J. P.
Do livro A crise sistêmica
TESES SOBRE A CRISE DE ABSTRAÇÃO
1.
Os
diferentes capitais e suas formas tendem à unificação parcial e total.
2.
O capital
fictício rompe sua medida, ainda que de modo relativo, hiperinflaciona-se,
ganha autonomia artificial.
3.
Sinal de
integração socialista facilitada, capitais se abstraem como com o comércio
virtual.
4.
O
trabalhador é afastado ou alienado de seu trabalho alienado por robotização,
automação. Há crise por redução do valor, do trabalho abstrato (Kurz).
5.
O dinheiro
desloca-se de sua relação direta com sua base material, perde sua medida.
6.
Pela dívida,
o consumo imediato abstrai-se da realização imediata do valor da mercadoria.
7.
A união
urbana agrega os antes separados, mas isolada o indivíduo.
8.
Os estados
nacionais mal resistem à tendência de integração.
9.
O homem
rompe com a natureza.
10.
O isolamento
do homem da comunidade, dos outros e de si o adoece.
11.
O estado
abstrai-se de sua sociedade como com a profissionalização das forças militares.
12.
A arte deixa
de ter matéria-forma-conteúdo – torna-se arte abstrata, falsa arte.
13.
A moral
torna-se abstrata, abstrai-se.
14.
A mercadoria
abstrai-se, perde materialidade, perde conteúdo, há fusão concreta de valores
de uso exigindo menos valor e trabalho.
15.
A burguesia
afasta-se do capital a partir do qual tem lucro.
16.
A realidade
posta, hoje, afeta a capacidade de abstração mental dos indivíduos.
17.
A linguagem
abstrai-se em demasia da realidade concreta, cai em engodo e falsidade.
18.
A crise de
abstração é, generalização e totalidade, muito maior do que somente a crise
singular do trabalho manual abstrato, condição do socialismo.
Não são
todos os casos nem todos os tratados nesta obra – mas servem de referência e
aproximação. É dificílimo explicar algo como crise de abstração para um
sindicalista lutador ou em panfleto operário. A abstração elevada exige, por
sua vez, imensa abstração. Isso atrapalha o sucesso e popularização da tese,
mas a vanguarda socialista pode lidar com ela de modo rico e estável. Com a
maioria, traduzimos a teoria em propostas políticas práticas, concretas.
Por
abstração: 1) separação, 2) tornar menos material, 3) tornar mais ou mero
conceito, 4) “purificar”. A crise pode ser, portanto, por separação (do Estado
etc.), ou por, oposto, integração concreta (do capital etc.). Ou por tornar
menos material (do Estado: privatizações, limite de orçamento etc.), etc.; ou,
oposto, excesso material (como máquinas de guerra grandes e caras fáceis de
inutilizar por materiais baratos como drones etc.). O abstrato é o concreto em
processo.
TESES SOBRE A CRISE DO VALOR, DOS VALORES, DO VALOR
EM GERAL
1.
Reduz-se o
valor econômico da sociedade do próprio valor econômico por redução do trabalho
manual abstrato (Kurz). Mas a crise é do valor em geral, não apenas crise de um
tipo singular de valoração.
2.
Parte da
crise está na contratendência dos baixos salários etc. ao movimento de
implementação, logo, da automação.
3.
Há
contradição entre valor e capital.
4.
Há
contradição entre estrutura e processo.
5.
O capital, em
geral, em geral torna-se fictício.
6.
Os serviços,
improdutivos, sugam valor da produção, via mercado, por meio de preços maiores
e demanda maior.
7.
Há aumento
geral em geral dos custos improdutivos sociais como polícia urbana e, na
empresa, espionagem industrial etc.
8.
O valor de
uso da natureza decai, degenera – crise ambiental.
9.
Com o
desenvolvimento técnico, boa parte da arte entra em crise por falta de público,
girado para outros meios (cinema, internet etc.). Abandona-se, portanto, o
esforço artístico, causa central de sua valoração.
10.
A decadência
da sociabilidade burguesa leva à decadência moral, de seu valor.
11.
O homem
perde valor psíquico por sua desvalorização social.
12.
A
desmaterialização das mercadorias, ademais de suas fusões de valores de uso,
rompe com o valor econômico.
13.
A crise
central do valor econômico como centro da crise dos valores em geral leva à
crise da teoria, abstração, do valor – que passa para, também, o valor-matéria.
14.
O valor de
uso entra em crise para garantir venda por meio da sua queda abismal de
qualidade, de sua fragilização (Mèszáros), de sua troca de matéria, por seu
equivalente fictício, de seu desuso (produto força de trabalho etc.), da
produção destrutiva (Mèszáos) etc.
15.
Do ponto de
vista social, há superprodução crônica, mas, latente de produtos, incluso
produto-capital, que se apresenta (Mèszáros) como contradição vital entre
produção e circulação.
16.
Ao se
desmaterializar, fácil de criar e destruir, o dinheiro perde valor.
17.
A crise do
valor é uma só, outro lado da moeda, com a crise de abstração.
18.
A crise do
valor, tal qual a crise de abstração, externaliza-se como crise de medida, da
medida, de desmedida.
19.
O valor de
uso e o valor são apenas um, opostos apenas externos, são o mesmo – valor. O
valor-matéria cristaliza o valor-trabalho. Por sua vez, o valor-trabalho é
resultado do valor-matéria. Por valor-matéria temos sua materialidade, suas
propriedades e seu contexto.
20.
A máquina,
tanto mais hoje e no socialismo, faz trabalho como trabalho, agora, objetivo,
trabalho objetivo – em oposição superante, tanto quanto possível, do trabalho
manual subjetivo.
Há ainda
aspectos não tratados nessas teses, mas ao longo do livro.
SOBRE A ALIENAÇÃO HOJE
Há:
1) Domínio do
mundo das coisas sobre o mundo dos homens;
2) Humanização das coisas na proporção da
coisificação dos homens;
3) Valorização
das coisas na proporção da desvalorização dos homens;
4) Integração das coisas – a internet! – na
proporção da fragmentação dos homens;
5) Ganho de características das coisas na
proporção da unilateralização dos homens e de seus pensamentos;
6) Poetização, estetização, das coisas na
proporção da brutalização dos homens;
7) Ganho de cognição das coisas na proporção da
perda cognitiva dos homens.
Cognição tem, aqui, sentido amplo. Por exemplo: a
robótica dá sensibilidade artificial às máquinas, o que desemprega e
dessensibiliza o operário.
Nem todas essas afirmações são novas, as primeiras em
destaque são de Marx. Mas servem de guia para a obra a seguir, pois ganham
profundidade enorme em nosso tempo.
Em resumo, grosso modo, em geral – há processo de
concreção das coisas na medida da abstração dos homens. Dialética do abstrato e
do concreto.
Coisificação (reificação) não é apenas o homem – e
a subjetividade – ser coisificado, ou, ainda, relações sociais aparecerem como
coisa e relação entre coisas; mas também o desenvolvimento, às nossas custas,
do mundo coisal. A sociedade passa a servir às coisas e ao seu mundo. O
capitalismo é a sociedade das coisas, em especial, da coisa-dinheiro. A
coisidade explora-nos. Assim como o homem humanizou a natureza, a coisidade
coisificou o homem e o social. Não é um engano ou um “como se”. Há de fato uma
relação social entre coisas com o ser humano enquanto ferramenta, meio e
apêndice – não somente uma relação social humana que aparece, por quiprocó,
enquanto relação coisal. Isso é claro do ponto de vista da totalidade. O erro
completo de pensar que fetiche em Marx é tara por mercadoria e consumismo passa
a ter um grão salgado de verdade.
Marx chega a afirmar n’O Capital que o processo de
produção domina o trabalhador, não o inverso, o trabalhador dominar o processo
de produção. Mas faltou um passo, a pergunta: Por quê? Para quê? Há uma
teleologia objetiva como fim em si mesmo de manutenção e ampliação do reino das
coisas, da coisificação. Eis a “intenção” desse reinado.
Também, trataremos de outras alienações como a
separação do homem da natureza.
TESES SOBRE
A CRISE DAS CATEGORIAS
1) A
categoria de valor econômico entra em crise (Kurz) por redução do trabalho
manual abstrato na produção; mas não só: a crise se dá por contradição com o
capital (outro de si), desmaterialização das mercadorias e do dinheiro etc.
2) A crise da
categoria de valor-trabalho dá-se, também, como crise teórica, de seu valor
teórico desde a descoberta, nesta obra, do valor-matéria.
3) As
categorias da Ciência da Lógica de Hegel, categorias da ontologia, entram, em
conjunto, em crise na atual sociedade, na sua atual fase – qualidade contra
quantidade (Mèszáros) e medida, interno
contra o externo etc.
4) Assim, a
própria Lógica de Hegel adentra, enfim, em crise, suprassumida nesta obra em
nova lógica ontológica, metafísica.
5) A
categoria geral de valor, não apenas econômico, entra em crise geral.
6) Todas as
categorias concretas do capitalismo entram em crise: classes, capital, valor,
exército industrial de reserva, nação etc. A burguesia, por exemplo, ao se
afastar da concretude da empresa, via ações, torna-se uma classe que já não é
classe alguma, ou seja, superação das classes por dentro da própria existência
classista.
7) Na ciência,
partir, a priori, de categorias e de categorias fixas entra em crise – elas, os
conceitos, devem ser o final, o ponto de chegada, não o começo onde a realidade
deve caber de modo artificial e forçado, além de serem criticadas e avaliadas
quando de uso comum.
8) Surge a
condição, enfim, de metafísica final, materialista e dialética, como ponto de
chegada e real ponto de partida novo.
9) As
categorias sistêmicas-concretas tornam-se, cada vez mais, meras categorias
como, por ex., o dinheiro enquanto mero dinheiro. Tornam-se abstrações.
Tornam-se menos materiais.
10) Em nosso tempo de aceleração, a categoria de
tempo entra em crise.
Meu primeiro contato com a expressão “crise
categorial” foi por palestra de Kurz no Brasil, disponível na internet. Porém,
ele não generalizou: a crise categorial é geral, universal, ampla – não apenas
o esperado pela crítica do valor (econômico), crítica do trabalho abstrato e
manual. Ele retira tal ideia – de modo correto, mas contrito – dos pensadores
não marxistas, dando-lhe vestido vermelho. Os pós-modernos perceberam crise do
trabalho, crise da “ideia” de classes etc. Mas eles foram apressados,
impressionistas, simplistas, demasiado europeus, sem conceito, idealistas, sem
noção de totalidade, sem mediação – e assim por diante. A crise das categorias
concretas é a quarta dimensão da mesma moeda das crises tratadas nas teses
anteriores.
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