sexta-feira, 28 de julho de 2023

Teoria geral do valor: Valor-trabalho e Valor-matéria

J. P. 

SEÇÃO TRÊS

NOVA TEORIA GERAL DO VALOR:

VALOR-TRABALHO E VALOR MATÉRIA


NOVA TEORIA GERAL DO VALOR:

VALOR-TRABALHO E VALOR MATÉRIA

 

Chegado aqui, o leitor já percebeu a originalidade rara desta obra. Agora, faremos duas ações, uma após a outra: 1) oferecer uma teoria do valor marxista a partir da generalização da teoria apenas do valor econômico em Marx e 2) apresentar uma teoria nova do valor, o valor-matéria, que abarca dentro de si o primeiro generalizado. Assim, nossa teoria do valor é sobre todo tido de valoração, não apenas na economia.

 

GENERALIZAÇÃO DO VALOR-TRABALHO

 

O homem primitivo necessitou compreender cada vez mais as propriedades do mundo, ou seja, de modo rústico, já fazia ciência. Ao analisar o mundo, teve de descobrir – não criar – valores, valorizar; esta pedra é ruim para este machado, mas bom para tal tarefa. Pois bem; grosso modo, isso está em Lukács, então apenas vale tratarmos do assunto se algo novo houver para ser dito.

O valor artístico, por exemplo, dar-se pelo quanto de trabalho útil foi destinado na sua produção, incluso o ganho de habilidade do artista. Mas o guia é o valor de uso da arte, a mensagem fictícia. Se um “artista” dedica mil horas para pintar um quadro preto de preto, perdeu seu tempo.

Lukács diz da valoração com o exemplo do valor positivo de um bom vento para a embarcação. Ora, a diferença atmosférica deslocou ar de um ponto para outro, logo trabalho realizado. Na verdade, o valor tem origem direta em dois fatores opostos e complementares, unidos: o trabalho exigido e o trabalho economizado (que pode ser resumido no primeiro). Um mau vento exige mais trabalho, gasto extra – menos valor tem, menos bom, ruim, é ele.

Considerado isso, que trabalho e economia de trabalho são ambos base da valoração, o que os unifica? O objetivo, a finalidade, o valor de uso – eis a medida, ou melhor, o lastro da valoração. Uma arte somente é arte se tem mensagem fictícia (podendo ser afirmada como bem ou mal, ruim, elaborada).

Na relação homem e objeto, a valoração divide-se, no contexto, em bom e ruim. Nas relações humanas, em bom e mau. Nada nisso de maniqueísmos, pois, por exemplo, um operário lutador da causa operária, logo bom, pode ser machista, logo mau. O que guia é o rumo da humanização da humanidade, o fim da alienação – a finalidade.

Assim, a valoração dos valores está lastreada, no trabalho, por isso, na história, por isso, nas relações contextuais, logo, na finalidade.

Já dissemos em outro lugar que o ouro vale muito porque se exige imenso trabalho para extraí-lo da terra. Mas tal imenso trabalho é exigido porque se exige muita energia-tempo-trabalho para produzi-lo nas estrelas, nas explosões estelares.

 

MORAL E METAFÍSICA

Platão ascende a conceitos cada vez mais gerais e abstratos até alcançar o Belo, o Bom e o Bem. Para ele, os mais puros. Ora, existe um conceito ainda mais puro, geral e abstrato. O belo, o bom e o bem – são o quê? São valor! Com tal conceito, na economia Marx foi de fato ao mais abstrato. O bem (coisa privada) não é o mais profundo ou, se quisermos, o mais etéreo: isso é o que está dentro do valor de uso, o bem, ou seja, seu valor invisível dentro de si. Marx poderia dar qualquer nome ao valor, já que é descoberta sua, mas lastreou a palavra na metafísica.

 

TEORIA DO VALOR-MATÉRIA

 

Marx convida a duvidar de tudo, de todas as certezas – incluso as de sua poderosa produção. Dito isso, José Paulo Netto afirma que, quando se quer atacar ou adaptar o marxismo, foca-se em três eixos: contra a dialética, contra a teoria da revolução e contra a teoria do valor-trabalho. Nosso foco será a questão do último elemento.

Todas as tentativas de negar ou ver contradição na teoria marxista do valor são, quando muito, risíveis. Isso ocorre, simplesmente, porque ela está certa, completa e correspondente em alto grau à realidade. Os críticos confundem, por exemplo, valor e preço. Ora, por que a água, com a altíssima utilidade, apresenta-se tão barata – mas o ouro, carente de utilidade, tão caro? Eis contradição da teoria do valor subjetivo, do utilitarismo. Resposta de Marx e nossa: um exige mais trabalho social e humano para produzir em relação ao outro, muito mais.

Mas é possível afirmar totalmente a teoria marxista do valor e, ao mesmo tempo, superá-la? Façamos a digressão e o exercício para fins filosóficos, pois é uma teoria de todo correta. Apresento, agora, minha própria teoria – do valor-matéria.

 

O ERRO PARCIAL DE MARX

Marx começa sua obra com a seguinte pergunta: se duas mercadorias são qualitativamente, completamente, diferentes – como elas são igualadas? Como isso é possível? Como uma é trocável pela outra em certas quantidades? Como a passagem é famosa entre o publico leitor deste livro, destacamos apenas o caso de Aristóteles. O grego afirmou que um tanto de sofás são trocáveis por uma casa. Mas por quê? A troca é consciente, mas a razão de tal trocabilidade é inconsciente, inconsciente social. No entanto, o pensador antigo conclui que isso – a proporção de troca, a permutabilidade – era mero jogo subjetivo, para fins práticos. Segundo Marx, o gênio não foi capaz de responder por causa de sua época e por ser senhor de escravos – mais uma vez, complementamos, o inconsciente social a agir. Ora, responde ele, são iguais as mercadorias porque elas são frutos iguais de trabalho humano! O tanto de trabalho gasto gera um tanto de valor, que as iguala no mercado. Um tento de linho é trocável por um casaco porque ambos possuem dentro de si a mesma quantidade de trabalho gasto em suas produções. Mas, porém, todavia: elas não são completamente qualitativamente diferentes! Elas, as mercadorias, ou melhor, os valores de uso, são átomos concentrados, ou seja: – prótons, elétrons e nêutrons. São matéria e material igual, massa igual, ou seja, peso igual (com a gravidade). O que lhes iguala são suas matérias. Se o valor é (forma de) energia, temos de ver que energia é massa (E=mc²), segundo Einstein, propriedade da matéria. Marx não vê a qualidade igual, o fato de serem as diferentes mercadorias materiais, matérias.

 

DEMONSTRAÇÕES DO VALOR-MATÉRIA

O valor-trabalho do qual tratamos antes e generalizamos, ainda é válido e completo, mas abaixo e dentro do valor-matéria. Entremos mais no absurdo.

Primeiro. A máquina perde valor ao desgastar-se, ao desmaterializar-se.

Segundo. O dinheiro ganha valor ao materializar-se na forma ímpar, o ouro (átomo pesado); depois, perde valor ao desmaterializar-se (prata, cobre, papel, bits.).

Terceiro. Lamentamos muito mais a morte de um grande elefante contra a morte de uma reles formiga. Por instinto, de causa inconsciente, associamos valor com materialidade – mais materialidade, aliás, mais raro, além de mais trabalho e energia exigir.

Quarto. Uma pedra mais material é, via de regra, mais útil e tem mais valor relativo à outra pedra inferior materialmente de mesmo tamanho etc.

Quinto. O ouro é difícil produzir nas estrelas, concentra muitos átomos.

Sexto. Tenta-se tirar componentes “desnecessários” da máquina para diminuir, assim, seu valor.

Sétimo. A deterioração de certa mercadoria também é sua perda de valor.

Oitavo. A abundância material é a base da liberdade e da felicidade.

Novo. Valor só pode existir dentro e junto de algo, de certa matéria.

Décimo. O que tem mais massa, em geral, mais matéria, tende a ter valor e preço maiores.

Décimo primeiro. A redução do valor e do preço da mercadoria está, hoje, ligada à redução de sua materialidade, ou seja, os produtos estão mais frágeis. Isto é: valor-matéria.

Décimo segundo. Marx afirma que o valor de certa mercadoria (forma relativa) se expressa na materialidade de outra (forma equivalente). Assim, sua separação por um abismo entre valor de uso e valor cai e desaba para dentro de si: a medida dos valores e o padrão de preços, por exemplo, fundem-se, ainda que de modo a abarcar a diferença etc.

Décimo terceiro, enfim. A água é barata por sua molécula ser fácil de se formar, precisa de átomos simples e “leves”, pouco materiais, oxigênio e hidrogênio, abundantes por facilidade relativa de produzir. O ouro é caro porque, como observamos, seus átomos unidos são “pesados”, complexos, com mais matéria-massa concentrado, lago mais raro, logo mais trabalho para produzir na estrela e extrair da terra, logo mais caro via de regra e tendencialmente.

Décimo quarto. Vejamos a relação com a dialética. Marx exclui todas as propriedades físicas da mercadoria (cor, massa, matéria, peso etc.) para chegar numa coisa-em-si invisível, o valor, a gelatina de trabalho dentro da coisa.

 

Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem dele valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer coisa útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. (Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)

 

E:

 

Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores mercantis. (Idem, 116.)

 

Mas, contra Kant, Hegel afirmou, Ciência da Lógica – Doutrina da Essência, embora não tenha sido o único, que a coisa ou a coisa-em-si sem suas propriedades nada é – e que tais propriedades são, veja só, matérias ou materiais. Assim, a coisa-em-si valor nada mais seria que suas próprias propriedades, ou seja, sua materialidade. A coisa-em-si, o valor, é a coisa.

Décimo quinto. Tanto no mundo inorgânico (Sol, buracos negros etc.), passando pelo biológico (macho dominante, o mais alto etc.), quanto no social (concentração de capital, ter mais dinheiro, ter maior população etc. – no social mental: ter grande casa ou carro, mais dinheiro etc.) ocorre o seguinte processo: mais matéria-massa concentrada, em relação aos demais e à média, logo, tende a ser a causa de atração, de ser orbitado, de agregar para si.

Décimo sexto. Unidade do valor e valor de uso: o ouro tornou-se dinheiro por excelência por sua materialidade singular – raro porque muito material (átomos pesados), imperecível, uniforme, fácil de dividir e fundir.

Em sua concretude, a teoria do valor-matéria exige observarmos três fatores:

 

I.                   A matéria

II.                Suas propriedades

III.             Seu contexto material

 

A teoria do valor-trabalho de Ricardo e, depois, de Marx tem função revolucionária, útil para o movimento social e para a humanidade. Além disso, está correta. Mas, por sua exatidão alta, impediu-se, além de tanto outros fatores, de ver o valor-matéria. Naquele tempo, mal se sabia dos átomos, por exemplo. A teoria do valor-trabalho está dentro da do valor-matéria.

 

VALOR-TRABALHO, VALOR-MATÉRIA E OFERTA-DEMANDA

Assim, também, conectamos a teoria do valor-trabalho com a teoria da oferta e da demanda (procura). Algo é raro, logo, com muito valor por ser difícil de extrair ou produzir, porque tem mais materialidade – porque tem mais materialidade, é muito mais difícil de existir. Por isso o ouro tem valor, sua raridade, ao exigir mais átomos para existir, exige trabalho extra.

Se a oferta e demanda se igualam, deixam de explicar o preço e valor. Tal teoria apenas explica-se desde a teoria do valor-trabalho e do valor-matéria.

 

A MATÉRIA É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

A matéria é a própria realidade – por isso seu valor, sua base de valor. Quando dizemos que movimento = energia = tempo = espaço (meio) = matéria – dizemos, portanto, que a energia-valor nada mais é que a matéria. Assim fazemos a unidade, ainda que ainda contraditória, entre valor e valor de uso. Não mais externos um ao outro, não mais apenas estranhos.

Vejamos o parágrafo anterior. Marx diz que o preço da terra virgem não tem valor, pois não há trabalho gasto em sua produção, portanto, capital fictício; apenas há preço. Mas a terra, primeiro, tende a valer mais se ela é melhor, mais produtiva, então, mais rica materialmente! E, segundo, o oposto-idêntico-diferente de matéria é espaço ou movimento, logo, a terra mais distante tende a perder valor, preço. Portanto: a matéria é a medida de todas as coisas!

Marx não vê que que há unidade do quantitativo (valor) e do qualitativo (valor de uso) na medida.

 

VALOR-MATÉRIA: UNIDADE DO MUNDO

Vale uma comparação histórica. Platão teve de dividir o mundo em dois opostos e separados: o mundo das ideias ou formas e o mundo da aparência ou material. Depois, em oposição, Aristóteles – ainda idealista, mas com toque materialista evidente – defendeu um só mundo, aqui, onde está a própria substância, a essência, o conteúdo, a forma etc. Marx dividiu economia em dois: mundo do valor de uso e mundo do valor. Agora, unifico ambos os mundos no valor-material.

 

DEDUÇÃO DA UNIDADE DO VALOR

As diferentes teorias sofisticadas do valor são muito mais do que apenas diferentes ou lado a lado: são uma só teoria com diferentes graus de abstração. Temos, então, uma teoria unificada da valorização. Assim, o valor dado está ligado à sua

 

1)  Raridade

Que nada mais expressa além do

 

2)  Trabalho médio – social ou natural – exigido para sua produção ou economizado

Que é um dado gasto de energia expresso de maneira imperfeita no

 

 

3)  Tempo médio exigido em sua criação

Ligado, portanto, à sua

 

4)  Utilidade

Que é, por sua vez e em cadeia, expressão pobre de sua

 

5. Materialidade (valor-matéria)

Tanto no sentido quantitativo quanto, em principal, qualitativo.

 

A conexão mais difícil de observar está entre 4 e 5. Vejamos. O ouro parece ter baixíssima utilidade, o que deveria gerar baixíssimo valor; mas ele é dinheiro por excelência por ser “pesadamente” material, logo, raro etc., o que faz dele o valor de uso útil por excelência, ou seja, trocável por tudo o mais. Por sua natureza social e natural, o ouro é o que é, natural socialmente desenvolvido, ou seja, socializado.

Nos meios vulgares, diz-se que o valor é subjetivo porque a água vale muito mais do que o ouro no deserto. Ora, em tal ambiente seco, a água é uma materialidade rara, difícil de produzir e pouco material presente. Aí a água vale muito por sua materialidade em seu contexto. Portanto, valor-matéria.

 

VALOR-MATÉRIA E MORAL

Já vimos a diferença entre o assassinato de um elefante e uma formiga. No mais, o direito moral trata da perda de certa propriedade (roubo) ou de certa materialidade (dinheiro, vida-corpo etc.).

 

VALOR-MATÉRIA E TOTALIDADE

Isso afastaria um tanto, como solução, o marxismo de sua necessária metafísica do valor – tão rejeitada pelos próprios marxistas, contra Marx. Um ponto de apoio seria que a empiria – econômica etc. – mostra-se impura, suja, concreta, impedindo a manifestação exata da lei do valor-matéria (no preço etc.). Tal visão, enfim, reconecta o mundo dos homens com o mundo natural. Marx nunca poderia, ou teria imensa dificuldade de, criar a teoria do valor-matéria, que, grosso modo, afirma que o valor deriva de maior materialidade relativa. Isso ocorre porque a ciência, a metafísica (a verdade está no todo), a física, a filosofia, a Dialética da natureza e a sociedade ainda não haviam atingido seus ápices, de origem comum, durante sua vida. Quando Marx diz que se pode virar e desvirar a mercadoria, mas nela não se encontrará nenhum átomo de valor; esquece que a matéria, representada no átomo etc., é o próprio valor.

A teoria do valor-matéria é a raiz de dois do marxismo. Como entender de fato o capitalismo, com o conceito central de valor econômico, sem entender o cosmos e o lado universal da valoração? Avança-se imensamente, mas até certo ponto. Darwin refinou sua teoria por 10 anos na esperança de evitar acusações e polêmicas – mas o escândalo foi geral e inevitável. Aqui, apresento algo primeiro, a ser desenvolvido para além do modo de ensaio.

 

ASPECTOS QUANTITATIVOS

Demonstramos que massa, tamanho e quantidade estão relacionados no qualitativo, no seu valor. E demos tambémca prova qualitativa do valor-matéria. Vejamos agora a tabela periódica e sua relação, tendencial, por aproximação, entre peso atômico e preço:

 

 


(Elementos químicos por preços de mercado, 2018)

 

É visível tendência. Veja-se que, para direita e para baixo, os elementos mais pesados tendem a ter preços maiores. Certos desvios parciais dão-se por questões conjunturais, além de desvios como certo nível de monopolização. Outros, por estruturais: o hidrogênio só há na realidade associado quimicamente, mesmo que com outro exemplar de si. Além do mais, o contexto material importa: a formação do Sol, por disputas gravitacionais, tendeu a atrair elementos mais leves, que escapram das formações palentárias em curso, deixando um tanto mais de elementos pesados de maneira relativa. Os elementos ainda mais pesados sequer preço claro possuem de tão raros e caros, de tão materiais e de tanto trabalho exigidos.

A rararidade e, por isso, a materialidade, determina também limites de presença nos elementnos químicos. Nessa indútria de base, todos os produto mais avançados na linha de produção devem responder aos preços das mercadorias ou elementos de base, mesmo que por mediações.

Pelo valor-trabalho, mesmo que seja o central, a explicação de tal precificação fica incompleta e recheada de jogos teóricos. Se só o valor-trabalho atuasse, os preços tenderiam a se igualar por mais investimento, visto o lucro alto, maior controle estatal dos preços e, também, por, dada a raridade, substituição por materiais de similar propriedade e, claro, máquinas moderníssimas com altíssima produtividade barateadora. Isso deformaria tudo, fazendo um caos sem padrão. Mas não acontece, não e nem de longe no nível esperado. A coisa se explica pela “renda da terra”, ou seja, a materialidade, suas propriedades, seu contexto e sua raridade, base do trabalho maior na sua produção ou extração. Pode-se usar o argumento do monoólio, mais comum no setor, mas ele, quando de fato há, é, antes, consequência, não causa! O valor-matéria, o lugar de negar, afirma e aprofunda o valor-trabalho, além de conectar meslhor este com a a lei da oferta-demanda.

 

 

TRÍADE UNA DO VALOR

 

Na dialética, nada é – tudo está. Um conceito diz-se de muitas formas – uma só classificação e significado dá lugar aos muitos. Isso é superar o limite da mera e pobre definição. Desdobramos a categoria acima de seu simples e unitário definir.

Feita a exposição metodológica, vejamos nossa teoria. O valor diz-se de muitos modos. Portanto, a busca de teoria geral deve considerar isso, elevar-se. O conceito geral e abstrato, valor, tem conceitos gerais e abstratos, mais e mas abaixo, seguintes:

 

1.      Bom

2.      Belo

3.      Bem

 

Eis os eixos unificados, separado a apenas na teoria, do valor. Nossa exposição é, aqui, esquemática para facilitar a apreensão, mas tudo ocorre de modo misturado e sob hierarquia do “bem”. Podemos observar, então, que cada fator corresponde a um aspecto:

 

1.      Bom – trabalho

2.      Belo – natural

3.      Bem – matéria, materialidade

 

Indo mais ao fundo:

 

1.      Bom – Ser social

2.      Belo – Ser biológico, orgânico

3.      Bem – Ser inorgânico

 

A aliteração que, em nossa língua, surge dos três fatores é uma boa coincidência. Repetimos que eles são ou estão misturados, não separados por uma parede, sob o bem – matéria – inorgânico. Diz-se que o consumidor capitalista procura o “bom, bonito e barato”, sendo que este último, descobrimos, demonstra o valor-matéria.

O belo como, em primeiro e mesmo se mediado, ter base natural e na biologia nos lembra que um animal venenoso parece um animal venenoso. Um ambiente sombrio parece um ambiente sombrio

.

A OBJETIVIDADE NATURAL DA BELEZA

A arte não necessita ser agradável, mas, por derivação, a beleza é um tema importante – o belo é objetivo ou subjetivo? Está na realidade ou nos olhos de quem vê? Em primeiro lugar, beleza está na própria coisa, portanto, natural em si (tanto natural para a percepção do externo quanto no próprio externo); trata-se da beleza no geral, no universal, pois o lado animal do homem e suas percepções capta a beleza do mundo, desde sua vida prática para com animais e situações (o sombrio na arte tem, remete a, traços do sombrio na vida real). Mas, por outro lado, a beleza é algo humano no sentido histórico, determinada historicamente, socialmente; porém, sendo a beleza no particular, não nega de todo a beleza geral, natural, antes pode mediá-la ou deformá-la. Por último, temos a beleza no singular, no individual, que responde à própria formação pessoal e da psique, algo único – este medeia e, ao mesmo tempo, é mediado pelos outros dois. Assim, as polêmicas sobre o caráter do belo, dentro e fora da arte, são resolvidos, percebendo os próprios “níveis” que se misturam, um sendo a base do outro. Tenta-se refutar, por exemplo, a beleza natural geral, com o fato de existirem pessoas com gostos exóticos; por outro lado, tenta-se refutar a instância da beleza individual com a constatação de consensos gerais sobre se algo é belo, apontando para o objetivo ou, ao menos, o intersubjetivo. Os pontos de vista opostos acertam e erram ao mesmo tempo, são incompletos e sem mediações.

 

EXTRA: O LIMITE NO ACERTO DE LUKÁCS

Sou, além de trostskista ou kurziano etc., um lukácsiano. Mas o conjunto de minha obra refuta parte importante de sua produção e, outra parte, suprassume, supera o ainda mantido. Entre outros tantos erros, Lukács pensou a valoração como, em primeiro, algo subjetivo, ideal, ideologia. Com a generalização do valor-trabalho e a descoberta do valor-matéria, podemos ver com facilidade seu erro e seu limite em seus manuscritos finais. O valor da coisa está na própria coisa, pois é ela mesma. Algo, portanto, objetivo, no mundo, factual - material e materialista, antes de idealista. Muitas vezes, apenas de modo inconsciente sabe-se do valor, ou seja, sabe-se o valor na consciência, para fins práticos, mas não se sabe a sua causa (um inconsciente ao mesmo tempo pessoal e social) – algo a ser desvendado pela teoria. A matéria é a medida da matéria, dela mesma, repetimos: a matéria é a medida de todas as coisas! Spinosa pensou a existência de uma só substância, mas ele perde a mediação: os atributos são formados por variadas substâncias, não apenas uma spinozista - estas, por sua vez, são, no fundo, a mesma substância, apenas um agora, em quantidades diferentes, o que gera qualidades (substâncias) diferentes, pois meras mudanças de quantidade geram mudanças de qualidade - tal substância única e essencial, a matéria, dilui-se em espaço, causa da infinitude na quarta dimensão, que é a própria matéria decaída. Espaço é matéria, são um sendo dois. No fim, o movimento é a queda da coisa em si mesma (orbita a si mesma), na quarta dimensão espacial – casa do infinito, da energia, do valor, do movimentar, ou seja, um abismo para dentro de si. Lukács, um mestre para todo o resto da história da humanidade, sequer chegou perto dessas considerações.

 

 J. P. 

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