sábado, 13 de janeiro de 2024

A Metafísica Marxista - nova teoria de tudo (livro gratuito)

 

A METAFÍSICA MARXISTA

Nova dialética da natureza

Uma teoria de tudo

 

ESPAÇO = MATÉRIA

 

 

Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada, plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.

 (Marx, O capital I, 2013, p. 146)

 

No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa coisa sensível-suprassensível.

(Idem, ibidem)

 

O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas…

(Idem, p. 170)

 

Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu).

(Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)

 

Mais-valia e taxa de mais-valia são, em termos relativos, o invisível e o essencial a ser pesquisado, enquanto a taxa de lucro e, portanto, a forma da mais-valia como lucro se mostram na superfície do fenômeno.

(Marx, O capital 3, 2008, p. 34)

 

Tem que se deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.

(Hegel G. W., 2016, p. 53)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ALERTA AO LEITOR

 

Embora não saiba, tu tens necessidade de uma obra qualitativa, que mude teu modo de pensar ou, se jovem for, o faça dar um salto necessário. Sentes, mas não percebes. Os livros comuns apenas fazem digressão, contribuem pouco, repetem os ritos e as palavras já postas etc. O texto adiante é uma ruptura com a tradição até aqui, mesmo. Trará uma visão completa de mundo, base para a ciência-filosofia geral. Se duvidas, leia-o! Aqui, não cultivamos falsas humildades, pois temos de dizer a verdade na sua medida tão exata quanto possível: um novo paradigma surge. Com esta obra, concluímos a história da ciência e da filosofia nos seus aspectos gerais e essenciais. Parece muito, algo impressionista e megalomaníaco, talvez delirante – porém estás avisado dos desafios e da aventura das próximas páginas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GLOSSÁRIO

 

Prefácio

Marx, o capital e a metafísica

Por que a metafísica é antiburguesa?

O que é metafísica?

Seção um

O ser, o cosmo

A história da e na ciência

A igualdade de tudo

O cosmo, o ser

As leis gerais da metafísica materialista

O ser e o socialismo

O ser e a natureza humana

O ser e a dialética

O “outro lado” metafísico

O abstrato é o concreto em processo

O absoluto

A vitória do materialismo

Antinomias de kant contra o materialismo

Objetivo ou subjetivo?

Gnosiologia ou ontologia?

Materialismo ou idealismo?

A liberdade objetiva ou dialética

Teleologia objetiva

As causas

O que é a consciência, a mente?

Seção dois

Nova teoria geral do valor

Valor-trabalho e valor-matéria

Generalização do valor-trabalho        

Teoria do valor-matéria

Tríade una do valor

Seção três

Teses sobre questões abertas nas ciências naturais

As questões abertas na física moderna

A crise da física moderna

Física quântica e dialética

Hegel: pai da teoria do Big Bang

Biologia e dialética

Seção quatro

O método dialético empírico dedutivo

Leis e categorias da dialética

Os métodos científicos

Método empírico-dedutivo

Seção cinco

A filosofia e a ciência

A filosofia científica, da ciência

Força, átomo e campo

Sobre a teoria do Big Bang

Matemática

Teoria do caos

A superação social dos métodos científicos

Tempo

Causalidade

O fim do paradigma aristotélico

Trabalho, linguagem e sociabilidade

Críticas contemporâneas à metafísica

As duas oposições científicas

Platão e Nietzche

Dialética

Sentir e pensar na ciência

As feridas narcísicas da humanidade

A teoria de tudo

Ideologia

Objetivismo

A duplicação dos mundos moderna

Geral, particular e singular

Dedução do espaço ou campo como linha

Dedução da unidade espaço-matéria

Dedução da quarta dimensão

Sobre o nada

Extra: os paradoxos

O colapso ambiental

Marxismo e metafísica

Tecnologia moderna

Educação

O terrraplanismo

Religião e ateísmo

Axiomas formais

O idealismo de Lukács

A dialética nos marxismos

Categorias e sistemas

Linguagem e metafísica

Linguagem e metafísica

Sobre o sujeito

Modas intelectuais

Sobre teóricos marxistas

Reformar ou revolucionar a filosofia?

As pulsões do homem

Sistema filosófico ou científico?

Ainda sobre sujeito e objeto

Teoria marxista da alienação

Pós-modernismo e método empírico-dedutivo

Amuleto metafísico

Esboço por uma história materialista das ideias

Sobre esta obra

Poemas científicos, universais

Apêndices

A categoria mais-poder

O capitalismo como (modo de) transição

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PREFÁCIO

 

Hegel alertou que uma introdução de obra, um prefácio, precisa evitar ser um resumo do conteúdo logo em seguida. Sigo tal norma dialética. No entanto, alguns esclarecimentos e reforços continuam necessários. Vejamos juntos.

O tempo da filosofia profunda parecia ter passado em nossa época de distração e modos rasos. Nada pode ser maior. Até na política, interrompeu-se a noção de projeto, pois o muro de Berlim caiu sobre nossas consciências. Assim, no fragmentado soa como algo distante qualquer projeto sistemático. Mas a necessidade por conclusões gerais hora ou outra iria impor-se, de um modo ou de outro. Uma possibilidade crescente amadureceu no real, exigindo tradução e organização teórica.

 

O PAPEL DE ENGELS

Quando um pensador meio marxista quer negar Marx de algum modo, costuma atacar de maneira covarde, indireto, culpando Engels de todos os pecados mortais. Se há o “erro” da dialética, a suposta farsante caluniada, cabe a este o peso do uso dessa filosofia… Para mim, no entanto, ele é um mestre imenso. Cabe lembrar que Marx aprovou, em cartas, a busca de Engels por uma dialética da natureza e apoiou em vida a obra Anti-During, escrita por seu amigo, onde este expôs de modo claro sua visão do não social como dialético.

Mas também evitamos a visão dogmática dos mestres, que cometeram alguns erros ou pararam em limites parciais, em grande medida empostas por suas épocas. Minha dialética é um desenvolvimento qualitativo da dialética desses materialistas; além disso, discordo em profundidade da afirmação engelsiana de que dialética e metafísica são totalmente diversos, água e óleo. Dialética é certa e correta metafísica dinâmica. Por isso, nesta obra, permito-me a ousadia de tentar responder várias lacunas da filosofia e da ciência, mais do que demonstrar que a concepção dialeticista é confirmada pela ciência moderna.

 

A CIÊNCIA MODERNA

Após Engels, apenas Lenin tentou pesquisar sobre o mundo não social, oferecendo alguma conclusão sobre. Porém, ao fazê-lo, o líder russo ainda não havia estudado a Ciência da Lógica de Hegel, que tanto o transformará nos anos da grande guerra. De qualquer modo, mais de 100 anos depois, sua contribuição está desatualizada.

A física quântica travou-se numa quase revolução, quase respostas. A física moderna foi longe, muito, recentemente descobrindo que o universo está em expansão acelerada, por exemplo (até tal expansão tem história, modifica-se!). A química também avançou, e continua motor vital para o desenvolvimento da indústria. A biologia impulsionou a genética e avançou para sua unificação coma teoria de Darwin, a nova síntese evolutiva. Os exemplos são muitos, e precisam de uma visão filosófica unificadora.

Nesse sentido, muita pressão recebi do meio ambiente hiperespecializado de nossa época. Mas o perfil pessoal de querer o impossível, saber de tudo, ao menos nos aspectos gerais corretos, levou-me de modo inconsciente a uma concepção geral. Via de regra, o filósofo tem uma premissa ou visão de mundo do qual deriva suas conclusões, seguindo seu sistemismo. Tive de fazer diferente, o oposto: primeiro, cheguei a conclusões relativamente separadas na arte militar, na psicologia e na essência humana, na física, na filosofia, na história etc. para, apenas então, derivar, perceber, que havia um fio condutor comum, que unificava numa teoria de tudo a realidade. O sistema filosófico-científico é, portanto, conclusão, não o começo ou o primeiro.

É comum que os marxistas e pessoas das chamadas “humanidades” entendam pouco de ciências da natureza e da matemática. Meu caso não era diferente, por isso fiz todo um programa de estudo e pesquisa que partia do básico, matemática básica, para evitar qualquer lacuna, até a matemática e ciências avançadas. É raríssimo encontrar marxistas que dominam bem as ciências humanas de um modo geral, da economia até a ciência militar passando pela psicologia, e, ao mesmo tempo, uma visão estável da moderna ciência natural. A especialização excessiva cobra muito caro.

Isso nos leva à questão da metodologia. Aqui, exponho de modo resumido o método empírico-dedutivo junto com um desenrolar da dialética para nosso tempo. Tal método nada mais é que o dialético sob nova roupagem, em oposição, real e conceitual, ao limitado hipotético-dedutivo.

 

A FILOSOFIA

Com este material, quero resolver com um ponto final, e como ponto de partida, a milenar disputa sobre a questão do Ser. A filosofia de nossa época ou rejeitou a questão a priori, diante da enorme dificuldade, ou deu passos ruins nessa direção. Lukács poderia ter resolvido a polêmica já na década de 1960, mas limitou-se à ontologia, metafísica, apenas do ser social. Ver-se-á nas próximas páginas como sua ontologia, correta, está abaixo da nossa, mais geral e profunda. A questão do Ser mobilizou os melhores filósofos não marxistas nos últimos 200 anos, mas que se perderam na sua pureza suposta, na negação do ente, na falta de domínio da ciência natural etc. Os marxistas antimetafísicos estão com Kant e com os positivistas, em má companhia. Kant contrapôs os avanços da física contra a estagnação da metafísica; ora, deixou de ver que a metafísica correta deve surgir da física contemporânea e da ciência; eis o segredo.

Se esta obra apresentar algo correto nos seus aspectos gerais, trata-se, junto com a obra A crise sistêmica, de uma revolução copernicana na ciência e na filosofia, logo precisa ser reconhecida como tal. Dois limites subjetivos atrapalham tal reconhecimento: 1) acadêmicos sentem-se na obrigação de sempre discordar, nunca entrar em acordo; 2) esta obra foi escrita por um autodidata, sem prestígio e cargos. Algo novo tende a causar, quando não a cínica indiferença, a rejeição inicial.

Eis que entra em questão os pares. Nunca tivemos tantos doutores em filosofia, e nunca eles foram tão inúteis. Em geral, apenas comparam um autor com outro, criando relações artificiais entre eles, ou tornam-se interpretes oficiais de algum pensador europeu ou americano, ou usam o jogo de linguagem e “conceitos” para disfarçar a baixa criatividade e ausência de ousadia, ou aumentam apenas uma vírgula e um ponto a mais no pensamento geral. A situação é deplorável. No entanto, exato a falta de gênios entre nós deve exigir mais criação, mais riscos – e que seja posto sob crítica para novos apoios e aperfeiçoamentos. Os filósofos oficiais, se fazem filosofia ou ciência, trata-se de algo colateral, quase um acidente, pois o que importa é um texto de doutorado comportado, que garanta aquela vaga de professor estável.

Enfim, para concluir, sou repetitivo em certos temas na obra. Ao menos isso ajuda a fixar o conteúdo, mas sua razão central é que o objeto exposto exige tal insistência. Há que ser rigoroso. Por outro lado, ganhamos em clareza, herança que guardo da letra de Engels, com quem aprendi a simplicidade da escrita para o público popular potencial.

Peço a indulgência do leitor, incluso do especializado, pois tive de abarcar literalmente o mundo na busca das verdades primeiras. A riqueza de material, inesgotável, impõe certos limites. A questão sobre se há ou não certa metafísica real, material, apenas poderia ser solucionada na sua busca, nunca por críticas externas ou de princípio do tipo feito por Adorno. Ademais, ao lidar com aqueles a confundir metafísica e religião, faço certas “metáforas” com o mundo religioso apenas para reforçar a riqueza do materialismo dialético. A incapacidade de suportar o materialismo na ideia é a incapacidade de suportar o materialismo na matéria.

A crise sistêmica exige obra sistemática, sistêmica. Temos, enfim, a metafísica pronta em seus aspectos gerais, ou seja, uma teoria que é metateoria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARX, O CAPITAL E A METAFÍSICA

 

 

Faço esta introdução para agradar paladares do marxismo oficial, o acadêmico. De tal modo, aqui não estará exposto em exato um resumo do livro inteiro ou algo do tipo; por isso, adianto temas que apenas serão claros no desenrolar da obra. Como o assunto é difícil e desagrada o senso comum teórico, senti necessidade de antecipar algo, para facilitar a aceitação de nossas teses. Portanto, peço mente aberta, sem críticas a priori.

 

O QUE É METAFÍSICA

Metafísica é saber os aspectos mais gerais da realidade. Não se limita ao físico ou ao químico, ao biológico, ou social – quer o comum deles, neles, juntos. E pronto, apenas isso. É saber o Ser – a realidade total, incluso suas relações – enquanto Ser. Por que o mundo é assim e não de outra forma? Quais são as leis universais do mundo? Qual a origem de tudo? Qual a natureza do tempo? Há liberdade ou determinismo? Eis perguntas metafísicas, gerais. Trata-se de saber o “por que” o mundo é assim, não apenas o “como” ele opera, age, repete-se. Ninguém com mente saudável negaria tal objetivo.

A metafísica medieval é religiosa, mas nem toda ciência metafísica precisa estar ligada à religião. Ela é a área mais ampla da filosofia e, logo, da ciência. Levantamos isso porque se confunde muito em tal tema; por exemplo, a metafísica não precisa ser uma série de princípios arbitrários, tirados não sei de onde, que guiam toda uma dedução de pensamento. Nossa metafísica deriva da física, da realidade, da materialidade, do empírico e sensível.

 

O CAPITAL E A METAFÍSICA

Marx “diz” do capital que ele é uma metafísica real, concreta, materialista. Por isso, o dinheiro é o Deus efetivo e real de nosso tempo, o demônio a ser destruído. Tal divindade sensível desconhece qualquer limite e dobra a humanidade aos seus pés. Pois bem; isso ainda é dizer pouco, muito pouco em verdade. A coisa toda é muito mais sofisticada, ainda clara.

Jadir Antunes, que também trata da metafísica em O Capital, embora pense a obra apenas como base de uma “crítica da metafísica”, nunca sua afirmação positiva, lembra que é pedra angular da metafísica isto: o abstrato domina o concreto. Quem leu a obra de Marx com atenção toma de pronto um susto! De fato, o valor domina o valor de uso! O trabalho abstrato domina o trabalho concreto!

Mas para Jadir, o valor é algo relacional, então cai em erro. Descobri – e exponho em um capítulo – que uma das grandes oposições unilaterais da ciência moderna é entre relacionalismo e substancialismo (se quiser, fetichismo). No capítulo 1 d’O Capital, o nosso mestre demonstra que o valor é substância, “algo”, propriedade real, até mesmo “sujeito”; mas a forma do valor – como a forma preço – trata-se de algo relacional, comparativo etc.

Lembremos que valor não é preço: a mercadoria pode estar com o preço acima ou abaixo do seu valor real. O preço é mero nome do valor. Dito isso, nada custa lembrar que quase todo o marxismo até hoje não entendeu isso, o mais básico ensinamento, nas primeiras páginas da obra citada. É insuficiente ter bons olhos e boa razão para bem ler.

O preço, dado pelo comerciante, é ideal; o valor é material – repetimos, material. Vamos às citações. Para Marx, o valor existe; leiamos:

 

“O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas…”

(Marx, O capital I, 2013,, p. 170; grifos meus)

 

Que absurdo! A realidade, social ou quântica, tem o direito de ser absurda. Por exemplo: a energia existe, embora não seja diretamente observável, apenas indiretamente por meio de suas formas e manifestações.

Como cada um tem um Marx para chamar de seu – diga-se de passagem: com frequência, culpando Engels de todos os pecados –, vamos para mais uma citação:

 

 “Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu).”

(Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120; grifos meus)

 

Como dissemos, abstração que domina o concreto. Em minha metafísica – marxista, ortodoxa até – descubro uma equação qualitativa: o abstrato é o concreto em processo. Assim, o trabalho abstrato, produtor de valor, é o trabalho concreto, produtor de valor de uso, em processo, no tempo, em movimento. Assim, o capital (abstrato, que não é coisa) é o valor (material, embora invisível) que se altovaloriza (processo, movimento). Sobre este ponto, deixo ao leitor a curiosidade de saber mais no decorrer da obra. Passemos, portanto, para as demais questões.

Quando Marx abre sua obra propondo tirarmos todas as qualidades, determinações e características da mercadoria – cor, peso, tamanho, massa etc. –, afirma: sobrou apenas uma gelatina (abstrata!) de trabalho. Veja bem; isso não é mera metáfora! Mais que isso: uma dedução da empiria! Isso é a chamada “coisa-em-si” – exclusão das propriedades da coisa – que Kant supôs ser metafísica, portanto, para ele, inalcançável tanto aos sentidos quanto à razão. Marx, assim, refuta o kantismo antimetafísico. Vemos que ser contra a metafísica é abraçar sem mais o kantismo e a ciência aburguesada.

Na última citação, Marx critica os economistas que, eles sim, perceberam o valor como algo, propriedade real, mas disseram se tratar de “mera” abstração (gnosiológica, não ontológica). Anos depois, Engels também comenta nesse sentido no posfácio ao livro III: para os críticos, o valor seria uma categoria útil, mas fictícia, artificial, própria para entender a realidade. Ou seja, kantismo. Engels, ao contrário, afirma a existência do valor.

Vale, então, dois pontos antes de avançamos para o próximo aspecto. Postone acerta ao dizer que o valor é como o “espírito absoluto” de Hegel, embora tenha errado o tiro. E Jadir Antunes acerta ao dizer que o ouro, a suposta forma final do dinheiro, é o modo metafísico da forma de valor, pois com tal matéria dourada e rara ele se torna imperecível, melhor, O Imperecível. No entanto, a teoria do dinheiro em Marx está incompleta, algo que atualizo na minha obra “A crise sistêmica”, cujo capítulo específico indico já que não é nosso foco por aqui.

 

O QUE É, AFINAL, O VALOR?

Na física, energia é capacidade de trabalho. Ainda em tal ciência, trabalho é transferência de energia. Desde algumas notas de rodapé de Marx, penso que ele tomou da física clássica (correta) sua concepção de valor. A energia, não força, de trabalho – uma redundância necessária – produz uma outra forma de energia, o valor, a forma social, presa ainda à natural, de energia.

Isso resolve tudo, mesmo: trata-se da explicação definitiva da obra de Marx e de nosso modo de produção. Por exemplo: o valor, como propriedade energética sui generis, apenas pode estar numa coisa material – logo, serviços não produzem valor.

A leitura imanente da parte sobre extensividade e intensividade do trabalho demonstra tal tese com toda clareza. Primeiro, se aumento a intesividade, reduzo a extensividade da jornada, pois o trabalhador cansa mais rápido. Se, ao contrário, aumento a extensividade, reduzo a intensividade, por cansaço também. O que une os conceitos opostos? A energia do trabalhador .

 Mas há muito mais a dizer.

O valor não é – não é, diferente do que pensa a maior parte dos marxistas – tempo de trabalho (socialmente necessário para reproduzir uma mercadoria). O valor é apenas MEDIDO assim; medida inexata, aliás, imperfeita, defeituosa, apenas aproximada. Vejamos. Se trabalho por 1 hora com certa intensidade normal, logo produzo um tanto de valor de uso e um tanto de valor, pois gastei um tanto certo de energia. Ora, se, na mesma 1 hora, dobro a intensidade do trabalho, trabalho em dobro no mesmo tempo, logo produz o dobro de valor! No mesmo tempo, 1 hora! Tudo porque gastei o dobro de energia. Valor é forma social de energia, substância invisível.

Marx afirma que o desgaste da máquina é, também, sua perda de valor – e isso não é modo de dizer, metáfora ou algo kantiano. O valor está preso na materialidade. Seja por uso na produção, seja por fatores temporais e ambientais; o desgaste do maquinário o faz perder ou transferir a substância social que está em si mesmo. Idealmente, isso se expressa – na idealidade – pela contabilidade da empresa como a depreciação do capital.

Isso fere nosso senso comum e o bom senso. Mas assim é, então devemos aceitar a verdade intragável. Como ideia nova, nova interpretação, natural que seja atacada e minoritária, mesmo em meios racionais. Vamos digerir o produto. “Tem que se deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.” (Hegel G. W., 2016, p. 53)

O valor entra em crise em nosso tempo – e apenas podemos acessar o socialismo se sua categoria central entra em crise. Do ponto de vista externo, apresenta-se assim: o valor-energia torna-se, cada vez mais, capital-massa, claro, menor quantidade de trabalhadores a produzir valor. A crítica do valor acerta aqui, ainda que de modo unilateral e impressionista , embora erre em quase tudo.

Marx diz que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas não encontraremos nela nenhum átomo de valor! No entanto, ela gira! Daí derivaríamos a casa do valor e da energia não empíricos como quarta dimensão espacial, o “lugar” da infinitude qualitativa e causa do movimento, isto é, de queda da matéria em si mesma? Nesse momento, o leitor apegado aos olhos e ao que há apenas diante de si – como Aristóteles! – salta da mesa e grita contra o texto! Isso soa um delírio completo e desmoralizante porque ainda não o derivamos passo a passo, com todo o cuidado necessário – algo feito na obra inteira. A verdade está próxima da irracionalidade, sem nela desabar. Mas esqueçamos este parágrafo saltitante como um deslize do autor… Vejamos, portanto, o método!

 

O MÉTODO METAFÍSICO DE MARX

O que Marx faz não é mera descrição da realidade; para isso, nada de fato científico seria necessário. Ele vai direto para a empiria, para os dados, para os fatos, para o sensível – sem premissas, postulados mentais, concepções, conceitos, modo de separar o complexo concreto etc. Mas isso é metade do caminho: o método dialético é, grosso modo, empírico-dedutivo; da empiria, deduz-se o que não é empiria. Do sensível, deduz-se o não sensível, o suprassensível, ou seja, o invisível aos olhos ou essência. Vai-se ao Ser, isto é, observa-se o qualitativo, o quantitativo e, então, mede; depois, por isso, deduzimos seu lado essencial, antes oculto; depois, apenas no fim, chegamos aos conceitos e à concepção de como o mundo de fato é em si mesmo, longe de artificialidades mentais.

Ouçamos Marx:

 

“Inicialmente, eu não parto de “conceitos”, portanto, nem mesmo do “conceito de valor”, e, assim, de modo algum tenho também que o “dividir”. Parto da forma social mais simples na qual o produto do trabalho se apresenta dentro da sociedade atual, e essa forma é a “mercadoria”. Eu a analiso, em primeiro lugar, precisamente dentro da forma pela qual ela aparece. Aqui descubro então, que, de um lado, ela é, dentro de sua forma natural, uma coisa de uso, também conhecida de valor de uso; de outro lado, ela é portadora de valor de troca e, desse ponto de vista, é por si mesma, “valor de troca”. A análise posterior desse último me mostra que o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do valor.”

 (Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58; grifo meu)

 

Tomando as pistas da própria empiria, Marx foi cada vez mais ao mais puro e simples, diluindo, separando, abstraindo tal como fez, ao seu modo, o metafísico Platão. Levou tal processo químico e metodológico até as últimas consequências. Assim, ele alcançou o mais abstrato, o conceito mais simples e geral, além de não diretamente empírico, o valor; que é conceito real, realidade e conceito. A inspiração de Platão, por exemplo, levou Marx a elevar a teoria ao conceito puro de trabalho, de trabalho abstrato, puro trabalho, trabalho em geral – abstraído as concretudes do trabalho. Algo que acontece na ideia porque na matéria.

Ainda como Platão, Marx divide a realidade econômica em duas: do valor de uso e do valor. Assim, surgem as oposições desdobradas dessa forma de opor: forma relativa e forma equivalente, medida do valor e padrão de preços, mercadoria e dinheiro, capital e trabalho, máquina e trabalhador, composição orgânica e composição técnica, salário por tempo e salário por peça, força de trabalho (com trabalho) e valor da força de trabalho etc. Isso contraria, em parte, a teoria do valor-matéria, tentativa de reunificação dos opostos, do qual trataremos num dos capítulos.

Seguindo o pesado perfil de suas épocas, Marx e Engels foram contra a ontologia (que é apenas uma parte da metafísica, lembremos). No entanto, Lukács provou a existência de uma ontologia marxista desde a nossa tradição. De igual maneira, foram contra a metafísica, embora, sobre e sob o capitalismo, Marx tenha deixado claro seu lado metafísico real. As chamadas formas platônicas, por exemplo, tomaram o modo de “forma do valor”, “forma preço”, “forma mercadoria” etc., que não são coisas como o objeto, o valor de uso (toca-se o produto, não a mercadoria; não se pode tocar de fato o preço, apenas sua representação numérica).  Engels – e afirmou-me de já como engelsiano – contrapôs dialética e metafísica em sua Dialética da natureza. É compreensível, mas foi um erro do fundador de nossa tradição. Ademais, as condições para a metafísica marxista em forma teórica apenas deu-se na história recente. Antes, seria improvável, talvez relativamente impossível. Salvamos, assim, a metafísica de sua suposta crise final. Dialética é o oposto – mas – idêntico da metafísica, uma forma de metafísica materialista.

Aos que dizem que Marx, à maneira gnosiológica, deseja destruir a metafísica, respondemos de modo ontológico: Marx quer destruir a metafísica – real, do valor-capital.

Vale dizer que Popper acusa, com razão, Darwin de ser um metafísico. Diante da crítica dura, ele recua parcialmente e diz que a teoria darwiniana é uma “metafísica bem sucedida”. Tal método metafísico é colher os dados, sua diversidade, então, deduzir o que não é dado, não empírico, e o que é histórico. Assim também fez Einstein: do movimento empírico Browniano, por exemplo, um movimento caótico, algo empírico, deduziu algo não empírico, que a realidade é feita de átomos. Por fim, o caluniado Freud também colhe dados para, então, deduzir indiretamente algo como o inconsciente; por exemplo, o analista ouve o paciente que fala de modo aparentemente solto e desconexo e, então, deduz a unidade de suas palavras, o fio condutor – o que faz a teoria avançar para novas conclusões. Os quatro grandes cavaleiros do apocalipse – Marx, Eisntein, Darwin e Freud – são metafísicos materialistas, usam o empírico-dedutivo e suas teorias apontam para uma história necessária de seus objetos de estudo. Não por acaso são os principais gigantes do pensamento em nossa era – não por acaso são tão atacados.

 

UMA ANTECIPAÇÃO

Há três leis gerais do Ser, a partir do inorgânico:

1.  Ser é energia em busca de mais energia.

No social, produtividade crescente – e trabalho. Na biologia a célula e o animal que caça têm de conseguir mais-energia (lembra-nos o mais-valor!) do que o gasto na sua obtenção. No inorgânico, temos a gravidade que atrai mais energia-massa. Ainda no social, mais-valor como forma de mais-energia.

2.  Ser é ir-se do simples ao complexo.

Isso é evidente no ser social, biológico e físico-químico – hoje, apenas hoje. Para Hegel, o simples já é o complexo, sem o tempo. No marxismo, de modo ainda instintivo, o simples avança ao complexo. No social, isso significa afastamento das barreiras naturais – e sociabilidade.

3.  Ser é interconexões crescentes.

O instinto marxista diz que tudo está conectado, em interrelações, ou seja, uma concepção estática. Ao contrário, átomos separados aproximam-se e formam moléculas. O olho teve de surgir 6 vezes na história animal, como nova conexão necessária. No social, apresenta-se como tendência lukacsiana de unificação global de nossa espécie (incluso internet etc.) – e como linguagem.

Por fim, nossa dialética marxista.

A lógica formal diz: A = A. Por exemplo, luta política aqui e luta econômica ali, opostos e sem contato. Por exemplo, a verdade é relativa ou absoluta, sem terceira alternativa.

A velha dialética diz: A = A e não-A. Por exemplo, luta política já é luta econômica e, vice-versa, luta econômica é, também, luta política. Por exemplo, a verdade é relativamente relativa, entre o relativo e o absoluto – a terceira alternativa.

A nova dialética, marxista, diz: A = A e… não-A. Por exemplo, luta política torna-se uma série de greves econômicas (após junho de 2013!); luta econômica torna-se luta política, como uma greve geral após muitas greves parciais por salário. Por exemplo, a verdade vai-se de relativa, parcial, limitada, angular para cada vez menos relativa e mais absoluta, cada vez mais verdadeira, do relativo ao absoluto por aproximação.

As duas outras lógicas estão dentro, são internas, desta lógica marxista.

Pela profundidade dessas contribuições, ademais do risco tomado, torna-se necessário colocar sob avaliação e, se caso for, crítica dos pares no sentido de desfazer preconceitos e aperfeiçoar a teoria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR QUE A METAFÍSICA É ANTIBURGUESA?

 

A burguesia teve sua era de ouro do pensamento quando ainda era candidata à classe dominante. Para seus negócios, precisava do desenvolvimento técnico e, por isso, enquanto mal necessário, desenvolvimento científico.

Mas, uma vez no poder, e uma vez que seu poder gera miséria, necessitou mistificar a realidade. Uma concepção geral do mundo leva ao instinto de compreender este mesmo mundo, logo, deve ser desestimulado. E é. Pelas conclusões necessárias que derivam de um estudo profundo, os teóricos travam-se, inconscientemente evitam ver a essência do real e da sociedade.

As ciências, para fins práticos, devem ser cada vez mais particulares, especializadas. Nada de interligar e integrar as diferentes áreas! Nada de unidade interna! Uma concepção geral da realidade tornou-se possível, e tão negada quanto mais possível tornou-se.

A vida fragamentada do indivíduo, incluso do intelectual, levou ao pensamento fragmentado. Tudo isso faz com que se exija um esforço imenso, quase desumano, agir como um humano e ser capaz de ver a essência do mundo. O custo subjetivo tonou-se altíssimo, um caro preço a pagar. No meu caso, tive esgotamento pelo esforço alto de tentar alcançar as conclusões aqui expostas.

Tornou-se um preconceito comum, até no meio marxista, considerar a metafísica o inverso da ciência concreta. A concepção da universidade burguesa, que tanto contribuiu, afetou os intelectuais radicais, incluso os dos partidos vermelhos. Mas, como tende a ser, quase toda importante e correta contribuição, da ciência à arte, deu-se meio ou de todo à margem da academia, ou apesar dela.

A concepção burguesa, hoje, em sua decadência, nega a totalidade, e a categoria de totalidade, logo, nega uma visão geral do mundo. Deixa-se de ver o sistema como real sistema. Tudo nessa direção seria nomeado ideologia, no seu pior sentido. Tudo que não se limitasse a colher fatos seria uma ruptura com o empírico, por isso, anticiência. Deixou-se, diria Lukács, de confiar no poder da razão.

Saber que a realidade, o Ser, é movimento é saber, também, que o capitalismo nada tem de eterno. Isso seria impensável. Existem leis gerais e de desesenvolvimento de toda a realidade – física, biológica e social juntas? Por que há o Ser e não o Nada? É tarefa da humanidade responder tais questões metafísicas, científicas.

A ciência burguesa nega-se a ver, de fato, o geral do particular e do singular. Ser contra a metafísica materialista é ser a favor, ainda que não queira, da decadência atual de nossa espécie. Saber o “como” (padrões, leis regulares) pode mudar a técnica, mas saber o “motivo” pode mudar toda a realidade. Sem compreender o mundo não se muda este mesmo mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O QUE É METAFÍSICA?

 

Na vida intelectual, um adversário acusa o outro de ser metafísico – e este, vice-versa, rebate seu inimigo de ideias com a mesma acusação. No senso comum acadêmico, metafísica seria algo místico, religioso, deísta etc. Confundem metafísica com metafísica medieval e de Aristóteles com seu Primeiro motor imóvel, Deus e causa do movimento. No dicionário, metafísica é isto:

 

“no aristotelismo, subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser; filosofia primeira.”

 

A metafísica materialista, histórica, dialética, objetiva ou marxista, como quisermos chamar, diferencia-se da metafísica comum, embora use a mesma palavra. Mas a confusão ocorre: quando Lukács anunciou uma ontologia, todos diziam que isso era antimarxista, pois ontológico, para eles, excluía o movimento – mas a ontologia marxista é movimento puro, história. Um dos equívocos é este: pensa-se que a metafísica sempre será ideias abstratas e gerais tiradas “do nada”, portanto, artificiais; mas minha metafísica tem tais ideias como resultado da empiria, não de um começo arbitrário. Vejamos algumas questões metafísicas e nossa telegrafia de repostas:

 

1.  Qual a causa do movimento?

O universo teve um início, um colapso do infinito para dentro de si do infinito quando surgiu o “átomo primordial” (o Uno). A matéria cai na quarta dimensão espacial como em si mesma. Na dialética, a causa do movimento, em geral, é a contradição – mas deve haver, antes, movimento para a oposição ser contradição.

2.  Há liberdade?

Liberdade é ter mais opções para escolher o que já vamos escolher, mesmo. O “o que” ocorrerá é determinístico, mas “o como” está em jogo.

3.  Qual a origem do universo?

Eis uma pergunta que deve ser necessariamente respondia. O nada vazio, infinito e caótico puro decaiu no seu oposto, o Ser preenchido, finito e com leis regulares. Ora, antes do universo só poderia existir o não existir, o nada!

4.  O que é o tempo?

O tempo é a manifestação indireta da quarta dimensão espacial, oculta e relativamente separada do mundo. É a medida do movimento e da mudança.

 

Ainda no dicionário, temos a concepção de Kant:

 

“no kantismo, estudo das formas ou leis constitutivas da razão, fundamento de toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico.”

 

Não existe alma, mas existe psique – explicaremos o que, grosso modo, demonstra-se natureza da mente e da consciência, além da natureza humana em geral. Também sabemos que não existe Deus, logo a questão resolve-se por si mesma. Mas existe mundo, e ele deve ser explicado para além e por debaixo de seus fenômenos (limitar-se aos fenômenos, aos dados, à empiria, à aparência e às formas é antimetafísico, além de antimarxista, ou seja, antidialético). Para Kant, o mundo não seria inteligível, compreensível, acessível. Provaremos ele que é, sim, de fato – hoje.

Neste ensaio científico, temos uma virada nova, giro ou revolução copernicana do pensamento, que supera de vez os limites kantianos já frágeis desde Hegel, Marx, Darwin e Eisntein. Por exemplo, há quatro críticas de Kant contra o materialismo, que ele nomeia “contra a metafísica”, que serão o foco de um capítulo específico.

 

1.  O universo é finito ou infinito no espaço e no tempo?

2.  A matéria é ou não divisível ao infinito?

3.  Há ou não uma causa primeira?

4.  Há liberdade humana ou apenas leis rígidas, causais, do universo?

 

Somente uma teoria sistemática correta, enfim possível, pode responder tais indagações. Enquanto não respondíamos, havia uma lacuna enorme no pensamento universal. Até agora, o marxismo não tinha nenhuma resposta para tais questões, sequer de maneira fraca, evitava o assunto por não poder responder. Ou seja, o materialismo ainda tinha uma incompletude de base.

Aos que ainda resistem à palavra metafísica – paciência. Toda superestrutura, incluso o pensamento, apresenta-se conservadora em duplo caráter da palavra, no sentido de conservar conquistas, mas também no sentido de resistir ao novo, mesmo se necessário e correto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEÇÃO UM

O SER, O COSMO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A HISTÓRIA DA E NA CIÊNCIA

 

A grande preocupação dos idealistas gregos era saber daquilo imóvel, sem mudança e movimento. Assim, a antiga metafísica supôs um mundo das Ideias e das formas (Platão), um Ser absoluto (Parmênides), o primeiro motor imóvel (Aristóteles). O que lhes faltou é saber que há as leis da mudança, além das leis da regularidade, algo apenas resolvido na moderna dialética. Até o gigante Heráclito orientava descartar os sentidos, pois no empírico reinava apenas o caos e o acaso – tema que aprofundaremos em outro capítulo. Para o filósofo escravista grego, era necessário negar a historicidade do mundo, pois queria a estabilidade e a perpetuação do seu modo de vida. A filosofia medieval, desde Agostinho, tratou de manter o império da rotina, da tradição, como com a cidade de Deus perfeita e estática e a cidade dos homens imperfeita e alterável.

Então, veio o capitalismo e sua necessidade de saber como, não o porquê, o mundo funciona. O princípio da tradição cai por terra, a novidade ocorre sempre, nada é estável. O objetivo é econômico: saber navegar bem, produzir novas ferramentas. Assim, toda a filosofia antiga, a aristotélica em principal, é atingida de morte: as leis da terra são as leis do céu!

Mas para Newton o espaço era absoluto, independente e imóvel como o palco de um teatro. Também o tempo era inalterado em seu movimento. E esse foi o paradigma por séculos. O universo, criado por Deus, ainda era eterno e imóvel, além de sem limites, como pensavam já os gregos.

Newton foi, após seu grande sucesso teórico, desafiado: se sua fórmula estava correta, logo o universo deveria colapsar! Por que isso não acontecia? Ele pensou: porque o universo é infinito e as gravidades, no geral, em ampla escala, assim, se anulam de um ponto para outros. Mais uma vez, a história saiu do caminho!

Os químicos, por sua vez, pensavam que os elementos sempre existiram e sempre existirão – sem criação, sem destruição. O papel seria, assim, descobri-los, isolá-los, classificá-los e dar-lhes bom uso industrial. E pronto.

Algo análogo tinha-se na biologia. Os materialistas sempre ensaiavam formas de fazer alguns animais surgirem de outros, mas falhavam. Os idealistas, por sua vez, diziam que os seres sempre existiram e sempre existirão.

 A primeira etapa da ciência é conhecer, reconhecer e classificar os seres; isso é o seu começo. Mas logo sente sinais de que há um filme sendo contado ali, pistas surgem, especulações ainda tímidas ocorrem aqui e acolá.

Hegel inicia a ideia de que o homem tem uma história, que o passado é a causa do futuro, que há um caminho a percorrer. Antes, a história de Roma era tratada como indiferente à história atual, sem progressão e progresso. Mas foi em Marx que a história humana foi materialisticamente explicada: com a necessidade de satisfazer necessidades materiais, os homens produzem objetos e relações sociais novos; assim, a produtividade crescente muda as coisas, o ambiente – e os próprios homens. Então, Marx generalizou: o inorgânico, a biologia e a sociedade são históricos, possuem um processo! Ele o fez de modo filosófico, resolvendo a charada apenas na história humana. Depois, Darwin deu forma científica à conclusão marxista: a vida e as espécies têm uma origem e um desenvolvimento, como dos seres simples aos mais complexos, menos diferenciados aos mais diferenciados. Algumas espécies e indivíduos prosperam se bem se adaptam e outros definham se mal sobrevivem.

Apesar de ser o mais simples, o inorgânico e o cosmos foi o mais difícil de saber de sua historicidade. Nossa geração já cresce tendo contato com a teoria do Big Bang, logo perdemos a noção de quã recentíssima é tal concepção de mundo. Mas o próprio Einstein demonstrou resistência à ideia, com sua concepção estática – a constante cosmológica! – de universo. Ele teve de lidar com a mesma contradição de Newton, ou seja, por que o universo não colapsava para dentro de si ou, ao contrário, não se expandia?

Descobrimos que o nosso universo teve um início, uma expansão rápida (não explosão) quando o “átomo primordial”, imensamente concentrado em si mesmo, decaiu em partículas cada vez menores, fundamentais. Tal teoria leva à concepção termodinâmica de Engels; o universo acabar-se-á frio, morto e estático. Mas a teoria nunca poderá parar aí. Para uns, o universo “esquecerá” que se expandiu ao máximo e fará um novo big bang. Para outros, ele é como um pulmão indiano, expande-se para depois contrair-se, sabe-se lá como – embora isso seja muito mais dialético, tal como veremos. Outros tantos defendem que há muitos universos depois deste, infinitos. Em geral, temos duas teorias: o multiverso no tempo, que se expande e se contrai; o multiverso no espaço, uns ao lado dos outros. Aqui, proponho o universo no espaço-tempo, uma fusão: a expansão ou contração de um universo se dá junto e porque outros expandem-se ou contraem-se. Mas suponhamos que exista apenas o nosso universo, não o cosmos como união de todos os universos existentes – qual a solução? Alguns físicos defendem que a próxima era cósmica, a dos buracos negros, gerará a fusão e atração destes, reiniciando o universo inteiro. Tudo bem, mas como? Há aí apenas descrição, não explicação. Na verdade, ao que me parece, apresento a hipótese, os buracos negros – maiores, ao menos – sugam espaço (que, debateremos, torna-se provavelmente matéria e luz), são produtivos, por isso não há buracos negros intermediários, nem observados no número necessário. Outro problema: se o espaço expande-se mais rápido do que a luz, o que ele é? Ora, matéria e espaço – nossa terceira hipótese – são o mesmo, sendo ainda diferentes, a matéria inicial em parte decaiu e decai em espaço. O próprio espaço tem história, modifica-se e nasce! Ainda outros, dizem que até o tempo tem uma história, que teve um início.

Há, ademais, uma versão científica e pouco ortodoxa que diz: as leis da física são históricas, não permanentes, segundo a fase e configuração do universo. A dialética nem rejeita nem corrobora esta tese, penso. Vejamos: a história humana tem leis universais e tem leis que pertencem somente e tão somente àquela época específica, capitalismo ou feudalismo etc., ao modo de vida de um determinado tempo e sistema. Mas isso não significa, mecanicamente, que é assim também na biologia e na física, pois ambos são mais simples e menos dinâmicos que o sistema social humano. Para a dialética, no entanto, importa o contexto; por exemplo, um material não condutor em temperatura ambiente torna-se condutor em temperatura elevada. Fica, portanto, esta máxima: o mundo total vai do menos para o mais dialético – muito acima da lei de ir do menos ao mais perfeito.

Agora, entramos de novo na química. Apenas hoje, há pouco tempo, soubemos que os elementos mais pesados surgem da fusão dos elementos químicos mais leves nas estrelas, como o Sol. Há fusão nuclear. Os elementos ainda mais pesados, por outro lado, exigem ainda mais energia para seus surgimentos, frutos das explosões estelares. A mera descrição da tabela periódica teve de dar espaço para uma narração épica!

A revolução espácio-historicista da ciência ainda está incompleta, mas avançou de maneira qualitativa, contra a mentalidade estática dos próprios cientistas, que cederam à realidade. Os gregos, como os iniciadores dessa história, tinham o direito de errar – nós temos o dever de acertar.

Nosso marxismo é histórico, mas é mais: diacrônico. Para isso, a história torna-se espaço-temporal, espaço-histórico, histórico-geográfico, ou melhor, mais geral e abstrato – diacrônico-sincrônico, para agradar paladares eruditos, diassincrônico. Por exemplo: algo não é apenas o que de fato é por sua história, por sua genética, por sua origem; pois também determina-se de acordo com o complexo de complexos sincrônico do qual faz parte. O diacrônico cristaliza-se no sincrônico. Por exemplo: para saber a natureza humana, não basta ver a história do homem, pois é necesário ver, também, a história e a estrutura do cérebro humano. Quando Marx diz que o homem faz sua própria história, diz, também, porém, que ela a faz sob certas condições materiais inevitáveis e não escolhidas (e que o passado cristalizou-se em tais contextos do presentes, que pesam) – eis a unidade dos opostos, diassincronia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A IGUALDADE DE TUDO

 

O início da filosofia grega foi a intuição da igualdade universal. Assim, buscavam apenas o geral e o único, esqueciam o papel da diversidade. Tales, o primeiro físico, afirmou, pela primeira vez na história, que tudo é um porque tudo é, vem da, água. A dedução tem sua lógica, pois todos os seres vivos precisam beber, precisam retornar às suas origens. Seu primeiro passo permitiu ao discípulo Anaximandro ir ainda mais longe: o princípio de todas as coisas não é algo específico, mas alguma coisa não empírica, no fundo do fundo, sem qualidades ou limites, que ele nomeou Apeíron. Também Heráclito algo propôs, o fogo como origem e causa de transformação de tudo. Anaxímenes, o ar. Logo surgiria a ideia natural de que o terra, o fogo, a água e o ar mudam-se uns para os outros, além de combinação e separação. Mas eles, em geral, ficaram muito presos ao sensível. Um dos pontos alto é o atomismo de Demócrito, de que o mundo é feito de átomos e vazio, muito depois seguido por Epicuro.

A física clássica, além de outras ciências, tratou, primeiro, de separar, clarear e destacar a diferença no mundo e nos conceitos. Mas logo, com a ajuda da matematização, ensaiou a unidade ou identidade dos diversos, como v = s/t, velocidade é igual ao espaço dividido pelo tempo; dirá Hegel, o movimento é a unidade de espaço e tempo.

Maxwell deu um gigantesco passo ao perceber que seus 4 cálculos poderiam ser unificados, formando a união do magnetismo e da eletricidade em eletromagnetismo – logo percebeu que a luz caberia dentro de tal descrição.

Mas foi Einstein quem deu o passo imenso na unidade de tudo. Ele disse que massa e energia são um, são diferentes manifestações de algo comum (já debateremos o que é, para nós, este objeto comum). E foi ainda mais longe ao perceber que espaço e tempo são espaço-tempo, pois tempo é espaço! Mais: as duas formas de massa são um! Gravidade e aceleração são iguais!

Hegel diz, inspirado no começo da filosofia:

 

Entretanto, por meio do conceito de diferença interior, esse desigual e indiferente, espaço e tempo etc. são uma diferença que não é diferença nenhuma, ou somente uma diferença de homônimo. E sua essência é a unidade. Em sua relação recíproca são animados como o positivo e o negativo; mas seu ser consiste antes em pôr-se como não ser, em suprassumir-se na unidade. Subsistem ambos [os termos] diferentes, são em si como opostos; isto é, cada qual é o oposto de si mesmo, tem o seu outro nele, e os dois são apenas uma unidade. (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 127)

 

Veja-se que Hegel antecipou o princípio da ciência moderna! Não foi algo vago, mera intuição, mas afirmado com clareza como espaço e tempo enquanto apenas em unidade.

E se levarmos unidade até as últimas consequências, por generalização? Surge esta fórmula qualitativa:

 

Movimento = energia = tempo = espaço = matéria  (= massa = luz = campo)[1]

 

Chegamos à teoria de tudo! Ao leitor especializado, pedimos que avance neste e nos próximos capítulos, que daremos as provas necessárias de nossa formulação. A busca de uma teoria do todo, como fórmula que unifique o micro e, por meio do meso, o macro, a relatividade e a quântica, tem uma proposta clara nesta obra.

Isso passa por unificar as 4 forças fundamentais: a nuclear forte, que mantém o núcleo do átomo unido; a nuclear fraca, que é responsável pelo decaimento do átomo; a eletromagnética, que trata da relação de elétrons; a gravidade, que cuida da atração da matéria. Mas o conceito “força”, com seu quase misticismo, entra em crise, não corresponde a um objeto real. A gravidade não é uma força, mas uma curvatura do espaço-tempo. Podemos deduzir, por generalização, que as demais 3 “forças” também não são forças de modo nenhum. Os físicos unificaram as três forças, menos a gravidade – meio caminho andado, portanto. Mas talvez trata-se de olhar por outro ângulo. Tudo é energia (em busca de mais de si), a matéria-luz decai em espaço; por outro ângulo, tudo é espaço condensado, concentrado, para dentro de si! Assim, a mesma “força” que mantém o núcleo do átomo unido, por exemplo, é a energia produzindo uma gravidade, uma queda para adentro de si no espaço. Nossa formulação, junto com a equação acima, reduzir tudo a espaço, formas de espaço, resolverá em outro capítulo todas as polêmicas científicas da física. A matéria primordial decaiu e decai em espaço, mas, por enquanto, concluímos este tópico pela palavra de Feyman:

 

Os momentos mais dramáticos no desenvolvimento da Física são aqueles quando grandes sínteses acontecem, onde fenômenos que previamente pareciam ser distintos são subitamente revelados como sendo apenas diferentes aspectos da mesma coisa. A história da física é a história de tais sínteses, e o sucesso da ciência baseia-se principalmente no fato de que somos capazes de sintetizar. (Feynman, Sobre as leis da física, 2012)

 

Basta substituirmos o sentido limitado de física para a física enquanto sua toda realidade. Tudo é um e múltiplo, unidade interna no diverso externo.

 

PARADOXO DE EINSTEIN

Nesta obra, corremos vários riscos de desmoralização por apostar em ideias e caminhos incomuns, mas que me parecem corretas. Por isso, convido o leitor a insistir no adiante, pois em outro capítulo exporemos melhor nossas ideias, passo a passo, de modo que parecerão muito razoáveis, ainda que estranhas. Penso, como debaterei mais uma vez ao final deste ensaio, que Einstein, além de fazer descobertas geniais, apresentou paradoxos como se fatos fossem – mas a lebre ultrapassa a tartaruga. Por exemplo: o núcleo da Terra está como se 2 anos atrasado no tempo em relação ao resto do planeta. Como isso é possível? Um paradoxo. O núcleo e as demais camadas mais externas da terra relacionam-se direta e imediatamente, sem efeito temporal. Como resolver, ainda que corramos riscos de erros? Para Einstein e para os físicos tempo é o espaço; as coisas viajam no tempo, alteram seu tempo segundo sua velocidade. Veja-se que a matéria, aí, é algo externo ao espaço e ao tempo, não se sabe como. Tempo é espaço, espaço é matéria – tempo é energia. Ao acelerar, ao ganhar velocidade, o objeto reverte ou combate a entropia da decadência, ganha energia, ganha espaço, ganha matéria (massa) – o que aparece como ganho de tempo, mudança de tempo, mas isso é apenas a aparência, não a essência real. A coisa é a si mesma apenas em movimento; quanto mais movimento, mais velocidade, mais é-se (por mais tempo). A medida matemática de tempo é útil enquanto medida indireta da energia (podemos fazer uma analogia com a economia política: o valor-energia não é tempo de trabalho, pois o tempo aí é medida inexata e indireta do gasto de energia no trabalho manual). Porém, não é fácil defender isso, em especial sem o aparato matemático que o sustente. E é um ponto quase de todo consensual na física o paradoxo de Einstein. A filosofia deve apresentar alternativas de modo humilde, para a crítica de especialistas.

 

ENERGIA

Na Lógica de Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia, mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social. Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo – massa é energia, a energia-massa (ou a “matéria” sem massa que tem energia, como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.

O Ser é energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições, veremos no decorrer do texto.

A ciência oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da energia-valor na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do valor-energia e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).

Cada modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que a anterior na captação energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social suprassume aquele. Mas energia é insuficiente, pois, como o movimento, seu igual, não se sustenta sozinha.

 

ESPAÇO-TEMPO: O ELEMENTO PRIMEIRO

Vários filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade. Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter etc. Com o desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor, embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.

Raciocinemos juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado, condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de espaço e tempo faz-se necessária).

É possível supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto, este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se demonstrem falsos.

A tendência de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo menos lógico-ontologicamente .

Diz o princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se, digamos, condensado.

Demócrito afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda: há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se expressa também na matéria, com ou sem massa.

Tal modo de ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive, contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica). Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.

O espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são dois.

O Ser, enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia em busca de mais energia aparece como para si.

Espaço-tempo e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma identidade.

Espaço-tempo, este sendo aquele, apenas um, equivalem ao sincrônico-diacrônico, processo-estrutura e o Ser como histórico, mas, derivado, Ser é histórico-geográfico.

Quando se diz “a verdade está no meio” (na realidade, no todo contraditório em evolver), diz-se mais do que se pretendia: a verdade está, de fato, no – Meio, no espaço. Nossa Arkhé.

Como se verá, porque tudo = tudo, o primeiro não necessariamente é primeiro no tempo.

Descobrimos que espaço é matéria, incluso luz e campo, assim como a matéria, incluso luz e campo, é equivalente ao espaço. São diferentes e opostos que são também apenas um. Uma parte do fato de isso ser descoberto apenas agora deve-se da maturidade social e científica; outra parte, porque eruditos, doutores, sempre têm de discordar, nunca concordar, dos demais ao mesmo tempo em que evitam a qualquer custo qualquer risco real na teoria. Assim, quase se descobriu este fato novo por várias vezes, faltando a ousadia. Vejamos Aristóteles na sua Metafísica que fez longa escola:

 

E comprimento, largura e profundidade, não substâncias: a quantidade não é substância, mas é substância o substrato primeiro ao qual inerem todas as determinações. Mas se excluímos cumprimento, largura e profundidade, vemos que não resta nada, a não ser aquele algo que é determinado por eles. (Aristóteles, 2002, p. 293)

 

Nem todo olho, mesmo um bom, consegue sempre ver o que está diante de si. O salto exige ousadia, portanto. É preciso explicar de modo correto, dizer que o aparente flogisto é, na verdade, gás oxigênio, por exemplo.

 

SER, MATÉRIA, MATERIALISMO

Ser, puro ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação, sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque cai dentro de si mesmo (o espaço é, na verdade, o sem qualidades, a transparência transparente).

Aqui, por força negativa da abstração, nenhum movimento.

A matéria, aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da energia. A própria energia é matéria, pois é material. Ademais, Hegel demonstrou que a substância (matéria, espaço condensado) é igual, está presente, nos acidentes, nas propriedades (massa), são apenas um como dois – matéria é sua propriedade, a massa. Isso deriva uma hipótese. Os neutrinos vindos do Sol são, uma parte, mais pesados do que o esperado, o que leva à dedução de que o neutrino mais leve tem alguma certa massa irrisória – mas daqui, deste texto, podemos derivar que o neutrino do elétron tem apenas matéria, ou seja, massa potencial, não real e direta, passando a adquirir massa nas versões mais pesadas. É uma hipótese, da origem filosófica, a ser posta em crítica pelos físicos especialistas.

 

MOVIMENTO

Movimento, puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.

O movimento é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar, movimento. O movimento e a estabilidade estão, no sincrônico, em unidade, A=A e não-A, mas também é claro que o movimento antecede o estável, A=A… e não-A, no diacrônico.

A contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.

Qual é, então, a causa central do movimento? Se, além das três dimensões, finitas, temos a quarta dimensão espacial, ponto do infinito, base da energia, a matéria e a luz caem em tal dimensão como em si mesmas. Eis a explicação metafísica científica, materialista, do mover.

A lei da mudança é uma lei que muda, mas uma mudança permanente.

 

DEVIR

A verdade da matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o devir.

O devir é mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.

De imediato, a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o outro, são apenas um.

Ao movimento corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.

 

METAFÍSICA E ARTE MILITAR

Trotsky, em seus escritos de teoria militar, teve de combater várias concepções fixas de luta, de guerra. Logo, ele protestou sobre certa metafísica, baseada em princípios gerais, que não deveria existir. Ora, temos uma equação qualitativa em nossa filosofia primeira:

 

Movimento = energia = tempo = espaço = matéria

 

A variedade da arte militar trabalha com tais elementos. O próprio Trotsky disse que o uso amplo da manobra na sua guerra (movimento) ocorria por causa do espaço amplo do território em disputa. Os cinco elementos acima dinamizam-se e devem ser considerados juntos e em separado pelo estrategista. Por exemplo, ir a uma distância muito grande em território inimigo (espaço), exige muita energia e logística – um dentre as razões de defender a nação é uma vantagem sobre quem a invade.

Já disse em outro local que os marxistas mais capazes devem escrever um manual militar completo e claro. Nesse sentido, ajuda a organizar o pensamento considerar a identidade na diversidade dos elementos acima.

Uma leitura atenta de Da Guerra de Clausewitz demonstra por toda a obra que tais aspectos, elementos, estão presentes com centralidade e devem ser considerados mais do que de modo instintivo ou pela experiência, também ideal e teoricamente.

Um exército muito pequeno em relação ao inimigo, por exemplo, força a aposta – compensador – em outro aspecto que não sua matéria, logo, na sua mobilidade. Surge a guerrilha. Um exército concentrado e grande força o outro a desmembra-se, a fragmentar-se para melhor combater.

 

METAFÍSICA E LUTA DE CLASSES

Podemos demonstrar que a luta de classes aparenta os conceitos e as equivalências movimento, energia, tempo, espaço e matéria? Sim. A luta por recursos concretos e abstratos estão em jogo. Vejamos:

 

 

1.     Movimento

A luta contra a intensificação da produção é luta de classes, contra movimentos mais rápidos. Movimento é também o dirieito de ir e vir negado por quem não tem dinheiro, além da privatização do espaço.

1.  Energia e tempo

O trabalhador em todas as épocas classistas quer trabalhar mais para si e trabalhar menos. A burguesia, hoje, controla a energia e o tempo de trabalho.

2.  Espaço

A luta pela cidade, pela reforma urbana, contra a especulação mobiliária, pelo direito de ir e ver etc. A luta de classes também é espacial.

3.  Matéria

Hoje pela mediação do dinheiro, há uma luta distributiva de valores de uso e uma luta entre lucro e salário.

 

     A questão nunca foi colocada de tal modo até aqui. Tais lutas têm algo de comum com a luta biológica entre espécies e membros da mesma, mas em nível superior; de qualquer modo, demonstra que a luta de classes é uma barbárie, a divisão dos homens em classe é animalesco, até a greve é algo bárbaro, embora aponte para a civilização.

 

METAFÍSICA E SETORES DA ECONOMIA          

Como a questão das classes, os setores produtivos também podem ser classificados segundo os conceitos da identidade dos diversos. Vejamos:

 

1.  Movimento

Aqui, em principal o setor de transportes. Marx afirma no livro II de sua grande obra que o transporte é parte do capital produtivo e industrial, mesmo sendo algo externo. O transporte de mercadorias oferece valor novo a estas.

2.  Energia

Por energia, incluímos também a cesta básica do trabalhador e tudo o que ele precisa comprar para manter-se, sobreviver.

3.  Tempo

As máquinas economizam tempo ou o otimizam.

4.  Espaço

Destaca-se a construção civil.

5.  Matéria

Da matéria-prima aos produtos de luxo e finais estão incluídos.

 

Tal modo de expor mantém em pé os departamentos de produção de Marx. Sua formulação é completamente correta, embora possamos pensar outro modo de classificação móvel.  Marx pensou mais em questão de valor, a riqueza no capitalismo, enquanto pensamos mais em questão de valor de uso, a riqueza social geral.

 

METAFÍSICA E ORIGEM DA VIDA

Para iniciar, substituamos o conceito sensível e instintivo de espaço por “meio”, algo abstrato e geral. Feito isso, podemos ir aos ingredientes da sopa vivente:

 

1.      Movimento

Precisa-se reunir materiais, compostos.

2.      Energia

Calor, como fontes terrnais no fundo do oceano, tona-se condição para a vida.

3.      Tempo

O processo, por ser processo, exige-o.

4.        Meio

A água como solvente por excelência e o espaço necessário torna-se base inescapável para a vida.

5.      Matéria

Compostos químico com certa complexidade são condição.

 

De tal modo: 1) o simples tornou-se complexo, 2) algo em busca de mais energia surgiu, 3) inéditas conexões iniciaram-se.

Como se deu de modo real e concreto o surgimento do primeiro autorreplicante, trata-se de assunto direto da ciência parcial biologia, não da filosofia como ciência geral, metafísica. No entanto, tal exposição é inescapável: pode ter origem por diferentes tipos de energia, mas teve de contar com fatores energéticos extras, por exemplo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O COSMO, O SER

 

É necessário uma concepção geral de mundo, do Ser. Como diz Aristóteles, o Ser se diz de vários modos: Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si, Ser é espaço condensado (concentrado, formas de espaço), Ser é espaço-matéria, Ser é trabalho, Ser é produção, Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico, Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório. De modo geral: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= luz = campo = massa), (no nível físico, há em principal identidade sobre a unidade dos diversos; nos níveis acima, ganha algum relevo, ainda subordinado, a unidade dos diversos). Se tudo é igual a tudo, logo tudo é um, ainda sendo também diverso dentro de si.

 

1.  Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si.

O senso comum orientalista diz que tudo é energia. Tendo algum fundamento, o mais correto é afirma que é energia em busca de mais de si. Um corpo com energia-massa atrai outros para si com a curvatura do espaço. Muitos animais começam a reprodução na primavera, quando aumenta a incidência de luz solar. É muito claro que a vida singular é energia em busca de mais energia; isso foi considerado no homem enquanto animal e enquanto indivíduo – mas também vale para a história de toda a sociedade. Assim, somos ainda a civilização nível zero, ou melhor, 0,75, na escala de Kardashev, porque sequer dominamos a energia no nosso planeta.

A ciência primeiro descobriu formas de energia, depois as unificou com o conceito apropriado. Os físicos e químicos dizem que a energia não existe, apenas um conceito útil; mas o conceito necessário é, também, real. Contra o empirismo, há a energia, em geral, que podemos deduzir de suas formas aparentes.

Graças a Einstein podemos deduzir que o Ser, o cosmos, tem por pulsão ser energia em busca de mais de si mesma, algo difícil de descobrir na cosmologia. Já o que energia, no fundo, de fato é, sua verdade, será exposto no próximo ponto.

Para paladares marxistas, afirmamos que energia em busca de mais de si revela-se no capitalismo como valor em busca de mais valor, dinheiro em busca de mais dinheiro.

 

2.  Ser é espaço condensado (concentrado, formas de espaço).

O mais simples no universo, o mais sem determinações e qualidades, o mais abstrato – o espaço. Ele é o primeiro lógica e ontologicamente, além de talvez no tempo. O espaço é a transparência transparente e, ao mesmo tempo, com as maiores características como infinito (debateremos qual infinito), o puro, o indivisível etc. O átomo é o maior, o espaço, não o menor. Além disso, energia é espaço. Curioso que uma xícara, o café nela, o bebedor da substância etc. são todos espaço condensado, concentrado, para dentro de si.

 

3.  Ser é espaço-matéria.

Espaço e matéria são vistos como diferentes e opostos. Este é ativo; aquele, passivo. Mas isso está prestes a mudar: matéria é espaço, embora não seja; espaço é matéria, embora não seja. A união de ambos permite o movimento. A matéria, ou a luz, decai em espaço; e este tem propriedades semelhantes à matéria, como a ter energia.

 

4.  Ser é trabalho e produção.

Lukács em sua metafísica disfarçada apenas de ontologia, certa matéria interna àquela, diz que o diferencial do homem é o trabalho, a categoria fundante do ser social, mais do que biológico. Mas é necessário generalizar, pois há trabalho no reino da vida e da não vida. Os animais necessitam de um esforço coordenado para adquirir mais-energia do que o gasto na sua aquisição (caça etc.). As células produzem mais-energia do que exigido para produzi-la. Uma estrela, como o Sol, funde átomos por meio da gravidade, produzindo elementos mais pesados, perdendo energia no processo. Temos a entropia e energia enquanto “capacidade de trabalho”.

Em sua metafísica, Aristóteles toma o artesão, tão comum em sua sociedade, enquanto modelo para suas conclusões. Assim, alcança as quatro causas e a ideia do primeiro motor, o artesão que move o mundo. Influenciado pela forte propaganda pela disciplina do trabalho no socialismo “real”, Lukács faz algo semelhante em sua metafísica ao colocar o trabalho como a categoria fundante do complexo ser social. Por as duas concepções serem mecânicas, são limitadas também, erradas e certas, não orgânicas. Ambos generalizaram de modo parcial ou de modo equivocado. De qualquer maneira, o trabalho-produção é algo próprio de todo o Ser, para além do trabalho humano social. Veremos que, por exemplo, também ambos confundem, por exemplo, teleologia orgânica com o modelo mecanicista do trabalho humano.

Até a psicologia afirma o trabalho, além de as demais formas do Ser. Nada fazer gera angústia, logo o sujeito encontra uma tarefa, uma distração, um hábito, um problema (nem que seja no pensamento). A inércia, no sentido comum, torna-se negativo como expressão da necessidade de trabalho, no sentido amplo. Somos seres ativos.

A categoria trabalho tem sentido amplo e sentido restrito, no social e na física. No mundo físico, tomando um exemplo de Feymann, subir a escada é trabalho; uma pessoa manter suspenso e parado um bloco pesado, não. Assim, no social também ocorre: a produção material (fábrica, mina etc.) é trabalho; os serviços, embora sejam trabalho no sentido amplo, não são de fato trabalho no sentido essencial. Há ainda o trabalho propriamente intelectual feito para o ato produtivo.

Pelas suas particularidades, há três tipos de trabalho:

 

1.      Trabalho inorgânico

2.      Trabalho biológico

3.      Trabalho social, humano

 

O último tem a determinação de, em alto grau, modificar o mundo e ao próprio homem, produzir o novo – não apenas o outro ou o mesmo. O trabalho inorgânico é dividido em positivo (produzir novos átomos nas estrelas etc.) e negativo (grosso modo, entropia, igualação de temperatura aonde há diferença de). O trabalho humano divide-se em concreto e abstrato, ainda mais juntos relativo ao anterior, em produtivo e improdutivo, em intelectual e manual, em subjetivo e objetivo.O biológico, em produtivo e reprodutivo. 

Façamos, agora, em complemento, uma digressão sobre o ouro, o dinheiro por excelência. Ele tem altíssimo valor porque para tê-lo exige-se muito trabalho humano e muito tempo de trabalho. Ora, o ouro exige muito trabalho por ser relativamente raro, pois exige muito também trabalho-energia-tempo para o processo estelar criá-lo, produzi-lo.

 

5.  Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico.

Entre as mais importantes bases científicas jamais criadas é a descoberta de que tudo é feito de história, em processo e desenvolvimento. Mas os fatos e o evolver nunca ocorrem no completo vácuo, por isso o cenário importa. O ambiente, o lugar, o espaço etc. também tem dinâmica, movimento e história.

 

6.  Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório.

Ser é totalidade; este, em movimento, não apenas repetitivo, circular, pois também como se uma espiral e um evolver. Ademais, tudo está cheio de contradição; equilibra-se nesse paradoxo real, concreto.

No fundo, no fundamento, o Ser é integração (auto)relacionada em processo.

 

Tais afirmações, determinações do Ser, estão, de modo direto, ligados à nossa equação qualitativa movimento = energia = tempo = espaço = matéria. Assim, Ser enquanto histórico refere-se ao tempo; o Ser enquanto trabalho e produção, ao movimento e à energia etc. pelo modo de exposição, parece que deduzimos tais elementos a partir do conhecimento anterior, da equação qualitativa. No movimento real da pesquisa, eles foram descobertos de modo relativamente independente, então depois percebi, deduzi, o nexo interno dos dois capítulos, dos dois temas. Outras determinações do Ser – como matéria formada etc. – reforçam a elaboração.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS LEIS GERAIS DA METAFÍSICA MATERIALISTA

 

Uma vez surgido, quais as leis gerais do universo? Com nosso alto conhecimento do mundo, temos condição de abstrair leis íntimas, validas paras as três modalidades do Ser – inorgânico, biológico e social.

Há três leis gerais do Ser:

 

I.  Toma-se como energia em busca de mais de si, de mais energia.

Isso considerado o espaço-matéria; este em sentido amplo, como centro. No social, vale a seguinte máxima: não se faz civilização plantando alfaces. Nesse sentido, até o café e o açúcar do Brasil e a batata americana cumpriram papéis importantes no avanço da humanidade (vale destacar que as flores usam açúcar e cafeína para atrair abelhas, que trabalham assim mais intensamente). Os senhores de escravos brasileiros davam feijão aos escravizados para que tivessem energia de trabalho.

Bem observado, esta é a lei primeira.

 

II. Ir-se do simples ao complexo.

Hegel e Engels demonstram que o simples é tanto simples quanto complexo, como uma célula viva, A=A e não-A. Ora, também, ao mesmo tempo, vai-se do simples ao complexo, A=A e… não-A, como do ente unicelular para um pluricelular. Tal é movimento geral, lembrando, no entanto, que a entropia, se considerado como universal, não é medida de desordem, uma confusão comum.

 

III. Encaminha-se à interconexão universal, à maior interconexão.

Tanto Hegel quanto, séculos depois, Mario Bunge afirmaram que toda a realidade é um sistema orgânico, em que as partes apenas têm sentido em suas relações, integrados – exceção, dizem ambos, no aspecto físico ou no mecanismo. Para eles, a partir do aspecto químico já há conexão sistemática. Se assim é, vai-se da desconexão rumo à interconexão universal. Mesmo assim, mesmo isso sendo aprofundado com o aumento da complexidade do Ser, fruto da energia em busca de mais de si, talvez o mundo físico puro tenha uma conexão interna oculta e “leve”, com as partes independentes entre si apenas de modo aparencial – ou, ainda, isso se desenvolve como evolver cósmico. Vejamos: se tudo é espaço condensado, já há uma ligação íntima, embora indireta; se as partículas fundamentais, ou quase todas, não rompem com espaço, logo tudo está conectado via espaço enquanto entidade geral.

Os átomos individuais são instáveis por suas energias e matérias, logo necessitam fazer ligações químicas com outros. Compostos cada vez mais complexos surgem até fundar-se a vida. Esta integra-se e desenvolve-se até fundar o ser social, a humanidade, que tende a unificar-se. Na física, a gravidade toma tal tarefa para si.

O erro dos marxistas que intuíram a conexão global de tudo é não ver isso como lei de movimento, como processo, como evolver. A coisa já seria dada e fixa.

Os três aspectos – as três leis do movimento – estão mais do que ao lado um do outro ou juntos, pois um está dentro dos demais, derivando-os. A energia em busca de mais de si faz o material cada vez mais complexo que exige novas interdependências, interconexões.

As três leis são, no nosso universo, absolutas, mas seus entes falham muitas vezes em cumprir tais metas; logo o absoluto é também relativo.

O Ser, a matéria, tem três modalidades internas, cada uma mais complexa do que a outra anterior – inorgânico, orgânico ou vida (biologia) e social ou humano. Os mais avançados são dependentes do nível ontológico precedente, como a biologia depende da não vida. O inorgânico, o pôr do outro, tem como suas as três leis gerais acima postas e expostas; o biológico, o pôr do mesmo, tem leis específicas ditas abaixo, em seguida; e Lukács sistematizou as da sociedade, o pôr do novo, como demonstramos. Em síntese, tornar-se assim as leis de movimento:

O inorgânico e o Ser em geral (totalidade, integração):

 

1.  Energia em busca de mais energia;

2.  Do simples ao complexo;

3.  Ruma-se para maior interconexão.

 

O alto desenvolvimento deste, de tais leis materiais, leva ao salto para a vida. Na biologia, em específico (contradição, relação):

 

1.  Processo de diversificação das espécies;

2.  Afastamento das barreiras do inorgânico;

3.  Cada vez mais capaz de lidar com externo.

 

A segunda lei de desenvolvimento foi já descoberta por Lukács enquanto as demais estão de alguma forma ou de outra existentes desde Darwin. O alto evolver da vida leva ao salto para o ser social. Em resumo, uma vez mais, no homem (movimento, matéria-espaço):

 

1.  Produtividade crescente;

2.  Afastamento das barreiras naturais;

3.  Tendência à unificação global como espécie.

 

O alto desenvolvimento do inorgânico realiza-se em parte e tendencialmente no biológico; em relação ao inorgânico, o biológico é ativo como energia em busca de mais energia, enquanto aquele é, de modo relativo, passivo. O biológico realiza-se em parte e tendencialmente no social, pois este é mais capaz de lidar com o ambiente e com o externo.

Tais aspectos gerais do Ser ligam-se bem com os três aspectos gerais do ser social em Lukács; as leis da humanidade são: 1) produtividade crescente – energia em busca de mais de si; 2) afastamento das barreiras naturais – do simples ao complexo; 3) unificação da espécie global – aumento das interconexões. Ou, outro aspecto: 1) produção, trabalho – energia em busca de mais de si; 2) sociabilidade – do simples ao complexo; 3) linguagem – interconexão. A ontologia de Lukács está, portanto, subordinada, em sentido positivo, à nossa ontologia geral e metafísica. Suprassumimos – suprimimos, elevamos e conservamos – o lukacsianismo, elevamos a teoria a um nível superior.

Vejamos agora a ontologia geral, e do inorgânico, e sua expressão no biológico. A energia em busca de mais de si relaciona-se com a capacidade cada vez maior dos seres vivos de lidar com o externo, como passar a controlar a própria temperatura, obter novas habilidades de caça etc. O caminho do simples ao complexo ocorre por meio do aumento de diversificação das espécies, por exemplo. O aumento da interconexão é revelado na lei descoberta por Lukács, o afastamento das barreiras do inorgânico, como animais que se alimentam de outros animais, estes herbívoros, que por sua vez se alimentam de plantas, estas últimas mais próximas e ligadas à inorganicidade. Claro é que expomos de modo simples e quase esquemático; vejamos um exemplo menos abstrato; o olho surgiu de modo independente por 6 vezes, talvez mais, na história da vida, pois era necessário que surgisse algo do tipo no desenvolvimento e na diversificação das espécies; isso é energia em busca de mais de si, ou, no concreto, maior capacidade de lidar com o externo; mas também é uma forma de aumentar as ligações, interconexões.

No mais: energia é o abstrato; complexo, o concreto; conexão, o processo. O abstrato é o concreto em processo – como energia no complexo em conexão (crescente). Mais à frente desenvolveremos tais aspectos. Podemos, então, observar: energia – geral; complexo – particular; conexão – singular. E o geral faz o particular rumo ao singular – e o inverso: o singular permite o particular e o geral.

Vejamos, grosso modo. O inorgânico é o geral (e energia). O biológico é o particular rico (e complexo). O social é um gênero, homo, e uma espécie que se singulariza, singular – e algo singular (interconexões). Das tarefas centrais do inorgânico – pôr o geral, universal. Das tarefas centrais da biologia – pôr o particular. Das tarefas centrais do social, humano – pôr o singular, o individual (personalidade, individuação, o novo etc.). Como a palavra universal, “singular” tem aqui mais de um significado. O “Modelo” geral soa claro agora.

A estrutura e movimento real é da forma de uma derivação do juízo qualitativo: o singular é universal – o singular é particular – o singular é singular. O ser inorgânico, tem o singular e o universal em si, no particular (esta última palavra em seus vários sentidos). O ser biológico vai de uma espécie que determina o singular – até que, por suas particulares singularidades, forma uma nova espécie singular, um novo universal (especiação), singularidade (algo singular também em outro sentido). O ser social, ao contrário, vai do singular como universal até ser cada vez mais singular (no capitalismo, ainda mais no socialismo). Grosso modo, até aqui, para simplificar, a biologia é ir do singular ao universal; o inverso, o ser social é ir do universal ao singular; o ser inorgânico é o universal singular se particularizar.

Sendo ainda um tanto unilaterais e por peso, destacam-se as três leis dialéticas de Engels do seguinte modo, grosso modo: 1) oposição, contradição, unidade e interpenetração dos opostos – ser inorgânico; 2) mudança de qualidade por mudança de quantidade – ser biológico (novas espécies por lenta e progressiva mudança etc.); 3) negação da negação – ser social, humanidade.

Enfim, nas três modalidades do Ser, há movimento rumo à simetria: no Ser inorgânico – simetria das leis; no Ser biológico – destaca-se a simetria dos corpos (bom para locomoção etc.); no Ser social – eleva-se a simetria dos homens, pois tendemos a sermos juntos o que somos, ou seja, iguais, fraternos e livres.

 

ALGUMAS CONTRATENDÊNCIA ÀS LEIS TENDENCIAIS DO SER

Vemos que as três leis gerais do Ser e do inorgânico, o ser primeiro, são:

1.  Energia em busca de mais energia;

2.  Do simples ao complexo;

3.  Ruma-se para maior interconexão.

O que tende a impedir isso? Os átomos são autocentrados. Curvam o espaço, são o espaço curvado; mas se isolam e se afirmam – o que dificulta, por exemplo, fusão nuclear. Além disso, quase não existe matéria no universo; quase tudo é espaço vazio, longas distâncias astronômicas.

No biológico, temos:

1.  Processo de diversificação das espécies;

2.  Afastamento das barreiras do inorgânico;

3.  Cada vez mais capaz de lidar com externo.

Pelo menos a primeira lei tem a resistência de que a seleção natural e a seleção sexual atuam contra a diversificação, pela unilateralização das espécies. É a busca do pôr do mesmo.

No social:

1.  Produtividade crescente;

2.  Afastamento das barreiras naturais;

3.  Tendência à unificação global como espécie.

A busca da integração produz sua própria resistência. Um estado nacional, resultado da tendência de integração, tende a resistir e cristalizar-se, resistindo à integração internacional. Por outro lado, por exemplo, união global da espécie também facilita pandemias, o que pesa contra a lei.

Comum em sistemas orgânicos a ocorrência de leis gerais etc. opostas, que se relacionam de inúmeros modos. Assim, energia em busca de mais energia tem consigo a entropia; interconexão crescente pressupõe abstração; ir-se do simples ao complexo pode produzir simples (vírus etc.) da complexidade crescente.

Vale ainda uma nota. Lukács diz que o inorgânico é o pôr do outro; o biológico, o pôr do mesmo; o social, o pôr do novo. Tudo certo, mesmo com a imperfeição empírica (há a evolução, p. ex.). Podemos notar, também: inorgânico, posto – oposto – composto; biológico, tese – antítese – síntese; social, afirmação – negação – negação da negação. Mas tudo isso na matéria, não na ideia, que apenas reproduz o material.

 

 

 

 

O SER E O SOCIALISMO

 

O socialismo é a realização do Ser social e uma do Ser em geral. Para haver sociedade livre e igualitária, fraterna, são necessárias algumas condições maduras ou em possibilidade latente. São elas: 1) energia em busca de mais energia, ou seja, produtividade altíssima, com a superprodução crônica latente, energias de fissão e fusão nucleares etc.; 2) interconexões crescentes, ou seja, internet e mercados globais, união da produção mundial via sistema financeiro (e a interdependência enorme entre os bancos), por exemplo; 3) complexidade elevada, ou seja, hiperinflação da urbanidade e dos serviços etc. As concepções limitadas, embora corretas, de Lukács – trabalho, linguagem e sociabilidade; produtividade crescente, tendência à unidade global da espécie humana e afastamento das barreiras naturais – não permitem ainda ver com clareza o que expomos aqui.

Tais elementos demonstram de modo claro e simples que o socialismo era impraticável de modo completo e correto antes do século XXI. Foi necessário um comércio saturado em todo o globo terrestre, comunicação e transportes avançados, supercomputadores, automação-robótica na produção etc.

O socialismo é uma ruptura com a natureza, com o Ser, quando nos tornamos mais sociais, finalmente sociais – com aquilo natural socializado, socialmente adaptado ou modificado. Ao mesmo tempo, no fundo do fundo, o socialismo é uma afirmação da natureza, do Ser. O homem realiza as leis naturais de movimento, realiza-se. Teremos uma sociedade correspondente coma natureza humana, que a respeita – a humanização dos seres humanos antes coisificados, sequer animalizados, pois nega-se até a condição animal do homem sob a sociedade de classes.

Como espécie capaz de ser o modo como o cosmo compreender a si próprio, o universo estudando-se, dominando-se, desenvolvendo-se; o homem também assim, com a última revolução científica unida à ultima revolução social-política, tornar-se-á outro modo de realização tendencial do Ser. No princípio, era a religiosidade, o misticismo das lendas e mitos, o modo de ver o mundo em sua inteireza e causa – um modo primitivo de ver típico de uma sociabilidade primitiva. Na sociedade avançada, teremos um modo avançado, uma visão de mundo definitiva.

 

 

 

 

O SER E A NATUREZA HUMANA

 

Em outro momento, abaixo, debatemos qual a natureza natural-histórica humana. Em resumo, são estas características, determinações: 1) ser integrado, grupal, logo, o simples (indivíduo) no complexo (comunidade); 2) ser mutualista, logo, interconexões crescentes; 3) ser ativo, afirmador de si, trabalhador etc., logo, energia em busca de mais energia.

O inorgânico é ser em si; o biológico, para si; o social, para outro. Mais profundo: o inorgânico, em si; o biológico, em si e para si; o social, em si, para si e para outro. O “para outro” significa também: 1) que ele se faz na experiência, de algo alguém para outro alguém; 2) que é reconhecido pelo outro, 2) que é solidário potencialmente ao outro. Em si, ser integrado; para si, ser ativo; para outro, ser mutualista.

***

Em O Capital I, Marx toma nota:

 

Aplicado ao homem, isso significa que, se quiséssemos julgar segundo o princípio da utilidade todas as ações, movimentos, relações etc. do homem, teríamos de nos ocupar primeiramente da natureza humana em geral e, em seguida, da natureza humana historicamente modificada em cada época. Bentham não tem tempo para essas inutilidades. (Marx, O capital I, 2013, p. 685)

 

O mouro faz uma crítica e aponta o procedimento metodológico. No entanto, os marxistas

 

1)         Confundem natureza humana com personalidade;

2)         Confundem natureza humana com moral;

3)         Enfim, confundem “natureza humana em geral” com “natureza humana historicamente modificada em cada época”.

 

O primeiro passo para avançarmos dar-se por meio da teoria marxista da alienação. Em resumo, alienação é

 

1)         Fragmentação do homem, seu afastamento de relações plenas com a comunidade;

2)         Domínio do homem sobre o homem, a coisificação do semelhante (machismo, classes sociais, homofobia, xenofobia etc.);

3)         Exclusão do homem de sua criatividade, capacidade singular da espécie, de imaginar e colocar em prática de modo ativo.

 

Ou seja:

 

1)         Separação do homem da sociedade a qual integra;

2)         Separação do homem dos iguais, dos outros homens;

3)         Separação do homem de si próprio.[2]

 

Em duas sentenças de Marx: a valorização do mundo das coisas em proporção à desvalorização do mundo dos homens; humanização das coisas e coisificação dos homens.

Dada a base, basta-nos rastrear a equação: se há alienação, há algo negado – algo alienado. Invertamos, deduzamos: seria qual a solução da alienação, o inverso?

 

1)         Integração dos homens (totalidade, integração);

2)         Relações mutualistas (relação);

3)         Ser ativo (movimento, matéria-espaço).

 

Estamos diante da essência biossocial. E esta descoberta tem implicações sobre todas as ciências humanas, além da psicologia.

Qual, portanto, a origem da natureza humana? Dos primatas que desceram das árvores nas savanas[3] até o homo sapiens sapiens ocorreu um longuíssimo período de formação da nossa espécie por meio da seleção dos mais aptos à sobrevivência. Aqueles cujo perfil facilitava a prática do que hoje é essência humana adquiriam probabilidade maior de sobrevivência, perpetuavam-se[4]. Por isso, por história da humanidade devemos considerar, também, a história da formação da nossa própria espécie, isto é, a importância da biologia na formação do pensamento marxista. Resolvemos, então, a oposição sobre se a essência é histórica ou natural. Assim, superamos o falso “historicismo” e a tese pós-moderna de que tudo é – limita-se à – construção social[5]. É a formação do homem como formação do próprio homem, do orgânico ao social[6].

Em elaboração geral, a alienação ocorre quando o mundo gerado pelo homem ganha autonomia frente a este e volta-se contra ele – a criatura passa a dominar o criador. É preciso, pois, ver a alienação como um fenômeno subjetivo, objetivo e intersubjetivo, assim como a natureza humana – interno e externo ao indivíduo. Tem sua existência na totalidade social e na psique. Destacamos aqui a psicologia por ser esta a questão que esta ciência faltou resolver, a natureza humana, seja por ideologia ou por pouco interesse pela filosofia marxista na ciência oficial.

No entanto, curioso o espanto causado por esta exposição entre marxistas. Ficamos diante das observações: se a natureza é apenas histórica no sentido dos modos de produção, o homem é de fato adaptável – logo a alienação social não explicaria a onda de depressão e suicídio? Se explica, há algo de fato negado. Se o homem é, em essência, apenas o determinado pelo modo de produção, adaptar-se-ia às condições dadas sem maiores prejuízos, senão físicos, pelo menos psíquicos. Por isso, uma resposta própria do marxismo percebe contradição entre natureza humana historicamente modificada em cada época e natureza humana em geral. Entre as tarefas dos homens e mulheres no e rumo ao socialismo será resolver este problema objetivo.[7]

Mário Bunge, o menos limitado dos filósofos oficiais da atualidade, socialista utópico que nada compreendeu do método de Marx, assim expressa, de modo correto:

 

Estamos vivendo a década do cérebro. Avança-se bastante, mas também ignora-se bastante. Não sabemos exatamente quais são as partes do cérebro conscientes de si mesmas; mas acaba-se de descobrir que dar traz muito mais prazer que receber, e que é o mesmo tipo de prazer que sentimos ao comer algo saboroso. Descobriu-se também, que a desigualdade é muito mais nociva que a pobreza. A desigualdade causa stress e este, por sua vez, acarreta em uma superprodução de substâncias nocivas que destroem o cérebro. Nos países mais igualitários, as pessoas são mais longevas. Os costarriquenhos e os cubanos vivem muito mais que os norte-americanos. Ganham muitíssimo menos, são muito mais pobres, mas vivem mais porque são mais igualitários. (Bunge, 2014)

 

Complementamos que, socialmente, o altruísmo, não significando necessariamente desprazer, pode ter na outra ponta da relação um impulso egoísta de quem recebe a ação. Por isso mais correto é o estabelecimento do mutualismo, que supera os opostos, como expressão categorial da essência humana[8].

Vejamos o que diz Mèszáros:

 

Termos como malevolência, egoísmo, maldade etc. Não podem existir sozinhos, ou seja, sem a contrapartida positiva. Mas isso também se aplica aos termos positivos desses pares opostos. Desse modo, não importa qual o lado adotado por um determinado filósofo moral em sua definição de natureza humana como inerentemente egoísta ou maldosa, ou altruísta e bondosa: ele acabará necessariamente com um sistema totalmente dualista de filosofia. Não se pode evitar isso sem negar que ambos os lados desses opostos são inerentes à própria natureza humana. (Mészáros, A teoria da alienação em Marx, 2006, p. 151)

 

Ele Critica o kantismo, porém continua preso à dialética kantista. Deve-se ver a unidade superante dos opostos, além do desenvolver lógico e histórico das categorias. O nem positivo nem negativo passa para o positivo e negativo, que são superados em um novo nem negativo nem positivo. Assim, a negação prática da natureza humana levou a formar uma oposição entre egoísmo e altruísmo, superada – suprassumida – pelo mutualismo.

Se o caráter comunitário, por exemplo, é natural entre nossos primos evolutivos, ele salta de natural para social na espécie humana. Tal mudança qualitativa de natureza é incompreendida. O aspecto natural da espécie não é destruída mas suprassumida numa nova natureza, a natureza humana[9]. É mais do que o comunitário natural, sendo elevado, mais dinâmico e complexo, ao social por meio do trabalho.

Se abstraímos as origens físicas, parte significativa das doenças mentais possui origem na alienação, ou melhor, na não satisfação da natureza humana. A solidão excessiva, por exemplo, degenera e pode acarretar problemas como a paranoia, que expressa a necessidade de interação. Essa observação simples demonstra a inerência de certas características. Viver agrupado é mais do que uma vantagem evolutiva externa, pois está instalada no aparelho psíquico como necessidade, como exigência a ser satisfeita. O trabalho alienado, repetitivo e vazio de sentido, negação do caráter ativo do homem, é outro exemplo de insatisfação, que estressa o trabalhador.

A teoria unificada da psicologia é uma tarefa por se fazer, no entanto muitos marxistas recuam. Não contradição na relação entre as naturezas humanas geral e histórica é o que se pode concluir de modo equivocado. É tarefa socialista desenvolver, na medida em que sua base material amadurece, uma nova relação, ainda dinâmica, entre natureza humana e sociedade e entre natureza humana e a superestrutura subjetiva (moral, concepções, etc.)

À concepção neoliberal de natureza humana – individualista, concorrencial e otimizador de bens – opomos outra, esta sim assentada na mais avançada apreensão científica de nossa época, corroborada pelas descobertas da ciência[10]. A concepção burguesa, sempre requentada, corresponde à imposição do mundo das coisas sobre a psique, tem caráter empírico mas naturalizado, não histórico, incorrespondente, também, com a história da formação de nossa espécie. Trata-se de diferenciar o conjuntural do estrutural e de expor a contradição que daí deriva.

Por seu lado, o falso “historicismo” foi uma forma incompleta mas muito eficiente ao afirmar o homem, o caráter social da espécie. O enfrentamento contra o darwinismo social puxou a balança para o lado oposto. Agora devemos limpar caminho contra o determinismo genético por outro meio: considerando o natural, o social e o “um no outro” entre os humanos. As condições históricas, científicas e ideológicas permitem o avanço. Supera-se a unilateralidade da observação focada exclusivamente num ou noutro polo, sendo o polo determinante o social.

Apoiados na categoria trabalho como categoria fundante do homem, podemos enfim superar a obra de Freud, que tem resistido bem até aqui às duras críticas e elaborações alternativas. A psicanálise, por não ter uma concepção própria de natureza humana, acaba cedendo à visão oficial, o homem enquanto lobo do homem. Todas as versões críticas anteriores sucumbiram e tomaram posição inferior no trato sobre a psique porque falharam onde também a concepção freudiana falhou. Não mais se trata de atualizar mas de ir além, suprassumir o legado psicanalista[11].

***

Vale o alerta para evitar confusões. A base de nossa psicologia marxista, acima, nada tem de derivação desde os princípios gerais, as três leis da matéria. Primeiro, na pesquisa, as conclusões deram-se de modo separado e independente – apenas depois apareceu o nexo interno de tais elaborações. O modo de exposição, por outro lado, faz soar como se a exposição lógica e a própria lógica fosse outra. Os princípio legais são resultado, não começo real na teoria – embora começo real na realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O SER E A DIALÉTICA

 

Em outro momento, iremos debater as três categorias centrais da dialética, que aqui expomos de modo direto. Assim: 1) totalidade é integração, portanto o complexo; 2) o que está “por debaixo” da contradição e da cooperação, opostos, é a relação, portanto interconexões crescentes; 3) o movimento e o automovimento apontam para o espaço-matéria, portanto a energia em busca de mais de si.

Lukács reclama de Hegel por este unificar ontologia (metafísica) e dialética, a lógica. Fez-se, portanto, uma lógica ontológica ou ontologia lógica. Ora, uma lógica correta deve corresponder à realidade, ao Ser e à essência. Nem mais nem menos. As categorias de todo o Ser têm um desenvolvimento, uma razão de ser e um modo de acessá-lo. O mundo não é puro caos, pois ele é categorial. O erro seria separar a questão do Ser de sua logicidade, como mundos especializados e separados.

Hegel, assim, desceu a lógica ao chão. Cabe ao cientista e ao filósofo absorver a lógica do concreto, do Ser. Além disso, descobrir e desenvolver novas categorias, leis e relações categoriais, o que faremos em outro capítulo de modo o mais completo e definitivo possível.

Toda tentativa de tomar o Ser sem concretude, como o nada, parando aí, fracassa por não ver que a coisa-em-si pura, sem suas propriedade, nada é – apenas existe com suas propriedades mesmas.

O Ser, ademais, apensas pode ser corretamente compreendido dialeticamente, por exemplo, em seu movimento, em seu desenvolvimento, em seu avançar contraditório. Em sua riqueza de determinações sintetizadas. Ser é totalidade contraditória em movimento. Mas reconhecer a movimentabilidade é limitada, pois ela pode ser tratada como ilusão, como apenas caos, como sem rumo e direção, como o mero permanecer ou meroacontecer, como desenvolvimento limpo e linear rumo ao progresso, como evolução sem revolução ou sem saltos de qualidade etc.

Em sua Dialética da natureza, Hegel apresenta uma carta a Marx pedindo segredo temporário de uma descoberta: a física e a química tratam do movimento da matéria; a biologia, do movimento da vida; o marxismo, do movimento social. Claro é, como ambos são hegelianos, que se trata de um movimento contraditório em desenvolvimento de totalidades dinâmicas.  Tudo é história, não cansamos de repetir: o passado é a causa do presente, vai-se do simples ao complexo, os processo macros são irreversíveis.

 

O “OUTRO LADO” METAFÍSICO

 

Parmênides dividiu o mundo em Ser permanente, perceptível apenas à razão, e não-Ser móvel, empírico; depois, Platão separou o mundo entre o mundo da Ideia, das Formas, e o mundo sensível, impermanente; em seguida, Agostinho separa a cidade de Deus, fixa, e o mundo instável, a cidade dos homens. Apenas separam, sem unidade, ao modo idealista. Nossa metafísica científica vê um colateral, um aspecto dentro do próprio mundo, necessário se observamos o infinito (similar a um círculo sem começo nem fim) no finito universo, a origem do movimento e do tempo, o valor real invisível na economia e a energia em geral abaixo de suas formas particulares – chegamos à quarta dimensão, não empírica, do espaço, dimensão para dentro, para dentro de si. Assim, o “outro lado” típico do idealismo é, de fato, um outro lado, a quarta dimensão espacial, responsável pela energia, pelo tempo e pela infinitude. A teoria moderna exige e até intui a dimensão extra, perceptível pelo trabalho teórico-filosófico. Talvez uma causa do movimento eterno seja que a matéria, que aparenta possuir três dimensões, cai o “tempo” todo na quarta dimensão como em si mesma, assim como a Lua está caindo sempre na Terra por sua energia-massa-gravidade. Resolve-se o metafísico problema do movimento e sua origem. Até aqui, a existência do “outro lado”, em duplo sentido, sempre foi uma proposta do idealismo, não do então passivo materialismo.

Um dos momentos que facilitaram tal dedução, a quarta dimensão “espacial”, ocorreu ao ler O Capital livro I, pois, após afirmar que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas nenhum átomo de valor encontraremos nela, Marx afirma: “O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas...” (Marx, O capital I, 2013, p. 170) Eis uma pista metafísica, ao mesmo tempo sensível e suprassensível, como afirma o próprio alemão.

A causa primeira do movimento é este eterno cair em si mesmo como na quarta dimensão, o vazio infinito (a quarta dimensão do espaço é representada, incluso na geometria, por números imaginários, como a raiz de menos um. Tal número imaginário aparece aqui e ali nas equações, como na de geometria, substituída pelo tempo por Einstein, e na equação de Schrödinger – mas eles tratam tal presença como algo incômodo, um problema apenas, limitado ao formalismo matemático.). A ciência moderna desde Galileu pensou o movimento como fato dado, sem maiores explicações, como algo que simplesmente é, foi e será – de fato, o estado natural é o movimento, não o repouso, diferente do que pensava Aristóteles. Pousar-se é dissolver-se, desabar-se, diluir-se; desmanchar-se no ar. Ao evitar as perguntas metafísicas, caíram em outra metafísica. Neste ensaio, buscamos unificar as visões metafísicas, suprassumindo-as como unindo as categorias da metafísica antiga (substância, conteúdo etc.) com a moderna (massa, matéria, energia etc.), o que inclui o papel do espaço. Enfim, a causa primeira do movimento não é um antes ao infinito, mas um abaixo, ou, se se quer, um dentro do ser – o infinito qualitativo, a dimensão quarta. O infinito não cabe todo dentro do finito, transborda-o, indiretamente observável e dedutível.

Antecipando conteúdo; se observamos em 3 dimensões espaciais, então, se o mundo real tem, para além de nossos sentidos, 4 dimensões, algo deveria desparecer aqui e reaparecer ali em seu movimento. Isso é condição para haver quatro dimensões observadas em apenas três. Pois bem: tal fenômeno existe e está bem conhecido: um elétron desaparece aqui e reaparece ali, em seu movimento, mesmo se não orbitando um núcleo atômico. Seu movimento, portanto não é contínuo na aparência, mas discreto. Algo bizarro, já descrito, até agora sem maiores explicações.

A divisão metafísica de mundos na filosofia está lastreada na divisão social de classes. De fato, o capitalismo está dividido em dois mundos, dos ricos e dos pobres. Na geopolítica, fala-se em primeiro e terceiro mundos. Na filosofia antiga, quanto à psicologia, o senhor de escravo filósofo pouco se movimentava, pouco trabalhava, pouco agia; logo, por falta de prática, de ação, de contato, de matéria – duvidava do estatuto real do real.

 

METAFÍSICA OU DIALÉTICA?

Engels contrapõe a dialética à metafísica. Para ele, aquele foca no movimento e este no estático; aquele vê o processo enquanto este a coisa. Mas a metafísica de Aristóteles quer saber a origem e a natureza do movimento. Ora, a dialética é o exato oposto da metafísica, mas os opostos têm uma identidade interna, logo são também o mesmo; identidade da identidade e da não identidade. Por outro ângulo, elas são iguais porque possuem os mesmos objetos de estudo – o mundo, o Ser e as suas categorias.

Metafísica é ir além, ou por debaixo, da física, das formas, ver o essencial da existência. Associar tal matéria à religião é crítica vulgar do iluminismo ao mundo medieval. De qualquer modo, devemos saber a natureza do movimento, algo ainda não respondido dentro dos limites da ciência.

Temos, aqui, a metafísica científica, projeto abandonado por Kant. Evitar a metafísica é ceder lugar ao atraso religioso, que deseja ser a única visão geral de mundo. Engels, um dos maiores gênios da humanidade, cedeu, sem perceber, ao kantismo, contra a dialética, ao negar a metafísica materialista, dialética e objetiva.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O ABSTRATO É O CONCRETO EM PROCESSO

 

A investigação do movimento continua para reforçarmos nossas teses. A equação categorial, ou qualitativa, acima, diz que o abstrato é o concreto em processo, em movimento, em evolver, em devir. Na metafísica, o abstrato domina o concreto. Aqui, isso é revelado pelo fator de igualdade e conversão, o movimento. O concreto cai no abstrato, movimentando-se, como na quarta dimensão, como queda em si próprio.

Tal fórmula tem expressões mais diretas, em nível abaixo, como F=ma, força é igual à massa vezes a sua aceleração, ou, também, E=mc2, energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Nos dois casos o movimento, para nós, tem importância ainda maior do que dada pelos físicos, nada tem de passivo. Pois a “força” e a energia, típicas da quarta dimensão, em reação ao concreto, como a massa-espaço, dão origem ao movimento. Na quântica, temos E=hv, energia do fóton é igual à constante de Planck vezes a frequência da onda. O cálculo clássico v=s/T pode ser expresso como T=s/v, tempo é igual ao espaço sobre a velocidade. O momento linear é igual à massa vezes a sua velocidade, p=mv. Até no cálculo de Einstein da massa relativística, que a massa ganha mais massa com o aumento da velocidade, tem a sombra de nossa fórmula, com o movimento na divisão como denominador:

 

Ser é matéria, em geral, em movimento – movimento apenas existe com matéria, e vice-versa. Mais puro: A = A e… Não-A. Em física, temos divergência negativa (aproximar) ou positiva (afastar) expressa no símbolo ∇. No livro didático para universitários, Lições de Física, capítulo (6, p. 1) O campo elétrico em várias circunstâncias, Feynman afirma

 

(…) a solução (…) merece atenção especial, porque existem muitas situações em física que levam a equações como

∇² alguma coisa = outra coisa

 

Os exemplos são muitos. Assim, demonstram tais casos, o abstrato, além de igual ao concreto, também é equivalente ao processo; pois, por exemplo, o decaimento de átomos gera partículas com massa (concreto) menor já que esta se tornou energia (abstrato) em forma de maior velocidade (processo) – vemos aí também que movimento = energia = massa-matéria etc.

A quarta dimensão espacial, por ser a casa do infinito, não tem borda, limite, fronteira ou outro. Está, assim, ao mesmo tempo dentro e fora desta realidade. Eis a falha dos filósofos gregos ao saberem a origem do real e do seu movimento.

Quando Hegel diz que o movimento é a unidade de espaço e tempo, deixa de perceber que o tempo é o outro de si do espaço, a manifestação da quarta dimensão espacial.

No processo caótico da pesquisa e do estudo, algo próprio do método dialético, que não tem passo a passo, lidei com os vários fatores singulares, como as equações acima, até que, por “acaso” tive a “sacada” ou insight quando reli um trecho de Marx em O Capital, livro 2. Ei-lo:

 

O capital, como valor que acresce, implica relações de classe, determinado caráter social que se baseia na existência do trabalho assalariado. Mas, além disso, é movimento, processo com diferentes estádios, o qual abrange três formas diferentes do processo cíclico. Só pode ser apreendido como movimento, e não como algo estático. Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu). (Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)

 

O valor (abstrato) é o capital (concreto) em movimento (processo); o melhor, o capital, que não é coisa, abstrato, é o valor, que é material, concreto, em processo, ou seja, valor “que valoriza a si mesmo” (processo). Assim, pretendo convencer os marxistas da veracidade desta ideia – de seu ortodoxismo, além do seu valor para todo o Ser – e do conjunto de nossa metafísica marxiana.

Vale como nota notar que a mente, o ideal, a ideia ou a consciência (abstratos) não são coisas, pois são, na verdade, resultado do cerebral e do meio (concretos) em atividade (processos). É a busca do permanente, querer a repetição, na mudança[12].

O nada (abstrato) é o Ser (concreto) no devir (processo), por exemplo. Em nossa metafísica o espaço (abstrato) é a matéria (concreto) em movimento, em decaimento, em dissolução de si (processo). A quarta dimensão, vazio infinito, (abstrato) é o espaço (concreto) gerando movimento (processo).

Na dialética, a verdade (abstrato) é o todo contraditório (concreto) em evolver (processo).

Uso os vários sentidos de abstrato, de concreto e de processo. Mas duas observações precisam ser feitas. Primeiro, para Hegel, a verdade é o todo, logo uma fórmula do tipo “isto é aquilo”, torna-se algo limitado, verdadeiro e falso. Mas, aqui, ainda respeitando o limite hegeliano, dizemos “isto é aquilo no processo”, de maneira superior. Por isso, ainda assim, não usamos a equação qualitativa como chave fácil para todos os detalhes da grande obra marxista. Segundo, ainda para Hegel, uma equação particular, como a da gravitação, não pode ser elevada à teoria de tudo, à teoria geral, universal – exato por ser particular, estar ao lado de outras leis, equações etc. Mas as categorias que usamos – abstrato, “é”, concreto, processo – têm tendências gerais.

Por fim, mais um exemplo: massa (abstrato, propriedade) é energia (concreto) em forma de movimento (processo) – como a massa do próton ser suas partículas internas em agitação.

As três leis da metafísica materialista, já tratadas:

 

ABSTRATO (geral) –

CONCRETO

PROCESSO

Ser

Energia

Em busca de mais de si

Ser

Do simples ao concreto

Ir-se

Ser

Interconexões

Crescentes

 

O mesmo vale para outros modos de ser do Ser:

Ser

Espaço

Condensado, por

Ser

Totalidade contraditória

Em devir

Ser

Geográfico

E histórico

Ser

Espaço-matéria

Cuja unidade produz movimento

Ser

Matéria

Sob trabalho e produção

Ser

Matéria

Formada, formatada

Ser

Realidade

Em desenvolvimento contraditório

Ser

Infinito

Que se expressa no tempo

Ser

Finito

Posto pelo infinito

Ser

Ordem

Dinâmica, em processo, dotada de caos

 

            A descoberta das equações qualitativas demonstra-se muito frutífera. Em outro capítulo trataremos a maior parte das categorias ontológicas nessa formulação. Para tornar simples, basta ver que 10 = 6 nada diz, precisamos de um movimento, de uma operação combinatória, 10 = 6 + 4. O ato de somar é movimento e processo, em que o resultado é o abstrato do concreto. Aqui, fomos ao quantitativo de modo direto; o processo não é em exato o número 4, mas sua operação +4, como a multiplicação, a divisão etc. Eis a base de todas as equações, incluso as mais extensas e complexas, pois o abstrato é o concreto em processo.

Ao longo da obra, já tentamos convencer marxistas da presença de tal equação, tal fórmula, em O Capital. O trabalho abstrato (abstrato) é o trabalho concreto (concreto) no tempo, no devir, no movimento (processo). O valor ou mercadoria (abstrato) é o valor de uso (concreto) na troca (processo), no mercado. Citamos antes tal modo na relação entre valor e capital.

No externo, o abstrato domina o concreto – no interno, no entanto, o concreto, com o movimento, torna-se base total do abstrato.

 

CRISE GERAL – CRISE DE ABSTRAÇÃO: CASO DO ESTADO

A crise do dinheiro ver-se por sua maior abstração, quase puro conceito. A crise da mentalidade dar-se por abstração (isolamento) do indivíduo, por sua redução a um perfil geral etc. No Estado, a crise de abstração do concreto se dá de três modos. Primeiro: o Estado, sendo parte de uma totalidade, quer afirmar sua autonomia relativa tornando-a mais alta, mais autonomia, abstraindo-se; assim, a crise dos sistemas escravista, feudal e capitalista (modo de transição) tem como repetição clara a substituição do exército como armamento dos homens livres – sob o capital, alistamento militar popular etc. – por exércitos profissionais (gente militar fixa e assalariada no capitalismo recente);o Estado, assim, desprende-se, ainda que de modo ilusório e negativo até para si. Segundo: a lógica do lucro corrói a materialidade do Estado, como a redução do número e peso das empresas estatais lucrativas. Terceiro: o Estado deve lidar com sua generalização, como com a urbanidade altíssima, maior do que seu perfil de classe e sua forma suportam. Em outro momento, veremos outro aspecto ou tipo de crise: crise geral do valor e sua crise de medida. No mais, Kurz brinda-nos com a ideia de crise categorial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O ABSOLUTO

 

Aqui, pretendemos fundir os opostos eleatas e jônicos. Hegel, idealista, pensou o absoluto como o Espírito, que sai para fora de si mesmo como natureza; na economia, Marx, materialista, pensou a substância valor. Nós pensamos em energia, ou melhor, no espaço-matéria. Os antigos pensavam do que o mundo é feito como, por exemplo, água ou ar, pois são simples, transparentes e abundantes. O que é mais simples, mais vazio, com menos determinações? Ora, o espaço é isso. E, com a quarta dimensão, ele põe categorias-determinações em si próprio como o da infinitude. Vejamos como o espaço tem os atributos dados a algum Deus:

 

Esta extensão infinita e imóvel (que é percebida tão seguramente na natureza das coisas) não tem só a aparência de algo real (que comentaremos adiante), mas também de algo divino, quando enumeramos os Nomes divinos ou atributos que lhes convém exatamente, os quais darão ainda mais razões para crer que ela, com tantos atributos notáveis, não pode ser nada. Tantos são os que pensam assim, que os Metafísicos a assimilam ao Primeiro Ser: Uno, Simples, Imóvel, Eterno, Completo, Independente, Existente por Si, Subsistente por Si, Incorruptível, Onipresente, Incorpóreo, Aquele que Penetra e Envolve Tudo, Ser por Essência, Ser em Ato, Ato Puro. Pelo menos vinte atributos existem para designar habitualmente a Potência Divina, e todos convêm perfeitamente a esse Lugar infinito interior que demostramos existir na natureza das coisas; sem esquecer que ela, a Potência Divina, é chamada pelos cabalistas de “makom”, ou seja, lugar. (More apud Jammer, Conceitos de espaço, 2009, p. 73)

 

Ele, assim, ESTÁ no MEIO de nós… – E a verdade ESTÁ no MEIO. “a extensão é atributo de Deus, ou seja, Deus é coisa extensa.” (Spinoza, 2018, p. 129)

Pelo menos em nosso universo; o princípio, o absoluto, a essência não é o primeiro no tempo, mas primeiro ontologicamente, ou seja, a matéria-luz decai em espaço. Tudo é espaço concentrado. O espaço é a transparência transparente. O absoluto, dito de modo hegeliano, é resultado.

O meio é o meio – também. A física moderna diz que a luz enquanto onda precisa de um meio que seria um campo próximo; cada tipo de partícula e matéria com seu próprio campo. Nesta obra, colocamo-nos contra a posição majoritária, pois, como a matéria, a luz e o espaço são o mesmo, sendo ainda diferentes, a luz, por exemplo, se propaga no espaço, não num campo. O chamado campo nada mais é que espaço condensado, a partícula ou a onda faz o campo correspondente e próximo por ser espaço concentrado, para dentro de si.

Bohm, o físico dialético, afirma:

 

Ainda não se pode dizer que tenha sido exaurido o problema de qual meio material, se há algum, transporta o campo eletromagnético. (…) Em vez disso, simplesmente se supôs a existência de campos, sem referência direta à questão de se o éter existia ou não. (…) levado adiante por Einstein e hoje sustentado pela maioria dos físicos (Bohm, 2015, pp. 118, 119)

 

Para Einstein, tudo poderia ser reduzido a campos que permeiam todo o universo. Para nós, tudo é reduzível ao espaço ou espaço-tempo. Quando a ideia de éter enquanto meio caiu, criou-se a gambiarra teórica do campo; mas, se usarmos a velha navalha, o conceito de espaço pode cumprir tal função. Por exemplo: a expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia para o vermelho. O espaço não é barreira para luz, é "transparente", porque a luz é o próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da luz não é a sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que são o mesmo, um identidade interna. O meio é o fim.

O abstrato é o concreto em processo – a realidade é a substância em autorrelações. O espaço (abstrato) é as partículas (concretos) em relações. O decaimento dos átomos primordiais produziu o espaço – nesse sentido, lógico, o espaço-substância (abstrato) é-são as partículas-acidentes(s) (concreto) em processo, em decaimento (movimento). A substância espaço é as partículas em (auto)relações, em processo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A VITÓRIA DO MATERIALISMO

 

A filosofia grega já se inicia materialista, rompendo como a mitologia enquanto explicação válida. Mas o idealismo de Platão e Aristóteles, com muitos outros como os pitagóricos, tomaram o papel mais ativo e criativo – o idealismo vencia todas as disputas. Platão propôs que os escritos do materialista Demócrito fossem destruídos; logo vemos que a corrente concreta contra a ideal sempre passou por marginalidade como ocorre hoje com o materialismo marxista. Hoje, na física quântica, surgiu a hipótese absurda de que a realidade não em existe por si, mas para nós. Para nossa alegria, tal hipótese não é majoritária.

Em resumo extremo, o idealismo diz que as ideias fazem a realidade, incluindo um mundo das ideias ou um céu místico etc.; o materialismo, ao contrário, diz que a matéria faz a ideia, e esta é uma forma bastante desenvolvida da matéria, ou seja, a cabeça segue o chão que os pés pisam. Para Marx, o campo das ideias, por ser material para ele, não é passivo, pois a criatividade, a decisão, a disputa de consciências também importam.

O início da ciência atual teve de afirmar-se perante a visão de mundo medieval, da Igreja. Para isso, para atender a demanda por novos conhecimentos, formaram-se duas teses de mediação: 1) conhecemos Deus por suas obras, logo conhecer a natureza agrada a Ele (Aquino); 2) o “como” funciona o mundo deve ser interesse da ciência, mas o “porquê” ele assim opera deve ser obra da religião (Belarmino). Para sobreviver e prosperar, os cientistas absorveram como parte de suas personalidades tais resoluções. Por outro lado, muitíssimo mais fácil ver as regularidades, as repetições, o “como” do que o “porquê” tudo é de fato tal como é.

Até o gênio Feynman, no século XX, coloca-se contra a filosofia e a busca da razão de ser das tantas leis descobertas:

 

Outra coisa que pode acontecer é que, afinal, caso tudo venha a ser conhecido ou se torne muito sem graça, desapareça gradualmente a atenção que se dá a essas coisas sobre as quais falei. Os filósofos, que estão sempre de fora fazendo observações estúpidas, poderão se aproximar, porque não poderemos empurrá-los, dizendo: “Se vocês estiverem certos, poderíamos encontrar leis ainda desconhecidas.” Quando todas as leis forem conhecidas eles terão uma explicação para elas. Por exemplo, há explicações sobre a razão de o mundo ser tridimensional. (…) Se tudo for conhecido, haverá alguma explicação de por que essas leis são certas. Mas essa explicação estará num contexto que não poderemos criticá-las, argumentando que este tipo de raciocínio não nos permite avançar. Haverá uma degeneração das ideias, do mesmo tipo que os grandes exploradores sentem que ocorre quando turistas começam a chegar a uma região. (Feynman, Sobre as leis da física, 2012, p. 179)

 

Ele, sem saber, estava sendo colonizado pela religião, que manda a ciência evitar os assuntos de maior profundidade, da razão de ser do mundo.

Daí vem, também, a tradição de igualar a metafísica e o misticismo, a religião, ao anticientífico; até marxistas caem nesse engano. Para Martin Heidegger, metafísica é saber porque há algo (e o Ser) em vez de nada; para Aristóteles, o estudo metafísico é a filosofia primeira, por que o mundo é assim, qual e se há a causa do movimento, qual a natureza essencial da realidade. Quem é contra tais metas científicas e, ou seja, metafísicas? Toda escola de ciência adota alguma variante metafísica, mesmo que não tenha disso consciência.

A segunda grande vitória do materialismo é a descoberta de que os átomos são partes vitais da existência, que há partículas fundamentais. Para os atomistas, as partículas tinham apenas substância, forma e grandeza; depois, Platão supôs, com algum exagero, que cada elemento básico – fogo, terra, ar e água – tinha uma forma peculiar de esfera, como a esfera do fogo ser formada por triângulos, figura mais semelhante a uma chama. Hoje, teoriza-se as pequeníssimas cordas vibrantes e de modo variado articuladas, fechadas ou abertas etc., com 11 dimensões, como hipótese (teoria das cordas) para a forma real das partículas. Tanto ontem como hoje, faz-se ao mesmo tempo ciência e filosofia; a diferença é que hoje temos mais ferramentas, como a complexa matemática moderna. De qualquer modo, acrescentamos, os átomos são acompanhados por ondas. O atomista Demócrito disse que apenas há o ser (átomo) e o vazio (não ser); além disso, afirmou que o ser vem do não ser! Hoje, sabemos que fótons e partículas virtuais surgem do “nada”. Mas, para nós, o não ser, ou nada, ou vazio é o próprio espaço, com existência ontológica.

A terceira vitória do materialismo ainda está incompleta. O Big Bang foi o começo de tudo? Então, Deus pode ser a sua causa primeira, o primeiro motor. De qualquer modo, discordamos, o que teria criado Deus já que tudo tem uma origem? É chegada a hora de substituir tal teoria por uma que a mantenha viva, mas superada, como a concepção de que o universo ora expande-se e ora contrai-se. Sobre a primeira vez que isso aconteceu no passado, veremos em outro momento; antecipamos que a quarta dimensão põe o finito universo nosso.

A quarta vitória é a teoria da evolução e a genética. Antes, Platão e Aristóteles pensavam haver um conceito por detrás da realidade, uma ideia. Parece evidente: um filho é como seus pais, logo deve haver um texto fixo, mas ideal, dando forma àquela matéria. A genética pousou tal concepção no chão da realidade; temos os genes, o DNA e o RNA. A vida, de fato, possui informações básicas e faz cópia delas; mas isso de modo materialista, não idealista. Além disso, as cópias podem ser imperfeitas, levando a diversificação de espécies por seleção dos mais aptos a sobreviver.

A quinta vitória é o marxismo, a concepção materialista da história. Por não ser o foco, apenas indicamos o grande acerto. O homem precisa produzir para se reproduzir, logo trabalha de certo modo e, por isso, com certa organização social.

A psicologia moderna, como Freud, Wallon, Piaget etc., além da neurociência e da psiquiatria, reforçam o aspecto psíquico como material, como ligado ao meio e à experiência, ademais também ativo. A busca do prazer e, em especial, do sexo, move a psique humana de modo singular. Nenhuma alma, separada, existe para além da complexa organização cerebral.

Toda anticiência, ligada à religião, procura atacar tais vitórias. Os religiosos dizem que a Terra é plana, que a descoberta dos dinossauros é uma farsa, que Darwin e Marx são satanistas, que há um Design inteligente na natureza, que Freud faz pseudociência ou é um tarado, que é absurdo o universo surgir de uma “explosão”. No fundo, estão negando a história universal.

Uma ciência correta causa espanto, muitas vezes positivo, e também uma negação desesperada contra suas ideias. Isso é próprio quando alcançamos um grande nível de verdade. A teoria de Darwin e a moderna biologia foram atacadas porque feriam de morte a religião. A teoria marxista foi negada com violência por religiosos, pelos ricos e pela classe média desejante de ser burguesa numa sociedade que não é a forma eterna, mas transitória. A teoria de Freud foi negada pela prisão mental de muitos, incapazes de aceitar sua própria mentalidade, além de ir contra a religião ao afirmar o sexo com sua grande importância. A teoria de Einstein derivou a teoria do Big Bang, além das modernas teorias do universo, para desespero de cientistas e professores ligados à física clássica e da religião com sua noção de mundo teísta, com um criador.

O socialismo, se vencer, ao dar razão a Marx e Engels, colocará o materialismo no seu devido lugar, no auge da cientificidade.

 

 

 

 

 

ANTINOMIAS DE KANT CONTRA O MATERIALISMO

 

Kant, o organizador e o desenvolvedor do senso comum, apresentou ataques contra o materialismo, suas famosas antinomias, que são teses opostas que parecem ambas verdadeiras. Vejamos como nossa concepção, espaço = matéria etc., resolve isso nas questões físicas.

1.  O universo é finito ou infinito no espaço e no tempo?

Ora, a quarta dimensão, responsável pelo infinito do finito é para dentro, para dentro de si – o finito é uma parte de dentro do infinito (Hegel), o infinito é como um círculo (Hegel) sem começo e sem fim – não como uma linha reta que pode ser sempre maior – no espaço e no tempo, sem borda. O infinito “circular” exige quarta dimensão.

O próprio espaço e talvez o tempo são finitos porque têm origem e desenvolvimento, história. Em três dimensões mais o tempo o universo é finito, mas a infinitude real, qualitativa e intensiva no lugar de quantitativa e extensiva, não tem começo nem fim.

 

2.  A matéria é ou não divisível ao infinito?

A matéria apenas é estável sob certas proporções, do contrário, decai em outras partículas. Se dividirmos as partículas ao “infinito”, logo as dissolveremos em espaço, pois este é o mesmo que a matéria, pois esta é espaço condensado. O espaço é o átomo.

Hegel diz que o contínuo é os discretos (partículas etc.) juntos, reunidos. Assim, o espaço poderia ser feito de partículas de espaço, mas ligados e unificados, formando algo como um tecido. Por outro lado, demonstraremos que as partículas, unidas, uma apenas no princípio, decaíram em espaço, continuaram unidas umas com as outras via espaço. Assim, de imediato, sem a história, o contínuo, o espaço, forma as partículas, que são espaço condensado – embora na história do nosso universo tenha ocorrido o oposto, as partículas (discretas) decaíram em espaço (contínuo). O contínuo, espaço, faz o discreto, partículas, assim como os discretos, partícula(s), fazem o contínuo, espaço. No próximo capítulo, apresentaremos uma proposta de espaço contínuo e discreto ao mesmo tempo por diferentes ângulos.

 

3.  Há ou não uma causa primeira?

O espaço é causa sui, causa de si mesmo, automovente, logo substância, contanto que mantenhamos a pluralidade (energia, movimento, tempo, matéria etc.). Junto disso, temos a quarta dimensão espacial, provável causa do movimento (cai-se no infinito, quantar dimensão, como em si mesmo). Hegel disse que a causalidade é recíproca, causa torna-se efeito e vice-versa, o que apenas encaminha a solução.

No vazio infinito inexiste tempo e espaço em si, por isso nem causalidade. Kant afirmou nossa impossibilidade de pensar o absoluto, por nossa limitação mental. De fato, nossa mente é feita para lidar com nossa realidade, nosso universo. A noção de espaço e tempo de modo algum é a priori, mas uma adaptação ao real que tem o próprio espaço-tempo. Mas podemos entender o absoluto de modo indireto, com metáforas e analogias – e por conceitos, categorias sem a imagem limitada. Assim, o infinito hegeliano é simplesmente o infinito, mas podemos facilitar sua compreensão por meio da imagem do círculo sem início nem fim, envolto em si próprio – produzindo o finito de si, dentro de si, desabando-se em si mesmo.

O problema de se existe ou não uma causa primeira falha porque pensa que uma coisa ou fato produz outra coisa ou outro fato apenas. Em verdade, a ideia de causa primeira leva a que a primeira causa e o primeiro efeito não vêm da parte, de uma coisa que passa para outra particular, mas da totalidade vazia. Toda a causa no todo. É o infinito vazio como totalidade que produz o início, a primeira causa.

O infinito, quarta dimensão, desaba para dentro de si no finito, mas a causalidade parcial aparece como um movimento para fora, não para dentro, expansivo e não intensivo.

A ideia de fato ou causa singular originar outro fato ou causa singular é espaço-temporal. Digamos de outro modo: a totalidade vazia do infinito antes do universo era puro caos, sem causalidade; e não tendo lei alguma, teve a lei do caos, de si, de passar a si mesma para a ordem, o nosso cosmos com espaço-tempo e matéria-luz – por não se suportar, por se autoanular. Assim, a primeira causa ao mesmo tempo não é uma causa, mas fruto de um sistema não sistemático, puro de acasos e aleatoriedade caso possamos expressar o antes de tudo de tal modo por aproximação. O (e tal) acidente ou o acaso é uma causa acidental, uma concessão da probabilidade.

Os gregos antigos imaginaram que o universo era puro caos (material), então um deus o organizou, produzindo a ordem cósmica. Para nós, o caos vai a si próprio, sem um artesão, para a ordem. Em nosso tempo, Husserl, inspirado por Hegel, pensou o zero como relação do zero do conjunto infinito com o (mesmo) zero do conjunto vazio que desaba, por isso, no um. Pois bem; o mesmo deve ter valor na realidade, como fundação do universo, a autorrelação do vazio infinito, do vazio com o seu infinito, desabou na primeira geração universal, no finito não vazio prenhe de ordem.

Sobre, Marx diria: temos dificuldades totais no tema do início do universo, portanto foquemos em outros temas – abaixo a metafísica! Mas isso é dar de bandeja o tema para pseudociência, ou seja, para a religião. A Igreja quer ser a única a falar sobre o início de tudo. Por seu lado, a teoria do Big bang – criada por um padre! – foca na expansão do universo, não em seu início ou em sua origem. Aliás, uma teoria correta, mas incompleta, pois o universo cresce e contrai-se ciclicamente, ciclicamente. No nosso tema, o início real do Ser, dizer que o universo expande-se e contrai-se apenas adia a questão, a resposta. É impossível imaginar o vazio, o infinito e o caos puro – mas é possível pensá-los de modo conceitual, sem imagem limitada. Do ponto de vista gnosiológico, nossa formulação, aqui exposta, torna-se a única aceitável, existente e correta: antes do todo, havia um vazio infinito e caótico (sem forma e vazio). Tal não-ser, o nada, desabou-se no oposto, presença, finitude e possibilidade de ordem. Única resposta coerente. O começo só pode ser um acidente, uma causa acidental, uma concessão da probabilidade; a realidade total apenas pode ser um infinito qualitativo; antes do Ser, do cosmos, o nada, o vazio que, por ser vazio, era e é infinito e sem ordem profunda.

 

4.  Há liberdade humana ou apenas leis rígidas, causais, do universo?

Com a física quântica, redescobrimos o que já Marx sabia, a existência é a fusão de ordem e caos, de necessidade (determinismo) e, dentro de si, acaso ou contingente – na, afirmamos, probabilidade. Para Hegel, liberdade é reconhecer as necessidades, como as necessidades históricas. Marx diz que o trabalho é o reino da necessidade no socialismo que sustentará e dará base para o reino da liberdade no cotidiano. A necessidade é a base da liberdade parcial ou plena. Tal antinomia é mais própria do homem, da humanidade; mas dá oportunidade para debatermos de modo mais amplo.

Lukács afirma que liberdade é uma categoria apenas social, humana. Com o avançar da história da humanidade, com o aumento da produtividade do trabalho, o homem é cada vez mais livre, mais individual, com mais opções.

Vejamos uma nova conclusão, própria. Em primeiro lugar, a liberdade é objetiva, não subjetiva. A realidade dá opções, tem opções para si própria. A liberdade subjetiva é tomar a decisão para a qual já tem uma inclinação natural – a liberdade de fazer valer sua necessidade. Se o mundo não oferece a opção típica, de acordo com a personalidade, ou perfil natural, logo se pode escolher entre as opções que melhor expressam o determinismo no ser livre. Aí está o núcleo das soluções dessa polêmica, pois a liberdade é objetiva, do próprio real, antes de ser subjetiva e a confusão se dá por pensar o contrário ou desaperceber um dos polos. Mesmo quando há apenas uma opção, um “o quê”, então “o como” irá se efetivar está em jogo. Assim também, fundindo de fato liberdade e necessidade, superamos visões substancialistas e relacionalistas unilaterais sobre a liberdade. Temos a liberdade dialética.

 

Nem Hegel nem Marx e Engels atacaram de modo completo e de frente a parte física, não social, do problema das antinomias. Com imensa dificuldade poderiam fazê-lo, caso fosse possível, pois a ciência ainda não havia dado as pistas necessárias. Percebemos que as perguntas de Kant, antinomias, estavam erradas, escondiam armadilhas na aparente obviedade, então exigiram esforço histórico e trabalho para desembaraçar os problemas. Por exemplo, se há apenas causalidade ou também liberdade humana oculta que a liberdade pode ser objetiva, não “humana”, do real; se há ou não primeira causa oculta que a causa primeira não é coisa ou fato primeiro, mas uma totalidade, o vazio infinito, quarta dimensão, que desaba sobre si – indo para dentro como se para fora.

Em resumo, primeiro, a dialética é considerar que uma afirmação e sua oposta são ambas verdadeiras, como a primeira causa ser também um acaso, como termos o determinismo da liberdade, como o universo ser finito no espaço mais o tempo estando por dentro do infinito; em segundo, se a verdade está também na afirmação oposta, as duas afirmações são ao mesmo tempo verdadeiras e falsas, pois elas são parciais e unilaterais ao excluir a outra e o todo; isso significa, terceiro, que são, também, nem verdadeiras nem falsas.

 

Em complemento, segundo aspecto, Kant ainda afirma: há três conhecimentos impossíveis – a alma (psicologia), o mundo (cosmologia) e Deus (teologia). Vejamos um por um.

 

1.  Alma (psicologia)

A alma enquanto psique era uma ciência quase nula na época de Kant, mas o século 20 operou uma verdadeira revolução, desde Freud, nessa matéria. Nós temos, hoje, altíssimo conhecimento do espírito humano, faltando apenas uma teoria unificada, mais fácil de produzir.

 

 

 

2.  Mundo (cosmologia)

Com Newton, soubemos como atua a gravidade, mas não o seu motivo. Ele disse, sobre isso, que “não elaboro hipóteses”. Assim, usou o conceito de força, mas de maneira parcial, para dar lógica às suas descobertas; mas também considerava duvidosa a gambiarra teórica da força como conceito. Desse tipo de situação, Kant pensava que apenas podemos saber do fenômeno do mundo, não do mundo ele mesmo ou seu “númeno”. Mas Einstein, além de tantas contribuições, chegou à coisa em si da gravidade, que ela é uma curvatura do espaço-tempo, não uma força, causada pela massa-energia[13]. Mais uma vez, o kantismo cai por terra.

 

3.  Deus (teologia)

É impossível conhecer Deus porque ele não existe. O mais próximo disso é o infinito como quarta dimensão espacial, sem começo nem fim, em automovimento, sem imite nem borda, fundante do nosso universo finito e de seu movimentar primeiro; mas que não é separado de nosso mundo, pois está como se dentro dele, apenas relativamente separado.

O Deus real, material, de nossa época, o dinheiro, foi devidamente exposto e conhecido, além de reconhecido, por Marx, em O Capital. O valor invisível, que busca mais de si, causa de si mesmo, substância, tornou-se visível por meio da teoria.

 

Kant ainda apresenta um terceiro aspecto contra o materialismo: as categorias são mentais, para dar sentido à realidade, não reais. Mais uma vez, Einstein deu uma contribuição enorme; pois, para o kantismo, espaço e tempo são ideias do pensamento, mas o físico moderno demonstra que o tecido espaço-tempo existe, há. O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física.

Até hoje, os físicos e os químicos consideram que energia é um conceito necessário, mas que ela não existe, porque não diretamente observável. Os conceitos necessários são o que são por serem objetivos, por existirem no real. Idealistas como Hegel pensavam o átomo não existia, embora fosse um conceito, porque era impossível de ver um. Ora, Einstein – de novo! – demonstra que o movimento aleatório de um pólen sobre uma poça de água, movimento browniano, somente é explicável se a realidade for constituída por átomos. O mundo atómico é, considerado aí a onda, muito mais que apenas ideal.

Devemos considerar a “crise categorial”, que pode ocorrer no campo das ideias ou a crise daquilo que uma categoria expressa. No caso primeiro, a categoria “força”, usada de modo amplo e absurdo como criticou Engels, entra em crise e desuso, de início por meio de Einstein ao demonstrar que a gravidade não é força e sim uma curvatura do espaço-tempo por razão da energia-massa. Energia e campo aposentaram e ainda aposentam a força como conceito; e este livro reforça isso demonstrando que as “forças” fundamentais são campos do espaço condensado.

 

NOTA

Quando Kant pergunta se a matéria é divisível, ou não, ao infinito – dizemos: ao infinito. Ou seja, rumo ao infinito. Rumo ao espaço, que é o infinito com a quarta dimensão. Sim: em direção ao infinito por matéria dissolve-se em espaço, trata-se de espaço concentrado.

O universo é, de fato, finito, nas três dimensões espaciais – mas é também, de fato, infinito na quarta dimensão espacial.

A primeira causa é e não é uma causa, logo, é e não é uma primeira causa – pois é acidente, causa acidental; concessão da probabilidade. Então, temos uma causa primeira e não a temos.

Enfim, tudo é regido por causalidade, claro; mas meu cérebro usa a causalidade para produzir, para pensar, planejar etc. Assim, no externo, interage com o mundo comum em si e para si. Usa a própria causalidade para se separar do mundo, de modo relativo – e para interagir com ele como com um outro e para outro. Por outro lado, a liberdade, é, antes objetiva, além de subjetiva, ou seja, a realidade é que tem opções – para que eu descarte as opções que não sou levado a escolher, escolher o que já tendo a escolher. Ter opções para descartar opções. Enfim, o “o que” será pode ser determinístico, mas “o como” será pode estar em pleno jogo.

Uma verdade (afirmação) e sua oposta são assim ambas corretas, certas e erradas, nem certas nem eradas, misturadas, fundidas, unificadas, unidade – identidade. Preto é igual a branco porque o preto absorve todas a cores enquanto o branco expele todas. As cores em conjunto, assim, os unifica. Era impossível – no mínimo, dificílimo por época – Kant, Hegel, Marx, Lenin etc. conseguirem responder tais oposições, antinomias, paradoxos.

OBJETIVO OU SUBJETIVO?

 

Kant, como idealista, inspirado na divisão cartesiana de sujeito e objeto, põe como centro o sujeito pensante, contra a realidade. A verdade é objetiva ou subjetiva? A beleza é objetiva, na coisa, ou subjetiva, na pessoa? Assim, ele se limita à oposição e escolhe um lado – longe de ver a unidade interna.

Ora, desde Darwin, sabemos que o homem é um animal e parte de uma evolução histórica natural e longa. Assim, nós e o conjunto da biologia evoluímos para bem captar o mundo. Nós temos noção de espaço e de tempo porque a realidade tem espaço e tempo (este, movimento) – adaptamo-nos a tal realidade necessária. Nosso cérebro percebe causalidade porque evoluiu para perceber a causalidade de fato existente, no real. Assim, a beleza é do objeto, do mundo, e evoluímos para percebê-la. Eis a unidade sujeito e objeto, a identidade de fundo, do subjetivo e do objetivo. Nosso cérebro e nossos sentidos evoluíram para compreender o mundo, este mundo.

Se evoluiu para perceber o universo, seria incapaz de perceber o que o transborda? Não é possível imaginar o infinito, apenas o finito – mas o conceito, vindo da linguagem, expressa melhor que a imagem aquilo que queremos expressar. A palavra salva a metafísica. É verdade, porém, que alguns são incapaz de ascender para isso ou para dialética; então, limitam-se à brincadeira de criança da lógica formal, A=A, mesmo se com sofisticação matemática – são incapazes, por exemplo, de entender a ironia na conversa e na realidade, em que algo diz de seu contrário, de seu oposto, por meio e através de si.

Dizer que a causalidade provavelmente não existe, existindo apenas uma noção abstrata e artificial dela, é absurdo completo, mas o papel aceita qualquer coisa. Os filósofos sentem-se à vontade para dizer, até, que a realidade é uma ilusão, não uma ilusão concreta.

O objetivismo tem o como erro extremo, oposto e impressionista o subjetivismo. Nós de fato captamos a realidade, ao mesmo tempo, como ela é e como ela não é. Captamos o mundo de modo correto, mas por aproximação e tendencialmente. Correto o bastante. E, com o tempo, desenvolvemos técnicas e ferramentas melhores para melhor capitar o cosmos e suas partes. No fim, isso é tudo.

O subjetivismo cai no kantismo dedutivo; o objetivismo, no empirismo dedutivo. O método mais correto, mais exato, está em apenas colher os dados para, depois, deduzir, criar, “sacar” e denunciar os erros da empiria por meio dela mesma.

O kantismo é filho do capital e sua afirmação exagerada de toda individualidade, individualismo e atomismo social. Um sujeito soberano que a nada deve prestar contas. O centro do sujeito produz um introvertido negativo, incapaz de desbravar o mundo interior e exterior, ou um por meio o doutro dada a ligação intima de ambos.

Dizer, por exemplo, que o mundo apenas é ordenado na nossa mente, de modo artificial, parece obra de gente que não pratica trabalhos manuais e não lida bem com a concretude, embora Kant tenha vindo da pobreza relativa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GNOSIOLOGIA OU ONTOLOGIA?

 

Kant afirma que devemos antes refletir sobre nossa capacidade de conhecer para determinar os limites dele. Ora, Hegel reponde: aprendemos a nadar nadando, sabemos se somos capazes de aprender a nadar tentando, ou seja, sabemos os limites de nosso conhecimento tentando conhecer a realidade, não com reflexões abstratas.

Pelo menos a maior parte dos limites do conhecimento são históricos, não cerebrais. Ideias e provas viváveis hoje na ciência eram inviáveis aos gregos antigos. Até certas teses apenas podem surgir hoje, não na antiguidade.

Há, no entanto, dois candidatos a limites de nosso conhecimento. Primeiro, na física quântica, nós podemos saber ou a posição da partícula ou sua velocidade, ou um ou outro, o princípio da incerteza. Segundo, buracos negros não permitem sequer à luz escapar de si, assim não temos seu externo do interno, não temos dados. No segundo caso, talvez simulações de supercomputadores nos salvem.

Há ainda outro fator histórico que impede o conhecer – a posição de classe do cientista ou sua posição diante do mundo. Nunca um economista defensor do capitalismo chegaria às conclusões profundas de Marx em O Capital, mesmo se honesto e rigoroso. Isso tem um reforço estrutural da psique, pois uma vida mais dinâmica e com stress relativo leva a ser mais produtivo intelectualmente, como a macieira produz maçã quando sente-se ameaçada[14].

Enfim, a ontologia é a prioridade do objeto, não a prioridade do sujeito do conhecer, pois é ir até o mundo. A prova de que podemos conhecer o real é que podemos lidar com ele na prática. A ontologia tem uma gnosiologia sua, derivada e, por assim dizer, instável, móvel.

Se há limitação ao saber, será uma limitação dada pela realidade externa, não ao sujeito pesquisador como pensava Kant – mas até isso, mesmo que provado por algum tempo, pode ser derrubado pela evolução posterior da ciência.

No mais, a ontologia madura não deve significar um sujeito científico passivo, que apenas se adapta ao objeto ou que apenas colhe os dados e os organiza, como se fosse mero espelho. Para, por exemplo, deduzir, precisa-se de um sujeito ativo, criativo, ousado. Como a Terra em seu sistema, o sujeito gira em torno do objeto e, também, em torno de seu próprio eixo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MATERIALISMO OU IDEALISMO?

 

Grosso modo, o idealismo é afirmar que a ideia e seu desenvolvimento faz a realidade enquanto o materialismo, oposto, afirma que a realidade, a matéria, faz o pensamento. Marx adota a segunda posição, às vezes de modo muito intenso. Mas o mais correto é dizer: o marxismo é a fusão de idealismo e de materialismo num terceiro, o terceiro excluído incluído. É verdade que a matéria faz, primeiro, a ideia, mas, sendo a ideia uma forma toda especial e mui complexa de matéria, ela tem uma autonomia parcial, relativa, além de ser trabalho, de ser produtiva (cérebro) – a ideia, a idealidade, também afeta o mundo, em principal o social. O polo determinante dessa unidade é o materialismo, mas não de modo mecânico, unicausal, sem mediações (ele se medeia, no externo, consigo mesmo como se com outro, outro de si). Por isso fazemos de fato nossa história, pessoal e social, mas sob dadas condições materiais. O marxismo supera a oposição unilateral entre materialismo e idealismo, conclui a história da filosofia.

Vale uma construção lógica. Na lógica aristotélica, A = x ou não-x, sem terceira resposta, sem um terceiro, que é excluído – ou materialismo ou idealismo. Na velha dialética, existe a verdade exato nesse terceiro, que passa a ser incluído. Mas o terceiro costuma não ser nomeado, “entre” o relativo e o absoluto, podemos apenas aproximar com o relativamente relativo; “entre” o materialismo e o idealismo não há, também, nomeação. Na nova dialética, mantendo em pé a velha, x vai até não-x em “A”. Assim, o materialismo em autodesenvolvimento constrói o ideal, o idealismo, sem deixar de ser o “material” o verdadeiro motor primeiro e o centro, a verdade. Esse caminho do materialismo para o idealismo relativo é o caminho da sociabilidade cega existente até a sociabilidade organizada e planejada, central e democraticamente, no socialismo, quando a ideia fazer a matéria ganhará mais peso, ainda subordinado ao polo oposto unilateral, o materialismo. O terceiro, que supera o materialismo e o idealismo, desenvolve-se, dinamiza-se. O idealismo (abstrato) é o materialismo (concreto) em autodesenvolvimento (processo).

Eis nossas conclusões, um novo marxismo. Mas precisamos limpar o terreno para ganhar outros marxistas para nossa concepção. O velho Marx, d’O Capital, adotou o materialismo “duro e rígido”. Após elogiar muito um dos seus críticos, ele cita um comentário à sua obra, que diz:

 

Para tanto, é plenamente suficiente que ele demonstre, juntamente com a necessidade da ordem atual, a necessidade de outra ordem, para a qual a primeira tem INEVITALVELMENTE de transitar, sendo ABSOLUTAMENTE INDIFERENTE se os homens acreditam nisso ou não, se têm consciência disso ou não. (…) Se o elemento CONSCIENTE desempenha um papel tão subalterno na história da civilização, é evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização está impossibilitada, mais do que qualquer outra, de ter como fundamento uma forma ou resultado qualquer da consciência. (Marx, O capital I, 2013, p. 89)

 

Segundo o próprio Marx, o comentador foi preciso, exato:

 

Ao descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método, bem como a aplicação pessoal que faço deste último, que outra coisa fez o autor senão descrever o método dialético? (Idem, p. 90)

 

O trecho tem outros pontos semelhantes ao exposto. Ademais, para Marx, a vontade do capitalista não é a vontade dele próprio, mas do capital impessoal, que se expressa no indivíduo.

O jovem Marx, em textos não publicados em especial, ao menos esboçou nossa concepção. A posição materialista unilateral é substancialista; a idealista, relacionalista. Em outro capítulo, demonstraremos que Marx pendula entre a concepção de substância e de relação, apesar de sua revolução teórica-metodológica e resolver várias oposições entre esses dois pontos de partida.

A velha geração marxista afirma que tentar antecipar aspectos gerais do socialismo, mesmo durante o ocaso maduro do atual sistema, trata-se de idealismo… Mas o ideal importa, a arte marxista é, também, prever, uma historiografia do futuro possível a partir das bases materiais presentes.

O materialismo focou no aspecto animal do homem; o idealismo, na sua diferença para com os demais seres (Levins & Lewontin, 2015). A verdade supera os opostos.

A própria realidade quebra-se em materialismo e idealismo. Materialismo – trabalho manual; idealismo – trabalho espiritual, intelectual. Como a verdade é o todo, a realidade supera e abarca ambos.

A verdade supera e funde o materialismo subjetivo e o idealismo objetivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A LIBERDADE OBJETIVA OU DIALÉTICA

 

Outra entre as grandes questões da psique é sobre se somos subjetivamente livres ou não – há ou não liberdade? Há livre arbítrio? Se há, de que tipo é ela? Vejamos em alguns de nossos mestres, antes de oferecer uma nova resposta.

 

Kant

Ele produz uma das quatro antinomias suas, que serão resolvidas nesta obra, perguntando se 1) a realidade inteira, incluso nosso pensamento, segue a causalidade, a necessidade, causa e efeito ou 2) há ao menos também liberdade humana. Ele não responde e considerava uma questão irresolvível. Antes de chegar a uma conclusão, vejamos como outros tentaram solucionar a pergunta.

 

Hegel

Ele oferece pelo menos três respostas sobre a oposição liberdade-causalidade.

Primeiro, a liberdade é reconhecer a necessidade. Por exemplo, respeitar as leis e as tendências da história. Um divulgador marxista afirmou que o animal tem a opção de evitar o fogo, sua liberdade de não se queimar é uma necessidade. Um burguês tem a liberdade de seguir a luta por mais lucro, embora possa escolher ser mendigo, ou seja, prejudicar-se.

Segundo, Hegel afirma que o uno, o um, o indivíduo, parece afirmar-se ao isolar-se do conjunto (muitos, múltiplos), mas isso é sua destruição. Então, apenas se pode ser livre e individual em comunidade. Assim também, um átomo é instável energeticamente quando isolado, por isso deve ligar-se a outros átomos, formando uma molécula, para ganhar estabilidade.

Terceiro, ele funde causalidade e liberdade afirmando a interação dos corpos, dos acidentes, das partes de um todo. A causalidade é recíproca, pois uma parte age sobre outra parte, e esta, vice-versa, também faz o mesmo. Mas todas as partes de uma totalidade, sendo causa e efeito ao mesmo tempo, pertencem uma única substância comum, que está no fundo, no fundamento (necessidade). As partes do todo-substância aparecem, de modo externo, umas independentes das outras, e o mesmo ao contrário, são fora umas das outras, apenas interagindo (liberdade). Mas essas partes são também o mesmo, uma mesmidade, pois são uma substância apenas.

 

 

Marx

No final de O Capital, Marx afirma que no socialismo a produção será o reino da necessidade, onde o cidadão trabalha, mesmo que apenas jornada curta de 2, 3 ou 4 horas diárias. O que é produzido de modo organizado permitirá o reino da liberdade, fora da fábrica, quando nos dedicaremos à arte, à família, ao ócio etc. Como sabemos, tudo que puder ser robotizado, automatizado, informatizado o será, o que reduzirá com toda força o tempo de trabalho ou de serviço – o trabalho manual será superado, mesmo que não extinto.

 

Lukács

O grande filósofo do século XX afirma que a humanidade tem produtividade crescente, cada vez mais produtivo – e com o aumento da produção aumenta também o grau de liberdade. O escravo antigo era não livre, o servo foi mais livre que o escravo, o assalariado (com liberdade formal) é mais livre que o servo, o trabalhador associado socialista será substancialmente livre. Nosso destino é cada vez mais determinado por escolha ou acaso, cada vez mais com mais opções.

Outro aspecto da liberdade lukacsiana é que o homem no trabalho antes pensa ou imagina como e o que produzir (teleologia, prévia ideação, liberdade) e depois manipula as leis causais da natureza (necessidade) para produzir algo útil.

Para Lukács, a liberdade era uma categoria apenas humana, social, além de histórica.

 

Nossa proposta

Vejamos como resolvemos o problema kantiano. Ora, se a realidade tem possibilidades e probabilidades, ela as tem em si mesma, dentro de si própria. Logo, a liberdade é objetiva antes de subjetiva – é dialética. O homem ou a partícula toma a decisão que tem já tendência, na sua personalidade ou perfil, além de contexto, de tomar. Um chiste famoso ajuda a esclarecer: podemos escolher o que quisermos (entre as opções), mas não escolhemos qual é nosso desejo, o que de fato desejamos. Se temos 4 opções, escolheremos aquela que melhor corresponde ao que somos. A liberdade é ter tais opções exato para escolhemos a que de fato somos levados a escolher, causalidade e necessidade (e nossa liberdade está dentro da realidade objetiva). Esse é o primeiro modo de fundir causalidade e liberdade. O segundo é que o “o que” irá ocorrer é algo necessário, causal, determinístico até, mas “o como” isso irá acontecer está, em geral, em jogo. Por exemplo, certo é que o capitalismo irá cair, mas pode desabar de várias formas, mesmo opostas, como por revolução ou por extinção da humanidade etc.

O cérebro e a realidade externa são um que são dois. O cérebro age por necessidade (lei, causalidade etc.) e a realidade, também. Ora, confronta-se consigo uma só necessidade como se fosse duas opostas. Eis a autonomia, mas apenas relativa, do cerebral – parte do todo.

Necessidade é reconhecer a liberdade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TELEOLOGIA OBJETIVA

 

Para ganhar moral no meio acadêmico, um dos segredos é ser contra a teleologia, a concepção que a realidade tem finalidade, um fim, um objetivo. É uma crítica fácil e famosa, mas pouco refletida. Os erros nesse assunto se deram à visão mecanicista do tema, desde Aristóteles até Lukács. Vejamos a confusão, as igualdades falsas na crítica:

1)  Teleologia exige uma consciência que planeja.

Isso é a concepção mecanicista de um trabalho artesão ou artístico, generalizada e, logo, rejeitada por muitos. Mas as leis inerentes da realidade podem levar a um rumo específico.

2)  A teleologia exige separar fim e meio.

Falso. Ainda uma visão mecanicista, priorizando uma forma de trabalho, como vemos. O fim pode estar, em sistemas orgânicos, no próprio meio, vai-se realizando no processo, rumo a si mesmo. O socialismo vai rumo a si na lutando por ele, com práticas de acordo com o fim almejado. O fim (abstrato) é o meio (concreto) em desenvolvimento (processo).

O fim, realizado tanto quanto pode, é, por sua vez, meio para algo realizar; por exemplo, o socialismo é o fim, mas, ao existir, será meio para a felicidade humana.

3)  Teleologia é determinística.

Nada justifica essa hipótese. O homem, por exemplo, tende ao socialismo – tende. Mas pode se extinguir antes de se realizar. A teleologia não é nem determinística nem contingente, pois é tendencial.

4)  Não existe teleologia fora da sociedade.

Outra hipótese sem comprovação. Por exemplo, o olho surgiu 6 vezes de modo independente na história da natureza, pois era necessário que o olho surgisse. No social, a história ocorre como teleologia objetiva e insconciente até que a sociedade ganha consciência alta, toma as rédeas da história.

5)  Teleologia exige um fim (absoluto).

Na verdade, a teleologia pode ter um alto grau de autorrealização, mas ele permanece como pulsão, movimento, desenvolvimento. Não se encerra quando se encerra.

Temos a teleologia objetiva (finalidade objetiva). Lukács afirma que na arte há identidade sujeito-objeto, forma-conteúdo, essência-aparência e nós completamos com criar-descobrir e nada-ser. Logo vemos que Hegel se inspirou no trabalho artístico para pensar sua Lógica, caindo em mecanicismo em certo sentido.

Vale a pena fazer uma observação histórica. Engels e Marx, em cartas pessoais famosas, concordaram que A origem das Espécies de Darwin marcava uma crise na teleologia, que elas associaram então à visão essencialista religiosa. Isso pode ser deduzido de sua grande obra, embora errado, mas, da própria letra de Darwin, este afirmou em mais de uma passagem que há uma tendência à perfeição das espécies, ou seja, evolução, para ele, não é apenas diversificação – e o homem, sendo animal, é um ápice biológico apaixonante, mas perigoso até aqui (a natureza viva criou seu próprio algoz, se próprio inimigo, caso não alcancemos o socialismo).

A economia planejada, planificada, do socialismo é uma economia teleológica. Isso tem dois sentidos: 1) realização relativamente relativa da teleologia social, 2) uma economia consciente e organizada. Fusão da teleologia subjetiva com a objetiva.

As relações causais e de interação fazem, produzem, teleologia objetiva ou finalidade.

Já está determinado de antemão se haverá socialismo ou não no futuro. Mas, dada a complexidade social, impossível prever qual será o resultado determinado, real. Por isso, somos obrigados a tentar, planejar, preparar – buscar a vitória da possibilidade formal de socialismo. A mera sensação de que temos opções e de que podemos fazer nosso destino já afeta por si o resultado final determinístico.

Demonstraremos que a causalidade do cérebro, cerebral – e em relação com a causalidade externa –, produz, também, a teleologia, teleologia subjetiva, o planejamento mental.

Mais algo deve ser dito. Quando Marx afirma “eles fazem, mas não sabem” (que fazem), inaugura o inconsciente social e, logo, a teleologia objetiva e inconsciente. Como demonstramos em outro momento, várias pontos da obra O Capital descrevem ações sem conhecimento delas, de que fazem. Os produtores vão, e são impelidos,  ao mercado igualar seus trabalho, mas não sabem que estão fazendo exato isso. Teleologia, portanto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS CAUSAS

 

Ainda segundo Lukács, com sua teleologia subjetiva apenas e mecanicista, a teleologia (humana, subjetiva, individual) usa a causalidade – posição correta em si, no entanto limitada. Mas, oposto, as relações causais dialéticas, ou seja, a interação recíproca produz de modo “inconsciente” a teleologia. A teleologia faz a causalidade como a causalidade faz a teleologia.

            Aristóteles levantou quatro causas separadas: 1) causa material (água, éter etc.), causa formal (forma geométrica, forma social etc.), causa eficiente (causa para efeito) e causa final (teleologia, ir rumo ao). O grego tratou cada uma de modo separado, mas elas ocorrem juntas, de maneira simultânea e unificada, ao mesmo tempo, com relações recíprocas. Além de sincrônicas, ocorrem, por isso, de maneira diacrônica, como se depois, tempo lógico: a matéria, causa material, cuja forma é sua informidade, passa a ser com cada vez mais forma, causa formal, que impulsiona a causalidade mecânica e dialética, causa eficiente, o que produz uma teleologia, causa final. A ciência moderna focou apenas na causa eficiente enquanto o grego focou na separação delas ou na causa final. A causalidade eficiente produz imediatamente a teleologia, a causa final.

Tal movimento “real”, mantida a sincronia, também foi ideal nas sucessivas gerações filosóficas antigas, dos gregos. Dialética real expressada na dialética ideal. Os primeiros filósofos gregos tiveram, do ponto de vista da mente, que fundar o materialismo para afirmar-se contra a religião, separar-se dela (Novack). Tal materialidade expressa, também, certa materialidade em desenvolvimento, a sociedade grega, sua vida e seu comércio etc. Daí iniciar pela causa material, supondo que a realidade é um único elemento, ou combinação de muitos. A matemática pura algo separa-se do uso de engenharia etc., surgem os pitagóricos e a realidade profunda enquanto número, formas numéricas. Platão avança para a separação entre mundo das formas – perfeitas, puras, imóveis – contra o mundo terreno, da aparência, da inconstância. A afirmação do movimento dá importância para a causalidade, o tempo, a relação. Então, intui-se a teleologia, a causa final, o destino para onde a existência tende a ir, vai-se.

Hegel, o grande gênio, deixou claro que causa e efeito podem mudar de posição na causalidade recíproca. Então, ele passa para um conceito unificado de ambos os opostos, a interação. O marxismo vulgar toma a causalidade mecânica, como se a economia determinasse de modo único, direto, mecânico, determinista e unilateral as mentalidades e as instituições. Embora a produção, em principal, e os demais setores econômicos tenham prioridade, numa hierarquia do ser social, a causa é um “ida e volta” dinâmico, incluso ao mesmo tempo, simultâneo – interação.

A causa fazer, também, a teleologia, ser como um antes, está ligado, em principal, às teleologias gerais e objetivas. É claro, portanto, que o pensar humano teleológico e subjetivo faz a realidade, usa a causalidade do real. Mas o cérebro, de onde surge a teleologia individual e subjetiva, opera com relações causais, ainda que orgânicas e dialéticas. Assim, mesmo aí, a causalidade faz a teleologia.

Vejamos um pouco mais. Para Aristóteles, a forma demonstra-se superior à matéria; em seguida, aquele seria inferior à causalidade eficiente, que faz a própria forma; por último, a teleologia, causa final, seria superior à causalidade eficiente. Cada um é superior ao interior. Isso está correto em si e de modo mecanicista, como um artesão que com sua teleologia usa a causalidade e ,assim, dá forma à matéria bruta. O mesmo limite de Lukács com sua apologia do  trabalho. Nós, aqui, descobrimos que o geral, no geral, promove-se o caminho oposto: matéria, forma, causalidade e teleologia. A matéria, em relação consigo, ganha cada vez mais forma, além de ser sua condição; tal processo tem a causa eficiente que produz, primeiro, a própria teleologia. Para Aristóteles e, de certo modo, para Lukács, a mente com sua teleologia apenas subjetiva age como causa primeira, primeiro motor, autônomo e movente por si. Os biólogos atuais dizem que não há por exato, evolução, mas apenas adaptação e diversificação. Ora, a diversificação, que tem causalidade em si, faz a evolução relativa – chega-se ao homem, um dos ápices da vida. A biologia tem, assim, teleologia objetiva, inconsciente e tendencial não determinista derivada da causalidade. Um dos efeitos da causa, em geral, é a teleologia – teleologia é consequência da causalidade, incluso esta como interação.

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O QUE É A CONSCIÊNCIA, A MENTE?

 

A dialética não usa, grosso modo, definição, algo dicionário – ela desenvolve o conceito, mais do que o explica.  Dito isso, mostramos uma dentre as respostas possíveis, nossa proposta. A consciência dar-se, no ser complexo, quando a realidade muda, torna-se incerta, sem padrão aparente enquanto o cérebro continua preso ao passado, à repetição, ao padrão. Busca-se, assim, naturalmente, a permanência na mudança. A mente e a consciência (abstratos, que não são coisas) são o cérebro e a realidade (concretos) em movimento (processo). A contradição em “querer” manter o permanente e a mudança incerta produz a mente e a consciência. Uma situação de crise, instável, empurra para elevar a consciência. A consciência é, portanto, antes, fruto da objetividade, do externo.

Aqui, inspiramo-nos nos gregos. Eles negavam a empiria aparentemente aparência, instável, caótica, sem lógica, sem rumo, contingente e queriam acessar o mundo por meio da boa reflexão, do pensamento dedicado, de deduções abstratas, de lógica e conflito de ideias com palavras. Assim, continuavam querendo o permanente na mudança – e fizeram, portanto, filosofia! A filosofia experimental, a científica e a objetiva, claro, hoje baseiam muito mais diretamente nos dados, no fatos, na empiria, embora saiba que a aparência ao mesmo tempo revela e esconde a essência, a verdade.

Isso leva-nos ao debate sobre inteligência artificial: podem os programas e robôs tornarem-se conscientes? Para nós, o que é, em primeiro lugar, consciência? Devemos responder tal pergunta milenar, até hoje um enigma insuperável, com suas diferentes escolas e polêmicas. Consciência é, também (pois o que ela é não cabe no dicionário), autoconsciência, consciência de si. Mas ser consciente de si é ao mesmo tempo diferenciar, ter consciência do outro e do externo. Por isso, dizer que consciência é consciência de algo tem tal algo igualmente como a si próprio, alguém. Assim, ter consciência exige ter consciência da sua finitude, de perceber ser algo que não outro, ou seja, ter borda e limite, ou seja, ter fronteira. O erro de dizer que pensamos e temos consciência por meio de todo o corpo deve ser (re)considerada – não pen(s)amos com o corpo inteiro, mas é quase isso. O cérebro é também sua função. Ademais, consciência é finitude não só espacial, também temporal – consciência exige falta, logo, necessidade, logo, desejo.

Dito isso, considerando a consciência de seu lugar abstrato, ou seja, separado e isolado nas nuvens ideais, vemos a dificuldade de uma inteligência artificial tornar-se de fato consciente. Ademais, o cérebro é a coisa mais complexa e difícil de replicar do universo. Pode-se, com mais rapidez, simular um “como se” tivesse consciência. Mas, ao oferecer algo como um sistema nervoso completo ao robô, além de sentir necessidades (falta de energia, incômodo etc.), quem sabe a singularidade finalmente ocorra, para o bem ou para o mal. Marx diz que a há humanização das coisas e coisificação dos homens; e isso tende a ser literal, atingir um máximo: das máquinas simples que imitavam o movimento repetitivo das mãos humanas às máquinas complexas que imitam a sua inteligência e consciência.

Ter (auto)consciência (elevada, humana) é, também, nomear, também, a consciência. Aparece como objeto de si mesmo, então,  numa representação outra.

Penso, logo a realidade existe. Meu pensamento existe graças ao meu cérebro e ao fato de a realidade ser movimento.

A mente ou consciência não é coisa nem estática – é processo. Com Marx e, em especial, com Darwin a consciência evolui para saber do mundo como mundo, pois isso permite sobreviver. A divisão sujeito-objeto parou de fazer sentido: evoluímos para saber do objeto, ainda que de modo sempre imperfeito. O abstrato é o concreto em processo – a mente é o cérebro-corpo-mundo em movimento (de preferência, não repetitivo, ou a repetição contínua da novidade, na novidade). Tenho de ter uma origem e, como origem tenho e origem tenho na realidade, minha espécie surgiu como um pedaço de si, dela (do real), logo, que respeita sua matéria e suas propriedades – meu pensamento, assim, tem de ser como o próprio mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEÇÃO DOIS

NOVA TEORIA GERAL DO VALOR:

VALOR-TRABALHO E VALOR MATÉRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NOVA TEORIA GERAL DO VALOR:

VALOR-TRABALHO E VALOR MATÉRIA

 

Chegado aqui, o leitor já percebeu a originalidade rara desta obra. Agora, faremos duas ações, uma após a outra: 1) oferecer uma teoria do valor marxista a partir da generalização da teoria apenas do valor econômico em Marx e 2) apresentar uma teoria nova do valor, o valor-matéria, que abarca dentro de si o primeiro generalizado (melhor: nele abarcado). Assim, nossa teoria do valor é sobre todo tido de valoração, não apenas na economia. Friedrich Nietzsche chamou por duvidar do valor que damos aos valores “bom”, “mau” etc. Para ele, ser bom pode ser negativo, degenerativo… Bem: ele esqueceu de criticar e teorizar o próprio conceito de “valor”, quer seja, o valor mesmo.

 

GENERALIZAÇÃO DO VALOR-TRABALHO

 

O homem primitivo necessitou compreender cada vez mais as propriedades do mundo, ou seja, de modo rústico, já fazia ciência. Ao analisar o mundo, teve de descobrir – não criar, caro Lukács – valores, valorizar; esta pedra é ruim para este machado, mas bom para tal tarefa. Pois bem; grosso modo, isso está em Lukács, então apenas vale tratarmos do assunto se algo novo houver para ser dito.

O valor artístico, por exemplo, dar-se pelo quanto de trabalho útil foi destinado na sua produção, incluso o ganho de habilidade do artista. Mas o guia é o valor de uso da arte, a mensagem fictícia. Se um “artista” dedica mil horas para pintar um quadro preto de preto, perdeu seu tempo.

Lukács diz da valoração com o exemplo do valor positivo de um bom vento para a embarcação. Ora, a diferença atmosférica deslocou ar de um ponto para outro, logo trabalho realizado. Na verdade, o valor tem origem direta em dois fatores opostos e complementares, unidos: o trabalho exigido e o trabalho economizado (que pode ser resumido no primeiro). Um mau vento exige mais trabalho, gasto extra – menos valor tem, menos bom, ruim, é ele.

Considerado isso, que trabalho e economia de trabalho são ambos base da valoração, o que os unifica? O objetivo, a finalidade, o valor de uso – eis a medida, ou melhor, o lastro da valoração. Uma arte somente é arte se tem mensagem fictícia (podendo ser afirmada como bem ou mal, ruim, elaborada).

Na relação homem e objeto, a valoração divide-se, no contexto, em bom e ruim. Nas relações humanas, em bom e mau. Nada nisso de maniqueísmos, pois, por exemplo, um operário lutador da causa operária, logo bom, pode ser machista, logo mau. O que guia é o rumo da humanização da humanidade, o fim da alienação – a finalidade.

Assim, a valoração dos valores está lastreada, no trabalho, por isso, na história, por isso, nas relações contextuais, logo, na finalidade.

Já dissemos em outro lugar que o ouro vale muito porque se exige imenso trabalho para extraí-lo da terra. Mas tal imenso trabalho é exigido porque se exige muita energia-tempo-trabalho para produzi-lo nas estrelas, nas explosões estelares.

 

MORAL E METAFÍSICA

Platão ascende a conceitos cada vez mais gerais e abstratos até alcançar o Belo, o Bom e o Bem. Para ele, os mais puros. Ora, existe um conceito ainda mais puro, geral e abstrato. O belo, o bom e o bem – são o quê? São valor! Com tal conceito, na economia Marx foi de fato ao mais abstrato. O bem (coisa privada) não é o mais profundo ou, se quisermos, o mais etéreo: isso é o que está dentro do valor de uso, o bem, ou seja, seu valor invisível dentro de si. Marx poderia dar qualquer nome ao valor, já que é descoberta sua, mas lastreou a palavra na metafísica.

 

EXEMPLOS DE OUTRAS ÁREAS

O sofista Pródico afimou que os deuses são falsos, pois os egípcios divinizam o rio Nilo por dele depender; outros, o Sol ao verem sua imensa importância. Ora, isso – tanta importância ao ponto de mistificação adoradora – é medido pelo trabalho, pelo valor-trabalho (que permite ou que, ou também, economiza) e pelo valor-matéria, que trataremos em seguida (água abundante e rica em nutrientes no deserto!). No direito, área particular da moral, uma vida assassinada trocava-se por outra vida; depois, décadas de prisão passavam, de modo inconsciente (social), certa ideia de justiça média, compensação, correta medida – mais uma vez, valor-trabalho (diacrônico) e valor-matéria (sincrônico).

 

 

 

 

 

 

TEORIA DO VALOR-MATÉRIA

 

Marx convida a duvidar de tudo, de todas as certezas – incluso as de sua poderosa produção. Dito isso, José Paulo Netto afirma que, quando se quer atacar ou adaptar o marxismo, foca-se em três eixos: contra a dialética, contra a teoria da revolução e contra a teoria do valor-trabalho. Nosso foco será a questão do último elemento.

Todas as tentativas de negar ou ver contradição na teoria marxista do valor são, quando muito, risíveis. Isso ocorre, simplesmente, porque ela está certa, completa e correspondente em alto grau à realidade. Os críticos confundem, por exemplo, valor e preço. Ora, por que a água, com a altíssima utilidade, apresenta-se tão barata – mas o ouro, carente de utilidade, tão caro? Eis contradição da teoria do valor subjetivo, do utilitarismo. Resposta de Marx e nossa: um exige mais trabalho social e humano para produzir em relação ao outro, muito mais.

Mas é possível afirmar totalmente a teoria marxista do valor e, ao mesmo tempo, superá-la? Façamos a digressão e o exercício para fins filosóficos, pois é uma teoria de todo correta. Apresento, agora, minha própria teoria – do valor-matéria.

 

O ERRO PARCIAL DE MARX

Marx começa sua obra com a seguinte pergunta: se duas mercadorias são qualitativamente, completamente, diferentes – como elas são igualadas? Como isso é possível? Como uma é trocável pela outra em certas quantidades? Como 1 casaco = 3 quilos de uva? Como a passagem é famosa entre o publico leitor deste livro, destacamos apenas o caso de Aristóteles. O grego afirmou que um tanto de sofás são trocáveis por uma casa. Mas por quê? A troca é consciente, mas a razão de tal trocabilidade é inconsciente, inconsciente social. No entanto, o pensador antigo conclui que isso – a proporção de troca, a permutabilidade – era mero jogo subjetivo, para fins práticos. Segundo Marx, o gênio não foi capaz de responder por causa de sua época e por ser senhor de escravos – mais uma vez, complementamos, o inconsciente social a agir. Ora, responde ele, são iguais as mercadorias porque elas são frutos iguais de trabalho humano! O tanto de trabalho gasto gera um tanto de valor, que as iguala no mercado. Um tanto de linho ou uva é trocável por um casaco porque ambos possuem dentro de si a mesma quantidade de trabalho gasto em suas produções. Mas, porém, todavia: elas não são completamente qualitativamente diferentes! Elas, as mercadorias, ou melhor, os valores de uso, são átomos concentrados, ou seja: – prótons, elétrons e nêutrons. São matéria e material igual, massa igual, ou seja, peso igual (com a gravidade). O que lhes iguala são suas matérias. Se o valor é (forma de) energia, temos de ver que energia é massa (E=mc²), segundo Einstein, propriedade da matéria. Marx não vê a qualidade igual, o fato de serem as diferentes mercadorias materiais, matérias.

 

DEMONSTRAÇÕES DO VALOR-MATÉRIA

O valor-trabalho do qual tratamos antes e generalizamos, ainda é válido e completo, mas abaixo e dentro do valor-matéria. Entremos mais no absurdo.

Primeiro. A máquina perde valor ao desgastar-se, ao desmaterializar-se.

Segundo. O dinheiro ganha valor ao materializar-se na forma ímpar, o ouro (átomo pesado); depois, perde valor ao desmaterializar-se (prata, cobre, papel, bits.).

O ouro tornou-se dinheiro por sua matéria e, ou seja, suas propriedades materiais: as mercadorias podem ser separadas e remendadas, mas nenhuma ou quase nenhuma como o ouro; mercadorias são resistentes, mas raramente na medida do ouro; mercadorias podem ser uniformes, mas o ouro costuma ser muito mais etc. E poucas, raríssimas, como a prata, têm a mesmas propriedades juntas, como o ouro. Ora, seu valor de uso, ou melhor, seu conteúdo material, o destacou, tornou-se, por isso, dinheiro.

Há três lacunas aparentes na teoria marxista: 1) a transformação dos valores em preços de produção, 2) o valor do capital fictício da terra ou renda da terra, 3) o valor no dinheiro após o fim do padrão ouro. Ora, o dinheiro em papel hoje é dinheiro por seu valor de uso, por suas propriedades objetivas, por isso tem ou representa um valor real, desde sua materialidade, de acordo, portanto, com seu contexto, o intensivíssimo e extensivíssimo mercado, a poderosa produtividade hoje. Nossa teoria do valor-matéria pode resolver as polêmicas. Na física clássica, pensava-se que bastava resolver um ou dois problemas para o sistema físico teórico estar completa; mas uma revolução completa surgiu de tais pequenos e poucos problemas – o mesmo pode acontecer nas chamadas ciências humanas.

Terceiro. Lamentamos muito mais a morte de um grande elefante contra a morte de uma reles formiga. Por instinto, de causa inconsciente, associamos valor com materialidade – mais materialidade, aliás, mais raro, além de mais trabalho e energia exigir.

Quarto. Uma pedra mais material é, via de regra, mais útil e tem mais valor relativo à outra pedra inferior materialmente de mesmo tamanho etc.

Quinto. O ouro é difícil produzir nas estrelas, concentra muitos átomos.

Sexto. Tenta-se tirar componentes “desnecessários” da máquina para diminuir, assim, seu valor.

Sétimo. A deterioração de certa mercadoria também é sua perda de valor.

Oitavo. A abundância material é a base da liberdade e da felicidade.

Novo. Valor só pode existir dentro e junto de algo, de certa matéria.

Décimo. O que tem mais massa, em geral, mais matéria, tende a ter valor e preço maiores.

Décimo primeiro. A redução do valor e do preço da mercadoria está, hoje, ligada à redução de sua materialidade, ou seja, os produtos estão mais frágeis. Isto é: valor-matéria. Minha teoria da obsolescência programada é diferente da usual, embora reconheça seu valor relativo, não absoluto. É do ponto de vista da demanda, não da oferta (esta, necessidade de fragilizar para mais vender, para forçar nova oferta e nova demanda etc.). Digo isto: as pessoas querem consumir, mas não têm renda. Por isso, as empresas oferecem versões do produto mais baratas, e, em geral, mais frágeis, trocáveis etc. Eis a desmaterialização em base ao valor.

Décimo segundo. Marx afirma que o valor de certa mercadoria (forma relativa) se expressa na materialidade de outra (forma equivalente). Assim, sua separação por um abismo entre valor de uso e valor cai e desaba para dentro de si: a medida dos valores e o padrão de preços, por exemplo, fundem-se, ainda que de modo a abarcar a diferença etc.

Décimo terceiro, enfim. A água é barata por sua molécula ser fácil de se formar, precisa de átomos simples e “leves”, pouco materiais, oxigênio e hidrogênio, abundantes por facilidade relativa de produzir. O ouro é caro porque, como observamos, seus átomos unidos são “pesados”, complexos, com mais matéria-massa concentrado, logo mais raro, logo mais trabalho para produzir na estrela e extrair da terra, logo mais caro via de regra e tendencialmente.

Décimo quarto. Vejamos a relação com a dialética. Marx exclui todas as propriedades físicas da mercadoria (cor, massa, matéria, peso etc.) para chegar numa coisa-em-si invisível, o valor, a gelatina de trabalho dentro da coisa.

 

Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem dele valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer coisa útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. (Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)

 

E:

 

Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores mercantis. (Idem, 116.)

 

Mas, contra Kant, Hegel afirmou, Ciência da Lógica – Doutrina da Essência, embora não tenha sido o único, que a coisa ou a coisa-em-si sem suas propriedades nada é – e que tais propriedades são, veja só, matérias ou materiais. Assim, a coisa-em-si valor nada mais seria que suas próprias propriedades e, ou seja, sua materialidade. A coisa-em-si, o valor, é a coisa.

Décimo quinto. Tanto no mundo inorgânico (Sol, buracos negros etc.), passando pelo biológico (macho dominante, o mais alto etc.), quanto no social (concentração de capital, ter mais dinheiro, ter maior população etc. – no social mental: ter grande casa ou carro, mais dinheiro etc.) ocorre o seguinte processo: mais matéria-massa concentrada, em relação aos demais e à média, logo, tende a ser a causa de atração, de ser orbitado, de agregar para si.

Décimo sexto. A desmaterialização relativa de mercadorias leva à rupturas relativas com o valor. Por exemplo: livro digital gratuito ou pirateado.

Décimo sétimo. Unidade do valor e valor de uso: o ouro tornou-se dinheiro por excelência por sua materialidade singular – raro porque muito material (átomos pesados), imperecível, uniforme, fácil de dividir e fundir.

Décimo oitavo. A baixa materialidade da linguagem parece corresponder com seu baixo peso material sobre o mundo material

Décimo nono. Por ora abstraída em parte a oferta e a procura, um trabalhador especializado, com mais tempo de formação, possui propriedades ímpares – logo, mais caro.

Vigésimo. O dinheiro hoje é lastrado, grosso modo, no petróleo. Tal matéria-prima produz energia e matérias vastas, amplas e essenciais. Veja-se o plástico, seu derivado, em todo canto. É o valor de uso (e valor!) por excelência, que deriva muitas matérias vitais ao modo de vida atual.

Em sua concretude, a teoria do valor-matéria exige observarmos três fatores:

 

I.                   A matéria (singular)

II.                Suas propriedades (particular)

III.             Seu contexto material[15] (geral)

 

A teoria do valor-trabalho de Ricardo e, depois, de Marx tem função revolucionária, útil para o movimento social e para a humanidade. Além disso, está correta. Mas, por sua exatidão alta, impediu-se, além de tanto outros fatores, de ver o valor-matéria. Naquele tempo, mal se sabia dos átomos, por exemplo. A teoria do valor-trabalho está dentro da do valor-matéria, e vice-versa.

 

VALOR-TRABALHO, VALOR-MATÉRIA E OFERTA-DEMANDA

Assim, também, conectamos a teoria do valor-trabalho com a teoria da oferta e da demanda (procura). Algo é raro, logo, com muito valor por ser difícil de extrair ou produzir, porque tem mais materialidade – porque tem mais materialidade, é muito mais difícil de existir. Por isso o ouro tem valor, sua raridade, ao exigir mais átomos para existir, exige trabalho extra.

Se a oferta e demanda se igualam, deixam de explicar o preço e valor. Tal teoria apenas explica-se desde a teoria do valor-trabalho e do valor-matéria.

 

A MATÉRIA É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

A matéria é a própria realidade – por isso seu valor, sua base de valor. A medida da coisa está na própria coisa! Quando dizemos que movimento = energia = tempo = espaço (meio) = matéria – dizemos, portanto, que a energia-valor nada mais é que a matéria. Assim fazemos a unidade (e identidade), ainda que ainda contraditória, entre valor e valor de uso. Não mais externos um ao outro, não mais apenas estranhos.

Vejamos o parágrafo anterior. Marx diz que o preço da terra virgem não tem valor, pois não há trabalho gasto em sua produção, portanto, capital fictício; apenas há preço. Mas a terra, primeiro, tende a valer mais se ela é melhor, mais produtiva, então, mais rica materialmente! E, segundo, o oposto-idêntico-diferente de matéria é espaço ou movimento, logo, a terra mais distante tende a perder valor, preço. Portanto: a matéria é a medida de todas as coisas!

Marx não vê que que há unidade do quantitativo (valor) e do qualitativo (valor de uso) na medida. Quando Marx diz que uma terra com queda d’água natural, esta fonte de energia em potência, tem seu preço-não-valor acrescentado, deixa de ver, agora em outro sentido, no qualitativo o quantitativo, a materialidade rica afetando o valor daquilo “fictício”

 

DEDUÇÃO DA UNIDADE DO VALOR

As diferentes teorias sofisticadas do valor são muito mais do que apenas diferentes ou lado a lado: são uma só teoria com diferentes graus de abstração. Temos, então, uma teoria unificada da valorização. Assim, o valor dado está ligado à sua

 

1)  Raridade

Que nada mais expressa além do

2)  Trabalho médio – social ou natural – exigido para sua produção ou economizado

Que é um dado gasto de energia expresso de maneira imperfeita no

3)  Tempo médio exigido em sua criação

Ligado, portanto, à sua

4)  Utilidade

Que é, por sua vez e em cadeia, expressão pobre de sua

5. Materialidade (valor-matéria)

Tanto no sentido quantitativo quanto, em principal, qualitativo.

 

A conexão mais difícil de observar está entre 4 e 5. Vejamos. O ouro parece ter baixíssima utilidade, o que deveria gerar baixíssimo valor; mas ele é dinheiro por excelência por ser “pesadamente” material, logo, raro etc., o que faz dele o valor de uso útil por excelência, ou seja, trocável por tudo o mais. Por sua natureza social e natural, o ouro é o que é, natural socialmente desenvolvido, ou seja, socializado, natural socializado.

Nos meios vulgares, diz-se que o valor é subjetivo porque a água vale muito mais do que o ouro no deserto. Ora, em tal ambiente seco, a água é uma materialidade rara, difícil de produzir e pouco material presente. Aí a água vale muito por sua materialidade e propriedade em seu contexto. Portanto, valor-matéria.

 

VALOR-MATÉRIA E MORAL

Já vimos a diferença entre o assassinato do elefante e formiga. No mais, o direito moral trata da perda de certa propriedade (roubo) ou de certa materialidade (dinheiro, vida-corpo etc.).

 

VALOR-MATÉRIA E TOTALIDADE

Isso afastaria um tanto, como solução, o marxismo de sua necessária metafísica do valor – tão rejeitada pelos próprios marxistas, contra Marx. Um ponto de apoio seria que a empiria – econômica etc. – mostra-se impura, suja, concreta, impedindo a manifestação exata da lei do valor-matéria (no preço etc.). Tal visão, enfim, reconecta o mundo dos homens com o mundo natural. Marx nunca poderia, ou teria imensa dificuldade de, criar a teoria do valor-matéria, que, grosso modo, afirma que o valor deriva de maior materialidade relativa. Isso ocorre porque a ciência, a metafísica (a verdade está no todo), a física, a filosofia, a Dialética da natureza e a sociedade ainda não haviam atingido seus ápices, de origem comum, durante sua vida. Quando Marx diz que se pode virar e desvirar a mercadoria, mas nela não se encontrará nenhum átomo de valor; esquece que a matéria, representada no átomo etc., é o próprio valor.

A teoria do valor-matéria é a raiz de dois do marxismo. Como entender de fato o capitalismo, com o conceito central de valor econômico, sem entender o cosmos e o lado universal da valoração? Avança-se imensamente, mas até certo ponto. Darwin refinou sua teoria por 10 anos na esperança de evitar acusações e polêmicas – mas o escândalo foi geral e inevitável. Aqui, apresento algo primeiro, a ser desenvolvido para além do modo de ensaio.

 

ASPECTOS QUANTITATIVOS

Demonstramos que massa, tamanho e quantidade estão relacionados no qualitativo, no seu valor. E damos também a prova qualitativa do valor-matéria. Vejamos agora a tabela periódica e sua relação, tendencial, por aproximação, entre peso atômico e preço:




(Elementos químicos por preços de mercado, 2018)

 

É visível tendência. Veja-se que, para direita e para baixo, os elementos mais pesados tendem a ter preços maiores. Certos desvios parciais dão-se por questões conjunturais, além de desvios como certo nível de monopolização (ou propriedade). Outros, por estruturais: o hidrogênio só há na realidade associado quimicamente, mesmo que com outro exemplar de si. Além do mais, o contexto material importa: a formação do Sol, por disputas gravitacionais, tendeu a atrair elementos mais leves, que escaparam das formações planetárias em curso, deixando um tanto mais de elementos pesados de maneira relativa. Os elementos ainda mais pesados sequer preço claro possuem de tão raros e caros, de tão materiais e de tanto trabalho exigidos.

A raridade e, por isso, a materialidade, determina também limites de presença nos elementos químicos. Nessa indústria de base, todos os produtos mais avançados na linha de produção devem responder aos preços das mercadorias ou elementos de base, mesmo que por mediações.

Pelo valor-trabalho, mesmo que seja o central, a explicação de tal precificação fica incompleta e recheada de jogos teóricos. Se só o valor-trabalho atuasse, os preços tenderiam a se igualar por mais investimento, visto o lucro alto, maior controle estatal dos preços e, também, por, dada a raridade, substituição por materiais de similar propriedade e, claro, máquinas moderníssimas com altíssima produtividade barateadora. Isso deformaria tudo, fazendo um caos sem padrão. Mas não acontece, não e nem de longe no nível esperado. A coisa se explica pela “renda da terra”, ou seja, a materialidade, suas propriedades, seu contexto e sua raridade, base do trabalho maior na sua produção ou extração. Pode-se usar o argumento do monopólio, e seu preço, mais comum no setor, mas ele, quando de fato há, é, antes, consequência, não causa! O valor-matéria, no lugar de negar, afirma e aprofunda o valor-trabalho, além de conectar melhor este com a a lei da oferta-demanda.

A ideia de energia como massa combina com a ideia de valor como matéria. A ideia da mente e do cérebro (corpo) como o mesmo, contra o dualismo – também. Eis a unificação do mundo natural com o mundo social, uma das formas de. Claro, existe apenas uma ciência universal e completa, a ciência da história. É o valor-história – no fundo do fundo.

No preço da terra; fertilidade, queda d’água e ser próxima da cidade aumentam seu “valor”. Eis o valor-matéria; mas, além disso, em unidade, eles são sinais claros de economia trabalho, logo, valor-trabalho no significado amplo – positivo e negativo – expresso por nós no capítulo anterior, na generalização do valor-trabalho de Marx a qual operamos. No socialismo, a economia de trabalho será a base clara da percepção de valor, de valoração, como afirmam Lukács e outros marxistas.

 

VALOR-MATÉRIA: UNIDADE DO MUNDO

Vale uma comparação histórica. Platão teve de dividir o mundo em dois opostos e separados: o mundo das ideias ou formas e o mundo da aparência ou material. Depois, em oposição, Aristóteles – ainda idealista, mas com toque materialista evidente – defendeu um só mundo, aqui, onde está a própria substância, a essência, o conteúdo, a forma etc. Marx dividiu economia em dois: mundo do valor de uso e mundo do valor. Agora, unifico ambos os mundos no valor-material. Um crítico de Marx afirmou que ele dividiu um conceito, valor (econômico), em dois, valor de uso e (valor de troca); o pai do socialismo científico responde para si, em manuscrito, que isso é um absurdo – haveria mesmo os dois, opostos, em unidade e contradição na coisa. Mas eis que há grau de acerto no crítico vulgar!

Segundo ponto. Marx inspira-se em Kant, pois este separou a coisa (mercadoria! Valor de uso!) da coisa em si (valor). Se tiramos todas as propriedades sensíveis da coisa (que aparecem aos enganadores sentidos, segundo o kantismo), há por detrás uma coisa em si impossível de apreender, de conhecer. Marx refuta-o de modo parcial: se tiramos todas as propriedades da mercadoria, resta, sim, uma coisa em si, uma gelatina abstrata de trabalho! É possível deduzir, sim, a coisa em si abstrata e oculta! Pois bem; Hegel refuta tal dualismo: a coisa em si sem suas propriedades nada é, um vazio que é vazio – a coisa é, ela mesma, a própria coisa em si! Mais: as propriedades são matérias ou materiais. Assim fazemos aqui, Hegel contra Kant: o valor de uso é o próprio valor, são um – não dois de fato. O fetiche, por exemplo, é um falso, mas um fato também; aponta para a verdade. A duplicação dos mundos chega ao fim, finalmente. Ou isso ou, também, o valor é propriedade de uma quarta dimensão espacial.

 

HEGEL, MARX, OURO, QUÍMICA E MEDIDA

Na sua Lógica, na seção sobre medida; Hegel inspira-se na química para igualar dois “algos” diversos (átomos, compostos etc.) – depois: para igualar um “algo” a vários, diversos, “algos” – depois: haver preferência por um “algo” ligar-se apenas com alguns “algos” específicos; chamado “afinidade eletiva”. Isso em Hegel é lógico, sem movimento, sem tempo; ao contrário, para mim e para Marx – isso evolve, evolui assim. Pois bem; como dissemos, Hegel inspira-se de modo radicalmente direto na química, de onde tira o conceito de  “afinidade eletiva”. Marx usa tal método, temporalmente, na história, até chegar ao dinheiro, ou seja, o “algo” pelo qual todas as mercadorias, outros “algos” têm preferência, têm afinidade. Ora; o que é, por excelência, o dinheiro? – ouro e prata! E ouro e prata – são o quê? São química, matérias, ou seja, valor-matéria! Marx estava mais perto da química do que imaginava. Tanto lógica quanto materialmente! Tanto abstrato quanto concreto!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TRÍADE UNA DO VALOR

 

Na dialética, nada é – tudo está. Um conceito diz-se de muitas formas – uma só classificação e significado dá lugar aos muitos. Isso é superar o limite da mera e pobre definição. Desdobramos a categoria acima de seu simples e unitário definir.

Feita a exposição metodológica, vejamos nossa teoria. O valor diz-se de muitos modos. Portanto, a busca de teoria geral deve considerar isso, elevar-se. O conceito geral e abstrato, valor, tem conceitos gerais e abstratos, mais e mas abaixo, seguintes:

 

1.      Bom

2.      Belo

3.      Bem

 

Eis os eixos unificados, separado a apenas na teoria, do valor. Nossa exposição é, aqui, esquemática para facilitar a apreensão, mas tudo ocorre de modo misturado e sob hierarquia do “bem”. Podemos observar, então, que cada fator corresponde a um aspecto:

 

1.      Bom – trabalho

2.      Belo – natural

3.      Bem – matéria, materialidade

 

Indo mais ao fundo:

 

1.      Bom – Ser social

2.      Belo – Ser biológico, orgânico

3.      Bem – Ser inorgânico

 

A aliteração que, em nossa língua, surge dos três fatores é uma boa coincidência. Repetimos que eles são ou estão misturados, não separados por uma parede, sob o bem – matéria – inorgânico. Diz-se que o consumidor capitalista procura o “bom, bonito e barato”, sendo que este último, descobrimos, demonstra o valor-matéria.

O belo como, em primeiro e mesmo se mediado, ter base natural e na biologia nos lembra que um animal venenoso parece um animal venenoso. Um ambiente sombrio parece um ambiente sombrio.

Vejamos o caso de um carro caríssimo e belo. Nada diz, na aparência, que beleza e valor-preço estão associados, juntos. No entanto, estão na empiria! Por quê? Por que os carros mais belos são mais caros? Um carro popular poderia ser mais belo de modo fácil e natural? Veja-se que o carro caro e mais belo exigiu mais trabalho para fazer algo mais raro, que os sentidos percebem como especial. Bem, Belo e Bom estão unidos, desde suas fontes.

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A OBJETIVIDADE NATURAL DA BELEZA

A arte não necessita ser agradável, mas, por derivação, a beleza é um tema importante – o belo é objetivo ou subjetivo? Está na realidade ou nos olhos de quem vê? Em primeiro lugar, beleza está na própria coisa, portanto, natural em si (tanto natural para a percepção do externo quanto no próprio externo); trata-se da beleza no geral, no universal, pois o lado animal do homem e suas percepções capta a beleza do mundo, desde sua vida prática para com animais e situações (o sombrio na arte tem, remete a, traços do sombrio na vida real). Mas, por outro lado, a beleza é algo humano no sentido histórico, determinada historicamente, socialmente; porém, sendo a beleza no particular, não nega de todo a beleza geral, natural, antes pode mediá-la ou deformá-la. Por último, temos a beleza no singular, no individual, que responde à própria formação pessoal e da psique, algo único – este medeia e, ao mesmo tempo, é mediado pelos outros dois. Assim, as polêmicas sobre o caráter do belo, dentro e fora da arte, são resolvidos, percebendo os próprios “níveis” que se misturam, um sendo a base do outro. Tenta-se refutar, por exemplo, a beleza natural geral, com o fato de existirem pessoas com gostos exóticos; por outro lado, tenta-se refutar a instância da beleza individual com a constatação de consensos gerais sobre se algo é belo, apontando para o objetivo ou, ao menos, o intersubjetivo. Os pontos de vista opostos acertam e erram ao mesmo tempo, são incompletos e sem mediações.

 

EXTRA: O LIMITE NO ACERTO DE LUKÁCS

Sou, além de trostskista ou kurziano etc., um lukacsiano. Mas o conjunto de minha obra refuta parte importante de sua produção e, outra parte, suprassume, supera o ainda mantido. Entre outros tantos erros, Lukács pensou a valoração como, em primeiro, algo subjetivo, ideal, ideologia. Com a generalização do valor-trabalho e a descoberta do valor-matéria, podemos ver com facilidade seu erro e seu limite em seus manuscritos finais. O valor da coisa está na própria coisa, pois é ela mesma. Algo, portanto, objetivo, no mundo, factual - material e materialista, antes de idealista. Muitas vezes, apenas de modo inconsciente sabe-se do valor, ou seja, sabe-se o valor na consciência, para fins práticos, mas não se sabe a sua causa (um inconsciente ao mesmo tempo pessoal e social) – algo a ser desvendado pela teoria. A matéria é a medida da matéria, dela mesma, repetimos: a matéria é a medida de todas as coisas! Spinosa pensou a existência de uma só substância, mas ele perde a mediação: os atributos são formados por variadas substâncias, não apenas uma spinozista - estas, por sua vez, são, no fundo, a mesma substância, apenas um agora, em quantidades diferentes, o que gera qualidades (substâncias) diferentes, pois meras mudanças de quantidade geram mudanças de qualidade - tal substância única e essencial, a matéria, dilui-se em espaço, causa da infinitude na quarta dimensão, que é a própria matéria decaída. Espaço é matéria, são um sendo dois. No fim, o movimento é a queda da coisa em si mesma (orbita a si mesma), na quarta dimensão espacial – casa do infinito, da energia, do valor, do movimentar, ou seja, um abismo para dentro de si. Lukács, um mestre para todo o resto da história da humanidade, sequer chegou perto dessas considerações. Além disso, valor-matéria significa considerar, além da materialidade, as propriedades e o contexto (totalidade) inevitável e mutante.

Aqui, fundimos o valor como valor-história (e diacrônico) com o valor como valor-estrutura (e sincrônico), a matéria e o tempo-movimento. Dissemos em outro momento que o diacrônico cristaliza-se no sincrônico, que a história forma, cristaliza-se na, sua estrutura; o valor-trabalho, portanto, cristaliza-se no valor-matéria (matéria, propriedades, contexto). O valor-trabalho generalizado, para além da produção de capital, é, grosso modo, valor quantitativo (tempo, movimento); por outro lado, o valor-matéria é, grosso modo, valor qualitativo (coisa, propriedade); mas é claro que a coisa toda se mistura no concreto e um passa para seu oposto. A unidade de ambos é espaço-tempo ou, em nossa identidade de espaço e matéria, matéria-tempo, matéria-movimento. A realidade, a verdade, é diassincrônica. Vemos que é impossível negar Marx; o caminho correto é, portanto, desenvolver e aprofundar suas contribuições até o ponto em que adquiram feições novas e completas.

 

PARADOXOS

Nossa teoria geral do valor, os fundidos teoria do valor-trabalho geral e valor-matéria, resolve inúmeros problemas e oferece a teoria de base materialista, não subjetiva como em Lukács, para a questão da valorização em todas as áreas – além disso, explica com rapidez dois paradoxos marxistas, o valor da terra (aparentemente sem) e o valor do dinheiro (aparentemente) sem lastro e sem valor. Mas há dois paradoxos ainda: 1) do valor minguante com o desenvolmento técnico, 2) a transformação dos valores em preços de produção. Um especializado no último pode revolver por meio de nossa indicações, mas já apresentamos um caminho resultado.

Com máquina mais moderna, mais produtiva, o valor da mercadoria cai – não sobe. Mas nós dizemos que economia de trabalho gera, também, valor; isso não impede, por outro lado, o capital de ser unilateral em tal assunto. Mais eis que vemos a parte e o ente, a mercadoria individual, não o todo – o conjunto do produzido. Máquinas novas são mais produtivas que o tanto de trabalhadores por elas demitidos. Além disso, exige-se mais matéria-prima. A quantidade de mercadorias dá um salto, então, o intensivo se torna mais extensivo. A mercadoria individual tem menos valor consigo, porém o conjunto da fábrica e das mercadorias expelidas têm mais valor, não menos – e mais matéria, valor-matéria.

A questão segunda é que, no cálculo, o valor geral deve estar de acordo, no quantitativo, com o preço de produção geral – iguais. Mas o cálculo não bate (apenas acerta no modo simplificado como Marx tratou, ou seja, com o capital constante, as coisas produtivas, valendo pelo seu valor, não pelo preço de produção guiado pela taxa média de lucro). O assunto é difícil de explicar e detalhado, mas o leitor terá noção – não desista. Com a dificuldade; matemática, filosofia e ciência foram ampliados para tentar explicar o paradoxo, resolver o problema do problema; mas tiveram algo de manobra, de jogo; não por menos, já que os economistas burgueses fizeram de tal dificuldade matemática a acusação de que a teoria marxista estava errada no todo e nas partes.

Piero Sraffa inclui no cálculo a quantidade de coisas, capital constante, na produção, na medida do preço de produção – o que indica nossa teoria do valor-matéria. Além do mais, o setor I da economia, que inclui produzir matéria-prima, tira da natureza o que não tem em si valor (renda da terra, preço sem valor), então, mais uma vez o valor-matéria entra em questão no cálculo.

Mas há ainda uma resposta. Marx usou uma taxa geral de lucro para calcular, mas apenas o aplicou no setor II, produção de meios de consumo. Ora, o aumento de lucro no setor I, em geral vem com aumento do preço, da taxa de lucro, e até mesmo possivelmente do (mais-) valor – e exato isso gera uma tensão no setor II, que compra dele, ou seja, máquinas e matérias-primas mais caras geram tensões, redução da produção, falências e crises no setor I! Assim, o setor II reduz o consumo, por exemplo, a compra de mercadorias do setor I. Assim, empresários do setor II passam a investir no setor I, mais lucrativo (ou o empresário de máquinas passa a investir em matérias-primas, e vice-versa). Assim, enfim!, o setor II, mais dinâmico, mais afastado da natureza, regula a taxa de lucro do setor I – para que a taxa de lucro do setor II continue normal, na sua média, fazendo os preços de produção seus estarem de acordo com os valores ao final de todo o processo produtivo global – e até se tornem igual aos seus valores. A taxa de lucro de um, setor II, regula a taxa de lucro do outro, setor I (embora haja certa reciprocidade externa). Isso é ver a coisa em movimento, para além de tabelas estáticas. O paradoxo teórico é um paradoxo real, na concretude, que se movimenta e se revolve só para depois se reestabelecer como contradição movente. Lógica concreta: eis a unidade interna lutando para ser externa na diversidade externa. Já pensei que o lucro extra da diferença entre lucro e mais-valia seria destinado a outros setores da economia, outros investimentos, como pelo fato de o comerciante receber a mercadoria abaixo de seu valor real (portanto, possivelmente também abaixo de seu preço de produção), mas isso ainda tem traços bastante subjetivos.

 

EXEMPLO: VALOR E RENDA DA TERRA

Solo rico, queda d´água e estar perto da cidade – aumento do valor, o preço, da terra virgem. Solo pobre, sem queda d´´agua e longe da cidade – queda do valor, o preço, da terra virgem. Mas o primeiro caso economiza trabalho! Mas o segundo caso exige mais trabalho! Eis a unidade das tuas teorias do valor (generalizado, completo), que são uma, que no externo passam uma para a outra, e vice-versa.

 

FAZEM, MAS NÃO SABEM

A frase acima é de Marx, famosa – base de uma teoria do inconsciente social. Comparamos trabalho com trabalho ao compararmos mercadoria com mercadoria. Grosso modo; a razão dos valores “sabe-se sem saber”, por isso, sem saber a fonte, medimos, compramos. Praticamos o valor-trabalho e o valor matéria, mas não sabermos.

 

CRISE DO VALOR, DOS VALORES

O destaque maior, na teoria e na prática, ao valor-matéria nessa fase do capitalismo, o que facilitará sua teorização, deriva de uma sociedade à beira do socialismo, onde a qualidade importa mais que a quantidade, aonde há redução tendencial do trabalho manual e da criação do valor, crise do valor econômico e demais valores – arte e moral em destaque. Há uma crise geral do valor. Seu lastro, claro, está na economia, na produção, no trabalho da atual fase. A crise do valor econômico, base central da crise dos valores, também é, apresenta-se como, crise das medidas, de medida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEÇÃO TRÊS

TESES SOBRE QUESTÕES ABERTAS NAS CIÊNCIAS NATURAIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS QUESTÕES ABERTAS NA FÍSICA MODERNA

 

Nada é maravilhoso demais para ser verdade.

Michael Faraday

 

Em sua Dialética da natureza, Engels apenas levanta várias questões ainda não resolvidas pela ciência. Muitos pontos foram resolvidos, mas a ciência moderna trouxe novos enigmas. Aqui, iremos um tanto mais longe, pois apresentaremos uma proposta de resolução das lacunas teóricas. A base é nossa equação qualitativa antes exposta resumida em matéria como espaço concentrado. Uma proposta teórica no geral correta deve apresentar soluções para quase todas as lacunas da ciência.

Vejamos as conclusões de pesquisa que se tornaram premissas na exposição. Nossos postulados são:

1)      espaço = matéria, matéria é espaço concentrado, espaço é matéria decaída;

Deve-se levar em conta que espaço, energia, matéria e luz foram a mesma coisa no passado distante, na origem. E ainda são o mesmo, mas de modo oculto aos cientistas, ou seja, de modo mediado. Daí a esquiva do espaço como matéria. O unitário se diversifica permanecendo ainda unidade no fundo. Diversidade externa com unidade, até identidade, interna.

2) o espaço, contínuo-discreto, organiza-se como linhas de espaço (tese não central, se os campos como linhas não foram diretamente espaço);

3) a equação QUALITATIVA geral é “movimento = energia = tempo = espaço = matéria” ( = massa = luz[16] = campo).

4) a matéria não apenas curva o tecido do espaço, mas é também o próprio tecido espacial curvado, para dentro, para dentro de si, concentrado na forma particular.

5) o meio-termo de matéria e espaço é a luz. O Espaço torna-se luz, esta torna-se matéria. Toda matéria é formada por – concentração de – fótons e/ou, talvez, neutrinos.

 

1.  Efeito Casimir

Comecemos por uma questão apenas na aparência resolvida, que reforçará na empiria nossa tese. O experimento é este: põe-se duas placas especiais próximas dentro de uma caixa a vácuo. Ocorre que tais placas aproximam-se, revelando uma pressão maior do lado de fora delas, forçando rumo ao encontro de ambas. Seria a prova de uma energia de ponto zero! Partículas virtuais surgem e deixam de surgir do “nada”! Mas o vácuo não exclui o espaço e, teorizamos, espaço é energia – logo flutuações do espaço faz ele se concentrar produzindo as tais partículas. Eis a prova de que espaço é matéria e energia (e luz etc.).

Veja-se o autolimite posta pelos físicos e seus filósofos ao focarem na diferença entre espaço e todo o resto no lugar de ver sua unidade, e identidade de fundo, real:

 

Notamos já que na relatividade geral o próprio espaço-tempo tem massa-energia. Mas a massa-energia é o aspecto básico característico da matéria, tal como a entendemos habitualmente. Se até a distinção entre a matéria e o próprio espaço-tempo é problemática, podemos ainda falar de “relações entre coisas materiais” em oposição ao “próprio espaço-tempo”? (Sklar, 2020, p. 60)

 

Há consequências totais de nossa reinterpretação de um experimento. Bohm critica a aleatoriedade da física quântica afirmando que existe um nível ainda mais abaixo, fundamental, subquântico; são, para ele, as variáveis ocultas da causalidade oculta na probabilidade. Neste reino, haveria uma substância e suas entidades, partículas etc. Mas há um grande problema: um nível micro tem um nível ainda mais abaixo, que tem outro mais abaixo, que tem outro etc. – ao infinito, má infinitude. Aqui, para nós, o nível mais fundamental é o espaço, talvez com partículas espaciais (a matéria escura como espaço discreto, particular etc.). Assim, concluímos, flutuações do meio, do espaço, afetam as partículas fundamentais. Um grande problema teórico aparece como com solução óbvia apenas depois de resolvido.

Reforcemos nossas teses com outro fenômeno. Se, sob investigação, para melhor estudá-la, desacelera-se cada vez mais a velocidade uma partícula de elétron, o que ocorre? Ela cada vez mais espalha-se, expande-se, torna-se menos condensada, torna-se menos pontual – ou seja, tende a dissolver-se em espaço, por ser o espaço condensado, para dentro de si, sem romper de todo com este. Matéria é igual ao espaço.

Terceiro fenômeno. Um pósitron (antielétron), positivo, e um elétron, negativo, iguais mas opostos, encontram-se por atração de cargas opostas e tornam-se fóton de alta energia. Pois bem; tal partícula de luz, fóton, pode tornar-se outras partículas do Modelo Padrão de partículas fundamentais, uma espécie de tabela periódica. Como faz isso? Sugando energia ao sugar partículas viruais ou de espaço. É a visão aprticular: basta, para ver melhor, que a partícula suga espaço para si, por ser atrativo, por ser espaço condensado, concetrado, para dento de si. O problema de como e se a partícula dobra o espaço é resolvido com a solução de que a partícula é o próprio espaço dobrado, para dentro, concentrado.

 

2.  Positivo e negativo nas partículas (química)

A ciência da natureza, em geral, foca no como, o caminho mais fácil, e esquece de saber o motivo. O que é positivo ou negativo? Não sabemos, sequer fazemos a pergunta. Na verdade ocorre algo do tipo: algo inteiro, nem negativo nem positivo em si, decai em pedaços, inteiros por si mesmos, que são também partes. O nêutron decai em dois, próton e elétron; um desliza para dentro do outro porque são, no fundo e na origem, apenas um, um algo de fato completo. Assim, são opostos no externo, mas atraem-se porque são o mesmo e semelhantes no interno. Isso vale para vários tipos de decaimento, de opostos que já foram juntos e um, como o elétron e o antineutrino, além dos famosos elétron com próton.

Por que, então, dois prótons se repelem? Ou por que o elétron não cai no próton? Parecem duas perguntas, mas têm o mesmo princípio e resposta. O senso comum pensa o campo como certa camada protetora, o que os cientistas negam; mas o próton é mais do que sua parte “visível”, pois tem um “campo próximo” e, portanto, uma fronteira, um limite. Dois prótons se repelem porque são excessos, desencaixe um relativo ao outro; o mesmo para dois elétrons. Um elétron e um antielétron, pósitron, atraem-se porque são antes, ontologicamente, o mesmo, como se pedaços inteiros de um inteiro. Também assim, o elétron não cai naturalmente no próton porque ambos, sendo pedaços, são ainda inteiros por si, com fronteira própria.

Na química e na física, o próton é tomado como carga +1 e o elétron, -1. Como que dois objetos tão diferentes têm exato a mesma carga com sinais opostos? Que sorte do próton! (a única resposta decente, nesse caso, seria que o próton e o elétron são o mesmo, iguais, só que um é mais partícula que espaço-campo e o outro, ao contrário, mais espaço-campo do que partícula – daí as cargas iguais). Em verdade, tal matematização apenas expressa a aparência, enquanto pomos a essência de tal fenômeno.

Isso nos leva à próxima questão.

 

3.  A matéria e a antimatéria no início do universo

A física atual postula que o decaimento do universo em sua expansão original deveria formar a mesma quantidade de matéria e antimatéria, logo elas se atrairiam mutualmente, aniquilando-se em forma energia, de luz – mas isso não aconteceu, pois temos ainda a matéria comum no nosso universo, bariônica. Por quê? Uma resposta é que o universo se contrai e se expande para sempre sem cair nesse estágio inicial. Os físicos tratam de afirmar como evidente que não existiu tal “explosão” ou que há uma pequena diferença, até hoje não encontrada, entre os opostos. Outra resolução, propomos, é que de fato houve mesmo o grande encontro de matéria e antimatéria, destruindo ambos, e a energia resultante disso decaiu rapidamente em espaço, este expandindo-se salvando um pequena parte da matéria e, talvez e longe, da antimatéria do universo.

Se nossa ideia de que luz, sendo espaço condensado, concentra-se em matéria está certa, então, houve de fato tal encontro de opostos, matéria e anti, que rendeu luz, raios gamas, decaíram ou colapsaram em ondas de luz energéticas. O encontro aleatório de luzes, de “fótons”, pode ter sido destrutiva em sua maioria, encontro de ondas em vale e pico de onda (espaço?), mas o encontro de algumas ondas de luz eventualmente formou, formaram, partículas, encontro de vários vales ou vários picos de onda, poucas delas, ou seja, matéria bariônica rara, como acontece em nosso universo (apenas 3% do que existe são partículas comuns). Isso explica até a assimetria aparente, desigualdade, da distribuição de matéria no universo.

 

4.  O segredo da matéria escura e da energia escura.

A gravidade extra nas partes mais distantes da galáxia não corresponde com a massa-matéria existente, logo há alguma matéria transparente, invisível, criando a gravidade extra encontrada, uma espécie de cola. Como resolver tal quebra-cabeça? Matéria é espaço condensado, logo matéria escura é uma forma leve de matéria, de espaço (o que está de acordo com a tese semelhante de Marcelo Gleiser[17]). Segunda hipótese, talvez – ou também –, por a matéria ser espaço concentrado para dentro de si, a matéria bariônica e/ou os buracos negros sugam para si mesmos uma parte do espaço, esticando-o, tornando-o tenso, logo com mais energia, logo com gravidade extra.

E a energia escura? O universo está se expandindo, o que sugere uma energia escura, transparente, de repulsão. Se formos logicistas: matéria é energia e espaço; logo energia e matéria escuras são o mesmo, além de opostos, este decaindo naquele. A matéria (escura) e a luz do universo decaem em espaço (energia escura), o que expande o cosmos. Talvez outras causas incluem como o contrair dos universos vizinhos, por ação de seus buracos negros, esticando o nosso.

Pode ser que a diferença de matéria escura e energia escura é que um seja espaço contínuo e o outro como espaço discreto, granulado.

A matéria escura, extra, entre galáxias pode ocorrer porque os buracos negros e a matéria sugam e esticam parte do espaço, gerando nele tensão, logo energia, logo gravidade.

É possível observar também, de modo matemático, se os buracos negros servem de trituradores da matéria, produzindo espaço, que tem velocidade de escape o bastante, ao menos não nos grandes buracos negros[18], o que exigiria adaptação de nossa formulação universal aqui, como o fato de por isso produzir matéria escura que decai em energia escura (espaço).[19]

Neste capítulo, demonstramos a resposta sistemática e, então, uma hipótese isolada. Vejamos. A órbita dos planetas em torno Sol não é circular, mas em elipse, ou seja, há dois centros elípticos (de gravidade, formal), um deles aonde há o grande astro; minha hipótese inicial é que o outro ponto central é, também, uma “sombra”, assim nomeio por efeito da quarta dimensão espaço-material em três dimensões, e o próprio Sol tem dimensão quarta já que é espaço concentrado; assim, isso, mesmo se equivocado, serve de pista para o espaço, a luz e a matéria produzirem a gravidade extra da matéria escura, e talvez da energia escura, por ser expressão de partes de si em outra dimensão oculta, a quarta, apenas indiretamente observável.

 

5.  Entrelaçamento quântico

Descobriu-se, primeiro no cálculo e depois na empiria, que dois fótons que juntos surgem e são separados estão “ligados” mesmo se distantes um do outro, ou seja, se medirmos um aqui e descobrimos que ele está com o spin para cima, logo o outro ali estará com o spin para baixo (antes, ambos estavam no estado de sobreposição, nem para cima nem para baixo em exato). O assunto irritava Einstein, então ele supôs que a teoria quântica estava incompleta. Ora, basta aceitar, de modo materialista, que eles estão de fato em uma “ação fantasmagórica à distância”, instantânea, pois estão ligados por um fio de espaço, por um fio de linha de campo comum.

 

6.  Enigma da fenda dupla

Imaginemos uma placa com duas fendas, duas entradas; se um elétron ou fóton passa por um, logo não deveria passar por outro, agindo como uma partícula que de fato é. Mas, ao passar, vez por vez, várias partículas, elas batem na última placa e forma um padrão de onda, não de partícula! No lugar de baterem em apenas dois lugares, por serem duas fendas, elas batem em vários, como se ondas fossem ainda sendo particular! Às vezes, os físicos se apaixonam demais pela magia de seus mistérios no lugar de resolvê-los. Talvez, algumas partículas não rompam totalmente, apenas de modo relativo, com o espaço ao redor; ou, ao menos, eles têm um “campo próximo” que se afeta pela outra fenda (a partícula passar por uma fenda, mas sofre interferência como se passasse pelas duas).

A segunda fenda pode afetar a linha de espaço. Mas a coisa pode ficar melhor: o anteparo final, no qual bate sempre uma partícula e não uma onda (apesar do padrão ondulatório que forma), pode ser como certo medidor com fótons, ou seja, pode colapsar a onda em partícula por efeitos atômicos, ou quânticos, ou subquânticos – ao final!

A partícula apenas é no seu contexto, é o seu contexto – um com o seu meio ambiente. Contra o reducionismo, ver-se o todo. Assim ainda, sejamos mais concretos, ou seja, mais abstratos. A partícula pode produzir ondas de espaço, resistência espacial ao movimento (a causa deve ser igual ao efeito, mas o espaço é levíssimo, produzindo um meio ondula ímpar, incluso passando pela outra fenda). Mais: a partícula, o caso do elétron, sendo feito de fótons (nossa hipótese), libera fótons; atirar um elétron faz atirar fótons por consequência, que passam pelas duas fendas (que alteram, incluso, o meio ambiente e o espaço, produzem ondas de espaço e mais que isso). Capturar fótons para medir os experimentos a) altera o meio ambiente por si (aparelho etc.), 2) quebra as ondas, 3) reduz o efeito dos fótons. Nossa concussão é oposta. O anormal, por isso, não é a fenda dupla; ao contrário, apenas uma fenda aberta uniletariza o fenômeno e o objeto particular.

 

7.  Salto quântico

Um elétron “orbitando” o núcleo está aqui e desaparece, reaparecendo quase ao mesmo tempo ali, em ouro ponto. Como ele saltou, como desparecer e reaparecer “longe” e não percorrer um caminho até o outro local? A posição do elétron depende de si (nível de energia), do núcleo e do seu contexto. Pense-se no lençol esticado; pois bem; ele, sendo o espaço, é concentrado um pouco num canto por uma mão, formando um pequeno “morro”, nossa partícula; se, então, fazemos outro “morro” em outro canto do lençol, aquele primeiro se desfaz, pois houve novo esticamento. Assim, o elétron desaparece aqui e reaparece ali. Outras formas de dizer isso, são estes: 1) o elétron decai, colapsa, em espaço que se reconcentra em outro ponto segundo seu contexto; ou 2) o elétron desaba em neutrinos “emaranhados” (ou, ou também,  neutrinos e antineutrinos que se atraem) que se reconcentram em outro local, reformando o elétron mais uma vez. Esse caso serve para o exemplo da passagem do elétron por uma chapa fotográfica, deixando marcas não contínuas, discretas e afastadas umas das outras, de gotículas de prata (repetimos: decaindo ou decaindo em neutrinos-antineutrinos “emaranhados” que se atraem). Para o positivismo, apenas descreve-se que a coisa desaparece aqui e aparece depois ali, sem mais, sem caminho para, sem continuidade. Outra hipótese é que o elétron se torna energia pura, sem uma de suas formas, na quarta dimensão, então retorna, mas isso me parece nem sequer indiretamente verificável, além de improvável também. Outra afirmação, que se sustenta, junta às demais inclusive, afirma que o espaço são linhas, enquanto as partículas são pontas, saliências, de tais linhas, linhas concentradas; por isso, a partícula desaparece aqui, torna-se mais parte da linha, decai em apenas linha, e reaparece ali, a tensão direcionada gera, produz, nova concentração, nova onda ou, ou seja, condensação da corda. Enfim, uma tese centrada: o elétron é feito de ondas de luz que se anulam, cristas com vales, logo desaparece, depois se separam de modo desigual, logo o elétron reaparece). Torna-se, assim, espaço e, pela tensão e direção, forma-se nova ponta-onda, partícula (à semelhança do comportamento de expansão da onda de som na atmosfera, aqui é corda-espaço concentrado, concentra e por isso expande etc.). A ideia da realidade como particular ou ondulatória torna-se superada, a oposição unilateral é superada.

Dois comentários ainda devem ser feitos. Em quatro dimensões (espaciais), vemos em três dimensões algo desaparecer aqui e (re)aparecer ali, do “nada”. Ora, isso faz o salto quântico (e outros fenômenos, como demonstraremos). Mas não é comum ver no meso e no macro. Sobre o onda-partícula, a ideia de “ondas de matéria” demonstra que a posição de onda ou de partícula estão unilaterais, mas mal fundidas nessa expressão conceitual – a matéria é (talvez linha de, talvez) espaço condensado.

8.  A escassez de buracos negros intermediários

Ainda não encontramos buracos negros de tamanho intermediário nem sequer na quantidade esperada; eis o mistério. Ao que parece, tais entidades cósmicas são produtivas, sugam matéria e… espaço. Por isso, são maiores do que deveriam ser se passivas ou semipassivas.[20]

 

9.  Unificação de campos

Para a teoria quântica de campos, cada partícula é a “ponta”, a expressão de um campo específico e amplo. No real, todos os campos são um porque são apenas o espaço, já que cada partícula é espaço condensado, ou o campo é a forma mais leve do próprio espaço, mas um tanto condensado. É, antes, a partícula que faz o campo; não o campo, a partícula – a união faz a força. O fato de ela ser espaço condensado, ser algo com “peso”, a gravidade em nível superior (força forte etc.), forma o campo correspondente ou o campo próximo.

 

2.      As dimensões

A teoria das cordas diz que as partículas são, na verdade, cordas de uma só dimensão, unidimensionais, que vibram cada qual de modo diferente e são de formas diferentes. Até o momento, provou-se impossível comprová-la. Tal hipótese trabalhava com 11 dimensões, agora reduzidas para 6. Para nós, há quatro, incluso uma espacial oculta, que se manifesta como tempo. A fita de moebius tem apenas um lado, mas parece ter dois quando vista por apenas um pedaço dela. Algo semelhante temos na garrafa de Klein, com seu dentro-fora unitário. Penso que as três dimensões são também, assim, há apenas uma dimensão, o infinito, o todo, que por isso é dimensão nenhuma, mas tem quatro dimensões quando visto por seus pedaços, suas partes.

 

3.           Dualidade onda-partícula

A física dividiu-se por séculos entre aqueles que diziam a luz ser partícula ou, ao contrário, onda. A dialética pede a substituição possível do “isto ou aquilo” por “isto e aquilo” em inúmeros casos. Se houvesse uma boa formação filosófica, os cientistas teriam ao menos levado em conta a hipótese de que ambas as posições acertam e erram ao mesmo tempo, bem antes do século XX. Luz não é apenas onda “e” partícula, mas propriamente uma sobreposição dos dois estados opostos – o dialético em ato! Mantendo nossa posição de que, em resumo da fórmula, tudo é espaço, ainda que concentrado, a parte ondular das partículas ocorre porque elas não rompem totalmente com sua base, o ambiente primeiro, o espaço, mas flui assim mesmo por ele, nele, sendo ele. Talvez exista “resistência” e “atrito” do espaço, gerando instabilidade e ondulação.

Assim, as verdades primeiras são: é-se 1) partícula; 2) onda, 3) onda-partícula, 4) partícula com propriedades de onda, 5) onda com propriedades de partícula. Adicionamos: nem onda nem partícula, pois, não só por ser ora um e ora outro, mas por ser espaço condensado, concentrado (provavelmente: sem romper com sua base, o espaço) – o que permite propriedades aparentemente contraditórias, num um terceiro, uma terceira resposta de fato. Assim: tese – partícula; antítese – onda; síntese – espaço autoconcentrado, que explica as propriedades duplas. A onda vai-se para a partícula, cada vez mais partícula (em dialética diacrônica: x vai-se para não-x em A) – raios gama são muito mais partícula do que raios X, a luz ultravioleta é mais partícula que a infra vermelha (eis uma origem de partículas logo após o encontro destrutivo de matéria e antimatéria no início do universo, sob novas circunstâncias); mas há também outro modo de terceira resposta, o “nem um, nem outro”, unilaterais, mas a constituição do não espaço como o próprio espaço condensado, com as propriedades opostas, agora complementares.

Mais uma dentre as hipóteses. Se o espaço for como linhas de espaço, então uma partícula é como quando balançamos uma corda presa numa das pontas, formando uma ondulação que avança, que se movimenta, algo que toda criança faz ao brincar. Um fóton, por exemplo, expande-se assim, no e sendo o espaço acentuado, concentrado, em movimento, em vibração. Superamos a teoria das cordas assim! A teoria das cordas exige cordas pequenas, particulares, de uma só dimensão, num universo de 11 dimensões. Agora, superando essa ideia ainda atomista, individualista e corpuscular, temos uma teoria de tudo nova, completa – ao que parece, correta.

Temos duas posições opostas centrais:  a majoritária – ao lançarmos um fóton, para medir a partícula, a onda colapsa em partícula; a de Einstein – a partícula medida já era partícula antes, não onda que colapsa. A ideia de “onda de matéria” De Broglie é um passo que permite outro passo, novo: a partícula já é onda 1) seja porque partícula é espaço concentrado, linha de espaço ondulando; 2) seja porque a matéria é feita de ondas de luz. Assim, no nível quântico é, em principal, partícula; mas onda no nível subquântico. Entendimento: ou partícula ou onda. Dialética negativa: colapsa num, apenas um, onda de matéria. Dialética positiva, positivamente dialético: a partícula é, no subterrâneo, onda.

 

12.            Excesso de raios cósmicos

Sabe-se que a maior parte dos raios cósmicos que encontramos no espaço interplanetário não vem do Sol. De onde viriam? Uma parte pode ter origem nas flutuações do espaço, produzindo tal matéria-luz.

Minha primeira hipótese foi não-sistemática: uma partícula ou onda (de espaço?) viaja acima da velocidade da luz, gerando luz, fótons, raios cósmicos. Uma onda que viaja acima da velocidade permitida por seu meio, produz ondas, luz etc. Um objeto acima da velocidade do som produz som, ondas sonoras.

 

13.            Spin do elétron

O spin do elétron é uma “rotação” muitas vezes maior que o permitida pelas leis da física. Na falta de explicação, os físicos dizem “é assim mesmo, um mundo diferente” e ponto, e pronto. Isso não ajuda, apenas esconde uma ignorância. Como demonstramos em nossa equação qualitativa, movimento = energia = tempo = etc. Assim, o que medimos como apenas movimento de rotação é na verdade mistura com seus diferentes, outros de si, que são também idênticos, iguais. Outra explicação força antecipar assunto: nossa hipótese, o elétron é feito de luz, fótons, e/ou neutrinos, logo, a “rotação” acima do normal deriva da mistura de ação dos elementos fundamentais dentro do elétron.

 

14.            A origem do movimento

O movimento é, sempre foi e será. Mas qual a sua causa primeira? A matéria e a luz caem na quarta dimensão espacial, no infinito, como a si mesmas (o infinito não cabe dentro do universo finito, por isso se manifesta como tempo, sendo a quarta dimensão espacial). É possível, também, que o vazio infinito cai sempre em si próprio e, sob tensão, desabe no “´átomo prrimordial”, dando origem ao primeiro Big Bang.

O paradoxo de Zenão é resolvido assim: a flecha percorre o espaço-tempo porque ela é o próprio espaço-tempo em Movimento – está e não está parada; pousada sobre si, move-se, cai-se.

 

15.            Multiverso no tempo e no espaço

Retomemos o assunto acima: há o multiverso no tempo, com o nosso universo crescendo e, depois, reduzindo de modo cíclico, para crescer novamente; e o multiverso no espaço, com vários universos separados. Mas podemos fundir no universo no espaço-tempo. Porque o universo se expande? Uma das causas, além das internas, é que outros universos estão contraindo, sugando espaço em alto nível por fusão de seus buracos negros, que sugam o tecido espacial (ainda que lentamente). O problema de os universos separados no espaço não serem empiricamente observável está resolvido porque eles interagem por meio do espaço único deles, caso existam.

Deriva-se, então, outra hipótese. Se 1) todo o destino do universo está determinado desde o Big Bang e se 2) o universo contrai-se e expande-se ciclicamente – então o mesmo universo, exatamente igual, surge e ressurge, repetindo tudo num “eterno retorno”; temos, neste caso, a “reencarnação”, pois reapareceremos no próximo universo fazendo sempre o mesmo. Mas se há processo, além de circular, pode ser que o próximo início, do próximo universo, tenha pequenas variações de começo que mudam todo o destino, as condições iniciais determinam as condições finais. Eis uma questão em aberto, mas que aterroriza o pensamento, logo o meio científico evita tais tipos de questões.

Quanto ao tempo no espaço, espaço-tempo, tempo ser espaço: por que o infinito não pode revelar-se diretamente no finito universo, não nele cabe, logo ele se manifesta como tempo, como fenômeno temporal, indiretamente.

O nosso universo tem fim e é finito nas três dimensões mais o tempo – mas infinito na quarta dimensão. Assim, como no planeta, ir por demais ao leste te leva ao oeste, embora apareça como mágica ou salto numa mente comum capaz de fazer tal viagem cósmica. No mais, existe um centro inicial do universo verificável, pois o argumento de que todo ponto do universo é o centro não se sustenta de todo (apenas no sentido de que tudo estava concentrado, entes de espalhar-se); portanto, possível dizer, mais ou menos, por aproximação, a priori, qual o centro do universo, que tem, nas três dimensões, “borda”.

 

16.            As quatro forças unificadas

Em minha filosofia, temos a tríade, algo hegeliano, e o colateral, nossa atualização, algo que está ao mesmo tempo dentro e fora. Isso parece se confirmar com a unificação das três forças fundamentais (a nuclear forte, a nuclear fraca e a eletromagnética) sem conseguir incluir a gravidade, a quarta. Mas isso é logica, não ciência concreta. Ao que me parece, por tudo ser espaço concentrado para dentro de si chegamos à unificação das quatro “forças”, que não são, na verdade, força alguma (a união faz a força). Assim, a força nuclear forte é a mesma da gravidade, pois é o núcleo atômico concentrado, para dentro de si, caindo em si próprio, mantendo-se unido. A força repulsiva nuclear fraca deriva pela mesma causa, com efeitos opostos, pois a gravidade é também espaço condensado, para dentro de si, na coisa, o que causa repulsão das partes no núcleo, por exemplo.

 

17.A unidade do próton

O próton, partícula do núcleo do átomo, é formada por três partículas, os quarks, que, diferentes e opostos, dois para um, se atraem e se repelem. O que mantém sua unidade na sua força forte é o glúon, certa partícula mediadora que transita entre elas. Isso vale também para o nêutron, um pouco mais pesado. Se operamos uma força enorme para arrancar um quark, este ato dá energia, força, tensão, ao material unido, permitindo criar do “nada” (espaço!) outra partícula, pois elas só existem em três, juntas, um sistema orgânico. O ato de arrancar dá condições, como algo elástico esticado, de criar. Ora, se tudo é espaço condensado, talvez tais pequenas entidades estejam ainda por “dentro” do espaço, logo esticar uma delas para que saia do conjunto, dá energia-espaço ao próprio espaço, fazendo brotar dele nova parceira (espaço condensado).

Esta hipótese, além de outras, quebra o ortodoxismo, mas isso não significa que a versão ortodoxa, não esta, está incorreta (o espaço concentrado serve de “cola”). Um novo paradigma muda a forma de ver o mundo, de interpretar os fenômenos físicos, caso, por exemplo, do Efeito Casimir logo acima. Ademais, muitas conclusões aparentemente provadas pela empiria terão de ser revistas, se outro modo de visão surgir. Partículas efêmeras, de pouca duração, surgem simplesmente porque é possível suas existências, sem necessariamente significar que há um campo específico subjacente, caso do Bóson de Higgs, já que todos os campos tornam-se um, o espaço, e é a partícula quem faz seu campo próximo, não o inverso. A matéria torna-se massa, a substância cria seu próprio acidente a partir de si mesmo como matéria-prima, sem a necessidade de campo específico ou da brevíssima “partícula de Deus”, talvez pelo limite imposto pelo espaço “vazio” e “sem” atrito (a metáfora de andar mais lentamente na água é usada para explicar o campo que dá massa, mas pode ser reduzida ao espaço também). Mas é claro que rirão de um marxista metendo a colher naquilo que não domina… Afirmar que o gigantesco colisor de partículas – templo do empirismo e do reducionismo – de pouco serviu também não ajuda. Logo, devemos ter paciência sobre a intromissão, necessária mesmo com seus deslizes, da filosofia no mundo científico.

Diz-se que o campo permeia o espaço; era, se o espaço é algo, logo nada pode permeá-lo, estar com ele, nele em si; a matéria (e luz), por exemplo, existe “ao lado” do espaço, sendo, por isso, espaço concentrado, condensado. Uma consideração lógica como essa já demonstra a inconsistência da teoria de campos. A hipótese dos muitos campos apenas se sustentam, no máximo, como propriedades do próprio espaço, ele mesmo. Temos, em principal, espaço, possivelmente linhas de espaço-campo (ainda que se revelem espaço condensado). As partículas, portanto, fazem seu campo próximo, como acidentes do espaço, este condensando. Assim, as quatro forças são todas espaço condensado, atraindo e repelindo ao mesmo tempo, ou seja, são campos, um só campo na verdade, como o campo gravitacional, sendo, no fundo, este

 

18. Tunelamento quântico

Na memória de computador SSD, faz-se um elétron “atravessar” um isolante ao ser atraído para o lado de dentro positivo do material, isolado – como ele atravessa? É como se uma bola de futebol atravessasse uma parede grossa sem destruí-la. Uma partícula alfa, núcleo de um hélio, dois prótons e dois nêutrons, logo radiação, sai de dentro de um núcleo atómico pesado e instável, mas isso exigiria muito mais energia do que a disponível para ir-se, para ir além da força forte – como ele atravessa? O elétron ao ser atraído, ao ser puxado, força o isolante inatravessável – mas isso faz o elétron desmanchar-se talvez em onda, mas principalmente em espaço, pois energia é espaço, desse modo a barreira não é barreira alguma, pois tudo é feito basicamente de espaço vazio com alguns ponto atômico ligados (o campo próximo do núcleo, do núcleo, que atrai e repulsa ao mesmo tempo, é o próprio espaço, espaço condensado, além de talvez dar a energia extra necessária por repulsão). “Por meio de” e “através de” são o mesmo nesse nível, nesse caso – por meio e através do espaço, do meio. Vejamos outra conclusão, igualmente derivada de nossa filosofia: a “parede” se torna, na outra ponta, a própria “bola” "nova", e a “bola” torna-se “parede”. Do próprio campo próximo surge, sob pressão externa ou interna o elemento que quer transitar, que desaparece aqui e reaparece ali, por mediação. A metáfora da parede e da bola esconde que a ambas são o mesmo, espaço condensado, não apenas qualitativamente diferentes e de modo algum incomunicáveis; a “parede” torna-se  “bola” “nova” e a “bola” torna-se a “parede”.

Podemos aprofundar. Na quarta dimensão, podemos entrar dentro de uma esfera sem passar por suas camadas externas, por sua borda etc.; do ponto de vista de três dimensões espaciais, parece que algo desapareceu aqui e reapareceu ali, por salto. Assim, o salto cidado para dentro da “caixa” do SSD do compudador, o elétron saltar (desparecer e reaparecer) camadas no átomo e o elétrón em movimento desparecer e reaparecer logo à frente – tais exemplos demonstram que há uma quarta dimensão espacial, que é visto como tempo no aspecto macro, quando algo desloca-se desparecendo aqui e reaparecendo ali.

 

19.Causa da velocidade da luz – e da massa

A velocidade da luz no vácuo é constante, além de máxima possível. Mas por quê? Ninguém responde, sequer a pergunta é comum. Diz-se que é assim, apenas. Talvez o espaço vazio, por dentro do qual a luz-energia flui, sendo ele, seja o atrito necessário, o limitante. Tal resposta, claro, é insuficiente, mas já é um começo.

A luz teria velocidade infinita não fosse o espaço, não fosse criação do próprio espaço (linha de espaço concetrado, cujas propriedades limitam). A luz não tem, portanto massa, além da chamada relativística, sendo a o mais veloz, porque simplesmente é pouca, pequena, breve. As outras partículas ditas mediadoras têm massa já que são, grosso modo, maiores, ou seja, mais espaço concentrado, condensado, relacionando-se com o próprio espaço como se com um outro (de si), como barreira e limite. Eis a inércia. Eis porque correm abaixo da velocidade da luz. Não preciamos de um campo de Higgs, aparentemente provado, pois o espaço é o próprio “campo” viscoso. Reforçamos: dois objetos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo, logo, nenhum campo pode permear o espaço; a matéria (com massa) existe porque, ontologicamente e não no tempo, é espaço condensado, e fica, portanto, nos “poros” do espaço. Assim como o ar oferece resistência, tanto mais aos objetos maiores e mais massivos, também o espaço. Tais objetos, logo, também oferecem resistência à mudança por si e em relação ao espaço, sem necessidade de campos.

 

20. Princípio da incerteza

 Cumpre notar o princípio, talvez transitório, da incerteza de Heisenberg, que afirma: quanto com mais precisão medimos uma propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo, um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o tempo etc.

Vejamos uma tentativa, uma pista, para salvação da física. Se tudo = tudo; se energia, tempo, espaço, movimento, matéria etc. são todas iguais e mudáveis uns nos outros, logo podemos saber indiretamente, com algum grau de precisão a medida de uma propriedade por meio da medida e da alteração da sua oposta ou “lateral”.

Além disso, tal princípio, embora possa ser superado, revela nossa hipótese de que o espaço é como linhas, então a matéria é como pontas dessas linhas, ondas, como linha concentradas para dentro de si. Em um livro de mecânica quântica para universitários, encontramos o autor falar de cordas, de linhas, e ondas, mas apenas de modo metafísico, como se! Na exposição do princípio da incerteza, diz, embora não desconfie que sua metáfora tenha valor real, ontológico:

 

Imagine que você está segurando a ponta de uma corda muito longa e produz uma onda ao chacoalhá-la para cima e para baixo ritmicamente. Se alguém perguntar “onde precisamente está a onda?” você vai achar que a pessoa é meio louca: a onda não está precisamente em lugar nenhum. Ela está distribuída por 45 m ou mais. Mas se essa pessoa perguntar qual o cumprimento de onda, você poderia dar uma resposta razoável. Algo em torno de 7 m. por outro lado, se você der um safanão na corda, terá um impulso relativamente estreito passando pela corda. (Griffiths)

 

Enfim, espaço é matéria que decaiu – e matéria é espaço concentrado. Talvez, o espaço contínuo visto de modo amplo, tenha modo de linhas de espaço visto em específico. O “em lugar nenhum”, na verdade, trata-se do próprio lugar, o espaço!

 

21. O que é a gravidade

Como gambiarra teórica, Newton afirmou que a gravidade era uma força, força atrativa. Depois, Einstein demonstrou que ela é uma curvatura do tecido espaço-tempo, não uma força. Usa-se a metáfora do tecido real que se dobra diante da massa-peso de uma esfera. Tal visão é útil, facilita a compreensão, mas leva também ao erro. Dela, deveria-se deduzir que o planeta está “mergulhado” no tecido espaço-tempo ao seu redor, por todos os cantos – veja bem: isso significa que a massa-energia atrai o próprio espaço-tempo, ou seja, voltamos ao conceito de força! Como resolver isso? O problema se explica porque cada átomo do planeta ou estrela não apenas curva o espaço-tempo, mas é o próprio espaço tempo curvado, para dentro de si, na forma de partícula, o que deforma, ao concentrar, o tecido em sua volta. Se isso está correto, conseguiu-se o mais difícil, aparentemente improvável até aqui: ir além do próprio Einstein, após ir além de Newton. Um adendo: as pesquisas atuais dizem de exoplanetas, planetas em outros sistemas solares, que não possuem a gravidade esperada para seus perfis (!), não se diferenciando tanto da Terra, por exemplo, apesar da variação de massa – isso pode ser uma pista de nossa nova teoria, hipótese na verdade, da gravidade, que não apenas nega, mas guarda e ao mesmo tempo supera a de Einstein. Caso, um hipotético tipo de resposta e solução, as partículas do núcleo do planeta não sejam tão pesadas, menos espaço concentrado, afeta a gravitação de tais partículas e corpos gerais.

Façamos uma recapitulação breve de algumas ideias para fazer a dedução devida. Vimos: 1) espaço é matéria, espaço-matéria; 2) tudo, partículas, é espaço condensado; 3) as partículas atraem as outras por serem espaço condensado; 4) as partículas repelem as outras por serem também espaço condensado, formando um campo de espaço próximo; 5) assim, todas as “forças” são a mesma força, a gravidade. Isso significa que a constrangedora semelhança desses dois cálculos clássicos, da gravidade e da carga, no macro e no micro, na verdade é uma consciência real, expõe uma igualdade real, a mesmidade. Vejamos:

 

 

Ora, isso é a teoria de tudo! Façamos apenas dois comentários, adendos possíveis. Um: o campo elétrico e magnético são curvos se vistos de modo amplo porque o espaço é curvo perto da partícula, porque esta é espaço condensado – logo gravidade, mesmo que sob outra forma (as linha da campo são espaço, mesmo se condensado). Dois: para nós, o espaço é contínuo, não discreto; mas talvez ele tenha a forma de linha de campo, assim, por exemplo, discreto num rumo, como da esquerda para direita, dividindo espaço com outras linhas de campo espacial ao lado e colado, mas contínuo em outros sentidos e direções, exato por ser linha[21] (a esperança é que isso seja uma pista para o problema quântico de por que a partícula prefere o desvio para direita, direção do movimento “hiperleve” da linha de campo, linha de espaço, ainda que condensado, além do emaranhamento quântico já citado e proposto – temos, assim, duas possíveis evidências indiretas de linhas espaciais; grosso modo, a terceira pode ser a fenda dupla, pois não há de todo e de fato partícula, e sim uma linha de espaço com “ponta”, que é afetada pela segunda fenda, ondulando-se, partícula-onda, nem partícula nem onda).[22] Daí semelhanças “apenas” matemáticas curiosas como m.a = |q|.E , isto é, massa vezes a aceleração (ou, também, gravidade, m.g) é igual à carga vezes o campo. O campo acelera, a massa é a carga – e o que mais possa ser deduzido.

 

22. Orbitação do elétron

A teoria planetária do átomo põe o próton no centro com elétrons particulares orbitando o pesado núcleo. Demonstramos que isso é mais do que metáfora, na gravidade como “força” única ou curvatura do espaço, mas a física quântica diz não saber de fato o que o corre e substitui pelo abstrato e não real em si “nuvem de probabilidade” de um elétron estar aqui ou ali. Mantendo em pé a visão planetária da partícula elétron; podemos supor, em filosofia experimental, que a nuvem é de fato uma “nuvem” com o elétron colapsando em campo próximo (e/ou onda circular-esférica – na camada certa), em movimento, desigualmente distribuído e quase espaço; assim, ele engloba o núcleo e, se afetado por um fóton, colapsa-se em – retorna à forma de – partícula por brevíssimo momento. O eléttron não cai no núcleo, por atração, porque ele colapsa para fora de si, não para dentro em forma de partícula, ou seja, envolve como um “campo” e envelopa o núcleo atômico. Se um fóton o acerta, ele colapsa em partícula acima, elevada, para depois retornar ao seu estado nuclear como “campo” a envolver. Enfim: o elétron não perde energia em seu momento-movimento porque, grosso modo, ele não se movimenta!

 

23. Quantificação (quantum) – e espaço

A energia ou o fóton existe de modo quantificado, expresso em números inteiros (1, 2, 3…). Por quê? Não se sabe. Mas a matéria ser espaço e linhas de espaço poderia explicar? O capítulo sobre “Modos”, das Lições de física de Feynman, dá-nos a pista: “[em ondas confinadas] … uma corda tem a propriedade que ela pode ter movimentos senoidais, mas apenas em certas frequências.” (Destaque meu e do original.) Algo semelhante ocorrem nas linhas espaciais, embora isso deva ser melhor quantificado e qualificado.

Vejamos por outro ângulo, que é o mesmo. As relações de quantização são por números inteiros (1, 2, 3, 4…) por causa do fato oculto de que são discretos feitos de… discretos. Cada “coisa” agrega em si certa quantidade de “um” concreto, portanto, trata-se de um “muitos” (assim como 2 é feito de dois 1, uns). As coisas são feitas de partículas fundamentais, sejam neutrinos ou fótons, ou ambos (no máximo, ou seja, no mínimo, partículas de espaço). Um fóton discreto de medida 2 pode muito bem ser feito de dois fótons unidos; assim, 3, 4.... O composto feito de simples.  

 

24. O que é massa

A matéria é espaço concentrado – matéria é concentração de elementos mais simples (elétron é feito de luz, quark é feito de elétron etc. – por isso cada tipo de elétron tem seu tipo de neutrino, este provavelmente compõe aquele). A massa é uma propriedade da matéria, mas a matéria também é sua própria massa. Como a partícula é espaço concentrado (não por exato, em si, matéria), o fio – linha – de espaço é mais “gordo” em certo ponto, afastando ao redor de si as demais linhas de espaço (que também, por isso, resistem mais ao movimento daquele). Daí a resistência à mudança, daí ter massa etc. O fóton, por ser linha de espaço condensado, também tem massa, mas irrisória, sendo massa o próprio espaço concentrado. O fóton tem menos massa porque, sendo menos concentrado, luta menos com o meio, com o espaço, com as linhas de espaço ao redor (por isso, não há campo de higgs, por isso supostamente o fóton não interage com tal suposto campo). A mesma atmosfera que causa resistência ao voo do pássaro permite que ele voe; no nosso caso, pássaro e ar são, no fundo, um.

Por algum tempo, perguntei-me porque espaço concentrado. Parecia um paradoxo: se espaço concentra-se, logo, há poros nele, vazios, ou seja, um espaço do espaço, dentro do espaço… Não faz sentido. Difícil mesmo considerando uma quarta dimensão. A solução da charada: a concentração é, ou muito mais é, extensiva que intensiva, um ponto concretado, um aglomerado de espaço num fio espacial, ao lado e dentro de tantos outros fios (daí a resistência espacial ao movimento e sua constância). Além disso, as partículas maiores podem ser feitas de partículas menores, como elétrons de neutrinos e/ou fótons. A átomo único universo do início de tudo continua sendo átomo único, o cosmos, mas muito mais rico dentro de si, mantendo sua autounidade por linhas espaciais. Assim, a matéria formou espaço, decai neste-nele.

Sem atrito forte, meso e macro, não há porque parar, estacionar. À pergunta da causa do movimento pelos antigos, os modernos respondem: e por que não? O que deveria ser explicado é o repouso. Sem atrito, ondular-tensionar uma corda pode ter um resultado de onda permanente, constante.

 

25.A teoria de tudo

Vemos uma teoria de tudo. Em resumo, tudo é espaço condensado, para dentro de si – o que não significa que este é sempre o primeiro no tempo, embora seja primeiro por sua simplicidade. Temos a igualdade e identidade na diferença de tudo: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= massa = luz = campo). Exigirá um trabalho específico para quantificar tal equação qualitativa (testaremos algo em seguida). Tudo é espaço-matéria (e luz), tudo = tudo. Conseguimos, assim, colocar a gravidade, a relatividade, no micro, fundindo com o macro, pois tudo é espaço concentrado. Temos a teoria unificada de campos, pois o campo único unificado é, na verdade, apenas o espaço.

Vejamos uma prova da relatividade, que massa é igual à energia. Quando um átomo decai, libera partícula mais leve, com menor massa, do que a esperada ao mesmo tempo em que sua velocidade, ou seja, sua energia, aumenta. Provou-se Einstein. Mas por que isso ocorre? Podemos suprassumir, não superar, a teoria einsteana. A massa, como propriedade da matéria (como a matéria sendo sua própria propriedade), decai em espaço ou linhas de espaço-campo; logo, tal linha ganha “espaço”, “aumenta”, o que faz com que a velocidade aumente também naquele ponto de espaço condensado, agora menos condensado – a massa, assim, menos pode resistir ao movimento. Tudo é espaço, ainda que condensado. Por outro lado: o espaço (abstrato) deriva das partículas primordiais (concreto) que decaíram e decaem (movimento) - o abstrato é o concreto em processo.

Nossa hipótese natural de que tudo é espaço condensado, logo podendo ser linhas de espaço, pode ser nomeado, para fins populares, teoria das hipercordas e a teoria M – pois unifica criticamente as demais. O espaço é correntes, como a teoria quântica em loop, mas não é; as partículas são cordas, como diz a teoria das cordas, mas não é, pois as cordas-partículas, nem partículas nem ondas, são pontas de cordas de espaço.

Ao que parece, se não for um absurdo a formulação, que deriva os 25 pontos acima, conseguimos unificar as soluções e os fenômenos do micro e do macro. Uma teoria de tudo. A dificuldade é se tratar de um caminho feito de modo filosófico, não matemático, por um físico amador. Se está correta, a crise da física, crise esta quase nunca reconhecida pelos seus profissionais, está resolvida no geral. Temos em torno de 100 anos de questões misteriosas pedindo solução, mas sem respostas. Confiou-se no “sucesso” da mera descrição e do uso prático apenas. O defeito era, em parte, confiar em demasia nos dados empíricos, nas aparências, limitando-se a eles e, em parte, a baixa formação dialética dos cientistas.

Deixamos, no entanto algumas questões auxiliares em aberto. Ei-las:

1)      O espaço é contínuo? Ou linhas de espaço discretas-contínuas?

2)      As linhas de espaço seriam não espaço, mas campos próprios?

O fato, antes inesperado, de os físicos experimentais formarem entrelaçamento quântico entre partículas não de mesma natureza, de natureza diferentes, serve como evidência de que são linhas de espaço, não de campo específico.

3)      Como explicar o paradoxo do gato de Schrödinger?

4)      Apenas buracos negros grandes o bastante sugam espaço, tensionando o tecido? Os menores produzem espaço-matéria escura, que decai em espaço-energia escura?

5)      As partículas rompem com o tecido ou linha espacial ou são parte direta dela, apenas relativamente autônomas?

Uma dose de medição, empiria e especialização alta, incluso matemática avançada, serão exigidos para provar, ao menos no geral, nossas premissas e conclusões. A ideia geral, a igualdade de espaço e matéria-luz – aquele sendo este diluído, este sendo aquele concentrado –, resiste em pé, correta, mesmo que leve a conclusões diferentes, até opostas.

Vejamos um caso, uma pista. Hawking teorizou que os buracos negros “suavam”, ou seja, evaporavam por causa de efeitos quânticos perto do seu horizonte de eventos. Tal radiação seria térmica. Mas, então, nessa forma, a informação seria perdida, algo proibido por princípios da física quântica. Então cientistas pensaram, para resolver tal contradição, que tal radiação seria como “pelos” do buraco negro. Ora, tais “pelos” podem ser pista de que o buraco negro acumula espaço ou campo em forma de linhas, seja absorvendo espaço, seja liberando-o para o meio externo, ou seja, evaporando, produzindo espaço como matéria escura que decai em energia escura, o espaço propriamente dito.

Vejamos outro caso. Filamentos externos aos buracos negros, em espacial ao de nosso centro de galáxia, podem ser a pista para fios de espaço ou campo, que estão a sair ou a entrar em relação à estrela negra – algo a ser analisado por hiperespecialistas. Mas nosso foco é outro. Vejamos. No seu Lições de Física, Feynman destaca no capitulo 32 (amortecimento da radiação. Espalhamento da luz), as seguinte citações, a primeira com certa mensagem inconsciente: “Em uma resistência comum, a energia “perdida” vira calor; nesse acaso a energia perdida vai para o espaço.” Mas as duas citações seguintes são mais interessantes, pois demonstram um problema inconcluso na ciência: “Contra qual força realizamos trabalho [no elétron isolado]? Essa é uma questão interessante e muito difícil que nunca foi respondida completa e satisfatoriamente para elétrons…” Se ainda soa confuso, oferecemos uma citação completa e esclarecedora:

 

O problema no caso de um único elétron é que se existe apenas uma carga, no que a força irá agir? Foi proposto, na velha teoria clássica, que a carga era uma pequena bola, e que uma parte da carga agia na outra parte. Por causa do atraso na ação através do minúsculo elétron, a força não está exatamente em fase com o movimento. Isto é, se temos o elétron parado, sabemos que “ação igual à reação”. Portanto, as várias forças internas são iguais e não existe uma força resultante. Mas se os elétrons estão acelerando, então por causa do atraso no tempo através dele, a força que está agindo na frente devido à parte de trás não é exatamente a mesma que a força atrás devido à frente, por causa do atraso no efeito. Esse atraso no tempo causa uma falta de balanço, portanto, como efeito resultante, a coisa se segura por si só! Esse modelo para a origem da resistência para acelerar, a resistência de radiação de uma carga em movimento, tem encontrado muitas dificuldades, pois nossa visão atual do elétron é que ele não é uma “pequena bola”; esse problema nunca foi resolvido. Entretanto podemos calcular exatamente, é claro, o que força da resistência de radiação precisa ser quando aceleramos uma carga, apesar de não saber diretamente o mecanismo de como as forças funcionam.

 

A questão toda é a seguinte: os físicos tomam a partícula como partícula – de todo isolada, independente, tal como o homem moderno e contemporâneo na aparência. A solução é ver a partícula como ponta, como parte do espaço e com ele interligado. Daí a resistência. Resolvemos ou encaminhamos a solução de todos os problemas centrais e interessantes da física atual; resta ver se problemas como o motivo de ocorrer uma breve luz azul quando o açúcar é partido (Triboluminescência) podem ser também solucionados.

A matéria escura não interage com a luz porque ela é espaço, ainda que concentrado. E, em nossa tese, espaço é transparente porque é o meio por onde flui a própria luz (sendo luz e matéria espaço condensado). Temos duas hipóteses opostas, mas que podem ser ambas verdadeiras: 1) o buraco negro, os menores em especial, produz espaço, que tem velocidade acima da luz, logo vaza da estrela negra, o que aparece como excesso de espaço, matéria escura (mas matéria é igual a espaço, em nosso sistema); 2) os buracos negros, oposto, em especial os maiores, sugam o tecido do espaço, gerando nele tensão, logo, energia, logo, gravidade, o que aparece como matéria escura.

Nossa teoria, espaço = matéria, como as demais, tentam unificar o micro e o macro. Mas uma das diferenças e vantagens da nossa posição é que, de fato, respondemos também os principais mistérios da cosmologia, da astrofísica, não apenas do quântico.

 

SIMPLES, COMPLEXO E COSMOS: UMA HIPÓTESE QUASE ARBITRÁRIA

Vai-se do simples ao complexo e este pode, então, ir simplificando-se em seguida. É algo fácil de ver hoje e deduzir. No começo, o cosmos era simpíssimo, homogêneo e hipermicro que decaiu-se em partículas. Mas, do ponto de vista quântico, pode-se ver outro caminho: o espaço (o mais simples) concentra-se no elemento menos energético mais simples do Modelo Padrão (a Tabela Periódica de elementos do mundo subatômico); depois, a união dos exemplares de tal elemento hipersimples, acima do espaço, gera o elemento um pouco mais “pesado”, mais energético, mais material com novas propriedades. Mas diz-se que tais elementos (elétrons, neutrinos, fótons etc.) seriam elementares, indivisíveis (já demonstramos que decaem em espaço); de qualquer modo, um elétron que perde energia libera um antineutrino, por exemplo. Não tenho nenhuma prova empírica, sequer indireta, de tal hipótese – logo ela talvez possa ser abandonada sem mais (mas um aviso: há o fenômeno de um fóton energético, por ex., no lugar de voltar a ser elétron e antielétron, acumular supostas “partículas de espaço” e ir, progressivamente, tornando-se, de modo instável e momentâneo, materiais cada vez mais pesados e alguns ditos elementares). A teoria do Big Bang – cujo precursor é a relação uno-múltiplo de Hegel em sua Lógica – continua imbatível e recheada de provas. Uma muito mais hipotética unidade de ambos – teoria e hipótese – seria o fenômeno hipotetizado logo após o encontro da matéria e antimatéria no início de tudo, encontro que teria gerado o colapso em forma de energia (raios gama). (Ironia: seríamos, no fundo do fundo, luz, tal como dizem os jovens místicos de classe média… De certa forma, por linhas de espaço e onda de luz, tudo é vibração…) Diz-se que a luz em seu estado mais “pesado” encontraria um suposto limite em sua transformação, ou seja, dali não passa… Mas, penso, sob certas circunstâncias, contextos, tal eletromagnetismo, tal onda, torna-se mais partícula mais que apenas onda. O sinal entre ser partícula e ser onda inverte-se. Assim, se a hipótese está correta, como dedução de prova indireta, o elétron lança e absorve fótons porque, no íntimo, ele é feito de fótons – de luz! Talvez aí haja uma interpretação de fundo da unidade do eletromagnetismo com a luz. O composto (ou o mais elevando)  é formado pelos simples e o simples, como o fóton, apresenta-se como o mais abstrato e o mais abundante. Se o elétron é feito de luz (mais acima, de neutrinos e antineutrinos)[23], então os quarks são feitos de elétrons (de modo indireto, portanto, de luz[24]) já que podem decair e lançar este último em seu decaimento. É-se, em final instância, aquilo em que se decai.

Se falarmos em provas, diretas e indiretas, façamos duas listas.

 

Provas ontológicas (empíricas):

1.      Elétrons absorvem e expelem fótons – o que indica ser aqueles feitos destes

2.      Nada impede em si que, em certos contextos, raios gamas tornem-se mais partículas

3.      Fótons energizados podem tornar-se outros materiais

4.      Ao que parece, a coisa é feita, no fundo, pelo que libera ou decai-se

 

Provas gnosiológicas:

1.      Vai-se do simples ao complexo

2.      O mais elevado tem o menos elevado dentro de si, forma-o

3.      O mais simples, geral e abstrato costuma ser a fonte, quando “aglutinado”, dos demais

4.      A proposta é a única teoria completa e unificada (como o espaço-matéria)

5.      A nova qualidade externa vem da mera mudança de quantidade interna

 

Usou-se da generalização dedutiva.

Pensava-se que a Tabela Periódica, das partículas atômicas, era um tapete, apenas um elemento ao lado do outro, sem progressão, fusão ou desenvolvimento. Hoje, sabe-se o oposto. Agora, proponho o mesmo, grosso modo, para o Modelo Padrão, das partículas subatômicas.

Temos a santíssima trindade material: espaço, matéria e luz. Assim, o espaço é matéria por meio da luz. Matéria é luz concentrada; do elemento simples (luz) ao complexo por fusão. 

Na dialética, o mediador, a mediação, não tem conteúdo próprio, um nada em si; seu conteúdo é o conteúdo apenas dos opostos dos quais ele é a mediação. Então, do ponto de vista lógico, a luz é em si um conteúdo interno dos elétrons, por exemplo, sendo o fóton (ou fóton virtual) o bóson mediador de dois elétrons em relação recíproca, segundo hipótese da teoria quântica de campos.

Por um vício antididático, diz-se que o encontro de matéria e antimatéria, por exemplo, resulta em energia, em energia, não se diz que é em raios gamas, luz, fótons, ondas. Pois bem; nossa teoria de que o cosmos é “energia em busca de mais energia” seria traduzido, por mediação, como fóton (ou neutrino) em busca de mais de si, de mais fótons[25].

Quero deixar, então, um destaque. A força de repulsão do próton (entre dois) é, grosso modo, igual à força de repulsão do elétron (entre dois). Como objetos completamente diferentes são, nisso, iguais? Resposta: não são diferentes, são iguais, pois o próton é ou feito de elétrons e/ou feito do mesmo material do elétron (espaço, fótons ou neutrinos). Antes pensei que um é mais campo que partícula e o outro mais partícula que campo – mas isso não parece se sustentar. O conteúdo de fundo tem uma resposta melhor. Eis outra prova empírica.

 

EINSTEIN E O TEMPO ONTOLÓGICO

Adoto todas as conclusões e premissas de Einstein, menos a ideia de que o tempo é relativo, ou seja, que ele de fato existe. Tempo é espaço em movimento (t=s/v), e matéria é espaço concentrado; logo, o que existe é espaço-movimento. A premissa einsteana de que a velocidade da luz no vácuo é constante é verdadeira, podendo a constante mudar em outros tempos; mas a segunda premissa, de que as leis da física são iguais se parados ou em movimento constante cai em erro. Velocidade e aceleração são o mesmo, têm identidade interna (v=a.t); idealmente, a aceleração pode ser decomposta em velocidades instantâneas. Assim, o corpo diminui e a massa aumenta se aumenta a velocidade, mas o tempo é geral, abstrato e absoluto – expressão indireta da quarta dimensão espacial. Reforçamos: a coisa é apenas em seu movimento; se deixa de mover-se, deixa de existir, desmancha-se; logo, mais movimento, mais velocidade – mais preserva-se, mais é-se como por mais tempo. Se espaço e matéria são objetos de todo diferentes, apenas com relação externa, então o tempo existe; mas se espaço e matéria são o mesmo, no fundo, então um altera o outro e vice-versa, e o tempo é apenas medida. C.Q.P.

Reforço: exceção do tempo em si, toda teoria de Einstein é afirmada e reafirmada, ma(i)s aprofundada ao máximo, como a ideia de que a matéria é espaço concentrado, não apenas o curva.

 

UM CASO

Poucos dias antes deste texto, a análise da galáxia NGC 1277 demonstrou que ela não tinha matéria escura, ao menos não no esperado pelos modelos. Ora, na astronomia certa medida apressada foi, várias vezes, superada, o que encerrava polêmicas. Mas suporemos que não é o caso, de fato há escassez de matéria escura na galáxia. Só o meu modelo, grosso modo, pode explicar isso. Se matéria é espaço concentrado; se matéria, como buracos negros, concentram espaço e produzem, por isso, gravidade extra como matéria escura; tal concentração pode eventualmente transformar matéria escura, aparência de, em partículas como neutrinos, ou seja, em matéria comum bariônica (similar e análogo estranho da radiação Hawking). É uma das respostas possíveis desde o modelo novo. Deve-se, antes, ver as propriedades da galáxia em questão para saber se alguma particularidade seria base da diferença, da anormalidade – por exemplo, se é uma galáxia antiguíssima e isolada, poderia seu buraco negro central evaporado muito, consumido pouco, logo, menos espaço sugar para si, o que não produziria a aparência de matéria escura, por pressão menor? Fato é que tanto o modelo majoritário quanto as alternativas anteriores à apresentada aqui passam longe de responder a questão.

 

FIM DA CATEGORIA “FORÇA”

A categoria força chegou ao seu fim, mesmo por meio de suas partículas mediadoras. Vamos resumir o que dissemos acima de modo fragmentado.

1.      Sabe-se que gravidade não é força – e não há partícula gráviton

2.      A “força” nuclear forte, que mantém o núcleo atômico coeso, é espaço concentrado, gravidade, na forma de partículas (espaciais)

3.      A força nuclear fraca, de repulsão do núcleo, ocorre porque a força nuclear forte falha, tem limites, e o espaço concentrado, sendo atração, também é repulsão relativa – resultado da gravidade

4.      Elétrons e prótons, como espaços concentrados, são repulsivos com os iguais e atrativos com os opostos, pois eles são partes inteiras em si de algo inteiro e neutro (nêutron), por isso, encaixam-se os opostos, deslizam uns nos outros, mas não encaixam com os iguais – como espaço concentrado, atraem, mas, como pedaços inteiros por si, repelem relativamente os semelhantes – além disso, o elétron não cai dentro próton por este (e aquele) ser, por exato, espaço concentrado, logo, com barreira e limite relativos.

Aí está: unificamos a gravidade com as demais “forças”. Porque não são de fato forças naturais. A força mais fictícia, no caso, trata-se da nuclear fraca, mera consequência da forte. Isso torna duvidosas a função, a importância e a existência dos mediadores (bósons), ao menos nestes contextos.

Tal posição quebra a física atual, a de campos em destaque, e vai contra provas empíricas parciais. Não seria a primeira vez na história da ciência. Nenhuma teoria até agora, exceto a nossa, explica, ainda que não matematicamente, mas no qualitativo, tão ampla gama de questões, algumas sequer levantadas, como o fato de o elétron não cair no próton. Isso tem importância máxima. Os teóricos agem de modo viciado, quer seja, apresentam uma hipótese ou tese e, então, apresentam todas as suas provas e pistas empíricas que a validam – mas, de um modo ou outro, diminuem o papel daquilo que não cabe, que está por fora etc. Ao apoiarem uma teoria, deixa-se até de expor nos manuais os casos desencaixados (ou apresentam tautologias ou misturam fatos e hipóteses). A lei da gravitação estaria certa, apesar dos imensos pesares… A teoria quântica de campos, mesmo quando imensamente adaptada, necessita dos grávitons, que, ao que parece, não existem. Mas ignora-se isso em nome daquilo em que parece acertar, em que os fatos parecem fortalecer o modelo. Nossa teoria, ao contrário, responde todas as questões ou tem potencial, de fato, de responder qualquer lacuna. Temos, portanto, de atacar a teoria da moda e mais vitoriosa até o momento. A física teórica, no lugar de ver a simplicidade interna na conexão dos conceitos objetivos existentes, foi preenchendo a realidade com conceitos, “cores” etc. mal explicados; a coisa tornou-se uma bagunça e um enigma aparentemente impossível de desvendar. Tornou-se necessário um novo paradigma que simplificasse a visão total e unificasse o todo, macro e micro.

Neste ensaio, torna-se necessário dizer mais de uma vez: se minha teoria física – pois a metafísica já é estável e demonstrada correta – for confirmada no geral, mesmo se com todo tipo de inicial resistência, então a dialética entrará na moda intelectual; se, ao contrário, estiver tudo ou quase tudo errado, a dialética permanecerá marginal, até mesmo ainda mais marginalizada como se fosse algo inútil. Infelizmente, após 15 anos de pesquisa dedicada, cheguei a um esgotamento pessoal intelectual, o que me impede de aprofundar ainda mais na física. Diante disso, disponho mais teses gerais e iniciais para avaliação  jugando ser tal atitude arriscada melhor que o segredo das deduções entre meus esboços.

 

FORÇA DE NOSSA TEORIA

Nossa formulação, como teoria de tudo, é a melhor em termos de simplicidade (ontológica e gnosiológica, incluso menos conceitos) e por a quantidade enorme de fenômenos explicados (potencialmente todos). Tem-se, por exemplo, o problema: quase um terço da matéria esperada no universo não foi encontrada – aonde, então, está? Se espaço e matéria são o mesmo, no fundo, talvez pelo menos uma parte dela tenha se tornado espaço universal. Outro problema, já tratado: aonde estão os buracos negros intermediários, nem pequenos nem grandes, que derivam ser tão abundantes? Ora, eles, estrelas negras, sugam espaço, crescendo com rapidez. Uma onda reduz seu comprimento ao se aproximar de um corpo massivo por causa da gravidade, da curvatura maior do espaço e, logo, do fato de o próprio espaço estar mais concentrado.

 

O CALCANHAR DE AQUILES DA TEORIA DO BIG BANG

A teoria errada de Newton, mas ainda útil para fins práticos (matemáticos de nossa escala), obteve várias provas de sua validade, exceto algo ou outro fora da norma. Depois, descobrimos que as anormalidades apontavam para algo bastante novo, uma revolução (relatividade geral, uma refutação da física clássica). Bem; penso que não é o caso da teoria do Big Bang, ela está correta; mas também tem um nó pesado: era para surgir a mesma quantidade de matéria e antimatéria no universo – e era para elas, sendo opsostas, atraírem-se e aniquilarem-se mutualmente!

Os físicos erraram no raciocínio, penso. Deduziram idealmente, não desde a matéria, assim: 1) a matéria e a antimatéria deveriam ter se aniquilado de todo, 2) mas a matéria existe, nós existimos 3) logo, não houve o encontro de matéria e antimatéria! Quem disse? De fato, houve – eis minha aposta. Mas os teóricos abraçaram tais deduções artificiais como verdade sem mais e prontas, repetidas até a náusea, até ser parte do inconsciente acadêmico como premissa absoluta. Daí tentaram explicar o inexplicável, quer seja, como foi evitado o grande encontro energético. Procurou-se, por exemplo, alguma diferença entre matéria e antimatéria que justificasse existir apenas uma delas diante de nós e em nós – não encontramos. Refutação da teoria? um fosso? Não tão rápido. O que o pensamento formal, treinado na matemática, deixou de ver é que a luz, energia, surgida de tal encontro explosivo pode ter sido o material (junto ao espaço de fundo) para formação posterior, sob certas condições, das partículas elementares! Aí está! Os fótons de raios gama concentrados, associação e conflito, fizeram as novas partículas!

Outra lacuna oculta da teoria do Big Bang é como o espaço tem se expandido desde o começo. Só existia matéria! De onde vem mais-espaço, portanto? Ora, se matéria e luz são espaço (condensado), eles dacaem em espaço. Até se eles esfriam, ou seja, diminuem o movimento, ou seja, concentram-se menos, produzem novo espaço, talvez linhas de espaço que os interligam de modo rasteiro, como no emaranhamento quântico.

O possível erro científico é considerar as coisas como qualitativamente completamente diferentes, sem interpenetração, sem desenvolvimento, sem unidade oculta interna, sem salto de qualidade, sem contradição real. Vejamos o tunelamento quântico apenas para clarear nosso argumento lateral. Para o público e para si (!), o cientista usa a metáfora: joga-se uma bola na parede, logo, claro, a bola não deve atravessar tal muro; ora, na quântica, a bola atravessa, mesmo (!); mas quem disse que a “parede” (mesmo oferecendo resistência por ser o que de fato é) não pode tornar-se, por pressão etc., a própria “nova” “bola” do outro lado, logo, “atravessando”? Pensar de modo dialético materialista é quase uma obrigação. É evidente que minha tese sobre o tunelamento pode estar errada, mas é apenas para servir de exemplo cristalino. Até aqui, a “bola” e a “parede” são consideradas, na prática, “intocáveis”, não intercambiáveis, não transformáveis.

Salvamos a teoria, resolvemos seu defeito fundamental. Mas, para isso, já deduzindo a teoria de tudo, devemos aceitar que a luz é a base da matéria (com conteúdo, com massa). E a luz surge da própria flutuação do espaço (embora não no tempo e em primeiro), pois matéria e luz são espaço concentrado. A luz (diz-se: energia) que surgiu no grande encontro dos opostos de algum modo colidiu e reuniu-se, uns com os outros, luz com a luz, formando a matéria, ou seja, o material de nível acima (das partículas fundamentais mais abstratas e simples surgiram, por fusão e aglutinação, as mais concretas e  complexas).

Tudo é Luz – Tudo é Espaço – Tudo é Matéria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CRISE DA FÍSICA MODERNA

 

A física moderna iniciou como crise da física clássica, mas ela mesma está incompleta e recheada de contradições. Pela sua duração e por usos práticos e técnicos da mera descrição, os físicos evitam tratar o problema de modo direto ou reconhecê-lo. A grande quantidade de interpretações da quântica revela o limite, que algo está por faltar. Mas tratam-se absurdos empíricos e teóricos com toda normalidade.

Os físicos teóricos nada mais são do que bons filósofos contemporâneos: eles filosofam com a ajuda de ferramentas, como a matemática avançada e as medidas, ausentes aos filósofos gregos. Mas, às vezes, perdem a mão, a proporção da realidade – a idealidade afasta-se em demasia da matéria em sua autonomia relativa.

Aparece um subjetivismo e relativismo que fere o necessário materialismo. Chega-se ao ponto de afirmar que é o observador quem faz a realidade ser tal como é. Mas parte-se de problemas concretos. Por exemplo: se uma partícula está se movendo para cima e para baixo, como um pêndulo, um observador parado vê um campo surgir e manter-se – no entanto, um observador na mesma velocidade que a partícula nada vê. Ninguém explica o motivo. Como pode ocorrer isso? Parece que o real depende do ponto de vista, da vista de um ponto, e ela seria uma para cada um. Nossa resposta, contra tal relativismo subjetivista: o observador em movimento adentra mais e um tanto claro na quarta dimensão, tal como a partícula, por isso, nada observa; já um aparentemente e relativamente parado, está como se numa “frequência” de dimensão quarta diferente, logo algo observa, uma diferença. A ideia de que há uma quarta dimensão espacial revolve esta e inúmeras outras questões, por dedução, como veremos ao longo deste ensaio e em capítulo específico.

No capítulo anterior, resolvemos, ao menos de modo geral e inicial, todos os problemas conhecidos ou não reconhecidos centrais da física. Quero dar um ponto final nessa terna em disputa. No século XIX, pensava-se que havia poucos e breves problemas na física, mas que quase tudo estava resolvido, com ponto final. Esses “poucos e breves problemas” geraram uma revolução completa na ciência e na forma de ver o mundo. Mas uma questão: um avanço científico pode também impedir, por suas concepções parciais, o próprio avanço do pensamento. Ainda há muito a resolver, temos mistérios.

Um caso para ilustrar o fim do parágrafo anterior. Adoto toda a teoria de Einstein como correta, mas ampliando ou adaptando um ponto ou outro, negando quase nada. Mas ele usa um exemplo popular: para um observador num trem, dois raios caindo em duas torres distantes ao mesmo tempo aparecem como em tempos diferentes para ele, primeiro um e depois o outro cai; já para um observado entre as duas torres e parado, acontece a queda dos raios ao mesmo tempo. Daí a relatividade. Ora, a verdade é o todo – há referencial prioritário, menos relativo: se colocamos detectores em ambas as torres, com o mesmo tempo de contagem, os raios de fato cairão ao mesmo tempo! Ou seja, o observador parado entre as torres terá razão – por quê? Porque ele está na mesma velocidade, da Terra, em relação às torres (velocidade e aceleração, sendo diferentes, são o mesmo, por isso afirmo que velocidades diferentes constantes mudam as leis da física, como demonstrei em parágrafo anterior). Por outro lado, diz Einstein, se estamos dentro de um elevador fechado, que se rompe ou algo do tipo, não sabemos se estamos caindo ou sem gravidade. Mas pelo todo podemos saber – se gravidade e aceleração são mesmo, mesmo assim, eles ainda são diferentes, ainda que com igual efeito, ou seja, causas imediatas, mesmo se não de fundo, diferentes. Ele cai em certo relativismo e subjetivismo da experiência, mas a teoria, a reflexão, pode superar a empiria imediata, aquilo angular.

Por mais de mil anos, a ideia de ímpeto de Aristóteles imperou contra o óbvio. O grego afirmou que uma pedra ou bola lançada numa trajetória de arco avança até perder seu impulso, então, caindo de modo reto, não mais em arco. Sabemos que isso é falso, mas ninguém contestou. Ora, dizer que um ou outro observador está em movimento é uma falsidade completa, não é relativo; ou eu no trem está em movimento e a árvore fora do transporte está parada, ou o contrário, a árvore em movimento e eu parado no trem… em movimento… É claro que a árvore está parada e o observador no trem está em movimento, relativamente relativo; da relação entre ambos, abstraindo o movimento terrestre etc., um está de fato parado e outro de fato em deslocamento – sem mais. Mas se diz o oposto. Não é algo de todo relativo e dependente apenas do ponto de vista, do observador; um erro evidente que é piada entre alunos adolescentes, porém que partiu do individualismo capitalista, de seu atomismo do ponto de vista particular contra o mundo, contra a sociedade.

Seja pela quarta dimensão, seja pelas linhas espaço, seja pela identidade de espaço e matéria, seja pela explicação da causa do movimento etc. temos, enfim, uma resposta sistemática e materialista.

 

 

 

 

 

FÍSICA QUÂNTICA E DIALÉTICA

 

Já há algum tempo, tem-se o instinto de tentar relacionar física quântica e a dialética marxista. Porém, ambos, até esta obra ao menos, estavam incompletos: a Lógica de Hegel ainda não havia sido positivamente superada. Antes disso, todo trabalho seria incompleto e recheado de falhas. Ainda assim, nenhuma unificação textual delas estaria garantida a priori.

Os comunistas e os marxistas – e por isso, dialéticos instintivos – Einstein e Born eram contra as conclusões da física quântica. Born sentiu a necessidade de estudar a dialética de Hegel para fundamentar suas discordâncias e expor sua própria interpretação. Não é por acaso que eles tenham tomado tal postura tão incomum em suas épocas. A mecânica quântica defendida por Bohr, contra a vontade deles, tornou-se obrigatória no meio universitário a tal ponto que um pesquisador que discordasse de um vírgula da interpretação dominante tinha a carreira encerrada de maneira prematura. Assim, os dois físicos citados, nadaram contra a maré – defenderam, por exemplo e centralmente, que a causalidade permanece no mundo quântico. Para eles, a realidade não era probabilística, mas causal, mas nossos limites é que fazem parecer “não determinística” a realidade.

Para Born, a intepretação dominante é mecanicista, mas de um mecanicismo indeterminado, sem causalidade. Portanto, novo mecanicismo, oposto unilateral e impressionista ao antigo. O acaso, para ele, quando vemos de modo mais amplo, expressa uma causa oculta, determinada – acaso e causa, opostos, são o mesmo, no fundo. O determinismo, as suas diferentes formas, não percebe contradição, saltos qualitativos, organicidade, que o todo é mais que a mera soma das partes etc.

Para Einstein, a física quântica – que ele ajudou a fundar – está correta, mas incompleta. Há, pois, fatores ocultos ainda não descobertos na realidade. Apoio a posição do mestre, mas ele erra, por exemplo, quando considera, tal como todos até hoje, a partícula como partícula, como algo pontual, ou seja, isolado em si mesmo (mais uma vez, como o indivíduo autocentrado capitalista). Foi provado, contra o alemão, que o emaranhamento quântico instantâneo existe, ou seja, a informação pode viajar, sim, mais rápido que a velocidade inalcançável da luz! Então, qual a solução? Uma linha de espaço ou campo unifica as duas partículas-ondas, que são pontas ou concentrações de tais linhas (lembremos de nota lateral, ademais, que o espaço é mais rápido que a luz, e acelera). Assim, tudo se conecta. Se a linha gira, ambas as partículas giram ao mesmo tempo e juntas, ou mais rápido que a luz, assumindo posições opostas.

A física quântica soa mágica e irracional porque ela é, mesmo. Seus mistérios avisam que ainda não alcançamos a verdade, a teoria final. Isso demonstra a mais de uma dúzia de interpretações alternativas, incluso a teoria absurda dos muitos mundos (multiverso). Um dos problemas das teorias sobre é este: não criticam os pressupostos e a própria empiria. Todo fato isolado é um fato e um falso. Quem disse que a realidade é formada por partículas apenas isoladas, senhoras de si e autossuficientes? Sobre o caos, podemos supor: o todo, a totalidade, pode ser determinista; mas, dentro dele, nas partes e singularidades, ocorre o caos, o acaso, o não padrão, ao menos no nível matemático e gnosiológico; que, no entanto, no geral, empurra para a lei, para um rumo. Einstein, de maneira crítica à teoria majoritária, chegou a supor que uma onda está associada à partícula (na fenda dupla etc.), mas deixa de ver que tal onda é algo, uma linha espacial ou de campo. Foi assim que ele ganhou o ódio discreto de muitos cientistas.

A intepretação oficial da física quântica é, por isso, positivista, da pior maneira de fazer ciência. Por isso, está incompleta – tem muito a deduzir, o não empírico do empírico – e aparece de modo enlouquecido. Os menos rebeldes dizem que “é assim mesmo, outro mundo, impossível de traduzir na nossa escala”. Assim, escapam do constrangimento, da resposta correta e do esforço necessário. Os físicos apenas apanharam os padrões, por mais absurdos que fossem, e os descreveram e os matematizaram – e somente. Ficam presos à empiria, à aparência e ao externo, ou seja, mera descrição. Mas a mera descrição já é errar, tem uma concepção oculta sendo defendida. O método correto e melhor para física quântica é, grosso modo, empírico-dedutivo, dialético, partir da empiria (sem pressupostos ou premissas, até criticando-os) para interpretar, incluso, o erro da mera empiria.

As tentativas de relacionar dialética e quântica ainda falham porque esta ainda está por se resolver. Mas são ousadias louváveis. Por exemplo: a luz é partícula ou onda? É ora um e ora outro! Pura dialética, ainda que parcial. Mas, no uso da dialética, concluo que a partícula está associada a uma linha de espaço ou campo, sendo uma “onda” concentrada de tal linha; portanto, outro modo de resolver a oposição. Se minha interpretação da física estiver, no geral, correta, a dialética ganhará imenso prestígio. Se estiver, no entanto, errada no fundamental, ao contrário, permanecerá vanguardista e marginal. Nesse caso, talvez apenas a revolução salvará o avanço da ciência.

Que a paixão causada pela física quântica com suas magias atraia jovens inteligentes e ousados, dispostos a resolver os enigmas de nosso tempo. A tentativa prematura de unir dialética e quântica parte do fato de que ambas são razões lógicas quase enlouquecidas. Mas a dialética tem muito ainda a ajudar e precisa atualizar-se. Quando apresento minhas teses aos físicos, costumam responder “você está sendo dúbio”, “você está sendo impreciso”, “você está sendo ambíguo”; por estudarem apenas matemática, criam vícios, deixam de perceber que a “ambiguidade” é da realidade, não em primeiro do pensamento, que apenas expressa aquela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HEGEL: PAI DA TEORIA DO BIG BANG

 

Esta tese, exposta no título, apresenta-se ousada; porém, estava sempre diante de nós. Na sua metafísica lógica, Ciência da Lógica, Hegel ofereceu a base de sua cosmologia, cujo movimento se repete no concreto de outras modalidades do Ser (ser biológico e ser social). Vejamos, passo a passo.

 

A TEORIA

A teoria da grande expansão (não se sabe sua causa) afirma que tudo no universo estava concentrado em um só ponto menor que um átomo. De onde veio tal átomo primordial, evita-se perguntar (Hegel responderá). O espaço expandiu-se por algum misterioso motivo (também respondido por Hegel, mas minha resposta é mais completa) e a matéria decaiu-se em partículas menores, cada vez menores. Em certo ponto, a quantidade igual e nova de matéria e antimatéria deveria forçar uma atração entre elas e se aniquilarem em luz – mas, segundo os físicos, de modo mágico, não aconteceu tal encontro e, ainda, só temos matéria praticamente, sem antimatéria no cosmos… Com o esfriamento do universo, formaram-se átomos, por atração, por união de prótons e elétrons. O encontro de partículas formou estrelas, que produzem átomos mais pesados.

 

HEGEL

Hegel afirma que o infinito cósmico, único existente, algo como um círculo, sem começo nem fim, desaba, colapsa, no “um” ou “uno”. É o início de tudo. Tal um, em relação com o vazio (sendo o próprio vazio, podendo ser o vazio o espaço), fragmentou-se nos “muitos”, nos vários “unos”. Ai, na Lógica do Ser, já vemos a teoria do Big Bang. Tal movimento do uno para os muitos ocorre em toda a realidade, mas ele tinha em mente o universo, como veremos.

O segundo movimento, após a repulsão do “um” em “muitos”, está na atração: os muitos unem-se em um “um”. Mais: o “um” por tal reunir formado é produtivo. Assim, temos as estrelas, que produzem novos uns, ou seja, novos elementos químicos, novos fótons, novos neutrinos.

Então há o movimento eternizante de o um colapsar em muitos – os muitos unirem-se em um etc. Está lá, na Ciência da Lógica.

De modo abstrato, “um” ou “uno” no lugar de átomo, Hegel é o pai real da teoria (lembremos que na sua época a química e a física de partículas eram iniciais em demasia e confusas, recheadas de teses diversas e opostas). Ele não insinuou uma resposta sobre o início de tudo – fez muito mais: propôs.

 

LEITORES DE HEGEL

Os leitores de O Capital de Marx, sendo marxistas, não conseguiam ver o que estava diante dos olhos, que o valor era uma substância interna nas mercadorias (invisível, mas real e dedutível). Do mesmo modo, Hegel foi adaptado aos leitores e às suas visões de mundo limitadas. Ninguém percebeu sua contribuição cosmológica porque não eram capazes de ver. Há que se verificar em biografia se Georges Lemaître pensou a teoria do Big Bang também inspirado em Hegel, pois padres costumam ler o filósofo com afinco.

 

TESES DE HEGEL

Hegel tem mais a dizer. Para ele, a uno produtivo (estrela) pode produzir do nada ao ser – em nossa adaptação, o espaço é concentrado, em concentração por gravidade, formando fótons e/ou neutrinos.

Já dissemos que, para ele, o infinito qualitativo desaba no átomo primordial (uno). O motivo disso, explicamos em outro momento.

De Hegel, também podemos extrair a ideia - vinda já da Grécia antiga - de que o universo expande-se e contrai-se, em ciclos universais, de reinício.

 

KANT

Na sua teoria do Big Bang, Hegel está a criticar Kant sem rodeios. Este afirmava que havia uma nuvem de partículas que se concentrou e formou o Sol e os planetas. Certo, mas de onde vieram as partículas espalhadas? Ora, do um! – Seja o um primeiro “um” ou a geração anterior de estrelas.

Isso, porém abre de duas teses. Ou o “um” foi primordial e único, o que está explícito em Hegel, ou, derivação natural, todas as estrelas do universo sugiram separadas, como do nada ao ser, como do espaço à matéria – e, talvez, ao mesmo tempo. Mas isso seria, de certo modo, anti-histórico, logo, anti-hegeliano.

 

UM E MUITOS(UNS): BORN E OS BIÓLOGOS DIALÉTICOS

Para Born uma causa (um) tem várias consequências (muitos) – uma consequência (um), muitas causas associadas (muitos). É assim que trata da dialética da questão. Os biólogos dialéticos, de outro modo, dizem que um gene (um) afeta vários características (muitos) – uma característica (um) deriva de vários genes (muitos). Tudo isso é dialético, correto, hegeliano etc. Mas Hegel trata, em exato, de repulsão e de atração ao mesmo tempo e, em principal, a passagem um para o outro e na formação por meio disso dos uns e muitos. O Um dissolve-se em vários uns, muitos, por repulsão (que deve ser primeiro nesse sentido) – os muitos atraem-se, depois ou como se depois, formando o Um produtivo, a reunião de muitos, muitos uns. Em O Capital, Marx passa do Um produtivo, ou seja, a fábrica, para  repulsão e atração variada de uns, de muitos, ou seja, as empresas ora atraem e ora repelem operários, além da ação simultânea. Eis um exemplo. Na verdade, devemos repetir mais de uma vez, Hegel tratava da passagem do infinito real, existente, para a quantidade depois por meio do um e muitos, por meio, grosso modo, da origem e aglutinação de átomos (que é o começo real da quantidade) – o Big Bang e sua história.

 

A homenagem dos físicos a Hegel até hoje não foi feita. Ele é um pensador revolucionário demais para ser reconhecido sem luta. Com minhas explicações adicionais (resolução das lacunas) para a teoria completa do Big Bang – a matéria e a luz decaem, ou esfriam, formando mais espaço; espaço, luz e matéria são o mesmo no fundo, espaço-matéria; houve o encontro de matéria e antimatéria que formou luz pesada e, logo, de modo colateral, alguma matéria por encontro construtivo de ondas etc. – temos a dialética no seu devido lugar. Hegel continua um gigante incontornável. O problema era que, antes, não estávamos á sua altura, incompreensível. Apenas com dialética, chegamos às verdades totais, primeiras e gerais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIOLOGIA E DIALÉTICA

 

O marxismo empolgou-se com as descobertas de Darwin, pois este colocou de vez a história na biologia, a evolução (diversificação) das espécies. Há inúmeras sacadas dialéticas na obra do inglês. Os críticos marxistas mais dogmáticos reclamam que a inspiração darwiniana é o capitalismo e sua economia política. Ora, nada de errado há nisso, em princípio, pois o mundo do capital é o sistema mais dialético já existente no universo, até agora.

No entanto, os biólogos dialéticos Lewontin e Lewin, desde o século XX, propuseram atualizações e correções à teoria, reformas desde uma visão não cartesiana mecanicista, que separa organismo e meio. Vejamos um resumo das muitas entre suas contribuições.

 

A espécie seleciona o meio, o ambiente

Na biologia teórica, comum apenas a espécie se adaptar ao meio, ou ruir. Isso é uma separação cartesiana de meio e sujeito, este como mero objeto da seleção natural. No entanto, se as condições não são favoráveis, indivíduos e espécies agem como sujeitos, migram-se, mudam-se, para outro local.

 

As espécies modificam o ambiente

O ambiente costuma ser posto como dado, ponto final. Mas a verdade é que o ambiente muda a espécie assim como a espécie muda o ambiente.

 

A adaptação é relativa

Os biólogos pensam que o formato do corpo do animal é um estado ótimo, como certa máquina, perfeito. Nada mais falso. A adaptação não é absoluta, antes é relativa, ou seja, o bastante. As nadadeiras da tartaruga são usadas para cavar e enterrar ovos, mas são ferramentas falhas, imperfeitas.

 

A evolução é contraditória

A orelha maior de um habitante do quente deserto faz com que a temperatura seja regulada, mas, por outro lado, facilita ser atacado por carrapatos.

 

 

 

Nem tudo é adaptação

Hegel, ao tratar de fundamentos, na sua Lógica, fala do fundamento como uma casa, em si necessária, mas que pode ter cores diferentes, quadros na parede, enfeites arbitrários etc. Os dois biólogos citados usam tal inspiração. Nem todas as características de um ser vivo são necessárias ou para fins adaptativos e reprodutivos.

Darwin intui no sentido oposto:

 

(…) com base nos conhecimentos colhidos nos últimos poucos anos estou convencido de que se poderá demonstrar depois a utilidade de muitíssimas estruturas que agora nos parecem inúteis e que entrarão consequentemente no âmbito da seleção natural. (Darwin, 1974, p. 74)

 

Mas a verdade costuma ser contraintuitiva – a verdade suporta opostos.

Outro sentido de “nem tudo é adaptação” é que a espécie e o indivíduo são ativos, sujeitos, não só adaptativos sob o risco de se extinguir.

 

Maior reprodução pode ser extinção

Uma espécie que, por mutação, quadriplica sua reprodução pode ser extinta, pois atrai mais predadores.

 

Um gene trata de várias características, uma característica deriva de vários genes “juntos”

Dizer que um gene corresponde apenas a uma, somente uma, qualidade, relação um por um, nada diz, não corresponde ao real, que é mais complexo.

 

As características físicas representam seu meio

A aerodinâmica dos peixes, baleias etc., animais aquáticos, expressa o meio em que vivem.

 

As características físicas são fruto da relação gene, espécies e ambiente

A biologia vulgar pensa que apenas a genética afeta e determina as características da espécie. Mas a mosca tem o aparelho visual mais ou menos complexo a depender da temperatura com a qual conviveu durante sua maturação. Além disso, a prática da espécie também afeta sua morfologia.

Até o ambiente vaginal atua como certo meio que seleciona os melhores espermatozoides.

 

Relação ambiente e espécie

Para a presa, o predador é parte do ambiente. Para o predador, a presa é parte do ambiente.

 

As partes do corpo são interdependentes

Uma parte do corpo pode não se desenvolver muito ou de modo exagerado porque está em relação necessária e mais ou menos proporcional comas demais.

 

O grupo seleciona também (Wilson)

Além da mudança diretamente genética, o grupo “social” regula o perfil do indivíduo, operando uma seleção. Isso é muito evidente nas formigas, abelhas e entre os homens.

 

            O passado importa (complemento)

            Darei agora uma contribuição que não encontrei de modo claro nos seus textos: o peso do passado como fonte do presente. A mudança muitas vezes depende do passado, da resignificação de seu material e daquilo que já foi, como espinho sendo folhas modificadas e velhos órgãos adaptados para novas funções. A natureza viva raramente consegue criar “do nada”.

 

 

GENÉTICA

Os genes eram postos como individuais e separados uns dos outros. Hoje somos mais dialéticos, por exemplo, a cor branca de uma flor está associada à saliência típica de suas pétalas – se um muda, o outro muda.

 

 

PROPOSTAS

Vejamos, agora, algumas hipóteses, filosofia experimental, que derivam de modo natural de nossa filosofia e, primeiro, do próprio conhecimento científico (e empírico)  atual, por dedução. Tais ideias, claro, devem ser demonstradas, após expostas.

 

LEI DA POPULAÇÃO

Darwin inspira-se no erro teórico, para humanos, da teoria da população de Malthus: a população cresce, mas encontra um limite de alimentos, logo deixa de crescer. E se nos inspirarmos na lei de população de Marx sobre o capitalismo? Vejamos. Vamos, mesmo assim, deduzir, de início, um limite fixo de recursos. Assim: mais se reproduzem aqueles que estão mais ameaçados, pois isso ajuda a aumentar a possibilidade de passar seus genes (o que não impede que Darwin também esteja correto – que abundância é que produz mais reprodução). Vejamos uma pista dessa nova lei relativa. A macieira, quando levada ao clima tropical brasileiro, clima este que não é de sua origem, prefere investir em si do que na sua reprodução, pois tem muita luz, água, nutrientes etc. Então, os agricultores nacionais são obrigados a cortar a água da árvore, cortar galhos etc. para estressá-la – então surgem as maçãs novas, ela reage à sensação de ameaça ambiental, à escassez.

 

Hibernar

Na falta de alimentos, as espécies podem hibernar no inverso para guardar energia. Isso diminui o efeito da escassez sobre a população.

 

Estocar

Há um pássaro americano que, ao perceber a chega do inverno, cria enormes reservas de produtos, rumo ao consumo no inverno rigoroso.

 

Variar ração

Espécies podem mudar ou variar seu consumo. Por exemplo, surgiu uma abelha abutre que lida com carcaças.

 

Mudar o ambiente

Ao consumir uma fruta, o animal, depois, defeca fezes e sementes, ampliando extensivamente a quantidade de árvores úteis.

 

Mudar de ambiente

Os biólogos dialéticos Lewontin e Lewin haviam exposto tal movimento.

 

Tamanho da espécie e dos indivíduos

Uma quantidade maior de membros, constantes os recursos, tendem a ser menores, o que aumenta de modo relativo, em comparação, a quantidade de recursos mesmos.  No longo prazo, tende-se a diminuir o tamanho da espécie, pois os menores têm, nesse sentido, mais chances de sobreviver.

 

Capacidade de armazenar aumentada

Uma falta de alimentos pode levar os descendentes imediatos a ter mais facilidade de armazenar energia, diminuindo a demanda, a procura. No nível celular, isso ocorre por redução do metabolismo causado pelo maior autoenrolameto do DNA.

 

Roubo

Algumas espécies e indivíduos podem se especializar em roubar outras, além de membros da mesma espécie, ou agregar este hábito.

 

Formar bando

Formar grupos permite otimizar o sucesso da caça, afastando a barreira individual da alimentação.

 

Passar a produzir e criar ferramentas

Vez ou outra, uma espécie que não produz, passa a produzir (e o estresse relativo, com a imprevisibilidade, com o movimento, aumenta a cognição). No caso das ferramentas, macacos aprenderam a quebrar cocos e a produzir varetas para apanhar cupins. As abelhas, ou algum ancestral, em algum momento passaram a produzir mel. Na internet, há inúmeros vídeos de pássaros usando ferramenta externa para pescar. O peixe tegastes diencaeus domesticou camarões para nutrir, fertilizar, seu cultivo (!) de algas, sua fazenda.

 

Tais elementos relativizam, contratendenciam, a lei da população na natureza tal como pensou Darwin. No mais, nossa lei da população, oposta à de Darwin, tem prova empírica na própria humanidade: as comunidades mais pobres têm mais filhos, não menos. Aqueles com melhor qualidade de vida, entre humanos, costumam ter menor prole, mesmo tendo mais recursos. A quebra de 1929 levou ricos falidos aos bordeis antes do suicídio; na segunda guerra, os homens engravidavam as mulheres antes de ir ao combate; com o impacto, incluso midiático, da queda das torres gêmeas nos EUA, surgiu uma onda de nascimento algo como 9 meses após o fato. A causa da vontade de fazer sexo e filhos, nestes exemplos, o stress etc., está oculta e inconsciente – a consciência justifica de algum modo ou outro. No caso das árvores frutíferas, os biólogos apenas constatam sem interpretar ou generalizar; muitas árvores do nordeste brasileiro florescem e frutificam quando inicia-se o período de seca, rnenor humidade e mais calor, maior rico potencial; no Piauí, os ipês florescem o ano inteiro diante da temperatura e da baixa humidade, levando à sensação de risco.

Na psicologia individual, acompanhei um “caso” de uma jovem adulta excessivamente sexualizada, mesmo para padrões brasileiros, com imensa dificuldade em manter fidelidade sexual em um relacionamento. Em nossas conversas, suas falas deixavam claro o impacto sob(re) si que teve a descoberta de uma doença degenerativa autoimune. O medo da morte, lidar tão diretamente com a finitude, concluí, foi a base de sua sensualidade acima da média, que guiava sua rotina e relações. Tal pista não foi a princípio tratada como tal; apenas enquanto caso individual, singular e isolado. Necessitei de vários anos e outros aspectos para derivar uma teoria geral.

Os seres menores, quanto menores, mais se reproduzem. Por quê? Porque vivem pouco. Mas algo mais pode ser acrescentado, evitando a tautologia anterior. Seres menores e mais frágeis, ou seja, em estágio inferior na cadeia alimentar em enorme quantidade de casos, são mais estressados, logo se reproduzem mais do que a alcateia de leões. A lógica darwiniana continua em pé no assunto desde parágrafo, porém atualizado.

Como dissemos, a fruta do homem diante da adversidade é sua criatividade. Pois bem; Deleuze diz da saúde frágil geral de artistas e intelectuais – sem saber aí a causa, a causalidade interna.

 

GRANDES EXTINÇÕES E VARIEDADE

Grandes extinções, ao reduzir exemplares, força a copulação entre espécies próximas, não tão, produzindo novos exemplares com o tempo, novas espécies por combinação. Assim, a extinção em massa que leva à redução de espécies, produz também o efeito oposto, dá base para variação. Além disso, grandes extinções aumentam riscos e estresse, estímulo à libido.

 

 

GENES E CARACTERÍSTICAS

A sabedoria popular do nordeste brasileiro diz “dois pobres feios fazem um bonito”. Assim, por combinação, dois pais de baixa inteligência natural podem produzir um filho superdotado. A combinação é mais rica e inesperada, menos mecânica – embora tendencial.

 

GENES E EVOLUÇÃO

É provável que a totalidade genética tenha elementos “duros”, difíceis de consolidar mutação, e, por outro lado, elementos “fluidos”, mais fáceis de mutar e permanecer alterados (em alguns casos, ativados ou desativados). Talvez seja mais fácil a mutação da cor da pele, ou da asa da borboleta, do que alguma composição do fígado. Por exemplo, a estrutura básica central muta-se com mais dificuldade do que os aspectos em si não centrais. Isso tem seu risco, pois mutações na estrutura fundamental tende a matar o ser, torna-o menos capaz de se reproduzir; então gera a ilusão que as mutações ocorrem mais nas asas etc. Mas é evolutivo que se preserve uma parte “dura” da informação genética, logo nada impede que algumas partes sejam mais mutáveis.

A segunda hipótese é que, embora de modo fraco, o ambiente leva a que alguns genes, uma parte deles, em poucos aspectos e de modo colateral, se regule para se adaptar ao meio, como a geração seguinte à que passou fome ter mais capacidade de absorver e guardar energia.

 

GENES E PERSONALIDADE-COMPORTAMENTO

A biologia vulgar torna o homem como fruto direto do gene, sem cultura. Isso leva, por resistência, ao erro oposto, nenhuma influência genética. Pelo menos entre os humanos, quase tudo vem do meio e da experiência – mas há um efeito minoritário, sim, do gene. Mas, então, vem um giro: a parte genética é ela mesma mediada, o conteúdo genético do “temperamento” é um conteúdo que pode adquirir as mais variadas formas a depender do meio ambiente social. Boa parte dos problemas teóricos se resolvem quando deixa-se de confundir conteúdo e forma, aparência e essência etc.

A verdade é o todo. Portanto, afirmações como “isto é aquilo” são certos e errados porque parciais, não totais. Dizer que “tudo é construção cultural” é tão certo e errado quanto dizer que “tudo é construção biológica ou adaptativa”. Há efeitos biológicos e adaptativos – há cultura e ambiente. Nem pós-modernismo, nem determinismo genético e biológico! O marxismo relacionalista deve ser superado, pois ele considera o corpo enquanto mera carcaça viva.

Há o biológico, há o social – e há no natral socialmente adaptado.

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MAL DE ALZHEIMER

Qual a causa do Mal de Alzheimer? Talvez, há várias causas, possivelmente o excesso de açúcar. Mas dois casos, embora pouca amostra, indicam que ao eletromagnetismo em excesso pode causar o fenômeno da degeneração celular cerebral e a consequente perda de memória. É, aparentemente, o caso de Faraday, o cientista que fazia experimentos didáticos com a eletricidade passando por seu corpo – e de uma senhora que, apesar de ainda adulta, não idosa, estava tendo lapsos de desligamento e perda da memória após anos de trabalho com alta tensão de fios de eletricidade. Tais experiências causam “curto-circuito” de neurônios, ou suas degenerações. Ambos os casos são precoces.

 

HOMEM NATURAL-SOCIAL

Na civilização, desenvolvemos contradição entre o homem natural e o homem social. Um atrapalha o outro. Eis tarefa comum da medicina e do socialismo. No futuro, se vencermos, o homem social respeitará o homem natural, e vice-versa (com mediações etc.), ainda que ainda de modo dinâmico.

Marx afirma que uma das formas de alienação (separação) é a separação do homem e da natureza, como se fossem apenas externo um ao outro. Assim, nós temos de desenvolver boas integração, relação e ativismo com o natural.

 

A CONQUISTA SEXUAL

Embora imensamente alegre com as conquistas de Darwin, Marx usou sua ironia, comum no meio marxista, ao afirmar que o inglês descobriu a sociedade e a economia inglesa na natureza não humana. Assim, o fato de, no ambiente de Londres, os homens ousados cortejarem as, em oposto, educadas e contritas damas, disputando-as entre si, teria o equivalente no mundo natural.

Ora, Marx deixa de ver que talvez o hábito social tenha origem natural, do homem – e da mulher – como animal que é de fato, tal como os pássaros. Temos o natural socialmente modificado ou adaptado. A natureza adapta-se ao e no social.

Mas vamos muito além. A ideia da fêmea passiva deve ser superada. O macho solicita a fêmea, claro. Mas fêmea “solicita ser solicitada” pelo macho, também. Assim, ela atrai e altera o comportamento do macho por seu cheiro de cio, por exemplo. Uma fêmea de gato castrada não mais atrai um macho qualquer para si. Assim, a fêmea perece passiva, mas ela é ativa, até mesmo ela inicia o processo de conquista.

Isso se vê na sociedade ocidental contemporânea, quando se tornou mais comum a mulher tentar conquistar o homem. Mesmo quando a mulher evita a conquista, ela atiça-o, por exemplo, ao mover seus cabelos, dando inconscientemente o sinal para aproximação dele, daquele. Ele, por sua vez, estufa os peitos, em sinal de interesse, em resposta. Tudo, evidente, nem sempre feito com a devida consciência.

Os “sociobiólogos”, amantes do gene egoísta, desesperam-se sociobiologicamente quando lidam com casos em que alguns machos ajudam outro a conquistar a fêmea, sem a comum de fato disputa entre eles. Para eles, egoísmo é igual à prazer; altruísmo, igual a desprazer. Não veem a cooperação como ajuda possível na seleção natural e na seleção sexual. Argumentam, por exemplo, que o pássaro ajudante logo aprende algo, para si. Como são péssimos em filosofia, deixam de ver que o altruísmo e o egoísmo são ao mesmo tempo fundidos e superados pelo mutualismo, pela cooperação, pela ajuda mútua.

Curioso notar que certas cobras machos, ao falharem em atrair fêmeas, toram-se travestis, atraem outros machos por um odor hormonal alterado. Leoas em cio forçam o leão a mais sexo.

Enfim, oferta e procura. Excesso de machos permite à fêmea ter vários parceiros, selecionando-os. Mas grande excesso de fêmeas, por sua vez, com a escassez de machos, faz com que estes tenham várias companheiras, temporárias ou fixas. Nos quilombos antigos, as mulheres tinham vários maridos, uma poligamia delas com monogamia tendencial deles. Se há tendência de uma espécie fazer vingar muito mais fêmeas ou machos, por exemplo, afeta as relações sexuais.

 

PERFIL E ANATOMIA

Em outro momento, demonstramos como – por meio das mudanças hormonais, por exemplo – hábitos, ambiente e perfis, além de em parte a genética, afetam o perfil físico de um indivíduo humano, expressando seu perfil psíquico. Indicou-se que pesquisas observam isso em cachorros e em raposas recém-domesticadas, além de animais de pasto. Pois bem; um leão tem perfil físico-mental de leão, interno e externo; um coelho tem o perfil ou “personalidade” de um coelho. Pode haver, no entanto, diferenças entre eles, quanto mais complexo é o ser, como mais introvertido e mais extrovertido, mais corajoso ou mais medroso etc. Quando se diz que a moral tem senso estético ao condenarmos matar uma borboleta mas aprovarmos matar uma barata – tal senso não é de todo injusto ou arbitrário, tem realidade de fundo. A rejeição física à barata expressa um mal possível.

 

OS GENES APRENDEM

Parece absurdo, mas de modo parcial os genes aprendem, embora não aprendam muito. Um castor criado fora de seu ambiente, como numa casa, mesmo assim terá o impulso de criar represas com o material do lar onde vive (um primerio castor ou ancestral fez isso, então passou aos descendentes tal impulso). A genética cria a estrutura corporal, incluso cerebral, e seu modo de funcionamento. Mas aprende apenas o essencial: nos humanos, a sociedade complexa obriga um aprendizado apenas cultural, de geração a geração. Os mecanismos desse aprendizado em pássaros que fazem ninhos etc. trata-se de algo ainda a descobrir. Isso parece uma concepção pré-darwinista: os jogadores de basquete são altos porque jogam esse esporte, jogam esse esporte porque são altos, ou ambos? A coisa toda se resolve vendo o limite de mudanças: os genes aprendem, em geral, apenas o essencial – e há mudanças que ocorrem apenas na relação do indivíduo com o meio, sem passar aos descendentes. Entre as tantas referências indiretas a Platão nesta obra, temos mais uma, pois o grego afirmou que recordamos, já sabemos o que sabemos, embora sem perceber; isso tem valor, de modo parcial e relativo, no aspecto biológico em seres complexos, mas pouco entre os homens.

O parco aprendizando genético parece exigir – no hábito etc. – intensidade, repetição e importância daquilo que reconfigura de modo fraco e raro a genética.

 

BIOLOGIA E IDEOLOGIA

A teoria das raças humanas fez um estrago em todo o mundo com seu darwinismo social. Ficou famosa a pesquisa feita ontem no tempo histórico: os negros americanos têm QI médio menor, logo a “raça” negra é menos inteligente. A equipe de tal pesquisa, além do seu baixo nível científico, não soube de Machado de Assis e Milton Santos… Hoje, a sociobiologia apela para o determinismo genético, requentando antigas teses. De modo algum é acaso que eles sejam, via de regra, antimarxistas e de direita. A intensão é justificar este mundo e mantê-lo de pé, apesar de todos os imensos pesares.

Podemos provar que, ainda sendo biológico, o ser social fundou algo inteiramente novo.  Repetindo Lukács: somos a única espécie com produtividade crescente (trabalho, produção, energia em busca de mais energia), a única espécie que se afasta das barreiras naturais (sociabilidade e “sociabilidade” dinâmica, do simples ao complexo) e a única espécie que tende a uma interconexão global (linguagem e “linguagem” complexa, interconexões crescentes). O ser biológico é assim – no aspecto de todo e geral do Ser, como dizemos antes, energia em busca de mais de si etc., entre parênteses – de modo geral, não específico, não em cada espécie individual. Mesmo forçando a mão para ver tais aspectos em outras espécies elas não têm os três juntos e na mesma intensidade, que produz salto qualitativo.

O machismo também afeitou muito a “objetividade fria” da ciência biológica. Hoje, sabe-se que não apenas os espermatozoides são ativos no útero; este seleciona e o óvulo guia o caminho daqueles. Já citamos que a conquista também tem o lado ativo feminino entre humanos. Como as leoas, as mulheres também iam à caça nos tempos primitivos, pois era mais importante a ação grupal relativo à fibra muscular mais, homens, ou menos, mulheres, desenvolvidos.

O mundo aristocrático, ditatorial e monarquista levou a ver a colmeia apenas como regime despótico. Hoje, sabemos que o regime das abelhas é mais democrático do que parece, algo permitido de ver pela etapa histórica atual.

Ter a ideia de evolução apenas como diversificação é o modo inconsciente de negar a necessidade do progresso hoje difícil, o o socialismo. Há progresso, ainda que relativo e contraditório.

 

O AMBIENTE DEVE ADAPTAR-SE À ESPÉCIE

Em sua separação de sujeito e objeto, ao colocar a espécie – e o indivíduo – como reativa apenas, adaptativa apenas etc., a biologia como ciência esquece que o ambiente também deve se adaptar à espécie e às espécies presentes. Certa mutação que melhora a espécie tende e pode desequilibrar o sistema ecológico local. Um vírus pode ter força geral, o que gera desequilíbrio (o ganho geral de resistência ao vírus pode ser bom, no geral, para o próprio vírus). Como organismo vivo que é, o ecossistema deve reagir e adaptar-se à nova realidade, mesmo que de modo imperfeito. Casos extremos vemos quando o homem traz uma espécie de outro continente, invasora, que, sem predadores, coloca em risco toda a vida complexa de uma ilha etc. A mangueira, por exemplo, foi bem englobada no Brasil, no organismo ecossistêmico, vinda da Índia; a mangueria adaptatou-se ao ambiente e, vice-versa, o ambiente adaptou-se à mangueira. Para uma nova espécie prosperar, o ambiente deve modificar-se ou ser por ela relativamente modificada, adaptada. Em certos casos, o ecossistema pode ser resistente ao ponto de extinguir a presença da espécie invasora ou nova.

 

 

 

ADAPTA-SE À INADAPTAÇÃO

Nem sempre as mudanças de genética chegam à tempo ou prosperam. As espécies convivem com dificuldades que são obrigadas a conviver de modo permanente. Por exemplo. Quase todos os animais complexos são obrigados a dormir completamente e sempre, então, como isso não muda com o tempo, aprendem a cavar buracos, a subir em árvores, a andar em grupo, a trocar de turno, a produzir fogo etc. – para dormir em paz relativa. Se consideramos que nem tudo é adaptação e que a a evolução é um precesso cego, então fica mais fácil aceitar tal ideia. A adaptação à, na e da inadaptação; que obriga tantas vezes certa sapiência, torna relativamente denecessária uma evolução positiva para o problema, atrapalhando sua prosperidade genética.

 

ADAPTAÇÃO PODE SER EXTINÇÃO

Uma espécie nova ou que gera nova adaptação pode revolver uma contradição que lhe atrapalha, mas cair com o tempo em outra ainda maior, que se torna um problema absoluto (o ser é complexo, não simples; uma vantagem pode ser, ao mesmo tempo, uma desvantagem). Ou uma adaptação pode atrapalhar na seleção sexual, tornar-se menos atraente. Ou adapta-se aqui, o que atrapalha a adaptação ali. A eficiência evolutiva do Ebola, matar em 8 dias, atrapalha porque, por isso,  não consegue contaminar tanto. Uma adaptação boa pode levar a extinção de outras espécies (presas etc.) ou até de um ecossistema.

 

A VIDA É UM AUTOSSISTEMA – TAMBÉM

A vida como auto-organismo entra em contradição consigo como quando criar as espécies que gerarão extinções em massa, como a início da produção venenosa de oxigênio ou dos seres humanos até o capitalismo. Além de fatores externos, como ciclos cósmicos, além de fatores inesperados como chuvas de meteoros; há a causa em si, a autoimposição de limites e dificuldades. É uma possibilidade o surgimento de um hipervírus, muito adaptado e mutável, que produza extinção em massa.

 

UM E MUITOS NA EVOLUÇÃO

O que diremos a seguir já se sabe, mas não exposto de modo dialético. De modo puro e abstrato, ocorre assim se não há interrupção: um (uma ou poucas espécies), que se torna muitos (diversifica-se), que então, por extinção e seleção, e mais uma vez se reduz a um... (uma ou poucas espécies sobram). Se pode, se cair em um não for o fim, volta mais uma vez ao muitos. Mas o segundo “um” não tem por necessidade ser como o primeiro “um”, apenas deve ser produtivo e reprodutivo. De um ancestral comum, surgiram várias espécies homo, que depois foram extintas, exceção da nossa; apenas a seleção social e a falta de tempo impedem de voltar aos muitos, novas espécies humanas ou de outro tipo de ser biológico.

 

CONTRADIÇÃO ENTRE SELEÇÃO NATURAL E SEXUAL

Este ponto não é muito original: já é bem conhecido, mas não reconhecido ou formalizado. Em resumo: uma vantagem na seleção natural pode ser negada na seleção sexual – uma vantagem na seleção sexual pode, ao contrário, ser negada na seleção natural. Ser calvo pode ser bom desde a seleção natural, mas gerar rejeição sexual, nessa seleção. O veado ganha na seleção sexual quando tem chifres maiores, mas tais chifres maiores dificulta correr de predadores (seleção natural).  O fato de uma característica ser boa para reproduzir-se, mas ruim para a seleção natural (ou melhor, ambiental), não significa que deixará de existir de imediato: como adaptação é relativa, a espécie pode existir por muito tempo com a contradição dos opostos – até ela se resolver ou a espécie em questão ser extinta.

 

INTELIGÊNCIA

Inspirados em Darwin e no darwinismo, muitos pensadores afirmaram que a inteligência é capacidade de adaptação, logo, deriva-se, adaptação ao meio. Isso é um erro com elementos de acerto. A inteligência é algo ativo, criativo, criador – também adapta o meio para si, modifica-o etc. Inteligência tem algo de subversão, de transformação ambiental mais do que de si. Inteligência é perceber a natureza da mudança, o que inclui saber o que permanece naquilo que muda. A concepção burguesa de inteligência, supostamente evolucionista, tenta criar um sujeito que nada tem de sujeito, ou seja, sujeita-se à realidade de modo passivo, escravizado, derrotista etc. Mas o homem é o cozinheiro das coisas, o mais inteligente por sua interação prática transformativa do mundo. Inteligência é a novidade e o novo.

 

A VANTAGEM DAS MISTURAS DE RAÇAS (E ESPÉCIES)

Generalizo, de modo um tanto forçado, o que observei em cães brasileiros, a mistura bastante comum (vira-lata). Parece que a mistura de raças e, eventualmente, de espécies, ou formando novas espécies, produz algo novo com vantagens por causa do amálgama (dialética do novo):

5.      Mais inteligência

6.      Mais resistência

7.      Mais sensualidade

Isso é fácil de entender e perceber, mas no caso da sensualidade não tem uma boa explicação (a pulsão exagerada ou acumulada que levou à copulação de diferentes raças foi, então, repassada de modo genético ou epigenético?). Surgem novas raças ou, ou com o tempo, espécies mais capazes.

Muito antes de ser marxista, tive influência da teoria das raças brasileiras. Parecia-me que o cidadão moreno – mistura de europeu, indígena e africano – tinha, também, tais três características. Mas era viés de confirmação já que a humanidade, do ponto de vista genético, não possui mais de uma raça. Segunda curiosidade, também dialoga com a primeira: Nietzsche afirma que o super-homem, o além do homem, combina três características: 1) suportar grande sofrimento (2); 2) caminhar pela arte profunda (1) e grande interesse sexual (3). Há alguma verdade em seu erro completo.

 

A LEI ZERO DA EVOLUÇÃO

A concepção vulgar diz que o mais forte vence. Mas os biólogos corrigem: os mais adaptados prosperam. Isso é muito mais correto, mas ainda errado um tanto, pois parte da ideia de ser vivo apenas passivo e reativo ao meio (que se subordina de todo ao meio, ao capitalismo…). Na verdade: “prosperam os mais aptos” – que dá uma ideia tanto ativa quanto reativa, além de sugerir a seleção sexual. Biologia não apenas é mera adaptação e diversificação.

Dito isso, temos três legalidades iniciais da vida:

1) luta e associação (geral)

1) diversificação (particular)

2) evolução relativa (singular)

A luta, por exemplo, inclui luta contra o meio, mais do que entre espécies e indivíduos.

A luta-associação leva à diversificação, que, por sua vez, leva à evolução relativa. Cada lei, embora com autonomia parcial, leva, deriva, a outra.

Grosso modo: a luta é contratendenciada pela associação (vida coletiva, mutualismo, reprodução); a diversificação, pela extinção; a evolução, pela sua relativização (ambiente etc.).

O homem é, assim, tanto mais no futuro socialista, uma vitória da natureza contra a natureza. Pois: tem altíssima associação, relativiza a seleção-evolução (pelo trabalho humano, constrói ferramentas contra os limites ambientais: casacos de pele contra o frio etc.), tende a unificar-se, tende a ser mais do que espécie ou natural. Ele, de algum modo, afirma as contradendências, que só poderiam ser relativas, contra as tendências, que só poderiam ser absolutas, ainda que sofram resistências e autorresistências.

 

SELEÇÃO É, TAMBÉM, AUTOSSELEÇÃO

A interação entre as partes, as vidas, e a vida e o ambiente, ajuda a produzir leis de totalidade que não são decididas e escolhidas, mas que são parcialmente produzidas coletivamente, sem consciência de tal processo. Em segundo lugar, a seleção sexual leva em conta a qualidade das partes em possível conquista. E o animal, também, seleciona-se. Por outro lado, o grupo (animais coletivos) selecionam, regulam. A trapaça entre machos, por exemplo, pode fazer com que o menor e menos atraente possa copular com a fêmea em questão, engana-se a fêmea, estupro, os filhotes de tubarão matam uns aos outros ainda quando por dentro da mãe etc.

A autosseleção pode ocorrer como contratendência relativa à seleção.

Dois casos devem ser destacados. Primeiro: as leis gerais da seleção e da biologia tentam afirmar-se enquanto leis, autorreforço (leis particulares de ambiente e de época aprecem e desaparecem); há seleção das leis. Segundo: o ecossistema e a biosfera, ou população etc., selecionam-se, a si mesmos. A biologia (biosfera etc.) entra em contradição interna consigo mesma dentro de sua unidade e harmonia dinâmica externa.

 

TRABALHOS

Demos dois trabalhos ao biológico: produtivo e reprodutivo. O primeiro tende, quase que apenas de modo relativo, a diminuir com a evolução e o segundo a crescer como o maior cuidado da prole e sua dependência mais duradoura. Isso é consequência, e efeitos opostos, natural do evolutivo, da complexificação, do ganho de habilidades etc.

 

LUTA OU COOPERAÇÃO?

Inspirado pela economia real da Inglaterra, pelos economistas de seu país, e para negar a visão de harmonia da natureza; Darwin afirmou que a luta reina nela. Mas façamos uma sequência de pensamento: 1) reina a luta contra os demais – de outras e, ainda mais, da mesma espécie (dirá o inglês) – pela sobrevivência; 2) mas, até para enfrentar a luta, surge cooperação (formigas, mutualismo, bandos etc.); 3) mas a luta é externa enquanto há comunhão interna, unidade etc. – autonomia e contradição externa com unidade e comunidade interna. O terceiro é mais sofisticado e difícil de perceber. Quando o pássaro come e destrói o fruto, espalha as sementes via suas nutritivas fezes. O leão come o cervo, mas, ao fazer tal atrocidade, diminui a concorrência (externa) entre os cervos da espécie. O cervo devorado como se doa sua energia para o leão, apesar da resistência, de novo, externa. A semente comida evita excesso danoso de uma espécie, assim, em defesa da própria espécie devorada. Destruir é, assim, ao mesmo tempo, conservar e construir (elevar, ajudar etc.) – suprassumir. Nossos tempos de egoísmo e capitalismo tardio dificultam, também, aceitar isso; cenário que, no auge do sistema, inspirou Darwin na óptica da luta geral. Mas temos isso já, de modo errado no social, em Adam Smith: o egoísmo de todos no mercado gerará um bem comum, uma bondade invisível. Não bem assim no biológico, mas dá pista daquilo que é para além de como o mundo da vida de fato se mostra – um fato externo ao mesmo tempo falso. Claro, pode haver anomalias e desvios da lógica real essencial interna, oculta. Há, de modo inconsciente, inconsciente biológico, cooperação geral.

 

PARADOXO DO PREDADOR

O predador tende a selecionar as melhores presas, então, estas se reproduzem e vivem menos – tal preferência leva, por isso, à extinção de particularidades preferidas. O paradoxo é real, não um problema lógico a ser resolvido. No médio prazo, o predador cria um problema para si.

 

DESVANTAGEM RELATIVA DO AVANÇO

Consideremos que 1) há diferentes níveis de pressão seletiva, 2) a relação entre animais adversários é de muitos para um (uno-múltiplos), e vice-versa, tem-se vários predadores e várias presas. Dito isso, vamos a um exemplo real metafórico. A Kodak era a empresa superior no mercado de fotografia, reinava absoluta; um de seus engenheiros desenvolveu a fotografia virtual (digital), mas ela engavetou o projeto, porque, caso fosse ao mercado com o novo produto, perderia seu lucro; logo, para ela, evoluir seria igual a perder, não ganhar; depois, surgiram empresas novas menores que aplicaram a nova tecnologia, por isso a empresa citada declarou falência, sua (quase) extinção. O mesmo ocorre em animais “superiores”; por estagnarem em sua vantagem relativa, acabam por 1) serem extintos, 2) passarem de predadores para presas, 3) diminuem em quantidade ou, por isso, aumenta a concorrência com outras espécies. Mais um detalhe: 1) grupos dominantes encontram mais estabilidade duradoura, menor pressão seletiva; 2) grupos (populações etc.) não dominantes entram mais em crise e maior pressão seletiva até alcançar maior equilíbrio.

 

A VIDA É DESMEDIDA, SEM MEDIDA

Por si, uma espécie não encontra limites em sua reprodução e sobrevivência – sua regulação é externa, forçada. Ela tem a pulsão constante e não autocontrolável de crescer sem limites, até esgotar o mundo. É o caso famoso das nuvens enormes de gafanhotos que comem tudo pelo caminho e, depois, definham de fome por falta de alimentos. Uma espécie invasora pode, de fato, destruir uma ecossistema antes de, enfim, por fome, destruir-se (superadaptação) – já que não encontra limite externo, um predador natural, ou artificial, ou novo. Uns regulam aos outros e vice-versa, limitam-se de modo recíproco, limites e barreiras recíprocas. Mas a pulsão está ali, testando-se, disposta a desregular o ambiente. O conjunto instável das desmedidas gera o equilíbrio ambiental relativo. A desmedida realizada produz crise.

Por outro lado, em geral, indiferente em si, para si – não para o ecossistema –, se a espécie diminui ou aumenta.

 

“FAZEM, MAS NÃO SABEM”

Marx Afirma que os produtores vão ao mercado igualar seus trabalhos – mas fazem tal igualação sem saber que fazem, como se igualação apenas das coisas que querem trocar. Temos aí uma teleologia, finalidade, objetiva e inconsciente. A abelha é um mediador que carrega o conteúdo de uma flor, o pólen, para outra flor, outra planta. Então, vital fecundação. Com tal exemplo, Darwin afirma que não há consciência ou intensão disso, logo, deduz-se que não há qualquer tipo de teleologia ou finalidade. Mas há – fazem, mas sem saber. Pelo contexto, incluso perfil corporal (como a co-evolução), as abelhas cumprem uma função biológica finalista, apesar de si mesmas, objetiva e inconsciente.

 

ABSORÇÃO DE FUNÇÃO

Se uma função é necessária ou possibilidade, então, alguma espécie, ou muitas, tendem a assumi-la. A necessidade e a possibilidade de gerar espécies carniceiras geram exato isso, nova adaptação ativa. Por que esse tipo de coisa ocorre? Porque, diante da lei da selva, há vantagens em tal novo. Por isso, também, a natureza parece harmônica e obra de um Deus.

 

TOTALIDADE E FUNÇÃO

O que diremos aqui é conhecido e reconhecido. Um membro corporal etc. tem sua função dada pelo seu contexto, pela totalidade aonde vive, pelo meio ambiente. Antes (e talvez ainda) servia para algo, agora serve para outra função. Além disso, pode ter mais de uma função, duplo caráter. Daí vemos com susto que biólogos sigam gente como Popper, não Hegel e Marx, os dialéticos.

 

A MEDIDA NECESSÁRIA

Os seres tendem a ter o tamanho que devem ter, a medida  a medida relativamente correta - ou extinção.

Geral: do tamanho das moléculas componentes e parte celulares até elementos como a gravidade

Particular: o ambiente tende a impor tamanhos, o contexto

Singular: por exemplo, animais grandes demais têm superaquecimento e definham.

O ambiente tem a medida que deve ter também, pois, maior ou menor de modo sensível, muda sua natureza coma mudança de proporção.

Nada disso parece novo, exceção talvez do modo de expor.

 

DESENVOLVIMENTO DESIGUAL

É preciso lembrar que espécies de um ecossistema desenvolvem-se – crescem, sofrem mutações etc. – de modo desigual. Isso gera combinações de sistema ora instáveis, ora com crise.

 

ESTRUTURA SISTEMÁTICA DA VIDA

Temos infraestrutura, estrutura, superestrutura em várias áreas como sociedade e psicologia, como veremos em outro momento. Plantas, bactérias etc. que extraem substâncias do solo, produzem oxigênio e fazem fotossíntese são o infra(estrutura), o equivalente na sociedade da economia. Herbívoros e outros seres são a estrutura. Carnívoros superiores e sua regulação do meio são a superestrutura. Tal estrutura, veremos também dentro da célula viva complexa.

 

TAMANHO E MASSA

Em dialética, vai-se da cada vez maior materialização para a desmaterialização relativa ou progressiva. Assim com os animais por crescimento e, depois, queda de oxigênio; crescimento e, depois, queda de energia; pequeno para grande número de membros. - Outra forma de observar está na dialética do intensivo-extensivo. Há menos animais de uma espécies, intensivo, logo grandes e massivos; mas, por concorrência interna ou falta de alimentos etc., tendem a diminuir de tamanho e de massa, logo, aumento em quantidade de membros, extensivo. O aumento do tamanho-massa, menos membros – intensivo; redução de tamanho-massa corresponde, via de regra, ao aumento de membros – extensivo. Isso afeta, por relação mútua, o intensivo e o extensivo, a materialização e a desmaterialização, de outros seres. Mantida constante a quantidade de alimento, abstraído outros fatores: maiores, menos membros – menores, mais membros – grosso modo, a quantidade de massa-energia total da espécie permanece igual, vinda, claro, do alimento.

 

BIOLOGIA E HISTÓRIA

Os seres vivos e a vida em geral (biologia) fazem suas próprias histórias, mas as fazem em condições – incluso corporais – que não escolhem e não controlam, junto ao peso do passado que permanece. As condições do inorgânico são na maioria dos casos, dados – só depois podem ser em parte alterados (incluso migração). O passado pesa, por exemplo, na anatomia do ser vivo.

 

ÁPICE RELATIVO

O mutualismo e a cooperação é um tipo, relativo, de ápice evolutivo e adaptativo, do mais apto. A vida coletiva e de “moral” coletiva (uma formiga doente costuma isolar-se, por ex.) ajuda a afastar um tanto o peso bruto da seleção. Nesse sentido, o homem também expressa tal ápice, apesar do classismo (propriedade privada), da alienação social nos últimos 5 mil anos.

 

AMBIENTE E SER VIVO COMPLEXOS

A existência de animais complexos pressupõe ambiente, também, complexo; vice versa, ambiente complexo pressupõe vida complexa. O grau de um motiva e estimula o grau do outro.

 

TAMANHO DO CÉREBRO RELATIVO AO CORPO

Aqueles de pensamento vulgar, mas quase apenas eles, pensam o desenvolvimento do cérebro na história da vida como desenvolvimento apenas do intelecto – mas o instinto, os sentidos e a emoção também foram desenvolvidos – e os eles ajudam uns aos outros, reciprocamente, em interação no desenvolvimento de cada particular, ainda que haja descompassos aqui e ali.

 

ADESTRAMENTO

Nossa vantagem é, também, grande adestramento e seleção artificial – ou seja, adestramento da evolução! (Assim como adestramos tantas leis.) No caso prático cotidiano, adestrar é a vantagem das mãos humanas, pois, além de punir, oferece o singular carinho. No caso do autoadestramento da espécie, cumpre grande papel a seleção da fêmea, por parte das fêmeas.

 

RELAÇÃO DE CONTEXTO

Há interação, oposição, interpenetração, disputa e cooperação de ambientes e ecossistemas. Entre um em outro, há o cinza, a zona cinzenta, de transição, a fronteira de travessia dos seres vivos. As nuvens de terra do Saaara são vitais para a riqueza da Amazônia, aonde “chovem”.

 

MENOS CAPAZ MAIS CAPAZ

 Se é menos adaptado, habilidoso etc., a algo em desuso (voar etc.), antes vantajoso no ambiente, então, tem-se uma vantagem, pois economiza energia etc. – torna-se, assim, o mais adaptado. O menos capaz torna-se o mais capaz. Outros aspecto: um defeito aqui é, porém, uma qualidade ali – na circunstância ou no meio. Daí uma forma, entre outras aqui expostas, de ver a relatividade da seleção.

 

TIPO “IDEAL” OU “FORMAL” E CONTRAVARIAÇÃO

Ainda mais hipótese que os demais. E se a regra for a diferenciação (mutação, combinação de parceiros etc.), o que garantiria a permanência? Há, nos animais complexos em especial, uma espécie material de tipo “ideal” a ser seguido, procurado e perseguido. Claro, isso pode estar no cérebro, que tem peso… Há, portanto, no grupo ou na seleção sexual etc., um tio de preferência, um padrão, que regula a mudança e até a impede de modo relativo. Isso tem relação com algo neste e noutros aspectos: uma seleção evolutiva para rejeitar a imperfeição (espinhas, piolhos na pele etc.), prazer em corrigir.

O tipo formal pode ser a imagem própria, de parte de si, ou dos pais; isso é uma forma de seleção e autosseleção ao procurar parceiros parecidos consigo e com os familiaresunilateralização (base biológica do complexo de Édipo; o oposto, complexo de Cronos, pode vir da semelhança dos filhos com os avós; tendemos a escolher parceiros desde a relação com o nosso cuidador do sexo oposto[26]). Isso gera especiação.

 

TRÊS ADAPTAÇÕES

Temos a adaptação comum, relativa e imperfeita. A superadaptação, como espécies invasoras vitoriosas (sem predadores). E a hiperadaptação, bastante ativa, do homem.

 

BIOLOGIZAÇÃO DA NATUREZA

O meio ambiente com seu poder de seleção também é, de volta, biologizado. Plantas aparecem como desbravadoras, colonizam um espaço e preparam terreno para receber outras vidas. O é meio inorgânico torna-se cada vez mais orgânico, também inorgânico biologizado. Vida e meio tendem a se tornarem cada vez mais um, além de seu lado interno já unitário.

 

EXTINÇÃO: O NEGATIVO POSITIVO – ERAS OU CICLOS

As grandes extinções podem estimular espécies e evolução. Em primeiro lugar, há deriva genética no sentido de mistura aleatória das populações (lembramos, ademais, que estresse estimula a sensualidadade para manter vivo o DNA). É bem provável que a extinção dos dinossauros abriu terreno para a prosperidade dos pequenos, pouco e escondidos mamíferos. Além disso, os sobreviventes, deste longo período em escala humana, são os mais aptos – uma seleção elevada à décima potência. Crise é, também, oportunidade. Deve-se lembrar que as crises são formas, uma dentre elas, de marcar eras ou ciclos. Provável por efeito cósmico, temos extinções em massa a cada 27 milhões de anos.

 

TIPOS DE SELEÇÃO

A seleção natural divide-se em:

1)      Seleção natural ambiental (o meio seleciona)

2)      Seleção sexual

3)      Seleção de grupo (incluso autodomestificação)

4)      Seleção de ambiente (a espécie seleciona o ambiente ou o modifica)

5)      Seleção social (feita pelo homem)

6)      Seleção por grande extinção

7)      Seleção por parasitagem

8)      Seleção cognitiva

9)      Seleção por família (matar filhotes “incomuns”)

10)  Seleção de leis (a relatividade delas etc.)

Deve-se destacar, enfim, que o ambiente também diversifica-se e evolui, ainda que de modo relativo. Mas, de todo modo, o pensamento de Darwin sobre, ainda que com grãos de sal atuais (biólogos dialéticos etc.), já nos permite uma compreensão geral. Enfim, tais seleções podem entrar em oposição e contradição.

 

RELATIVIDADE E APTO

É o mais apto quem sobrevive. Mas há situações em que aptidões maiores não geram seleção, prioridade, reprodução maior. Se, numa espécie, alguns produzem por si um elemento enquanto outros não conseguem fazer o mesmo processo interno, mas a alimentação já nutre com abundância com tal mesmo elemento, a vantagem até desaparece com o passar das gerações. A vantagem é selecionada para saber se é necessária, contingencia que se torna necessária, ou contingente.

 

REAÇÃO CONTRA A EXTINÇÃO

As espécies em proximidade da extinção reagem contra a extinção de seu núcleo, de sua genética. Isso é feito por mistura de espécies (ou raças e variações) próximas. O javali no Brasil, invasor, copula com o porco e deixa descendentes. Talvez os neandertais perante o fim, com poucas opções de reprodução, tenham escolhido homo sapiens – uma razão para termos um pouco de DNA deles conosco. Claro que isso é por lei e inconsciente.

 

OPOSTOS

A biologia descobriu a corrida armamentista: o predador fica mias rápido – as presas mais rápidas escapam e deixam filhotes capazes – então o predador tem de ser mais rápido, os mais capazes comer mais, vivem – e assim por diante. Mas temos muitos opostos: além do fato de partes do corpo serem duplos (a boca serve para introjetar e expelir etc.) – o ambiente seleciona as espécies, mas também as espécies selecionam o ambiente – a espécie se adapta ao ambiente, mas o ambiente também deve se adaptar à espécie – extinção em massa destrói, mas prepara o terreno para a evolução – lei: ao caçar e preferir as melhores presas, o caçador gera no médio prazo um problema para si, pois a melhor presa não se reproduz como deve – e assim por diante.

 

CÉLULA E ESTRUTURA

Se as células iniciais de um corpo novo são iguais e são o mesmo material genético – como, então, se tornam tecidos e órgãos tão diferentes? Resposta: quando surgem e, no fundamental, até pelo modo de receber energia etc., a posição espacial relativa aonde estão determina seus destinos, seus perfis. A integração, relação e luta das partes as determina também.

 

O AMBIENTE SELECIONA PARA SI

Sabe-se que o homem selecionou espécies para si, funcionais para si (utilidade ou estética), mas até mesmo incapazes de viver no ambiente original de seu ancestral selvagem. Pois bem; o ambiente também seleciona para si, à semelhança do homem, não apenas a seleção natural de todo cega, e de modo imperfeito – reforçamos: um “também”. Aliás, à semelhança ao produto humano, espécies como o Gavião Real brasileiro não sobrevivem fora de seu ambiente, pois dependem do mutualismo com insetos capazes de limpar suas vias aéreas.

 

DUAS HIPÓTESES TORTAS

Aqui, nosso foco não é tanto apresentar teses novas, mas demonstrar a dialética na verdade da biologia; então, o novo. Mesmo assim, rompemos o limite do bom senso para produzir e deduzir. Vejamos dois eixos novos possíveis. Primeiro: há seleção natural (geral), há seleção sexual (singular) – e há seleção estética (particular); isso é comum entre nós, pois uma bela espiga de milho indica espiga de qualidade; um animal venenoso não será comido se parece venenoso (se raro amarelo etc.); a beleza pode ser via de seleção natural e sexual de modo extra (não apenas o mais forte etc.); já dissemos em outro momento que a beleza é um categoria de origem biológica, ainda que socialmente adaptada ou negada. Segundo: há um inconsciente biológico ao menos em muitos seres mais desenvolvidos; a lhama lambe o barro antes de comer a “venenosa” batata; como se por nada, os negros brasileiros gostaram de misturar limão ao seu feijão regular.

 

 

ESTÉTICA, MULHERES E NATUREZA

Enfrentando ou rompendo o machismo, a história da humanidade demonstra que há genialidade artística entre as mulheres, muito ainda em potência por opressão. No entanto, observe uma anormalidade: a maioria dos artistas são homens (machismo) – mas as mulheres consumem mais arte, sustentam os artistas. Isso se resolverá com o socialismo, mas merece uma observação. Sendo iguais aos homens, as mulheres são o polo emocional unilateral da divisão sexual – e talvez tenha algo de natureza aí, embora nada determinista. Os machos pássaros são coloridos, dançam, preparam o cenário – porém fazem isso para o agrado das fêmea. O leão tem uma volumosa juba – porém para o agrado da leoa. As mulheres se emanciparam, neste sentido, com ferramentas – algo típico humano, fruto  de seu trabalho – como o perfume, as tintas, as danças tribais e o espelho. Em vez de ver no macho, algo externo, e para fins apenas sexuais, já que animais não têm tais recursos via de regra – a mulher colocou para si o prazer estético, não apenas artístico, interno mais que externo ou no outro. Autoadmiração saudável, bom narcisismo. Ainda hoje, o adolescente aprende violão para conquistar, mas, o futuro terá cada vez mais garotas violonistas de alta qualidade. O socialismo tem rosto de mulher.

 

O SISTEMA TENTA SE AUTORREGULAR

Ao entrar um vírus no corpo, este defende-se com seus mecanismos. O sistema biológico também tenta regular-se, tenta. Se uma espécie cresce de modo anormal, mais predação vive. A quantidade absurda de doenças humanas é uma tentativa do sistema biológico de nos limitar, de oferecer barreira. Mas somos mais do que isso, somos sociais. Quando a água de um rio tem mais poluição, mais plantas com capacidade de “limpeza” surgem.

 

BIOLOGIA E METAFÍSICA

Apresentamos como uma das bases da metafísica materialista, marxista, tal equação estendida: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= luz =massa = campo). Pois bem; isso salta aos olhos na biologia. Tem-se luta por energia e, logo, por matéria, além da energia solar ser base da alimentação geral (uma parte da matéria, diz-se, retorna no ciclo enquanto a energia seria desperdiçada e de caminho unilateral ascendente; mas ambas são, no fundo, o mesmo). Vemos também que há luta por espaço como território. Há, ainda, luta pelo tempo, por exemplo, matar um animal garante mais-tempo para o predador e menos-tempo para o herbívoro caçado; há, portanto, luta de energia contra energia, esta apresentando-se externamente como duas em conflito. De tais categorias, em identidade interna, derivamos uma série enorme de questões biológicas, por exemplo, a necessidade de selecionar o espaço, o meio. Em outro momento, já usamos tal equação qualitativa para deduzir a origem a vida. Destaco que, como meio é o meio, tem-se dependência da água.

 

REVOLUÇÃO BIOLÓGICA

A teoria da evolução de Darwin está no polo opostos à teoria genética, logo era necessária uma unificação consistente. O gigante da biologia leu o artigo de Mendel sobre genes, sua pesquisa; mas foi incapaz de ver sua importância, ignorando. Ora; se um animal é igual-semelhante aos demais e aos pais, logo um “texto” (conceito) replicado e orientador passa de uma vida para outra – os genes, o DNA e o RNA. Vejamos um exemplo de tal unificação. A mutação opera a unidade íntima de acaso (contingência) e necessidade (causalidade, lei): a mutação ocorre por acidente, acaso, seja por erro de cópia, de replicação, seja por algum raio cósmico, e talvez um etc.; mas logo tal mudança deve se por à prova, ou seja, deve ser verificado se está de acordo com as leis duras da seleção natural e sexual, ou seja, prospera ou deixa de existir com o tempo. A dialética em ato! O acaso pode estar em acordo ou em contradição com as leis cegas e gerais. A teoria da seleção natural-sexual pressiona sempre para o fim da diversidade, o que não tem valor empírico; foi com a genética o momento de ver a realidade como totalidade, que o diverso é necessidade biológica. Darwin deu o passo primeiro e mais importante da revolução biológica, mas muito mudou desde então. A nova síntese, união de darwinismo e genética, os biólogos dialéticos renovando as interpretações com maior riqueza, novas conclusões e, enfim, a teoria evolutiva do desenvolvimento (evo-devo); são renovações imensas como se A origem das espécies fosse uma criança cujos traços apenas gerais permanecessem no adulto que se tornou. A teoria do desenvolvimento, por exemplo, muda todo o foco: o centro seria não explicar a diversidade das espécies, algo que deve de fato acontecer, mas porque a mesmidade de uma espécie permanece com o tempo! Isso é um ângulo totalmente novo, que deve ser unificado com a chamada nova síntese. Dele, sugiram teses como a da seleção interna. Espero que a breve contribuição deste capítulo, a teoria da população em especial, contribua em tal rumo, em tal avanço qualitativo.

A obra maior de Darwin teve de focar no aspecto central, pois isso foi unilateral e unidirecional. Para ele, o meio seleciona a espécie – mas a espécie também seleciona o meio, modifica-o, muda-se de lugar etc. Nesse sentido, os biólogos dialéticos, que não fundam uma nova biologia em geral, fazem boas correções, complementos e adaptações da teoria. Aqui, também em filiação aos dialéticos, dissemos que o meio deve também adaptar-se à espécie, além de a espécie se adaptar ao meio. Darwin iniciou a revolução, que deve ser aprofundada.

 

GENE EGOÍSTA

Richard Dawkins, na tentativa de afetar o sentimento de solidariedade religiosa, erra o tiro. Ele reduz a existência da vida ao seu conteúdo, à genética. Mas a realidade, muito mais complexa, o refuta: há solidariedade entre seres, há seres que apenas a “rainha” se reproduz, há ajuda para que outros “concorrentes” consigam a fêmea. Diante de tais fatos, os biólogos de tal escola tangenciam, manobram, tentam encaixar etc. O fato é que a vida não se reduz ao genético. E mutualismo ou algo parecido não é, no fundo, apenas uma forma outra de egoísmo – coisas como relações mutualísticas superam tanto o conceito de egoísmo quanto de altruísmo, que podem estar presentes, ora um e ora outro, ora um mais vantajoso que o outro. O gene nada tem de egoísta, pois tal categoria pouco se cabe nele. O ser é todo o ser, não apenas sua parte.

 

FUNÇÃO DO HOMEM

A pereira produz peras – ela tem tal função, sua criação. E o homem? Diz-se que não tem destino certo, que pode ter vários caminhos e perfis – e isso é cada vez mais diverso quanto mais diversa for a sociedade em que vive. Mas a verdade é que o homem – entro da diversidade de alternativas – é um ser para criar, criativo, prática e mentalmente, criador; essa é sua função. Põe o novo, pode. É uma condição biológica, e nova, que lhe faz social, mais que natural. Quem não é criativo, está ainda mais distante de ser homem. Derivado disso; somos, também, preservadores. E criar é, também, destruir.

 

UMA NOTA

Aqui, trato de afirmações consolidadas, atualizações, concepções, teses – e hipóteses. É um filósofo entrando aonde não é chamado… Por isso, às vezes, por exemplo, deslizo de certos conceitos em nome do público amplo ou por limite pessoal. No caso, entre outros, tive dois objetivos: 1) reforçar a relatividade relativa das regras e leis, algo ainda incomum; 2) demonstrar que algo passa-se para seu inverso. São duas formas, além de outras expostas acima, de visão dialética materialista, foco no “movimento estrutural”, diacronia sincrônica, ou história.

 

SEÇÃO QUATRO

O MÉTODO DIALÉTICO EMPÍRICO-DEDUTIVO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LEIS E CATEGORIAS DA DIALÉTICA

 

Antes de debatermos os métodos científicos, vamos à logica das categorias opostas. Falaremos das três lógicas – formal, velha dialética, nova dialética – com demonstrações da realidade e, quando necessário, a diferença entre minha dialética e a de Hegel.

LÓGICA FORMAL

Vejamos as leis desta lógica simples:

1.  A=A, lei da identidade

Algo é igual a si mesmo, um elefante é um elefante. Ele é o começo da ciência: distinguir e classificar os seres. Assim, o finito é finito; o infinito, infinito.

Um dos problemas desta fórmula é pensar o objeto de modo isolado, sem seu contexto, e de modo estático, sem seu processo. A dialética vê a estrutura e o movimento de que depende o objeto.

 

2.  A=A ou não-A, lei da não contradição

Ou algo é finito ou é infinito; não pode o infinito, nesta lógica, ser finito. A fórmula é apenas um consequência natural da anterior.

 

3.  A=x ou não-x, sem terceira resposta, lei do terceiro excluído

Algo é ou relativo ou absoluto. E ponto, e pronto. Não há meio-termo, caminho do meio ou um “terceiro excluído”.

Vejamos nossos exemplos. Hegel descobre que o finito é apenas um pedaço do infinito, aquele está dentro deste, eles são um, não externos um do outro; finito = infinito, ou melhor, igual a si mesmo e ao seu oposto. Mais: a ciência é relativa, ou seja, parcial, incompleta, temporária ou, ao contrário, é absoluta, chega à verdade ela mesma? Ora, há o caminho do meio, a ciência vai rumo à verdade, está cada vez mais correta, por aproximação – entre o relativo e o absoluto, ou seja, um absoluto relativo ou um relativo ele mesmo relativo.

Refutemos a falsidade, embora também correta, da formulação aristotélica. Diz-se: ou a luz (A) é onda (x) ou partícula (não-x), não havendo, portanto, meio-termo ou o terceiro excluído. Ou um ou outro. Mas a física moderna descobre que a luz é uma sobreposição dos dois estados opostos, tanto onda quanto partícula, podendo também ser ora um e ora outro. Curioso que universitários insistam na clássica lógica quando a realidade já a superou.

 

A VELHA DIALÉTICA

A dialética de Hegel diz que

A=A e não-A

identidade da identidade e da não identidade. Ou seja, o finito é ele mesmo e o infinito, o interno é ele mesmo e o externo, energia é ela mesma e a massa, tempo é ele mesmo e o espaço etc. Preserva-se a diferença dos opostos e, ao mesmo tempo, a mesmidade deles, que são iguais, ou em unidade, ou em identidade. Repitamos o caso anterior, pois é paradigmático. Antes, dizia-se que luz (A) é ou partícula (x) ou onda (não-x), sem permitir uma terceira resposta, o terceiro excluído. Mas hoje sabemos que a luz é um sobreposição de dois estados opostos, partícula-onda.

Pensar dialeticamente é, em parte, pensar assim: algo é ele mesmo e seu oposto; ou, senão, pelo menos em unidade com o seu contrário. O repouso é uma forma de movimento, por exemplo.

 

A NOVA DIALÉTICA

Hegel preserva a lógica formal dentro de si e, ao mesmo tempo, a supera. Aqui, preservamos quase toda a dialética de Hegel, além da lógica formal, numa nova dialética, com peso ainda maior ao movimento (diacrônico). A fórmula é esta:

A=A e… não-A.

O infinito põe o finito, o universo; o caos passa, a si mesmo, por não se suportar, para a ordem; o relativo desenvolve-se, tanto quanto pode, para o absoluto (o caminho do conhecimento – A=x e… não-x). O homem (A) é biologicamente determinado (x), mas torna-se, cada vez mais, tendencialmente (…), socialmente determinado (não-x). Demonstraremos melhor a seguir, perpassando a Lógica hegeliana e a nossa.

 

Nota histórica

A evolução da humanidade leva à evolução da lógica, mesmo se com tropeços e atrasos. A lógica formal pertence ao escravismo e seu desejo de naturalidade e eternidade da escravidão – a negação do movimento e do contexto. Mas o reino da permanência, da rotina e da tradição dá lugar ao reino frenético da impermanência.

O reino do produzido, almejado e isolado valor de uso ou produto (A=A) passa para o reino da mercadoria de algum modo igual a outra qualitativamente totalmente diferente e oposta (A=A e não-A); o dialético faz, mas não sabe – de seu fundamento histórico de raciocínio. A lógica de Hegel sustenta os opostos contraditórios, e quer focar a unidade deles para além ou por debaixo do movimento. É uma dialética sincrônica apenas. Pertence ao modo de transição que é o capitalismo, entre o passado classista e o futuro sem classes, que tenta equilibrar-se e manter-se em pé, como se fosse mais do que modo de transição. É uma revolução parcial e interrompida. Veja-se que o terceiro excluído, excluído na lógica formal (neste, ou A é x ou não-x, ponto final), é agora a verdade como se estática, como se ”entre” um extremo, x, e outro extremo, não-x. É um não-se. Um querer declarar o fim da história quando ela sequer começou. É a próxima lógica que dirá que o objeto vai de x para não-x, aquele ainda no interior deste.

A lógica marxista olha para o futuro – do e no presente: observa o mundo tal como é ele, e aponta aquilo que tende da ser por suas próprias forças. É a dialética também diacrónica, que aceita a transição como transição, a contradição como contradição. Em seguida, veremos o trabalho novo com os conceitos da Lógica hegeliana: a necessidade produz a liberdade em seu autodesenvolvimento, o nem positivo nem negativo passa-se para o positivo e o negativo apenas para depois fundar um novo neutro etc. Em Hegel, por exemplo, o neutro, o negativo e o positivo existem apenas juntos, uns dentro do outro, e ao mesmo tempo, sem movimento real, além de lógico, de passagem.

Vejamos mais sobre positivo-negativo. Para Aristóteles, A aqui e B ali, ou seja, senhor de escravos e escravos são opsotos separados, humano e ferramenta, e que não haja conflito!, com o mínimo de contato real possível, um mundo e estático e permanente. Para Hegel o positivo e o negativo são, juntos, algo neutro no todo, ou seja, na totalidade, sem contradição ou movimento real como desenvolvimento concreto. Assim, temos o buguês (positivo) e o operário (negativo), opostos que formariam, na amplidão geral, um capitalismo neutro, harmônico, o fim da história. Para nós, ao contrário, o nem positivo nem negativo, neutro, ou seja, o artesão medieval, passa-se para o burguês positivo e o operário negativo, então, contradição e movimento, então, tal oposição contraditória e atraente é superada pelo novo nem positivo nem negativo, o fim das classes – o fim do fim da história, encerra-se o capitalismo. Adorno sequer arranha nossa crítica ao afirmar que Hegel força a unidade contra a contradição e a diferença. O capital permite e proíbe o desenvolvimento da dialética.

Por muito tempo, tentou-se atualizar a dialétrica sem salto de qualidade, sem salto para si, mantendo intacto seu passado. Chega-se, porém, ao ponto em que uma nova dialética, filha legítima da anterior, deve ser consolidada.

 

CATEGORIAS CENTRAIS DA DIALÉTICA

1.  Totalidade (integração, geral).

Direto ao ponto: a totalidade é mais do que a mera soma de suas partes, pois ela é a síntese das partes e suas inter-relações. Além disso, a relação da parte com o todo. O exemplo clássico na natureza é este: a água (totalidade) apaga o fogo, mas ela é formada por átomos de hidrogênio, que causam combustão, e de oxigênio, que permite a combustão. Assim, a totalidade tem características que suas partes não têm.

Para saber o que é um próton não basta saber quais são suas partes num colisor de partículas. É preciso teorizar com e para debaixo dos dados.

Mario Bunge redescobriu, sem saber, de modo incompleto, Hegel, ao dizer que não é nem holístico, com a visão apenas do todo, nem individualista, reducionista, que foca no individual e na parte. Chama o foco em ambos como sistemático. Ele acerta, embora não seja o primeiro, mas esquece que a totalidade forma-se, desenvolve-se, movimenta-se. Aliás, a totalidade não é apenas “espacial”, estrutura e sincrônico, pois também é “temporal” processual, diacrônico e com história.

A teoria da complexidade não dá crédito a Hegel. Ela diz que há níveis ontológicos em que um nível apresenta leis e características que não existem no nível anterior, de onde veio (propriedades emergentes). Ora, isso já é conhecimento na dialética! A complexidade é assunto desde o início do século XIX, de modo algum é uma grande novidade.

A categoria totalidade exige, antes, a categoria de integração – numa totalidade. Sem isso totalidade não haveria. As árvores parecem mera coleção e indivíduos separados, mas elas estão ligadas, inclusive ajudando umas às outras, por ligações ocultas abaixo da superfície.

Lembramos que para Hegel e, mais uma vez, para Bunge, séculos depois, o mundo físico (mecânico) não apresenta um caráter de interdependência geral das partes, estas são separáveis e divisíveis. Não dependem umas das outras, não existem apenas por união. Já no nível de imediato seguinte, a química, já existe essa integração necessária. Assim, vamos do não interconectado à conexão universal – ou a internconexão física é demasiadamente leve, difícil de teorizar. Bunge poderia ter poupado neurônios para outras lacunas intelectuais se tivesse lido Hegel com atenção.

Destacamos, ainda, dois aspectos. Um bioma é um sistema que funciona por si, como totalidade. Mas se o homem põe, por exemplo, um animal novo sem predador natural naquela região, todo o sistema se desequilibra. Em um lago organizado e dinâmico, se pescamos e retiramos muitos peixes, o fluxo de matéria e energia se desregula podendo leva ao colapso do sistema inteiro. Na física, com características de química, os 3 quarks que formam o próton apenas podem existir se juntos, unidos, colados pelo mediador, o gluon. Quando se exerce uma energia para retirar uma das partículas, isso gera tensão, logo energia maior naquele local; assim, a energia de arranque gera logo a energia necessária para surgir de imediato outro quarks, mantendo a tríade e a “cola que se estica” (gluon, ou, para minha pesquisa, espaço no mais fundamental). 

Enfim, uma parte, ao ganhar energia, desenvolve-se num todo. Uma parte pode entrar em contradição com o todo ou com este por meio de outra parte, como na disputa energética – o que pode fundar nova totalidade. Um todo, ao acumular energia, torna-se outro todo.

 

2.  Contradição (relação, particular).

Para Hegel, a base do movimento é, em geral, a contradição. Em dialética, apenas é logico o que é contraditório. Mas a contradição está na própria realidade, na própria coisa, não em primeiro no pensamento ou no argumento. Uma estrela como o Sol tende a colapsar para dentro de si mesma por causa de sua gravidade, mas tal pressão gravitacional é produtiva, produz novos átomos mais pesados, logo liberando fótons na direção aposta à da gravidade, empurrando para a expansão estelar; uma estrela dura bilhões de anos em equilíbrio dinâmico, na contradição, entre as tendências de contração e as de expansão. Na biologia, temos o exemplo da “corrida armamentista”: um leopardo corre em busca de um cervo, logo apenas sobrevivem os cervos mais rápidos; porque estes aumentaram sua velocidade média, as novas gerações de leopardos têm de ficar também mais velozes; assim, um e outro se tornam cada vez mais rápidos, geração após geração, por causa do conflito entre ambos.

Os críticos de Hegel e Engels, dizem que o mundo natural tem identidade, diferença, diversidade, até oposição, mas nunca a contradição. Em geral, os pensadores de humanas do século XX foram, ao que parece, péssimos alunos de ciências da natureza. Na biologia, temos a seleção natural, do meio, e a seleção sexual; o cervo macho luta com outro cervo macho pela fêmea, logo quem tem galhas maiores tende a vencer as lutas; mas galhas cada vez maiores por seleção sexual gera peso extra, logo torna-se mais fácil de ser vítima de um predador por causa da dificuldade de correr – eis a contradição. Refutar a contradição como apenas social ou apenas capitalista é fácil, basta evitar a hiperespecialização de nossa época.

Para Hegel, porém, a contradição é externa perante a unidade interna; para Marx, a contradição também é essencial. A contradição, para ambos, é produtiva, não só destrutiva.

Para haver contradição, deve existir, antes, a relação ou a autorrelação. Por exemplo, os biólogos passaram da cooperação na natureza para a lei da luta de modo absoluto e unilateral, mas ambos existem na realidade biológica. A verdade, unidade, da contradição e da cooperação é a relação, relação recíproca ou relação consigo. Tudo apenas é em relação.

 

3.  Movimento (espaço-matéria, singular).

Os antigos pensavam o movimento como circular, caótico ou ilusório. Hoje, sabemos que apenas permanece aquilo que muda – e só a mudança é permanente. Trata-se de, além de saber as leis regulares do mundo, saber também as leis de mudança, de modificação – e até as leis mudam!

Movimento tem dois significados válidos: 1) deslocamento; 2) mudança. Adicionamos o terceiro: 3) mudança por deslocamento. Quando um objeto é muito acelerado, ganha massa e diminui seu volume.

Movimento é processo, desenvolvimento; mais do que mero movimentar; mais do que circular; também em espiral ascendente.

Por outro lado, para haver movimento deve haver o espaço e a matéria (aqui, em sentido amplo), o espaço-matéria. Movimento é unidade de espaço e matéria.

 

LEIS DA DIALÉTICA

1.  Mudança de quantidade para qualidade;

Hegel usa o exemplo da água: ele torna-se gelo de repente, no salto -  não de modo gradual, aos poucos. A água torna-se cada vez mais gelada, mudanças apenas quantitativas, então salta de qualidade, torna-se gelo, sólida. O marxismo vê também a mudança de qualidade sem salto como a criança que se torna adulta de modo gradual.

 

2.  Unidade, contradição e interpenetração dos opostos;

O átomo é formado por prótons, positivo, e elétrons, negativo. Os sexos opostos devem se unir. A adrenalina serve tanto para lutar quanto, oposto, para fugir. Mais a frente desenvolveremos melhor tal aspecto.

 

3.  Negação da negação;

Hegel usa tal exemplo: a fruta nega a flor, o broto nega a fruta e assim o ciclo continua.

 

4.  Desenvolvimento desigual e combinado.

As partes de uma totalidade se desenvolvem de modo desigual, em ritmo desigual, não sincrônico, formando uma combinação. Uma estrela, por exemplo, produz elementos pesados no seu centro, mas suas camadas mais externas ainda são feitas de elementos leves. Um feto inicia com desenvolvimento desigual de suas partes.

 

Como dissemos, mantemos de pé a dialética de Hegel, além da lógica formal, mas pesamos a mão no movimento, no diacrônico. Além disso, damos a base que falta à lógica de Hegel com nossa equação qualitativa, em especial aqui, a energia.

 

OBSERVAÇÃO PRELIMINAR: UNIDADE DOS OPOSTOS NO PROCESSO

Hegel tentou unifica as categorias opostas infinito e finito, conteúdo e forma etc. de modo reflexivo, mostrando a unidade interna e oculta delas, que são o mesmo ainda sendo diferentes. Mas ele permaneceu, em geral, estático, não diacrônico. Nesta obra, neste ensaio, demonstramos outros modos de ver tal unidade, como uma categoria passando tendencialmente à outra, ou a energia como base. Mas vamos mais longe: a categoria A é igual à categoria oposta B em processo. Assim, o contínuo (abstrato) é o discreto (concreto) em concentração, concentrado (processo) (veja-se: um feixe de luz aparece como contínuo porque várias partículas, fótons, os discretos, estão em movimento e juntas) – fórmula geral: o abstrato é o concreto em processo. O movimento de uma categoria, ou sua oposta, ou vice-versa, faz que com que haja a unificação delas. Isso é uma revolução na lógica dialética, junto a elementos como considerar a energia no “fundo” das relações categoriais, além da contradição das categorias mais do que apenas a oposição entre elas. Se não todas, quase todas as categorias em oposição externa fazem tal movimento, expressando essa igualdade no processo, o que dispensa uma exposição exaustiva. Os não marxistas não podem mais reclamar que nossa dialética parou na, ainda revolucionária, ainda na vanguarda científica, lógica de Hegel do século 19. Aqui, uma categoria passa para a outra não só no pensamento, também na prática, na matéria, em devir real-conceitual de uma para outra. Sempre que for interessante, daremos exemplos nas ciências, ou seja, no Ser, no objeto, na realidade, contra a exposição apenas abstrata hegeliana e kantiana.

 

MÉTODO DIALÉTICO

No início do século 19, Hegel tornou-se imortal por sua grande Lógica, o moderno método dialético. Suas contribuições, ainda hoje, em permanência ao que parece, são insuperáveis; uma dialética superior soa impossível. Além disso, deu-se-nos uma dialética materialista, embora de cabeça para baixo. A força hegeliana é o fato, entre o outros, de ser não unilateral, de suprassumir as grandes oposições da filosofia. Este ensaio, portanto, toma a Ciência da Lógica como sua base correta e primeira, mas incompleta. Por isso, também, trata-se de um ensaio.

Quando perguntamos a um hegeliano ou marxista “O que é ou como procede o método dialético?”, logo gaguejam, ficam desconfortáveis, improvisam. De um lado, de fato inexiste um procedimento investigativo fixo, o que perdoa tais intelectuais – na dialética, pesquisar é estar dentro de um labirinto, tentando descobrir o caminho correto; de outro, como disse Hartmann, o método dialético é irmão do fazer artístico, criativo e associativo, que “saca” a realidade até ali invisível.

O método dialético é, em resumo grosseiro, o inverso do método hipotético-dedutivo, ou seja, em linguagem inferior e falha, um método empírico-dedutivo. Parte-se sempre da empiria para alcançar a verdade do mundo, mas, como os dados mentem e escondem, além de revelarem, usa-se a razão para perceber aquilo oculto ou deformado. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles, mas neles mesmos. Assim, o empírico faz parecer que há apenas custos de produção somados a um cálculo do patrão para ter um preço de produção de suas mercadorias, mas Marx vai para além ou para dentro da empiria e descobre que há, na verdade, trabalho necessário com trabalho gratuito do operário ou mais-trabalho, valor e mais-valor, exploração e roubo. É verdade que os dados empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro daquilo empírico.

Eis o método dialético.

Em minha pesquisa, além de procurar nos dados a verdade, evitando a mera descrição, percebi que o marxismo caiu em teorias opostas, em oposições. Minha tarefa, portanto, foi listar as principais polêmicas e, colocando-as em movimento, resolvê-las – com o raciocínio, claro, mas em base à empiria. Eis, de outro modo, o método dialético.

A verdade é não empírica. Descobrimos na pesquisa empírica aquilo que não é palpável, tocável, mas que se revela ao pensamento desde a própria empiria. A dialética é a verdadeira fusão – mais do que mera aglutinação, como é o caso do hipotético-dedutivo – de empirismo e racionalismo; pois ao pensamento deve-se dois lados ativos, após colher o material necessário: 1) perceber os enganos dos dados; 2) perceber a verdade daquilo pesquisado.

Daqui para frente, teceremos comentários e propostas críticas de atualizações da obra Ciência da Lógica de Hegel. Uma crítica possível, mesmo que parcial, tem, de um lado, de agregar o melhor daquilo criticado para si, de outro, acertar o outro exato no seu ponto mais forte, de base – o ser e o nada.

 

SER, NADA, DEVIR

O puro ser é como o puro nada. Vejamos: se o ser não tem qualidade, nem características, nem determinações – ele, enquanto puro, é nada! Já o nada é, logo ele é como o ser! A coisa se mostra assim, numa anedota: tem cara de jacaré, tem olho de jacaré, tem focinho de jacaré – não pode ser um coelho. Assim o puro ser é como o puro nada; são diferentes e opostos, mas estão em unidade. Já o materialismo afirma que o nada amplo não pode existir, que ser não pode vir do nada. Eis que há teses na física que afirmam ir-se do vazio ao cosmos. Em minha elaboração, tal vazio total seria o espaço, o mais próximo do chamado puro ser por ser mais simples, o transparente. Para os físicos, o vazio teria campos e nessa autorelação surgiriam fótons que decaiam em elétrons e pósitrons que, de novo, tornar-se-iam fótons, num ciclo repetitivo até tudo mudar; mas demonstrei em outro local que a energia de ponto zero é, na verdade, autoflutuações do próprio espaço.

É o ser quem põe o nada como nada de um ente. Em nossa equação qualitativa, categorial: nada é ser no devir. O devir do ser, ele em movimento, põe o nada. Ou, se correto, o início do ser é tão simples que ele, sendo como nada, é um nada.

Na matemática, torna-se assim, desde Husserl: o zero é o vazio e o infinito, o infinito e o vazio; um, porém o outro; a relação do zero do conjunto infinito com o zero do conjunto vazio – põe o um. O que é uma lógica da matemática pode ser sintoma da própria realidade, da origem do universo. Talvez, acomode-se na quarta dimensão.

Ir do nada ao ser é nascer; ir do ser ao nada, perecer, processo de morrer. Mas as coisas e vidas, os entes, não surgem do nada, mas de outro ente. O nada no ente é apenas ausência e falta; o que pode ser diferente no nível, do Ser, do cosmos.

A unidade, não identidade, do Ser e do Nada é, para Hegel, o devir, o vir-a-ser, o tornar-se. Nesta obra, o devir é a unidade de matéria e movimento; estes, separados não tem verdade alguma. Destacamos que matéria, aqui, inclui não apenas a matéria na física, pois tudo é matéria – nada existe divino.

Em Hegel, ser não é nada, nada são de idênticos, mas estão em unidade. Para nós, o nada é substituído por energia e sua base, a quarta dimensão espacial, fora e dentro da coisa ou ente.

O vazio infinito, quarta dimensão espacial, não tem porque não se movimentar dentro de si próprio. Ao menos ele tem uma tensão que desaba no finito, funda nosso universo finito.

O Ser passa para a matéria e o nada, para o espaço. E um passa para o outro, como desmonstramos em nossa física. Tanto matéria quanto espaço são, sendo um, portanto, quadridimensionais.

 

SER

NADA

Limitado, potencialmente infinito

Ilimitrado, infinito real

Leis, regularidades, regras

Caos

Material

Imaterial

Preenchido

Vazio, vácuo absoluto

 

 

Os antigos filósofos, Parmênides etc., faziam completa confusão entre ser e nada, por exemplo, o ser seria infinito, não finito em si (não, claro, na quarta dimensão). O ser seria sem movimento. Mas a unidade, e relação, da matéria e do espaço faz o movimento, não em exato do espaço e do tempo. O ser é permanece, matéria, enquanto o ente e suas propriedade é sendo nada-ente-nada

 

 

 

CONCEITO SUPRASSUMIR

Hegel usa a palavra em alemã Aufheben ou Aufhebung para expressar três significados ao mesmo tempo: superar, guardar (conservar) e destruir. São significados opostos, conservar e destruir, na mesma palavra! E é isso que acontece na realidade (como o devir, viar-a-ser, como o suprassumir do nada e do ser).

O socialismo, por exemplo, destrói de fato o capitalismo, mas, ao mesmo tempo, o preserva – e também o eleva. O capitalismo não apenas simplesmente superado ou destruído – é suprassumido.

 

A DIFERENÇA E O MESMO

A dialética é uma filosofia ao mesmo tempo da diferença e da mesmidade. Ser e nada são de fato diferentes e, ao mesmo tempo, o mesmo. Causa e consequência são diferentes e são também o mesmo. Finito e infinito são diferentes, mas são o mesmo. E assim por diante. Em todas as categorias duplas que trataremos daqui em diante é preciso ver a unidade delas na diferença.

Essa é a dialética. Por exemplo: Lenin errou ao apenas opor a luta econômica (por salário, etc.) contra a luta política, como se esta última fosse a realmente válida e superior. Ora, a luta econômica é política e, ao contrário, a luta política é econômica. A grande luta política de 2013 no Brasil produziu uma onda de greve., por exemplo.

 

SER AÍ, ALGO E OUTRO

O devir, como unidade de ser e nada, passa para o Ser aí.

A determinação torna-se QUALIDADE, ou seja, determinação que é aí. Por sua vez, a qualidade torna-se REALIDADE.

Observemos bem: se determinação torna-se qualidade e, depois, realidade – e se determinação é negação –, então a própria realidade é negação. A realidade é negação de outra realidade.

Na realidade, o ser vai para dentro de si mesmo, torna-se ALGO.

 

ALGO E OUTRO

Algo passa por mudança qualitativa e torna-se Outro. Este Outro é, assim, um Algo que também passa para um Outro – ao infinito.

Aprofundemos

Temos um livro e uma caneta. Se um livro é algo, logo a caneta é outro (o outro do livro). Ora, isso é artificial, pois a própria coisa não está nos dizendo se é algo ou outro – somo nós arbitrariamente que decidimos isso. Mais abaixo, vamos resolver esse problema.

Os dois, livro e caneta, são algos e, ao mesmo tempo, os dois são outros (cada um é o outro do outro). Se o primeiro é algo e outro e o segundo também é algo e outro – logo eles são o MESMO. Vamos para o exemplo. No começo de O Capital, Marx fala de uma dúvida de Aristóteles: é possível trocar 3 sofás por uma casa, mas casa e sofá são coisas completamente diferentes! Como coisas diferentes podem ser iguais? Aristóteles não soube responder, disse que era apenas um artifício mental. Já Marx resolveu o problemas ao dizer que eles são também o mesmo, são igualado, porque são ambos frutos do trabalho humano – três sofás tem tanto trabalho humano quanto uma casa.

Aprendido isso, avancemos.

Como fazer com que o algo não seja outro, com que seja de fato algo – e que o outro seja de fato outro? A consequência é de fato o outro causa, por exemplo. Vamos para o reino místico: a alma, se existisse alma, é de fato algo e corpo da alma é de fato o outro. Veja que algo, uma pessoa, dividiu-se em dois algos, alma e corpo, um sendo verdadeiramente  algo e outro sendo verdadeiramente outro. Isto ser algo e aquilo ser outro já não é uma decisão artificial, uma escolha.

 

SER EM SI E SER PARA OUTRO

Como algo divide-se em dois algos, que são também algo e outro, ocorre que eles se tornam ser em si e ser para outro. O ser em si é o ser dentro de si – enquanto o ser para outro é externo, digamos. Na metáfora da alma e do corpo, o ser em si é a alma e o ser para outro é o corpo pertencente à alma (por isso, para outro).

Há ainda outra interpretação. Os dois algos, separados um do outro, nesta relação são, cada um, ser em si – ou seja, independente do outro, sem relação com o outro, relacionado apenas consigo mesmo. Mas cada um é, por outro lado, ao contrário e ao mesmo tempo, ser para outro – ou seja, ser que está nessa relação com o outro.

Em movimento, o ser em si torna-se para outro – depois pode ser para si. O trabalhador artesão torna-se operário (para outro, o burguês, que é para si) e, por meio da revolução, torna-se para si. Quando um torna-se para si, pode ter outro que é para outro, para ele.

 

 

DETERMINAÇÃO, CONSTITUIÇÃO

A determinação é, por exemplo, o fato de uma bolsa ter a determinidade, para dentro, de guardar objetos; ele é um só com a sua constituição, que são o mesmo. O que nos interessa é que se põe na determinação a ideia de núcleo. O átomo é determinado pelo seu centro, formado de prótons e nêutrons, sendo a quantidade do primeiro o que determina a natureza primeira de uma partícula atômica. O núcleo preserva-se enquanto os elétrons em volta dele sofrem as ações do meio externo, ao menos de modo mais direto. O núcleo desenvolvido da vida complexa é o cérebro; na célula, evoluiu-se dos seres procariontes, sem núcleo, para seres eucariontes, com o código genético determinante protegido.

A constituição pode revelar-se como tal ao fundar a determinação, e este último torna-se a si mesmo com a construção da constituição.

 

LIMITE, MAU INFINITO, O INFINITO QUALITATIVO

O infinito qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia. O infinito está já aí sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito está diante de nós, no meio de nós, não avançamos até ele. O bom infinito produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão. Este infinito ruim se expressa na natureza como com a altíssima reprodução de gafanhotos, formando uma nuvem, comendo tudo em sua volta, logo faltando depois comida (energia) para sua própria sobrevivência, passando assim por algum tempo do nível de equilíbrio de sua população.

Aqui vermos o erro de Hegel ao esquecer o conteúdo. O que é infinito, o infinito, senão o espaço? Ele abarca o finito dentro de si, além de o formar. Quando a Lógica diz que o Ser passa a ter a determinação da infinitude, diz apenas que o espaço, como o vazio, está no centro da ontologia. Finalmente, resolvemos a questão, encontramos o fundo.

Se o infinito produz o tempo, manifestar-se como, a hipótese insistente de muitos sobre o tempo produzir o espaço, não o inverso, ganha novo significado: o infinito produz as três dimensões, ou melhor, as quatro. Curioso notar que a garrafa de Klein, sem externo nem interno, tal como a fita de Möbius, tem uma dimensão a mais; e, nestes casos, os “lados” são uma quase ilusão ao se focar na parte, no pedaço, não no todo – o que aponta para as três ou quatro dimensões como pedaços do infinito, parcialidades relativas.

Nossa teoria atual e os dados dizem que nosso universo é finito. Mas se ele tem fim, há algo depois de si e este também tem algo, como outro universo, depois de si – ao infinito. O problema é a concepção de infinito como uma linha reta cada vez maior, sempre podendo avançar mais, ou seja, o mau infinito, da progressão contínua, pois encontra um limite-barreira e o supera, encontra outro e o supera, e assim por diante. Como dissemos, o infinito como um círculo sem começo nem fim hegeliano tem por resposta prática a quarta dimensão espacial-temporal. Nosso universo é finito, mas infinito quando visto “para dentro”, além da possibilidade de haver outros universos irmãos. O universo em 3 mais um tempo dimensões, finito, tem a pulsão extensiva, amplia-se, um finito que quer ser infinito, má infinitude.

A ideia de que há infinitos maiores do que outros também cai na má infinitude do progresso. Mesmo uma teoria errada pode ser desenvolvida ao limite, como é o caso.

Sobre o limite, sabemos que a célula tem uma borda sua, uma membrana que a separado externo. Na física, dois espelhos ou duas placas de ferro não se fundem, não se tornam apenas um, quando encostados porque possuem sujeira feita de outros materiais nas suas superfícies, que servem como limite e borda, barreira; se eles são polidos, limpos, fundem-se, tornam-se apenas um. Em nossa teoria, o próton não se funde com o elétron porque são ambos pedaços em si inteiros como espaço concentrado, logo com limite, borda, barreira; logo, necessário muita força e energia para fundirem-se no nem positivo nem negativo, em nêutron (inteiro de fato inteiro, antes dividi em duas partes, um positivo e outro negativo).

O vírus é vida por que possui: 1) determinação, ou seja, DNA, 2) constituição e limite, ou seja, uma borda celular que o separa do meio, e 3) quer superar o limite como barreira, ou seja, parasita células para se multiplicar. Vida, portanto.

 

UNO E VAZIO – ATRAÇÃO E REPULSÃO

Para Hegel, o infinito real desaba no uno, no ser para si. Ou seja, ele é um dos precursores da teoria do Big Bang e da concussão de que uma estrela expande-se e contrai-se num ciclo de repetição.

É provável que o infinito, aqui exposto como quarta dimensão espacial, forme nosso universo, como o núcleo pequeno e denso do primeiro Big Bang.

O que é vazio para Demócrito e Hegel, para nós é espaço. O uno, para ambos, é o mesmo que o vazio; para nós, o mesmo que o espaço, só que concentrado, como partícula e onda. O universo expandiu-se porque a matéria e a luz decaíram em espaço, facilitando a expansão, repulsão. Para Hegel, a relação do vazio com o uno (átomo etc.) é a causa da transformação do único uno em muitos unos, no múltiplo. O movimento, ao menos, está correto. O Big Bang foi uma expansão, as estrelas como exemplo de unos explodem em uma nuvem cósmica de partículas (os muitos, o múltiplo, os muitos unos). Mas Hegel foi além: a repulsão do uno único dá lugar à atração dos novos muitos unos; ou seja, o universo voltará a unificar-se como no seu começo e a nebulosa que surge da explosão da estrela reúne-se mais uma vez, e de novo, numa nova geração de estrela.

Aqui, Hegel antecipa a teoria das estrelas e a do Big Bang, assim como a crítica superante desta última. Kant primeiro considera as partículas estáticas e apenas depois adiciona a repulsão e a atração nelas, teorizando a origem do Sol e de seu sistema. Hegel, de modo lógico, foi mais longe, pois havia antes outra estrela, outro Sol, que se expandiu, explodiu-se, e formou as tais partículas das quais começa Kant.

Entre outras genialidades, duas se destacam neste ponto, entre elas: o Uno é produtivo. O animal é produção de energia, a estrela produz novos elementos químicos, a fábrica produz etc. Minha tese é a de que os buracos negros também são produtivos sob suas condições extremas como, talvez, transformando espaço em matéria ou elementos químicos excessivamente pesados estranhos.

As descobertas e as teorias modernas reforçam Hegel, mas ainda há outro ponto: o isolamento do para si do uno na repulsão parece como sua afirmação, ao isolar-se dos demais, mas é sua negação, exato por seu isolamento. Por excesso ou fata de energia, como um átomo isolado, precisa ligar-se com os demais para de fato afirmar-se, em comunidade. Na biologia, uma árvore cresce melhor na floresta do que se isolada, pois a presença de outras espécies torna seu ambiente mais saudável, como maior disponibilidade de energia na terra.

Para fazer jus, o primeiro filósofo a pensar algo como um Big Bang, onde algo concentrado dispersa-se no cosmos foi o grego Melisso de Samos:

 

Com efeito, quando o Todo se dissolve em seus elementos sob a ação do Ódio, o fogo se une em um todo e cada um dos outros elementos. Inversamente, quando de novo sob a ação do Amor, há redução ao um, e as partes são forçadas a se separarem outra vez em cada (elemento). (pré-socráticos, p. 203)

 

São palavras de Aristóteles sobre Melisso que demonstram a poderosa intuição científica, recuperada em nosso tempo.

 

O ISOLAMENTO DO PARA SI

Quando o Uno (um) desmancha-se, dissolve-se, fragmenta-se, ou seja, ocorre a repulsão de si mesmo, surge os vários unos, os muitos (múltiplos). Cada uno novo nega o outro uno, isola-se. Mas esse isolamento, que aparece como sua afirmação absoluta, é na verdade sua negação, sua destruição. Ele somente consegue afirmar-se de verdade em comunidade, em união, em atração. Assim, uma pessoa isolada passa por instabilidades físicas e mentais – somos um ser social. Assim, um átomo isolado é instável, logo, para resolver isso, ele se liga a outros átomos formando moléculas. Darwin descobriu que a planta desenvolve-se melhor se agrupada com outras plantas, de outras espécies. Ademais, sabe-se hoje, as árvores têm uma conexão abaixo da superfície por onde trocam nutrientes e informações, ajudam umas às outras etc.

 

ATUALIZAÇÃO: CRISE DE PRODUÇÃO DO UNO PRODUTIVO

Os uns, os muitos, os muitos uns (átomos, células, mercadorias etc.) unem-se em um grande “um” ou “Uno” – estrelas, corpos vivos complexos, fábricas. É o uno produtivo.

Temos, então, a contradição, crise: o uno produtivo, reunião dos muitos ou dos vários uns, falha, após seu largo desenvolvimento, em produzir!

A estrela não consegue fundir o pesado ferro em seu núcleo antes produtivo, então colapsa em supernova, estrela de nêutrons, buracos negros.

O corpo vivo complexo – animal – falha na reprodução das células (muitos, uns) com o envelhecimento – câncer.

A produção da fábrica produz mercadorias (unos, muitos) demais, superprodução, por outro ângulo, produz menos valor por empregar menos (unos, muitos) trabalhadores (robótica, automação). Menos trabalho, menor transferência de energia.

Crise, crise, crise!

Ao seu modo, até a crise do uno é produtiva.

 

ATUALIZAÇÃO: CONTRADIÇÃO ATRAÇÃO-REPULSÃO

Ao negar parcialmente a contradição, Hegel não vê com clareza que atração e repulsão também ocorrem ao mesmo tempo, ou um derivando o outro, além da dominação de um sobre o oposto e vice-versa. Vê com mais clareza a alternância de ambos.

 

SIMPLES E COMPLEXO

Engels, em sua Dialética da Natureza, tenta demonstrar que o simples é, ao mesmo tempo ele mesmo e o seu oposto, o complexo, A=A e não-A. Assim, uma célula viva é simples, mas muito complexa quando observada por outro ângulo, dentro de si, pois é todo um grande sistema interno. Nossa nova dialética, além disso, inclui o momento do simples rumo ao complexo, A=A e… não-A. Assim, o ser vivo simples, unicelular passa para um ser composto, complexo, pluricelular, como a água viva e um elefante.

 

INTENSIVO E EXTENSIVO

Hegel diz da identidade de ambos, intensivo e extensivo. Um grito mais intenso, por exemplo, torna-se ouvido numa extensão maior. O que unifica os dois opostos é a energia, mas esta sendo limitada para o uso gera uma contradição, a afirmação energética do intensivo reduz a extensividade e vice-versa.

Uma estrela com mais intensidade de energia poder ser muito menor que uma com menos energia, pois produz mais gravidade, maior curvatura do espaço.

As quatro “forças” fundamentais da física são apenas um, similares à gravidade, talvez excluída apenas a nuclear fraca, responsável pelo decaimento do átomo. A gravidade é a força mais extensa, logo a mais fraca em intensidade; a nuclear forte, que mantém o núcleo do átomo unido, é a mais curta, logo a mais intensa – além de ser a mesma da gravidade em proporções de intensidade e extensividade diferentes e opostas, como espaço condensado, para dentro de si.

Para Hegel, o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro, energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade. Mas a intensidade é, também, espaço-tempo condensado; mas a extensividade é, também, energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.

A intensividade passa para a extensividade, vice-versa, a extensividade passa para a intensividade.

 

CONTÍNUO E DISCRETO

A realidade é fluido ou feito de partículas? Ambos. A união de partículas, uns, unos, forma algo contínuo, como a água contínua é formada por moléculas discretas. A energia permite a separação ou a união dos unos, dos discretos, formando algo contínuo. O espaço é tanto contínuo quanto discreto, o que pode ser visto, uma solução, pela teoria da gravidade quântica em loop, que defende o espaço ser como correntes cujas partes estão ligadas umas às outras. Ou, nossa tese, linhas de espaço.

Como o contínuo tem fim, tem borda, ele é ao mesmo tempo discreto.

Nossa nova dialética põe os conceitos “estáticos” em movimento, pois o abstrato é o concreto em processo – o contínuo são os discretos reunidos (como o feixe de luz), o discreto é o contínuo espalhado ou concentrado (como o espaço concentrado faz a partícula). Mas as categorias contínuo e discreto podem ser traduzidos como contínuo e descontínuo. Assim, repetindo as palravas de Lukács, o contínuo no tempo modifica-se, logo há a descontinuidade dentro da continuidade; e o descontínuo tem dentro de si continuidade também. Do broto, flor, fruto, árvore há o DNA que permanece no fundo, há a mesmidade ou continuidade de repetir todo o processo sempre, voltando ao ponto inicial ao final.

Ainda sobre colocar em mais movimento as categorias. Podemos pensar contínuo e discreto de modo “estático”: como dissemos, algo contínuo tem borda, logo é discreto; algo discreto tem extensão, logo é contínuo. Mas há, também, a visão em movimento: os discretos reúnem-se em algo contúnuo.

 

SALTO DE QUALIDADE

Engels diz que a natureza não tem salto porque ela já opera por saltos. Como dissemos, a água não se torna gelo aos poucos, mas salta para tal estado após esfriar-se muito. Mas há saltos por sobre etapas na natureza? Porque há etapas necessárias é que pode haver saltos por sobre elas. Primeiro, surgem as estrelas, ao juntar a matéria por gravidade, e depois, os buracos negros. Mas a computação moderna demonstrou que no início do universo partes dele colapsaram diretamente em pequenos buracos negros. Na biologia, dados empíricos de salto por cima de etapas é dificílimo de conseguir, mas deve haver.

O salto de qualidade ocorre por ganhar ou perder energia, de modo absoluto ou relativo.

O qualitativo pode “degenerar”, cada vez mais, em quantitativo – e vice-versa.

 

QUALIDADE E REARRANJO

Para dialética, a coisa ocorre assim: mudanças de quantidade nada afetam a qualidade, mas, chega-se a um ponto em que mudanças altas de quantidade produzem uma mudança qualitativa – salto de qualidade por mudanças de quantidade. Caso famoso da água que congela de uma vez ao esfria-se muito. As diferenças de qualidade são diferenças, no fundo, de quantidade: a diferença da luz vermelha para a violeta é a de quantidade, de frequência; a diferença qualitativa de átomos diferentes é a diferença quantitativa da quantidade de prótons e elétrons de cada um. Pois bem; há outro modo de diferença qualitativa que exclui a quantidade em si – o arranjo ou rearranjo dos elementos constituintes. A diferença qualitativa do diamante e do grafite não é a quantidade nem o tipo de partículas, que são iguais para ambos, mas a forma em que elas estão organizadas. Na hipótese da teoria das cordas, as partículas são cordas unidimensionais em que seus formatos-arranjos, se abertos ou fechados etc., importa para o que são. A primeira das três fases do socialismo é, grosso modo, um rearranjo – nova forma de organizar e hierarquizar os elementos – da última fase do capitalismo. O rearranjo pode até manter a qualidade como nas moléculas e nas diferentes formas de democracia.

Na obra O Capital, de Marx, este usa de modo inconsciente nossa formulação: primeiro, reúnem-se, a partir do capitalista, diferentes artesãos na oficina comum, cada qual com sua tarefa – todos fazendo, por si, alfinetes, por exemplo; depois, surge, por isso, o rearranjo das partes, pois, no lugar de trabalho mais isolado, cada trabalhador não faz uma agulha por si, mas uma das partes do processo de produzir agulhas – da cooperação simples à cooperação complexa, manufatura. Salto qualitativo sem mudança em si de quantidade.

Tal formulação é tão gritante que duvido ter sido o primeiro a formulá-la, mas, ainda assim, não conheço nenhum autor que a tenha exposta, tanto mais no modo como fiz acima.

No mais, mudanças quantitativas causam mudanças de arranjo, logo qualitativas. Rearranjo que tem por base, como em todas as categorias aqui tratadas, a energia, categoria central e unificadora, o calor e a pressão no caso diamante-grafite.

 

SALTO PARA SI

Na física, temos três tipos de neutrino, cada um mais elevado, mais pesado (com mais energia), em relação ao outro, mas ainda neutrinos, três sabores: neutrinos do Elétron, neutrinos do Múon e neutrinos do Tau. Como se o geral fosse o mesmo, ainda que diferentes e “maior” em certos aspectos e no particular.

 

CAOS E ORDEM

O caos não suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos, por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto, o caos, dentro de si.

Na coisa, a ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo. Isso se vê na previsão do tempo, que deve ser sempre curta.

O caos absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade de caos e ordem cai-se na probabilidade.

O socialismo é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.

O caos é mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.

Com o tempo, a Lua e a Terra se sincronizaram para que a rotação da Lua em torno de si esteja com o mesmo lado sempre direcionado para o nosso planeta. Na biologia, nos estágios iniciais de uma comunidade, formada por várias espécies em determinado espaço, há instabilidade; depois, com o seu avanço, adquire estabilidade, como população constante, e tudo o que a comunidade consome é por ela mesma produzido.

Dentro da ordem como a totalidade, reina o caos relativo.

 

SOBRE A PROBABILIDADE

A probabilidade revela a contradição de ordem e caos no mesmo. Há que separar o resultado geral do resultado particular. Em 2014, percebi que o governo Dilma, por causa das circunstâncias, iria cair, isso é o geral como resultado. O modo como iria cair poderia ser vários: 1) golpe, 2) renúncia, 3) impedimento, 4) protestos dos trabalhadores, não da classe média. São formas de cair. Há uma quinta forma de derrubar o governo, embora o mais improvável, o governo mudar radicalmente a politica e mobilizar nas ruas para impedir o processo; conhecendo-se a tradição pelega do PT, era pouco viável. O capitalismo cairá, isso é determinístico, mas a modo de cair, se vai ao socialismo ou à barbárie, ou à extinção, é algo em jogo.

O erro do paradigma do mundo como certa máquina, ou computador, ou relógio, não como sistema orgânico, leva ao foco na coisa, como um dado ou moeda. Ora, no dado perfeito ou moeda ideal, o que acontece é acaso, aleatoriedade, além de possibilidade, não probabilidade como algo de ½ de ser cara ou coroa. Já no sistemático há, de fato, probabilidade ou possibilidade crescente.

 

INFINITO QUANTITATIVO

Antes, tratamos da má infinitude qualitativa; agora, o oposto, trataremos da má infinitude quantitativa. Perceba que o quantum ou quanto, como quantidade sem limite em si, pode ir para o infinitamente grande ou infinitamente pequeno. Sempre há um número maior do que o qualquer outro. Avançar para um número maior faz com que suja a má infinitude quantitativa. Na má infinitude da qualidade, algo supera sua barreira e se torna outra coisa – a semente é limite e barreira de si mesma, e supera-se tornando-se broto, depois planta, etc. No quantitativo, ao contrário, essa mudança não ocorre: a passagem de 5 para 6 não muda a qualidade, apenas a quantidade é alterada. E torna-se algo repetitivo: 6, 7, 8…

Pequemos o Número 8: ele é um quanto ou quantum. E o que existe além de dele, fora dele? Existe o infinito da quantidade, do 9 adiante. Então temos o finito, de um lado, e seu oposto, seu além, o infinito, de outro. Esse finito tem natureza oposta, tem duas determinações opostas: 1) ele é uma quantidade determinada, por exemplo, 8; 2) mas tem o impulso irresistível de ir ao infinito, ou seja, de tornar-se 9, 10…

Quando separamos o quantum, quanto, e seu além, o infinito, descobrimos uma relação de opostos – o quantum e seu além. Mas Hegel faz uma bela manobra: o além, onde está o infinito, é também um quantum! Logo surge uma relação entre 2 quantum, entre duas quantidades. Então entramos no próximo tema: a relação quantitativa. O quantum tinha um limite apenas indiferente, quer dizer, ele poderia simplesmente saltar de 8 para 9, para 100… Tanto faz.  Mas, agora, limitado por outro quantum externo a ele, ele torna-se um quantum determinado, uma quantidade determinada e limitada por outro quantum.

 

RELAÇÃO QUANTITATIVA

Vamos tratar de quantidades, de quantum, que só têm sentido em relação um com o outro, nunca isolados. São três tipos de relação: a direta, a inversa (ou indireta) e a de potências.

Vejamos a relação direta. Se pegarmos números como 4/2, quatro sobre dois, temos uma relação em que o 4 e o 2 só têm sentido nessa relação. A divisão dá 2. Mas podemos mudar a quantidade, mantendo o mesmíssimo resultado (chamado expoente por Hegel): 6/3, seis sobre três, que também é igual a dois. O mesmo resultado, a mesma natureza, é expresso em quantidades diferentes.

Vejamos, agora, a relação inversa. Se dizemos que 3+2=5, podemos dizer, também, que 4+1=5. Se um número cresce, o outro número cai – e vice-versa. Simples assim. Um número nega o outro para manter o mesmo resultado, 5. O limite dessa relação é igualar ao resultado, como 5+0=5. O último 5 aparece como limite, como barreira, além do qual está o infinito.

Por último, vejamos a relação de potências. Se dizemos 22 ou 23, dois elevado a dois ou dois elevado a três, dizemos, então, que o 2 está em relação consigo mesmo como se fosse relação com outro, 2x2 ou 2x2x2. Essa relação consigo mesmo na potência é o quantitativo retornando para o qualitativo – o quantitativo qualitativo ou o qualitativo quantitativo. Uma interpretação extra sobre, al´[em de adicianarmos o “relação consigo como com outro” ao pensamento hegeliano e dialético: quando, na física, há potência de 2 em E=mc², ou d² na gravitação de Newton, a potência de dois já diz que não falamos em exato da velocidade da luz, c², ou do espaço e da distância, d², mas de algo outro qualitativo que eles representam quantitativa e qualitativamente, erxpressam e medeiam, o que nos insinua o cálculo qualitativo deste livro: movimento = energia = tempo = espaço = matéria.

Para passar ao próximo ponto, digamos algo especial. O quantitativo, inicialmente, aparece como aquilo que pode subir e descer sem limite, sem mudar nada. Mas a quantidade é verdade da qualidade. Para subir e descer como queira, o quantitativo deveria pertencer a algo que não muda nenhum pouco nesse subir e descer – mas isso nunca existe. A mudança de quantidade chega a um ponto em que muda a qualidade daquilo ao qual ele pertence – por isso chegamos à medida, unidade da qualidade e da quantidade.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

O marxismo percebeu que quantidade e qualidade podem entrar em contradição. Vejamos dois casos. Para vender mais quantidade de mercadorias, os patrões fragilizaram a qualidade das mesmas mercadorias para forçar o consumidor a logo comprar um novo exemplar. Hoje, a produção científica se mede pela quantidade de artigos publicados, mas isso diminui a qualidade de tais artigos, pois produzir algo relevante leva tempo. Como a quantidade vem da qualidade como sua base, ao deteriorar a qualidade, a quantidade acaba, por fim, a deteriorar a si mesma – embora de início a medida tome partido da quantidade, tal contradição tem de ser resolvida por causa da deterioração do seu oposto, logo de si mesma.

 

MEDIDA

O que os qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).

Na medida, Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste, limita a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele, limitando a energia. No social, o inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu deslocamento de espaço-tempo condensado e energia de sua base necessária, por exemplo. Vejamos um exemplo mais próximo. A Coreia do Norte não produz alimentos e materiais como petróleo com suficiência, o que dá base para o regime autoritário, ou seja, não produz energia suficiente para homens, outros seres vivos e para as coisas; por isso, por salto, teve de compensar produzindo energia nuclear para bomba atômica, assim atraindo recursos para si em forma de chantagem internacional.

Outro ponto é que, para muitos, por suas naturezas concretas muito diversas, maçã, por exemplo, não é igualável à xícara. Ora, ambas têm energia, logo certa quantidade de maçãs têm tanta energia quanto certa quantidade de xícaras. Em nível inferior, a quantidade de elementos atômicos também são iguais sob certas proporções de uma e outra.

 

POSITIVO E NEGATIVO

Vejamos. 1) o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo. Eis o movimento puro e uma pista para o pensar científico.

Para Hegel, o nem positivo nem negativo estava apenas ao mesmo tempo com o positivo e o negativo. Uma estrada vai, ao mesmo tempo, para o leste, positivo, e o oeste, negativo; mas estrada mesma é nem positivo nem negativo, abarcando os opostos dentro de si; o átomo neutro tem dentro de si o positivo e o negativo. Nós vamos mais longe, mantendo a contribuição estática hegeliana.

No início do universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”, diferente do elétron e do próton. Um fóton, sem carga, de alta energia divide-se em elétron, negativo, e anti-elétron ou pósitron, positivo, e, atraindo-se, colidem e tornam-se um novo fóton, também sem carga, nem positivo nem negativo.

 O próton e o elétron atraem-se porque são opostos, no nível externo, mas porque são o mesmo, no nível interno. Ambos são completos incompletos, pedaços de algo antes uno (nêutron). Já que são partes, além de proporções gerais diferentes, um cai no outro com facilidade; mas como cada um, sendo parte, é também um inteiro, o elétron e o próton afirmam-se, têm fronteira (campo), um não cai no outro como deveria. A fronteira também se dá pelo motivo de ambos serem espaço condensado, com campo próximo próprio. O mesmo fato da atração, ser espaço concentrado, causa a repulsão, ser algo em si como espaço condensado.

A contradição entre o positivo e o negativo revela-se no exemplo da contradição entre proletariado e burguesia. A contradição de elétron e antielétron se dá porque, na atração, cada um afirma-se diante do outro – mas exato isso aproxima.

Na biologia, os primeiros seres reproduziam-se por si, assexuadamente, e, por intermédio do herrmafrodismo, surgem seres mais complexos com sexos opostos. Nestes, os opostos, que podem disputar, por exemplo, espaço e energia, unem-se num nem positivo nem negativo para a reprodução dos genes e da espécie.

Os opostos externos atraem-se porque são, no fundo, semelhantes, pois semelhante atrai semelhante.

Em Hegel, tanto faz o que é nomeado positovo ou negativo, um ou outro pode ser chamado positivo etc. Mas pode, sim, haver critério: o positivo é o que domina na situação (burguesia, próton) e o negativo é o subordinado (operariado, elétron) – o negativo é a mudança, via de regra.

 

A REGRA

A regra é uma forma de medir exterior, fora, daquilo medido. Mede-se, por exemplo, o tempo como uma forma de medir os segundos, os minutos, as horas, etc.

 

A MEDIDA ESPECIFICANTE

Agora, a medida específica de algo: diz, por exemplo, qual o tempo específico daquele objeto, daquele evento.

 

 

RELAÇÃO DE AMBOS OS LADOS COMO QUALIDADES

Para pensar o título deste subcapítulo, pensemos o seguinte cálculo: velocidade é igual ao espaço sobre o tempo – v=s/t. Para medir a velocidade, uma qualidade, eu preciso medir, dizer o quanto, de duas outras qualidades, o espaço e o tempo. Na fórmula, parece importar apenas a quantidade, não a qualidade, do espaço e do tempo – mas eles estão aí como qualitativamente por "detrás".

 

O SER PARA SI DA MEDIDA

O ser para si da medida é que, por exemplo, o cálculo da medida, como v=s/t, refere-se às características de algo, de um objeto, de um momento, de certa matéria, de uma coisa.

 

COMBINAÇÃO DE DUAS MEDIDAS

Como a medida se refere a algo, duas medidas se combinam. Vamos ter de dar um exemplo do capítulo 1 d'O Capital de Marx, onde ele usa as próximas observações para demonstrar o desenvolvimento lógico e histórico da mercadoria rumo ao nascimento do dinheiro.

Nos povos antigos, não existia dinheiro. Dentro das tribos, as coisas não eram exatamente trocadas, mas apenas compartilhadas. Foi quando começou o contato entre uma tribo e outra, na fronteira entre aqueles povos, que começou a troca, o escambo -- produto por produto, mercadoria por mercadoria, de uma tribo para outra, e vice-versa. Aí não havia dinheiro algum: aquela mercadoria media-se em certa quantidade de outra mercadoria, de outra tribo. Algo parecido com: 1 casaco = 3 braças de linho. Veja-se que há duas medidas de duas coisas que se combinam.

 

A MEDIDA COMO SÉRIE DE RELAÇÕES DE MEDIDA

Com o tempo, a quantidade de trocas entre povos diferentes aumentou. Então uma certa mercadoria tornou-se trocável por certa quantidade de qualquer outra mercadoria. Algo parecido com: 1 casaco = 3 quilos de feijão ou 5 quilos de arroz ou 10 quilos de algodão ou 7 quilos de ferro -- ao infinito.

Veja que qualquer mercadoria pode ser a mercadoria central pela qual todas são trocáveis. 7 quilos de ferro = 1 casaco ou 3 quilos de feijão, e assim por diante, e assim por diante.

Se duas ou mais coisas podem ser aquilo pelo qual todas as outras se trocam, se medem – logo: deve haver algo em comum entre elas, nem que seja apenas tal relação mesma. No caso das mercadorias, de Marx, o comum é que todas são frutos do trabalho -- todos têm valor -- e se medem pelo tempo de trabalho socialmente necessário para construir a mercadoria.

No caso da química, podemos observar que todos os elementos têm anergia ou todos são formados pela mesma base - prótons, elétrons e nêutrons. O que diferencia QUALITATIVAMENTE os diferentes tipos de átomos -- hidrogênio, ouro, ferro, carbono etc. -- é que eles têm "apenas" QUANTIDADE diferentes do mesmo material (de elétrons, etc.).

 

A AFINIDADE ELETIVA

A expressão "afinidade eletiva" vem da química e da alquimia. Significa que algo tem preferência, atração ou facilidade de combinação com outro algo específico. No caso em que estamos focados, sobre a mercadoria, surge uma mercadoria pela qual todas passam a ter preferência de troca, atração -- o ouro, tornando-se o dinheiro. Por que ele? Bem; ele exige muitíssimo trabalho para ser retirado do fundo da terra, logo têm muito valor dentro de si (e muito valor em pequenos pedaços), por outro lado, ele pode ser fundido ou repartido como se queira (já um casaco é ruim para ser dinheiro, pois não pode ser cortado e remendado à vontade).

 

LINHA NODAL DE RELAÇÕES DE MEDIDA

Para este ponto, primeiro diremos de modo puro, abstrato, depois concreto, com exemplos. A mudança quantitativa, para mais ou para menos, vai aumentando, aumentando até que deixa de ser possível continuar mudanças de quantidade -- ocorre um salto de uma qualidade para outra. A mudança passo a passo, gradual, é interrompida e ocorre uma ruptura, uma mudança de qualidade.

É famoso até hoje a ideia de que na natureza não há saltos. Isso está errado. A água líquida fica cada vez mais gelada, mas ela continua água líquida -- ela não fica gradualmente mais sólida, ao poucos, ou cada vez mais rígida. A água salta de líquida para sólida, um salto de qualidade. Veja-se que mudança de quantidade, de estar cada vez mais frio, é interrompida para uma mudança de qualidade. A morte também é um salto: vai-se envelhecendo aos poucos, passo a passo, até que não basta, então salta-se de uma vez para a morte, interrompendo o gradual, o pouco a pouco. Na história, isso também acontece: mudanças graduais na sociedade -- como a tecnologia nas empresas levar ao desemprego -- leva a que, por salto, ocorra uma revolução.

 

O SEM MEDIDA

O sem medida ou o desmedido não é apenas uma qualidade, pois também é um substrato, uma coisa, uma substância ou matéria. É como se as mudanças de quantidades e de qualidade de algo fosse apenas uma mudança externa, na superfície da coisa – por dentro ela permanece igual a si mesma (mesmo se mudando).

O lado externo é com medida – o que ele é por dentro é o sem medida, o que não se deixa limitar pela medida. Existem vários tipos de elementos químicos diferentes entre si em quantidade e qualidade. Ora, por dentro todos eles têm algo que permanece em todos – prótons, elétrons e nêutrons (eles são o sem medida em relação aos elementos).

Como qualidade, o processo social chamado capital é desmedido, sem medida. A concorrência empurra para produzir mais mercadorias, mais quantidade de empresas. O problema é que o patrão não sabe se suas mercadorias serão vendidas, se há procura real por elas, pois a economia capitalista é sem planejamento central – ele só descobre depois de produzir, no mercado. Assim, com a vontade incontrolável de crescer a produção, o capital é o sem medida. O dinheiro sempre quer mais dinheiro, num acumular rumo ao infinito, um processo sem medida que o agrade de todo.

Complementemos. Comum que o com medida torne-se, em seu evolver, sem medida – e o inverso.

Em estática, o sem medida é o que não tem limite, borda, que não tem quantidade fixa. Em movimento, o sem limite é algo que está em regreção ou em avanço sem limite, sem respeitar limites, enfrentado-os até.

O sem medida é 1) ou indiferente, indiferença 2) ou com um impulso em si ilimitado, imedido.

No todo, as partes em si são sem medida – o contexto, a relação com as demais partes e entes nos dá medida (limitação recíproca para obter conteúdo e forma – um átomo no vácuo real colapsa). Na moral, os demais humanos ao redor ajudam-nos a calibrar nosso atos e valores; o isolamento na internet, por exemplo, sem a ameaça-presença dos outros, faz-nos perder a medida, ou seja, somos mais agressivos, críticos negativos etc.

 

A INDIFERENÇA ABSOLUTA

Aquilo que é a parte interna de algo, a substância ou substrato, que permanece igual a si mesma na mudança, onde a mudança aparece como apenas externa, na superfície de algo – é a indiferença. Nós costumamos pensar a indiferença como "não dar atenção para aquilo", mas aqui o significado é outro: o indiferente é o que não tem diferença dentro de si, sua própria diferença é apenas externa, quase pelo lado de fora de si.

 

A INDIFERENÇA COMO RELAÇÃO INVERSA DE SEUS FATORES

O indiferente tem a diferença que ocorre na sua superfície como algo que pertence a si próprio. Ele é indiferente, mas a diferença pertence a ele mesmo. Vamos oferecer um exemplo.

Em minha pesquisa, percebi que os países chamados socialistas eram, na verdade, frutos de revoluções, ao mesmo tempo, de duas naturezas, tanto capitalista quanto socialista, e eram então sociedades como duas naturezas apostas, capitalistas e socialistas. O indiferente é a própria realidade material daquelas nações -- as pessoas, as pontes, as fábricas, e assim por diante. Nesta realidade de base, do chão do real, ocorreu uma luta entre as tendências socialistas e as tendências capitalistas daquelas regiões -- isso é a relação inversa dos fatores. Na medida em que as tendências capitalistas cresciam, as socialistas eram, em oposto, diminuídas. Até que a tendência capitalista fosse total, engolisse toda a sociedade, reduzisse a nada o seu inverso -- na década de 1990, todos esses países tornaram-se totalmente capitalistas.

No século 20, a sociedade mundial estava dividida entre países formalmente socialistas e capitalistas. O socialismo inicia em um país, mas nunca suportará sozinha ser cercada pelo capitalismo, logo o socialismo tem de acontecer em outros países durante algumas poucas décadas. O crescimento do número de países socialistas diminui seu oposto, o capitalismo – e vice-versa. O que não avança recua.

 

UM POUCO MAIS DA RELAÇÃO INVERSA

No ponto anterior, vimos que O indiferente, aquilo indiferente, divide-se por fora como dois fatores opostos, um cresce enquanto o outro diminui. Vamos aprofundar mais um pouco primeiro indo ao exemplo prático, depois à ideia pura. No século 20, os países formalmente socialistas tinham, na verdade, também elementos capitalistas dentro de si enquanto os países capitalistas amadureciam as bases do socialismo dentre de si mesmos – uns eram mais socialistas do que capitalistas enquanto outros eram mais capitalistas que socialistas. Veja que da oposição de um lado socialista e outro capitalista surgiu que os dois lados têm um tanto do lado oposto dentro de si mesmo. Até que o capitalismo domasse tudo, embora amadurecesse dentro de si as condições finais para o socialismo. Os opostos, assim, têm cada um mais de algo do que de outro algo.

 

PASSAGEM PARA A ESSÊNCIA

O ser tem tudo dentro de si. Até onde chegamos, temos algo que tem um lado dentro e um lado fora, um interno e um externo, uma essência e uma aparência, um conteúdo e uma forma. Todas as determinações (qualidades) que vimos até aqui foram tornando o ser menos vazio, menos abstrato: determinação, constituição, limite, uno, algo e outro, e assim por diante. Antes puro e esvaziado, o ser foi preenchido. Ele, o ser como substância ou substrato, repele-se a si mesmo, repulsão de si próprio, nega-se, desenvolve-se -- assim se preenche de qualidades ou determinações. Agora ele aparece como algo que é o substrato, a substância, a matéria em oposição ao seu lado "de fora". Mas essa oposição é apenas formal, errada: aquilo que é O indiferente, O sem medida -- o interno ou dentro -- também preenche o que aparece como o externo, as determinações. Isso ficará mais claro nos próximos pontos, onde resumiremos a doutrina da essência.

 

DOUTRINA DA ESSÊNCIA

A essência é a verdade do ser, o ser torna-se essência, a essência é o ser desenvolvido que foi para dentro de si mesmo. Quando pesquisamos o ser – os dados estatísticos etc. –, logo desconfiamos que este mesmo ser esconde algo, uma essência, que está atrás, ou melhor, dentro de si, dentro dele. O trabalho científico vai do ser (qualidade, quantidade) para a sua própria essência.

A Doutrina da Essência é a mais difícil, mas também a mais interessante (além de ser um livro bem menor que os outros dois). Sobre, reforçamos o que dissemos na introdução: aqui, uma categoria aparece em outra: essência aparece na aparência, o interno aparece no externo, etc.

 

DETERMINAÇÕES DE REFLEXÃO

Aqui, vamos já resumir a ideia central que unifica o livro, a grande “sacada” de Hegel. Vejamos: ele percebeu que se dizemos a categoria “positivo”, então necessariamente vem a categoria “negativo”, pois um somente pode existir com seu oposto. Outro caso: se há causa, logo deve haver a consequência desta causa. O fundamento exige o fundamentado, o conteúdo exige a forma, e assim por diante. Isso são as determinações de reflexão, pois um conceito reflete o outro, e eles ficam nessa relação.

Parece que a categoria, determinação, “causa” é totalmente autossubsistente, autossuficiente, que se sustenta sozinho – mas percebemos que a categoria “consequência” é sua derivação natural com o qual está ligado.

Nas categorias da Doutrina do Ser – Ser, algo, constituição limite, uno, muitos, etc. – um conceito é fora do outro, passa para o outro, que passa para o outro, que passa para o outro… Agora, na essência, é diferente: como num espelho, um conceito se reflete no outro – um interno exige um externo, por exemplo.

Os conceitos da Doutrina da Essência passam a ideia de um lado “dentro” e de outro lado “fora”: uma essência e uma aparência, um conteúdo e uma forma, um interno e um externo, um fundamento e um fundamentado, uma parte e um todo, etc.

 

ESSENCIAL E INESSENCIAL

O inessencial é, por assim dizer, o lado de fora de algo, de um ser aí. Ele é o ser em oposição ao lado de dentro, a essência. Essa essência em relação com seu oposto não é mais exatamente essência, mas é o essencial. Então temos a essência transformada em essencial – e o inessencial que é a transformação do ser, do “lado de fora”.

Mas nada diz num “ser aí” qual pedaço dele é o essencial e qual é o oposto, o inessencial. Temos um problema, então. Como resolver isso? Hegel soluciona assim: na verdade, o inessencial não é o ser – o ser é a própria essência, e a essência é o próprio ser. Não sobra nada para o inessencial, que se torna zero, nulo, ou seja, mera aparência.

 

ESSÊNCIA E APARÊNCIA

A essência tem que aparecer.

A filosofia anterior a Hegel separou essência e aparência. Por exemplo, Platão dividiu o mundo em dois mundos separados: 1) o mundo da essência, o mundo da ideia, o mundo perfeito, onde não há movimento; 2) o mundo do sensível, o mundo que vivemos, onde há movimento, onde tudo morre ou é perecível. Hegel supera esse tipo de visão: a aparência é o nulo, pois a aparência não é diferente da essência – a aparência é, na verdade, a própria essência, que aparece a si mesma.

Em seu movimento de si mesma, a essência torna-se aparência. A essência não é morta, inerte, parada: ele movimenta-se para fora e para dentro de si mesma, modifica a si mesma, desenvolve a si mesma. A aparência é o aparecer da essência nesse movimento de si própria.

Não está a essência aqui, escondida, e, em oposição, a aparência ali, exibindo-se. Na realidade, a aparência sequer existe de fato – existe apenas a essência que aparece. Somos nós que, quando vermos o mundo, vemos apenas um pedaço dele, um ângulo dele (por isso a aparência, como se nos aparece aquilo); mas o mundo mesmo é apenas essência aparecente.

 

APARÊNCIA COMO ENGANO

Marx diz algo assim: se a aparência do mundo revelasse de imediato a sua verdadeira essência, toda ciência seria desnecessária. Com certa inocência, os filósofos antigos pensavam que bastava olhar o mundo, como ele é imediatamente, para saber como este mesmo mundo é.

A aparência esconde a essência, deforma a essência, aparece até como o inverso da essência.

Vejamos o caso na física, no inorgânico. Pela maior parte da história da humanidade, a ideia de sucesso foi a de que a Terra era o centro do universo e o Sol girava em torno da Terra, de nós. Isso aparece assim, o Sol nos rodeando, para visão imediata. Ora, isso tem até mesmo utilide prática, para nosso dia a dia: todos os dias dizemos que o Sol está se pondo ou surgindo, guiamos nossa vida nesse “fato”, embora saibamos a essência real, que é a Terra que está girando em torno do próprio eixo e em torno do Sol.

Na biologia, parece que as espécies mudam-se para adaptar-se por uso e desuso, por esforço: por se esforçar para comer em árvores altas, a girafa tem pescoço longo; porque a neve a branca, o urso é branco. Mas isso é um engano. Na verdade, acontecem mudanças genéticas ao acaso, que, se são úteis para a sobrevivência, são repassadas para os filhos. Surgiu um urso branco filhote por acaso, logo ele sobreviver melhor na neve, podendo camuflar-se, logo teve mais chances de sobreviver e reproduzir-se.

Na vida social, na mente do escravo todo o trabalho dele é totalmente trabalho para o outro, para o senhor de escravo que o domina. Aparece para ele assim, como se todo o fruto de seu esforço fosse destinado para outra pessoa. Mas isso é um engano da aparência. De fato ele trabalha de graça uma parte de sua jornada de trabalho para o senhor escravista, mas este “senhor” tem de manter vivo o homem escravizado, tem de fazer com que parte do seu trabalho retorne para ele mesmo.

No capitalismo é o contrário: parece que o trabalhador é pago totalmente pelo seu trabalho, nem mais nem menos. Esse engano tem “dados empíricos” que parecem provar que é este o caso, por exemplo: 1) o salário sobe se trabalha 1 hora a mais e cai se trabalha 1 hora menos; 2) o trabalhador qualificado ganha mais enquanto o trabalhador não qualificado, menos. Foi preciso o trabalho científico para superar esta aparência, para chegar à essência: o operário trabalha uma parte da jornada para si, para pagar o valor da sua força de trabalho, mas outra parte da jornada é trabalho para outro, de graça, não pago, um roubo do patrão.

 

CONTRADIÇÃO ESSENCIA-FENÔMENO-APARÊNCIA

A essência quer permanecer, permanece, mas ela é o próprio fenômeno, que muda e é inconstante, então, nessa contradição, este força aquela a mudar – mas são dois em um, o mesmo. Eis uma das formas de contradição unitária possíveis.

 

REFLEXÃO

Voltamos ao tema da determinação de reflexão. Desta vez, vamos desenvolver, derivar, este resultado do qual falamos antes.

Agora, faz-se preciso atenção. A reflexão não é reflexão mental, filosófica, subjetiva – é mais parecida com reflexão da luz ou uma “flexão para trás”, algo que vai, bate e volta.

Para ficar claro, em diante usaremos a determinação de reflexão de essência e aparência, embora outros casos (interno e externo, etc.) ainda serão trabalhados no avançar deste capítulo.

 

REFLEXÃO POSTA, PONENTE

Este é o caso inicial em que uma categoria põe a outra, sua oposta. A essência põe a aparência, o conteúdo põe a forma, o fundamento põe o fundamentado, o interno põe o externo e assim por diante.

Veja que há uma “hierarquia” como a essência ser a base da aparência.

Na verdade, esse pôr é, também, nenhum pôr. Por quê? A aparência, como dissemos, é nula – é apenas a própria essência que aparece. A aparência (ou o externo em relação ao interno, ou a forma em relação ao conteúdo, etc.) não é um outro, não é separado daquilo de onde veio, não tem vida própria, não é independente.

Consideremos o fato de “a aparência ser a própria essência”. Pois bem; essência sai de si mesma, bate na aparência, e assim retorna de novo para si mesma (reflexo, reflexão). Esse é o movimento, mas que, ao mesmo tampo, não é nenhum movimento – porque a aparência não é um outro, mas “parte” da própria essência.

 

REFLEXÃO EXTERNA, EXTERIOR

Mas agora vamos pensar o contrário, o inverso. Pelo menos como as coisas parecem ser, a aparência é um e a essência é o outro. A aparência é, agora, a outro da essência. Reflexão externa porque elas estão formalmente separadas uma da outra.

Aqui, o trabalho científico acontece assim: partimos da aparência (dos dados estatísticos, das qualidades de algo) para descobrir a essência desta aparência. A partir da própria aparência é que descobrimos a essência – nunca jogamos fora a aparência, pois ela permite chegar à essência.

Tudo parece e aparece ao contrário: é fato que a essência põe a aparência, mas desta vez partimos da aparência para chegar na essência da realidade – outro: é fato que a essência é a própria aparência, mas aqui ele parecem como cada um no seu canto.

Também partimos do fundamentado para descobrir qual é o fundamento de algo. Partimos do externo para descobrir o interno. Partimos da forma para descobrir o conteúdo. Partimos da consequência para saber a causa. É invertido.

 

REFLEXÃO DETERMINANTE, DETERMINADA – DETERMINAÇÃO DE REFLEXÃO

Quando fazemos o trabalho da “reflexão exterior”, descobrimos finalmente que aquela aparência (ou externo, ou fundamentado, etc.) da qual iniciamos não é nada sem sua essência. Cada um só existe com o outro e dentro do outro.

Chegamos, de novo, às determinações de reflexão. Essência sempre põe a aparência – e elas são o MESMO. O interior, o interno, sempre põe seu oposto, o exterior, o externo – e eles são o MESMO. Um continua a si mesmo dentro do seu outro; cada um tem seu outro dentro de si mesmo. Assim, o outro não é verdadeiramente um outro, mas o mesmo. Vejamos o segundo caso: se sou internamente um mau poeta, logo farei maus poemas; se, ao contrário, sou internamente um bom poeta, farei bons poemas – o interno se torna o próprio externo.

 

DETERMINAÇÕES DE REFLEXÃO

Neste ponto, vamos das ideias abstratas para, depois, exemplos concretos.

 

IDENTIDADE - DIFERENÇA

A essência é igual a si mesma, A=A, assim ela é identidade. Mas ela é, também, a negação de si mesma, ou seja, um movimento.

Nesse automovimento da identidade, da essência, ela se torna diferente de si própria. É tanto diferente quanto idêntica a si, dentro de si: a diferença tem a diferença e, ao mesmo tempo, a identidade.

O diferente ou o diverso não está do lado de fora ou ao lado da identidade. Ao contrário: a mesma coisa idêntica consigo, a essência, é que desenvolve uma diferença interna, por dentro da identidade mesma.

Assim, a filosofia e a dialética de Hegel são tanto uma filosofia da identidade (mesmidade, do mesmo) quanto da diferença.

 

DIVERSIDADE – (DES)IGUAIDADE

Como temos dois, a diferença e a identidade, chegamos à diversidade. As coisas diversas têm apenas uma relação externa umas com as outras – são indiferentes em relação às outras, cada uma em seu próprio canto, sem relação real.

A relação dos diversos é a igualdade ou a desigualdade. Mas nada neles, nos diversos, diz se eles são iguais ou desiguais uns dos outros. Essa comparação, que iguala ou desiguala, é externa, feito por outro, por um terceiro, por alguém.

Há algo mais sofisticado aí. Somente posso ser igual se eu for igual a outro, a um diferente de mim – um desigual. Por outro lado: somente posso ser desigual de outro se sou igual a mim. Veja-se que cada um, o desigual e o igual, estão um dentro do outro, e vice-versa.

 

OPOSIÇÃO – CONTRADIÇÃO

Os lados da mesma coisa tornam-se mais do que diversos uns dos outros – tornam-se opostos, o positivo e o negativo.

O positivo e o negativo são, no começo, apenas o negativo um do outro, um para o outro – cada um nega seu oposto apenas. Depois, segundo momento, fica bastante claro que o positivo é de fato positivo; e o negativo é de fato o negativo. Enfim, terceiro momento, descobre-se que o positivo e o negativo são apenas nessa relação um com o outro, aquilo que são eles são em uma relação necessária.

Tudo está em polos opostos, tudo tem oposição dentro de si mesmo.

Em muitos casos, a mesma COISA é tanto positivo quanto negativo. O dinheiro que o credor empresta ao devedor é, este mesmo dinheiro, negativo para um e positivo para outro, passivo para um e ativo para outro. A estrada que vai para o leste, positivo, também vai para o oeste, negativo; a estrada tem os opostos em si. O átomo tem prótons, positivo, e elétrons, negativo, dentro de si próprio. Se eu digo +A e –A, o que existe de igual e comum entre eles é “A”.

Já a contradição é, em geral, a fonte de todo movimento, automovimento. Tudo tem contradição de polos opostos, tudo está “quebrado por dentro”. Algo é tanto contraditório dentro de si mesmo como, ao mesmo tempo, é esta mesma contradição dissolvida.

O negativo afirma a si mesmo excluindo o positivo; também, o positivo afirma-se excluindo o negativo de si. Ora, eles somente existem nesta oposição, dentro desta oposição – mas, ao mesmo tempo, eles recusam seu oposto, repelem um ao outro. Isso é a contradição. Pense-se na luta de classes: o movimento operário repele a classe dos patrões, embora ambos estejam unidos por atração na produção, na fábrica; o fim deles é o fim das classes sociais, o socialismo.

A contradição não pode ser eterna, ela tem que se dissolver, se resolver. A filosofia comum pensa a contradição apenas como fonte de destruição, de fenecer, de morte; mas ela também é a fonte do desenvolvimento, do progresso, do movimento.

 

ESSÊNCIA COMO FUNDAMENTO

Assim, a essência foi para “fora de si mesma” e foi ganhando determinações de reflexão (diferença, positivo e negativo, etc.). Os opostos em contradição, o positivo e o negativo, são no fundo o mesmo, porque eles têm um fundamento igual (veja-se a semelhança das palavras “fundo” e “fundamento”). Vejamos um caso já citado. Uma pessoa impulsiva (fundamento, essência) torna-se “sem noção” em algumas situações, logo algo negativo, mas também torna-se criativa, logo algo positivo. A mesma “base”, a essência que se tornou fundamento, faz os elementos “externos”, as qualidades e defeitos, o positivo e o negativo.

Como a essência tornou-se fundamento? Indo dela mesma rumo à… ela mesma. Ou seja, desenvolvendo-se: ela se diferenciou dentro de si, se diversificou, se tornou oposição, positivo e negativo, contradição e… retornou para dentro de si porque os opostos nada são de fato, apenas dissolvem-se naquela essência que se tornou seu fundamento, que retornou para dentro de si mesma.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

Há em Hegel um erro no seu grande acerto: as categorias identidade, diferença, diversidade oposição, contradição – acontecem ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum! Além dessa maneira de pensar, há outra mais ativa: a identidade passa, de fato, para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para a contradição. As duas formas de pensar tais categorias, ao mesmo tempo e uma após a outra, são corretas, acontecem juntas.

Vamos para casos práticos que saem do tempo, do passar, lógico de Hegel rumo ao tempo comum, histórico – esta elaboração não está mais em Ciência da Lógica. Vejamos. O operário e o patrão são IDÊNTICOS, pois ambos são pessoas livres no mercado. Mas são DIFERENTES: um é vendedor de sua força de trabalho enquanto o outro é comprador desta mesma força. Logo, eles são DIVERSOS já que cada um é diverso do outro. Quando o patrão contrata o operário, eles formam a OPOSIÇÃO, pois um é operário e o outro é, ao contrário, o seu patrão – um só pode ser patrão se o outro for operário, e vice-versa. Enfim, vem a CONTRADIÇÃO: as greves, a luta do patrão por aumentar a jornada ou acelerar as máquinas etc.

O homem e a mulher primitivos eram IDÊNTICOS, mas logo se vê que eles têm DIFERENÇAS. Como essa diferença, tornam-se DIVERSOS. São também, formalmente, OPOSTOS. Quando surge a propriedade privada, o homem tem de saber se deixará herança para um filho legítimo, não de outro, logo a OPOSIÇÃO entre os sexos tornou-se CONTRADIÇÃO, controle do homem sobre a mulher.

O ancestral dos atuais seres vivos era igual a si mesmo, ou seja, IDÊNTICO. Seus descendentes foram, geração a geração, tornando-se cada vez mais DIFERENTES do seu ancestral. Depois, por muitas mutações genéticas, surge uma DIVERSIDADE de espécies (cuja origem é aquele ancestral idêntico e comum). A diversidade cai na OPOSIÇÃO e CONTRADIÇÃO entre os animais, entre os seres.

O império romano fez do Latim a língua da Europa – identidade. Mas as diferentes regiões desenvolveram diferentes sotaques – diferença. Estes diferentes sotaques avançaram para as variadas línguas latinas (português, italiano, espanhol, francês) – diversidade. Daí surge a oposição e, quem sabe, a contradição entre as línguas europeias.

 

NEM POSITIVO NEM NEGATIVO – UMA INTERPRETAÇÃO

O nem positivo nem negativo avança-se, para além de si, até a oposição entre o positivo e o negativo; por sua vez, esta oposição é resolvida – formando um novo “nem positivo nem negativo”.

O trabalhador artesão medieval (nem positivo nem negativo) é modificado pela relação entre o capitalista (positivo) e o operário (negativo); um afirma-se na realidade, por isso positivo; e o outro está em desvantagem, precisa mudar o mundo, por isso negativo. Ocorre a negação da negação com o socialismo – e o próprio operário nega-se, deixa de ser operário ou classe. Por outro ponto de vista: o primeiro, o artesão, é o positivo em relação ao que lhe substitui, a oposição entre o operário e o burguês, ou negativo.

No início do universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”, diferente do elétron e do próton.

Para Hegel o nem positivo e nem negativo acontecer somente ao mesmo tempo que o positivo e o negativo. A estrada é nem positivo e nem negativo, que tem dentro de si o rumo para o leste, positivo, e para o oeste, negativo (qualquer um dos dois pode ser considerado o positivo ou o negativo). Mas nós vamos mais longe. Um fóton de alta energia, nem positivo nem negativo, passa, a si próprio, para o elétron, negativo, e o antielétron, positivo, que se atraem e tornam-se, de novo, um fóton, nem positivo nem negativo.

 

FUNDAMENTO

A essência que foi para “fora” de si e, então, retornou para si – torna-se fundamento. É claro que o fundamento tem um fundamentado, logo desconfiamos que tudo existente tem um fundamento “atrás de si”.

 

FORMA E ESSÊNCIA

A essência é total, mas seu lado externo por ser visto como a FORMA. O lado externo é aquele onde vimos a diferença, a diversidade e a contradição – a forma está aí. Na verdade, a essência tem tudo em si, mas poderemos analisar forma e essência de modo – separado? É o que faremos na próximo ponto.

 

FORMA E MATÉRIA

Quando essência e forma se separam, a essência já não é essência de imediato, pois é reduzida à matéria, ao material. Podemos dizer que a matéria é passiva, pois é formada pela forma, enquanto a forma é ativa, pois dá forma à matéria.

Aqui, parece que a matéria existe por si mesma e, do outro lado, a forma só tem sentido se é a forma de um material. Essas são as consequências do método de separar o que, dentro da realidade, está necessariamente unido, em unidade.

Não existe forma pura, sem matéria; não existe matéria pura, sem forma. O que existe é matéria formal ou forma material. Vamos aos exemplos. A forma de moeda, para ser moeda, não pode ser apenas forma – ela é feita ou de cobre, ou de ferro, ou de prata, ou de ouro, ou seja, de algum material.

Indo além de Hegel: uma das unidades de forma e matéria é – a proporção, ou melhor, a proporção daquilo concentrado, para dentro de si.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

Em minha pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para, depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade, aumenta o tempo de vida.

 

FORMA E CONTEÚDO

A união da forma e da matéria – é o conteúdo. Vejamos um caso. Se eu tenho uma pintura retratando um jogo de futebol, esta mesma pintura tem a forma (da bola, dos jogadores, do campo, etc.) e também, junto, a matéria, a tinta principalmente, com diferentes cores. Ora, esta forma e esta matéria, unidas, passam uma mensagem fictícia, artística um conteúdo. Elas têm um conteúdo.

Vejamos outro caso. Marx diz que a relação de contrato entre trabalhador e patrão, quando aquele está no mercado trabalho procurando emprego, tem a FORMA de uma relação entre iguais – ambos, operário e patrão, são livres, estão no mercado, estão fazendo um contrato livremente aceito. Mas o CONTEÚDO é outro, de exploração, em que ou o operário vende sua força de trabalho para ser explorado por outro ou morrerá de fome.

Vamos para a terceira visão, comum no marxismo. A economia e a luta de classes, as classes sociais, são o conteúdo – já o Estado, os partidos, as organizações são a forma. Nesse modo de ver, tanto o conteúdo quanto a forma têm, cada qual, dupla natureza, duplo caráter. O conteúdo (economia, classes) é 1) muito mais dinâmica, mas 2) também mais instável, inconstante; por outro lado, a forma é 1) conservadora, lenta, paralisadora, mas 2) conservadora no sentido de conservar, de preservar (as conquistas, etc.). Assim, os conflitos e as instabilidades do conteúdo fazem surgir, de si mesmo, uma forma para “compensar”. Mas o conteúdo se desenvolve a tal ponto em que a forma conservadora torna-se um fardo, algo muito atrasado – o conteúdo renovado supera aquela forma e funda uma forma nova, para suas novas necessidades.

Uma forma pode estar em contradição com seu conteúdo: um partido comunista pode estar organizado de forma incompatível com seu conteúdo, com o perfil dos membros e com seu programa.

 

FUNDAMENTO FORMAL

O fundamento formal é fácil de entender, pois é o chamado “argumento circular”, uma tautologia. Vejamos: Por que a Terra gira em torno do Sol? Por causa da gravidade. E o que é gravidade? O que faz a Terra girar em torno do Sol… Percebe que foi do nada ao lugar nenhum? O argumento não avança, o conteúdo e forma estão aí fundidos num fundamento apernas formal, digno de riso. A ciência tem vários tipos de tautologias óbvias do tipo, que devem ser combatidas.

 

FUNDAMENTO REAL

A gravidade, por exemplo, é de fato o fundamento da estrutura de uma casa, de uma base. Ou seja, os alicerces da casa têm a gravidade como seu fundamento. Estes alicerces e a gravidade são a base para o “enfeite”, o inessencial, o não essencial. Por exemplo: as paredes de uma casa podem ser pintadas de vermelho ou azul – mas tanto faz a cor, e a gravidade não é fundamento dessa cor escolhida para pintar a casa. Então, além do fundamento e do fundamentado, tem uma porção enorme de “coisas” que não tem fundamento naquele fundamento.

Hegel faz uma crítica ao fundamento real. Um trabalhador consegue o emprego porque é disciplinado, tem experiência, tem beleza, tem contatos, etc. Qual dessas características é o fundamento? Nada diz que um – por exemplo, a disciplina – foi o fundamento da contratação dele enquanto os outros fatores seriam o fundamentado… Assim, a reflexão que procura um fundamento de algo pode escolher entre centenas de fatores para um apenas ser o central, o que é em si um erro.

 

FUNDAMENTO COMPLETO

O fundamento (real) tem, ele mesmo, um fundamento! Então temos 1) o fundamentado; 2) o fundamento deste fundamentado; 3) o fundamento do fundamento… Este 2 que ficou no meio é unidade tanto do fundamento real quanto do fundamento formal, pois ele é de fato fundamento (do fundamentado), mas ao mesmo tempo é um fundamentado. Com isso, Hegel fecha o ciclo total – não é necessário ir, ao infinito, para o fundamento do fundamento, do fundamento, do fundamento, etc.

O método de Hegel foi pegar o que é junto, a forma e o conteúdo enquanto fundamento formal, então separou a forma e o conteúdo no fundamento real, depois juntou novamente tudo no fundamento completo. Ele fez, também, assim antes: essência e forma estavam juntas, então as separou para chegar até a matéria e a forma, depois juntou no conteúdo e forma. Esse método será usado mais vezes, portanto merece atenção a este aspecto.

Ainda sobre o fundamento completo, o grande marxista Valério Arcary diz sobre o caráter (fundamento) de um partido, como o PT: “Partidos podem ser julgados pelo programa que apresentam para a transformação da sociedade. Ou podem ser explicados: (a) pela história de suas linhas políticas e de suas lutas políticas, sobretudo, as internas; (b) pelo confronto entre suas  posições  quando estão   na   oposição,   e   quando   se aproximaram  do  poder; (c) pelos valores  e  ideias  que  inspiram  seu programa (d)  pela  composição  social  de seus   membros,   militantes   ou simpatizantes, ou dos seus eleitores, ou da  sua  direção; (e) pelo  regime  interno  do seu funcionamento; (f) pelas formas de seu financiamento;  (g) pelas  suas  relações internacionais. Todos estes critérios são válidos e significativos, e a construção de uma síntese exige uma apreciação da sua dinâmica de evolução.” Ora, cada um pode ser, por si, o fundamento real dos demais; mas o fundamento tem, também, um fundamento! Chegamos à necessidade do fundamento completo. Qual seria o do PT, o fundamento do fundamento? Este: o fato de ser um partido ligado diretamente, organicamente, com Estado burguês, logo com a burguesia.

 

 

 

 

CONDIÇÃO

O RELATIVAMENTE INCONDICIONADO

Aqui, temos duas personagens, a condição (ou as condições) e o fundamento. Vamos, primeiro, separá-los e considerar tal separação. A condição é mero ser aí imediato, sem ser por ela mesma qualquer condição para algo. Ela é apenas material variado, material como seu próprio conteúdo. Por outro lado, isolado consigo mesmo, o fundamento vai para fora de si em seu automovimento e tem, portanto, também seu próprio material, seu próprio conteúdo. Assim: um é incondicionado em relação ao outro, e vice-versa.

 

O ABSOLUTAMENTE INCONDICIONADO

Nosso papel, agora, é ver a unidade real daqueles dois, que se colocaram como opostos e separados um do outro. A condição, como material externo, na verdade é o que representa o Ser (com o qual começamos este capítulo); ora, se ele é o Ser, vale comentar que este, este Ser, “evoluiu” a si mesmo rumo à essência (que aqui é fundamento); o ser aí imediato, indiferente, não se nega ao se prender ao fundamento, ao contrário, ele se realiza, ele é ser que vai para a essência (o material do fundamento, para o fundamento). Assim, o fundamento põe seu fundamentado, vai para fora de si, dando forma ao material da condição. Por outro lado, o fundamento só se realiza a si mesmo quando passa, ele mesmo, para seu fundamentado, que é feito com o material da condição.

Mas há uma virada incrível.

O fundamento e condição estão aonde? Ora, eles estão dentro do “absolutamente incondicionado”, de uma Coisa incondicionada – estão dentro de uma totalidade! Esta Coisa, este Todo, tem dentro de si própria tanto o fundamento quando as condições, desmancha eles dois dentro de si.

 

O SURGIR DA COISA NA EXISTÊNCIA

Quando todas as condições de uma Coisa existir estão prontas, então estão ela entra na existência. Por exemplo: não se deve tentar criar um sindicato antes de estarem reunidas pelo menos as condições mais básicas necessárias para fundar tal organização. A vida na Terra surgiu depois que as condições – temperatura, ambiente, compostos, etc. – estavam prontas para isso.

As condições se reúnem, “caem” juntas, internalizam-se – e assim surge uma Coisa na existência. Algo, como uma revolução, é impossível até que se torne inevitável. É interessante ver que esta união das condições cria um lado “interno” na Coisa, ou seja, as condições produzem o próprio fundamento!

Por outro lado, o fundamento também cria a Coisa na existência. O fundamento sai de si mesmo, se externaliza – passa para o fundamentado. Mas, com isso, ele não fica atrás ou no fundo, não: o próprio fundamento está naquele seu fundamentado.

Vimos duas formas que parecem fazer a Coisa surgir, pelo lado das condições e pelo lado do fundamento. Porém: a verdade final é que a Coisa vai rumo a si mesma, desenvolve-se a si mesma, põe a si mesma – ela já existe antes de existir (era uma coisa e tornou-se outra).

Há outra forma de ver o parágrafo anterior. O fundamento torna-se o fundamentado, logo ele deixa de existir em si – a coisa é, então, um sem fundamento, embora tenha vindo dele. Por outro lado, a condição faz a coisa, mas, esta coisa, uma vez feita, é sem condição, é incondicionada, a condição superou a si mesma como o fundamento também o fez.

 

EXISTÊNCIA

Primeiro veremos a essência e a imediatidade como juntas (existência), depois como separadas (aparecimento), depois como reunidas e relacionadas (relação essencial). Comecemos, portanto, pelo começo, em que a essência tem que aparecer.

Assim como o Ser, que é o geral, tem dentro de si o algo (algo como uma caneta é um ente do Ser) a existência tem como sua expressão nas coisas, na coisa.

A grande questão deste capítulo é o fato de que Kant, antes de Hegel, afirmou: nós conhecemos apenas a coisa como ela é para nós, sua aparência, sua manifestação – não como esta coisa é em si mesma, não a “coisa em si”. Há, então, um duplo: de um lado, a coisa em si e, de outro, como aquilo aparece, sua manifestação. Vamos resolver este problema, como acessar a essência da coisa.

 

A COISA E SUAS PROPRIEDADES

A coisa divide-se em 1) coisa em si e 2) no seu lado externo, em dois. Mas, ora, este lado externo é também uma coisa, uma coisa em si, pois cai para dentro de si mesmo. Assim, essas duas coisas em si, a coisa em si original e a manifestação desta como outra coisa em si, são, na verdade, a mesmíssima coisa – que apenas aparece como relação de dois.

A propriedade da coisa em si aparece como aquilo que uma coisa se torna diferente de outra coisa, o lado de fora, da superfície, da coisa. Mas nas duas (ou mais) coisas em si diferentes, como a propriedade é algo externo a elas duas, esta mesma propriedade fica do lado de fora delas, logo elas são internamente, por dentro, iguais, duas coisas em si iguais, são o mesmo.

Na verdade, não existe coisa em si sem propriedade, a coisa em si não fica escondida ou por detrás, mas é a própria propriedade mesma. Uma coisa não é feita de propriedades, ela é apenas as próprias propriedades!

Assim, o que chamamos de coisa em si pura, não é o lado essencial, como parece, mas o lado inessencial, sem essência, sem tanta importância. É o lado das propriedades aquele grande lado em que as coisas são de verdade, de fato. Uma coisa em si pura não é nada! Nada há que descobrir dela e nela, pois algo só é de fato algo em suas propriedades, com suas propriedades. Se queremos saber sobre alguma coisa, devemos estudar suas propriedades e a união delas, destas.

Na astronomia, nós sabemos o que é uma estrela distante por meio de suas porpriedades: ver-se sua gravidade, seus efeitos, seu brilhos, observa-se ela no infra vermelho e no ultravioletas, e assim por diante, e assim por diante., conectamos esses dados, até que sabemos o bastante sobre ela.

 

O CONSISTIR DAS COISAS EM MATÉRIAS, MATERIAIS

A separação entre uma “coisa em si”, que é o lado sem importância por si, e o lado das propriedades faz com que estas mesmas propriedades se revelem como matérias, materiais. A coisa é feita de matérias (partículas, átomos, etc.). Sem ser feita de propriedades, ou seja, de matérias, a coisa nem sequer é coisa alguma.

De imediato, a coisa é feita de matérias que são independentes, indiferentes, umas das outras, apenas juntas externamente dentro desta coisa. Mas logo se vê que elas, ao se afirmarem como si mesmas, negam as outras matérias. Mas, outra conclusão, oposta, elas penetram umas nas outras e, ao mesmo tempo, por outro lado, são indiferentes umas das outras nessa mesma penetração. Assim, a coisa é contradição entre a independência de cada material e a penetração umas nas outras ao mesmo tempo.

A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).

 

 

 

APARECIMENTO

Antes de Hegel, alguns filósofos, como Patão, separaram o mundo em dois mundos: de um lado o mundo que é em si e para si, o mundo essencial, o mundo das leis; de outro, oposto, o mundo que a parece, o mundo do aparecimento. Ora, existe apenas um mundo, somente UMA totalidade, que se divide em duas totalidades, que são, ao mesmo tempo, separadas e unidas. O mundo essencial tem de aparecer, logo ela também é seu oposto, o mundo que aparece. Por seu lado, o mundo que aparece tem dentro de si um fundamento, o lado mundo essencial. Cada um de ambos é ele mesmo e seu oposto.

O mundo que aparece mostra ou revela o mundo essencial, mas de modo invertido, ao contrário. O que é positivo no mundo essencial aparece como negativo no mundo que aparece; assim, no inverso, o que é negativo no mundo essencial é positivo no mundo que aparece; um azar essencial aparece como sorte no mundo que aparece, e vice-versa. Serve o exemplo já citado: no mundo que aparece, o Sol gira em torno da Terra, o Sol nasce e se põe; mas no mundo essencial, a terra é que gira em torno de si mesma e do Sol.

 

RELAÇÃO ESSENCIAL

A relação entre o “mundo que é em si” e o “mundo que aparece” torna-se relação essencial. São um só que aparece como dois, ou seja, relação consigo do mundo como e fosse relação com um outro.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

O mundo que é claro e evidente desdobra-se, em seu autodesenvolvimento(diversificação etc.), em mundo essencial e mundo aparencial – para depois promover novo mundo unificado transparente. No feudalismo, Idade Média, tudo era claro, cristalino e evidente: não somos iguais, uma parte do trabalho fica com a classe dominante (outra como Estado, outra com a Igreja etc.), o Estado serve aos ricos etc. Com o capitalismo, o mundo duplicou-se: parece que somos iguais, parece que somos pagos pelo nosso trabalho, parece que o Estado é um mediador não classista etc. O socialismo, enfim, encerra tal duplicação, tornando tudo transparente mais uma vez, de novo modo. O que no capitalismo é aparência e farsa objetiva, será, em muitos casos, essência real no socialismo. O capitalismo anuncia o socialismo, mesmo se com trombetas desafinadas.

 

 

 

O TODO E AS PARTES

De início, o todo não é as partes – e as partes são o oposto do todo. Mas há algo mais profundo. O todo sem partes é vazio, sequer é um todo, pois somente pode ser um todo de partes relacionadas umas com as outras. As partes, por outro lado apenas são partes se dentro de uma relação com outras partes dentro de um todo – como dissemos, um dedo, como parte, somente tem sentido se como parte do corpo ao qual ele pertence. Se ele sai desse todo, se é decepado, cortado, ele é uma parte que é uma totalidade em si mesmo, mas uma totalidade morta, inútil, um dedo que se decompõe. Há, assim, quase máxima unidade do todo e das partes, um necessitando do outro.

Complementemos isso: as partes são dependentes umas das outras ou independentes umas das outras? Derivamos: Tese – as partes são totalmente independentes umas das outras; Antítese – as partes são totalmente dependentes umas das outras; Síntese – as partes são relativamente autônomas umas das outras enquanto são, ao mesmo tempo, relativamente dependentes umas das outros – mas a interdependência entre elas é o lado superior de ambos.

O todo é mais do que a mera soma das partes, pois é a união das partes e suas interelações umas com as outras, recíprocas. Como dissemos: o hidrogênio queima, o oxigênio permite a queima – mas a união de ambos numa totalidade, H2O, produz a água, que apaga o fogo, tem função oposta.

 

CONTRADIÇÃO TODO E PARTE

A parte pode entrar em contradição com o todo ou com o todo como se apenas com outra parte (oposta etc.). Mas queremos destacar as partes com o todo. O todo quer ser todo e as partes querem ser partes, afirmar suas autonomias. Por outro lado, com o avançar do sistema, a totalidade tem as partes cada vez mais integradas, ou seja, cada vez mais totalidade; mas as partes resistem à maior integração, cristalizam-se relativamente.

 

SOBRE A TOTALIDADE

A totalidade pode ter um rumo, determinístico até. Ela é assim, porém, permitindo que suas partes internas sejam caóticas. Nesse caso, temos a lei do caos.

A totalidade é por um avanço irreversível, a irreversibilidade lhe pertence, mesmo que pareça recuar. Mas suas partes, com relativa autonomia, podem avançar e recuar, são reversíveis.

Em geral, a totalidade avança de modo desigual; as partes desiguais, então, combinam-se por associação e/ou contradição.

O todo é etapista, a totalidade cumpre etapas necessárias; por outro lado, as partes podem, de modo relativo, saltar por cima de certas etapas, dadas certas condições (autocontradição, atraso etc.), como a influência de outras partes.

O que é ruim na totalidade, no contexto – aparece como bom para a parte isolada. O que é inviável à totalidade – aparece como viável à parte com sua autonomia relativa.

O todo é causal da causa para o efeito, o passado é a causa do presente e do futuro. As partes adotam a interação, reciprocidade, causalidade recíproca. O modo destes faz aquele.

O todo sistemático e orgânico tem finalidade, causa final. As partes participam, quando podem, da realização da finalidade do todo.

A totalidade primeira é o Ser que deriva do Nada. As totalidades secundárias, partes e entes vêm de outro ser, de outro ente, nunca do nada.

O todo vai ao concreto; as partes, podem ir ao abstrato.

O todo é a verdade; já a parte, a parcialidade.

 

FORÇA E EXTERIORIZAÇÃO

Ora, o que faz do TODO de fato um todo, ou seja, que as partes não sejam apenas o mero juntar, um mero agregado indiferente, um mero unido artificialmente? A força. A força gravitacional, se força for aqui, mantém o todo do sistema solar junto em um sistema, além de mantar unido nosso próprio planeta como um todo. O que mantém o capital geral e o capitalismo como um todo, como mais do que meras partes? Resposta: o valor, valor este que há dentro das máquinas, matérias-primas, mercadorias, capitais, etc. O valor geral é o que unifica o sistema.

A força se externaliza, assim ela aparece como duas ou mais forças – mas no fundo é uma força só que aparece como forças diferentes, diversas. Por exemplo: há apenas UM valor global na sociedade – uma única massa total de valor, uma só energia, apenas uma substância. Mas ela aparece como vários valores porque se colou por dentro de várias mercadorias diferentes. Veja que as mercadorias concorrem umas contra as outras, os capitais concorrem uns contra os outros; desse modo, por terem valor dentro de si, o valor (força) luta ou se junta com ele mesmo como se com um outro, um valor com ou contra outro valor, uma força com ou contra outra força (mas, na verdade, são a mesma força); externamente há vários valores, mas internamente há apenas um valor social global. O exemplo torna-se mais claro se o leitor domina a economia marxista.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

Vale destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade. O todo é um reunir atrativo de partes, pela força; um todo vem, também, de outro todo que se suprassume; uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si um todo, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o crescimento e desenvolvimento de um todo dar-se, por isso, pela força ou, ou melhor, energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

Na ciência física, o conceito de força está em “crise categorial”. Por muito tempo usada, parece não ter mais tanta sustentação. Cabe aos hegelianos e marxistas avaliarem se é o caso ou não de suprassumir tal categoria.

Curiosos que a crise categorial, ideal, do conceito de força coincide na mesma época do início da crise categorial, real, do valor, da força de trabalho manual reduzida. Pura coincidência temporal e de forma? Não; na verdade, o desenvolvimento científico, que supera a força, e o desenvolvimento técnico, que supera o trabalho manual direto sobre a matéria-prima, andam juntos, mesmo que um pouco atrasado em relação ao outro.

 

EXTERNO E INTERNO

A relação de força e sua exteriorização produziu o interno e o externo. O externo é o próprio interno, que vai, este último, para fora, digamos assim. Um artista somente pode fazer uma arte, exterior, que expresse seu interior – fará grande obra se for, por dentro, um grande artista. O externo não está em unidade com o interno, pois o externo é, ele mesmo, o próprio interno. Eles estão separados, como se fossem dois, apenas na aparência. O externo NÃO esconde o interno, na verdade o revela, o mostra – se se quer saber o interno de algo, observe seu externo, pois o lado exterior é a revelação da essência, essência agora determinada como um interno. Uma personalidade, interno, revela-se na sua prática do sujeito, externo.

 

O EFETIVO

O efetivo ou realidade é a unidade de essência e existência. A essência que não aparece se junta coma existência que é apenas aparecimento; juntas formam a efetividade, a realidade. Veremos melhor a seguir.

 

O ABSOLUTO

Lembra-se que o exterior e o interior não mais do que uma unidade de opostos porque na verdade eles são UM? Por bem; este um, apenas um total, é o absoluto.

Pensemos na palavra absoluto para pensar o absoluto real. O absoluto nega-se a se confundir com algo, com quaisquer coisas, pois é o absoluto. Por outro lado, oposto, ele tem tudo dentro de si, pois é o absoluto.

 

EXPOSIÇÃO DO ABSOLUTO

Tudo que vimos até agora é a exposição ANTERIOR do absoluto: ser, quantidade, qualidade, essência, existência etc. Mas é uma exposição para trás, digamos assim. E para frente? O absoluto tem o lado “externo”, mas que é ele próprio, um ir para frente dele mesmo, uma exposição dele mesmo não apenas como UM, mas como multiplicidade, como várias expressões.

 

ATRIBUTO ABSOLUTO

Pensemos a multidão de coisas diferentes. Elas são, na verdade, “transparentes”, pois uma reflexão filosófica perceberá que elas têm uma atributo em comum, de todas elas – esse atributo é o absoluto que há pro meio de toda, mas um absoluto parcial porque determinado como o atributo, atributo geral. Cada coisa tem vários atributos, mas, juntas, apenas o atributo geral, o absoluto.

Mas esse método, de ir das coisas rumo a saber que elas tem um absoluto dentro delas em comum, é errado, defeituoso. Por, primeiro, devemos derivar o absoluto, como fizemos neste capítulo todo, e, depois, derivar o atributo e em seguida, o modo (maneira).

MODO (MANEIRA)

O atributo tem dois extremos em si. Por “debaixo”, tem o absoluto; por “cima”, tem o modo ou a maneira. O modo é como uma variedade externa, do lado de fora.

Mas logo descobrimos que o modo “externo”, na verdade, é próprio absoluto mostrando a si mesmos, manifestando-se, exibindo-se, sendo esta própria manifestação ele próprio – não fora dele. Assim, o absoluto vai para dentro de si indo para fora de si, negação da negação; sua autoexibição é ele entrando unidade com ele mesmo, pois o modo ou maneira não é um outro.

 

EFETIVIDADE

Agora, veremos as categorias modais: efetividade (realidade), possibilidade, contingência (acidente), necessidade. De imediato, saiba que este último, a necessidade, tem força de lei, de que algo tem que ser necessariamente assim. Dito isso, sigamos juntos, unificando opostos.

 

CONTINGÊNCIA, EFETIVIDADE, NECESSIDADE, POSSIBILIDADE – FORMAIS

Vejamos, primeiro, a efetividade e a possibilidade como separadas uma da outra, como formais. A possibilidade formal é o pensamento de que há várias e opostas possibilidades; um pensamento limitado, que pensa todas as possibilidades futuras, sem hierarquia.

A união, a unidade, da possibilidade e da efetividade (realidade) é – a contingência. Contingente é aquilo que pode ser ou pode não ser, tanto faz, pode acontecer ou não; por exemplo, uma inflação antes de uma crise pode tanto acontecer como não acontecer, não é necessário que ocorra. Veja: sendo o efetivo (realidade) e a possibilidade exatos opostos, eles estão fundidos num meio-termo, a contingência, pois o contingente, quando acontece, é ou existe, logo é efetivo, mas poderia também não acontecer, logo é possibilidade. É um e outro.

Como derivamos a contingência, devemos agora derivar seu oposto, a necessidade, o necessário formal. Para isso, também usaremos, de novo, a possibilidade e a efetividade (realidade) formais. Sigamos juntos. De um lado, a possibilidade é algo que existe (por exemplo, um ovo tem em si mesmo a possibilidade, é a própria possibilidade, de ser comido pelo homem por causa de suas PROPRIEDADES, que fazem dele um ovo) – logo a possibilidade é o seu oposto, a efetividade ou realidade. Por outro lado, o efetivo separado do “em si”, da essencialidade, ou seja, separado do interno-possibilidade, é uma efetividade sem chão, sem base, sem por onde sustentar-se – logo, assim, torna-se apenas possibilidade, ou seja, seu oposto. Pelo fato de um cair no outro, e vice-versa, surge daí a necessidade formal.

 

NECESSIDADE FORMAL RELATIVA, EFETIVIDADE (REALIDADE), POSSIBILIDADE E NECESSIDADE – REAIS

Passaremos do formal para o real. Ora, como a efetividade tem a necessidade, como vimos antes, ele é uma efetividade ou realidade real. Melhor: se juntarmos, como deve ser, efetividade e seu oposto, seu lado de dentro, a possibilidade, então temos a efetividade real.

Mas, então, a possibilidade também é real. Para vermos tal tipo de possbilidade, isso ocorre quando avaliamos o mundo e vemos, de fato, com atenção e profundidade, as condições, as características, as tendências, as propriedades a organização e a desorganização desse mesmo mundo. Se na possibilidade formal, havia várias hipóteses futuras, na possibilidade real ocorre a hipótese limita.

A possibilidade real tem de ser, tem de acontecer, necessariamente assim por causa de tais condições e circunstâncias – logo chegamos à necessidade real. A possibilidade real já é a necessidade real, pois são opostos apenas na aparência e na observação descuidada.

Se olharmos o mundo como de fato é, ele é, ao mesmo tempo, tanto possibilidade quanto efetividade (realidade). É ambos, os opostos juntos. Ele é uma efetividade, uma realidade, mas que “deseja” ser uma nova efetividade depois, por dentro dele mesmo.

Aqui, Hegel faz uma nova sacada. A necessidade real vem da possibilidade e da efetividade; mas a possibilidade e a efetividade é, também, uma unidade que produz o contingente, o contrário da necessidade! Por isso, conclui-se: o contingente produz o necessário, além de estar unido com ele!

 

NECESSIDADE ABSOLUTA

O que existe de verdade, no todo, é unidade de essência e ser, de externo e interno no absoluto. A totalidade é necessidade.

O contingente não só produz a necessidade como, o oposto, é produzido por ela. Temos a necessidade absoluta.

Vamos derivar, agora, a contingência absoluta da necessidade absoluta. Atenção. A necessidade absoluta é um efetivo, um real, logo o efetivo é um efetivo absoluto. Mas, se o efetivo ou real é absoluto, logo tem a possibilidade dentro de si mesmo, porque é absoluto. Ora, qual a unidade do efetivo e do possível? Já dissemos duas vezes – é o contingente. Então a unidade do efetivo absoluto e da possibilidade também absoluta é o contingente absoluto (da e dentro da própria necessidade absoluta).

A necessidade absoluta tem a possibilidade absoluta. O feudalismo teve de passar, por força de uma lei histórica, para o capitalismo!

 

CRÍTICA DE LUKÁCS

Lukács diz que a realidade não tem necessidade absoluta, pois o mundo é probabilístico, por probabilidade. Para isso, ele usa uma frase de Lênin: “não há situação absolutamente sem saída”. Assim pode ser 80% sem saída, 99, 9% sem saída, mas sobra, ao menos, O,1% de saída. Assim, tendemos a ir do capitalismo para o socialismo, mas podemos ser derrotados e humanidade ser extinta numa catástrofe econômica e ambiental. Deixo ao leitor a escolha sobre quem tem razão, Hegel ou Lukács.

As duas posições fizeram a cabeça dos físicos no século XX. Alguns afirmaram que é impossível causalidade e determinismo na física quântica, portanto deveríamos  nos limitar a cálculos de probabilidade – apenas. Einstein e Born fizeram uma luta de morte contra tal concepção, afirmaram que nosso conhecimento hoje ainda é limitado, por isso usamos apenas aspectos probabilísticos – mas há uma solução oculta, causal, em variáveis ainda ocultas.

Minha posição, conclusão, afirma que, por a realidade ser complexa, praticamente ou por muito tempo apenas poderemos acessar ela de modo tendencial e probabilística – mas ela é, no fundo, determinística. No mais, 1) o “o que” é e acontecerá de fato é determinista, mas “o como” está em jogo; 2) a realidade tem opções para si e a partícula ou homem escolhe a opção que já deveria escolher, incluso pelo contexto.

 

ACASO E NECESSIDADE

Em primeiro, separo contingência de acaso. Isso faz o marxismo. O acaso é o oposto da necessidade, mas está, ao mesmo tempo, em unidade com ele. O caso mais famoso é ao da evolução das espécies na biologia. Uma mutação genética acontece por acaso; pois bem; ao mudar os descendentes a mutação prospera se facilita a sobrevivência da espécie ou deixa de existir se dificulta a sobrevivência dessa mesma espécie. O acaso aí não nega as leis da biologia, da evolução, mas atua dentro dessas leis (necessidade). Se o presidente morre hoje por um enfarto ao acaso, isso pode acelerar ou atrasar a história, suas leis ou necessidades, as tendências históricas, mas não nega a existência do acaso dentro da necessidade, atuando aí.

 

POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CRESCENTES

Piaget atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.

Penso que, ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária.

Além disso, é possível que a possibilidade teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas fracassadas.

 

ATUALIZAÇÃO: PROBABILIDADES COMBINADAS

Para Hegel existe apenas uma possibilidade real, que já é realidade e necessidade ao mesmo tempo; as demais seriam apenas formais. Já dissemos da possiblidade crescente como a probabilidade maior de ter câncer com o maior envelhecimento. Mas há outro caminho: as probabilidades diversas, até opostas, podem se combinar numa única solução, a nova realidade. Em outro momento demonstrei que as teses dos Bolcheviques, dos Mencheviques e de Trotsky sobre a revolução russa entes de 1917 estavam todas certas e erradas, um pouco de ambas – e aconteceu a combinação do acerto delas. Na física já existe enorme desconfiança de ser assim como a probabilidade ocorre no mundo físico, resultado como combinação de diferentes probabilidades. Todas as possibilidades pensadas – que aproximamos ora da palavra probabilidades – são visões angulares, pontos de vista, de aspectos parciais do real; têm chão, mas de um pedaço dele; por isso, a realidade rica combina de alguma forma os vários caminho que soam racionais ao seu modo.

 

PROPOSTA DE ATUALIZAÇÃO

Além das atualizações anteriores, o acaso leva-nos à reflexão do caos e da ordem.

O caos não suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos, por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto, o caos, dentro de si.

Na coisa, a ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo.

O caos absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade de caos e ordem cai-se na probabilidade.

O socialismo é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.

 

ATUALIZAÇÃO: CONTINGENTE E NECESSÁRIO

Ao surgir, o contingente testa se é necessário, necessidade – se bem cabe no seu contexto, torna-se necessidade. Mas o contexto muda, logo, o necessário que foi contingente um dia, revela mais uma vez sua contingência. Porque ele não é primeiro, mas derivado.

 

PROPOSTA DE ATUALIZAÇÃO

Movimento = energia = tempo = espaço =matéria = massa = luz = campo

Tudo = Tudo. Tudo é espaço-matéria, espaço condensado, para dentro de si. Tudo e energia em busca de mais energia, em busca de mais de si.

 

RELAÇÃO ABSOLUTA

Agora que o absoluto é sua própria autoexposição, a própria aparência total, podemos ver a relação de substancialidade e a relação de causalidade.

 

SUBSTÂNCIA E ACIDENTES

Os acidentes são aquilo que não é essencial (a cor de algo etc.). A substância é, então, o oposto, o essencial de algo. Porém, Hegel descobre a unidade dos opostos: que a substância produz seus próprios acidentes, põe eles, põe eles como se fossem externos a si (embora não sendo de fato) – mas os acidentes são apenas expressão da substância ao mesmo tempo em que a substância somente é em, dentro de, seus acidentes.

Eles são uma unidade, mas insistamos na diferença deles mais um pouco. A substância vai para fora de si e põe os próprios acidentes, mas, depois, ela “abandona” os acidentes e volta para dentro de si mesma. Substância e acidentes separados produz um meio-termo que os unifica, a potência.

Veja-se. Em nossa metafísica o espaço, embora não primeiro em nosso universo, torna-se substância e as partículas-ondas são os acidentes.

 

 

CAUSALIDADE FORMAL

Como potência, a substância é a causa dos acidentes, pois põe estes como se fossem outros para ela, não ela mesma.

Ocorre que a causa só pode ser causa sem tem um efeito e, ao inverso, o efeito só é efeito se tem uma causa – um depende do outro, apesar de ainda não fundidos com apenas um. Ora, se a causa se realiza no efeito, esta mesma causa deixa de existir, logo o efeito deixa de ser efeito. O que sobra disso? Um imediato, uma substância, um conteúdo indiferente em relação à causa e ao efeito – um “mesmo” que está tanto em um quanto, depois, no outro.

 

CAUSALIDADE DETERMINADA

Aquilo que está na causa é aquilo que estará, também, no efeito. Uma chuva molha o chão – logo tanto na chuva quanto no chão há o mesmo, a água.

A causalidade produz, além disso, sua própria causalidade. A água que foi ao chão evapora e produz, novamente, uma nova chuva.

Mas essa causalidade tem o defeito do mau infinito: uma causa tem outra causa, que tem uma causa, que tem uma causa… Um efeito tem um efeito, que tem um efeito, que tem um efeito… Como resolver isso?

 

EFEITO E CONTRAEFEITO

A causa numa substância ativa produz um efeito sobre outra substância, logo esta segunda, a afetada, faz um contraefeito naquela primeira – ida e volta, efeito e contraefeito, a causa passou para outro e, depois, retornou para sua origem. Temos a causalidade recíproca.

A causa passou, ela mesma, para o efeito, tornou-se o efeito, mas teve de retornar para sua origem como contraefeito, como nova causa.

Os humanos modificam o mundo e o mundo modificado modifica o próprio homem. O poderio econômico imperialista dos EUA produz o poderio militar, que, por sua vez, produz mais poderio econômico. O vício em bebida pode causar depressão, e esta última causa, por sua vez, mais vício; ou, ao contrário, começa-se com depressão que produz vício – num ciclo vicioso que se aprofunda. A causa torna-se consequência e a consequência torna-se causa, efeito e contraefeito.

Temos, então, a interação em que a mesma substância absoluta age como várias substâncias diferentes em interação umas com as outras. A interação de algo com outro algo ocorre para ambos ao mesmo tempo, vice-versa, o conceito “interação” supera a ideia de causa antes e efeito depois, verdadeira mas limitadíssima.

 

CAUSA E ACASO

Segundo Lukács, há unidade de causa e acaso. Uma totalidade é feita de muitas partes que causam umas às outras e vice-versa; isso permite que ocorram acasos por causa da complexidade das interações das partes entre elas.

Outra visão, complementamos: O acaso nada mais é, para nós, que uma causa causada, mas fora do padrão, da lei regular, do esperado, do geral – ou acidental.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

D’O Capital, de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar insumos e máquinas do exterior.

Há duas formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez, produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente, aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.

Um efeito pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Para a economia vulgar, a inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai, por exemplo.

Uma causa pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois, revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em circunstâncias diferentes).

Os teóricos da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências.

Causas diferentes, até opostas, que ocorrem ao mesmo tempo possuem, também, uma causa mesma comum a todas elas.

Spinosa diz que o passado não pode ser causa do presente, pois ele não-é; o futuro também não, pois ainda não-é. Ora, claro que o presente é causa de si como interação, mas o passado e o futuro (teleologia) se fazem presente por meio da matéria, da materialidade.

 

UMA INTERPRETAÇÃO

Em minha pesquisa concreta, não lógica, pude abstrair a relação de causas interna e externa. Um conjunto de causas externas, fatos, podem ter, no fundo, uma causa comum, única etc. A causa interna é o desafio teórico. Os trotskystas explicam a ditadura estalinista por causas externas (morte de revolucionários, guerra civil, isolamento temporário, baia cultura das massas etc.), enquanto eu apresentei a causa interna – a causa das causas. O trotskysmo – e eu, como membro da corrente, por muito repeti o mantra – costuma apresentar causas que ocorrem em toda e qualquer revolução… Mas a burocratização de todas as revoluções leva a ver que tal burocratismo não tem causas apenas externas, factuais etc.

 

IDENTIDADE, DIFERENÇA ETC.

Para a dialética de Hegel, as categorias passam apenas logicamente umas para as outras, pois são sincrônicas, não diacrônicas: a identidade, a diferença, a diversidade etc. já estão todas aí, ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum. Em minha dialética, além de tal sincronia, existe também a diacronia das categorias: a identidade passa, a si própria, para a diferença, para a diversidade etc. Na biologia, com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a diversidade: diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se depois, começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito. Passou-se no processo, no diacrônico, da identidade, para a diferença, para a diversidade etc.

 

CONTRADIÇÃO IDENTIDADE-DIFERENÇA

A identidade guarda em si a diferença; a diferença, a identidade. Mas pode haver contradição movente de ambos, que se torna processo ou se resolve. As espécies e os seus indivíduos tendem a se diferenciar por mutação enquanto seleção natural e sexual, ao contrário, age no sentido inverso, para unidade, para o homogêneo, fazendo vencer a luta pela sobrevivência apenas os mais capazes de adaptação.

A passagem real da identidade para a diferença etc. vem da posição e da desigualdade energética. Há mudanças graduais de uma e mesma espécie que se divide em membros na montanha e membros no pântano; há diferenças de sotaques, como priorizar a consoante no lugares frios, de uma língua em comparação ao seu uso maior de vogais no ambiente quente.

 

OPOSTOS

Já vimos isso no inorgânico antes. Cumpre notar o princípio, talvez transitórios, da incerteza de Heisenberg que afirma: quanto com mais precisão medimos uma propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo, um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o tempo etc.

Na biologia, além de tudo evidente, como a luta entre os seres e os sexos, vemos que o corpo humano possui sistemas opostos, simpático e para simpático. 

 

 

 

Os opostos estão assim, em unidade, ainda que contraditória.

Na física quântica, Dirac percebeu que os resultados dos seus cálculos poderiam ser tanto com sinal positivo quanto negativo, prevendo a existência da antimatéria, isto é, a matéria com sinal oposto, como neutrino e antineutrino, elétron (-) e antielétron (+). Nesta obra, expomos que os opostos em carga são, no fundo, o mesmo, o que antes era unido e dividiu-se, explicando a atração e a repulsão. Na química, temos a quiralidade, a produção de moléculas quase idênticas, mas opostas, uma canhota e outra destra.

No nosso sistema solar, formado desde um disco de partículas, temos os planetas gasosos e rochosos. Os gasosos têm grande massa; os rochosos, pequena. Os gasosos têm grande tamanho; os rochosos, pequeno. Os gasosos, pequena densidade; os rochosos, grande. Os gasosos, elementos leves; os rochosos, elementos pesados. Os gasosos, longe do Sol; os rochosos, perto.

 

(DES)MATERIALIZAÇÃO

Em minha pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para, depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade, aumenta o tempo de vida.

Se há retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao empírico. Isso está relacionado com a energia disponível. A falta de energia pode diminuir o tamanho de uma espécie.

 

FORMA E CONTEÚDO

Dentro do próton há quarks que têm menos massa, mas seu movimento-energia (conteúdo) aparece como massa extra (forma) de sua totalidade, o próton.

O conteúdo é matéria formada (o abstrato é o concreto em processo).

O desenvolvimento do conteúdo pode entrar em contradição coma forma conservadora. Ou a forma exige muita energia etc. do conteúdo, tendo de resolver tal contradição.

 

 

DO MENOS PARA O MAIS FORMAL

A realidade vai do informe, do menos formal, à forma. Uma nuvem informe, nebulosa cósmica, torna-se uma estrela com seus planetas “redondos”. Do organismo ameba quase informe até células mais formais como neurônios e seres complexos formatados.

 

TODO E PARTES

Hegel afirma que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna (Jammer, Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica, 2011), substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.

Mas essa energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo, seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.

Vale destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade. O todo é um reunir atrativo de partes, pela “força” (na verdade, pela energia); um todo vem, também, de outro todo que se suprassume, que entra em contradição consigo, ou com parte(s) de si, pela missão, do todo e da parte, de acumular energia. Uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o crescimento e desenvolvimento de um todo dá-se, por isso, pela energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.

Provável, Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.

No capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso. Mais à frente, veremos o papel do circulante, do mediador, na manutenção do todo sistemático.

Aqui, vemos o limite de Hegel; ele: 1) tomou as partes; 2) derivou o todo; 3) disse que as partes formam um todo pela força. Ora, se ele é o filósofo da unidade dos opostos, dos diferentes e diversos, qual a unidade da parte ou das partes e da força? Ele não responde, sequer levanta a questão. Se substituímos força por energia, se energia é massa e espaço, e matéria etc., logo a parte, como matéria, é um só com a “força”, ou seja, com a energia, são diversos e, ao mesmo tempo, o mesmo, um dentro do outro, um sendo o outro. Logo vemos que nossa elaboração, embora direta, é superior à hegeliana em estado puro.

Uma parte, afirmando-se como todo em si, entra em contradição com o todo ou com outra parte por meio do qual entra em contradição também com todo com que qual este é alinhado.

 

CONCRETO E ABSTRATO

O concreto inicial, junto de si, passa para a abstração, a separação, que volta ao concreto. Padrão da geologia: do concreto amorfo, surgiram progressivamente os continentes iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após processo longo, fundiram-se no Pangeia; este, então, separou-se nos atuais continentes do planeta. O atual afastar aproxima. O nosso universo, provável, sai de um ponto comum (concreto), expande-se com o afastar das partes (abstrato) para possivelmente unir-se de novo (concreto). O abstrato é o concreto em processo.

 

TRÍADE E COLATERAL

A lógica dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a) infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c) inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios, burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo, indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc. Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.

No social hoje, essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em especial na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor de serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema capitalista.

Na física, podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças consideradas.

Continuemos com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural (abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar – método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80; Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou raros (colateral).

Utilizando tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio, muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens), onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é: colateral.

Façamos uma aproximação. A tríade não é pura quantidade, mas pura qualidade, pura qualidade em quantidade. Temos 10 dedos nas mãos, não 3, porque aí impera o quantitativo. A tríade com seu possível colateral trata de qualidades, do qualitativo, do estado – é a qualidade quantitativa ou quantidade qualitativa.

 

REAL E FICTÍCIO

O movimento do real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este desenvolve aquele em si – ocorre na materialidade.

O real produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a unidade de nada e ser.

A categoria fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e irreal.

Em matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros, racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.

O real encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui, portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.

A unidade do real e do fictício é o real efetivo ou completo.

 

CENTRAL E ORBITANTE

Lucáks critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács, Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante, e vice-versa; daí a unidade deles.

Quando o leigo pergunta a algum físico sobre a semelhança entre a orbitação do elétron em torno do núcleo e dos planetas em torno do Sol, logo explicam que esta visão atômica é antiga e, portanto, forçada. Percebamos que usa-se a comparação visual no lugar do conceito. Em nível de categoria, a relação próton e elétron é a mesma natureza de Sol-planetas. Entre os seres vivos isso também ocorre, como um macho forte agregando em torno de si outros de sua espécie ou fêmeas.

 

GERAL, PARTICULAR, SINGULAR

Para Hegel, o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido; logo comentaremos o motivo de seu erro.

Hegel deixa de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.

O que se reproduz, o gene individual ou a espécie geral? Ora, a oposição é desnecessária e unilateral. Quando, por exemplo, um animal quer se reproduzir normalmente, ele deve encontrar outro semelhante do sexo oposto, logo não pode ser algo de todo individual, singular.

Há contradição temporária entre o geral e o singular. Quando uma fêmea chimpanzé mata seu filho albino, ela afirma o singular-geral dominante. A singularidade de um indivíduo destoa do geral, da espécie, até formar espécie nova. O coletivo pode oprimir, não afirmar, o individual.

Podemos ver de modo estático: algo pertencente ao geral se torna singular por meio de suas particularidades. Mas podemos ver de modo emmvimento: o que é geral vai se perticularizando e se singularizando – ou o singular vai se generalizando. Pra Hegel, ir do geral ao singular por meio do particular é algo estático ou da análise.

 

GÊNERO

Na Doutrina do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.

Os erros de Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a Teoria da Evolução das Espécies, que dirá a do Big Bang. Mesmo para um gênio isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele, valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente, valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da física de sua época. Diz Hegel, sobre o geral-singular e o gênero; “Mas a natureza orgânica não tem história…” (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 212)Logo vemos o seu limite, não tomar as categorias como diacronia interna, não apenas passagem.

 

POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CRESCENTES

Piaget atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.

Penso que, ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não retorno).

Além disso, é possível que a possibilidade, em seu evolver, teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas fracassadas.

A contradição aí se dá de duas formas: 1) a necessidade constrange a possibilidade, a subordina a si; 2) a possibilidade tenta afirmar-se antes da necessidade madura.

A necessidade nem sempre encontra a possibilidade de realizar-se. Vejamos a biologia. 1. Folhas verdes – mas absorveriam mais luz se fossem negras; 2. reprodução sexuada dominante –  mas a assexuada seria mais simples, rápida e fácil; 3. dormir –  isso faz perder muito tempo e há duros riscos, melhor seria "desligar" parte do cérebro por vez. São limites a partir dos quais os seres devem se adaptar, pois lhes é impossível uma adaptação máxima, perfeita, como folhas negras.

 

CAUSALIDADE

D’O Capital, de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar insumos e máquinas do exterior. No inorgânico: a explosão de uma estrela produz onda de choque que impulsiona a formação de novas estrelas. Na biologia: 1) a hipólise estimula uma glândula no corpo humano, mas esse aumento passa a inibir o hormônio hipofisário.

Há duas formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez, produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente, aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.

Um efeito pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Os olhos do polvo e dos animais terrestres têm origens diferentes. Para a economia vulgar, a inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai, por exemplo.

Uma causa pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois, revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em circunstâncias diferentes).

Os teóricos da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências. Vejamos a contradição. A condição, ao redor, se opõe à causa, mas se torna assim, também, causa. Na década de 1930, a França viveu uma greve geral revolucionária com ocupação massiva de fábricas; os trabalhadores, com esta imensa ousadia, poderiam ter tomado o poder, mas exigiram, depois de tanto esforço e sacrifício, apenas aumento salarial, que logo foi consumido pela inflação. É uma contradição, por exemplo, que uma grande causa cause um pequeno efeito ou que o efeito seja o oposto da natureza e intenção da causa.

Além disso, a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.

Isso permite rápido comentário. Einstein, nosso gênio, ao que parece, igualou aceleração e gravidade, pois ambos produzem o mesmo efeito. Ora, efeito igual pode ter causas completamente diferentes, não necessariamente iguais de imediato, apenas no fundo como em movimento = massa = energia etc.

As diversas causas, muitas vezes simultâneas, possuem, elas mesmas, juntas, uma causa comum. As várias causas simultâneas de uma crise cíclica têm a mesma causa, mesmo núcleo comum, as questões de produtividade.

Para registro, Lukács, afirma que as partes de um todo interagem entre si reciprocamente, causando-se umas às outras – e isso permite que ocorram acasos.

De modo resumido, a causalidade é recíproca, a causa torna-se efeito e o efeito torna-se causa, em processo de construção. A economia afeta a cultura, mas a cultura afeta a economia. Além disso, o que está na causa continua-se no efeito como a bola de sinuca transfere seu movimento-energia para a outra bola com a qual se choca.

A causa reciproca ocorre em desenvolvimento porque as partes em relação estão em mudança, como energia em busca de mais de si.

A contradição entre efeito e causa, é que aquele contraria a base deste, como um oposto. O crescimento do Estado é a causa da destruição do próprio estado, consequência. Vejamos um caso na biológico, na obra “O biólogo dialético”:

 

Suponhamos que aparece uma mutação em uma espécie com alimento limitado, a qual causa a duplicação da fecundidade sem mudar a eficiência de colheita de alimento e o metabolismo. A mutação vai ser rapidamente estendida através da população, a qual vai ter logo o dobro de fecundidade. Mas como a espécie tem comida limitada, a população adulta não vai ser maior que a anterior. A população recentemente evolucionada estará em melhores condições de crescer rapidamente se há um incremento na provisão de alimento, porém seu número final não será maior que si tivesse fecundidade mais baixa. Por outro lado, se os predadores que se especializam em ovos ou jovens mudam sua imagem de busca a espécies que têm mais abundância nos estados juvenis, , pode reduzir-se a população ou incluso chegar a extinguir-se. (…) As mudanças evolutivas dentro de uma espécie podem causar sua propagação, incrementar seu número ou tamanho da população ou provocar sua extinção. (Levins & Lewontin, 2015, p. 104)

 

 

Ademais, como produz efeitos opostos, o avanço se dá pela passagem da causalidade para a tendência.

 

TENDÊNCIA E CONTRATENDÊNCIA

A tendência produz, de si mesma, a própria contratendência relativa. Eis a contradição em movimento. Uma estrela tende a colapsar dentro de si, mas, além da resistência natural dos átomos, estes se fundem e produzem fótons que empurram para fora. Novas formas de vida que passaram a produzir oxigênio abriram o caminho para maior diversificação biológica, mas, pouco depois de surgirem, tal elemento químico atuou como veneno contra as formas viventes então existentes. Um estrela que explode produz um impulsos que, em outro ponto, empurra para a união de partículas, o que forma nova estrela.

 

COISA EM SI E MATERIAIS

Para nosso trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas materiais, matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).

Destaco que, para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado, elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo, tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto, em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a interpenetração.

Mais uma observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas sabemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando, tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia, impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.

A coisa em si (abstrato) é suas propriedades (concreto) expressando-se (processo).

 

FIM E MEIO - TELEOLOGIA OBJETIVA

Em Hegel, na Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado objetivo.

Há outra consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de unidade de fim e meio. Eis a teleologia objetiva, orgânica, que dispensa uma razão pensante ou superior.

Existe ainda o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si mesmo. Esta contradição com o fim real deve ser resolvida. O fim continua afirmando-se como necessidade contra a autonomia do meio.

Para evitar interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria, na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa confusão, entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se das mais variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir seres cada vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a própria temperatura, teleologia relativamente realizada no homem.

Enfim, Hegel e outros, como Lukács e Aristóteles, colocam o trabalho como centro e caem no maquinismo, separando meio e fim adotando o modelo escolhido como universal, ou metáfora. É uma forma indireta de mecanicismo.

 

INTERNO E EXTERNO

Hegel demonstra que os opostos tem certa mesmidade. Um poeta faz um poema na qualidade externa de sua qualidade interna como poeta. O externo expressa o interno; este, por sua pulsão, passa para aquele. O próprio Hegel diz do fato de que, no começo, o objeto é apenas externo, logo apenas interno – então desenvolve-se para algo interno-externo. O externo se internaliza – o interno se externaliza. A matéria externaliza-se ao decair-se em espaço; o espaço internaliza-se ao formar partículas.

Em equação qualitativa, temos, por exemplo: o interno é o externo que se internaliza (ambos, interno e externo podem ser, ora um e ora outro, abstratos; o interno é abstrato por não ser diretamente observado ou o externo, por ser visto de modo isolado – assim, o abstrato é o concreto em processo).

 

DUPLO CARÁTER

Algo tem duplo caráter: a religião é um alívio humanizante, mas fonte de alienação; a luz é uma sobreposição de estados, partícula-onda; a mercadoria é valor de uso e valor. Nesse duplo, um domina o outro, o oposto, uma contradição que é resolvida no evolver. Além disso, um é, na coisa, um em si enquanto o outro é um em contexto (e no processo). Em si, a religião é alienação; no contexto, tem algo oposto, humanitário. Talvez a física descubra o que é “em si” e “em contexto” na dualidade partícula-onda da luz e do elétron. Por exemplo: diz-se que a partícula não é partícula, mas onda e campo, que colapsa em partícula porque a medimos, ou seja, lançamos um fóton nela.

Mario Bunge, que nada entendeu de marxismo para além de erros acadêmicos, tentou refutar o “duplo caráter” em Hegel. Vejamos, de novo, um exemplo da natureza: segundo a seleção sexual, o cervo ter grandes galhas é positivo, uma vantagem, pois vence adversários de espécie em batalhas pela fêmea; mas, segundo a seleção natural, isso é negativo, uma desvantagem, pois dificulta correr para longe de seus predadores – positivo e negativo, vantagem e desvantagem, duplo caráter! Na anatomia, as mãos servem para destruir e construir, e a boca é usada para engolir e expelir. 

 

PROCESSO E CRISE

A lógica deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia, no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo, desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou, antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio, mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande cérebro formular algo do tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na verdade, sua condição de autoelevação.

A crise, desde o processo, é uma questão, em resumo, em igualdade com os demais, energética, como crise de produção. Uma estrela como Sol entra em crise quando a fusão nuclear, sua produção, gera muito ferro, um elemento muito estável, que impede que a gravidade produza novos elementos, interrompe-se o trabalho – a estrela explode, o que produz elementos mais pesados. A crise dos modos de produção – contradição entre forças de produção e relações de produção – começa com problemas de produção e a destinação da energia social-natural, como o Estado sugando muito da sociedade para sustentar o mundo, a própria sociedade, tal como ele é (mas acaba realimentando a crise). Os ciclos planetários, talvez também cósmicos, crises, na nossa Terra geram problemas como a falta de alimento-energia para os seres vivos.

Em geral, amplos processos e crises, que são o mesmo, produzem eras (eras do capital, eras biológicas, eras cósmicas, eras sistêmicas da sociedade etc.).

Kunh informa que as crises científicas levam ao foco em filosofia e novas teorias. Em semelhança, as crises sociais também produzem uma pressão pelo pensamento, por novos guias mentais. As crises biológicas podem levar animais com alguma complexidade a algum traço de pensamento um pouco mais complexo ou protoconciência, como nas abelhas antigas.

 

AUTORRERULAÇÃO DO SISTEMA ORGÂNICO

Em seu Da Guerra, Clausewitz faz uma afirmação válida até hoje: as grandes nações atuam para que a correlação de forças entre os Estados mantenha-se estável, não mude, permaneça. Assim, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, todo o mundo ocidental de maior peso saiu em defesa deste contra aquele. A Coisa se autorregula. Assim, o sistema orgânico, que tende a mudar, tende a impedir a mudança de si próprio, age contra si nas duas pontas, contra a permanência e contra a mudança, pela permanência e pela mudança. Assim, os EUA fazem o possível para impedir que um concorrente à altura surja contra si, caso da subordinação do ascendente Japão no final do século XX, algo difícil de fazer contra a China por razão das circunstâncias.

Na biologia, as comunidades e populações são contraditórias e desiguais, mas busca-se o equilíbrio. Na química, o princípio de Le Chatelier diz que a nova combinação de átomos em moléculas por efeito de reagentes pode até se reverter parcialmente, sair do anterior equilíbrio, onde mudança e contramudança se igualavam na equação, para uma adaptação ativa; assim, se aumentamos a pressão, as moléculas podem se recombinar em parte para o modo anterior de maneira a reduzir de novo a pressão, tornar a pressão como a de antes de seu aumento. Vale, sobre o quimismo, um comentário: a pressão externa é, na verdade, internalizada – não é apenas, como pensa um químico ou professor apressados, uma busca abstrata por equilíbrio.

 

CONDIÇÃO

Hegel diz: 1) o todo é absolutamente incondicionado; 2) a condição é relativamente incondicionado em relação ao fundamento; 3) algo somente surge quando todas as condições de seu surgir estão presentes – as condições colapsam para dentro do resultado novo, logo as condições estão no seu condicionado. Algo mais deve ser dito, complementado sobre: algo surge apenas quando as condições de seu surgir e de seu consolidar estão maduros – pois pode surgir sem se consolidar; e isso pode tornar até um tanto mais difícil seu ressurgir. A vida deve ter surgido várias vezes de modo independente, e talvez até hoje surja, mas apenas uma das oportunidades deu certo. E ela surge e ressurge porque há condições para tal como compostos complexos, o meio solvente água e energia alta.

 

NECESSIDADE E ACASO

O acaso ocorre dentro da necessidade, que é o geral. Pode haver contradição entre ambos: o acaso pode adiar a realização da necessidade; por outro lado, o acaso que entra em oposição com a necessidade, definha-se e destrói-se. O fluxo geral da água pode ser determinado, mas, ao ir ao fundo dela, às suas pequenas partes, impera o acaso, um paradoxo real, que aparece como intelectual sem o ser de fato. O acaso de uma mutação prospera se está de acordo com as leis da vida ou definha se dificulta a sobrevivência da espécie por meio do indivíduo.

 

NECESSIDADE E LIBERDADE

A necessidade, ao desenvolver-se, produz a liberdade, a rede de possibilidades. A liberdade é a necessidade que se desenvolve, desenvolvida, ou em processo.

 

 

 

ENTRE O JUÍZO E O SILOGISMO

Hegel diz que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer dizer “A = BC” ou “A é BC”; esta é a fórmula básica, como nas equações quantitativas, por exemplo, o abstrato é o concreto em processo. Quando Lenin diz “política é economia concentrada” chega ao nosso formato, sendo a palavra “concentrada” ou fator de igualdade e conversão.

Na fórmula de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes interpretações ), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.

No mais, tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.

Segundo Ruy Fausto, Marx descobriu novo juízo em que o sujeito passa por diferentes predicados sem se confundir com um deles. Dinheiro é – medida dos valores – padrão de preços – capital – meio de pagamento – meio de entesouramento – expressão ímpar do valor. Na verdade, já está como primeiro caso criado de equação qualitativa, entre o juízo e o silogismo.

Para concluir este ponto, valerá a pena esforço teórico para sistematizar modos como “se, então”, “todos, exceto”, “tanto quanto”, “tende à” etc. Um trabalho que não cabe nesta obra.

É comum que um dos elementos de “A é BC”, em geral o “C”, represente movimento, processo. Lenin diz que “política é economia concentrada” e Carl von Clausewitz afirma que “a guerra é a continuação de política por outros meios”; eis duas equações qualitativas bastante concretas, mas inconscientes.

Se não todas, quase todas as categorias opostas são unificadas na seguinte equação qualitativa: a categoria A é a categoria B no processo. Desse modo, o caos (abstrato) é a ordem (concreto) em movimento (processo). Descobrimos, assim, uma nova forma de unidade e identidade das categorias, expressa pelo movimento de pelo menos uma delas.

 

CONCEITO

Para Hegel, como para Aristóteles, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a antecipação lógica, idealista, da realidade do DNA, materialista, o bloco de informação da vida, que se reproduz.

Com a unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo, que se condensa em matéria, espaço-matéria, temos a Arkhé, o absoluto, ou seja, uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega, inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas científicas, não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da Ciência da Lógica de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação completa, que tem a dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter avançado – mas base ainda limitada, sem correto fundamento.

Hegel pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo, conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí (na física atual, tanto espaço quanto o próprio tempo estão apenas do lado de fora da coisa, não se sabe como). Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser – ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia de Freud do sexo como pulsão elementar da psique , tem dentro de si o conceito puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo dialético.

 

SISTEMÁTICO

Hegel diz do método sistemático, para pesquisa e para exposição, com a analogia do aprendizado da escrita, em sequência: começamos com as vogais, as consoantes, as sílabas, as palavras, as frases e, enfim, o todo do texto. Ora, isso também é diacrônico, no tempo: o homem primitivo teve de evoluir sua fala nesta mesma sequência, assim como a fala da criança. As duas formas de serem sistemáticas são juntos e apenas um, mesmo que ocorram, aqui e ali, certas incorrespondências. Hegel diz que o mais simples e abstrato é o mais geral (hidrogênio, mercadoria, células etc.), logo o começo da exposição, mas também é isso porque é o primeiro na história!

Inspirado na química, completamos: temos: o analítico, que desenvolve a coisa sem nada nela acrescentar, o sintético, que adiciona algo como o oposto na coisa – e o combinatório, simples ou composto.

Exemplo: A - BC para AB - C.

Exemplo: máquina (construção etc.) e matéria-prima como capital constante e força de trabalho como capital variável.

Passa para

Máquina, construção etc. como capital fixo e matéria-prima junto com força de trabalho como capital circulante.

Vejamos outro caso. A combinação de capital comercial e produtivo produziu o domínio do primeiro sobre a produção e as finanças. O domínio do capital produtivo, produziu subordinação do capital comercial e das finanças. O domínio das finanças, combinado com o industrial, produziu dominação do capital industrial e do comercial. Hoje, temos a hiperinflação e domínio do capital fictício. Se limitássemos a combinatória aos maquinário, insumos e força de trabalho; diríamos que tivemos 300 anos de domínio dos “insumos”, 300 de domínio da “máquina”, 300 da força de trabalho, socialismo antes do comunismo. Mas isso logo se demonstra limitado.

A unidade do analítico e do sintético, ambos válidos por si, é o combinatório. Este tanto põe (sintético) quanto, por outro lado, não põe (analítico). Hegel apenas apresenta os opostos e, como dissemos, não viu o movimento, desenvolvimento, do sintético no sistemático; para ele, passamos do analítico para o sintético e vice-versa, como apenas dialética negativa, não positivamente dialético.

Contra Kant, Hegel diz que 7+5=12 é analítico, não sintético. Mas é, bem observado, tanto um quanto o outro, combinatório. 7 e 5 estão separados, depois unidos pela “cola” interna; eles se combinam. O conteúdo – que Hegel diz ser igual antes e depois – é e não é o mesmo, pois combinaram-se, e a forma, algo tão importante para a dialética, mudou, tornou-se 12 unitário.

Outro sentido, lateral, de sistemático vem de uma coincidência curiosa entre psicanálise e história humana, ainda não encontrada por mim na natureza, mas cuja correspondência parece existir na célula viva. Na sociedade, temos: economia, classes, superestrutura subjetiva (mentalidades) e superestrutura objetiva (instituições). Pois bem; a psique arranja-se de modo análogo: ID ou instintivo e impulsivo (economia), ego (classes), parte do superego repressivo (instituições, Estado em central) e parte do superego da idealização de si (mentalidades). Assim, temos: infraestrutura, estrutura e superestrutura, sendo que este último se duplica – e eles se formam, em geral, a partir do infra. Ao que parece, pode-se elevar à lógica ontológica tal sistema. A base (infra e estrutura) é dinâmica e produtiva enquanto a superestrutura dupla é conservadora, conservativa, estrutural. Na célula, temos o infra citoplasma, produtivo; a estrutura como a membrana plasmática ou componentes internos do infra e do superestrutural; e o núcleo como superestrutura, com suas duas funções centrais: controle das atividades que ocorrem na célula e armazenamento da informação genética. Aqui, indicamos um possível caminho para ver a célula, podendo ser adaptado. [No macrobiológico: o infra são (os produtores em si) plantas, fungos – fixo e trabalham com a luz e com os nutrientes do solo –, e os seres unicelulares costumam estar aqui; a estrutura (variável, circulante) que são, em principal, os herbívoros, os  que comem folhas, frutos, mel etc. – mais diversos etc.; o super são os seres superiores, de topo da cadeia alimentar, como os carnívoros (quase) finais, leões e águias etc., que são reguladores e auge genético. Aqui, também, pode ser melhorado, aperfeiçoado e corrigido, sendo esboço geral.] No átomo, temos o seguinte: a estrutura é o elétron; a infraestrutura, quarks, glúon, neutrinos, espaço; a superestrutura dupla, que se duplica, os prótons e os nêutrons no núcleo, que determinam o átomo, mantêm a unidade (função dos nêutrons) e atração total.

De modo geral, visto do ponto de vista vertical, a superestrutura está acima da base (infra e estrutura), mas dependente desta última; do ponto de vista horizontal, a superestrutura está rodeada pelos demais.

O método empírico-dedutivo que temos defendido nesta obra é um juízo analítico a posteriori, considerado impossível por Kant. Este defendeu a existência do juízo analítico a priori, sintético a posteriori, além do sintético a priori, que não depende da experiência, para ele a fonte de toda ciência real. Ao contrário, partimos do empírico, da experiência, para saber o que já está nele, mas oculto.

 Aproveito este ponto para apresentar uma diferença leve para com Marx, mas inspirada nele. Há três posições sobre o sistema humano: 1) a economia é o centro, mas as partes (Estado, classes, mentalidades etc.) do todo agem em interação recíproca, marxismo ortodoxo; 2) a economia determina todo o resto, marxismo antidialético; 3) todas as partes são sincrônicas e externa umas às outras, sem hierarquia, marxismo estruturalista. Minha posição está com o marxismo ortodoxo, o primeiro, com um adendo: 4) tudo no sistema e todo o sistema é, no fundo, economia. O sexo que praticamos tem função econômica, como gerar filhos trabalhadores, repondo a força de trabalho, por exemplo. A educação tem função na economia, assim como o Estado etc. Isso é um “determinismo” econômico, mas de outro modo, de maneira não externa impositiva. Assim, fundimos e superamos as três posições anteriores, sob hierarquia da primeira. Tudo parece ser política, mas tudo é economia; e política é economia concentrada. Quando Foucault deixa entender que tudo – escola etc. – tornou-se uma imitação do modo de ser da fábrica, não por exato prisão, quase reconhece a totalidade como totalidade.

A verdade é processo-estrutura. Mas há contradição na unidade do diacrônico e no sincrônico – como constradição da Coisa consigo mesma. Isso se expresxsa nas partes, como a contradição entre forças produtivas que avançam e as relações de produção conservadoras.

Na exposição de ideias, na teoria e na arte, parto do modo sistemático que vai-se dissolvendo-se, torna-se assistemático em seu final, como arranjo de ideias complementares. Isso tem lastro ontológico, ver-se claro. O sistema entra em crise como sistema, crise sistemática.

 

UNIDADE DE PRODUÇÃO – FIXO E CIRCULANTE

Hoje sabemos que o Ser é produção. As estrelas, por gravidade, produzem elementos novos, cada vez mais pesados, perdendo energia em forma de fótons e neutrinos. A célula é uma unidade produtiva que produz mais energia do que aquela exigida em sua produção. O homem teve, por exemplo, o campo de trabalho escravo, o feudo, a fábrica com trabalho manual e, agora, a fábrica sem trabalho manual. Temos, então, três fatores universais: a produção-consumo e a distribuição. Ser, não apenas o social, é trabalho também.

Assim, as três modalidades de ser têm o fixo e o circulante. Mas o fixo é, também, circulante, apenas relativamente fixo. No sistema solar, nível inferior de sistema orgânico, a luz é exemplo de circulante. Os elétrons compartilham fótons. Na biologia, o sistema circulatório bombeia o sangue – o DNA permanece “guardado” e fixo enquanto o RNA movimenta-se. No capitalismo, temos o capital fixo (máquina, instalações etc.) e o capital circulante (matéria-prima, força de trabalho etc.). O circulante costuma servir de cola adicional que mantém o sistema como sistema; assim, o dinheiro unifica o mundo do capital. Assim, o próton é formado por 3 quarks que se unificam em sistema com o auxílio da partícula glúon, compartilhada entre eles, em movimento. No partido de tipo leninista, revolucionário, o jornal une a militância. Até onde se sabe, aquilo circulante é, em termos absolutos e quantitativos, menor em matéria do que aquilo relativamente fixo.

Em primeiro lugar, o circulante distribui energia, embora possa fazer mais do que isso. As abelhas são o circulante na biologia, em busca de energia, mas também polinizam as flores.

 

A INDUÇÃO DEDUTIVA

A indução, ter grande amostra igual que permite afirmar que “todos os x são y“, e a dedução, partir de dois ou mais postulados (em certo sentido, arbitrários) para ter nova conclusão, são opostos. Vejamos, no entanto, a unidade negativa deles para depois alcançar a positiva. Se todos os muitos patos que observo são negros, logo deduzo que todos os patos são negro, dedução por indução. Se deduzo algo a partir de premissas “aleatórias” ou “intuitivas”, logo tenho que provar uma e várias vezes tal conclusão, indução por dedução.

Mas há a indução dedutiva, unidade positiva dos opostos. Dois postulados (ou mais) podem ter origem indutiva, que derivam uma dedução. Vejamos. Se digo apenas “todas as revoluções socialistas vitoriosas formaram ditaduras”, logo, por indução, “socialismo é ditadura”; mas, se faço a outra, segunda, indução “todas as revoluções socialistas ocorreram em países imaturos”, unificando com a primeira, logo deduzo “as revoluções socialistas caíram em ditaduras porque eram países imaturos para o socialismo”.

Isso não se confunde de todo com o método dialético, que expomos aqui, empírico-dedutivo.

Uma prova melhor é provar algo tanto de modo indutivo quanto dedutivo.

 

A PASSAGEM LÓGICA

Demonstramos A=A e… não-A. A dialética comum diz que o simples é complexo, pois um simples ser vivo unicelular é complexo em si próprio. O socialismo é uma complexidade simples (daí sua maior facilidade de gestão). Isso é correto, mas apenas sincrônico, não diacrônico (o simples de fato, também, avança para o complexo). Agora, porém, seremos sincrônicos ao já termos pesado a mão nos processos.

A=A já põe o segundo A como diferente, logo A=não-A, ou seja, A=A e não=A. Ora, se isso é uma passagem, mesmo se apenas mental ou lógica, logo A=A e… não-A. Façamos agora o caminho inverso. A=A e… não-A. Logo A tem em si a potência de Não-A, logo A=A e não-A (e A permanece em não-A). Assim, se A e não-A são o mesmo ou em unidade, A=Não-A, por isso A=A! Em nossa dialética, em A=A e… não-A, até o “e” importa como impulso de adição, de acréscimo, pois mais é mas, e, ao mesmo tempo, mas é mais.[27] O “…” demonstra o tempo, o movimento, o processo, o genético, o diacrônico, o evolver, o (auto)desenvolvimento, evolução e revolução.

De certa forma e modo, a fórmula A=A e... Não-A funde, em movimento, a lógica formal, A=A, e velha Dialética, A=A e Não-A. Dizer “A=A e não-A” é transição, lógica e histórica, entre o classificatório “A=A” e o dinâmico “A=A e… não-A”.

Lênin, antes de estudar Dialética, caiu na lógica de Kant, dos opostos fixos. Assim, opôs a luta econômica e a luta política, preferindo esta última. Toda a diferença fica assim:

A=A: luta política aqui, luta econômica ali.

A=A e não-A: luta econômica é, ao mesmo tempo, luta política.

A=A e... não-A: a luta econômica torna-se luta política, e vice-versa.

Após uma luta política grande, em geral surgem lutas econômicas; o aumento das lutas econômicas as unificam numa luta política.

As duas formas anteriores, lógica formal e a velha dialética, estão dentro da terceira forma, não apenas negadas.

A unidade e contradição dos opostos categoriais no sincrônico leva ao desenvolvimento das mesmas categorias no diacrônico. O simples vai ao complexo porque o simples é complexo. A identidade vai para a diferença, diversidade, oposição e contradição porque a identidade já é diferença, diversidade, oposição e contradição. Vele observar que certas categorias já podem ser tratadas como estrutura ou processo: “acidente” pode ser processo acidental ou característica acidental; “potência” pode ser possibilidade ou impulso e pulsão; o contínuo com o discreto, algo fixo, pode passar para o contínuo para e com o descontínuo, algo em movimento ou circulação. Mas, em geral, devemos demonstrar o movimento real-conceitual interno.

 

UNIDADE E IDENTIDADE

Na natureza sem vida, impera a identidade de fundo, acima – abaixo – da unidade apenas. A unidade aparece como externa, enquanto a identidade é interna. No ser social, porque o mais complexo ou mediado e resultado dos seres anteriores, aumenta muito o relevo da unidade, tanto externa quanto interna, dos opostos e diversos, mantendo ainda viva por debaixo a identidade interna.

 

SUJEITO E OBJETO

Adorno opõe a dialética fechada de Hegel à dialética aberta (Adorno, 2013, p. 65). Mas há o caminho do meio, o terceiro “excluído”. Pode-se chegar ao todo estável, amplo e correto no geral, sem esgotar, sem domar tudo. Isso permite reformas apenas, atualizações, mesmo que reformas revolucionárias. Veremos neste livro e neste capítulo uma dialética nova, que preserva completamente Hegel, e põe, desta vez, o todo, ainda que não tudo.

A ciência conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias etc.

Entre as condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da ciência e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo, de suas possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova revolução científica, para sua realização socialista.

A verdade é revolucionária.

O sujeito é o objeto em desenvolvimento, isto é, o objeto é o sujeito em desenvolvimento. Por enquanto, isso se tem dado por meio de um processo contraditório, por um amálgama de ambos e por uma inversão alienante de papéis. O mundo é maior do que nós sempre, mas, ao mesmo tempo, somos o fruto maior do mundo por se realizar como deve – ser. Ter é a condição para ser, embora estejam ainda hoje em oposição contraditória. A abundância responsável do socialismo permitirá o reino da liberdade e da compreensão do cosmos. Cada humano será um universo de universos – e o todo será visto, enfim, como o indivisível. A revolução é a verdade, o verdadeiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

o ABSTRATO é o

CONCRETO

Em PROCESSO

O nada é o

Ser

Em devir

O ser é o

Nada-infinito

Que implode

Outro é o

Algo

Que passou para outro

A determinação é a

Constituição

Formada

O mal infinito é o

Finito

Indo além de seu limite e barreira

O finito é o

Bom infinito

Que produz a finitude

O muito (múltiplo) é o

Uno (um)

Que se fragmenta, pluraliza

O uno (um) é o

Múltiplo (muitos)

Que se reúne, concentra-se

O intensivo é o

Extensivo

Concentrado

O extensivo é o

Intensivo

Que se expande

A qualidade é a

Quantidade

Em mudança

A quantidade é a

Qualidade

Em alteração

O contínuo é o

Discreto

Concentrado, reunido

O discreto é o

Contínuo

Disperso

A aparência é a

Essência

Que aparece

O conteúdo é a

Matéria

Formada

O fundamentado é o

Fundamento

Que avança

A Coisa é as

Condições

Que desabam “para dentro”

O interno é o

Externo

Que se interrnaliza

O externo é o

Interno

Que se externaliza

O acaso ou o acidente é a

Necessidade

Que se revela

A liberdade é a

Necessidade

Desenvolvida

O acaso das

relações causais recíprocas das partes-todo

Ocorre

A necessidade é a

possibilidade

Crescente

A realidade é o

Desigual e combinado

Desenvolvimento

O sujeito é o

Objeto

Que se transcende

A realidade é a

Substância

Em autorrelações

O desigual e combinado é a        Realidade  em                           Desenvolvimento

 

O sujeito é o                               Objeto em                                Desenvolvimento

 

O Objeto é o                              Sujeito em                                Desenvolvimento

 

O complexo é os                       Simples                                     Reunidos, integrados

 

A matéria é o                             Espaço                                      condensado

 

O espaço é a                              Matéria                                      diluída

 

A coisa em si é a                        propriedade-matéria                  reunida

 

O singular é o                            Geral que se                              Particulariza

 

O geral é o                                 Singular que se                          Particulariza (indutiva-se)

 

O particular é o                          Geral que se                             Singulariza (deduz-se)

 

O particular é o                          Singular que se                         Generaliza

 

 

 

APÓCRIFOS

 

LÓGICA UNITÁRIA

Na idade Média, a filosofia dividiu-se, entre outras divisões, entre aqueles que consideram o singular como único verdadeiro ou, ao contrário, o geral como único verdadeiro. Um seria o falso do outro, ou vice-versa. Nos meus estudos, percebi que podemos generalizar tal tipo de raciocínio: existe apenas o discreto, não o contínuo – ou vice-versa; existe apenas a essência, não a aparência – algo já comum entre nós, pois a aparência é para a consciência; existe apenas o necessário, não o contingente; existe apenas a matéria, não a forma; existe apenas a unidade, não o diverso ilusório; existem apenas as partes, não o todo etc. Desde o caso da aparência e da essência em nossa tradição, a coisa toda parece se sustentar. Uma categoria seria real e ontológica; a outra, ideal, fictícia, gnosiológica etc. Uma em si e outra para nós. Ser contra o nada, infinito contra o finito, real contra o fictício, mundo sensível contra mundo das ideias e formas etc. Mas, por exemplo, o qualitativo e o quantitativo são, ambos, reais – apenas a medida, o terceiro, poderia ser, se forçamos, artificial. A questão é que a mente, o pensamento, importa para a ciência: logo, de um deduz-se o outro, seu oposto idêntico; um põe o seu inverso ou passa para ele. Se um conceito é necessário, então ele é real. Campo, gene, valor, espaço etc. foram, antes, apenas conceitos, que depois provaram suas validades ontológicas, ou seja, eram necessários, portanto reais. O conceito de fato necessário é real, ainda que abstrato ou relacional etc. Bem: seria uma nova forma de dialética esta descoberta por mim, mas não se sustenta sob seus próprios pés.

Tanto mais no capitalismo, nós tendemos a pensar em apenas um conceito entre o oposto, em especial ao conceito que é para nós: quantidade contra a qualidade, finito contra o infinifo, extenividade contra a intensidade, aparência contra a essência, diversidade contra a unidade. São mais imediatos.

A negação de nossa exposição é a seguinte afirmação: se o conceito existe na consciência – se seu conceito oposto existe na consciência e na realidade – logo, o primeiro ou existe, ou existiu, ou existirá.

Em tal eixo, lógica unitária, a contribuição para a física (quântica) pode ser esta, dos opostos (grosso modo, quanto mais preciso a medida de um, menos será a medida do outro – princípio da complementariedade): a posição é para nós – o movimento é para si; o tempo é para nós – a energia é para si a probabilidade quântica (Bohr) é para nós (nossa limitação diante de um objeto tão complexo) – o determinismo causal (Einstein) sem jogo de dados é para si  etc. etc. Quando a ciência começa a falhar, a filosofia é obrigada a elevar-se e ganha importância para pensar alternativas.

Apesar da tentativa de simetria, esta lógica também é concreta: matéria dominar contra antimatéria, quirilidade quebrada na química da vida, raridade ao menos da vida inteligente. Isso é o que Marcelo Gleiser nomeia criação imperfeita. A lógica unitária aparece como lógica do real, real.

O idealismo objetivo ou o absoluto diz abarcar os opostos, que são então apenas um, num todo unitário. Fazemos algo parecido, mas diferente. No externo, há materialismo e idealismo, por exemplo, mas no todo ou no interno há apenas materialismo – se há idealismo é por dose materialista de idealismo. Há movimento e fixidez na nossa imediatidade para nós, porém, bem observado, existe apenas movimento e até o estático é um modo de movimentar-se, além de ser algo relativo e para nós. Se A = A e não-A, o movimento é igual ao não-movimento, no entanto, o não-movimento, não-A, inexiste de fato, na essência. Adicionemos o relativamente relativo: na abstração necessária, alguém na parada de ônibus está, sim, parado, relativo ao observador dentro do ônibus em deslocamento – dizer que, nessa situação, cuja base comum é o chão imediato, a pessoa sentada à espera do transporte está em movimento é relativismo e individualismo extremado como se tudo dependesse do ponto de vista, sem o todo e a totalidade em questão, havendo apenas os dois átomos desconfiados em relação. Por fora, por assim dizer, ou externo; há essência e aparência, todavia esta última é apenas para nós, externa, pois o mundo é todo a essência apenas. Logo veremos, mais à frente, que um conceito base, de fundo, decai-se em si mesmo e em seu oposto na consideração comum.

Há, então, dois chamados movimentos categoriais: 1) um conceito desenvolve-se, põe o outro oposto, relativo e externo; 2) um conceito devora o outro, como parte de si.

 

POR UMA LÓGICA OBJETAL OU DO ENTE

Por objeto, aqui, incluímos, por exemplo, os indivíduos vivos de diferentes espécies. Tanto borboletas etc. quanto produtos na forma de mercadorias procuram imitar uns aos outros, parecer com outra espécie. Aquelas, para evitar serem consumidas; estes, ao contrário, para serem consumidos por preferência. A causa é diferente, mas a lógica (categoria) é a mesma (mimetismo). Na vida e na mercadoria, as cores aderentes externas servem para indicar, sugerir, algo, certa mensagem (um sapo venenoso amarelo). Um carro é como um rinoceronte ou outro animal: tem “olhos”, um “sistema digestivo” para obter energia, poros para expelir impurezas, meios de locomoção etc. Com um pouco de imaginação e mente aberta, carros em movimento lembram animais de grande porte em vários sentidos. Tal estrutura coisal deve ser refletida e pensada. Na filosofia, há quem estude porque raios, nervos, galhos de árvore etc. têm estrutura semelhante. Por que padrões naturais preferem o padrão, sequência, de Fibonacci? Demonstramos que o dinheiro, por exemplo, como os animais, tem em sua forma, em sua fisiologia, uma expressão da fase da sociedade, do meio pertencente e do contexto. Regra geral, a ferramenta inorgânica de produção tem a tendência universal, não na história particular, de aumentar a resistência, a materialidade e o tamanho. Eis um novo continente a desbravar. 

Se quisermos fazer o laço com a dialética de Hegel, Marx e a nossa – eis.

A categoria de qualidade como estado do real decai para qualidade como característica. A categoria de essência como o que permanence no movimento decai para a categoria de essência como um material de fundo. A categoria de substância como o que há de universal decai para a categoria de substância como substrato. A categoria de Ser como o cosmos decai para a cateogria de Ser como algo, ser-aí, coisa (Hegel). A categoria de nada como totalidade decai para a categoria de nada como determinado, ou seja, falta de algo, ou seja, mera ausência singular. A categoria de necessidade decai para a categoria de necessidade como precisão. A categoria de teleologia como lei inerente de desenvolvimento, de origem causal, decai em categoria de teleologia subjetiva que, ao contrário, manipula a causalidade. A categoria de determinação, dirá Hegel, decai na categoria de qualidade. A categoria de contexto (totalidade) decairá na categoria de contexto interno, ou seja, propriedades, perfil etc.. As categorias de interno e externo decairão na categoria de composição. A categoria de forma decairá na categoria de forma enquanto formato. A categoria de aparência como expressão da essência decairá em aparência enquanto estética. O objeto expressa ou internaliza seu meio. Um átomo expressa a pressão pelo qual passou, a internalizou. O fato de a América Latina passar por duras e longas ditaduras fez Nahuel Moreno diminuir a democracia partidária de seus partidos, proibindo frações fora de períodos congressuais – internalizou o externo. Vimos o efeito da pressão do meio no inorgânico e no social; agora, veremos no biológico: a pressão de seleção natural produz efeitos como a camuflagem, a imitação do contexto.

 

TOTALIDADE ENCARNADA

Na mitologia cristã, Deus encarna-se em seu filho de carne e osso, e são apenas um. Na mitologia de Tolkien, a música dos deuses que deu origem ao universo, sendo este, e à Terra-média provavelmente encarnou-se em um ser especial chamado Tom Bombadil. No materialismo, a totalidade expressa-se. O todo encarna-se numa parte ou num singular, um singular do universal. No capitalismo, primeiro a mercadoria e, depois, o dinheiro. Lenin e Trotsky possuem, como se magicamente, a personalidade necessária para uma revolução duríssima; depois, Stalin, com sua personalidade doentia, bem expressa a profunda burocratização inevitável daquela sociedade. O pensamento criativo revolucionário e ousado de Napoleão combina muito com a revolução francesa e seus limites burgueses. Ora, a totalidade tende, tende, a formar homens com certos perfis. A totalidade ou a universalidade encarna-se quando e como pode. Produz o exemplar típico. O Manifesto, por ex., é um modo de totalidade encarnada.

 

DECAIMENTO DE CONCEITOS

Nas minhas conclusões, uma relação categorial foi imposta sem que eu planejasse: certa categoria geral decai-se nela “mesma” e em outra, ou outra oposta, ou outras opostas. O romantismo decai-se em romantismo com suas derivações e o oposto de si. Em psicologia, a qualidade (característica) decai-se em qualidade e defeitos (má qualidade). A sorte decai-se em sorte e azar (má sorte). A qualidade enquanto categoria decai-se em qualidade e quantidade, que é por si uma qualidade também. Na estética, a beleza de estilo deica-se em beleza e feiura. A pulsão de vida decai-se em pulsão de construção (de vida), de conservação e de destruição. A crise do capitalismo, o capitalismo é crise como transição, decai-se em crise e crescimento. A moral (ou ética) decai-se em moral e imoral – e o “entre” amoral com raridade e se. A economia (total) decai-se em economia e não economia. Ciência, em ciência e filosofia. Matéria, em espaço e matéria com mediação da luz.

 

A = X… NÃO-X – EXEMPLOS

Para facilitar a compreensão de minha dialética, darei exemplos claros de minhas obras. O terceiro excluído é o foco da dialética, descobri-lo; mas ele pode vir na forma de um x que vai até não-x. Vejamos.

A revolução socialista (A) será operária (x) ou popular (não-x)?

Resposta: as revoluções socialistas (A) operárias (x) aumentarão a possibilidade de revoluções socialistas de base popular (não-x), serão incentivo e facilitadores.

A crise do sistema (A) é crônica (x) ou há crises cíclicas apenas (não-x)?

Resposta: temos crises (A) cíclicas (x) cada vez mais duras (não-x) e uma superprodução crônica ou absoluta latente.

A revolução (A) depende da liderança (x) ou é objetiva (não-x) de todo?

Resposta: as primeiras revoluções, por serem exato as primeiras, (A) dependerão ainda mais de partidos e lideranças destacas (x), mas, exato por isso, as próximas revoluções serão um tanto mais, cada vez mais, objetivistas e menos dependentes de genialidades (não-x); pois serão mais fáceis e “naturais” também.

O terceiro excluído “estático”, hegeliano, da primeira contradição seria: a revolução socialista será, ao mesmo tempo, operária e popular. O que não está errado, mas está incompleto.

A principal lei da lógica formal é A = A, a primeira. De modo negativo, Hegel foca na segunda, A = A e não-A, identidade da identidade e da não identidade. Também de modo negativo, focamos mais na terceira, A = x… não-x, o terceiro excluído incluído. Por exemplo: a energia (A), a identidade de fundo, ora se expressa como extensividade (x) e ora como intensividade (não-x), pendula entre um e outro. A jornada de trabalho mais intensa força a redução da sua extensão, do tempo de trabalho; a jornada mais extensa, ao contrário, pesa contra a intensividade do trabalho. Uma contradição sem movimento é apenas, apenas, oposição.

 

O QUASE

Newton da Costa defendeu a quase-verdade sem perceber uma categoria geral, certa medida qualitativa. Aqui, falamos de quase-arte, o capitalismo como “quase mera transição”, quase estaganação permanente etc. O “quase” é e não é, beira e contamina-se de seu outro. Na física, temos a quasipartícula.

 

MATÉRIA, ESPAÇO E TEMPO

Na língua, temos – Duração: tempo, espaço e matéria. Os três sentidos demonstram uma unidade íntima. Algo Breve pode ser isso no tempo e no espaço, mas tem de ser algo material. Animais cada vez maiores tendem a viver cada vez mais. Eis pistas para o valor-matéria, respeitando valor-trabalho medido pelo tempo. Ser em inglês, to be, é estar como “estar fazendo” (movimento, tempo), estar como lugar e propriamente ser ou é. Ser em português, no passado, pode expressa o “foi” tanto no sentido de tempo e coisidade como no sentido de movimento (verbo verbo ir). A palavra Contexto passa a ideia de matéria (total), tempo e espaço especificos. A verdade não está nas palavras e na gramática, mas ela pode facilitar e operar pistas. O alemão hegeliano “Aufhebung” significa destruir (tempo), guardar e conservar (espaço) e elevar (matéria, aquilo que existe). Einstein provou que tempo nada mais é que espaço; mais um pouco de coragem lhe faria ver que tudo é um interno na sua diversidade externa e conceitual – matéria e espaço são iguais, unidade e identidade. Por isso, no fundo metafísico, de modo inconsciente, falamos em espaço de tempo. Curiosidade: os casais em crise pedem um tempo, dizem que precisam de espaço. A relação do espaço com a matéria produz o movimento, medido pelo tempo. Aliás, desde os gregos a filosofia considera movimento como 1) deslocamento, 2) mudança do objeto – completamos com 3) mudança por deslocamento, como o objeto preservar-se mais, abstraído o atrito, quanto mais rápido está, ou seja, decai menos ou envelhece menos porque se é mais matéria concentrada, mais para dentro de si, o que é medido (mas apenas medido) pela temporalidade, como se o tempo em si fosse relativo e fosse em si.

 

LÓGICA FORMAL E TOTALIDADE

E se aplicarmos a lógica formal não apenas nas partes, mas no todo? Vejamos:

Lei da identidade: A = A

O todo é igual a ele mesmo, a si mesmo, logo, a diversidade externa tem uma unidade interna – há uma única substância comum.

Lei da não contradição: A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto

Claro: o universo é uno, apenas um universo, não dois ou multiversos reais. Ora, mas A pode passar para Não-A contanto que não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto!

Lei do terceiro excluído: A = x ou não-x, apenas, sem terceira resposta (excluído)

Assim seja: o Ser absoluto não é o Nada Absoluto – ainda, mas, que deste derive…

O Ser vir do Nada é a única resposta viável tanto na ontologia quanto na gnosiologia.

Observamos, logo: a primeira lei é o geral – a segunda, o particular – a terceira, o singular. Isso vale tanto para a visão aristotélica, que foca na parte, quanto em nossa visão, que foca na totalidade.

 

TOTALIDADE, CONTRADIÇÃO E MOVIMENTO

As três categorias centrais da dialética são unilaterais, evitam o oposto. Quando colocamos a integração acima da totalidade, tal palavra já passa a ideia de todo e partes – pois as partes têm propriedades que o todo não possui. Por isso, integração. A contradição evita seu conceito oposto com cuja unidade temos a relação. Já o movimento precisa da matéria-espaço para existir.

 

LINGUAGEM

Os biólogos dialéticos fazem dura crítica: a ciência escrita tenta usar uma linguagem dura, objetivista, artificial, de todo impessoal. Até para fins de sucesso da obra, além de reforçar o lado humano do fazer científico, os dialéticos devem negar tal proceder. A obra ser um “todo artístico” também tem esse caráter – contanto que a forma nunca se sobreponha ao conteúdo.

A pergunta sobre “se algo é” já é estática, antidialética. Poderia ser, por exemplo, “eu estou sendo isso” como caminho alternativo.

 

CIÊNCIA COMO COISA

A ciência foi abstraída, coisificada, fetichizada, reificada. Toma a forma de um novo deus, coisa divina. Esquece-se que é uma obra humana, por isso bela ao mesmo tempo que imperfeita. Não é possível excluir o homem da ciência – robôs nunca farão ciência efetiva. A emoção potencializa a razão! A ciência não é apenas um método – trata-se até de um estilo de vida. Por isso, impossível um método de todo frio e objetivo, sem carne e osso, e sem alma. Defender a ciência contra todos os duros ataques inclui dar sua medida tão exata quanto possível, aproximá-la dos homens. Sentimos dor profunda quando nossa hipótese é refutada ao mesmo tempo em que somos felizes e conformados com um passo a mais na cultura humana. Sois homens – não sois máquinas!

 

METAFÍSICA

A palavra metafísica tem dois significados. Primeiro, além da física, além do sensível.  Segundo, o cair da matéria dentro dela mesma. A segunda significação é nossa prioridade. Quando dizemos metalinguagem, significa a linguagem falando dele mesma, um poema sobre a arte de fazer poemas etc. Metafísica é o homem, sendo parte do universo, conhecendo o próprio universo, a si mesmo. A metafísica moderna é materialista, um entrar dentro da fisicalidade. Um dobrar-se para dentro de si.

 

UMA DÚVIDA FÍSICA

É-me de todo estranho que exista a mesma quantidade de elétrons e prótons no universo, uma simetria singular. Soa a dedução de que eles foram, antes, juntos, um mar único de nêutrons ou, ao menos, de neutrinos. O sinal está no ar quando os opostos se unificam em algo neutro, indicando ser de fato inteiro e completo. No passado distante, pouco depois do início ou os nêutron decaíram ou os neutrinos fundiram-se?

 

CRISE NA LÓGICA DE HEGEL

Há mais implícita que explícita crise nas categorias em Hegel. Não foi longe, pois colocou a unidade e identidade muito acima da contradição e da diferença. A pulsão de ir além do limites, que se torna barreira assim, vê a barreira como limite algum; tende-se, então, ao mau infinito, ao cada vez maior – sem limite. Depois, ele diz que o uno – indivíduo, Estado etc. – isolado parece afirmar seu ser para si no isolamento, mas isso é, ao contrário, sua destruição. Em seguida, afirma que o Estado, a propriedade etc. ficar abaixo ao acima da medida correta gera o fim do próprio Estado, da propriedade, etc. (Mesmo que de inicio, por exemplo, o crescimento apareça como sorte – sem ver a totalidade, por exemplo). Nomeio “crise de medida”, embora tal expressão categorial tenha para mim mais de um sentido, mais amplo. Mas ele não viu a contradição-crise em todas os pares categoriais nem no sistema categorial de conjunto, como sistema, dentro de uma sistemática concreta.

De certo modo, há crise da lógica de Hegel – que pretendemos superar aqui. Temos a dialética da dialética.

 

INDUTIVO E DEDUTIVO CONCRETOS ETC.

Nossa mente algo imita a realidade. Por repetição, a natureza faz uma indução concreta – grosso modo, a primeira flor deu origem às demais flores. Por derivação (do novo etc.), a natureza faz uma dedução concreta. Assim como faz experimentação na prática. Nesse sentido, o hipotético-dedutivo e o empírico-dedutivo são consequências, também realidade no mundo, dos dois primeiros. Por exemplo: leis atuam na realidade que é ela mesma, nela.

A vaca induz que tudo capim é capim porque tal planta se multiplicou, faz indução concreta. Até nosso método de unilateralização relativa existe na realidade: os elos intermediários da evolução dos seres vivos foram instintos, permitindo vernos apenas espécies bem definidas, como se unilaterais, sem uma pluralidade de formas total.

As diferentes formas de metodologia de abstração ocorrem na mente como ocorrem na própria realidade.

 

SER OU DEVIR?

A importância da história e dos modos de movimento pode levar à negação da primazia do ser. Hegel afirma que o devir, o tornar-se, o vir-a-ser – é a verdade do ser e do nada… Mas é a verdade de algo, do ser-nada que se unilateraliza no ser (ser-aí). A obra tem por subtítulo “Doutrina do Ser” por um motivo claro.

O movimento apenas pode existir se for movimento de algo. Do mesmo modo, a forma apenas pode ser forma da matéria. A aparência apenas pode ser se pertence à essência.

 

CRISE CATEGORIAL IDEAL

Como a categoria é algo real, sua crise está no mundo. Além disso, crises de categoria no pensamento são acompanhadas de mudanças objetivas, como a técnica e a sociedade etc. Há ainda, de modo relativo, crises categoriais próprias, ideais – cujo objeto em si não está em crise. Temos a crise ideal do conceito, antes amplo, de força na física. Se estamos certos, há crise das energia e matéria escuras; não em si, no material, mas no conceito que sobra, externo.  Não está descartada, também, a retomada de categorias antes superadas na ideologia.

 

“O ABSTRATO É CONCRETO EM PROCESSO”

Vejamos desde a tabela da qual tratamos antes. O sujeito ser o predicado quer dizer que o sujeito na mais é que seu predicado, algo sobre o predicado. O foco no sujeito esconde a verdade que está no predicado. Como a coisa em si ser tão somente suas propriedades e seus materiais.

O sujeito deve ter o predicado de ser sujeito. Eis unidade, na palavra e no mundo, de sujeito e predicado.

 

TRABALHO

A falta é o nada, como pressão de vácuo do desejo. O mundo exterior, que deve ser modificado e consumido – o ser. Dessa unidade complicada, eis o devir. O homem para si torna o externo um “para outro”. Ser aí: objeto alcançado; Algo e outro: eu e o objeto. Quantidade: a produtividade aumenta pela ferramenta, o algo no outro - rompendo os limites e barreiras do outro porque quer suas determinações e constituições (até o interno escondido pelo externo). A coisa se torna suas propriedades, sua matéria. Então, a intensividade e a extensividade são colocadas em questão. Mede-se, precisa-se, compara-se, iguala-se. Quer-se energia sem medida.

 

 

IDENTIDADE (OU UNIDADE) E DIFERENÇA

Afirma-se que Hegel vê a identidade dos diferentes enquanto Marx parte da unidade para ver, então, a diferença. Temos, assim, dois partidos. Ora, escolher um ou outro é artificial e gnosiológico, não ontológico. Devemos, isto sim, tão simplesmente investigar – sem escolher um ou outro caminho de antemão. O novo pode vir por separação, ou por união, ou por combinação (separados unidos). Pode haver, aliás, identidade tanto quanto unidade.

 

A NOVA DIALÉTICA

Minha dialética tem o DNA imediato de Hegel e de Marx, porém é nova. Um trabalho científico é confuso, caótico – apenas no final parece fruto de uma ordem natural, passo a passo. Em primeiro lugar, foi a pesquisa concreta e empírica (o livro sistemático A crise sistêmica etc.) que me fez perceber uma nova dialética; de modo algum ela surgiu por meio de reflexões abstratas, ou seja, arbitrárias. Da tentativa de compreender o mundo, surgiu um método de ciência (nova relação dos conceitos etc.) ; tentar saber do sistema do mundo obriga, via de regra, a desenvolver o próprio método científico – a pesquisa também é descobrir como descobrir a realidade. Antes de ler Hegel, porém, eu conheci a dialética de modo “errado”: desenvolvimento desigual e combinado (Trotsky), possibilidade crescente (Piaget), a versão “vulgar” da relação forma e conteúdo etc. Todos são conceitos em movimento, em devir. Por isso, na primeira leitura da Lógica de Hegel, observei os conceitos de modo equivocado e, por isso, novo; não foi uma leitura imanente. Depois, fiz uma leitura de todo focado da obra (alguns capítulos foram lidos algo como 15 vezes, grosso modo), algo raro mesmo entre seus leitores, o que me levou a ver a diferença entre minha e a dele posições. A partir de certo momento, as derivações e deduções ganharam força máxima, ideia sobre ideia. Devo acrescentar, aqui, algo que evitei no resumo-crítica-atualização das categorias: os juízos, em principal, e os silogismos tratados por Hegel no livro III ocorrem como processo real, etapa a etapa, não só na mente, mas precisamente no mundo – Engels já tinha tal desconfiança (Dialética da natureza). Por exemplo, na biologia das espécies e na história da humanidade, ocorre, ainda que de modo invertido nos dois seres, isto: o singular é universal – o singular é particular – o singular é singular (juízos qualitativos). Claro, ressignificamos as palavras de Hegel: se o leitor desejar um exemplo mais concreto de juízos concretos, indico minha Ética. Enfim, considerei mais o tempo e o movimento do que o legado hegeliano, ou marxista até aqui, que já os tinha em grande estima e como base. As novas contribuições à dialética, como o contínuo e descontínuo em Lukács, ou a interpretação “errada” (Eleutério Prado) ou mal traduzida de “o desmedido” ou “o sem medida” – já davam pistas, que poderiam ser generalizadas, universalizadas. Sem conhecer a dialética de Hegel e de Marx, torna-se mais difícil reconhecer a nova; mas nesta obra fiz resumos bastante claros de suas concepções, até em aspectos até agora inéditos (o abstrato-concreto, também, “platonista” materialista; exemplos nas três modalidades do Ser etc.). Espero, com isso, ajudar a humanidade a compreender melhor a si e ao mundo, para mudá-lo. Apenas com interpretação correta do mundo se pode modificá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OS MÉTODOS CIENTÍFICOS

 

 

É muito comum em meios universitários e entre militantes de esquerda dizer “isso é dialético” para afirma que algo é complicado, confuso, misturado. A dialética é algo sobre o qual muitos falam, mas poucos sabem exatamente do que se trata. Os textos a seguir pretendem oferecer uma introdução de fato completa e clara.

A dialética é 1) um método científico, 2) uma lógica da realidade e do pensamento (logo, uma concepção de mundo, como afirmar que o real é necessariamente contraditório) e 3) uma forma de exposição da pesquisa científica concluída. No nosso dia a dia, comum ouvir alguém reclamar “isso não tem lógica, é contraditório!”; ao contrário, o dialético é o contraditório – apenas há lógica na contradição! Na Grécia antiga, a dialética era vista como parte da arte do diálogo, como Sócrates fazendo os adversários com os quais debatia cair em uma posição contraditória, a corrigir seus argumentos. Muitos séculos depois, o alemão Hegel escreveu uma obra chamada Ciência da Lógica, que toma para si toda a história do pensamento, e chega a conclusões inteiramente novas. Por exemplo: a história da filosofia caiu numa oposição: ou o universo era formado pelo acaso ou, ao contrário, por leis necessárias, então Hegel resolveu com a conclusão de que o acaso atua junto e em base à lei, à necessidade (a necessidade é aquilo que, de fato, é); a lei dá as condições para o acaso, seu oposto, acontecer, o acaso é o acontecer da própria necessidade (lei) – demonstra uma unidade, ainda que contraditória, dos opostos, acaso e necessidade (lei). Mas, se pareceu difícil, não adiantemos demais os assuntos: avancemos aos poucos e progressivamente.

 

A HISTÓRIA DO MÉTODO CIENTÍFICO

 

RELIGIÃO

O primeiro método é o mais distante de si próprio, seu oposto e negação – ou seja, um método não científico. Os homens percebiam padrões tantas vezes reais, então davam uma explicação mística àquela regularidade, à repetição. Assim os antigos sacerdotes judeus diziam que Deus desejava que lavássemos as mãos antes das refeições.

 

 

 

 

FILOSOFIA

Separando-se e derivando da mitologia, a filosofia antiga tinha de lidar com a falta de dados empíricos. Para isso, contava com o pensamento, com a busca de bons raciocínios e argumentos para tentar explicar o mundo.

Os filósofos negavam o empírico como algo sem permanência, incerto, perecível. Buscavam – aí está o lado forte – a essência da realidade, porém consideravam esta mesma essência como imutável, imóvel (diferente do que considera a dialética moderna). Um dos lados fortes de tal postura é querer saber das coisas nas próprias coisas, “deixar a pedra falar por ela mesma”.

 

EMPIRISMO

O empirismo afirma que o cientista deve limitar-se a colher e organizar os dados empíricos. Apenas, e talvez um ou outro comentário lateral entre os gráficos. Para Bacon, por exemplo, os sentidos revelavam a realidade, por isso devemos usar o seguinte procedimento: colher dados e, depois, generalizá-los – chamamos método indutivo. Segundo esse pensador, o erro seria colocar nossos pensamentos, nossos valores, nossos pontos de vista enganadores sobre os dados. O lado positivo é seu apreço pelo empírico, mas seu lado negativo é limitar-se aí.

Hegel usa a seguinte metáfora para sua crítica: afirma que o empirismo separa as camadas da cebola, que, na verdade, crescem conjuntamente, e esquece-se de reunir o que foi separado (abstraído). Eles veem as partes do todo, mas esquecem da interação delas e que o todo tem características próprias, que as parte não têm.

O empirismo toma dados empíricos e generaliza aquilo que é repetido. O problema é que deixa de tomar a realidade em seu movimento, em seu desenvolvimento.

Um exemplo desse método é seu uso por Freud. Ele observou que várias pessoas tinham esta ou aquela característica central, logo ele pensou: existem três tipos de personalidade – 1) a psicótica, que é rígida nas ideias, 2) a neurótica, que reformula as ideias, 3) a perversa, que adota esta ou, depois, ao contrário, aquela ideia se causará prazer para si, se lhe dá alguma vantagem. É uma generalização, uma indução.

Outro método indutivo é o experimental, experimentar de modo controlado.

Hoje, quando temos computadores que percebem vários padrões ocultos, o trabalho apenas empirista tornou-se desnecessário, a máquina faz o trabalho melhor, cabendo ao cientista a interpretação dos dados.

Vale destacar o empirismo que fez escola e imperou, o de Newton. Seu método era colher dados separados, sem conexão entre si, e encontrar uma lei matemática comum deles, entre eles. Assim, ele descobriu a lei da gravitação universal, que serve para a Terra ao redor do Sol quanto para a maçã que cai da árvore. Pois bem; assim, ele vê apenas o lado externo da realidade, a aparência, a forma, a repetição. O que é, então, a gravidade? Ele não responde. Apenas Einstein, séculos depois, com o método (empírico-)dedutivo, ofereceu a resposta: a gravidade é a curvatura do espaço, desse tecido não absoluto. Antes, quem discordasse de Newton e de seu método cairia em descrédito.

 

RACIONALISMO

O racionalismo defende que se deve ir de conclusões racionais encaminhando novas conclusões racionais. É o método dedutivo. O cientista faz uma afirmação que considera verdadeira, então deduz daí as consequências de tal proposta.

O lado positivo da visão é que colocar tudo sob dúvida, como as supostas premissas obrigatórias. O lado negativo, segundo Hegel, é que não propõe verdadeiramente um método.

Os racionalistas pensavam que os dados poderiam nos enganar com muita frequência, logo é a razão que deveria guiar o trabalho do cientista – o oposto da ideia dos empiristas.

Einstein usou e defendeu o método dedutivo, embora, no fundo, sem saber, seu método fosse outro, como demonstraremos. Ele partia, por exemplo, das premissas “arbitrárias” 1) as leis do universo são as mesmas se o observador não está em aceleração; 2) a velocidade da luz é a maior possível no universo. Daí ele derivava conclusões, que poderiam se provadas.

 

A EVOLUÇÃO DAS TENTATIVAS DE UNIFICAÇÃO

A história da filosofia caiu-se em uma oposição entre empirismo e racionalismo. Veremos agora dois outros métodos científicos que procuram, cada um depois e mais avançado que o outro, resolver a questão – os métodos hipotético-dedutivo e dialético em principal.

 

KANTISMO

Kant tentou unir empirismo e racionalismo com a seguinte proposta: temos conceitos feitos pelo homem (racionalismo) que organizam a empiria, os dados confusos (empirismo). A crítica dialética é a de que os conceitos devem mudar se os dados empíricos mudam, se a realidade muda, ou seja, os conceitos devem se adaptar aos dados, não é os dados que devem caber dentro dos conceitos – os conceitos nada têm de fixos, eternos, imóveis, diferente do que defendia o kantismo.

A ideia de Kant entrou em decadência por muitos fatores. Entre eles: ele pensava o espaço e o tempo como categorias apenas mentais, para organizar o pensamento “por fora”, mas a física einsteana provou que o espaço-tempo existe.

 

HIPOTÉTICO-DEDUTIVO

Sobre o método hipotético-dedutivo de Popper, dito em resumo: diante de um problema científico, delimita-se uma hipótese (ideia, racionalismo, subjetividade) e o cientista escolhe, ele mesmo, o método de verificação empírica (empirismo). A hipótese é, assim, testada – verificada. Como os demais, esse método rendeu muitos frutos, mas tem seus limites: um deles é que muitas vezes descobrimos o “como” da realidade, porém também temos de descobrir o “motivo”, o “porque”. Além disso, pensar hipóteses é quase um tiro no escuro, mesmo com critérios que limitam tais hipóteses. O mesmo fato pode ter vários e vários fundamentos, razões diferentes, causas diferentes.

A crítica conclui:

1)  Nem sempre se parte de hipóteses, pois podemos simplesmente ir colher dados como primeira ação.

2)  Uma hipótese não precisa ser falsificada, como quer Popper, mas, antes, comprovada.

3)  Uma teoria errar uma previsão não significa que ela seja descartável, mas que deve ser apenas adaptada, em parte alterada, mantendo seu núcleo central de pé.

4)  Há casos na ciência em que uma teoria erra a previsão, não acerta o fato, mas depois, por insistência nela, descobre-se que é, na verdade, correta. Por exemplo: a teoria da gravidade levava à previsão de novos planetas no sistema solar, mas não eles foram encontrados; mesmo assim, a teimosia de defender a teoria “errada”, fez depois descobrir tais planetas ocultos.

Portanto, a concepção científica de Popper demonstrou-se limitada. Para ele, tanto o marxismo quanto a teoria da evolução não são ciências. Diante do prestígio da segunda teoria, atacado por isso, recuou, no início apenas de modo parcial, afirmando que a teoria de Darwin era certa metafísica bem sucedida, mas não em exato ciência. A questão é que o método defendido por Popper não é capaz de lidar com ciências que levam em conta a história do objeto de estudo, como a história humana, a história biológica, a geologia, a cosmologia etc.

 

DIALÉTICA (EMPÍRICO-DEDUTIVO)

Indo direto ao ponto, muito resumido: a dialética é o ir aos dados empíricos, colhê-los, depois, ou quase depois, passar a fazer intepretações, conclusões (não somente comentários) deles – e critica-se os limites e enganos dos dados empíricos. Do objeto em pesquisa, ver-se a estrutura e o processo, o sistemático e o histórico, o genético, a aparência e a essência, o externo e o interno, o diverso e a unidade interna e oculta. 

Leiamos o próprio Marx sobre seu método:

 

A investigação deve se apropriar da matéria (…) em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real. (Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo. P. 90; grifo nosso.)

 

Ao longo deste livro, evito colocar citações, porém é impossível fazer um resumo tão claro quanto. Vejamos, agora, um comentador de O Capital elogiado por Marx:

 

Para Marx, apenas uma coisa é importante: descobrir a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa. E importa-lhe não só a lei que os rege, uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem numa inter-relação que se pode observar num período determinado. Para ele, importa sobretudo a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transformação de uma forma a outra, de uma ordem de inter-relação a outra. Tão logo tenha descoberto essa lei, ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se manifesta na vida social. (Idem)

 

Lembramos o leitor que o método não é o critério da verdade. Com os demais métodos, ao menos uma parte importante da realidade foi compreendida pelos cientistas. O método dialético é apenas o mais profundo – também o mais difícil, por isso merece mais de um capítulo nesta obra.

Vejamos o que diz Hegel:

 

Mas a filosofia não deve ser uma narração daquilo que acontece, e sim um conhecimento daquilo que é verdadeiro no acontecimento e, além disso, a partir do verdadeiro, ela deve compreender aquilo que, na narração, aparece como um mero acontecer. (Hegel, Ciência da Lógica, Doutrina do Conceito, Ed. Vozes, p. 50.)

 

Para esta citação, vale um exemplo. A mera descrição da história da humanidade dirá que tivemos o escravismo; depois, a servidão (feudalismo); depois, o trabalho assalariado (capitalismo); depois, o trabalho associado (socialismo). Mas o que isso diz, embora sem dizer? Veja que a passagem de um sistema de trabalho para outro, com o aumento da produtividade, torna o homem cada vez mais livre: o servo é mais livre que o escravo; o assalariado moderno, formalmente livre, é mais livre que o servo; o trabalhador associado, verdadeiramente livre, é mais livre que o assalariado – há uma tendência para a liberdade. Isso, a conclusão, não é algo palpável, sensível ou tocável, mas descobre-se que é verdadeiro a partir do empírico.

O método dialético evita de todo elaborar hipóteses, fazer especulações, histórias metafóricas etc. O cientista colhe o conjunto dos dados empíricos (empirismo, o papel necessário das informações) e busca descobrir, a partir daí, o não empírico (racionalismo, o papel ativo do pensamento, do sujeito). Em linguagem de Hegel: descobrir o suprassensível, o não sensível, por meio do sensível.

A dialética funde racionalismo e empirismo. É verdade que os dados empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro daquilo empírico.

Vejamos o método dialético. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles, mas neles mesmos. É possível perceber, mas não é possível tocar a verdade, pois ela não é uma coisa.

Chamo tal método, aqui exposto e desenvolvido enfim, método empírico-dedutivo (dialético). A conclusão, o não empírico, vem dos dados, mas os dados não dizem, ou melhor, escondem e revelam ao mesmo tempo. Reforçamos, portanto: 1) do empírico podemos chegar, também, a algo real, mas não diretamente observável, como o valor econômico, ou o elétron, ou a energia; 2) Os dados e a aparência podem enganar, não basta colher pistas ou provas.

Bem ou mal, cientes ou não; Darwin, Einstein, Marx e Freud usaram o método empírico-dedutivo (dialético). As premissas das quais partia Einstein eram razoáveis no sentido de já terem sido observadas, não eram arbitrárias e criativas, daí derivava conclusões. Darwin percorreu o mundo para conhecer a natureza viva em sua empiria para, daí, alcançar concussões – Wallace fez o mesmo. Freud ouvia sonhos dos pacientes e suas falas aparentemente soltas e desconexas para, aí então, perceber uma unidade interna oculta.

Hegel explica que devemos começar pelos dados empíricos, sem impor conceitos:

 

O saber que, de início, ou imediatamente, é nosso objeto, não pode ser nenhuma outro senão o saber que é imediato: - saber do imediato ou do essente. Devemos proceder também, de forma imediata ou receptiva, nada mudando assim na maneira como e se oferece e afastando de nosso apreender o conceituar. (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 83)

 

E critica o começo dedutivo do racionalismo:

 

Quando se apresenta à ciência, como pedra de toque – diante da qual não poderia de modo algum sustentar-se –, a exigência de deduzir, construir, encontrar a priori (ou seja como for) o que se chama esta coisa ou um este homem, então seria justo que a exigência dissesse que é esta coisa, o qual é este Eu que ela “visa”; porém, é impossível dizer isso. (Idem, p. 87)

 

No procedimento dialético, partimos do Ser, ou seja, vemos o qualitativo, o quantitativo e medimos; em seguida, chegamos, assim, no não empírico, na essência antes oculta; a partir disso, no fim, alcançamos os conceitos necessários.

A diferença é que este método não é fruto de bons raciocínios externos, mas é fruto da própria realidade e de sua observação – resultado ontológico. Ele é descoberto, não criado.

A seguir, comparamos a metodologia comum nas universidades com o procedimento dialético.

 

 

 

 

 

 

 

 

COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS

No geral, veremos que, na relação sujeito-objeto ou objeto-sujeito, a prioridade, o mais correto, é adaptar-se ao objeto de pesquisa. 

 

Paradigmas

A ciência anterior procurou objetos físicos como exemplares do funcionamento da realidade. O mundo, a sociedade, o universo seriam como um relógio, uma máquina, um computador. Um erudito sociólogo pode, assim, reclamar da existência de greves, pois os operários dessa forma negam seu papel no relógio social, isto é, rompem com um modelo artificial, posto de fora…

A realidade é sistemática ou orgânica. Veja que tais palavras são mais abstratas, intocáveis. A concepção de sistema orgânico – ou complexo dinâmico – é, na verdade, mais concreto porque permite antever o objeto de estudo como complexo, composto de partes interligadas e mutualmente causais, em desenvolvimento, mutável, contraditório etc. Vejamos em psicologia: aspectos específicos do cérebro podem ser semelhantes a circuitos mecânicos, mas o todo é irredutível a tal concepção, se bem observada, muito pobre. A realidade também não é como o corpo humano, pois, além da estrutura orgânica, temos de ver, também, o processo, a história do objeto de estudo.

A concepção de mecanicista de mundo tem origem histórica e efeito até mesmo no inconsciente dos cientistas. A cientificidade no capitalismo estava ligada à necessidade de produzir novas ferramentas, produtos-mercadorias e máquinas. Daí que a visão mecânica teve uma pesada base para impor. O maquinário, não a visão orgânica sistemática, tornou-se majoritária. Mas se a ciência que alçar voos mais altos ou menores, no macro e no micro, terá de considerar a realidade de outro modo, tal como ela é.

 

Escolha de premissas

Segundo o procedimento comum, o cientista precisa escolher entre duas premissas opostas: ou o homem é o lobo do homem ou o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Ora, escolher qualquer um dos caminhos é limitar a visão da realidade já na partida. O correto é escolher a realidade empírica como sua base; uma antecipação filosófica, uma concepção, deve ser resultado de pesquisa – não o começo. De igual maneira, um postulado ou princípio deve ser a solução final, o resultado que resolve, no lugar de ser o começo da pesquisa.

 

Com quais conceitos?

Em projetos de pesquisa é comum perguntar com quais categorias o estudioso contará para alcançar conclusões. É o método científico anterior, inspirado em Kant. O método dialético tem, primeiro, de pesquisar a fundo para descobrir as categorias: elas são resultados, não o começo. Os conceitos não são inventados, fazendo a realidade caber neles; são descobertos e devem corresponder a um objeto real. Tem-se um conjunto categorial após a pesquisa. Enquanto o objeto é histórico, ele tem início com desenvolvimento e um fim. O trabalho surge num momento específico da história. Desde sua origem, modifica-se: trabalho primitivo, trabalho escravo, trabalho servil, trabalho assalariado, trabalho associado.

Parte do esforço científico é a crítica das categorias. Há categorias de essência e de aparência. Por exemplo: dividir partidos em direita e esquerda é usual e correto em seu nível, mas é limitado na ciência mais profunda; partidos e líderes políticos representam com seus programas interesses de classes e frações de classes sociais; há partidos cujo programa representa os bancos, os industriais, a classe média servidora pública, os operários, etc. As categorias de aparência avançam em certos aspectos e limitam em outros, por isso a tarefa é descobrir as categorias de essência. As categorias de aparência são, também, em certo sentido, o ponto de partida, mas ao mesmo tempo em que são criticados.

Kant considera que os conceitos são anteriores, algo puramente mental, principalmente o espaço e o tempo. Assim, tenta guardar para si o lado racionalista. No parágrafo anterior demonstrados que se pode ser mais sofisticado.

É mais fácil ao esforço científico alcançar conceitos de aparência da realidade, que tanto avançam quanto impedem o avançar da compreensão do real. Ir à essência, compreender a essência da realidade, é o salto necessário à resolução dos mais profundos problemas científicos, que não cabem nos limites do aparencial. Valor de troca e valor de troca preço são categorias importantes, porém a realidade social capitalista apenas pode ser explicada pela categoria interna a elas, que elas expressam e ao mesmo tempo ocultam, como o valor-trabalho. Daí que o projeto inicial de Marx e Engels levava o nome de "crítica das categorias da economia política".

Vejamos um caso de atualização categorial. Marx percebeu que, diferente de outros tipos de sociedade, o desemprego é uma lei social no capitalismo, chamou “exército industrial de reserva”. Com o desemprego crônico, Leon Trotsky necessitou atualizar o conceito para “subclasse de desempregados”.

Em psicologia é cobrado em doutorado sobre os conceitos com os quais contará. Se escolhesse, por exemplo, os da psicanálise – pulsão de morte, complexo de Édipo etc. –, começaria limitando sua pesquisa a categorias arbitrariamente eleitas.

No mais, o método dialético evita trabalhar com definições: o conceito é cada vez mais preenchido. Exemplo: o conceito de consciência não cabe numa simples definição única, ao contrário, vai sendo “encharcado”; aparece como “a consciência é sempre consciência de algo”, depois como “imaginação determinada”, depois é “alucinação relativa” etc. Exemplo de Marx: o capital é, no decorrer de seu livro, dinheiro e mercadoria, valor que se autovaloriza, trabalho morto que suga trabalho vivo, uma relação social e não uma coisa, etc. Na física, energia como conceito tem inúmeros significados, todos corretos e limitados.

Os conceitos de positivo e negativo na físico-química são de aparência. Como o próton e o elétron, tão diferentes e desproporcionais, seriam de carga +1 e -1? Descobrimos que os opostos são, antes, partes, embora também inteiros em si, de algo antes uno, por isso um encaixa-se e desliza-se no outro.

 

Fontes

Toda fonte é útil e, em certa medida, obrigatória: estatísticas, entrevistas, relatos,etc. A história positivista considerava válido apenas o material empírico das fontes oficiais do Estado… É uma concepção limitada. Os pós-modernos caem no erro oposto, qual seja, desconsideram dados estatísticos, quantitativos.

Em geral, é o objeto de pesquisa que determina como ele será descoberto, logo nossa pesquisadora evita escolher por si como avaliar o real e tenta esgotar todas as fontes possíveis rumo à verdade.

A pesquisa dialética é como estar em um labirinto. É preciso andar, aprender, percorrer, testar até entender o ambiente inteiro e, somente depois disso, encontrar o caminho correto.

 

Espaço e tempo

A orientadora de uma psicóloga pede que, para simplificar a pesquisa, limite em um determinado espaço, como um bairro da cidade, e em um determinado tempo, talvez uma década. Ora, mais uma vez é o objeto da pesquisa que deve delimitar o tempo e o espaço necessários para compreender de fato, por exemplo, o fenômeno do suicídio em Teresina/PI.

 

Interdisciplinaridade

Hoje, não é clara a fronteira da química e da física na física quântica. A ciência hiperespecializada não alcança a verdade.

O caso acima é hipotético, mas indica como é o trabalho científico: a especialização deve ser acompanhada com uma cultura mais geral. Em parte, no decorrer da pesquisa, que costuma demorar anos, o cientista modifica-se, adquire tais conhecimentos. A verdadeira pesquisa costuma unir várias áreas de conhecimento, antes separadas e especializadas.

 

A hipótese

O método hipotético-dedutivo começa com a hipótese diante de um problema. O método dialético, ao contrário, termina com hipóteses, previsões e tendências. Foi a partir da avaliação da realidade que Marx percebeu que a livre concorrência de sua época desemborcaria no seu oposto, na sua negação, nos monopólios e oligopólios; concluiu que a tendência seria a redução do número de operários nas fábricas, substituídos pelo maquinário, o que corresponde hoje à automação/robótica; expôs que a taxa de lucro tende à queda no longo prazo (na sua época, foi mais uma demonstração lógico-matemática enquanto hoje é empiricamente observado, pois temos dados de duração secular). Por fim, destacamos que nem tudo permite previsão exata apenas porque foi explicado; Marx explicou as crises cíclicas do capitalismo, mas é impossível daí fazer previsões de quando e onde será exatamente a próxima quebra econômica (porque o objeto, a realidade, é muito complexo).

 

Historicidade

A realidade deve ser vista no espaço e no tempo. Interessa mais as leis da mudança da realidade, além das leis regulares e “permanentes”. É preciso ver, portanto a estrutura e a mudança, o que é próprio de cada época.

 

Como organizar o material

Na ciência comum, cabe ao pesquisador organizar como deseja os dados empíricos, tecer alguns comentários, aqui e ali, entre uma estatística e outra, e talvez encerrar seu livro com alguma proposta. A dialética descobre, ao contrário, que a organização de um livro, de uma sequência de capítulos, deve surgir do próprio objeto de pesquisa – nunca é uma junção arbitrária. Um capítulo, por exemplo, deve derivar o próximo, que deriva o outro, que deriva o seguinte, e assim por diante. O que é tratado no primeiro capítulo é condição para entender o segundo capítulo e todos os demais. Em minha pesquisa, A crise sistêmica, tive de tratar primeiro da economia, depois das classes, depois da subjetividade, depois das organizações – em sequência. Fiz isso não por um “modelo” artificial, mas porque a própria realidade tem essa hierarquia, exigindo uma hierarquia semelhante também no avançar do livro. Se fizesse diferente, quase a todo momento teria de remeter a assuntos ainda não tratados.

 

 

O que pesquisar

De imediato, a liberdade de tema para pesquisa deve ser completa, pois o pesquisador vai ao rumo daquele assunto que lhe interessa. Mas, se o pesquisador tem responsabilidade, ele pesquisa o que a realidade ou a teoria estão de fato necessitando. Pode-se, por exemplo, listar uma série de temas centrais, urgentes, e escolher entre eles qual tem mais afinidade. No fundo, o objeto, o real, determina qual vai ser o tema da pesquisa – se se quer fazer algo relevante, útil. No Brasil, pesquisa-se bem menos sobre violência urbana do que a importância do tema, do problema.

 

Prioridade do objeto

Nos tópicos anteriores, fomos demonstrando a “prioridade ou centralidade do objeto” na pesquisa. Isso é o dialético. Kant colocava, ao contrário, o sujeito como central, pois ele escolheria o espaço e o tempo, os conceitos, como organizar a pesquisa etc. Esse é método inferior, anterior a Hegel e Marx. Tomar para si a prioridade do objeto é a grande conquista científica.

 

Bibliografia

Devemos revisar o que já foi dito sobre o nosso objeto de pesquisa. É preciso ver, em outros autores, seus acertos nos seus erros e seus erros nos seus acertos, além de criticar as categorias usadas por eles. Em geral, uma área de pesquisa cai em teorias ou teses opostas inimigas e ambas unilaterais, parciais, erradas e certas ao mesmo tempo; isso nos dá a oportunidade de resolver a polêmica e encontrar uma terceira resposta que explica porque erraram e também acertaram os teóricos anteriores. Levamos ideias de outros ao máximo desenvolvimento até que são superadas por elas mesmas, transcendem ou são por si mesmas extrapoladas. Assim é a refutação dialética de outra tese: mostrar sua incompletude, desenvolvê-la ao máximo e corrigi-la.

 

Ideologia

Toda grande teoria tem sua versão vulgar. Entre alguns cientistas, afirma-se que é preciso separar a informação objetiva de ideologias. Mas ideologização é, apenas, uma concepção de mundo; se uma descoberta científica altera nosso modo de ver a realidade, ele gera uma nova ideologia como um dos produtos seus. Se o Sol passa a estar no centro do universo, não mais a Terra – tudo muda. Nossa sensibilidade, nossa capacidade de ver o mundo, é, assim, histórica, avança na história.

Podemos separar a verdadeira ideologia da falsa ideologia. A primeira está revelando com o mundo tal como ele é – por aproximação da verdade; a segunda, ao inverso, mistifica ou deforma a realidade, produz um engano.

 

Filosofia

Desde Kant e Hegel, a filosofia separada da ciência tornou-se uma fraqueza. O desenvolvimento de uma pesquisa é tanto mais filosófica quanto mais profunda, por isso o método dialético funde ciência e filosofia na exposição de suas pesquisas.

 

O perfil do cientista

Nas ciências humanas, a posição do cientista perante a realidade – se é conservador ou revolucionário, se é religioso ou ateu etc. – e sua própria realidade – se é ligado aos trabalhadores ou aos ricos, se sua vida é ativa e contraditória ou extremamente estável – afeta a capacidade de ver o mundo tal como ele é de fato. Em geral, a posição verdadeiramente crítica é superior.

Nas ciências exatas e biológicas, isto não é uma verdade em si. Mas é de se supor que o estilo de vida do cientista, no sentido amplo, ajuda ou atrapalha indiretamente seus avanços.

Na psicologia, percebe-se que certos estudantes limitados sexualmente têm dificuldades com a teoria freudiana (estando tal teoria correta ou não). Outros negam as demais teorias e refugiam-se em Jung para evitar a crise de lidar com a crítica irreligiosa, para fugir de conclusões ateístas.

Nas áreas como história, economia e sociologia, os pensadores têm mais ou menos dificuldade – e mesmo capacidade – de ir a fundo no objeto de pesquisa, de acessar a realidade, segundo o projeto social que reivindicam, a classe ao qual pertencem etc. por mais que sejam muito esforçados. Nunca os economistas ligados aos patrões chegariam às conclusões tão profundas de Marx em O Capital.

A moderna ciência da mente reforça isso. Certo grau de estresse, ao menos sob o capitalismo, é necessário para a criatividade como a árvore dá flor e fruto quando se sente ameaçada. A vida dos militantes socialistas é sem rotina, com novidade constante, com desafios, com ameaças – por isso, também, o movimento comunista produziu tantos gênios.

Além disso, como sujeito-ferramenta, o cientista tem que ser capaz de ver, deve ser culto, como conhecimento do melhor na filosofia. Indicamos os seguintes filósofos: os pré-socráticos, Platão, Aristóteles, Epicuro, Hegel, Marx e Engels.

 

O critério da verdade

A teoria das cordas na física, por exemplo, quer “provar” sua validade por ser matematizada, elegante, única disponível etc. – já que faltam provas empíricas. São maus critérios. A ideia de que a Terra era o centro do universo justificava-se por seus cálculos, que davam conta de movimentos e previsões… A teoria heliocêntrica, ao contrário, foi defendida por ter cálculos mais simples. Ora, o critério não pode ser de tal tipo. Marx afirma que, ao contrário, a prática é o critério da verdade – não simplicidade de cálculos, elegância da teoria etc.

Uma teoria deve ser, antes de mais, verificável. Mas a falha de uma construção teórica não deve necessariamente indicar a negação de toda a sua teorização; pode ser que aspectos tenham de ser modificados, alterados, acrescentados – mantendo firme boa parte daquilo teorizado. Assim, a "falseabilidade" é relativa, não é o melhor critério.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MÉTODO EMPÍRICO-DEDUTIVO

 

Quando a civilização grega antiga atingiu seu apogeu, com o devido afastamento das barreiras naturais, o homem ainda mais social numa sociedade de classes, produziu a filosofia dos sofistas, onde a verdade, na prática, não importava, seria inalcançável. Algo semelhante acontece hoje. Com os avanços do século XX, em base a uma sociedade fraturada em classes, a filosofia pós-moderna, na área de humanas, declarou as várias verdades, as narrativas, a fragmentação, o culturalismo, o grande indivíduo – sentiu-se à vontade para desprender-se, em parte e ilusoriamente, do real. Duas questões (Machado, 2022) parecem operar o início do pensamento pós-moderno: 1) a crise do liberalismo como crise do capitalismo; 2) a crise do marxismo por razão das ditaduras estalinistas que transformaram o pensamento antes crítico em dogmas em nome de repressões contrarrevolucionárias. Isso, tal explicação, é parcial, quase apenas superestrutural; no fundo, estão também, além dos fatores análogos aos dos gregos: 3) o crescimento da classe média urbana; 4) a precarização de tal classe; 5) o aumento da solidão social; 6) diminuição e fragmentação da classe operária; 7) a necessidade de evitar conclusões socialistas, sistema ainda relativamente impossível naquele momento. A base econômica-social, as mudanças na estrutura, deu as condições necessárias para a criação da filosofia irracionalista correspondente, como sua imagem e semelhança, como carne que se faz verbo, matéria que se faz ideia. A loucura do sistema em seu ocaso faz a loucura metodológica da pós-modernidade, a realidade em migalhas faz o pensamento em migalhas.

Por exemplo, dizer que tudo é construção social – à semelhança dos antigos sofistas – soa subversivo, até socialista, mas é idealismo puro, como se valores e hábitos pudessem mudar por pura decisão, por pura tomada de consciência. É absurdo que marxistas tomem tal posição como na questão da natureza humana. Tal erro tem uma base, qual seja, somos, de fato, mais sociais que antes, bem mais, além de estarmos sob escravidão assalariada ainda.

Mas a solução não é o seu oposto, uma tomada conservadora. Aqui, entra a reflexão sobre o método propriamente científico. O método hipotético-dedutivo de Popper foi superado como paradigma pela moderna filosofia da ciência, mas cientistas atrasados ou pouco afeitos à filosofia permanecem no erro. Isso tem motivo. Não há método científico, no singular, mas métodos científicos, no plural; e o hipotético-dedutivo certamente ajuda a fazer descobertas, embora limitadas, por isso a sua resiliência.

Mas permanece a mera aglutinação, não a fusão em um terceiro, do empírico e do racional. Einstein defendeu sempre o método dedutivo, por exemplo, enquanto outros, o indutivo. É necessário resolver a oposição e a contradição. O empirismo afirma que devemos nos limitar a colher e organizar dados, fazendo generalizações indutivas quando for razoável, evitando de todo refletir sobre eles; o racionalismo, ao contrário, diz que os dados enganam, logo devemos confiar na razão humana para, de ideias racionais, chegar a conclusões novas e racionais. Ora, ambos acertam e erram ao mesmo tempo. O método empírico-dedutivo, o oposto do superado hipotético-dedutivo e o adversário mortal da pós-modernidade, inicia pela apreensão dos dados empíricos, pois eles são o começo e vitais como fonte da verdade; mas tal empiria, além de revelar, esconde e engana, logo usamos a razão para saber desviar das armadilhas, para saber do interno por meio do externo, da unidade por meio da diversidade, da essência por meio da aparência enganosa – pois o essencial é invisível aos olhos e a realidade tem uma lógica própria a ser descoberta, não criada pelo cientista.

Além de ter uma estrutura, a realidade tem um processo inerente – queremos ambos na nossa investigação. Queremos o mundo em seu vir-a-ser, em seu devir, em seu tornar-se, em seu desenvolvimento. A ciência já atrasou por demais seus avanços por falta da dialética como instinto básico da pesquisa. O universo estático, repetitivo, passou, com muito atraso, para o universo com história, com evolução; já podemos tomar como ainda mais racional que o cosmos teve e terá ciclos, gerações de universo, um após outro.

Não se deve apenas interpretar os dados. A física quântica, por exemplo, tem uma dezena de interpretações conflitantes sobre tal estágio do mundo, todas baseadas nos dados. Mas estes nem sempre são criticados: antes, tomava-se como verdade incontestável que o salto quântico é instantâneo; hoje, ainda toma-se o spin como algo do reino quântico, como uma propriedade fora da nossa racionalidade, sem maiores explicações, portanto. Deve-se deduzir, também, o limite do empírico. A verdade está em algum lugar, nem que seja no meio ou na fusão.

 Deve-se evitar de todo iniciar por hipóteses, premissas, postulados, modelos, “métodos”, princípios ou mesmo conceitos – eles devem ser a conclusão da pesquisa, não seu início. E são descobertos, não criados de modo arbitrário. Em especial, os conceitos mudam se a realidade muda, não são fixos, são móveis, muitos com início e fim.

A verdade é não empírica, impalpável, mas deriva sua descoberta da empiria. Ao que parece, Darwin correu o mundo colhendo dados multíplices, contingentes, diversos, caóticos – até perceber as leis gerais do desenvolvimento da vida. Nesse sentido, foi um dialético.

É o objeto de pesquisa que diz como ele será explicado e apreendido. De modo algum, o cientista tem a honra de escolher um ângulo ou método para sua investigação como fazem o kantismo e o pós-modernismo. A verdade é o todo contraditório em evolver.

Se há responsabilidade básica, nunca será escolha de todo pessoal do pesquisador qual será seu objeto estudado. É a realidade, o objeto, as necessidades sociais ou teóricas, que determina qual será o tema de pesquisa, nunca a mera vontade subjetiva do sujeito. Claro, entre assuntos urgentes e relevantes, pode-se escolher aquele pelo qual se tem mais afinidade.

Até o modo de organizar e expor um livro deve ter origem no objeto, não no sujeito. A organização do objeto impõe uma organização clara da obra.

O método dialético torna-se o método empírico-dedutivo. Em outro capítulo, demonstramos como no trato da lógica de tal método, Hegel deixou de observar como se deveria o diacrônico, o processo.

Marx, Darwin, Einstein e Freud revolucionaram o pensamento e a sociedade. Além desse fator comum, todos foram base para uma concepção histórica do cosmos – Ser é histórico, ou melhor, histórico-geográfico. Mas algo ainda mais de fundo também os une. Consciente ou inconscientemente, com maestria ou com improviso; todos usaram o método empírico-dedutivo, dialético, bem ou mal. Marx percebeu, pelos dados, as leis de desenvolvimento da histórica capitalista e da humanidade. Darwin percorreu o mundo colhendo dados e experiências variadas sobre a vida, até deduzir a evolução das espécies. Freud deixava os pacientes falarem à vontade, de modo relaxado e aparentemente desconexo, até que era percebido o nexo interno oculto na diversidade externa, além de aspectos da história do paciente – o que lhe permitiu consolidar uma teoria. Einstein defendeu com veemência o método dedutivo, não o empírico-dedutivo, porém suas premissas, muitas vezes, já estavam sendo confirmadas na realidade, como a velocidade da luz e sua medida como a máxima do universo, aproximando-o intimamente do método aqui defendido (resumo grosseiro: partir do empírico para deduzir – Einstein declara: “Vale então o princípio: a massa gravitacional e a massa inercial de um corpo são iguais uma à outra. Até hoje a mecânica, na verdade, registrou este importante princípio, mas não o interpretou(Einstein, 1999, pp. 57, 58; destaques feitos por Einstein)). Sua formulação foi a base da teoria do Big Bang, da história, ainda incompleta, do universo. Isso explica o motivo do limitado Popper ter afirmado que a teoria da evolução de Darwin, a teoria da história humana de Marx e a teoria freudiana não serem, para ele, ciência… Depois, recuou no caso da biologia darwiniana para evitar desmoralização diante da merecida autoridade de Darwin. Popper desconhece as ciências históricas. Veja-se que todas as teorias acima são atacadas das mais diferentes formas; negadas por estados, correntes e religiões. Nenhum acaso há aí. Concepções de Marx como o lado não eterno do capitalismo fere interesses lucrativos, de classe e religiosos. A teoria da evolução derruba uma premissa da religião, logo é negada com fervor. A teoria freudiana tira o lugar consolador da fé e agride os bloqueios inconscientes de muitos (homossexuais enrustidos, pessoas que mal lidam com seu complexo de édipo etc.), levando até a acusação máxima de pseudociência (enquanto consideramos, aqui, ela incompleta). Einstein é acusado de charlatanismo até hoje, mas nunca refutado, nem superado (embora possa ser ao mesmo tempo preservado e superado no futuro como tentamos esboçar em outro capítulo) – além de ser acusado, com razão, de ser… comunista! As ditaduras têm, em geral, horror às teorias de essência, mais do que instrumentais. Se são obrigadas, aqui e ali, a adotá-las, como para fazer uma bomba atômica, ou para parecer marxista enquanto rouba o povo, trata-se da verdade impondo-se. Ainda assim, o método dialético, como empírico-dedutivo, demonstrou apenas metade de suas capacidades revolucionárias na ciência. Em outro momento, demonstramos construções como A=A e não-A, sincrônicas em geral, suprassumidas por A=A e… não-A, também diacrônicas. Isso casará bem com E=mc², a identidade dos diferentes no movimento ou no desenvolvimento.

       Marx abre sua grande obra, primeiro capítulo, ao fazer uso do método de investigação e, ao mesmo tempo, método de exposição empírico-dedutivo. Observemos o que ele mesmo diz sobre si ao comentar um crítico:

 

Inicialmente, eu não parto de “conceitos”, portanto, nem mesmo do “conceito de valor”, e, assim, de modo algum tenho também que o “dividir”. Parto da forma social mais simples na qual o produto do trabalho se apresenta dentro da sociedade atual, e essa forma é a “mercadoria”. Eu a analiso, em primeiro lugar, precisamente dentro da forma pela qual ela aparece. Aqui descubro então, que, de um lado, ela é, dentro de sua forma natural, uma coisa de uso, também conhecida de valor de uso; de outro lado, ela é portadora de valor de troca e, desse ponto de vista, é por si mesma, “valor de troca”. A análise posterior desse último me mostra que o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do valor. (Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58)

 

Temos, portanto, um pesquisador que inicia pelo fato e pela aparência (diz: “pela qual ela aparece.”) – e vai até a essência, ao valor, que está escondida por detrás das variações errantes, sem constância e padrão, do valor de troca e do preço. Empírico, mas dedutivo; empírico que deduz os enganos da empiria e o que ela esconde. Por isso, o próprio Marx diz que afirmar a mercadoria como unidade de valor de uso e valor de troca é, na verdade, falso – trata-se de unidade de valor de uso e valor. Um empírico; outro não empírico, mas igualmente real, objetivo[28].

A posição ao final da vida de Marx, ainda que instintiva, já estava em seu começo, no manuscrito A Ideologia Alemã:

 

Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, dogmas, mas pressupostos reais, de que só se pode abstrair na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aqueles por eles já encontradas como as produzidas por sua própria ação. Esses pressupostos são, portanto, constatáveis por via puramente empíricas (MARX, ENGELS; 2007; 86-7

 

Logo o mestre toma nota de que a única ciência é a história, portanto devemos considerar sempre o tempo e o espaço, o contexto e a origem, além do rumo, a estrutura e o processo, as partes e a totalidade.

Platão ascendia da materialidade até os conceitos puros – bom, bem, belo – mais elevados; depois, votava ao mundo material. Marx faz o mesmo ao contrário: dissolve e separa a realidade até chegar ao conceito mais puro – energia, valor, espaço etc. –, ou seja, vai cada vez mais para baixo, descendente, para o fundo e o profundo; também tal como o grego, chega ao mais geral, abstrato, puro, insensível, quase conceitual. Então, retorna para a caverna: chegado à essência luminosa, mas oculta porque cega, vai-se de volta para o mundo da empiria e da aparência. O método de Marx é metafísico e materialista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEÇÃO CINCO

A FILOSOFIA E A CIÊNCIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A FILOSOFIA CIENTÍFICA, DA CIÊNCIA

 

Muitos filósofos demitem-se da arte de pensar com a seguinte justificativa: a filosofia formula perguntas, não respostas… Assim, a filosofia científica apenas expõe os problemas de certa ciência, apresenta de modo organizado as diferentes propostas. E só. Na verdade, se quer alguma relevância, deve apresentar soluções e hipóteses, além de boas indagações.

Uma filosofia baseada em evidências e na ciência chamo filosofia objetiva, quando a realidade guia o pensamento. Isso é o que está exposto neste ensaio. Em geral, os cientistas têm baixa formação filosófica, logo fazem má ciência; por isso, precisamos de filósofos dignos do nome e das tarefas modernas do pensamento.

A filosofia válida é de Hegel para frente… A Ciência da lógica de Hegel e a filosofia de Marx, sua cientificidade, são as mais importantes para alguém ligado à ciência. As descobertas modernas afirmam os dois filósofos como os grandes e mais avançados paradigmas ainda não reconhecidos. Questões ideológicas e classistas, no entanto, atrapalham tal avanço.

 

REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

Nossa concepção de ciência é evolucionária e revolucionária. Thomas Kuhn teorizou “A estrutura das revoluções científicas”, como o seguinte movimento: ciência normal – resolução de quebra-cabeças – paradigma – anomalia – crise – revolução. Mas para ele não há evolução e saltos ontológicos na ciência. Se bem observado, a ciência vai de teorias de aparência para teorias de essência. Newton tomou o espaço desde a empiria imediata, como imóvel e independente. Depois, chegamos mais perto da essência, o espaço enquanto móvel e ligado à matéria. É natural que a história da ciência avance assim, rumo ao mundo essencial que se demonstra oposto e inverso do mundo que aparece.

Em resumo Kuhn erra nos seguintes aspectos; sobre a ciência, não observa:

1) que vai da aparência à essência;

2) que chega-se ao ponto em que pode haver reformas, não rupturas;

Chegaremos muito próximo da verdade absoluta, algo entre o relativo e o absoluto. O conhecimento geral, não nas firulas e detalhes, poderá ser alcançado coma devida sociabilidade. Assim como o socialismo é fim da época de revoluções, a ciência fará apenas reformas, ainda que revolucionárias – apenas atualizações, correções etc.

2)      que o próprio método científico segue tal roteiro de desenvolvimento e crise;

Ele toma o método científico como único, inteiro, sem evolução – apenas os resultados e as teorias prontas mudam, entrem em crise e se revolucionam. Mas há uma história do método científico que se conclui na dialética contemporânea, exposta nesse livro. Tal desenvolvimento por saltos do método ocorre como se pelas costas dos cientistas, em geral sem domínio da filosofia. Os métodos científicos até agora operantes estagnaram, não alcançam mais tantas conclusões de essência.

4) que a ciência tem valor ontológico, que chega-se à verdade ela mesma.

5) A teoria escolhida entre as opções deriva da realidade.

Realidade, aqui, em dois sentidos: a) a teoria deve corresponder bem com o real, 2) a realidade social tende a aceitar mais uma teoria e menos outra. O marxismo é a melhor teoria social, a correta, mas a sociedade capitalista não é incapaz de aceita-la, por isso a verdade torna-se marginal. A (meta)física aristotélica servia à sociedade escravista, por exemplo.

Curioso que Kuhn descreveu as revoluções científicas do mesmo modo que as crises periódicas, cíclicas, do capitalismo. A realidade parece ter produzido uma boa influência sobre seu cérebro, abstraindo o concreto em teoria. Sua obra é genial, incluso supera muitos dos limites grosseiros de Popper, mas não é materialista o suficiente, como demonstramos com nossas propostas e críticas.

 

SISTEMA FILOSÓFICO

A decadência da filosofia moderna leva a negar, a priori, a possibilidade de um pensamento sistemático. Assim, o contemporâneo filósofo justifica sua falta de esforço e competência declarando uma limitação final à reflexão. Ao contrário, este livro expõe de modo acabado a base de um sistema científico-filosófico completo o bastante, que corresponde a uma concepção de natureza, de natureza humana, de estética, de arte militar, de teoria da história e da crise dos sistemas sociais etc. (expostos na obra A crise sistêmica). Pode parecer, visto assim, que se partiu de um princípio e de uma premissa para derivar, em dedução, toda uma rede de conclusões. Não é meu método, que é o oposto, o dialético. Primeiro, percebi a essência humana, a natureza comum das crises sistêmicas etc. para, a partir daí, perceber que há uma sistemismo por detrás, como conclusão, nunca enquanto começo da pesquisa. Assim, posições como movimento= energia = tempo = etc. e tudo como integração relacional em movimento são bases de um pretendido definitivo sistema de pensamento, ainda que relativamente aberto.

Hegel afirma que uma premissa ou postulado é verdadeiro e ao mesmo tempo é falso, porque, de um lado, expressa uma parte da realidade, mas, de outro, expressa apenas uma parte da realidade. A verdade, diz ele, é o todo. Pois bem; com construções como nossa fórmula categorial movimento = energia = tempo = espaço = matéria etc. chegamos à totalidade, a todos os elementos de base.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FORÇA, ÁTOMO E CAMPO

 

Na busca da unidade de tudo, os cientistas procuram tal unicidade em algo por demais concreto ou por demais abstrato. Assim, tornou-se mania nomear este e aquele fenômeno como “força”, até tal categoria vulgar entrar em crise. Depois, tudo era átomo, nem sequer onda, supondo-se, por exemplo, uma partícula calorífica, responsável pelo calor. Por fim, tudo seria campo, um vício de nosso tempo. Para Einstein, toda a realidade física poderia ser reduzida a um conjunto de campos universais. Há unidade por debaixo, mas há diversidade externa. A pluralidade deve ser afirmada junto com a unidade de fundamento, de fundo, oculta.

Ora, se campos permeiam o espaço, aonde fica o próprio espaço como entidade. Veja-se: uma partícula ou montanha não ocupam espaço, pois são, eles mesmo, espaço, espaço concentrado, condensado, para dentro de si; o espaço mesmo, a substância, rodeia-os. Logo, os campos e o espaço não podem ambos ocuparem o mesmo espaço, pois o espaço já ocupa a si próprio. Campos, logo, não existem; no máximo, são espaço concentrado, talvez em modo de linhas. Ou, se quisermos, propriedades do espaço, o de fato existente.

A teoria de vários campos, bem observado, impossível manter-se em pé, no entanto é majoritária na ciência. Para cada aspecto ou partícula, um campo – multidão de campos. Assim, a partícula seria prova do campo e o campo a prova da partícula, pois, segundo o argumento circular, a partícula nada é mais do que manifestação do seu campo próprio.

Tudo fica mais fácil se tomarmos tudo como espaço concentrado, em diferentes proporções quantitativas, o que produz diferenças, por sua vez, qualitativas.

 

FORMA E ESPAÇO

Dizer que o espaço é a possibilidade de forma tem um significado maior agora, em nossa teoria – mais do que o “aonde”. Alguns físicos afirmam que as partículas são, como em Platão, puras formas, sem matéria, sem conteúdo. As partículas-ondas têm, na verdade, conteúdo, forma e grandeza – como pensavam os antigos atomistas. O conteúdo da forma é o espaço, o conteúdo “material” das matérias. A matéria é espaço condensado, apesar da matéria vir antes do espaço no tempo de nosso universo, aquele tornando-se este. O espaço é matéria-luz que decai.

 

 

 

SOBRE A TEORIA DE BIG BANG

 

Embora bastante correta, a teoria da inflação cósmica é incompleta. Ela é algo inocente em sua exposição, além de lhe faltar a resposta sobre por que o universo expandiu-se e o a que havia antes, ou seja, como tudo surgiu. A ideia de que o universo é como um pulmão que se expande e se contrai, geração a geração, soa muito melhor, mas não explica a origem de tudo (antes da primeira geração) ou a causa de tal movimento. Já a hipótese de que havia apenas o espaço vazio preenchido de campos em se começo nada explica de fato.

O universo expande-se porque a matéria decai em espaço; o universo contrai-se porque os buracões negros maiores sugam o espaço. Eis a resposta. Ademais, a ideia de infinito obriga a pensarmos uma quarta dimensão, dentro e fora da nossa realidade, onde a matéria cai como se caísse em própria; assim a causa do movimento primeiro não seria um primeiro motor ou a contradição, mas tal queda na dimensão quarta.

Antes do universo apenas poderia existir o nada; tal nadidade só poderia ser infinita; além disso caótica pura. O vazio infinito e caótico pôs os seu contrário, seu inverso: universo finito (em 3 dimensões mais o tempo) e com leis. Impossível imaginar o nado infinito (qualitativo) e caótico. Nosso cérebro é feito para compreender nosso universo, mas do ponto de vista da imagem; do ponto de vista conceitual, conseguirmos pensar o antes de tudo.

A matéria e a antimatéria no início do universo, atraindo-se aniquilaram-se, decaindo rapidamente – por causa das circunstâncias – em espaço. Assim, um pouco de matéria e, talvez, antimatéria conseguiram ainda persistir. Salvamos a teoria do Big Bang, embora de modo a também a superar, porque o enigma da matéria e antimatéria parecia refutá-la, falseá-la, uma contraprova à hipótese.

O padre Georges Lemaître pensou um átomo primordial, um ponto de singularidade que se expandiu, não se sabe como. A ciência caminha por aproximações sucessivas: primeiro, a teoria do Big Bang; 2) depois, a ideia do universo cíclico; 3) em seguida, a ideia de causa da expansão e do nada infinito, como expomos neste livro. Talvez, o padre tenha se inspirado em Hegel, que afirma, em sua lógica, que o infinito desaba no ponto (um, uno); logo depois, esse “uno” expande-se, fragmenta-se, na sua relação com o vazio, formando os “muitos” ou “múltiplos”, ou seja, os muitos unos que se atraem.

Enfim, o universo surgiu de uma causa acidental, de um acidente ou acaso – uma concessão da probabilidade. O caos do nada infinito, a relação do vazio consigo enquanto infinito, pôs o espaço-tempo, ou seja, a matéria. Isso é a forma aproximada de entender o mundo. Do nada, o Ser.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MATEMÁTICA

 

A matemática é uma invenção ou existe na realidade? Sobre, a resposta correta deve revelar a causa da longa polêmica. Um e outro e, ao mesmo tempo, nem um nem outro. A matemática é uma construção humana feita para corresponder à realidade. Parece existir no real porque quer ser retrato dele, ao menos no quantitativo. Mas aí há um nó. A matemática não surgiu de dentro para fora do sujeito apenas ou primeiro; antes, "veio" de fora, do mundo, para dentro do pensamento. Quando se fala em matemática como invenção parece algo como na arte, uma pura inspiração, algo quase arbitrário, um raio em céu azul. Nada disso. A quantidade existe na própria matéria. Dito isso, fica clara, além de resolvida, a oposição, o ou-ou, de longa data.

De modo lateral, incluímos que o limite matemático trata de indeterminações com resultados infinitos (indeterminação) ou zero sobre zero, o vazio infinito. Isso é uma expressão matemática indireta da nossa tese sobre o início do universo, o vazio infinito. No chamado limite, torna-se preciso certa manobra para evitar tais resultados e, enfim, cair na finitude numérica.

Nosso terceiro comentário sobre a matemática beira o delírio, mas prefiro sua exposição. Os números positivos são os números naturais, logo os números negativos são artificiais, inaturais, formais. Não há -2, há ausência una de dois, ou seu retirar. Uma prova disso é que, além da engenharia fazer seu uso, para fins concretos, somos obrigados a produzir a raiz de menos 1, para tornar positivo o cálculo, a operação. A subtração, a divisão, a raiz, de um lado, e a soma, multiplicação e a potência, de outro, são apenas formas de adição, ainda que negativa. Daí a inexistência, também, na matemática comum do uso de raízes negativas. A ausência quantificada em número é muito própria do mundo social, artificial, como a dívida monetária. Nesse sentido, os números negativos são imaginários. Então, ao menos sete provas do imaginário e da artificialidade útil dos números de fato negativos: 1) ausência de raiz de números negativos; 2) os artifícios para trabalhar com potências de números negativos (se com ou sem parênteses); 3) o uso do número “i”, raiz de menos um, para manobrar um cálculo, torná-lo viável; 4) a soma, a multiplicação e, de certo modo, a potência têm propriedades (permutabilidade etc.) que seus opostos não têm, são mais limitados; 5) o logaritmando apenas pode ser positivo; 6) a probabilidade não pode ser negativa; 7) surge a necessidade de incluir o módulo, o valor absoluto, sempre positivo, 8) costuma ser regra comum (integral etc.) pôr o maior antes de subtrair pelo menor.. O número negativo: há e não há, ser-nada, real-ficção. Temos númereos naturais e inaturais ou artificiais.

Uma coincidência não arbitrária ainda merece ser destacada. No limite matemático, tende-se à, por exemplo, zero ou três sem nunca alcançar eles, tais números. Na lógica formal, A = x ou não-x, nunca uma terceira reposta. Já a dialética aposta justos no terceiro excluído, que não costuma ser o meio-termo entre x e não-x. Na nossa dialética, em “A”, x tende, também, até não-x, sem alcançar absolutamente este último. O conhecimento (A) vai de relativo (x) até mais do que relativo (…) sem nunca conseguir alcançar absolutamente o absoluto (não-x). A = A e… não-A. A matemática avançada aproxima-se da dialética, em especial de sua renovação. A nova dialética merece, portanto, formalização maior.

Dissemos em outro momento: “A quarta dimensão do espaço é representada, incluso na geometria, por números imaginários, como a raiz de menos um. Tal número imaginário aparece aqui e ali nas equações, como na de geometria, substituída pelo tempo por Einstein, e na equação de Schrödinger – mas eles tratam tal presença como algo incômodo, um problema apenas, limitado ao formalismo matemático.” A solução da última equação, elevar tudo ao quadrado, pode ser generalizada para todos os casos em que “i”, raiz de menos um, aparece. Talvez, para tirar o sinal negativo de 1, -1, fazer dupla elevação à dois, duas operações de potência quadrada.

 

INFINITO

Hegel demonstrou, num toque de genialidade, que o infinito é qualitativo, não quantitativo. O mau infinito é o infinito da progressão, que algo pode ser cada vez maior ou menor, pois encontra uma barreira e supera, então encontra outra e etc. O bom infinito, ele diz, apresenta-se à semelhança de um círculo, sem começo nem fim, não como certa linha sempre esticável. Nisso, ele deu a resposta geral correta para o problema da infinitude, mas foi ignorado pelos filósofos, matemáticos e físicos posteriores. Assim, surgiu a ideia absurda, embora apaixonante, por Cantor, de que há infinitos maiores do que outros; assim, surgiu o Hotel de Hilbert, aonde sempre se pode colocar mais um visitante num dos infinitos quartos, bastando passar os demais para o quarto seguinte da infinitude liberando a vaga do primeiro quarto.

Hegel foi crítico duro da matemática e da redução quantitativa, mas a topologia e os nós, como qualitativos, têm feito escola. Assim, pode-se supor que um nó não possível de desfazer em 3 dimensões pode-se desfazer em quatro, mais uma espacial. A fita de Moebius, com todas as suas derivações como, juntando duas de tais fitas, que só têm um lado, forma-se a garrafa de Klein, quadridimensional. Em tal garrafa não tem externo e interno! Em sua lógica, Hegel já afirma que o externo e interno são o mesmo, são um, uma unidade. Enfim, o infinito real é como a quarta dimensão, sem borda, que transborda para fora e para dentro do nosso universo finito. É o vazio infinito e caótico que desaba no nosso universo preenchido, finito e com ordem-lei.

Devo acrescentar, aqui, a ideia de relação infinita. Por exemplo: a partir de poucos átomos, podemos formar milhões, talvez bilhões, de novas combinações, compostos cada vez mais complexos (por sua vez, tais compostos entram em relações). A relação do homem com a natureza é uma relação infinita, um alterando o outro e vice-versa, por meio do trabalho e da produção. Na matemática, 7/3, sete divido por três, tem o resultado inexato e sem fim, 2,333333333333…Uma relação infinita do ponto de vista matemático. Uma evolução infinita de átomos cada vez maiores, mais pesados, cai de modo direto na má infinitude, além de ser algo virtualmente impossível - mas, por outro lado, as combinações atômicas produzem também o novo.

 

PITAGÓRICOS

O gregos antigos de tal escola ensinavam que o mundo era regido pelos números, o que tem certa verdade em padrões regulares na existência. Nosso foco é lembrar: para eles, a realidade, como o pensamento matemático, vai do ponto para a linha, para a superfície, para o corpo – nesta sequência. Aqui, resgatamos isso de modo moderno: o “átomo” único, ponto, do unício do iniverso decaiu-se em várias partículas, pontos, que, ao mesmo tempo, mantiveram a unidade interna comum por meio de fios, linhas, de espaço; logo, surgiu, or derivação natural, a superfície e o corpo (nuniverso). É claro, para nós, que linas (de espaço) também fazem o ponto. De tal modo agregamos e superamos os atomistas e os pitagóricos.

 

MATEMÁTICA E HISTÓRIA

Quando o capitalismo toma a forma maior de caos, temos o assistemático pós-modernismo, a teoria do caos, a indeterminação quântica etc. Qual o nexo ou mediação interna disso? A probabilidade avança com o avançar do capitalismo, aonde há mais liberdade, mais possobilidades. O determinismo grego seria, ao contrário, um entreve social e mental. O modo de produção, o desenvolvimento das forças produtivas e o avançar da história permitem, ou limitam, certo avanço ideal, da matemática. Em certas épocas, criar a probabilidade – um hipervanguardismo raríssimo – pode significar a morte de seu criador.

 

MÉTODO DA PROBABILIDADE

Além do que já se sabe sobre, a probabilidade gera seu próprio método e, ao mesmo tempo, seu método de verificação. Isso está implícito na sua ciência. Vejamos o que queremos dizer. Temos uma tese; passamos por fenômenos não enviesados, não manipulados etc., aonde tentamos verificar a tese proposta; se o fenômeno que esperamos ocorre, apenar de sua baixíssima probabilidade formal, se ele se repete, então, temos prova de sua validade. Vejamos um caso mecanicista. Tenho 100 bola dentro de uma caixa escura; digo que tendencialmente todas devem ser vermelhas; se, guiado pelo absoluto acaso, tiro de dentro da caixa 10 bolas todas vermelhas, logo, minha tese tem fortíssima prova empírica probabilística – nada dizia em si que seriam 10 da mesma cor em uma evento tão ao acaso, ao sabor do caos. Mesmo sem elaborar a tese, tê-la após o fato apenas, o central é ver padrão aonde se veria apenas aleatoriedade.

 

SOBRE A CRISE DO REINO QUANTITATIVO

A verificação quantitativa e a medida vieram para ficar. Sobre, devemos fazer mais, não menos, do já conquistado. No entanto: para o qualitativo ganhar mais relevo novamente é preciso certa crise do quantitativo? Por exemplo: objetos complexos demais, constantes que se alteram com o tempo, probabilidade, caos, aleatoriedade, esgotamento das descobertas por quantificação, aspectos que não cabem na quantificação ou na medida. Seria uma superação, se houver, ainda mais ontológica do que gnosiológica?

 

A LÓGICA DA MATEMÁTICA

Husserl afirma que o zero do conjunto infinito relaciona-se com o zero como do conjunto vazio – “decai”, então, no um (1). Não se deve, portanto, usar o infinito com o vazio com o 1, 2… Veja-se: o um é o um quantitativo, e sua qualidade está como se por detrás. O lado qualitativo do um decai em vários uns – muitos, 2, 3… O três, por exemplo, está na reunião de muitos uns. Ele é novo porque os uns se juntam e se atraem em sua mesmidade.

Certamente, Husserl inspirou-se na Ciência da Lógica de Hegel – e tal livro pode inspirar uma derivação lógica para a matemática ainda mais profunda. Zero e um são quase como se únicos, base da lógica computacional.

 

ABTRATO E CONCRETO

De um lado, a matemática é cada vez mais abstrata. De outro lado, cada vez mais concreta, pois, por exemplo, a posição de um número – álgebra linear etc. – cada vez mais importa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEORIA DO CAOS

 

A concepção determinista e mecanicista entra em crise por vários caminhos, uma revolução do pensamento ainda incompleta. Nesse sentido, a teoria do caos reforça ou rejeita a dialética? Vejamos as premissas:

 

1.      Há ordem no caos, caos na ordem.

Isso é unidade dos opostos, dialética pura! Além disso, há sistemas que passam do caos para ordem, para novo caos, para nova ordem regular, e assim por diante. O próprio caos pode ter regularidade – a própria ordem pode ser irregular.

2.      As leis interagem para produzir o oposto da lei, caos, não repetição.

Uma legalidade pode dar em caminhos diferentes! Isso reforça a dialética unidade de necessidade (lei) e contingência ou acaso.

3.      O todo não pode ser analisando separando as partes e tomando-as de modo apenas individual.

A dialética afirma que o todo possui propriedades que as partes individuais suas não possuem, mas que é necessário analisar também as partes, suas relações recíprocas e sua história – para entender o todo (o todo “espacial”, estrutura, mas também processo, no tempo). Assim, vemos outra concordância, em que não basta o empirismo de separar as partes e juntá-las apenas externamente.

4.      A sensibilidade do processo às suas condições iniciais.

Aí encontramos a historicidade, que o passado é a causa do futuro.

5.      O caos não se desaba na ordem.

Aqui, parece haver uma contradição aparente com nossa dialética. Mas o caos é sistemático, tem e desenvolve própria dinâmica e regularidade-irregular. Além disso, a permanência do caos é típico de sistemas mecânicos, não dialéticos. Em processos, o caos, por exemplo, a atmosfera complexa e intratável, produz o furacão, algo regular.

6.      Pode-se fazer previsões curtas, mas não de longo prazo, pois pequenas variáveis ocultas no início ganham importância tal que modificam o destino do processo.

7.      Um todo ordenado tem caos dentro de si.

 

O marxismo sabe que uma crise vem a cada 10 anos – mas “mais ou menos”. Se passarmos 10 anos sem crise alguma, podemos dizer que ocorre uma probabilidade crescente de quebra econômica nos anos seguintes; mas não podemos dizer exato quando e onde a bolha vai estourar. Uma análise de conjuntura nunca é perfeita simplesmente porque é impossível saber e medir todas variáveis em jogo – e tal análise deve ser de “conjuntura”, com possibilidade de caminho do real logo à frente, não capaz de medir ou antecipar em longo prazo. O processo estrutural é antecipável; mas o “como” e os detalhes, não. No mais, há marxistas tentando, genialmente, aplicar a matemática moderna para atualizar O Capital de Marx.

O cosmo escreve certo por linhas tortas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A SUPERAÇÃO SOCIAL DOS MÉTODOS CIENTÍFICOS

 

Já dissemos aqui: métodos científicos avançam para depois entrarem em crise por seus limites, anomalias. Outro modo de ver é que surgem vários métodos alternativos, como várias teorias químicas ou quânticas conflitantes, até uma vencer a luta de ideias. No mais, a história supera e funda métodos científicos.

Na antiguidade, o método científico era, grosso modo, dedutivo. Por quê? Porque havia poucos dados empíricos, porque havia pouco desenvolvimento de medidas (e seus instrumentos), porque conheciam pouco o mundo. Assim, confiavam na razão, na mente, no bom raciocínio – contra a realidade caótica, diversa, instável. Foi de tal modo que se deduziu: a realidade é estática, o movimento seria uma ilusão. Até a matemática era buscada como ciência pura, na verdade, lógica e linguagem – embora pioneiros como Erastóstenes, quem fez medidas muito exatas da Terra, tenham feito genialidades com tal meio.

O inicio do capitalismo trouxe consigo um avanço anterior de experiência, conhecimento e fundaram-se novas medidas. O capitalismo é o reino do quantitativo. Supera-se o racionalismo grego com o apreço pela empiria, pelo método indutivo, pela repetição. Newton propõe perceber padrões matematizáveis nos fatos, nos apenas fenômenos externos.

Mas o método dedutivo, hipotético-dedutivo e suas variações foram necessários, pois a ainda falta de dados e métodos modernos sobre os objetos de estudo levaram a hipotetizar leis, conclusões etc. A criatividade teve de ganhar mais força.

O método indutivo e a matemática como ferramenta entram em decadência, hoje, porque temos computadores que bem calculam, melhor coletam dados e melhor percebem padrões – cabe-nos, então, interpretar, algo apenas humano, ou seja, o método empírico-dedutivo. Que as máquinas cuidem do pensamento mecânico!

O método dedutivo, com suas variantes como a popperiana, entra em decadência, hoje, porque não nos faltam dados, até temos excesso deles, não precisamos apelar tanto à imaginação arbitrária para criar ou supor novas ideias e conclusões. Isso dar-se, em destaque, pelo desenvolvimento social técnico. Cabe-nos, então, deduzir da empiria, ou seja, método empírico-dedutivo.

Os dois métodos, um mais empirista (indutivo) e outro mais racionalista (dedutivo), são suprassumidos, superados de maneira positiva, e fundidos. O método “empírico-dedutivo” nada mais é que a versão “vulgar” do método dialético, histórico.

Na ciência da humanidade, o marxismo chegou cedo por dois motivos: 1) muitos dados empíricos e 2) o objeto é o mais complexo existente. A dialética é o método das ciências sociais, embora negada na cientificidade burguesa. Agora, outras ciências aproximam-se. A geologia de base, por exemplo, pratica de modo instintivo o método empírico-dedutivo.

A evolução dos métodos científicos vem, grosso modo, da evolução da sociedade. Ademais, expressa o perfil social – a dialética só será majoritária enfim no socialismo. Portanto, o capitalismo limita o avanço dos métodos científicos. As condições sociais e técnicas para o método dialético, agora, existem; ainda que o usem de modo instintivo, parcial ou deformado. A própria noção clara de que tudo é história, tudo é histórico, apenas pode surgir quando a história humana passou por inúmeros enredos e desenvolvimentos, por parte de sua história mesma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEMPO

 

O tempo abstrato é o tempo concreto (clima etc.) em processo, em movimento, em mudança.

Desde Einstein, há a coisificação do tempo, que é relação e abstração real, além de manifestação (da energia, do infinito, do espaço, da quarta dimensão, do movimento). Não se vê uma cor andando por aí. Por isso, há um tempo geral – não se avança ou recua no tempo, ambos impossíveis, embora o primeiro seja considerado real. Quando se discorda de uma concepção científica tão vitoriosa, tão correta e que dá tantos resultados, costuma-se cair em desmoralização e ostracismo. A teoria de Einstein está correta, mas incompleta. Porque a Lua gira em torno da Terra, pensa-se que o Sol também gira desse modo; porque o espaço existe, pensa-se que também o tempo enquanto “coisa”.  Em velocidades muito maiores que a média, o “tempo” passa mais devagar porque diminui a entropia, o objeto torna-se mais espaço concentrado.

Com sua poderosa lógica abstrata – o ser é, o nada não é –, Parmênides “provou” que o movimento não existe, uma ilusão. Com sua poderosa lógica matemática, Einstein, entre os maiores gênios da história universal, “provou” que o tempo é relativo, além de existir. Ora, o fóton mover-se e não se mover, o tempo passar, mas não passar nele é uma, em lógica, redução ao absurdo – logo o tempo não é.

Vale notar que o verbo “durar” trata tanto do tempo quanto do aspecto físico, da resistência. Um objeto (satélite, relógio, luz etc.) em velocidade maior, por concentração, dura mais durando aparentemente menos.

Adotamos, ao mesmo tempo em que superamos, mantemos em pé, toda a teoria de Einstein – atualizada para produzir uma teoria de tudo. O único aspecto deixado de lado é a relatividade real do tempo, como se fosse um em si. Contra a resistência conservadora natural de toda superestrutura, não dogmatizamos a autoridade. As matemáticas físicas de Newton são úteis para nossa escala, são funcionais – massa a teoria estava errada. Já nossa teoria de que não só se curva o espaço-tempo, como diz o alemão, mas matéria é próprio espaço-tempo curvado, para dentro de si, não anula a teoria einsteana como acontece com a teoria de Newton. O velho já nasce novo.

Talvez, a premissa errada de Einstein é afirmar que as leis da física são as mesmas – na forma – se parado ou em velocidade constante, sem aceleração. Mas velocidade e aceleração são o mesmo, apesar de ainda diferentes (v=at). Assim como na química a lei falha relativamente em diferentes pressões atmosféricas, em diferentes velocidades também, com certo desvio da norma, do cenário comum.

 

UMA HIPÓTESE INCÔMODA

É difícil resumir a enorme contribuição revolucionária de Einstein, que tem sido confirmada pelas atuais e rigorosas medições. Sua teoria, ademais, permitiu prever o Big Bang, teoria contra a qual ele protestou por algum tempo, e os buracos negros, que ele pensava ser algo impossível na prática existir. No entanto, deve-se lançar a questão: e se parte das conclusões de Einstein são, na verdade, paradoxos científicos-lógicos abertos, não propriamente conclusões? Por exemplo, para a luz, o objeto mais rápido, o tempo não passa nem o espaço (isso reforça que movimento = espaço = tempo = etc. com um tornando-se o outro); isso é um paradoxo a ser resolvido, pois é claro que o fóton de luz vai-se do Sol para a Terra – mas, do ponto de vista da luz, isso não ocorre! Na antiguidade grega, dizia-se que o movimento de uma flecha, como todo movimento, seria uma ilusão ou que Aquiles nunca alcançaria a tartaruga porque sempre teria um caminho a vencer antes dela. Nesse caso, a ideia moderna de velocidade, espaço sobre o tempo, resolveu a questão. Talvez tenhamos de pensar uma nova e agregada teoria do movimento; por exemplo, uma pessoa que gira na terra sobre a linha do equador tem velocidade diferente de alguém que faz o mesmo giro no polo norte, pois eles percorrem o mesmo tempo, 24 horas, mas um espaço diferente na mesma temporalidade. Mas deve existir alguma medida de movimento que os iguale.

A solução seria um novo conceito ainda oculto? Talvez. Os homens antigos rejeitaram a ideia de que a Terra estava girando, pois, se fosse o caso, os pássaros estariam em apuros com dada rotação – logo o Sol é que estaria em movimento. Eles não conheciam o conceito de inércia, ou que tudo terrestre está a girar junto, tão importante para ciência moderna.

 

TEMPO E ENTROPIA

A ideia de entropia está correta, mas é incompleta e relativa – pois é, na essência, energia em busca de mais energia. Que o tempo e a entropia tenham a mesma direção leva à intuição de que são o mesmo e ligados. Ora; a maçã decai, degenera; mas, antes, ela teve de acumular energia, teve de se desenvolver e se complexificar. O caminho inverso da entropia não faz o tempo andar no sentido oposto. A entropia não é igual ao tempo, mas à energia e, de modo mais direto, ao movimento. Há movimento, não em si o tempo. Reforçamos, portanto: entropia foca na energia, não na matéria, logo não é sinal de complexidade ou desordem-confusão maior.

 

TEMPO

O abstrato é concreto em processo – o tempo é a matéria-espaço em movimento.

O gregos eleatas negavam o tempo ao afirmarem que o movimento não existe. Agostinho dizia poder falar à vontade sobre o tempo, mas não sabia dizer o que o tempo é (conceito consciente com sua natureza enquanto inconsciente social-pessoal). Newton afirmou que o tempo existe e seria, de alguma forma, absoluto, sem interação com o mundo, sem ser afetado por ele. Kant afirmou que o tempo é um conceito criado pelo cérebro, a priori, para organizar os dados do real. Einstein deduziu que o tempo é espaço – concordamos com ele (para nós, tudo – energia, tempo etc. – é espaço). E que o tempo é relativo, muda-se. Mas isso exige interpretação: o tempo é propriedade do espaço? Ou é uma quarta dimensão, ou também dimensão quarta espacial? Ou o tempo nada é, sendo espaço? Em velocidades relativísticas a coisa não se deteriora tanto, logo, o tempo não está só no espaço, logo, também está na matéria mesma! Deduzimos que matéria é espaço, e vice-versa. O tempo é medida, não uma coisa ou a própria coisa.

Usa-se a segunda lei da entropia – vai-se de mais para menos energia, cada vez menos trabalho (transferência de calor e energia em si) pode ser feito, como no capitalismo e na humanidade em geral –, mas se deveria usar a primeira lei, ou seja, que nada se destrói ou se cria, tudo se transforma (diríamos, já que o ser vem do nada ou o ser era como o nada no começo: O nada se cria, O nada se destrói; pois O tudo, depois, se transforma). No nosso nível algo se desgasta mais ao mover-se mais, como a máquina, mas algo se preserva ao se mover-se mais no nível cósmico-quântico – do mesmo modo, talvez a segunda lei da termodinâmica seja mais complexa em nível macro, pois o universo talvez não pare num grande vazio frio. O tempo ser relativo é só aparência, pois o tempo é apenas medida do movimento[29], isto é, do quanto o objeto preserva a si, a sua energia, com a velocidade. Um gêmeo à velocidade da luz envelhece nada relativo ao seu irmão na Terra, mas eles conversam entre si, por emaranhamento quântico, ao mesmo tempo, na mesma passagem temporal, apenas um preserva-se, decai-se, menos.

Vejamos uma prova. Tornou-se famoso o caso de um homem cuja cabeça esteve, por acidente, dentro de um acelerador de partícula de altíssima energia; esta passou por ele; e o resultado é que uma parte de seu rosto não envelhece, como se tivesse parado no tempo; mas foi, descobrimos, apenas efeito do contato energético; o seu rosto no “passado” não está no passado, está no presente. Porque temos memória e temos expectativa (ansiedade etc.), porque há causa e consequência, deliramos existir passado e futuro, não presentismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAUSALIDADE

 

Bunge defende que a causalidade é base da ciência e deve ser, portanto, defendida. Tudo bem: mas qual causalidade? Hegel suprassume a ideia de causa e efeito por efeito e contra-efeito, por causalidade recíproca – enfim, por interação! Assim, a economia influencia a cultura e esta, a economia (Bunge, que não entende bem de marxismo, mas se pôs a falar sobre, não percebe isso em sua crítica a Marx e sua tradição). O processo de ida e volta é movente, desenvolvedor, além de contraditório como contradição enquanto causa do movimento em geral. Além disso, aquilo que está dentro da causa passa a estar, depois, dentro do efeito.

A ideia de acausalidade de Jung é revolucionária apenas no sentido de ser uma nova e original contribuição – errada… Coincidências acontecem, influências inconscientes do ambiente acontecem. Nem tudo se mede por probabilidade rara de acontecer ao mesmo tempo: um astronauta não pode confiar na probabilidade baixíssima de um lixo espacial acertá-lo dado o grande tamanho do espaço sideral, pois o aleatório não se limita à matemática com sua exatidão numérica. No mais, se consideramos os relatos de Jung sobre as muitas coincidências enquanto corretas, verdadeiras, elas podem esconder apenas que os diferentes fatos têm uma origem comum, uma base, uma circunstância, um padrão, uma só condição comum – além dos acasos muito prováveis, mas na aparência improváveis.

A causa mecânica existe, afinal, máquinas existem… Mas em sistemas orgânicos a causalidade é muito mais complexa, como a mesma causa produzindo efeitos contrários aqui e ali; causas opostas produzindo o mesmo efeito, aqui e ali.

Aliás, a causalidade vulgar de uma causa que tem uma causa, que tem uma causa, que em uma causa – deve explicar a causa primeira. Como dissemos, ela foi, uma totalidade “causal”, o caos da relação do vazio com o seu infinito interno, um acidente, uma causa acidental, uma concessão da probabilidade.

Kant também foi outro ousado equivocado: insistiu na ideia já existente que a causalidade é uma forma subjetiva, humana, cerebral para dar ordem ao que não a tem, o mundo… Seria apenas método, gnosiológico. A ciência refuta-o todos os dias, no seu cotidiano.

Einstein e Born, dois dialéticos e socialistas, os melhores de suas gerações de gênios, militaram contra o positivismo da interpretação “correta” de Bohr, que apenas via o externo, as regularidade empíricas, dava forma de cálculo às manifestações; pois, supostamente, assim é se assim (a)parece. Por isso, caíram no acaso (que nada mais é que o outro lado, oculto, da causalidade, este como se por detrás), ou seja, na probabilidade incerta e inconstante. Mas o caos apenas expressa a lei e a ordem subterrâneas. A crise da física é uma crise científica geral ainda não devidamente reconhecida – crise da cientificidade burguesa, que se esgotou. Para fins industriais, as interpretações positivistas são úteis ao se limitarem à manipulação do real, sem compreendê-lo. Mas a essência é a causa da aparência – ir ao invisível e ao não empírico já! Se com sorte, nossa formulação anterior de teoria de tudo pode, com correções, ser a base do fim de tal crise, que ainda precisa de uma revolução social…

Há uma causa, que interage externamente com diferentes causas – que se anulam, que se impulsionam, que se contradizem, que se combinam. Enfim, comum haver, entre elas, uma causa única comum.

O todo é a causa das partes – as partes, e suas relações, são a causa do todo.

Alguns afirmam que a relatividade de Einstein permite que o efeito venha antes da causa. Confundem manifestação e essência. Na essência, ocorre causa antes e efeito depois; mas a coisa pode aparecer invertida, na aparência. Isso acontece, por exemplo, em economia, quando a subida de juros, consequência da crise iniciando no subterrâneo oculto, aparece na economia vulgar, positivista e que vê apenas o nexo externo, enquanto causa da crise mesma.

Born demonstrou que, se vemos numa perspectiva mais ampla, o acaso é uma expressão da causalidade. Lukács demonstrou que as muitas partes de uma totalidade interagindo em causalidade recíproca pode gerar relações ao acaso, acidentes de relação. Desde a teoria do caos, podemos incluir, demonstrar: as leis causais, necessárias, produzem o caos, e as contingências, o acaso como totalidade.  As leis inerentes ao capitalismo produz um sistema irracional.

Dado tal conteúdo pesado, vejamos um caso comum, de valor popular: quem veio antes, o ovo ou a galinha? O raciocínio semifixo pula de um para o outro, sem conseguir se decidir. Falamos de um ovo de galinha e de uma galinha de ovo de galinha. Pois bem, resposta: o processo de formação da espécie galinha é, também, o processo de formação de um ovo para si, de galinha, que “produz” e comporta a espécie… Tudo parece melhor, mesmo na vulgaridade, quando treinamos o raciocínio dialético, em movimento. Na verdade, tal caso popular guarda em si uma grande questão abstrata.

 

 

 

SIMULTANEIDADE

A gravidade move-se na velocidade da luz. No social, as crises sistêmicas diferentes, do ponto de vista externo, amadurecem juntas, porque suas bases, a economia, a produção em principal, amadurecem. Se todas as partículas são espaço condensado, logo o surgir de uma altera instantaneamente, simultaneamente todo o universo, que é um só tecido. Assim como concentrar parte de um lençol esticado altera todo o objeto, ao mesmo tempo. Linhas de espaço ou de campo específico unem dois ou mais fótons, emaranhados quanticamente, alterando um ao mesmo tempo em que se muda o outro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O FIM DO PARADIGMA ARISTOTÉLICO

 

As ideias de Aristóteles tiveram sucesso milenar, passando por toda a Idade média como teoria majoritária sobre o mundo. Mas a ciência moderna e contemporânea significa a superação de tal paradigma, que é baseado no inocente “basta olhar” ou “se assim aparece, assim é”.

Dante inicia o enfrentamento ao aristotelismo afirmando que uma obra aonde o conteúdo não é comédia tem a estrutura, a forma, de comédia. Assim, subverte a estética de Aristóteles. Depois, Cervantes tornou o conteúdo da comédia alta literatura, nada vulgar, diferente do que pensava o antigo.

Segundo, o grego afirmava que o estado natural das coisas e do mundo é o repouso. Mas Galileu demonstrou que o repouso é forçado e o movimento é natural.

Terceiro, afirmou que a física excluía a matemática e, assim, o quantitativo. Newton consolidou a revolução de Galileu e Copérnico com sua obra Principia, que matematizou o mundo. Ainda hoje temos o erro oposto, isto é, considerar o quantitativo sem o qualitativo e suas mudanças. Além disso, provou, contra Aristóteles, que as leis da Terra e do Céu são as mesmas, não diferentes no fundamental.

Para Aristóteles, cada coisa tinha seu lugar natural por seu peso, por isso o ar ficava acima da terra. Mas os conceitos abstratos desenvolvidos de líquido, sólido e gasoso, além de plasma, superaram a visão de líquido igual à água.

Kant disse que ao menos a lógica formal, aristotélica, A=A, o princípio da não contradição, estava preservada no seu tempo e para sempre. E eis que entra em cena Hegel ao, ao guardar e manter o passado, descobrir a lógica dialética, A=A e não-A, e a ideia de que o mundo objetivo é autocontraditório, em movimento e em contexto. Ademais, superou a separação aristotélica de ontologia (metafísica) em um canto e dialética em outro.

Outra concepção resiliente foi a ideia do mundo enquanto mecanismo ou máquina. Assim, passamos das esferas cristalinas universais, que governavam o mundo para os medievais e antigos, para uma concepção coisal do universo. Apenas o hegelianismo e o marxismo fizeram um combate de frente contra tal visão, defendendo o “todo orgânico” em desenvolvimento e em processo mais do que circular repetitivo. A física e a química desde o século XX também têm dado grandes aportes novos sobre.

Para Aristóteles não existia o “espaço”, havia apenas o “lugar” concreto. Porém, Einstein demonstrou a concretude espacial.

 A concepção classificatória dos seres, por características comuns, elevada por Aristóteles foi substituída pela cladística, que organiza os seres biológicos segundo a teoria da evolução, ou seja, segundo sua história evolutiva.

Até o fim da primeira metade do século 20, até anteontem, continuou em pé a hipótese aristotélica do éter, meio por onde a luz fluiria. Mas, sabemos hoje, há pouco tempo, que tal substância não existe, descartada. Nesta obra, incluímos o espaço, não o campo, enquanto meio e meio da luz.

Em resumo, a ciência atual é a refutação da construção aristotélica, baseada nas aparências. As ideias de Aristóteles pareciam, assim, autoevidentes. Por exemplo, um corpo pesado cai naturalmente mais rápido que um corpo leve – no entanto, sabemos que isso se deve ao atrito e resistência do ar; no vácuo, caem quase exato ao mesmo tempo, com desprezível diferença.

Nesta obra, uma das formar de superar Aristóteles é separar, de vez, metafísica da reflexão sobre algum Deus ou algo do tipo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TRABALHO, LINGUAGEM E SOCIABILIDADE

 

Demonstramos antes, em nossa metafísica, que trabalho é uma categoria central de todo o Ser, não apenas no ser social, não apenas trabalho humano. Assim, o ser imediatamente anterior ao o primeiro humano já trabalhava, como trabalho biológico, como animal. Lukács afirmou que o trabalho (humano, social) é fundante do ser social. Mas como surgiria aquilo que dele depende e de que ele também tem dependência – a linguagem e a sociabilidade? A resposta dele foi esta: os três sugiram juntos, ao mesmo tempo, mas todos de modo leve, inicial, primário – e foram, então desenvolvendo-se reciprocamente, com o trabalho como “centro”, ou primeiro motor na prática. Pois bem; essa forte hipótese pode ser contraposta por outra, que aqui apresento: de modo leve e inicial, a sociabilidade e a linguagem humanas sugiram antes de trabalho (humano), dando condições, então, para este último surgir. Depois de iniciado o trabalho humano, apenas depois disso, ele passou a ser de fato o centro e o centro desenvolvedor principal da linguagem e da sociabilidade, cada vez mais complexos por seus lastros no trabalho social (além, é claro, da ação recíproca entre eles, deles). Após a ação da linguagem humana e da sociabilidade, o trabalho natural torna-se trabalho social, humano, mais ainda “central” e fundante. Para clarear, vejamos outro caso. Se não tivéssemos dados empíricos sobre a origem do capitalismo, naturalmente teorizaríamos que o comércio, o dinheiro e a produção de mercadorias surgiram ao mesmo tempo e juntos de modo leve, de modo primário… Mas não foi o caso: o comércio e, depois, o dinheiro surgiram antes, dando base material para surgir, apenas daí, o “centro”, ou seja, o trabalho produtor de mercadorias e assalariado e a produção capitalista. Dialética: os pressupostos tornaram-se, então, postos – o posto torna-se, logo, pressuposto. O trabalho é de fato o “centro” e o fundante, mas sua história tem uma pré-história mais complexa.

O processo concreto apenas pode ser descrito pela pesquisa arqueológica e antropológica – se for possível. Todo início tem sua dificuldade de compreensão: como surgiu o universo? Como surgiu a vida? Como surgiu o ser social? A distância, a simplicidade e a falta de dados empíricos complicam toda a pesquisa. Deduções, argumentos e generalizações passam a ter importância vital. O simples é, assim, o complexo. A religião baseia-se em tal ignorância parcial para afirmar-se, até mais uma vez ser superada. Sabe-se que as condições para a vida, por exemplo, exige muita energia, um meio solvente (água) e compostos moleculares ricos, possivelmente baseado necessariamente em carbono, que é capaz de fazer as corretas ligações atômicas. O resto são hipóteses bastante corretas, correspondentes: energias termais do fundo do oceano, atmosfera ativa e com raios, raios cósmicos etc. Não temos como, de início, o início não ser confuso.

 

METÁFORA E COISA

Muitos cientistas apelam para a metáfora como meio de explicar, mas logo o exemplo imaginativo torna-se exemplo supostamente real, exemplar – eis o fetichismo na ciência. Na outra ponta, Kant e Hegel são contra exemplos, pois, dizem, deve-se acessar a ideia pura, mas ambos acabaram por exemplificar inúmeras vezes. São duas armadilhas. Vi um ótimo divulgador científico afirmar que a entropia é aumento de desordem (não é, na verdade, pois o foco é na energia, não na matéria) com o exemplo de um prédio explodir e ser impossível reunir seus pedaços. Outro caso é o da maçã que degenera, apodrece. Ora, se o universo se reúne novamente e reinicia-se, se a maçã teve antes de surgir, desenvolver-se e amadurecer-se; logo a entropia é e segue válida, mas também à, acima, energia em busca de mais energia. Temos o paradigma da coisa, ou melhor, da mercadoria, quando se quer usar um objeto, como máquina ou computador, como paradigma, ou mesmo algo sensível e direto. Um dado, porque não conhecemos e não temos a medida de todos os fatores, é apenas um jogo aleatório, de acaso, não probabilístico. Para nós, reina o acaso, mas há uma causalidade complexa oculta no seu jogo (o acaso é a causalidade por acidente, acidental – o abstrato é o concreto em processo). Por outro lado, a probabilidade é como conseguimos acessar a realidade, que é determinística de modo oculto, no fundo, difícil de acessar. Peguemos o caso dos pedaços do prédio e transformemos cada parte, por salto, em pedados de universo, em galáxias ou aglomerados de galáxias; ora, esses “pedaços” serão atraídos uns pelos outros e formarão, de novo, algo uno, reiniciarão o universo em nova geração universal, por repulsão nova após a atração.

No mais, há um desafio que pode, talvez, mesmo renovar ainda mais a dialética, para além do que este livro fez. Olhando nossa geração universal, vemos que o mundo vai do simples ao complexo. Mas pode ser que ele vá, também e depois, do complexo ao simples (diz-se que um buraco negro é bastante simples). Vemos, assim, apenas a aparência e metade da verdade, pois a entropia, correta, também tem energia em busca de mais de si.

 

MECANICISMO E TRABALHO

A realidade é um sistema orgânico: tem causalidade recíproca, mudanças qualitativas, contradição, desenvolvimento etc. Mas a ciência moderna caiu no mecanicismo determinado, ou seja, a realidade seria como certa máquina repetitiva, sem mudanças qualitativas, sem contradição, apenas ordem, fixa etc. O erro tem origem no nível da ciência naquele, daquele, tempo. Segundo Born, caiu-se, termo dele, no mecanicismo indeterminado, ao a física quântica negar a causalidade dentro do acaso (a identidade dos opostos, acaso é, visto no mais amplo, algo causal), ao não considerar o qualitativo e seus saltos etc.

O mecanicismo fez escola. Aristóteles adotou o trabalho artesão como seu modelo, algo próprio do mecanismo. Assim, um deus artesão formou o universo, um primeiro motor imóvel. Daí que ele tenha pensado, desde o mecanicismo do trabalho, as suas quatro causas (matéria, forma, causa, teleologia ou finalidade). O trabalho também afetou Hegel com sua versão de unidade e identidade sujeito-objeto (nesse formato, válido apenas à arte e à psicologia – apresentamos outro “modelo” em capítulo anterior); daí, também, pensar que a razão, a planejadora do trabalho, é o que move a realidade, o Espírito absoluto hegeliano.

Lukács cai no mesmo erro mecanicista do trabalho, reduzindo-o ao social, por isso pensando a teleologia como apenas subjetiva, algo da pré-ação humana. Não viu a teleologia objetiva e inconsciente. O marxismo cai nesse erro quando deixa de ver que a causalidade é recíproca, colocando a economia ou a produção como centro absoluto de tudo sem mais.

 

O PRIMEIRO MOTOR

Lukács cai em idealismo ao considerar a razão ou a idealidade como motor primeiro, sendo a categoria central do trabalho a teleologia. Para ele, focado nesse indivíduo que faz a história, pensamos em fazer o machado; então, fazemos o artefato; então, mudamos o meio ambiente, o mundo; então, o mundo nos muda; então, o novo ambiente exige de nós uma segunda teleologia. E assim por diante o processo repte-se, circular-espiral. Ora, a consciência é a busca permanente do permanente na mudança. É porque a realidade muda, que a mente eleva-se de seu patamar anterior. Uma mudança forte e inesperada do real, força a ainda buscar o permanente – o que é base para a criatividade. O primeiro motor é o mundo. Como isso acontece, apenas a pesquisa e a antropologia especializada poderá dizer. Vejamos casos hipotéticos. Uma mudança de clima em todo o mundo, seja por abundância seja por escassez, permite à mulher coletora na antiguidade pré-histórica perceber que da semente nasce a planta nova, o que inicia a agricultura. No mundo todo, a agricultura surgiu na mesma época, o que sugere uma causa comum (um clima que força ou, ao contrário, favorece perceber com rapidez a causalidade semente-árvore). O mundo força a teleologia ou dá suas condições.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CRÍTICAS CONTEMPORÂNEAS À METAFÍSICA

 

Mostramos que a metafísica materialista supera bem as objeções kantianas. Mas cabe algum espaço à crítica comum. Vejamos, então, os principais autores.

Friedrich Nietzsche. Sua crítica era contra o mundo duplicado metafísico (mundo das ideias e formas contra o mundo da matéria etc.). Ele e o marxismo[30], afirmam a unidade do mundo. Mas a unidade, na dialética, não nega a diferença e a duplicidade dentro de si, ao mesmo tempo. O outro lado é, dissemos, à maneira de uma quarta dimensão.

Não por acaso, ele é o pai do irracionalismo filosófico.

Martin Heidegger. Denunciou que a filosofia afastou-se do Ser, mas, ao focar nele, o separa do ente. Depois, de modo arbitrário, coloca o homem, o ser-aí, como a expressão direta de todo o Ser. Na dificuldade, apostou na quebra da linguagem. Ele não entende quase nada da ciência de sua época, não viu na cientificidade a pista para uma nova metafísica, correta em seus aspectos gerais.

Analíticos. Tal escola atua para, na prática, destruir a filosofia. Negam as questões de ontologia, ou seja, de metafísica, e afirmam que a tarefa do filósofo é meramente esclarecer conceitos… Em vez de darem um passo à frente, logo quando a metafísica pode concluir sua história universal, dão passos atrás.

Positivismo. O mau cientificismo acusa a metafísica porque confiam apenas naquilo diretamente verificável, empírico. Não veem que do empírico partimos para o não empírico, que da física chegamos à metafísica, que o argumento sustentável também faz parte da verdade na ciência (neste caso, por exemplo, se o Ser é possibilidade de ordem e finito, o Nada anterior é, ao contrário, vazio infinito e caótico). O positivismo mereceu sua crise, pois nem tudo são as aparências com suas leis apenas externas.

 

Como vemos, os críticos atuais da metafísica não são boa companhia, atrasam o desenvolvimento científico e filosófico.

 

 

 

 

 

AS DUAS OPOSIÇÕES CIENTÍFICAS

 

Desde a vitória do retumbante materialismo sobre o idealismo; duas oposições surgiram, ganharam relevo maior: 1) reducionismo contra dialética; 2) substancialismo contra relacionalismo.

O reducionismo diz que o todo nada mais é que a mera soma de suas partes, que algo pode ser reduzido aos seus elementos básicos constituintes, que as partes são iguais, que não há mudanças de qualidade. Já a dialética afirma que as partes são elas mesmas e suas interrelações recíprocas, que o todo tem propriedades que as partes isoladas não têm, que as partes são qualitativamente diferentes umas das outras e operam saltos qualitativos, que as partes ganham novas funções no todo quando deixadas de ser observadas isoladamente. A realidade é como um organismo vivo, orgânico, incluso com história, não como certa máquina ou qualquer objeto.

O reducionismo, enquanto premissa errada, pode fazer avançar a ciência – mas só até certo ponto, quando encontra uma parede intransponível. A genética cresceu muito de modo reducionista, por exemplo.

Bunge fala em “sistemismo”, sua suposta descoberta. Ele funde, de maneira dialética, mesmo sem reconhecer isso, o holismo, que foca no todo, e o reducionismo, que foca nas partes, nos elementos individuais, no atomismo. Usa ambos. Pois bem; ele, sem o querer, plagiou Hegel… Até o nome é o mesmo: o alemão nomeia “método sistemático” ir das partes até o todo, do abstrato (isolado, individual) até o concreto (totalidade rica, integrada). É como aprender vogais primeiro, consoantes depois, sílabas em seguida, palavras após, frases logo, texto completo posteriormente… Do abstrato ao concreto. No Mais, Bunge deixa de ver a história tanto das partes como do todo, que deve ser vista, além das leis históricas como as gerais. Como poucos leem A Lógica de Hegel, menos ainda entendem, menos ainda devoram os três livros até o final; poucos sabem que o método do abstrato ao concreto, sistêmico, tratado por Marx como seu método já está exposto ao mundo pelo outro alemão, no final de sua grande obra.

Quanto à oposição unilateral entre relacionalismo e substancialismo, este livro supera ambos em quase todas as suas páginas. Assim, o espaço e a massa seriam ou relacional ou substâncias; a essência humana seria ou relacional ou natural-substância; seríamos determinados pela biologia e genética ou pela construção social; a realidade humana seria materialista ou idealista; a psicologia seria relação homem-homem ou homem-objeto; a crise sistêmica seria econômica ou baseada na urbanidade elevada; o centro seria as forças produtivas ou as relações de produção; etc.

Vale notar que as oposições científicas costumam estar acompanhadas por posições políticas e visões de mundo opostas, mesmo nas ciências naturais. Daí que Margaret Thatcher tenha dito, ao modo reducionista, que não há sociedade, apenas indivíduos. Daí que a classe trabalhadora inglesa, ao modo dialético, tenha se reunido para comemorar sua morte nas ruas.

 

SUBSTANCIALISMO E RELACIONAISMO

A ciência e sua filosofia caíram em duas teses unilaterais e opostas, a de substância e a de relação. Assim, a massa ou é substância ou relacional, o espaço existe de modo absoluto ou é apenas expressão de relações, a evolução das espécies é ou relaciona (lamakismo) ou genético. O substancialismo chegou a pensar que o calor seria uma partícula calorífera.

Em Aristóteles, em sua metafísica, tal oposição limitante já existia:

 

Mas, é absurdo dizer que são os mesmos para tudo: de fato, dos mesmos elementos derivam tanto as relações como a substância. E qual poderia ser esse elemento comum? Além da substância e das outras categorias não existe elemento comum; o elemento existe anteriormente àquele de que é elemento. Na realidade, nem substância é elemento das relações, nem qualquer uma das relações é elemento da substância. (Aristóteles, Metafísica, 2002, p. 551)

 

Pode-se perguntar se são diferentes ou idênticos os princípios e as causas das substâncias e das relações e do mesmo modo para cada uma das outras categorias.

A teoria substanciaista do espaço de Newton imperou por muito tempo, mas começou a ser superado por Einstein ao se descobrir, a partir de suas teorias, que o espaço curva-se em relação com a matéria e movimenta-se. Neste livro, a ideia de que a matéria e a luz decaem em espaço visa superar também a oposição limitante entre substancialismo e relacionalismo.

A verdade está no terceiro “excluído”. É verdade que somos, por exemplo, determinados pela genética, mas também é verdade que o ambiente nos altera reativamente. Os descendentes de um povo que passou fome tende a ter mais capacidade de acumular gordura.

 

 

 

CIÊNCIAS FETICHISTA E RELACIONALISTA

Em outro livro, expomos os dois erros impressionistas e unilaterais que parece caírem todas as ciências de todas esferas do ser – inorgânico, biológico e social: a teoria fetichista e a teoria relacionalista. A verdade está em um terceiro que superar tal oposição. Pensa-se a massa como propriedade relacional, o espaço como apenas relacional, o comportamento como apenas relacional (social) ou apenas natural etc. Lembramos que a palavra fetiche aqui de modo algum tem o significado comum do cotidiano; é prender-se em demasia ao empírico e tomar como natural, propriedade da coisa, algo que tem outra origem; o ouro tem um valor dado socialmente, pelo tanto de trabalho exigido para sua extração, mas parece ser seu valor uma propriedade natural dele, como se brotasse junto da terra; outros pensam, erro oposto, que o valor das mercadorias tem origem relacional, da comparação entre elas. Marx começa O Capital exato contra as duas unilateralidades. Vejamos o caso da física: o espaço e o tempo são relacionais, como pensava Leibniz, ou substâncias absolutas, atributos de Deus, sem origem nem fim, como pensava Newton? Nem um nem outro. Einstein começa resolver a polêmica, pois 1) o espaço e o tempo são apenas um, 2) o espaço-tempo é relativo, 3) sofre efeitos da matéria, pois tudo este interconectado, mesmo que fracamente. Além disso, hoje sabemos que o espaço está em movimento – e por quê? Penso ajudar em mais um passo na polêmica, resolvendo os opostos, com a concepção de espaço-matéria, pois o espaço-tempo não é absoluto e sem história, a matéria torna-se espaço, o espaço condensado torna-se matéria. Parece que a questão foi resolvida em seus aspectos centrais. A matéria-luz (energia), por meio do trabalho, decai em espaço. Pensava-se que a evolução das espécies vivas era relacional, como se a girafa esticasse o pescoço porque a comida está alta demais nas árvores; depois, caiu-se no erro oposto da pura genética e no darwinismo social. Hoje, é fato que há mudanças, ainda que apenas parciais, causadas pela experiência paterna (pais que passaram fome têm filhos com maior tendência a reter energia no corpo) ou ambientais (tese: nossa genética total tem partes mais firmes, que não mudam tanto ou com facilidade, juntas com partes mais maleáveis, com mais riscos, com mais imprecisão e menos essenciais). Além disso, certa mutação genética aleatória deve ser afirmada ou reprovada pelo meio ambiente; uma positiva mutação em si, como a mudança de cor da pele que melhor camufla, pode gerar reação da mãe do filhote mutado, matando-o. Isso significa que há um trabalho genético de DNA, RNA, de gene, de cromossomos que regula a existência (além disso, sabe-se, ou melhor, suspeita-se na ciência recente que uma parte do material genético é mais “duro” e o outra, menos “protegida”, menos “conservada”). Eis que o trabalho atua contra o relacionalismo e o fetichismo!

Em geral, a resolução das teses opostas vindas de teóricos marxistas conflitantes, aconteceu superando, também, o relacionalismo e o fetichismo (substancialismo). Por exemplo: Kondratiev pensava ciclos longos do capital determinado apenas por questões objetivas, mecanicistas, mais ou menos de 50-60 anos – fetichismo; na outra ponta, Trotsky pensava que não havia temporalidade, sequer tendencional, nos ciclos longos, pois passava as mudanças e as ações das superestruturas e da luta de classes – relacionalismo. Ambos acertam e erram, são unilaterais, embora Trotsky tenha sido mais sofisticado; isso significa que há uma tendência de 100 anos para cada macrociclo, que inicia na fase de “transição”, não do ascenso,  e com a correspondente revolução industrial. O marxismo também caiu no fetichismo e no relacionalismo entre aqueles que colocam prioridade às forças produtivas ou, ao contrário, às relações de produção. Isso produz os marxismos unilaterais, uma disputa entre economicistas e sociológicos. Superando os dois extremos, vê-se que eles são juntos, ambos centrais, e apenas a análise concreta pode dizer o peso de um ou outro na prática. Assim, a oposição entre forças produtivas e relações de produção é unificada por Marx no conceito modo de produção.

O relacionalismo nas ciências humanas revela-se, em principal, com o pós-modernismo, que afirma “tudo é construção social”, que a essência humana é fruto apenas do ambiente, que nosso aspecto biológico é neutro etc. Na outra ponta, retornam elementos teóricos de biologismo, geneticismo etc.

Para irmos ao próximo ponto, levantemos ainda duas questões internas. As partes e o todo fazem com que o todo seja mais do que a mera soma e união das partes, pois ele é tanto as próprias partes (substância) e suas interações (relações), estas não existiriam sem aquelas. Os marxistas usam a frase de O Capital: o capital não é coisa, mas relação social por meio de coisas. Ora, isso não anula de modo algum o papel das coisas, pois se é por meio delas, e elas são historicamente específicas da época do capital. Marxismo, quando acerta o alvo, não é relacionalismo, pois é sua suprassunção.

Vejamos algumas das oposições tratadas nem neste livro:

 

SUBSTANCIALISMO

RELACIONAISMO

Por leis objetivas o capitalismo será substituído pelo socialismo

O capitalismo apenas cai se for conscientemente derrubado

As forças produtivas impõe a robotrização

As relações de produção imperam

Há a queda da taxa de lucro para níveis baixos absolutos

Há queda do investimento

Os macrociclos do capital são fixos

Os macrociclos do capital tem duração dependente de fatores extraeconômicos

O dinheiro é endógeno

O dinheiro é exógeno

Por estar na produção, as revoluções socialistas será de liderança operária

Por seu grande número e concentração, as revoluções socialistas serão de base popular e urbana

O socialismo caiu por fatores objetivos

O capitalismo foi restaurado por ação da burocracia

A essência humana é natural

A essência humana é histórica

A noção de beleza é natural

A noção de beleza é social ou individual

A homossexualidade é natural

A homossexuaidade é social

As falsas notícias são fruto da tecnologia

As falsas notícias são fruto do meio vigente

O homem é determinado pela biologia

O homem é determinado pelo meio

O central são as forças de produção

O central são as relações de produção

Há o fim do trabalho

Há permanência do trabalho

A vitória da revolução depende, em última instância, das lideranças, incluso individuais

A vitória da revolução depende de fatores objetivos, podendo ser liderada, portanto, por figuras e por organizações menores.

 

 

Para ver a resolução desses opostos unilaterais, convido à leitura do livro A crise sistêmica, deste autor.

 

 

MARX ENTRE O RELACIONALISMO E O SUBSTANCIALISMO

 

Em outros momentos desta obra, explicamos como o bom marxismo supera a oposição entre relacionalismo e substancialismo, ambos unilaterais. Lógico que há relações, que não são coisa, e que há substância, mas é comum uma “terceira resposta” nos objetos de estudo mais complexos. 

Nesse sentido, vejamos um erro imenso de Rubin. Para ele, o trabalho abstrato não é trabalho, substancial, mas relação feita na troca, algo sociológico. Assim, o trabalho só se torna abstrato no comércio, pois é aí que os trabalhos concretos são igualados, possuem valor (ver-se outra oposição do tipo; ora, o valor surge apenas na produção, mas se revela e só se realiza apenas na circulação, ambos baseiam o valor).

Como se fosse nada, Rubin se vê forçado a citar trechos onde Marx associa trabalho abstrato com atividade de trabalho:

 

“Se prescindirmos do caráter concreto da atividade produtiva, e portanto da utilidade do trabalho, o que permanece dele em pé? Permanece simplesmente, o ser um dispêndio de força de trabalho humana. O trabalho do alfaiate e do tecelão, ainda que representem atividades produtivas qualitativamente distintas, tem em comum o ser um dispêndio produtivo de cérebro humano, de músculos, nervos, braços etc.., portanto, neste sentido, são ambos trabalho humano” (C., I p. 11). (…) “Todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força de trabalho humana sob uma forma especial e voltada a uma finalidade e, como tal, como trabalho concreto e útil, produz valores de uso” (C., I, pp. 13-14). (Marx apud Rubin, 1987, p. 150)

 

Mas, no lugar de ir para frente, aceitar as palavras de Marx, Rubin vai para o lado como um caranguejo. Ele não vê que o uso da força de trabalho, que é natural, ainda que socialmente modificada ou desenvolvida, faz, com o trabalho, a mediação do social e do natural. Ele coloca uma parede entre o social e o natural neste aspecto:

 

De duas coisas, uma é possível: se o trabalho abstrato é um dispêndio de energia humana em forma fisiológica, então o valor possui também um caráter material reificado; ou então, o valor é um fenômeno social, e o trabalho abstrato deve ser entendido também como um fenômeno social, relacionado  a uma determinada forma social de produção. (Idem, p. 151)

 

Então, cai na oposição não dialética ou-ou, ou isto ou aquilo, como se não houvesse um “terceiro excluído” a incluir. Ele salta do natural ao social, sem mediação.

É curioso como Rubin se vê forçado a citar Marx contra ele mesmo, mas ainda insiste no relacionalismo puro. Diz o fundador do marxismo, afirmando que o trabalho abstrato existiu por eras, mas a diferença atual é que se consolidou, contra o argumento “historicista”, como algo apenas de nosso tempo:

 

“(…  )Assim, a abstração mais simples, que a Economia moderna situa em primeiro lugar e que exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto, nesta abstração praticamente verdadeira como categoria da sociedade moderna” (Marx apud. idem p. 161)

 

Rubin finge que não vê, diz que não foi nada – e leva mais socos. Vamos agora à demonstração de que Marx, de modo implícito, não explícito, ainda que com passos tortos, evita cair no relacionalismo ou no substancialismo, neste caso abarcando ambos. Vejamos a nota de rodapé produzida pelo autor criticado:

 

Na primeira edição alemã de O Capital, Marx resumiu a diferença entre o trabalho concreto e o abstrato da seguinte maneira “segue-se do que dissemos que uma mercadoria não possui duas formas diferentes de trabalho, mas um único e mesmo trabalho é definido de maneiras diferentes e mesmo opostas, conforme esteja relacionado ao valor de uso das mercadorias como seu produto, ou ao valor mercantil como sua expressão material” (Kapital, I, 1867, p. 13; grifos de Marx). O valor não é produto do trabalho, mas uma expressão material, fetiche, da atividade laboriosa das pessoas. Infelizmente, na segunda edição Marx substituiu este resumo que destaca o caráter social do trabalho social pela bem conhecida sentença conclusiva da Parte 2 do Capítulo I, que deu a muitos comentadores uma base para compreender o trabalho abstrato num sentido fisiológico: “todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força humana de trabalho no sentido fisiológico” (C., I, p. 13). Parece que o próprio Marx percebeu a inexatidão da caracterização preliminar de trabalho abstrato que dera na segunda edição de O Capital. Prova notável disso é o fato de que na edição francesa do Livro I de O Capital (1875), Marx achou necessário completar essa caracterização: aqui, na página 18, Marx deu simultaneamente ambas definições de trabalho abstrato…” (Idem,  p. 163)

 

Assim, ele quase percebe o que está diante de seu nariz, mas recua – nem relacionalismo nem substancialismo. Rubin diz que até o valor é relacional, algo da troca. Não uniu produção (substância) e mercado (relação), tornou-se unilateral. Além disso, o trabalho social é trabalho também individual como necessidade natural do homem, algo desconsiderado por Rubin.

Não é suficiente ter olhos para ver – aceitar dói mais. Toda a genialidade de Rubin sucumbe ao adotar premissas, como a sociológica e a relacionalista, no lugar de criticar-se desde o objeto.

O abstrato é o concreto em processo – o trabalho abstrato é o trabalho concreto em processo, ou seja, no tempo (processo) e como gasto de energia de trabalho (processo).

Hegel afirma na sua Lógica: aquilo que está na causa continua-se, transfere-se, na consequência. Ele cita a água da chuva que passa para o chão agora molhado, ambos com água. Assim, o trabalho abstrato, a energia de trabalho, passa para a mercadoria como valor. O trabalho abstrato, como gasto e transferência de energia humana (abstrato), é causa do valor. Rubin conclui suas observações citando Marx, quando este afirma que se todas as empresas aumentassem a intensidade do trabalho ao mesmo tempo e da mesma forma, nada mudaria, o valor expresso em dinheiro nas mercadorias seria o mesmo, nem mais nem menos. Ora, isso não acontece, pois a regra e a realidade é alguma empresa ou setor aumentando a intensidade por si, de modo desigual em relação a outras empresas e setores. O tempo de trabalho socialmente necessário como medida do valor é impreciso, imperfeito, inexato; pois o valor não vem do tempo, vem da energia, incluso cerebral, do homem. Assim, Marx afirma na sua grande obra algo do tipo: 12 horas de trabalho produz X valor, mas se aumentamos a intensidade do trabalho, no mesmo tempo, a quantidade de mercadorias produzidas será maior e a quantidade de valor também será maior, não alterando o preço individual do produto nesse nível de abstração. Se o operário leva 2 minutos para produzir dada mercadoria, mas, por maior velocidade da mesma máquina, produzir em apenas 1 minuto o mesmo produto, logo a quantidade de valor é igual, antes e depois, pois antes, em 2 minutos, e agora, em 1 minuto, são gastos a mesma quantidade de energia humana.

Os trabalhos privados de fato se igualam no comércio, na circulação, mas porque, ao mesmo tempo, se igualam como trabalho abstrato, gasto de energia, de fato na produção. A superação do substancionalismo e relacionalismo puros pede passagem.

Dizer que a igualação é algo do mercado é cair no erro de Aristóteles, criticado por Marx jpa no início de sua grande obra, de considerar que não há igualdade real, apenas existe o artifício de igualação para fins práticos. Marxismo não é relacionalismo! Hegel, fundador da moderna dialética, inspirou Marx ao dizer que, primeiro, há, no fundo, a substância e, segundo, ela – esta substância – expressa a si mesma nos seus “acidentes”, que estão, no externo, em interação livre, solta, (o mercado!) como se não houvesse o lado de “dentro”, digamos assim, o substancial. Assim, Hegel funde, na diferença, substância e relação, substancialismo e relacionalismo. Eis uma das bases “literárias” dos primeiros capítulos d’O Capital, em especial o primeiro. A verdade está em um terceiro, o excluído incluído.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PLATÃO E NIETZCHE

 

O leitor acostumado percebe os dois filósofos como inspiração interna, oculta, de outra obra, A crise sistêmica. De certo modo, reescrevemos a República de Platão. Por exemplo, há referência às três ondas plantonistas (os macrociclos do capital), o fim da família e da propriedade privada, os “filósofos” no poder etc. Sendo Platão uma inspiração oculta e culta de Marx; na obra citada, A República, o grego fala em “pessoas acorrentadas” numa caverna, a alegoria da caverna, o que estimulou o alemão, milênios depois, dizer aos trabalhadores: “Vós não tendes nada a perder a não ser vossos grilhões!”. Eis a metafísica materialista por detrás do marxismo!

Vale uma digressão: na versão inicial, pomos Cronos, deus do tempo, o valor, contra Zeus, deus do raio, da energia, a classe operária – relacionando as eras, com Hera. A mitologia e a realidade casaram-se.

Quanto a Nietzsche, façamos uma digressão própria.

 

Pluralismo

O sistemismo de uma obra é um sinal de sua verdade e de sua qualidade, de um esforço e de um nexo real expresso no nexo textual, conceitual. Tal modo de expor pode agregar dentro de si o pluralismo das formas de exposição.

 

Dinamismo

Mas qual dinamismo? O marxismo afirma que o movimento é desenvolvimento, movimento contraditório. O irracionalista reconhece a contradição, mas concebe o movimento como puro caos e apenas.

A vida individual de fato é caótica. A vida social, o todo, tem ordem em seu caos. Uma alternativa é o indivíduo ligar-se mais ao todo para dar rumo e ordem, sentido – o socialismo ordenado.

 

Perspectivismo

No lugar de ir ao argumento dedicado, ele analisa os diferentes pontos de vista e ângulos. Ora, ambos podem ir juntos. Aqui, também, usamos o estilo contrito e direto.

 

 

 

Experimentalismo

Ele arrisca, diz. Aqui, nesta obra, o experimentalismo é uma forma científica de ser filosófico. Damos, então, rumo ao seu instinto.

 

Além-do-homem, super-homem

Para ele, tal ser surge por alguém sofrer muito e viver a arte. Outro modo de ver: o homem fazendo a si mesmo, criatura e criador de si. Oferecemos outro caminho, pois ainda sequer somos homens e, além disso, no futuro superaremos nossa condição de espécie (programação genética etc.).

 

Apolíneo e Dionisíaco

Afirma que focamos, desde Sócrates, na razão, esquecendo a paixão e a emoção, o gozo. Logo, defende a posição última. Se formos rigorosos, devemos fundir ambos, um ajudando o outro e vice-versa.

 

Moral

Sua moral busca a origem da moral na divisão de classes. Mas ele foi, de fato, elitista. Isso se prova na sua campanha contra a Comuna de Paris. Ao menos, ele busca a reflexão do valor dos valores, historiciza-os também.

 

A vontade de potência

Ele me inspira, junto com Clóvis de Barros, a pensar todo o Ser como energia em busca de mais energia, não apenas a vida. Ele pensou em termos cosmológicos, o que é incrível. Mas, para nós, a energia (para ele, força), vê como central sua expansividade, não sua concentração.

 

Forças

Para ele, tudo era um jogo de forças, no plural. Aqui, demonstramos que a categoria força é superada por espaço, campo e energia. Para ele, as forças fazem o espaço; para nós, a matéria decai-se em espaço. Se mantemos a categoria, para nós, há apenas uma “força”.

 

O eterno retorno

Como metáfora, seríamos felizes se nossa vida repetisse igual a igual para sempre? Trataríamos como sorte ou azar? Parece que ele considerava como algo também cosmológico. Neste ensaio, atualizamos sua intuição física para a ideia de que o universo reinicia-se para o ponto inicial, retrai-se após expandir-se.

Além do mais, além do universo ter gerações ciclos, também houve de fato um início de tudo e do tempo, depois do vazio infinito. Em Nietzsche, porém, não há começo real.

 

Amor fati

A ideia de, de modo ativo, aceitar o mundo, ser alegre com ele tal como é, de modo, repetimos ativo. Isso casa com o marxismo: ser ativo e buscar a felicidade hoje, e já, não amanhã. Se todos buscassem uma vida que vale a pena, o capitalismo cairia.

 

Fusão arte e vida

Diz do futuro como fusão de ambos. Adapto isso no uso constante do conceito de ficção. Além do mais, o realismo diz que o socialismo será a poesia concreta.

 

Uma obra digna tem de estar pousada no ombro de antigos gigantes. A refutação dialética não é apenas negar uma teoria ou filosofia, com porcos adjetivos, mas aproveitá-la no que ela tem de verdade, desenvolvê-la, levar a tese adversária até as últimas consequências, modificá-la e adaptá-la. Eis o ensinamento de Hegel e Adorno.

Nietzsche expressa o seu mundo no seu estilo. O pluralismo deriva de uma sociedade altamente diferenciada, aonde o caos aparente reina; o dinamismo vem também do caos que é o capitalismo; o perspectivismo vem de pluralidade social e da ação social contra a verdade; e o experimentalismo também deriava de tal falta da verdade. No seu estilo, expressa um mundo do capital em formação, em nova fase.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIALÉTICA

 

DIFERENÇA NA UNIDADE

A unidade e identidade dos opostos na lógica de Hegel é uma conquista de toda a civilização. Mas erros acontecem por se confundir forma com conteúdo, aparência com essência, conjuntura com estrutura etc. É preciso ver a diferença também. Nesse sentido, estamos com Adorno e Althusser, unindo ambos. A aparência nem sempre releva de todo a essência, pois o mundo que aparece pode ser, por exemplo, o oposto do mundo essencial, mesmo aquele estando dentro deste. A mesma forma pode servir a conteúdos diferentes, até opostos. O mesmo conteúdo pode ter diferentes formas.

 

O MAIS ABSTRATO

O mais geral é o mais simples e o mais abstrato, serve de base – a célula na biologia, a mercadoria no capitalismo, o átomo na química. Em método, devemos pegar o todo, ver suas partes em seguida, decompor, decompor – até alcançar o conceito real mais abstrato, mais puro, mais geral e invisível. Assim, temos o valor na economia; assim, temos a energia-espaço na física e na química (e na biologia, e o valor é energia); assim, o Bem em Platão. É outra forma de abstração, que não se reduz a isolar, a separar; também vê tal unidade interna oculta de tudo, do todo. Portanto, chegamos ao espaço, pobre em características (determinações etc.) e à energia apenas indiretamente observável. Levamos o limite mecanicista – decompor o todo em partes iguais, reduzir o todo às partes etc. – do método de Descartes até as últimas consequências, superando-o.

Vejamos. O método cartesiano propõe dividir um problema, uma totalidade, em partes, tantas quantas forem necessárias – isolá-las e, então, sendo mais simples, logo compreensíveis, tratar com elas como modo de saber do todo. Do que isso se diferencia do método abstrato-concreto de Hegel e Marx? Curioso notar que os marxistas que afirma ser o método de Marx o “abstrato-concreto” não leram ou não entenderam a Lógica de Hegel até o final do último, terceiro, livro.  O método é, antes, de Hegel, o sintético, não de Marx ou dos economistas políticos… Ademais, n’O Capital, Marx corrige seu caminho, mostrando, de modo relativo, que o abstrato faz, sim, o concreto e a totalidade num processo lógico-histórico, mais aquele do que esse, claro (o abstrato, as abstrações, é o concreto em autoprocesso). A questão é que a dialética volta a reunir as partes, a integração, o todo “síntese de múltiplas determinações”. A dialética sabe que as partes dependem do todo; que o todo tem propriedades inexistentes nas partes; que o todo e as partes são contraditórios, com saltos de qualidade e em desenvolvimento.

Chasin, ao criticar Lukács, afirma que o marxismo não opera com “abstrações razoáveis”, instintivas e decididas pelo pesquisador. Não separamos as partes, não fazemos abstrações, de modo como escolhemos ao modo de Descartes. Na pesquisa do próprio objeto, desprovido de qualquer critério antecipador, o pesquisador vai descobrindo as abstrações, as partes, as divisões e como decompor a totalidade. Assim, nenhum critério anterior, artificial ou gnosiológico guia a pesquisa, pois vamos direto ao objeto. É ao pesquisar que descobrimos como separar, dividir, abstrair o real.

À maneira materialista e dialética, Marx unifica o método científico de Platão com o método científico de Aristóteles. Do primeiro, vai decompondo – por “elevação” – a realidade até alcançar o conceito mais abstrato, puro, geral etc. Temos o valor. Então, faz-se o caminho inverso, de retorno, ou seja, de volta ao sensível, empírico, não puro, não geral e não abstrato (contreto). Do segundo, observa o todo, descobre suas partes e suas inerências, indo cada vez mais às partes – à Parte das partes – para voltar, depois, de modo progressivo, ao todo, ao concreto, à síntese unificadora do que foi antes separado. No abstrato, antes e depois do concreto, temos a mercadoria. Supera-se, assim, tais dois grandes idealistas. São duas formas, e sentidos das palavras, diferentes de ir do abstrato ao concreto, sendo o concreto o início real e no pensamentro.

Deve-se ver a separação daquilo que aparece junto. Deve-se ver a unidade daquilo que aparece separado.

Tal afirmação ou gerará silêncio enorme ou crítica em demasia. Para mim, não teria problema afirmar que o método duplo é meu, pertence-me, uma “sacada” pessoal. Mas é Marx quem me permitiu perceber tal metodologia da fusão de filósofos tão antagônicos.

Aquilo mais abstrato como o mais geral é, também, o mais abstrato como o mais individual, separado; então, inclui-se como o mais abstrato como o mais pobre de propriedades, determinações, características, matéria etc.;  por isso, enfim, o mais abstrato como o mais conceitual. Tende a ser o abstrsato, o mais, em todos os sentdos da palavra.

 

MÉTODO DE EXPOSIÇÃO CRÍTICO

O método pode ir do simples ao complexo, do passado ao futuro, do abstrato ao concreto. Ademais, um método possível é o crítico: exponha-se a ideia do adversário de maneira honesta, ponto a ponto, então se faz o comentário crítico. A própria ideia é apresentada na maneira de uma crítica, passo a passo. Pode-se, por exemplo, expor todas as teorias relevantes sobre Ética, dos antigos até os contemporâneos, ao mesmo tempo em que a própria ideia é exposta por contraste e por refutação. Todas as teorias quânticas podem ser expostas, discordando delas, demonstrando seus limites, rumo à solução. O precursor disso foi Marx com suas “teorias da mais-valia” e outros manuscritos.

 

MODELOS

Parte da ciência foi ao racionalismo, unilateral. Alguns, o dedutivo a partir de postulados e leis intuídas, uma aposta. Depois, o hipotético-dedutivo, uma hipótese quase arbitrária a ser testada. Depois, os modelos hipotéticos para explicar, melhor, encaixar, o conjunto de fenômenos. Todos são úteis e científicos, mas limitados. O melhor método é ter o “modelo” como conclusão, no final, como consequência necessária da empiria com a teoria. A ideia de modelo teórico parte do sujeito para o objeto quando se deveria partir do objeto ao sujeito.

 

FALÁCIAS

Em geral, grosso modo, as falácias ocorrem porque se quer focar na estrutura abstrata, numa lógica a priori, na gnosiologia, de uma argumentação – no lugar de focar na realidade, em seus nexos reais, na ontologia. Por exemplo, a falácia do apelo à tradição foca na “mente” ou na cultura no lugar de no próprio objeto; do mesmo modo, o apelo à novidade tenta dar um critério externo ao objeto; o apelo ao erro de, contra, focar em algo antigo, também é um critério externo, como se a verdade não estivesse na coisa e no real, pois o fato de ser uma ideia antiga nada diz se está errada ou certa em si.

Vejamos a falácia quanto à correspondência temporal, à coincidência como causalidade: se algo vem antes de outro algo, fato, logo aquele é a causa deste, pois a causa vem antes do efeito. Veja-se que, em vez de fazer uma pesquisa direta e disciplinada, fez-se uma dedução abstrata, não concreta, querendo supor nexos pela externalidade, no lugar de descrever o processo como – se há. Isso parte de uma premissa falsa de que a coisa em si, logo o nexo causal, é incognoscível, inalcançável. É um erro substituir a ontologia por gnosiologia, aquela deve dominar esta.

Tentar fazer ciência apenas com formas lógicas é um erro comum, que desdenha a empiria. Sob tal base frágil ergue-se a ciência burguesa, em especial na economia. Uma teoria pode estar logicamente bem estruturada, mas completamente, ou quase de todo, errada, equivocada, unilateral etc. É um erro, por exemplo, escolher premissas maiores não empíricas nas ciências concretas.

 

A DIALÉTICA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

O marxismo é, de longe, o melhor que há nas ciências humanas, apesar de inevitavelmente minoritário sob o capitalismo (as ideias dominantes de uma época são as ideias de sua classe dominante). Na psicologia, o freudismo agrega também os mais eruditos, junto com a psicologia marxista. Por que tal sucesso, embora minoria? Porque está numa posição social que necessita da verdade, saber como o mundo de fato funciona e suas razões. Por outro, a pobreza material e espiritual comove a muitos talentos; daí, por exemplo, a força do marxismo e do marxismo acadêmico na América Latina, em especial no Brasil e na Argentina. O capitalismo não é capaz, hoje, de provar que é um sistema merecedor de permanência. Mas a dialética é forte também porque 1) o objeto social é o mais complexo, incluindo aí a ciência da psique; 2) temos uma riqueza enorme de dados empíricos nesse objeto. Tais características não existem com tanta força nas ciências da natureza. De todo modo, o século XX teve muitos influenciados, de modo direto ou indireto, pelo marxismo e pela dialética, Born e Einstein em destaque. Isso levou ao ponto de conservadores acusarem a teria da evolução, a quântica e a relatividade de “ciências marxistas”. Vale recordar que o método não é o critério da verdade, embora a dialética prove-se um meio superior.

 

LEIS DA DIALÉTICA

Engels listou as três leis da dialética:

1)      A lei da conversão da quantidade em qualidade e vice-versa;

2)      A lei da interpenetração dos opostos;

3)      A lei da negação da negação.

O problema é que apenas listou as leis, sem derivar umas das outras. Observemos, vejamos. As mudanças qualitativas por mudanças quantitativas produzem a diversidade necessária para haver opostos que se interpenetram (já que há certa mesmidade entre eles); na contradição da relação íntima e dinâmica dos opostos, opera-se a negação da negação com seus saltos qualitativos. Tal processo funda, e é fundado pela, a lei do desenvolvimento desigual e combinado (por exemplo, desenvolvimento de desigual da quantidade e, logo, da qualidade). Essa formulação inspira-se, mas com movimento, à passagem, mais do que lado a lado, da lei da identidade, para a lei da não contradição, para a lei do terceiro excluído feita por Hegel na sua Lógica.

 

DESCREVER E EXPLICAR

Descrever é errar, pois se prende às aparências, não vai até a essência tantas vezes inversa em relação ao mundo que aparece. Descrever o e no processo melhora, mas ainda é limitado e externo. Dos dados, dos fatos, devemos interpretar, até para ver os enganos fenomênicos. Mas, quando expomos nossas conclusões, descrever e explicar tornam-se um apenas, então parece que apenas descrevemos, como se nada explicássemos. O trabalho, então, está bem feito. Explicar não deve ser justificar a realidade diante dos olhos, que isso seria explicação nenhuma, pois deve dizer o que o olho vê mais o que apenas insinua aquela, oblíqua e dissimulada. Como nota histórica, Marx vez ou outra pendeu para a defesa da descrição; mas, como qualquer autor relevante, sua obra é recheada de idas e voltas, e mais vale seu acerto. A criatividade humana, quando respeita a empiria, tem valor científico altíssimo. Na pesquisa, apenas explicamos o que, antes, descrevemos (narramos). Inspiremo-nos no, no geral limitado, Althusser: ficar apenas na aparência, nas formas, no externo – é mais ideologia, em sentido limitado, que ciência; aqueles se diferenciam da essência, do conteúdo, do interno – o oculto a ser descoberto, embora tenham uma identidade-unidade interna com aqueles primeiros. Diz Marx, o que todo marxista já sabe: se a aparência das coisas revelasse – de todo – suas essências, toda ciência seria desnecessária. Bastaria apenas o importante olhar, copiar o empírico. Mas o cientista de valor é muito mais do que máquina de carne a imitar as máquinas modernas de obtenção de dados, padrões, cálculos. Sois homens – não máquinas!

 

EVOLVER AO ABSTRATO

Fomos do conceito de espaço como lugar, algo aristotélico, para o conceito de espaço como algo que existe e pobre de determinizações. Foi necessário a ideia, antes, de que tudo é água na tentativa de pensar o abstrato, para conseguir, depois, pensar pelo menos a substância Ápeiron. A ideia de deuses animalescos passou para a ideia de deus abstrato geral cristão, muçumano, judeu – algo visto em Hegel. A arte tende a ser cada vez mais abstrata. Hoje, certos conhecimentos científicos do mundo concreto exigem altíssimo nível de abstração, incluso matemática difícil de traduzir em palavras comuns. Avançamos para a matemática, e física, abstrata. A economia global avançou para o valor e para o trabalho abstrato. Alcançamos o conceito de energia, superando o conceito de força incluso. Há a desmaterialização do dinheiro. Avançamos para conceitos impalpáveis. A evolução da humanidade é, também, seu rumo ao abstrato. Por abstrato, aqui, abarcamos todos os seus sentidos. O avançar concreto da sociedade exige e permite o avanço intelectivo e material do abstrato, da abstração. Daí que cientistas e filósofos separem, esquecendo, por exemplo, de reunificar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SENTIR E PENSAR NA CIÊNCIA

 

Opõe-se emoção e razão – mas a emoção pode, e muita vezes irá, impulsionar a razão. Hegel diz que nada relevante foi produzido na história sem paixão, opondo-se, com tal afirmação, à defesa da razão sobre os sentidos por Kant. Contra o antigo realismo objetivista na literatura, dito cientificista, temos o cosmos belo, apaixonante, deslumbrante e o sentimento filosófico superior.

Em condições difíceis, os cientistas necessitam de um impulso subjetivo para perseverar. As mulheres na ciência venceram o machismo por teimosia, por emoção. Claro, a emoção científica pode ser negativa: os cérebros mais velhos procuram a mesmidade, a repetição, a confirmação do já sabido contra as novidades e novos paradigmas. Por isso Planck diz que a ciência avança de velório em velório.

O mesmo cérebro que pensa é o mesmo cérebro que sente, dirá o professor Sérgio Lessa. Bem sentir ajuda a bem produzir ciência, pensar.

Os divulgadores científicos – e precisamos de mais deles! – devem fundir razão e emoção, ainda que este subordinado àquele. O sentimento religioso pode ser substituído por sentimento filosófico moderno. Poesia, o homem apenas é com poesia!

No campo da linguagem, os biólogos dialéticos reclamam com razão da posição neutralista nos artigos científicos comuns. Nada de exclamações, figuras de linguagem ou jogos etc. Nada de relatos pessoais da própria jornada do autor. Ao contrário, os textos devem ser agradáveis, poéticos, claros e dinâmicos - humanos. Devem ter potencial popular. Até os livros universitários devem estar vestidos de clareza e evitar o formalismo enigmático. Se precisamos tanto de mais engenheiros, os livros de cálculo devem prezar pelo didatismo ao máximo.

O trabalho que a ficção científica cumpriu para a popularização da ciência é de enorme valor. Tornam parte do imaginário popular fatos e hipóteses que rodeiam o meio acadêmico – exemplo da popularíssima, mas improvável, hipótese do multiverso. Devemos agradecer ao poder da arte, do cinema em especial, com suas fortes imagens, pelo seu uso didático.

Mais uma vez, emoção e razão podem entrar em contradição séria; mas, no geral, no longo prazo, são amantes fecundos. A razão deriva da emoção. Amar ciência, amá-la verdadeiramente, quando anda junta do amor pela humanidade, possui uma força que nenhum limite natural encontra. Quem estuda e pesquisa por burocracia, por obrigação, pouco avança; que os faz por pura paixão, primeiro, vez ou outra será um nome lembrado pela civilização.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS FERIDAS NARCÍSICAS DA HUMANIDADE

 

Freud erra ao levantar quais são as feridas que tiraram a humanidade de seu posto especial nas ideologias e nas ciências. Vejamos como deve ser.

O homem, a Terra, deixa de ser o centro do universo com a revolução copernicana: o Sol o é central. Assim, o ser humano foi retirado de um dos seus postos divinos. Tal ataque consolidou-se com Newton, depois, com Einstein. Até hoje, há ditaduras religiosas que negam tal revolução.

O segundo ataque ao narcisismo é a teoria da evolução de Darwin. O homem foi reduzido a animal, à parte da evolução da vida. Mais uma vez, a religião perdeu chão ao divinizar o homem. Por isso, tal teoria ainda sofre ataques. Vale lembrar, no entanto, que Marx antecipou – contra a filosofia e a religião de seu tempo – que o homem é, primeiro, um animal, que precisa primeiro satisfazer necessidades.

Isso leva-nos ao terceiro ataque ao narcisismo da humanidade, não reconhecido por Freud: o marxismo. Marx demonstrou que, de modo inconsciente, somos frutos de nosso tempo, de nosso modo de viver – que nossas ideias expressam nossas materialidades reais (como pertencimento a classes, ao sistema em vigor etc.). A moral, a filosofia etc. não são frutos puros do cérebro, mas em primeiro lugar da realidade em que vivemos. Somos, enfim, frutos inevitáveis da história. No mais, o capitalismo, o modo de vida que parece natural, passou a ser visto como instável, transitório e efêmero. Por isso, o marxismo sempre será caluniado e perseguido em todo o mundo, enquanto tal modo de produção baseado no dinheiro existir. Curioso que Freud foi incapaz de reconhecer tal revolução, sendo vítima da própria censura.

A quarta, não terceira, ferida contra o narcisismo da humanidade foi, é claro, a psicanálise. O homem é em grande parte governado pelo inconsciente, não pela razão pura, e seus instintos, em especial o sexual, têm força enorme sobre o indivíduo. Tal revolução teve como preparo direto o marxismo e o darwinismo, indiretamente a revolução da física. Por isso, nunca será perdoado, será caluniado e acusado de todo tipo de mal.

Veja-se que as quatro revoluções do pensamento humano causaram tensões, crises e perseguições (todas até hoje negadas por algumas ditaduras e por religiões). Nem todos conseguem aceitar tais teorias, tanto mais no grau necessário. O socialismo, se vitorioso for, trará a paz e o prestigio geral-popular a tais descobertas, ainda que de modo superante como no caso da psicanálise, que ao menos acertou o miolo da questão.

Mais associado ao marxismo, a moderna dialética, desde sua forma avançada em Hegel, também causa constrangimentos, desconfortos e resistências semi-inconscientes sobre cientistas e não. Para muitos, inaceitável que a contradição deva ser aceita e que ela é, ademais, produtiva, não apenas destrutiva; que a realidade é movimento e desenvolvimento, ainda que contraditório. Difícil sair da apenas individualidade para a integração, para o contexto, para a ideia de que o todo é mais do que a mera soma das partes. Mas a unidade e identidade dinâmica dos opostos, respeitando a diferença, torna-se o caminho inevitável. A vida é luta, não o conforto da alta classe média. Nem todos são capazes, material e mentalmente, de aceitar a dialética da matéria e da ideia. Mesmo que de maneira inconsciente e cambaleante; Einstein, Darwin, Freud e Marx usaram o método empírico-dedutivo, dialético, ou seja, colher criticamente os dados e, então fazer as devidas interpretações, ir para debaixo da empiria, para o oculto nos fatos.

Vale destacar que nenhuma filosofia, nenhum modo de ver o mundo, sofreu tanta perseguição quanto a marxista. Também raro causar tanta paixão entre vanguardas e simpatia geral entre as massas. Nos EUA e na Inglaterra, países aonde o estalinismo com seus partidos não fez grandes e tantos estragos, as novas gerações, mais precárias, declaram simpatia pelo socialismo, pela ideia difusa e instintiva que tal palavra levanta.

Tais resistências narcísicas costumam estar lastreada na religiosidade. Para a maioria, impensável uma vida sem religião, sem fé. A igreja garante vida social, emoção, casamento, fuga da solidão, apoio etc. Aceitar a verdade, que liberta, seria insuportável, tornaria suas vidas mais difíceis, material e subjetivamente. Eles precisam de um compensador numa sociedade descompensada, desequilibrada, precisam de uma droga simbólica. Por isso, resistem contra Marx, Darwin, Freud etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A TEORIA DE TUDO

 

Há mais de uma dúzia de teorias quânticas, todas de acordo com os fatos observados. O erro delas, em seus acertos parciais, está em não criticar os fatos – menos ainda suas premissas. Contra fato há, sim, argumentos. O fato é ele mesmo e um falso. É aparência. A ideia de descrição pura – dos fenômenos quânticos, da economia etc. – esquece que descrever é enganar, enganar-se. O suposto apenas descrever já parte de premissas, já parte de “obviedades”. Quem apenas descreve, ao iludir-se que apenas isso faz, erra e erra-se. Nisso caiu o positivismo quântico, a MMT na economia etc. Além do mais, o descritor parte de conceitos e preconceitos. É preciso criticar as próprias premissas, por mais evidentes que pareçam. A ideia de que a realidade é feita, primariamente, de partículas (ou ondas), gerou inúmeros erros. Nossa ideia de que a partícula é espaço condensado, condensação de linhas de espaço ou de linhas de campo supera a concepção paradigmática anterior. No nível atômico, segue válido tomar a realidade como atômica; mas a coisa se desfaz no nível subquântico, no espaço-campo. A linha metafórica que liga as partículas emaranhadas são linhas reais; as cordas que formam as partículas são cordas reais amplas, não apenas discretas; as correntes do espaço-tempo são de fato algo continuo etc.

A tentativa de unir o micro e o macro (e o meso) numa teoria de tudo teria de lidar com a incompatibilidade em relação à teoria da relatividade. Veja-se. A teoria de Einstein estava correta, mas, deixou-se de perceber, precisava ser desenvolvida ao máximo, aprofundada, ir-se até seu limite. A matéria, o átomo, até a onda, nada mais é – nada mais é! – que espaço condensado, concentrado, para dentro de si. A gravidade é produzida pela concentração de espaço que é a partícula. Por isso, a luz, que não tem massa, mas tem energia (energia é igual à massa), também curva o tecido, pois é o próprio tecido de modo em linha em ondulação, tecido condensado, ou linha condensada.

Deveria ser obrigação de todo físico passar por um ano de formação filosófica intensiva, em especial na dialética. Isso alarga o pensamento, produz criticidade, oferece alternativas.

A ideia de que tudo = tudo já povoa a humanidade desde os gregos, por milênios. Antes, faltaram condições sociais, matemáticas, físicas e, enfim e o fim, ousadia. São tempos covardes. Nossa teoria, porém, tem caráter qualitativo, faltante da exigência quantitativa de nossa época – em que tudo deve ser abstrato, frio e medido pela quantidade. Papel para o matemático ou para o físico com outras qualidades que não a criatividade primeira.

Coisas ficaram por exemplificar, talvez com a ajuda da futura matematização. Porque a linha de espaço-campo tem preferência natural para a direita? Resolver problemas geram novos desafios, novas perguntas. Explicamos, de modo geral, a preferência dos elétrons pela via direita, contra a simetria tão endeusada pelos físicos, e correta (a dialética trabalha, também, com opostos). Finalmente: a fenda dupla, o positivo e o negativo, o emaranhamento quântico, o desvio para a direita, o spin, a descontinuidade do movimento etc. estão explicados em sua base. Assim, recuperamos a unidade lógica – o mecanismo básico – da física clássica, de nosso nível, com a física quântica. Até agora, marabalismos justificavam a diferença com jogos de linguagem, com pedidos de fé etc.

Como criador, descobridor, de tal interpretação física, tenho a esperança de que intelectuais especializados consigam, daqui em diante, revisar, pela base, quase todos os fenômenos estudados nos manuais universitários. Por exemplo: e se o espalhamento do gás quando aquecido se dá – ou menos também – por que cada “partícula” acumula, assim, mais energia, ou seja, mais espaço para si, com sua autofronteira maior, afastando as demais? A megalomania parece não ser de todo delirante.

As últimas gerações de filósofos puros e de formação têm fugido do conhecimento geral, universal, refugiando-se na ética etc. Se fossem sérios, teriam interesse genuíno por questões científicas, em principal suas polêmicas centrais. Filosofia nada mais é do que uma forma de ciência. Nossos doutores em filosofia são, via de regra, inúteis, parasitas do dinheiro público. Pensam, aliás, que todos os seus méritos e salários devem-se apenas ao esforço próprio e isolado – o capitalismo esconde o nexo e a interdependência dos homens entre si assim como das partículas exige-se muito para perceber o nexo interno entre elas, a teia, numa teoria geral, do todo, de tudo. O critério da realidade é a própria realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IDEOLOGIA

 

A palavra maldita, ideologia, com a qual uns acusam os outros, e vice-versa, de a praticarem em suas afirmações talvez ou supostamente interessadas. Como veremos, todo este capítulo tem como centro tal objeto. Para nós, a mentalidade não é epifenômeno, como até Marx deixou quase entender em alguns momentos. Mas, mesmo assim, doloroso à consciência a ideia de que não decidimos quando decidimos ou que não temos livre arbítrio. Às vezes, somos até capazes de ver nos outros que eles e seus pensamentos são frutos do meio, de sua experiência não escolhida, mas “esquecemos” de olhar com o olho de dentro para fazer a autoanálise. Em geral, apenas quem está numa posição social que necessita da verdade, a posição comunista e proletária, torna-se capaz do julgamento muito pleno de si e dos demais, de saber a base concreta do pensamento ou sentimento abstratos. Vejamos, agora, o resumo de alguns de nossos mestres e uma conclusão específica sobre.

 

MARX E ENGELS

Eles começam a concepção marxista de ideologia enquanto sinônimo de falsa consciência, como oposto à ciência. Depois, Marx avança para um conjunto de ideias como forma de tomar consciência prática das tarefas e problemas de seu tempo.

Eles elaboraram, então, a famosa máxima: as ideias dominantes de uma época são as ideias de sua classe dominante.

 

LENIN

O teórico russo contrapõe ideologia como visão de mundo classista, das diferentes classes. Há, assim, a ideologia operária e, oposta e inimiga, a ideologia burguesa.

 

 

LUKÁCS

O húngaro nomeia ideologia toda a superestrutura subjetiva: ciência, política, moral etc. Para ele, ideologia é ontológica, ou seja, tem função prática na realidade para 1) convencer uns aos outros a trabalhar de tal ou qual modo, 2) convencer os outros homens a organizar a vida social de certa ou daquela maneira.

 

ALTHUSSER

O autor francês retomou a ideologia como falsa consciência, como uma versão ou visão invertida, de cabeça para baixo, do mundo real. Na prática, ele apenas retomou o senso comum e preconceitos de seu meio ambiente, a universidade burguesa. Sua meta foi adaptar o marxismo à academia e suas concepções de classe média.

 

OUTRA CONTRIBUIÇÃO

Como no tema da liberdade humana, todas as concepções acima estão certas em algum nível. As diferentes ideologias – filosofia, arte etc. – subjetivam a objetividade, ou seja, desenvolvem, unilateralizam e aprimoram o que já existe na realidade. Por isso, muitas vezes apenas organizam e sistematizam o senso comum, o cotidiano.

Engels afirma:

 

Vimos como os filósofos franceses do século XVIII que abriram o caminho à revolução, apelaram para a razão como o juiz único de tudo o que existe. Pretendia-se instaurar um Estado racional, uma sociedade ajustada à razão, e tudo quanto contradissesse a razão eterna deveria ser rechaçado sem nenhuma piedade. Vimos também que, em realidade, essa razão não era mais que o SENSO COMUM do homem idealizado da classe média que, precisamente então, se convertia em burguês. (Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico, 2003, detaque meu)

 

Ele repete, na mesma obra:

 

Para o metafísico, as coisas e suas Imagens no pensamento, os conceitos, são objetos de Investigação Isolados, fixos, rígidos, focalizados um após o outro, de per si, como algo dado e perene. Pensa só em antíteses, sem meio-termo possível; para ele, das duas uma: sim, sim; não, não; o que for além disso, sobra. Para ele, uma coisa existe ou não existe; um objeto não pode ser ao mesmo tempo o que é e outro diferente. O positivo e o negativo se excluem em absoluto. A causa e o efeito revestem também, a seus olhos, a forma de uma rígida antítese. À primeira vista, esse método discursivo parece-nos extremamente razoável, porque é o do chamado SENSO COMUM. Mas o próprio SENSO COMUM - personagem muito respeitável dentro de casa, entre quatro paredes - vive peripécias verdadeiramente maravilhosas quando se aventura pelos caminhos amplos da investigação; e o método metafísico de pensar, pois muito justificado e até necessário que seja em muitas zonas do pensamento, mais ou menos extensas segundo a natureza do objeto de que se trate, tropeça sempre, cedo ou tarde, com uma barreira, ultrapassada a qual converte-se num método unilateral, limitado, abstrato, e se perde em Insolúveis contradições, pois, absorvido pelos objetos concretos, não consegue perceber sua concatenação; preocupado com sua existência, não atenta em sua origem nem em sua caducidade; obcecado pelas árvores, não consegue ver o bosque. (Idem, destaque meu)

 

Lukács fala que a ciência costuma derivar do cotidiano como a criação de pombos observada por Darwin, mas não teve tanta clareza sobre isso quanto à ideologia.

Marx diz n’O Capital:

 

O segredo da expressão do valor, a igualdade e a equivalência de todos os trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral, só pode ser decifrado QUANDO O CONCEITO DE IGUALDADE HUMANA JÁ POSSUI A FIXIDEZ DE UM PRECONCEITO POPULAR. Mas isso só é possível numa sociedade em que a forma mercadoria é a forma universal do produto do trabalho e, portanto, também a relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a relação social dominante. (Marx, O capital I, 2013, p. 103)

 

Em seguida à citação, ele faz a famosa afirmação: por estar no mundo antigo e ser senhor de escravos, Aristóteles era incapaz de perceber a substância do valor.

A realidade é traduzida pelo pensamento, não criada neste nível. Uma obra de moral expressa a moral objetiva da realidade, por assim dizer. Quando pós-modernos falam de “Multidão” no lugar das classes em luta, eles estão intuindo o fim das classes no comunismo de modo impressionista e imediatista, pois as classes estão de fato em crise categorial. Quando outros pós-modernos falam de fim do trabalho e besteiras semelhantes, de fato sentem com exagero a crise do valor, a automação etc.

O filósofo ou o artista está na vanguarda do novo, ainda que algo seja de curta vida. Adorno percebeu já e ainda no começo que a música se tornaria apenas o fundo de um cenário, logo fato comum hoje desde o walkman, o MP3, o celular, a internet etc. Claro, muitas vezes erram os ideólogos.

Se a realidade humana, pessoal, está fragmentada, logo surgirá uma filosofia fragmentada. Passamos para a linguagem humana aquilo que não a é. O espírito do tempo hegeliano, Zeitgeist, na verdade é a objetividade do tempo, ou melhor, do meio, a carne e a coisa de uma época, corpo social e dinâmico – espírito, mas espírito concreto.

Isso produz uma nova conclusão, teorema: se uma teoria parcial pode surgir, ela surgirá. Vejamos dois exemplos. A artificialidade atual do dinheiro, na artificialidade do sistema mantido pelo Estado, sua criação fácil, leva a membros da classe média a pensarem como solução para tudo a criação maior de moeda. A nova classe média e a aristocracia operária europeia fizeram a cabeça de Sartre e seu existencialismo.

O materialismo parte, também, do senso comum: a realidade existe. Para um cidadão médio é óbvio que a objetividade há, e é, pois Deus a criou. O idealista apressado acusa tal ideia por ser vulgar, cotidiana, e eleva a voz para duvidar da existência autônoma do real. Na verdade, sequer dá dois passos à frente na sua elaboração.

A realidade é um inconsciente objetivo para além do inconsciente individual, subjetivo. Assim, este é influenciado por aquele; então ocorre a racionalização, no duplo sentido, psicanalista e não psicanalista. Lukács, por isso, erra quando diz que o artista, similar ao Espírito hegeliano, vai para o mundo e, enriquecido por ele, produz algo, retoma-se; não; o poeta já está na realidade e sua inspiração vem de repente, tantas vezes do inconsciente duplo para a consciência; depois, uma ideia leva à outra, e outra, e assim por diante. Se o romancista pesquisa, parte da ideia inicial, age a posteriori, e suas investigações são muito específicas, como estudar arte militar para melhor descrever e narrar uma batalha.

Veja-se que os reformistas enrustidos no meio marxista insistem em negar a validade teórica de três aspectos do socialismo científico: a dialética, a queda da taxa de lucro rumo a crises e ao fim do sistema e a necessidade de um partido democrático centralista. Fazem isso de modo, em geral, inconsciente, mas o fazem. Em geral, expressam a classe média em suas entranhas cerebrais, por isso, por exemplo, a maior dificuldade de ir além da lógica formal.

Enfim, a subjetividade dominante de uma época é a subjetividade de sua objetividade dominante. O subjetivo é um espelho ampliador. A classe dominante não cria ideologia em uma sala secreta de reuniões, caso contrário seria pura falsificação, não ideologia; assim como não controla o próprio sistema, a burguesia não controla a criação ideológica de modo direto e inteiro; “nós criamos, mas criamos apesar de nós”. A realidade entra na cabeça da própria classe dominante, que traduz o real de seu ponto de vista, e tenta ganhar a sociedade para suas próprias posições, que têm origem primeira no objeto, ainda que unilateral.

Uma ideologia, por mais força social potencial que tenha por si, costuma precisar de uma superestrutura objetiva, uma instituição, para prosperar em muitas cabeças. As teorias de Lenin e Trotsky somente deixaram de ser marginais porque lideraram uma revolução, um partido e um Estado. Na França, a escola de Annales apenas cresceu porque tomou espaços universitários. Para muitos filósofos, cargos como o de reitor de universidade tiveram um efeito brutal na popularidade de suas ideias. Fora de tais meios, costuma-se cair na marginalidade.

O externo se internaliza. Os marxistas afirmam que apenas (re)conhecemos o objeto quando ele está maduro; antes, conhecemos imperfeitamente o objeto porque o objeto também ainda é imperfeito. Os mercantilistas na economia pertencem à época mercantilista; a teoria da evolução de Darwin, a seleção do mais apto, pôde surgir e ser corretamente aceita porque a revolução industrial impôs o império da livre concorrência, permitiu surgir tal avanço científico por sua estrutura-avanço social e tais ideias eram úteis para o desenvolvimento das forças produtivas. Eis uma forma diferente de identidade e unidade objeto-sujeito. Em duplo sentido, o objeto que se reconhece no sujeito. Além do mais, a realidade tende a produzir homens e mulheres para si, que veem tanto quanto podem ver.

A ideologia traduz e expressa as contradições e as dinâmicas do real, ainda que seja para negar tais contradições e tais dinâmicas. A ideia de tradição medieval vem de uma objetividade que pouco muda, em que o passado dava respostas suportáveis – até não mais dar.

Temos, portanto, uma concepção ideológica de ideologia. A consciência avança se sua base material avança; e recua se esta recua. Mas a consciência também é matéria, então tem força na própria materialidade, e resistência à mudança, para frente ou para trás, além de influenciar também o meio. Há aprendizado, há tradição. De tal modo, damos um novo significado para a dinâmica unidade e identidade sujeito-objeto; tal objeto como objetividade, realidade. A ideia é matéria – a ideia é matéria em processo.

Platão contrapõe filosofia (ciência, dialética) e senso comum. Nós fazemos diferente, mais do que o oposto: o senso comum torna-se base tanto para o avançar quanto parta o limite do pensamento de uma época. O próprio senso comum é mediação da materialidade que gera e permite certo tipo de pensamento. Afinal: dizer que senso comum e ciência são opostos totais é um senso comum… O processo é reciproco, pois o avanço da ciência tende a gerar certos consensos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OBJETIVISMO

 

A leitura desta obra pode sugerir uma concepção objetivista: consciência como fruto da atividade do meio e do cérebro, liberdade objetiva, inconsciente como o meio ambiente social etc. Vejamos um tanto mais sobre o possível engano.

Em conversa com marxistas parceiros dos EUA, Trotsky afirma que, para partidos muito pequenos, a consciência das massas, algo subjetivo, revela-se como algo objetivo. Ele, assim, revela seu agudo pensamento dialético: subjetivo = subjetivo e objetivo. Identidade da identidade e da não-identidade, A = A e não-A. Já nos serve de pista.

Em lógica unitária, há de fato apenas o objetivo, a realidade, que se duplica no externo em dois opostos. O subjetivo é para nós; o objetivo, para si. O subjetivo é o objetivo em ação. O objetivo é o objetivo.

Se venceremos ou não, está determinado de antemão na causalidade. Mas a realidade é tão complexa que se torna impossível saber antes do fato consumado, mesmo se com supercomputadores quânticos. Ora, está aí a força para arriscarmos, tentarmos, testarmos. Porque posso, devo – porque devo, posso. A possibilidade, ou as, é para nós; a necessidade da lei e o destino, para si. O mero agir ao pensar que é possível, a mera ilusão de liberdade total, já está inscrito no final da história. Pensar em determinismo, o socialismo como garantido, desarma a luta e baixa a guarda (influencia para a derrota) – o fascismo já passou e poderá passar de novo rumo ao fim da civilização (ouvi de um amigo uma brincadeira que tem um fundo bastante sério: a palavra de ordem “o fascismo não passará!” deveria ser proibida – e é como a criança assustada iludindo-se que tudo dará necessariamente certo). Falar em realidade objetiva é pleonasmo, pois a realidade apenas pode ser objetiva. Mas talvez precisemos reforçar o sentido de uma palavra com a outra, tal qual faz a poesia. O que é real é objetivo. O que é objetivo é real.

 A consciência corre atrasada e com resistência em relação aos fatores objetivos porque ela é um fator, algo, algo objetivo. O foco dos marxistas atuais na disputa das mentalidades, diante dos ricos de perder, torna-se uma ideologia necessária para vencer, útil. Se o socialismo vencer, a coisa será tratada de modo mais sofisticada.

 

 

 

 

 

A DUPLICAÇÃO DOS MUNDOS MODERNA

    

A ideia de dois mundos é antiga, desde a religiosidade dos primeiros homens. Sua popularidade atual vem do filme Matrix, que tanto influenciou a filosofia – normalmente, o caminho é inverso, a filosofia afetar a arte.

Ainda há dualismos e idealismos disfarçados por aí. O cérebro de Boltzmann diz que, num tempo muito longo mais a entropia, há a possibilidade alta de fazer surgir um cérebro vagando no vazio do universo, vivendo por alguns poucos segundos ou minutos – e alucinando a nossa realidade. A imagem é maravilhosa, percebe-se.

Outra versão é esta: estamos dentro de um programa de computador. Do ponto de vista probabilístico, isso é o mais provável – o que reforça nossa crítica aos limites da probabilidade na ciência. No mais, uma simulação gera outra simulação, que gera outra etc.; isso tão logo a civilização virtual tenha condições para isso, tecnologia.

A caverna de Platão (mundo das ideias), a cidade de Deus etc. estão atualizadas. Há físicos que afirmam que a realidade não existe, que a coisa só há se a medimos, se a olharmos etc. É um erro crasso tratado como ciência séria. Outra ilusão é a concepção de muitos mundos, de universos paralelos; assim, ao fazermos a medida e o objeto colapsar numa de suas possibilidades, estados, outro universo é criado, aonde a outra possibilidade também se realiza… Bom; a matéria e a energia do universo são limitadas, não finitas, logo impossível que uma simples ação de medida crie algo novo e paralelo completo.

A mais sofisticada diz que o universo é um holograma de buracos negros. Ainda que a matemática apresente alguma justificativa, a lógica numérica não é a própria realidade total.

Uma concepção real de mundo duplicado, mas ao mesmo tempo uno, deveria surgir – este livro parece acertar em tal tentativa de expor sua natureza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GERAL, PARTICULAR E SINGULAR

 

A língua gera as palavras lógicas por abstração. Mas: existe o geral (espécie etc.?) Existe o singular de fato? Para Platão, o geral existe em outro mundo, pode detrás deste, aonde os conceitos universais permanecem (o desejo de permanência escravista). Com o comércio, com o avanço do Estado; os medievais tiveram de dividir-se entre aqueles que defendiam  a existência do singular apenas ou do geral apenas.

O geral existe: uma espécie em geral, em geral, não pode produzir filhos férteis com outras espécies. Ou seja, o universal afirma-se.  Mas novas espécies surgem porque as particularidades acentuam-se até o singular formar algo singular, o singular produz o singular. Porque os intermediários das variações de espécies animais foram extintos, ficou imensamente mais fácil distinguir gêneros e espécies na vida – produziu-se, por morte, gerais, particulares e singulares!

O singular pode avançar até tornar-se um novo geral. O geral por particularizar-se para formar singulares. Também, ao mesmo tempo: algo geral tem seus singulares na particularização. Também, há níveis: espécie (geral), raças (particular) e indivíduos (singular). Algo geral se singulariza por meio de suas particularidades.

O geral é abstração mental ao mesmo tempo em que abstração real, no próprio mundo. O singular também afirma sua singularidade como a talvez preferência dos animais por parceiros sexuais parecidos consigo ou com uma saliência sua. Alias, a reprodução sexuada , a união dos opostos idênticos, mostra-se prova de que o geral existe.

O que é geral ou singular é relativo, posicional – a espécie é particular ou singular em relação ao gênero; mas é geral em relação às raças e indivíduos de mesmo tipo.

Mas a coisa toda é mais confusa, menos classificatória: há o entremundos, a mistura, o amálgama, a transição a duplicidade. Porque uns vêm de outros ou mesmo de outro.

Em tantos casos, em movimento: o geral é e não porque está, sendo.

 

 

 

 

 

 

 

 

DEDUÇÃO DA QUARTA DIMENSÃO

 

Os físicos há muito tempo estão familiarizados com a ideia de uma quarta dimensão espacial, embora a concepção continue como curiosidade apenas ou apenas instinto. Ninguém tem coragem de afirmar sua existência. De certa forma, isso tem razão de ser: não é algo diretamente observável – se existe. A questão fica flutuando no ar, esperando as condições atmosféricas de sua solidificação.

Há, no entanto, como deduzir indiretamente sua existência, pois problemas filosóficos e científicos obrigam sua existência se queremos soluções estáveis. Vejamos os aspectos:

 

1.  A energia, por debaixo de suas formas e formas de manifestação, existe, mas não observável no nosso mundo tridimensional.

2.  O universo em expansão é finito no espaço-tempo, mas é necessário e inevitável que o universo seja infinito. Logo, o infinito é hegeliano, ou seja, qualitativo, sem começo nem fim, tal como um círculo.

3.  A existência antes do universo só poderia ser o nada infinito que põe o seu próprio oposto, o Ser ou algo finito.

4.  Qual a causa de todo o movimento? Porque a coisa não para? Por que seu estado natural é o movimento?

5.  Marx afirma que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas nenhum átomo de valor há nela – no entanto, o valor existe na própria coisa, apesar de invisível.

6. As constantes abstratas na física e na química (G, constante de gravidade etc.) obrigam pensar um aspecto oculto da realidade.

 

A resposta necessária é uma quarta dimensão, espacial antes de ser temporal.

Primeiro, ela é a casa da energia.

Segundo, torna o cosmos infinito, como se para dentro de si.

Terceiro, está conectadoacom a origem do Ser.

Quarto, a matéria cai na quarta dimensão – movimenta-se – como se em si mesma.

Quinto, o valor não empírico, mas real, encontra-se na dimensão quarta.

Sexto, o tempo, algo relacional, expressa a quarta dimensão, algo substancial.

Sétimo, o “ao quandrado” em cálculos de base para espaço e distância, até outros espectos, indicam uma geometria de quatro “elementos”. Cada linha geométrica de um quadrado simbolizaria, metáfora com fundamento, uma dimensão na expressão como distância ao quadrado. Porém, afirma-se que se ouvesse mais um dimensão espacial, o cálculo de gravitação de Newton seria d³, não d²; mas teorias como a das cordas se demosntram racionais mesmo com 11 dimensões hipotetizadas; caberia explicar por que, mesmo com quatro dimensões espaciais, tem-se d²: porque é dimensão para dentro, porque é intensiva e não extensiva, porque ela está dentro e fora de nossa realidade etc. Mas a solução principal é esta: como a realidade aparece como tridimensional, associa-se sem mais, porque sim, de maneira externa e artificial, o ao quadrado às três dimensões; isso esconde que o ao quadrado em vários cálculos, incluso a probabilidade de encontrar a partícula em um ponto, como descobriu Born, revela o lado quadricular das dimensões; no erro, adicionar uma dimensão levaria ao d³ quando já de início se deveria associar d², no micro e no macro, às quatro dimensões. Veja-se: Aristóteles “refutava” a teoria de que a Terra girava porque, se assim fosse, tudo estaria em movimento disforme; ele não conhecia o conceito de inércia; do mesmo modo, temos com a quarta dimensão. No entanto, temos mais três provas diretas a seguir.

A quarta dimensão está, portanto, dentro e fora de nossa realidade. Outro modo de ver isso é este: o infinito não cabe no universo finito, logo o transborda. O mar não cabe dentro do navio.

E se o centro de massa não for apenas ideal e hipotético – se for parte da queda da coisa em si mesmo como na quarta dimensão? (A preservação do momento angular, bem matematizado e conhecido, parece também reforçar: ao a bailarina girar, ao aproximar seus braços abertos do corpo, do centro, ela aumenta a velocidade – eis prova indireta da quarta dimensão.)

Talvez, a ideia de quarta dimensão espacial responda algumas questões da física quântica, embora tenhamos dado respostas neste livro que em geral dispensam tal premissa. Podemos aprofundar. Na quarta dimensão, podemos entrar dentro de uma esfera sem passar por suas camadas externas, por sua borda etc.; do ponto de vista de três dimensões espaciais, parece que algo desapareceu aqui e reapareceu ali, por salto. Assim, o salto citado para dentro da “caixa” do SSD do computador, o elétron saltar (desparecer e reaparecer) camadas no átomo e o elétron em movimento solto desparecer e reaparecer logo à frente – tais exemplos demonstram que há uma quarta dimensão espacial, que é visto como tempo no aspecto macro, quando algo desloca-se desparecendo aqui e reaparecendo ali. São três fortes provas empíricas da quântica. Mas, no capítulo sobre física, pomos teses com e sem quarta dimensão. Consideremos que matéria é feita internamente por fótons (e/ou neutrinos); e consideremos que o espaço são linhas, logo, tais materiais-luz, são ondas em linhas de espaço. Pois bem; se o elétron[31] é feito de fótons, eles podem entrar em oposição como ondas (não “simétricas”), em seu avanço, com cristais e vales se anulando, com o elétron desaparecendo aqui e, depois, reaparecendo ali.

Vejamos uma perigosa metáfora da quarta dimensão. Você está dentro de um navio; melhor, um navio holandês do século 16, que é mais bonito. Mas está, de fato, dentro, não há janelas, aberturas etc. Tudo escuro, aliás. Mas você sente o movimento, o seu balançar, as ondas. Pensa que tal movimento é, então, puro movimento do barco, de si. Na verdade, há um mar ativo e infinito lá fora, causa do movimentar. Mas você não pode vê-lo, nem ver. Como é esperto, intui e deduz tal coisa como a quarta dimensão causa do movimento, da queda constante, ou seja, o oceano, existe. Mas o oceano não cabe dentro do seu navio, nem dentro de seu cérebro – exceção se de modo indireto e conceitual.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SOBRE O NADA

 

Eis o tema de maior dificuldade da metafísica, e um dos essenciais. Sobre ele, Heidegger não fez mais do que um jogo sofístico de palavras. Hegel pensava que o nada e o ser existiam ao mesmo tempo na coisa, logo, a relação de tais opostos geraria o movimento, o devir.

Diz-se que a dialética não pode romper com a lógica formal. Tudo bem: aceitemos tal limite, vamos para os jogos infantis de lógica aristotélica e medieval.

Apenas para clarear, está evidente que vazio, vácuo absoluto e nada são mais do que apenas determinações – são os nomes do nada mesmo. Já temos o cenário, que não é cenário algum.

Primeiro: se a realidade vai do simples ao complexo – o mais simples é o nada.

Segundo: se a realidade vai do abstrato ao concreto – o mais abstrato é o nada.

Terceiro: impossível saber a primeira causa no tempo, sempre há um antes do antes, do antes, do antes etc. – logo, temos de pensar um antes primordial, quando o tempo sequer existia – o nada.

Quarto: toda coisa é limitada porque de-limitada, delimitada; ou seja, dizer sobre ela é limitar, dar seus limites; ora, o nada, por ser pura nadidade, não tem deliminação, de-limitação, limitação, logo, - o nada é infinito, ilimitado, não de-limitado.

Quinto: por oposição, o Ser, o cosmos, tem-se como o oposto do Nada, o não-ser; ora, assim, se o Ser cósmico é limitado finito (em três dimensões), com lei e preenchido – o nada, ao contrário, deve ser ilimitado infinito, caótico e vazio. Categorias opostas para os opostos.

A relação caótica do nada como vazio e do nada, si mesmo ainda, como infinito – decai no seu oposto. É lógico e, ao contrário, ontológico que a realidade total tenha vindo do nada. E do ponto de vista mental, única resposta possível para explicar o começo e o mundo.Que algo passe para seu oposto, estramos no terreno arenoso da dialética.

O que importa se isso não é diretamente observável? O átomo também não o é! Do empírico podemos deduzir o não empírico. Só a teimosia cega pode negar o nada como começo antes do começo.

Se existe Deus, quem criou um Deus? De onde vem? Se existe o universo, de onde vem? Dizer que de outros universos só adia para trás o problema, aumenta sua extensão.  O nada absoluto teve de ser a fonte do Ser, do universo, ainda que este se divida em multiversos “menores”.

O nada real não pode ser imaginado, mas pode ser conceituado. Que é condição do nada, exato por não ter características ou determinações, ter exato a determinação característica de ser infinito – já demonstramos. A infinitude real, qualitativa e não quantitativa, intensiva e não extensiva, também aparece como impossível à imaginação, mas natural à conceituação.

Há uma forma ainda mais comestível de expor. O Ser, cosmos, há, existe, uma categoria para si; o Nada seria uma categoria para nós, oposta e criada, não existente no real. Pois bem; o cosmos, o Ser, sabemos, tem uma história; por tanto, houve uma fase, no começo do começo, em que ele era o mais simples e o mais abstrato possível, ou seja, ele era apenas o Ser, mas era como se fosse o Nada; sendo o Ser, ele era tão “puro” que era como se fosse Nada, sem determinações, sem qualidades etc. Um transparente transparente. O ser era nada, embora não fosse. Ele era e não-era, ser o não-ser. O Ser, em sua forma hipersimples e hiperabstrata, em sua forma informe, era como se fosse o seu oposto. 

A oposição entre Ser e Nada passa para, em conceitos concreto atuais, Matéria e Espaço, Massa e Energia.

Os antigos filósofos, os atuais sequer merecem menção, confundiam determinações do Ser e do Nada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEDUÇÃO DO ESPAÇO OU CAMPO COMO LINHA

 

Diante da refutação aparente da ideia de éter permeando o universo, pensou-se com pressa na ideia de campos, uma gambiarra teórica. Seria muito mais correto e simples supor o espaço como o meio por onde a luz flui-se. Talvez, apenas talvez, as linhas de espaço sejam, também, linhas do campo próprio daquele tipo de partícula. Vamos deduzir, pela empiria e por lógica concreta, que o espaço tem a forma de linhas espaciais.

 

4.      As partículas têm assimetria, preferência pelo desvio para a direita.

5.      O entrelaçamento quântico – efeito fantasmagórico à distância, segundo o cético Einstein – é, de fato, real e instantâneo, ao mesmo tempo nas duas partículas distantíssimas. Algo parece ligar as partículas.

6.      Não se sabe o motivo:  o espaço expandiu-se, e expande-se., quando havia apenas matéria no universo.

7.      Ao atravessar uma fenda estreita de uma fenda dupla, parece que a partícula não medida atravessa as duas fendas ao mesmo tempo e interage, assim, consigo mesma como se com outra.

8.      O espaço é transparente para a luz porque o espaço e luz são o mesmo, a luz fui pelo espaço.

9.      Na lógica superior, dialética, uma afirmação e sua oposta são verdadeiras: logo, o espaço deve ser tanto contínuo quanto discreto, ou, ao menos, ter uma terceira resposta ainda oculta. Uma linha é, por exemplo, discreta da esquerda para direita, mas contínua de cima para baixo, por onde flui e é – ou seja: algo contínuo-discreto, a linha.

10.  Ainda segundo a lógica superior, pode-se ser partícula e onda ao mesmo tempo. Uma onda percorrendo uma linha é algo, uma ponta ou linha concentrada.

 

Devemos, portanto, superar de modo relativo o paradigma particular, dos objetos pontuais e isolados. São úteis e práticos no nível quântico, mas não no nível subquântico A aparência de autonomia externa esconde o nexo interno essencial. A visão mecanicista vê tudo separado e apenas com relação externa; o extremo disso é a concepção newtoniana de que o espaço é absoluto e sem relação com o resto do mundo, um palco fixo e sem história. Mas a matéria no início do universo decaiu e decai em espaço, a constante cosmológica real ou energia escura real. Já os buracos negros maiores sugam espaço, crescendo, o que reiniciará o universo por atração, fusão total. Fazemos, então, dedução ontológica, antes de gnosiológica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEDUÇÃO DA UNIDADE ESPAÇO-MATÉRIA

 

É um tanto assustador que a ideia de expõe como igual à matéria não tenha sido pensada antes. A ideia filosófica da igualdade de tudo não é nova, permeia todo o conhecimento. Devemos uma dedução matemática: um tanto de matéria é equivalente a quanto de espaço? Eis o desafio quantitativo. Do ponto de vista da qualidade, podemos deduzir também.

 

1.      De onde viria o espaço e sua expansão no início do universo, quando existia apenas a matéria? Ora, da matéria mesma!

2.      O que sobra da separação e dissolução da matéria o mais puro e abstrato, o espaço.

3.      Se ouve aniquilação da matéria e antimatéria no início de tudo, o que dele sobrou? A luz decaiu em espaço.

4.      Matéria e espaço têm propriedades comuns.

5.      A matéria não ocupa espaço, não concorre contra ele, porque é já espaço concentrado.

6.      Algo deve conectar as partículas emaranhadas.

7.      Os opostos têm unidade interna.

 

Estamos diante da última revolução científica. Energia (luz), massa, matéria: são espaço, formas de espaço. Mas ele não é o primeiro, embora seja o absoluto. É o mais puro, abstrato e pobre de determinações (grosso modo, qualidades ou características). É o Ápeiron concreto.

O desgaste da matéria (desaceleração etc.) produz espaço, que, por isso, ainda expande-se. O buraco negro, como alto, e auto, concentrador de matéria, suga o espaço, tornando-o mais matéria, concentrando-o. Ao sugar espaço, o buraco negro tensiona seu tecido, logo, produz energia, ou seja, gravidade – a matéria escura na verdade não é por exato matéria, pois é espaço esticado ou concentrado.

 

 

 

 

 

 

 

EXTRA: OS PARADOXOS

 

A solução dos problemas dos famosos paradoxos é que tais contradições deverão produzir ou mudança ou colapso, movimento. Vejamos três casos de destaque:

 

1)      Se um barco tiver toda a sua madeira restaurada, ele continuará sendo o mesmo barco?

E se a madeira velha, retirada, for usada para produzir um barco, será um novo ou o antigo? Ora, do ponto de vista hegeliano: ambos os barcos são novos e os mesmos. Mas em nossa dialética diacrônica, a coisa é um pouco diferente. Um vai tornando-se o outro. No quantitativo, um barco com 100 tábuas, se tira e substitui 2, então ele é 98% antigo, 2% novo.

Mas ainda cabe outra resposta:  todo, a realidade, do qual os dois barcos participam é outro ao mesmo tempo o mesmo, todo único. O erro seria focar na coisa, nos objetos.

Outra resposta; a coisa é , em primeiro, sua forma, que pode mudar de matéria, não a própria matéria. Resposta hegeliana.

No mais: o barco de Teseu é o barco dirigido pelo Teseu, aquele; teu corpo mutante – que muda de células o tempo todo – torna-se o mesmo porque guiado pela tua consciência. Mas o Teseu e a Consciência também são matéria que muda, mas há continuidade na mudança, na descontinuidade. Por fim, importa a estrutura daquilo que muda, sua formação material central, não apenas geométrica e ideal. O barco é o barco de Teseu por seu contexto de assim ser, mais do que apenas por seu em si isolado.

 

2) Quem barbeia o barbeiro na cidade aonde ninguém barbeia a si próprio?

Como resolver? Colapsando ou movendo. Vejamos: 1) o barbeiro pode barbear-se em outra cidade, 2) ele colapsa a lei barbeando-se, 3) um não barbeiro o barbeia etc.

Cria-se um carinho pela contradição apaixonante, quer mantê-la em pé.

 

3)O paradoxo de Ferrmi

Esse é um paradoxo mais científico do que filosófico. Toda a probabilidade diz que há civilizações extraterrestres, mas elas não aparecem – por quê? Porque o mesmo Sol, estrelas, que dá vida e permite surgir uma espécie inteligente, destrói a tecnologia avançada com suas explosões, com seus ventos solares especiais e intensos. Civilizações, ademais, têm um ponto nodal, como no fim do capitalismo, quando se extinguem, a si próprio, ou prosperam. Talvez, nossa biologia tenha sido a mais rápida em produzir uma espécie especial. As civilizações inteligentes e avançadas, se existem, estão em demasia distantes umas das outras. Nem toda civilização inteligente é, de imediato, avançada. Por fim, evita-se o contato direto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O COLAPSO AMBIENTAL

 

O Marx marxista começa a sua produção expondo que uma das alienações de nossa sociedade é que o homem não se vê como parte da natureza, põe-se enquanto externo a ela. Pouco depois, levanta a questão da defesa do meio ambiente contra a sua destruição, mas de modo muito limitado. Em O Capital, expõe que rompemos metabolismo da natureza ao transferirmos material do campo para a cidade, rompendo um ciclo natural. Observou também que a divisão da terra em propriedades separadas e privadas não permite um manejo bom do solo. Mas suas fortes observações param aí já que não percebeu que a crise ambiental é parte vital das crises de um sistema, como o capitalista.

O homem sempre agredirá o planeta. Mesmo o homem tribal levou à extinção de espécies. A questão é que tanto podemos fazer isso hoje de modo profundo quanto temos condições, por outro lado, de agredir o mínimo possível, de modo sustentável. Uma hidrelétrica é necessária à sociedade, mesmo que agrida o natural, mas pode ser reduzida e compensada a sua ação social sobre o meio ambiente.

Desde a famosa década de 1970, quando tudo mudou, passamos a extrair mais da natureza durante um ano do que ela é capaz de repor por si própria no mesmo período. A pulsão infinita do capital, a má infinitude da progressão, ao tentar agredir o infinito verdadeiro, na verdade agride sua própria base, o que pode nos levar à extinção.

A vida – tanto mais a de grande porte – se reerguerá nos próximos milhões de anos, com ou sem a humanidade. Nossa tarefa é humanizar a natureza produzindo novos elementos químicos e mudando os animais. Podemos criar sementes mais fortes, mas, ao mesmo tempo, em nome do lucro, as tornamos estéreis na segunda germinação para forçar a compra de novos insumos.

Torna-se uma necessidade reaproveitar e reciclar quase todo o lixo ora descartado, mas isso fere poderosos interesses. Além disso, o lucro não tem limites, quer sempre mais, por isso o desmatamento avança apesar da ameaça ao ecossistema.

Ou socialismo ou extinção! O atual modo de vida precisa passar para outro mais organizado, planejado, sem lucratividade – mas não é algo inevitável. A produção romana escravista levava a esgotar o solo, algo resolvido com o método de descanso da terra praticado pelos medievais. Mas o feudalismo, em sua fase final, também criou uma crise ambiental ao aumentar a quantidade de feudos e destruir matas de nascentes etc. Cada fim de sistema classista tem sua crise do meio ambiente, mas apenas a atual ameaça a espécie humana total.

 

 

ENERGIA

A civilização pode ser medida por sua capacidade energética. Por exemplo, impossível ergue uma civilização baseada em alfaces, logo precisamos plantar aquilo que oferece mais energia. Nesse sentido, temos a escala de Kardashev, aonde há civilizações de tipo 1, que domina a energia de seu planeta, de tipo 2, que domina a energia de seu sistema solar, e tipo 3, que domina a energia da galáxia. Ainda somos a civilização de tipo 0, mais precisamente, 0,75 – ainda não somos uma civilização.

Para ao menos tocar o tema, destacamos que cada era do capital tende a uma própria relação na produção de energia. Vejamos. Era mercantil: força humana, animais, moinhos de água e vento; era industrial: máquina a vapor; era financeira: eletricidade, hidrelétricas, petróleo, etc.; era fictícia: o mesmo da anterior, como um salto para si, com a consolidação, após os anos 1950, da fissão nuclear, e o uso recente de energias solar, eólica e maremotriz cada vez mais aperfeiçoadas (nesta era, prepara-se o caminho técnico-científico da próxima revolução energética, que inclui a fusão nuclear).

A fusão nuclear, método que estamos tentando dominar, gerará energia global abundante e limpa, além de sem grandes riscos. Ela é própria para a sociedade socialista, por isso esta deve investir nela com máxima força. Isso nada mais é que imitar a fusão nuclear da nossa estrela em escala menor.

Tal revolução energética por vir facilitará com que nos tornemos uma civilização interplanetária. Faremos, tanto quanto possível, mineração em outros planetas, principalmente no próximo e estável Marte. Uma sociedade desse tipo exige uma tecnologia mais avançada e tal mesma tecnologia mais avançada exige relações sociais mais avançadas também, ou seja, socialistas. A revolução comunista levará nossa espécie para além da atmosfera. É uma lei social que forças produtivas mais elevadas exigem relações de produção e sociais também mais elevadas.

Tudo isso está de acordo com a necessidade drástica de redução do uso de petróleo. A poluição está causando um efeito estufa, está aquecendo e desregulando o clima. Mas o capital não demonstra o menor sinal de que combaterá o problema na sua medida, pois a lucratividade não conhece limites. Faz algum tempo, a escola americana MIT fez uma postagem na internet afirmando que o grande problema da captação de energia solar é que é muito eficiente, então a energia torna-se muito barata. Eis um problema capitalista!

A afirmação de que o capital é incapaz de resolver tal problema não é um dizer por fé. Se tal sistema for capaz de impedir a catástrofe, tanto melhor aos socialistas, pois eles terão muito mais tempo histórico para mudar a realidade, com menor risco de extinção. O fato de podermos ser extintos em algumas décadas é um peso enorme, que reduz a margem de manobra da luta por outra sociedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARXISMO E METAFÍSICA

 

É muito difícil enfrentar as tendências de seu tempo. No século XIX, a luta de Kant e dos positivistas contra a metafísica tornou-se popular, digamos assim, tornou-se uma obviedade científica, filosófica. Para que saber sobre o nada e o ser? O iluminismo associou metafísica com metafísica medieval, aonde a religiosidade impera – até nosso tempo, ser metafísico é considerado, no meio marxista, algo religioso. Para que saber “o porquê” realidade, seus aspectos centrais e universais, se podemos fazer bom uso do “como”? Assim, ficou para a Igreja saber os fundamentos primeiros do mundo.

Marx e Engels contrapuseram a dialética com a metafísica, sem atentarem que são o mesmo, ainda que opostos. A dialética é uma forma de metafísica, contra o que pensava, veja só, Aristóteles. O materialismo com história é uma concepção geral de mundo, de cosmos, de como é a realidade.

Seguindo tal tradição, Lenin e Trotsky também abominavam qualquer associação coma palavra metafísica. Lukács corrigiu nosso caminho, usando um nome mais aceitável para a academia universitária burguesa – ontologia, um aspecto e área da metafísica.

Como o marxismo tornou-se, em grande medida, acadêmico, teve de ceder à antimetafísica e burguesa concepção de ciência. Mas, entre não marxistas, aqui e ali, surgiam sinais de renascimento da filosofia primeira, como em Heidegger, Ser e tempo; como em Sartre, Ser e nada.

Diz-se que o bibliotecário que organizou a obra de Aristóteles colocou os textos para além dos textos da física por uma questão apenas de ordem. Mas ordem nas prateleiras tinha, no fundo, uma correspondência coma ordem real. É a partir da física e das demais ciências que podemos chegar a certa e correta metafísica. Tal meta deve explicar e superar não só as ciências particulares, mas também soar como a evolução natural de toda a filosofia, sua conclusão inicial.

O marxismo é uma concepção geral de natureza, de sociedade, de ética etc. de realidade primeira, de mundo. Não é a filosofia de nosso tempo; antes, filosofia do tempo. Assim, consegue transcender de maneira imanente a época de sua elaboração.

Nas minhas pesquisas e elaborações, fui chamado a tomar as conclusões às quais alcancei como algo de todo novo, uma revolução imensa de ineditismos. Sou marxista como Marx era hegeliano ferrenho e, ao mesmo tempo, crítico. Nomeio minha metafísica marxista porque pertenço a uma tradição filosófica bastante clara. A ruptura permanece na continuidade.

 

 

VALOR

Apenas com Postone a questão da importância central do valor fez-se presente, para além e por debaixo da categoria capital. No entanto, o marxismo continua considerando tal conceito como não existente em si, como apenas relação. No posfácio de Engels ao livro III d’O Capital, ele cita economistas que afirmaram ser o valor algo inexistente, uma ficção, mas extremamente útil ao trabalho científico. O comunista rico, ao contrário, afirmou a existência de tal “coisa” ou “propriedade”.

Vejamos citações que reforçam nossa tese:

 

Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada, plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.

 (Marx, O capital I, 2013, p. 146)

 

No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa coisa sensível-suprassensível.

(Idem, ibidem)

 

O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas…

(Idem, p. 170)

 

Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu).

(Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)

 

Mais-valia e taxa de mais-valia são, em termos relativos, o invisível e o essencial a ser pesquisado, enquanto a taxa de lucro e, portanto, a forma da mais-valia como lucro se mostram na superfície do fenômeno.

(Marx, O capital 3, 2008, p. 34)

 

Metodologicamente, Hegel dá a pista:

 

Tem que se deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.

(Hegel G. W., 2016, p. 53)

 

O valor é uma entidade não empírica, invisível, metafísica – não apenas relacional. É nesse sentido que o dinheiro torna-se o deus real do mundo real, a medida de todas as coisas.

No começo de suas pesquisas, Engels e Marx negaram a categoria valor, talvez por seu lado metafísico. Mas logo tiveram de recuperá-la, único modo de, no real, entender o capitalismo.

O valor, sejamos ousados, nada mais é que nada, energia, aspecto da quarta dimensão. Hegel diz que o que está na causa passa para o efeito, como a água da chuva estará no solo molhado; ora, a energia corporal do trabalhador passa para a coisa, o objeto, a mercadoria física. São conhecidas as passagens em que Marx afirma que a máquina perde seu valor durante seu uso, com seu desgaste material, passando seu valor, imaterial, para a mercadoria em produção; assim, a máquina parada sob agressão da natureza também perde valor com e por seu desgaste físico. O valor-capital e o valor-material estão juntos, abstraídos apenas na teoria. Idealmente, isso se expressa na contabilidade da empresa, em que se calcula o desgaste médio do capital fixo, sua depreciação. O valor-energia precisa estar numa coisa, num suporte material, ou seja, num meio (sendo somente um com este); por isso nem todo trabalho é, de fato, trabalho.

Na física, energia é capacidade de trabalho e trabalho é transferência de energia. Isso ocorre no mundo físico, material, da produção: o trabalho transfere energia-valor do trabalhador para a mercadoria. Assim, mais-valor é mais-energia, energia não paga, gratuita, explorada – o operário cria seu valor por gasto de energia, além de um valor extra também por tal gasto. Valor não é, não é, tempo de trabalho (socialmente necessário para produzir a mercadoria). Valor é apenas medido pelo tempo de trabalho. Isso fica muito claro com a leitura do Livro I quanto à intensidade do trabalho. Se trabalho por 1 hora com dada intensidade, produzo um tanto de valor, pela transferência de energia; mas, se nessa mesma 1 hora, trabalho com o dobro da velocidade, logo temos o dobro de valor produzido ou energia gasta no mesmo tempo! Valor é forma de energia. De sua parte, energia é espaço, talvez uma dimensão extra, quarta; mas essa identidade não é imediata para nós e neste assunto. Quando Marx diz, após mostrar que a relação de mercado faz apenas a forma (de manifestação) do valor sem fazer seu conteúdo, que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas nenhum átomo encontramos de valor, diz de sua invisibilidade. A mercadoria tem, como demonstramos em outras citações, o valor dentro de si, não como relação externa. Refaçamos seu raciocínio. Se tirarmos todas as propriedades (físicas) da mercadoria, resta apenas uma “coisa em si” kantiana vazia, o que há por dentro dela, nela, sendo ela:

 

Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem dele valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer coisa útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. (Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)

 

E:

 

Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores mercantis. (Idem, 116.)

 

Trabalho abstrato é, portanto, puro trabalho, apenas transferência de energia no tempo. O abstrato é o concreto em processo – o trabalho abstrato é o trabalho concreto no tempo.

Tal conclusão, com ares de definitiva, soa bizarra até para mim, que fiz a interpretação da obra de Marx. Fere nossa mentalidade presa à aparência, ao prático, ao bom-senso, à empiria. Mas deve ser aceita – por mais absurda que soe. O preço, dirá Marx, apenas é o nome do valor, algo outro, apenas forma, forma de manifestação autônoma. O preço pode estar abaixo ou acima do valor real da mercadoria singular. Preço é ideal; valor, material. Valor é um nada que, apesar disso, é tudo. Valor é o maligno espírito santo que permeia todas as coisas produzidas pelo homem, o Mamón oculto, o demônio bíblico do dinheiro. O valor determina nossas vidas e pensamentos, mesmo que nada saibamos de sua existência. Marx diz: “(…) o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do valor.” (Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58; grifo meu). Ou seja, o valor está “contido na mercadoria”, mais do que algo apenas relacional, também substancial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TECNOLOGIA MODERNA

 

O marxismo parou de estudar as novas ciências e tecnologias, permanece vítima do mundo acadêmico e da especialização. Talvez, criemos certa máquina de produzir novos compostos químicos, o que revolucionaria tudo – mas disso nada sabemos. A química tem vasto uso industrial; nesse sentido, de modo inconsciente, uma ciência socialista por excelência.

As máquinas estão substituindo de vez o homem na produção – seja por imitação da mão humana, seja pela imitação de seu cérebro e sensibilidade (programas, robótica). Em muitos aspectos, a máquina nos supera. O tempo do tempo livre está por chegar, mas ele se manifesta hoje como desemprego desesperador. A culpa, claro, nunca é dos físicos e engenheiros. Se há certa culpa dos cientistas e técnicos é o fato de que os produtos estão sendo fragilizados, feitos para quebrarem, o que gera lixo maior, mais consumir a natureza, lucro acrescido e consumidores insatisfeitos. O socialismo acabará com essa palhaçada que nos leva à extinção.

Programas como o ChatGPT são capazes de fazer música – ainda não muito bem –, matérias de jornais etc. É um recurso útil e inevitável em certo sentido. O desemprego crônico e a precarização é um tendência inevitável sob o capital.

A verdade também está sob risco. Vídeos perfeitos poderão ser produzidos, com voz correta, com pessoas fazendo atrocidades que não cometeram em verdade. Mas a tecnologia não é a causa única, polo substancialista, pois se estivéssemos numa sociedade organizada e socialista, sem grandes lutas de classes, tais meios não teriam base relacionalista para degenerarem em falsificação criminosa ou caluniadora.

O mais notável são os computadores e supercomputadores, incluso a emergente hipercomputação quântica, que permitem – finalmente! – o planejamento geral, central, técnico e democrático da produção, da distribuição e da economia.

Atrapalham, no entanto, o desenvolvimento técnico o controle privado de patentes, o segredo industrial e os monopólios e oligopólios. A solução, evidente, não é propriedade em si estatal, mas social, o Estado e as empresas controladas pelos trabalhadores e pelo povo.

Há uma tendência efetiva em investir em ciência aplicada, para fins lucrativos, contra a ciência de base, que estagnou em certo sentido. Isso prepara a queda da burguesia ao criar as bases para o revolucionamento total da sociedade.

 

EDUCAÇÃO

 

Os professores foram capaz de tornar o estudo da realidade algo tedioso, insuportável, angustiante. A educação científica da humanidade é deplorável, e o capital tem cada vez menos necessidade de gente com alta especialização (as coisas ganham cognição).

Como tudo é contraditório, a internet permite uma educação superior. Posso dizer que ela mudou minha vida, permitindo-me ter cultura para escrever livros como este. De modo que parte do currículo pode ser cumprido com a autoeducação, via canais de vídeos etc.

Porém o QI tende a cair por causa do pouco movimento e da pouca vivência prática das novas gerações, vidradas na tela de celular desde o nascimento. Não é exagero dizer que estamos destruindo o cérebro das novas gerações, e não teremos o direito de reclamar depois. Alguns infantes apresentam sinais de autismo sem serem geneticamente autistas.

Apenas países dominantes investem na educação – e olhe lá! –, pois precisam de especialistas na concorrência global de empresas. Os EUA têm um povo, no geral, inculto, bom para controlar a classe trabalhadora; mas atrai para si os melhores cérebros, que surgem com dificuldade ambiental em todo o mundo.

A educação não muda o mundo; por isso temos, no meio da crise econômica brasileira, engenheiros dirigindo taxi uber. É a economia, estupido! Apena s o socialismo é capaz de garantir a humanidade intelectualizada, ativa e senhora de si – reforçando o indivíduo e seus talentos.

Temos uma educação do século 19 na era do conhecimento subatômico. Deve-se garantir a internet como meio prazeroso de aprendizado e paixão científica. Professores excepcionais, por didática e personalidade, precisam dispor cursos e aulas completos sobre temas de suas especialidades.

Logo teremos óculos que permitirão entrar no mundo paralelo virtual ou, melhor, ou melhor, ampliar a nossa realidade. Isso permitirá, por exemplo, “ver” a célula em tamanho amplo, seu funcionamento, suas partes e explicações. Mas isso depende, em grande medida, de construirmos uma sociedade justa, que necessite de um povo culto.

 

 

 

 

 

 

O TERRAPLANISMO

 

Todos nós somos carentes, desejosos de atenção, tarados por agrupamento; quem sabe, sonhamos fama. De repente, não mais que de repente, o indivíduo instável e em crise que defende supostas hipóteses absurdas – Terra plana, Terra jovem, cura quântica etc. – ganha: um coletivo para chamar de seu, espaço na internet, olhares e, se der um pouco de sorte, será entrevistado num daqueles programas de entrevista pela madrugada, por aonde passam pessoas importantes. Sua vida passar a ter sentido, na aparência – nem pensar largar sua “verdade”.

Gente genial morreu ou sofreu repressão por defender que a Terra é redonda, que o Sol está no centro, que há outros mundos com outros seres, que Deus nada mais é que a natureza  etc. A verdade liberta. Mas opositores crônicos, uma deformação mental, querem se destacar contrariando a realidade comprovada. Cada vez mais, precisam usar malabarismos para as suas “hipóteses”.

Ciência é algo difícil, tanto mais para gente religiosa. Para tentar conciliar razão e fé, alguns psicólogos de baixa formação – e ser erudito é necessário – apelam para o místico Jung. Uma parte grande do povo compra tais besteiras, como caso da fama da acupuntura.

Cada área da ciência costuma ter seu terraplanismo. Na história, temos dois centrais: 1) o nazismo era de esquerda; 2) o estalinismo não era uma ditadura contra o povo, sequer assassina dos revolucionários. Quase-marxistas caem na segunda onda, insistindo que isso seria igualar nazismo e socialismo. Não: o regime de Estado – não a economia, as relações de produção, certas superestruturas e não o Estado mesmo – são parecidos, semelhantes (ambos aliás, buscavam derrotar o movimento operário com força bruta). A categoria de totalitarismo é correta do ponto de vista das categorias de forma e de aparência, certas até certo ponto. Os dois regimes eram inimigos ditatoriais da humanidade. O estalinismo é um tipo de terraplanismo.

  As correntes negacionistas procuram manter de pé a religião contra as avançadas concepções científica, que são, em geral, históricas (para ales, os dinossauros não existiram há milhões de anos). Portanto, enquanto a religião for uma necessidade viciante, o problema existirá, aqui e ali. Apenas o socialismo, ao mudar e melhorar a realidade, porá fim aos delírios compartilhados. Muitos homens do povo pensam que a Terra é plana – bastaria ver! – sem assistir quer qualquer vídeo dos militantes da “causa”. Se dizemos a verdade, que ele é redonda, suas consciências sentem um sentimento de absurdo.

Muitas verdades científicas devem ainda se tornar populares, mesmo que com alguma deformação. É possível uma humanidade erudita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RELIGIÃO E ATEÍSMO

 

FÉ E RAZÃO

Além da oposição emoção-razão, há entre fé e razão. Os mais moderados dizem que ambos são necessários e complementares, portanto ambos devem ser preservados. Isso é dialética kantista, resolvida pelo diacrônico (A=A e… não-A). A ideia absurda de que há uma região do cérebro responsável, logo estrutural, pela religiosidade é um erro científico de principiante. Ou melhor, no máximo, a mesma região serve para cada oposto, pois o que o aparelho psíquico busca é compreender a realidade, certa garantia da previsibilidade de um futuro bom etc. A religiosidade foi uma das primeiras ferramentas, por isso a mais frágil. Porque não tinham meios melhores, os antigos usaram a religião. Depois, vieram a filosofia e a ciência maduras, além da arte desenvolvida. No socialismo, ao poucos, sem imposições, as novas gerações serão cada vez mais ateias, cientificas e filosóficas céticas ao admirarem o cosmos. A alta qualidade de vida permitirá isso; um país com maior pobreza material e espiritual tem mais religião e fanatismo; outro país mais agradável tem mais ateísmo e menos fanáticos. Há, portanto, uma evolução, uma progressão, da religiosidade para o sentimento filosófico futuro. Um passa para seu oposto. Se temos certo aumento da religião onde há mais sofrimento por causa das guerras etc., temos, por outro, a nova geração que “acredita em tudo” como ciência, astros, energia, Deus etc. Tal bifurcação subjetiva expressa uma realidade bifurcada, com duas possibilidades, socialismo ou barbárie. No mais, o novo e amplo ateísmo deve se livrar de seu perfil de seita sectária, próprio de movimentos em seus inícios, e focar, como orienta Trotsky, na divulgação científica popular (jornais, panfletos etc.), na formação de clubes, na defesa das pautas sociais etc. Curioso que muitos jovens ateus procurem Nietzsche, um anticientífico, pai do irracionalismo atual, quando deveriam assumir a responsabilidade de ligar-se a Marx, o revolucionário ateu e científico.

A história da filosofia é, até e ainda agora, a história da luta filosófica contra o necessário ateísmo, tentar afirmar racional o que é irracional. Tentou-se em vão provar a existência de Deus. Mas o tempo de um ateísmo sereno está por chegar.

 

NEOATEÍSMO

O ateísmo é uma concepção antiga, mas imensamente marginal – imensamente, mesmo. Alguns filósofos antigos eram ateus. Hoje, membros da nova geração adotam tal postura, logo isso deve ser explicado. As razões são: 1) desenvolvimento da economia, o que oferece ouros prazeres como TV, séries, alimentos baratos etc. 2) alta urbanização, o que diminui o controle sobre o indivíduo; 3) alto desenvolvimento da técnica e da ciência, oferecendo alternativas e respostas; 4) governos democráticos, sem maior controle; 5) onda permanente de escândalos religiosos, como pedofilia e pastores ricos; 6) nível cultural médio maior das novas gerações. Assim, os novos ateus podem surgir em muitos países, em especial nos desenvolvidos e nos de cultura ocidental. Seus ares de seitas ocorrem por ser um movimento em seu início, que deve aprender a baixar a guarda dos seus adversários para ganhá-los aos poucos, pelas beiradas. De qualquer modo, o futuro do ateísmo depende do futuro da economia, do resultado da luta das classes. Uma sociedade de decadência não resolvida tende ao fanatismo religioso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AXIOMAS FORMAIS

 

A dialética não trabalha com axiomas iniciais. Ou melhor: coloca-os sob constante crítica e atualização desde o estudo do objeto concreto. A lógica formal deu-nos axiomas formais, que soam óbvios aos presos ao mundo sensível, ao cotidiano aparencial:

 

1) Tudo necessariamente tem de existir/ser real/ser verdadeiro.

2) Algo não pode existir e não existir ao mesmo tempo.

3) Nada pode acontecer sem motivo ou causa, do nada.

4) Nada pode ser criado a partir do nada.

5) Uma coisa só pode ser ela mesma – ela não pode ser outra coisa nem outra coisa pode ser ela.

6) Uma coisa não pode ser ela e seu oposto/negação ao mesmo tempo.

7) Uma coisa não pode ser ela mesma e outra coisa diferente dela ao mesmo tempo.

 

Foca-se na coisa, no algo; não na realidade complexa que é foco do científico.

 

De 1, sabemos que as coisas mudam-se, transformam-se etc. Até a verdade muda.

De 2,  temos o caso do socialismo que existe e não existe ao mesmo tempo dentro do capitalismo. A arte é e não é, ficção real.

De 3, o universo veio do nada. Há acasos, que são o mesmo que causa de fundo. Acima da causalidade há a interação ao mesmo tempo.

De 4, de novo, o universo veio do nada ou, o que é mesmo, o universo era tão simples e abstrato como o nada.

De 5, o mesmo conteúdo pode ter diferentes formas – e diferentes formas, diferentes conteúdos. O capitalismo já é socialismo, embora não seja. A partícula quântica põe-se numa sobreposição de onda e partícula. Uma partícula pode ser partícula, mas internamente formada por ondas.

De 6, A religião é algo positivo, ajuda a respirar, e negativo, aliena.

De 7, já demonstramos nos exemplos anteriores.

 

Nossa lógica mais diacrônica relativa à de Hegel ajuda a afirma a lógica formal de Aristóteles. Certo: x ou não-x, mas um pode ir para o outro. Ainda assim, a dialética está aí porque x pode ir para não-x ainda sendo x.

O IDEALISMO DE LUKÁCS

 

Para este capítulo, devo reforçar: sou lukacsiano; crítico, mas ainda. Sem as 3 leis do Ser social descobertos por ele, em sua ontologia, eu nunca teria generalizado para as 3 leis de todo o Ser, a partir do não social inorgânico. Portanto, ele é meu mestre, sou parte da tradição iniciada por Lukács.

Para deixar cristalino o argumento, apresentarei de modo direto:

 

1.  A teleologia como primeiro motor

No fundo, ele é um aristotélico (na arte etc.) moderno. Demonstramos mais de uma vez que é a realidade e suas mudanças causais que forçam a teleologia. O mundo é o primeiro motor móvel.

2.  Teleologia apenas subjetiva

Se o leitor leu página a página até aqui, demonstramos que a teleologia é, também, objetiva, produto de relações causais, diversificação etc.

3.  Valorização correta, mas unilateral, da razão

Ele abraça para si o racionalismo, neste sentido, dos iluministas e, claro, de Aristóteles. Ele foi firme e forte contra a calúnia contra a razão da parte da Escola de Frankfurt, filha dos destruidores da razão (Nietzsche etc.) “emocionais”. Mas caiu no erro oposto e extremo.

4.  “Abstrações razoáveis”

Como demonstrou Chasin, palavras que repetimos, Lukács propõe como método o sujeito escolher, desde a aparência ao menos, como dividir o objeto total concreto, ou  seja, fazer as abstrações. Ao contrário, sem escolhas prévias, o pesquisador deve, antes, descobrir quais são as divisões e abstrações internas do objeto de estudo – não apelar ao, antecipador arbitrário, razoável abstração.

5.  O método de Marx como conteúdo da verdade

Lessa, um dos principais seguidores da tradição, diz, ao contrário, que o método – o idealismo, gnosiolismo – não é o critério da verdade. O critério da realidade é a própria realidade. Pode-se chegar a níveis de verdade ou níveis de erro por diferentes métodos.

6.  Valoração como subjetivo

Para Lukács, o homem primitivo começou a valorar como se fosse algo subjetivo, de todo humano, de todo ideal. O valor, ao contrário, é, antes, algo objetivo substancial-relacional.

7.  Real (ontológico) como probabilístico para salvar a idealidade

Um erro de perfil, o idealismo, por ter força e acertar certos tiros, alvos. Mas ver o mundo como probabilístico, não necessário, trata-se de uma limitação nossa, não da realidade em si. Termos opções, mesmo que uma alternativa seja de 2%, ainda é, na prática, nada (a probabilidade não é zero, mas é impossível, como demonstra a matemática).

8.  Crítica subjetiva da burocracia

Na crítica contra a ditadura “vermelha”, ele foca na política, traindo seu próprio método, marxista, de forcar no trabalho. Assim, ele ergue moral e a ética como problemas reais (Como Aristóteles na decadência grega) não lastreados na produção e na reprodução.

9.  Foco no lado subjetivo da alienação

No fim de seu manuscrito, Ontologia, quando a letra começa a falhar, ele foca na subjetividade, não na objetividade ampla da alienação, como a personalidade etc. No mais, era um esboço.

10.            Foco na idealidade

Focou no ideal, no subjetivo, na ideologia, ou seja, o mesmo, na superestrutura subjetiva. Deveria começar pela objetividade, ou seja, explicar, antes, seu mundo, atualizar a teoria, tal como fizemos aqui.

11.            Baixo uso da empiria, foco no método ensaístico

O foco no empírico, primeiro, ou o foco no raciocínio, central, divide o marxismo.

12.            Quer normalizar e normatizar idealmente a arte.

A questão é a realidade que produz a arte, a ontologia. Além disso, neste tema, mais uma vez aproxima-se de Aristóteles.

1.       Trabalho humano apenas

Separa o homem da natureza como fazem os idealistas como trabalho ideal, subjetivo e subordinado à teleologia subjetiva do trabalho. Curioso que na Bíblia a humanidade inicia quando Deus manda o homem viver do suor de seu trabalho. Já Engels considerou, de modo instintivo, embora não tenha desenvolvido, o trabalho como categoria geral abstrata e real nas três modalidades do Ser – inorgânico, biológico e social. Lukács considera apenas o trabalho humano, o que, no fundo, idealiza.

14. História como resultado do conjunto de teleologias subjetivas individuais humanas

Desde aí, fica mais claro o idealismo lukacsiano. Em primeiro: o todo, a totalidade, tem propriedades próprias e, também, influencia suas partes, que passam a ser relativamente determinadas por aquele “maior” e “envolvente”. Em segundo: na ação humana total, a realidade humana ganha autonomia relativo aos homens atomizados e em conflito, então, surgem leis não decididas por ninguém, que determinam o pensamento e a ação humanos – o mundo das coisas rege o mundo dos homens, alienação. A história ocorre, em parte, como se por detrás dos próprios homens, até que eles, estes, ganhem mais poder de decidir seus próprios destinos, ou seja, alguma dose materialista de idealismo.

15. Peso enorme da reificação

Seus seguidores e até detratores (Adorno etc.) focaram em tal categoria. A descoberta de fetichismo por Marx – relações sociais aparecerem como relações entre coisas – levou Lukács a pensar a reificação, a coisificação, mas de modo subjetivista, mas pesou a mão em demasia em tal eixo subjetivo. Ele nunca foi capaz de se afastar de todo de sua obra de juventude, com marcas idealistas, História e consciência de classe, apesar de a subjetividade ser um certo mistério à tradição marxista, uma falha parcial e hoje quase superada.

16.Objetificação e exteriorização

São categorias centrais para o húngaro. Ora, demonstramos em outro momento, também há a subjetivação, ou seja, subjetivação da objetividade e interiorização. Aláis, eles são anteriores e primeiros, no duplo sentido, no sentido ontológico, além de condições daqueles.

17. A personalidade como efeito subjetivo

O húngaro dirá que a personalidade é o conjuto de perguntas e respostas que o indivíduo sujeito é capaz, faz e responde durante durante sua vida. Belo, mas errado: apenas com aspectos parciais de acerto. Isso é idealismo, enquanto materialismo é isto: como e quando o homem age, sente e reage às situações postas ao longo da sua vida. O problema de alguns marxistas é que, quando passam a tratar da mentalidade, tornam-se idealistas. Para ele, o pensamento, no lugar da objetividade externa, seria como um primeiro motor da personalidade, não o segundo, embora não diga isso de modo claro.

18.A negação do nada

Como Aristóteles, para ele apenas vai-se de ser em ser, de ente em ente. Mas isso é dar ajuda ao idealismo religioso como seu deus necessário para a origem de tudo. Como surgiu tudo? Na totalidade, não nas partes e singularidades, o nada infinito e caótico “implodiu” no inverso, o ser finito e com leis. É a única resposta materal e idealmente possível.

 

Podemos ter acentuado ou exagerado alguns pontos, mas apenas para deixar claro e limpo o diagnóstico. A caracterização, assim, se sustenta. Ele se preencheu de materialismo, mas caiu no idealismo. Veja-se que é graças a ele o fato de termos, hoje, muito maior clareza do método materialista de Marx, por exemplo. Era um gênio, mas era-lhe impossível ir mais longe.

Um do seus erros, que lhe levou ao idealismo inconsciente, foi deixar de ver a totalidade. Estudar apenas a parte (complexo) de um todo pode levar a muito acertos assim como a muitos erros; certamente, a muitos limites. Após escrever o primeiro livro, de três, de sua Estética; viu-se obrigado a pensar a ética, mas, antes, percebeu a necessidade de uma ontologia do ser social. Em primeiro lugar, Lukács buscou apenas os primeiros passos de tal Ontologia (um PARA a ontologia do ser social); em segundo, deixou de ver a totalidade, ou seja, a ontologia (metafísica) total de todo o Ser, de toda a realidade. Só indo à totalidade chegariam ao íntimo do mundo e das partes. Ademais, sem o querer, estimulou a ideia de historicismo absoluto – não apenas relativo – do marxismo, que esquece a estrutura e seu peso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A DIALÉTICA NOS MARXISMOS

 

O marxismo é a teoria que permite ver as demais teorias – mais ampla, profunda e acima. No entanto, nossa tradição algo que separou a lógica de Hegel de seu caráter de ontologia, de metafísica. Sua lógica é a lógica objetiva, do próprio mundo; mas deve ser atualizável. Ainda assim, pomos atualizações parciais, até esta obra, na grande sistemática dialética. Vejamos.

 

Lenin

Lenin foi um gênio. Dele temos a resposta mais correta sobre o imperialismo de seu tempo e a teoria do partido. Mas os fanáticos teatralmente leninistas querem fazer dele a fonte de tudo; assim, teria uma grande contribuição para a dialética. De seus manuscritos pessoais, tiraram a teoria do reflexo, suposta teoria. Ele era um dialético nato, ainda mais após ler Hegel; mas nenhuma grande contribuição tem sobre o assunto – o que de modo algum algo o diminui.

A primeira visão do reflexo é pensar seu uso como a mera descrição metódica, presa à aparência. Mas a coisa toda pode ser melhor: o reflexo é o igual, mas inverso daquilo refletido. A realidade se apresenta como diversa – a teoria vê sua unidade; observa-se o externo – apenas  para ver, então, o interno oculto; têm-se a aparência – cuja riqueza dá as pistas necessárias para quase ver a essência. E assim por diante. Mas seria mais correto afirmar que uma categoria é para nós e a outra, oculta, apresenta-se como para si: por exemplo; a diversidade é, em real, para nós, algo mental, enquanto a realidade tem unidade para si, que deve ser descoberta. Não nega Lenin, embora seja seu oposto e mais de acordo com o fazer científico dialético. A dialética é a lógica apaixonada.

 

Trotsky

Quase toda a sua teoria – revolução permanente, programa de transição etc. – deriva da lei do desenvolvimento desigual e combinado, sua descoberta. Mas seus seguidores focam no “desigual e combinado”, não no desenvolvimento. Ele abriu a janela para a renovação da dialética tal como expomos neste livro – embora não a tenha atravessado ou olhado para fora. Em resumo, os elementos de uma totalidade, suas partes, desenvolvem-se de modo desigual, uns mais que os outros; e isso produz uma combinação tantas vezes explosiva, contradição. Assim, o atrasado tem uma vantagem relativa, porém relativa, no seu desenvolvimento – e é mais fácil saltar exato por ser muito contraditório.

De modo inconsciente, ele pensou a contradição entre o todo e as partes, como a resistência à maior integração. Diz disso como contradição entre o mercado-produção mundial ainda com importantes fronteiras nacionais resistentes.

A amizade de Marx e Engels foi o maior da história do pensamento. A de Lenin e Trotsky, a maior da história das revoluções. Ambos são grandes dialéticos.

 

CRÍTICA À DIALÉTICA DE LUKÁCS

Exceção desta obra, quem mais contribuiu para a dialética foi o húngaro. Teremos de ir de contribuição a contribuição, no máximo deixando escapar algo.

Contínuo e descontínuo – negação da negação. Para ele, a essência (contínuo) se mantém na mudança (descontinuidade). O DNA permanece o mesmo nas mudanças da vida, da planta etc. Com isso, critica Engels por usar a negação da negação, que seria um erro de tipo hegeliano… Ora, o próprio Marx usa tal eixo no final da obra O Capital I, o que demonstra sua validade. A questão toda é que negar o negativo é algo mais social enquanto tese-antítese-síntese é mais biológico; e posto (que põe o seu)-oposto-composto é mais próprio do inorgânico. Daí a confusão.

Reflexão. No Livro I da Lógica, Hegel diz que uma categoria passa para outra, por exemplo, a qualidade passa para a quantidade; no livro II, as categorias são, diferentes, reflexivas, ou seja, pensar a causa já é pensar a consequência, como no espelho. O que diz Lukács? Que as categorias do livro I também deveriam ser reflexivas – pensar qualidade é pensar quantidade em reflexo. Ora; concordamos, mas, também ao contrário, coloco os movimentos de passagem de uma categoria para outra do livro I no livro II, ou seja, algo mais rico, as obras misturando-se em seus perfis.

Causa e acaso são o mesmo. Acaso é (vem de) uma causa, mas acidental. Lukács diz que a relação das partes de um todo, relação causal, interação, aparece como algo regular, com regularidades; porém, vez ou outra as partes se relacionam de modo incomum, inesperado, ou seja, acaso. Born afirmar diferente, mas serve de complementar: o que é acaso num nível, tem causa muito clara num outro nível mais amplo.

A teleologia (subjetiva) usa a causalidade. Ora, mas o cérebro produz sua teleologia de modo causal, por seus movimentos internos (e externos). Se deixamos de ver apenas o artesão  e observamos o mundo: as relações causais geram uma teleologia inconsciente e objetiva, tendencial. A causalidade da biologia, que produz diversificação, produz também seres relativamente mais capazes.

Há centralidade do objeto. Isso está certo; porém, por exemplo, para complementar de modo posterior as provas empíricas e ontológicas, pode-se fazer uso de recursos gnosiológicos e lógicos. Além disso, o homem é objeto para si mesmo.

Nada vem do nada. Mas o ente era nada antes de ser ente, pois a pessoa não é nada antes de nascer ou algo próximo (só sua matéria permanece). Além disso, o cosmos apenas pode vir do nada inicial, o ser como se nada.

O complexo, certa realidade, é um complexo de complexos. Isso é fato, contanto haja hierarquia entre as complexidades. Por outro lado, pode-se chegar ao mais simples, de fato simples.

A realidade é probabilística, não determinística. Para ele, Hegel cede a Spinosa ao considerar que o que pode acontecer (de fato) vai acontecer. As outras possibilidades que não aconteceram seriam apenas possibilidades formais, não reais. Em sua crítica, diz que a realidade tem opções, probabilidades, alternativas. Resolvo isso de vários modos e juntos: ocorre uma combinação das possibilidades diversas, o “o que” é determinístico enquanto o “o como” está em jogo.

O particular tem grande peso por ser a unidade do singular e do geral, meio-termo. Isso levou à loucura de seus seguidores que fazem de tal categoria algo imenso. O Geral tem, sim, sua prioridade, seu desafio de perceber, de ser percebido.

 

Piaget

Esse grande psicólogo descobre que o novo surge da fusão de diferentes (dois átomos de hidrogênio etc.) ou da fusão (combinação) de dois ou mais sistemas.

Também descobriu a dialética da probabilidade crescente, fusão de possibilidade e necessidade (lei).

No mais, pensou, entre outros, dois tipos de pensamento: o que se acomoda à realidade, adapta seu pensamento à sua natureza – ou a que adapta a (a visão da) realidade aos modelos prévios mentais, suas estruturas. Claro, o marxismo prioriza o primeiro; adota o segundo de modo crítico, critica os conceitos na pesquisa etc.

 

Mao

Para justificar sua política reformista, porque não queria o socialismo na China, desenvolveu má dialética: contradição central e, por outro lado, não central. Na verdade, há combinação de contradições – mas o chinês recusou-se a ver isso. Usou da manobra teórica para justificar sua posição. Como o militante estalinista não pensa em geral, adotou tal “lógica” como sua.

 

Althusser

Seguidor de Mao, comete o mesmo erro. Vai além: para ele, a crise do sistema aumenta a aleatoriedade ao máximo – ou seja, há vários destinos finais possíveis. Na verdade, por dureza das condições, a aleatoriedade diminui, menor liberdade conjuntural relativo à necessidade, seu oposto. Basta ver o xadrez: pode ter vários movimentos e até movimentos finais, mas apenas três resultados são possíveis, um ou outro vencedor, ou nenhum ganhar.

Negou a dialética e sua historicidade radical por meio do estruturalismo, ver apenas a estrutura sem real processo.

 

CRÍTICA À DIALÉTICA DE ADORNO

O principal nome da chamada escola de Frankfurt, Adorno pode ser nomeado marxista apenas se ampliamos muito o conceito, a escola. Ele tentou associar a tradição desde Hegel, o marxismo em principal (a crítica social), e, oposto, a tradição desde Kant, que desaguou nos irracionalismos. Sua crítica, e seus erros, à dialética de Hegel são:

 

1.  O todo é o falso

Tal afirmação não tem base nenhuma na ciência moderna. É óbvio que a totalidade tem qualidades ausentes nas partes, logo ela tem verdade. Embora as partes importem, a relação das partes transcende cada individualidade, e, mesmo com determinação recíproca, existe hierarquia.

2.  Totalidade é totalitarismo

Crítica tacanha, baseada apenas na proximidade das palavras. O socialismo, por exemplo, será um organismo sistemático de radical democracia – ver-se pela organização, contra o caos capitalista do cada um por si. Como a totalidade é autocontraditória, escapa a si mesma!

3.  O verdadeiro é a contradição

Há verdade enorme aí, mas unilateral. A verdade de fato é o que chamo de tríade una – tríade, mas una: totalidade, contradição e movimento. Um tripé indissociável, necessário.

Veja-se que ele comete o erro que condenará em seus textos: afirma, do todo, que “isto é aquilo” trata-se de, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso, pois não está na totalidade. Ora, quando ele diz “o todo é o falso” ou “o verdadeiro está na contradição”, cai em parcialidade, em visão unilateral.

4.  A dialética negativa não faz a conciliação final hegeliana, a identidade final dos opostos

Além do fato de Hegel não encerrar o movimento na conciliação, temos aí uma contribuição boa, mas unilateral. Confundir forma e conteúdo, ao forçar a identidade de ambos, pode levar a erros científicos, por exemplo: tanto no socialismo, provável, quanto no capitalismo haverá a forma “meio de pagamento”, mas com conteúdo de todo diferente; sob o último, tal forma inclui relações de e substância valore a presença do capital – no outro, não. Se olhássemos apenas a forma igual, sem pesquisar por si a DIFERENÇA de conteúdo, a DIFERENÇA entre forma e conteúdo, nada teríamos além de confusão.

Mas seu avanço acaba aí. O momento negativamente dialético deve dar lugar ao positivamente dialético, quando o objeto não colapsa, claro. A contradição não é estática e eterna – ela se resolve. Os conceitos mais elevados encontram, de fato, como Hegel demonstrou, uma unidade íntima, uma identidade. Hegel é o pensador da mesmidade na permanência da diferença – não abarca somente o mesmo. No mais, deduzir a unidade do diverso e diferente é uma das tarefas mais difíceis do pensamento universal.

5.  A dialética não nega uma teoria ou tese – desenvolve-as até as extrapolar por dentro de si mesmas

Genial, mas parcial e unilateral – também. Tal método é efetivo e válido; incluso, defendo-o. Mas, de fato, partindo mesmo da empiria, do real, podem surgir duas teorias parciais e unilaterais corretas e erradas ao mesmo tempo. Por quê? O pensamento se divide em dois porque a realidade também está dividida. Materialismo no idealismo! Cabe ao cientista encontrar a unidade em movimento, a verdade que tem a forma de devir e de passar.

6.  Deve-se valorizar o sujeito no processo de pesquisa, diante do objeto

De fato, porém o objeto é começo e o centro efetivo: antes, colher dados etc.

7.  A razão – no ocidente – levou ao nazismo etc.

Aqui, ele presta homenagem aos irracionalistas. Seu erro é este: a barbárie da civilização não se deu pela razão hipervalorizada, contra a emoção (dionístico), mas porque o capitalismo é objetivamente – não e não apenas subjetivamente – irracional, incontrolável e cego. Contra isso: economia planejada e democrática já! Materialismo, Adorno, materialismo!

8.  A busca da identidade lógica levou ao holocausto

Para ganhar prestígio, basta incluir feitos nazistas… O pensamento é este: a busca da identidade, ou seja, apenas raça ariana, matou os judeus que representavam a diferença, o diferente. Ora: a diferença e a identidade são o mesmo e uma unidade: judeus e “arianos” são iguais na diferença! Isso é o básico para quem pensa de modo dialético.

9.  Algo escapa a totalidade, contra ela

Ser dialético é ver que do processo da totalidade, incluso sua formação nova, produz-se o que chamo colateral. No resumo, tríade-colateral. A burguesia é fruto do feudalismo, por exemplo. No mais, a totalidade é autocontraditória – repetimos: contraditória consigo, nega-se – como organicidade, desenvolve-se e passa-se para outro.

10.            A ontologia é negativa

A política será dissolvida, também o Estado, também as classes etc. Ora, isso é ver por apenas um ângulo: o velho já nasce novo, ou seja, há, ao mesmo tempo, junto, ontologia positiva, construtiva, suprassunção. Por exemplo: uma associação geral dos cidadãos reais, efetivos, surgirá – acima das precárias atuais. Em processos dialéticos, criar é destruir – destruir é criar: historicidade significa isso, na impermanência do que permanece, o que permanece na impermanência.

11.            A dialética de Hegel é fechada – a de adorno, aberta

Há aí – dialeticamente! – o terceiro excluído, incluído: a dialética marxista, definitiva, revela-se nem absoluta nem relativa, mas relativamente relativa, ou seja, apenas relativamente aberta. Chega-se, como desenvolvemos neste livro inteiro, à verdade estável e ampla o bastante, além de ser de base ou fundamento, mas que pode ser ampliada aqui e ali, corrigida, adaptada ou, ou seja, atualizada.

 

Adorno foi, em quase tudo, inferior a Lukács. Contra este, aquele foi apenas reativo em muitos casos. Seu método era, também, o seguinte: o que Lukács afirmasse, ele afirmaria algo contrário ou diverso; assim, manter-se-ia no sucesso do cenário intelectual, teria audiência com um adversário permanente de alto nível. A filosofia radical dividiu-se, o que esta obra busca reunificar. Digamos ao túmulo de Adorno: se o socialismo é possível e necessário, seu pessimismo, embora tenha seu charme, de nada ajuda.

 

 

As atualizações citadas e criticadas deram-se por dentro de um limite de paradigma, que deve ser guardado e superado ao mesmo tempo.

 

CATEGORIAS E SISTEMA

 

Lukács firmou: não temos, em Marx, um sistema de categorias fixas dentro das quais a história se desenrola – mas as categorias, e o sistema, mudam, são históricas, a própria história, e o sistema é movido e movente em si mesmo. Veja-se: as categorias não são, em primeiro, ideais, são reais, na própria realidade, assim como o sistema. Isso tudo é genial, e merece alguns comentários.

Primeiro. As categorias concretas são, por assim dizer, duplicadas – o abstrato e o concreto – ainda em completa unidade e identidade. Temos a categoria geral de trabalho – e o trabalho primitivo, o escravo, o servil, o assalariado e o associado. O geral e o particular.

Segundo. Além de ganhar concretude, na duplicação, o concreto ou realiza-se ou tenta avançar para seu próprio conceito, para o abstrato – no capitalismo, temos de fato, enfim, trabalho geral, abstrato, indiferenciado, puro conceito de trabalho.

Terceiro. As categorias morrem – como possivelmente a categoria de trabalho, cava sua própria cova em seu desenvolvimento. Se têm história, as categorias em geral, têm fim – no concreto ou no abstrato.

Quarto. As categorias mudam. Temos “elétrons” e neutrinos de: elétron, múon e tau.

Quinto. As categorias podem ganhar outro significado e natureza pelo contexto (estrutura) e pelo seu mudar. Tornam-se outras categorias.

Sexto. As categoria do sistema mudam-se de modo desigual e combinado.

Sétimo. Na formação e desenvolvimento de sistemas, as categorias – ou a categoria – produzem novas categorias.

Oitavo. O sistema é potencialmente contraditório e, ao mesmo tempo, unitário interno.

Nono. Costuma haver a categoria central, fundamental.

Décimo. O sistema categorial é aparência-essência; tem categorias de aparência e de essência. No externo, a categoria geral do capitalismo é a mercadoria (mercadoria, força de trabalho, matéria-prima, máquina, terra etc.: todos mercadorias) – mas no interno, o valor.

Décimo primeiro. Há uma categoria geral universal, de base. Por comum, ele se desdobra em outras categorias, funda-os.

Décimo segundo. As categorias, como seus significados, podem ter duplo caráter.

Décimo terceiro. O sistema entra em contradição consigo, da parte com o todo (operariado contra o capitalismo), da parte com o todo como se apenas com outra parte (operariado contra a burguesia – aliás, o operário é mercadoria, mas o burguês não o é).

Décimo quarto. A categoria entra em contradição consigo.

Décimo quinto. Pode, tantas vezes deve, haver contradição entre a diacronia (movimento etc.) e a sincronia (estrutura etc.) do sistema categorial; isso pode se apresentar como contradição entre o lado dinâmico e o lado que deseja ser fixo, permanecer (superestrutura etc.). Entra-se em contradição consigo. Trotsky afirmou a contradição entre as forças produtivas que tenderiam a ser mundiais (a totalidade afirmando-se, a integração das partes afirmando-se) contra a permanência insistente das barreiras nacionais dos estados nacionais (as partes ou superestruturas afirmando-se: impostos de importação, controle de matéria-prima etc.) – eis contradição entre diacronia e sincronia com exemplo da contradição todo-integração e partes.

Décimo sexto. Há, sim, ao contrário do que pensa Lukács, categorias gerais, eternas e fixas – tanto quanto possível, relativamente relativo. Trabalho, produção, troca, consumo, energia, matéria, interconexões etc., além das categorias da dialética (ontologia: substância, qualidade, quantidade etc.), são em permanência e em permanência movida e movente, estão presentes nos mais variados sistemas – inorgânico, biológico e social. Tais categorias abstratas desdobram-se nas suas concretudes particulares.

Décimo sétimo. Kurz demonstrou haver crises categoriais – como a crise da produção do valor com o fim do trabalho manual nas fábricas robotizadas.

Décimo oitavo. Surgem, no real e no ideal, categorias opostas (claro: com interpenetração, unidade e contradição).

Décimo novo. O pensamento deve ser sistemático porque o objeto de estudo é, também, sistemático. Nosso método deve ser o método da própria realidade – assim como é no mundo deve ser no raciocínio. Mas como, de início, não sabemos como é a realidade (mecânica, estrutural, dialética?), nosso começo real é caótico, um tatear no escuro, uma longo andar no labirinto, uma busca desarmada por descobrir sem método prévio como é a realidade, como ela se hierarquiza etc. Numa análise de conjuntura, começamos pela economia, depois os grupos humanos, depois as mentalidades, depois as instituições – fazemos assim não por capricho externo, por escolha, mas porque o mundo social tem tal lógica, que reproduzimos.

Fiz o possível para expor tais ideias bastante abstratas desde as observações comuns de Marx e do marxismo.

Michel Foucault afirmou existir três sistemas de pensamento desde o fim da Idade média: 1) as palavras correspondem às coisas; 2) as palavras são invenções para entender de maneira externa as coisas, o mundo; 3) as palavras estão dentro de um sistema de linguagem, gramatical, aonde ganham sentido. Ele põe Marx no terceiro, aonde há desconfiança da existência de um lado oculto do real. Mas a coisa toda não é bem assim. existem categorias de aparência, para fins práticos, para a ciência tecnicista (todos em 2). Mas busca da verdade é a busca, também, de palavras que correspondam ao mundo (1). Para isso, deve-se pensar em modo de sistema e de querer a verdade essencial (3). As três posições, assim, misturam-se no fazer científico. Um possível exemplo novo: na pressa, nomearam novos fenômenos cósmicos de energia escura e matéria escura – mas minha hipótese é que (ao esfriar, desacelerar, dissolver-se) matéria e luz decaem em espaço (energia escura, mais espaço, repulsão); e buracos negros, além da matéria em si, sugam espaço, gerando tensão espacial, energia-gravidade, ou seja, mais espaço concentrado ou esticado (matéria escura); basta o conceito de espaço, não precisamos criar externamente mais conceitos, e até energia é espaço, nem que seja sua quarta dimensão. O conceito de quarta dimensão seria o fato essencial oculto.

Algumas considerações ainda merecem ser feitas. Além de um sistema vir de outros, Piaget descobre que dois ou mais sistemas podem fundir-se, combinar-se, com ou sem contradição especial. No mais, tirar uma parte-categoria do sistema-totalidade ou pôr um estranho, mesmo que dele mesmo surja, pode colocar o sistema em crise, até em colapso. Introduzir uma espécie invasora pode destruir um ecossistema. A chegada do europeu na América gerou pandemia que quase extinguiu por si os nativos.

A categoria não é mero nome – ela é a coisa e o seu movimento. Isso inclui a reunião de elementos de mesma natureza, suas interelações etc. Aliás, a categoria pode ser dividida internamente em mais categorias, mesmo que apenas o geral-particular-singular. Em outro momento, demonstramos, também, que vamos mais ao fundo, ao chão, em movimento igual e oposto ao de Platão, rumo ao conceito mais geral, abstrato, simples, “primeiro” etc.

De todas as observações, deduzimos a crises sistêmica como crise de totalidade.

Por fim. Um sistema orgânico é formado de premissas concretas, não ideais, opostas – entropia e (mas) energia em busca de mais energia, seleção da espécie e (mas) seleção do meio, apropriação privada e (mas) trabalho social, economia planejada e (mas) democracia direta etc. Um sistema orgânico que resolve sua contradição colapsa, e não apenas no sentido negativo de colapsar.

Em aspectos gerais, temos um “sistema de sistemas” ao modo marxista, dialético.

LINGUAGEM E METAFÍSICA

 

Faremos três breves considerações sobre metafísica materialista, dialética e marxista, e linguagem. A leitura de nossa Psicologia melhorará a compreensão, mas nada limita a leitura direta aqui, neste ponto.

 

1.  Lei geral metafísica e linguagem

Nossa lei é esta: “movimento = energia = tempo = espaço = matéria”. A morfologia, por exemplo, reproduz o real e, por desvio, o correto aristotelismo (substância como substantivo etc.). Mas complementamos: A posição de verbo etc. podem receber noções de energia, tempo, matéria etc.

 

2.  Abstrato e concreto

O substantivo abstrato é uma derivação do concreto (o pensamento exige corpo que o sustente). Nas figuras de linguagem há rica relação de abstrato e concreto, um expressando o outro – a multidão pernas, parte e abstração, correndo expressam os corpos e as pernas, todo concreto; a metáfora ou a ironia tem um concreto texto para um abstrato significado.

 

3.  Desdobrar metafísico

As palavras básicas da linguagem humana falada são não (nada) e sim (ser) – daí nada ser não-ser. São tudo de que precisamos, digamos assim. Isso deriva do trabalho básico e de seu orientar (ensinar etc.) primitivo. São curtos, em muitos sentidos, nas diferentes línguas (yes, not etc.) porque são iniciais e muito usados. Mas dizer sim é também dizer não ao oposto, e vice-versa. Deles, temos: amigo e inimigo, certo e errado, animal e vegetal, móvel e imóvel, claro e escuro, amor (atração) e ódio (repulsão) etc. Mas eles também se misturam, como no “talvez”. A sombra permeia os opostos que se interpenetram. A linguagem expressa a vida que ela expressa, torna-se mais complexa com a sua complexidade maior. Mais liberdade, por exemplo, exigem mais palavras de meio-termo, de transição de instabilidade, de duplo sentido. Logo, surgirá a necessidade de linguagem essencial, por debaixo do aparencial e cotidiano. Tornam-se necessários conceitos, juízos e silogismos. Primeiro, foi preciso pensar a qualidade e, em seguida ou como se isso, desenvolver mais a quantidade, complexificar a contagem etc. Logo virá a necessidade de medir.

 

SOBRE O SUJEITO

 

Com o capitalismo, a individualidade elevou-se. Surgiu, então, a ideia da matéria de sujeito. O homem tomou a sociedade como sua potencial inimiga.

Com Hegel, a Ideia ou Espírito é o sujeito histórico. Uma força que atua como se pelas costas do homem, mas por meio dele.

Marx, primeiro, toma o proletariado como o novo sujeito histórico, após a burguesia. Os trabalhadores tomarão o poder de modo consciente.

Postone descobre que, em O Capital, Marx, inspirado em Hegel, põe o valor ou o valor-capital como sujeito, substância e sujeito. Ora, assim, seríamos meras marionetes de uma força impessoal e incontrolável – e isso é textual na grande obra. Para Eleutério Prado isso seria apenas questão de método de exposição, mas não convence.

Qualquer Trotskista logo percebe que o sujeito torna-se sujeito, antes objetado – de potência para ato. Quanto mais objeto, mais tem o impulso íntimo de ser sujeito.

Como inconsciente, que governa boa parte da personalidade, Freud afeta um tanto a ideia de sujeito. Mas o inconsciente também é mutável desde questões materiais. E, embora sejam dois, consciente e inconsciente são um – o consciente, por exemplo, revela o inconsciente, embora não suas motivações de modo sempre tão direto.

Foucault afirma que devemos dissolver o sujeito… Pura besteira. Mas ele se baseia no estruturalismo. Nesta escola, Althusser diz que o processo todo, a estrutura, é sem sujeito, objetivo, impessoal. Tentam enterrar o humanismo ainda vivo.

A questão toda é esta: o sujeito, no caso, proletariado, passa a ser objetivamente obrigado a ser sujeito. Para sofrer menos, para evitar sofrer ainda mais, tem de deixar de ser mera mercadoria falante, coisa; na crise, para entender o mundo mais difícil, na tentativa de resolver o problema, estará obrigado a elevar sua consciência pessoal e social.

Vai de não sujeito para sujeito – como deve ser, como tende a ser. Porque a estrutura total totalitária não se sustenta em si mesmo, abre-se a brecha para o homem – que deseja humanização.

Sim: somos muito mais indivíduos, singulares e livres do que qualquer outra era da humanidade. Eis a bomba de efeito retardado sob os pés da burguesia.

Que seja obrigado a ser sujeito, o individual e a classe, trata-se de uma questão, mas não muda o fato e o processo.

Na luta por reformar o mundo, o proletariado irá revolucionar tudo, o todo – isso Kurz não entende, talvez por nunca ter dirigido uma greve.

APOLO E DIONISO

 

Friedrich Nietzsche afirmou que a filosofia seguiu a tendência chamada apolínea: a valorização absoluta da razão, da harmonia, do intelecto, da matemática e da discrição. Ele se afirmou, ao contrário, dionisíaco: da festa, do caos, da emoção, da desarmonia etc.

Adorno afirmou que a razão iluminista levou às primeira e segunda guerras mundiais, enfim, ao holocausto nazista. Lukács serve de refutação, pois ele demonstra que, após Hegel, a filosofia tornou-se irracionalista, o que preparou o terreno para o nazismo.

Mas hoje sabemos que, em boa medida, a emoção faz a razão. E a razão também faz a emoção em importante medida.

Claro que podem entrar em oposição e contradição. Mas é uma contradição na unidade interna.

O cérebro animal foi, tendencialmente, evoluído em razão – e em emoção. A evolução da emoção, por si, potencializa a razão. Por isso é tão importante aos cientistas ter educação de suas sensibilidades e educação estética, artística. Melhor sentir é melhor pensar.

Um psicopata é pura razão, por isso faz o que faz; mas ele costuma ser de tipo emburrecido, pois aprende pouco e mal já que a emoção facilita bastante o aprendizado.

Enfim, defendo uma filosofia que idolatre tanto Apolo quanto Dioniso, ainda que ora mais um e ora mais outro. Razão com emoção, dinâmica com ordem, contradição com unidade etc. Nietzsche erra quando escolhe um contra o outro. Lukács, por exemplo, também erra ao hipervalorizar a razão; diz que a intuição pode ser útil, mas hiperleve, porém diz isso de modo negativo. Foi um erro iluminista a hipervalorização unilateral da razão.

Bebamos vinho enquanto resolvemos cálculos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MODAS INTELECTUAIS

 

Uma boa teoria ou um bom paradigma estimula trabalhos produtivos, soluções etc. Uma teoria muito parcial, por outro lado, gera trabalho improdutivo, quase estagnação. Há ainda os modelos que diminuem o trabalho, o esforço, a criatividade.

Bohr impôs à física quântica seu esquema positivista, preso às legalidades matemáticas externas e do fenômeno apenas. Por muito, quem discordasse teria a carreira encerrada desde cedo… Bohm e Einstein puderam fazer resistência, ainda assim muito defensiva, apenas por causa de suas altas considerações e feitos. As lacunas da teoria eram evitadas pela exposição dos acertos e funcionalidades da mesma construção. O positivismo teórico premia a preguiça inútil, sem criatividade.

Sartre teve, por força de moda, de adotar o marxismo, mesmo que do seu jeito – pois, do contrário, não teria muita fama, ficaria isolado. Tentou, então, adaptar o marxismo ao seu mundo pequeno-burguês europeu.

O mesmo fez Althusser – entrou na moda marxista e tentou ver no marxismo seu espelho estruturalista. Quando o estruturalismo começou a sair de moda, também se afastou de tal paradigma para continuar sendo parte do modismo. Outros igualmente abandonaram o barco estrutural por tal motivo.

Os intelectuais acadêmicos são mais afetados pelas palavras, a grande abstração, já que não vivem o mundo duro, concreto. Tendem a não conseguir resistir às modas intelectuais. São mais sensíveis no sentido de instáveis em seu pensamento. Depois que a mosca azul da vaidade os pica, difícil aceitar sair de cena em nome de uma ideia.

A filosofia burguesa do fim do trabalho, fim da classe operária, novos sujeitos etc. Influenciou Kurz a dar linguagem marxista para tais ideias, algo em si sem nenhum grande erro. Afinal, a ideologia do trabalho como centro é de origem burguesa, não operária.

Hoje, a moda é caluniar a psicanálise. Para ganhar moral nos grupos intelectuais, basta levantar a voz, acusar de pseudociência. De um lado, o freudismo é bizarríssimo – mas ser tragável não é critério da verdade. Segundo, o lacanismo transformou a ciência em jogos de palavras, engodo, “filosofia” etc. Terceiro, a teoria está de fato desatualizada – precisamos de uma psicologia marxista, porém que respeite (e supere) seu legado. Quarto, Freud foi mecanicista e fisiologista (biologista). Quinto, a educação intelectual hoje é porca, incapaz de ir à essência tal como Freud foi tanto. Sexto, a família burguesa dissolve-se, a liberdade sexual é maior, o superego alterou-se etc. Sétimo, Freud não entende o mundo social, não entende o marxismo e a totalidade (condicional) do existente. Oitavo, as condições de uma boa teoria surgir podem estar dadas, mas não as condições de sua aceitação plena – um rico não aceita o marxismo, um religioso de fato não aceita o darwinismo, um religioso indiano não aceita o Big Bang desde Einstein, um gay enrustido não aceita o freudismo  e assim por diante, e assim pro diante.  Não basta querer a verdade para ser capaz de aceita-la diante de si.

O marxismo quer ser a teoria dominante; para isso, deve ser dinâmica, aberta, atualizável, polêmica internamente – enfim, útil à humanidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SOBRE TEÓRICOS MARXISTAS

 

Temos um grupo firme, embora minoritário, de intelectuais marxistas nas universidades. Eles são nosso patrimônio, vitórias, pois fazem o debate teórico necessário. Eles preservam e esclarecem elementos de nossa tradição. São úteis e estarão conosco, pelo menos até a dura revolução (quando a maioria recua, descem para a passividade, reclamam dos métodos, não entendem a mediação chamada política etc.). Precisamos também de eruditos amigos do socialismo. Mas, aqui, refiro-me ao teórico militante, ao teórico em si ou propriamente dito. A vida de Marx, Lenin, Trotsky, Lukács, Moreno e Kurz de certo modo (e, em oposição, em contraste, o “marxismo ocidental”, Kautsky, Mandel etc.) dão-nos padrões que ensinam. Vejamos alguns.

 

1.  Deve-se evitar a vida de classe média

Aristóteles afirmou que riqueza demais é degenerativo. Isso tem valor: se nossa sensibilidade hoje, na sociedade ainda dividida, não sente as dores do mundo, como deve, então isso afetará a mente, o raciocínio, a criatividade etc. Não somos imunes a isso. No entanto, mais fácil quando um burguês, Engels, faz o caminho inverso, tornar-se um rico socialista. Ouvi um dirigente do partido mundial da LIT afirmar: todos os militantes que mandamos para a Europa se perderam. Isso tem muita verdade e causa: nossa consciência socialista formou-se na difícil América Latina, enquanto na Europa vive-se bem melhor… Um Militante do Brasil deve militar por algum tempo na Bolívia, não na Suíça. O único aspecto a ser preservado da classe média é algum tempo livre, até ócio, para pensar e criar (Aristóteles também afirmou que a filosofia teve início quando os senhores escravos puderam se afastar do trabalho nos campos de trabalho). A vida de professor universitário pouco ajuda, atrapalha muito; vide Mandel etc. Grande parte da melhor teoria e arte – as gerais, em especial – se fez fora da academia.

 

2.  Deve-se aprender a fazer análise, caracterização – e política

Tem de saber avaliar a conjuntura e saber propor soluções programáticas, práticas. Sem entender o mundo concreto nada entende do mundo abstrato. Isso exige treino, estudo, convívio, errar e saber depois a causa do erro etc.

 

3.  Deve-se militar no partido revolucionário – mas não o dirigir se não abdica de uma vida de classe média

Aprende-se muito e rápido na militância. Isso educa o espírito para o estresse, para o inesperado, para o risco etc. E ajuda a reconhecer os problemas centrais. Estar no posto dirigente ajuda na formação e na produção teórica – ver-se o todo, a diversidade, convive com quadros de alto nível etc.

 

4.  Deve-se tentar ser polímata, mais que erudito

De um bom conhecimento da história até noções matemáticas de física quântica – conhecimento tão profundo e geral quanto possível. Apenas com visão aproximada do todo real é que conseguimos melhor olhar o todo parcial, social. Unir especialização alta em certo assunto ou área com conhecimento geral não raso, ainda que imperfeito e desigual.

 

5.  Militar por algum tempo em algum – ou alguns – país pobre que não o seu

Devemos ser internacionalistas de corpo e alma, por experiência prática, o que nos educa desde a diversidade de experiências.

 

6.      Deve-se dominar economia, dialética e ciência militar – prioridade

As razões disso são evidentes.

 

Ou seja: uma vida rica, prática, militante, sem rotina, sem tanta repetição, diversa e sem a vida de nevoeiro dos setores aristocráticos. Contra a rotina e contra o cinismo! Precisamos de gente que entenda da arte da guerra e física moderna. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFORMAR OU REVOLUCIONAR A FILOSOFIA?

 

O grande Hegel afirmou que toda filosofia anterior estava morta. Depois, Marx, também ao renovar de modo qualitativo, disse o mesmo sobre o pensamento antecedente.  Stephen Hawking, mais uma vez, declarou seu óbito. Mas a teimosa costuma ressuscitar.

O problema da filosofia moderna e contemporânea está em tentar renovar-se evitando uma ruptura renovadora real. No fundo, evita-se o risco.

A filosofia deveria ter pontos certos, como a inexistência de deuses – mas parte importante de sua história é lutar contra a força oculta do ateísmo em suas consciências. O materialismo deverá ser outro ponto de partida, ainda que considerado insuficiente.  Ademais, o mundo é apenas um que se duplica – dualista externo, mas monista interno. É óbvio, também, que a realidade existe apesar e antes de nossa consciência. Enfim, que a realidade é histórica, ou seja, avança e desenvolve-se, mesmo se com contradições, sendo parte do real as contradições – deve ser um consenso normal, comum.

Mas tais concepções, conquistas enormes, podem bloquear o pensamento. No social, o materialismo, permanente no que é, adquire doses materialistas de idealismo, a ideia fazer a realidade. A realidade é uma apenas, mas, devemos avançar, que pode se duplicar dentro de si. A história deve ser uma visão unida à estrutura, interna e contraditória etc.

A filosofia lutou muito, por toda sua história, contra a contradição. O contraditório pode ser tanto destrutivo quanto construtivo – e ambos ao mesmo tempo!

Devemos partir de Hegel e de Marx, mesmo. Qualquer filosofia que se diga nova, porém negando os dois gigantes de nosso tempo, andam de lado e para trás. Podemos superá-los, mas nunca negá-los de fato ou de modo absoluto. Que se funde uma nova dialética, como pretendemos aqui, mas nunca negar as conquistas hegelianas!

As tentativas de reformar a filosofia, após alguns sucessos bons parciais, estagnaram – o sistema inteiro precisa ser renovado e, logo, resolvido; de vez e de fato. O fim da filosofia, segundo o jovem Marx, será quando houver sua realização prática, para nós, o socialismo. O fim é o fim, a finalidade realizada.

Vários filósofos pensaram sua filosofia como definitiva. Em algum momento, alguém acertará alvo – o que parece ser o caso desta obra. Pode-se, enfim, produzir novas reformas, até reformas revolucionárias. Mas a metafísica, como movimento para dentro do real, como o saber dos aspectos gerais fundamentais da realidade, como revolução definitiva, parece ter sua conclusão neste ensaio.

 

AS PULSÕES DO HOMEM

 

Em outro momento, apresentamos a conclusão de que a alma pode ser compreendida se for enquanto alma materialista, ou seja, psique. Também em outro instante, expomos as teses gerais de nossa psicologia. Aqui, apresentaremos três pulsões vitais do homem. São elas:

 

Pulsão de felicidade (sentimento, emoção) (subjetivo) (singular, individual)

Pulsão de trabalho (ação) (subjetivo-objetivo) (particular, relação do singular com o geral)

Pulsão ontológica (razão) (objetivo) (universal, geral)

 

A pulsão de felicidade afirma que somos condenados a desejar sermos felizes. Tal impulsividade é inevitável, necessária e em si positiva. Qualquer filosofia ou religião a propor negar tal eixo, erra e luta contra a realidade.

A pulsão de trabalho também tem sua inerência. Entre psicólogos e filósofos, pensa-se que a pulsão primeira e fundamental seria o desejo (uma visão mercadológica e burguesa), mas nós criamos um desejo (meta etc.) como justificativa para agir, viver e, ou seja, trabalhar. Nós precisamos de trabalho, ou seja, de atividade – o ócio prolongado e com ares de absoluto leva ao tédio. Deve-se trabalhar nem que seja de modo onírico ou imaginativo. Há, portanto, uma necessidade natural humana por trabalho (Marx). É verdade que a ideologia da valorização do trabalho é uma criação burguesa, do burguês; por isso, algo histórico e falso – mas a verdade básica foi alcançada.

A pulsão ontológica é a necessidade de compreender o mundo ou de ter, ao menos, certa explicação geral sobre ele. Daí a era das religiões. Um dos piores sentimentos é sofrer, mas nada saber da causa de sua dor – dói-se em dobro. Kant (e as três pulsões tratadas negam a tradição kantista) afirma que tem “tendência” (afirmo: natural) a ir para além, ou por debaixo, do empírico, do sensível, dos dados, da experiência; rumo à coisa em si, ao númeno, à essência, ao conteúdo. Ora, não há motivo para resistir ao impulso inerente! Nosso cérebro pede explicação, motivos, ontologia, metafísica, ou seja, ciência filosófica.

O abandono de tais pulsões caracteriza doença, como a famosa depressão.

Parece apenas que a pulsão de felicidade leva à de trabalho (para realizar e realizar-se) e, logo, à de ontologia (compreender para trabalhar, modificar o mundo). Mas isso é parcial, pois os três existem por si e com relativa autonomia.

É curioso como as três pulsões levam ao socialismo e se realizam, à maneira tendencial, em alto nível, nele.

As três leis do ser estão todas em cada uma das três pulsões, mas podemos expor de modo mais unilateral. A pulsão de felicidade coordena-se com energia em busca de mais energia. A pulsão por trabalho aparece como o meio de interação e de interconexão (sujeito-objeto etc.). A pulsão ontológica prioriza o simples (homem, indivíduo) ao complexo (mundo), diante e com este. Exige um tanto de esforço e abstração perceber tais ligas.

De modo unilateral, a pulsão de felicidade, contra a alienação etc., deriva do ser biológico; a pulsão de trabalho, algo do ser social; a pulsão ontológica remete ao enorme inorgânico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SISTEMA FILOSÓFICO OU CIENTÍFICO?

 

Nos últimos séculos, parece que a era dos sistemas de pensamento chegou ao fim. Os irracionalistas, de um lado, e os pobre analíticos, de outro, tratam de evitar, de modo ou de forma, a questão.

É verdade que todos os sistemas filosóficos erraram. Mas é claro, também, que iriam errar: o pensamento universal (em duplo sentido), no passo do desenvolvimento social da humanidade, também evolui, contradiz-se, tem etapas. O caminho do acerto, sabemos, sempre é feito, hegelianamente, por meio de erros.

A cosmologia dos pré-socráticos já tinha pretensões sistemáticas. Platão quis uma visão geral, mas foi Aristóteles, como em tantos temas, quem deu o passo decisivo: moral, física, metafísica, biologia etc. Todo um sistema completo ele ergueu. Nos séculos seguintes, ninguém conseguiu ir além de Platão e, em principal, de Aristóteles. Os sistemas de vida real impedia um novo sistema de pensamento. Descartes começa a mudança de eixo; Newton impõe um modo de pensar pela força de seus acertos; então, Spinoza lança sua obra revolucionária; depois, vem Kant com seu sistema fenomenológico; enfim, Hegel opera um sistema de fato completo e desdobrado na modernidade (biologia, física, lógica, ontologia, história humana etc.). Este último fundou, grosso modo, o último sistema até agora, até este livro, último sistema para uma classe dominante.

Marx desenvolveu as bases de um sistema filosófico completo, mas isso ficou como potência, não como ato ou fato consumado. A possibilidade passou muito tempo, tempo demais, flutuando no ar. A moda antimetafísica da ciência e do marxismo impediu, também, de avançar, lado ideal da coisa toda. Mas o limite era, antes, material.

Com o altíssimo desenvolvimento da ciência, e das ciências especializadas, começa a surgir no horizonte confuso a ideia de reunificar todas as ciências particulares numa concepção comum, ou seja, a metafísica.

 A metafísica correta nunca deverá partir de abstrações, deve partir do próprio mundo – empiria e dos avanços, enfim, alcançados pelas ciências. Isso é a metafísica dialética, materialista, objetiva, científica, além de filosófica.

Com o pós-modernismo, até a verdade deixou de ser considerada parte do mundo. Com as várias verdades, com a verdade pessoal de cada um, morre a ciência. Para a metafísica vencer, tornou-se preciso superar todo o passado pesado e inútil.

A tarefa de metafísica é das ciências humanas, porém estas estão em pesada crise. Cai-se em empirismo inútil, limita-se a comparar um autor contra outro, artigos inúteis abundam-se, forma-se na academia sempre por dinheiro e nunca por um genuíno desejo de melhorar o mundo ou compreendê-lo. Um “acadêmico de humanas” cai em hiperespecialização e nada intende de matemática avançada, física quântica, biologia etc. – formação sempre necessária. Todo estudante de história deve, antes, estudar o lado biológico do homem. Assim, a tarefa de fundar uma definitiva, nos aspectos gerais e iniciais, metafísica tornou-se muito mais difícil. Estudar tudo sobre tudo é impossível, mas os aspectos universais podem ser corretamente acessados, o que permite produzir algo, no central, correto. Mas isso leva tempo, muito; o que poucos estão dispostos a sacrificar, tanto mais em época de decadência da civilização.

A metafísica geral final é, grosso modo, metafísica marxista – assim como darwinista etc. Mas como o marxismo é da área de humanidades, cabe a ele cumprir a tarefa sob seu centro. A ciência é um ato humano, não uma entidade abstrata e objetivista. A cientificidade de Marx provou-se a mais avançada com seu giro para o Ser, para o objeto. Mas, por exemplo, uma dialética marxista, que preserve a de Hegel, ainda era uma tarefa inconclusa, que penso ter concluído nesta obra em quase todos os seus aspectos; o que extrapola o capítulo específico sobre sua lógica, permeia o conjunto do texto.  

Filosofia e ciência são um, sendo dois. Um sistema filosófico correto deve, ao mesmo tempo, ser um sistema científico correto. Precisamos de conclusões e empiria como de capacidade generalizante, dedutiva etc. São dois sendo um. Nossa metafísica (dialética etc.) é, assim, um sistema aberto, ou melhor, relativamente aberto – atualizável.

Os filósofos fecharam-se dentro de si, textos comentando textos etc. Mas tal canibalismo interno esgotou-se. Apela-se, ainda, para jogos de palavras, barroquismos etc. Todos devem levar em conta que a humanidade, em seu auge, pode extinguir-se: eis o tema que realmente interessa. Mesmo que indiretamente, nosso sistema visa contribuir com a humanização da humanidade. A Metafísica Marxista e a Crise Sistêmica foram produzidas para dar uma contribuição qualitativa.

Reivindico a modesta posição de último dos pré-socráticos.

 

DEGENERAÇÃO DOS MÉTODOS

Os métodos científicos, em si corretos, podem degenerar. O empirismo pode ser usado, por exemplo, para estudar o “caso” de uma escola, sem nenhuma contribuição geral ou útil – apenas para concluir e lançar mais um artigo “científico”. A dedução pode degenerar em mera dedução, que parte de erro ou acerto e alcança sentidos absurdos por suas premissas (diz Hegel, crítico: 1. A terra é um mundo com vida, 2. A Lua é um mundo. 3. Logo, a Lua tem vida.). O método empírico-dedutivo pode, também, degenerar, exemplo, se deixa de ver a história, o processo, o desenvolvimento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AINDA SOBRE SUJEITO E OBJETO

 

Em todo lugar e, em especial, no meio marxista; a não identidade, diferença e desigualdade entre sujeito e objeto é afirmada. Toda tentativa de reunificação caiu em filosofia capenga, por outro lado. Não avançou porque evitou as conquistas do marxismo. Há uma tradição de repetição, como quem reza uma ave-maria, sobre o tema – precisamos tirar, então, o assunto de sua transe hipnótica. Aprofundaremos, por meio de acréscimos, o tema que já tratamos em outros momento.

Quando Marx afirma que o ser social faz sua consciência, não o inverso – que a matéria faz a ideia – que a ideia é a ideia de uma época – que o avançar do mundo social gera o avançar do mundo ideal – ele afirma aí a unidade de sujeito e objeto. Certo pensar traduz criativamente seu mundo, transtradução. Como o mundo é muito maior que nossa cabeça, como é mais valor-matéria, logo, o polo externo da unidade está no objeto, não no sujeito como em Hegel, não no pensamento quase imaterial, mas isso é externo ainda. Os gregos eram deterministas porque a realidade era, em altíssimo grau, determinista – não mero erro, não erraram em si. Somos probabilistas, aceitamos a ideia de liberdade como comum e natural, porque temos mais alternativas hoje, a realidade tem mais opções formais. Existem verdades dinâmicas fixas e há, muitas vezes abaixo e  derivadas daquelas, verdades temporárias, históricas. O marxismo é a história da história, a verdade da verdade.

Outro aspecto da unidade de sujeito e objeto é que o homem faz seu próprio objeto, no trabalho e em tudo o mais. Ele cria se próprio meio ambiente ao qual deve ou se adaptar, ou agir, ou reagir. Mas faz um tanto apesar de si mesmo, um tanto inconsciente.

Tais observações já demonstram a diferença entre o intelectual marxista e o marxista intelectual. Ao separar sujeito e objeto tal como fazem, os acadêmicos e repetidores influenciados levam a concepção parcial e errada burguesa para o seio do inimigo como se óbvio consenso fosse. Isso expressa sua abstração, separação relativa maior, da realidade, do mundo, do concreto, do com peso, da prática, da militância e da noção de realidade mesma.

A vida social é toda a vida social. No todo, os oposto em reflexo são um. Que o sujeito não se reconheça no objeto, que o teórico pensa que tirou tudo puramente de seu crânio etc. – É um problema dele. A teoria consolidada deve superar isso e alcançar a evidente verdade oculta. Se o mundo gira apesar de nós, o conceito de “nós” inclui a parte “eu”; este nada cuja união de nadas dá tudo. O homem é social – a sociedade é o homem  e os homens em ralação com outros homens e coisas, e coisas em relação (por meio de homens, homens por meio de coisas). O “apesar” é um “com”, mas no fundo do fundo. É a alienação no seu sentido também subjetivo: a minha criação é que me aparece como criador primeiro. Há interação, influência recíproca e retroalimentação. E: no externo, sujeito e objeto mudam de papéis apenas para, se vencermos, o sujeito provar que é o sujeito. Unidade final e consolidada dos opostos antes em contradição incontrolável e, porque incontrolável, insuportável. Se a realidade é sujeito – o homem é o sujeito do sujeito. Uma condição do consolidar do socialismo é o homem ter a potência de conhecer a si mesmo, tal como é. Para isso, muita história deve ser vivida para perceber uma concepção histórica, que inclua sua história com e na natureza. No socialismo, o homem é, de fato e de vez, muito mais do que em qualquer outro tempo, objeto para si mesmo, trabalhará para si sobre si próprio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEORIA MARXISTA DA ALIENAÇÃO

 

É da cultura comum afirmar que alguém sem interesse por política é um alienado. Tal significado de alienação até está correta, mas é muito limitada. Comecemos com uma reflexão. Se o trabalho é central para a espécie humana, porque só nos sentimos humanos quando terminamos de trabalhar? Bem observado, sentimos os prazeres mais básicos e animalescos de dormir, comer, praticar sexo, etc. Isso ocorre porque vivemos em uma forma de sociedade que nega nossa humanidade.

Para nos aproximarmos do conceito completo, o primeiro significado de alienação é separação. E é ainda mais correto dizer “separação daquilo que deveria estar integrado, unido”. Veremos: tal concepção é insuficiente ao mesmo tempo em que permite uma aproximação bastante correta da teoria.

 

O CAMINHO DA TEORIA DA ALIENAÇÃO

Hegel, pensador anterior a Marx, elaborou: nosso pensamento, o subjetivo, cria o objetivo, como, por exemplo, o Estado. Aquilo criado a partir de nosso “espírito” separa-se de nós: é a subjetividade objetivada. A partir da ideia de Estado, nosso exemplo, cria-se uma instituição que ganha vida própria, que ganha independência. Aqui vale uma atenção: o processo de formação de algo separado é, para Hegel, inteiramente positivo.

Outro filósofo, desta vez da época de Marx, chamado Feuerbach, criticou Hegel com imensa dureza. Elaborou uma teoria ateísta e materialista da realidade, contra a religiosidade mais ou menos presente em Hegel. Feuerbach afirma: Deus não criou o homem – foi o homem quem criou Deus! Porém: a ideia de Deus passou a dominar o próprio homem, ou seja, a criatura passou a dominar o criador! Deus, esse pensador diz, é a representação do próprio homem, de sua própria essência, para o homem infeliz com sua realidade. Aqui vale outra atenção: para ele, a alienação é inteiramente negativa.

Marx combina as duas formulações, de Hegel e Feuerbach, para formar algo novo. O homem – ou melhor, os trabalhadores – cria a realidade, mas essa mesma realidade volta-se contra o criador e o domina. O Estado, por exemplo, só pode existir porque há trabalhadores, porém o Estado existe para reprimir e controlar a classe trabalhadora.

O mundo das coisas criado pelo trabalhador ganha autonomia e independência, então a criatura, como as mercadorias, controla o criador. Aquilo que chamamos “capital”, que é um processo social, é também um processo cego, que impõe regras sobre os homens. Porque os homens estão desorganizados como sociedade, separados uns dos outros, surge uma série de leis sociais que não são decididas por ninguém, pois surge uma lógica das coisas que passa a controlar a humanidade.

Nas fábricas, o fruto do trabalho, o resultado do esforço, é uma mercadoria que não pertence ao trabalhador, ou seja, ao criador – pertence ao capitalista. Ele, o operário, é separado do fruto de seu próprio trabalho e nada tem de identidade com seu produto final. É muito comum o operário passar oito horas seguidas apenas colocando uma única peça num aparelho, no entanto ele nada sabe da função de seu ato de trabalho, para que serve aquele componente que ele instala no produto.

O trabalhador serve ao processo produtivo, não é o processo produtivo que serve ao trabalhador. O operário torna-se uma ferramenta de carne e osso da máquina – o maquinário passa a dominar os trabalhadores. Assim, a máquina é sujeito e o operário é objeto – o trabalhador é coisificado, o maquinário é humanizado. Há, portanto, coisificação dos homens com a humanização das coisas.

Vale a pena oferecer relatos sobre não alienação no trabalho. Certa vez, fui vigia de dependentes químicos; numa dessas vigilâncias, sentou perto de mim um paciente que pintou as paredes e colocou grama no pátio da instituição; pois bem: ele conversava com um colega e disse: fazer todo o trabalho é puxado, mas quando vemos o resultado, dá um prazer enorme. Esse “prazer”, um sentimento, é muito valorizado pelo marxismo; o trabalho escravo, feudal e assalariado negam esse prazer sentimental do animal humano. Tenho um amigo que, por improviso, sem formação oficial, produz, por exemplo, a própria mesa de sua casa; ele diz que, quando vê o fruto do seu trabalho, lhe dá um prazer enorme – o cérebro premia a criatividade, a criação ativa. No meu caso, a primeira vez em que tive tal sentimento foi quando ensaiava com minha banda nossas próprias músicas; nós não repetíamos as músicas como robôs musicais, ao contrário, experimentávamos, dávamos propostas para as canções, e uns aos outros, tentávamos, corrigíamos etc. – depois, era quase uma hora inteira sentido aquele sentimento sem nome, agradável, do qual comentávamos. Também senti isso quando as reuniões partidárias da qual participava eram dinâmicas, com observações, propostas, votações etc. É um sentimento fortíssimo porque é raro hoje; mas será natural no socialismo, pois, por exemplo, saberemos que nosso esforço é útil para a comunidade, que ajuda tanto a nós quanto aos outros.

A alienação também é a separação dos seres humanos com a dominação de uns sobre os outros. A dominação de uma classe sobre outra, o machismo, o racismo, a homofobia, a xenofobia são formas de separação daqueles que deveriam estar integrados, unidos. Os que dominam a relação – o patrão, o homem machista, etc. – recebem muitas vantagens por sua vida alienada enquanto o outro polo, o negativo – o operário, a esposa, etc. –, tem uma série de prejuízos nessa forma de alienar-se. A prática machista ou domínio do patrão sobre o empregado são formas de coisificar o outro, de diminuir sua humanidade, de subordiná-lo.

A separação dos homens é ainda mais profunda. Vemos o outro como inimigo, como adversário. Os capitalistas lutam entre si por lucro e os trabalhadores entre si por emprego. Por isso, a missão do socialismo é superar essa animosidade, colocando, finalmente, fim à divisão da humanidade entre possuidores e despossuídos, entre classes sociais. 

A alienação inclui a transformação do dinheiro em um Deus. Hoje, o dinheiro é apenas um pedaço de papel pintado, mas guia nossa rotina e nossos pensamentos. A coisa domina os homens, a criatura domina o criador. Se alguém nos mostra um bolo enorme de notas de dinheiro, logo esticamos os olhos e ficamos afetados – e um desejo estranho de ter aquilo nos possui. Pense-se que sempre nos sentimos mal quando gastamos dinheiro, sentimento que nos pressiona a poupar, a guardar nossas notas.

A humanidade aliena-se em seu desenvolvimento e tal alienação desenvolve-se até que existam condições para o reino da liberdade real. Em sua evolução, a humanidade nega-se a si própria – coisifica-se, etc. – para, depois, afirmar-se de modo pleno. Ou seja: o caminho da liberdade é feito por meio de seu oposto, de seu contrário, de sua negação. Os modos de vida escravocrata, feudal e capitalista são etapas necessárias para que o homem, no futuro, torne-se livre de fato. No escravismo antigo, os trabalhadores eram como coisas, nenhum pouco livres. No feudalismo, o homem na forma de servos medievais torna-se um tanto mais livre, preso ainda à terra, e um pecador. No capitalismo, somos formalmente, juridicamente, livres e iguais – apenas formalmente; ou trabalhamos como as condições difíceis nos impõe ou fracassamos. No socialismo, seremos de fato e finalmente – substancialmente – livres. A história da humanidade é a história por onde ela se torna cada vez mais livre, liberta.

Em relação às coisas, hoje, a alienação aparece assim:

 

1)  Humanização das coisas na proporção da coisificação dos homens;

2)  Valorização das coisas na proporção da desvalorização dos homens;

3)  Integração das coisas – a internet! – na proporção da fragmentação dos homens;

4)  Ganho de características das coisas na proporção da unilateralização dos homens;

5)  Poetização, estetização, das coisas na proporção da brutalização dos homens;

6)  Ganho de cognição das coisas na proporção da perda cognitiva dos homens.

 

Isso tem consequências no perfil das mercadorias, além de tanto outros aspectos, como a crise sistêmica.

 

A ESFERA COISAL

Lukács afirmou que nem a psicologia nem o lado coisal seriam esferas ontológicas próprias. Em acordo com ele, penso que a o mundo das coisas é, ao menos, um colateral, uma falsa modalidade de ser – um é que, ao mesmo tempo, não é. Quando Marx diz em sua grande obra que uma relação entre homens mostra-se como uma relação entre coisas, não trata de apenas um engano; na verdade, as coisas impõe uma lógica de si, uma relação entre elas mesmas tendo o homem como o suporte.

O máximo desenvolvimento do ser inorgânico levou ao ser orgânico, ao biológico; o máximo desenvolvimento deste último levou ao ser social, o homem humano; o auge do desenvolvimento deste, o capitalismo, levou ao ser coisal. O anterior é sempre base e suporte do próximo, como na relação homem-coisa em nosso atual modo de vida.

A esfera coisal, seu poder, inclui coisificar o homem. Como diz Marx, há humanização das coisas e, em relação direta, coisificação dos homens; a máquina é o sujeito enquanto o homem é um objeto, uma ferramenta de carne daquela. Assim como o homem, em seu desenvolvimento, humaniza a natureza, que veio antes e de onde veio, a coisa, em seu desenvolvimento, coisifica o homem, que veio antes e de onde veio.

O ser coisal consolida-se com a imitação de movimentos humanos na produção, substituindo braços e cérebros. Mas não para aí: a robótica visa imitar a sensibilidade do homem, até mesmo superá-la. Em nosso tempo, temos vírus de computador que se multiplica, como um ser vivo, e recentemente criamos robôs com a pulsão, a programação, de multiplicar-se a si próprios. A concorrência capitalista, que é uma lei cega imposta pelas coisas tal como estão, leva a que surjam várias tentativas de produzir a melhor inteligência artificial – poderá surgir uma inteligência similar à humana, mas sem emoção?

A integração das coisas tem vindo acompanhada do isolamento dos homens. Tal integração é condição da integração humana no socialismo, mas não condição absoluta – é, hoje, uma aposta social.

O dinheiro é a coisa central, a Coisa das coisas; o valor é a alma objetiva delas, um verbo que se quer fazer carne. Segundo Carcanholo, o valor era apenas um adjetivo da coisa, do objeto, do produto como mercadoria; para ele, tornou-se, como capital, um adjetivo substantivado[32]. Complementamos: tornou-se, depois, substantivo concreto, com a maquinaria e suas consequências humana e coisais, para tender a ir ao substantivo abstrato e, por outro lado, ao mesmo tempo, verbo que se faz carne (isto se relaciona com as quatro eras do capital: a era do capital mercantil, a era do capital industrial, a era do capital financeiro e a era do capital fictício). Com o devido jogo de palavras, o valor é um sujeito oculto, que exige teoria por detrás do preço, e um sujeito indeterminado, sem determinações. Como o espaço-matéria e energia-massa; o valor é um sujeito simples que se torna sujeito composto, valor e capital, valor-capital, que podem, como vimos, entrar em contradição.

A esfera coisal tem sua grande história já no início do ser social, como ferramenta e produto. Marx diz que temos a coisa, o objeto, mas, por outro lado, a coisa nos tem – isto é ontológico. Relacionamo-nos pessoalmente com as coisas, nós as afetamos assim como elas nos afetam. Hoje, elas ganham poesia, estética, enquanto nosso mundo perde arte. O mundo das coisas, embora misturado conosco, opõe-se ao mundo dos homens. O valor, o capital, o coisal faz de nós um meio, encarnações e representantes deles.

Os objetos não são neutros. O dinheiro é típico do capital e do capitalismo, incompatível com o socialismo. O mero microfone, usado por líderes autoritários, é condição para a vida socialista com suas assembleias de bairros e fábricas. Ademais, temos a concepção correta da lei geral da história humana “produtividade crescente”, mas ela é apenas quantitativa. Temos ainda a produtividade qualitativa. Quando o socialismo cumprir, em poucos anos ou décadas, todas as necessidades humanas em quantidade, com a ajuda de mudanças qualitativas, terá ainda mais condições de garantir maior qualidade aos objetos.

A alienação, em resumo, apresenta-se assim:

O sujeito é o objeto

O objeto é o sujeito

De tal modo: o sujeito é o sujeito por seus predicados – o objeto é o objeto por seus predicados.

A verdadeira unidade-identidade de sujeito e objeto, sem alienação, estará posta como tarefa socialista.

 

 

PÓS-MODERNISMO E MÉTODO EMPÍRICO-DEDUTIVO

Quando a civilização grega antiga atingiu seu apogeu, com o devido afastamento das barreiras naturais, o homem ainda mais social numa sociedade de classes, produziu a filosofia dos sofistas, onde a verdade, na prática, não importava, seria inalcançável. Algo semelhante acontece hoje. Com os avanços do século XX, em base a uma sociedade fraturada em classes, a filosofia pós-moderna, na área de humanas, declarou as várias verdades, as narrativas, a fragmentação, o culturalismo, o grande indivíduo – sentiu-se à vontade para desprender-se, em parte e ilusoriamente, do real. Duas questões (Machado, 2022) parecem operar o início do pensamento pós-moderno: 1) a crise do liberalismo como crise do capitalismo; 2) a crise do marxismo por razão das ditaduras estalinistas que transformaram o pensamento antes crítico em dogmas em nome de repressões contrarrevolucionárias. Isso, tal explicação, é parcial, quase apenas superestrutural; no fundo, estão também, além dos fatores análogos aos dos gregos: 3) o crescimento da classe média urbana; 4) a precarização de tal classe; 5) o aumento da solidão social; 6) diminuição e fragmentação da classe operária; 7) a necessidade de evitar conclusões socialistas, sistema ainda relativamente impossível naquele momento. A base econômica-social, as mudanças na estrutura, deu as condições necessárias para a criação da filosofia irracionalista correspondente, como sua imagem e semelhança, como carne que se faz verbo, matéria que se faz ideia. A loucura do sistema em seu ocaso faz a loucura metodológica da pós-modernidade, a realidade em migalhas faz o pensamento em migalhas.

Por exemplo, dizer que tudo é construção social – à semelhança dos antigos sofistas – soa subversivo, até socialista, mas é idealismo puro, como se valores e hábitos pudessem mudar por pura decisão, por pura tomada de consciência. É absurdo que marxistas tomem tal posição como na questão da natureza humana. Tal erro tem uma base, qual seja, somos, de fato, mais sociais que antes, bem mais, além de estarmos sob escravidão assalariada ainda.

O marxista italiano Francesco Ricci, um dos marxistas militantes mais interessantes da atualidade, também limita-se à crítica externa e quase apenas superestrutural da pós-modernidade (Ricci, 2023). Suas observações e críticas estão e são corretas, mas temos de saber a causa do erro, a causa de surgir tal filosofia irracionalista, porque ela nasceu e prosperou – porque tornou-se necessária. Ora, os pós-modernos falam em fim do trabalho ou sua crise e sua perda de importância de modo impressionista – mas há de fato crise do trabalho, do valor, embora ainda de maneira relativa, com contratendências (automação, robótica, virtualização etc.). O pós-modernismo, em sua pressa reformista e exagero, trocam classes por multidão, por indivíduos aglomerados – mas de fato a categoria de classe está em crise como sintoma do fim das classes, além de haver concentração inédita e qualitativa de humanos na urbanidade, ou seja, crise da urbanidade. Os pós-modernistas trocam o trabalho pela linguagem de modo a negar a centralidade marxista do trabalho, assim, caem em idealismo, como se a mente (linguagem) fizesse a realidade, não o oposto – mas a realidade material madura e, ainda no nosso caso, em crise de estrutura de fato abre caminho para uma dose materialista de idealismo, somos mais sociais e a subjetividade toma importância relativamente maior; além disso, o destino da humanidade se faz por convencimento dos demais, ao menos hoje, ou seja, à beira do fim. Eles negam que exista verdade, apenas haveria a verdade pessoal e angular – mas de fato a verdade está a ver navios: ela é negada, deformada, manipulada como nunca antes; a verdade verdadeira tornou-se revolucionária e o capitalismo tornou-se mentira, artificial. (Observação: a física moderna tem várias situações em que um fenômeno existe ou não existe a depender se, por exemplo, o observador está parado ou em mesma velocidade do fenômeno, como a surgir de uma campo magnético por um partícula em movimento; também tal área possui indeterminismos gritantes; trata-se da crise da física, sobre o qual debaterei em outro capítulo, mas que nos faz ver já que o problema é profundíssimo.) Eles viram tendências, então exageram, unilaterizaram, impressionaram, deformaram etc. porque a realidade está, no nível humano, não coisal, fragmentada, desesperada, travada por contradições e surge uma classe média numerosa e urbana focada no trabalho não manual. Enfim, o pós-modernismo é assistemático porque o sistema está em crise, em caos, em desordem, o que é expresso de modo inconsciente no “estilo” de teóricos burgueses pequeno-burgueses.

Mas a solução não é o seu oposto, uma tomada conservadora. Aqui, entra a reflexão sobre o método propriamente científico. O método hipotético-dedutivo de Popper foi superado como paradigma pela moderna filosofia da ciência, mas cientistas atrasados ou pouco afeitos à filosofia permanecem no erro. Isso tem motivo. Não há método científico, no singular, mas métodos científicos, no plural; e o hipotético-dedutivo certamente ajuda a fazer descobertas, embora limitadas, por isso a sua resiliência.

Mas permanece a mera aglutinação, não a fusão em um terceiro, do empírico e do racional. Einstein defendeu sempre o método dedutivo, por exemplo, enquanto outros, o indutivo. É necessário resolver a oposição e a contradição. O empirismo afirma que devemos nos limitar a colher e organizar dados, fazendo generalizações indutivas quando for razoável, evitando de todo refletir sobre eles; o racionalismo, ao contrário, diz que os dados enganam, logo devemos confiar na razão humana para, de ideias racionais, chegar a conclusões novas e racionais. Ora, ambos acertam e erram ao mesmo tempo. O método empírico-dedutivo, o oposto do superado hipotético-dedutivo e o adversário mortal da pós-modernidade, inicia pela apreensão dos dados empíricos, pois eles são o começo e vitais como fonte da verdade; mas tal empiria, além de revelar, esconde e engana, logo usamos a razão para saber desviar das armadilhas, para saber do interno por meio do externo, da unidade por meio da diversidade, da essência por meio da aparência enganosa – pois o essencial é invisível aos olhos e a realidade tem uma lógica própria a ser descoberta, não criada pelo cientista.

Além de ter uma estrutura, a realidade tem um processo inerente – queremos ambos na nossa investigação. Queremos o mundo em seu vir-a-ser, em seu devir, em seu tornar-se, em seu desenvolvimento. A ciência já atrasou por demais seus avanços por falta da dialética como instinto básico da pesquisa. O universo estático, repetitivo, passou, com muito atraso, para o universo com história, com evolução; já podemos tomar como ainda mais racional que o cosmos teve e terá ciclos, gerações de universo, um após outro.

Não se deve apenas interpretar os dados. A física quântica, por exemplo, tem uma dezena de interpretações conflitantes sobre tal estágio do mundo, todas baseadas nos dados. Mas estes nem sempre são criticados: antes, tomava-se como verdade incontestável que o salto quântico é instantâneo; hoje, ainda toma-se o spin como algo do reino quântico, como uma propriedade fora da nossa racionalidade, sem maiores explicações, portanto. Deve-se deduzir, também, o limite do empírico. A verdade está em algum lugar, nem que seja no meio ou na fusão.

 Deve-se evitar de todo iniciar por hipóteses, premissas, postulados, modelos, “métodos”, princípios ou mesmo conceitos – eles devem ser a conclusão da pesquisa, não seu início. E são descobertos, não criados de modo arbitrário. Em especial, os conceitos mudam se a realidade muda, não são fixos, são móveis, muitos com início e fim.

A verdade é não empírica, impalpável, mas deriva sua descoberta da empiria. Ao que parece, Darwin correu o mundo colhendo dados multíplices, contingentes, diversos, caóticos – até perceber as leis gerais do desenvolvimento da vida. Nesse sentido, foi um dialético.

É o objeto de pesquisa que diz como ele será explicado e apreendido. De modo algum, o cientista tem a honra de escolher um ângulo ou método para sua investigação como fazem o kantismo e o pós-modernismo. A verdade é o todo contraditório em evolver.

Se há responsabilidade básica, nunca será escolha de todo pessoal do pesquisador qual será seu objeto estudado. É a realidade, o objeto, as necessidades sociais ou teóricas, que determina qual será o tema de pesquisa, nunca a mera vontade subjetiva do sujeito. Claro, entre assuntos urgentes e relevantes, pode-se escolher aquele pelo qual se tem mais afinidade.

Até o modo de organizar e expor um livro deve ter origem no objeto, não no sujeito. A organização do objeto impõe uma organização clara da obra. Neste livro, tivemos de começar, primeiro, pelo primeiro na sociedade, a economia; não fosse assim, o material textual seria confuso.

O método dialético torna-se o método empírico-dedutivo. Em outro capítulo, demonstraremos como no trato da lógica de tal método, Hegel deixou de observar como se deveria o diacrônico, o processo.

Marx, Darwin, Einstein e Freud revolucionaram o pensamento e a sociedade. Além desse fator comum, todos foram base para uma concepção histórica do cosmos – Ser é histórico, ou melhor, histórico-geográfico. Mas algo ainda mais de fundo também os une. Consciente ou inconscientemente, com maestria ou com improviso; todos usaram o método empírico-dedutivo, dialético, bem ou mal. Marx percebeu, pelos dados, as leis de desenvolvimento da histórica capitalista e da humanidade. Darwin percorreu o mundo colhendo dados e experiências variadas sobre a vida, até deduzir a evolução das espécies. Freud deixava os pacientes falarem à vontade, de modo relaxado e aparentemente desconexo, até que era percebido o nexo interno oculto na diversidade externa, além de aspectos da história do paciente – o que lhe permitiu consolidar uma teoria. Einstein defendeu com veemência o método dedutivo, não o empírico-dedutivo, porém suas premissas, muitas vezes, já estavam sendo confirmadas na realidade, como a velocidade da luz e sua medida como a máxima do universo, aproximando-o intimamente do método aqui defendido (resumo grosseiro: partir do empírico para deduzir – Einstein declara: “Vale então o princípio: a massa gravitacional e a massa inercial de um corpo são iguais uma à outra. Até hoje a mecânica, na verdade, registrou este importante princípio, mas não o interpretou(Einstein, 1999, pp. 57, 58; destaques feitos por Einstein)). Sua formulação foi a base da teoria do Big Bang, da história, ainda incompleta, do universo. Isso explica o motivo do limitado Popper ter afirmado que a teoria da evolução de Darwin, a teoria da história humana de Marx e a teoria freudiana não serem, para ele, ciência… Depois, recuou no caso da biologia darwiniana para evitar desmoralização diante da merecida autoridade de Darwin. Popper desconhece as ciências históricas. Veja-se que todas as teorias acima são atacadas das mais diferentes formas; negadas por estados, correntes e religiões. Nenhum acaso há aí. Concepções de Marx como o lado não eterno do capitalismo fere interesses lucrativos, de classe e religiosos. A teoria da evolução derruba uma premissa da religião, logo é negada com fervor. A teoria freudiana tira o lugar consolador da fé e agride os bloqueios inconscientes de muitos (homossexuais enrustidos, pessoas que mal lidam com seu complexo de édipo etc.), levando até a acusação máxima de pseudociência (enquanto consideramos, aqui, ela incompleta). Einstein é acusado de charlatanismo até hoje, mas nunca refutado, nem superado (embora possa ser ao mesmo tempo preservado e superado no futuro como tentaremos esboçar em outro capítulo) – além de ser acusado, com razão, de ser… comunista! As ditaduras têm, em geral, horror às teorias de essência, mais do que instrumentais. Se são obrigadas, aqui e ali, a adotá-las, como para fazer uma bomba atômica, ou para parecer marxista enquanto rouba o povo, trata-se da verdade impondo-se. Ainda assim, o método dialético, como empírico-dedutivo, demonstrou apenas metade de suas capacidades revolucionárias na ciência. Em outro momento, demonstraremos construções como A=A e não-A, sincrônicas em geral, suprassumidas por A=A e… não-A, também diacrônicas. Isso casará bem com E=mc², a identidade dos diferentes no movimento ou no desenvolvimento.

 

 

 

 

 

 

 

AMULETO METAFÍSICO

 

Nietzsche diz que ideias como Deus, socialismo etc. são verdadeiros “amuletos metafísicos” para suportar a vida, para evitar viver e aceitar esta vida mesma. Uso a mesma expressão conceitual em outro sentido: como um desvio teórico para falsa resolução de problemas científicos-filosóficos. Já deixamos claro que a metafísica não necessita ser mística, pode ser a matéria voltada para ela mesma, para seus princípios básicos – imanente antes de transcendente ou apenas transcendência como imanência.

 Leibniz teorizou que tudo era feito de mônadas eternas, imutáveis (sem história real) e separadas umas das outras, sem relação entre si. Ou seja, a concepção burguesa nascente, o superindivíduo, foi transtraduzida por ele numa visão de natureza. Como os planetas são unificados num sistema via força gravitacional, seja lá o que tal força era – teve de pensar uma força divina unificadora externa, Deus, que fizesse do sistema um sistema unificado. Eis o amuleto metafísico: postulou e “provou” a existência da divindade para salvar seu sistema de pensamento falho.

Descartes, temos antes, tomou para si o método de seus adversários, levando ao limite – e duvidou do ser de tudo, de suas existências. Então, para que a realidade exista, Deus deveria existir fundando a realidade. Mais uma vez, temos o caso de amuleto metafísico.

Após duvidar com toda dureza da metafísica, Kant defendeu que ideias como Deus etc. são essenciais para ele mesmo pensar a ética, o direito etc. Outra tese que encontra beco saída, mas sai pela tangente por meio de metafísicos amuletos.

A ideia de Espírito tal qual Hegel propõe vai-se no mesmo eixo, incapaz de abraçar o ateísmo. Agiu como Spiniza para quem Deus é a natureza.

Tal uso de amuletos tem origem, como boa parte da filosofia, em Platão, que postula um mundo das ideias, das formas, das almas com falsas provas indiretas. É a luta pelo permanente, como se imóvel, contra a mobilidade aparencial. Daí a concepção de cidade de Deus e cidade dos homens de Agostinho.

Em grande media, os limites da época impediam chegar à metafísica definitiva, como real pondo de partida, após ser ponto de chegada, tal como a expomos nesta obra. Foi necessário um desenvolvimento até o limite da cientificidade burguesa, positiva em geral. Temos a metafísica sem amuletos, sem postulados externos, sem derivações artificiais – matéria, apenas matéria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ESBOÇO POR UMA HISTÓRIA MATERIALSITA DAS IDEIAS

 

Hegel escreveu a história das ideias na sua Fenomenologia, porém de modo idealista. Urge, portanto, uma versão de cabeça para cima, desta vez – um O Capital do pensamento. Não se trata de mera descrição passo a passo das teorias – deve-se explicar, também, as leis de desenvolvimento das teorias. Direto ao ponto, pelo menos três dessas leis de movimento podem ser destacadas:

 

1.  oposição (particular) (contradição)

Desenvolve-se teorias opostas e unilaterais – porque a realidade mesma é cindida em opostos. Ao olhar de um ponto de vista, da vista de um ponto, o pensador avança tanto que pensa ter encontrado a fonte de toda verdade e, por isso, despreza seu opositor; e ambos adquirem perfis de seita.

A pobreza unilateral é confundia, assim, com pureza de realidade, de verdade. Quer-se evitar a oposição no mundo como o desejo do fim do opositor no campo das ideias. Monismos e dualismo, materialismo e idealismo, unitarismo e pluralismo, ontologia e gnosiologia, substancialismo ou relacionalismo, dialética ou reducionismo – a história da luta das ideias tem sido, ora aberta e ora vela, a história da luta das ideias, da luta de classes, da luta de matéria contra matéria, da luta do fato contra fato etc.

Se as condições históricas permitem, surge uma personalidade unificadora que vê o acerto e o erro nos opostos, alcança o terceiro excluído, agora incluído. Mas a marginalidade pode ser seu preço a pagar. Não agrada nem gregos nem troianos.

 

2.  reflexão (geral) (totalidade)

A teoria reflete a sociedade e o modo de vida do pensador. O modo como vivemos, descobre Marx, determina o modo como pensamos – um reflete-se no outro. Por isso, a regra é que uma ideia geral honesta errada tem algum elemento de verdade, em regra. Uma época história: 1) permite surgir apenas certos pensamentos, 2) necessita de certas ideias, 3) reprime certas teorias. Assim é, e será, e foi.  Se o gênio Einstein, o mais famoso da história, não tivesse descoberto a relatividade, outro a teria – mais ou menos na mesma época, mesmo se com atrasos interessantes.

Cada ideia pertence a uma época. Aristóteles errou sobre quase tudo por culpa do seu tempo, não de sua cabeça rara. O desenvolvimento histórico leva, grosso modo, no geral, ao desenvolvimento das ideias. Simplesmente, desenvolver a tecnologia exige melhor compreensão do mundo – e, por outro lado, melhor técnica de trabalho gera homens livres com tempo de sobra para ler e pensar.

Mas, aqui, quero fazer um adendo. É claro que, primeiro, a realidade faz as ideias – muda a realidade, muda o pensamento –, mas, uma vez existentes, as teorias influenciam de volta o resto do mundo, pois elas também são algo material, existente abstrato. O pensamento de causalidade mecânica, comum até no marxismo, leva a pensar de modo unilateral, apenas de baixo para cima, digamos assim. Além disso, as ideias têm alguma autonomia, porém apenas relativa, de seu desenvolvimento. Vejamos: quando passamos a catalogar e classificar sociedades do passado e animais presentes e passados (fósseis etc.), logo somos obrigados, pela mera organização dos dados, a intuir que há mais do que o “lado a lado”, ou seja, há movimento, desenvolvimento e história – processo!

Por mais estranho que soe, via de regra, a filosofia, como a ciência, deriva do senso comum – mesmo. Platão pensava que filosofar é sair do senso comum. Mas a materialidade gera sensos comuns pesados que influenciam decididamente os pensadores. Raros os que saíram de sua órbita.

Uma das grandes tarefas de um cientista é superar seus limites nacional, algo dificílimo. Marx absorveu a Alemanha, a França e a Inglaterra na sua personalidade e fazer científico. A mistura de perfis é sempre superior a contar com apenas um ingrediente.

Como a história humana, por causa do aumento da produtividade, está em aumentar a sociabilidade e afastar-se das barreiras naturais – a teoria vai da naturalização (busca ao princípio de todas as coisas ou arkhé, darwinismo social etc.) para a concepção socializante (sofistas, marxismo, pós-modernismo etc.). Mas a verdade abarca ambos e funde-os, como a natural socialmente modificado, adaptado ou desenvolvido.

O modo de vida (de um indivíduo, de uma classe, de uma sociedade) revela, em geral, o modo de pensar – e o modo de pensar, em geral, revela o modo de viver.

Causa da reflexão: mesmo que fracamente, matéria atua sobre matéria – ideia é matéria.

Em movimento real, histórico e ideal; A reflexão (geral) leva à oposição (particular) e, por isso, à abstração (singular).

 

3.  Abstração (singular) (movimento)

O conhecimento vai do concreto ao abstrato. Da ideia de água como fonte de tudo, logo o pensamento saltou para o Ápeiron, ou seja, algo de todo abstrato. A história da matemática é viva nesse sentido (o quadrado como desenho geométrico para simples número etc.). E podemos, hoje, saltar da ideia de abstrato como isolado para abstrato como geral. Até nosso tempo, porém, para muitos é difícil pensar de modo abstrato, não no sentido hegeliano.

O afastamento do pensador da vida prática o leva até ao máximo de duvidar se a realidade de fato existe. Mas tal distância ajudou também, em parte, para pensamentos elevados.

A causa aqui, também, é simples: 1) para compreender mais o mundo, necessidade material historicamente desenvolvida, deve-se saber de seu conceitos etc. mais profundos e gerais, 2) afasta-se cada vez mais do mundo natural e manual, 3)  ideias novas mais concretas abrem espaço para ideias mais abstratas. Visto de modo amplo, uma sociedade mais complexa exige pensadores mais complexos. Mas no concreto particular, a coisa toda nem sempre é assim. Pensar de modo correto pode ser perigoso.

Avancemos para mais três outras leis.

A história da filosofia é a história da luta contra a contradição (e este como algo também construtivo), a história (e também como desenvolvimento) e o materialismo dialético (ou seja, contra o ateísmo etc.). Até Hegel caiu em tal erro: para ele, a contradição era encerrada na totalidade, pura unidade; a história havia acabado anteontem; o idealismo objetivo seria o auge do pensamento humano. Tal luta nem sempre foi consciente; a classe dominante produzia ou apoiava os pensadores, o que exigia negar, por exemplo, a transitoriedade da realidade e de parte da verdade.

Outra lei, demonstraremos que a história do pensamento é mais do que uma evolução em diagonal, pois tem algo de espiral também. A ideia de que os animais mudam, evoluem, foi, de certo modo, redescoberto, mas de modo superior.

Já citamos o fato de a ciência ir da aparência à essência, de modo geral, algo hegeliano. A razão comum é que o desenvolvimento social eleva o intelecto e as técnicas para conhecer o mundo. Mas há o inverso: a abstração como lei de movimento geral (geral) tem por base, por meio da oposição particular (particular), os momentos históricos – reflexão – singulares (singular).

 

APONTAMENTOS

A partir de agora faremos um resumo crítico de boa parte da filosofia ocidental. Em grande medida, apenas repetirei palavras do professor marxista Sérgio Lessa em suas aulas: ele estuou textos não marxistas sobre ontologia (na verdade, metafísica) e combinou isso com seu profundo conhecimento da história. Por humildade excessiva, afirma apenas repetir os passos de Lukács.

 

ANTES DO ANTES

A filosofia começa com o homem – trabalho, linguagem e sociabilidade. Há nele um impulso metafísico, ontológico, filosófico, ou seja, científico. Com o tempo, percebeu padrões no mundo – mas pensava que as suas causas eram divinas, almas etc. Era incapaz de acessar as causas reais, logo, apelava para a imaginação fértil da espécie. Com o tempo, dominou as propriedades da realidade, assim, melhorou o trabalho, a linguagem, a sociabilidade e as ferramentas. Filosofar por meio de mitos era quase a única alternativa.

 

MATÉRIA E IDEIA

Falemos sobre empiria e raciocínio. Os primitivos compensavam a falta de capacidade de saber toda a verdade, as causas, por meio de imaginação, os deuses etc. Os gregos forçavam generalizações via empiria, por exemplo; além disso, por o empírico soar puro caos, clamavam pela confiança apenas na razão, no bom raciocínio. Os modernos ou confiavam na razão dedutiva a partir de premissas imaginadas, adivinhadas etc. ou empobreciam a ciência com o mero acúmulo de dados e percepção quantitativa de regularidades (leis). Até hoje, tenta-se fazer da criação científica algo como um procedimento burocrático passo a passo, que exclui a subjetividade criativa e associativa. Hoje, quando dados são frequentes, quando computadores fazem tal trabalho duro, podemos adotar uma unidade de razão e empiria, o método empírico-dedutivo, e histórico, pois, bem observado, há dois fatores centrais: 1) nem tudo é diretamente observável, 2) a verdade é não sensível, não empírica, impalpável, não é coisa, mas é dedutível. Os fatos, os dados, devem ser interpretados – incluso os limites dos dados necessários.

Três observações devem ainda ser feitas: 1) o indutivo foca no conteúdo – o dedutivo, na forma; o empírico-dedutivo respeita a unidade dos opostos; é a lógica da experiência; ambos são, em grande medida, tautológicos; 2) o amostral do indutivismo parece algo subjetivo e arbitrário apenas – mas leva em conta o tipo de materialidade (valor-matéria) do objeto de estudo, ainda que de modo inconsciente; 3) diz-se que a pesquisa não é de todo neutra porque o pesquisador tem teorias, concepções etc.; mas a coisa também é de outro modo: focar na aparência, no externo ou na descrição já é errar – a verdade está escondida, mas sem querer revela sua sombra.

Enfim, materialismo ou idealismo? Como “A” vai de x para não x – o desenvolvimento material da humanidade é materialista e tornar, um tanto mais, algo materialmente idealista, pois passamos a ter mais liberdade e organização para decidir nosso destinos. Assim, primeiro apresento provas empíricas e ontológicas; quase sempre depois, as lógicas e as gnosiológicas; há uma hierarquia necessária fruto da própria realidade.

 

CIÊNCIA E MÉTODO

Não há apenas um método científico – há vários. E o método é histórico, ou seja, muda com as mudanças da realidade social, com seu desenvolvimento. A ciência não começou no século 16, pois os gregos e mesmo muito antes deles, desde o começo do homem, já se fazia ciência, ainda que não tão boa. Os gregos tentaram criar métodos científicos, e criaram – também. A separação de filosofia e ciência é arbitrária em grande medida.

Mas o que queremos destacar aqui é isto: pesquisas profundas criam e exigem criar métodos. Ao focarem nos seus objetos de estudo, Platão e Aristóteles, para falar dos maiores, foram obrigados a pensarem métodos. Isso é típico de obras e produções sistemáticas. Newton criou seu próprio método indutivo, hoje senso comum, para ter seu sistemático Principia, sua física hoje clássica. Assim, Hegel e Marx procederam – tiveram de pensar o método na própria pesquisa concreta. Minhas obras teóricas também me forçaram, ao fim, a perceber uma dialética que considera o tempo (o movimento) ainda muito mais do que Hegel e Marx. Meu método foi criado no processo de pesquisa e, em grande medida, como resultado final, não o começo arbitrário. Tentar descobrir a realidade é tentar descobrir o método para descobrir a mesma misteriosa realidade. Querer fazer da ciência um passo passo a passo, repetimos, burocrático, “rigoroso”, sem subjetividade, sem educação filosófica, sem considerar até como a sociedade é hoje – trata-se de um engano. Lukács pensou o método como total subordinação do sujeito ao objeto; isso é fato, assim deve ser, mas tem algo de falso, pois o cientista também é ativo.

 

MÉTODO E VIDA

Lukács lembra que toda vaca sabe que todas a gramas pertencem à grama, ou seja, indutivo e vê o geral no singular. Quem tem certa ideia sobre algo, naturalmente faz deduções, insinuações. Os métodos são, primeiro, naturais porque evoluímos nosso cérebro para compreender a realidade, condição de sobrevivência e, depois, de transformação. Kant diz que há certo impulso quase irresistível de, ao colher os dados, o sensível, ir para além, debaixo ou dentro deles (metafísica). Se o todo parece confuso demais, tendemos a ir para suas partes. Os pensadores organizam, sistematizam, atualizam, desenvolvem e fundem métodos; aqui e ali, desde tal procedimento, podem fazer algo mais original, porém não necessariamente melhor ou mais correto. O método é natural socialmente desenvolvido.

 

ARTE, FILOSOFIA E CIÊNCIA

Costuma-se afirmar o óbvio: arte, filosofia e ciência são diferentes, diversos e até opostos, quando não contraditórios. Mas eles partem do mesmo tipo de cérebro e todos eles se baseiam na mesma propriedade criativa do cérebro – são o mesmo nesse nível. Todos visam compreender a realidade, todos visam criar, todos visam moral como tornar a vida melhor.

 

FORA DO LUGAR

Um produto intelectual foi feito em uma época e, em geral, para uma época. Mas ele resiste ao temo e ao espaço – muda de ambiente  e de circunstância. Assim, a produção é ampliada, adaptada, ressignificada, mais ou menos valorizada, aperfeiçoada, reinterpretada – ou até finalmente compreendida. Tal mudança de contexto é, em si, uma “força produtiva intelectual”.

 

CRÍTICAS DO EXISTENTE

Há duas formas de criticar o mundo, de ser subversivo; a primeira, olhando-se para trás ou para frente, ou seja, querer de volta o passado ou preparar um futuro. A segunda, divide-se em reacionária ou progressista; a defesa de uma ditadura aonde sempre houve democracia é olhar para frente, mas um querer contrarrevolucionário. Hoje, tanto os revolucionários quanto os golpistas criticam a decadência da arte hoje existente, mas aqueles desejam uma superação positiva e estes desejam a mera tradição.

 

TEORIA E TRABALHO

Até antimarxistas são obrigados a adotar a tese marxista de que a teoria reponde a uma época e, assim, um modo de trabalho. Diremos, portanto, algo mais. Primeiro, grande teoria exige grande trabalho, não um artigo por semana (em geral) – leva tempo e esforço, além de certo ócio; não é um raio em céu azul apenas e sempre ou em principal. Segundo, uma teoria deve permitir trabalho, novas sacadas, novas elaborações, novas deduções, novas resoluções de charadas etc. fazer a coisa toda circular, fluir. Mas isso pode degenerar negativamente. A produção científica de Freud foi degenerada pela especulação apenas filosófica de Lacan; as pobres “teorias” pós-modernas exigem muito menos trabalho, mais-preguiça, assim como o estruturalismo.

 

GREGOS

Todo historiador da filosofia grega é obrigado a aceitar as teses marxistas sobre sua origem, ainda que odeie Marx. O comércio forte (cosmopolitismo, contato com várias culturas etc.), o tempo livre, cidades povoadas, um povo ameaçado por outros maiores e a democracia – permitiram liberdade de pensamento, sua elevação. Além disso, a mitologia grega, com a qual a filosofia rompeu, era riquíssima enquanto inspiração.

 

Tales de Mileto

Afirmou: no fundo, tudo é água. Provas não faltavam como nossa dependência de tal matéria e o fato de “nadarmos” no útero antes de nascermos. Ora, o que ele não percebeu: a vida depende da água apenas – pois o meio é, também, o meio. O meio do inorgânico, grosso modo, é, grosso modo, o espaço.

Sua generalização da água como o elemento único estava errada. Mas tem duas qualidades: 1) a água é transparente, quase sem qualidades, abstrata; 2) abundante, o que indica seu lado primeiro. Gênio. Por fim, temos de lembrar o fato de ele pensar a água como a unidade da diversidade evidente. Isso é revolucionário: o diverso tem a mesma substância de fundo, a mesma fonte! Para Hegel e Nietzsche, comentadores, tal água já não é a água empírica em si – mas isso é duvidoso.

O comércio, ao igualar coisas tão diferentes entre si, já dava ideia de algo oculto. A igualdade dos homens livres na cidade – também.

 

Anaximandro de Mileto

Disse: tudo é Ápeiron. Vamos mais ao abstrato!: seria uma substância, um princípio, que é a unidade de tudo, aquilo de que tudo é feito. Ele é um abstrato abstrato. Superou seu mestre, mas ainda errou: o espaço é tal objeto misterioso, embora ele não seja o começo em si.

Ele pensou os opostos, mas não viu como algo de contradição construtiva e como unidade interna. Apenas um ganhar ou ceder.

E deduziu uma teoria da evolução!: que os animais derivam de outros animais. Além disso, que os animais surgiram na água (por causa dos raios solares!) e, depois, foram para a terra.

Considero este e Heráclito os maiores e meus mestres entre os chamados pré-socráticos.

 

Anaxímenes de Mileto

Disse: tudo é ar. Tal elemento também é abstrato. Para justificar sua ideia, percebeu que o ar produz o novo por meio da diluição e da condensação. O princípio dinâmico está correto, pois matéria é espaço condensado – espaço é matéria diluída.

 

Sociedade pitagórica

A matemática começa junto com o homem. Antes dos gregos surgirem como civilização, outros povos já tinham dedicação pelos números. Ora, a existência de quantidade e padrões na natureza, nas estrelas etc., levava à quantificação e ao desenvolvimento matemático. Mas os pitagóricos queriam a matemática pura e abstrata, tão longe o possível da sujeira mundana dos escravos. Por sua pureza e padrão, amavam a música. Diziam que o mundo era feito de números, um erro completo evidente. Além disso, o avançar matemático levaria, tarde ou cedo, ao abandono da perfeição (a raiz de 2!). Mas o mundo grego é cada coisa em seu lugar, determinista, o que estimulava e limitava os estudos.

Os pitagóricos afirmam que o pensamento e a realidade vai (vão) do ponto para a linha, para a superfície, para o corpo – em progressão. Demonstramos isso, vejamos: o “átomo” primordial decaiu em átomos (pontos) que, no entanto, permaneceram em liga interna oculta por meio de fios de espaço (provados pelo emaranhamento quântico) – daí a superfície e o corpo, que também é são união de pontos.

Se se quer mais concretude em nome da clareza, vejamos homem ou sociedade: um grupo humano único cresce e expande-se, então, divide-se em vários grupos dispersos menores; mas eles precisam criar, cedo ou tarde, conexões, estradas, rotas de comércio, sistemas de solidariedade, sistemas de guerra, meios de transporte – ou seja, linhas de matéria-espaço que geram internconexões entre os pontos comunitários. Assim seja, assim é.

 

 

Narrativas

Textos como o Édipo Rei ou os de Homero afirmam o mesmo: impossível fugir do destino das leis rígidas e permanentes do cosmos ou dos deuses. A sociedade grega era rígida e determinista em seus rumos escravistas, o que era uma imposição sobre o pensamento. Ai de um escravo que sonhe escravizar seu senhor!

 

Heráclito

Disse: tudo flui – ou seja, só a mudança é permanente. Para ele, tudo é fogo, pois o fogo une materiais e transforma. O fogo também tem algo de abstrato. Ele descobre que a contradição é, também, positiva. Mas diz isso no auge do império grego, ou seja, quando a guerra trazem vitórias e… escravos. Daí seu valor para a luta e para o conflito.

 

Parmênides

Ele disse: o movimento não existe, uma ilusão. Reforça: o ser é – o não ser (nada) não é. Isso tem sua força: desconfia do óbvio, dos fatos dos dados, da sensibilidade. Mas pesa demais a balança para a razão. Quer fazer o mundo caber na razão no lugar da razão caber no mundo. Isso expressa o afastamento do trabalho manual, do mundo concreto. Também expressa o afastamento da filosofia das questões práticas ou concretas.

Para ele, o Ser real é imóvel e infinito (ilimitado). Se tiver limite, não seria todo o Ser. Se fosse movido não seria o que é, logo, não ser. Deixa de perceber, assim, que o nada primordial era o infinito “imóvel” (caótico puro); que, neste caso, o ser absoluto vem do nada absoluto. Além disso, que o movimento deriva de uma quarta dimensão – quase impossível de teorizar naquele tempo.

Zenão (o “primeiro” dialético, que prova o erro adversário ao levar seu argumento até as últimas consequências absurdas) tenta defender tais ideias afirmando: uma flecha em movimento tem de percorrer um espaço infinito (que pode ser dividido ao infinito), logo, ele, na verdade, nunca se move. Ora, resolvemos ao considerar que a matéria – no caso: a flecha – não é externa ao espaço, mas é o próprio espaço concentrado, para dentro de si, em movimento.

De um lado, alguns defendem o pluralismo – outros, que existe apenas a unidade. Mas a unidade tem a pluralidade e até a dualidade dentro de si.

 

 

 

Empédocles

Com os acúmulos ideais da filosofia, ele tenta uma unificação. Existem todos os quatro elementos como básicos: terra, fogo, água e ar – em unidade.

Antecipou por milênios a teoria do Big Bang. Para ele, tudo era uma coisa única junta, rodeada pelo caos. Tal caos, então, penetrou neste Um (verdadeiro átomo primordial) e criou sua “expansão”, sua mudança. Por isso, há dois princípios internos: amor (atração) e ódio (repulsão). Porém, deixou de ver a origem de tais “forças” e que elas geram uma à outra, no tempo e ao mesmo tempo. Não vê que o vazio infinito caótico geral deriva a matéria-espaço com leis e ordem.

Mas foi o primeiro a pensar a evolução do universo de maneira científica e materialista, com bastante acerto. Para ele, o universo é cíclico, crescer (expandir-se) para depois juntar-se – e de novo, e de novo. Era-lhe impossível perceber melhor a causa de tais movimentos.

Na espiral, a física moderna recupera suas teses em nível superior.

 

Anaxágoras

Disse: o mundo é feito por diferentes partículas (homeomerias). Mas, para ele, não existiria uma partícula comum, como o fóton ou neutrino para nós, somente infinitos tipos de partículas. Há a partícula da madeira, da pedra, do plástico, da carne etc. É o cansaço da unidade interna das coisas, do princípio único (Arkhé) após a tentativa anterior de unir os 4 elementos sensíveis. Pelo menos, abriu caminho para pensar átomos.

Na cosmologia, recuou ao pensar uma razão ou deus organizador do universo. Para ele, impensável que o caos possa parir a ordem.

 

Atomistas

É o auge do materialismo, e sua decadência. Os fundadores principais são Demócrito e Leucipo. Ela afirma, claro, que tudo são átomos – eles são um, mas se diferenciam em grandeza (tamanho), forma e substância (Marx usa os três aspectos para saber a natureza de outro objeto abstrato, o valor). Apenas depois incluiu-se peso.

Tudo seria átomo em movimento e o que permite este mover-se, o vazio. Para nós, átomo e espaço. No fundo, o vazio faz o átomo – mas o átomo também decai no “vazio”.

Como tudo na maior parte da sociedade grega, o determinismo ordenava o mundo atômico – a necessidade contra a liberdade. Apenas com o avançar social, séculos depois, com a maior individualidade, na decadência romana, surge o atomismo do caos, da liberdade de movimento, em Epicuro.

A nossa teoria atômica atual inspira-se e é como um retorno elevado aos atomistas antigos (espiral). Mas a ideia de átomos isolados e desconfiados, como os cidadãos no capitalismo, está incompleta – não errada, incompleta. Há fios invisíveis (de espaço) ligando tudo a tudo. Uma interdependência universal – algo apenas é no seu meio comum, “comunitário”, ainda que em conflito e afirmando-se, como deve ser.

Ademais: o átomo, o indivisível, é o maior, não o menor – grosso modo, o cosmos ou o espaço.

O atomismo indica certo auge do escravismo grego, com maior individualidade, algo aprofundado pelos sofistas (profissionais liberais).

 

Sofistas

O auge grego, com sua democracia, gerou os sofistas. Com o homem mais humano, mais citadino etc., ou seja, mais distante da natureza bruta, passou a ter mais liberdade para dizer o que quiser, para especular – para colocar o próprio homem como centro. A verdade não importava, o homem era medida de todas as coisas. Com a democracia, a retórica ganhou alta importância.

Assim, um filósofo, sendo comerciante e próximo de tal mundo, pode defende novas pautas liberais como fim do Estado, maior liberdade individual etc.

Nossa cultura socrática pensa os sofistas como menores e oportunistas, mas isso é metade da verdade. Eles colocaram o homem no centro e suas questões mundanas, preparando o terreno para seu inimigo Sócrates. Além disso, quase afirmaram que o puro pensamento não alcança a verdade – sabemos que falta a dedicação à empiria ao sensível porque o sensível (social) ainda estava imaturo.

A afirmar que a verdade é relativa, crítica indireta às várias teses então improváveis do princípio geral do mundo (Arkhé – fogo, água, ar, átomo etc.), abre-se caminho para o idealismo, reação reacionária contra a decadência grega.

 

Sócrates e Platão

Pensa-se que tal gênio tomou veneno por ser rebelde. Mas, na verdade, ele defendia uma ditadura contra a democracia. Como qualquer idealista, pensa que a culpa do início da decadência grega é a política, não a economia. Sócrates passa a focar – de modo inédito – no homem, na política, na cidade etc. por necessidade: seu modo de vida, o escravismo grego, estava em crise.

Seu método de ouvir sinceramente a opinião de um entendido sobre certo assunto, fazer perguntas e descobrir que chegou a um impasse aparentemente insolúvel (aporia) fez história. Seu erro é não ver que definição de coragem, justiça etc. não precisa ser estático, com uma só descrição, sem contexto, sem matéria.

Ele inspirou Platão de vários modos, por isso destacamos dois. A ideia romântica de Platão do filósofo que saiu da caverna, viu a luz solar e voltou para avisar a todos tem algo de menor beleza… Com tal alegoria ele quis defender que um rei-filósofo – no caso, ele mesmo – deveria governar a cidade, sem democracia. Era sua reação à decadência de seu povo. A busca pela verdade fixa é sua busca por um regime de Estado fixo, uma ditadura que dispensa o debate.

No seu método, ele propõe ascender até o conceito mais puro e abstrato – o belo, o bem, a justiça etc. – e, depois, com tal categoria clara, voltar ao mundo mundano para melhor compreender o que se passa.

O mundo dividido em classes dividiu o pensamento platonista em mundo das ideias (ou formas) e mundo sensível. Aristóteles refutou tal visão: o mundo da ideia deveria ter, ele mesmo, outro mundo das ideias, que também deveria ter outro etc. etc. etc. Como qualquer senhor de escravos decadente, Platão odiava a mudança e queria o permanente, o imóvel.

A divisão em dois universos – um em movimento e outro estático – foi uma originalidade de Platão que me serviu de inspiração para pensar uma quarta dimensão espacial, dimensão “para dentro”, causa em geral do movimento, pois a coisa cai nela como em si mesmo (a matéria, sendo espaço, também é quadridimensional), além de ser talvez a casa da energia (sendo espaço, ou melhor, sua outra dimensão oculta) não diretamente observável, mas dedutível.

Outra inspiração. A ideia do rei-filósofo foi adaptada para nosso tempo com a existência, no socialismo, de um parlamento apartidário científico não eleito (cargos assumidos por concurso etc.) – mas suas resoluções podem ser negadas pelo outro parlamento, este também executivo, eleito e com mandatos perdíveis a qualquer momento (além de salários limitados, diferente daquele outro com salários maiores afim de segurar conosco os melhores cérebros). Assim unimos “ditadura” e democracia, planejamento de longo prazo e controle social, política e tecnicidade.

Há que destacar: 1) o desenvolvimento do tipo grego permitiu a filosofia, 2) a decadência produziu os melhores filósofos – Platão e Aristóteles. Mas tem uma questão: ser bom ou melhor facilita manter os escritos por milênios, uma tendência – mas exato a qualidade pode levar à destruição de textos. Talvez, alguns tenham sido tão grandes quanto, mas os pensamentos de Aristóteles e Platão eram os aceitáveis àquela sociedade.

 

Aristóteles

Para tratar tantos e tão novos temas, ele teve um método: focar na descrição, classificação etc. Sua qualidade e seu limite. Para ele, a essência do mundo não estava no reinos das ideias, mas no mundo mesmo, nos entes ou coisas. Mas seria um pluralismo de essências, cada um com a sua, sem uma unidade real.

Para explicar o incômodo movimento, supôs o não movimento de um primeiro motor imóvel (que seria um Deus-artesão) e imaterial. Algo como certa consciência que, sendo isso, teria o poder de mover a si mesmo e gerar, roduzir. Seu paradigma é o artesão urbano. Ora, ele não vê que a mudança é permanente – e a pausa, artificial. E sequer suspeita que a matéria e o espaço em relação geram o movimento, ou a queda permanente na quarta dimensão. Ele olhou o movimento “para trás” – uma causa que tem uma causa, outra coisa, outra causa etc. – não como “parta baixo”, uma queda em outra dimensão como em si mesmo. A causa do movimento está presente, não apenas no passado.

Disse: para compreender o mundo, basta olhar. O céu alto tem estrelas imóveis – de todo; mais abaixo, planetas um pouco móveis, lentos; abaixo o Sol em movimento quase regular; abaixo, a dinâmica Lua; abaixo, a dinâmica e violenta atmosfera; abaixo, enfim, o mundo caótico dos homens – sem permanência. Não passou por sua cabeça que a lentidão aparente era, na verdade, distância elevada. O fato de a sociedade escravista ser transparente, tanto mais na sua crise, levou ao pensamento da transparência do mundo; apenas no capitalismo em seu alvorecer, quando as categorias práticas comuns são misteriosas (de onde vem o preço que está, agora, em toda parte? etc.), é que a busca da essência foi ampliada e aprofundada, como na física.

Para ele, a razão dava ordem (classificação etc.) ao mundo – um dualismo mais discreto que o de Platão.

Aristóteles tem ainda dois métodos: 1) avaliar as partes de um todo – mas não vê as partes e o todo de modo real, ou seja, dialético; 2) dedução: premissa maior mais premissa menos geram uma conclusão final – mas isso é substituir o mundo pela cabeça, querer agir pelo puro pensamento.

O marxismo que advogo funde o método de “elevação-retorno” de Platão com o “todos-partes” de Aristóteles. São duas formas de concreto (amorfo) para o abstrato – e de volta ao concreto.

 

Cínicos

Eles abrem caminho para os estoicos, os éticos, a seguir. De imediato, em principal em Diógenes, são uma folosofia não classista, mas ao menos “dos de baixo”. Como era impossível uma revolução, invenção burguesa, apostavam na revolta individual, no desdém, na negação do luxo e do prestígio, contra as leis humanas. Queriam a felicidade que parecia ser obra de uma vida simples, mendicante, quase natural. O grau de liberdade dos não escravos permitia tal tipo de revolta disciplinada rumo à grande pobreza. Como gente fora da classe dominante, focavam na prática sobre a não prática.

 

Estoicos e céticos

O estoicismo é o cinismo para gente com renda num mundo decadente. Hegel diz que o ceticismo é uma derivação natural do estoicos. A questão toda é que a sociedade mais desenvolvida tinhas dois efeitos: 1) maior individualidade, 2) início da decadência. Daí o foco na felicidade individual impossível. Até ideias malucas de não se deixa afetar pelo meio… A dúvida quanto à verdade do mundo deveria, então, surgir.

 

Agostinho

Diante da violenta decadência do império romano e de todo o mundo escravista, o santo católico pensou: estamos no processo do fim do mundo. A vida era pior agora em relação ao que era antes… Era óbvio que o fim de uma civilização soava como o fim de tudo. É a filosofia do apocalipse. Tem um algo importante aí, quer seja, há história!: o mundo teve começo, meio e está à beira do fim. Minha teoria da crise sistêmica é, de modo materialista e científico, uma forma um tanto moderna de escrever um apocalipse, de anunciar um fim, e com analogias possíveis com o agostianismo.

A ideia platônica de mundo das formas puro e, contra, mundo sensível foi reformulado catolicamente como cidade de Deus, puro e imóvel (paraíso nos céus), contra a reles cidade dos homens, suja, instável, ou seja, e feita para nosso sofrimento. Viver é sofrer.

 

Narrativas

Foca-se em Deus, no pecado, no amor puro etc. Por motivos óbvios.

 

 

Tomás de Aquino (Tomismo)

Séculos depois de Agostinho e da decadência romana, o feudalismo começou a dar certo, a mostrar para que veio: com os trabalhadores servos donos de suas próprias ferramentas, diferente dos escravos, eles queriam muito o aumento da produtividade para melhor comer, beber etc. Certa abundância surgiu. A filosofia do fim do mundo adiante começava a fazer água: a vida melhorava, havia comércio, as cidades cresciam, comia-se mais.

Por isso, Tomás de Aquino precisou de nova filosofia: o homem – mais livre por maior produção – tem livre arbítrio, pode escolher pecar ou não, nada de destino determinista antigo! Sua ilusão filosófica expressava uma realidade de fato.

Assim, com seu pensamento, ele abriu certo caminho para a ciência, pois saber como é mundo é saber da obra de Deus. Desenvolver a ciência era uma necessidade social, logo, precisava de uma boa desculpa… Ademais, os Árabes “pecadores” tinham conhecimento muito mais avançado e – temos tal dívida eterna para com eles – salvaram os textos antigos.

Inspirado em Aristóteles – opondo-se de novo a Platão-Agostinho –, afirmou: o reino dos céus (nos céus, mesmo) é imóvel e perfeito; mais abaixo, cada vez mais matéria, mais confusão e sofrimento; e abaixo do nível problemático dos homens, tem mais outro, quer seja, o inferno de larva no centro da terra, debaixo da terra, em oposição aos belos céus; logo, os homens estão no meio, podem cair ou subir.

 

Os primeiros modernos

Não mais que de repente, o comércio continental e marítimo ganha força enorme, grupos de trabalho urbano crescem, a cidade flui ideias – torna-se como nunca necessário compreender o mundo e desenvolver técnicas novas. A burguesia, nova classe, precisava disso.

É o começo do fim do paradigma aristotélico. A ideia óbvia de que as coisas só se movem se agredidas passa para ideia oculta de que o movimento é natural, não o repouso – a aparência esconde a essência! Mas a inércia das ideias passadas insiste. A igreja Católica percebeu, corretamente, o risco ao seu domínio.

Belarmino, um pensador contrarrevolucionário, fez parte da perseguição contra Galilei Galileu. Dele, saiu uma regra: a ciência deve saber o “como”, nunca o “porquê”, pois este último é tarefa apenas da igreja. Este cínico indigno de ter sequer um nome ajudou a criar uma prisão na ciência: até hoje os cientistas pensam que sua tarefa é apenas saber o “como” sem sequer desconfiar que a capela maldita está dentro de suas cabeças. Outros motivos ajudaram na vitória de tal ideia: 1) imensamente mais fácil saber o “como” em relação ao “porquê”, 2) imensamente mais fácil fazer ciência sem o padre vigiando…

Assim surgiu a manias de saber apenas das leis – sequer leis subversivas de movimento, de desenvolvimento, apenas leis regulares! Leis de permanência! Que doce e comportado! Leis para todo canto surgiram, até o esgotamento relativo de tal prática, que passou a exigir, também, teoria, explicação.

Newton demonstrou a legalidade da gravidade. Mas o que era a gravidade em si? A pergunta era quase proibida, e o jovem cientista que ousasse levantar a voz tinha a carreira encerrada prematuramente. A necessidade de leis do Estado para controlar o trabalhador mais livre repercutiu nas leis da cabeça do pensador físico.

Mas a ideia de que o movimento é a regra venceu – a vingança tardia de Heráclito! Foi preciso uma sociedade de movimento, de caos, de conflito, de igualação dos opostos, de impermanência para a ideia ser aceita. Nada da rotina tradicional medieva.

Como transição para o materialismo e, por seu aprofundamento, o ateísmo, Spninosa pensa deus como a própria substância única material da natureza – e determinística.

A ciência e sua matematização seguiu, grosso modo, com menos ou mais consciência, tal derivação:

 

1.        Deus é perfeito

2.        Por ser fruto de Deus, a natureza é perfeita

3.        A matemática é pura e exata

4.        Logo, a matemática é modo de conhecer a obra divina

 

As premissas estavam erras, e a conclusão de certo modo também. Em parte, a premissa foi feita para justificar a conclusão. De qualquer modo, tais erros permitiram imenso avançar da ciência em terreno religioso.

Duas posições opostas surgiram, dois métodos.

Descartes pensou o mundo como certa máquina, relógio, mecanismo. Tal mecanismo seria harmônico, de causalidade mecânica, com partes autônomas em si. O mundo que pedia novas ferramentas e produtos fez do método científico um produto. Até hoje, pensar-se a realidade como certa máquina como computador; o cérebro seria mero computador, por exemplo…

Ele tomar o todo e divide, como quer, em partes e mais partes – até a coisa ficar simples. Não entende que a existência é contradição, mudanças e saltos de qualidade, influência recíproca, interdependência mútua, desenvolvimento desigual das partes, conflito, interação, história e desenvolvimento – a realidade é um sistema orgânico, dinâmico, dialético.

Ele também desdenha da empiria: dos sentidos, do sensível, dos dados apenas veríamos mentiras. Logo, deveríamos usar um método racional dedutivo novo: de certas premissas que o próprio cientista escolhe, deduzo com conclusões. Que tais premissas sejam um tiro no escuro, não interessa…

Bacon usa o método oposto, um vício inglês. Deve-se apenas colher e organizar dados, quem sabe aqui e ali algum comentário lateral, mas evitar qualquer coisa além disso, que seria guiado por “preconceitos” do pesquisador. Soa pobre porque é. O pensamento, não os dados, seria a fonte do engano. O pesado empirismo nos EUA e na Inglaterra deriva do capitalismo avançado com sua tara quantitativa e, logo, a necessidade de negar essências (daí o pragmatismo, a simpatia pelo positivismo, a indução, a filosofia analítica etc.).

Qual a solução dos opostos? Empírico-dedutivo; dedutivo, porém empírico; empírico, porém dedutivo. As “premissas” devem ser empíricas, não “racionais” ou “intuídas”, então, delas deduzir – considerando, claro, o movimento, a mudança, a história. Eis a nova dialética. É possível deduzir o erro do empírico, quando há. É possível provar o erro da dedução, quando há.

Deve-se destacar que Newton produziu, por meio de sua pesquisa, um método indutivo: colher dados e, então, generalizar tudo disperso numa lei comum. Einstein, ao contrário, mas sem saber, fez o empírico-dedutivo: partiu de dados comuns (como a razoável ideia, empiricamente consolidada, de que a velocidade da luz é a máxima possível) para, então, deduzir.

O sucesso enorme do universo newtoniano promovia a concepção de um universo repetitivo, mecânico, infinito apenas extensivamente (infinito apenas quantitativo), com leis rígidas e eternas, sem história. Perguntar pelos motivos do mundo foi marginalizado. A concepção de todo com partes separadas levou Newton a pensar o tempo e o espaço como absolutos, independentes, repetitivos, sem história, imóveis e sem interação recíproca com os elementos da totalidade.

Consolidou-se a visão do dinheiro: o quantitativo contra o qualitativo também na ciência, a forma contra o conteúdo, a aparência contra a essência, a lei regular contra a lei de desenvolvimento, a harmonia contra a contradição, o isolado contra a integração. Mas tal salto apenas se consolida depois de Marx, quando a burguesia largou a missão de saber do perigoso mundo e se recolheu nos seus belos castelos.

Eis o eclipse maldito da metafísica, sendo Kant um de seus auges sombrios. Ora, se temos no marxismo uma ontologia do ser social, logo, talvez haja, via verificação por pesquisa, uma ontologia geral, universal, de todo o Ser – metafísica. Não basta saber que ser é movimento, pois devemos saber a causa do movimentar, por exemplo. Para haver contradição deve haver movimentação. Por que o inorgânico move-se, por que necessariamente e sempre? Uma rede de tabus surgiram. Metafísica tornou-se sinônimo de metafísica medieval, esta sim religiosa. Nas universidades, a tentativa de desmoralizar o adversário tinha um segredo, acusá-lo de metafísico.

 

Os estadistas

Os contratualistas representavam a necessidade de um bom Estado para permitir o funcionamento daquela sociedade híbrida, feudal e burguesa. A moral burguesa seria a moral natural… Eis um vício comum na história do pensamento, uma lei: a naturalização do que é social. Mas Rousseau, de origem pobre, foi a grande inspiração subversiva, de traços socialistas até hoje não reconhecidos. Ele sentia a nova alienação infestando o ar. De fato, deixado tudo solto, teríamos uma guerra civil logo… Em 1789… Em 1848…

 

Idealismo Alemão

Para afirmar a revolução burguesa, Kant e Hegel defenderam o idealismo, que os homens fazem a história por meio de suas ideias, que o homem é o centro de si mesmo etc. Estavam na atrasada Alemanha carente de uma revolução francesa para chamar de sua.

Kant, o organizador do senso comum, coloca o indivíduo no centro. Temos os dados empíricos e, então, impomos nossos conceitos arbitrários sobre eles. É um dos auges do iluminismo.

Já Hegel pensava que podemos desenvolver a pesquisa conceitualmente, de conceito a conceito – pois o sistema universal, real-mental, havia sido descoberto.

 

Narrativa

Foca-se no indivíduo, na sua liberdade, na sua ousadia – como o capitalismo gosta.

A vida isolada, atômica, dos indivíduos capitalistas facilita aceitar, hipotetizar e perceber os átomos, por exemplo.

 

ANTECIPAÇÃO: CRISE DO DETERMINISMO

Antes de tratarmos do último paradigma completo, o marxismo, vamos fazer um breve retorno ao tema já focado.

No escravismo grego, naquele nível de sociedade, a liberdade era pouca e rara. A vida determinística fazia um pensamento determinístico. Pensar, por exemplo, em probabilidades matemáticas era algo difícil, perigoso até.

Com o capitalismo, tudo muda: trata-se da sociedade mais livre, individual e aberta que já tivemos – ainda que de modo de negativo. Isso, tal caráter, permitiu ou facilitou o desenvolvimento de teorias como a probabilidade matemática – ou a ideia marxista, presente no Manifesto, de que a luta de classes é como a luta de xadrez, pois pode ter milhões de movimentos singulares, porém, no geral e no todo, apenas dois resultados, 1) extinção dos jogadores ou 2) a vitória de um dos lados.

Esse é campo social – e o capitalismo, no seu avançar tornou-se caótico demais, com mediações demais, complexo demais, irracional demais. Assim, surgiram teorias sociais afins como o pós-modernismo, pós-estruturalismo, materialismo aleatório etc.

Na física, deu-se do seguinte modo: com o avançar da sociedade, avançou a ciência, fomos cada vez mais longe e dentro; mas, por isso, tudo ficou complicado, ou seja, tronou-se difícil ver o mundo de modo causal e determinístico, como queria Einstein. Então, surgiu o mecanicismo indeterminado ou aleatório; pode-se ter a probabilidade de uma partícula estar ali, ou aqui, ou acolá, mas não sua determinidade.

Ora, já demonstramos a teoria provável de que um conceito é para nós e o conceito oposto é para si, na realidade. O mundo pode ser determinístico, mas tão complexo e difícil de saber sua essência que nosso conhecimento e previsão é aproximativo, por probabilidades.

O avançar do capitalismo (tanto a técnica quanto a sociabilidade), enfim, facilitou a descoberta da teoria do caos – as leis produzem dinâmica de caos! Fatores pequenos e irrisórios podem mudar tudo no médio prazo! No concreto imediato, pela complexidade do objeto dinâmico, apenas podemos fazer previsões de curto prazo! Tal teoria tem muitos pontos em comum com o marxismo.

O existencialismo, com o avançar da sociabilidade, afirma o individuo e sua liberdade – o homem e faria sua própria essência e sempre teria alternativas.

Michel Foucault diz que o louco é, cada vez mais, na verdade, o subversivo (o que razão tem) – mas é o contrário, cada vez menos. Porém o tempo de decadência aumenta a loucura geral, do povo e dos políticos; parece que quanto mais desequilibrado, mais votos terá. Por marginalidade longa, vejo como algo comum certo desequilíbrio entre militantes revolucionários, tanto mais quando mais tendem ao ultraesquerdismo; mas não são loucos absolutos, apenas traços para adaptar-se e suportar sem romper com a racionalidade. A decadência geral da mente dificulta perceber o próprio fenômeno, pois é geral. Às vezes, sim, os loucos têm razão – mas o comum é a doença grave, incapacitadora de ver o real de modo real.

A crise do sistema capitalista, a crise do capitalismo como sistema, sua sistemática em crise, leva ao pensamento (psique, filosofia etc.) não sistemático, caótico etc. Eis os irracionalistas na filosofia e na teoria em geral.

 

A PRISÃO APARENCIAL

Desde Kant, boa parte da ciência evita a essência, o conteúdo, o não diretamente observável. A fenomenologia afirmou que a aparência é a própria essência, sem desvio ou inversão. Depois, as várias variantes do positivismo limitaram-se ao que aparece de modo direto, à aparência, ao regular, ao empírico, ao apenas dado etc. Por quê? Porque a ciência empobreceu-se? No campo social, ver a essência é ser anticapitalista até a medula – obriga a conclusões e práticas críticas. A sociedade tornou-se por demais complexa. Por isso, de modo consciente e inconsciente é algo evitado. No campo teórico, fomos muito longe; mas, quanto mais longe íamos, mais difícil ficava a realidade; por isso, diante da tarefa pesada, recuou-se no menor trabalho, na lei, na regularidade, na busca de dados externos etc. Assim, a física quântica por muito tempo limitou-se, ao modo positivista, a apenas quantificar, matematizar, os fenômenos até então, até hoje, sem explicação. Agora é um ciência bastante irracional, ainda. Ficar na aparência é mais fácil, mais classista moderado, com resultados rápidos, com fácil uso industrial. Hoje, perceber a realidade interna do mundo tende a exigir uma postura específica diante dele, nele. Com a dificuldade maior, o sujeito cientista deve ser uma boa ferramenta, e um bom objeto, bem localizada etc. Quem não sabe a essência, não sabe nada, ainda que saiba muito. Se, por exemplo, nossa teoria aqui exposta da física, a teoria de tudo, estiver correta, demonstrar-se superior às demais, apesar da baixa matematização, então ficará mais claro o limite empirista, aparencial. A crise da prisão aparencial virá, de um ou outro modo.

Isso se desaguou no pós-modernismo: haveria fatos, não verdades – haveria apenas múltiplas interpretações arbitrárias. Na espiral, versão nova do sofismo e do ceticismo. Causa: afastamento da natureza, maior sociabilidade, afastamento da vida prática. Já tratamos em outro local as críticas centrais a tal pensamento.

Desde Marx, sabemos que um maior pensador da história precisa surgir quando a própria história é maior, incluso história intensiva, e desenvolvida em alto grau.

 

Marx

Os idealistas alemães (Schelling etc.) já diziam que havia história real: que da não vida viria a vida e, depois, a consciência… Marx considerou a economia, dentro dela, a produção, dentro dela, o trabalho – como central. Mais isso já era ideologia burguesa contra o feudalismo, apropriado pelo movimento operário não marxista ainda. Marx levou até as últimas consequências, como trabalho (humano) enquanto fonte primeira do homem. E deu ares muito mais materialistas e profundos à ideia de que tudo é história. Isso só foi possível porque a humanidade já tinha muita história nas costas…

A teoria do Big Bang e a teoria da evolução “apenas” provaram que Marx tinha razão. Ser é movimento (contraditório). Hoje, qualquer criança escolar sabe que a história tem peso no mundo, que o passado é causa do futuro – isso é sinal de socialismo. Diz Hegel: jogos de adultos na antiguidade são, hoje, jogos de crianças. O Big Bang, que pode ser sensivelmente atualizado, coloca o universo em movimento, com história; que elementos tornam-se outros por decaimento etc.; que há eras cósmicas (das estrelas, dos buracos negros etc.). A concepção a-histórica newtoniana foi superada como consequência da, derivações da, teoria einsteana. Antes de Darwin já se supunha que seres vivos evoluem para outros, de uns para outros, mas não sabíamos como ou por quis leis tudo mudava; a visão darwiniana é hoje atualizada pela genética e por pensadores biólogos como os biólogos dialéticos. Em várias línguas, a química tem o significado de separação, quebra, divisão – apenas; isso deriva do mecanicismo; mas ela é a ciência da transformação; os químicos pensavam que todos os elementos sempre existiram e sempre existirão, e separado, lado a lado, parados etc.; hoje sabemos que elementos mais simples produzem elementos mais complexos; que elementos combinam-se em moléculas; que as estrela, por meio do trabalho estelar, produzem novos elementos mais energéticos, mais pesados; que há movimento, do simples ao complexo, história e estrutura, desenvolvimento, salto de qualidade, contradição. A concepção histórica, marxista, venceu ainda sem receber sua medalha. 

Mais: as ideias são frutos de relações materiais. A cabeça segue o chão que os pés pisam. A vida capitalista, a selva que é, permitiu e facilitou Darwin alcança sua teoria. O modo de viver gera tal sensibilidade diante do mundo que produz, também, um modo de pensar. Isso é inédito, mas não é sequer um terço do homem.

O desenvolvimento do trabalho, logo, da técnica, logo, da produção, logo, da economia, faz certa sociedade entrar em altíssima contradição – ela é obrigada ou a criar novas relações sociais que estejam de acordo comas novas técnicas de trabalho ou a sociedade em questão morrerá. Por exemplo: hoje temos uma superprodução crônica absoluta latente, produtividade explosiva e implosiva, mas o comércio é o reino da carência para que os preços compensem, para que não fiquem abaixo dos custos de produzir – a forma de produção, altíssima produtividade, abundância, não cabe mais nas regras da forma de distribuição, o comércio, a carência dos altos preços. Um avançou enquanto o outro estagnou, um conflito total.

O marxismo depois de Marx operou várias reformas revolucionárias, mas nenhum salto para si, interno. Houve bons resgates e desenvolvimentos de temas marginais em Marx e Engels (Estética, teoria da dependência etc.). Correndo o risco de ser delirante, afirmo que o conjunto de minha obra teórica cumpre a função de afirmar o marxismo como sistema relativamente aberto completo. Isso só foi possível por: 1) altíssimo, mas desafinado, desenvolvimento da teoria até aqui (incluso da teoria não marxista), 2) crise sistêmica do capitalismo. Considero-me, com a devida maneira singela, o último dos pré-socráticos.

Toda teoria nova que surge, surge como inimiga do marxismo. Estruturalismo, pós-modernismo, reducionismo etc. são formas de negar a mais avançada teoria. A fenomenologia toma a aparência como se essência direta fosse… Está atrás de Marx e Hegel. Os marxistas devem negar tais produções, mas também ver nelas: 1)a causa material de suas origens, 2) ver qual o núcleo racional presente a ser desenvolvido de modo correto e concreto. O marxismo, apesar do passado estalinista, torna-se o fim das teorias dogmáticas porque ele é atualizável, relativamente aberto; capaz, por exemplo, de aprender com erros de teorias adversárias.

Lukács afirma que a filosofia moderna caiu em irracionalismo para negar a realidade ou sucumbir abaixo dela. A pobreza do (neo)positivismo também é duramente criticada. Não há novismo que supere a teoria marxista.

O marxismo degenerou em negatividade, em falta de riscos, em historicismo absoluto. Como afastamos por demais as barreiras naturais, como somos muito sociais hoje, parece que tudo é construção social, mesmo em seu sentido radical marxista (tudo é história). Afirmar que o marxismo é contra o idealismo não é hoje dizer muita coisa. A luta por uma sociedade melhor divide os homens em relacionalistas ou substancialistas, em dialéticos (sistemáticos) ou reducionistas. O materialismo tornou-se, entre gente letrada e relevante, um senso comum. Temos, portanto, novas oposições. Uma delas: analíticos ou metafísicos materialistas. Se formos sábios, seremos filiados aos segundos. Os marxistas universitários estão tão desatualizados – e não falo de filosofias fast food – que não sabem a visão superior hoje da metafísica.

Isso leva ao caráter deste livro. Um jovem autor marxista tem a obrigação da humildade, mas é duas vezes mais obrigatório dizer as coisas tal como são, na sua medida precisa. O marxismo passou por 5 grandes revoluções ortodoxas; entre elas, ocorreram importantes reformas teóricas, mas parciais. A primeira revolução foi a fundação e consolidação do marxismo por Marx e Engels. A segunda ocorreu por meio de Lenin – teoria do imperialismo, teoria do reflexo, teoria do partido. A terceira, por Trotsky – teoria da revolução permanente, lei do desenvolvimento desigual e combinado, teoria da curva de desenvolvimento capitalista, teoria da burocratização, programa de transição, a estética, a moral etc. (ele foi inferior a Lenin na política, mas superior na amplitude de suas contribuições). A quarta, por Lukács – estética, crítica do irracionalismo filosófico, resgate (e atualização) do método dialético (causa e acaso), reificação e ontologia. Entre Trotsky e Lukács ocorreram grandes reformas teóricas, embora dificultadas pelo estalinismo, e despois deste último teórico – em principal: resgate de Gramsci, Lefebvre, Moreno, Mandel, Kurz, Mèszáros e os teóricos da dependência; além deles, houve avanços significativos na psicologia, quase revoluções. Mèszários e Kurz fizeram contribuições, reformas pré-revolucionárias, preparando o caminho. Este livro que o leitor tem em mãos é a quinta (terceira, como veremos) revolução por dentro do marxismo. Inexiste nas últimas décadas contribuição semelhante em quantidade e qualidade, em profundidade. Quase todos os aspectos e temas do marxismo foram atualizados e corrigidos. Mas isso tem seu risco, pois a originalidade, ainda mais se correta, costuma ser acompanhada da marginalização. Um novo marxismo, ainda ortodoxo, que preserva as contribuições e conquistas do passado, está surgindo.

Cada curva de desenvolvimento do capitalismo, quando começa a transição e o declínio, inicia revoluções no marxismo ortodoxo: a primeira curva produz, por assim dizer, não apenas de modo metafórico, Marx e Engels; A segunda, Lenin, Trotsky e Lukács (além de Gramsci etc.); a terceira, Mészáros, Kurz e, enfim, esta obra. Nesse sentido, temos três revoluções, cada uma correspondente a uma das três etapas do capital, cada revolução industrial etc. Embora pareça improvável, dada a profundidade intensiva e extensiva dente livro por exemplo, talvez as próximas revoluções socialistas ou a continuidade do aprofundamento da precarização na vida comum aprofundem a última revolução interna marxiana.

Marx e Engels apenas poderiam surgir na Alemanha (superestrutura) – com sua ânsia modernizadora, combinação e contradição de avanço e atraso, tradição filosófica etc. – desenvolver-se na França (estrutura, classes e relações de) e consolidar-se na avançada Inglaterra (infraestrutura, economia). Trotsky e Lenin apenas poderiam produzir desde a Rússia com seu desenvolvimento desigual e combinado, com altíssimas contradições, com dura ditadura czarista, com sua combinação de oriente e ocidente etc. A preparação da terceira revolução marxista só poderia surgir na Europa da terceira revolução industrial, mas teria muito mais oportunidade e facilidade de desenvolvimento num país como Brasil, com forte classe operária, tradição de grandes lutas, democracia burguesa, decadência e desenvolvimento máximo de seu capitalismo não imperialista, diversidade, vocação internacionalista, país muito dialético (na realidade e no pensamento), dura presença da pobreza, pluralidade de marxismos etc.

As revoluções dos anos 1820 a 1848, de base econômica, formaram Marx e Engels. A revolução russa alçou Lenin, Trotsky e Lukács (além de outros menores, mas de forte produção). A crise sistêmica enfim iniciada deu origem a Kurz, Mèszaros e esta obra – a próxima grande revolução estimulará tal movimento.

A regra tem sido esta: nada pode ser maior. Cada um aplaude a mediocridade do outro e, na busca de menos trabalho, aplaude de volta e, ainda, brinda com um elogio inesperado. A hora de loucuras racionais, contra as razões loucas, deve retornar. Ai do pensador que ficar na contramão da história!

 

SOBRE ESTA OBRA

 

Para provar sua validade e prioridade, o materialismo deve responder as mesmas questões respondidas pelo idealismo. Mais: deve responder melhor. Mais: deve responder mais questões. Mais: deve ser melhor em apresentar novas questões e desafios. O marxismo também tem tal tarefa, mas em dobro. O avanço colossal da ciência tem cumprido tal meta de modo retumbante; mas, até agora, não nas questões centrais, primeiras, essenciais. Quando minhas respostas da crítica kantiana à metafísica materialista, as chamada antinomias, surgiram, surgiu a necessidade de, por exemplo, uma nova física – um proposta, única até o momento a responder tais desafios pesados e já seculares. Nesse sentido, se não responde tudo, não responde nada.

Marx diz que o idealismo foi ativo enquanto o materialismo, até ele, passivo. Seu materialismo é, enfim, ativo, pois histórico e dialético (contradição etc.). Ora, os marxistas aplicam o princípio da inclusão do terceiro excluído em tudo, menos nesse tema! Mas x vai para não-x, sendo ainda x! O materialismo funda, em seu desenvolvimento por si e de si, o idealismo relativo, o oposto; pois no socialismo, e na luta por ele, a história deixa de ser regida por leis cegas e impessoais para que os homens tomem as rédeas da história.

É claro que o realismo deve imperar, ou seja, o mundo existe independente de nossa consciência. Mas a invenção, a criatividade, a teleologia, a mente cada vez mais cria o mundo seu, seu meio ambiente social. Um mundo que precisa, num outro sentido, do nosso cérebro, com sua computação dialética única…

É claro que o mundo é monista, não dualista – existe só um mundo. Mas este mesmo mundo, na sua parte social em principal, tende a se tornar outro, que pode ser antecipado (e planejado) em aspectos gerais pelo pensamento. Esse segundo mundo, em devir, neste e deste, soa para nosso olhos sofridos e atrasados como um paraíso na Terra e, veja-se, a realização da ideia não arbitrária, deduzida pelo mundo imediatamente anterior em suas próprias leis de mudança. A vida capitalista é monista interna, mas no externo é dividida e dualista, dividida em classes opostas, mundos opostos; tal divisão externa leva à mudança, passagem de um mundo para outro – do capital ao social.

A realidade não é só mudança: também é desenvolvimento (contraditório), processo, evolver. Ela é sistema, mas também um sistema com contradições, com saltos, conflitos, desigualdades. O sistema tem, além do nexo externo, nexo interno, interdependência e unidade, até identidade, real internas.

Devemos obrigar a realidade a ser humanista. Somos obrigados a ser sujeitos e a fratura no sistema facilita tal obrigação. A sistemática ou realidade pode ser, então, anti-humanista, logo, incômoda e combatível. Outra sistemática, de fato humanista, é possível.

A matemática é uma das maiores conquistas do pensamento – mas há o risco de reduzir ao mundo ao quantitativo. Pelo menos em nosso tempo, temos limites descobertos à previsão e somos obrigados ao probabilístico, à aproximação. Os sistemas são por demais complexos para previsões de detalhes ou de longo prazo. E há que revalorizar o qualitativo, no pensamento e no mundo. O exatismo deve ser relativizado porque já é relativo no real. Enfim, a filosofia e a ciência ganham com a dose de imprecisão das palavras, o duplo sentido, o jogo verbal etc. Isso apenas reproduz o mundo na linguagem. A imprecisão leva à precisão: todo brasileiro sabe que é preciso confundir para explicar. Entes e palavras têm duplo caráter. Se suprassumir significa ou destruir, ou preservar, ou elevar – os três opostos, em oposição e exclusão – porque não eles ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto? A palavra aí consegue expressar um movimento real, realista. O exatismo empobrece, assim, a compreensão de um mundo que é dialético, não unilateral. A linguagem deve ser usada de modo dialético. É-se exato aproximando a palavra da coisa, tal como é em sua riqueza interna e externa. Claro, devemos condenar os charlatões “poéticos” que dizem nada com muitos enfeites. A clareza deve ser buscada para, em potencial, ganhar as massas.

Com a riqueza empírica, com as ferramentas avançadas de captação do mundo; cabe ao homem interpretar, deduzir, perceber a verdade oculta dos fatos, gráficos, modelos reais etc. Nada de dedução arbitrária por princípio arbitrários iniciais, nada de colher dados apenas (existem robôs para isso!), nada de apenas descrever, nada de hipotético-dedutivo. Empírico-dedutivo e dialético! Histórico-dedutivo!

O todo, incluso em seu movimento, sua ida (sem ir) de um ao outro, abarca uma afirmação e sua oposta, um fato e seu oposto, uma concepção e sua oposta – em algo novo e completo. Em outro momento, demos mais unidade dialética à dialética moderna e a lógica formal de Aristóteles.

Tantas vezes, um pensador afirmou que sua obra era algo de ponto final e real ponto de partida – Kant, Hegel, Marx etc. Mas a originalidade deste livro é anormal, um ponto fora da curva, embora homenageie e inspire-se em toda história do pensamento; não é, portanto, um raio em céu azul. Mas é, mais que isso, um salto de qualidade na ciência-filosofia até aqui se estiver correto nos aspectos gerais e essenciais.

 

POEMAS CIENTÍFICOS, UNIVERSAIS

 

 

Alguns destes poemas foram obras do meu inconsciente (por isso, artistas filiam-se à psicanálise). Apenas pude entendê-los anos depois, depois de uma dura pesquisa científica. Até aí, eu não sabia interpretar de fato minha própria produção poética. Por exemplo, minha teoria física diz que espaço e matéria são o mesmo, diferentes manifestações do mesmo; pois matéria é (linhas de espaço) espaço concentrado e espaço é matéria decaída. Mas uma década antes eu já havia escrito isso de modo instintivo em poema erótico:

 

Explora o espaço;

Temos tempo e todo o espaço.

Podemos explorá-lo,

Ir até ele.

 

Não apenas o tempo dobra-se.

És toda feita de espaço e dobra-se.

 

 

Em outro poema: “o poema é a dimensão quarta da matéria”, ou seja, já havia uma noção oculta até para mim, anos antes de teorizar, de que 1) a própria matéria tem 4 dimensões, 2) o tempo não é externo à matéria, 3) matéria e espaço são um apenas ainda sendo dois.

Tratarei disso na Estética Marxista, filha da psicologia – também. Tudo soa meio mágico, mas a vida é poética. Claro, apesar dos pesares… Mesmo a metafísica concreta é certa mágica materialista. Minha equação espaço-matéria acompanha o valor-matéria, hipótese também antecipada em forma de arte de maneira inconsciente, que trato no conto ao final.

Feita essa introdução, vejamos os versos do livro Cru.

 

 

43

Inexistência é normalidade

Rumo natural e matemático do cosmos

Potência inativa do inorgânico

 

Imaterial fluidez inanimada e indiferente

 

Acidente e acaso

A concessão da probabilidade – Existência!

 

Epifenômeno do epifenômeno!

 

Repousante energia

Para dentro do útero – Existência!

 

Intervalo instável

Orgânica matéria

Pré-extinta – Existência!

 

Ser o não ser – Existência!

 

Líquido espelho do contrário

Ao demonstrar

A totalidade vazia da inexistência – Existência, Existência!

 

 

 

 

 

44

 

Manual incolor do vazio

Apática e abstrata

Pois essência pós-tudo do pré-nada

 

Ausência exata da matéria

 

Nem calor nem frio

Nem movimento ou inércia

Nem fuga nem abrigo

Nem estabilidade ou enfrentamento

Nem o belo nem o esquisito

 

Não-coisa

Não-valor

Não-conteúdo

 

Amorfa

 

Descartas o espaço-tempo

Descartas as quatro dimensões

Descartas as energias todas

 

Indolor

Inodora

 

Assexuada

Temida

Intrainfinita

Indomada

 

Inominada

 

Equivalente a si mesma

Genética origem de todos os ZEROS

 

 

 

 

 

 

42

 

Continuar-se-á

Energia-massa

Do universo no universo

No universo do universo

Fluindo

Fluindo

Permanentemente mudável

Pelo imenso espaço-tempo

 

Poeira das estrelas

Do pó vieste e ao pó retornarás

 

 

 

40

 

Humanidade do futuro

Homo sapiens sapiens verdadeiro

Amanhã existente

Caso

Talvez por acaso

Tenhamos evitado a autoextinção

 

Não nos perdoem

Nem sequer

Nem ao menos aos poetas

 

Pois

Como faz e fez

A minha era

 

A minha era

Valoriza mais o plástico do que o Homem!

Mais o plástico do que o Homem!

 

 

 

 

 

39

 

O Homem do Amanhã

Por meio de singular máquina pós-industrial

Visitou nosso tempo

 

E por três sóis

Chorou

E por três luas

 

Cada continente era angústia

Cada país era dores novas

Cada alma outra outro mutilado era

 

(Cheiro chato das ruas

Desproporcional corpo das quase pessoas

Universal valor da indiferença

Traçado tosco das coisas

Portas e chaves e muros

E famintos e fomes e fanatismos e farsantes)

 

Retornou retorcido

Por razão de segurança psíquica-emocional

Emergencialmente e trêmulo

Ao Amanhã

Aquele Homem do Amanhã

 

 

 

 

18

 

Sou dado empírico da realidade

 

A observação gráfica da minha fenomenologia

Traça tendências Sombrias ao decaimento da minha matéria

 

Ah, fosse – outro seria – aquela partícula Indivisível

Cuja massa Irrisória fizesse de mim

Invisível Fantasma do mistério micronatural

Indiferente a quase tudo, indiferente

 

E sou apenas sub do sub

 

Seria irreconhecível algo acima daquilo sido

 

Homens de letras, cientistas, filósofos e eruditos

Tentam descobrir o eu em mim de mim

Analisam o corpo humanoide com suas inerentes partes

Verificam das minhas manifestações a veracidade

E a revisão de todos os cálculos das probabilidades limitadas

De um jogo viciado e determinístico

 

Em um grande espanto cínico

Encontram o vazio de um jarro vazio

Onde a donzela Harmoniosa, Fingida e Sanguinária

– Cujo sobrenome é vida! – armazena, ali, Toda sorte de Angústias

Duma tabela periódica de Ag-Agonias!...

 

 

 

CONTO DO LIVRO – ANO ZERO

 

 

Veja-se que, muitas vezes, o inconsciente, o InfraEu, expressa suas conclusões antecipadas em forma de arte, apesar do artista ter ou não capacidade de levar o conteúdo íntimo ao Eu externo. O Espaço = matéria e o valor-matéria estão aí, de maneira instintiva.

 

 

 

 

METROS QUADRADOS EM CENTÍMETROS CÚBICOS

 

Teresina/Piauí. 14 de Junho de 2010.

 

Breve além dos três meses desde o lançamento da ponte Estaiada. E uma ponte sobre o rio é o point desejado de todos os suicidas.

Na ponta da ponte, no mirante, estava Anna com, apesar do nome fofo-jovial, de dois “ns”, seus 32 anos. A não-tão-jovem enfim recebeu devida atenção: curiosos, depressivos invejosos, ambulância, jornalistas e policiais chegaram às 7h ao encontro; no ponto mais alto, chegara adiantada em 2 horas.

Todas as negociações falharam;  os negociadores estavam desmoralizados. Nem o padre da paróquia serviu. Foram chamar a família, mas Anna era desprovida dessas coisas (nem imaginava a sorte disso). De qualquer forma, não se sabe se dava falta.

Anna estava lá em cima com ninguém.

— Tudo bem, posso sentar? — O dono dessas palavras, típico hétero-branco-barba-magro-arrumado, soube entoar a voz com certa firmeza não impositiva.

— Como que entrou e subiu? — Assustou-se.

— A entrada, pela entrada. Mas tudo bem, aqui ainda é propriedade do governo.

— Para, não, não, não chega perto!

— Chego não, senão caem dois — respondeu.

Sentou-se. E sentando-se, meio longe, amarrou a carência degenerativa de Anna.

— Psicólogo, dispenso.

— Não, sou filósofo de profissão…

— ?         

— É difícil explicar.

— Pagam as pessoas pra ficar pensando… — agrediu.

O cenário era belo dali. Era o ponto de vista que só os dois viveram, nenhuma outra alma viveu. Talvez, quem sabe, os operários da construção.

— Bom gosto pra descanso, viu; sabia que esse mirante ainda nem está pronto pra visitas?

— (…) Uma pergunta que faz sentido agora é o porquê um filósofo.

— Você tem certeza de morrer.

—Tenho.

— Exatamente isso…

— Mandaram você subir aqui pra gerar dúvida em mim?

— Não, sim… Se eu disser que é um novo projeto governamental, acredita?

De longe, dava pra ver a gente correndo mais veloz que urubu, saindo dos bairros ao redor, pra acompanhar e ver. Pessoas no alto dos prédios.

— Cansada… Dizer pra quê mesmo? Tudo se move apesar de mim, não tão nem aí de verdade.

— Você acha?

Silêncio, solvente de tédio ou indiferença.

— Eu tenho uma explicação maluca.

— Você é maluco — agrediu de novo.

— Vou dispensar a piada óbvia pra evitar ser sombrio; eu quero você viva, espera um pouco.

Continuou:

— Por que tem tanta atenção e tanta gente e recursos para uma desconhecida?

— Por causa do trânsito.

— …

— Ou porque atrapalha ou porque o trânsito deixa vir ver minha morte.

— Bom, bom; você prova que, de duas, apenas uma: ou todo inteligente é suicida ou todo suicida é inteligente!

— Tá.  — Monossilabilou.

— Acho que é a relação tamanho, qualidade e quantidade. Por exemplo, matamos formigas todos os dias e é bom matar as formigas; são demais.  (Deve saber de biologia mais do que eu) acho que são bilhões de bilhões. E pequenas; o inferno é o tamanho delas. Quem é que não mata formigas?

E tem os elefantes. São grandes, poucos, risco de extinção; se morre um, é documentário, é jornal, é filme lamentando e um monte de gente fresca sofrendo pelo coitado do elefante. Ele é grande, impacta, é muito e pouco.

Não tô dizendo que você é um elefante.

Raramente essas coisas acontecem – isso destaca. As pessoas julgam o valor da vida pelo tamanho: é a diferença do elefante para a formiga. E também pela quantidade: a espinha grande é mais importante do que o pequeno cravo.

Se um artista morrer, todos choram porque material raro, mas morre gente demais todos os dias. Só não são pessoas elefantes.

— Tô entendendo, um monte de indireta pra eu me sentir especial, sugestões. — Contrargumentou. — Nem me conhece.

— Estou falando de tamanho, quantidade, elefantes, formigas, formigas e elefantes...

— Certo. — Dobrou o rosto em 15 graus. — Cala a boca.

— Diz se é coincidência ou não? Até aqui em cima tem formigas, olha só. Gosto de matá-las, dá prazer, desconto ódio nelas —, divertiu-se matando algumas com o polegar, esfregando, quebrando-as.

 

A Anna:

O filósofo:

— É a distância —, engatilhou.

— ! —, exclamou-se-lhe quase interrogando.

— A distância do pulo, de onde a gente está. Todo mundo está aqui pela qualidade do tamanho do pulo, o tamanho da ponte, formiga no elefante.

 

 

 

Um corpo em queda livre, molhando-se de rio. Não era a Anna.

V

E

R

T

I

C

A

L

Nenhum lá na avenida, os populares ou a polícia, sabia quem eram os dois. Dois suicidas, duas pessoas no mesmo local, altura, dia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

APÊNDICES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A CATEGORIA MAIS-PODER

 

O argentino Moreno defende que devemos escrever um o Capital da política. Para ele, assim como a obra de Marx é a lógica do objeto estudado, devemos fazer a lógica da política. Faz algum sentido, mas há exagero. Seu marxismo e sua corrente, da qual faço parte de modo crítico, foca nas relações de produção e na superestrutura, na sociologia, sabendo pouco da necessária base econômica. É o marxismo parcial e relacionalista, sociológico (aliás, Moreno focou seus estudos em sociologia). Se tal tarefa, que superaria o legado de Maquiavel, for possível, a categoria de “mais-poder” seria a chave conceitual real de tal empreitada, ponto de partida inevitável. Neste breve ensaio, exponho alguns de seus aspectos, longo de esgotá-los, mas com a profundidade suficiente e necessária.

 

FÁBRICA E DITADURA

Marx expõe em O capital I o despotismo fabril, além de nas minas etc., a ditadura do patrão e do acionista. No escravismo grego, a elogiada democracia dos homens livres acompanhava e tinha por base a ditadura nos campos de trabalho escravo e nos lares contra as mulheres. Ditadura e democracia podem conviver juntas, aquela sustentando esta. Mais: a necessidade de implementar um ditadura de Estado capitalista vem tantas vezes pela necessidade de manter em pé, contra a rebeldia operária, a ditadura nas empresas. A democracia das reuniões de acionistas na cúpula executiva da empresa está baseada na mão de ferro contra seus funcionários. Ou a democracia externa à porta da fábrica existe para manter intacta a ditadura do capital sobre o trabalho, dentro da empresa. Assim, unimos base econômica-social e superestrutura objetiva.

 

O MAIS-PODER

Temos a mais-valia, o mais-capital, o mais-trabalho, o mais-produto e o hipotético mais-de-gozar. Penso, eis a tese, que há o mais-poder. O poder geral da sociedade, algo desenvolvido, torna-se desigualmente distribuído. O poder maior da burguesia é um poder menor, menos-poder, da classe operária. Um jogo de soma zero: um perde na proporção em que o outro ganha. No entanto, de modo algum nos confundimos com os teóricos mercadológicos que buscam um conceito novo a cada instante, artificial e exótico, para ganhar mídia e espaço acadêmico. No mais, o poder é meio, não fim abstrato. Tal luta também é pessoal.

 

ACRÉSCIMO DE PODER

Nem tudo pode ser quantificado, por exemplo, o valor artístico, que deriva de seu trabalho útil, não cabe em números nem em seu preço. No entanto, torna-se possível perceber que o poder aumenta de modo geral. Ao desenvolver a técnica e a sociedade, o homem aumentou cada vez mais seu poder sobre a natureza (e, assim, sobre o próprio homem até aqui) – temos mais-poder em outro sentido, neste caso, de mais do poder sobre a natureza em relação ao poder em grau anterior (como sobre os homens em grau superior ao passado). Tal poder, até agora, ainda exclui sua má distribuição entre os homens, tratamo-lo como geral e abstrato.

O poder deriva também, por isso, de ferramentas e como elas estão distribuídas. O arranjo do capitalismo, como tudo está organizado, torna-se base do poder do capitalista, ou melhor, do capital. Hoje, para haver poder socialista, basta o rearranjo social – o que exige um Estado paralelo e radicalmente democrático.

Assim, o poder na história não permanece o que é, ou seja, estático ou permanente. Sua grandeza, se podemos dizer de tal modo, acresce ou reduz. Existir poder é condição de mais-poder; de modo relativo, este surge apenas quando aquele atinge certo valor acumulado.

 

MAIS-PODER E DEMOCRACIA

A democracia não é um acordo, ponto livremente aceito, mas algo imposto. É uma concessão forçada pelas circunstâncias. É, portanto, algo inerentemente instável e parte de uma luta permanente. Para haver qualquer tipo de democracia deve haver, também, todas as condições para ela. Dito isso, não havia democracia nos Estados “socialistas” do século XX porque não havia condições tanto para o socialismo quanto para sua democracia direta. A internet, por exemplo, exige e possibilita, enfim, a democracia socialista real.

A democracia grega foi forçada a surgir por causa da forte classe dos comerciantes, da urbanização, da quantidade enorme de homens livres urbanos etc. Fui fruto da matéria, não da ideia. Embora muitos quisessem uma ditadura, em especial na época de decadência do escravismo grego, a configuração da realidade obrigava a diluir um tanto o mais-poder, baseado na falta de poder do escravo, na sua coisificação não desejante aparente.

Quando o Brasil deixou a ditadura na década de 1980, o poder antes muito concentrado teve de ser diluído um tanto, fragmentado (num bom sentido). O povo passou a eleger seu presidente. Isso aconteceu para evitar uma guerra civil, teve-se de ceder ao poder real dos pés nas praças e ruas. A democracia é uma forma de os pobres não matarem os ricos – logo, uma falsa democracia que visa uma paz social artificial. Diante de uma realidade instável, uma nação pobre e com muita luta de classes parcial, o presidencialismo, concentrar o poder no chefe executivo, tornou-se uma necessidade. O parlamentarismo é para países urbanos mais estáveis, ou seja, mais ricos. Já nos países rurais é comum o bonapartismo, ou seja, ditaduras do executivo em geral militar que até permite a existência de 2 ou mais partidos.

A urbanidade é a casa da democracia: nela, as ideias circulam ao lado dos protestos. Torna-se mais difícil concentrar o poder e, logo, o mais-poder. Por isso, o fascismo ocorre em países mais urbanos, diferente do bonapartismo, pois tem de impor uma derrota fortíssima sobre o movimento operário e popular concentrado usando de métodos de guerra civil.

A ditadura concentra poder, logo um tanto mais de mais-poder em poucas mãos; a democracia dá algum poder maior, liberdade, aos trabalhadores. Mas não vale a pena iludir-se com tal conquista parcial, embora positiva. O poder nunca flutua no ar de modo estável e uniforme.

O mais-poder, enfim, nunca é apenas estatal, pois é um poder de classe, de uma classe social – os ricos de todas as épocas – contra outra.

Poder é garantir que tudo funciona de tal ou qual modo. Com a crise mundial de 2008, mais a precarização do trabalho (fim da classe média), o governo Obama nos EUA tentou tirar do povo o direito de ter armas sob a farsa de justificativas humanitárias. A razão de fundo é uma tentativa de antecipação da burguesia: destruir a possibilidade dos trabalhadores tomarem o poder, manter o poder estatal burguês, derrotar uma revolta futura de maneira antecipada. Assim, por causa de luta de classes, o governo tentou aumentar o mais-poder dos ricos e de seu Estado. As ditaduras “socialistas” também tiveram como base separar o povo das armas pesadas e formar um corpo especial de homens armados.

 

O MAIS-PODER E O MAIS-VALOR

O leitor marxista logo associa a questão do mais-poder com o mais-valor ou mais-valia. Claro: acumulação de valor na forma de dinheiro dá ao capitalista – e ao capital! – mais-poder em toda a sociedade. Somos jugados pelo que temos nos nossos bolsos.

Mas a coisa é mais sofisticada… O poder do valor também se faz sobre os burgueses, pois o que há de fato é a alienação. Há um poder do mundo das coisas sobre o mundo dos homens – o mais-poder, hoje, do capital. Porque a humanidade está dividida, porque lutamos uns contra os outros, surgem leis coisais que não foram decididas por ninguém, que surgem da desorganização da espécie humana. A legalidade apresenta-se, em nosso tempo, como dinheiro em busca de mais dinheiro um processo que não encontra limite, freio, bom-senso etc. – valor que se autovaloriza, valor como sujeito-substância. O valor torna-se a alma tarada das coisas.

 

MAIS-PODER E BUROCRACIA

O burocrata “vermelho” precisava impedir a democracia socialista, operária, para manter seu cargo, ou seja, seu emprego, ou seja, seu estilo de vida destacado. Trotsky dizia que, na falta de comida na guerra, alguém deveria organizar a fila dos alimentos; tal organizador comia primeiro e comia melhor. O burocrata, apesar disso, morria de medo dos operários, por isso fazia-lhes concessões diante de uma leve greve. É o preço a se pagar, o que desestabilizava aquela sociedade.

O irmão menor deles são os burocratas sindicais no capitalismo: fazem do sindicato o meio por onde engordam; até fazem assembleias para a greve, mas só enquanto sabem que será aprovado aquilo que já esperam ser aprovado. Eles precisam justificar à categoria seu cargo, que merecem estar na direção sindical. Quanto mais-poder tem o dirigente, menos-poder tem os representados.

No Brasil, a burguesia bruta e escravocrata pedia a Getúlio Vargas, o ditador, que destruísse o movimento sindical. Mas ele era um gênio: preferiu tornar os sindicatos um meio de corrupção dos líderes, sindicatos burgueses da classe operária. Assim, o número de dirigentes de um sindicato é limitado, apenar de haver uma base de representados enorme, o que concentra poder, mais-poder, na mão de poucos sindicalistas. Assim, o líder sindical pode tomar certas decisões sem consultar sua base.

 

MAIS-PODER E MORAL

Com sua inocência, inevitável em sua época, Rousseau afirma que nenhum homem deve ser tão pobre a ponto de ter que se vender, nenhum homem deve ser tão rico a ponto de poder comprar outros homens. O mais-poder é, inevitavelmente, imoral. Mas apenas na sociedade da abundância real, que começa seus primeiros passos na década de 1970, incluso abundância de tempo livre, a liberdade; o fim do mais-poder, do poder concentrado, torna-se possível, necessário e desejável. O reino desigual da inveja deve ruir, não me importarei se meu vizinho tem o que não tenho – ambos temos. O socialismo é poder acessar com facilidade os objetos necessários para o corpo e para o espírito, além de alguns caprichos sociais desejados.

 

MAIS-PODER E ARTE MILITAR

As ditaduras tendem a ter um exército mais burocrático, com os comandantes concentrando tudo o necessário. Os exércitos oficiais de países democráticos tendem a ter mais facilidade de dar iniciativa e autonomia aos grupos de base; isso tende a ser até uma necessidade da guerra, uma vantagem para quem dirige o aparelho. Esperar que o atarefado comandante do comandante tome uma decisão é impreciso (pois ele está longe), atrasa a ação etc. No entanto, a democracia não cabe em exércitos, mesmo nos revolucionários, como demostrou a revolução russa. É preciso seguir o dirigente que estudou e preparou-se na prática para bem dirigir: na hora do combate, não cabe debater decisões e votar. No entanto, outros organismos, como assembleias na cidade, devem eleger ou demitir tais comandantes.

 

MAIS-PODER E SOCIALISMO

O socialismo acaba com o mais-poder, pois o povo passa a decidir tudo o que é central em assembleias diretas, votações por internet etc. Mas o poder em si mesmo será maior, não menor, embora radicalmente democraticamente distribuído.

Trata-se de destruir o poder estatal e empresarial burguês por meio de um Estado paralelo, uma democracia superior, organismo de poder como assembleias, conselhos e comitês de fábrica.

Na revolução surgirá, por meio do poder na luta social, um poder real ao lado do poder oficial anterior e caduco. Chamamos tal regime de regime de duplo poder, o operário e o burguês. Ambos são irreconciliáveis, apenas um vencerá. Quem decide como e quando produzir? A vitória operária depende, em grande medida, de um racha nas forças armadas, quando ganhamos a parte mais pobre dela para nossas posições. Apenas o poder contra o poder. O poder é, então, abstrato, a realidade social em processo.

 

MAIS-PODER E FAMÍLIA

O mais-poder do homem baseou-se no fato de ele ter o poder econômico, sustentar a casa. Ou seja, ele tem meios de repressão e regulação. Quando a mulher começou a trabalhar fora do lar passou, também, a ruir tal poderio. No entanto, bem antes havia uma luta oculta na família. A mulher, sempre que podia, operava manobras para fazer valer sua vontade; às vezes, usando o sexo como ferramenta de barganha.

Com a crise da família monogâmica e isolados pais carentes, surgiram formas deformadas de disputa pelo poder. Temos, por exemplo, crianças mimadas, que manipulam os pais. Mas é de notar que a opressão sobre os filhos, já citada no Manifesto, nunca foi tema sério nos meios marxistas; afinal, eles são pais… Como os infantes ainda não são homens completos, deve haver autoridade e aconselhamento, mas a coisa toda nunca precisa ser despótica. Autoridade nem sempre é autoritarismo.

 

MAIS-PODER, HOBBES E MAQUIAVEL

No marxismo, refutamos uma teoria desenvolvendo ela mesmo até o limite, até extrapolá-la por dentro de si. A teoria de que o mundo era uma guerra civil animal e o estado vem para organizar tudo, preservar a vida, reduzindo a negativa liberdade (caos)., está errada – mas tem alguma verdade. Com a altíssima urbanização brasileira, veio a crise estrutural do Estado, logo este se demitiu de agir na periferia urbana. A guerra de gangues aí era permanente, morte sobre morte. Então o tráfico e a milícia impôs a ordem, proibiu assaltos na região, organizou a comunidade, faz festas e bailes, gerou empregos, ofereceu serviços e cobrou impostos ou taxas etc. Claro, tudo por lucro e oportunismo. Mas surgiu um quase-estado não paralelo, um poder e um mais-poder, em tais regiões.

Sobre o italiano, lembremos que sua ambição era unificar a fragmentada Itália. Para isso, pensou que um grande e sábio príncipe, concentrador de poder, mais-poder, deveria cumprir tal tarefa. Daí, por exemplo, o motivo de estudar a “arte da guerra”, com uma obra sua de mesmo nome.

 

MAIS-PODER E CRISE SISTÊMICA

É lei da decadência sistêmica pensar que a causa do mesmo declínio é o governo, o regime, o estado, às vezes, a moral – enfim, a superestrutura. Sócrates, Platão e Aristóteles foram dessa opinião, assim como o grande Maquiavel. Hoje, culpa-se um governo pela quebradeira econômica e deseja-se derrubá-lo por outro, como se fosse alguma solução, sendo solução alguma. O povo, hoje, ao ver que a democracia dos ricos não funciona, que esquerda e direta governam do mesmo modo, apostam na destruição, em figuras políticas desequilibradas e risíveis.

 

MAIS-PODER E MATÉRIA

Mais-poder é concentrar materiais como dinheiro, armas e humanos ao seu serviço – junto com seus arranjos contextuais e propriedades. Ter mais-matéria é, nesse caso, ter mais-poder se a materialidade está organizada e arranjada de tal ou qual modo.

 

MAIS-PODER: FORMA E CONTEÚDO

O conteúdo pode ter diferentes formas, eis a dialética. O mesmo poder abstrato e concreto que está no Estado burguês pode passar-se para o estado operário. O conteúdo disputado pelas formas, muda de forma.

 

MAIS-PODER: DIACRÔNICO E SINCRÔNICO

O mais-poder pode ser visto como, no limite, algo da estrutura, do arranjo, na relação imediata de exploração ou opressão etc. E pode, ao contrário, ser visto, no limite, no tempo, por exemplo, concentração de mais poder comparado ao passado ou o peso imenso do passado nas tradições que mantém, ajudam a manter, modos de poderio.

O mais-poder é limitado por si, ou melhor, breve tanto no sentido espacial quanto no temporal. Um pequeno susto de 5 mil anos na longa história da humanidade; e quase sempre minoritária, aliás.

A realidade e suas categorias objetivas são diassincrônicas, por assim dizer.

 

 

 

 

 

O CAPITALISMO COMO TRANSIÇÃO

 

 

Proudhon pensou a tese e a antítese, sem chegar ao menos na síntese, como se tudo tivesse dois lados, o bom e o mau; Marx refuta tal método pobre (Marx, Miséria da Filosofia - Método, 2013) com o exemplo da escravidão, que nada tem de positivo (mas, destacamos para nosso argumento, a escravatura é típica de um sistema anterior). Algo mais sofisticado fez Della Volpe ao afirmar que as contradições são resolvidas tirando o negativo (no sentido de qualidade) e livrando o positivo; por exemplo: há contradição entre produção social e apropriação privada – o que fazer?: Manter o primeiro e encerrar o segundo – uma vez que seriam apenas externos um ao outro. Moreno critica este último autor por não ver que toda contradição está em uma unidade necessária, relação e totalidade (Moreno, Lógica marxista e ciências modernas, 2007, pp. 46, 47, 48). O instinto de Proudhon e a elaboração parcial de Della Volpe ocorrem porque, como dissemos acima, o capitalismo é rebaixado à condição de mera transição entre as sociedades classistas e a sociedade socialista. O atual modo de vida, dessa forma, tem em si aspectos do futuro, embora preso ao passado. Assim: a internacionalização das forças produtivas entram em contradição com os limites nacionais, sendo estes últimos superados; a contradição entre proletariado e burguesia resolve-se suprimindo esta enquanto aquela gradualmente deixa de ser classe; as forças produtivas são preservadas e desenvolvidas com a supressão das antigas relações de produção; sem supor o grau de automação hoje, Marx afirma em O Capital que a mesma maquinaria que serve ao domínio capitalista e produz o “necessário” exército industrial de reserva também serve por excelência para acabar com o desemprego reduzindo a jornada de trabalho no socialismo (neste sentido, não há desemprego tecnológico propriamente); o capitalismo precisa desenvolver a ciência ao mesmo tempo em que busca limitar a erudição das massas e ligá-las à religião; o sistema capitalista maduro produz momentos de pleno emprego como sintoma de possibilidade socialista, mas precisa da crise posterior para “normalizar” o sistema, para mantê-lo; afirmar que o comunismo já existe, ao menos em modo larval, no movimento operário é uma forma de demonstrar isso etc. Os países atrasados que quase foram rumo ao socialismo no século XX, de fato quase foram porque o capitalismo é uma transição, o que permitiu ocorrer tais fenômenos, tais acidentes, mas mesmo o transicional precisa de um tempo e uma maturação para pôr o novo, daí o recuo posterior do socialismo “real”.

Para que evitemos confusão com as categorias, destacamos que a dialética hegeliana e marxista parte do “nem positivo nem negativo” que avança a si mesmo para uma relação de positivo (não no sentido de qualidade, mas no sentido de afirmar-se na realidade) e negativo; logo depois essa oposição é superada em um novo ”nem positivo nem negativo”, pois também o próprio negativo, que está em “desvantagem”, é superado. Por exemplo: do artesão, nem positivo nem negativo, avançou-se para o positivo, burguesia, e o negativo, proletariado, e o socialismo superará tanto o positivo quanto o negativo, o fim da existência de classes sociais.

 

TRANSIÇÃO E CRISE

Os marxistas enchem a boca, com razão, ao afirmarem que o capitalismo teve mais anos de crise, não de crescimento. Mas deixam de perceber que a crise é necessária para recuperar taxas de lucro rebaixadas pelo superaquecimento da economia. Quando a economia cresce, surgem sintomas do futuro e do socialismo, como o pleno emprego e maior atividade política das massas trabalhadoras. Porque é uma forma transitória de sociedade, o capitalismo vai-se, sem eu avanço, de crise em crise.

A crise capitalista, pro ser um fenômenos social, não natural, avisa que a sociedade está ainda incompleta e desorganizada.

 

TRANSIÇÃO E “SOCIALISMO REAL”

Por o capitalismo ser uma transição, sociedades atrasadas puderam antecipar, de modo apressado, aspectos do futuro, do socialismo. Por que, então deram errado? Entre outros fatores: ser transitório é diferente, em muitos casos, de ser efêmero – a transição precisa de seu próprio tempo, de sua maturação, antes de ir ao consolidado, ao socialismo. É duro dizer, mas aqueles países revolucionados e, em principal, o mundo, ainda eram imaturos para tentativas socialistas.

 

TRANSIÇÃO E REGIME DE ESTADO

O capitalismo não tem um regime político seu ou uma sequência clara de épocas com seus regimes estatais. Ele é, em geral, instável nesse sentido – também. Para evitar o socialismo, o futuro latente, ora parte para a ditadura militar, ora para a democracia burguesa, ora para o fascismo.

 

 

TRANSIÇÃO E CLASSES

Em seu comentário n’O Capital III, Engels diz do novo fenômeno de sociedade anônima e por ações: trata-se da superação da propriedade privada por dentro do próprio sistema, dentro de seus limites. O burguês individual dá lugar ao burguês coletivo.

O capitalismo produz como sinal negativo o seu oposto positivo. Por exemplo: o desemprego crônico e “tecnológico” é sinal imediato e invertido do imenso tempo livre no socialismo. Ademais, o sistema produz a classe que irá destruir ele mesmo: o proletariado moderno, os operários. Antes, os escravos no escravismo e os servos no feudalismo não era a classe imediata e direta do revolucionamento de seus sistemas de opressão. Só uma sociedade de transição pode isso.

 

TRANSIÇÃO E MUNDIALIDADE

O capitalismo unifica o mundo e cria uma interdependência tal que lhe torna bastante sensível às crises aparentemente locais.

 

TRANSIÇÃO E SINDICATOS

Nem escravos nem servos poderiam ter instituições de luta. Por mais que os burgueses tentassem destruir as associações operárias, o caráter conjunto e urbano de tal classe obrigava a criar organizações, mesmo que clandestinas e ilegais. Mesmo que hoje estatizados, os sindicatos são sintomas do caráter transicional do capitalismo.

 

TRANSIÇÃO E PARTIDOS

Como se por força da natureza, partidos operários ou de esquerda tiveram de surgir. Com eles, ideias mais ou menos difusas de socialismo ganharam força. Como o capitalismo surgiu de modo revolucionário, a revolução é algo bem visto na cultura popular, no cinema etc. Desde seu surgimento, os governos franceses aditam e mutilam o hino da França para que soe menos subversivo. A política é o modo de transformar nessecidade em possibilidade (dirá Roberto Mangabeira Unger, embora em outro sentido). A revolução é uma invenção moderna, do capitalismo.

 

TRANSIÇÃO E SOCIALISMO

A tendência inconsciente ao socialismo expressou-se de modo consciente, sem aparente lastro, nos movimentos operários utópicos, no socialismo utópico não científico. As ideias de outro futuro possível surgiam por instinto aqui e ali.

Ninguém é perseguido por seguir Platão, mas pode morrer por defender Marx. De qualquer modo, a filosofia científica materialista marxista provou seu direito histórico e circula por todo o mundo, mesmo se com dificuldade sob ditaduras.

A revolução socialista levará a uma revolução total no modo de vida, da economia à arte e à moral. Mas, depois, qualquer revolução será algo raríssimo, entraremos numa era de apenas reformas na ciência, na ética etc. Surgirão novos estilos em arte, mas nenhuma ruptura séria.

 

TRANSIÇÃO E CULTURA

O apresso medieval pela rotina e pela tradição caiu por terra. Hoje, queremos o novo, o moderno, a novidade, o avançado e o revolucionário. Tudo que era sólido desmanchou-se no ar. Nunca acumulamos tantos exemplos de estética, de arte. Assim, os mais velhos e arcaicos sentem-se desencaixados no mundo renovado, deixam de compreender a realidade.

 

TRANSIÇÃO E CRISE SISTÊMICA

É incomparável a crise total do capitalismo coma crise total de sistemas anteriores. Pela primeira vez, podemos ser extintos. A crise ambiental, por exemplo, muito mais que parcial e limitado.

 

TRANSIÇÃO E CIÊNCIA

O capitalismo faz o possível para reduzi a ciência ao empírico (necessário), aos padrões externos, ao matematizável e à técnica. Assim, as ciências humanas devem defender o capitalismo, nada crítico. Mas ele se vê obrigado a tolerar a crítica e a ciência essencial, de base. Sem isso, sem avanço. Porém, precisa manter a maioria ignorante, semiletrada, apenas capaz de trabalhar como caixa de supermercado e ler manuais. Os EUA, no lugar de criar um povo erudito, preferiu importar cérebros de todo o mundo. Por isso, gênios como Carl Sagan, este de clara inspiração socialista, tiverem a iniciativa de ir além, de tentar criar ao menos a simpatia popular pelo científico.

De qualquer modo, dentro de certos limites, a cultura e a sensibilidade populares tiveram de se elevarem.

As ciências que foram “longe demais” – marxismo, darwinismo, einsteinismo-teoria do Big Bang, freudismo – têm de ser atacados, negados. É uma realidade que permite, mas não aceita de todo pensamentos avançados. Algo típico da transição.

 

TRANSIÇÃO E CAPITALISMO

Como em nenhuma outra transição sistêmica, o capitalismo é um socialismo de cabeça para baixo. Por exemplo: em todos os bairros, há um supermercado, que servirá de primeira forma de depósito público, gratuito e de qualidade dos produtos. A internet e a computação permitirá um planejamento geral e científico da economia. A robótica-automação põe fim às classes, permite produção científica, dá base ao fim da exploração etc. Tanto a burguesia quanto o operariado, via desenvolvimento técnico, se afastam da produção.

 

TRANSIÇÃO E ESTADO

Hoje, o Estado investe porque a burguesia não tem condições de arriscar investimento em tão larga escala e em tanto risco. Como burguês impessoal, o Estado tonou-se necessário ao sistema como aviso que o avanço técnico exige grande investimento, logo recursos concentrados, talvez planificados e planejados. Seque a sociedade por ações investiria em hidrelétricas que dão lucro apenas após algumas décadas de funcionamento.

 

TRANSIÇÃO E FORÇAS ARMADAS

Via de regra, as forças armadas dos sistemas anteriores eram formadas por cidadãos livres e ricos, até para reprimir a classe trabalhadora de sua época. Os capitalistas, via Estado, ao contrário, contrata assalariados, ou seja, seus inimigos potenciais. Eia outro sinal de transição. Diante da miséria e da revolta operária o popular, os militares de baixa patente reprimirão os seus? No escravismo e no feudalismo, o contrato e profissionalização do exército era um dos sinais de decadência do modo de produção.

 

TRANSIÇÃO E CONTRATENDÊNCIAS

O capitalismo tende a substituir trabalhador por máquina, mas resiste a isso por meio de baixos salários – o socialismo encerra tal resistência. O capitalismo tende a derrubar a taxa de lucro, mas cria negações disso – o socialismo encerrará tais negações. O capitalismo tende a concentração e centralização do capital, mas promove oposições para a dispersão – o socialismo unificará todo o grande capital como uma só empresa com planejamento central. Esses e outros exemplos avisam que o socialismo afirmará tendências do capitalismo sem suas contratendências, que serão superadas. Isso demonstra muito bem o caráter transicional do capitalismo uma contradição dentro de si mesmo, barreira de si próprio. Ele tende a algo, mas por sua configuração (classes etc.), resiste-se, contradiz-se. Por outro lado, isso gera um tempo de maturação necessário.

 

TRANSIÇÃO E DIALÉTICA: MUNDOS DA APARÊNCIA E DA ESSÊNCIA

O mundo que é claro e evidente desdobra-se, em seu autodesenvolvimento (diversificação etc.), em mundo essencial e mundo aparencial – para depois promover novo mundo unificado transparente. No feudalismo, Idade Média, tudo era claro, cristalino e evidente: não somos iguais, uma parte do trabalho fica com a classe dominante (outra como Estado, outra com a Igreja etc.), o Estado serve aos ricos etc. Com o capitalismo, o mundo duplicou-se: parece que somos iguais, parece que somos pagos pelo nosso trabalho, parece que o Estado é um mediador não classista etc. O socialismo, enfim, encerra tal duplicação, tornando tudo transparente mais uma vez, de novo modo. O que no capitalismo é aparência e farsa ou ilusão objetiva, será, em muitos casos, essência real no socialismo. O capitalismo anuncia o socialismo, mesmo se com trombetas desafinadas. Pesando a mão e desleixando do rigor: o capitalismo é o reino da aparência; o socialismo, da essência.

 

TRANSIÇÃO E HISTÓRIA

Com o capitalismo, Hegel afirmou o fim da história – tese recomposta com a queda do socialismo dito real. Em crítica, Marx afirmou que estamos, ao contrário, ainda na pré-história da humanidade, antes do socialismo, ou seja, quando a humanidade será humanidade, quando a história de fato será iniciada. Podemos nomear partes da história do seguinte modo: pré-história, história e supra-história. A primeira e próxima revolução socialista que dará sequência a um efeito em cadeia em todo mundo, em poucas décadas, será marcada como o ano 1 da nova época, então, os calendários serão novos e reescritos.

Hegel afirmou que algo histórico ocorre ao menos duas vezes – o que prova, no profundo, a necessidade de sua ocorrência. Marx atualiza: acontece primeiro como tragédia e, depois, como farsa no sentido de comédia (complementamos: também no outro sentido de farsa). Algo mais pode ser dito. Os grandes fatos históricos ocorrem também como, primeiro, ensaio geral, e depois como fato de fato; a possibilidade, entes de ser necessidade inevitável, testa-se a si mesma, verifica-se, tenta-se, ou seja, como se ensaia, prepara-se, para uma boa futura apresentação completa. O capitalismo é o ensaio geral, bastante caótico, do socialismo.

 

 

TRANSIÇÃO

No fim dos sistemas anteriores, ou no início de seus fins, alguns efeitos aconteceram, incluso: aumento do comércio e aumento da dívida. Ambos são o próprio capital. Assim, aquilo que foi transicional nos anteriores sistemas é a próprio sistema transicional hoje. Por exemplo: a urbanização alta marcou as crises sistêmicas, e o capitalismo é urbano por excelência e necessariamente.

Repetimos: o capitalismo é, de fato, um modo de produção e de vida, ou seja, toda uma época da humanidade; por outro lado, também, trata-se de uma transição, quase mera transição, entre o passado classista e o futuro sem classes sociais, aclassista. O capitalismo é um modo de transição.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bibliografia

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[1] O ideal é ir do mais abstrato ao mais concreto, do mais imaterial ao mais material – como campo antes de matéria, este antes de massa etc.

[2] Este é um esforço de condensação e seleção da teoria, na relação homem-homem. A alienação em Marx se expressa em: “1) alienação dos seres humanos em relação à natureza; 2) à sua própria atividade produtiva; 3) à sua espécie, como espécie humana; e 4) de uns em relação aos outros.” (Mészáros, A teoria da alienação em Marx, 2006, p. 14)

[3] Nosso ancestral evolutivo já vivia abaixo das árvores, no solo, porque sua morfologia fazia-o habilidoso para andar e correr; por isso, adaptou-se ao ambiente de savana.

[4] No mais, vale observar, o paleontólogo Nacho Martínez Mendizábal teorizou que o gênero homo, diferente de nossos primos primatas, perdeu o tamanho dos caninos, pois, ele diz, tais dentes elevados serviam para disputas internas, contra membros da própria espécie, e, entre nossos antepassados, a cooperação superou tal tipo de conflito, moldando a morfologia dentária.

[5] A grande dádiva do marxismo não é apenas, nem no seu começo, afirmar que o homem é diferente e especial como dizem a religião e boa parte da filosofia. Ao contrário, descobre, pouco antes de Darwin dar a forma teórica ímpar, que o homem é um ser natural, biológico, antes de ser de fato social. Isso é parte do significado de que o homem precisa comer e de abrigo antes de poder fazer filosofia. Sobre isso trata Mészáros no capítulo sobre moral em seu “Teoria da alienação em Marx”.

[6] Quem vem antes, a essência ou a existência? O processo de formação da existência é, também, o processo de formação da essência (Sartre pensa que a existência precede a essência porque ele vê o indivíduo, não a humanidade – por outro lado, na formação do indivíduo humano, sua maturação existencial avança para consolidação da essência humana em geral; uma criança têm uma fase egoística, pois ainda é um homem em formação). Além da formação de nossa espécie, o longuíssimo período de comunismo primitivo, igualdade e comunidade da escassez, operou uma seleção social com seleção natural, facilitando a reprodução e perfil daqueles que têm a essência humana em geral.

[7] O trabalho sobre a noção, até aqui mistificada, de essência humana pode receber a crítica de que usamos o método dedutivo para percebê-la. Marx também usa tal metodologia para expor um novo objeto, o valor, no Capítulo I d’O Capital.

[8] Os psicólogos evolutivos (Robert Trivers) chamam altruísmo recíproco, reciprocidade. A expressão mutualismo, tomado emprestado da biologia, a associação de populações diferentes de modo vantajoso a ambos, é limitado, mas o mais próximo que consideramos para corresponder ao objeto.

[9] Vale a pena comentar em nota a questão, famosa hoje, do gene egoísta. O egoísmo do gene é base de nosso egoísmo natural, pois os genes focam em reproduzir a si mesmos? Ora, isso fica muito mais claro e correto se incluímos a categoria suprassumir; esta expressão, o suprassumir, é, ao mesmo tempo, concentrados dentro de si, misturados, os significados diferentes e opostos destruir, superar, guardar (conservar) e elevar. O lado egoísta do gene não é totalmente negado na realidade, nem totalmente afirmado nela, pois é suprassumido, como no fato de as espécies, como nível acima, que apareceu antes – do “ponto de vista do gene egoísta” – como mero nada ou instrumento, procurarem a perpetuação das próprias espécies; permanece, então, a possibilidade do altruísmo, da solidariedade, da comunidade, da comunhão, do mutualismo. No lado humano, acrescenta-se que o homem é a afirmação da natureza e, mas, ao mesmo tempo, sua transcendência.

[10] A concepção aqui exposta pode dar base a outras observações e pesquisas. Exemplo: abstraindo o uso como ração, incomum hoje no ocidente; nós adestramos os lobos para que servissem de companhia (integração), fossem capazes de guarda (relações mutualistas) e auxiliares na caça (ser ativo).  Desenvolvemos raças de cães para satisfazer diferentes necessidades. A demonstração dos tipos caninos é um tanto unilateral, pois os três elementos, abstraídos, estão como se misturados dentro da realidade; porém serve de primeira aproximação clara ao tema.

[11] Freud está em relação a uma nova teoria da psique como Ricardo em relação a Marx. Considerar o aspecto natural do homem é uma das forças da psicanálise, embora seja uma ciência social, mesmo que seja negada esta localização pelo seu fundador, que a considerava parte dos estudos biológicos (possivelmente para dar ares mais científicos ao seu legado contra os ataques que sofria). Dito de outra forma, dar-se, com a psicanalística, primeira base materialista para a psicologia, embora deva ser superada.

O Behaviorismo, por sua vez, também avança certos aspectos, mas de maneira unilateral. É tão ciência quanto o freudismo. Nega-se os avanços de Skinner porque se tem, entre os seus críticos, uma concepção burguesa de homem, como se livre e autônomo, longe de quase determinismos do ambiente, o que é falso. No mais, tal concepção percebeu que a repressão sobre os jovens não é um método válido como em animais, pois gera reações, manobras, problemas, etc. Mais um pouco e seria percebido que isso se deve a uma essência humana.

[12] Para curiosidade, basta observar que nossa mente torna-se mais ativa – consciência estimulada – quando percorremos um caminho novo, mas, quando refazemos o mesmo caminho ou voltamos, a mente sente até o tempo passar com mais velocidade, como se a jornada fosse encurtada, pois está acostumada ao ambiente, repetição.

[13] Uma hipótese lateral: nas tentativas de provar a teoria de Einstein por eclipse solar ocorreu céu nublado atrapalhando. Talvez, não foi por acaso: o alinhamento gravitacional da Lua e do Sol pode ter afetado partículas da atmosfera, atraindo-as, concentrando-as, fazendo o céu nublado em alguns pontos. Mas, mesmo se correto, isso faz parte das mil e uma leis possíveis no universo, que não falam diretamente dos fundamentos das tantas legalidades.

[14] Uma pista para pesquisa da história da ciência é ver tais fatores, dinamismo e stress, como estímulos. Einstein produziu seus milagres quando numa posição não favorável; Platão e Aristóteles surgem na decadência grega; Darwin e Wallace viajaram pelo mundo, tendo este último “sacado” a teoria da evolução enquanto evolução enquanto estava com uma doença tropical; Newton fez seu grande trabalho isolado por uma pandemia; Marx viveu uma vida militante (dinâmica) e precária, como Lenin e Trotsky.

[15] Grosso modo e um tanto mecânico e unilateral: Materialidade (valor-matéria) (particular); Propriedade (em principal, ter valor dentro de si) (singular); Contexto (oferta e demanda) (geral). Mais: ou o inverso, posições categoriais relativas: matéria, universal; propriedades, particular; contexto, singular.

[16] Vale repetir. A expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia para o vermelho. O espaço não é barreira para luz, é "transparente", porque a luz é o próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da luz não é a sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que são o mesmo, um identidade interna.

[17] Para Gleiser, apenas a matéria escura é “bolhas de espaço” enquanto considero tudo, matéria e luz, como formas de espaço, espaço condensado.

[18] Veja-se que, para nossa cosmologia sustentar-se, reiniciando o universo, mesmo se os maiores buracos negros “suam” espaço, a taxa relativa é pequena relativamente, o que faz com que a atração seja, no futuro, maior, superante, consumindo espaço e matéria para dentro de tais titãs, o que reunirá tudo de novo em um pequeno ponto, na singularidade, ou próximo disso, podendo, por exemplo, por tal salto, a partir de certo nível de concentração, ricochetear, ao desabar para dentro de si, criar um impulso para fora, na direção oposto, para expansão, semelhante a um buraco branco.

[19] As hipóteses que apresentamos aqui são suficientes, têm uma visão de mundo, de cosmos. Podemos agregar, ademais, uma especulação extra. O espaço (energia escura) e água são muito parecidos. A água aumenta o volume quando esfriada, congelada, por a estrutura molecular fazer espaços vazios entre os átomos. Pois bem; por esfriar, por reduzir energia, esta mesma transforma-se, o espaço decai em energia escura, ou melhor, a energia escura, que é o espaço, expande-se com o esfriamento do universo, torna-se menos condensado nesse sentido. Isso pode ser apenas uma das causas da expansão cósmica.

[20] Descendo ao reino da especulação, alguns infinitos problemáticos da física podem ser expressão do infinito real, qualitativo, como se quarta dimensão. A densidade infinita do buraco negro talvez caia em tal ideia.

[21] Em sua dialética ontológica “inferior” à nossa, Hegel já demonstrava que o contínuo dava-se pela reunião de discretos, ou seja, mesmo sendo discreto uma direção ou sentido, por ser linha, o espaço, ao reunir linhas de espaço, torna-se contínuo em todas as direções.

[22] Como se não bastassem os riscos de desmoralização pela concretude das propostas neste capítulo, apresento nesta nota uma outra. Os fótons não são partículas, mas modo de manifestação de campos de luz… Diria Sagan: valorizemos as especulações, mas não as confundamos com fatos científicos. Num dos lares nos quais habitei nos últimos anos, havia uma janela de vidro (ou plástico) que recebia muita luz solar e que era, também, coberta por uma camada de película (penso, bases do fenômeno a seguir). À noite, quando eu apagava todas as luzes internas, da casa, e olhava pelo vidro, via a luz das lâmpadas das demais casas. O que acontecia? Não “via” a luz, mas um campo, de derivação eletromagnética, por evidente, que tinha formas de linhas redondas, formando formas como cilindros de linhas etc. Pois bem; percebi que a luz intensa na parede de um quintal, e de outros, não era luz, mas a fenomenologia de um campo até ali, antes, invisível que batia naquela parede… Assim, por generalização, a luz mais longe é mais fraca porque sua linha de campo é mais larga e, por isso, fraca com o passar da distância. A luz do Sol é seu campo, já está aqui, caso a linha não se expanda; vem até nós, caso a linha se expanda (por isso a luz não passa no tempo? Eis uma hipótese). O fóton é espaço condensado na forma de linhas de campo, linhas de espaço (ainda que concentrado). A luz, na verdade, torna-se uma sombra clara, cristalina, e visível de uma entidade invisível, ligado ao espaço e ao eletromagnetismo, mas de modo ainda mais profundo que o já considerado pela ciência; pois ele não é em si, torna-se mera manifestação de algo, isto sim, real, mais real, essencial. O fóton é e não é uma partícula, embora não seja. A aura ao redor da lâmpada é a forma de aparecer, aos nossos limitados olhos, um campo, com suas linhas, que ali está, ali está mais concentrado.

[23] Isso nos leva a uma hipótese: o spin do elétron, algo irracional porque “giro” muito acima do viável, pode ser a mistura ou “soma” do spin dos fótons ou neutrinos.

[24] Talvez o Sol, e outras estrelas, além de buracos negros, produza fótons ao, por causa de sua gravidade, concentrar espaço; além da fonte por fusão de átomos no seu núcleo – mas a matemática, ao que parece, não concorda com isso, na sua medida de produção. E as estrelas maiores? Isso abre a possibilidade de uma camada fina perto do horizonte de eventos ao redor de um buraco negro supermassivo (disco de acreção) seja luz, derivada de espaço, produzida pela própria gravidade alta do objeto, não absorvida do meio externo. Quanto mais fundo vamos, maior as chances de errar.

[25] Se minha memória está correta, pois não reencontrei a fonte, colocar um átomo em um vácuo real o faz explodir (colapsar) para todo canto em luz, energia. O que mostra suas partes internas ocultas. Aliás, a pressão do vácuo é aparência, sendo exato falta de pressão na essência, o inverso. A coisa (o átomo) adquire seu formato, até mesmo seu conteúdo, de um contexto ou um contexto anterior, internalizado e cristalizado como estrutura. Sem seu contexto, que é também pressão, o átomo não se sustenta sozinho.

[26] Isso é bem conhecido, mas podemos dar dois casos. Acompanhei um jovem que tinha certa tara por anãs; sua mãe era como uma anã esticada, baixa e com musculatura semelhante. Uma de minhas namoradas desenvolveu verdadeira fixação doentia por mim desde eu ser fisicamente parecido com seu pai e, em principal, desde muito jovem usar um bigode destacado muito parecido com o dele. Tal origem biológica deve ter relação leve também com o narcisismo universal em nós.

[27] Hegel disse que a língua alemã facilitou perceber a dialética. Martin Heidegger exagera essa conclusão ao dizer, de modo nazista, que apenas é possível filosofar em Alemão. Resposta melhor: além de facilitar conhecer e adquirir culturas, saber várias línguas facilita pensar, embora não seja algo absoluto. Isso a neurociência já quase sabe.

[28] Mais uma prova de que, para Marx, o valor é uma coisa real, para nós, forma de energia; repetimos parte da citação: “A análise posterior desse último me mostra que o valor de troca é apenas uma “forma de manifestação”, modo autônomo de apresentação do valor contido na mercadoria, e então inicio a análise do valor.” (Marx, Últimos escritos econômicos, 2020, pp. 57, 58). Ou seja, o valor está “contido na mercadoria”, mais do que algo apenas relacional, também substancial.

[29] O marxismo vulgar, logo depois de Marx, afirmou “valor é tempo de trabalho”. Isso é falso. O tempo é apenas a medida – o valor é energia, transferência de, trabalho manual gasto na produção do valor de uso. Será que Einstein, direta ou indiretamente, sendo comunista marxista alemão, teve influência, ao mesmo tempo boa e má, do marxismo vulgar na sua ideia de tempo ontológico, real e relativo? De minha parte, de meu contexto, a crise do trabalho manual, a redução do tempo de trabalho necessário, a crise do valor etc. – são bases para pensar uma crise ideal da categoria de tempo enquanto algo de fato.

[30] O socialismo é a imanente transcendência imanente deste mundo em outro. Duplicação do mundo no tempo e na previsão teórica.

[31] O elétron seria pequeno e grande o bastante para observar saltos.

[32] Como o adjetivo “plástico” realizou, no grande desenvolvimento das coisas, sua substantivação por meio do material chamado “plástico”, com variadas possibilidades de uso, derivado do petróleo.

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