sexta-feira, 24 de junho de 2016

Pandemias como sintomas da crise sistêmica




[O texto abaixo foi atualizado desde 2016, e será novamente perante o corona vírus]

RISCO DE PANDEMIAS

“Nossas prioridades são inclinadas pelos imperativos do mercado. A vacina contra a malária é a maior necessidade. Mas quase não tem financiamento. Mas se você está trabalhando com a calvície masculina ou outras coisas você pode conseguir mais recursos para pesquisa por causa da voz que tem no mercado, mais que algo como a malária.”
Bill Gates.

A tese deste capítulo é que as condições do capitalismo hoje colocam, de modo mais intenso que outras fases do sistema, a possibilidade de epidemias e pandemias. Vamos aos fatores que produzem tal conclusão:

1.    Diferenças entre ricos e pobres geram problemas alimentares, de higiene, de acesso à informação, de hábitos, de salubridade. O aumento da miséria relativa desde 1970 e, em destaque, desde 2008 colabora no sentido do adoecimento.

2.    A urbanidade atual, que alcançou altíssimo desenvolvimento, reúne uma enorme massa urbana, facilitando a contaminação geral.

3.    O fluxo humano e de mercadorias por todo o mundo interliga-nos também do ponto de vista viral. Lembremos que a aviação comercial é recentíssimo na história.

4.    Com a automação da produção, alta capacidade produtiva, a indústria farmacêutica necessita criar demanda e bloqueia ou atrasa pesquisas cujo objetivo é a cura.

Richard J. Roberts, Prêmio Nobel de Medicina, denuncia em entrevista:

Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença ...
[…]
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
[…]
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
[…]
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras… (Roberts, 2011)



5.    A crise do meio ambiente (alta concentração de carbono no ar, por exemplo) por si faz surgir novas doenças, além de tornar mais frequentes as que existem.

6.    Há esgotamento do atual método de combate às doenças virais e bacterianas:

De acordo com especialistas, as superbactérias, que se desenvolvem por causa do uso em excesso de antibióticos em humanos e na produção agropecuária, são uma das maiores ameaças para a Humanidade. Cepas de bactérias resistentes aos mais potentes medicamentos existentes já foram identificados em diversos países, incluindo o Brasil. Estimativas apontam que, sem combate, esses micro-ogranismos podem matar 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050.
— É irônico que uma coisa tão pequena provoque tamanha ameaça pública — disse Jeffrey LeJeune, pesquisador da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, em entrevista ao “Guardian”. — Mas ela é uma ameaça global à saúde que precisa de uma resposta global. (Globo, 2016)

As bactérias resistentes a antibióticos também ocorrem na criação de animais para consumo. É um risco latente de infecção tanto de desses seres quanto de humanos.

7.    O processo de separação do valor de uso do suporte e o valor de uso “poético”, sob a forma capitalista, geram: 1) produtos com baixo valor nutritivo (exemplo de um suco artificial e barato); 2) estimula a adoção de substâncias nociva à saúde humana (para dar cheiro, cor, gosto etc.).

Qual a fonte do valor? O trabalho. Porém a força de trabalho é em si natural, depende da absorção de outros materiais, de energia, de alimento. O problema da qualidade nutricional dos alimentos atuais afeta o rendimento de trabalho por diferentes meios.

8.             A saúde privada negligencia custos em nome do lucro. Exemplo: as vacinas que perdem potencial por problema de aquecimento são prontamente substituídas no serviço público enquanto no setor privado tende-se a evitar tal medida, que gera nova despesa.

Surge a necessidade de um sistema mundial público e gratuito de saúde – no socialismo. Tal empreendimento social tratará tanto de prevenção e atendimento quanto das medidas de produção (medicação, nutrientes em alimentos, etc.).

Bibliografia

Globo, O. (21 de 09 de 2016). Paises da ONU assinam compromisso global contra superbactérias. Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em O Globo: https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/paises-da-onu-assinam-compromisso-global-contra-superbacterias-20149803#ixzz4OV186xgg
Roberts, R. J. (08 de 07 de 2011). "As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis". Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em Esquerda: http://www.esquerda.net/artigo/farmac%C3%AAuticas-bloqueiam-medicamentos-que-curam-porque-n%C3%A3o-s%C3%A3o-rent%C3%A1veis







Versão antiga, 2016, esboço.



PANDEMIAS COMO SINTOMAS DA CRISE SISTÊMICA


Consideremos: o capitalismo possui a lei da tendência geral à urbanização.



Empiricamente, observamos o aumento de epidemias e pandemias. O fanatismo religioso chama "sinais do apocalipse"; a esquerda dogmática afirma ser "um dos tantos males do capital". A segunda resposta está incompleta (embora mais exata), pois o aumentar do adoecimento está relacionado ao modo de produção ou, mais precisamente, à necessidade de superá-lo. Assim, em suas fases finais de decadência: o Egito experimentou "pragas" (romantizadas na Bíblia); o império romano sofreu com o envenenamento por chumbo e outras doenças; o feudalismo conheceu, por exemplo, a peste negra. Tais fenômenos tiveram também como origem a concentração precária de humanos nos campos de trabalho escravo, feudos e cidades. A partir disso, perguntemo-nos como o fenômeno se manifesta no capitalismo, as causas; para melhor organização, exporemos a lista a seguir:

A) Diferenças entre ricos e pobres geram problemas alimentares, de higiene, de acesso à informação, de hábitos, de salubridade;

B) A urbanidade atual, que alcançou altíssimo desenvolvimento, reúne uma enorme massa urbana, facilitando a contaminação geral;

C) Junto ao ponto b, o fluxo humano e de mercadorias por todo o mundo interliga-nos também do ponto de vista viral;

D) Com a automação da produção, alta capacidade produtiva, a indústria farmacêutica necessita criar demanda, ou seja, adoecimento (por criação real e/ou virtual de doenças) -- e bloqueia pesquisas cujo objetivo é a cura;

E) A quantidade de gente precária e concentrada na urbanidade é enorme -- sendo elemento importantíssimo para futuras revoluções socialistas. A burguesia necessita, portanto, controlar a natalidade (tal como, por exemplo, o poder egípcio ao matar os filhos de hebreus no relato histórico-bíblico), embora a baixa fecundidade torne-se um problema real em alguns países ricos;

F) A crise do meio ambiente (alta concentração de carbono no ar, por exemplo) por si faz surgir novas doenças, além de tornar mais frequentes as que existem.

São tarefas do socialismo:

A) Desenvolver uma nova relação homem-espaço: unir, fundir, o melhor da urbanidade com o melhor do campo;

B)Desenvolver uma nova cultura alimentar, de higiene e saúde preventiva;

C) desenvolver um método de saúde, cuidado medicinal e cura que, entre outras vantagens, primará pela rapidez de resultados;

D) Desenvolver um plano consciente e democrático de incentivo à gestação agradável, responsável e acolhedora;

E) Tornar a relação homem-técnica-natureza sadia;

F) Restaurar a importância do Ômega 3 na alimentação geral (este "elemento" formou literalmente o homo sapiens. Quando aprenderam a cozer -- ato de trabalho manual --, nossos ancestrais adotaram uma dieta nova: animais de pastoril [bois, porcos, aves, etc.] e peixes, ou seja, rica e nova alimentação baseada neste fator [Ômega 3], que incluso nos ajuda no desenvolvimento intelectual. Essa mudança digestiva, baseada no trabalho, deu origem à nossa atual espécie. Porém, com a agroindústria alimentando os animais citados com ração ocorre o exato contrário: as carnes dos animais tornam-se ricas em Ômega 6, que não apenas é diferente do ÔMEGA 3 como também atrapalha o trabalho deste último em nosso organismo -- termos um fator alimentar de adoecimento).

A concentração humana citadina, urbana, amadureceu para a revolução comunista. Esta lei objetiva do capitalismo, dos burgos medievos para as megalópoles, como enormes barris de pólvora, se expressa em inúmeros sinais. Epidemias e pandemias, a partir da grande crise iniciada em 2008, serão a regra e serão estímulos a desesperos sociais e luta de classes. Temos todos os sintomas de uma crise sistêmica, de um organismo que merece morrer; ou nossa espécie correrá -- já corre -- enormes riscos. Assim, ou destruímos o sistema capitalista ou nos destruiremos.



POR UM SISTEMA MUNDIAL E UNIFICADO DE SAÚDE PÚBLICA -- NO SOCIALISMO!


João Paulo da Síria.

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