MEIO AMBIENTE E SOCIALISMO
A percepção do colapso em latência
encontra estranho consenso quando referido ao meio ambiente. No entanto, todas
as tentativas de solução fracassam, todos os avisos faltam à prática, todos os
congressos governamentais limitam-se às boas intensões. Por que o capitalismo é
incapaz de parar o relógio do fim? Uma resposta foi dada por Mèszáros de quem
partimos, em geral, estes aspectos, ou seja, quanto ao fato de a acumulação do
capital ser incontrolável e a produção destrutiva em nosso tempo
1) Para manter o processo de circulação
do capital, para a reprodução em escala ampliada, para adiar as crises de
superprodução; o capitalismo precisou aumentar a escala fragilizando os valores
de uso para forçar novas compras, novas substituições, aumentando a quantidade
de lixo, extraindo da natureza mais do que ela pode repor de si própria em seu metabolismo.
2) As empresas que negligenciam e burlam
normas de segurança ambiental têm mais recursos sobrando para lucro,
investimentos, etc.
3) Os países que se desleixam dos custos
ambientais tendem a atrair capital internacional, conseguir recursos, formar
sua burocracia burguesa numa concorrência de fronteiras.
4) A economia é não planejada, incapaz de
suportar certos custos gerais em nome de ganhos de médio e longo prazos para a
humanidade.
5) A queda histórica da taxa de lucro
pressiona, demonstrado pela financeirização das empresas produtivas, o lucro de
curto prazo.
6) A indústria de luxo e a criação de
necessidades artificiais , fictícias[1],
causam enorme e desnecessário desperdício
7) Os grandes monopólios e oligopólios
guardam ou retardam o uso de patentes capazes de melhorar a relação
homem-natureza se prejudicam a lucratividade.
Os danos ambientais em um país afetam
outros fronteiriços e distantes, logo, conclui-se, a solução pode vir apenas por
meio do internacionalismo
São algumas decisões previsíveis ao
socialismo:
1) Reaproveitar ao máximo o material ora
transformado em lixo;
2) Investimento intensivo e global em
fontes de energia limpas e renováveis para que adquiram alto rendimento;
3) Reflorestamento de início ligado aos
corredores ecológicos;
4) Toda a humanidade dotada de saneamento
básico;
5) Obrigatoriedade do trato dos custos
ambientais nos planos econômicos;
6) Autonomia energética a inúmeros
produtos (pilhas que se recarregam com poucos balanços de mão, etc.) e nas
“localidades”;
7) Aumento qualitativo da resistência dos
produtos e a devolução quando obsoletos para reaproveitamento do material
(responsabilidade condicionante para receber outros valores de uso);
8) Liberação dos segredos comerciais,
mediante pesquisa metódica e publicação ampla, voltados à sabotagem de técnicas
que melhoram o trato com o ambiente, mas reduziam lucros;
9) Que a comunidade e o Estado, via
centros educacionais, garantam, junto às famílias, a educação pessoal das
crianças para nova concepção de rotina, de higiene, de salubridade, etc.
10) Reforma urbana;
11) Construir sistemas autônomos e locais
de energia ao lado de um sistema integrado;
12) Aplicar a moderna estatística para a
produção corresponder aos níveis médios de demanda social, evitando o
desperdício;
13)
Transporte público gratuito e de qualidade
14)
Substituição de caminhões por trens (idem, ibidem).
15)
Desenvolvimento intensivo, não extensivo, e unificado da produção no campo.
16)
Aprimorar intensivamente da tecnologia de captação de carbono.
17)
Controle do uso de agrotóxicos para preservar a população de abelhas,
necessárias ao ecossistema.
18)
Alterar a genética de alguns seres para que resistam ao ambiente (queimadas,
etc.), frutifiquem mais cedo, etc.
Outras mudanças são e serão pensadas (fim
da produção de luxo, etc.), muitas delas concretas para ambientes e situações
específicas. O objetivo deste capítulo, que se limita a resumir a questão, é
demonstrar a união entre revolução ambiental e revolução socialista não
limitada ou presa à afirmação dogmática e propagandística. Exemplos práticos
podem ajudar. O socialismo visa diminuir o tempo de trabalho e dar tempo livre
e recursos para outros afazeres sociais, por isso precisa do avanço técnico
permanente. Se no capitalismo as pilhas são recarregáveis com poucos
movimentos, dispensando novas compras, a empresa falirá e haverá demissões. Se
as lâmpadas podem durar, por modo de disposição de suas peças, décadas, também
ocorrerá problemas no metabolismo do capital. Se fazemos alto reuso e
reciclagem de materiais, empresas do Departamento I, produção de meios de
produção, insumos para os departamentos I e II (este, II, produção para consumo
final), entrarão em crise. Em todos os casos exemplificados, as crises se
espalham para outros setores e empresas, pois deixam de comprar insumos e
máquinas e os trabalhadores então desempregados reduzem o consumo. Vejamos o
petróleo: se é substituído em grande escala via nova fonte, países inteiros
entrarão em colapso no Médio Oriente e na América Latina, haverá guerras
interfronteiras e guerras civis por causa da precarização da vida naqueles
países; passa a ser do interesse de grandes oligopólios, bancos e governos o
retardo ao máximo do desenvolvimento de novas fontes energéticas renováveis,
limpas e em grande escala (além disso, o investimento ocorre sem cooperação
científica internacional, por causa da concorrência, o que atrasa o
desenvolvimento geral da tecnologia limpa). Neste caso, apenas uma sociedade
planejada com democracia socialista permite realocação de trabalhadores com
igual ou maior dignidade no trabalho, apoio entre as nações ainda divididas por
fronteiras e pesquisa científica livre e intensiva.
O desenvolvimento do metabolismo social
socialista possibilitará a redução em quantidade dos centros produtivos, quando
a integração internacional superar a concorrência entre Estados. Retomemos o
exemplo da lâmpada: se a sociedade aumenta sua durabilidade de 2 para, digamos,
15 anos, a demanda mundial precisará de uma ou duas grandes fábricas
automatizadas para suprir as necessidades dos consumidores[2].
O próprio desenvolvimento do trato com os
valores de uso – maior resistência, reuso produtivo daquilo descartado, valores
de uso múltiplos na mesma materialidade, etc. – está embrincado com o processo
de superação da forma salário durante a construção inicial do socialismo. O
salário do trabalhador, abstraindo a tendência a ficar abaixo de seu valor
real, é determinado pelo custo médio de sua manutenção (Marx considera fatores
culturais, como o hábito do operário inglês de ler jornal); portanto, o
acréscimo de durabilidade, os descontos de troca, a recarregabilidade autônoma,
etc., ao lado de serviços públicos gratuitos (que, por escala, reduzem o custo
social total), atuam para o fim da forma capitalista de distribuição.
Nossas observações concluem que o capitalismo
passou de força progressiva e produtiva para força regressiva e destrutiva. O
exemplo mais famoso é a modificação genética: no lugar de usar a ciência para
preservar a natureza e desenvolvê-la, usam-na para criar sementes que ficam
estéreis na segunda germinação, forçando a recompra de nova saca de sementes
modificadas. Lucro e natureza tornam-se inimigos mortais. Aqui, lembramos dois gerais consensos
científicos: 1) desde a década de 1970, temos extraído, em escala crescente, da
natureza mais do que ela pode repor-se no mesmo ano; 2) a humanidade é causa da
nova grande extinção da vida sobre a Terra.
Nos movimentos de luta social, temos a
exigência por saneamento básico por parte dos movimentos sem-teto e urbanos,
redução do agrotóxico no campo, etc. No destaque sindical, a inspeção operária
da produção, muitas vezes antecessor da gestão operária, pode ser fermentada
pelas CIPAS, pela verificação das exigências ambientais por parte da comissão
de fábrica e do sindicato, pela greve por substituição de materiais danosos aos
trabalhadores e ao ambiente por outros melhores, exigência por cumprimento das
cotas de custos com segurança ambiental, etc. As pautas de segurança e saúde do
trabalho encontram-se em inúmeros pontos com a luta ambiental, devendo estar
ligadas no todo pela necessidade de mudança de sistema socioeconômico.
À organização comunista caberá, sendo a
mais aguerrida, fazer as pautas setoriais ligarem-se a um projeto maior, a uma
crítica da origem dos problemas. E pode fazê-la apresentando um projeto de
sociedade ao lado de propostas tanto imediatas quanto amplas. Uma luta
ambiental contra uma hidrelétrica, por ex., é, se correta, uma crítica apenas
negativa enquanto, pensando a totalidade social, deve também saber propor, isto
é, responder de onde virá a eletricidade na escala necessária.
Entre
os séculos XIV e XV, o mundo medievo viveu uma crise ambiental que produziu
inúmeros problemas à sobrevivência, como a baixa colheita. O crescimento do
número de terras para a agricultura, a derrubada de florestas, a fundação de
novos feudos foram base da alteração climática. No século XXI, mais uma vez
passamos por perturbações do tipo, ainda mais intensas, que gerarão problemas
econômicos (más colheitas, pragas, secas desproporcionais, etc.) e estresses
sociais. A revolução socialista tem entre seus gatilhos as consequências das
alterações no meio ambiente. A crise ambiental é uma das demonstrações mais
vivas do limite sistêmico do capitalismo.
[1]
Mais uma vez, vemos esta categoria, a ficção, aparecer como que naturalmente no
desenvolvimento da análise. Para este caso, basta o destaque reforçado por esta
nota de rodapé, pois o caso é autoevidente no dia a dia do “consumidor”.
[2] A
mudança destacada no parágrafo fará parte do forjar das condições de
simplificação do domínio do homem sobre as coisas, condição e consequência.
Outro exemplo destacável – também para o meio ambiente – será a aceleração, já
existente de modo vacilante sob o capital hoje, da fusão ou aglutinação de
valores de uso.
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