Por que o trotskysmo do Brasil abandonou o programa
de transição?
Vivemos a
mais profunda crise da história brasileira. As contradições econômicas e
sociais ora postas tiveram sua origem no fim do “milagre econômico” nos últimos
anos da ditadura; desde então, o país vive sob estagnação do PIB per capita, desindustrialização,
crescimentos anêmicos e crises cada vez mais duras. Agora, o regime de Estado ameaça
fechar-se neste período como forma de impor com facilidade ataques aos direitos
dos trabalhadores; a ditadura torna-se cada vez mais uma possibilidade.
Um programa
de transição é a única ferramenta para salvar nossa classe. A situação reacionária
em que se encontra a principal nação latino-americana desde 2015 só pode ser
superada por um programa tão radical quanto sua situação. O caos social, fruto
da anarquia capitalista, exige medidas socialistas.
Embora
exija uma análise interdisciplinar e certa criatividade, a elaboração política
não é uma habilidade sempre muito difícil. Muitas vezes, basta-nos focar nos
efeitos imediatos da economia e ter conhecimento das palavras de ordens
acumuladas pelo movimento comunista. Pensemos juntos. Quais as dores mais
sentidas pela classe trabalhadora no atual momento? Quais problemas adquirem caráter crônico? A primeira resposta é o desemprego e a
informalidade. Para a sorte dos comunistas, não precisamos reinventar a
roda, pois Trotsky formalizou a proposta escala
móvel de tempo de trabalho, que podemos adaptar para “Programa desemprego zero!
Redução da jornada, com o mesmo salário, na proporção que empregue a todos!” Um
cálculo pode ser feito para afirmar quanto deve ser tal jornada de trabalho.
No fundo
da questão, está o fato de que nossos líderes marxistas – e muitos militantes –
negam que há a possibilidade de uma revolução socialista no Brasil no próximo
período. Fazem lutas, organizam pressões, combatem a burocracia sindical; mas
deixam de ver a anormalidade histórica da atual crise. Desde 2008, entramos
numa época de crescimentos fracos, curtos e artificiais alternados por crises
longas e/ou profundas. Mesmo quando com alguma elevação da economia, as
contradições sociais estarão acumuladas e à beira de explodirem. Isso significa
que vivemos mais do que uma simples crise cíclica, mais do que a forma de
manifestação.
A
realidade está cada vez mais madura para o socialismo. Do ponto de vista
imediato, do apenas empírico, é difícil alcançar tal conclusão; faz-se preciso
a teoria para ver a essência do mundo para além de sua aparência. A industrialização
alta acompanhada por um processo de decadência industrial desde 1980, a grande
propriedade rural moderna, a urbanização máxima já alcançada, etc. são exemplos
da maturidade socioeconômica, nos limites de uma semicolônia, alcançada no
Brasil.
Mas o
fascismo também é uma opção. A revolução socialista pode ser atrasada até por
décadas se uma ditadura for posta no Estado burguês. Parte do caminho para
evitar esta sombria alternativa é a apresentação de um programa econômico transicional,
socialista.
Quais são
os problemas postos de imediato?
A
esquerda está na defensiva, logo propomos a frente única de esquerda em torno
de pautas práticas.
O
desemprego é crônico, logo propomos “redução da jornada, com mesmo salário, para
produzir desemprego zero”.
O endividamento
dos trabalhadores atingiu níveis alarmantes, logo exigimos “cancelamento total das
dívidas dos trabalhadores e pequenos empresários!”.
Há a
ameaça de uma reforma administrativa, por isso pomo-nos “contra a reforma administrativa!”.
Como se
vê, são entre 2 a 4 palavras de ordem centrais, focados nos problemas mais
sentidos e mais intensos desde o começo da crise. Porém, os trotskystas usam o programa
de transição apenas como “receita de bolo” no fim de seus documentos políticos
congressuais. Deveriam, no lugar disso, fazer conferências partidárias para
debater quais propostas são centrais e de que tipo na conjuntura atual (as
democráticas, as mínimas ou as transicionais?). Há, portanto, separação entre
teoria e prática. O programa de transição foi, como a defesa do socialismo, colocado
para “datas especiais”.
Se
queremos construir organizações marxistas com influência de massas, devemos
apresentar nossas próprias propostas, devemos aparecer como alternativa aos
trabalhadores. Ir aos principais bairros e fábricas com panfletos, cartazes e
pichações deve ser o objetivo das correntes trotskystas. Popularizar as
propostas deve ser uma fixação. O trostskysmo precisa se unir em torno das
pautas transicionais, aumentando suas forças, por meio de um “encontro nacional
pelo pleno emprego” a ocorrer simultaneamente em todos os estados da federação.
A situação
reacionária atual é transitória, temporária. Ainda temos condições de ter uma
vitória estratégica nos próximos anos e evitar a derrota total. Se ocorrer, por
exemplo, uma luta de massas nacional desorganizada e espontaneísta, a falta de
um partido vermelho levará à derrota. Por isso temos de nos apresentar desde já
como uma minoria firme, com propostas práticas e próprias, com presença constante
em meio à parte da classe trabalhadora. Os partidos revolucionários devem voltar a
pensar grande, com ousadia.
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