismo (tanto a técnica quanto a sociabilidade), enfim, facilitou a
descoberta da teoria do caos – as leis produzem dinâmica de caos! Fatores
pequenos e irrisórios podem mudar tudo no médio prazo! No concreto imediato,
pela complexidade do objeto dinâmico, apenas podemos fazer previsões de curto
prazo! Tal teoria tem muitos pontos em comum com o marxismo.
O existencialismo,
com o avançar da sociabilidade, afirma o individuo e sua liberdade – o homem e
faria sua própria essência e sempre teria alternativas.
Michel
Foucault diz que o louco é, cada vez mais, na verdade, o subversivo (o que
razão tem) – mas é o contrário, cada vez menos. Porém o tempo de decadência
aumenta a loucura geral, do povo e dos políticos; parece que quanto mais
desequilibrado, mais votos terá. Por marginalidade longa, vejo como algo comum
certo desequilíbrio entre militantes revolucionários, tanto mais quando mais
tendem ao ultraesquerdismo; mas não são loucos absolutos, apenas traços para
adaptar-se e suportar sem romper com a racionalidade. A decadência geral da
mente dificulta perceber o próprio fenômeno, pois é geral. Às vezes, sim, os
loucos têm razão – mas o comum é a doença grave, incapacitadora de ver o real
de modo real.
A crise do
sistema capitalista, a crise do capitalismo como sistema, sua sistemática em
crise, leva ao pensamento (psique, filosofia etc.) não sistemático, caótico
etc. Eis os irracionalistas na filosofia e na teoria em geral.
A PRISÃO
APARENCIAL
Desde Kant,
boa parte da ciência evita a essência, o conteúdo, o não diretamente
observável. A fenomenologia afirmou que a aparência é a própria essência, sem
desvio ou inversão. Depois, as várias variantes do positivismo limitaram-se ao
que aparece de modo direto, à aparência, ao regular, ao empírico, ao apenas
dado etc. Por quê? Porque a ciência empobreceu-se? No campo social, ver a
essência é ser anticapitalista até a medula – obriga a conclusões e práticas
críticas. A sociedade tornou-se por demais complexa. Por isso, de modo
consciente e inconsciente é algo evitado. No campo teórico, fomos muito longe;
mas, quanto mais longe íamos, mais difícil ficava a realidade; por isso, diante
da tarefa pesada, recuou-se no menor trabalho, na lei, na regularidade, na
busca de dados externos etc. Assim, a física quântica por muito tempo
limitou-se, ao modo positivista, a apenas quantificar, matematizar, os
fenômenos até então, até hoje, sem explicação. Agora é um ciência bastante
irracional, ainda. Ficar na aparência é mais fácil, mais classista moderado,
com resultados rápidos, com fácil uso industrial. Hoje, perceber a realidade
interna do mundo tende a exigir uma postura específica diante dele, nele. Com a
dificuldade maior, o sujeito cientista deve ser uma boa ferramenta, e um bom
objeto, bem localizada etc. Quem não sabe a essência, não sabe nada, ainda que
saiba muito. Se, por exemplo, nossa teoria aqui exposta da física, a teoria de
tudo, estiver correta, demonstrar-se superior às demais, apesar da baixa
matematização, então ficará mais claro o limite empirista, aparencial. A crise
da prisão aparencial virá, de um ou outro modo.
Isso se
desaguou no pós-modernismo: haveria fatos, não verdades – haveria apenas
múltiplas interpretações arbitrárias. Na espiral, versão nova do sofismo e do
ceticismo. Causa: afastamento da natureza, maior sociabilidade, afastamento da
vida prática. Já tratamos em outro local as críticas centrais a tal pensamento.
Desde Marx,
sabemos que um maior pensador da história precisa surgir quando a própria
história é maior, incluso história intensiva, e desenvolvida em alto grau.
Marx
Os
idealistas alemães (Schelling etc.) já diziam que havia história real: que da
não vida viria a vida e, depois, a consciência… Marx considerou a economia,
dentro dela, a produção, dentro dela, o trabalho – como central. Mais isso já
era ideologia burguesa contra o feudalismo, apropriado pelo movimento operário
não marxista ainda. Marx levou até as últimas consequências, como trabalho
(humano) enquanto fonte primeira do homem. E deu ares muito mais materialistas
e profundos à ideia de que tudo é história. Isso só foi possível porque a
humanidade já tinha muita história nas costas…
A teoria do
Big Bang e a teoria da evolução “apenas” provaram que Marx tinha razão. Ser é
movimento (contraditório). Hoje, qualquer criança escolar sabe que a história
tem peso no mundo, que o passado é causa do futuro – isso é sinal de
socialismo. Diz Hegel: jogos de adultos na antiguidade são, hoje, jogos de
crianças. O Big Bang, que pode ser sensivelmente atualizado, coloca o universo
em movimento, com história; que elementos tornam-se outros por decaimento etc.;
que há eras cósmicas (das estrelas, dos buracos negros etc.). A concepção
a-histórica newtoniana foi superada como consequência da, derivações da, teoria
einsteana. Antes de Darwin já se supunha que seres vivos evoluem para outros,
de uns para outros, mas não sabíamos como ou por quis leis tudo mudava; a visão
darwiniana é hoje atualizada pela genética e por pensadores biólogos como os
biólogos dialéticos. Em várias línguas, a química tem o significado de
separação, quebra, divisão – apenas; isso deriva do mecanicismo; mas ela é a
ciência da transformação; os químicos pensavam que todos os elementos sempre
existiram e sempre existirão, e separado, lado a lado, parados etc.; hoje
sabemos que elementos mais simples produzem elementos mais complexos; que
elementos combinam-se em moléculas; que as estrela, por meio do trabalho
estelar, produzem novos elementos mais energéticos, mais pesados; que há
movimento, do simples ao complexo, história e estrutura, desenvolvimento, salto
de qualidade, contradição. A concepção histórica, marxista, venceu ainda sem receber
sua medalha.
Mais: as
ideias são frutos de relações materiais. A cabeça segue o chão que os pés
pisam. A vida capitalista, a selva que é, permitiu e facilitou Darwin alcança
sua teoria. O modo de viver gera tal sensibilidade diante do mundo que produz,
também, um modo de pensar. Isso é inédito, mas não é sequer um terço do homem.
O
desenvolvimento do trabalho, logo, da técnica, logo, da produção, logo, da
economia, faz certa sociedade entrar em altíssima contradição – ela é obrigada
ou a criar novas relações sociais que estejam de acordo comas novas técnicas de
trabalho ou a sociedade em questão morrerá. Por exemplo: hoje temos uma
superprodução crônica absoluta latente, produtividade explosiva e implosiva,
mas o comércio é o reino da carência para que os preços compensem, para que não
fiquem abaixo dos custos de produzir – a forma de produção, altíssima
produtividade, abundância, não cabe mais nas regras da forma de distribuição, o
comércio, a carência dos altos preços. Um avançou enquanto o outro estagnou, um
conflito total.
O marxismo
depois de Marx operou várias reformas revolucionárias, mas nenhum salto para
si, interno. Houve bons resgates e desenvolvimentos de temas marginais em Marx
e Engels (Estética, teoria da dependência etc.). Correndo o risco de ser
delirante, afirmo que o conjunto de minha obra teórica cumpre a função de
afirmar o marxismo como sistema relativamente aberto completo. Isso só foi
possível por: 1) altíssimo, mas desafinado, desenvolvimento da teoria até aqui
(incluso da teoria não marxista), 2) crise sistêmica do capitalismo.
Considero-me, com a devida maneira singela, o último dos pré-socráticos.
Toda teoria
nova que surge, surge como inimiga do marxismo. Estruturalismo, pós-modernismo,
reducionismo etc. são formas de negar a mais avançada teoria. A fenomenologia
toma a aparência como se essência direta fosse… Está atrás de Marx e Hegel. Os
marxistas devem negar tais produções, mas também ver nelas: 1)a causa material
de suas origens, 2) ver qual o núcleo racional presente a ser desenvolvido de
modo correto e concreto. O marxismo, apesar do passado estalinista, torna-se o
fim das teorias dogmáticas porque ele é atualizável, relativamente aberto;
capaz, por exemplo, de aprender com erros de teorias adversárias.
Lukács
afirma que a filosofia moderna caiu em irracionalismo para negar a realidade ou
sucumbir abaixo dela. A pobreza do (neo)positivismo também é duramente
criticada. Não há novismo que supere a teoria marxista.
O marxismo
degenerou em negatividade, em falta de riscos, em historicismo absoluto. Como
afastamos por demais as barreiras naturais, como somos muito sociais hoje,
parece que tudo é construção social, mesmo em seu sentido radical marxista
(tudo é história). Afirmar que o marxismo é contra o idealismo não é hoje dizer
muita coisa. A luta por uma sociedade melhor divide os homens em
relacionalistas ou substancialistas, em dialéticos (sistemáticos) ou
reducionistas. O materialismo tornou-se, entre gente letrada e relevante, um
senso comum. Temos, portanto, novas oposições. Uma delas: analíticos ou
metafísicos materialistas. Se formos sábios, seremos filiados aos segundos. Os
marxistas universitários estão tão desatualizados – e não falo de filosofias
fast food – que não sabem a visão superior hoje da metafísica.
Isso leva ao
caráter deste livro. Um jovem autor marxista tem a obrigação da humildade, mas
é duas vezes mais obrigatório dizer as coisas tal como são, na sua medida
precisa. O marxismo passou por 5 grandes revoluções ortodoxas; entre elas,
ocorreram importantes reformas teóricas, mas parciais. A primeira revolução foi
a fundação e consolidação do marxismo por Marx e Engels. A segunda ocorreu por
meio de Lenin – teoria do imperialismo, teoria do reflexo, teoria do partido. A
terceira, por Trotsky – teoria da revolução permanente, lei do desenvolvimento
desigual e combinado, teoria da curva de desenvolvimento capitalista, teoria da
burocratização, programa de transição, a estética, a moral etc. (ele foi
inferior a Lenin na política, mas superior na amplitude de suas contribuições).
A quarta, por Lukács – estética, crítica do irracionalismo filosófico, resgate
(e atualização) do método dialético (causa e acaso), reificação e ontologia.
Entre Trotsky e Lukács ocorreram grandes reformas teóricas, embora dificultadas
pelo estalinismo, e despois deste último teórico – em principal: resgate de
Gramsci, Lefebvre, Moreno, Mandel, Kurz, Mèszáros e os teóricos da dependência;
além deles, houve avanços significativos na psicologia, quase revoluções.
Mèszários e Kurz fizeram contribuições, reformas pré-revolucionárias,
preparando o caminho. Este livro que o leitor tem em mãos é a quinta (terceira,
como veremos) revolução por dentro do marxismo. Inexiste nas últimas décadas
contribuição semelhante em quantidade e qualidade, em profundidade. Quase todos
os aspectos e temas do marxismo foram atualizados e corrigidos. Mas isso tem
seu risco, pois a originalidade, ainda mais se correta, costuma ser acompanhada
da marginalização. Um novo marxismo, ainda ortodoxo, que preserva as contribuições
e conquistas do passado, está surgindo.
Cada curva
de desenvolvimento do capitalismo, quando começa a transição e o declínio,
inicia revoluções no marxismo ortodoxo: a primeira curva produz, por assim
dizer, não apenas de modo metafórico, Marx e Engels; A segunda, Lenin, Trotsky
e Lukács (além de Gramsci etc.); a terceira, Mészáros, Kurz e, enfim, esta
obra. Nesse sentido, temos três revoluções, cada uma correspondente a uma das
três etapas do capital, cada revolução industrial etc. Embora pareça improvável,
dada a profundidade intensiva e extensiva dente livro por exemplo, talvez as
próximas revoluções socialistas ou a continuidade do aprofundamento da
precarização na vida comum aprofundem a última revolução interna marxiana.
Marx e
Engels apenas poderiam surgir na Alemanha (superestrutura) – com sua ânsia
modernizadora, combinação e contradição de avanço e atraso, tradição filosófica
etc. – desenvolver-se na França (estrutura, classes e relações de) e
consolidar-se na avançada Inglaterra (infraestrutura, economia). Trotsky e
Lenin apenas poderiam produzir desde a Rússia com seu desenvolvimento desigual
e combinado, com altíssimas contradições, com dura ditadura czarista, com sua
combinação de oriente e ocidente etc. A preparação da terceira revolução
marxista só poderia surgir na Europa da terceira revolução industrial, mas
teria muito mais oportunidade e facilidade de desenvolvimento num país como
Brasil, com forte classe operária, tradição de grandes lutas, democracia
burguesa, decadência e desenvolvimento máximo de seu capitalismo não
imperialista, diversidade, vocação internacionalista, país muito dialético (na
realidade e no pensamento), dura presença da pobreza, pluralidade de marxismos
etc.
As
revoluções dos anos 1820 a 1848, de base econômica, formaram Marx e Engels. A
revolução russa alçou Lenin, Trotsky e Lukács (além de outros menores, mas de
forte produção). A crise sistêmica enfim iniciada deu origem a Kurz, Mèszaros e
esta obra – a próxima grande revolução estimulará tal movimento.
A regra tem
sido esta: nada pode ser maior. Cada um aplaude a mediocridade do outro e, na
busca de menos trabalho, aplaude de volta e, ainda, brinda com um elogio
inesperado. A hora de loucuras racionais, contra as razões loucas, deve
retornar. Ai do pensador que ficar na contramão da história!
SOBRE ESTA
OBRA
Para provar
sua validade e prioridade, o materialismo deve responder as mesmas questões
respondidas pelo idealismo. Mais: deve responder melhor. Mais: deve responder
mais questões. Mais: deve ser melhor em apresentar novas questões e desafios. O
marxismo também tem tal tarefa, mas em dobro. O avanço colossal da ciência tem
cumprido tal meta de modo retumbante; mas, até agora, não nas questões
centrais, primeiras, essenciais. Quando minhas respostas da crítica kantiana à
metafísica materialista, as chamada antinomias, surgiram, surgiu a necessidade
de, por exemplo, uma nova física – um proposta, única até o momento a responder
tais desafios pesados e já seculares. Nesse sentido, se não responde tudo, não
responde nada.
Marx diz que
o idealismo foi ativo enquanto o materialismo, até ele, passivo. Seu
materialismo é, enfim, ativo, pois histórico e dialético (contradição etc.).
Ora, os marxistas aplicam o princípio da inclusão do terceiro excluído em tudo,
menos nesse tema! Mas x vai para não-x, sendo ainda x! O materialismo funda, em
seu desenvolvimento por si e de si, o idealismo relativo, o oposto; pois no
socialismo, e na luta por ele, a história deixa de ser regida por leis cegas e
impessoais para que os homens tomem as rédeas da história.
É claro que
o realismo deve imperar, ou seja, o mundo existe independente de nossa
consciência. Mas a invenção, a criatividade, a teleologia, a mente cada vez
mais cria o mundo seu, seu meio ambiente social. Um mundo que precisa, num
outro sentido, do nosso cérebro, com sua computação dialética única…
É claro que
o mundo é monista, não dualista – existe só um mundo. Mas este mesmo mundo, na
sua parte social em principal, tende a se tornar outro, que pode ser antecipado
(e planejado) em aspectos gerais pelo pensamento. Esse segundo mundo, em devir,
neste e deste, soa para nosso olhos sofridos e atrasados como um paraíso na
Terra e, veja-se, a realização da ideia não arbitrária, deduzida pelo mundo
imediatamente anterior em suas próprias leis de mudança. A vida capitalista é
monista interna, mas no externo é dividida e dualista, dividida em classes
opostas, mundos opostos; tal divisão externa leva à mudança, passagem de um
mundo para outro – do capital ao social.
A realidade
não é só mudança: também é desenvolvimento (contraditório), processo, evolver.
Ela é sistema, mas também um sistema com contradições, com saltos, conflitos,
desigualdades. O sistema tem, além do nexo externo, nexo interno,
interdependência e unidade, até identidade, real internas.
Devemos
obrigar a realidade a ser humanista. Somos obrigados a ser sujeitos e a fratura
no sistema facilita tal obrigação. A sistemática ou realidade pode ser, então,
anti-humanista, logo, incômoda e combatível. Outra sistemática, de fato
humanista, é possível.
A matemática
é uma das maiores conquistas do pensamento – mas há o risco de reduzir ao mundo
ao quantitativo. Pelo menos em nosso tempo, temos limites descobertos à
previsão e somos obrigados ao probabilístico, à aproximação. Os sistemas são
por demais complexos para previsões de detalhes ou de longo prazo. E há que
revalorizar o qualitativo, no pensamento e no mundo. O exatismo deve ser
relativizado porque já é relativo no real. Enfim, a filosofia e a ciência
ganham com a dose de imprecisão das palavras, o duplo sentido, o jogo verbal
etc. Isso apenas reproduz o mundo na linguagem. A imprecisão leva à precisão:
todo brasileiro sabe que é preciso confundir para explicar. Entes e palavras
têm duplo caráter. Se suprassumir significa ou destruir, ou preservar, ou
elevar – os três opostos, em oposição e exclusão – porque não eles ao mesmo
tempo e sob o mesmo aspecto? A palavra aí consegue expressar um movimento real,
realista. O exatismo empobrece, assim, a compreensão de um mundo que é
dialético, não unilateral. A linguagem deve ser usada de modo dialético. É-se
exato aproximando a palavra da coisa, tal como é em sua riqueza interna e
externa. Claro, devemos condenar os charlatões “poéticos” que dizem nada com
muitos enfeites. A clareza deve ser buscada para, em potencial, ganhar as
massas.
Com a
riqueza empírica, com as ferramentas avançadas de captação do mundo; cabe ao
homem interpretar, deduzir, perceber a verdade oculta dos fatos, gráficos,
modelos reais etc. Nada de dedução arbitrária por princípio arbitrários
iniciais, nada de colher dados apenas (existem robôs para isso!), nada de
apenas descrever, nada de hipotético-dedutivo. Empírico-dedutivo e dialético!
Histórico-dedutivo!
O todo,
incluso em seu movimento, sua ida (sem ir) de um ao outro, abarca uma afirmação
e sua oposta, um fato e seu oposto, uma concepção e sua oposta – em algo novo e
completo. Em outro momento, demos mais unidade dialética à dialética moderna e
a lógica formal de Aristóteles.
Tantas
vezes, um pensador afirmou que sua obra era algo de ponto final e real ponto de
partida – Kant, Hegel, Marx etc. Mas a originalidade deste livro é anormal, um
ponto fora da curva, embora homenageie e inspire-se em toda história do
pensamento; não é, portanto, um raio em céu azul. Mas é, mais que isso, um
salto de qualidade na ciência-filosofia até aqui se estiver correto nos
aspectos gerais e essenciais.
POEMAS
CIENTÍFICOS, UNIVERSAIS
Alguns
destes poemas foram obras do meu inconsciente (por isso, artistas filiam-se à
psicanálise). Apenas pude entendê-los anos depois, depois de uma dura pesquisa
científica. Até aí, eu não sabia interpretar de fato minha própria produção
poética. Por exemplo, minha teoria física diz que espaço e matéria são o mesmo,
diferentes manifestações do mesmo; pois matéria é (linhas de espaço) espaço
concentrado e espaço é matéria decaída. Mas uma década antes eu já havia
escrito isso de modo instintivo em poema erótico:
Explora o
espaço;
Temos tempo
e todo o espaço.
Podemos
explorá-lo,
Ir até ele.
Não apenas o
tempo dobra-se.
És toda
feita de espaço e dobra-se.
Em outro
poema: “o poema é a dimensão quarta da matéria”, ou seja, já havia uma noção
oculta até para mim, anos antes de teorizar, de que 1) a própria matéria tem 4
dimensões, 2) o tempo não é externo à matéria, 3) matéria e espaço são um
apenas ainda sendo dois.
Tratarei
disso na Estética Marxista, filha da psicologia – também. Tudo soa meio mágico,
mas a vida é poética. Claro, apesar dos pesares… Mesmo a metafísica concreta é
certa mágica materialista. Minha equação espaço-matéria acompanha o
valor-matéria, hipótese também antecipada em forma de arte de maneira
inconsciente, que trato no conto ao final.
Feita essa
introdução, vejamos os versos do livro
Cru.
43
Inexistência
é normalidade
Rumo natural
e matemático do cosmos
Potência
inativa do inorgânico
Imaterial
fluidez inanimada e indiferente
Acidente e
acaso
A concessão
da probabilidade – Existência!
Epifenômeno
do epifenômeno!
Repousante
energia
Para dentro
do útero – Existência!
Intervalo
instável
Orgânica
matéria
Pré-extinta
– Existência!
Ser o não
ser – Existência!
Líquido
espelho do contrário
Ao
demonstrar
A totalidade
vazia da inexistência – Existência, Existência!
44
Manual
incolor do vazio
Apática e
abstrata
Pois
essência pós-tudo do pré-nada
Ausência
exata da matéria
Nem calor
nem frio
Nem
movimento ou inércia
Nem fuga nem
abrigo
Nem
estabilidade ou enfrentamento
Nem o belo
nem o esquisito
Não-coisa
Não-valor
Não-conteúdo
Amorfa
Descartas o
espaço-tempo
Descartas as
quatro dimensões
Descartas as
energias todas
Indolor
Inodora
Assexuada
Temida
Intrainfinita
Indomada
Inominada
Equivalente
a si mesma
Genética
origem de todos os ZEROS
42
Continuar-se-á
Energia-massa
Do universo no universo
No universo do universo
Fluindo
Fluindo
Permanentemente mudável
Pelo imenso espaço-tempo
Poeira das estrelas
Do pó vieste e ao pó retornarás
40
Humanidade
do futuro
Homo sapiens
sapiens verdadeiro
Amanhã existente
Caso
Talvez por
acaso
Tenhamos
evitado a autoextinção
Não nos
perdoem
Nem sequer
Nem ao menos
aos poetas
Pois
Como faz e
fez
A minha era
A minha era
Valoriza
mais o plástico do que o Homem!
Mais o
plástico do que o Homem!
39
O Homem do Amanhã
Por meio de
singular máquina pós-industrial
Visitou
nosso tempo
E por três
sóis
Chorou
E por três
luas
Cada
continente era angústia
Cada país
era dores novas
Cada alma
outra outro mutilado era
(Cheiro
chato das ruas
Desproporcional
corpo das quase pessoas
Universal
valor da indiferença
Traçado
tosco das coisas
Portas e
chaves e muros
E famintos e
fomes e fanatismos e farsantes)
Retornou
retorcido
Por razão de
segurança psíquica-emocional
Emergencialmente
e trêmulo
Ao Amanhã
Aquele Homem
do Amanhã
18
Sou dado
empírico da realidade
A observação
gráfica da minha fenomenologia
Traça
tendências Sombrias ao decaimento da minha matéria
Ah, fosse –
outro seria – aquela partícula Indivisível
Cuja massa
Irrisória fizesse de mim
Invisível
Fantasma do mistério micronatural
Indiferente
a quase tudo, indiferente
E sou apenas
sub do sub
Seria
irreconhecível algo acima daquilo sido
Homens de
letras, cientistas, filósofos e eruditos
Tentam
descobrir o eu em mim de mim
Analisam o
corpo humanoide com suas inerentes partes
Verificam
das minhas manifestações a veracidade
E a revisão
de todos os cálculos das probabilidades limitadas
De um jogo
viciado e determinístico
Em um grande
espanto cínico
Encontram o
vazio de um jarro vazio
Onde a
donzela Harmoniosa, Fingida e Sanguinária
– Cujo
sobrenome é vida! – armazena, ali, Toda sorte de Angústias
Duma tabela
periódica de Ag-Agonias!...
CONTO DO
LIVRO – ANO ZERO
Veja-se que,
muitas vezes, o inconsciente, o InfraEu, expressa suas conclusões antecipadas
em forma de arte, apesar do artista ter ou não capacidade de levar o conteúdo
íntimo ao Eu externo. O Espaço = matéria e o valor-matéria estão aí, de maneira
instintiva.
METROS QUADRADOS EM CENTÍMETROS CÚBICOS
Teresina/Piauí.
14 de Junho de 2010.
Breve além dos três meses desde o
lançamento da ponte Estaiada. E uma ponte sobre o rio é o point desejado de
todos os suicidas.
Na ponta da ponte, no mirante, estava
Anna com, apesar do nome fofo-jovial, de dois “ns”, seus 32 anos. A
não-tão-jovem enfim recebeu devida atenção: curiosos, depressivos invejosos,
ambulância, jornalistas e policiais chegaram às 7h ao encontro; no ponto mais
alto, chegara adiantada em 2 horas.
Todas as negociações falharam; os negociadores estavam desmoralizados. Nem o
padre da paróquia serviu. Foram chamar a família, mas Anna era desprovida
dessas coisas (nem imaginava a sorte disso). De qualquer forma, não se sabe se
dava falta.
Anna estava lá em cima com ninguém.
— Tudo bem, posso sentar? — O dono
dessas palavras, típico hétero-branco-barba-magro-arrumado, soube entoar a voz
com certa firmeza não impositiva.
— Como que entrou e subiu? —
Assustou-se.
— A entrada, pela entrada. Mas tudo
bem, aqui ainda é propriedade do governo.
— Para, não, não, não chega perto!
— Chego não, senão caem dois —
respondeu.
Sentou-se. E sentando-se, meio longe,
amarrou a carência degenerativa de Anna.
— Psicólogo, dispenso.
— Não, sou filósofo de profissão…
— ?
— É difícil explicar.
— Pagam as pessoas pra ficar pensando…
— agrediu.
O cenário era belo dali. Era o ponto de
vista que só os dois viveram, nenhuma outra alma viveu. Talvez, quem sabe, os
operários da construção.
— Bom gosto pra descanso, viu; sabia
que esse mirante ainda nem está pronto pra visitas?
— (…) Uma pergunta que faz sentido
agora é o porquê um filósofo.
— Você tem certeza de morrer.
—Tenho.
— Exatamente isso…
— Mandaram você subir aqui pra gerar
dúvida em mim?
— Não, sim… Se eu disser que é um novo
projeto governamental, acredita?
De longe, dava pra ver a gente correndo
mais veloz que urubu, saindo dos bairros ao redor, pra acompanhar e ver.
Pessoas no alto dos prédios.
— Cansada… Dizer pra quê mesmo? Tudo se
move apesar de mim, não tão nem aí de verdade.
— Você acha?
Silêncio, solvente de tédio ou
indiferença.
— Eu tenho uma explicação maluca.
— Você é maluco — agrediu de novo.
— Vou dispensar a piada óbvia pra
evitar ser sombrio; eu quero você viva, espera um pouco.
Continuou:
— Por que tem tanta atenção e tanta
gente e recursos para uma desconhecida?
— Por causa do trânsito.
— …
— Ou porque atrapalha ou porque o
trânsito deixa vir ver minha morte.
— Bom, bom; você prova que, de duas,
apenas uma: ou todo inteligente é suicida ou todo suicida é inteligente!
— Tá.
— Monossilabilou.
— Acho que é a relação tamanho,
qualidade e quantidade. Por exemplo, matamos formigas todos os dias e é bom
matar as formigas; são demais. (Deve
saber de biologia mais do que eu) acho que são bilhões de bilhões. E pequenas;
o inferno é o tamanho delas. Quem é que não mata formigas?
E tem os elefantes. São grandes,
poucos, risco de extinção; se morre um, é documentário, é jornal, é filme
lamentando e um monte de gente fresca sofrendo pelo coitado do elefante. Ele é
grande, impacta, é muito e pouco.
Não tô dizendo que você é um elefante.
Raramente essas coisas acontecem – isso
destaca. As pessoas julgam o valor da vida pelo tamanho: é a diferença do
elefante para a formiga. E também pela quantidade: a espinha grande é mais
importante do que o pequeno cravo.
Se um artista morrer, todos choram
porque material raro, mas morre gente demais todos os dias. Só não são pessoas
elefantes.
— Tô entendendo, um monte de indireta
pra eu me sentir especial, sugestões. — Contrargumentou. — Nem me conhece.
— Estou falando de tamanho, quantidade,
elefantes, formigas, formigas e elefantes...
— Certo. — Dobrou o rosto em 15 graus.
— Cala a boca.
— Diz se é coincidência ou não? Até
aqui em cima tem formigas, olha só. Gosto de matá-las, dá prazer, desconto ódio
nelas —, divertiu-se matando algumas com o polegar, esfregando, quebrando-as.
A Anna: —
O filósofo: —
— É a distância —, engatilhou.
— ! —, exclamou-se-lhe quase
interrogando.
— A distância do pulo, de onde a gente
está. Todo mundo está aqui pela qualidade do tamanho do pulo, o tamanho da
ponte, formiga no elefante.
Um corpo em queda livre, molhando-se de
rio. Não era a Anna.
V
E
R
T
I
C
A
L
Nenhum lá na avenida, os populares ou a
polícia, sabia quem eram os dois. Dois suicidas, duas pessoas no mesmo local,
altura, dia.
APÊNDICES
A CATEGORIA MAIS-PODER
O argentino Moreno defende que devemos
escrever um o Capital da política. Para ele, assim como a obra de Marx é a
lógica do objeto estudado, devemos fazer a lógica da política. Faz algum
sentido, mas há exagero. Seu marxismo e sua corrente, da qual faço parte de
modo crítico, foca nas relações de produção e na superestrutura, na sociologia,
sabendo pouco da necessária base econômica. É o marxismo parcial e
relacionalista, sociológico (aliás, Moreno focou seus estudos em sociologia).
Se tal tarefa, que superaria o legado de Maquiavel, for possível, a categoria
de “mais-poder” seria a chave conceitual real de tal empreitada, ponto de
partida inevitável. Neste breve ensaio, exponho alguns de seus aspectos, longo
de esgotá-los, mas com a profundidade suficiente e necessária.
FÁBRICA E DITADURA
Marx expõe em O capital I o despotismo
fabril, além de nas minas etc., a ditadura do patrão e do acionista. No
escravismo grego, a elogiada democracia dos homens livres acompanhava e tinha
por base a ditadura nos campos de trabalho escravo e nos lares contra as
mulheres. Ditadura e democracia podem conviver juntas, aquela sustentando esta.
Mais: a necessidade de implementar um ditadura de Estado capitalista vem tantas
vezes pela necessidade de manter em pé, contra a rebeldia operária, a ditadura
nas empresas. A democracia das reuniões de acionistas na cúpula executiva da
empresa está baseada na mão de ferro contra seus funcionários. Ou a democracia
externa à porta da fábrica existe para manter intacta a ditadura do capital
sobre o trabalho, dentro da empresa. Assim, unimos base econômica-social e
superestrutura objetiva.
O MAIS-PODER
Temos a mais-valia, o mais-capital, o
mais-trabalho, o mais-produto e o hipotético mais-de-gozar. Penso, eis a tese,
que há o mais-poder. O poder geral da sociedade, algo desenvolvido, torna-se
desigualmente distribuído. O poder maior da burguesia é um poder menor,
menos-poder, da classe operária. Um jogo de soma zero: um perde na proporção em
que o outro ganha. No entanto, de modo algum nos confundimos com os teóricos
mercadológicos que buscam um conceito novo a cada instante, artificial e
exótico, para ganhar mídia e espaço acadêmico. No mais, o poder é meio, não fim
abstrato. Tal luta também é pessoal.
ACRÉSCIMO DE PODER
Nem tudo pode ser quantificado, por
exemplo, o valor artístico, que deriva de seu trabalho útil, não cabe em
números nem em seu preço. No entanto, torna-se possível perceber que o poder
aumenta de modo geral. Ao desenvolver a técnica e a sociedade, o homem aumentou
cada vez mais seu poder sobre a natureza (e, assim, sobre o próprio homem até
aqui) – temos mais-poder em outro sentido, neste caso, de mais do poder sobre a
natureza em relação ao poder em grau anterior (como sobre os homens em grau
superior ao passado). Tal poder, até agora, ainda exclui sua má distribuição
entre os homens, tratamo-lo como geral e abstrato.
O poder deriva também, por isso, de
ferramentas e como elas estão distribuídas. O arranjo do capitalismo, como tudo
está organizado, torna-se base do poder do capitalista, ou melhor, do capital.
Hoje, para haver poder socialista, basta o rearranjo social – o que exige um
Estado paralelo e radicalmente democrático.
Assim, o poder na história não permanece
o que é, ou seja, estático ou permanente. Sua grandeza, se podemos dizer de tal
modo, acresce ou reduz. Existir poder é condição de mais-poder; de modo
relativo, este surge apenas quando aquele atinge certo valor acumulado.
MAIS-PODER E DEMOCRACIA
A democracia não é um acordo, ponto
livremente aceito, mas algo imposto. É uma concessão forçada pelas
circunstâncias. É, portanto, algo inerentemente instável e parte de uma luta
permanente. Para haver qualquer tipo de democracia deve haver, também, todas as
condições para ela. Dito isso, não havia democracia nos Estados “socialistas”
do século XX porque não havia condições tanto para o socialismo quanto para sua
democracia direta. A internet, por exemplo, exige e possibilita, enfim, a
democracia socialista real.
A democracia grega foi forçada a surgir
por causa da forte classe dos comerciantes, da urbanização, da quantidade
enorme de homens livres urbanos etc. Fui fruto da matéria, não da ideia. Embora
muitos quisessem uma ditadura, em especial na época de decadência do escravismo
grego, a configuração da realidade obrigava a diluir um tanto o mais-poder,
baseado na falta de poder do escravo, na sua coisificação não desejante
aparente.
Quando o Brasil deixou a ditadura na
década de 1980, o poder antes muito concentrado teve de ser diluído um tanto,
fragmentado (num bom sentido). O povo passou a eleger seu presidente. Isso
aconteceu para evitar uma guerra civil, teve-se de ceder ao poder real dos pés
nas praças e ruas. A democracia é uma forma de os pobres não matarem os ricos –
logo, uma falsa democracia que visa uma paz social artificial. Diante de uma
realidade instável, uma nação pobre e com muita luta de classes parcial, o
presidencialismo, concentrar o poder no chefe executivo, tornou-se uma
necessidade. O parlamentarismo é para países urbanos mais estáveis, ou seja,
mais ricos. Já nos países rurais é comum o bonapartismo, ou seja, ditaduras do
executivo em geral militar que até permite a existência de 2 ou mais partidos.
A urbanidade é a casa da democracia:
nela, as ideias circulam ao lado dos protestos. Torna-se mais difícil
concentrar o poder e, logo, o mais-poder. Por isso, o fascismo ocorre em países
mais urbanos, diferente do bonapartismo, pois tem de impor uma derrota
fortíssima sobre o movimento operário e popular concentrado usando de métodos
de guerra civil.
A ditadura concentra poder, logo um
tanto mais de mais-poder em poucas mãos; a democracia dá algum poder maior,
liberdade, aos trabalhadores. Mas não vale a pena iludir-se com tal conquista
parcial, embora positiva. O poder nunca flutua no ar de modo estável e
uniforme.
O mais-poder, enfim, nunca é apenas
estatal, pois é um poder de classe, de uma classe social – os ricos de todas as
épocas – contra outra.
Poder é garantir que tudo funciona de
tal ou qual modo. Com a crise mundial de 2008, mais a precarização do trabalho
(fim da classe média), o governo Obama nos EUA tentou tirar do povo o direito
de ter armas sob a farsa de justificativas humanitárias. A razão de fundo é uma
tentativa de antecipação da burguesia: destruir a possibilidade dos
trabalhadores tomarem o poder, manter o poder estatal burguês, derrotar uma
revolta futura de maneira antecipada. Assim, por causa de luta de classes, o
governo tentou aumentar o mais-poder dos ricos e de seu Estado. As ditaduras
“socialistas” também tiveram como base separar o povo das armas pesadas e
formar um corpo especial de homens armados.
O MAIS-PODER E O MAIS-VALOR
O leitor marxista logo associa a questão
do mais-poder com o mais-valor ou mais-valia. Claro: acumulação de valor na
forma de dinheiro dá ao capitalista – e ao capital! – mais-poder em toda a
sociedade. Somos jugados pelo que temos nos nossos bolsos.
Mas a coisa é mais sofisticada… O poder
do valor também se faz sobre os burgueses, pois o que há de fato é a alienação.
Há um poder do mundo das coisas sobre o mundo dos homens – o mais-poder, hoje,
do capital. Porque a humanidade está dividida, porque lutamos uns contra os
outros, surgem leis coisais que não foram decididas por ninguém, que surgem da
desorganização da espécie humana. A legalidade apresenta-se, em nosso tempo,
como dinheiro em busca de mais dinheiro um processo que não encontra limite,
freio, bom-senso etc. – valor que se autovaloriza, valor como
sujeito-substância. O valor torna-se a alma tarada das coisas.
MAIS-PODER E BUROCRACIA
O burocrata “vermelho” precisava impedir
a democracia socialista, operária, para manter seu cargo, ou seja, seu emprego,
ou seja, seu estilo de vida destacado. Trotsky dizia que, na falta de comida na
guerra, alguém deveria organizar a fila dos alimentos; tal organizador comia
primeiro e comia melhor. O burocrata, apesar disso, morria de medo dos
operários, por isso fazia-lhes concessões diante de uma leve greve. É o preço a
se pagar, o que desestabilizava aquela sociedade.
O irmão menor deles são os burocratas
sindicais no capitalismo: fazem do sindicato o meio por onde engordam; até
fazem assembleias para a greve, mas só enquanto sabem que será aprovado aquilo
que já esperam ser aprovado. Eles precisam justificar à categoria seu cargo,
que merecem estar na direção sindical. Quanto mais-poder tem o dirigente,
menos-poder tem os representados.
No Brasil, a burguesia bruta e
escravocrata pedia a Getúlio Vargas, o ditador, que destruísse o movimento
sindical. Mas ele era um gênio: preferiu tornar os sindicatos um meio de
corrupção dos líderes, sindicatos burgueses da classe operária. Assim, o número
de dirigentes de um sindicato é limitado, apenar de haver uma base de
representados enorme, o que concentra poder, mais-poder, na mão de poucos
sindicalistas. Assim, o líder sindical pode tomar certas decisões sem consultar
sua base.
MAIS-PODER E MORAL
Com sua inocência, inevitável em sua
época, Rousseau afirma que nenhum homem deve ser tão pobre a ponto de ter que
se vender, nenhum homem deve ser tão rico a ponto de poder comprar outros
homens. O mais-poder é, inevitavelmente, imoral. Mas apenas na sociedade da
abundância real, que começa seus primeiros passos na década de 1970, incluso
abundância de tempo livre, a liberdade; o fim do mais-poder, do poder
concentrado, torna-se possível, necessário e desejável. O reino desigual da
inveja deve ruir, não me importarei se meu vizinho tem o que não tenho – ambos
temos. O socialismo é poder acessar com facilidade os objetos necessários para
o corpo e para o espírito, além de alguns caprichos sociais desejados.
MAIS-PODER E ARTE MILITAR
As ditaduras tendem a ter um exército
mais burocrático, com os comandantes concentrando tudo o necessário. Os
exércitos oficiais de países democráticos tendem a ter mais facilidade de dar
iniciativa e autonomia aos grupos de base; isso tende a ser até uma necessidade
da guerra, uma vantagem para quem dirige o aparelho. Esperar que o atarefado
comandante do comandante tome uma decisão é impreciso (pois ele está longe),
atrasa a ação etc. No entanto, a democracia não cabe em exércitos, mesmo nos
revolucionários, como demostrou a revolução russa. É preciso seguir o dirigente
que estudou e preparou-se na prática para bem dirigir: na hora do combate, não
cabe debater decisões e votar. No entanto, outros organismos, como assembleias
na cidade, devem eleger ou demitir tais comandantes.
MAIS-PODER E SOCIALISMO
O socialismo acaba com o mais-poder,
pois o povo passa a decidir tudo o que é central em assembleias diretas,
votações por internet etc. Mas o poder em si mesmo será maior, não menor,
embora radicalmente democraticamente distribuído.
Trata-se de destruir o poder estatal e
empresarial burguês por meio de um Estado paralelo, uma democracia superior,
organismo de poder como assembleias, conselhos e comitês de fábrica.
Na revolução surgirá, por meio do poder
na luta social, um poder real ao lado do poder oficial anterior e caduco.
Chamamos tal regime de regime de duplo poder, o operário e o burguês. Ambos são
irreconciliáveis, apenas um vencerá. Quem decide como e quando produzir? A
vitória operária depende, em grande medida, de um racha nas forças armadas,
quando ganhamos a parte mais pobre dela para nossas posições. Apenas o poder
contra o poder. O poder é, então, abstrato, a realidade social em processo.
MAIS-PODER E FAMÍLIA
O mais-poder do homem baseou-se no fato
de ele ter o poder econômico, sustentar a casa. Ou seja, ele tem meios de
repressão e regulação. Quando a mulher começou a trabalhar fora do lar passou,
também, a ruir tal poderio. No entanto, bem antes havia uma luta oculta na
família. A mulher, sempre que podia, operava manobras para fazer valer sua
vontade; às vezes, usando o sexo como ferramenta de barganha.
Com a crise da família monogâmica e isolados
pais carentes, surgiram formas deformadas de disputa pelo poder. Temos, por
exemplo, crianças mimadas, que manipulam os pais. Mas é de notar que a opressão
sobre os filhos, já citada no Manifesto, nunca foi tema sério nos meios
marxistas; afinal, eles são pais… Como os infantes ainda não são homens
completos, deve haver autoridade e aconselhamento, mas a coisa toda nunca
precisa ser despótica. Autoridade nem sempre é autoritarismo.
MAIS-PODER, HOBBES E MAQUIAVEL
No marxismo, refutamos uma teoria desenvolvendo
ela mesmo até o limite, até extrapolá-la por dentro de si. A teoria de que o
mundo era uma guerra civil animal e o estado vem para organizar tudo, preservar
a vida, reduzindo a negativa liberdade (caos)., está errada – mas tem alguma
verdade. Com a altíssima urbanização brasileira, veio a crise estrutural do
Estado, logo este se demitiu de agir na periferia urbana. A guerra de gangues
aí era permanente, morte sobre morte. Então o tráfico e a milícia impôs a
ordem, proibiu assaltos na região, organizou a comunidade, faz festas e bailes,
gerou empregos, ofereceu serviços e cobrou impostos ou taxas etc. Claro, tudo
por lucro e oportunismo. Mas surgiu um quase-estado não paralelo, um poder e um
mais-poder, em tais regiões.
Sobre o italiano, lembremos que sua
ambição era unificar a fragmentada Itália. Para isso, pensou que um grande e
sábio príncipe, concentrador de poder, mais-poder, deveria cumprir tal tarefa.
Daí, por exemplo, o motivo de estudar a “arte da guerra”, com uma obra sua de
mesmo nome.
MAIS-PODER E CRISE SISTÊMICA
É lei da decadência sistêmica pensar que
a causa do mesmo declínio é o governo, o regime, o estado, às vezes, a moral –
enfim, a superestrutura. Sócrates, Platão e Aristóteles foram dessa opinião,
assim como o grande Maquiavel. Hoje, culpa-se um governo pela quebradeira
econômica e deseja-se derrubá-lo por outro, como se fosse alguma solução, sendo
solução alguma. O povo, hoje, ao ver que a democracia dos ricos não funciona,
que esquerda e direta governam do mesmo modo, apostam na destruição, em figuras
políticas desequilibradas e risíveis.
MAIS-PODER E MATÉRIA
Mais-poder é concentrar materiais como
dinheiro, armas e humanos ao seu serviço – junto com seus arranjos contextuais
e propriedades. Ter mais-matéria é, nesse caso, ter mais-poder se a
materialidade está organizada e arranjada de tal ou qual modo.
MAIS-PODER: FORMA E CONTEÚDO
O conteúdo pode ter diferentes formas,
eis a dialética. O mesmo poder abstrato e concreto que está no Estado burguês
pode passar-se para o estado operário. O conteúdo disputado pelas formas, muda
de forma.
MAIS-PODER: DIACRÔNICO E SINCRÔNICO
O mais-poder pode ser visto como, no
limite, algo da estrutura, do arranjo, na relação imediata de exploração ou
opressão etc. E pode, ao contrário, ser visto, no limite, no tempo, por
exemplo, concentração de mais poder comparado ao passado ou o peso imenso do
passado nas tradições que mantém, ajudam a manter, modos de poderio.
O mais-poder é limitado por si, ou
melhor, breve tanto no sentido espacial quanto no temporal. Um pequeno susto de
5 mil anos na longa história da humanidade; e quase sempre minoritária, aliás.
A realidade e suas categorias objetivas
são diassincrônicas, por assim dizer.
O CAPITALISMO COMO TRANSIÇÃO
Proudhon
pensou a tese e a antítese, sem chegar ao menos na síntese, como se tudo
tivesse dois lados, o bom e o mau; Marx refuta tal método pobre (Marx, Miséria
da Filosofia - Método, 2013) com o exemplo da escravidão, que nada tem de
positivo (mas, destacamos para nosso argumento, a escravatura é típica de um
sistema anterior). Algo mais sofisticado fez Della Volpe ao afirmar que as
contradições são resolvidas tirando o negativo (no sentido de qualidade) e
livrando o positivo; por exemplo: há contradição entre produção social e apropriação
privada – o que fazer?: Manter o primeiro e encerrar o segundo – uma vez que
seriam apenas externos um ao outro. Moreno critica este último autor por não
ver que toda contradição está em uma unidade necessária, relação e totalidade
(Moreno, Lógica marxista e ciências modernas, 2007, pp. 46, 47, 48). O instinto
de Proudhon e a elaboração parcial de Della Volpe ocorrem porque, como dissemos
acima, o capitalismo é rebaixado à condição de mera transição entre as
sociedades classistas e a sociedade socialista. O atual modo de vida, dessa
forma, tem em si aspectos do futuro, embora preso ao passado. Assim: a
internacionalização das forças produtivas entram em contradição com os limites
nacionais, sendo estes últimos superados; a contradição entre proletariado e
burguesia resolve-se suprimindo esta enquanto aquela gradualmente deixa de ser
classe; as forças produtivas são preservadas e desenvolvidas com a supressão
das antigas relações de produção; sem supor o grau de automação hoje, Marx
afirma em O Capital que a mesma maquinaria que serve ao domínio capitalista e
produz o “necessário” exército industrial de reserva também serve por
excelência para acabar com o desemprego reduzindo a jornada de trabalho no
socialismo (neste sentido, não há desemprego tecnológico propriamente); o
capitalismo precisa desenvolver a ciência ao mesmo tempo em que busca limitar a
erudição das massas e ligá-las à religião; o sistema capitalista maduro produz
momentos de pleno emprego como sintoma de possibilidade socialista, mas precisa
da crise posterior para “normalizar” o sistema, para mantê-lo; afirmar que o
comunismo já existe, ao menos em modo larval, no movimento operário é uma forma
de demonstrar isso etc. Os países atrasados que quase foram rumo ao socialismo
no século XX, de fato quase foram porque o capitalismo é uma transição, o que
permitiu ocorrer tais fenômenos, tais acidentes, mas mesmo o transicional
precisa de um tempo e uma maturação para pôr o novo, daí o recuo posterior do
socialismo “real”.
Para que
evitemos confusão com as categorias, destacamos que a dialética hegeliana e
marxista parte do “nem positivo nem negativo” que avança a si mesmo para uma
relação de positivo (não no sentido de qualidade, mas no sentido de afirmar-se
na realidade) e negativo; logo depois essa oposição é superada em um novo ”nem
positivo nem negativo”, pois também o próprio negativo, que está em
“desvantagem”, é superado. Por exemplo: do artesão, nem positivo nem negativo,
avançou-se para o positivo, burguesia, e o negativo, proletariado, e o
socialismo superará tanto o positivo quanto o negativo, o fim da existência de
classes sociais.
TRANSIÇÃO E
CRISE
Os marxistas
enchem a boca, com razão, ao afirmarem que o capitalismo teve mais anos de
crise, não de crescimento. Mas deixam de perceber que a crise é necessária para
recuperar taxas de lucro rebaixadas pelo superaquecimento da economia. Quando a
economia cresce, surgem sintomas do futuro e do socialismo, como o pleno
emprego e maior atividade política das massas trabalhadoras. Porque é uma forma
transitória de sociedade, o capitalismo vai-se, sem eu avanço, de crise em
crise.
A crise
capitalista, pro ser um fenômenos social, não natural, avisa que a sociedade
está ainda incompleta e desorganizada.
TRANSIÇÃO E
“SOCIALISMO REAL”
Por o capitalismo
ser uma transição, sociedades atrasadas puderam antecipar, de modo apressado,
aspectos do futuro, do socialismo. Por que, então deram errado? Entre outros
fatores: ser transitório é diferente, em muitos casos, de ser efêmero – a
transição precisa de seu próprio tempo, de sua maturação, antes de ir ao
consolidado, ao socialismo. É duro dizer, mas aqueles países revolucionados e,
em principal, o mundo, ainda eram imaturos para tentativas socialistas.
TRANSIÇÃO E
REGIME DE ESTADO
O
capitalismo não tem um regime político seu ou uma sequência clara de épocas com
seus regimes estatais. Ele é, em geral, instável nesse sentido – também. Para
evitar o socialismo, o futuro latente, ora parte para a ditadura militar, ora
para a democracia burguesa, ora para o fascismo.
TRANSIÇÃO E
CLASSES
Em seu
comentário n’O Capital III, Engels diz do novo fenômeno de sociedade anônima e
por ações: trata-se da superação da propriedade privada por dentro do próprio
sistema, dentro de seus limites. O burguês individual dá lugar ao burguês
coletivo.
O
capitalismo produz como sinal negativo o seu oposto positivo. Por exemplo: o
desemprego crônico e “tecnológico” é sinal imediato e invertido do imenso tempo
livre no socialismo. Ademais, o sistema produz a classe que irá destruir ele
mesmo: o proletariado moderno, os operários. Antes, os escravos no escravismo e
os servos no feudalismo não era a classe imediata e direta do revolucionamento
de seus sistemas de opressão. Só uma sociedade de transição pode isso.
TRANSIÇÃO E
MUNDIALIDADE
O
capitalismo unifica o mundo e cria uma interdependência tal que lhe torna
bastante sensível às crises aparentemente locais.
TRANSIÇÃO E
SINDICATOS
Nem escravos
nem servos poderiam ter instituições de luta. Por mais que os burgueses
tentassem destruir as associações operárias, o caráter conjunto e urbano de tal
classe obrigava a criar organizações, mesmo que clandestinas e ilegais. Mesmo
que hoje estatizados, os sindicatos são sintomas do caráter transicional do
capitalismo.
TRANSIÇÃO E
PARTIDOS
Como se por
força da natureza, partidos operários ou de esquerda tiveram de surgir. Com
eles, ideias mais ou menos difusas de socialismo ganharam força. Como o
capitalismo surgiu de modo revolucionário, a revolução é algo bem visto na
cultura popular, no cinema etc. Desde seu surgimento, os governos franceses
aditam e mutilam o hino da França para que soe menos subversivo. A política é o
modo de transformar nessecidade em possibilidade (dirá Roberto Mangabeira Unger,
embora em outro sentido). A revolução é uma invenção moderna, do capitalismo.
TRANSIÇÃO E
SOCIALISMO
A tendência
inconsciente ao socialismo expressou-se de modo consciente, sem aparente
lastro, nos movimentos operários utópicos, no socialismo utópico não
científico. As ideias de outro futuro possível surgiam por instinto aqui e ali.
Ninguém é
perseguido por seguir Platão, mas pode morrer por defender Marx. De qualquer
modo, a filosofia científica materialista marxista provou seu direito histórico
e circula por todo o mundo, mesmo se com dificuldade sob ditaduras.
A revolução
socialista levará a uma revolução total no modo de vida, da economia à arte e à
moral. Mas, depois, qualquer revolução será algo raríssimo, entraremos numa era
de apenas reformas na ciência, na ética etc. Surgirão novos estilos em arte,
mas nenhuma ruptura séria.
TRANSIÇÃO E
CULTURA
O apresso
medieval pela rotina e pela tradição caiu por terra. Hoje, queremos o novo, o
moderno, a novidade, o avançado e o revolucionário. Tudo que era sólido
desmanchou-se no ar. Nunca acumulamos tantos exemplos de estética, de arte.
Assim, os mais velhos e arcaicos sentem-se desencaixados no mundo renovado,
deixam de compreender a realidade.
TRANSIÇÃO E
CRISE SISTÊMICA
É
incomparável a crise total do capitalismo coma crise total de sistemas
anteriores. Pela primeira vez, podemos ser extintos. A crise ambiental, por
exemplo, muito mais que parcial e limitado.
TRANSIÇÃO E
CIÊNCIA
O
capitalismo faz o possível para reduzi a ciência ao empírico (necessário), aos
padrões externos, ao matematizável e à técnica. Assim, as ciências humanas
devem defender o capitalismo, nada crítico. Mas ele se vê obrigado a tolerar a
crítica e a ciência essencial, de base. Sem isso, sem avanço. Porém, precisa
manter a maioria ignorante, semiletrada, apenas capaz de trabalhar como caixa
de supermercado e ler manuais. Os EUA, no lugar de criar um povo erudito,
preferiu importar cérebros de todo o mundo. Por isso, gênios como Carl Sagan,
este de clara inspiração socialista, tiverem a iniciativa de ir além, de tentar
criar ao menos a simpatia popular pelo científico.
De qualquer
modo, dentro de certos limites, a cultura e a sensibilidade populares tiveram
de se elevarem.
As ciências
que foram “longe demais” – marxismo, darwinismo, einsteinismo-teoria do Big
Bang, freudismo – têm de ser atacados, negados. É uma realidade que permite,
mas não aceita de todo pensamentos avançados. Algo típico da transição.
TRANSIÇÃO E
CAPITALISMO
Como em
nenhuma outra transição sistêmica, o capitalismo é um socialismo de cabeça para
baixo. Por exemplo: em todos os bairros, há um supermercado, que servirá de
primeira forma de depósito público, gratuito e de qualidade dos produtos. A
internet e a computação permitirá um planejamento geral e científico da
economia. A robótica-automação põe fim às classes, permite produção científica,
dá base ao fim da exploração etc. Tanto a burguesia quanto o operariado, via
desenvolvimento técnico, se afastam da produção.
TRANSIÇÃO E
ESTADO
Hoje, o
Estado investe porque a burguesia não tem condições de arriscar investimento em
tão larga escala e em tanto risco. Como burguês impessoal, o Estado tonou-se
necessário ao sistema como aviso que o avanço técnico exige grande
investimento, logo recursos concentrados, talvez planificados e planejados.
Seque a sociedade por ações investiria em hidrelétricas que dão lucro apenas
após algumas décadas de funcionamento.
TRANSIÇÃO E
FORÇAS ARMADAS
Via de
regra, as forças armadas dos sistemas anteriores eram formadas por cidadãos
livres e ricos, até para reprimir a classe trabalhadora de sua época. Os
capitalistas, via Estado, ao contrário, contrata assalariados, ou seja, seus
inimigos potenciais. Eia outro sinal de transição. Diante da miséria e da revolta
operária o popular, os militares de baixa patente reprimirão os seus? No
escravismo e no feudalismo, o contrato e profissionalização do exército era um
dos sinais de decadência do modo de produção.
TRANSIÇÃO E
CONTRATENDÊNCIAS
O
capitalismo tende a substituir trabalhador por máquina, mas resiste a isso por
meio de baixos salários – o socialismo encerra tal resistência. O capitalismo
tende a derrubar a taxa de lucro, mas cria negações disso – o socialismo
encerrará tais negações. O capitalismo tende a concentração e centralização do
capital, mas promove oposições para a dispersão – o socialismo unificará todo o
grande capital como uma só empresa com planejamento central. Esses e outros
exemplos avisam que o socialismo afirmará tendências do capitalismo sem suas
contratendências, que serão superadas. Isso demonstra muito bem o caráter
transicional do capitalismo uma contradição dentro de si mesmo, barreira de si
próprio. Ele tende a algo, mas por sua configuração (classes etc.), resiste-se,
contradiz-se. Por outro lado, isso gera um tempo de maturação necessário.
TRANSIÇÃO E
DIALÉTICA: MUNDOS DA APARÊNCIA E DA ESSÊNCIA
O mundo que
é claro e evidente desdobra-se, em seu autodesenvolvimento (diversificação
etc.), em mundo essencial e mundo aparencial – para depois promover novo mundo
unificado transparente. No feudalismo, Idade Média, tudo era claro, cristalino
e evidente: não somos iguais, uma parte do trabalho fica com a classe dominante
(outra como Estado, outra com a Igreja etc.), o Estado serve aos ricos etc. Com
o capitalismo, o mundo duplicou-se: parece que somos iguais, parece que somos
pagos pelo nosso trabalho, parece que o Estado é um mediador não classista etc.
O socialismo, enfim, encerra tal duplicação, tornando tudo transparente mais
uma vez, de novo modo. O que no capitalismo é aparência e farsa ou ilusão objetiva,
será, em muitos casos, essência real no socialismo. O capitalismo anuncia o
socialismo, mesmo se com trombetas desafinadas. Pesando a mão e desleixando do
rigor: o capitalismo é o reino da aparência; o socialismo, da essência.
TRANSIÇÃO E
HISTÓRIA
Com o
capitalismo, Hegel afirmou o fim da história – tese recomposta com a queda do
socialismo dito real. Em crítica, Marx afirmou que estamos, ao contrário, ainda
na pré-história da humanidade, antes do socialismo, ou seja, quando a
humanidade será humanidade, quando a história de fato será iniciada. Podemos
nomear partes da história do seguinte modo: pré-história, história e
supra-história. A primeira e próxima revolução socialista que dará sequência a
um efeito em cadeia em todo mundo, em poucas décadas, será marcada como o ano 1
da nova época, então, os calendários serão novos e reescritos.
Hegel
afirmou que algo histórico ocorre ao menos duas vezes – o que prova, no
profundo, a necessidade de sua ocorrência. Marx atualiza: acontece primeiro
como tragédia e, depois, como farsa no sentido de comédia (complementamos:
também no outro sentido de farsa). Algo mais pode ser dito. Os grandes fatos
históricos ocorrem também como, primeiro, ensaio geral, e depois como fato de
fato; a possibilidade, entes de ser necessidade inevitável, testa-se a si
mesma, verifica-se, tenta-se, ou seja, como se ensaia, prepara-se, para uma boa
futura apresentação completa. O capitalismo é o ensaio geral, bastante caótico,
do socialismo.
TRANSIÇÃO
No fim dos
sistemas anteriores, ou no início de seus fins, alguns efeitos aconteceram,
incluso: aumento do comércio e aumento da dívida. Ambos são o próprio capital.
Assim, aquilo que foi transicional nos anteriores sistemas é a próprio sistema
transicional hoje. Por exemplo: a urbanização alta marcou as crises sistêmicas,
e o capitalismo é urbano por excelência e necessariamente.
Repetimos: o
capitalismo é, de fato, um modo de produção e de vida, ou seja, toda uma época
da humanidade; por outro lado, também, trata-se de uma transição, quase mera
transição, entre o passado classista e o futuro sem classes sociais,
aclassista. O capitalismo é um modo de transição.
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[1]
O ideal é ir do mais abstrato ao mais concreto, do mais imaterial ao mais
material – como campo antes de matéria, este antes de massa etc.
[2]
Este é um esforço de condensação e seleção da teoria, na relação homem-homem. A
alienação em Marx se expressa em: “1) alienação dos seres humanos em relação à
natureza; 2) à sua própria atividade produtiva; 3) à sua espécie, como espécie
humana; e 4) de uns em relação aos outros.”
[3]
Nosso ancestral evolutivo já vivia abaixo das árvores, no solo, porque sua
morfologia fazia-o habilidoso para andar e correr; por isso, adaptou-se ao
ambiente de savana.
[4] No
mais, vale observar, o paleontólogo Nacho Martínez Mendizábal teorizou que o
gênero homo, diferente de nossos primos primatas, perdeu o tamanho dos caninos,
pois, ele diz, tais dentes elevados serviam para disputas internas, contra
membros da própria espécie, e, entre nossos antepassados, a cooperação superou tal tipo de
conflito, moldando a morfologia dentária.
[5] A
grande dádiva do marxismo não é apenas, nem no seu começo, afirmar que o homem
é diferente e especial como dizem a religião e boa parte da filosofia. Ao
contrário, descobre, pouco antes de Darwin dar a forma teórica ímpar, que o
homem é um ser natural, biológico, antes de ser de fato social. Isso é parte do
significado de que o homem precisa comer e de abrigo antes de poder fazer
filosofia. Sobre isso trata Mészáros no capítulo sobre moral em seu “Teoria da
alienação em Marx”.
[6]
Quem vem antes, a essência ou a existência? O processo de formação da
existência é, também, o processo de formação da essência (Sartre pensa que a
existência precede a essência porque ele vê o indivíduo, não a humanidade – por
outro lado, na formação do indivíduo humano, sua maturação existencial avança
para consolidação da essência humana em geral; uma criança têm uma fase
egoística, pois ainda é um homem em formação). Além da formação de nossa
espécie, o longuíssimo período de comunismo primitivo, igualdade e comunidade
da escassez, operou uma seleção social com seleção natural, facilitando a
reprodução e perfil daqueles que têm a essência humana em geral.
[7] O
trabalho sobre a noção, até aqui mistificada, de essência humana pode receber a
crítica de que usamos o método dedutivo para percebê-la. Marx também usa tal
metodologia para expor um novo
objeto, o valor, no Capítulo I d’O Capital.
[8] Os
psicólogos evolutivos (Robert Trivers) chamam altruísmo recíproco,
reciprocidade. A expressão mutualismo, tomado emprestado da biologia, a
associação de populações diferentes de modo vantajoso a ambos, é limitado, mas
o mais próximo que consideramos para corresponder ao objeto.
[9]
Vale a pena comentar em nota a questão, famosa hoje, do gene egoísta. O egoísmo
do gene é base de nosso egoísmo natural, pois os genes focam em reproduzir a si
mesmos? Ora, isso fica muito mais claro e correto se incluímos a categoria
suprassumir; esta expressão, o suprassumir, é, ao mesmo tempo, concentrados
dentro de si, misturados, os significados diferentes e opostos destruir,
superar, guardar (conservar) e elevar. O lado egoísta do gene não é totalmente
negado na realidade, nem totalmente afirmado nela, pois é suprassumido, como no
fato de as espécies, como nível acima, que apareceu antes – do “ponto de vista
do gene egoísta” – como mero nada ou instrumento, procurarem a perpetuação das
próprias espécies; permanece, então, a possibilidade do altruísmo, da
solidariedade, da comunidade, da comunhão, do mutualismo. No lado humano,
acrescenta-se que o homem é a afirmação da natureza e, mas, ao mesmo tempo, sua
transcendência.
[10] A
concepção aqui exposta pode dar base a outras observações e pesquisas. Exemplo:
abstraindo o uso como ração, incomum hoje no ocidente; nós adestramos os lobos
para que servissem de companhia (integração), fossem capazes de guarda
(relações mutualistas) e auxiliares na caça (ser ativo). Desenvolvemos raças de cães para satisfazer
diferentes necessidades. A demonstração dos tipos caninos é um tanto
unilateral, pois os três elementos, abstraídos, estão como se misturados dentro
da realidade; porém serve de primeira aproximação clara ao tema.
[11]
Freud está em relação a uma nova teoria da psique como Ricardo em relação a
Marx. Considerar o aspecto natural do homem é uma das forças da psicanálise,
embora seja uma ciência social, mesmo que seja negada esta localização pelo seu
fundador, que a considerava parte dos estudos biológicos (possivelmente para
dar ares mais científicos ao seu legado contra os ataques que sofria). Dito de
outra forma, dar-se, com a psicanalística, primeira base materialista para a
psicologia, embora deva ser superada.
O Behaviorismo, por sua
vez, também avança certos aspectos, mas de maneira unilateral. É tão ciência
quanto o freudismo. Nega-se os avanços de Skinner porque se tem, entre os seus
críticos, uma concepção burguesa de homem, como se livre e autônomo, longe de
quase determinismos do ambiente, o que é falso. No mais, tal concepção percebeu
que a repressão sobre os jovens não é um método válido como em animais, pois
gera reações, manobras, problemas, etc. Mais um pouco e seria percebido que
isso se deve a uma essência humana.
[12]
Para curiosidade, basta observar que nossa mente torna-se mais ativa –
consciência estimulada – quando percorremos um caminho novo, mas, quando
refazemos o mesmo caminho ou voltamos, a mente sente até o tempo passar com
mais velocidade, como se a jornada fosse encurtada, pois está acostumada ao
ambiente, repetição.
[13]
Uma hipótese lateral: nas tentativas de provar a teoria de Einstein por eclipse
solar ocorreu céu nublado atrapalhando. Talvez, não foi por acaso: o
alinhamento gravitacional da Lua e do Sol pode ter afetado partículas da
atmosfera, atraindo-as, concentrando-as, fazendo o céu nublado em alguns
pontos. Mas, mesmo se correto, isso faz parte das mil e uma leis possíveis no
universo, que não falam diretamente dos fundamentos das tantas legalidades.
[14] Uma
pista para pesquisa da história da ciência é ver tais fatores, dinamismo e
stress, como estímulos. Einstein produziu seus milagres quando numa posição não
favorável; Platão e Aristóteles surgem na decadência grega; Darwin e Wallace
viajaram pelo mundo, tendo este último “sacado” a teoria da evolução enquanto evolução
enquanto estava com uma doença tropical; Newton fez seu grande trabalho isolado
por uma pandemia; Marx viveu uma vida militante (dinâmica) e precária, como
Lenin e Trotsky.
[15]
Grosso modo e um tanto mecânico e unilateral: Materialidade (valor-matéria)
(particular); Propriedade (em principal, ter valor dentro de si) (singular);
Contexto (oferta e demanda) (geral). Mais: ou o inverso, posições categoriais
relativas: matéria, universal; propriedades, particular; contexto, singular.
[16]
Vale repetir. A expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia
para o vermelho. O espaço não é barreira para luz, é "transparente",
porque a luz é o próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da
luz não é a sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que
são o mesmo, um identidade interna.
[17]
Para Gleiser, apenas a matéria escura é “bolhas de espaço” enquanto considero
tudo, matéria e luz, como formas de espaço, espaço condensado.
[18]
Veja-se que, para nossa cosmologia sustentar-se, reiniciando o universo, mesmo
se os maiores buracos negros “suam” espaço, a taxa relativa é pequena
relativamente, o que faz com que a atração seja, no futuro, maior, superante,
consumindo espaço e matéria para dentro de tais titãs, o que reunirá tudo de
novo em um pequeno ponto, na singularidade, ou próximo disso, podendo, por
exemplo, por tal salto, a partir de certo nível de concentração, ricochetear,
ao desabar para dentro de si, criar um impulso para fora, na direção oposto,
para expansão, semelhante a um buraco branco.
[19]
As hipóteses que apresentamos aqui são suficientes, têm uma visão de mundo, de
cosmos. Podemos agregar, ademais, uma especulação extra. O espaço (energia
escura) e água são muito parecidos. A água aumenta o volume quando esfriada,
congelada, por a estrutura molecular fazer espaços vazios entre os átomos. Pois
bem; por esfriar, por reduzir energia, esta mesma transforma-se, o espaço decai
em energia escura, ou melhor, a energia escura, que é o espaço, expande-se com
o esfriamento do universo, torna-se menos condensado nesse sentido. Isso pode
ser apenas uma das causas da expansão cósmica.
[20]
Descendo ao reino da especulação, alguns infinitos problemáticos da física podem
ser expressão do infinito real, qualitativo, como se quarta dimensão. A
densidade infinita do buraco negro talvez caia em tal ideia.
[21]
Em sua dialética ontológica “inferior” à nossa, Hegel já demonstrava que o
contínuo dava-se pela reunião de discretos, ou seja, mesmo sendo discreto uma
direção ou sentido, por ser linha, o espaço, ao reunir linhas de espaço,
torna-se contínuo em todas as direções.
[22]
Como se não bastassem os riscos de desmoralização pela concretude das propostas
neste capítulo, apresento nesta nota uma outra. Os fótons não são partículas,
mas modo de manifestação de campos de luz… Diria Sagan: valorizemos as
especulações, mas não as confundamos com fatos científicos. Num dos lares nos
quais habitei nos últimos anos, havia uma janela de vidro (ou plástico) que
recebia muita luz solar e que era, também, coberta por uma camada de película
(penso, bases do fenômeno a seguir). À noite, quando eu apagava todas as luzes
internas, da casa, e olhava pelo vidro, via a luz das lâmpadas das demais casas.
O que acontecia? Não “via” a luz, mas um campo, de derivação eletromagnética,
por evidente, que tinha formas de linhas redondas, formando formas como
cilindros de linhas etc. Pois bem; percebi que a luz intensa na parede de um
quintal, e de outros, não era luz, mas a fenomenologia de um campo até ali,
antes, invisível que batia naquela parede… Assim, por generalização, a luz mais
longe é mais fraca porque sua linha de campo é mais larga e, por isso, fraca
com o passar da distância. A luz do Sol é seu campo, já está aqui, caso a linha
não se expanda; vem até nós, caso a linha se expanda (por isso a luz não passa
no tempo? Eis uma hipótese). O fóton é espaço condensado na forma de linhas de
campo, linhas de espaço (ainda que concentrado). A luz, na verdade, torna-se
uma sombra clara, cristalina, e visível de uma entidade invisível, ligado ao
espaço e ao eletromagnetismo, mas de modo ainda mais profundo que o já
considerado pela ciência; pois ele não é em si, torna-se mera manifestação de
algo, isto sim, real, mais real, essencial. O fóton é e não é uma partícula,
embora não seja. A aura ao redor da lâmpada é a forma de aparecer, aos nossos
limitados olhos, um campo, com suas linhas, que ali está, ali está mais
concentrado.
[23] Isso
nos leva a uma hipótese: o spin do elétron, algo irracional porque “giro” muito
acima do viável, pode ser a mistura ou “soma” do spin dos fótons ou neutrinos.
[24]
Talvez o Sol, e outras estrelas, além de buracos negros, produza fótons ao, por
causa de sua gravidade, concentrar espaço; além da fonte por fusão de átomos no
seu núcleo – mas a matemática, ao que parece, não concorda com isso, na sua
medida de produção. E as estrelas maiores? Isso abre a possibilidade de uma
camada fina perto do horizonte de eventos ao redor de um buraco negro
supermassivo (disco de acreção) seja luz, derivada de espaço, produzida pela
própria gravidade alta do objeto, não absorvida do meio externo. Quanto mais
fundo vamos, maior as chances de errar.
[25]
Se minha memória está correta, pois não reencontrei a fonte, colocar um átomo
em um vácuo real o faz explodir (colapsar) para todo canto em luz, energia. O
que mostra suas partes internas ocultas. Aliás, a pressão do vácuo é aparência,
sendo exato falta de pressão na essência, o inverso. A coisa (o átomo) adquire
seu formato, até mesmo seu conteúdo, de um contexto ou um contexto anterior,
internalizado e cristalizado como estrutura. Sem seu contexto, que é também
pressão, o átomo não se sustenta sozinho.
[26]
Isso é bem conhecido, mas podemos dar dois casos. Acompanhei um jovem que tinha
certa tara por anãs; sua mãe era como uma anã esticada, baixa e com musculatura
semelhante. Uma de minhas namoradas desenvolveu verdadeira fixação doentia por
mim desde eu ser fisicamente parecido com seu pai e, em principal, desde muito
jovem usar um bigode destacado muito parecido com o dele. Tal origem biológica
deve ter relação leve também com o narcisismo universal em nós.
[27]
Hegel disse que a língua alemã facilitou perceber a dialética. Martin Heidegger
exagera essa conclusão ao dizer, de modo nazista, que apenas é possível
filosofar em Alemão. Resposta melhor: além de facilitar conhecer e adquirir
culturas, saber várias línguas facilita pensar, embora não seja algo absoluto.
Isso a neurociência já quase sabe.
[28]
Mais uma prova de que, para Marx, o valor é uma coisa real, para nós, forma de
energia; repetimos parte da citação: “A análise posterior desse último me
mostra que o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo
de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do
valor.” (Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58). Ou seja, o valor
está “contido na mercadoria”, mais do que algo apenas relacional, também
substancial.
[29] O
marxismo vulgar, logo depois de Marx, afirmou “valor é tempo de trabalho”. Isso
é falso. O tempo é apenas a medida – o valor é energia, transferência de,
trabalho manual gasto na produção do valor de uso. Será que Einstein, direta ou
indiretamente, sendo comunista marxista alemão, teve influência, ao mesmo tempo
boa e má, do marxismo vulgar na sua ideia de tempo ontológico, real e relativo?
De minha parte, de meu contexto, a crise do trabalho manual, a redução do tempo
de trabalho necessário, a crise do valor etc. – são bases para pensar uma crise
ideal da categoria de tempo enquanto algo de fato.
[30] O
socialismo é a imanente transcendência imanente deste mundo em outro.
Duplicação do mundo no tempo e na previsão teórica.
[31]
O elétron seria pequeno e grande o bastante para observar saltos.
[32]
Como o adjetivo “plástico” realizou, no grande desenvolvimento das coisas, sua
substantivação por meio do material chamado “plástico”, com variadas
possibilidades de uso, derivado do petróleo.
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