sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O que é "soneto novo"?

O QUE É SONETO NOVO 

J.P. Teresina-PI


A arte poética cindiu-se entre o poema de forma fixa e o poema de forma livre. No entanto, há o caminho do meio. O primeiro modelo proposto são poemas que seguem a seguinte formatação: curta estrofe de apresentação, estrofes de desenvolvimento, estrofe de transição em que os versos são “quebrados” para induzir à leitura ininterrupta, estrofe final com chave de ouro. Chamo-lhes soneto novo. A segunda proposta é, em termos hegelianos, conhecida, mas não reconhecida; nomeio-o refrão. Também pertence à forma fusionada, por assim dizer, de rigidez livre como a escada rolante que é, ao mesmo tempo, firme e flexível. Nas páginas posteriores, o leitor perceberá a forma interna no informe externo, o necessário no contingente. Os poetas têm o desafio de utilizar o acúmulo histórico das escolas literárias para criar “modelos” novos.


• SONETO NOVO I •

 

Existem borboletas

Cujo sonho é cair

 

Borboletas suicidas

 

Muitas delas coloridas

Tropicais

 

Exclamações melancólicas

Pairando

Paradas no firmamento

Branco e azul

 

Urubus florais

Cemitérios flutuantes

 

Em confronto contra

Os ventos

Pois a aerodinâmica

Da vida

No tempo do

Abate

Fortalece para

Matar

 

Matar-se-ão

Multicolores e ondulantes fragmentos acima do cinza

 


• SONETO NOVO II •

 

O nada é ser no devir…

 

O vazio que me comove

É o sentimento universal do universo!

 

Sinto a falta sentida pelo cosmos

Como a falta de si próprio

 

Vir a ser aquilo que já é por meio de outro

No movimento perpétuo de toda unidade

 

Eis os

Opostos tomando

A forma de um

Hermafroditismo filosófico

 

O nada ir-se do nada ao nada por meio do nada!

 

 

• SONETO NOVO III •

 

A menor distância entre um ponto e outro é

Uma curva

 

Se as condições do mundo fossem simples

Desexistiria mundo

 

Tudo está em oculta guerra civil

E nada há desprovido de resistência

 

A interação de todos os tipos de corpos

A curvatura do tecido espaço-tempo

O radiante raio por seus caminhos tortos, tortuosos

 

A concha do

Caracol faz

Uma espiral que

Se nega e se afirma no

Seu evolver, pois

Tem o impulso de ir para fora indo

Também

Para dentro!

 

Curvo-me em mim, que não suporto todo este peso,

Como quem delira curva-se diante do talvez deus do cosmos 







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