PARADIGMA, VALOR-MATÉRIA E PROBLEMAS DO MARXISMO
J. P. Teresina-PI
[Se quiser, o leitor pode pular esta parte]
Um paradigma
real e/ou ideal começa a ter problemas na aparência insolúveis, maus enigmas,
antes da sua crise (finge-se, até, que são falsos problemas…) – então, salta-se
para um paradigma ontologicamente melhor, que responde o irrespondível antes.
As polêmicas insolúveis do marxismo são:
1.
O problema da transformação dos valores em
preços de produção – se há, no todo, igualdade de ambos.
2.
Se
assalariados, em geral, são parte do proletariado como o operariado.
3.
Se serviços
são produtivos.
4.
Se há
trabalho material e imaterial.
5.
Se mantém o
caráter (e valor) do dinheiro com o fim do padrão ouro.
6.
Se serviços
produzem valor e mais-valor ou apenas lucro.
7.
Sobre o que
é trabalho produtivo e improdutivo.
8.
Se,
complementamos, capital como a terra possui valor ou apenas preço.
9.
Se trabalho
é eterno ou está à beira do fim.[1]
10.
Se o valor
existe de modo independente, se é “algo” invisível, ou se é relação.
Ao
consideramos o valor-matéria – e matéria, propriedades e contexto – a polêmica
inteira desmancha-se, dissolve-se no ar como se nada fosse. Tudo volta a ser
simples e cristalino. O valor econômico – e todo tipo de valor e valoração –
não é outra coisa que a sua materialidade. A matéria é a medida de todas as
coisas. Sobre isso, veremos com toda clareza ao longo da parte chamada “Metafísica
marxista”, logo em seguida nesta obra. Aqui, apontamos a solução em geral. No
entanto, realizamos o marxismo, não rompemos com ele, incluso, generalizamos para
todo tipo de valor e valoração o valor-trabalho. O trabalho é, também, a medida
de todas as coisas – apenas outro ângulo do mesmo, unido. Mas no princípio era
a matéria. Como o valor econômico é invisível, apenas indiretamente deduzido da
materialidade, surgem inúmeras polêmicas insolúveis; por exemplo, Michael
Heinrich afirma que o valor apenas existe no momento da toca enquanto Fred
Moseley, em posição superior, afirma que surge na produção, já; mas se
“confundirmos” valor com valor de uso, se o processo se cristaliza na
estrutura, se a relação na substância, tudo é e está resolvido, nem que a
produção seja de novas mercadorias força de trabalho, a coisidade humana, na
escola. Flectere si nequeo superos,
acheronta movebo!
SEÇÃO DOIS
NOVA TEORIA
GERAL DO VALOR:
VALOR-TRABALHO E VALOR MATÉRIA
NOVA TEORIA GERAL
DO VALOR:
VALOR-TRABALHO
E VALOR MATÉRIA
Chegado
aqui, o leitor já percebeu a originalidade rara desta obra. Agora, faremos duas
ações, uma após a outra: 1) oferecer uma teoria do valor marxista a partir da
generalização da teoria apenas do valor econômico em Marx e 2) apresentar uma
teoria nova do valor, o valor-matéria, que abarca dentro de si o primeiro
generalizado (melhor: nele abarcado). Assim, nossa teoria do valor é sobre todo
tipo de valoração, não apenas na economia. Friedrich Nietzsche chamou por
duvidar do valor que damos aos valores “bom”, “mau” etc. Para ele, ser bom pode
ser negativo, degenerativo… Bem: ele esqueceu de criticar e teorizar o próprio
conceito de “valor”, quer seja, o valor mesmo.
GENERALIZAÇÃO
DO VALOR-TRABALHO
O homem primitivo
necessitou compreender cada vez mais as propriedades do mundo, ou seja, de modo
rústico, já fazia ciência. Ao analisar o mundo, teve de descobrir – não criar,
caro Lukács – valores, valorizar; esta pedra é ruim para este machado, mas bom
para tal tarefa. Pois bem; grosso modo, isso está em Lukács, então apenas vale
tratarmos do assunto se algo novo houver para ser dito.
O valor
artístico, por exemplo, dar-se pelo quanto de trabalho útil foi destinado na
sua produção, incluso o ganho de habilidade do artista. Mas o guia é o valor de
uso da arte, a mensagem fictícia. Se um “artista” dedica mil horas para pintar
um quadro preto de preto, perdeu seu tempo.
Lukács diz
da valoração com o exemplo do valor positivo de um bom vento para a embarcação.
Ora, a diferença atmosférica deslocou ar de um ponto para outro, logo trabalho
realizado. Na verdade, o valor tem origem direta em dois fatores opostos e
complementares, unidos: o trabalho exigido e o trabalho economizado (que pode
ser resumido no primeiro). Um mau vento exige mais trabalho, gasto extra –
menos valor tem, menos bom, ruim, é ele.
Considerado
isso, que trabalho e economia de trabalho são ambos base da valoração, o que os
unifica? O objetivo, a finalidade, o valor de uso – eis a medida, ou melhor, o
lastro da valoração. Uma arte somente é arte se tem mensagem fictícia (podendo
ser afirmada como bem ou mal, ruim, elaborada).
Na relação
homem e objeto, a valoração divide-se, no contexto, em bom e ruim. Nas relações
humanas, em bom e mau. Nada nisso de maniqueísmos, pois, por exemplo, um
operário lutador da causa operária, logo bom, pode ser machista, logo mau. O
que guia é o rumo da humanização da humanidade, o fim da alienação – a
finalidade.
Assim, a
valoração dos valores está lastreada, no trabalho, por isso, na história, por
isso, nas relações contextuais, logo, na finalidade.
Já dissemos
em outro lugar que o ouro vale muito porque se exige imenso trabalho para
extraí-lo da terra. Mas tal imenso trabalho é exigido porque se exige muita
energia-tempo-trabalho para produzi-lo nas estrelas, nas explosões estelares.
MORAL E
METAFÍSICA
Platão
ascende a conceitos cada vez mais gerais e abstratos até alcançar o Belo, o Bom
e o Bem. Para ele, os mais puros. Ora, existe um conceito ainda mais puro, geral
e abstrato. O belo, o bom e o bem – são o quê? São valor! Com tal conceito, na
economia Marx foi de fato ao mais abstrato. O bem (coisa privada) não é o mais
profundo ou, se quisermos, o mais etéreo: isso é o que está dentro do valor de
uso, o bem, ou seja, seu valor invisível dentro de si. Marx poderia dar
qualquer nome ao valor, já que é descoberta sua, mas lastreou a palavra na
metafísica.
EXEMPLOS DE
OUTRAS ÁREAS
O sofista
Pródico afimou que os deuses são falsos, pois os egípcios divinizam o rio Nilo
por dele depender; outros, o Sol ao verem sua imensa importância. Ora, isso –
tanta importância ao ponto de mistificação adoradora – é medido pelo trabalho,
pelo valor-trabalho (que permite ou que, ou também, economiza) e pelo
valor-matéria, que trataremos em seguida (água abundante e rica em nutrientes
no deserto!). No direito, área particular da moral, uma vida assassinada
trocava-se por outra vida; depois, décadas de prisão passavam, de modo
inconsciente (social), certa ideia de justiça média, compensação, correta
medida – mais uma vez, valor-trabalho (diacrônico) e valor-matéria
(sincrônico).
O processo
cristaliza-se na estrutura – o valor-trabalho no valor-matéria. É irresistível
oferecer um caso bastante brasileiro. Na copa mundial de futebol, 2022, Richarlison
fez um gol raríssimo, belo e difícil de bicicleta com imensa elegância. Eis o
valor-matéria. Materialmente rico: matéria, propriedade e contexto. Na
entrevista após o jogo; afirmou que dedicava um tempo extra especial, após os
treinos oficiais, para praticar repetidamente o movimento, ou seja, o
valor-trabalho. O abstrato é concreto em processo.
TEORIA DO
VALOR-MATÉRIA
Marx convida
a duvidar de tudo, de todas as certezas – incluso as de sua poderosa produção.
Dito isso, José Paulo Netto afirma que, quando se quer atacar ou adaptar o
marxismo, foca-se em três eixos: contra a dialética, contra a teoria da
revolução e contra a teoria do valor-trabalho. Nosso foco será a questão do
último elemento.
Todas as
tentativas de negar ou ver contradição na teoria marxista do valor são, quando
muito, risíveis. Isso ocorre, simplesmente, porque ela está certa, completa e
correspondente em alto grau à realidade. Os críticos confundem, por exemplo,
valor e preço. Ora, por que a água, com a altíssima utilidade, apresenta-se tão
barata – mas o ouro, carente de utilidade, tão caro? Eis contradição da teoria
do valor subjetivo, do utilitarismo. Resposta de Marx e nossa: um exige mais
trabalho social e humano para produzir em relação ao outro, muito mais.
Mas é
possível afirmar totalmente a teoria marxista do valor e, ao mesmo tempo,
superá-la? Façamos a digressão e o exercício para fins filosóficos, pois é uma
teoria de todo correta. Apresento, agora, minha própria teoria – do
valor-matéria.
O ERRO
PARCIAL DE MARX
Marx começa
sua obra com a seguinte pergunta: se duas mercadorias são qualitativamente,
completamente, diferentes – como elas são igualadas? Como isso é possível? Como
uma é trocável pela outra em certas quantidades? Como 1 casaco = 3 quilos de
uva? Como a passagem é famosa entre o publico leitor deste livro, destacamos
apenas o caso de Aristóteles. O grego afirmou que um tanto de sofás são
trocáveis por uma casa. Mas por quê? A troca é consciente, mas a razão de tal
trocabilidade é inconsciente, inconsciente social. No entanto, o pensador
antigo conclui que isso – a proporção de troca, a permutabilidade – era mero
jogo subjetivo, para fins práticos. Segundo Marx, o gênio não foi capaz de
responder por causa de sua época e por ser senhor de escravos – mais uma vez,
complementamos, o inconsciente social a agir. Ora, responde ele, são iguais as
mercadorias porque elas são frutos iguais de trabalho humano! O tanto de
trabalho gasto gera um tanto de valor, que as iguala no mercado. Um tanto de
linho ou uva é trocável por um casaco porque ambos possuem dentro de si a mesma
quantidade de trabalho gasto em suas produções. Mas, porém, todavia: elas não
são completamente qualitativamente diferentes! Elas, as mercadorias, ou melhor,
os valores de uso, são átomos concentrados, ou seja: – prótons, elétrons e
nêutrons. São matéria e material igual, massa igual, ou seja, peso igual (com a
gravidade). O que lhes iguala são suas matérias. Se o valor é (forma de) energia,
temos de ver que energia é massa (E=mc²), segundo Einstein, propriedade da
matéria. Marx não vê a qualidade igual, o fato de serem as diferentes
mercadorias materiais, matérias.
DEMONSTRAÇÕES
DO VALOR-MATÉRIA
O
valor-trabalho do qual tratamos antes e generalizamos, ainda é válido e
completo, mas abaixo e dentro do valor-matéria. Entremos mais no absurdo.
Primeiro. A
máquina perde valor ao desgastar-se, ao desmaterializar-se.
Segundo. O
dinheiro ganha valor ao materializar-se na forma ímpar, o ouro (átomo pesado);
depois, perde valor ao desmaterializar-se (prata, cobre, papel, bits.).
O ouro
tornou-se dinheiro por sua matéria e, ou seja, suas propriedades materiais: as
mercadorias podem ser separadas e remendadas, mas nenhuma ou quase nenhuma como
o ouro; mercadorias são resistentes, mas raramente na medida do ouro;
mercadorias podem ser uniformes, mas o ouro costuma ser muito mais etc. E
poucas, raríssimas, como a prata, têm a mesmas propriedades juntas, como o ouro.
Ora, seu valor de uso, ou melhor, seu conteúdo material, o destacou, tornou-se,
por isso, dinheiro.
Há três
lacunas aparentes na teoria marxista: 1) a transformação dos valores em preços
de produção, 2) o valor do capital fictício da terra ou renda da terra, 3) o
valor no dinheiro após o fim do padrão ouro. Ora, o dinheiro em papel hoje é
dinheiro por seu valor de uso, por suas propriedades objetivas, por isso tem ou
representa um valor real, desde sua materialidade, de acordo, portanto, com seu
contexto, o intensivíssimo e extensivíssimo mercado, a poderosa produtividade
hoje. Nossa teoria do valor-matéria pode resolver as polêmicas. Na física
clássica, pensava-se que bastava resolver um ou dois problemas para o sistema
físico teórico estar completa; mas uma revolução completa surgiu de tais
pequenos e poucos problemas – o mesmo pode acontecer nas chamadas ciências
humanas.
Terceiro.
Lamentamos muito mais a morte de um grande elefante contra a morte de uma reles
formiga. Por instinto, de causa inconsciente, associamos valor com
materialidade – mais materialidade, aliás, mais raro, além de mais trabalho e
energia exigir.
Quarto. Uma
pedra mais material é, via de regra, mais útil e tem mais valor relativo à
outra pedra inferior materialmente de mesmo tamanho etc.
Quinto. O
ouro é difícil produzir nas estrelas, concentra muitos átomos.
Sexto.
Tenta-se tirar componentes “desnecessários” da máquina para diminuir, assim,
seu valor.
Sétimo. A
deterioração de certa mercadoria também é sua perda de valor.
Oitavo. A
abundância material é a base da liberdade e da felicidade.
Novo. Valor
só pode existir dentro e junto de algo, de certa matéria.
Décimo. O
que tem mais massa, em geral, mais matéria, tende a ter valor e preço maiores.
Décimo
primeiro. A redução do valor e do preço da mercadoria está, hoje, ligada à
redução de sua materialidade, ou seja, os produtos estão mais frágeis. Isto é:
valor-matéria. Minha teoria da obsolescência programada é diferente da usual,
embora reconheça seu valor relativo, não absoluto. É do ponto de vista da
demanda, não da oferta (esta, necessidade de fragilizar para mais vender, para
forçar nova oferta e nova demanda etc.). Digo isto: as pessoas querem consumir,
mas não têm renda. Por isso, as empresas oferecem versões do produto mais baratas,
e, em geral, mais frágeis, trocáveis etc. Eis a desmaterialização em base ao
valor.
Décimo
segundo. Marx afirma que o valor de certa mercadoria (forma relativa) se
expressa na materialidade de outra (forma equivalente). Assim, sua separação
por um abismo entre valor de uso e valor cai e desaba para dentro de si: a
medida dos valores e o padrão de preços, por exemplo, fundem-se, ainda que de
modo a abarcar a diferença etc.
Décimo
terceiro, enfim. A água é barata por sua molécula ser fácil de se formar,
precisa de átomos simples e “leves”, pouco materiais, oxigênio e hidrogênio,
abundantes por facilidade relativa de produzir. O ouro é caro porque, como
observamos, seus átomos unidos são “pesados”, complexos, com mais matéria-massa
concentrado, logo mais raro, logo mais trabalho para produzir na estrela e
extrair da terra, logo mais caro via de regra e tendencialmente.
Décimo
quarto. Vejamos a relação com a dialética. Marx exclui todas as propriedades
físicas da mercadoria (cor, massa, matéria, peso etc.) para chegar numa
coisa-em-si invisível, o valor, a gelatina de trabalho dentro da coisa.
Abstraindo do valor de uso dos corpos-mercadorias,
resta nelas uma única propriedade: a de serem produtos do trabalho. Mas mesmo o
produto do trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos de seu
valor de uso, abstraímos também dos componentes e formas corpóreas que fazem
dele valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer
coisa útil. Todas as qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não é
mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro
trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho
desaparece o caráter útil dos trabalhos nele representados e, portanto, também
as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns
dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano igual, a trabalho humano
abstrato. (Marx, O capital I, 2013, p. 116)(Marx, 2013, 116.)
E:
Consideremos agora o resíduo dos produtos do
trabalho. Não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma
simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de
força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi despendida. O
que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção foi despendida
força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações
dessa substância social comum a todas elas, são elas valores — valores
mercantis. (Idem, 116.)
Mas, contra
Kant, Hegel afirmou, Ciência da Lógica – Doutrina da Essência, embora não tenha
sido o único, que a coisa ou a coisa-em-si sem suas propriedades nada é – e que
tais propriedades são, veja só, matérias ou materiais. Assim, a coisa-em-si
valor nada mais seria que suas próprias propriedades e, ou seja, sua
materialidade. A coisa-em-si, o valor, é a coisa.
Décimo
quinto. Tanto no mundo inorgânico (Sol, buracos negros etc.), passando pelo
biológico (macho dominante, o mais alto etc.), quanto no social (concentração
de capital, ter mais dinheiro, ter maior população etc. – no social mental: ter
grande casa ou carro, mais dinheiro etc.) ocorre o seguinte processo: mais
matéria-massa concentrada, em relação aos demais e à média, logo, tende a ser a
causa de atração, de ser orbitado, de agregar para si.
Décimo
sexto. A desmaterialização relativa de mercadorias leva à rupturas relativas
com o valor. Por exemplo: livro digital gratuito ou pirateado.
Décimo
sétimo. Unidade do valor e valor de uso: o ouro tornou-se dinheiro por
excelência por sua materialidade singular – raro porque muito material (átomos
pesados), imperecível, uniforme, fácil de dividir e fundir.
Décimo
oitavo. A baixa materialidade da linguagem parece corresponder com seu baixo
peso material sobre o mundo material.
Décimo nono.
Por ora abstraída em parte a oferta e a procura, um trabalhador especializado,
com mais tempo de formação, possui propriedades ímpares – logo, mais caro.
Vigésimo. O dinheiro hoje é lastrado, grosso
modo, no petróleo. Tal matéria-prima produz energia e matérias vastas, amplas e
essenciais. Veja-se o plástico, seu derivado, em todo canto. É o valor de uso (e
valor!) por excelência, que deriva muitas matérias vitais ao modo de vida
atual.
Em sua
concretude, a teoria do valor-matéria exige observarmos três fatores:
I.
A matéria (singular)
II.
Suas propriedades (particular)
III.
Seu contexto material[1]
(geral)
A teoria do
valor-trabalho de Ricardo e, depois, de Marx tem função revolucionária, útil
para o movimento social e para a humanidade. Além disso, está correta. Mas, por
sua exatidão alta, impediu-se, além de tanto outros fatores, de ver o
valor-matéria. Naquele tempo, mal se sabia dos átomos, por exemplo. A teoria do
valor-trabalho está dentro da do valor-matéria, e vice-versa.
VALOR-TRABALHO,
VALOR-MATÉRIA E OFERTA-DEMANDA
Assim,
também, conectamos a teoria do valor-trabalho com a teoria da oferta e da
demanda (procura). Algo é raro, logo, com muito valor por ser difícil de
extrair ou produzir, porque tem mais materialidade – porque tem mais
materialidade, é muito mais difícil de existir. Por isso o ouro tem valor, sua
raridade, ao exigir mais átomos para existir, exige trabalho extra.
Se a oferta
e demanda se igualam, deixam de explicar o preço e valor. Tal teoria apenas explica-se
desde a teoria do valor-trabalho e do valor-matéria.
A MATÉRIA É
A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
A matéria é
a própria realidade – por isso seu valor, sua base de valor. A medida da coisa
está na própria coisa! Quando dizemos que movimento = energia = tempo = espaço
(meio) = matéria – dizemos, portanto, que a energia-valor nada mais é que a
matéria. Assim fazemos a unidade (e identidade), ainda que ainda contraditória,
entre valor e valor de uso. Não mais externos um ao outro, não mais apenas
estranhos.
Vejamos o
parágrafo anterior. Marx diz que o preço da terra virgem não tem valor, pois
não há trabalho gasto em sua produção, portanto, capital fictício; apenas há
preço. Mas a terra, primeiro, tende a valer mais se ela é melhor, mais
produtiva, então, mais rica materialmente! E, segundo, o
oposto-idêntico-diferente de matéria é espaço ou movimento, logo, a terra mais
distante tende a perder valor, preço. Portanto: a matéria é a medida de todas
as coisas!
Marx não vê que que há unidade do quantitativo (valor) e do qualitativo (valor de uso) na medida. Quando Marx diz que uma terra com queda d’água natural, esta fonte de energia em potência, tem seu preço-não-valor acrescentado, deixa de ver, agora em outro sentido, no qualitativo o quantitativo, a materialidade rica afetando o valor daquilo “fictício”.
DEDUÇÃO DA
UNIDADE DO VALOR
As
diferentes teorias sofisticadas do valor são muito mais do que apenas
diferentes ou lado a lado: são uma só teoria com diferentes graus de abstração.
Temos, então, uma teoria unificada da valorização. Assim, o valor dado está
ligado à sua
1) Raridade
Que nada
mais expressa além do
2) Trabalho médio – social ou natural – exigido
para sua produção ou economizado
Que é um
dado gasto de energia expresso de maneira imperfeita no
3) Tempo médio exigido em sua criação
Ligado,
portanto, à sua
4) Utilidade
Que é, por
sua vez e em cadeia, expressão pobre de sua
5.
Materialidade (valor-matéria)
Tanto no
sentido quantitativo quanto, em principal, qualitativo.
A conexão
mais difícil de observar está entre 4 e 5. Vejamos. O ouro parece ter
baixíssima utilidade, o que deveria gerar baixíssimo valor; mas ele é dinheiro
por excelência por ser “pesadamente” material, logo, raro etc., o que faz dele
o valor de uso útil por excelência, ou seja, trocável por tudo o mais. Por sua
natureza social e natural, o ouro é o que é, natural socialmente desenvolvido,
ou seja, socializado, natural socializado.
Nos meios
vulgares, diz-se que o valor é subjetivo porque a água vale muito mais do que o
ouro no deserto. Ora, em tal ambiente seco, a água é uma materialidade rara,
difícil de produzir e pouco material presente. Aí a água vale muito por sua
materialidade e propriedade em seu contexto. Portanto, valor-matéria.
VALOR-MATÉRIA
E MORAL
Já vimos a
diferença entre o assassinato do elefante e formiga. No mais, o direito moral
trata da perda de certa propriedade (roubo) ou de certa materialidade
(dinheiro, vida-corpo etc.).
VALOR-MATÉRIA
E TOTALIDADE
Isso
afastaria um tanto, como solução, o marxismo de sua necessária metafísica do
valor – tão rejeitada pelos próprios marxistas, contra Marx. Um ponto de apoio
seria que a empiria – econômica etc. – mostra-se impura, suja, concreta,
impedindo a manifestação exata da lei do valor-matéria (no preço etc.). Tal
visão, enfim, reconecta o mundo dos homens com o mundo natural. Marx nunca
poderia, ou teria imensa dificuldade de, criar a teoria do valor-matéria, que,
grosso modo, afirma que o valor deriva de maior materialidade relativa. Isso
ocorre porque a ciência, a metafísica (a verdade está no todo), a física, a
filosofia, a Dialética da natureza e a sociedade ainda não haviam atingido seus
ápices, de origem comum, durante sua vida. Quando Marx diz que se pode virar e
desvirar a mercadoria, mas nela não se encontrará nenhum átomo de valor;
esquece que a matéria, representada no átomo etc., é o próprio valor.
A teoria do
valor-matéria é a raiz de dois do marxismo. Como entender de fato o
capitalismo, com o conceito central de valor econômico, sem entender o cosmos e
o lado universal da valoração? Avança-se imensamente, mas até certo ponto.
Darwin refinou sua teoria por 10 anos na esperança de evitar acusações e
polêmicas – mas o escândalo foi geral e inevitável. Aqui, apresento algo
primeiro, a ser desenvolvido para além do modo de ensaio.
ASPECTOS
QUANTITATIVOS
Demonstramos
que massa, tamanho e quantidade estão relacionados no qualitativo, no seu
valor. E damos também a prova qualitativa do valor-matéria. Vejamos agora a
tabela periódica e sua relação, tendencial, por aproximação, entre peso atômico
e preço:
É visível tendência.
Veja-se que, para direita e para baixo, os elementos mais pesados tendem a ter
preços maiores. Certos desvios parciais dão-se por questões conjunturais, além
de desvios como certo nível de monopolização (ou propriedade). Outros, por
estruturais: o hidrogênio só há na realidade associado quimicamente, mesmo que
com outro exemplar de si. Além do mais, o contexto material importa: a formação
do Sol, por disputas gravitacionais, tendeu a atrair elementos mais leves, que
escaparam das formações planentárias em curso, deixando um tanto mais de
elementos pesados de maneira relativa. Os elementos ainda mais pesados sequer
preço claro possuem de tão raros e caros, de tão materiais e de tanto trabalho
exigidos.
A raridade
e, por isso, a materialidade, determina também limites de presença nos
elementnos químicos. Nessa indútria de base, todos os produtos mais avançados
na linha de produção devem responder aos preços das mercadorias ou elementos de
base, mesmo que por mediações.
Pelo
valor-trabalho, mesmo que seja o central, a explicação de tal precificação fica
incompleta e recheada de jogos teóricos. Se só o valor-trabalho atuasse, os
preços tenderiam a se igualar por mais investimento, visto o lucro alto, maior
controle estatal dos preços e, também, por, dada a raridade, substituição por
materiais de similar propriedade e, claro, máquinas moderníssimas com altíssima
produtividade barateadora. Isso deformaria tudo, fazendo um caos sem padrão.
Mas não acontece, não e nem de longe no nível esperado. A coisa se explica pela
“renda da terra”, ou seja, a materialidade, suas propriedades, seu contexto e
sua raridade, base do trabalho maior na sua produção ou extração. Pode-se usar
o argumento do monopólio, e seu preço, mais comum no setor, mas ele, quando de
fato há, é, antes, consequência, não causa! O valor-matéria, no lugar de negar,
afirma e aprofunda o valor-trabalho, além de conectar melhor este com a a lei
da oferta-demanda.
A ideia de
energia como massa combina com a ideia de valor como matéria. A ideia da mente
e do cérebro (corpo) como o mesmo, contra o dualismo – também. Eis a unificação
do mundo natural com o mundo social, uma das formas de. Claro, existe apenas
uma ciência universal e completa, a ciência da história. É o valor-história –
no fundo do fundo.
No preço da
terra; fertilidade, queda d’água e ser próxima da cidade aumentam seu “valor”.
Eis o valor-matéria; mas, além disso, em unidade, eles são sinais claros de
economia trabalho, logo, valor-trabalho no significado amplo – positivo e
negativo – expresso por nós no capítulo anterior, na generalização do
valor-trabalho de Marx a qual operamos. No socialismo, a economia de trabalho
será a base clara da percepção de valor, de valoração, como afirmam Lukács e
outros marxistas.
VALOR-MATÉRIA:
UNIDADE DO MUNDO
Vale uma
comparação histórica. Platão teve de dividir o mundo em dois opostos e
separados: o mundo das ideias ou formas e o mundo da aparência ou material.
Depois, em oposição, Aristóteles – ainda idealista, mas com toque materialista
evidente – defendeu um só mundo, aqui, onde está a própria substância, a
essência, o conteúdo, a forma etc. Marx dividiu economia em dois: mundo do
valor de uso e mundo do valor. Agora, unifico ambos os mundos no
valor-material. Um crítico de Marx afirmou que ele dividiu um conceito, valor
(econômico), em dois, valor de uso e (valor de troca); o pai do socialismo
científico responde para si, em manuscrito, que isso é um absurdo – haveria
mesmo os dois, opostos, em unidade e contradição na coisa. Mas eis que há grau
de acerto no crítico vulgar!
Segundo
ponto. Marx inspira-se em Kant, pois este separou a coisa (mercadoria! Valor de
uso!) da coisa em si (valor). Se tiramos todas as propriedades sensíveis da
coisa (que aparecem aos enganadores sentidos, segundo o kantismo), há por
detrás uma coisa em si impossível de apreender, de conhecer. Marx refuta-o de
modo parcial: se tiramos todas as propriedades da mercadoria, resta, sim, uma
coisa em si, uma gelatina abstrata de trabalho! É possível deduzir, sim, a
coisa em si abstrata e oculta! Pois bem; Hegel refuta tal dualismo: a coisa em
si sem suas propriedades nada é, um vazio que é vazio – a coisa é, ela mesma, a
própria coisa em si! Mais: as propriedades são matérias ou materiais. Assim
fazemos aqui, Hegel contra Kant: o valor de uso é o próprio valor, são um – não
dois de fato. O fetiche, por exemplo, é um falso, mas um fato também; aponta
para a verdade. A duplicação dos mundos chega ao fim, finalmente. Ou isso ou,
também, o valor é propriedade de uma quarta dimensão espacial.
HEGEL, MARX,
OURO, QUÍMICA E MEDIDA
Na sua
Lógica, na seção sobre medida; Hegel inspira-se na química para igualar dois
“algos” diversos (átomos, compostos etc.) – depois: para igualar um “algo” a
vários, diversos, “algos” – depois: haver preferência por um “algo” ligar-se
apenas com alguns “algos” específicos; chamado “afinidade eletiva”. Isso em
Hegel é lógico, sem movimento, sem tempo; ao contrário, para mim e para Marx –
isso evolve, evolui assim. Pois bem; como dissemos, Hegel inspira-se de modo
radicalmente direto na química, de onde tira o conceito de “afinidade eletiva”. Marx usa tal método,
temporalmente, na história, até chegar ao dinheiro, ou seja, o “algo” pelo qual
todas as mercadorias, outros “algos” têm preferência, têm afinidade. Ora; o que
é, por excelência, o dinheiro? – ouro e prata! E ouro e prata – são o quê? São
química, matérias, ou seja, valor-matéria! Marx estava mais perto da química do
que imaginava. Tanto lógica quanto materialmente! tanto abstrato quanto
concreto!
Algo e
outro, diferentes, são o mesmo. Ambos são, assim, matérias numa realidade
material. A determinação (valor, mercadoria) é a própria constituição, do valor
de uso; faz-se apenas um deles.
TRÍADE UNA DO VALOR
Na
dialética, nada é – tudo está. Um conceito diz-se de muitas formas – uma só
classificação e significado dá lugar aos muitos. Isso é superar o limite da
mera e pobre definição. Desdobramos a categoria acima de seu simples e unitário
definir.
Feita a
exposição metodológica, vejamos nossa teoria. O valor diz-se de muitos modos.
Portanto, a busca de teoria geral deve considerar isso, elevar-se. O conceito
geral e abstrato, valor, tem conceitos gerais e abstratos, mais e mas abaixo,
seguintes:
1.
Bom
2.
Belo
3.
Bem
Eis os eixos
unificados, separado a apenas na teoria, do valor. Nossa exposição é, aqui,
esquemática para facilitar a apreensão, mas tudo ocorre de modo misturado e sob
hierarquia do “bem”. Podemos observar, então, que cada fator corresponde a um
aspecto:
1.
Bom –
trabalho
2.
Belo – natural
3.
Bem –
matéria, materialidade
Indo mais ao
fundo:
1.
Bom – Ser
social
2.
Belo – Ser
biológico, orgânico
3.
Bem – Ser
inorgânico
A aliteração
que, em nossa língua, surge dos três fatores é uma boa coincidência. Repetimos
que eles são ou estão misturados, não separados por uma parede, sob o bem –
matéria – inorgânico. Diz-se que o consumidor capitalista procura o “bom,
bonito e barato”, sendo que este último, descobrimos, demonstra o
valor-matéria.
O belo como,
em primeiro e mesmo se mediado, ter base natural e na biologia nos lembra que
um animal venenoso parece um animal venenoso. Um ambiente sombrio parece um
ambiente sombrio.
Vejamos o
caso de um carro caríssimo e belo. Nada diz, na aparência, que beleza e
valor-preço estão associados, juntos. No entanto, estão na empiria! Por quê?
Por que os carros mais belos são mais caros? Um carro popular poderia ser mais
belo de modo fácil e natural? Veja-se que o carro caro e mais belo exigiu mais
trabalho para fazer algo mais raro, que os sentidos percebem como especial.
Bem, Belo e Bom estão unidos, desde suas fontes.
.
A
OBJETIVIDADE NATURAL DA BELEZA
A arte não
necessita ser agradável, mas, por derivação, a beleza é um tema importante – o
belo é objetivo ou subjetivo? Está na realidade ou nos olhos de quem vê? Em
primeiro lugar, beleza está na própria coisa, portanto, natural em si (tanto
natural para a percepção do externo quanto no próprio externo); trata-se da
beleza no geral, no universal, pois o lado animal do homem e suas percepções
capta a beleza do mundo, desde sua vida prática para com animais e situações (o
sombrio na arte tem, remete a, traços do sombrio na vida real). Mas, por outro
lado, a beleza é algo humano no sentido histórico, determinada historicamente,
socialmente; porém, sendo a beleza no particular, não nega de todo a beleza
geral, natural, antes pode mediá-la ou deformá-la. Por último, temos a beleza
no singular, no individual, que responde à própria formação pessoal e da
psique, algo único – este medeia e, ao mesmo tempo, é mediado pelos outros
dois. Assim, as polêmicas sobre o caráter do belo, dentro e fora da arte, são
resolvidos, percebendo os próprios “níveis” que se misturam, um sendo a base do
outro. Tenta-se refutar, por exemplo, a beleza natural geral, com o fato de
existirem pessoas com gostos exóticos; por outro lado, tenta-se refutar a
instância da beleza individual com a constatação de consensos gerais sobre se
algo é belo, apontando para o objetivo ou, ao menos, o intersubjetivo. Os
pontos de vista opostos acertam e erram ao mesmo tempo, são incompletos e sem
mediações.
EXTRA: O
LIMITE NO ACERTO DE LUKÁCS
Sou, além de
trostskista ou kurziano etc., um lukacsiano. Mas o conjunto de minha obra
refuta parte importante de sua produção e, outra parte, suprassume, supera o
ainda mantido. Entre outros tantos erros, Lukács pensou a valoração como, em
primeiro, algo subjetivo, ideal, ideologia. Com a generalização do
valor-trabalho e a descoberta do valor-matéria, podemos ver com facilidade seu
erro e seu limite em seus manuscritos finais. O valor da coisa está na própria
coisa, pois é ela mesma. Algo, portanto, objetivo, no mundo, factual - material
e materialista, antes de idealista. Muitas vezes, apenas de modo inconsciente
sabe-se do valor, ou seja, sabe-se o valor na consciência, para fins práticos,
mas não se sabe a sua causa (um inconsciente ao mesmo tempo pessoal e social) –
algo a ser desvendado pela teoria. A matéria é a medida da matéria, dela mesma,
repetimos: a matéria é a medida de todas as coisas! Spinosa pensou a existência
de uma só substância, mas ele perde a mediação: os atributos são formados por
variadas substâncias, não apenas uma spinozista - estas, por sua vez, são, no
fundo, a mesma substância, apenas um agora, em quantidades diferentes, o que
gera qualidades (substâncias) diferentes, pois meras mudanças de quantidade
geram mudanças de qualidade - tal substância única e essencial, a matéria,
dilui-se em espaço, causa da infinitude na quarta dimensão, que é a própria
matéria decaída. Espaço é matéria, são um sendo dois. No fim, o movimento é a
queda da coisa em si mesma (orbita a si mesma), na quarta dimensão espacial –
casa do infinito, da energia, do valor, do movimentar, ou seja, um abismo para
dentro de si. Lukács, um mestre para todo o resto da história da humanidade, sequer
chegou perto dessas considerações. Além disso, valor-matéria significa
considerar, além da materialidade, as propriedades e o contexto (totalidade)
inevitável e mutante.
Aqui,
fundimos o valor como valor-história (e diacrônico) com o valor como valor-estrutura
(e sincrônico), a matéria e o tempo-movimento. Dissemos em outro momento que o
diacrônico cristaliza-se no sincrônico, que a história forma, cristaliza-se na,
sua estrutura; o valor-trabalho, portanto, cristaliza-se no valor-matéria
(matéria, propriedades, contexto). O valor-trabalho generalizado, para além da
produção de capital, é, grosso modo, valor quantitativo (tempo, movimento); por
outro lado, o valor-matéria é, grosso modo, valor qualitativo (coisa,
proprietade); mas é claro que a coisa toda se mistura no concreto e um passa
para seu oposto. A unidade de ambos é espaço-tempo ou, em nossa identidade de
espaço e matéria, matéria-tempo, matéria-movimento. A realidade, a verdade, é
diassincrônica. Vemos que é impossível negar Marx; o caminho correto é,
portanto, desenvolver e aprofundar suas contribuições até o ponto em que
adquiram feições novas e completas.
PARADOXOS
Nossa teoria
geral do valor, os fundidos teoria do valor-trabalho geral e valor-matéria,
resolve inúmeros problemas e oferece a teoria de base materialista, não
subjetiva como em Lukács, para a questão da valorização em todas as áreas –
além dsso, explica com rapidez dois paradoxos marxistas, o valor da terra (aparentemente
sem) e o valor do dinheiro (aparentemente) sem lastro e sem valor. Mas há dois
paradoxos ainda: 1) do valor minguante com o desenvolmento técnico, 2) a
transformação dos valores em preços de produção. Um especializado no último
pode revolver por meio de nossa indicações, mas já apresentamos um caminho
resultado.
Com máquina
mais moderna, mais produtiva, o valor da mercadoria cai – não sobe. Mas nós
dizemos que economia de trabalho gera, também, valor; isso não impede, por
outro lado, o capital de ser unilateral em tal assunto. Mais eis que vemos a
parte e o ente, a mercadoria individual, não o todo – o conjunto do produzido.
Máquinas novas são mais produtivas que o tanto de trabalhadores por elas
demitidos. Além disso, exige-se mais matéria-prima. A quantidade de mercadorias
dá um salto, então, o intensivo se torna mais extensivo. A mercadoria
individual tem menos valor consigo, porém o conjunto da fábrica e das
mercadorias expelidas têm mais valor, não menos – e mais matéria,
valor-matéria.
A questão
segunda é que, no cálculo, o valor geral deve estar de acordo, no quantitativo,
com o preço de produção geral – iguais. Mas o cálculo não bate (apenas acerta
no modo simplificado como Marx tratou, ou seja, com o capital constante, as
coisas produtivas, valendo pelo seu valor, não pelo preço de produção guiado
pela taxa média de lucro). O assunto é difícil de explicar e detalhado, mas o
leitor terá noção – não desista. Com a dificuldade; matemática, filosofia e
ciência foram ampliados para tentar explicar o paradoxo, resolver o problema do
problema; mas tiveram algo de manobra, de jogo; não por menos, já que os
economistas burgueses fizeram de tal dificuldade matemática a acusação de que a
teoria marxista estava errada no todo e nas partes.
Piero Sraffa
inclui no cálculo a quantidade de coisas, capital constante, na produção, na
medida do preço de produção – o que indica nossa teoria do valor-matéria. Além
do mais, o setor I da economia, que inclui produzir matéria-prima, tira da
natureza o que não tem em si valor (renda da terra, preço sem valor), então,
mais uma vez o valor-matéria entra em questão no cálculo.
Mas há ainda
uma resposta. Marx usou uma taxa geral de lucro para calcular, mas apenas o
aplicou no setor II, produção de meios de consumo. Ora, o aumento de lucro no
setor I, em geral vem com aumento do preço, da taxa de lucro, e até mesmo
possivelmente do (mais-) valor – e exato isso gera uma tensão no setor II, que
compra dele, ou seja, máquinas e matérias-primas mais caras geram tensões,
redução da produção, falências e crises no setor I! Assim, o setor II reduz o
consumo, por exemplo, a compra de mercadorias do setor I. Assim, empresários do
setor II passam a investir no setor I, mais lucrativo (ou o empresário de
máquinas passa a investir em matérias-primas, e vice-versa). Assim, enfim!,o
setor II, mais dinâmico, mais afastado da natureza, regula a taxa de lucro do
setor I – para que a taxa de lucro do setor II continue normal, na sua média,
fazendo os preços de produção seus estarem de acordo com os valores ao final de
todo o processo produtivo global – e até se tornem igual aos seus valores. A
taxa de lucro de um, setor II, regula a taxa de lucro do outro, setor I (embora
haja certa reciprocidade externa). Isso é ver a coisa em movimento, para além
de tabelas estáticas. O paradoxo teórico é um paradoxo real, na concretude, que
se movimenta e se revolve só para depois se reestabelecer como contradição
movente. Lógica concreta: eis a unidade interna lutando para ser externa na
diversidade externa. Já pensei que o lucro extra da diferença entre lucro e
mais-valia seria destinado a outros setores da economia, outros investimentos,
como pelo fato de o comerciante receber a mercadoria abaixo de seu valor real
(portanto, possivelmente também abaixo de seu preço de produção), mas isso
ainda tem traços bastante subjetivos.
EXEMPLO:
VALOR E RENDA DA TERRA
Solo rico,
queda d´água e estar perto da cidade – aumento do valor, o preço, da terra virgem.
Solo pobre, sem queda d´´agua e longe da cidade – queda do valor, o preço, da
terra virgem. Mas o primeiro caso economiza trabalho! Mas o segundo caso exige
mais trabalho! Eis a unidade das tuas teorias do valor (generalizado, completo),
que são uma, que no externo passam uma para a outra, e vice-versa.
FAZEM, MAS
NÃO SABEM
A frase
acima é de Marx, famosa – base de uma teoria do inconsciente social. Comparamos
trabalho com trabalho ao compararmos mercadoria com mercadoria. Grosso modo; a
razão dos valores “sabe-se sem saber”, por isso, sem saber a fonte, medimos,
compramos. Praticamos o valor-trabalho e o valor-matéria, mas não sabermos.
CRISE DO
VALOR, DOS VALORES
O destaque maior, na teoria e na prática, ao valor-matéria nessa fase do capitalismo, o que facilitará sua teorização, deriva de uma sociedade à beira do socialismo, onde a qualidade importa mais que a quantidade, aonde há redução tendencial do trabalho manual e da criação do valor, crise do valor econômico e demais valores – arte e moral em destaque. Há uma crise geral do valor. Seu lastro, claro, está na economia, na produção, no trabalho da atual fase. A crise do valor econômico, base central da crise dos valores, também é, apresenta-se como, crise das medidas, de medida.
[1]
Grosso modo e um tanto mecânico e unilateral: Materialidade (valor-matéria)
(particular); Propriedade (em principal, ter valor dentro de si) (singular);
Contexto (oferta e demanda) (geral). Mais: ou o inverso, posições categoriais
relativas: mátéria, universal; propriedades, particular; contexto, singular.
[1]
Isso merece uma consideração extra, um adiantamento ao leitor. Porque o trabalho
é natural, até necessidade natural, não
se deve deduzir por isso e sem mais que é eterno em si. Mas se um robô
humanoide produz um valor de uso industrial, ele trabalha… Sim. trabalho
objetivo (em contraposição ao subjetivo, ou humano, ou manual) subordinado,
grosso modo, ao trabalho intelectual subjetivo e criativo. O trabalho tem fim e
não tem fim ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. A crítica do valor, fim do
trabalho, e a ontologia marxista de Lukács, eterno trabalho, estão ao mesmo
tempo certos e errados, nem certos nem errados. Se o trabalho é natural em
vários aspectos, o socialismo é uma ruptura (com reunião, claro) com a
natureza, ser mais social, menos natural, ou seja, mais afastado do trabalho
como condição de sua natureza. O trabalho duro, repetitivo e alienante é para
as máquinas – mas é trabalho ainda, de novo tipo, ou seja, socialista, ou seja,
o domínio dos homens sobre o mundo das coisas, nunca mais o inverso.