[O texto abaixo foi atualizado desde 2016, e será novamente perante o corona vírus]
RISCO
DE PANDEMIAS
“Nossas
prioridades são inclinadas pelos imperativos do mercado. A vacina contra a
malária é a maior necessidade. Mas quase não tem financiamento. Mas se você
está trabalhando com a calvície masculina ou outras coisas você pode conseguir
mais recursos para pesquisa por causa da voz que tem no mercado, mais que algo
como a malária.”
Bill
Gates.
A tese deste
capítulo é que as condições do capitalismo hoje colocam, de modo mais intenso
que outras fases do sistema, a possibilidade de epidemias e pandemias. Vamos
aos fatores que produzem tal conclusão:
1.
Diferenças entre ricos e pobres geram problemas
alimentares, de higiene, de acesso à informação, de hábitos, de salubridade. O
aumento da miséria relativa desde 1970 e, em destaque, desde 2008 colabora no
sentido do adoecimento.
2.
A urbanidade atual, que alcançou altíssimo
desenvolvimento, reúne uma enorme massa urbana, facilitando a contaminação
geral.
3.
O fluxo humano e de mercadorias por todo o mundo
interliga-nos também do ponto de vista viral. Lembremos que a aviação comercial
é recentíssimo na história.
4.
Com a automação da produção, alta capacidade
produtiva, a indústria farmacêutica necessita criar demanda e bloqueia ou
atrasa pesquisas cujo objetivo é a cura.
Richard J. Roberts, Prêmio Nobel de Medicina,
denuncia em entrevista:
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os
investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito
eficazes que teriam acabado completamente com uma doença ...
[…]
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não
estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por
isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos
que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma
melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
[…]
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam
interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar
crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os
que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise
financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
[…]
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase
todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas
multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são
palavras… (Roberts, 2011)
5.
A crise do meio ambiente (alta concentração de
carbono no ar, por exemplo) por si faz surgir novas doenças, além de tornar
mais frequentes as que existem.
6.
Há esgotamento do atual método de combate às
doenças virais e bacterianas:
De acordo com especialistas, as superbactérias,
que se desenvolvem por causa do uso em excesso de antibióticos em humanos e na
produção agropecuária, são uma das maiores ameaças para a Humanidade. Cepas de
bactérias resistentes aos mais potentes medicamentos existentes já foram
identificados em diversos países, incluindo o Brasil. Estimativas apontam que,
sem combate, esses micro-ogranismos podem matar 10 milhões de pessoas por ano a
partir de 2050.
— É irônico que uma coisa tão pequena provoque
tamanha ameaça pública — disse Jeffrey LeJeune, pesquisador da Universidade
Estadual de Ohio, nos EUA, em entrevista ao “Guardian”. — Mas ela é uma ameaça
global à saúde que precisa de uma resposta global. (Globo, 2016)
As bactérias resistentes a antibióticos também ocorrem na criação de
animais para consumo. É um risco latente de infecção tanto de desses seres
quanto de humanos.
7.
O processo de separação do valor de uso do
suporte e o valor de uso “poético”, sob a forma capitalista, geram: 1) produtos
com baixo valor nutritivo (exemplo de um suco artificial e barato); 2) estimula
a adoção de substâncias nociva à saúde humana (para dar cheiro, cor, gosto
etc.).
Qual a fonte do valor? O
trabalho. Porém a força de trabalho é em si natural, depende da absorção de
outros materiais, de energia, de alimento. O problema da qualidade nutricional
dos alimentos atuais afeta o rendimento de trabalho por diferentes meios.
8.
A saúde privada negligencia
custos em nome do lucro. Exemplo: as vacinas que perdem potencial por problema
de aquecimento são prontamente substituídas no serviço público enquanto no
setor privado tende-se a evitar tal medida, que gera nova despesa.
Surge a necessidade de um
sistema mundial público e gratuito de saúde – no socialismo. Tal empreendimento
social tratará tanto de prevenção e atendimento quanto das medidas de produção
(medicação, nutrientes em alimentos, etc.).
Bibliografia
Globo, O.
(21 de 09 de 2016). Paises da ONU assinam compromisso global contra
superbactérias. Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em O Globo:
https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/paises-da-onu-assinam-compromisso-global-contra-superbacterias-20149803#ixzz4OV186xgg
Roberts, R. J. (08 de 07 de 2011). "As
farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são
rentáveis". Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em Esquerda:
http://www.esquerda.net/artigo/farmac%C3%AAuticas-bloqueiam-medicamentos-que-curam-porque-n%C3%A3o-s%C3%A3o-rent%C3%A1veis
Versão antiga, 2016, esboço.
PANDEMIAS COMO SINTOMAS DA CRISE SISTÊMICA
Consideremos: o capitalismo possui a lei da tendência geral à urbanização.
Empiricamente, observamos o aumento de epidemias e pandemias. O fanatismo religioso chama "sinais do apocalipse"; a esquerda dogmática afirma ser "um dos tantos males do capital". A segunda resposta está incompleta (embora mais exata), pois o aumentar do adoecimento está relacionado ao modo de produção ou, mais precisamente, à necessidade de superá-lo. Assim, em suas fases finais de decadência: o Egito experimentou "pragas" (romantizadas na Bíblia); o império romano sofreu com o envenenamento por chumbo e outras doenças; o feudalismo conheceu, por exemplo, a peste negra. Tais fenômenos tiveram também como origem a concentração precária de humanos nos campos de trabalho escravo, feudos e cidades. A partir disso, perguntemo-nos como o fenômeno se manifesta no capitalismo, as causas; para melhor organização, exporemos a lista a seguir:
A) Diferenças entre ricos e pobres geram problemas alimentares, de higiene, de acesso à informação, de hábitos, de salubridade;
B) A urbanidade atual, que alcançou altíssimo desenvolvimento, reúne uma enorme massa urbana, facilitando a contaminação geral;
C) Junto ao ponto b, o fluxo humano e de mercadorias por todo o mundo interliga-nos também do ponto de vista viral;
D) Com a automação da produção, alta capacidade produtiva, a indústria farmacêutica necessita criar demanda, ou seja, adoecimento (por criação real e/ou virtual de doenças) -- e bloqueia pesquisas cujo objetivo é a cura;
E) A quantidade de gente precária e concentrada na urbanidade é enorme -- sendo elemento importantíssimo para futuras revoluções socialistas. A burguesia necessita, portanto, controlar a natalidade (tal como, por exemplo, o poder egípcio ao matar os filhos de hebreus no relato histórico-bíblico), embora a baixa fecundidade torne-se um problema real em alguns países ricos;
F) A crise do meio ambiente (alta concentração de carbono no ar, por exemplo) por si faz surgir novas doenças, além de tornar mais frequentes as que existem.
São tarefas do socialismo:
A) Desenvolver uma nova relação homem-espaço: unir, fundir, o melhor da urbanidade com o melhor do campo;
B)Desenvolver uma nova cultura alimentar, de higiene e saúde preventiva;
C) desenvolver um método de saúde, cuidado medicinal e cura que, entre outras vantagens, primará pela rapidez de resultados;
D) Desenvolver um plano consciente e democrático de incentivo à gestação agradável, responsável e acolhedora;
E) Tornar a relação homem-técnica-natureza sadia;
F) Restaurar a importância do Ômega 3 na alimentação geral (este "elemento" formou literalmente o homo sapiens. Quando aprenderam a cozer -- ato de trabalho manual --, nossos ancestrais adotaram uma dieta nova: animais de pastoril [bois, porcos, aves, etc.] e peixes, ou seja, rica e nova alimentação baseada neste fator [Ômega 3], que incluso nos ajuda no desenvolvimento intelectual. Essa mudança digestiva, baseada no trabalho, deu origem à nossa atual espécie. Porém, com a agroindústria alimentando os animais citados com ração ocorre o exato contrário: as carnes dos animais tornam-se ricas em Ômega 6, que não apenas é diferente do ÔMEGA 3 como também atrapalha o trabalho deste último em nosso organismo -- termos um fator alimentar de adoecimento).
A concentração humana citadina, urbana, amadureceu para a revolução comunista. Esta lei objetiva do capitalismo, dos burgos medievos para as megalópoles, como enormes barris de pólvora, se expressa em inúmeros sinais. Epidemias e pandemias, a partir da grande crise iniciada em 2008, serão a regra e serão estímulos a desesperos sociais e luta de classes. Temos todos os sintomas de uma crise sistêmica, de um organismo que merece morrer; ou nossa espécie correrá -- já corre -- enormes riscos. Assim, ou destruímos o sistema capitalista ou nos destruiremos.
POR UM SISTEMA MUNDIAL E UNIFICADO DE SAÚDE PÚBLICA -- NO SOCIALISMO!
João Paulo da Síria.
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