sexta-feira, 24 de junho de 2016

TODOS OS PARTIDOS REVOLUCIONÁRIOS TÊM PRAZO DE VALIDADE




TODOS OS PARTIDOS REVOLUCIONÁRIOS TÊM PRAZO DE VALIDADE

Por que todas as organizações bolcheviques, ao longo de um século, cedo ou tarde, degeneraram? Esta é uma pergunta cuja resposta apenas pode ser descoberta por fora do dogmatismo ou da fé cega; sobre este tema nos debruçaremos.

Uma avaliação objetiva revela o padrão. Mesmo o mais revolucionário dos partidos da história, dirigente da mais incrível revolução social, degenerou dez anos após seu próprio heroísmo. Assim também, a organização diretamente instruída por Engels, o poderoso Partido Social-democrata Alemão, tornou-se o maior símbolo reformista de todo o mundo. Para abarcarmos um terceiro exemplo, entre centenas, o SWP norte-americano, educado com imensa atenção por Leon Trotsky e Cannon, degenerou-se quando da renovação dos quadros. O que faz de partidos realmente revolucionários caricaturas de si, centristas e reformistas?

O materialismo histórico ensina-nos: as superestruturas – como uma organização política – são uma substância gerada pelas relações econômicas e sociais em uma realidade dada. Claro que, uma vez existente, a “forma” também influencia o “conteúdo” e é um elemento essencial, importante; porém: em primeira e última instância, as organizações humanas têm sua natureza determinada pela base sobre a qual se erguem e que as geram.

Vamos para a linguagem prática; um “centro comunista” pode ter três caminhos:
1. Dirigir sua classe em uma revolução mundial, e assim fazer surgir uma sociedade onde partidos são descartáveis, definham;
2. Ser absorvido pela sociedade capitalista , adaptando-se: de um vírus torna-se “mero” parasita mutualista;
3. Ser destruído.

Percebemos o fim do conteúdo-forma como algo inevitável; a questão, portanto, centra-se em como isso irá acontecer – de modo nobre ou mesquinho?

Aí está a questão. Uma organização centralista e democrática tem um período de vida – de sua essência – mais ou menos longo a depender da realidade concreta e de suas decisões; significa a possibilidade de adiar por muito tempo o fim de sua natureza-essência revolucionária, mas não de modo indefinido:
a) O Partido Social democrata-Alemão, e a maioria da II Internacional, degenerou-se com a mudança da realidade – era inevitável. Com o fim do período progressivo, reformista, do capital e o início de uma nova etapa e época, essas formas de luta mudaram-se;
b) Tão logo entramos em uma etapa contrarrevolucionária – derrota da segunda revolução alemã, fascismo na Itália, isolamento da URSS, etc. –, o stalinismo degenera todos os partidos revolucionários surgidos na etapa revolucionária anterior;
c) Pós-II Guerra, o Estado de bem-estar social na Europa, a prosperidade hegemônica nos EUA, as ditaduras estalinistas nos países de base camponesa (China, etc.) fecharam a situação revolucionária aberta com a derrota do nazi-fascismo. Salvo heroicas exceções, o leninismo-trotskismo acomodou-se, degenerou-se – também.

Percebemos, assim (e este é um importante foco do texto), que as mudanças de situação, etapa e época – ou seja, em principal da base social-econômica da superestrutura – mudam, sempre e em alguma pesada medida, os organismos políticos operários; ao mesmo tempo, são medições variáveis: muito mais fácil resistirem a uma mudança de situação a uma de etapa ou época – em real, imensamente mais fácil.

Reconhecer este limite ajuda-nos. De qualquer maneira, a formação de partidos com democracia e centralismo, de quadros, de operários e precarizados, da periferia urbana, de gente amante da teoria e da prática, pode fazer o projeto alcançar seu fundante objetivo.

Quando o programa de um partido torna-se atrasado e obsoleto, muda-se o eixo e degenera-se. Tudo o que é sólido desmancha-se no ar; reivindicar uma forma-organização não supõe seu fetiche, sua cristalização ideal – ao contrário, exige alerta. Toda e qualquer organização revolucionária tem prazo de validade, definha. E resolvemos o problema assim, sem atalhos: adiar esta possibilidade tanto quanto possível, precaver-se; reorganizar-se, ruptura, sempre quando necessário; e que este definhamento ocorra apenas, esperamos, por sua inutilidade quando no socialismo avançado.

Por último, dois dedos sobre um debate necessário. Estamos diante de uma crise sistêmica, a mais importante da história do capitalismo. Marx acreditava que a crise orgânica no final do século XIX, mercantilização total do mundo e superprodução global, geraria a superação do sistema – e errou. Nunca como agora o capital tornou-se tão autodestrutivo, mas precisamos, ainda assim, de uma organização bolchevique internacional; a crise estrutural do valor somente facilita o caminho, as possibilidades de superação. Chegaremos ao socialismo? Não sabemos. Rosa Luxemburgo percebeu a possibilidade da barbárie; Nahuel Moreno, a do holocausto ou extinção humana. Fato é que caminhamos para o colapso do modo de produção atual; e todo colapso histórico é não um susto, mas um processo em si. Se é verdade que as condições para o socialismo estavam maduras no início do século passado; hoje, com a urbanização elevada no mundo, industrialização dos principais países atrasados e maior interconexão/inter-relação entre as nações, a revolução permanente tornou-se uma possibilidade muito mais intensa – relativizou-se as desigualdades internas entre os diferentes territórios. O século XXI é o soar do sino da revolução, que voltou a bater: socialismo ou fim da humanidade! O século XX, esse momento intenso, foi nosso “ensaio geral”.

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João Paulo da Síria

NOTAS DE FIM:
Mesmo indiretamente como no caso do PC da URSS.

Situação: define-se a partir da conjuntura econômica somada dialeticamente com os estados da luta de classes, das variadas instituições e da superestrutura subjetiva (moral, instrução, filosofias, etc.);
Etapa: define-se pela capacidade e natureza organizativas reais ou latentes das diferentes classes antagônicas;
Época: divide-se em duas – 1) progressista, reformista, quando um sistema está saudável, em pleno desenvolvimento das forças produtivas; 2) revolucionária quando o desenvolvimento das forças de produção exige uma nova sociedade, uma nova superestrutura, um novo sistema socioeconômico.

Reformistas agradam-se com a tese “o capital, depois da crise, dará um jeito de se manter”; no mesmo sentido, agarram-se à ideia “crises cíclicas” como se fossem estas os únicos tipos de crise, pois após a queda – mentem eles aos trabalhadores – “tudo (supostamente) irá melhorar”. Infelizmente, revolucionários de sangue ativo compram essas ideias, uma ou outra ou ambas. A destruição do valor-capital pode gerar a destruição da própria humanidade? O fim da nossa espécie é uma hipótese muito provável, todos nós sabemos. A ciência às vezes é pouco intuitiva: se uma tese prova-se correta, só podemos lamentar daqueles que as negam porque “isso é um absurdo”, porque a realidade é absurda; não temamos o futuro. Como já apontava Nahuel Moreno, uma nova Teoria da Revolução é necessária para que possamos mudar o mundo.

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