A METAFÍSICA
MARXISTA
Nova
dialética da natureza
Uma teoria
de tudo
Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma
coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada,
plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.
No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa
sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa
coisa sensível-suprassensível.
(Idem,
ibidem)
O valor do ferro, do linho, do
trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas…
(Idem, p. 170)
Aqueles que
acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem
que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante
(in actu).
(Marx, O
Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
Mais-valia e
taxa de mais-valia são, em termos relativos, o invisível e o essencial a ser
pesquisado, enquanto a taxa de lucro e, portanto, a forma da mais-valia como lucro
se mostram na superfície do fenômeno.
Tem que se
deixar de lado a opinião de que a verdade tem que ser algo palpável.
J. P.
ALERTA AO
LEITOR
Embora não
saiba, tu tens necessidade de uma obra qualitativa, que mude teu modo de pensar
ou, se jovem for, o faça dar um salto necessário. Sentes, mas não percebes. Os
livros comuns apenas fazem digressão, contribuem pouco, repetem os ritos e as
palavras já postas etc. O texto adiante é uma ruptura com a tradição até aqui,
mesmo. Trará uma visão completa de mundo, base para a ciência-filosofia geral.
Se duvidas, leia-o! Aqui, não cultivamos falsas humildades, pois temos de dizer
a verdade na sua medida tão exata quanto possível: um novo paradigma surge. Com
esta obra, concluímos a história da ciência e da filosofia nos seus aspectos
gerais e essenciais. Parece muito, algo impressionista e megalomaníaco, talvez
delirante – porém estás avisado dos desafios e da aventura das próximas
páginas.
GLOSSÁRIO
Prefácio
Seção um
O ser, o
cosmo
A história
da e na ciência
A igualdade
de tudo
O cosmo, o
ser
As leis
gerais da metafísica materialista
O ser e o socialismo
O ser e a
natureza humana
O ser e a
dialética
O “outro
lado” metafísico
O abstrato é
o concreto em processo
O absoluto
A vitória do
materialismo
Antinomias
de kant contra o materialismo
Gnosiologia
ou ontologia?
Materialismo
ou idealismo?
A liberdade
objetiva ou dialética
Teleologia
objetiva
As causas
O que é a
conciência, a mente?
Seção dois
Teses sobre
questões abertas nas ciências naturais
As questões
abertas na física moderna
Biologia e
dialética
Seção três
O método
dialético empírico dedutivo
Leis e
categorias da dialética
Os métodos
científicos
Seção quatro
A filosofia
e a ciência
A filosofia
científica, da ciência
Força, átomo
e campo
Matemática
Teoria do
caos
Tempo
Causalidade
O fim do
paradigma aristotélico
Trabalho,
linguagem e sociabilidade
Críticas
contemporâneas à metafísica
As duas
oposições científicas
Platão e
nietzche
Dialética
As feridas
narcísicas da humanidade
A teoria de
tudo
Ideologia
A duplicação
dos mundos moderna
Extra: os
paradoxos
O colapso
ambiental
Marxismo e metafísica
Tecnologia
moderna
Educação
Teoria
marxista da alienação
Hegel
alertou que uma introdução de obra, um prefácio, precisa evitar ser um resumo
do conteúdo logo em seguida. Sigo tal norma dialética. No entanto, alguns
esclarecimentos e reforços continuam necessários. Vejamos juntos.
O tempo da
filosofia profunda parecia ter passado em nossa época de distração e modos
rasos. Nada pode ser maior. Até na política, interrompeu-se a noção de projeto,
pois o muro de Berlim caiu sobre nossas consciências. Assim, no fragmentado soa
como algo distante qualquer projeto sistemático. Mas a necessidade por
conclusões gerais hora ou outra iria impor-se, de um modo ou de outro. Uma
possibilidade crescente amadureceu no real, exigindo tradução e organização
teórica.
O PAPEL DE
ENGELS
Quando um
pensador meio marxista quer negar Marx de algum modo, costuma atacar de maneira
covarde, indireto, culpando Engels de todos os pecados mortais. Se há o “erro”
da dialética, a suposta farsante caluniada, cabe a este o peso do uso dessa
filosofia… Para mim, no entanto, ele é um mestre imenso. Cabe lembrar que Marx
aprovou, em cartas, a busca de Engels por uma dialética da natureza e apoiou em
vida a obra Anti-During, escrita por seu amigo, onde este expôs de modo claro
sua visão do não social como dialético.
Mas também
evitamos a visão dogmática dos mestres, que cometeram alguns erros ou pararam
em limites parciais, em grande medida empostas por suas épocas. Minha dialética
é um desenvolvimento qualitativo da dialética desses materialistas; além disso,
discordo em profundidade da afirmação engelsiana de que dialética e metafísica
são totalmente diversos, água e óleo. Dialética é certa e correta metafísica
dinâmica. Por isso, nesta obra, permito-me a ousadia de tentar responder várias
lacunas da filosofia e da ciência, mais do que demonstrar que a concepção
dialeticista é confirmada pela ciência moderna.
A CIÊNCIA
MODERNA
Após Engels,
apenas Lenin tentou pesquisar sobre o mundo não social, oferecendo alguma
conclusão sobre. Porém, ao fazê-lo, o líder russo ainda não havia estudado a
Ciência da Lógica de Hegel, que tanto o transformará nos anos da grande guerra.
De qualquer modo, mais de 100 anos depois, sua contribuição está desatualizada.
A física
quântica travou-se numa quase revolução, quase respostas. A física moderna foi
longe, muito, recentemente descobrindo que o universo está em expansão
acelerada, por exemplo (até tal expansão tem história, modifica-se!). A química
também avançou, e continua motor vital para o desenvolvimento da indústria. A
biologia impulsionou a genética e avançou para sua unificação coma teoria de
Darwin, a nova síntese evolutiva. Os exemplos são muitos, e precisam de uma
visão filosófica unificadora.
Nesse
sentido, muita pressão recebi do meio ambiente hiperespecializado de nossa
época. Mas o perfil pessoal de querer o impossível, saber de tudo, ao menos nos
aspectos gerais corretos, levou-me de modo inconsciente a uma concepção geral.
Via de regra, o filósofo tem uma premissa ou visão de mundo do qual deriva suas
conclusões, seguindo seu sistemismo. Tive de fazer diferente, o oposto:
primeiro, cheguei a conclusões relativamente separadas na arte militar, na
psicologia e na essência humana, na física, na filosofia, na história etc.
para, apenas então, derivar, perceber, que havia um fio condutor comum, que
unificava numa teoria de tudo a realidade. O sistema filosófico-científico é,
portanto, conclusão, não o começo ou o primeiro.
É comum que
os marxistas e pessoas das chamadas “humanidades” entendam pouco de ciências da
natureza e da matemática. Meu caso não era diferente, por isso fiz todo um
programa de estudo e pesquisa que partia do básico, matemática básica, para
evitar qualquer lacuna, até a matemática e ciências avançadas. É raríssimo
encontrar marxistas que dominam bem as ciências humanas de um modo geral, da
economia até a ciência militar passando pela psicologia, e, ao mesmo tempo, uma
visão estável da moderna ciência natural. A especialização excessiva cobra
muito caro.
Isso nos
leva à questão da metodologia. Aqui, exponho de modo resumido o método
empírico-dedutivo junto com um desenrolar da dialética para nosso tempo. Tal
método nada mais é que o dialético sob nova roupagem, em oposição, real e
conceitual, ao limitado hipotético-dedutivo.
A FILOSOFIA
Com este
material, quero resolver com um ponto final, e como ponto de partida, a milenar
disputa sobre a questão do Ser. A filosofia de nossa época ou rejeitou a
questão a priori, diante da enorme dificuldade, ou deu passos ruins nessa
direção. Lukács poderia ter resolvido a polêmica já na década de 1960, mas
limitou-se à ontologia, metafísica, apenas do ser social. Ver-se-á nas próximas
páginas como sua ontologia, correta, está abaixo da nossa, mais geral e
profunda. A questão do Ser mobilizou os melhores filósofos não marxistas nos
últimos 200 anos, mas que se perderam na sua pureza suposta, na negação do ente,
na falta de domínio da ciência natural etc. Os marxistas antimetafísicos estão
com Kant e com os positivistas, em má companhia. Kant contrapôs os avanços da
física contra a estagnação da metafísica; ora, deixou de ver que a metafísica
correta deve surgir da física contemporânea e da ciência; eis o segredo.
Se esta obra
apresentar algo correto nos seus aspectos gerais, trata-se, junto com a obra A
crise sistêmica, de uma revolução copernicana na ciência e na filosofia, logo
precisa ser reconhecida como tal. Dois limites subjetivos atrapalham tal
reconhecimento: 1) acadêmicos sentem-se na obrigação de sempre discordar, nunca
entrar em acordo; 2) esta obra foi escrita por um autodidata, sem prestígio e
cargos. Algo novo tende a causar, quando não a cínica indiferença, a rejeição
inicial.
Eis que
entra em questão os pares. Nunca tivemos tantos doutores em filosofia, e nunca
eles foram tão inúteis. Em geral, apenas comparam um autor com outro, criando
relações artificiais entre eles, ou tornam-se interpretes oficiais de algum
pensador europeu ou americano, ou usam o jogo de linguagem e “conceitos” para
disfarçar a baixa criatividade e ausência de ousadia, ou aumentam apenas uma
vírgula e um ponto a mais no pensamento geral. A situação é deplorável. No
entanto, exato a falta de gênios entre nós deve exigir mais criação, mais
riscos – e que seja posto sob crítica para novos apoios e aperfeiçoamentos. Os
filósofos oficiais, se fazem filosofia ou ciência, trata-se de algo colateral,
quase um acidente, pois o que importa é um texto de doutorado comportado, que
garanta aquela vaga de professor estável.
Enfim, para
concluir, sou repetitivo em certos temas na obra. Ao menos isso ajuda a fixar o
conteúdo, mas sua razão central é que o objeto exposto exige tal insistência.
Há que ser rigoroso. Por outro lado, ganhamos em clareza, herança que guardo da
letra de Engels, com quem aprendi a simplicidade da escrita para o público
popular potencial.
Peço a
indulgência do leitor, incluso do especializado, pois tive de abarcar literalmente
o mundo na busca das verdades primeiras. A riqueza de material, inesgotável,
impõe certos limites. A questão sobre se há ou não certa metafísica real,
material, apenas poderia ser solucionada na sua busca, nunca por críticas
externas ou de princípio do tipo feito por Adorno. Ademais, ao lidar com
aqueles a confundir metafísica e religião, faço certas “metáforas” com o mundo
religioso apenas para reforçar a riqueza do materialismo dialético. A
incapacidade de suportar o materialismo na ideia é a incapacidade de suportar o
materialismo na matéria.
SEÇÃO UM
O SER, O
COSMO
A HISTÓRIA
DA E NA CIÊNCIA
A grande
preocupação dos idealistas gregos era saber daquilo imóvel, sem mudança e
movimento. Assim, a antiga metafísica supôs um mundo das Ideias e das formas
(Platão), um Ser absoluto (Parmênides), o primeiro motor imóvel (Aristóteles).
O que lhes faltou é saber que há as leis da mudança, além das leis da
regularidade, algo apenas resolvido na moderna dialética. Até o gigante
Heráclito orientava descartar os sentidos, pois no empírico reinava apenas o
caos e o acaso – tema que aprofundaremos em outro capítulo. Para o filósofo
escravista grego, era necessário negar a historicidade do mundo, pois queria a
estabilidade e a perpetuação do seu modo de vida. A filosofia medieval, desde
Agostinho, tratou de manter o império da rotina, da tradição, como com a cidade
de Deus perfeita e estática e a cidade dos homens imperfeita e alterável.
Então, veio
o capitalismo e sua necessidade de saber como, não o porquê, o mundo funciona.
O princípio da tradição cai por terra, a novidade ocorre sempre, nada é
estável. O objetivo é econômico: saber navegar bem, produzir novas ferramentas.
Assim, toda a filosofia antiga, a aristotélica em principal, é atingida de
morte: as leis da terra são as leis do céu!
Mas para
Newton o espaço era absoluto, independente e imóvel como o palco de um teatro.
Também o tempo era inalterado em seu movimento. E esse foi o paradigma por
séculos. O universo, criado por Deus, ainda era eterno e imóvel, além de sem
limites, como pensavam já os gregos.
Newton foi,
após seu grande sucesso teórico, desafiado: se sua fórmula estava correta, logo
o universo deveria colapsar! Por que isso não acontecia? Ele pensou: porque o
universo é infinito e as gravidades, no geral, em ampla escala, assim, se
anulam de um ponto para outros. Mais uma vez, a história saiu do caminho!
Os químicos,
por sua vez, pensavam que os elementos sempre existiram e sempre existirão –
sem criação, sem destruição. O papel seria, assim, descobri-los, isolá-los,
classificá-los e dar-lhes bom uso industrial. E pronto.
Algo análogo
tinha-se na biologia. Os materialistas sempre ensaiavam formas de fazer alguns
animais surgirem de outros, mas falhavam. Os idealistas, por sua vez, diziam
que os seres sempre existiram e sempre existirão.
A primeira etapa da ciência é conhecer,
reconhecer e classificar os seres; isso é o seu começo. Mas logo sente sinais
de que há um filme sendo contado ali, pistas surgem, especulações ainda tímidas
ocorrem aqui e acolá.
Hegel inicia
a ideia de que o homem tem uma história, que o passado é a causa do futuro, que
há um caminho a percorrer. Antes, a história de Roma era tratada como
indiferente à história atual, sem progressão e progresso. Mas foi em Marx que a
história humana foi materialisticamente explicada: com a necessidade de
satisfazer necessidades materiais, os homens produzem objetos e relações
sociais novos; assim, a produtividade crescente muda as coisas, o ambiente – e
os próprios homens. Então, Marx generalizou: o inorgânico, a biologia e a
sociedade são históricos, possuem um processo! Ele o fez de modo filosófico,
resolvendo a charada apenas na história humana. Depois, Darwin deu forma
científica à conclusão marxista: a vida e as espécies têm uma origem e um
desenvolvimento, como dos seres simples aos mais complexos, menos diferenciados
aos mais diferenciados. Algumas espécies e indivíduos prosperam se bem se
adaptam e outros definham se mal sobrevivem.
Apesar de
ser o mais simples, o inorgânico e o cosmos foi o mais difícil de saber de sua
historicidade. Nossa geração já cresce tendo contato com a teoria do Big Bang,
logo perdemos a noção de quã recentíssima é tal concepção de mundo. Mas o
próprio Einstein demonstrou resistência à ideia, com sua concepção estática – a
constante cosmológica! – de universo. Ele teve de lidar com a mesma contradição
de Newton, ou seja, por que o universo não colapsava para dentro de si ou, ao
contrário, não se expandia?
Descobrimos
que o nosso universo teve um início, uma expansão rápida (não explosão) quando
o “átomo primordial”, imensamente concentrado em si mesmo, decaiu em partículas
cada vez menores, fundamentais. Tal teoria leva à concepção termodinâmica de
Engels; o universo acabar-se-á frio, morto e estático. Mas a teoria nunca
poderá parar aí. Para uns, o universo “esquecerá” que se expandiu ao máximo e
fará um novo big bang. Para outros, ele é como um pulmão indiano, expande-se
para depois contrair-se, sabe-se lá como – embora isso seja muito mais
dialético, tal como veremos. Outros tantos defendem que há muitos universos
depois deste, infinitos. Em geral, temos duas teorias: o multiverso no tempo,
que se expande e se contrai; o multiverso no espaço, uns ao lado dos outros.
Aqui, proponho o universo no espaço-tempo, uma fusão: a expansão ou contração
de um universo se dá junto e porque outros expandem-se ou contraem-se. Mas
suponhamos que exista apenas o nosso universo, não o cosmos como união de todos
os universos existentes – qual a solução? Alguns físicos defendem que a próxima
era cósmica, a dos buracos negros, gerará a fusão e atração destes, reiniciando
o universo inteiro. Tudo bem, mas como? Há aí apenas descrição, não explicação.
Na verdade, ao que me parece, apresento a hipótese, os buracos negros –
maiores, ao menos – sugam espaço (que, debateremos, torna-se provavelmente
matéria e luz), são produtivos, por isso não há buracos negros intermediários,
nem observados no número necessário. Outro problema: se o espaço expande-se
mais rápido do que a luz, o que ele é? Ora, matéria e espaço – nossa terceira
hipótese – são o mesmo, sendo ainda diferentes, a matéria inicial em parte
decaiu e decai em espaço. O próprio espaço tem história, modifica-se e nasce!
Ainda outros, dizem que até o tempo tem uma história, que teve um início.
Há, ademais,
uma versão científica e pouco ortodoxa que diz: as leis da física são
históricas, não permanentes, segundo a fase e configuração do universo. A
dialética nem rejeita nem corrobora esta tese, penso. Vejamos: a história
humana tem leis universais e tem leis
que pertencem somente e tão somente àquela época específica, capitalismo ou
feudalismo etc., ao modo de vida de um determinado tempo e sistema. Mas isso
não significa, mecanicamente, que é assim também na biologia e na física, pois
ambos são mais simples e menos dinâmicos que o sistema social humano. Para a
dialética, no entanto, importa o contexto; por exemplo, um material não
condutor em temperatura ambiente torna-se condutor em temperatura elevada.
Fica, portanto, esta máxima: o mundo total vai do menos para o mais dialético –
muito acima da lei de ir do menos ao mais perfeito.
Agora,
entramos de novo na química. Apenas hoje, há pouco tempo, soubemos que os
elementos mais pesados surgem da fusão dos elementos químicos mais leves nas
estrelas, como o Sol. Há fusão nuclear. Os elementos ainda mais pesados, por
outro lado, exigem ainda mais energia para seus surgimentos, frutos das
explosões estelares. A mera descrição da tabela periódica teve de dar espaço
para uma narração épica!
A revolução
espácio-historicista da ciência ainda está incompleta, mas avançou de maneira
qualitativa, contra a mentalidade estática dos próprios cientistas, que cederam
à realidade. Os gregos, como os iniciadores dessa história, tinham o direito de
errar – nós temos o dever de acertar.
A IGUALDADE
DE TUDO
O início da
filosofia grega foi a intuição da igualdade universal. Assim, buscavam apenas o
geral e o único, esqueciam o papel da diversidade. Tales, o primeiro físico,
afirmou, pela primeira vez na história, que tudo é um porque tudo é, vem da,
água. A dedução tem sua lógica, pois todos os seres vivos precisam beber,
precisam retornar às suas origens. Seu primeiro passo permitiu ao discípulo
Anaximandro ir ainda mais longe: o princípio de todas as coisas não é algo
específico, mas alguma coisa não empírica, no fundo do fundo, sem qualidades ou
limites, que ele nomeou Apeíron. Também Heráclito algo propôs, o fogo como
origem e causa de transformação de tudo. Anaxímenes, o ar. Logo surgiria a
ideia natural de que o terra, o fogo, a água e o ar mudam-se uns para os
outros, além de combinação e separação. Mas eles, em geral, ficaram muito presos
ao sensível. Um dos pontos alto é o atomismo de Demócrito, de que o mundo é
feito de átomos e vazio, muito depois seguido por Epicuro.
A física
clássica, além de outras ciências, tratou, primeiro, de separar, clarear e
destacar a diferença no mundo e nos conceitos. Mas logo, com a ajuda da
matematização, ensaiou a unidade ou identidade dos diversos, como v = s/t,
velocidade é igual ao espaço dividido pelo tempo; dirá Hegel, o movimento é a
unidade de espaço e tempo.
Maxwell deu
um gigantesco passo ao perceber que seus 4 cálculos poderiam ser unificados,
formando a união do magnetismo e da eletricidade em eletromagnetismo – logo
percebeu que a luz caberia dentro de tal descrição.
Mas foi
Einstein quem deu o passo imenso na unidade de tudo. Ele disse que massa e
energia são um, são diferentes manifestações de algo comum (já debateremos o
que é, para nós, este objeto comum). E foi ainda mais longe ao perceber que
espaço e tempo são espaço-tempo, pois tempo é espaço! Mais: as duas formas de
massa são um! Gravidade e aceleração são iguais!
Hegel diz,
inspirado no começo da filosofia:
Entretanto, por meio do conceito de diferença
interior, esse desigual e indiferente, espaço e tempo etc. são uma diferença
que não é diferença nenhuma, ou somente uma diferença de homônimo. E sua
essência é a unidade. Em sua relação recíproca são animados como o positivo e o
negativo; mas seu ser consiste antes em pôr-se como não ser, em suprassumir-se
na unidade. Subsistem ambos [os termos] diferentes, são em si como opostos;
isto é, cada qual é o oposto de si mesmo, tem o seu outro nele, e os dois são apenas
uma unidade.
Veja-se que
Hegel antecipou o princípio da ciência moderna! Não foi algo vago, mera
intuição, mas afirmado com clareza como espaço e tempo enquanto apenas em
unidade.
E se
levarmos unidade até as últimas consequências, por generalização? Surge esta
fórmula qualitativa:
Movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= massa =
luz = campo)[1]
Chegamos à
teoria de tudo! Ao leitor especializado, pedimos que avance neste e nos
próximos capítulos, que daremos as provas necessárias de nossa formulação. A
busca de uma teoria do todo, como fórmula que unifique o micro e, por meio do
meso, o macro, a relatividade e a quântica, tem uma proposta clara nesta obra.
Isso passa
por unificar as 4 forças fundamentais: a nuclear forte, que mantém o núcleo do
átomo unido; a nuclear fraca, que é responsável pelo decaimento do átomo; a
eletromagnética, que trata da relação de elétrons; a gravidade, que cuida da
atração da matéria. Mas o conceito “força”, com seu quase misticismo, entra em
crise, não corresponde a um objeto real. A gravidade não é uma força, mas uma
curvatura do espaço-tempo. Podemos deduzir, por generalização, que as demais 3
“forças” também não são forças de modo nenhum. Os físicos unificaram as três
forças, menos a gravidade – meio caminho andado, portanto. Mas talvez trata-se
de olhar por outro ângulo. Tudo é energia (em busca de mais de si), a
matéria-luz decai em espaço; por outro ângulo, tudo é espaço condensado,
concentrado, para dentro de si! Assim, a mesma “força” que mantém o núcleo do
átomo unido, por exemplo, é a energia produzindo uma gravidade, uma queda para
adentro de si no espaço. Nossa formulação, junto com a equação acima, reduzir
tudo a espaço, formas de espaço, resolverá em outro capítulo todas as polêmicas
científicas da física.
PARADOXO DE
EINSTEIN
Nesta obra,
corremos vários riscos de desmoralização por apostar em ideias e caminhos
incomuns, mas que me parecem corretas. Por isso, convido o leitor a insistir no
adiante, pois em outro capítulo exporemos melhor nossas ideias, passo a passo,
de modo que parecerão muito razoáveis, ainda que estranhos. Penso, como
debaterei mais uma vez ao final deste ensaio, que Einstein, além de fazer descobertas
geniais, apresentou paradoxos como se fatos fossem – mas a lebre ultrapassa a
tartaruga. Por exemplo: o núcleo da Terra está como se 2 anos atrasado no tempo
em relação ao resto do planeta. Como isso é possível? Um paradoxo. O núcleo e
as demais camadas mais externas da terra relacionam-se direta e imediatamente,
sem efeito temporal. Como resolver, ainda que corramos riscos de erros? Para
Einstein e para os físicos tempo é o espaço; as coisas viajam no tempo, alteram
seu tempo segundo sua velocidade. Veja-se que a matéria, aí, é algo externo ao
espaço e ao tempo, não se sabe como. Tempo é espaço, espaço é matéria – tempo é
energia. Ao acelerar, ao ganhar velocidade, o objeto reverte ou combate a
entropia da decadência, ganha energia, ganha espaço, ganha matéria (massa) – o
que aparece como ganho de tempo, mudança de tempo, mas isso é apenas a
aparência, não a essência real. A coisa é a si mesma apenas em movimento;
quanto mais movimento, mais velocidade, mais é-se (por mais tempo). A medida
matemática de tempo é útil enquanto medida indireta da energia (podemos fazer
uma analogia com a economia política: o valor-energia não é tempo de trabalho,
pois o tempo aí é medida inexata e indireta do gasto de energia no trabalho
manual). Porém, não é fácil defender isso, em especial sem o aparato matemático
que o sustente. E é um ponto quase de todo consensual na física o paradoxo de
Einstein. A filosofia deve apresentar alternativas de modo humilde, para a
crítica de especialistas.
ENERGIA
Na Lógica de
Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não
cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia,
mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia
para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social.
Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo –
massa é energia, a energia-massa (ou a “matéria” sem massa que tem energia,
como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com
colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da
força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o
homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser
ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.
O Ser é
energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como
com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições,
veremos no decorrer do texto.
A ciência
oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de
energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma
categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da energia-valor
na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do valor-energia
e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).
Cada
modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que a anterior na captação
energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social
suprassume aquele. Mas energia é insuficiente, pois, como o movimento, seu
igual, não se sustenta sozinha.
ESPAÇO-TEMPO:
O ELEMENTO PRIMEIRO
Vários
filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade.
Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter etc. Com o
desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo
amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor,
embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.
Raciocinemos
juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis
campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples
é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado,
condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria
é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de
espaço e tempo faz-se necessária).
É possível
supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou
seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto,
este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais
pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo
podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se
demonstrem falsos.
A tendência
de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu
histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no
cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo
menos lógico-ontologicamente .
Diz o
princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao
mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si
mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não
poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se,
digamos, condensado.
Demócrito
afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda:
há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora
diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se
expressa também na matéria, com ou sem massa.
Tal modo de
ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do
também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é
acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para
observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive,
contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de
câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda
seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica).
Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída
de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a
filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma
expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.
O
espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são
dois.
O Ser,
enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia
em busca de mais energia aparece como para si.
Espaço-tempo
e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma
identidade.
Espaço-tempo,
este sendo aquele, apenas um, equivalem ao sincrônico-diacrônico,
processo-estrutura e o Ser como histórico, mas, derivado, Ser é histórico-geográfico.
Quando se
diz “a verdade está no meio” (na realidade, no todo contraditório em evolver),
diz-se mais do que se pretendia: a verdade está, de fato, no – Meio, no espaço.
Nossa Arkhé.
Como se
verá, porque tudo = tudo, o primeiro não necessariamente é primeiro no tempo.
Descobrimos
que espaço é matéria, incluso luz e campo, assim como a matéria, incluso luz e
campo, é equivalente ao espaço. São diferentes e opostos que são também apenas
um. Uma parte do fato de isso ser descoberto apenas agora deve-se da maturidade
social e científica; outra parte, porque eruditos, doutores, sempre têm de
discordar, nunca concordar, dos demais ao mesmo tempo em que evitam a qualquer
custo qualquer risco real na teoria. Assim, quase se descobriu este fato novo
por várias vezes, faltando a ousadia. Vejamos Aristóteles na sua Metafísica que
fez longa escola:
E comprimento, largura e profundidade, não
substâncias: a quantidade não é substância, mas é substância o substrato
primeiro ao qual inerem todas as determinações. Mas se excluímos cumprimento,
largura e profundidade, vemos que não resta nada, a não ser aquele algo que é
determinado por eles. (Aristóteles, 2002, p. 293)
Nem todo
olho, mesmo um bom, consegue sempre ver o que está diante de si. O salto exige
ousadia, portanto. É preciso explicar de modo correto, dizer que o aparente
flogisto é, na verdade, gás oxigênio, por exemplo.
SER,
MATÉRIA, MATERIALISMO
Ser, puro
ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas
há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu
começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação,
sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque
cai dentro de si mesmo (o espaço é, na verdade, o sem qualidades, a
transparência transparente).
Aqui, por
força negativa da abstração, nenhum movimento.
A matéria,
aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da
energia. A própria energia é matéria, pois é material. Ademais, Hegel
demonstrou que a substância (matéria, espaço condensado) é igual, está
presente, nos acidentes, nas propriedades (massa), são apenas um como dois –
matéria é sua propriedade, a massa. Isso deriva uma hipótese. Os neutrinos
vindos do Sol são, uma parte, mais pesados do que o esperado, o que leva à
dedução de que o neutrino mais leve tem alguma certa massa irrisória – mas
daqui, deste texto, podemos derivar que o neutrino do elétron tem apenas
matéria, ou seja, massa potencial, não real e direta, passando a adquirir massa
nas versões mais pesadas. É uma hipótese, da origem filosófica, a ser posta em
crítica pelos físicos especialistas.
MOVIMENTO
Movimento,
puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.
O movimento
é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar,
movimento. O movimento e a estabilidade estão, no sincrônico, em unidade, A=A e
não-A, mas também é claro que o movimento antecede o estável, A=A… e não-A, no
diacrônico.
A
contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também
faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a
diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta
à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.
Qual é,
então, a causa central do movimento? Se, além das três dimensões, finitas,
temos a quarta dimensão espacial, ponto do infinito, base da energia, a matéria
e a luz caem em tal dimensão como em si mesmas. Eis a explicação metafísica
científica, materialista, do mover.
A lei da
mudança é uma lei que muda, mas uma mudança permanente.
DEVIR
A verdade da
matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o
devir.
O devir é
mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.
De imediato,
a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas
tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o
outro, são apenas um.
Ao movimento
corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.
METAFÍSICA E ARTE MILITAR
Trotsky, em
seus escritos de teoria militar, teve de combater várias concepções fixas de
luta, de guerra. Logo, ele protestou sobre certa metafísica, baseada em
princípios gerais, que não deveria existir. Ora, temos uma equação qualitativa
em nossa filosofia primeira:
Movimento =
energia = tempo = espaço = matéria
A variedade
da arte militar trabalha com tais elementos. O próprio Trotsky disse que o uso
amplo da manobra na sua guerra (movimento) ocorria por causa do espaço amplo do
território em disputa. Os cinco elementos acima dinamizam-se e devem ser
considerados juntos e em separado pelo estrategista. Por exemplo, ir a uma
distância muito grande em território inimigo (espaço), exige muita energia e
logística – um dentre as razões de defender a nação é uma vantagem sobre quem a
invade.
Já disse em
outro local que os marxistas mais capazes devem escrever um manual militar
completo e claro. Nesse sentido, ajuda a organizar o pensamento considerar a
identidade na diversidade dos elementos acima.
Uma leitura
atenta de Da Guerra de Clausewitz demonstra por toda a obra que tais aspectos,
elementos, estão presentes com centralidade e devem ser considerados mais do
que de modo instintivo ou pela experiência, também ideal e teoricamente.
Um exército
muito pequeno em relação ao inimigo, por exemplo, força a aposta – compensador
– em outro aspecto que não sua matéria, logo, na sua mobilidade. Surge a
guerrilha. Um exército concentrado e grande força o outro a desmembra-se, a
fragmentar-se para melhor combater.
METAFÍSICA E
LUTA DE CLASSES
Podemos
demonstrar que a luta de classes aparenta os conceitos e as equivalências
movimento, energia, tempo, espaço e matéria? Sim. A luta por recursos concretos
e abstratos estão em jogo. Vejamos:
1. Movimento
A luta
contra a intensificação da produção é luta de classes, contra movimentos mais
rápidos. Movimento é também o dirieito de ir e vir negado por quem não tem
dinheiro, além da privatização do espaço.
1. Energia e tempo
O
trabalhador em todas as épocas classistas quer trabalhar mais para si e trabalhar
menos. A burguesia, hoje, controla a energia e o tempo de trabalho.
2. Espaço
A luta pela
cidade, pela reforma urbana, contra a especulação mobiliária, pelo direito de
ir e ver etc. A luta de classes também é espacial.
3. Matéria
Hoje pela
mediação do dinheiro, há uma luta distributiva de valores de uso e uma luta
entre lucro e salário.
A questão nunca foi colocada de tal modo
até aqui. Tais lutas têm algo de comum com a luta biológica entre espécies e
membros da mesma, mas em nível superior; de qualquer modo, demonstra que a luta
de classes é uma barbárie, a divisão dos homens em classe é animalesco, até a
greve é algo bárbaro, embora aponte para a civilização.
METAFÍSICA E
SETORES DA ECONOMIA
Como a
questão das classes, os setores produtivos também podem ser classificados
segundo os conceitos da identidade dos diversos. Vejamos:
1. Movimento
Aqui, em
principal o setor de transportes. Marx afirma no livro II de sua grande obra
que o transporte é parte do capital produtivo e industrial, mesmo sendo algo
externo. O transporte de mercadorias oferece valor novo a estas.
2. Energia
Por energia,
incluímos também a cesta básica do trabalhador e tudo o que ele precisa comprar
para manter-se, sobreviver.
3. Tempo
As máquinas
economizam tempo ou o otimizam.
4. Espaço
Destaca-se a
construção civil.
5. Matéria
Da
matéria-prima aos produtos de luxo e finais estão incluídos.
Tal modo de
expor mantém em pé os departamentos de produção de Marx. Sua formulação é
completamente correta, embora possamos pensar outro modo de classificação
móvel. Marx pensou mais em questão de
valor, a riqueza no capitalismo, enquanto pensamos mais em questão de valor de
uso, a riqueza social geral.
O COSMO, O
SER
É necessário
uma concepção geral de mundo, do Ser. Como diz Aristóteles, o Ser se diz de
vários modos: Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si, Ser
é espaço condensado (concentrado, formas de espaço), Ser é espaço-matéria, Ser
é trabalho, Ser é produção, Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico,
Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório. De modo geral:
movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= luz = campo = massa), (no
nível físico, há em principal identidade sobre a unidade dos diversos; nos
níveis acima, ganha algum relevo, ainda subordinado, a unidade dos diversos).
Se tudo é igual a tudo, logo tudo é um, ainda sendo também diverso dentro de
si.
1. Ser (tudo) é energia em busca de mais energia
ou mais de si.
O senso
comum orientalista diz que tudo é energia. Tendo algum fundamento, o mais
correto é afirma que é energia em busca de mais de si. Um corpo com
energia-massa atrai outros para si com a curvatura do espaço. Muitos animais
começam a reprodução na primavera, quando aumenta a incidência de luz solar. É
muito claro que a vida singular é energia em busca de mais energia; isso foi
considerado no homem enquanto animal e enquanto indivíduo – mas também vale
para a história de toda a sociedade. Assim, somos ainda a civilização nível
zero, ou melhor, 0,75, na escala de Kardashev, porque sequer dominamos a
energia no nosso planeta.
A ciência
primeiro descobriu formas de energia, depois as unificou com o conceito
apropriado. Os físicos e químicos dizem que a energia não existe, apenas um
conceito útil; mas o conceito necessário é, também, real. Contra o empirismo,
há a energia, em geral, que podemos deduzir de suas formas aparentes.
Graças a
Einstein podemos deduzir que o Ser, o cosmos, tem por pulsão ser energia em
busca de mais de si mesma, algo difícil de descobrir na cosmologia. Já o que
energia, no fundo, de fato é, sua verdade, será exposto no próximo ponto.
Para
paladares marxistas, afirmamos que energia em busca de mais de si revela-se no
capitalismo como valor em busca de mais valor, dinheiro em busca de mais
dinheiro.
2. Ser é espaço condensado (concentrado, formas
de espaço).
O mais
simples no universo, o mais sem determinações e qualidades, o mais abstrato – o
espaço. Ele é o primeiro lógica e ontologicamente, além de talvez no tempo. O
espaço é a transparência transparente e, ao mesmo tempo, com as maiores
características como infinito (debateremos qual infinito), o puro, o
indivisível etc. O átomo é o maior, o espaço, não o menor. Além disso, energia
é espaço. Curioso que uma xícara, o café nela, o bebedor da substância etc. são
todos espaço condensado, concentrado, para dentro de si.
3. Ser é espaço-matéria.
Espaço e
matéria são vistos como diferentes e opostos. Este é ativo; aquele, passivo.
Mas isso está prestes a mudar: matéria é espaço, embora não seja; espaço é
matéria, embora não seja. A união de ambos permite o movimento. A matéria, ou a
luz, decai em espaço; e este tem propriedades semelhantes à matéria, como a ter
energia.
4. Ser é trabalho e produção.
Lukács em
sua metafísica disfarçada apenas de ontologia, certa matéria interna àquela,
diz que o diferencial do homem é o trabalho, a categoria fundante do ser
social, mais do que biológico. Mas é necessário generalizar, pois há trabalho
no reino da vida e da não vida. Os animais necessitam de um esforço coordenado
para adquirir mais-energia do que o gasto na sua aquisição (caça etc.). As
células produzem mais-energia do que exigido para produzi-la. Uma estrela, como
o Sol, funde átomos por meio da gravidade, produzindo elementos mais pesados,
perdendo energia no processo. Temos a entropia e energia enquanto “capacidade
de trabalho”.
Em sua
metafísica, Aristóteles toma o artesão, tão comum em sua sociedade, enquanto
modelo para suas conclusões. Assim, alcança as quatro causas e a ideia do
primeiro motor, o artesão que move o mundo. Influenciado pela forte propaganda
pela disciplina do trabalho no socialismo “real”, Lukács faz algo semelhante em
sua metafísica ao colocar o trabalho como a categoria fundante do complexo ser
social. Por as duas concepções serem mecânicas, são limitadas também, erradas e
certas, não orgânicas. Ambos generalizaram de modo parcial ou de modo
equivocado. De qualquer maneira, o trabalho-produção é algo próprio de todo o Ser,
para além do trabalho humano social. Veremos que, por exemplo, também ambos
confundem, por exemplo, teleologia orgânica com o modelo mecanicista do
trabalho humano.
Até a
psicologia afirma o trabalho, além de as demais formas do Ser. Nada fazer gera
angústia, logo o sujeito encontra uma tarefa, uma distração, um hábito, um
problema (nem que seja no pensamento). A inércia, no sentido comum, torna-se
negativo como expressão da necessidade de trabalho, no sentido amplo. Somos
seres ativos.
Façamos,
agora, em complemento, uma digressão sobre o ouro, o dinheiro por excelência.
Ele tem altíssimo valor porque para tê-lo exige-se muito trabalho humano e
muito tempo de trabalho. Ora, o ouro exige muito trabalho por ser relativamente
raro, pois exige muito também trabalho-energia-tempo para o processo estelar
criá-lo, produzi-lo.
5. Ser é histórico em desenvolvimento e
geográfico.
Entre as
mais importantes bases científicas jamais criadas é a descoberta de que tudo é
feito de história, em processo e desenvolvimento. Mas os fatos e o evolver
nunca ocorrem no completo vácuo, por isso o cenário importa. O ambiente, o
lugar, o espaço etc. também tem dinâmica, movimento e história.
6. Ser é totalidade integrada em automovimento
contraditório.
Ser é
totalidade; este, em movimento, não apenas repetitivo, circular, pois também
como se uma espiral e um evolver. Ademais, tudo está cheio de contradição;
equilibra-se nesse paradoxo real, concreto.
No fundo, no
fundamento, o Ser é integração (auto)relacionada em processo.
AS LEIS
GERAIS DA METAFÍSICA MATERIALISTA
Uma vez
surgido, quais as leis gerais do universo? Com nosso alto conhecimento do
mundo, temos condição de abstrair leis íntimas, validas paras as três
modalidades do Ser – inorgânico, biológico e social.
Há três leis
gerais do Ser:
I. Toma-se como energia em busca de mais de si,
de mais energia.
Isso
considerado o espaço-matéria; este em sentido amplo, como centro. No social,
vale a seguinte máxima: não se faz civilização plantando alfaces. Nesse
sentido, até o café e o açúcar do Brasil e a batata americana cumpriram papéis
importantes no avanço da humanidade (vale destacar que as flores usam açúcar e
cafeína para atrair abelhas, que trabalham assim mais intensamente). Os
senhores de escravos brasileiros davam feijão aos escravizados para que
tivessem energia de trabalho.
Bem
observado, esta é a lei primeira.
II. Ir-se do simples ao complexo.
Hegel e
Engels demonstram que o simples é tanto simples quanto complexo, como uma
célula viva, A=A e não-A. Ora, também, ao mesmo tempo, vai-se do simples ao
complexo, A=A e… não-A, como do ente unicelular para um pluricelular. Tal é
movimento geral, lembrando, no entanto, que a entropia, se considerado como
universal, não é medida de desordem, uma confusão comum.
III. Encaminha-se à interconexão
universal, à maior interconexão.
Tanto Hegel
quanto, séculos depois, Mario Bunge afirmaram que toda a realidade é um sistema
orgânico, em que as partes apenas têm sentido em suas relações, integrados –
exceção, dizem ambos, no aspecto físico ou no mecanismo. Para eles, a partir do
aspecto químico já há conexão sistemática. Se assim é, vai-se da desconexão
rumo à interconexão universal. Mesmo assim, mesmo isso sendo aprofundado com o
aumento da complexidade do Ser, fruto da energia em busca de mais de si, talvez
o mundo físico puro tenha uma conexão interna oculta e “leve”, com as partes
independentes entre si apenas de modo aparencial – ou, ainda, isso se
desenvolve como evolver cósmico. Vejamos: se tudo é espaço condensado, já há
uma ligação íntima, embora indireta; se as partículas fundamentais, ou quase
todas, não rompem com espaço, logo tudo está conectado via espaço enquanto
entidade geral.
Os átomos
individuais são instáveis por suas energias e matérias, logo necessitam fazer
ligações químicas com outros. Compostos cada vez mais complexos surgem até
fundar-se a vida. Esta integra-se e desenvolve-se até fundar o ser social, a
humanidade, que tende a unificar-se. Na física, a gravidade toma tal tarefa
para si.
O erro dos
marxistas que intuíram a conexão global de tudo é não ver isso como lei de
movimento, como processo, como evolver. A coisa já seria dada e fixa.
Os três
aspectos – as três leis do movimento – estão mais do que ao lado um do outro ou
juntos, pois um está dentro dos demais, derivando-os. A energia em busca de
mais de si faz o material cada vez mais complexo que exige novas interdependências,
interconexões.
As três leis
são, no nosso universo, absolutas, mas seus entes falham muitas vezes em
cumprir tais metas; logo o absoluto é também relativo.
O Ser, a
matéria, tem três modalidades internas, cada uma mais complexa do que a outra anterior
– inorgânico, orgânico ou vida (biologia) e social ou humano. Os mais avançados
são dependentes do nível ontológico precedente, como a biologia depende da não
vida. O inorgânico, o pôr do outro, tem como suas as três leis gerais acima
postas e expostas; o biológico, o pôr do mesmo, tem leis específicas ditas
abaixo, em seguida; e Lukács sistematizou as da sociedade, o pôr do novo, como
demonstramos. Em síntese, tornar-se assim as leis de movimento:
O inorgânico
e o Ser em geral:
1. Energia em busca de mais energia;
2. Do simples ao complexo;
3. Ruma-se para maior interconexão.
O alto
desenvolvimento deste, de tais leis materiais, leva ao salto para a vida. Na
biologia, em específico:
1. Processo de diversificação das espécies;
2. Afastamento das barreiras do inorgânico;
3. Cada vez mais capaz de lidar com externo.
A segunda
lei de desenvolvimento foi já descoberta por Lukács enquanto as demais estão de
alguma forma ou de outra existentes desde Darwin. O alto evolver da vida leva
ao salto para o ser social. Em resumo, uma vez mais, no homem:
1. Produtividade crescente;
2. Afastamento das barreiras naturais;
3. Tendência à unificação global como espécie.
O alto
desenvolvimento do inorgânico realiza-se em parte e tendencialmente no
biológico; em relação ao inorgânico, o biológico é ativo como energia em busca
de mais energia, enquanto aquele é, de modo relativo, passivo. O biológico
realiza-se em parte e tendencialmente no social, pois este é mais capaz de
lidar com o ambiente e com o externo.
Tais
aspectos gerais do Ser ligam-se bem com os três aspectos gerais do ser social
em Lukács; as leis da humanidade são: 1) produtividade crescente – energia em
busca de mais de si; 2) afastamento das barreiras naturais – do simples ao
complexo; 3) unificação da espécie global – aumento das interconexões. Ou,
outro aspecto: 1) produção, trabalho – energia em busca de mais de si; 2)
sociabilidade – do simples ao complexo; 3) linguagem – interconexão. A
ontologia de Lukács está, portanto, subordinada, em sentido positivo, à nossa
ontologia geral e metafísica. Suprassumimos – suprimimos, elevamos e
conservamos – o lukacsianismo, elevamos a teoria a um nível superior.
Vejamos
agora a ontologia geral, e do inorgânico, e sua expressão no biológico. A
energia em busca de mais de si relaciona-se com a capacidade cada vez maior dos
seres vivos de lidar com o externo, como passar a controlar a própria
temperatura, obter novas habilidades de caça etc. O caminho do simples ao
complexo ocorre por meio do aumento de diversificação das espécies, por
exemplo. O aumento da interconexão é revelado na lei descoberta por Lukács, o
afastamento das barreiras do inorgânico, como animais que se alimentam de
outros animais, estes herbívoros, que por sua vez se alimentam de plantas,
estas últimas mais próximas e ligadas à inorganicidade. Claro é que expomos de
modo simples e quase esquemático; vejamos um exemplo menos abstrato; o olho
surgiu de modo independente por 6 vezes, talvez mais, na história da vida, pois
era necessário que surgisse algo do tipo no desenvolvimento e na diversificação
das espécies; isso é energia em busca de mais de si, ou, no concreto, maior
capacidade de lidar com o externo; mas também é uma forma de aumentar as
ligações, interconexões.
No mais:
energia é o abstrato; complexo, o concreto; conexão, o processo. O abstrato é o
concreto em processo – como energia no complexo em conexão (crescente). Mais à
frente desenvolveremos tais aspectos.
O SER E O
SOCIALISMO
O socialismo
é a realização do Ser social e uma do Ser em geral. Para haver sociedade livre
e igualitária, fraterna, são necessárias algumas condições maduras ou em
possibilidade latente. São elas: 1) energia em busca de mais energia, ou seja,
produtividade altíssima, com a superprodução crônica latente, energias de
fissão e fusão nucleares etc.; 2) interconexões crescentes, ou seja, internet e
mercados globais, união da produção mundial via sistema financeiro (e a
interdependência enorme entre os bancos), por exemplo; 3) complexidade elevada,
ou seja, hiperinflação da urbanidade e dos serviços etc. As concepções
limitadas, embora corretas, de Lukács – trabalho, linguagem e sociabilidade; produtividade
crescente, tendência à unidade global da espécie humana e afastamento das
barreiras naturais – não permitem ainda ver com clareza o que expomos aqui.
Tais
elementos demonstram de modo claro e simples que o socialismo era impraticável
de modo completo e correto antes do século XXI. Foi necessário um comércio
saturado em todo o globo terrestre, comunicação e transportes avançados,
supercomputadores, automação-robótica na produção etc.
O socialismo
é uma ruptura com a natureza, com o Ser, quando nos tornamos mais sociais,
finalmente sociais – com aquilo natural socializado, socialmente adaptado ou
modificado. Ao mesmo tempo, no fundo do fundo, o socialismo é uma afirmação da
natureza, do Ser. O homem realiza as leis naturais de movimento, realiza-se.
Teremos uma sociedade correspondente coma natureza humana, que a respeita – a
humanização dos seres humanos antes coisificados, sequer animalizados, pois
nega-se até a condição animal do homem sob a sociedade de classes.
Como espécie
capaz de ser o modo como o cosmo compreender a si próprio, o universo
estudando-se, dominando-se, desenvolvendo-se; o homem também assim, com a
última revolução científica unida à ultima revolução social-política,
tornar-se-á outro modo de realização tendencial do Ser. No princípio, era a
religiosidade, o misticismo das lendas e mitos, o modo de ver o mundo em sua
inteireza e causa – um modo primitivo de ver típico de uma sociabilidade
primitiva. Na sociedade avançada, teremos um modo avançado, uma visão de mundo
definitiva.
O SER E A
NATUREZA HUMANA
Em outro
momento, abaixo, debatemos qual a natureza natural-histórica humana. Em resumo,
são estas características, determinações: 1) ser integrado, grupal, logo, o
simples (indivíduo) no complexo (comunidade); 2) ser mutualista, logo,
interconexões crescentes; 3) ser ativo, afirmador de si, trabalhador etc.,
logo, energia em busca de mais energia.
O inorgânico
é ser em si; o biológico, para si; o social, para outro. Mais profundo: o
inorgânico, em si; o biológico, em si e para si; o social, em si, para si e
para outro. O “para outro” significa também: 1) que ele se faz na experiência,
de algo alguém para outro alguém; 2) que é reconhecido pelo outro, 2) que é
solidário potencialmente ao outro. Em si, ser integrado; para si, ser ativo;
para outro, ser mutualista.
***
Em O Capital I, Marx toma nota:
Aplicado ao homem, isso significa que,
se quiséssemos julgar segundo o princípio da utilidade todas as ações,
movimentos, relações etc. do homem, teríamos de nos ocupar primeiramente da
natureza humana em geral e, em seguida, da natureza humana historicamente
modificada em cada época. Bentham não tem tempo para essas inutilidades.
O mouro faz uma crítica e aponta o
procedimento metodológico. No entanto, os marxistas
1) Confundem
natureza humana com personalidade;
2) Confundem
natureza humana com moral;
3) Enfim,
confundem “natureza humana em geral” com “natureza humana historicamente
modificada em cada época”.
O primeiro passo para avançarmos dar-se
por meio da teoria marxista da alienação. Em resumo, alienação é
1) Fragmentação
do homem, seu afastamento de relações plenas com a comunidade;
2) Domínio
do homem sobre o homem, a coisificação do semelhante (machismo, classes
sociais, homofobia, xenofobia etc.);
3) Exclusão
do homem de sua criatividade, capacidade singular da espécie, de imaginar e
colocar em prática de modo ativo.
Ou seja:
1) Separação
do homem da sociedade a qual integra;
2) Separação
do homem dos iguais, dos outros homens;
3) Separação
do homem de si próprio.[2]
Em duas sentenças de Marx: a
valorização do mundo das coisas em proporção à desvalorização do mundo dos
homens; humanização das coisas e coisificação dos homens.
Dada a base, basta-nos rastrear a
equação: se há alienação, há algo negado – algo alienado. Invertamos,
deduzamos: seria qual a solução da alienação, o inverso?
1) Integração
dos homens;
2) Relações
mutualistas;
3) Ser
ativo.
Estamos diante da essência biossocial.
E esta descoberta tem implicações sobre todas as ciências humanas, além da
psicologia.
Qual, portanto, a origem da natureza
humana? Dos primatas que desceram das árvores nas savanas[3]
até o homo sapiens sapiens ocorreu um longuíssimo período de formação da nossa
espécie por meio da seleção dos mais aptos à sobrevivência. Aqueles cujo perfil
facilitava a prática do que hoje é essência humana adquiriam probabilidade
maior de sobrevivência, perpetuavam-se[4].
Por isso, por história da humanidade devemos considerar, também, a história da
formação da nossa própria espécie, isto é, a importância da biologia na
formação do pensamento marxista. Resolvemos, então, a oposição sobre se a
essência é histórica ou natural. Assim, superamos o falso “historicismo” e a
tese pós-moderna de que tudo é – limita-se à – construção social[5].
É a formação do homem como formação do próprio homem, do orgânico ao social[6].
Em elaboração geral, a alienação ocorre
quando o mundo gerado pelo homem ganha autonomia frente a este e volta-se
contra ele – a criatura passa a dominar o criador. É preciso, pois, ver a
alienação como um fenômeno subjetivo, objetivo e intersubjetivo, assim como a
natureza humana – interno e externo ao indivíduo. Tem sua existência na
totalidade social e na psique. Destacamos aqui a psicologia por ser esta a
questão que esta ciência faltou resolver, a natureza humana, seja por ideologia
ou por pouco interesse pela filosofia marxista na ciência oficial.
No entanto, curioso o espanto causado
por esta exposição entre marxistas. Ficamos diante das observações: se a
natureza é apenas histórica no sentido dos modos de produção, o homem é de fato
adaptável – logo a alienação social não explicaria a onda de depressão e
suicídio? Se explica, há algo de fato negado. Se o homem é, em essência, apenas
o determinado pelo modo de produção, adaptar-se-ia às condições dadas sem
maiores prejuízos, senão físicos, pelo menos psíquicos. Por isso, uma resposta
própria do marxismo percebe contradição entre natureza humana historicamente
modificada em cada época e natureza humana em geral. Entre as tarefas dos
homens e mulheres no e rumo ao socialismo será resolver este problema objetivo.[7]
Mário Bunge, o menos limitado dos
filósofos oficiais da atualidade, socialista utópico que nada compreendeu do
método de Marx, assim expressa, de modo correto:
Estamos vivendo a década do cérebro.
Avança-se bastante, mas também ignora-se bastante. Não sabemos exatamente quais
são as partes do cérebro conscientes de si mesmas; mas acaba-se de descobrir
que dar traz muito mais prazer que receber, e que é o mesmo tipo de prazer que
sentimos ao comer algo saboroso. Descobriu-se também, que a desigualdade é
muito mais nociva que a pobreza. A desigualdade causa stress e este, por sua
vez, acarreta em uma superprodução de substâncias nocivas que destroem o
cérebro. Nos países mais igualitários, as pessoas são mais longevas. Os
costarriquenhos e os cubanos vivem muito mais que os norte-americanos. Ganham
muitíssimo menos, são muito mais pobres, mas vivem mais porque são mais
igualitários.
Complementamos que, socialmente, o
altruísmo, não significando necessariamente desprazer, pode ter na outra ponta
da relação um impulso egoísta de quem recebe a ação. Por isso mais correto é o
estabelecimento do mutualismo, que supera os opostos, como expressão categorial
da essência humana[8].
Vejamos o que diz Mèszáros:
Termos como malevolência, egoísmo,
maldade etc. Não podem existir sozinhos, ou seja, sem a contrapartida positiva.
Mas isso também se aplica aos termos positivos
desses pares opostos. Desse modo, não importa qual o lado adotado por um
determinado filósofo moral em sua definição de natureza humana como
inerentemente egoísta ou maldosa, ou altruísta e bondosa: ele acabará
necessariamente com um sistema totalmente dualista de filosofia. Não se pode
evitar isso sem negar que ambos os lados desses opostos são inerentes à própria
natureza humana. (Mészáros, A teoria da alienação em Marx, 2006, p. 151)
Ele Critica o kantismo, porém continua
preso à dialética kantista. Deve-se ver a unidade superante dos opostos, além
do desenvolver lógico e histórico das categorias. O nem positivo nem negativo
passa para o positivo e negativo, que são superados em um novo nem negativo nem
positivo. Assim, a negação prática da natureza humana levou a formar uma
oposição entre egoísmo e altruísmo, superada – suprassumida – pelo mutualismo.
Se o caráter comunitário, por exemplo,
é natural entre nossos primos evolutivos, ele salta de natural para social na
espécie humana. Tal mudança qualitativa de natureza é incompreendida. O aspecto
natural da espécie não é destruída mas suprassumida numa nova natureza, a
natureza humana[9]. É mais
do que o comunitário natural, sendo elevado, mais dinâmico e complexo, ao
social por meio do trabalho.
Se abstraímos as origens físicas, parte
significativa das doenças mentais possui origem na alienação, ou melhor, na não
satisfação da natureza humana. A solidão excessiva, por exemplo, degenera e
pode acarretar problemas como a paranoia, que expressa a necessidade de
interação. Essa observação simples demonstra a inerência de certas
características. Viver agrupado é mais do que uma vantagem evolutiva externa,
pois está instalada no aparelho psíquico como necessidade, como exigência a ser
satisfeita. O trabalho alienado, repetitivo e vazio de sentido, negação do
caráter ativo do homem, é outro exemplo de insatisfação, que estressa o
trabalhador.
A teoria unificada da psicologia é uma
tarefa por se fazer, no entanto muitos marxistas recuam. Não contradição na
relação entre as naturezas humanas geral e histórica é o que se pode concluir
de modo equivocado. É tarefa socialista desenvolver, na medida em que sua base
material amadurece, uma nova relação, ainda dinâmica, entre natureza humana e
sociedade e entre natureza humana e a superestrutura subjetiva (moral,
concepções, etc.)
À concepção neoliberal de natureza
humana – individualista, concorrencial e otimizador de bens – opomos outra,
esta sim assentada na mais avançada apreensão científica de nossa época,
corroborada pelas descobertas da ciência[10].
A concepção burguesa, sempre requentada, corresponde à imposição do mundo das
coisas sobre a psique, tem caráter empírico mas naturalizado, não histórico,
incorrespondente, também, com a história da formação de nossa espécie. Trata-se
de diferenciar o conjuntural do estrutural e de expor a contradição que daí
deriva.
Por seu lado, o falso “historicismo”
foi uma forma incompleta mas muito eficiente ao afirmar o homem, o caráter
social da espécie. O enfrentamento contra o darwinismo social puxou a balança
para o lado oposto. Agora devemos limpar caminho contra o determinismo genético
por outro meio: considerando o natural, o social e o “um no outro” entre os
humanos. As condições históricas, científicas e ideológicas permitem o avanço. Supera-se
a unilateralidade da observação focada exclusivamente num ou noutro polo, sendo
o polo determinante o social.
Apoiados na categoria trabalho como
categoria fundante do homem, podemos enfim superar a obra de Freud, que tem
resistido bem até aqui às duras críticas e elaborações alternativas. A
psicanálise, por não ter uma concepção própria de natureza humana, acaba
cedendo à visão oficial, o homem enquanto lobo do homem. Todas as versões
críticas anteriores sucumbiram e tomaram posição inferior no trato sobre a
psique porque falharam onde também a concepção freudiana falhou. Não mais se
trata de atualizar mas de ir além, suprassumir o legado psicanalista[11].
***
Vale o
alerta para evitar confusões. A base de nossa psicologia marxista, acima, nada
tem de derivação desde os princípios gerais, as três leis da matéria. Primeiro,
na pesquisa, as conclusões deram-se de modo separado e independente – apenas
depois apareceu o nexo interno de tais elaborações. O modo de exposição, por
outro lado, faz soar como se a exposição lógica e a própria lógica fosse outra.
Os princípio legais são resultado, não começo real na teoria – embora começo
real na realidade.
O SER E A
DIALÉTICA
Em outro
momento, iremos debater as três categorias centrais da dialética, que aqui
expomos de modo direto. Assim: 1) totalidade é integração, portanto o complexo;
2) o que está “por debaixo” da contradição e da cooperação, opostos, é a relação,
portanto interconexões crescentes; 3) o movimento e o automovimento apontam
para o espaço-matéria, portanto a energia em busca de mais de si.
Lukács
reclama de Hegel por este unificar ontologia (metafísica) e dialética, a
lógica. Fez-se, portanto, uma lógica ontológica ou ontologia lógica. Ora, uma
lógica correta deve corresponder à realidade, ao Ser e à essência. Nem mais nem
menos. As categorias de todo o Ser têm um desenvolvimento, uma razão de ser e
um modo de acessá-lo. O mundo não é puro caos, pois ele é categorial. O erro
seria separar a questão do Ser de sua logicidade, como mundos especializados e
separados.
Hegel,
assim, desceu a lógica ao chão. Cabe ao cientista e ao filósofo absorver a
lógica do concreto, do Ser. Além disso, descobrir e desenvolver novas
categorias, leis e relações categoriais, o que faremos em outro capítulo de
modo o mais completo e definitivo possível.
Toda
tentativa de tomar o Ser sem concretude, como o nada, parando aí, fracassa por
não ver que a coisa-em-si pura, sem suas propriedade, nada é – apenas existe
com suas propriedades mesmas.
O Ser,
ademais, apensas pode ser corretamente compreendido dialeticamente, por
exemplo, em seu movimento, em seu desenvolvimento, em seu avançar
contraditório. Em sua riqueza de determinações sintetizadas. Ser é totalidade
contraditória em movimento. Mas reconhecer a movimentabilidade é limitada, pois
ela pode ser tratada como ilusão, como apenas caos, como sem rumo e direção,
como o mero permanecer ou meroacontecer, como desenvolvimento limpo e linear
rumo ao progresso, como evolução sem revolução ou sem saltos de qualidade etc.
Em sua
Dialética da natureza, Hegel apresenta uma carta a Marx pedindo segredo
temporário de uma descoberta: a física e a química tratam do movimento da
matéria; a biologia, do movimento da vida; o marxismo, do movimento social.
Claro é, como ambos são hegelianos, que se trata de um movimento contraditório
em desenvolvimento de totalidades dinâmicas.
Tudo é história, não cansamos de repetir: o passado é a causa do
presente, vai-se do simples ao complexo, os processo macros são irreversíveis.
O “OUTRO
LADO” METAFÍSICO
Parmênides
dividiu o mundo em Ser permanente, perceptível apenas à razão, e não-Ser móvel,
empírico; depois, Platão separou o mundo entre o mundo da Ideia, das Formas, e
o mundo sensível, impermanente; em seguida, Agostinho separa a cidade de Deus,
fixa, e o mundo instável, a cidade dos homens. Apenas separam, sem unidade, ao
modo idealista. Nossa metafísica científica vê um colateral, um aspecto dentro
do próprio mundo, necessário se observamos o infinito (similar a um círculo sem
começo nem fim) no finito universo, a origem do movimento e do tempo, o valor
real invisível na economia e a energia em geral abaixo de suas formas
particulares – chegamos à quarta dimensão, não empírica, do espaço, dimensão
para dentro, para dentro de si. Assim, o “outro lado” típico do idealismo é, de
fato, um outro lado, a quarta dimensão espacial, responsável pela energia, pelo
tempo e pela infinitude. A teoria moderna exige e até intui a dimensão extra,
perceptível pelo trabalho teórico-filosófico. Talvez uma causa do movimento
eterno seja que a matéria, que aparenta possuir três dimensões, cai o “tempo”
todo na quarta dimensão como em si mesma, assim como a Lua está caindo sempre
na Terra por sua energia-massa-gravidade. Resolve-se o metafísico problema do
movimento e sua origem. Até aqui, a existência do “outro lado”, em duplo
sentido, sempre foi uma proposta do idealismo, não do então passivo
materialismo.
Um dos
momentos que facilitaram tal dedução, a quarta dimensão “espacial”, ocorreu ao
ler O Capital livro I, pois, após afirmar que podemos virar e desvirar a
mercadoria, mas nenhum átomo de valor encontraremos nela, Marx afirma: “O valor
do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias
coisas...” (Marx, O capital I, 2013, p. 170) Eis uma pista metafísica, ao mesmo
tempo sensível e suprassensível, como afirma o próprio alemão.
A causa
primeira do movimento é este eterno cair em si mesmo como na quarta dimensão, o
vazio infinito (a quarta dimensão do espaço é representada, incluso na
geometria, por números imaginários, como a raiz de menos um. Tal número
imaginário aparece aqui e ali nas equações, como na de geometria, substituída
pelo tempo por Einstein, e na equação de Schrödinger – mas eles tratam tal
presença como algo incômodo, um problema apenas, limitado ao formalismo
matemático.). A ciência moderna desde Galileu pensou o movimento como fato
dado, sem maiores explicações, como algo que simplesmente é, foi e será – de
fato, o estado natural é o movimento, não o repouso, diferente do que pensava
Aristóteles. Pousar-se é dissolver-se, desabar-se, diluir-se; desmanchar-se no
ar. Ao evitar as perguntas metafísicas, caíram em outra metafísica. Neste
ensaio, buscamos unificar as visões metafísicas, suprassumindo-as como unindo
as categorias da metafísica antiga (substância, conteúdo etc.) com a moderna
(massa, matéria, energia etc.), o que inclui o papel do espaço.
A divisão
metafísica de mundos na filosofia está lastreada na divisão social de classes. De
fato, o capitalismo está dividido em dois mundos, dos ricos e dos pobres. Na
geopolítica, fala-se em primeiro e terceiro mundos. Na filosofia antiga, quanto
à psicologia, o senhor de escravo filósofo pouco se movimentava, pouco
trabalhava, pouco agia; logo, por falta
de prática, de ação, de contato, de matéria – duvidava do estatuto real do
real.
METAFÍSICA
OU DIALÉTICA?
Engels
contrapõe a dialética à metafísica. Para ele, aquele foca no movimento e este
no estático; aquele vê o processo enquanto este a coisa. Mas a metafísica de
Aristóteles quer saber a origem e a natureza do movimento. Ora, a dialética é o
exato oposto da metafísica, mas os opostos têm uma identidade interna, logo são
também o mesmo; identidade da identidade e da não identidade. Por outro ângulo,
elas são iguais porque possuem os mesmos objetos de estudo – o mundo, o Ser e
as suas categorias.
Metafísica é
ir além, ou por debaixo, da física, das formas, ver o essencial da existência.
Associar tal matéria à religião é crítica vulgar do iluminismo ao mundo
medieval. De qualquer modo, devemos saber a natureza do movimento, algo ainda
não respondido dentro dos limites da ciência.
Temos, aqui,
a metafísica científica, projeto abandonado por Kant. Evitar a metafísica é
ceder lugar ao atraso religioso, que deseja ser a única visão geral de mundo.
Engels, um dos maiores gênios da humanidade, cedeu, sem perceber, ao kantismo,
contra a dialética, ao negar a metafísica materialista, dialética e objetiva.
O ABSTRATO É
O CONCRETO EM PROCESSO
A
investigação do movimento continua para reforçarmos nossas teses. A equação
categorial, ou qualitativa, acima, diz que o abstrato é o concreto em processo,
em movimento, em evolver, em devir. Na metafísica, o abstrato domina o
concreto. Aqui, isso é revelado pelo fator de igualdade e conversão, o
movimento. O concreto cai no abstrato, movimentando-se, como na quarta
dimensão, como queda em si próprio.
Tal fórmula
tem expressões mais diretas, em nível abaixo, como F=ma, força é igual à massa
vezes a sua aceleração, ou, também, E=mc2, energia é igual à massa vezes a
velocidade da luz ao quadrado. Nos dois casos o movimento, para nós, tem
importância ainda maior do que dada pelos físicos, nada tem de passivo. Pois a
“força” e a energia, típicas da quarta dimensão, em reação ao concreto, como a
massa-espaço, dão origem ao movimento. Na quântica, temos E=hv, energia do
fóton é igual à constante de Planck vezes a frequência da onda. O cálculo
clássico v=s/T pode ser expresso como T=s/v, tempo é igual ao espaço sobre a
velocidade. O momento linear é igual à massa vezes a sua velocidade, p=mv. Até
no cálculo de Einstein da massa relativística, que a massa ganha mais massa com
o aumento da velocidade, tem a sombra de nossa fórmula, com o movimento na
divisão como denominador:
Os exemplos
são muitos. Assim, demonstram tais casos, o abstrato, além de igual ao
concreto, também é equivalente ao processo; pois, por exemplo, o decaimento de
átomos gera partículas com massa (concreto) menor já que esta se tornou energia
(abstrato) em forma de maior velocidade (processo) – vemos aí também que
movimento = energia = massa-matéria etc.
A quarta
dimensão espacial, por ser a casa do infinito, não tem borda, limite, fronteira
ou outro. Está, assim, ao mesmo tempo dentro e fora desta realidade. Eis a
falha dos filósofos gregos ao saberem a origem do real e do seu movimento.
Quando Hegel
diz que o movimento é a unidade de espaço e tempo, deixa de perceber que o
tempo é o outro de si do espaço, a manifestação da quarta dimensão espacial.
No processo
caótico da pesquisa e do estudo, algo próprio do método dialético, que não tem
passo a passo, lidei com os vários fatores singulares, como as equações acima,
até que, por “acaso” tive a “sacada” ou insight quando reli um trecho de Marx
em O Capital, livro 2. Ei-lo:
O capital, como valor que acresce, implica relações
de classe, determinado caráter social que se baseia na existência do trabalho
assalariado. Mas, além disso, é movimento, processo com diferentes estádios, o
qual abrange três formas diferentes do processo cíclico. Só pode ser apreendido
como movimento, e não como algo estático. Aqueles que acham que atribuir ao
valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do
capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu). (Marx, O
Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
O valor
(abstrato) é o capital (concreto) em movimento (processo); ou melhor, o capital,
que não é coisa, abstrato, é o valor, que é material, concreto, em processo, ou
seja, valor “que valoriza a si mesmo” (processo). Assim, pretendo convencer os
marxistas da veracidade desta ideia – de seu ortodoxismo, além do seu valor
para todo o Ser – e do conjunto de nossa metafísica marxiana.
Vale como
nota notar que a mente, o ideal, a ideia ou a consciência (abstratos) não são
coisas, pois são, na verdade, resultado do cerebral e do meio (concretos) em
atividade (processos). É a busca do permanente, querer a repetição, na mudança[12].
O nada
(abstrato) é o Ser (concreto) no devir (processo), por exemplo. Em nossa
metafísica o espaço (abstrato) é a matéria (concreto) em movimento, em
decaimento, em dissolução de si (processo). A quarta dimensão, vazio infinito,
(abstrato) é o espaço (concreto) gerando movimento (processo).
Na
dialética, a verdade (abstrato) é o todo contraditório (concreto) em evolver
(processo).
Uso os
vários sentidos de abstrato, de concreto e de processo. Mas duas observações
precisam ser feitas. Primeiro, para Hegel, a verdade é o todo, logo uma fórmula
do tipo “isto é aquilo”, torna-se algo limitado, verdadeiro e falso. Mas, aqui,
ainda respeitando o limite hegeliano, dizemos “isto é aquilo no processo”, de
maneira superior. Por isso, ainda assim, não usamos a equação qualitativa como
chave fácil para todos os detalhes da grande obra marxista. Segundo, ainda para
Hegel, uma equação particular, como a da gravitação, não pode ser elevada à
teoria de tudo, à teoria geral, universal – exato por ser particular, estar ao
lado de outras leis, equações etc. Mas as categorias que usamos – abstrato, “é”,
concreto, processo – têm tendências gerais.
Por fim,
mais um exemplo: massa (abstrato, propriedade) é energia (concreto) em forma de
movimento (processo) – como a massa do próton ser suas partículas internas em
agitação.
As três leis
da metafísica materialista, já tratadas:
ABSTRATO (geral) – |
CONCRETO |
PROCESSO |
Ser |
Energia |
Em busca de mais de si |
Ser |
Do simples ao concreto |
Ir-se |
Ser |
Interconexões |
Crescentes |
O mesmo vale
para outros modos de ser do Ser:
Ser |
Espaço |
Condensado, por |
Ser |
Totalidade contraditória |
Em devir |
Ser |
Geográfico |
E histórico |
Ser |
Espaço-matéria |
Cuja unidade produz movimento |
Ser |
Matéria |
Sob trabalho e produção |
Ser |
Matéria |
Formada, formatada |
Ser |
Realidade |
Em desenvolvimento contraditório |
Ser |
Infinito |
Que se expressa no tempo |
Ser |
Finito |
Posto pelo infinito |
Ser |
Ordem |
Dinâmica, em processo, dotada de caos |
A descoberta das equações
qualitativas demonstra-se muito frutífera.
O ABSOLUTO
Aqui,
pretendemos fundir os opostos eleatas e jônicos. Hegel, idealista, pensou o
absoluto como o Espírito, que sai para fora de si mesmo como natureza; na
economia, Marx, materialista, pensou a substância valor. Nós pensamos em
energia, ou melhor, no espaço-matéria. Os antigos pensavam do que o mundo é
feito como, por exemplo, água ou ar, pois são simples, transparentes e
abundantes. O que é mais simples, mais vazio, com menos determinações? Ora, o
espaço é isso. E, com a quarta dimensão, ele põe categorias-determinações em si
próprio como o da infinitude. Vejamos como o espaço tem os atributos dados a
algum Deus:
Esta extensão infinita e imóvel (que é percebida
tão seguramente na natureza das coisas) não tem só a aparência de algo real
(que comentaremos adiante), mas também de algo divino, quando enumeramos os
Nomes divinos ou atributos que lhes convém exatamente, os quais darão ainda
mais razões para crer que ela, com tantos atributos notáveis, não pode ser
nada. Tantos são os que pensam assim, que os Metafísicos a assimilam ao
Primeiro Ser: Uno, Simples, Imóvel, Eterno, Completo, Independente, Existente
por Si, Subsistente por Si, Incorruptível, Onipresente, Incorpóreo, Aquele que
Penetra e Envolve Tudo, Ser por Essência, Ser em Ato, Ato Puro. Pelo menos
vinte atributos existem para designar habitualmente a Potência Divina, e todos
convêm perfeitamente a esse Lugar infinito interior que demostramos existir na
natureza das coisas; sem esquecer que ela, a Potência Divina, é chamada pelos
cabalistas de “makom”, ou seja, lugar. (More apud Jammer, Conceitos de espaço,
2009, p. 73)
Ele, assim,
ESTÁ no MEIO de nós… – E a verdade ESTÁ no MEIO.
Pelo menos
em nosso universo; o princípio, o absoluto, a essência não é o primeiro no
tempo, mas primeiro ontologicamente, ou seja, a matéria-luz decai em espaço. Tudo
é espaço concentrado. O espaço é a transparência transparente. O absoluto, dito
de modo hegeliano, é resultado.
O meio é o
meio – também. A física moderna diz que a luz enquanto onda precisa de um meio
que seria um campo próximo; cada tipo de partícula e matéria com seu próprio
campo. Nesta obra, colocamo-nos contra a posição majoritária, pois, como a
matéria, a luz e o espaço são o mesmo, sendo ainda diferentes, a luz, por
exemplo, se propaga no espaço, não num campo. O chamado campo nada mais é que espaço
condensado, a partícula ou a onda faz o campo correspondente e próximo por ser
espaço concentrado, para dentro de si.
Bohm, o
físico dialético, afirma:
Ainda não se pode dizer que tenha sido exaurido o
problema de qual meio material, se há algum, transporta o campo eletromagnético. (…) Em vez
disso, simplesmente se supôs a existência de campos, sem referência direta à
questão de se o éter existia ou não. (…) levado adiante por Einstein e hoje
sustentado pela maioria dos físicos
Para
Einstein, tudo poderia ser reduzido a campos que permeiam todo o universo. Para
nós, tudo é reduzível ao espaço ou espaço-tempo. Quando a ideia de éter
enquanto meio caiu, criou-se a gambiarra teórica do campo; mas, se usarmos a
velha navalha, o conceito de espaço pode cumprir tal função. Por exemplo: a
expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia para o vermelho. O
espaço não é barreira para luz, é "transparente", porque a luz é o
próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da luz não é a
sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que são o mesmo,
um identidade interna. O meio é o fim.
O abstrato é
o concreto em processo – a realidade é a substância em autorrelações. O espaço
(abstrato) é as partículas (concretos) em relações. O decaimento dos átomos
primordiais produziu o espaço – nesse sentido, lógico, o espaço-substância
(abstrato) é-são as partículas-acidentes(s) (concreto) em processo, em
decaimento (movimento). A substância espaço é as partículas em (auto)relações,
em processo.
A VITÓRIA DO
MATERIALISMO
A filosofia
grega já se inicia materialista, rompendo como a mitologia enquanto explicação
válida. Mas o idealismo de Platão e Aristóteles, com muitos outros como os
pitagóricos, tomaram o papel mais ativo e criativo – o idealismo vencia todas
as disputas. Platão propôs que os escritos do materialista Demócrito fossem
destruídos; logo vemos que a corrente concreta contra a ideal sempre passou por
marginalidade como ocorre hoje com o materialismo marxista. Hoje, na física
quântica, surgiu a hipótese absurda de que a realidade não em existe por si,
mas para nós. Para nossa alegria, tal hipótese não é majoritária.
Em resumo
extremo, o idealismo diz que as ideias fazem a realidade, incluindo um mundo
das ideias ou um céu místico etc.; o materialismo, ao contrário, diz que a
matéria faz a ideia, e esta é uma forma bastante desenvolvida da matéria, ou
seja, a cabeça segue o chão que os pés pisam. Para Marx, o campo das ideias,
por ser material para ele, não é passivo, pois a criatividade, a decisão, a
disputa de consciências também importam.
O início da
ciência atual teve de afirmar-se perante a visão de mundo medieval, da Igreja.
Para isso, para atender a demanda por novos conhecimentos, formaram-se duas
teses de mediação: 1) conhecemos Deus por suas obras, logo conhecer a natureza
agrada a Ele (Aquino); 2) o “como” funciona o mundo deve ser interesse da
ciência, mas o “porquê” ele assim opera deve ser obra da religião (Belarmino).
Para sobreviver e prosperar, os cientistas absorveram como parte de suas
personalidades tais resoluções. Por outro lado, muitíssimo mais fácil ver as
regularidades, as repetições, o “como” do que o “porquê” tudo é de fato tal
como é.
Até o gênio
Feynman, no século XX, coloca-se contra a filosofia e a busca da razão de ser
das tantas leis descobertas:
Outra coisa que pode acontecer é que, afinal, caso
tudo venha a ser conhecido ou se torne muito sem graça, desapareça gradualmente
a atenção que se dá a essas coisas sobre as quais falei. Os filósofos, que
estão sempre de fora fazendo observações estúpidas, poderão se aproximar,
porque não poderemos empurrá-los, dizendo: “Se vocês estiverem certos,
poderíamos encontrar leis ainda desconhecidas.” Quando todas as leis forem
conhecidas eles terão uma explicação para elas. Por exemplo, há explicações
sobre a razão de o mundo ser tridimensional. (…) Se tudo for conhecido, haverá
alguma explicação de por que essas leis são certas. Mas essa explicação estará
num contexto que não poderemos criticá-las, argumentando que este tipo de
raciocínio não nos permite avançar. Haverá uma degeneração das ideias, do mesmo
tipo que os grandes exploradores sentem que ocorre quando turistas começam a
chegar a uma região.
Ele, sem
saber, estava sendo colonizado pela religião, que manda a ciência evitar os
assuntos de maior profundidade, da razão de ser do mundo.
Daí vem,
também, a tradição de igualar a metafísica e o misticismo, a religião, ao
anticientífico; até marxistas caem nesse engano. Para Martin Heidegger,
metafísica é saber porque há algo (e o Ser) em vez de nada; para Aristóteles, o
estudo metafísico é a filosofia primeira, por que o mundo é assim, qual e se há
a causa do movimento, qual a natureza essencial da realidade. Quem é contra
tais metas científicas e, ou seja, metafísicas? Toda escola de ciência adota
alguma variante metafísica, mesmo que não tenha disso consciência.
A segunda
grande vitória do materialismo é a descoberta de que os átomos são partes
vitais da existência, que há partículas fundamentais. Para os atomistas, as
partículas tinham apenas substância, forma e grandeza; depois, Platão supôs,
com algum exagero, que cada elemento básico – fogo, terra, ar e água – tinha
uma forma peculiar de esfera, como a esfera do fogo ser formada por triângulos,
figura mais semelhante a uma chama. Hoje, teoriza-se as pequeníssimas cordas
vibrantes e de modo variado articuladas, fechadas ou abertas etc., com 11
dimensões, como hipótese (teoria das cordas) para a forma real das partículas.
Tanto ontem como hoje, faz-se ao mesmo tempo ciência e filosofia; a diferença é
que hoje temos mais ferramentas, como a complexa matemática moderna. De
qualquer modo, acrescentamos, os átomos são acompanhados por ondas. O atomista
Demócrito disse que apenas há o ser (átomo) e o vazio (não ser); além disso,
afirmou que o ser vem do não ser! Hoje, sabemos que fótons e partículas
virtuais surgem do “nada”. Mas, para nós, o não ser, ou nada, ou vazio é o
próprio espaço, com existência ontológica.
A terceira
vitória do materialismo ainda está incompleta. O Big Bang foi o começo de tudo?
Então, Deus pode ser a sua causa primeira, o primeiro motor. De qualquer modo,
discordamos, o que teria criado Deus já que tudo tem uma origem? É chegada a
hora de substituir tal teoria por uma que a mantenha viva, mas superada, como a
concepção de que o universo ora expande-se e ora contrai-se. Sobre a primeira
vez que isso aconteceu no passado, veremos em outro momento; antecipamos que a
quarta dimensão põe o finito universo nosso.
A quarta
vitória é a teoria da evolução e a genética. Antes, Platão e Aristóteles
pensavam haver um conceito por detrás da realidade, uma ideia. Parece evidente:
um filho é como seus pais, logo deve haver um texto fixo, mas ideal, dando
forma àquela matéria. A genética pousou tal concepção no chão da realidade;
temos os genes, o DNA e o RNA. A vida, de fato, possui informações básicas e
faz cópia delas; mas isso de modo materialista, não idealista. Além disso, as
cópias podem ser imperfeitas, levando a diversificação de espécies por seleção
dos mais aptos a sobreviver.
A quinta
vitória é o marxismo, a concepção materialista da história. Por não ser o foco,
apenas indicamos o grande acerto. O homem precisa produzir para se reproduzir,
logo trabalha de certo modo e, por isso, com certa organização social.
A psicologia
moderna, como Freud, Wallon, Piaget etc., além da neurociência e da
psiquiatria, reforçam o aspecto psíquico como material, como ligado ao meio e à
experiência, ademais também ativo. A busca do prazer e, em especial, do sexo,
move a psique humana de modo singular. Nenhuma alma, separada, existe para além
da complexa organização cerebral.
Toda
anticiência, ligada à religião, procura atacar tais vitórias. Os religiosos
dizem que a Terra é plana, que a descoberta dos dinossauros é uma farsa, que
Darwin e Marx são satanistas, que há um Design inteligente na natureza, que
Freud faz pseudociência ou é um tarado, que é absurdo o universo surgir de uma
“explosão”. No fundo, estão negando a história universal.
Uma ciência
correta causa espanto, muitas vezes positivo, e também uma negação desesperada
contra suas ideias. Isso é próprio quando alcançamos um grande nível de
verdade. A teoria de Darwin e a moderna biologia foram atacadas porque feriam
de morte a religião. A teoria marxista foi negada com violência por religiosos,
pelos ricos e pela classe média desejante de ser burguesa numa sociedade que
não é a forma eterna, mas transitória. A teoria de Freud foi negada pela prisão
mental de muitos, incapazes de aceitar sua própria mentalidade, além de ir
contra a religião ao afirmar o sexo com sua grande importância. A teoria de
Einstein derivou a teoria do Big Bang, além das modernas teorias do universo,
para desespero de cientistas e professores ligados à física clássica e da
religião com sua noção de mundo teísta, com um criador.
O
socialismo, se vencer, ao dar razão a Marx e Engels, colocará o materialismo no
seu devido lugar, no auge da cientificidade.
ANTINOMIAS
DE KANT CONTRA O MATERIALISMO
Kant, o
organizador e o desenvolvedor do senso comum, apresentou ataques contra o
materialismo, suas famosas antinomias, que são teses opostas que parecem ambas
verdadeiras. Vejamos como nossa concepção, espaço = matéria etc., resolve isso
nas questões físicas.
1. O universo é finito ou infinito no espaço e no
tempo?
Ora, a
quarta dimensão, responsável pelo infinito do finito é para dentro, para dentro
de si – o finito é uma parte de dentro do infinito (Hegel), o infinito é como
um círculo (Hegel) sem começo e sem fim – não como uma linha reta que pode ser
sempre maior – no espaço e no tempo, sem borda. O infinito “circular” exige
quarta dimensão.
O próprio
espaço e talvez o tempo são finitos porque têm origem e desenvolvimento,
história. Em três dimensões mais o tempo o universo é finito, mas a infinitude
real, qualitativa e intensiva no lugar de quantitativa e extensiva, não tem
começo nem fim.
2. A matéria é ou não divisível ao infinito?
A matéria
apenas é estável sob certas proporções, do contrário, decai em outras
partículas. Se dividirmos as partículas ao “infinito”, logo as dissolveremos em
espaço, pois este é o mesmo que a matéria, pois esta é espaço condensado. O
espaço é o átomo.
Hegel diz
que o contínuo é os discretos (partículas etc.) juntos, reunidos. Assim, o
espaço poderia ser feito de partículas de espaço, mas ligados e unificados,
formando algo como um tecido. Por outro lado, demonstraremos que as partículas,
unidas, uma apenas no princípio, decaíram em espaço, continuaram unidas umas
com as outras via espaço. Assim, de imediato, sem a história, o contínuo, o
espaço, forma as partículas, que são espaço condensado – embora na história do
nosso universo tenha ocorrido o oposto, as partículas (discretas) decaíram em
espaço (contínuo). O contínuo, espaço, faz o discreto, partículas, assim como
os discretos, partícula(s), fazem o contínuo, espaço. No próximo capítulo,
apresentaremos uma proposta de espaço contínuo e discreto ao mesmo tempo por
diferentes ângulos.
3. Há ou não uma causa primeira?
O espaço é
causa sui, causa de si mesmo, automovente, logo substância, contanto que
mantenhamos a pluralidade (energia, movimento, tempo, matéria etc.). Junto
disso, temos a quarta dimensão espacial, provável causa do movimento. Hegel
disse que a causalidade é recíproca, causa torna-se efeito e vice-versa, o que
apenas encaminha a solução.
No vazio
infinito inexiste tempo e espaço em si, por isso nem causalidade. Kant afirmou
nossa impossibilidade de pensar o absoluto, por nossa limitação mental. De
fato, nossa mente é feita para lidar com nossa realidade, nosso universo. A
noção de espaço e tempo de modo algum é a priori, mas uma adaptação ao real que
tem o próprio espaço-tempo. Mas podemos entender o absoluto de modo indireto,
com metáforas e analogias – e por conceitos, categorias sem a imagem limitada.
Assim, o infinito hegeliano é simplesmente o infinito, mas podemos facilitar
sua compreensão por meio da imagem do círculo sem início nem fim, envolto em si
próprio – produzindo o finito de si, dentro de si, desabando-se em si mesmo.
O problema de
se existe ou não uma causa primeira falha porque pensa que uma coisa ou fato
produz outra coisa ou outro fato apenas. Em verdade, a ideia de causa primeira
leva a que a primeira causa e o primeiro efeito não vêm da parte, de uma coisa
que passa para outra particular, mas da totalidade vazia. Toda a causa no todo.
É o infinito vazio como totalidade que produz o início, a primeira causa.
O infinito,
quarta dimensão, desaba para dentro de si no finito, mas a causalidade parcial
aparece como um movimento para fora, não para dentro, expansivo e não
intensivo.
A ideia de
fato ou causa singular originar outro fato ou causa singular é espaço-temporal.
Digamos de outro modo: a totalidade vazia do infinito antes do universo era
puro caos, sem causalidade; e não tendo lei alguma, teve a lei do caos, de si,
de passar a si mesma para a ordem, o nosso cosmos com espaço-tempo e
matéria-luz – por não se suportar, por se autoanular. Assim, a primeira causa
ao mesmo tempo não é uma causa, mas fruto de um sistema não sistemático, puro
de acasos e aleatoriedade caso possamos expressar o antes de tudo de tal modo
por aproximação. O acidente ou o acaso é uma causa acidental, uma concessão da
probabilidade.
Os gregos
antigos imaginaram que o universo era puro caos (material), então um deus o
organizou, produzindo a ordem cósmica. Para nós, o caos vai a si próprio, sem
um artesão, para a ordem. Em nosso tempo, Husserl, inspirado por Hegel, pensou
o zero como relação do zero do conjunto infinito com o (mesmo) zero do conjunto
vazio que desaba, por isso, no um. Pois bem; o mesmo deve ter valor na
realidade, como fundação do universo, a autorrelação do vazio infinito, do
vazio com o seu infinito, desabou na primeira geração universal, no finito não
vazio.
4. Há liberdade humana ou apenas leis rígidas,
causais, do universo?
Com a física
quântica, redescobrimos o que já Marx sabia, a existência é a fusão de ordem e
caos, de necessidade (determinismo) e, dentro de si, acaso ou contingente – na,
afirmamos, probabilidade. Para Hegel, liberdade é reconhecer as necessidades,
como as necessidades históricas. Marx diz que o trabalho é o reino da
necessidade no socialismo que sustentará e dará base para o reino da liberdade
no cotidiano. A necessidade é a base da liberdade parcial ou plena. Tal
antinomia é mais própria do homem, da humanidade; mas dá oportunidade para
debatermos de modo mais amplo.
Lukács
afirma que liberdade é uma categoria apenas social, humana. Com o avançar da
história da humanidade, com o aumento da produtividade do trabalho, o homem é
cada vez mais livre, mais individual, com mais opções.
Vejamos uma
nova conclusão, própria. Em primeiro lugar, a liberdade é objetiva, não
subjetiva. A realidade dá opções, tem opções para si própria. A liberdade
subjetiva é tomar a decisão para a qual já tem uma inclinação natural – a
liberdade de fazer valer sua necessidade. Se o mundo não oferece a opção
típica, de acordo com a personalidade, ou perfil natural, logo se pode escolher
entre as opções que melhor expressam o determinismo no ser livre. Aí está o
núcleo das soluções dessa polêmica, pois a liberdade é objetiva, do próprio
real, antes de ser subjetiva e a confusão se dá por pensar o contrário ou
desaperceber um dos polos. Mesmo quando há apenas uma opção, um “o quê”, então
“o como” irá se efetivar está em jogo. Assim também, fundindo de fato liberdade
e necessidade, superamos visões substancialistas e relacionalistas unilaterais
sobre a liberdade. Temos a liberdade dialética.
Nem Hegel
nem Marx e Engels atacaram de modo completo e de frente a parte física, não
social, do problema das antinomias. Com imensa dificuldade poderiam fazê-lo,
caso fosse possível, pois a ciência ainda não havia dado as pistas necessárias.
Percebemos que as perguntas de Kant, antinomias, estavam erradas, escondiam
armadilhas na aparente obviedade, então exigiram esforço histórico e trabalho
para desembaraçar os problemas. Por exemplo, se há apenas causalidade ou também
liberdade humana oculta que a liberdade pode ser objetiva, não “humana”, do
real; se há ou não primeira causa oculta que a causa primeira não é coisa ou
fato primeiro, mas uma totalidade, o vazio infinito, quarta dimensão, que
desaba sobre si – indo para dentro como se para fora.
Em resumo,
primeiro, a dialética é considerar que uma afirmação e sua oposta são ambas
verdadeiras, como a primeira causa ser também um acaso, como termos o
determinismo da liberdade, como o universo ser finito no espaço mais o tempo
estando por dentro do infinito; em segundo, se a verdade está também na
afirmação oposta, as duas afirmações são ao mesmo tempo verdadeiras e falsas,
pois elas são parciais e unilaterais ao excluir a outra e o todo; isso
significa, terceiro, que são, também, nem verdadeiras nem falsas.
Em
complemento, segundo aspecto, Kant ainda afirma: há três conhecimentos
impossíveis – a alma (psicologia), o mundo (cosmologia) e Deus (teologia).
Vejamos um por um.
1. Alma (psicologia)
A alma
enquanto psique era uma ciência quase nula na época de Kant, mas o século 20
operou uma verdadeira revolução, desde Freud, nessa matéria. Nós temos, hoje,
altíssimo conhecimento do espírito humano, faltando apenas uma teoria
unificada, mais fácil de produzir.
2. Mundo (cosmologia)
Com Newton,
soubemos como atua a gravidade, mas não o seu motivo. Ele disse, sobre isso,
que “não elaboro hipóteses”. Assim, usou o conceito de força, mas de maneira
parcial, para dar lógica às suas descobertas; mas também considerava duvidosa a
gambiarra teórica da força como conceito. Desse tipo de situação, Kant pensava
que apenas podemos saber do fenômeno do mundo, não do mundo ele mesmo ou seu
“númeno”. Mas Einstein, além de tantas contribuições, chegou à coisa em si da
gravidade, que ela é uma curvatura do espaço-tempo, não uma força, causada pela
massa-energia[13].
Mais uma vez, o kantismo cai por terra.
3. Deus (teologia)
É impossível
conhecer Deus porque ele não existe. O mais próximo disso é o infinito como
quarta dimensão espacial, sem começo nem fim, em automovimento, sem imite nem
borda, fundante do nosso universo finito e de seu movimentar primeiro; mas que
não é separado de nosso mundo, pois está como se dentro dele, apenas
relativamente separado.
O Deus real,
material, de nossa época, o dinheiro, foi devidamente exposto e conhecido, além
de reconhecido, por Marx, em O Capital. O valor invisível, que busca mais de
si, causa de si mesmo, substância, tornou-se visível por meio da teoria.
Kant ainda
apresenta um terceiro aspecto contra o materialismo: as categorias são mentais,
para dar sentido à realidade, não reais. Mais uma vez, Einstein deu uma
contribuição enorme; pois, para o kantismo, espaço e tempo são ideias do
pensamento, mas o físico moderno demonstra que o tecido espaço-tempo existe,
há. O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma
verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan
demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física.
Até hoje, os
físicos e os químicos consideram que energia é um conceito necessário, mas que
ela não existe, porque não diretamente observável. Os conceitos necessários são
o que são por serem objetivos, por existirem no real. Idealistas como Hegel
pensavam o átomo não existia, embora fosse um conceito, porque era impossível
de ver um. Ora, Einstein – de novo! – demonstra que o movimento aleatório de um
pólen sobre uma poça de água, movimento browniano, somente é explicável se a
realidade for constituída por átomos. O mundo atómico é, considerado aí a onda,
muito mais que apenas ideal.
Devemos
considerar a “crise categorial”, que pode ocorrer no campo das ideias ou a
crise daquilo que uma categoria expressa. No caso primeiro, a categoria
“força”, usada de modo amplo e absurdo como criticou Engels, entra em crise e
desuso, de início por meio de Einstein ao demonstrar que a gravidade não é
força e sim uma curvatura do espaço-tempo por razão da energia-massa. Energia e
campo aposentaram e ainda aposentam a força como conceito; e este livro reforça
isso demonstrando que as “forças” fundamentais são campos do espaço condensado.
GNOSIOLOGIA
OU ONTOLOGIA?
Kant afirma
que devemos antes refletir sobre nossa capacidade de conhecer para determinar
os limites dele. Ora, Hegel reponde: aprendemos a nadar nadando, sabemos se
somos capazes de aprender a nadar tentando, ou seja, sabemos os limites de
nosso conhecimento tentando conhecer a realidade, não com reflexões abstratas.
Pelo menos a
maior parte dos limites do conhecimento são históricos, não cerebrais. Ideias e
provas viváveis hoje na ciência eram inviáveis aos gregos antigos. Até certas
teses apenas podem surgir hoje, não na antiguidade.
Há, no
entanto, dois candidatos a limites de nosso conhecimento. Primeiro, na física
quântica, nós podemos saber ou a posição da partícula ou sua velocidade, ou um
ou outro, o princípio da incerteza. Segundo, buracos negros não permitem sequer
à luz escapar de si, assim não temos seu externo do interno, não temos dados.
No segundo caso, talvez simulações de supercomputadores nos salvem.
Há ainda
outro fator histórico que impede o conhecer – a posição de classe do cientista
ou sua posição diante do mundo. Nunca um economista defensor do capitalismo
chegaria às conclusões profundas de Marx em O Capital, mesmo se honesto e
rigoroso. Isso tem um reforço estrutural da psique, pois uma vida mais dinâmica
e com stress relativo leva a ser mais produtivo intelectualmente, como a
macieira produz maçã quando sente-se ameaçada[14].
Enfim, a
ontologia é a prioridade do objeto, não a prioridade do sujeito do conhecer,
pois é ir até o mundo. A prova de que podemos conhecer o real é que podemos lidar
com ele na prática. A ontologia tem uma gnosiologia sua, derivada e, por assim
dizer, instável, móvel.
Se há
limitação ao saber, será uma limitação dada pela realidade externa, não ao
sujeito pesquisador como pensava Kant – mas até isso, mesmo que provado por
algum tempo, pode ser derrubado pela evolução posterior da ciência.
No mais, a
ontologia madura não deve significar um sujeito científico passivo, que apenas
se adapta ao objeto ou que apenas colhe os dados e os organiza, como se fosse
mero espelho. Para, por exemplo, deduzir, precisa-se de um sujeito ativo,
criativo, ousado. Como a Terra em seu sistema, o sujeito gira em torno do
objeto e, também, em torno de seu próprio eixo.
MATERIALISMO
OU IDEALISMO?
Grosso modo,
o idealismo é afirmar que a ideia e seu desenvolvimento faz a realidade
enquanto o materialismo, oposto, afirma que a realidade, a matéria, faz o
pensamento. Marx adota a segunda posição, às vezes de modo muito intenso. Mas o
mais correto é dizer: o marxismo é a fusão de idealismo e de materialismo num
terceiro, o terceiro excluído incluído. É verdade que a matéria faz, primeiro,
a ideia, mas, sendo a ideia uma forma toda especial e mui complexa de matéria,
ela tem uma autonomia parcial, relativa, além de ser trabalho, de ser produtiva
(cérebro) – a ideia, a idealidade, também afeta o mundo, em principal o social.
O polo determinante dessa unidade é o materialismo, mas não de modo mecânico,
unicausal, sem mediações (ele se medeia, no externo, consigo mesmo como se com
outro, outro de si). Por isso fazemos de fato nossa história, pessoal e social,
mas sob dadas condições materiais. O marxismo supera a oposição unilateral
entre materialismo e idealismo, conclui a história da filosofia.
Vale uma construção lógica. Na lógica
aristotélica, A = x ou não-x, sem terceira resposta, sem um terceiro, que é
excluído – ou materialismo ou idealismo. Na velha dialética, existe a verdade
exato nesse terceiro, que passa a ser incluído. Mas o terceiro costuma não ser
nomeado, “entre” o relativo e o absoluto, podemos apenas aproximar com o
relativamente relativo; “entre” o materialismo e o idealismo não há, também,
nomeação. Na nova dialética, mantendo em pé a velha, x vai até não-x em “A”.
Assim, o materialismo em autodesenvolvimento constrói o ideal, o idealismo, sem
deixar de ser o “material” o verdadeiro motor primeiro e o centro, a verdade.
Esse caminho do materialismo para o idealismo relativo é o caminho da
sociabilidade cega existente até a sociabilidade organizada e planejada,
central e democraticamente, no socialismo, quando a ideia fazer a matéria
ganhará mais peso, ainda subordinado ao polo oposto unilateral, o materialismo.
O terceiro, que supera o materialismo e o idealismo, desenvolve-se,
dinamiza-se. O idealismo (abstrato) é o materialismo (concreto) em
autodesenvolvimento (processo).
Eis nossas conclusões, um novo marxismo.
Mas precisamos limpar o terreno para ganhar outros marxistas para nossa
concepção. O velho Marx, d’O Capital, adotou o materialismo “duro e rígido”.
Após elogiar muito um dos seus críticos, ele cita um comentário à sua obra, que
diz:
Para
tanto, é plenamente suficiente que ele demonstre, juntamente com a necessidade
da ordem atual, a necessidade de outra ordem, para a qual a primeira tem
INEVITALVELMENTE de transitar, sendo ABSOLUTAMENTE INDIFERENTE se os homens
acreditam nisso ou não, se têm consciência disso ou não. (…) Se o elemento
CONSCIENTE desempenha um papel tão subalterno na história da civilização, é
evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização está
impossibilitada, mais do que qualquer outra, de ter como fundamento uma forma
ou resultado qualquer da consciência.
Segundo o próprio Marx, o comentador foi
preciso, exato:
Ao
descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método, bem como a aplicação
pessoal que faço deste último, que outra coisa fez o autor senão descrever o
método dialético? (Idem, p. 90)
O trecho tem outros pontos semelhantes
ao exposto. Ademais, para Marx, a vontade do capitalista não é a vontade dele
próprio, mas do capital impessoal, que se expressa no indivíduo.
O jovem Marx, em textos não publicados
em especial, ao menos esboçou nossa concepção. A posição materialista
unilateral é substancialista; a idealista, relacionalista. Em outro capítulo,
demonstraremos que Marx pendula entre a concepção de substância e de relação,
apesar de sua revolução teórica-metodológica e resolver várias oposições entre
esses dois pontos de partida.
A velha geração marxista afirma que
tentar antecipar aspectos gerais do socialismo, mesmo durante o ocaso maduro do
atual sistema, trata-se de idealismo… Mas o ideal importa, a arte marxista é,
também, prever, uma historiografia do futuro possível a partir das bases
materiais presentes.
O materialismo focou no aspecto animal
do homem; o idealismo, na sua diferença para com os demais seres
A própria realidade quebra-se em
materialismo e idealismo. Materialismo – trabalho manual; idealismo – trabalho
espiritual, intelectual. Como a verdade é o todo, a realidade supera e abarca
ambos.
A verdade supera e funde o materialismo
subjetivo e o idealismo objetivo.
A LIBERDADE
OBJETIVA OU DIALÉTICA
Outra entre
as grandes questões da psique é sobre se somos subjetivamente livres ou não –
há ou não liberdade? Há livre arbítrio? Se há, de que tipo é ela? Vejamos em
alguns de nossos mestres, antes de oferecer uma nova resposta.
Kant
Ele produz
uma das quatro antinomias suas, que serão resolvidas nesta obra, perguntando se
1) a realidade inteira, incluso nosso pensamento, segue a causalidade, a
necessidade, causa e efeito ou 2) há ao menos também liberdade humana. Ele não
responde e considerava uma questão irresolvível. Antes de chegar a uma
conclusão, vejamos como outros tentaram solucionar a pergunta.
Hegel
Ele oferece
pelo menos três respostas sobre a oposição liberdade-causalidade.
Primeiro, a
liberdade é reconhecer a necessidade. Por exemplo, respeitar as leis e as
tendências da história. Um divulgador marxista afirmou que o animal tem a opção
de evitar o fogo, sua liberdade de não se queimar é uma necessidade. Um burguês
tem a liberdade de seguir a luta por mais lucro, embora possa escolher ser
mendigo, ou seja, prejudicar-se.
Segundo,
Hegel afirma que o uno, o um, o indivíduo, parece afirmar-se ao isolar-se do
conjunto (muitos, múltiplos), mas isso é sua destruição. Então, apenas se pode
ser livre e individual em comunidade. Assim também, um átomo é instável
energeticamente quando isolado, por isso deve ligar-se a outros átomos,
formando uma molécula, para ganhar estabilidade.
Terceiro,
ele funde causalidade e liberdade afirmando a interação dos corpos, dos
acidentes, das partes de um todo. A causalidade é recíproca, pois uma parte age
sobre outra parte, e esta, vice-versa, também faz o mesmo. Mas todas as partes
de uma totalidade, sendo causa e efeito ao mesmo tempo, pertencem uma única
substância comum, que está no fundo, no fundamento (necessidade). As partes do
todo-substância aparecem, de modo externo, umas independentes das outras, e o mesmo
ao contrário, são fora umas das outras, apenas interagindo (liberdade). Mas
essas partes são também o mesmo, uma mesmidade, pois são uma substância apenas.
Marx
No final de
O Capital, Marx afirma que no socialismo a produção será o reino da necessidade,
onde o cidadão trabalha, mesmo que apenas jornada curta de 2, 3 ou 4 horas
diárias. O que é produzido de modo organizado permitirá o reino da liberdade,
fora da fábrica, quando nos dedicaremos à arte, à família, ao ócio etc. Como
sabemos, tudo que puder ser robotizado, automatizado, informatizado o será, o
que reduzirá com toda força o tempo de trabalho ou de serviço – o trabalho
manual será superado, mesmo que não extinto.
Lukács
O grande
filósofo do século XX afirma que a humanidade tem produtividade crescente, cada
vez mais produtivo – e com o aumento da produção aumenta também o grau de
liberdade. O escravo antigo era não livre, o servo foi mais livre que o
escravo, o assalariado (com liberdade formal) é mais livre que o servo, o trabalhador
associado socialista será substancialmente livre. Nosso destino é cada vez mais
determinado por escolha ou acaso, cada vez mais com mais opções.
Outro
aspecto da liberdade lukacsiana é que o homem no trabalho antes pensa ou
imagina como e o que produzir (teleologia, prévia ideação, liberdade) e depois
manipula as leis causais da natureza (necessidade) para produzir algo útil.
Para Lukács,
a liberdade era uma categoria apenas humana, social, além de histórica.
Nossa
proposta
Vejamos como
resolvemos o problema kantiano. Ora, se a realidade tem possibilidades e
probabilidades, ela as tem em si mesma, dentro de si própria. Logo, a liberdade
é objetiva antes de subjetiva – é dialética. O homem ou a partícula toma a
decisão que tem já tendência, na sua personalidade ou perfil, além de contexto,
de tomar. Um chiste famoso ajuda a esclarecer: podemos escolher o que quisermos
(entre as opções), mas não escolhemos qual é nosso desejo, o que de fato
desejamos. Se temos 4 opções, escolheremos aquela que melhor corresponde ao que
somos. A liberdade é ter tais opções exato para escolhemos a que de fato somos
levados a escolher, causalidade e necessidade (e nossa liberdade está dentro da
realidade objetiva). Esse é o primeiro modo de fundir causalidade e liberdade. O
segundo é que o “o que” irá ocorrer é algo necessário, causal, determinístico
até, mas “o como” isso irá acontecer está, em geral, em jogo. Por exemplo,
certo é que o capitalismo irá cair, mas pode desabar de várias formas, mesmo
opostas, como por revolução ou por extinção da humanidade etc.
Necessidade
é reconhecer a liberdade.
TELEOLOGIA
OBJETIVA
Para ganhar
moral no meio acadêmico, um dos segredos é ser contra a teleologia, a concepção
que a realidade tem finalidade, um fim, um objetivo. É uma crítica fácil e
famosa, mas pouco refletida. Os erros nesse assunto se deram à visão
mecanicista do tema, desde Aristóteles até Lukács. Vejamos a confusão, as
igualdades falsas na crítica:
1) Teleologia exige uma consciência que planeja.
Isso é a
concepção mecanicista de um trabalho artesão ou artístico, generalizada e,
logo, rejeitada por muitos. Mas as leis inerentes da realidade podem levar a um
rumo específico.
2) A teleologia exige separar fim e meio.
Falso. Ainda
uma visão mecanicista, priorizando uma forma de trabalho, como vemos. O fim
pode estar, em sistemas orgânicos, no próprio meio, vai-se realizando no
processo, rumo a si mesmo. O socialismo vai rumo a si na lutando por ele, com
práticas de acordo com o fim almejado. O fim (abstrato) é o meio (concreto) em
desenvolvimento (processo).
O fim,
realizado tanto quanto pode, é, por sua vez, meio para algo realizar; por
exemplo, o socialismo é o fim, mas, ao existir, será meio para a felicidade
humana.
3) Teleologia é determinística.
Nada
justifica essa hipótese. O homem, por exemplo, tende ao socialismo – tende. Mas
pode se extinguir antes de se realizar. A teleologia não é nem determinística
nem contingente, pois é tendencial.
4) Não existe teleologia fora da sociedade.
Outra
hipótese sem comprovação. Por exemplo, o olho surgiu 6 vezes de modo
independente na história da natureza, pois era necessário que o olho surgisse.
No social, a história ocorre como teleologia objetiva e insconciente até que a
sociedade ganha consciência alta, toma as rédeas da história.
5) Teleologia exige um fim (absoluto).
Na verdade,
a teleologia pode ter um alto grau de autorrealização, mas ele permanece como
pulsão, movimento, desenvolvimento. Não se encerra quando se encerra.
Temos a
teleologia objetiva. Lukács afirma que na arte há identidade sujeito-objeto,
forma-conteúdo, essência-aparência e nós completamos com criar-descobrir e
nada-ser. Logo vemos que Hegel se inspirou no trabalho artístico para pensar
sua Lógica, caindo em mecanicismo em certo sentido.
Vale a pena
fazer uma observação histórica. Engels e Marx, em cartas pessoais famosas,
concordaram que A origem das Espécies de Darwin marcava uma crise na
teleologia, que elas associaram então à visão essencialista religiosa. Isso
pode ser deduzido de sua grande obra, embora erra, mas, da própria letra de
Darwin, este afirmou em mais de uma passagem que há uma tendência à perfeição
das espécies, ou seja, evolução, para ele, não é apenas diversificação – e o
homem, sendo animal, é um ápice biológico apaixonante, mas perigoso até aqui (a
natureza viva criou seu próprio algoz, se próprio inimigo, caso não alcancemos
o socialismo).
AS CAUSAS
Ainda
segundo Lukács, com sua teleologia subjetiva apenas e mecanicista, a teleologia
(humana, subjetiva, individual) usa a causalidade – posição correta em si, no
entanto limitada. Mas, oposto, as relações causais dialéticas, ou seja, a
interação recíproca produz de modo “inconsciente” a teleologia. A teleologia
faz a causalidade como a causalidade faz a teleologia.
Aristóteles levantou quatro causas
separadas: 1) causa material (água, éter etc.), causa formal (forma geométrica,
forma social etc.), causa eficiente (causa para efeito) e causa final
(teleologia, ir rumo ao). O grego tratou cada uma de modo separado, mas elas
ocorrem juntas, de maneira simultânea e unificada, ao mesmo tempo, com relações
recíprocas. Além de sincrônicas, ocorrem, por isso, de maneira diacrônica, como
se depois, tempo lógico: a matéria, causa material, cuja forma é sua
informidade, passa a ser com cada vez mais forma, causa formal, que impulsiona
a causalidade mecânica e dialética, causa eficiente, o que produz uma
teleologia, causa final. A ciência moderna focou apenas na causa eficiente
enquanto o grego focou na separação delas ou na causa final. A causalidade
eficiente produz imediatamente a teleologia, a causa final.
Tal
movimento “real”, mantida a sincronia, também foi ideal nas sucessivas gerações
filosóficas antigas, dos gregos. Dialética real expressada na dialética ideal.
Os primeiros filósofos gregos tiveram, do ponto de vista da mente, que fundar o
materialismo para afirmar-se contra a religião, separar-se dela (Novack). Tal
materialidade expressa, também, certa materialidade em desenvolvimento, a
sociedade grega, sua vida e seu comércio etc. Daí iniciar pela causa material,
supondo que a realidade é um único elemento, ou combinação de muitos. A
matemática pura algo separa-se do uso de engenharia etc., surgem os pitagóricos
e a realidade profunda enquanto número, formas numéricas. Platão avança para a
separação entre mundo das formas – perfeitas, puras, imóveis – contra o mundo
terreno, da aparência, da inconstância. A afirmação do movimento dá importância
para a causalidade, o tempo, a relação. Então, intui-se a teleologia, a causa
final, o destino para onde a existência tende a ir, vai-se.
Hegel, o
grande gênio, deixou claro que causa e efeito podem mudar de posição na
causalidade recíproca. Então, ele passa para um conceito unificados de ambos os
opostos, a interação. O marxismo vulgar toma a causalidade mecânica, como se a
economia determinasse de modo único, direto, mecânico, determinista e
unilateral as mentalidades e as instituições. Embora a produção, em principal,
e os demais setores econômicos tenham prioridade, numa hierarquia do ser
social, a causa é um “ida e volta” dinâmico.
O QUE É A
CONCIÊNCIA, A MENTE?
A dialética
não usa, grosso modo, definição, algo dicionário – ela desenvolve o conceito,
mais do que o explica. Dito isso,
mostramos uma dentre as respostas possíveis, nossa proposta. A consciência
dar-se, no ser complexo, quando a realidade muda, torna-se incerta, sem padrão
aparente enquanto o cérebro continua preso ao passado, à repetição, ao padrão.
Busca-se, assim, naturalmente, a permanência na mudança. A mente e a
consciência (abstratos, que não são coisas) são o cérebro e a realidade
(concretos) em movimento (processo). A contradição em “querer” manter o
permanente e a mudança incerta produz a mente e a consciência. Uma situação de
crise, instável, empurra para elevar a consciência. A consciência é, portanto,
antes, fruto da objetividade, do externo.
Aqui,
inspiramo-nos nos gregos. Eles negavam a empiria aparentemente aparência,
instável, caótica, sem lógica, sem rumo, contingente e queriam acessar o mundo
por meio da boa reflexão, do pensamento dedicado, de deduções abstratas, de
lógica e conflito de ideias com palavras. Assim, continuavam querendo o
permanente na mudança – e fizeram, portanto, filosofia! A filosofia
experimental, a científica e a objetiva, claro, hoje baseiam muito mais
diretamente nos dados, no fatos, na empiria, embora saiba que a aparência ao
mesmo tempo revela e esconde a essência, a verdade.
Isso
leva-nos ao debate sobre inteligência artificial: podem os programas e robôs
tornarem-se conscientes? Para nós, o que é, em primeiro lugar, consciência?
Devemos responder tal pergunta milenar, até hoje um enigma insuperável, com
suas diferentes escolas e polêmicas. Consciência é, também (pois não o que ela
é não cabe no dicionário), autoconsciência, consciência de si. Mas ser
consciente de si é ao mesmo tempo diferenciar, ter consciência do outro e do
externo. Por isso, dizer que consciência é consciência de algo tem tal algo
igualmente como a si próprio, alguém. Assim, ter consciência exige ter
consciência da sua finitude, de perceber ser algo que não outro, ou seja, ter
borda e limite, ou seja, ter fronteira. O erro de dizer que pensamos e temos
consciência por meio de todo o corpo deve ser (re)considerada – não penamos com
o corpo inteiro, mas é quase isso. O cérebro é também sua função. Ademais,
consciência é finitude não só espacial, também temporal – consciência exige
falta, logo, necessidade, logo, desejo.
Dito isso,
considerando a consciência de seu lugar abstrato, ou seja, separado e isolado
nas nuvens ideais, vemos a dificuldade de uma inteligência artificial tornar-se
de fato consciente. Ademais, o cérebro é a coisa mais complexa e difícil de
replicar do universo. Pode-se, com mais rapidez, simular um “como se” tivesse
consciência. Mas, ao oferecer algo como um sistema nervoso completo ao robô,
além de sentir necessidades (falta de energia, incômodo etc.), quem sabe a
singularidade finalmente ocorra, para o bem ou para o mal. Marx diz que a há
humanização das coisas e coisificação dos homens; e isso tende a ser literal,
atingir um máximo: das máquinas simples que imitavam o movimento repetitivo das
mãos humanas às máquinas complexas que imitam a sua inteligência e consciência.
SEÇÃO DOIS
TESES SOBRE
QUESTÕES ABERTAS NAS CIÊNCIAS NATURAIS
AS QUESTÕES
ABERTAS NA FÍSICA MODERNA
Nada é maravilhoso
demais para ser verdade.
Michael
Faraday
Em sua
Dialética da natureza, Engels apenas levanta várias questões ainda não
resolvidas pela ciência. Muitos pontos foram resolvidos, mas a ciência moderna
trouxe novos enigmas. Aqui, iremos um tanto mais longe, pois apresentaremos uma
proposta de resolução das lacunas teóricas. A base é nossa equação qualitativa
antes exposta resumida em matéria como espaço concentrado. Uma proposta teórica
no geral correta deve apresentar soluções para quase todas as lacunas da
ciência.
Vejamos as
conclusões de pesquisa que se tornaram premissas na exposição. Nossos
postulados são:
1) espaço =
matéria, matéria é espaço concentrado, espaço é matéria decaída;
2) o espaço,
contínuo-discreto, organiza-se como linhas de espaço (tese não central, se os
campos como linhas não foram diretamente espaço);
3) a equação
QUALITATIVA geral é “movimento = energia = tempo = espaço = matéria” ( = massa
= luz[15] =
campo).
4) a matéria
não apenas curva o tecido do espaço, mas é também o próprio tecido espacial
curvado, para dentro, para dentro de si, concentrado na forma particular.
1. Efeito Casimir
Comecemos
por uma questão apenas na aparência resolvida, que reforçará na empiria nossa
tese. O experimento é este: põe-se duas placas especiais próximas dentro de uma
caixa a vácuo. Ocorre que tais placas aproximam-se, revelando uma pressão maior
do lado de fora delas, forçando rumo ao encontro de ambas. Seria a prova de uma
energia de ponto zero! Partículas virtuais surgem e deixam de surgir do “nada”!
Mas o vácuo não exclui o espaço e, teorizamos, espaço é energia – logo
flutuações do espaço faz ele se concentrar produzindo as tais partículas. Eis a
prova de que espaço é matéria e energia (e luz etc.).
Veja ao
autolimite posta pelos físicos e seus filósofos ao focarem na diferença entre
espaço e todo o resto no lugar de ver sua unidade, e identidade de fundo, real:
Notamos já que na relatividade geral o próprio
espaço-tempo tem massa-energia. Mas a massa-energia é o aspecto básico
característico da matéria, tal como a entendemos habitualmente. Se até a
distinção entre a matéria e o próprio espaço-tempo é problemática, podemos
ainda falar de “relações entre coisas materiais” em oposição ao “próprio
espaço-tempo”? (Sklar, 2020, p. 60)
Há
consequências totais de nossa reinterpretação de um experimento. Bohm critica a
aleatoriedade da física quântica afirmando que existe um nível ainda mais
abaixo, fundamental, subquântico; são, para ele, as variáveis ocultas da
causalidade oculta na probabilidade. Neste reino, haveria uma substância e suas
entidades, partículas etc. Mas há um grande problema: um nível micro tem um
nível ainda mais abaixo, que tem outro mais abaixo, que tem outro etc. – ao
infinito, má infinitude. Aqui, para nós, o nível mais fundamental é o espaço,
talvez com partículas espaciais (a matéria escura como espaço discreto,
particular etc.). Assim, concluímos, flutuações do meio, do espaço, afetam as
partículas fundamentais. Um grande problema teórico aparece como com solução
óbvia apenas depois de resolvido.
Reforcemos
nossas teses com outro fenômeno. Se, sob investigação, para melhor estudá-la,
desacelera-se cada vez mais a velocidade uma partícula de elétron, o que
ocorre? Ela cada vez mais espalha-se, expande-se, torna-se menos condensada,
torna-se menos pontual – ou seja, tende a dissolver-se em espaço, por ser o
espaço condensado, para dentro de si, sem romper de todo com este. Matéria é
igual ao espaço.
2. Positivo e negativo nas partículas (química)
A ciência da
natureza, em geral, foca no como, o caminho mais fácil, e esquece de saber o
motivo. O que é positivo ou negativo? Não sabemos, sequer fazemos a pergunta.
Na verdade ocorre algo do tipo: algo inteiro, nem negativo nem positivo em si,
decai em pedaços, inteiros por si mesmos, que são também partes. O nêutron
decai em dois, próton e elétron; um desliza para dentro do outro porque são, no
fundo e na origem, apenas um, um algo de fato completo. Assim, são opostos no
externo, mas atraem-se porque são o mesmo e semelhantes no interno. Isso vale
para vários tipos de decaimento, de opostos que já foram juntos e um, como o
elétron e o antineutrino, além dos famosos elétron com próton.
Por que,
então, dois prótons se repelem? Ou por que o elétron não cai no próton? Parecem
duas perguntas, mas têm o mesmo princípio e resposta. O senso comum pensa o
campo como certa camada protetora, o que os cientistas negam; mas o próton é
mais do que sua parte “visível”, pois tem um “campo próximo” e, portanto, uma
fronteira, um limite. Dois prótons se repelem porque são excessos, desencaixe
um relativo ao outro; o mesmo para dois elétrons. Um elétron e um antielétron,
pósitron, atraem-se porque são antes, ontologicamente, o mesmo, como se pedaços
inteiros de um inteiro. Também assim, o elétron não cai naturalmente no próton
porque ambos, sendo pedaços, são ainda inteiros por si, com fronteira própria.
Na química e
na física, o próton é tomado como carga +1 e o elétron, -1. Como que dois
objetos tão diferentes têm exato a mesma carga com sinais opostos? Que sorte do
próton! (a única resposta decente, nesse caso, seria que o próton e o elétron
são o mesmo, iguais, só que um é mais partícula que espaço-campo e o outro, ao
contrário, mais espaço-campo do que partícula – daí as cargas iguais). Em
verdade, tal matematização apenas expressa a aparência, enquanto pomos a
essência de tal fenômeno.
Isso nos
leva à próxima questão.
3. A matéria e a antimatéria no início do
universo
A física
atual postula que o decaimento do universo em sua expansão original deveria
formar a mesma quantidade de matéria e antimatéria, logo elas se atrairiam
mutualmente, aniquilando-se em forma energia, de luz – mas isso não aconteceu,
pois temos ainda a matéria comum no nosso universo, bariônica. Por quê? Uma
resposta é que o universo se contrai e se expande para sempre sem cair nesse
estágio inicial. Os físicos tratam de afirmar como evidente que não existiu tal
“explosão” ou que há uma pequena diferença, até hoje não encontrada, entre os
opostos. Outra resolução, propomos, é que de fato houve mesmo o grande encontro
de matéria e antimatéria, destruindo ambos, e a energia resultante disso decaiu
rapidamente em espaço, este expandindo-se salvando um pequena parte da matéria
e, talvez e longe, da antimatéria do universo.
4. O segredo da matéria escura e da energia
escura.
A gravidade
extra nas partes mais distantes da galáxia não corresponde com a massa-matéria
existente, logo há alguma matéria transparente, invisível, criando a gravidade
extra encontrada, uma espécie de cola. Como resolver tal quebra-cabeça? Matéria
é espaço condensado, logo matéria escura é uma forma leve de matéria, de espaço
(o que está de acordo com a tese semelhante de Marcelo Gleiser[16]).
Segunda hipótese, talvez – ou também –, por a matéria ser espaço concentrado
para dentro de si, a matéria bariônica e/ou os buracos negros sugam para si
mesmos uma parte do espaço, esticando-o, tornando-o tenso, logo com mais
energia, logo com gravidade extra.
E a energia
escura? O universo está se expandindo, o que sugere uma energia escura,
transparente, de repulsão. Se formos logicistas: matéria é energia e espaço;
logo energia e matéria escuras são o mesmo, além de opostos, este decaindo
naquele. A matéria (escura) e a luz do universo decaem em espaço (energia
escura), o que expande o cosmos. Talvez outras causas incluem como o contrair
dos universos vizinhos, por ação de seus buracos negros, esticando o nosso.
Pode ser que
a diferença de matéria escura e energia escura é que um seja espaço contínuo e
o outro como espaço discreto, granulado.
A matéria
escura, extra, entre galáxias pode ocorrer porque os buracos negros e a matéria
sugam e esticam parte do espaço, gerando nele tensão, logo energia, logo
gravidade.
É possível
observar também, de modo matemático, se os buracos negros servem de
trituradores da matéria, produzindo espaço, que tem velocidade de escape o
bastante, ao menos não nos grandes buracos negros[17],
o que exigiria adaptação de nossa formulação universal aqui, como o fato de por
isso produzir matéria escura que decai em energia escura (espaço).[18]
5. Entrelaçamento quântico
Descobriu-se,
primeiro no cálculo e depois na empiria, que dois fótons que juntos surgem e
são separados estão “ligados” mesmo se distantes um do outro, ou seja, se
medirmos um aqui e descobrimos que ele está com o spin para cima, logo o outro
ali estará com o spin para baixo (antes, ambos estavam no estado de
sobreposição, nem para cima nem para baixo em exato). O assunto irritava
Einstein, então ele supôs que a teoria quântica estava incompleta. Ora, basta
aceitar, de modo materialista, que eles estão de fato em uma “ação
fantasmagórica à distância”, instantânea, pois estão ligados por um fio de
espaço, por um fio de linha de campo comum.
6. Enigma da fenda dupla
Imaginemos
uma placa com duas fendas, duas entradas; se um elétron ou fóton passa por um,
logo não deveria passar por outro, agindo como uma partícula que de fato é.
Mas, ao passar, vez por vez, várias partículas, elas batem na última placa e
forma um padrão de onda, não de partícula! No lugar de baterem em apenas dois
lugares, por serem duas fendas, elas batem em vários, como se ondas fossem
ainda sendo particular! Às vezes, os físicos se apaixonam demais pela magia de
seus mistérios no lugar de resolvê-los. Talvez, algumas partículas não rompam
totalmente, apenas de modo relativo, com o espaço ao redor; ou, ao menos, eles
têm um “campo próximo” que se afeta pela outra fenda (a partícula passar por
uma fenda, mas sofre interferência como se passasse pelas duas).
7. Salto quântico
Um elétron
“orbitando” o núcleo está aqui e desaparece, reaparecendo quase ao mesmo tempo
ali, em ouro ponto. Como ele saltou, como desparecer e reaparecer “longe” e não
percorrer um caminho até o outro local? A posição do elétron depende de si
(nível de energia), do núcleo e do seu contexto. Pense-se no lençol esticado;
pois bem; ele, sendo o espaço, é concentrado um pouco num canto por uma mão,
formando um pequeno “morro”, nossa partícula; se, então, fazemos outro “morro”
em outro canto do lençol, aquele primeiro se desfaz, pois houve novo
esticamento. Assim, o elétron desaparece aqui e reaparece ali. Outras formas de
dizer isso, são estes: 1) o elétron decai, colapsa, em espaço que se
reconcentra em outro ponto segundo seu contexto; ou 2) o elétron desaba em
neutrinos “emaranhados” (ou, ou também,
neutrinos e antineutrinos que se atraem) que se reconcentram em outro
local, reformando o elétron mais uma vez. Esse caso serve para o exemplo da
passagem do elétron por uma chapa fotográfica, deixando marcas não contínuas,
discretas e afastas umas das outras, de gotículas de prata (repetimos: decaindo
ou decaindo em neutrinos-antineutrinos “emaranhados” que se atraem). Para o
positivismo, apenas descreve-se que a coisa desaparece aqui e aparece depois
ali, sem mais, sem caminho para, sem continuidade. Outra hipótese é que o
elétron se torna energia pura, sem uma de suas formas, na quarta dimensão,
então retorna, mas isso me parece nem sequer indiretamente verificável, além de
improvável também. Outra afirmação, que se sustenta, junta às demais inclusive,
afirma que o espaço são linhas, enquanto as partículas são pontas, saliências,
de tais linhas, linhas concentradas; por isso, a partícula desaparece aqui,
torna-se mais parte da linha, decai em apenas linha, e reaparece ali, a tensão
direcionada gera, produz, nova concentração, nova onda ou, ou seja, condensação
da corda. Torna-se, assim, espaço e, pela tensão e direção, forma-se nova
ponta-onda, partícula (à semelhança do comportamento de expansão da onda de som
na atmosfera, aqui é corda-espaço concentrado, concentra e por isso expande
etc.). A ideia da realidade como particular ou ondulatória torna-se superada, a
oposição unilateral é superada.
8. A escassez de buracos negros intermediários
Ainda não
encontramos buracos negros de tamanho intermediário nem sequer na quantidade
esperada; eis o mistério. Ao que parece, tais entidades cósmicas são
produtivas, sugam matéria e… espaço. Por isso, são maiores do que deveriam ser
se passivas ou semipassivas.
9. Unificação de campos
Para a
teoria quântica de campos, cada partícula é a “ponta”, a expressão de um campo
específico e amplo. No real, todos os campos são um porque são apenas o espaço,
já que cada partícula é espaço condensado, ou o campo é a forma mais leve do
próprio espaço, mas um tanto condensado. É, antes, a partícula que faz o campo;
não o campo, a partícula – a união faz a força. O fato de ela ser espaço
condensado, ser algo com “peso”, a gravidade em nível superior (força forte
etc.), forma o campo correspondente ou o campo próximo.
1.
As dimensões
A teoria das
cordas diz que as partículas são, na verdade, cordas de uma só dimensão,
unidimensionais, que vibram cada qual de modo diferente e são de formas
diferentes. Até o momento, provou-se impossível comprová-la. Tal hipótese
trabalhava com 11 dimensões, agora reduzida para 6. Para nós, há quatro,
incluso uma espacial oculta, que se manifesta como tempo. A fita de moebius tem
apenas um lado, mas parece ter dois quando vista por apenas um pedaço dela.
Algo semelhante temos na garrafa de Klein, com seu dentro-fora unitário. Penso
que as três dimensões são também, assim, há apenas uma dimensão, o infinito, o
todo, que por isso é dimensão nenhuma, mas tem quatro dimensões quando visto
por seus pedaços, suas partes.
2.
Dualidade onda-partícula
A física
dividiu-se por séculos entre aqueles que diziam a luz ser partícula ou, ao
contrário, onda. A dialética pede a substituição possível do “isto ou aquilo”
por “isto e aquilo” em inúmeros casos. Se houvesse uma boa formação filosófica,
os cientistas teriam ao menos levado em conta a hipótese de que ambas as
posições acertam e erram ao mesmo tempo, bem antes do século XX. Luz não é
apenas onda “e” partícula, mas propriamente uma sobreposição dos dois estados
opostos – o dialético em ato! Mantendo nossa posição de que, em resumo da
fórmula, tudo é espaço, ainda que concentrado, a parte ondular das partículas
ocorre porque elas não rompem totalmente com sua base, o ambiente primeiro, o
espaço, mas flui assim mesmo por ele, nele, sendo ele. Talvez exista
“resistência” e “atrito” do espaço, gerando instabilidade e ondulação.
Assim, as
verdades primeiras são: é-se 1) partícula; 2) onda, 3) onda-partícula, 4)
partícula com propriedades de onda, 5) onda com propriedades de partícula.
Adicionamos: nem onda nem partícula, pois, não só por ser ora um e ora outro,
mas por ser espaço condensado, concentrado (provavelmente: sem romper com sua
base, o espaço) – o que permite propriedades aparentemente contraditórias, num
um terceiro, uma terceira resposta de fato. Assim: tese – partícula; antítese –
onda; síntese – espaço autoconcentrado, que explica as propriedades duplas. A
onda vai-se para a partícula, cada vez mais partícula (em dialética diacrônica:
x vai-se para não-x em A) – raios gama são muito mais partícula do que raios X,
a luz ultravioleta é mais partícula que a infra vermelha (eis uma origem de
partículas logo após o encontro destrutivo de matéria e antimatéria no início
do universo, sob novas circunstâncias); mas há também outro modo de terceira
resposta, o “nem um, nem outro”, unilaterais, mas a constituição do não espaço
como o próprio espaço condensado, com as propriedades opostas, agora
complementares.
Mais uma
dentre as hipóteses. Se o espaço for como linhas de espaço, então uma partícula
é como quando balançamos uma corda presa numa das pontas, formando uma
ondulação que avança, que se movimenta, algo que toda criança faz ao brincar.
Um fóton, por exemplo, expande-se assim, no e sendo o espaço acentuado,
concentrado, em movimento, em vibração. Superamos a teoria das cordas assim! A
teoria das cordas exige cordas pequenas, particulares, de uma só dimensão, num
universo de 11 dimensões. Agora, superando essa ideia ainda atomista,
individualista e corpuscular, temos uma teoria de tudo nova, completa – ao que
parece, correta.
12. Excesso de raios cósmicos
Sabe-se que
a maior parte dos raios cósmicos que encontramos no espaço interplanetário não
vem do Sol. De onde viriam? Uma parte pode ter origem nas flutuações do espaço,
produzindo tal matéria-luz.
13. Spin do elétron
O spin do
elétron é uma “rotação” muitas vezes maior que o permitida pelas leis da
física. Na falta de explicação, os físicos dizem “é assim mesmo, um mundo
diferente” e ponto, e pronto. Isso não ajuda, apenas esconde uma ignorância.
Como demonstramos em nossa equação qualitativa, movimento = energia = tempo =
etc. Assim, o que medimos como apenas movimento de rotação é na verdade mistura
com seus diferentes, outros de si, que são também idênticos, iguais.
14. A origem do movimento
O movimento
é, sempre foi e será. Mas qual a sua causa primeira? A matéria e a luz caem na
quarta dimensão espacial, no infinito, como a si mesmas (o infinito não cabe
dentro do universo finito, por isso se manifesta como tempo, sendo a quarta
dimensão espacial). É possível, também, que o vazio infinito cai sempre em si
próprio e, sob tensão, desabe no “´átomo prrimordial”, dando origem ao primeiro
Big Bang.
O paradoxo
de Zenão é resolvido assim: a flecha percorre o espaço-tempo porque ela é o
próprio espaço-tempo em Movimento – está e não está parada; pousada sobre si,
move-se, cai-se.
15. Multiverso no tempo e no espaço
Retomemos o
assunto acima: há o multiverso no tempo, com o nosso universo crescendo e,
depois, reduzindo de modo cíclico, para crescer novamente; e o multiverso no
espaço, com vários universos separados. Mas podemos fundir no universo no
espaço-tempo. Porque o universo se expande? Uma das causas, além das internas,
é que outros universos estão contraindo, sugando espaço em alto nível por fusão
de seus buracos negros, que sugam o tecido espacial (ainda que lentamente). O
problema de os universos separados no espaço não serem empiricamente observável
está resolvido porque eles interagem por meio do espaço único deles, caso
existam.
Deriva-se,
então, outra hipótese. Se 1) todo o destino do universo está determinado desde
o Big Bang e se 2) o universo contrai-se e expande-se ciclicamente – então o
mesmo universo, exatamente igual, surge e ressurge, repetindo tudo num “eterno
retorno”; temos, neste caso, a “reencarnação”, pois reapareceremos no próximo
universo fazendo sempre o mesmo. Mas se há processo, além de circular, pode ser
que o próximo início, do próximo universo, tenha pequenas variações de começo
que mudam todo o destino, as condições iniciais determinam as condições finais.
Eis uma questão em aberto, mas que aterroriza o pensamento, logo o meio
científico evita tais tipos de questões.
Quanto ao
tempo no espaço, espaço-tempo, tempo ser espaço: por que o infinito não pode
revelar-se diretamente no finito universo, não nele cabe, logo ele se manifesta
como tempo, como fenômeno temporal, indiretamente.
O nosso
universo tem fim e é finito nas três dimensões mais o tempo – mas infinito na
quarta dimensão. Assim, como no planeta, ir por demais ao leste te leva ao oeste,
embora apareça como mágica ou salto numa mente comum capaz de fazer tal viagem
cósmica. No mais, existe um centro inicial do universo verificável, pois o
argumento de que todo ponto do universo é o centro não se sustenta de todo
(apenas no sentido de que tudo estava concentrado, entes de espalhar-se);
portanto, possível dizer, mais ou menos, por aproximação, a priori, qual o
centro do universo, que tem, nas três dimensões, “borda”.
16. As quatro forças unificadas
Em minha
filosofia, temos a tríade, algo hegeliano, e o colateral, nossa atualização,
algo que está ao mesmo tempo dentro e fora. Isso parece se confirmar com a
unificação das três forças fundamentais (a nuclear forte, a nuclear fraca e a
eletromagnética) sem conseguir incluir a gravidade, a quarta. Mas isso é
logica, não ciência concreta. Ao que me parece, por tudo ser espaço concentrado
para dentro de si chegamos à unificação das quatro “forças”, que não são, na
verdade, força alguma (a união faz a força). Assim, a força nuclear forte é a mesma
da gravidade, pois é o núcleo atômico concentrado, para dentro de si, caindo em
si próprio, mantendo-se unido. A força repulsiva nuclear fraca deriva pela
mesma causa, com efeitos opostos, pois a gravidade é também espaço condensado,
para dentro de si, na coisa, o que causa repulsão das partes no núcleo, por
exemplo.
17.A unidade
do próton
O próton,
partícula do núcleo do átomo, é formada por três partículas, os quarks, que,
diferentes e opostos, dois para um, se atraem e se repelem. O que mantém sua
unidade na sua força forte é o glúon, certa partícula mediadora que transita
entre elas. Isso vale também para o nêutron, um pouco mais pesado. Se operamos
uma força enorme para arrancar um quark, este ato dá energia, força, tensão, ao
material unido, permitindo criar do “nada” (espaço!) outra partícula, pois elas
só existem em três, juntas, um sistema orgânico. O ato de arrancar dá
condições, como algo elástico esticado, de criar. Ora, se tudo é espaço
condensado, talvez tais pequenas entidades estejam ainda por “dentro” do
espaço, logo esticar uma delas para que saia do conjunto, dá energia-espaço ao
próprio espaço, fazendo brotar dele nova parceira (espaço condensado).
Esta
hipótese, além de outras, quebra o ortodoxismo, mas isso não significa que a
versão ortodoxa, não esta, está incorreta (o espaço concentrado serve de
“cola”). Um novo paradigma muda a forma de ver o mundo, de interpretar os
fenômenos físicos, caso, por exemplo, do Efeito Casimir logo acima. Ademais,
muitas conclusões aparentemente provadas pela empiria terão de ser revistas, se
outro modo de visão surgir. Partículas efêmeras, de pouca duração, surgem
simplesmente porque é possível suas existências, sem necessariamente significar
que há um campo específico subjacente, caso do Bóson de Higgs, já que todos os
campos tornam-se um, o espaço, e é a partícula quem faz seu campo próximo, não
o inverso. A matéria torna-se massa, a substância cria seu próprio acidente a
partir de si mesmo como matéria-prima, sem a necessidade de campo específico ou
da brevíssima “partícula de Deus”, talvez pelo limite imposto pelo espaço
“vazio” e “sem” atrito (a metáfora de andar mais lentamente na água é usada
para explicar o campo que dá massa, mas pode ser reduzida ao espaço também).
Mas é claro que rirão de um marxista metendo a colher naquilo que não domina…
Afirmar que o gigantesco colisor de partículas – templo do empirismo e do
reducionismo – de pouco serviu também não ajuda. Logo, devemos ter paciência
sobre a intromissão, necessária mesmo com seus deslizes, da filosofia no mundo
científico.
Diz-se que o
campo permeia o espaço; era, se o espaço é algo, logo nada pode permeá-lo,
estar com ele, nele em si; a matéria (e luz), por exemplo, existe “ao lado” do
espaço, sendo, por isso, espaço concentrado, condensado. Uma consideração
lógica como essa já demonstra a inconsistência da teoria de campos. A hipótese
dos muitos campos apenas se sustentam, no máximo, como propriedades do próprio
espaço, ele mesmo. Temos, em principal, espaço, possivelmente linhas de
espaço-campo (ainda que se revelem espaço condensado). As partículas, portanto,
fazem seu campo próximo, como acidentes do espaço, este condensando. Assim, as
quatro forças são todas espaço condensado, atraindo e repelindo ao mesmo tempo,
ou seja, são campos, um só campo na verdade, como o campo gravitacional, sendo,
no fundo, este
18.
Tunelamento quântico
Na memória
de computador SSD, faz-se um elétron “atravessar” um isolante ao ser atraído
para o lado de dentro positivo do material, isolado – como ele atravessa? É
como se uma bola de futebol atravessasse uma parede grossa sem destruí-la. Uma
partícula alfa, núcleo de um hélio, dois prótons e dois nêutrons, logo
radiação, sai de dentro de um núcleo atómico pesado e instável, mas isso
exigiria muito mais energia do que a disponível para ir-se, para ir além da
força forte – como ele atravessa? O elétron ao ser atraído, ao ser puxado, força
o isolante inatravessável – mas isso faz o elétron desmanchar-se talvez em
onda, mas principalmente em espaço, pois energia é espaço, desse modo a
barreira não é barreira alguma, pois tudo é feito basicamente de espaço vazio
com alguns ponto atômico ligados (o campo próximo do núcleo, do núcleo, que
atrai e repulsa ao mesmo tempo, é o próprio espaço, espaço condensado, além de
talvez dar a energia extra necessária por repulsão). “Por meio de” e “através
de” são o mesmo nesse nível, nesse caso – por meio e através do espaço, do
meio. Vejamos outra conclusão, igualmente derivada de nossa filosofia: a
“parede” se torna, na outra ponta, a própria “bola” "nova", e a
“bola” torna-se “parede”. Do próprio campo próximo surge, sob pressão externa
ou interna o elemento que quer transitar, que desaparece aqui e reaparece ali,
por mediação. A metáfora da parede e da bola esconde que a ambas são o mesmo,
espaço condensado, não apenas qualitativamente diferentes e de modo algum
incomunicáveis; a “parede” torna-se
“bola” “nova” e a “bola” torna-se a “parede”.
19.Causa da
velocidade da luz
A velocidade
da luz no vácuo é constante, além de máxima possível. Mas por quê? Ninguém
responde, sequer a pergunta é comum. Diz-se que é assim, apenas. Talvez o
espaço vazio, por dentro do qual a luz-energia flui, sendo ele, seja o atrito
necessário, o limitante. Tal resposta, claro, é insuficiente, mas já é um
começo.
20.
Princípio da incerteza
Cumpre notar o princípio, talvez transitório,
da incerteza de Heisenberg, que afirma: quanto com mais precisão medimos uma
propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos
instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo,
um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição
da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o
tempo etc.
Vejamos uma
tentativa, uma pista, para salvação da física. Se tudo = tudo; se energia,
tempo, espaço, movimento, matéria etc. são todas iguais e mudáveis uns nos
outros, logo podemos saber indiretamente, com algum grau de precisão a medida
de uma propriedade por meio da medida e da alteração da sua oposta ou
“lateral”.
21. O que é
a gravidade
Como
gambiarra teórica, Newton afirmou que a gravidade era uma força, força
atrativa. Depois, Einstein demonstrou que ela é uma curvatura do tecido
espaço-tempo, não uma força. Usa-se a metáfora do tecido real que se dobra
diante da massa-peso de uma esfera. Tal visão é útil, facilita a compreensão,
mas leva também ao erro. Dela, deveria-se deduzir que o planeta está
“mergulhado” no tecido espaço-tempo ao seu redor, por todos os cantos – veja
bem: isso significa que a massa-energia atrai o próprio espaço-tempo, ou seja,
voltamos ao conceito de força! Como resolver isso? O problema se explica porque
cada átomo do planeta ou estrela não apenas curva o espaço-tempo, mas é o
próprio espaço tempo curvado, para dentro de si, na forma de partícula, o que
deforma, ao concentrar, o tecido em sua volta. Se isso está correto, conseguiu-se
o mais difícil, aparentemente improvável até aqui: ir além do próprio Einstein,
após ir além de Newton. Um adendo: as pesquisas atuais dizem de exoplanetas,
planetas em outros sistemas solares, que não possuem a gravidade esperada para
seus perfis (!), não se diferenciando tanto da Terra, por exemplo, apesar da
variação de massa – isso pode ser uma pista de nossa nova teoria, hipótese na
verdade, da gravidade, que não apenas nega, mas guarda e ao mesmo tempo supera
a de Einstein. Caso, um hipotético tipo de resposta e solução, as partículas do
núcleo do planeta não sejam tão pesadas, menos espaço concentrado, afeta a
gravitação de tais partículas e corpos gerais.
Façamos uma
recapitulação breve de algumas ideias para fazer a dedução devida. Vimos: 1)
espaço é matéria, espaço-matéria; 2) tudo, partículas, é espaço condensado; 3)
as partículas atraem as outras por serem espaço condensado; 4) as partículas
repelem as outras por serem também espaço condensado, formando um campo de
espaço próximo; 5) assim, todas as “forças” são a mesma força, a gravidade.
Isso significa que a constrangedora semelhança desses dois cálculos clássicos,
da gravidade e da carga, no macro e no micro, na verdade é uma consciência
real, expõe uma igualdade real, a mesmidade. Vejamos:
Ora, isso é
a teoria de tudo! Façamos apenas dois comentários, adendos possíveis. Um: o
campo elétrico e magnético são curvos se vistos de modo amplo porque o espaço é
curvo perto da partícula, porque esta é espaço condensado – logo gravidade,
mesmo que sob outra forma (as linha da campo são espaço, mesmo se condensado).
Dois: para nós, o espaço é contínuo, não discreto; mas talvez ele tenha a forma
de linha de campo, assim, por exemplo, discreto num rumo, como da esquerda para
direita, dividindo espaço com outras linhas de campo espacial ao lado e colado,
mas contínuo em outros sentidos e direções, exato por ser linha[19]
(a esperança é que isso seja uma pista para o problema quântico de por que a
partícula prefere o desvio para direita, direção do movimento “hiperleve” da
linha de campo, linha de espaço, ainda que condensado, além do emaranhamento
quântico já citado e proposto – temos, assim, duas possíveis evidências
indiretas de linhas espaciais; grosso modo, a terceira pode ser a fenda dupla,
pois não há de todo e de fato partícula, e sim uma linha de espaço com “ponta”,
que é afetada pela segunda fenda, ondulando-se, partícula-onda, nem partícula
nem onda).[20]
Daí
semelhanças “apenas” matemáticas curiosas como m.a = |q|.E , isto é, massa
vezes a aceleração é igual à carga vezes o campo. O campo acelera, a massa é a
carga – e o que mais possa ser deduzido.
22.
Orbitação do elétron
A teoria
planetária do átomo põe o próton no centro com elétrons particulares orbitando
o pesado núcleo. Demonstramos que isso é mais do que metáfora, na gravidade
como “força” única ou curvatura do espaço, mas a física quântica diz não saber
de fato o que o corre e substitui pelo abstrato e não real em si “nuvem de
probabilidade” de um elétron estar aqui ou ali. Mantendo em pé a visão
planetária da partícula elétron; podemos supor, em filosofia experimental, que
a nuvem é de fato uma “nuvem” com o elétron colapsando em campo próximo (e/ou
onda circular-esférica – na camada certa), em movimento, desigualmente
distribuído e quase espaço; assim, ele engloba o núcleo e, se afetado por um
fóton, colapsa-se em – retorna à forma de – partícula por brevíssimo momento.
23.A teoria
de tudo
No ponto
anterior, além dos demais, vemos uma teoria de tudo. Em resumo, tudo é espaço
condensado, para dentro de si – o que não significa que este é sempre o
primeiro no tempo, embora seja primeiro por sua simplicidade. Temos a igualdade
e identidade na diferença de tudo: movimento = energia = tempo = espaço =
matéria (= massa = luz = campo). Exigirá um trabalho específico para
quantificar tal equação qualitativa. Tudo é espaço-matéria (e luz), tudo =
tudo. Conseguimos, assim, colocar a gravidade, a relatividade, no micro,
fundindo com o macro, pois tudo é espaço concentrado.
Vejamos uma
prova da relatividade, que massa é igual à energia. Quando um átomo decai,
libera partícula mais leve, com menor massa, do que a esperada ao mesmo tempo
em que sua velocidade, ou seja, sua energia, aumenta. Provou-se Einstein. Mas
por que isso ocorre? Podemos suprassumir, não superar, a teoria einsteana. A
massa, como propriedade da matéria (como a matéria sendo sua própria
propriedade), decai em espaço ou linhas de espaço-campo; logo, tal linha ganha
“espaço”, “aumenta”, o que faz com que a velocidade aumente também naquele
ponto de espaço condensado, agora menos condensado – a massa, assim, menos pode
resistir ao movimento. Tudo é espaço, ainda que condensado. Por outro lado: o
espaço (abstrato) deriva das partículas primordiais (concreto) que decaíram e
decaem (movimento) - o abstrato é o concreto em processo.
Nossa
hipótese natural de que tudo é espaço condensado, logo podendo ser linhas de
espaço, pode ser nomeado, para fins populares, teoria das hipercordas e a
teoria M – pois unifica criticamente as demais. O espaço é correntes, como a
teoria quântica em loop, mas não é; as partículas são cordas, como diz a teoria
das cordas, mas não é, pois as cordas-partículas, nem partículas nem ondas, são
pontas de cordas de espaço.
Ao que
parece, se não for um absurdo a formulação, que deriva os 23 pontos acima,
conseguimos unificar as soluções e os fenômenos do micro e do macro. Uma teoria
de tudo. A dificuldade é se tratar de um caminho feito de modo filosófico, não
matemático, por um físico amador. Se está correta, a crise da física, crise
esta quase nunca reconhecida pelos seus profissionais, está resolvida no geral.
Temos em torno de 100 anos de questões misteriosas pedindo solução, mas sem
respostas. Confiou-se no “sucesso” da mera descrição e do uso prático apenas. O
defeito era, em parte, confiar em demasia nos dados empíricos, nas aparências,
limitando-se a eles e, em parte, a baixa formação dialética dos cientistas.
Deixamos, no
entanto algumas questões auxiliares em aberto. Ei-las:
1)
O espaço é
contínuo? Ou linhas de espaço discretas-contínuas?
2)
As linhas de
espaço seriam não espaço, mas campos próprios?
3)
Como
explicar o paradoxo do gato de Schrödinger?
4)
Apenas
buracos negros grandes o bastante sugam espaço, tensionando o tecido? Os
menores produzem espaço-matéria escura, que decai em espaço-energia escura?
5)
As
partículas rompem com o tecido u linha espacial ou são parte direta dela,
apenas relativamente autônomas?
Uma dose de
medição, empiria e especialização alta, incluso matemática avançada, serão
exigidos para provar, ao menos no geral, nossas premissas e conclusões. A ideia
geral, a igualdade de espaço e matéria-luz – aquele sendo este diluído, este
sendo aquele concentrado –, resiste em pé, correta, mesmo que leve a conclusões
diferentes, até opostas.
Vejamos um
caso, uma pista. Hawking teorizou que os buracos negros “suavam”, ou seja,
evaporavam por causa de efeitos quânticos perto do seu horizonte de eventos.
Tal radiação seria térmica. Mas, então, nessa forma, a informação seria
perdida, algo proibido por princípios da física quântica. Então cientistas
pensaram, para resolver tal contradição, que tal radiação seria como “pelos” do
buraco negro. Ora, tais “pelos” podem ser pista de que o buraco negro acumula
espaço ou campo em forma de linhas, seja absorvendo espaço, seja liberando-o
para o meio externo, ou seja, evaporando, produzindo espaço como matéria escura
que decai em energia escura, o espaço propriamente dito.
EINSTEIN E O
TEMPO ONTOLÓGICO
Adoto nesta
obra todas as conclusões e premissas de Einstein, menos a ideia de que o tempo
é relativo, ou seja, que ele de fato existe. Tempo é espaço em movimento
(t=s/v), e matéria é espaço concentrado; logo, o que existe é espaço-movimento.
A premissa einsteana de que a velocidade da luz no vácuo é constante é
verdadeira, ao menos na nossa época cósmica, podendo a constante mudar em
outros tempos; mas a segunda premissa, de que as leis da física são iguais se
parados ou em movimento constante cai em erro. Velocidade e aceleração são o
mesmo, têm identidade interna (v=a.t); idealmente, a aceleração pode ser
decomposta em velocidades instantâneas. Assim, o corpo diminui e a massa
aumenta se aumenta a velocidade, mas o tempo é geral, abstrato e absoluto –
expressão indireta da quarta dimensão espacial. Reforçamos: a coisa é apenas em
seu movimento; se deixa de mover-se, deixa de existir, desmancha-se; logo, mais
movimento, mais velocidade – mais preserva-se, mais é-se como por mais tempo.
BIOLOGIA E
DIALÉTICA
O marxismo
empolgou-se com as descobertas de Darwin, pois este colocou de vez a história
na biologia, a evolução (diversificação) das espécies. Há inúmeras sacadas
dialéticas na obra do inglês. Os críticos marxistas mais dogmáticos reclamam
que a inspiração darwiniana é o capitalismo e sua economia política. Ora, nada
de errado há nisso, em princípio, pois o mundo do capital é o sistema mais
dialético já existente no universo, até agora.
No entanto,
os biólogos dialéticos Lewontin e Lewin, desde o século XX, propuseram
atualizações e correções à teoria, reformas desde uma visão não cartesiana
mecanicista, que separa organismo e meio. Vejamos um resumo das muitas entre
suas contribuições.
A espécie
seleciona o meio, o ambiente
Na biologia
teórica, comum apenas a espécie se adaptar ao meio, ou ruir. Isso é uma
separação cartesiana de meio e sujeito, este como mero objeto da seleção
natural. No entanto, se as condições não são favoráveis, indivíduos e espécies
agem como sujeitos, migram-se, mudam-se, para outro local.
As espécies
modificam o ambiente
O ambiente
costuma ser posto como dado, ponto final. Mas a verdade é que o ambiente muda a
espécie assim como a espécie muda o ambiente.
A adaptação
é relativa
Os biólogos
pensam que o formato do corpo do animal é um estado ótimo, como certa máquina,
perfeito. Nada mais falso. A adaptação não é absoluta, antes é relativa, ou
seja, o bastante. As nadadeiras da tartaruga são usadas para cavar e enterrar
ovos, mas são ferramentas falhas, imperfeitas.
A evolução é
contraditória
A orelha
maior de um habitante do quente deserto faz com que a temperatura seja
regulada, mas, por outro lado, facilita ser atacado por carrapatos.
Nem tudo é
adaptação
Hegel, ao
tratar de fundamentos, na sua Lógica, fala do fundamento como uma casa, em si
necessária, mas que pode ter cores diferentes, quadros na parede, enfeites
arbitrários etc. Os dois biólogos citados usam tal inspiração. Nem todas as
características de um ser vivo são necessárias ou para fins adaptativos e
reprodutivos.
Darwin intui
no sentido oposto:
(…) com base nos conhecimentos colhidos nos últimos
poucos anos estou convencido de que se poderá demonstrar depois a utilidade de
muitíssimas estruturas que agora nos parecem inúteis e que entrarão
consequentemente no âmbito da seleção natural.
Mas a
verdade costuma ser contraintuitiva – a verdade suporta opostos.
Outro
sentido de “nem tudo é adaptação” é que a espécie e o indivíduo são ativos,
sujeitos, não só adaptativos sob o risco de se extinguir.
Maior
reprodução pode ser extinção
Uma espécie
que, por mutação, quadriplica sua reprodução pode ser extinta, pois atrai mais
predadores.
Um gene
trata de várias características, uma característica deriva de vários genes
“juntos”
Dizer que um
gene corresponde apenas a uma, somente uma, qualidade, relação um por um, nada
diz, não corresponde ao real, que é mais complexo.
As
características físicas representam seu meio
A
aerodinâmica dos peixes, baleias etc., animais aquáticos, expressa o meio em
que vivem.
As
características físicas são fruto da relação gene, espécies e ambiente
A biologia
vulgar pensa que apenas a genética afeta e determina as características da
espécie. Mas a mosca tem o aparelho visual mais ou menos complexo a depender da
temperatura com a qual conviveu durante sua maturação. Além disso, a prática da
espécie também afeta sua morfologia.
Até o
ambiente vaginal atua como certo meio que seleciona os melhores
espermatozoides.
Relação
ambiente e espécie
Para a
presa, o predador é parte do ambiente. Para o predador, a presa é parte do
ambiente.
As partes do
corpo são interdependentes
Uma parte do
corpo pode não se desenvolver muito ou de modo exagerado porque está em relação
necessária e mais ou menos proporcional comas demais.
O passado importa (complemento)
Darei agora uma contribuição que não
encontrei de modo claro nos seus textos: o peso do passado como fonte do
presente. A mudança muitas vezes depende do passado, da resignificação de seu
material e daquilo que já foi, como espinho sendo folhas modificadas e velhos
órgãos adaptados para novas funções. A natureza viva raramente consegue criar
“do nada”.
GENÉTICA
Os genes
eram postos como individuais e separados uns dos outros. Hoje somos mais
dialéticos, por exemplo, a cor branca de uma flor está associada à saliência
típica de suas pétalas – se um muda, o outro muda.
PROPOSTAS
Vejamos,
agora, algumas hipóteses, filosofia experimental, que derivam de modo natural
de nossa filosofia, por dedução. Tais ideias, claro, devem ser demonstradas,
após expostas.
LEI DA
POPULAÇÃO
Darwin
inspira-se no erro teórico, para humanos, da teoria da população de Malthus: a
população cresce, mas encontra um limite de alimentos, logo deixa de crescer. E
se nos inspirarmos na lei de população de Marx sobre o capitalismo? Vejamos.
Vamos, mesmo assim, deduzir, de início, um limite fixo de recursos. Assim: mais
se reproduzem aqueles que estão mais ameaçados, pois isso ajuda a aumentar a
possibilidade de passar seus genes (o que não impede que Darwin também esteja
correto – que abundância é que produz mais reprodução). Vejamos uma pista dessa
nova lei relativa. A macieira, quando levada ao clima tropical brasileiro,
clima este que não é de sua origem, prefere investir em si do que na sua
reprodução, pois tem muita luz, água, nutrientes etc. Então, os agricultores
nacionais são obrigados a cortar a água da árvore, cortar galhos etc. para
estressá-la – então surgem as maçãs novas, ela reage à sensação de ameaça
ambiental, à escassez.
Hibernar
Na falta de
alimentos, as espécies podem hibernar no inverso para guardar energia. Isso
diminui o efeito da escassez sobre a população.
Estocar
Há um
pássaro americano que, ao perceber a chega do inverno, cria enormes reservas de
produtos, rumo ao consumo no inverno rigoroso.
Variar ração
Espécies
podem mudar ou variar seu consumo. Por exemplo, surgiu uma abelha abutre que
lida com carcaças.
Mudar o
ambiente
Ao consumir
uma fruta, o animal, depois, defeca fezes e sementes, ampliando extensivamente
a quantidade de árvores úteis.
Mudar de
ambiente
Os biólogos
dialéticos Lewontin e Lewin haviam exposto tal movimento.
Tamanho da
espécie e dos indivíduos
Uma
quantidade maior de membros, constantes os recursos, tendem a ser menores, o
que aumenta de modo relativo, em comparação, a quantidade de recursos
mesmos. No longo prazo, tende-se a
diminuir o tamanho da espécie, pois os menores têm, nesse sentido, mais chances
de sobreviver.
Capacidade
de armazenar aumentada
Uma falta de
alimentos pode levar os descendentes imediatos a ter mais facilidade de
armazenar energia, diminuindo a demanda, a procura. No nível celular, isso
ocorre por redução do metabolismo causado pelo maior autoenrolameto do DNA.
Roubo
Algumas
espécies e indivíduos podem se especializar em roubar outras, além de membros
da mesma espécie, ou agregar este hábito.
Formar bando
Formar
grupos permite otimizar o sucesso da caça, afastando a barreira individual da
alimentação.
Passar a
produzir e criar ferramentas
Vez ou
outra, uma espécie que não produz, passa a produzir (e o estresse relativo, com
a imprevisibilidade, com o movimento, aumenta a cognição). No caso das
ferramentas, macacos aprenderam a quebrar cocos e a produzir varetas para
apanhar cupins. As abelhas, ou algum ancestral, em algum momento passaram a
produzir mel. Na internet, há inúmeros vídeos de pássaros usando ferramenta
externa para pescar. O peixe tegastes
diencaeus domesticou camarões para nutrir, fertilizar, seu cultivo (!) de
algas, sua fazenda.
Tais
elementos relativizam, contratendenciam, a lei da população na natureza tal
como pensou Darwin. No mais, nossa lei da população, oposta à de Darwin, tem
prova empírica na própria humanidade: as comunidades mais pobres têm mais
filhos, não menos. Aqueles com melhor qualidade de vida, entre humanos,
costumam ter menor prole, mesmo tendo mais recursos. A quebra de 1929 levou
ricos falidos aos bordeis antes do suicídio; na segunda guerra, os homens
engravidavam as mulheres antes de ir ao combate; com o impacto, incluso
midiático, da queda das torres gêmeas nos EUA, surgiu uma onda de nascimento
algo como 9 meses após o fato. A causa da vontade de fazer sexo e filhos,
nestes exemplos, o stress etc., está oculta e inconsciente – a consciência
justifica de algum modo ou outro. No caso das árvores frutíferas, os biólogos
apenas constatam sem interpretar ou generalizar; muitas árvores do nordeste
brasileiro florescem e frutificam quando inicia-se o período de seca, rnenor
humidade e mais calor, maior rico potencial; no Piauí, os ipês florescem o ano
inteiro diante da temperatura e da baixa humidade, levando à sensação de risco.
Na
psicologia individual, acompanhei um “caso” de uma jovem adulta excessivamente
sexualizada, mesmo para padrões brasileiros, com imensa dificuldade em manter
fidelidade sexual em um relacionamento. Em nossas conversas, suas falas
deixavam claro o impacto sob(re) si que teve a descoberta de uma doença
degenerativa autoimune. O medo da morte, lidar tão diretamente com a finitude,
concluí, foi a base de sua sensualidade acima da média, que guiava sua rotina e
relações. Tal pista não foi a princípio tratada como tal; apenas enquanto caso
individual, singular e isolado. Necessitei de vários anos e outros aspectos
para derivar uma teoria geral.
Os seres
menores, quanto menores, mais se reproduzem. Por quê? Porque vivem pouco. Mas
algo mais pode ser acrescentado, evitando a tautologia anterior. Seres menores
e mais frágeis, ou seja, em estágio inferior na cadeia alimentar em enorme
quantidade de casos, são mais estressados, logo se reproduzem mais do que a
alcateia de leões. A lógica darwiniana continua em pé no assunto desde
parágrafo, porém atualizado.
GRANDES
EXTINÇÕES E VARIEDADE
Grandes
extinções, ao reduzir exemplares, força a copulação entre espécies próximas,
não tão, produzindo novos exemplares com o tempo, novas espécies por
combinação. Assim, a extinção em massa que leva à redução de espécies, produz
também o efeito oposto, dá base para variação. Além disso, grandes extinções
aumentam riscos e estresse, estímulo à libido.
GENES E
CARACTERÍSTICAS
A sabedoria
popular do nordeste brasileiro diz “dois pobres feios fazem um bonito”. Assim,
por combinação, dois pais de baixa inteligência natural podem produzir um filho
superdotado. A combinação é mais rica e inesperada, menos mecânica – embora
tendencial.
GENES E
EVOLUÇÃO
É provável
que a totalidade genética tenha elementos “duros”, difíceis de consolidar
mutação, e, por outro lado, elementos “fluidos”, mais fáceis de mutar e
permanecer alterados (em alguns casos, ativados ou desativados). Talvez seja
mais fácil a mutação da cor da pele, ou da asa da borboleta, do que alguma
composição do fígado. Por exemplo, a estrutura básica central muta-se com mais
dificuldade do que os aspectos em si não centrais. Isso tem seu risco, pois
mutações na estrutura fundamental tende a matar o ser, torna-o menos capaz de
se reproduzir; então gera a ilusão que as mutações ocorrem mais nas asas etc.
Mas é evolutivo que se preserve uma parte “dura” da informação genética, logo
nada impede que algumas partes sejam mais mutáveis.
A segunda
hipótese é que, embora de modo fraco, o ambiente leva a que alguns genes, uma
parte deles, em poucos aspectos e de modo colateral, se regule para se adaptar
ao meio, como a geração seguinte à que passou fome ter mais capacidade de
absorver e guardar energia.
GENES E
PERSONALIDADE-COMPORTAMENTO
A biologia
vulgar torna o homem como fruto direto do gene, sem cultura. Isso leva, por
resistência, ao erro oposto, nenhuma influência genética. Pelo menos entre os
humanos, quase tudo vem do meio e da experiência – mas há um efeito
minoritário, sim, do gene. Mas, então, vem um giro: a parte genética é ela
mesma mediada, o conteúdo genético do “temperamento” é um conteúdo que pode
adquirir as mais variadas formas a depender do meio ambiente social. Boa parte
dos problemas teóricos se resolvem quando deixa-se de confundir conteúdo e
forma, aparência e essência etc.
A verdade é
o todo. Portanto, afirmações como “isto é aquilo” são certos e errados porque
parciais, não totais. Dizer que “tudo é construção cultural” é tão certo e
errado quanto dizer que “tudo é construção biológica ou adaptativa”. Há efeitos
biológicos e adaptativos – há cultura e ambiente. Nem pós-modernismo, nem
determinismo genético e biológico! O marxismo relacionalista deve ser superado,
pois ele considera o corpo enquanto mera carcaça viva.
.
MAL DE
ALZHEIMER
Qual a causa
do Mal de Alzheimer? Talvez, há várias causas, possivelmente o excesso de
açúcar. Mas dois casos, embora pouca amostra, indicam que ao eletromagnetismo
em excesso pode causar o fenômeno da degeneração celular cerebral e a
consequente perda de memória. É, aparentemente, o caso de Faraday, o cientista
que fazia experimentos didáticos com a eletricidade passando por seu corpo – e
de uma senhora que, apesar de ainda adulta, não idosa, estava tendo lapsos de
desligamento e perda da memória após anos de trabalho com alta tensão de fios
de eletricidade. Tais experiências causam “curto-circuito” de neurônios, ou
suas degenerações. Ambos os casos são precoces.
A CONQUISTA
SEXUAL
Embora
imensamente alegre com as conquistas de Darwin, Marx usou sua ironia, comum no
meio marxista, ao afirmar que o inglês descobriu a sociedade e a economia
inglesa na natureza não humana. Assim, o fato de, no ambiente de Londres, os
homens ousados cortejarem as, em oposto, educadas e contritas damas,
disputando-as entre si, teria o equivalente no mundo natural.
Ora, Marx
deixa de ver que talvez o hábito social tenha origem natural, do homem – e da
mulher – como animal que é de fato, tal como os pássaros. Temos o natural
socialmente modificado ou adaptado. A natureza adapta-se ao e no social.
Mas vamos
muito além. A ideia da fêmea passiva deve ser superada. O macho solicita a
fêmea, claro. Mas fêmea “solicita ser solicitada” pelo macho, também. Assim,
ela atrai e altera o comportamento do macho por seu cheiro de cio, por exemplo.
Uma fêmea de gato castrada não mais atrai um macho qualquer para si. Assim, a
fêmea perece passiva, mas ela é ativa, até mesmo ela inicia o processo de
conquista.
Isso se vê
na sociedade ocidental contemporânea, quando se tornou mais comum a mulher
tentar conquistar o homem. Mesmo quando a mulher evita a conquista, ela
atiça-o, por exemplo, ao mover seus cabelos, dando inconscientemente o sinal
para aproximação dele, daquele. Ele, por sua vez, estufa os peitos, em sinal de
interesse, em resposta. Tudo, evidente, nem sempre feito com a devida
consciência.
Os
“sociobiólogos”, amantes do gene egoísta, desesperam-se sociobiologicamente
quando lidam com casos em que alguns machos ajudam outro a conquistar a fêmea,
sem a comum de fato disputa entre eles. Para eles, egoísmo é igual à prazer;
altruísmo, igual a desprazer. Não veem a cooperação como ajuda possível na
seleção natural e na seleção sexual. Argumentam, por exemplo, que o pássaro
ajudante logo aprende algo, para si. Como são péssimos em filosofia, deixam de
ver que o altruísmo e o egoísmo são ao mesmo tempo fundidos e superados pelo
mutualismo, pela cooperação, pela ajuda mútua.
Curioso
notar que certas cobras machos, ao falharem em atrair fêmeas, toram-se
travestis, atraem outros machos por um odor hormonal alterado. Leoas em cio
forçam o leão a mais sexo.
Enfim,
oferta e procura. Excesso de machos permite à fêmea ter vários parceiros,
selecionando-os. Mas grande excesso de fêmeas, por sua vez, com a escassez de
machos, faz com que estes tenham várias companheiras, temporárias ou fixas. Nos
quilombos antigos, as mulheres tinham vários maridos, uma poligamia delas com
monogamia tendencial deles. Se há tendência de uma espécie fazer vingar muito
mais fêmeas ou machos, por exemplo, afeta as relações sexuais.
PERFIL E
ANATOMIA
Em outro
momento, demonstramos como – por meio das mudanças hormonais, por exemplo –
hábitos, ambiente e perfis, além de em parte a genética, afetam o perfil físico
de um indivíduo humano, expressando seu perfil psíquico. Indicou-se que
pesquisas observam isso em cachorros e em raposas recém-domesticadas, além de
animais de pasto. Pois bem; um leão tem perfil físico-mental de leão, interno e
externo; um coelho tem o perfil ou “personalidade” de um coelho. Pode haver, no
entanto, diferenças entre eles, quanto mais complexo é o ser, como mais
introvertido e mais extrovertido, mais corajoso ou mais medroso etc. Quando se
diz que a moral tem senso estético ao condenarmos matar uma borboleta mas
aprovarmos matar uma barata – tal senso não é de todo injusto ou arbitrário,
tem realidade de fundo. A rejeição física à barata expressa um mal possível.
BIOLOGIA E
IDEOLOGIA
A teoria das
raças humanas fez um estrago em todo o mundo com seu darwinismo social. Ficou
famosa a pesquisa feita ontem no tempo histórico: os negros americanos têm QI
médio menor, logo a “raça” negra é menos inteligente. A equipe de tal pesquisa,
além do seu baixo nível científico, não soube de Machado de Assis e Milton
Santos… Hoje, a sociobiologia apela para o determinismo genético, requentando
antigas teses. De modo algum é acaso que eles sejam, via de regra,
antimarxistas e de direita. A intensão é justificar este mundo e mantê-lo de
pé, apesar de todos os imensos pesares.
Podemos
provar que, ainda sendo biológico, o ser social fundou algo inteiramente
novo. Repetindo Lukács: somos a única
espécie com produtividade crescente (trabalho, produção, energia em busca de
mais energia), a única espécie que se afasta das barreiras naturais
(sociabilidade e “sociabilidade” dinâmica, do simples ao complexo) e a única
espécie que tende a uma interconexão global (linguagem e “linguagem” complexa,
interconexões crescentes). O ser biológico é assim – no aspecto de todo e geral
do Ser, como dizemos antes, energia em busca de mais de si etc., entre
parênteses – de modo geral, não específico, não em cada espécie individual.
Mesmo forçando a mão para ver tais aspectos em outras espécies elas não têm os
três juntos e na mesma intensidade, que produz salto qualitativo.
O machismo
também afeitou muito a “objetividade fria” da ciência biológica. Hoje, sabe-se
que não apenas os espermatozoides são ativos no útero; este seleciona e o óvulo
guia o caminho daqueles. Já citamos que a conquista também tem o lado ativo
feminino entre humanos. Como as leoas, as mulheres também iam à caça nos tempos
primitivos, pois era mais importante a ação grupal relativo à fibra muscular
mais, homens, ou menos, mulheres, desenvolvidos.
NOVA SÍNTESE
EVOLUTIVA
A teoria da
evolução de Darwin está no polo opostos à teoria genética, logo era necessária
uma unificação consistente. O gigante da biologia leu o artigo de Mendel sobre
genes, sua pesquisa; mas foi incapaz de ver sua importância, ignorando. Ora; se
um animal é igual-semelhante aos demais e aos pais, logo um “texto” replicado e
orientador passa de uma vida para outra – os genes, o DNA e o RNA.
Vejamos um
exemplo de tal unificação. A mutação opera a unidade íntima de acaso
(contingência) e necessidade (causalidade, lei): a mutação ocorre por acidente,
acaso, seja por erro de cópia, de replicação, seja por algum raio cósmico, e
talvez um etc.; mas logo tal mudança deve se por à prova, ou seja, deve ser
verificado se está de acordo com as leis duras da seleção natural e sexual, ou
seja, prospera ou deixa de existir com o tempo. A dialética em ato! O acaso
pode estar em acordo ou em contradição com as leis cegas e gerais. A teoria da
seleção natural-sexual pressiona sempre para o fim da diversidade, o que não
tem valor empírico; foi com a genética o momento de ver a realidade como
totalidade, que o diverso é necessidade biológica.
SEÇÃO TRÊS
O MÉTODO
DIALÉTICO EMPÍRICO DEDUTIVO
LEIS E
CATEGORIAS DA DIALÉTICA
Antes de
debatermos os métodos científicos, vamos à logica das categorias opostas.
Falaremos das três lógicas – formal, velha dialética, nova dialética – com
demonstrações da realidade e, quando necessário, a diferença entre minha
dialética e a de Hegel.
LÓGICA
FORMAL
Vejamos as
leis desta lógica simples:
1. A=A, lei da identidade
Algo é igual
a si mesmo, um elefante é um elefante. Ele é o começo da ciência: distinguir e
classificar os seres. Assim, o finito é finito; o infinito, infinito.
Um dos
problemas desta fórmula é pensar o objeto de modo isolado, sem seu contexto, e
de modo estático, sem seu processo. A dialética vê a estrutura e o movimento de
que depende o objeto.
2. A=A ou não-A, lei da não contradição
Ou algo é
finito ou é infinito; não pode o infinito, nesta lógica, ser finito. A fórmula
é apenas um consequência natural da anterior.
3. A=x ou não-x, sem terceira resposta, lei do
terceiro excluído
Algo é ou
relativo ou absoluto. E ponto, e pronto. Não há meio-termo, caminho do meio ou
um “terceiro excluído”.
Vejamos
nossos exemplos. Hegel descobre que o finito é apenas um pedaço do infinito,
aquele está dentro deste, eles são um, não externos um do outro; finito =
infinito, ou melhor, igual a si mesmo e ao seu oposto. Mais: a ciência é
relativa, ou seja, parcial, incompleta, temporária ou, ao contrário, é
absoluta, chega à verdade ela mesma? Ora, há o caminho do meio, a ciência vai
rumo à verdade, está cada vez mais correta, por aproximação – entre o relativo
e o absoluto, ou seja, um absoluto relativo ou um relativo ele mesmo relativo.
Refutemos a
falsidade, embora também correta, da formulação aristotélica. Diz-se: ou a luz
(A) é onda (x) ou partícula (não-x), não havendo, portanto, meio-termo ou o
terceiro excluído. Ou um ou outro. Mas a física moderna descobre que a luz é
uma sobreposição dos dois estados opostos, tanto onda quanto partícula, podendo
também ser ora um e ora outro. Curioso que universitários insistam na clássica
lógica quando a realidade já a superou.
A VELHA
DIALÉTICA
A dialética
de Hegel diz que
A=A e não-A
identidade
da identidade e da não identidade. Ou seja, o finito é ele mesmo e o infinito,
o interno é ele mesmo e o externo, energia é ela mesma e a massa, tempo é ele
mesmo e o espaço etc. Preserva-se a diferença dos opostos e, ao mesmo tempo, a
mesmidade deles, que são iguais, ou em unidade, ou em identidade. Repitamos o
caso anterior, pois é paradigmático. Antes, dizia-se que luz (A) é ou partícula
(x) ou onda (não-x), sem permitir uma terceira resposta, o terceiro excluído.
Mas hoje sabemos que a luz é um sobreposição de dois estados opostos,
partícula-onda.
Pensar
dialeticamente é, em parte, pensar assim: algo é ele mesmo e seu oposto; ou,
senão, pelo menos em unidade com o seu contrário. O repouso é uma forma de
movimento, por exemplo.
A NOVA
DIALÉTICA
Hegel
preserva a lógica formal dentro de si e, ao mesmo tempo, a supera. Aqui,
preservamos quase toda a dialética de Hegel, além da lógica formal, numa nova
dialética, com peso ainda maior ao movimento (diacrônico). A fórmula é esta:
A=A e…
não-A.
O infinito
põe o finito, o universo; o caos passa, a si mesmo, por não se suportar, para a
ordem; o relativo desenvolve-se, tanto quanto pode, para o absoluto (o caminho
do conhecimento – A=x e… não-x). O homem (A) é biologicamente determinado (x),
mas torna-se, cada vez mais, tendencialmente (…), socialmente determinado
(não-x). Demonstraremos melhor a seguir, perpassando a Lógica hegeliana e a
nossa.
CATEGORIAS
CENTRAIS DA DIALÉTICA
1. Totalidade (integração).
Direto ao
ponto: a totalidade é mais do que a mera soma de suas partes, pois ela é a
síntese das partes e suas inter-relações. Além disso, a relação da parte com o
todo. O exemplo clássico na natureza é este: a água (totalidade) apaga o fogo,
mas ela é formada por átomos de hidrogênio, que causam combustão, e de
oxigênio, que permite a combustão. Assim, a totalidade tem características que
suas partes não têm.
Para saber o
que é um próton não basta saber quais são suas partes num colisor de
partículas. É preciso teorizar com e para debaixo dos dados.
Mario Bunge
redescobriu, sem saber, de modo incompleto, Hegel, ao dizer que não é nem
holístico, com a visão apenas do todo, nem individualista, reducionista, que
foca no individual e na parte. Chama o foco em ambos como sistemático. Ele
acerta, embora não seja o primeiro, mas esquece que a totalidade forma-se,
desenvolve-se, movimenta-se. Aliás, a totalidade não é apenas “espacial”,
estrutura e sincrônico, pois também é “temporal” processual, diacrônico e com história.
A teoria da
complexidade não dá crédito a Hegel. Ela diz que há níveis ontológicos em que
um nível apresenta leis e características que não existem no nível anterior, de
onde veio (propriedades emergentes). Ora, isso já é conhecimento na dialética!
A complexidade é assunto desde o início do século XIX, de modo algum é uma
grande novidade.
A categoria
totalidade exige, antes, a categoria de integração – numa totalidade. Sem isso
totalidade não haveria. As árvores parecem mera coleção e indivíduos separados,
mas elas estão ligadas, inclusive ajudando umas às outras, por ligações ocultas
abaixo da superfície.
Lembramos
que para Hegel e, mais uma vez, para Bunge, séculos depois, o mundo físico
(mecânico) não apresenta um caráter de interdependência geral das partes, estas
são separáveis e divisíveis. Não dependem umas das outras, não existem apenas
por união. Já no nível de imediato seguinte, a química, já existe essa
integração necessária. Assim, vamos do não interconectado à conexão universal –
ou a internconexão física é demasiadamente leve, difícil de teorizar. Bunge
poderia ter poupado neurônios para outras lacunas intelectuais se tivesse lido
Hegel com atenção.
Destacamos,
ainda, dois aspectos. Um bioma é um sistema que funciona por si, como totalidade.
Mas se o homem põe, por exemplo, um animal novo sem predador natural naquela
região, todo o sistema se desequilibra. Em um lago organizado e dinâmico, se
pescamos e retiramos muitos peixes, o fluxo de matéria e energia se desregula
podendo leva ao colapso do sistema inteiro. Na física, com características de
química, os 3 quarks que formam o próton apenas podem existir se juntos,
unidos, colados pelo mediador, o gluon. Quando se exerce uma energia para
retirar uma das partículas, isso gera tensão, logo energia maior naquele local;
assim, a energia de arranque gera logo a energia necessária para surgir de
imediato outro quarks, mantendo a tríade e a “cola que se estica” (gluon, ou,
para minha pesquisa, espaço no mais fundamental).
Enfim, uma
parte, ao ganhar energia, desenvolve-se num todo. Uma parte pode entrar em
contradição com o todo ou com este por meio de outra parte, como na disputa
energética – o que pode fundar nova totalidade. Um todo, ao acumular energia,
torna-se outro todo.
2. Contradição (relação).
Para Hegel,
a base do movimento é, em geral, a contradição. Em dialética, apenas é logico o
que é contraditório. Mas a contradição está na própria realidade, na própria
coisa, não em primeiro no pensamento ou no argumento. Uma estrela como o Sol tende
a colapsar para dentro de si mesma por causa de sua gravidade, mas tal pressão
gravitacional é produtiva, produz novos átomos mais pesados, logo liberando
fótons na direção aposta à da gravidade, empurrando para a expansão estelar;
uma estrela dura bilhões de anos em equilíbrio dinâmico, na contradição, entre
as tendências de contração e as de expansão. Na biologia, temos o exemplo da
“corrida armamentista”: um leopardo corre em busca de um cervo, logo apenas
sobrevivem os cervos mais rápidos; porque estes aumentaram sua velocidade
média, as novas gerações de leopardos têm de ficar também mais velozes; assim,
um e outro se tornam cada vez mais rápidos, geração após geração, por causa do
conflito entre ambos.
Os críticos
de Hegel e Engels, dizem que o mundo natural tem identidade, diferença,
diversidade, até oposição, mas nunca a contradição. Em geral, os pensadores de
humanas do século XX foram, ao que parece, péssimos alunos de ciências da
natureza. Na biologia, temos a seleção natural, do meio, e a seleção sexual; o
cervo macho luta com outro cervo macho pela fêmea, logo quem tem galhas maiores
tende a vencer as lutas; mas galhas cada vez maiores por seleção sexual gera
peso extra, logo torna-se mais fácil de ser vítima de um predador por causa da
dificuldade de correr – eis a contradição. Refutar a contradição como apenas
social ou apenas capitalista é fácil, basta evitar a hiperespecialização de
nossa época.
Para Hegel,
porém, a contradição é externa perante a unidade interna; para Marx, a
contradição também é essencial. A contradição, para ambos, é produtiva, não só
destrutiva.
Para haver
contradição, deve existir, antes, a relação ou a autorrelação. Por exemplo, os
biólogos passaram da cooperação na natureza para a lei da luta de modo absoluto
e unilateral, mas ambos existem na realidade biológica. A verdade, unidade, da
contradição e da cooperação é a relação, relação recíproca ou relação consigo.
Tudo apenas é em relação.
3. Movimento (espaço-matéria).
Os antigos
pensavam o movimento como circular, caótico ou ilusório. Hoje, sabemos que
apenas permanece aquilo que muda – e só a mudança é permanente. Trata-se de,
além de saber as leis regulares do mundo, saber também as leis de mudança, de
modificação – e até as leis mudam!
Movimento
tem dois significados válidos: 1) deslocamento; 2) mudança. Adicionamos o
terceiro: 3) mudança por deslocamento. Quando um objeto é muito acelerado,
ganha massa e diminui seu volume.
Movimento é
processo, desenvolvimento; mais do que mero movimentar; mais do que circular;
também em espiral ascendente.
Por outro
lado, para haver movimento deve haver o espaço e a matéria (aqui, em sentido
amplo), o espaço-matéria.
LEIS DA
DIALÉTICA
1. Mudança de quantidade para qualidade;
Hegel usa o
exemplo da água: ele torna-se gelo de repente, no salto - não de modo gradual, aos poucos. A água
torna-se cada vez mais gelada, mudanças apenas quantitativas, então salta de
qualidade, torna-se gelo, sólida. O marxismo vê também a mudança de qualidade sem
salto como a criança que se torna adulta de modo gradual.
2. Unidade, contradição e interpenetração dos
opostos;
O átomo é
formado por prótons, positivo, e elétrons, negativo. Os sexos opostos devem se
unir. A adrenalina serve tanto para lutar quanto, oposto, para fugir. Mais a
frente desenvolveremos melhor tal aspecto.
3. Negação da negação;
Hegel usa
tal exemplo: a fruta nega a flor, o broto nega a fruta e assim o ciclo
continua.
4. Desenvolvimento desigual e combinado.
As partes de
uma totalidade se desenvolvem de modo desigual, em ritmo desigual, não
sincrônico, formando uma combinação. Uma estrela, por exemplo, produz elementos
pesados no seu centro, mas suas camadas mais externas ainda são feitas de
elementos leves. Um feto inicia com desenvolvimento desigual de suas partes.
Como dissemos,
mantemos de pé a dialética de Hegel, além da lógica formal, mas pesamos a mão
no movimento, no diacrônico. Além disso, damos a base que falta à lógica de
Hegel com nossa equação qualitativa, em especial aqui, a energia.
OBSERVAÇÃO
PRELIMINAR: UNIDADE DOS OPOSTOS NO PROCESSO
Hegel tentou
unifica as categorias opostas infinito e finito, conteúdo e forma etc. de modo
reflexivo, mostrando a unidade interna e oculta delas, que são o mesmo ainda
sendo diferentes. Mas ele permaneceu, em geral, estático, não diacrônico. Nesta
obra, neste ensaio, demonstramos outros modos de ver tal unidade, como uma
categoria passando tendencialmente à outra, ou a energia como base. Mas vamos
mais longe: a categoria A é igual à categoria oposta B em processo. Assim, o contínuo
(abstrato) é o discreto (concreto) em concentração, concentrado (processo)
(veja-se: um feixe de luz aparece como contínuo porque várias partículas,
fótons, os discretos, estão em movimento e juntas) – fórmula geral: o abstrato
é o concreto em processo. O movimento de uma categoria, ou sua oposta, ou
vice-versa, faz que com que haja a unificação delas. Isso é uma revolução na
lógica dialética, junto a elementos como considerar a energia no “fundo” das
relações categoriais, além da contradição das categorias mais do que apenas a
oposição entre elas. Se não todas, quase todas as categorias em oposição
externa fazem tal movimento, expressando essa igualdade no processo, o que
dispensa uma exposição exaustiva. Os não marxistas não podem mais reclamar que
nossa dialética parou na, ainda revolucionária, ainda na vanguarda científica,
lógica de Hegel do século 19. Aqui, uma categoria passa para a outra não só no
pensamento, também na prática, na matéria, em devir real-conceitual de uma para
outra. Sempre que for interessante, daremos exemplos nas ciências, ou seja, no
Ser, no objeto, na realidade, contra a exposição apenas abstrata hegeliana e
kantiana.
MÉTODO
DIALÉTICO
No início do
século 19, Hegel tornou-se imortal por sua grande Lógica, o moderno método dialético.
Suas contribuições, ainda hoje, em permanência ao que parece, são insuperáveis;
uma dialética superior soa impossível. Além disso, deu-se-nos uma dialética
materialista, embora de cabeça para baixo. A força hegeliana é o fato, entre o
outros, de ser não unilateral, de suprassumir as grandes oposições da
filosofia. Este ensaio, portanto, toma a Ciência da Lógica como sua base
correta e primeira, mas incompleta. Por isso, também, trata-se de um ensaio.
Quando
perguntamos a um hegeliano ou marxista “O que é ou como procede o método
dialético?”, logo gaguejam, ficam desconfortáveis, improvisam. De um lado, de
fato inexiste um procedimento investigativo fixo, o que perdoa tais
intelectuais – na dialética, pesquisar é estar dentro de um labirinto, tentando
descobrir o caminho correto; de outro, como disse Hartmann, o método dialético
é irmão do fazer artístico, criativo e associativo, que “saca” a realidade até
ali invisível.
O método
dialético é, em resumo grosseiro, o inverso do método hipotético-dedutivo, ou
seja, em linguagem inferior e falha, um método empírico-dedutivo. Parte-se
sempre da empiria para alcançar a verdade do mundo, mas, como os dados mentem e
escondem, além de revelarem, usa-se a razão para perceber aquilo oculto ou
deformado. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o
conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade
saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles,
mas neles mesmos. Assim, o empírico faz parecer que há apenas custos de
produção somados a um cálculo do patrão para ter um preço de produção de suas
mercadorias, mas Marx vai para além ou para dentro da empiria e descobre que
há, na verdade, trabalho necessário com trabalho gratuito do operário ou
mais-trabalho, valor e mais-valor, exploração e roubo. É verdade que os dados
empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas
também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e
enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão
interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir
além e abaixo ou dentro daquilo empírico.
Eis o método
dialético.
Em minha
pesquisa, além de procurar nos dados a verdade, evitando a mera descrição,
percebi que o marxismo caiu em teorias opostas, em oposições. Minha tarefa,
portanto, foi listar as principais polêmicas e, colocando-as em movimento, resolvê-las
– com o raciocínio, claro, mas em base à empiria. Eis, de outro modo, o método
dialético.
A verdade é
não empírica. Descobrimos na pesquisa empírica aquilo que não é palpável,
tocável, mas que se revela ao pensamento desde a própria empiria. A dialética é
a verdadeira fusão – mais do que mera aglutinação, como é o caso do
hipotético-dedutivo – de empirismo e racionalismo; pois ao pensamento deve-se
dois lados ativos, após colher o material necessário: 1) perceber os enganos
dos dados; 2) perceber a verdade daquilo pesquisado.
Daqui para
frente, teceremos comentários e propostas críticas de atualizações da obra
Ciência da Lógica de Hegel. Uma crítica possível, mesmo que parcial, tem, de um
lado, de agregar o melhor daquilo criticado para si, de outro, acertar o outro
exato no seu ponto mais forte, de base – o ser e o nada.
SER, NADA,
DEVIR
O puro ser é
como o puro nada. Vejamos: se o ser não tem qualidade, nem características, nem
determinações – ele, enquanto puro, é nada! Já o nada é, logo ele é como o ser!
A coisa se mostra assim, numa anedota: tem cara de jacaré, tem olho de jacaré,
tem focinho de jacaré – não pode ser um coelho. Assim o puro ser é como o puro
nada; são diferentes e opostos, mas estão em unidade. Já o materialismo afirma
que o nada amplo não pode existir, que ser não pode vir do nada. Eis que há
teses na física que afirmam ir-se do vazio ao cosmos. Em minha elaboração, tal
vazio total seria o espaço, o mais próximo do chamado puro ser por ser mais
simples, o transparente. Para os físicos, o vazio teria campos e nessa
autorelação surgiriam fótons que decaiam em elétrons e pósitrons que, de novo,
tornar-se-iam fótons, num ciclo repetitivo até tudo mudar; mas demonstrei em
outro local que a energia de ponto zero é, na verdade, autoflutuações do
próprio espaço.
É o ser quem
põe o nada como nada de um ente. Em nossa equação qualitativa, categorial: nada
é ser no devir. O devir do ser, ele em movimento, põe o nada. Ou, se correto, o
início do ser é tão simples que ele, sendo como nada, é um nada.
Na
matemática, torna-se assim, desde Husserl: o zero é o vazio e o infinito, o
infinito e o vazio; um, porém o outro; a relação do zero do conjunto infinito
com o zero do conjunto vazio – põe o um. O que é uma lógica da matemática pode
ser sintoma da própria realidade, da origem do universo. Talvez, acomode-se na
quarta dimensão.
Ir do nada
ao ser é nascer; ir do ser ao nada, perecer, processo de morrer. Mas as coisas
e vidas, os entes, não surgem do nada, mas de outro ente. O nada no ente é
apenas ausência e falta; o que pode ser diferente no nível, do Ser, do cosmos.
A unidade,
não identidade, do Ser e do Nada é, para Hegel, o devir, o vir-a-ser, o
tornar-se. Nesta obra, o devir é a unidade de matéria e movimento; estes,
separados não tem verdade alguma. Destacamos que matéria, aqui, inclui não
apenas a matéria na física, pois tudo é matéria – nada existe divino.
Em Hegel,
ser não é nada, nada são de idênticos, mas estão em unidade. Para nós, o nada é
substituído por energia e sua base, a quarta dimensão espacial, fora e dentro
da coisa ou ente.
O vazio
infinito, quarta dimensão espacial, não tem porque não se movimentar dentro de
si próprio. Ao menos ele tem uma tensão que desaba no finito, funda nosso
universo finito.
CONCEITO
SUPRASSUMIR
Hegel usa a
palavra em alemã Aufheben ou Aufhebung para expressar três significados ao
mesmo tempo: superar, guardar (conservar) e destruir. São significados opostos,
conservar e destruir, na mesma palavra! E é isso que acontece na realidade
(como o devir, viar-a-ser, como o suprassumir do nada e do ser).
O
socialismo, por exemplo, destrói de fato o capitalismo, mas, ao mesmo tempo, o
preserva – e também o eleva. O capitalismo não apenas simplesmente superado ou
destruído – é suprassumido.
A DIFERENÇA
E O MESMO
A dialética
é uma filosofia ao mesmo tempo da diferença e da mesmidade. Ser e nada são de
fato diferentes e, ao mesmo tempo, o mesmo. Causa e consequência são diferentes
e são também o mesmo. Finito e infinito são diferentes, mas são o mesmo. E
assim por diante. Em todas as categorias duplas que trataremos daqui em diante
é preciso ver a unidade delas na diferença.
Essa é a
dialética. Por exemplo: Lenin errou ao apenas opor a luta econômica (por
salário, etc.) contra a luta política, como se esta última fosse a realmente
válida e superior. Ora, a luta econômica é política e, ao contrário, a luta
política é econômica. A grande luta política de 2013 no Brasil produziu uma
onda de greve., por exemplo.
SER AÍ, ALGO
E OUTRO
O devir,
como unidade de ser e nada, passa para o Ser aí.
A
determinação torna-se QUALIDADE, ou seja, determinação que é aí. Por sua vez, a
qualidade torna-se REALIDADE.
Observemos
bem: se determinação torna-se qualidade e, depois, realidade – e se
determinação é negação –, então a própria realidade é negação. A realidade é
negação de outra realidade.
Na
realidade, o ser vai para dentro de si mesmo, torna-se ALGO.
ALGO E OUTRO
Algo passa
por mudança qualitativa e torna-se Outro. Este Outro é, assim, um Algo que
também passa para um Outro – ao infinito.
Aprofundemos
Temos um
livro e uma caneta. Se um livro é algo, logo a caneta é outro (o outro do
livro). Ora, isso é artificial, pois a própria coisa não está nos dizendo se é
algo ou outro – somo nós arbitrariamente que decidimos isso. Mais abaixo, vamos
resolver esse problema.
Os dois,
livro e caneta, são algos e, ao mesmo tempo, os dois são outros (cada um é o
outro do outro). Se o primeiro é algo e outro e o segundo também é algo e outro
– logo eles são o MESMO. Vamos para o exemplo. No começo de O Capital, Marx
fala de uma dúvida de Aristóteles: é possível trocar 3 sofás por uma casa, mas
casa e sofá são coisas completamente diferentes! Como coisas diferentes podem
ser iguais? Aristóteles não soube responder, disse que era apenas um artifício
mental. Já Marx resolveu o problemas ao dizer que eles são também o mesmo, são
igualado, porque são ambos frutos do trabalho humano – três sofás tem tanto
trabalho humano quanto uma casa.
Aprendido
isso, avancemos.
Como fazer
com que o algo não seja outro, com que seja de fato algo – e que o outro seja
de fato outro? A consequência é de fato o outro causa, por exemplo. Vamos para
o reino místico: a alma, se existisse alma, é de fato algo e corpo da alma é de
fato o outro. Veja que algo, uma pessoa, dividiu-se em dois algos, alma e
corpo, um sendo verdadeiramente algo e
outro sendo verdadeiramente outro. Isto ser algo e aquilo ser outro já não é
uma decisão artificial, uma escolha.
SER EM SI E
SER PARA OUTRO
Como algo
divide-se em dois algos, que são também algo e outro, ocorre que eles se tornam
ser em si e ser para outro. O ser em si é o ser dentro de si – enquanto o ser
para outro é externo, digamos. Na metáfora da alma e do corpo, o ser em si é a
alma e o ser para outro é o corpo pertencente à alma (por isso, para outro).
Há ainda
outra interpretação. Os dois algos, separados um do outro, nesta relação são,
cada um, ser em si – ou seja, independente do outro, sem relação com o outro,
relacionado apenas consigo mesmo. Mas cada um é, por outro lado, ao contrário e
ao mesmo tempo, ser para outro – ou seja, ser que está nessa relação com o
outro.
DETERMINAÇÃO,
CONSTITUIÇÃO
A
determinação é, por exemplo, o fato de uma bolsa ter a determinidade, para
dentro, de guardar objetos; ele é um só com a sua constituição, que são o
mesmo. O que nos interessa é que se põe na determinação a ideia de núcleo. O
átomo é determinado pelo seu centro, formado de prótons e nêutrons, sendo a
quantidade do primeiro o que determina a natureza primeira de uma partícula
atômica. O núcleo preserva-se enquanto os elétrons em volta dele sofrem as
ações do meio externo, ao menos de modo mais direto. O núcleo desenvolvido da
vida complexa é o cérebro; na célula, evoluiu-se dos seres procariontes, sem
núcleo, para seres eucariontes, com o código genético determinante protegido.
A
constituição pode revelar-se como tal ao fundar a determinação, e este último
torna-se a si mesmo com a construção da constituição.
LIMITE, MAU
INFINITO, O INFINITO QUALITATIVO
O infinito
qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão
espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia. O
infinito está já aí sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito
está diante de nós, no meio de nós, não avançamos até ele. O bom infinito
produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão. Este infinito
ruim se expressa na natureza como com a altíssima reprodução de gafanhotos,
formando uma nuvem, comendo tudo em sua volta, logo faltando depois comida
(energia) para sua própria sobrevivência, passando assim por algum tempo do
nível de equilíbrio de sua população.
Aqui vermos
o erro de Hegel ao esquecer o conteúdo. O que é infinito, o infinito, senão o
espaço? Ele abarca o finito dentro de si, além de o formar. Quando a Lógica diz
que o Ser passa a ter a determinação da infinitude, diz apenas que o espaço,
como o vazio, está no centro da ontologia. Finalmente, resolvemos a questão,
encontramos o fundo.
Se o
infinito produz o tempo, manifestar-se como, a hipótese insistente de muitos
sobre o tempo produzir o espaço, não o inverso, ganha novo significado: o
infinito produz as três dimensões, ou melhor, as quatro. Curioso notar que a
garrafa de Klein, sem externo nem interno, tal como a fita de Möbius, tem uma
dimensão a mais; e, nestes casos, os “lados” são uma quase ilusão ao se focar
na parte, no pedaço, não no todo – o que aponta para as três ou quatro
dimensões como pedaços do infinito, parcialidades relativas.
Nossa teoria
atual e os dados dizem que nosso universo é finito. Mas se ele tem fim, há algo
depois de si e este também tem algo, como outro universo, depois de si – ao
infinito. O problema é a concepção de infinito como uma linha reta cada vez
maior, sempre podendo avançar mais, ou seja, o mau infinito, da progressão
contínua, pois encontra um limite-barreira e o supera, encontra outro e o
supera, e assim por diante. Como dissemos, o infinito como um círculo sem
começo nem fim hegeliano tem por resposta prática a quarta dimensão
espacial-temporal. Nosso universo é finito, mas infinito quando visto “para
dentro”, além da possibilidade de haver outros universos irmãos. O universo em
3 mais um tempo dimensões, finito, tem a pulsão extensiva, amplia-se, um finito
que quer ser infinito, má infinitude.
A ideia de
que há infinitos maiores do que outros também cai na má infinitude do
progresso. Mesmo uma teoria errada pode ser desenvolvida ao limite, como é o
caso.
UNO E VAZIO
– ATRAÇÃO E REPULSÃO
Para Hegel,
o infinito real desaba no uno, no ser para si. Ou seja, ele é um dos
precursores da teoria do Big Bang e da concussão de que uma estrela expande-se
e contrai-se num ciclo de repetição.
É provável
que o infinito, aqui exposto como quarta dimensão espacial, forme nosso
universo, como o núcleo pequeno e denso do primeiro Big Bang.
O que é
vazio para Demócrito e Hegel, para nós é espaço. O uno, para ambos, é o mesmo
que o vazio; para nós, o mesmo que o espaço, só que concentrado, como partícula
e onda. O universo expandiu-se porque a matéria e a luz decaíram em espaço,
facilitando a expansão, repulsão. Para Hegel, a relação do vazio com o uno
(átomo etc.) é a causa da transformação do único uno em muitos unos, no
múltiplo. O movimento, ao menos, está correto. O Big Bang foi uma expansão, as
estrelas como exemplo de unos explodem em uma nuvem cósmica de partículas (os
muitos, o múltiplo, os muitos unos). Mas Hegel foi além: a repulsão do uno
único dá lugar à atração dos novos muitos unos; ou seja, o universo voltará a
unificar-se como no seu começo e a nebulosa que surge da explosão da estrela
reúne-se mais uma vez, e de novo, numa nova geração de estrela.
Aqui, Hegel
antecipa a teoria das estrelas e a do Big Bang, assim como a crítica superante
desta última. Kant primeiro considera as partículas estáticas e apenas depois
adiciona a repulsão e a atração nelas, teorizando a origem do Sol e de seu
sistema. Hegel, de modo lógico, foi mais longe, pois havia antes outra estrela,
outro Sol, que se expandiu, explodiu-se, e formou as tais partículas das quais
começa Kant.
Entre outras
genialidades, duas se destacam neste ponto, entre elas: o Uno é produtivo. O
animal é produção de energia, a estrela produz novos elementos químicos, a
fábrica produz etc. Minha tese é a de que os buracos negros também são
produtivos sob suas condições extremas como, talvez, transformando espaço em
matéria ou elementos químicos excessivamente pesados estranhos.
As
descobertas e as teorias modernas reforçam Hegel, mas ainda há outro ponto: o
isolamento do para si do uno na repulsão parece como sua afirmação, ao
isolar-se dos demais, mas é sua negação, exato por seu isolamento. Por excesso
ou fata de energia, como um átomo isolado, precisa ligar-se com os demais para
de fato afirmar-se, em comunidade. Na biologia, uma árvore cresce melhor na
floresta do que se isolada, pois a presença de outras espécies torna seu
ambiente mais saudável, como maior disponibilidade de energia na terra.
Para fazer
jus, o primeiro filósofo a pensar algo como um Big Bang, onde algo concentrado
dispersa-se no cosmos foi o grego Melisso de Samos:
Com efeito, quando o Todo se dissolve em seus
elementos sob a ação do Ódio, o fogo se une em um todo e cada um dos outros
elementos. Inversamente, quando de novo sob a ação do Amor, há redução ao um, e
as partes são forçadas a se separarem outra vez em cada (elemento).
(pré-socráticos, p. 203)
São palavras
de Aristóteles sobre Melisso que demonstram a poderosa intuição científica,
recuperada em nosso tempo.
O ISOLAMENTO
DO PARA SI
Quando o Uno
(um) desmancha-se, dissolve-se, fragmenta-se, ou seja, ocorre a repulsão de si
mesmo, surge os vários unos, os muitos (múltiplos). Cada uno novo nega o outro
uno, isola-se. Mas esse isolamento, que aparece como sua afirmação absoluta, é
na verdade sua negação, sua destruição. Ele somente consegue afirmar-se de
verdade em comunidade, em união, em atração. Assim, uma pessoa isolada passa
por instabilidades físicas e mentais – somos um ser social. Assim, um átomo
isolado é instável, logo, para resolver isso, ele se liga a outros átomos
formando moléculas. Darwin descobriu que a planta desenvolve-se melhor se
agrupada com outras plantas, de outras espécies. Ademais, sabe-se hoje, as
árvores têm uma conexão abaixo da superfície por onde trocam nutrientes e
informações, ajudam umas às outras etc.
SIMPLES E
COMPLEXO
Engels, em
sua Dialética da Natureza, tenta demonstrar que o simples é, ao mesmo tempo ele
mesmo e o seu oposto, o complexo, A=A e não-A. Assim, uma célula viva é
simples, mas muito complexa quando observada por outro ângulo, dentro de si,
pois é todo um grande sistema interno. Nossa nova dialética, além disso, inclui
o momento do simples rumo ao complexo, A=A e… não-A. Assim, o ser vivo simples,
unicelular passa para um ser composto, complexo, pluricelular, como a água viva
e um elefante.
INTENSIVO E
EXTENSIVO
Hegel diz da
identidade de ambos, intensivo e extensivo. Um grito mais intenso, por exemplo,
torna-se ouvido numa extensão maior. O que unifica os dois opostos é a energia,
mas esta sendo limitada para o uso gera uma contradição, a afirmação energética
do intensivo reduz a extensividade e vice-versa.
Uma estrela
com mais intensidade de energia poder ser muito menor que uma com menos energia,
pois produz mais gravidade, maior curvatura do espaço.
As quatro
“forças” fundamentais da física são apenas um, similares à gravidade, talvez
excluída apenas a nuclear fraca, responsável pelo decaimento do átomo. A
gravidade é a força mais extensa, logo a mais fraca em intensidade; a nuclear
forte, que mantém o núcleo do átomo unido, é a mais curta, logo a mais intensa
– além de ser a mesma da gravidade em proporções de intensidade e extensividade
diferentes e opostas, como espaço condensado, para dentro de si.
Para Hegel,
o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro,
energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade.
Mas a intensidade é, também, espaço-tempo condensado; mas a extensividade é, também,
energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.
A
intensividade passa para a extensividade, vice-versa, a extensividade passa
para a intensividade.
CONTÍNUO E
DISCRETO
A realidade
é fluido ou feito de partículas? Ambos. A união de partículas, uns, unos, forma
algo contínuo, como a água contínua é formada por moléculas discretas. A
energia permite a separação ou a união dos unos, dos discretos, formando algo
contínuo. O espaço é tanto contínuo quanto discreto, o que pode ser visto, uma
solução, pela teoria da gravidade quântica em loop, que defende o espaço ser
como correntes cujas partes estão ligadas umas às outras.
Como o
contínuo tem fim, tem borda, ele é ao mesmo tempo discreto.
SALTO DE
QUALIDADE
Engels diz
que a natureza não tem salto porque ela já opera por saltos. Como dissemos, a
água não se torna gelo aos poucos, mas salta para tal estado após esfriar-se
muito. Mas há saltos por sobre etapas na natureza? Porque há etapas necessárias
é que pode haver saltos por sobre elas. Primeiro, surgem as estrelas, ao juntar
a matéria por gravidade, e depois, os buracos negros. Mas a computação moderna
demonstrou que no início do universo partes dele colapsaram diretamente em
pequenos buracos negros. Na biologia, dados empíricos de salto por cima de
etapas é dificílimo de conseguir, mas deve haver.
O salto de
qualidade ocorre por ganhar ou perder energia, de modo absoluto ou relativo.
QUALIDADE E
REARRANJO
Para
dialética, a coisa ocorre assim: mudanças de quantidade nada afetam a qualidade,
mas, chega-se a um ponto em que mudanças altas de quantidade produzem uma
mudança qualitativa – salto de qualidade por mudanças de quantidade. Caso
famoso da água que congela de uma vez ao esfria-se muito. As diferenças de
qualidade são diferenças, no fundo, de quantidade: a diferença da luz vermelha
para a violeta é a de quantidade, de frequência; a diferença qualitativa de
átomos diferentes é a diferença quantitativa da quantidade de prótons e
elétrons de cada um. Pois bem; há outro modo de diferença qualitativa que
exclui a quantidade em si – o arranjo ou rearranjo dos elementos constituintes.
A diferença qualitativa do diamante e do grafite não é a quantidade nem o tipo
de partículas, que são iguais para ambos, mas a forma em que elas estão organizadas.
Na hipótese da teoria das cordas, as partículas são cordas unidimensionais em
que seus formatos-arranjos, se abertos ou fechados etc., importa para o que
são. A primeira das três fases do socialismo é, grosso modo, um rearranjo –
nova forma de organizar e hierarquizar os elementos – da última fase do
capitalismo.
Na obra O
Capital, de Marx, este usa de modo inconsciente nossa formulação: primeiro,
reúnem-se, a partir do capitalista, diferentes artesãos na oficina comum, cada
qual com sua tarefa – todos fazendo, por si, alfinetes, por exemplo; depois,
surge, por isso, o rearranjo das partes, pois, no lugar de trabalho mais
isolado, cada trabalhador não faz uma agulha por si, mas uma das partes do
processo de produzir agulhas – da cooperação simples à cooperação complexa,
manufatura. Salto qualitativo sem mudança em si de quantidade.
Tal
formulação é tão gritante que duvido ter sido o primeiro a formulá-la, mas,
ainda assim, não conheço nenhum autor que a tenha exposta, tanto mais no modo
como fiz acima.
No mais,
mudanças quantitativas causam mudanças de arranjo, logo qualitativas.
SALTO PARA
SI
Na física,
temos três tipos de neutrino, cada um mais elevado, mais pesado (com mais
energia), em relação ao outro, mas ainda neutrinos, três sabores: neutrinos do
Elétron, neutrinos do Múon e neutrinos do Tau. Como se o geral fosse o mesmo,
ainda que diferentes e “maior” em certos aspectos e no particular.
CAOS E ORDEM
O caos não
suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo
lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos,
por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que
veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto,
o caos, dentro de si.
Na coisa, a
ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e
ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo. Isso se vê
na previsão do tempo, que deve ser sempre curta.
O caos
absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade
de caos e ordem cai-se na probabilidade.
O socialismo
é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central
e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.
O caos é
mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.
Com o tempo,
a Lua e a Terra se sincronizaram para que a rotação da Lua em torno de si
esteja com o mesmo lado sempre direcionado para o nosso planeta. Na biologia,
nos estágios iniciais de uma comunidade, formada por várias espécies em
determinado espaço, há instabilidade; depois, com o seu avanço, adquire
estabilidade, como população constante, e tudo o que a comunidade consome é por
ela mesma produzido.
Dentro da
ordem como a totalidade, reina o caos relativo.
.
SOBRE A
PROBABILIDADE
A
probabilidade revela a contradição de ordem e caos no mesmo. Há que separar o
resultado geral do resultado particular. Em 2014, percebi que o governo Dilma,
por causa das circunstâncias, iria cair, isso é o geral como resultado. O modo
como iria cair poderia ser vários: 1) golpe, 2) renúncia, 3) impedimento, 4)
protestos dos trabalhadores, não da classe média. São formas de cair. Há uma
quinta forma de derrubar o governo, embora o mais improvável, o governo mudar
radicalmente a politica e mobilizar nas ruas para impedir o processo;
conhecendo-se a tradição pelega do PT, era pouco viável. O capitalismo cairá,
isso é determinístico, mas a modo de cair, se vai ao socialismo ou à barbárie,
ou à extinção, é algo em jogo.
O erro do
paradigma do mundo como certa máquina, ou computador, ou relógio, não como sistema
orgânico, leva ao foco na coisa, como um dado ou moeda. Ora, no dado perfeito
ou moeda ideal, o que acontece é acaso, aleatoriedade, além de possibilidade,
não probabilidade como algo de ½ de ser cara ou coroa. Já no sistemático há, de
fato, probabilidade ou possibilidade crescente.
INFINITO
QUANTITATIVO
Antes,
tratamos da má infinitude qualitativa; agora, o oposto, trataremos da má
infinitude quantitativa. Perceba que o quantum ou quanto, como quantidade sem
limite em si, pode ir para o infinitamente grande ou infinitamente pequeno.
Sempre há um número maior do que o qualquer outro. Avançar para um número maior
faz com que suja a má infinitude quantitativa. Na má infinitude da qualidade,
algo supera sua barreira e se torna outra coisa – a semente é limite e barreira
de si mesma, e supera-se tornando-se broto, depois planta, etc. No
quantitativo, ao contrário, essa mudança não ocorre: a passagem de 5 para 6 não
muda a qualidade, apenas a quantidade é alterada. E torna-se algo repetitivo:
6, 7, 8…
Pequemos o
Número 8: ele é um quanto ou quantum. E o que existe além de dele, fora dele?
Existe o infinito da quantidade, do 9 adiante. Então temos o finito, de um
lado, e seu oposto, seu além, o infinito, de outro. Esse finito tem natureza
oposta, tem duas determinações opostas: 1) ele é uma quantidade determinada,
por exemplo, 8; 2) mas tem o impulso irresistível de ir ao infinito, ou seja,
de tornar-se 9, 10…
Quando
separamos o quantum, quanto, e seu além, o infinito, descobrimos uma relação de
opostos – o quantum e seu além. Mas Hegel faz uma bela manobra: o além, onde
está o infinito, é também um quantum! Logo surge uma relação entre 2 quantum,
entre duas quantidades. Então entramos no próximo tema: a relação quantitativa.
O quantum tinha um limite apenas indiferente, quer dizer, ele poderia
simplesmente saltar de 8 para 9, para 100… Tanto faz. Mas, agora, limitado por outro quantum
externo a ele, ele torna-se um quantum determinado, uma quantidade determinada
e limitada por outro quantum.
RELAÇÃO
QUANTITATIVA
Vamos tratar
de quantidades, de quantum, que só têm sentido em relação um com o outro, nunca
isolados. São três tipos de relação: a direta, a inversa (ou indireta) e a de
potências.
Vejamos a
relação direta. Se pegarmos números como 4/2, quatro sobre dois, temos uma
relação em que o 4 e o 2 só têm sentido nessa relação. A divisão dá 2. Mas
podemos mudar a quantidade, mantendo o mesmíssimo resultado (chamado expoente
por Hegel): 6/3, seis sobre três, que também é igual a dois. O mesmo resultado,
a mesma natureza, é expresso em quantidades diferentes.
Vejamos,
agora, a relação inversa. Se dizemos que 3+2=5, podemos dizer, também, que
4+1=5. Se um número cresce, o outro número cai – e vice-versa. Simples assim.
Um número nega o outro para manter o mesmo resultado, 5. O limite dessa relação
é igualar ao resultado, como 5+0=5. O último 5 aparece como limite, como
barreira, além do qual está o infinito.
Por último,
vejamos a relação de potências. Se dizemos 22 ou 23, dois elevado a dois ou
dois elevado a três, dizemos, então, que o 2 está em relação consigo mesmo como
se fosse relação com outro, 2x2 ou 2x2x2. Essa relação consigo mesmo na
potência é o quantitativo retornando para o qualitativo – o quantitativo
qualitativo ou o qualitativo quantitativo.
Para passar
ao próximo ponto, digamos algo especial. O quantitativo, inicialmente, aparece
como aquilo que pode subir e descer sem limite, sem mudar nada. Mas a
quantidade é verdade da qualidade. Para subir e descer como queira, o
quantitativo deveria pertencer a algo que não muda nenhum pouco nesse subir e
descer – mas isso nunca existe. A mudança de quantidade chega a um ponto em que
muda a qualidade daquilo ao qual ele pertence – por isso chegamos à medida,
unidade da qualidade e da quantidade.
UMA
INTERPRETAÇÃO
O marxismo
percebeu que quantidade e qualidade podem entrar em contradição. Vejamos dois
casos. Para vender mais quantidade de mercadorias, os patrões fragilizaram a
qualidade das mesmas mercadorias para forçar o consumidor a logo comprar um
novo exemplar. Hoje, a produção científica se mede pela quantidade de artigos
publicados, mas isso diminui a qualidade de tais artigos, pois produzir algo
relevante leva tempo. Como a quantidade vem da qualidade como sua base, ao
deteriorar a qualidade, a quantidade acaba, por fim, a deteriorar a si mesma –
embora de início a medida tome partido da quantidade, tal contradição tem de
ser resolvida por causa da deterioração do seu oposto, logo de si mesma.
MEDIDA
O que os
qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa
por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada
um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas
serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).
Na medida,
Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração
importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado
com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas
inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na
biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado
seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem
crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste,
limita a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele, limitando a
energia. No social, o inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu
deslocamento de espaço-tempo condensado e energia de sua base necessária, por
exemplo. Vejamos um exemplo mais próximo. A Coreia do Norte não produz
alimentos e materiais como petróleo com suficiência, o que dá base para o
regime autoritário, ou seja, não produz energia suficiente para homens, outros
seres vivos e para as coisas; por isso, por salto, teve de compensar produzindo
energia nuclear para bomba atômica, assim atraindo recursos para si em forma de
chantagem internacional.
Outro ponto
é que, para muitos, por suas naturezas concretas muito diversas, maçã, por
exemplo, não é igualável à xícara. Ora, ambas têm energia, logo certa
quantidade de maçãs têm tanta energia quanto certa quantidade de xícaras. Em
nível inferior, a quantidade de elementos atômicos também são iguais sob certas
proporções de uma e outra.
POSITIVO E
NEGATIVO
Vejamos. 1)
o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo
e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo.
Eis o movimento puro e uma pista para o pensar científico.
Para Hegel,
o nem positivo nem negativo estava apenas ao mesmo tempo com o positivo e o
negativo. Uma estrada vai, ao mesmo tempo, para o leste, positivo, e o oeste,
negativo; mas estrada mesma é nem positivo nem negativo, abarcando os opostos
dentro de si; o átomo neutro tem dentro de si o positivo e o negativo. Nós
vamos mais longe, mantendo a contribuição estática hegeliana.
No início do
universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de
prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do
universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do
próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem
negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e
o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o
nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula
pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a
antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo
nem negativo”, diferente do elétron e do próton. Um fóton, sem carga, de alta
energia divide-se em elétron, negativo, e anti-elétron ou pósitron, positivo,
e, atraindo-se, colidem e tornam-se um novo fóton, também sem carga, nem
positivo nem negativo.
O próton e o elétron atraem-se porque são
opostos, no nível externo, mas porque são o mesmo, no nível interno. Ambos são
completos incompletos, pedaços de algo antes uno (nêutron). Já que são partes,
além de proporções gerais diferentes, um cai no outro com facilidade; mas como
cada um, sendo parte, é também um inteiro, o elétron e o próton afirmam-se, têm
fronteira, um não cai no outro como deveria. A fronteira também se dá pelo
motivo de ambos serem espaço condensado, com campo próximo próprio. O mesmo
fato da atração, ser espaço concentrado, causa a repulsão, ser algo em si como
espaço condensado.
A
contradição entre o positivo e o negativo revela-se no exemplo da contradição
entre proletariado e burguesia. A contradição de elétron e antielétron se dá
porque, na atração, cada um afirma-se diante do outro – mas exato isso
aproxima.
Na biologia,
os primeiros seres reproduziam-se por si, assexuadamente, e, por intermédio do
herrmafrodismo, surgem seres mais complexos com sexos opostos. Nestes, os
opostos, que podem disputar, por exemplo, espaço e energia, unem-se num nem
positivo nem negativo para a reprodução dos genes e da espécie.
Os opostos
externos atraem-se porque são, no fundo, semelhantes, pois semelhante atrai
semelhante.
A REGRA
A regra é
uma forma de medir exterior, fora, daquilo medido. Mede-se, por exemplo, o
tempo como uma forma de medir os segundos, os minutos, as horas, etc.
A MEDIDA
ESPECIFICANTE
Agora, a
medida específica de algo: diz, por exemplo, qual o tempo específico daquele
objeto, daquele evento.
RELAÇÃO DE
AMBOS OS LADOS COMO QUALIDADES
Para pensar
o título deste subcapítulo, pensemos o seguinte cálculo: velocidade é igual ao
espaço sobre o tempo – v=s/t. Para medir a velocidade, uma qualidade, eu
preciso medir, dizer o quanto, de duas outras qualidades, o espaço e o tempo.
Na fórmula, parece importar apenas a quantidade, não a qualidade, do espaço e
do tempo – mas eles estão aí como qualitativamente por "detrás".
O SER PARA
SI DA MEDIDA
O ser para
si da medida é que, por exemplo, o cálculo da medida, como v=s/t, refere-se às
características de algo, de um objeto, de um momento, de certa matéria, de uma
coisa.
COMBINAÇÃO
DE DUAS MEDIDAS
Como a
medida se refere a algo, duas medidas se combinam. Vamos ter de dar um exemplo
do capítulo 1 d'O Capital de Marx, onde ele usa as próximas observações para
demonstrar o desenvolvimento lógico e histórico da mercadoria rumo ao
nascimento do dinheiro.
Nos povos
antigos, não existia dinheiro. Dentro das tribos, as coisas não eram exatamente
trocadas, mas apenas compartilhadas. Foi quando começou o contato entre uma
tribo e outra, na fronteira entre aqueles povos, que começou a troca, o escambo
-- produto por produto, mercadoria por mercadoria, de uma tribo para outra, e
vice-versa. Aí não havia dinheiro algum: aquela mercadoria media-se em certa
quantidade de outra mercadoria, de outra tribo. Algo parecido com: 1 casaco = 3
braças de linho. Veja-se que há duas medidas de duas coisas que se combinam.
A MEDIDA
COMO SÉRIE DE RELAÇÕES DE MEDIDA
Com o tempo,
a quantidade de trocas entre povos diferentes aumentou. Então uma certa
mercadoria tornou-se trocável por certa quantidade de qualquer outra
mercadoria. Algo parecido com: 1 casaco = 3 quilos de feijão ou 5 quilos de
arroz ou 10 quilos de algodão ou 7 quilos de ferro -- ao infinito.
Veja que
qualquer mercadoria pode ser a mercadoria central pela qual todas são
trocáveis. 7 quilos de ferro = 1 casaco ou 3 quilos de feijão, e assim por
diante, e assim por diante.
Se duas ou
mais coisas podem ser aquilo pelo qual todas as outras se trocam, se medem –
logo: deve haver algo em comum entre elas, nem que seja apenas tal relação
mesma. No caso das mercadorias, de Marx, o comum é que todas são frutos do
trabalho -- todos têm valor -- e se medem pelo tempo de trabalho socialmente
necessário para construir a mercadoria.
No caso da
química, podemos observar que todos os elementos têm anergia ou todos são
formados pela mesma base - prótons, elétrons e nêutrons. O que diferencia
QUALITATIVAMENTE os diferentes tipos de átomos -- hidrogênio, ouro, ferro,
carbono etc. -- é que eles têm "apenas" QUANTIDADE diferentes do
mesmo material (de elétrons, etc.).
A AFINIDADE
ELETIVA
A expressão
"afinidade eletiva" vem da química e da alquimia. Significa que algo
tem preferência, atração ou facilidade de combinação com outro algo específico.
No caso em que estamos focados, sobre a mercadoria, surge uma mercadoria pela
qual todas passam a ter preferência de troca, atração -- o ouro, tornando-se o
dinheiro. Por que ele? Bem; ele exige muitíssimo trabalho para ser retirado do
fundo da terra, logo têm muito valor dentro de si (e muito valor em pequenos
pedaços), por outro lado, ele pode ser fundido ou repartido como se queira (já
um casaco é ruim para ser dinheiro, pois não pode ser cortado e remendado à
vontade).
LINHA NODAL
DE RELAÇÕES DE MEDIDA
Para este
ponto, primeiro diremos de modo puro, abstrato, depois concreto, com exemplos.
A mudança quantitativa, para mais ou para menos, vai aumentando, aumentando até
que deixa de ser possível continuar mudanças de quantidade -- ocorre um salto
de uma qualidade para outra. A mudança passo a passo, gradual, é interrompida e
ocorre uma ruptura, uma mudança de qualidade.
É famoso até
hoje a ideia de que na natureza não há saltos. Isso está errado. A água líquida
fica cada vez mais gelada, mas ela continua água líquida -- ela não fica
gradualmente mais sólida, ao poucos, ou cada vez mais rígida. A água salta de
líquida para sólida, um salto de qualidade. Veja-se que mudança de quantidade,
de estar cada vez mais frio, é interrompida para uma mudança de qualidade. A
morte também é um salto: vai-se envelhecendo aos poucos, passo a passo, até que
não basta, então salta-se de uma vez para a morte, interrompendo o gradual, o
pouco a pouco. Na história, isso também acontece: mudanças graduais na
sociedade -- como a tecnologia nas empresas levar ao desemprego -- leva a que,
por salto, ocorra uma revolução.
O SEM MEDIDA
O sem medida
ou o desmedido não é apenas uma qualidade, pois também é um substrato, uma
coisa, uma substância ou matéria. É como se as mudanças de quantidades e de
qualidade de algo fosse apenas uma mudança externa, na superfície da coisa –
por dentro ela permanece igual a si mesma (mesmo se mudando).
O lado
externo é com medida – o que ele é por dentro é o sem medida, o que não se
deixa limitar pela medida. Existem vários tipos de elementos químicos
diferentes entre si em quantidade e qualidade. Ora, por dentro todos eles têm
algo que permanece em todos – prótons, elétrons e nêutrons (eles são o sem
medida em relação aos elementos).
Como
qualidade, o processo social chamado capital é desmedido, sem medida. A
concorrência empurra para produzir mais mercadorias, mais quantidade de
empresas. O problema é que o patrão não sabe se suas mercadorias serão
vendidas, se há procura real por elas, pois a economia capitalista é sem
planejamento central – ele só descobre depois de produzir, no mercado. Assim, com
a vontade incontrolável de crescer a produção, o capital é o sem medida. O
dinheiro sempre quer mais dinheiro, num acumular rumo ao infinito, um processo
sem medida que o agrade de todo.
A
INDIFERENÇA ABSOLUTA
Aquilo que é
a parte interna de algo, a substância ou substrato, que permanece igual a si
mesma na mudança, onde a mudança aparece como apenas externa, na superfície de
algo – é a indiferença. Nós costumamos pensar a indiferença como "não dar
atenção para aquilo", mas aqui o significado é outro: o indiferente é o
que não tem diferença dentro de si, sua própria diferença é apenas externa,
quase pelo lado de fora de si.
A
INDIFERENÇA COMO RELAÇÃO INVERSA DE SEUS FATORES
O
indiferente tem a diferença que ocorre na sua superfície como algo que pertence
a si próprio. Ele é indiferente, mas a diferença pertence a ele mesmo. Vamos
oferecer um exemplo.
Em minha
pesquisa, percebi que os países chamados socialistas eram, na verdade, frutos
de revoluções, ao mesmo tempo, de duas naturezas, tanto capitalista quanto
socialista, e eram então sociedades como duas naturezas apostas, capitalistas e
socialistas. O indiferente é a própria realidade material daquelas nações -- as
pessoas, as pontes, as fábricas, e assim por diante. Nesta realidade de base,
do chão do real, ocorreu uma luta entre as tendências socialistas e as
tendências capitalistas daquelas regiões -- isso é a relação inversa dos
fatores. Na medida em que as tendências capitalistas cresciam, as socialistas
eram, em oposto, diminuídas. Até que a tendência capitalista fosse total,
engolisse toda a sociedade, reduzisse a nada o seu inverso -- na década de
1990, todos esses países tornaram-se totalmente capitalistas.
No século
20, a sociedade mundial estava dividida entre países formalmente socialistas e
capitalistas. O socialismo inicia em um país, mas nunca suportará sozinha ser
cercada pelo capitalismo, logo o socialismo tem de acontecer em outros países
durante algumas poucas décadas. O crescimento do número de países socialistas
diminui seu oposto, o capitalismo – e vice-versa. O que não avança recua.
UM POUCO
MAIS DA RELAÇÃO INVERSA
No ponto
anterior, vimos que O indiferente, aquilo indiferente, divide-se por fora como
dois fatores opostos, um cresce enquanto o outro diminui. Vamos aprofundar mais
um pouco primeiro indo ao exemplo prático, depois à ideia pura. No século 20,
os países formalmente socialistas tinham, na verdade, também elementos
capitalistas dentro de si enquanto os países capitalistas amadureciam as bases
do socialismo dentre de si mesmos – uns eram mais socialistas do que
capitalistas enquanto outros eram mais capitalistas que socialistas. Veja que
da oposição de um lado socialista e outro capitalista surgiu que os dois lados
têm um tanto do lado oposto dentro de si mesmo. Até que o capitalismo domasse
tudo, embora amadurecesse dentro de si as condições finais para o socialismo.
Os opostos, assim, têm cada um mais de algo do que de outro algo.
PASSAGEM
PARA A ESSÊNCIA
O ser tem
tudo dentro de si. Até onde chegamos, temos algo que tem um lado dentro e um
lado fora, um interno e um externo, uma essência e uma aparência, um conteúdo e
uma forma. Todas as determinações (qualidades) que vimos até aqui foram
tornando o ser menos vazio, menos abstrato: determinação, constituição, limite,
uno, algo e outro, e assim por diante. Antes puro e esvaziado, o ser foi
preenchido. Ele, o ser como substância ou substrato, repele-se a si mesmo,
repulsão de si próprio, nega-se, desenvolve-se -- assim se preenche de
qualidades ou determinações. Agora ele aparece como algo que é o substrato, a
substância, a matéria em oposição ao seu lado "de fora". Mas essa
oposição é apenas formal, errada: aquilo que é O indiferente, O sem medida -- o
interno ou dentro -- também preenche o que aparece como o externo, as
determinações. Isso ficará mais claro nos próximos pontos, onde resumiremos a
doutrina da essência.
DOUTRINA DA
ESSÊNCIA
A essência é
a verdade do ser, o ser torna-se essência, a essência é o ser desenvolvido que
foi para dentro de si mesmo. Quando pesquisamos o ser – os dados estatísticos
etc. –, logo desconfiamos que este mesmo ser esconde algo, uma essência, que
está atrás, ou melhor, dentro de si, dentro dele. O trabalho científico vai do ser
(qualidade, quantidade) para a sua própria essência.
A Doutrina
da Essência é a mais difícil, mas também a mais interessante (além de ser um
livro bem menor que os outros dois). Sobre, reforçamos o que dissemos na
introdução: aqui, uma categoria aparece em outra: essência aparece na
aparência, o interno aparece no externo, etc.
DETERMUINAÇÕES
DE REFLEXÃO
Aqui, vamos
já resumir a ideia central que unifica o livro, a grande “sacada” de Hegel.
Vejamos: ele percebeu que se dizemos a categoria “positivo”, então
necessariamente vem a categoria “negativo”, pois um somente pode existir com
seu oposto. Outro caso: se há causa, logo deve haver a consequência desta
causa. O fundamento exige o fundamentado, o conteúdo exige a forma, e assim por
diante. Isso são as determinações de reflexão, pois um conceito reflete o
outro, e eles ficam nessa relação.
Parece que a
categoria, determinação, “causa” é totalmente autossubsistente,
autossuficiente, que se sustenta sozinho – mas percebemos que a categoria
“consequência” é sua derivação natural com o qual está ligado.
Nas
categorias da Doutrina do Ser – Ser, algo, constituição limite, uno, muitos,
etc. – um conceito é fora do outro, passa para o outro, que passa para o outro,
que passa para o outro… Agora, na essência, é diferente: como num espelho, um
conceito se reflete no outro – um interno exige um externo, por exemplo.
Os conceitos
da Doutrina da Essência passam a ideia de um lado “dentro” e de outro lado
“fora”: uma essência e uma aparência, um conteúdo e uma forma, um interno e um
externo, um fundamento e um fundamentado, uma parte e um todo, etc.
ESSENCIAL E
INESSENCIAL
O
inessencial é, por assim dizer, o lado de fora de algo, de um ser aí. Ele é o
ser em oposição ao lado de dentro, a essência. Essa essência em relação com seu
oposto não é mais exatamente essência, mas é o essencial. Então temos a
essência transformada em essencial – e o inessencial que é a transformação do
ser, do “lado de fora”.
Mas nada diz
num “ser aí” qual pedaço dele é o essencial e qual é o oposto, o inessencial.
Temos um problema, então. Como resolver isso? Hegel soluciona assim: na
verdade, o inessencial não é o ser – o ser é a própria essência, e a essência é
o próprio ser. Não sobra nada para o inessencial, que se torna zero, nulo, ou
seja, mera aparência.
ESSÊNCIA E
APARÊNCIA
A essência
tem que aparecer.
A filosofia
anterior a Hegel separou essência e aparência. Por exemplo, Platão dividiu o
mundo em dois mundos separados: 1) o mundo da essência, o mundo da ideia, o
mundo perfeito, onde não há movimento; 2) o mundo do sensível, o mundo que
vivemos, onde há movimento, onde tudo morre ou é perecível. Hegel supera esse
tipo de visão: a aparência é o nulo, pois a aparência não é diferente da
essência – a aparência é, na verdade, a própria essência, que aparece a si
mesma.
Em seu
movimento de si mesma, a essência torna-se aparência. A essência não é morta,
inerte, parada: ele movimenta-se para fora e para dentro de si mesma, modifica
a si mesma, desenvolve a si mesma. A aparência é o aparecer da essência nesse
movimento de si própria.
Não está a
essência aqui, escondida, e, em oposição, a aparência ali, exibindo-se. Na
realidade, a aparência sequer existe de fato – existe apenas a essência que
aparece. Somos nós que, quando vermos o mundo, vemos apenas um pedaço dele, um
ângulo dele (por isso a aparência, como se nos aparece aquilo); mas o mundo
mesmo é apenas essência aparecente.
APARÊNCIA
COMO ENGANO
Marx diz
algo assim: se a aparência do mundo revelasse de imediato a sua verdadeira
essência, toda ciência seria desnecessária. Com certa inocência, os filósofos
antigos pensavam que bastava olhar o mundo, como ele é imediatamente, para
saber como este mesmo mundo é.
A aparência
esconde a essência, deforma a essência, aparece até como o inverso da essência.
Vejamos o
caso na física, no inorgânico. Pela maior parte da história da humanidade, a
ideia de sucesso foi a de que a Terra era o centro do universo e o Sol girava
em torno da Terra, de nós. Isso aparece assim, o Sol nos rodeando, para visão
imediata. Ora, isso tem até mesmo utilide prática, para nosso dia a dia: todos
os dias dizemos que o Sol está se pondo ou surgindo, guiamos nossa vida nesse
“fato”, embora saibamos a essência real, que é a Terra que está girando em
torno do próprio eixo e em torno do Sol.
Na biologia,
parece que as espécies mudam-se para adaptar-se por uso e desuso, por esforço:
por se esforçar para comer em árvores altas, a girafa tem pescoço longo; porque
a neve a branca, o urso é branco. Mas isso é um engano. Na verdade, acontecem
mudanças genéticas ao acaso, que, se são úteis para a sobrevivência, são
repassadas para os filhos. Surgiu um urso branco filhote por acaso, logo ele
sobreviver melhor na neve, podendo camuflar-se, logo teve mais chances de
sobreviver e reproduzir-se.
Na vida
social, na mente do escravo todo o trabalho dele é totalmente trabalho para o
outro, para o senhor de escravo que o domina. Aparece para ele assim, como se
todo o fruto de seu esforço fosse destinado para outra pessoa. Mas isso é um
engano da aparência. De fato ele trabalha de graça uma parte de sua jornada de
trabalho para o senhor escravista, mas este “senhor” tem de manter vivo o homem
escravizado, tem de fazer com que parte do seu trabalho retorne para ele mesmo.
No
capitalismo é o contrário: parece que o trabalhador é pago totalmente pelo seu
trabalho, nem mais nem menos. Esse engano tem “dados empíricos” que parecem
provar que é este o caso, por exemplo: 1) o salário sobe se trabalha 1 hora a
mais e cai se trabalha 1 hora menos; 2) o trabalhador qualificado ganha mais
enquanto o trabalhador não qualificado, menos. Foi preciso o trabalho
científico para superar esta aparência, para chegar à essência: o operário
trabalha uma parte da jornada para si, para pagar o valor da sua força de
trabalho, mas outra parte da jornada é trabalho para outro, de graça, não pago,
um roubo do patrão.
CONTRADIÇÃO
ESSENCIA-FENOÔMENO-APARÊNCIA
A essência
quer permanecer, permanece, mas ela é o próprio fenômeno, que muda e é
inconstante, então, nessa contradição, este força aquela a mudar – mas são dois
em um, o mesmo. Eis uma das formas de contradição unitária possíveis.
REFLEXÃO
Voltamos ao
tema da determinação de reflexão. Desta vez, vamos desenvolver, derivar, este
resultado do qual falamos antes.
Agora,
faz-se preciso atenção. A reflexão não é reflexão mental, filosófica, subjetiva
– é mais parecida com reflexão da luz ou uma “flexão para trás”, algo que vai,
bate e volta.
Para ficar
claro, em diante usaremos a determinação de reflexão de essência e aparência, embora
outros casos (interno e externo, etc.) ainda serão trabalhados no avançar deste
capítulo.
REFLEXÃO
POSTA, PONENTE
Este é o
caso inicial em que uma categoria põe a outra, sua oposta. A essência põe a
aparência, o conteúdo põe a forma, o fundamento põe o fundamentado, o interno
põe o externo e assim por diante.
Veja que há
uma “hierarquia” como a essência ser a base da aparência.
Na verdade,
esse pôr é, também, nenhum pôr. Por quê? A aparência, como dissemos, é nula – é
apenas a própria essência que aparece. A aparência (ou o externo em relação ao
interno, ou a forma em relação ao conteúdo, etc.) não é um outro, não é
separado daquilo de onde veio, não tem vida própria, não é independente.
Consideremos
o fato de “a aparência ser a própria essência”. Pois bem; essência sai de si
mesma, bate na aparência, e assim retorna de novo para si mesma (reflexo,
reflexão). Esse é o movimento, mas que, ao mesmo tampo, não é nenhum movimento
– porque a aparência não é um outro, mas “parte” da própria essência.
REFLEXÃO
EXTERNA, EXTERIOR
Mas agora
vamos pensar o contrário, o inverso. Pelo menos como as coisas parecem ser, a
aparência é um e a essência é o outro. A aparência é, agora, a outro da
essência. Reflexão externa porque elas estão formalmente separadas uma da
outra.
Aqui, o
trabalho científico acontece assim: partimos da aparência (dos dados
estatísticos, das qualidades de algo) para descobrir a essência desta
aparência. A partir da própria aparência é que descobrimos a essência – nunca
jogamos fora a aparência, pois ela permite chegar à essência.
Tudo parece
e aparece ao contrário: é fato que a essência põe a aparência, mas desta vez
partimos da aparência para chegar na essência da realidade – outro: é fato que
a essência é a própria aparência, mas aqui ele parecem como cada um no seu
canto.
Também
partimos do fundamentado para descobrir qual é o fundamento de algo. Partimos
do externo para descobrir o interno. Partimos da forma para descobrir o
conteúdo. Partimos da consequência para saber a causa. É invertido.
REFLEXÃO
DETERMINANTE, DETERMINADA – DETERMINAÇÃO DE REFLEXÃO
Quando
fazemos o trabalho da “reflexão exterior”, descobrimos finalmente que aquela
aparência (ou externo, ou fundamentado, etc.) da qual iniciamos não é nada sem
sua essência. Cada um só existe com o outro e dentro do outro.
Chegamos, de
novo, às determinações de reflexão. Essência sempre põe a aparência – e elas
são o MESMO. O interior, o interno, sempre põe seu oposto, o exterior, o
externo – e eles são o MESMO. Um continua a si mesmo dentro do seu outro; cada
um tem seu outro dentro de si mesmo. Assim, o outro não é verdadeiramente um
outro, mas o mesmo. Vejamos o segundo caso: se sou internamente um mau poeta,
logo farei maus poemas; se, ao contrário, sou internamente um bom poeta, farei
bons poemas – o interno se torna o próprio externo.
DETERMINAÇÕES
DE REFLEXÃO
Neste ponto,
vamos das ideias abstratas para, depois, exemplos concretos.
IDENTIDADE -
DIFERENÇA
A essência é
igual a si mesma, A=A, assim ela é identidade. Mas ela é, também, a negação de
si mesma, ou seja, um movimento.
Nesse
automovimento da identidade, da essência, ela se torna diferente de si própria.
É tanto diferente quanto idêntica a si, dentro de si: a diferença tem a
diferença e, ao mesmo tempo, a identidade.
O diferente
ou o diverso não está do lado de fora ou ao lado da identidade. Ao contrário: a
mesma coisa idêntica consigo, a essência, é que desenvolve uma diferença
interna, por dentro da identidade mesma.
Assim, a
filosofia e a dialética de Hegel são tanto uma filosofia da identidade
(mesmidade, do mesmo) quanto da diferença.
DIVERSIDADE
– (DES)IGUAIDADE
Como temos
dois, a diferença e a identidade, chegamos à diversidade. As coisas diversas
têm apenas uma relação externa umas com as outras – são indiferentes em relação
às outras, cada uma em seu próprio canto, sem relação real.
A relação
dos diversos é a igualdade ou a desigualdade. Mas nada neles, nos diversos, diz
se eles são iguais ou desiguais uns dos outros. Essa comparação, que iguala ou
desiguala, é externa, feito por outro, por um terceiro, por alguém.
Há algo mais
sofisticado aí. Somente posso ser igual se eu for igual a outro, a um diferente
de mim – um desigual. Por outro lado: somente posso ser desigual de outro se
sou igual a mim. Veja-se que cada um, o desigual e o igual, estão um dentro do
outro, e vice-versa.
OPOSIÇÃO –
CONTRADIÇÃO
Os lados da
mesma coisa tornam-se mais do que diversos uns dos outros – tornam-se opostos,
o positivo e o negativo.
O positivo e
o negativo são, no começo, apenas o negativo um do outro, um para o outro –
cada um nega seu oposto apenas. Depois, segundo momento, fica bastante claro
que o positivo é de fato positivo; e o negativo é de fato o negativo. Enfim,
terceiro momento, descobre-se que o positivo e o negativo são apenas nessa
relação um com o outro, aquilo que são eles são em uma relação necessária.
Tudo está em
polos opostos, tudo tem oposição dentro de si mesmo.
Em muitos
casos, a mesma COISA é tanto positivo quanto negativo. O dinheiro que o credor
empresta ao devedor é, este mesmo dinheiro, negativo para um e positivo para
outro, passivo para um e ativo para outro. A estrada que vai para o leste,
positivo, também vai para o oeste, negativo; a estrada tem os opostos em si. O
átomo tem prótons, positivo, e elétrons, negativo, dentro de si próprio. Se eu
digo +A e –A, o que existe de igual e comum entre eles é “A”.
Já a
contradição é, em geral, a fonte de todo movimento, automovimento. Tudo tem
contradição de polos opostos, tudo está “quebrado por dentro”. Algo é tanto
contraditório dentro de si mesmo como, ao mesmo tempo, é esta mesma contradição
dissolvida.
O negativo
afirma a si mesmo excluindo o positivo; também, o positivo afirma-se excluindo
o negativo de si. Ora, eles somente existem nesta oposição, dentro desta
oposição – mas, ao mesmo tempo, eles recusam seu oposto, repelem um ao outro.
Isso é a contradição. Pense-se na luta de classes: o movimento operário repele
a classe dos patrões, embora ambos estejam unidos por atração na produção, na
fábrica; o fim deles é o fim das classes sociais, o socialismo.
A
contradição não pode ser eterna, ela tem que se dissolver, se resolver. A
filosofia comum pensa a contradição apenas como fonte de destruição, de
fenecer, de morte; mas ela também é a fonte do desenvolvimento, do progresso,
do movimento.
ESSÊNCIA
COMO FUNDAMENTO
Assim, a
essência foi para “fora de si mesma” e foi ganhando determinações de reflexão
(diferença, positivo e negativo, etc.). Os opostos em contradição, o positivo e
o negativo, são no fundo o mesmo, porque eles têm um fundamento igual (veja-se
a semelhança das palavras “fundo” e “fundamento”). Vejamos um caso já citado.
Uma pessoa impulsiva (fundamento, essência) torna-se “sem noção” em algumas
situações, logo algo negativo, mas também torna-se criativa, logo algo
positivo. A mesma “base”, a essência que se tornou fundamento, faz os elementos
“externos”, as qualidades e defeitos, o positivo e o negativo.
Como a
essência tornou-se fundamento? Indo dela mesma rumo à… ela mesma. Ou seja,
desenvolvendo-se: ela se diferenciou dentro de si, se diversificou, se tornou
oposição, positivo e negativo, contradição e… retornou para dentro de si porque
os opostos nada são de fato, apenas dissolvem-se naquela essência que se tornou
seu fundamento, que retornou para dentro de si mesma.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Há em Hegel
um erro no seu grande acerto: as categorias identidade, diferença, diversidade
oposição, contradição – acontecem ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum!
Além dessa maneira de pensar, há outra mais ativa: a identidade passa, de fato,
para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para a contradição. As
duas formas de pensar tais categorias, ao mesmo tempo e uma após a outra, são
corretas, acontecem juntas.
Vamos para
casos práticos que saem do tempo, do passar, lógico de Hegel rumo ao tempo
comum, histórico – esta elaboração não está mais em Ciência da Lógica. Vejamos.
O operário e o patrão são IDÊNTICOS, pois ambos são pessoas livres no mercado.
Mas são DIFERENTES: um é vendedor de sua força de trabalho enquanto o outro é
comprador desta mesma força. Logo, eles são DIVERSOS já que cada um é diverso
do outro. Quando o patrão contrata o operário, eles formam a OPOSIÇÃO, pois um
é operário e o outro é, ao contrário, o seu patrão – um só pode ser patrão se o
outro for operário, e vice-versa. Enfim, vem a CONTRADIÇÃO: as greves, a luta
do patrão por aumentar a jornada ou acelerar as máquinas etc.
O homem e a
mulher primitivos eram IDÊNTICOS, mas logo se vê que eles têm DIFERENÇAS. Como
essa diferença, tornam-se DIVERSOS. São também, formalmente, OPOSTOS. Quando
surge a propriedade privada, o homem tem de saber se deixará herança para um
filho legítimo, não de outro, logo a OPOSIÇÃO entre os sexos tornou-se
CONTRADIÇÃO, controle do homem sobre a mulher.
O ancestral
dos atuais seres vivos era igual a si mesmo, ou seja, IDÊNTICO. Seus
descendentes foram, geração a geração, tornando-se cada vez mais DIFERENTES do
seu ancestral. Depois, por muitas mutações genéticas, surge uma DIVERSIDADE de
espécies (cuja origem é aquele ancestral idêntico e comum). A diversidade cai
na OPOSIÇÃO e CONTRADIÇÃO entre os animais, entre os seres.
O império
romano fez do Latim a língua da Europa – identidade. Mas as diferentes regiões
desenvolveram diferentes sotaques – diferença. Estes diferentes sotaques
avançaram para as variadas línguas latinas (português, italiano, espanhol,
francês) – diversidade. Daí surge a oposição e, quem sabe, a contradição entre
as línguas europeias.
NEM POSITIVO
NEM NEGATIVO – UMA INTERPRETAÇÃO
O nem
positivo nem negativo avança-se, para além de si, até a oposição entre o
positivo e o negativo; por sua vez, esta oposição é resolvida – formando um
novo “nem positivo nem negativo”.
O
trabalhador artesão medieval (nem positivo nem negativo) é modificado pela
relação entre o capitalista (positivo) e o operário (negativo); um afirma-se na
realidade, por isso positivo; e o outro está em desvantagem, precisa mudar o
mundo, por isso negativo. Ocorre a negação da negação com o socialismo – e o
próprio operário nega-se, deixa de ser operário ou classe. Por outro ponto de
vista: o primeiro, o artesão, é o positivo em relação ao que lhe substitui, a
oposição entre o operário e o burguês, ou negativo.
No início do
universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de
prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do
universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do
próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem
negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e
o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o
nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula
pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a
antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo
nem negativo”, diferente do elétron e do próton.
Para Hegel o
nem positivo e nem negativo acontecer somente ao mesmo tempo que o positivo e o
negativo. A estrada é nem positivo e nem negativo, que tem dentro de si o rumo
para o leste, positivo, e para o oeste, negativo (qualquer um dos dois pode ser
considerado o positivo ou o negativo). Mas nós vamos mais longe. Um fóton de
alta energia, nem positivo nem negativo, passa, a si próprio, para o elétron,
negativo, e o antielétron, positivo, que se atraem e tornam-se, de novo, um
fóton, nem positivo nem negativo.
FUNDAMENTO
A essência
que foi para “fora” de si e, então, retornou para si – torna-se fundamento. É
claro que o fundamento tem um fundamentado, logo desconfiamos que tudo
existente tem um fundamento “atrás de si”.
FORMA E
ESSÊNCIA
A essência é
total, mas seu lado externo por ser visto como a FORMA. O lado externo é aquele
onde vimos a diferença, a diversidade e a contradição – a forma está aí. Na
verdade, a essência tem tudo em si, mas poderemos analisar forma e essência de
modo – separado? É o que faremos na próximo ponto.
FORMA E
MATÉRIA
Quando
essência e forma se separam, a essência já não é essência de imediato, pois é
reduzida à matéria, ao material. Podemos dizer que a matéria é passiva, pois é
formada pela forma, enquanto a forma é ativa, pois dá forma à matéria.
Aqui, parece
que a matéria existe por si mesma e, do outro lado, a forma só tem sentido se é
a forma de um material. Essas são as consequências do método de separar o que,
dentro da realidade, está necessariamente unido, em unidade.
Não existe
forma pura, sem matéria; não existe matéria pura, sem forma. O que existe é
matéria formal ou forma material. Vamos aos exemplos. A forma de moeda, para
ser moeda, não pode ser apenas forma – ela é feita ou de cobre, ou de ferro, ou
de prata, ou de ouro, ou seja, de algum material.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Em minha
pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a
desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para,
depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais
material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo
ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre,
para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais
até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a
desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade
maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor
tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade
deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade,
aumenta o tempo de vida.
FORMA E
CONTEÚDO
A união da
forma e da matéria – é o conteúdo. Vejamos um caso. Se eu tenho uma pintura
retratando um jogo de futebol, esta mesma pintura tem a forma (da bola, dos
jogadores, do campo, etc.) e também, junto, a matéria, a tinta principalmente,
com diferentes cores. Ora, esta forma e esta matéria, unidas, passam uma
mensagem fictícia, artística um conteúdo. Elas têm um conteúdo.
Vejamos
outro caso. Marx diz que a relação de contrato entre trabalhador e patrão,
quando aquele está no mercado trabalho procurando emprego, tem a FORMA de uma
relação entre iguais – ambos, operário e patrão, são livres, estão no mercado,
estão fazendo um contrato livremente aceito. Mas o CONTEÚDO é outro, de
exploração, em que ou o operário vende sua força de trabalho para ser explorado
por outro ou morrerá de fome.
Vamos para a
terceira visão, comum no marxismo. A economia e a luta de classes, as classes
sociais, são o conteúdo – já o Estado, os partidos, as organizações são a
forma. Nesse modo de ver, tanto o conteúdo quanto a forma têm, cada qual, dupla
natureza, duplo caráter. O conteúdo (economia, classes) é 1) muito mais
dinâmica, mas 2) também mais instável, inconstante; por outro lado, a forma é
1) conservadora, lenta, paralisadora, mas 2) conservadora no sentido de
conservar, de preservar (as conquistas, etc.). Assim, os conflitos e as
instabilidades do conteúdo fazem surgir, de si mesmo, uma forma para
“compensar”. Mas o conteúdo se desenvolve a tal ponto em que a forma
conservadora torna-se um fardo, algo muito atrasado – o conteúdo renovado
supera aquela forma e funda uma forma nova, para suas novas necessidades.
Uma forma
pode estar em contradição com seu conteúdo: um partido comunista pode estar
organizado de forma incompatível com seu conteúdo, com o perfil dos membros e
com seu programa.
FUNDAMENTO
FORMAL
O fundamento
formal é fácil de entender, pois é o chamado “argumento circular”, uma
tautologia. Vejamos: Por que a Terra gira em torno do Sol? Por causa da
gravidade. E o que é gravidade? O que faz a Terra girar em torno do Sol…
Percebe que foi do nada ao lugar nenhum? O argumento não avança, o conteúdo e
forma estão aí fundidos num fundamento apernas formal, digno de riso. A ciência
tem vários tipos de tautologias óbvias do tipo, que devem ser combatidas.
FUNDAMENTO
REAL
A gravidade,
por exemplo, é de fato o fundamento da estrutura de uma casa, de uma base. Ou
seja, os alicerces da casa têm a gravidade como seu fundamento. Estes alicerces
e a gravidade são a base para o “enfeite”, o inessencial, o não essencial. Por
exemplo: as paredes de uma casa podem ser pintadas de vermelho ou azul – mas
tanto faz a cor, e a gravidade não é fundamento dessa cor escolhida para pintar
a casa. Então, além do fundamento e do fundamentado, tem uma porção enorme de
“coisas” que não tem fundamento naquele fundamento.
Hegel faz
uma crítica ao fundamento real. Um trabalhador consegue o emprego porque é
disciplinado, tem experiência, tem beleza, tem contatos, etc. Qual dessas
características é o fundamento? Nada diz que um – por exemplo, a disciplina –
foi o fundamento da contratação dele enquanto os outros fatores seriam o
fundamentado… Assim, a reflexão que procura um fundamento de algo pode escolher
entre centenas de fatores para um apenas ser o central, o que é em si um erro.
FUNDAMENTO
COMPLETO
O fundamento
(real) tem, ele mesmo, um fundamento! Então temos 1) o fundamentado; 2) o
fundamento deste fundamentado; 3) o fundamento do fundamento… Este 2 que ficou
no meio é unidade tanto do fundamento real quanto do fundamento formal, pois
ele é de fato fundamento (do fundamentado), mas ao mesmo tempo é um
fundamentado. Com isso, Hegel fecha o ciclo total – não é necessário ir, ao
infinito, para o fundamento do fundamento, do fundamento, do fundamento, etc.
O método de
Hegel foi pegar o que é junto, a forma e o conteúdo enquanto fundamento formal,
então separou a forma e o conteúdo no fundamento real, depois juntou novamente
tudo no fundamento completo. Ele fez, também, assim antes: essência e forma
estavam juntas, então as separou para chegar até a matéria e a forma, depois
juntou no conteúdo e forma. Esse método será usado mais vezes, portanto merece
atenção a este aspecto.
Ainda sobre
o fundamento completo, o grande marxista Valério Arcary diz sobre o caráter
(fundamento) de um partido, como o PT: “Partidos podem ser julgados pelo
programa que apresentam para a transformação da sociedade. Ou podem ser
explicados: (a) pela história de suas linhas políticas e de suas lutas
políticas, sobretudo, as internas; (b) pelo confronto entre suas posições
quando estão na oposição,
e quando se aproximaram do
poder; (c) pelos valores e ideias
que inspiram seu programa (d) pela
composição social de seus
membros, militantes ou simpatizantes, ou dos seus eleitores, ou
da sua
direção; (e) pelo regime interno
do seu funcionamento; (f) pelas formas de seu financiamento; (g) pelas
suas relações internacionais.
Todos estes critérios são válidos e significativos, e a construção de uma
síntese exige uma apreciação da sua dinâmica de evolução.” Ora, cada um pode
ser, por si, o fundamento real dos demais; mas o fundamento tem, também, um
fundamento! Chegamos à necessidade do fundamento completo. Qual seria o do PT,
o fundamento do fundamento? Este: o fato de ser um partido ligado diretamente,
organicamente, com Estado burguês, logo com a burguesia.
CONDIÇÃO
O
RELATIVAMENTE INCONDICIONADO
Aqui, temos
duas personagens, a condição (ou as condições) e o fundamento. Vamos, primeiro,
separá-los e considerar tal separação. A condição é mero ser aí imediato, sem
ser por ela mesma qualquer condição para algo. Ela é apenas material variado,
material como seu próprio conteúdo. Por outro lado, isolado consigo mesmo, o
fundamento vai para fora de si em seu automovimento e tem, portanto, também seu
próprio material, seu próprio conteúdo. Assim: um é incondicionado em relação
ao outro, e vice-versa.
O
ABSOLUTAMENTE INCONDICIONADO
Nosso papel,
agora, é ver a unidade real daqueles dois, que se colocaram como opostos e
separados um do outro. A condição, como material externo, na verdade é o que
representa o Ser (com o qual começamos este capítulo); ora, se ele é o Ser,
vale comentar que este, este Ser, “evoluiu” a si mesmo rumo à essência (que
aqui é fundamento); o ser aí imediato, indiferente, não se nega ao se prender
ao fundamento, ao contrário, ele se realiza, ele é ser que vai para a essência
(o material do fundamento, para o fundamento). Assim, o fundamento põe seu
fundamentado, vai para fora de si, dando forma ao material da condição. Por
outro lado, o fundamento só se realiza a si mesmo quando passa, ele mesmo, para
seu fundamentado, que é feito com o material da condição.
Mas há uma
virada incrível.
O fundamento
e condição estão aonde? Ora, eles estão dentro do “absolutamente
incondicionado”, de uma Coisa incondicionada – estão dentro de uma totalidade!
Esta Coisa, este Todo, tem dentro de si própria tanto o fundamento quando as
condições, desmancha eles dois dentro de si.
O SURGIR DA
COISA NA EXISTÊNCIA
Quando todas
as condições de uma Coisa existir estão prontas, então estão ela entra na
existência. Por exemplo: não se deve tentar criar um sindicato antes de estarem
reunidas pelo menos as condições mais básicas necessárias para fundar tal
organização. A vida na Terra surgiu depois que as condições – temperatura,
ambiente, compostos, etc. – estavam prontas para isso.
As condições
se reúnem, “caem” juntas, internalizam-se – e assim surge uma Coisa na
existência. Algo, como uma revolução, é impossível até que se torne inevitável.
É interessante ver que esta união das condições cria um lado “interno” na
Coisa, ou seja, as condições produzem o próprio fundamento!
Por outro
lado, o fundamento também cria a Coisa na existência. O fundamento sai de si
mesmo, se externaliza – passa para o fundamentado. Mas, com isso, ele não fica
atrás ou no fundo, não: o próprio fundamento está naquele seu fundamentado.
Vimos duas
formas que parecem fazer a Coisa surgir, pelo lado das condições e pelo lado do
fundamento. Porém: a verdade final é que a Coisa vai rumo a si mesma, desenvolve-se
a si mesma, põe a si mesma – ela já existe antes de existir (era uma coisa e
tornou-se outra).
Há outra
forma de ver o parágrafo anterior. O fundamento torna-se o fundamentado, logo
ele deixa de existir em si – a coisa é, então, um sem fundamento, embora tenha
vindo dele. Por outro lado, a condição faz a coisa, mas, esta coisa, uma vez
feita, é sem condição, é incondicionada, a condição superou a si mesma como o
fundamento também o fez.
EXISTÊNCIA
Primeiro
veremos a essência e a imediatidade como juntas (existência), depois como
separadas (aparecimento), depois como reunidas e relacionadas (relação
essencial). Comecemos, portanto, pelo começo, em que a essência tem que
aparecer.
Assim como o
Ser, que é o geral, tem dentro de si o algo (algo como uma caneta é um ente do
Ser) a existência tem como sua expressão nas coisas, na coisa.
A grande
questão deste capítulo é o fato de que Kant, antes de Hegel, afirmou: nós
conhecemos apenas a coisa como ela é para nós, sua aparência, sua manifestação
– não como esta coisa é em si mesma, não a “coisa em si”. Há, então, um duplo:
de um lado, a coisa em si e, de outro, como aquilo aparece, sua manifestação.
Vamos resolver este problema, como acessar a essência da coisa.
A COISA E
SUAS PROPRIEDADES
A coisa
divide-se em 1) coisa em si e 2) no seu lado externo, em dois. Mas, ora, este
lado externo é também uma coisa, uma coisa em si, pois cai para dentro de si
mesmo. Assim, essas duas coisas em si, a coisa em si original e a manifestação
desta como outra coisa em si, são, na verdade, a mesmíssima coisa – que apenas
aparece como relação de dois.
A
propriedade da coisa em si aparece como aquilo que uma coisa se torna diferente
de outra coisa, o lado de fora, da superfície, da coisa. Mas nas duas (ou mais)
coisas em si diferentes, como a propriedade é algo externo a elas duas, esta
mesma propriedade fica do lado de fora delas, logo elas são internamente, por
dentro, iguais, duas coisas em si iguais, são o mesmo.
Na verdade,
não existe coisa em si sem propriedade, a coisa em si não fica escondida ou por
detrás, mas é a própria propriedade mesma. Uma coisa não é feita de
propriedades, ela é apenas as próprias propriedades!
Assim, o que
chamamos de coisa em si pura, não é o lado essencial, como parece, mas o lado
inessencial, sem essência, sem tanta importância. É o lado das propriedades
aquele grande lado em que as coisas são de verdade, de fato. Uma coisa em si
pura não é nada! Nada há que descobrir dela e nela, pois algo só é de fato algo
em suas propriedades, com suas propriedades. Se queremos saber sobre alguma
coisa, devemos estudar suas propriedades e a união delas, destas.
Na
astronomia, nós sabemos o que é uma estrela distante por meio de suas
porpriedades: ver-se sua gravidade, seus efeitos, seu brilhos, observa-se ela
no infra vermelho e no ultravioletas, e assim por diante, e assim por diante.,
conectamos esses dados, até que sabemos o bastante sobre ela.
O CONSISTIR
DAS COISAS EM MATÉRIAS, MATERIAIS
A separação
entre uma “coisa em si”, que é o lado sem importância por si, e o lado das
propriedades faz com que estas mesmas propriedades se revelem como matérias,
materiais. A coisa é feita de matérias (partículas, átomos, etc.). Sem ser
feita de propriedades, ou seja, de matérias, a coisa nem sequer é coisa alguma.
De imediato,
a coisa é feita de matérias que são independentes, indiferentes, umas das
outras, apenas juntas externamente dentro desta coisa. Mas logo se vê que elas,
ao se afirmarem como si mesmas, negam as outras matérias. Mas, outra conclusão,
oposta, elas penetram umas nas outras e, ao mesmo tempo, por outro lado, são
indiferentes umas das outras nessa mesma penetração. Assim, a coisa é
contradição entre a independência de cada material e a penetração umas nas
outras ao mesmo tempo.
A coisa se
dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma
barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão
reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).
APARECIMENTO
Antes de
Hegel, alguns filósofos, como Patão, separaram o mundo em dois mundos: de um
lado o mundo que é em si e para si, o mundo essencial, o mundo das leis; de
outro, oposto, o mundo que a parece, o mundo do aparecimento. Ora, existe apenas
um mundo, somente UMA totalidade, que se divide em duas totalidades, que são,
ao mesmo tempo, separadas e unidas. O mundo essencial tem de aparecer, logo ela
também é seu oposto, o mundo que aparece. Por seu lado, o mundo que aparece tem
dentro de si um fundamento, o lado mundo essencial. Cada um de ambos é ele
mesmo e seu oposto.
O mundo que
aparece mostra ou revela o mundo essencial, mas de modo invertido, ao
contrário. O que é positivo no mundo essencial aparece como negativo no mundo
que aparece; assim, no inverso, o que é negativo no mundo essencial é positivo
no mundo que aparece; um azar essencial aparece como sorte no mundo que
aparece, e vice-versa. Serve o exemplo já citado: no mundo que aparece, o Sol
gira em torno da Terra, o Sol nasce e se põe; mas no mundo essencial, a terra é
que gira em torno de si mesma e do Sol.
RELAÇÃO
ESSENCIAL
A relação
entre o “mundo que é em si” e o “mundo que aparece” torna-se relação essencial.
São um só que aparece como dois, ou seja, relação consigo do mundo como e fosse
relação com um outro.
O TODO E AS
PARTES
De início, o
todo não é as partes – e as partes são o oposto do todo. Mas há algo mais
profundo. O todo sem partes é vazio, sequer é um todo, pois somente pode ser um
todo de partes relacionadas umas com as outras. As partes, por outro lado
apenas são partes se dentro de uma relação com outras partes dentro de um todo
– como dissemos, um dedo, como parte, somente tem sentido se como parte do
corpo ao qual ele pertence. Se ele sai desse todo, se é decepado, cortado, ele
é uma parte que é uma totalidade em si mesmo, mas uma totalidade morta, inútil,
um dedo que se decompõe. Há, assim, quase máxima unidade do todo e das partes,
um necessitando do outro.
Complementemos
isso: as partes são dependentes umas das outras ou independentes umas das
outras? Derivamos: Tese – as partes são totalmente independentes umas das
outras; Antítese – as partes são totalmente dependentes umas das outras;
Síntese – as partes são relativamente autônomas umas das outras enquanto são,
ao mesmo tempo, relativamente dependentes umas das outros – mas a
interdependência entre elas é o lado superior de ambos.
O todo é
mais do que a mera soma das partes, pois é a união das partes e suas
interelações umas com as outras, recíprocas. Como dissemos: o hidrogênio
queima, o oxigênio permite a queima – mas a união de ambos numa totalidade,
H2O, produz a água, que apaga o fogo, tem função oposta.
FORÇA E
EXTERIORIZAÇÃO
Ora, o que
faz do TODO de fato um todo, ou seja, que as partes não sejam apenas o mero
juntar, um mero agregado indiferente, um mero unido artificialmente? A força. A
força gravitacional, se força for aqui, mantém o todo do sistema solar junto em
um sistema, além de mantar unido nosso próprio planeta como um todo. O que
mantém o capital geral e o capitalismo como um todo, como mais do que meras
partes? Resposta: o valor, valor este que há dentro das máquinas,
matérias-primas, mercadorias, capitais, etc. O valor geral é o que unifica o
sistema.
A força se
externaliza, assim ela aparece como duas ou mais forças – mas no fundo é uma
força só que aparece como forças diferentes, diversas. Por exemplo: há apenas
UM valor global na sociedade – uma única massa total de valor, uma só energia,
apenas uma substância. Mas ela aparece como vários valores porque se colou por
dentro de várias mercadorias diferentes. Veja que as mercadorias concorrem umas
contra as outras, os capitais concorrem uns contra os outros; desse modo, por
terem valor dentro de si, o valor (força) luta ou se junta com ele mesmo como
se com um outro, um valor com ou contra outro valor, uma força com ou contra
outra força (mas, na verdade, são a mesma força); externamente há vários
valores, mas internamente há apenas um valor social global. O exemplo torna-se
mais claro se o leitor domina a economia marxista.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Vale
destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo
forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O
todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade.
O todo é um reunir atrativo de partes, pela força; um todo vem, também, de
outro todo que se suprassume; uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte
que é também em si um todo, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas
um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o
crescimento e desenvolvimento de um todo dar-se, por isso, pela força ou, ou
melhor, energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como
espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.
UMA
INTERPRETAÇÃO
Na ciência
física, o conceito de força está em “crise categorial”. Por muito tempo usada,
parece não ter mais tanta sustentação. Cabe aos hegelianos e marxistas
avaliarem se é o caso ou não de suprassumir tal categoria.
EXTERNO E
INTERNO
A relação de
força e sua exteriorização produziu o interno e o externo. O externo é o
próprio interno, que vai, este último, para fora, digamos assim. Um artista
somente pode fazer uma arte, exterior, que expresse seu interior – fará grande
obra se for, por dentro, um grande artista. O externo não está em unidade com o
interno, pois o externo é, ele mesmo, o próprio interno. Eles estão separados,
como se fossem dois, apenas na aparência. O externo NÃO esconde o interno, na
verdade o revela, o mostra – se se quer saber o interno de algo, observe seu
externo, pois o lado exterior é a revelação da essência, essência agora
determinada como um interno. Uma personalidade, interno, revela-se na sua
prática do sujeito, externo.
O EFETIVO
O efetivo ou
realidade é a unidade de essência e existência. A essência que não aparece se
junta coma existência que é apenas aparecimento; juntas formam a efetividade, a
realidade. Veremos melhor a seguir.
O ABSOLUTO
Lembra-se
que o exterior e o interior não mais do que uma unidade de opostos porque na
verdade eles são UM? Por bem; este um, apenas um total, é o absoluto.
Pensemos na
palavra absoluto para pensar o absoluto real. O absoluto nega-se a se confundir
com algo, com quaisquer coisas, pois é o absoluto. Por outro lado, oposto, ele
tem tudo dentro de si, pois é o absoluto.
EXPOSIÇÃO DO
ABSOLUTO
Tudo que
vimos até agora é a exposição ANTERIOR do absoluto: ser, quantidade, qualidade,
essência, existência etc. Mas é uma exposição para trás, digamos assim. E para
frente? O absoluto tem o lado “externo”, mas que é ele próprio, um ir para
frente dele mesmo, uma exposição dele mesmo não apenas como UM, mas como
multiplicidade, como várias expressões.
ATRIBUTO
ABSOLUTO
Pensemos a
multidão de coisas diferentes. Elas são, na verdade, “transparentes”, pois uma
reflexão filosófica perceberá que elas têm uma atributo em comum, de todas elas
– esse atributo é o absoluto que há pro meio de toda, mas um absoluto parcial
porque determinado como o atributo, atributo geral. Cada coisa tem vários
atributos, mas, juntas, apenas o atributo geral, o absoluto.
Mas esse método,
de ir das coisas rumo a saber que elas tem um absoluto dentro delas em comum, é
errado, defeituoso. Por, primeiro, devemos derivar o absoluto, como fizemos
neste capítulo todo, e, depois, derivar o atributo e em seguida, o modo
(maneira).
MODO (MANEIRA)
O atributo
tem dois extremos em si. Por “debaixo”, tem o absoluto; por “cima”, tem o modo
ou a maneira. O modo é como uma variedade externa, do lado de fora.
Mas logo
descobrimos que o modo “externo”, na verdade, é próprio absoluto mostrando a si
mesmos, manifestando-se, exibindo-se, sendo esta própria manifestação ele
próprio – não fora dele. Assim, o absoluto vai para dentro de si indo para fora
de si, negação da negação; sua autoexibição é ele entrando unidade com ele
mesmo, pois o modo ou maneira não é um outro.
EFETIVIDADE
Agora,
veremos as categorias modais: efetividade (realidade), possibilidade,
contingência (acidente), necessidade. De imediato, saiba que este último, a
necessidade, tem força de lei, de que algo tem que ser necessariamente assim.
Dito isso, sigamos juntos, unificando opostos.
CONTINGÊNCIA,
EFETIVIDADE, NECESSIDADE, POSSIBILIDADE – FORMAIS
Vejamos,
primeiro, a efetividade e a possibilidade como separadas uma da outra, como
formais. A possibilidade formal é o pensamento de que há várias e opostas
possibilidades; um pensamento limitado, que pensa todas as possibilidades
futuras, sem hierarquia.
A união, a
unidade, da possibilidade e da efetividade (realidade) é – a contingência.
Contingente é aquilo que pode ser ou pode não ser, tanto faz, pode acontecer ou
não; por exemplo, uma inflação antes de uma crise pode tanto acontecer como não
acontecer, não é necessário que ocorra. Veja: sendo o efetivo (realidade) e a
possibilidade exatos opostos, eles estão fundidos num meio-termo, a
contingência, pois o contingente, quando acontece, é ou existe, logo é efetivo,
mas poderia também não acontecer, logo é possibilidade. É um e outro.
Como
derivamos a contingência, devemos agora derivar seu oposto, a necessidade, o
necessário formal. Para isso, também usaremos, de novo, a possibilidade e a
efetividade (realidade) formais. Sigamos juntos. De um lado, a possibilidade é
algo que existe (por exemplo, um ovo tem em si mesmo a possibilidade, é a
própria possibilidade, de ser comido pelo homem por causa de suas PROPRIEDADES,
que fazem dele um ovo) – logo a possibilidade é o seu oposto, a efetividade ou
realidade. Por outro lado, o efetivo separado do “em si”, da essencialidade, ou
seja, separado do interno-possibilidade, é uma efetividade sem chão, sem base,
sem por onde sustentar-se – logo, assim, torna-se apenas possibilidade, ou
seja, seu oposto. Pelo fato de um cair no outro, e vice-versa, surge daí a
necessidade formal.
NECESSIDADE
FORMAL RATIVA, EFETIVIDADE (REALIDADE), POSSIBILIDADE E NECESSIDADE – REAIS
Passaremos
do formal para o real. Ora, como a efetividade tem a necessidade, como vimos
antes, ele é uma efetividade ou realidade real. Melhor: se juntarmos, como deve
ser, efetividade e seu oposto, seu lado de dentro, a possibilidade, então temos
a efetividade real.
Mas, então,
a possibilidade também é real. Para vermos tal tipo de possbilidade, isso
ocorre quando avaliamos o mundo e vemos, de fato, com atenção e profundidade,
as condições, as características, as tendências, as propriedades a organização e
a desorganização desse mesmo mundo. Se na possibilidade formal, havia várias
hipóteses futuras, na possibilidade real ocorre a hipótese limita.
A
possibilidade real tem de ser, tem de acontecer, necessariamente assim por
causa de tais condições e circunstâncias – logo chegamos à necessidade real. A
possibilidade real já é a necessidade real, pois são opostos apenas na
aparência e na observação descuidada.
Se olharmos
o mundo como de fato é, ele é, ao mesmo tempo, tanto possibilidade quanto
efetividade (realidade). É ambos, os opostos juntos. Ele é uma efetividade, uma
realidade, mas que “deseja” ser uma nova efetividade depois, por dentro dele
mesmo.
Aqui, Hegel
faz uma nova sacada. A necessidade real vem da possibilidade e da efetividade;
mas a possibilidade e a efetividade é, também, uma unidade que produz o
contingente, o contrário da necessidade! Por isso, conclui-se: o contingente
produz o necessário, além de estar unido com ele!
NECESSIDADE
ABSOLUTA
O que existe
de verdade, no todo, é unidade de essência e ser, de externo e interno no
absoluto. A totalidade é necessidade.
O
contingente não só produz a necessidade como, o oposto, é produzido por ela.
Temos a necessidade absoluta.
Vamos
derivar, agora, a contingência absoluta da necessidade absoluta. Atenção. A
necessidade absoluta é um efetivo, um real, logo o efetivo é um efetivo
absoluto. Mas, se o efetivo ou real é absoluto, logo tem a possibilidade dentro
de si mesmo, porque é absoluto. Ora, qual a unidade do efetivo e do possível?
Já dissemos duas vezes – é o contingente. Então a unidade do efetivo absoluto e
da possibilidade também absoluta é o contingente absoluto (da e dentro da
própria necessidade absoluta).
A
necessidade absoluta tem a possibilidade absoluta. O feudalismo teve de passar,
por força de uma lei histórica, para o capitalismo!
CRÍTICA DE
LUKÁCS
Lukács diz
que a realidade não tem necessidade absoluta, pois o mundo é probabilístico,
por probabilidade. Para isso, ele usa uma frase de Lênin: “não há situação
absolutamente sem saída”. Assim pode ser 80% sem saída, 99, 9% sem saída, mas
sobra, ao menos, O,1% de saída. Assim, tendemos a ir do capitalismo para o
socialismo, mas podemos ser derrotados e humanidade ser extinta numa catástrofe
econômica e ambiental. Deixo ao leitor a escolha sobre quem tem razão, Hegel ou
Lukács.
As duas
posições fizeram a cabeça dos físicos no século XX. Algfuns afirmaram que é
impossível causalidade e determinismo na física quântica, portanto
deveríamos nos limitar a cálculos de
probabilidade – apenas. Einstein e Born fizeram uma luta de morte contra tal
concepção, afirmaram que nosso conhecimento hoje ainda é limitado, por isso
usamos apenas aspectos probabilísticos – mas há uma solução oculta, causal, em
variáveis ainda ocultas.
Minha
posição, conclusão, afirma que, por a realidade ser complexa, praticamente ou
pro muito tempo apenas poderemos acessar ela de modo tendencial e
probabilística – mas ela é, no fundo, determinística. No mais, 1) o “o que” é e
acontecerá de fate é determinista, mas “o como” está em jogo; 2) a realidade
tem opções para si e a partícula ou homem escolhe a opção que já deveria
escolher, incluso pelo contexto.
ACASO E
NECESSIDADE
Em primeiro,
separo contingência de acaso. Isso faz o marxismo. O acaso é o oposto da
necessidade, mas está, ao mesmo tempo, em unidade com ele. O caso mais famoso é
ao da evolução das espécies na biologia. Uma mutação genética acontece por
acaso; pois bem; ao mudar os descendentes a mutação prospera se facilita a
sobrevivência da espécie ou deixa de existir se dificulta a sobrevivência dessa
mesma espécie. O acaso aí não nega as leis da biologia, da evolução, mas atua
dentro dessas leis (necessidade). Se o presidente morre hoje por um enfarto ao
acaso, isso pode acelerar ou atrasar a história, suas leis ou necessidades, as
tendências históricas, mas não nega a existência do acaso dentro da
necessidade, atuando aí.
POSSIBILIDADE
E NECESSIDADE CRESCENTES
Piaget
atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada
vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a
possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade.
Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é
cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando
o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se
desenvolveu.
Penso que,
ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a
necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a
partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária.
Além disso,
é possível que a possibilidade teste-se a si mesma antes de se tornar
necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções
burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções
socialistas fracassadas.
PROPOSTA DE
ATUALIZAÇÃO
Além das
atualizações anteriores, o acaso leva-nos à reflexão do caos e da ordem.
O caos não
suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo
lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos,
por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que
veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto,
o caos, dentro de si.
Na coisa, a
ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e
ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo.
O caos
absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade
de caos e ordem cai-se na probabilidade.
O socialismo
é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central
e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.
PROPOSTA DE
ATUALIZAÇÃO
Movimento =
energia = tempo = espaço =matéria = massa = luz = campo
Tudo = Tudo.
Tudo é espaço-matéria, espaço condensado, para dentro de si. Tudo e energia em
busca de mais energia, em busca de mais de si.
RELAÇÃO
ABSOLUTA
Agora que o
absoluto é sua própria autoexposição, a própria aparência total, podemos ver a
relação de substancialidade e a relação de causalidade.
SUBSTÂNCIA A
ACIDENTES
Os acidentes
são aquilo que não é essencial (a cor de algo etc.). A substância é, então, o
oposto, o essencial de algo. Porém, Hegel descobre a unidade dos opostos: que a
substância produz seus próprios acidentes, põe eles, põe eles como se fossem
externos a si (embora não sendo de fato) – mas os acidentes são apenas
expressão da substância ao mesmo tempo em que a substância somente é em, dentro
de, seus acidentes.
Eles são uma
unidade, mas insistamos na diferença deles mais um pouco. A substância vai para
fora de si e põe os próprios acidentes, mas, depois, ela “abandona” os
acidentes e volta para dentro de si mesma. Substância e acidentes separados
produz um meio-termo que os unifica, a potência.
Veja-se. Em
nossa metafísica o espaço, embora não primeiro em nosso universo, torna-se
substância e as partículas-ondas são os acidentes.
CAUSASALIDADE
FORMAL
Como
potência, a substância é a causa dos acidentes, pois põe estes como se fossem
outros para ela, não ela mesma.
Ocorre que a
causa só pode ser causa sem tem um efeito e, ao inverso, o efeito só é efeito
se tem uma causa – um depende do outro, apesar de ainda não fundidos com apenas
um. Ora, se a causa se realiza no efeito, esta mesma causa deixa de existir,
logo o efeito deixa de ser efeito. O que sobra disso? Um imediato, uma
substância, um conteúdo indiferente em relação à causa e ao efeito – um “mesmo”
que está tanto em um quanto, depois, no outro.
CAUSALIDADE
DETERMINADA
Aquilo que
está na causa é aquilo que estará, também, no efeito. Uma chuva molha o chão –
logo tanto na chuva quanto no chão há o mesmo, a água.
A
causalidade produz, além disso, sua própria causalidade. A água que foi ao chão
evapora e produz, novamente, uma nova chuva.
Mas essa
causalidade tem o defeito do mau infinito: uma causa tem outra causa, que tem
uma causa, que tem uma causa… Um efeito tem um efeito, que tem um efeito, que
tem um efeito… Como resolver isso?
EFEITO E
CONTRAEFEITO
A causa numa
substância ativa produz um efeito sobre outra substância, logo esta segunda, a
afetada, faz um contraefeito naquela primeira – ida e volta, efeito e
contraefeito, a causa passou para outro e, depois, retornou para sua origem.
Temos a causalidade recíproca.
A causa
passou, ela mesma, para o efeito, tornou-se o efeito, mas teve de retornar para
sua origem como contraefeito, como nova causa.
Os humanos
modificam o mundo e o mundo modificado modifica o próprio homem. O poderio
econômico imperialista dos EUA produz o poderio militar, que, por sua vez,
produz mais poderio econômico. O vício em bebida pode causar depressão, e esta
última causa, por sua vez, mais vício; ou, ao contrário, começa-se com
depressão que produz vício – num ciclo vicioso que se aprofunda. A causa
torna-se consequência e a consequência torna-se causa, efeito e contraefeito.
Temos,
então, a interação em que a mesma substância absoluta age como várias
substâncias diferentes em interação umas com as outras.
CAUSA E
ACASO
Segundo
Lukács, há unidade de causa e acaso. Uma totalidade é feita de muitas partes
que causam umas às outras e vice-versa; isso permite que ocorram acasos por
causa da complexidade das interações das partes entre elas.
UMA INTERPRETAÇÃO
D’O Capital,
de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização
da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar
dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto,
desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar
insumos e máquinas do exterior.
Há duas
formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez,
produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro
numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente,
aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com
capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.
Um efeito
pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Para a economia vulgar, a
inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias
origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro
circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação
da moeda cai, por exemplo.
Uma causa
pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta
produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois,
revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em
circunstâncias diferentes).
Os teóricos
da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito
enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa
das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que
fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências.
Causas
diferentes, até opostas, que ocorrem ao mesmo tempo possuem, também, uma causa
mesma comum a todas elas.
IDENTIDADE,
DIFERENÇA ETC.
Para a
dialética de Hegel, as categorias passam apenas logicamente umas para as
outras, pois são sincrônicas, não diacrônicas: a identidade, a diferença, a
diversidade etc. já estão todas aí, ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum.
Em minha dialética, além de tal sincronia, existe também a diacronia das
categorias: a identidade passa, a si própria, para a diferença, para a
diversidade etc. Na biologia, com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus
descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a
diversidade: diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se
depois, começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito.
Passou-se no processo, no diacrônico, da identidade, para a diferença, para a
diversidade etc.
CONTRADIÇÃO
IDENTIDADE DIFERENÇA
A identidade
guarda em si a diferença; a diferença, a identidade. Mas pode haver contradição
movente de ambos, que se torna processo ou se resolve. As espécies e os seus
indivíduos tendem a se diferenciar por mutação enquanto seleção natural e
sexual, ao contrário, age no sentido inverso, para unidade, para o homogêneo,
fazendo vencer a luta pela sobrevivência apenas os mais capazes de adaptação.
OPOSTOS
Já vimos
isso no inorgânico antes. Cumpre notar o princípio, talvez transitórios, da
incerteza de Heisenberg que afirma: quanto com mais precisão medimos uma
propriedade de uma partícula, menos medimos a propriedade oposta, pois nossos
instrumentos afetam o objeto de pesquisa, alterando-o (lançamos, por exemplo,
um fóton num elétron, modificando-o). Assim, se medimos com exatidão a posição
da partícula, não medimos a velocidade; se medimos a energia, não medimos o
tempo etc.
Na biologia,
além de tudo evidente, como a luta entre os seres e os sexos, vemos que o corpo
humano possui sistemas opostos, simpático e para simpático.
Os opostos
estão assim, em unidade, ainda que contraditória.
Na física
quântica, Dirac percebeu que os resultados dos seus cálculos poderiam ser tanto
com sinal positivo quanto negativo, prevendo a existência da antimatéria, isto
é, a matéria com sinal oposto, como neutrino e antineutrino, elétron (-) e
antielétron (+). Nesta obra, expomos que os opostos em carga são, no fundo, o
mesmo, o que antes era unido e dividiu-se, explicando a atração e a repulsão.
Na química, temos a quiralidade, a produção de moléculas quase idênticas, mas
opostas, uma canhota e outra destra.
(DES)MATERIALIZAÇÃO
Em minha
pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a
desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para,
depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais
material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo
ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre,
para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais
até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a
desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade
maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor
tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade
deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade,
aumenta o tempo de vida.
Se há
retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao
empírico. Isso está relacionado com a energia disponível. A falta de energia
pode diminuir o tamanho de uma espécie.
FORMA E
CONTEÚDO
Dentro do
próton há quarks que têm menos massa, mas seu movimento-energia (conteúdo)
aparece como massa extra (forma) de sua totalidade, o próton.
O conteúdo é
matéria formada (o abstrato é o concreto em processo).
O
desenvolvimento do conteúdo pode entrar em contradição coma forma conservadora.
Ou a forma exige muita energia etc. do conteúdo, tendo de resolver tal
contradição.
DO MENOS
PARA O MAIS FORMAL
A realidade
vai do informe, do menos formal, à forma. Uma nuvem informe, nebulosa cósmica,
torna-se uma estrela com seus planetas “redondos”. Do organismo ameba quase
informe até células mais formais como neurônios e seres complexos formatados.
TODO E
PARTES
Hegel afirma
que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um
todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna
(Jammer, Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica, 2011),
substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.
Mas essa
energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo,
seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No
segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então
desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.
Vale
destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo
forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O
todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade.
O todo é um reunir atrativo de partes, pela “força” (na verdade, pela energia);
um todo vem, também, de outro todo que se suprassume, que entra em contradição
consigo, ou com parte(s) de si, pela missão, do todo e da parte, de acumular
energia. Uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si
um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era
apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o
crescimento e desenvolvimento de um todo dá-se, por isso, pela energia que
concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo
condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.
Provável,
Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do
sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma
força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A
gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por
meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.
No
capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo
como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso. Mais à frente, veremos
o papel do circulante, do mediador, na manutenção do todo sistemático.
Aqui, vemos
o limite de Hegel; ele: 1) tomou as partes; 2) derivou o todo; 3) disse que as
partes formam um todo pela força. Ora, se ele é o filósofo da unidade dos
opostos, dos diferentes e diversos, qual a unidade da parte ou das partes e da
força? Ele não responde, sequer levanta a questão. Se substituímos força por
energia, se energia é massa e espaço, e matéria etc., logo a parte, como matéria,
é um só com a “força”, ou seja, com a energia, são diversos e, ao mesmo tempo,
o mesmo, um dentro do outro, um sendo o outro. Logo vemos que nossa elaboração,
embora direta, é superior à hegeliana em estado puro.
Uma parte,
afirmando-se como todo em si, entra em contradição com o todo ou com outra
parte por meio do qual entra em contradição também com todo com que qual este é
alinhado.
CONCRETO E
ABSTRATO
O concreto
inicial, junto de si, passa para a abstração, a separação, que volta ao
concreto. Padrão da geologia: do concreto amorfo, surgiram progressivamente os
continentes iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após
processo longo, fundiram-se no Pangeia; este, então, separou-se nos atuais
continentes do planeta. O atual afastar aproxima. O nosso universo, provável,
sai de um ponto comum (concreto), expande-se com o afastar das partes
(abstrato) para possivelmente unir-se de novo (concreto).
TRÍADE E
COLATERAL
A lógica
dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de
tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no
real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a)
infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c)
inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios,
burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo,
indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas
natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc.
Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que
está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.
Nessa obra,
essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em especial
na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor de
serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais
são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema
capitalista.
Na física,
podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido,
gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear
forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade
está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas
curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar
as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças
consideradas.
Continuemos
com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural
(abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar –
método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de
modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que
no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos
de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros
dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80;
Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para
classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje
aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo
na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou
metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou
raros (colateral).
Utilizando
tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio,
muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor
disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os
Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns
climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que
Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários
sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens),
onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde
o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é:
colateral.
REAL E
FICTÍCIO
O movimento
do real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este
desenvolve aquele em si – ocorre na materialidade.
O real
produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio
processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o
fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece
como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se
ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o
fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a
unidade de nada e ser.
A categoria
fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo
diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A
relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata
de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o
fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade
desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e
irreal.
Em
matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da
humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros,
racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.
O real
encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das
partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos
são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como
pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação
científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui,
portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.
A unidade do
real e do fictício é o real efetivo ou completo.
CENTRAL E
ORBITANTE
Lucáks
critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da
Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a
forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács,
Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o
qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro
apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a
relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que
aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante,
e vice-versa; daí a unidade deles.
Quando o
leigo pergunta a algum físico sobre a semelhança entre a orbitação do elétron
em torno do núcleo e dos planetas em torno do Sol, logo explicam que esta visão
atômica é antiga e, portanto, forçada. Percebamos que usa-se a comparação
visual no lugar do conceito. Em nível de categoria, a relação próton e elétron
é a mesma natureza de Sol-planetas. Entre os seres vivos isso também ocorre,
como um macho forte agregando em torno de si outros de sua espécie ou fêmeas.
GERAL,
PARTICULAR, SINGULAR
Para Hegel,
o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de
si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido;
logo comentaremos o motivo de seu erro.
Hegel deixa
de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A
descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular
do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal
capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.
O que se
reproduz, o gene individual ou a espécie geral? Ora, a oposição é desnecessária
e unilateral. Quando, por exemplo, um animal quer se reproduzir normalmente,
ele deve encontrar outro semelhante do sexo oposto, logo não pode ser algo de
todo individual, singular.
Há
contradição temporária entre o geral e o singular. Quando uma fêmea chimpanzé
mata seu filho albino, ela afirma o singular-geral dominante. A singularidade
de um indivíduo destoa do geral, da espécie, até formar espécie nova. O
coletivo pode oprimir, não afirmar, o individual.
GÊNERO
Na Doutrina
do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na
estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por
exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a
tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.
Os erros de
Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a
Teoria da Evolução das Espécies, que dirá a do Big Bang. Mesmo para um gênio
isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele,
valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente,
valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da
física de sua época. Diz Hegel, sobre o geral-singular e o gênero; “Mas a
natureza orgânica não tem história…”
POSSIBILIDADE
E NECESSIDADE CRESCENTES
Piaget
atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada
vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a
possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade.
Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é
cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando
o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se
desenvolveu.
Penso que,
ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a
necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a
partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não
retorno).
Além disso,
é possível que a possibilidade, em seu evolver, teste-se a si mesma antes de se
tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se
revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se
revoluções socialistas fracassadas.
A
contradição aí se dá de duas formas: 1) a necessidade constrange a
possibilidade, a subordina a si; 2) a possibilidade tenta afirmar-se antes da
necessidade madura.
A
necessidade nem sempre encontra a possibilidade de realizar-se. Vejamos a
biologia. 1. Folhas verdes – mas absorveriam mais luz se fossem negras; 2.
reprodução sexuada dominante – mas a
assexuada seria mais simples, rápida e fácil; 3. dormir – isso faz perder muito tempo e há duros riscos,
melhor seria "desligar" parte do cérebro por vez. São limites a
partir dos quais os seres devem se adaptar, pois lhes é impossível uma
adaptação máxima, perfeita, como folhas negras.
CAUSALIDADE
D’O Capital,
de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização
da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar
dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o
oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam
importar insumos e máquinas do exterior. No inorgânico: a explosão de uma
estrela produz onda de choque que impulsiona a formação de novas estrelas. Na
biologia: 1) a hipólise estimula uma glândula no corpo humano, mas esse aumento
passa a inibir o hormônio hipofisário.
Há duas
formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez,
produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro
numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente,
aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com
capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.
Um efeito
pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Os olhos do polvo e dos
animais terrestres têm origens diferentes. Para a economia vulgar, a inflação
sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens,
como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode
mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai,
por exemplo.
Uma causa
pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta
produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois,
revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em
circunstâncias diferentes).
Os teóricos
da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito
enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa
das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que
fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências. Vejamos a
contradição. A condição, ao redor, se opõe à causa, mas se torna assim, também,
causa. Na década de 1930, a França viveu uma greve geral revolucionária com
ocupação massiva de fábricas; os trabalhadores, com esta imensa ousadia,
poderiam ter tomado o poder, mas exigiram, depois de tanto esforço e
sacrifício, apenas aumento salarial, que logo foi consumido pela inflação. É
uma contradição, por exemplo, que uma grande causa cause um pequeno efeito ou
que o efeito seja o oposto da natureza e intenção da causa.
Além disso,
a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o
efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise
econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.
Isso permite
rápido comentário. Einstein, nosso gênio, ao que parece, igualou aceleração e
gravidade, pois ambos produzem o mesmo efeito. Ora, efeito igual pode ter
causas completamente diferentes, não necessariamente iguais de imediato, apenas
no fundo como em movimento = massa = energia etc.
As diversas
causas, muitas vezes simultâneas, possuem, elas mesmas, juntas, uma causa
comum. As várias causas simultâneas de uma crise cíclica têm a mesma causa,
mesmo núcleo comum, as questões de produtividade.
Para
registro, Lukács, afirma que as partes de um todo interagem entre si
reciprocamente, causando-se umas às outras – e isso permite que ocorram acasos.
De modo
resumido, a causalidade é recíproca, a causa torna-se efeito e o efeito
torna-se causa, em processo de construção. A economia afeta a cultura, mas a
cultura afeta a economia. Além disso, o que está na causa continua-se no efeito
como a bola de sinuca transfere seu movimento-energia para a outra bola com a
qual se choca.
A causa
reciproca ocorre em desenvolvimento porque as partes em relação estão em
mudança, como energia em busca de mais de si.
A contradição
entre efeito e causa, é que aquele contraria a base deste, como um oposto. O
crescimento do Estado é a causa da destruição do próprio estado, consequência.
Vejamos um caso na biológico, na obra “O biólogo dialético”:
Suponhamos que aparece uma mutação em uma espécie
com alimento limitado, a qual causa a duplicação da fecundidade sem mudar a
eficiência de colheita de alimento e o metabolismo. A mutação vai ser
rapidamente estendida através da população, a qual vai ter logo o dobro de
fecundidade. Mas como a espécie tem comida limitada, a população adulta não vai
ser maior que a anterior. A população recentemente evolucionada estará em
melhores condições de crescer rapidamente se há um incremento na provisão de
alimento, porém seu número final não será maior que si tivesse fecundidade mais
baixa. Por outro lado, se os predadores que se especializam em ovos ou jovens
mudam sua imagem de busca a espécies que têm mais abundância nos estados
juvenis, , pode reduzir-se a população ou incluso chegar a extinguir-se. (…) As
mudanças evolutivas dentro de uma espécie podem causar sua propagação,
incrementar seu número ou tamanho da população ou provocar sua extinção.
Ademais,
como produz efeitos opostos, o avanço se dá pela passagem da causalidade para a
tendência.
TENDÊNCIA E
CONTRATENDÊNCIA
A tendência
produz, de si mesma, a própria contratendência relativa. Eis a contradição em
movimento. Uma estrela tende a colapsar dentro de si, mas, além da resistência
natural dos átomos, estes se fundem e produzem fótons que empurram para fora.
Novas formas de vida que passaram a produzir oxigênio abriram o caminho para
maior diversificação biológica, mas, pouco depois de surgirem, tal elemento
químico atuou como veneno contra as formas viventes então existentes.
COISA EM SI
E MATERIAIS
Para nosso
trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si
nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas materiais,
matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é
sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em
que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).
Destaco que,
para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado,
elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo
não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo,
tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto,
em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se
que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que
permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o
que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o
mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a
interpenetração.
Mais uma
observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas
sabemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não
sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando,
tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas
propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por
causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece
provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual
mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características
destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para
fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos
levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia,
impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.
A coisa em
si (abstrato) é suas propriedades (concreto) expressando-se (processo).
FIM E MEIO -
TELEOLOGIA OBJETIVA
Em Hegel, na
Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como
meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo
objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa
ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um
fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado
objetivo.
Há outra
consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se
realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de
unidade de fim e meio. Eis a teleologia objetiva, orgânica, que dispensa uma
razão pensante ou superior.
Existe ainda
o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e
circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si
mesmo. Esta contradição com o fim real deve ser resolvida. O fim continua
afirmando-se como necessidade contra a autonomia do meio.
Para evitar
interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria,
na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos
antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa
confusão, entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se
das mais variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir
seres cada vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a
própria temperatura, teleologia relativamente realizada no homem.
Enfim, Hegel
e outros, como Lukács e Aristóteles, colocam o trabalho como centro e caem no
maquinismo, separando meio e fim adotando o modelo escolhido como universal, ou
metáfora. É uma forma indireta de mecanicismo.
INTERNO E
EXTERNO
Hegel
demonstra que os opostos tem certa mesmidade. Um poeta faz um poema na
qualidade externa de sua qualidade interna como poeta. O externo expressa o
interno; este, por sua pulsão, passa para aquele. O próprio Hegel diz do fato
de que, no começo, o objeto é apenas externo, logo apenas interno – então desenvolve-se
para algo interno-externo. O externo se internaliza – o interno se externaliza.
A matéria externaliza-se ao decair-se em espaço; o espaço internaliza-se ao
formar partículas.
Em equação
qualitativa, temos, por exemplo: o interno é o externo que se internaliza
(ambos, interno e externo podem ser, ora um e ora outro, abstratos; o interno é
abstrato por não ser diretamente observado ou o externo, por ser visto de modo
isolado – assim, o abstrato é o concreto em processo).
DUPLO
CARÁTER
Algo tem duplo
caráter: a religião é um alívio humanizante, mas fonte de alienação; a luz é
uma sobreposição de estados, partícula-onda; a mercadoria é valor de uso e
valor. Nesse duplo, um domina o outro, o oposto, uma contradição que é
resolvida no evolver. Além disso, um é, na coisa, um em si enquanto o outro é
um em contexto (e no processo). Em si, a religião é alienação; no contexto, tem
algo oposto, humanitário. Talvez a física descubra o que é “em si” e “em
contexto” na dualidade partícula-onda da luz e do elétron. Por exemplo: diz-se
que a partícula não é partícula, mas onda e campo, que colapsa em partícula
porque a medimos, ou seja, lançamos um fóton nela.
Mario Bunge,
que nada entendeu de marxismo para além de erros acadêmicos, tentou refutar o
“duplo caráter” em Hegel. Vejamos, de novo, um exemplo da natureza: segundo a
seleção sexual, o cervo ter grandes galhas é positivo, uma vantagem, pois vence
adversários de espécie em batalhas pela fêmea; mas, segundo a seleção natural,
isso é negativo, uma desvantagem, pois dificulta correr para longe de seus
predadores – positivo e negativo, vantagem e desvantagem, duplo caráter!
PROCESSO E
CRISE
A lógica
deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia,
no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais
ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo,
desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou
menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou
desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou,
antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito
central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria
comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas
após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio,
mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas
o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande
cérebro formular algo do tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além
de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no
século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande
desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece
externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na
verdade, sua condição de autoelevação.
A crise,
desde o processo, é uma questão, em resumo, em igualdade com os demais,
energética, como crise de produção. Uma estrela como Sol entra em crise quando
a fusão nuclear, sua produção, gera muito ferro, um elemento muito estável, que
impede que a gravidade produza novos elementos, interrompe-se o trabalho – a
estrela explode, o que produz elementos mais pesados. A crise dos modos de
produção – contradição entre forças de produção e relações de produção – começa
com problemas de produção e a destinação da energia social-natural, como o
Estado sugando muito da sociedade para sustentar o mundo, a própria sociedade,
tal como ele é (mas acaba realimentando a crise). Os ciclos planetários, talvez
também cósmicos, crises, na nossa Terra geram problemas como a falta de
alimento-energia para os seres vivos.
Em geral,
amplos processos e crises, que são o mesmo, produzem eras (eras do capital,
eras biológicas, eras cósmicas, eras sistêmicas da sociedade etc.).
Kunh informa
que as crises científicas levam ao foco em filosofia e novas teorias. Em
semelhança, as crises sociais também produzem uma pressão pelo pensamento, por
novos guias mentais. As crises biológicas podem levar animais com alguma
complexidade a algum traço de pensamento um pouco mais complexo ou
protoconciência, como nas abelhas antigas.
AUTORRERULAÇÃO
DO SISTEMA ORGÂNICO
Em seu Da
Guerra, Clausewitz faz uma afirmação válida até hoje: as grandes nações atuam
para que a correlação de forças entre os Estados mantenha-se estável, não mude,
permaneça. Assim, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, todo o mundo ocidental de
maior peso saiu em defesa deste contra aquele. A Coisa se autorregula. Assim, o
sistema orgânico, que tende a mudar, tende a impedir a mudança de si próprio,
age contra si nas duas pontas, contra a permanência e contra a mudança, pela
permanência e pela mudança. Assim, os EUA fazem o possível para impedir que um
concorrente à altura surja contra si, caso da subordinação do ascendente Japão
no final do século XX, algo difícil de fazer contra a China por razão das
circunstâncias.
Na biologia,
as comunidades e populações são contraditórias e desiguais, mas busca-se o
equilíbrio. Na química, o princípio de Le Chatelier diz que a nova combinação
de átomos em moléculas por efeito de reagentes pode até se reverter
parcialmente, sair do anterior equilíbrio, onde mudança e contramudança se
igualavam na equação, para uma adaptação ativa; assim, se aumentamos a pressão,
as moléculas podem se recombinar em parte para o modo anterior de maneira a
reduzir de novo a pressão, tornar a pressão como a de antes de seu aumento.
Vale, sobre o quimismo, um comentário: a pressão externa é, na verdade,
internalizada – não é apenas, como pensa um químico ou professor apressados,
uma busca abstrata por equilíbrio.
CONDIÇÃO
Hegel diz:
1) o todo é absolutamente incondicionado; 2) a condição é relativamente
incondicionado em relação ao fundamento; 3) algo somente surge quando todas as
condições de seu surgir estão presentes – as condições colapsam para dentro do
resultado novo, logo as condições estão no seu condicionado. Algo mais deve ser
dito, complementado sobre: algo surge apenas quando as condições de seu surgir
e de seu consolidar estão maduros – pois pode surgir sem se consolidar; e isso
pode tornar até um tanto mais difícil seu ressurgir. A vida deve ter surgido
várias vezes de modo independente, e talvez até hoje surja, mas apenas uma das
oportunidades deu certo. E ela surge e ressurge porque há condições para tal
como compostos complexos, o meio solvente água e energia alta.
NECESSIDADE
E ACASO
O acaso
ocorre dentro da necessidade, que é o geral. Pode haver contradição entre
ambos: o acaso pode adiar a realização da necessidade; por outro lado, o acaso
que entra em oposição com a necessidade, definha-se e destrói-se. O fluxo geral
da água pode ser determinado, mas, ao ir ao fundo dela, às suas pequenas
partes, impera o acaso, um paradoxo real, que aparece como intelectual sem o ser
de fato. O acaso de uma mutação prospera se está de acordo com as leis da vida
ou definha se dificulta a sobrevivência da espécie por meio do indivíduo.
ENTRE O
JUÍZO E O SILOGISMO
Hegel diz
que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições
impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a
formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser
no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o
simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no
silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer
dizer “A = BC” ou “A é BC”; esta é a fórmula básica, como nas equações
quantitativas, por exemplo, o abstrato é o concreto em processo. Quando Lenin
diz “política é economia concentrada” chega ao nosso formato, sendo a palavra
“concentrada” ou fator de igualdade e conversão.
Na fórmula
de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias
interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes
interpretações ), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe
o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é
igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito
energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a
velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de
nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.
No mais,
tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos
A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o
movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.
Segundo Ruy
Fausto, Marx descobriu novo juízo em que o sujeito passa por diferentes
predicados sem se confundir com um deles. Dinheiro é – medida dos valores –
padrão de preços – capital – meio de pagamento – meio de entesouramento –
expressão ímpar do valor. Na verdade, já está como primeiro caso criado de
equação qualitativa, entre o juízo e o silogismo.
Para
concluir este ponto, valerá a pena esforço teórico para sistematizar modos como
“se, então”, “todos, exceto”, “tanto quanto”, “tende à” etc. Um trabalho que
não cabe nesta obra.
É comum que
um dos elementos de “A é BC”, em geral o “C”, represente movimento, processo.
Lenin diz que “política é economia concentrada” e Carl von Clausewitz afirma
que “a guerra é a continuação de política por outros meios”; eis duas equações
qualitativas bastante concretas, mas inconscientes.
Se não
todas, quase todas as categorias opostas são unificadas na seguinte equação
qualitativa: a categoria A é a categoria B no processo. Desse modo, o caos
(abstrato) é a ordem (concreto) em movimento (processo). Descobrimos, assim,
uma nova forma de unidade e identidade das categorias, expressa pelo movimento
de pelo menos uma delas.
CONCEITO
Para Hegel,
como para Aristóteles, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao
acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em
busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a
antecipação lógica, idealista, da realidade do DNA, materialista, o bloco de
informação da vida, que se reproduz.
Com a
unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo,
que se condensa em matéria, espaço-matéria, temos a Arkhé, o absoluto, ou seja,
uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega,
inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas
científicas, não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da
Ciência da Lógica de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação
completa, que tem a dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter
avançado – mas base ainda limitada, sem correto fundamento.
Hegel
pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se
apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo,
conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o
devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse
desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do
espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí (na física
atual, tanto espaço quanto o próprio tempo estão apenas do lado de fora da
coisa, não se sabe como). Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como
nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A
categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser –
ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia
de Freud do sexo como pulsão elementar da psique , tem dentro de si o conceito
puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo
dialético.
SISTEMÁTICO
Hegel diz do
método sistemático, para pesquisa e para exposição, com a analogia do
aprendizado da escrita, em sequência: começamos com as vogais, as consoantes,
as sílabas, as palavras, as frases e, enfim, o todo do texto. Ora, isso também
é diacrônico, no tempo: o homem primitivo teve de evoluir sua fala nesta mesma
sequência, assim como a fala da criança. As duas formas de serem sistemáticas
são juntos e apenas um, mesmo que ocorram, aqui e ali, certas
incorrespondências. Hegel diz que o mais simples e abstrato é o mais geral
(hidrogênio, mercadoria, células etc.), logo o começo da exposição, mas também
é isso porque é o primeiro na história.
Inspirado na
química, completamos: temos: o analítico, que desenvolve a coisa sem nada nela
acrescentar, o sintético, que adiciona algo como o oposto na coisa – e o
combinatório, simples ou composto.
Exemplo: A -
BC para AB - C.
Exemplo:
máquina (construção etc.) e matéria-prima como capital constante e força de
trabalho como capital variável.
Passa para
Máquina,
construção etc. como capital fixo e matéria-prima junto com força de trabalho
como capital circulante.
Vejamos
outro caso. A combinação de capital comercial e produtivo produziu o domínio do
primeiro sobre a produção e as finanças. O domínio do capital produtivo,
produziu subordinação do capital comercial e das finanças. O domínio das
finanças, combinado com o industrial, produziu dominação do capital industrial
e do comercial. Hoje, temos a hiperinflação e domínio do capital fictício. Se
limitássemos a combinatória aos maquinário, insumos e força de trabalho;
diríamos que tivemos 300 anos de domínio dos “insumos”, 300 de domínio da
“máquina”, 300 da força de trabalho, socialismo antes do comunismo. Mas isso
logo se demonstra limitado.
A unidade do
analítico e do sintético, ambos válidos por si, é o combinatório. Este tanto
põe (sintético) quanto, por outro lado, não põe (analítico). Hegel apenas
apresenta os opostos e, como dissemos, não viu o movimento, desenvolvimento, do
sintético no sistemático; para ele, passamos do analítico para o sintético e
vice-versa, como apenas dialética negativa, não positivamente dialético.
Contra Kant,
Hegel diz que 7+5=12 é analítico, não sintético. Mas é, bem observado, tanto um
quanto o outro, combinatório. 7 e 5 estão separados, depois unidos pela “cola”
interna; eles se combinam. O conteúdo – que Hegel diz ser igual antes e depois
– é e não é o mesmo, pois combinaram-se, e a forma, algo tão importante para a
dialética, mudou, tornou-se 12 unitário.
Outro
sentido, lateral, de sistemático vem de uma coincidência curiosa entre
psicanálise e história humana, ainda não encontrada por mim na natureza, mas
cuja correspondência parece existir na célula viva. Na sociedade, temos:
economia, classes, superestrutura subjetiva (mentalidades) e superestrutura
objetiva (instituições). Pois bem; a psique arranja-se de modo análogo: ID ou
instintivo e impulsivo (economia), ego (classes), parte do superego repressivo
(instituições, Estado em central) e parte do superego da idealização de si
(mentalidades). Assim, temos: infraestrutura, estrutura e superestrutura, sendo
que este último se duplica – e eles se formam, em geral, a partir do infra. Ao
que parece, pode-se elevar à lógica ontológica tal sistema. A base (infra e
estrutura) é dinâmica e produtiva enquanto a superestrutura dupla é
conservadora, conservativa, estrutural.
O método
empírico-dedutivo que temos defendido nesta obra é um juízo analítico a
posteriori, considerado impossível por Kant. Este defendeu a existência do
juízo analítico a priori, sintético a posteriori, além do sintético a priori,
que não depende da experiência, para ele a fonte de toda ciência real. Ao
contrário, partimos do empírico, da experiência, para saber o que já está nele,
mas oculto.
UNIDADE DE
PRODUÇÃO – FIXO E CIRCULANTE
Hoje sabemos
que o Ser é produção. As estrelas, por gravidade, produzem elementos novos,
cada vez mais pesados, perdendo energia em forma de fótons e neutrinos. A
célula é uma unidade produtiva que produz mais energia do que aquela exigida em
sua produção. O homem teve, por exemplo, o campo de trabalho escravo, o feudo,
a fábrica com trabalho manual e, agora, a fábrica sem trabalho manual. Temos,
então, três fatores universais: a produção-consumo e a distribuição. Ser, não
apenas o social, é trabalho também.
Assim, as
três modalidades de ser têm o fixo e o circulante. Mas o fixo é, também,
circulante, apenas relativamente fixo. No sistema solar, nível inferior de
sistema orgânico, a luz é exemplo de circulante. Os elétrons compartilham
fótons. Na biologia, o sistema circulatório bombeia o sangue. No capitalismo,
temos o capital fixo (máquina, instalações etc.) e o capital circulante
(matéria-prima, força de trabalho etc.). O circulante costuma servir de cola
adicional que mantém o sistema como sistema; assim, o dinheiro unifica o mundo
do capital. Assim, o próton é formado por 3 quarks que se unificam em sistema
com o auxílio da partícula glúon, compartilhada entre eles, em movimento. No partido
de tipo leninista, revolucionário, o jornal une a militância. Até onde se sabe,
aquilo circulante é, em termos absolutos e quantitativos, menor em matéria do
que aquilo relativamente fixo.
Em primeiro
lugar, o circulante distribui energia, embora possa fazer mais do que isso. As
abelhas são o circulante na biologia, em busca de energia, mas também polinizam
as flores.
A INDUÇÃO
DEDUTIVA
A indução,
ter grande amostra igual que permite afirmar que “todos os x são y“, e a
dedução, partir de dois ou mais postulados (em certo sentido, arbitrários) para
ter nova conclusão, são opostos. Vejamos, no entanto, a unidade negativa deles
para depois alcançar a positiva. Se todos os muitos patos que observo são
negros, logo deduzo que todos os patos são negro, dedução por indução. Se
deduzo algo a partir de premissas “aleatórias” ou “intuitivas”, logo tenho que
provar uma e várias vezes tal conclusão, indução por dedução.
Mas há a
indução dedutiva, unidade positiva dos opostos. Dois postulados (ou mais) podem
ter origem indutiva, que derivam uma dedução. Vejamos. Se digo apenas “todas as
revoluções socialistas vitoriosas formaram ditaduras”, logo, por indução,
“socialismo é ditadura”; mas, se faço a outra, segunda, indução “todas as
revoluções socialistas ocorreram em países imaturos”, unificando com a
primeira, logo deduzo “as revoluções socialistas caíram em ditaduras porque
eram países imaturos para o socialismo”.
Isso não se
confunde de todo com o método dialético, que expomos aqui, empírico-dedutivo.
A PASSAGEM LÓGICA
Demonstramos
A=A e… não-A. A dialética comum diz que o simples é complexo, pois um simples
ser vivo unicelular é complexo em si próprio. O socialismo é uma complexidade
simples (daí sua maior facilidade de gestão). Isso é correto, mas apenas
sincrônico, não diacrônico (o simples de fato, também, avança para o complexo).
Agora, porém, seremos sincrônicos ao já termos pesado a mão nos processos.
A=A já põe o
segundo A como diferente, logo A=não-A, ou seja, A=A e não=A. Ora, se isso é
uma passagem, mesmo se apenas mental ou lógica, logo A=A e… não-A. Façamos
agora o caminho inverso. A=A e… não-A. Logo A tem em si a potência de Não-A,
logo A=A e não-A (e A permanece em não-A). Assim, se A e não-A são o mesmo ou
em unidade, A=Não-A, por isso A=A! Em nossa dialética, em A=A e… não-A, até o
“e” importa como impulso de adição, de acréscimo, pois mais é mas, e, ao mesmo tempo, mas
é mais.[21]
O “…” demonstra o tempo, o movimento, o processo, o genético, o diacrônico, o
evolver, o (auto)desenvolvimento, evolução e revolução.
De certa
forma e modo, a fórmula A=A e... Não-A funde, em movimento, a lógica formal,
A=A, e velha Dialética, A=A e Não-A. Dizer “A=A e não-A” é transição, lógica e
histórica, entre o classificatório “A=A” e o dinâmico “A=A e… não-A”.
Lênin, antes
de estudar Dialética, caiu na lógica de Kant, dos opostos fixos. Assim, opôs a
luta econômica e a luta política, preferindo esta última. Toda a diferença fica
assim:
A=A: luta
política aqui, luta econômica ali.
A=A e não-A:
luta econômica é, ao mesmo tempo, luta política.
A=A e...
não-A: a luta econômica torna-se luta política, e vice-versa.
Após uma
luta política grande, em geral surgem lutas econômicas; o aumento das lutas
econômicas as unificam numa luta política.
As duas
formas anteriores, lógica formal e a velha dialética, estão dentro da terceira
forma, não apenas negadas.
A unidade e
contradição dos opostos categoriais no sincrônico leva ao desenvolvimento das
mesmas categorias no diacrônico. O simples vai ao complexo porque o simples é
complexo. A identidade vai para a diferença, diversidade, oposição e
contradição porque a identidade já é diferença, diversidade, oposição e
contradição. Vele observar que certas categorias já podem ser tratadas como
estrutura ou processo: “acidente” pode ser processo acidental ou característica
acidental; “potência” pode ser possibilidade ou impulso e pulsão. Mas, em
geral, devemos demonstrar o movimento real-conceitual interno.
SUJEITO E
OBJETO
Adorno opõe
a dialética fechada de Hegel à dialética aberta (Adorno, 2013, p. 65). Mas há o
caminho do meio, o terceiro “excluído”. Pode-se chegar ao todo estável, amplo e
correto no geral, sem esgotar, sem domar tudo. Isso permite reformas apenas,
atualizações, mesmo que reformas revolucionárias. Veremos neste livro e neste
capítulo uma dialética nova, que preserva completamente Hegel, e põe, desta
vez, o todo, ainda que não tudo.
A ciência
conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em
essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais
do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando
der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias etc.
Entre as
condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da ciência
e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo, de suas
possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a
sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para
perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal
identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova
revolução científica, para sua realização socialista.
A verdade é
revolucionária.
o ABSTRATO é o |
CONCRETO |
Em PROCESSO |
O nada é o |
Ser |
Em devir |
O ser é o |
Nada-infinito |
Que implode |
Outro é o |
Algo |
Que passou para outro |
A determinação é a |
Constituição |
Formada |
O mal infinito é o |
Finito |
Indo além de seu limite e barreira |
O finito é o |
Bom infinito |
Que produz a finitude |
O muito (múltiplo) é o |
Uno (um) |
Que se fragmenta, pluraliza |
O uno (um) é o |
Múltiplo (muitos) |
Que se reúne, concentra-se |
O intensivo é o |
Extensivo |
Concentrado |
O extensivo é o |
Intensivo |
Que se expande |
A qualidade é a |
Quantidade |
Em mudança |
A quantidade é a |
Qualidade |
Em alteração |
O contínuo é o |
Discreto |
Concentrado, reunido |
O discreto é o |
Contínuo |
Disperso |
A aparência é a |
Essência |
Que aparece |
O conteúdo é a |
Matéria |
Formada |
O fundamentado é o |
Fundamento |
Que avança |
A Coisa é as |
Condições |
Que desabam “para dentro” |
O interno é o |
Externo |
Que se interrnaliza |
O externo é o |
Interno |
Que se externaliza |
O acaso ou o acidente é a |
Necessidade |
Que se revela |
A liberdade é a |
Necessidade |
Desenvolvida |
O acaso das |
relações causais recíprocas das partes-todo |
Ocorre |
A necessidade é a |
possibilidade |
Crescente |
A realidade é o |
Desigual e combinado |
desenvolvimento |
O sujeito é o |
objeto |
Que se transcende |
A realidade é a |
Substância |
Em autorrelações |
O desigual e combinado é a Realidade
em
Desenvolvimento
OS MÉTODOS
CIENTÍFICOS
É muito
comum em meios universitários e entre militantes de esquerda dizer “isso é
dialético” para afirma que algo é complicado, confuso, misturado. A dialética é
algo sobre o qual muitos falam, mas poucos sabem exatamente do que se trata. Os
textos a seguir pretendem oferecer uma introdução de fato completa e clara.
A dialética
é 1) um método científico, 2) uma lógica da realidade e do pensamento (logo,
uma concepção de mundo, como afirmar que o real é necessariamente
contraditório) e 3) uma forma de exposição da pesquisa científica concluída. No
nosso dia a dia, comum ouvir alguém reclamar “isso não tem lógica, é
contraditório!”; ao contrário, o dialético é o contraditório – apenas há lógica
na contradição! Na Grécia antiga, a dialética era vista como parte da arte do
diálogo, como Sócrates fazendo os adversários com os quais debatia cair em uma
posição contraditória, a corrigir seus argumentos. Muitos séculos depois, o
alemão Hegel escreveu uma obra chamada Ciência da Lógica, que toma para si toda
a história do pensamento, e chega a conclusões inteiramente novas. Por exemplo:
a história da filosofia caiu numa oposição: ou o universo era formado pelo acaso
ou, ao contrário, por leis necessárias, então Hegel resolveu com a conclusão de
que o acaso atua junto e em base à lei, à necessidade (a necessidade é aquilo
que, de fato, é); a lei dá as condições para o acaso, seu oposto, acontecer, o
acaso é o acontecer da própria necessidade (lei) – demonstra uma unidade, ainda
que contraditória, dos opostos, acaso e necessidade (lei). Mas, se pareceu
difícil, não adiantemos demais os assuntos: avancemos aos poucos e
progressivamente.
A HISTÓRIA
DO MÉTODO CIENTÍFICO
RELIGIÃO
O primeiro
método é o mais distante de si próprio, seu oposto e negação – ou seja, um
método não científico. Os homens percebiam padrões tantas vezes reais, então
davam uma explicação mística àquela regularidade, à repetição. Assim os antigos
sacerdotes judeus diziam que Deus desejava que lavássemos as mãos antes das
refeições.
FILOSOFIA
Separando-se
e derivando da mitologia, a filosofia antiga tinha de lidar com a falta de
dados empíricos. Para isso, contava com o pensamento, com a busca de bons
raciocínios e argumentos para tentar explicar o mundo.
Os filósofos
negavam o empírico como algo sem permanência, incerto, perecível. Buscavam – aí
está o lado forte – a essência da realidade, porém consideravam esta mesma
essência como imutável, imóvel (diferente do que considera a dialética
moderna). Um dos lados fortes de tal postura é querer saber das coisas nas
próprias coisas, “deixar a pedra falar por ela mesma”.
EMPIRISMO
O empirismo
afirma que o cientista deve limitar-se a colher e organizar os dados empíricos.
Apenas, e talvez um ou outro comentário lateral entre os gráficos. Para Bacon,
por exemplo, os sentidos revelavam a realidade, por isso devemos usar o
seguinte procedimento: colher dados e, depois, generalizá-los – chamamos método
indutivo. Segundo esse pensador, o erro seria colocar nossos pensamentos,
nossos valores, nossos pontos de vista enganadores sobre os dados. O lado
positivo é seu apresso pelo empírico, mas seu lado negativo é limitar-se aí.
Hegel usa a
seguinte metáfora para sua crítica: afirma que o empirismo separa as camadas da
cebola, que, na verdade, crescem conjuntamente, e esquece-se de reunir o que
foi separado (abstraído). Eles veem as pates do todo, mas esquecem da interação
delas e que o todo tem características próprias, que as parte não têm.
O empirismo
toma dados empíricos e generaliza aquilo que é repetido. O problema é que deixa
de tomar a realidade em seu movimento, em seu desenvolvimento.
Um exemplo
desse método é seu uso por Freud. Ele observou que várias pessoas tinham esta
ou aquela característica central, logo ele pensou: existem três tipos de
personalidade – 1) a psicótica, que é rígida nas ideias, 2) a neurótica, que
reformula as ideias, 3) a perversa, que adota esta ou, depois, ao contrário,
aquela ideia se causará prazer para si, se lhe dá alguma vantagem. É uma
generalização, uma indução.
Hoje, quando
temos computadores que percebem vários padrões ocultos, o trabalho apenas
empirista tornou-se desnecessário, a máquina faz o trabalho melhor, cabendo ao
cientista a interpretação dos dados.
RACIONALISMO
O
racionalismo defende que se deve ir de conclusões racionais encaminhando novas
conclusões racionais. É o método dedutivo. O cientista faz uma afirmação que
considera verdadeira, então deduz daí as consequências de tal proposta.
O lado
positivo da visão é que colocar tudo sob dúvida, como as supostas premissas
obrigatórias. O lado negativo, segundo Hegel, é que não propõe verdadeiramente
um método.
Os
racionalistas pensavam que os dados poderiam nos enganar com muita frequência,
logo é a razão que deveria guiar o trabalho do cientista – o oposto da ideia
dos empiristas.
Einstein
usou e defendeu o método dedutivo, embora, no fundo, sem saber, seu método
fosse outro, como demonstraremos. Ele partia, por exemplo, das premissas
“arbitrárias” 1) as leis do universo são as mesmas se o observador não está em
aceleração; 2) a velocidade da luz é a maior possível no universo. Daí ele
derivava conclusões, que poderiam se provadas.
A EVOLUÇÃO
DAS TENTATIVAS DE UNIFICAÇÃO
A história
da filosofia caiu-se em uma oposição entre empirismo e racionalismo. Veremos
agora dois outros métodos científicos que procuram, cada um depois e mais
avançado que o outro, resolver a questão – os métodos hipotético-dedutivo e
dialético em principal.
KANTISMO
Kant tentou
unir empirismo e racionalismo com a seguinte proposta: temos conceitos feitos
pelo homem (racionalismo) que organizam a empiria, os dados confusos
(empirismo). A crítica dialética é a de que os conceitos devem mudar se os
dados empíricos mudam, se a realidade muda, ou seja, os conceitos devem se
adaptar aos dados, não é os dados que devem caber dentro dos conceitos – os
conceitos nada têm de fixos, eternos, imóveis, diferente do que defendia o
kantismo.
A ideia de
Kant entrou em decadência por muitos fatores. Entre eles: ele pensava o espaço
e o tempo como categorias apenas mentais, para organizar o pensamento “por
fora”, mas a física einsteana provou que o espaço-tempo existe.
HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
Sobre o
método hipotético-dedutivo de Popper, dito em resumo: diante de um problema
científico, delimita-se uma hipótese (ideia, racionalismo, subjetividade) e o
cientista escolhe, ele mesmo, o método de verificação empírica (empirismo). A
hipótese é, assim, testada – verificada. Como os demais, esse método rendeu
muitos frutos, mas tem seus limites: um deles é que muitas vezes descobrimos o
“como” da realidade, porém também temos de descobrir o “motivo”, o “porque”.
Além disso, pensar hipóteses é quase um tiro no escuro, mesmo com critérios que
limitam tais hipóteses. O mesmo fato pode ter vários e vários fundamentos,
razões diferentes, causas diferentes.
A crítica
conclui:
1) Nem sempre se parte de hipóteses, pois podemos
simplesmente ir colher dados como primeira ação.
2) Uma hipótese não precisa ser falsificada, como
quer Popper, mas, antes, comprovada.
3) Uma teoria errar uma previsão não significa
que ela seja descartável, mas que deve ser apenas adaptada, em parte alterada,
mantendo seu núcleo central de pé.
4) Há casos na ciência em que uma teoria erra a
previsão, não acerta o fato, mas depois, por insistência nela, descobre-se que
é, na verdade, correta. Por exemplo: a teoria da gravidade levava à previsão de
novos planetas no sistema solar, mas não eles foram encontrados; mesmo assim, a
teimosia de defender a teoria “errada”, fez depois descobrir tais planetas
ocultos.
Portanto, a
concepção científica de Popper demonstrou-se limitada. Para ele, tanto o
marxismo quanto a teoria da evolução não são ciências. Diante do prestígio da
segunda teoria, atacado por isso, recuou, no início apenas de modo parcial,
afirmando que a teoria de Darwin era certa metafísica bem sucedida, mas não em
exato ciência. A questão é que o método defendido por Popper não é capaz de
lidar com ciências que levam em conta a história do objeto de estudo, como a
história humana, a história biológica, a geologia, a cosmologia etc.
DIALÉTICA
(EMPÍRICO-DEDUTIVO)
Indo direto
ao ponto, muito resumido: a dialética é o ir aos dados empíricos, colhê-los,
depois, ou quase depois, passar a fazer intepretações, conclusões (não somente
comentários) deles – e critica-se os limites e enganos dos dados empíricos. Do
objeto em pesquisa, ver-se a estrutura e o processo, o sistemático e o
histórico, o genético, a aparência e a essência, o externo e o interno, o
diverso e a unidade interna e oculta.
Leiamos o
próprio Marx sobre seu método:
A investigação deve se apropriar da matéria (…) em
seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente
depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento
real. (Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo. P. 90; grifo nosso.)
Ao longo
deste livro, evito colocar citações, porém é impossível fazer um resumo tão
claro quanto. Vejamos, agora, um comentador de O Capital elogiado por Marx:
Para Marx, apenas uma coisa é importante: descobrir
a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa. E importa-lhe não só a
lei que os rege, uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem
numa inter-relação que se pode observar num período determinado. Para ele, importa sobretudo a lei de sua
modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transformação de uma forma a
outra, de uma ordem de inter-relação a outra. Tão logo tenha descoberto
essa lei, ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se
manifesta na vida social. (Idem)
Lembramos o
leitor que o método não é o critério da verdade. Com os demais métodos, ao
menos uma parte importante da realidade foi compreendida pelos cientistas. O
método dialético é apenas o mais profundo – também o mais difícil, por isso
merece mais de um capítulo nesta obra.
Vejamos o
que diz Hegel:
Mas a filosofia não deve ser uma narração daquilo
que acontece, e sim um conhecimento daquilo que é verdadeiro no acontecimento
e, além disso, a partir do verdadeiro, ela deve compreender aquilo que, na
narração, aparece como um mero acontecer. (Hegel, Ciência da Lógica, Doutrina
do Conceito, Ed. Vozes, p. 50.)
Para esta
citação, vale um exemplo. A mera descrição da história da humanidade dirá que
tivemos o escravismo; depois, a servidão (feudalismo); depois, o trabalho
assalariado (capitalismo); depois, o trabalho associado (socialismo). Mas o que
isso diz, embora sem dizer? Veja que a passagem de um sistema de trabalho para
outro, com o aumento da produtividade, torna o homem cada vez mais livre: o
servo é mais livre que o escravo; o assalariado moderno, formalmente livre, é
mais livre que o servo; o trabalhador associado, verdadeiramente livre, é mais
livre que o assalariado – há uma tendência para a liberdade. Isso, a conclusão,
não é algo palpável, sensível ou tocável, mas descobre-se que é verdadeiro a
partir do empírico.
O método
dialético evita de todo elaborar hipóteses, fazer especulações, histórias
metafóricas etc. O cientista colhe o conjunto dos dados empíricos (empirismo, o
papel necessário das informações) e busca descobrir, a partir daí, o não
empírico (racionalismo, o papel ativo do pensamento, do sujeito). Em linguagem
de Hegel: descobrir o suprassensível, o não sensível, por meio do sensível.
A dialética
funde racionalismo e empirismo. É verdade que os dados empíricos são vitais e
são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os
dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o
racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para
perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro
daquilo empírico.
Vejamos o
método dialético. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma
saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na
diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca
fora deles, mas neles mesmos. É possível perceber, mas não é possível tocar a
verdade, pois ela não é uma coisa.
Chamo tal
método, aqui exposto e desenvolvido enfim, método empírico-dedutivo
(dialético). A conclusão, o não empírico, vem dos dados, mas os dados não
dizem, ou melhor, escondem e revelam ao mesmo tempo. Reforçamos, portanto: 1)
do empírico podemos chegar, também, a algo real, mas não diretamente
observável, como o valor econômico, ou o elétron, ou a energia; 2) Os dados e a
aparência podem enganar, não basta colher pistas ou provas.
Bem ou mal,
cientes ou não; Darwin, Einstein, Marx e Freud usaram o método empírico-dedutivo
(dialético). As premissas das quais partia Einstein eram razoáveis no sentido
de já terem sido observadas, não eram arbitrárias e criativas, daí derivava
conclusões. Darwin percorreu o mundo para conhecer a natureza viva em sua
empiria para, daí, alcançar concussões – Wallace fez o mesmo. Freud ouvia
sonhos dos pacientes e suas falas aparentemente soltas e desconexas para, aí
então, perceber uma unidade interna oculta.
Hegel
explica que devemos começar pelos dados empíricos, sem impor conceitos:
O saber que, de início, ou imediatamente, é nosso
objeto, não pode ser nenhuma outro senão o saber que é imediato: - saber do
imediato ou do essente. Devemos proceder também, de forma imediata ou
receptiva, nada mudando assim na maneira como e se oferece e afastando de nosso
apreender o conceituar.
E critica o
começo dedutivo do racionalismo:
Quando se apresenta à ciência, como pedra de toque
– diante da qual não poderia de modo algum sustentar-se –, a exigência de
deduzir, construir, encontrar a priori (ou seja como for) o que se chama esta
coisa ou um este homem, então seria justo que a exigência dissesse que é esta
coisa, o qual é este Eu que ela “visa”; porém, é impossível dizer isso. (Idem,
p. 87)
No
procedimento dialético, partimos do Ser, ou seja, vemos o qualitativo, o
quantitativo e medimos; em seguida, chegamos, assim, no não empírico, na
essência; a partir disso, no fim, alcançamos os conceitos necessários.
A seguir,
comparamos a metodologia comum nas universidades com o procedimento dialético.
COMPARAÇÃO
ENTRE OS MÉTODOS
No geral,
veremos que, na relação sujeito-objeto ou objeto-sujeito, a prioridade, o mais
correto, é adaptar-se ao objeto de pesquisa.
Paradigmas
A ciência
anterior procurou objetos físicos como exemplares do funcionamento da
realidade. O mundo, a sociedade, o universo seriam como um relógio, uma
máquina, um computador. Um erudito sociólogo pode, assim, reclamar da
existência de greves, pois os operários dessa forma negam seu papel no relógio
social, isto é, rompem com um modelo artificial, posto de fora…
A realidade
é sistemática ou orgânica. Veja que tais palavras são mais abstratas,
intocáveis. A concepção de sistema orgânico – ou complexo dinâmico – é, na
verdade, mais concreto porque permite antever o objeto de estudo como complexo,
composto de partes interligadas e mutualmente causais, em desenvolvimento,
mutável, contraditório etc. Vejamos em psicologia: aspectos específicos do cérebro
podem ser semelhantes a circuitos mecânicos, mas o todo é irredutível a tal
concepção, se bem observada, muito pobre. A realidade também não é como o corpo
humano, pois, além da estrutura orgânica, temos de ver, também, o processo, a
história do objeto de estudo.
A concepção
de mecanicista de mundo tem origem histórica e efeito até mesmo no inconsciente
dos cientistas. A cientificidade no capitalismo estava ligada à necessidade de
produzir novas ferramentas, produtos-mercadorias e máquinas. Daí que a visão
mecânica teve uma pesada base para impor. O maquinário, não a visão orgânica
sistemática, tornou-se majoritária. Mas se a ciência que alçar voos mais altos
ou menores, no macro e no micro, terá de considerar a realidade de outro modo,
tal como ela é.
Escolha de
premissas
Segundo o
procedimento comum, o cientista precisa escolher entre duas premissas opostas:
ou o homem é o lobo do homem ou o homem nasce bom e a sociedade o corrompe.
Ora, escolher qualquer um dos caminhos é limitar a visão da realidade já na
partida. O correto é escolher a realidade empírica como sua base; uma
antecipação filosófica, uma concepção, deve ser resultado de pesquisa – não o
começo. De igual maneira, um postulado ou princípio deve ser a solução final, o
resultado que resolve, no lugar de ser o começo da pesquisa.
Com quais
conceitos?
Em projetos
de pesquisa é comum perguntar com quais categorias o estudioso contará para
alcançar conclusões. É o método científico anterior, inspirado em Kant. O
método dialético tem, primeiro, de pesquisar a fundo para descobrir as
categorias: elas são resultados, não o começo. Os conceitos não são inventados,
fazendo a realidade caber neles; são descobertos e devem corresponder a um
objeto real. Tem-se um conjunto categorial após a pesquisa. Enquanto o objeto é
histórico, ele tem início com desenvolvimento e um fim. O trabalho surge num
momento específico da história. Desde sua origem, modifica-se: trabalho
primitivo, trabalho escravo, trabalho servil, trabalho assalariado, trabalho
associado.
Parte do
esforço científico é a crítica das categorias. Há categorias de essência e de
aparência. Por exemplo: dividir partidos em direita e esquerda é usual e
correto em seu nível, mas é limitado na ciência mais profunda; partidos e
líderes políticos representam com seus programas interesses de classes e
frações de classes sociais; há partidos cujo programa representa os bancos, os
industriais, a classe média servidora pública, os operários, etc. As categorias
de aparência avançam em certos aspectos e limitam em outros, por isso a tarefa
é descobrir as categorias de essência. As categorias de aparência são, também,
em certo sentido, o ponto de partida, mas ao mesmo tempo em que são criticados.
Kant
considera que os conceitos são anteriores, algo puramente mental,
principalmente o espaço e o tempo. Assim, tenta guardar para si o lado
racionalista. No parágrafo anterior demonstrados que se pode ser mais
sofisticado.
É mais fácil
ao esforço científico alcançar conceitos de aparência da realidade, que tanto
avançam quanto impedem o avançar da compreensão do real. Ir à essência,
compreender a essência da realidade, é o salto necessário à resolução dos mais
profundos problemas científicos, que não cabem nos limites do aparencial. Valor
de troca e valor de troca preço são categorias importantes, porém a realidade
social capitalista apenas pode ser explicada pela categoria interna a elas, que
elas expressam e ao mesmo tempo ocultam, como o valor-trabalho. Daí que o
projeto inicial de Marx e Engels levava o nome de "crítica das categorias
da economia política".
Vejamos um
caso de atualização categorial. Marx percebeu que, diferente de outros tipos de
sociedade, o desemprego é uma lei social no capitalismo, chamou “exército
industrial de reserva”. Com o desemprego crônico, Leon Trotsky necessitou
atualizar o conceito para “subclasse de desempregados”.
Em
psicologia é cobrado em doutorado sobre os conceitos com os quais contará. Se
escolhesse, por exemplo, os da psicanálise – pulsão de morte, complexo de Édipo
etc. –, começaria limitando sua pesquisa a categorias arbitrariamente eleitas.
No mais, o
método dialético evita trabalhar com definições: o conceito é cada vez mais
preenchido. Exemplo: o conceito de consciência não cabe numa simples definição
única, ao contrário, vai sendo “encharcado”; aparece como “a consciência é
sempre consciência de algo”, depois como “imaginação determinada”, depois é
“alucinação relativa” etc. Exemplo de Marx: o capital é, no decorrer de seu
livro, dinheiro e mercadoria, valor que se autovaloriza, trabalho morto que
suga trabalho vivo, uma relação social e não uma coisa, etc. Na física, energia
como conceito tem inúmeros significados, todos corretos e limitados.
Os conceitos
de positivo e negativo na físico-química são de aparência. Como o próton e o
elétron, tão diferentes e desproporcionais, seriam de carga +1 e -1?
Descobrimos que os opostos são, antes, partes, embora também inteiros em si, de
algo antes uno, por isso um encaixa-se e desliza-se no outro.
Fontes
Toda fonte é
útil e, em certa medida, obrigatória: estatísticas, entrevistas, relatos,etc. A
história positivista considerava válido apenas o material empírico das fontes
oficiais do Estado… É uma concepção limitada. Os pós-modernos caem no erro
oposto, qual seja, desconsideram dados estatísticos, quantitativos.
Em geral, é
o objeto de pesquisa que determina como ele será descoberto, logo nossa
pesquisadora evita escolher por si como avaliar o real e tenta esgotar todas as
fontes possíveis rumo à verdade.
A pesquisa
dialética é como estar em um labirinto. É preciso andar, aprender, percorrer,
testar até entender o ambiente inteiro e, somente depois disso, encontrar o
caminho correto.
Espaço e tempo
A
orientadora de uma psicóloga pede que, para simplificar a pesquisa, limite em
um determinado espaço, como um bairro da cidade, e em um determinado tempo,
talvez uma década. Ora, mais uma vez é o objeto da pesquisa que deve delimitar
o tempo e o espaço necessários para compreender de fato, por exemplo, o
fenômeno do suicídio em Teresina/PI.
Interdisciplinaridade
Hoje, não é
clara a fronteira da química e da física na física quântica. A ciência
hiperespecializada não alcança a verdade.
O caso acima
é hipotético, mas indica como é o trabalho científico: a especialização deve
ser acompanhada com uma cultura mais geral. Em parte, no decorrer da pesquisa,
que costuma demorar anos, o cientista modifica-se, adquire tais conhecimentos.
A verdadeira pesquisa costuma unir várias áreas de conhecimento, antes
separadas e especializadas.
A hipótese
O método
hipotético-dedutivo começa com a hipótese diante de um problema. O método
dialético, ao contrário, termina com hipóteses, previsões e tendências. Foi a
partir da avaliação da realidade que Marx percebeu que a livre concorrência de
sua época desemborcaria no seu oposto, na sua negação, nos monopólios e
oligopólios; concluiu que a tendência seria a redução do número de operários
nas fábricas, substituídos pelo maquinário, o que corresponde hoje à
automação/robótica; expôs que a taxa de lucro tende à queda no longo prazo (na
sua época, foi mais uma demonstração lógico-matemática enquanto hoje é
empiricamente observado, pois temos dados de duração secular). Por fim,
destacamos que nem tudo permite previsão exata apenas porque foi explicado;
Marx explicou as crises cíclicas do capitalismo, mas é impossível daí fazer
previsões de quando e onde será exatamente a próxima quebra econômica (porque o
objeto, a realidade, é muito complexo).
Historicidade
A realidade
deve ser vista no espaço e no tempo. Interessa mais as leis da mudança da
realidade, além das leis regulares e “permanentes”. É preciso ver, portanto a
estrutura e a mudança, o que é próprio de cada época.
Como organizar
o material
Na ciência
comum, cabe ao pesquisador organizar como deseja os dados empíricos, tecer
alguns comentários, aqui e ali, entre uma estatística e outra, e talvez
encerrar seu livro com alguma proposta. A dialética descobre, ao contrário, que
a organização de um livro, de uma sequência de capítulos, deve surgir do
próprio objeto de pesquisa – nunca é uma junção arbitrária. Um capítulo, por
exemplo, deve derivar o próximo, que deriva o outro, que deriva o seguinte, e
assim por diante. O que é tratado no primeiro capítulo é condição para entender
o segundo capítulo e todos os demais. Em minha pesquisa, A crise sistêmica,
tive de tratar primeiro da economia, depois das classes, depois da
subjetividade, depois das organizações – em sequência. Fiz isso não por um
“modelo” artificial, mas porque a própria realidade tem essa hierarquia,
exigindo uma hierarquia semelhante também no avançar do livro. Se fizesse
diferente, quase a todo momento teria de remeter a assuntos ainda não tratados.
O que pesquisar
De imediato,
a liberdade de tema para pesquisa deve ser completa, pois o pesquisador vai ao
rumo daquele assunto que lhe interessa. Mas, se o pesquisador tem
responsabilidade, ele pesquisa o que a realidade ou a teoria estão de fato
necessitando. Pode-se, por exemplo, listar uma série de temas centrais,
urgentes, e escolher entre eles qual tem mais afinidade. No fundo, o objeto, o
real, determina qual vai ser o tema da pesquisa – se se quer fazer algo
relevante, útil. No Brasil, pesquisa-se bem menos sobre violência urbana do que
a importância do tema, do problema.
Prioridade
do objeto
Nos tópicos
anteriores, fomos demonstrando a “prioridade ou centralidade do objeto” na
pesquisa. Isso é o dialético. Kant colocava, ao contrário, o sujeito como central,
pois ele escolheria o espaço e o tempo, os conceitos, como organizar a pesquisa
etc. Esse é método inferior, anterior a Hegel e Marx. Tomar para si a
prioridade do objeto é a grande conquista científica.
Bibliografia
Devemos
revisar o que já foi dito sobre o nosso objeto de pesquisa. É preciso ver, em
outros autores, seus acertos nos seus erros e seus erros nos seus acertos, além
de criticar as categorias usadas por eles. Em geral, uma área de pesquisa cai
em teorias ou teses opostas inimigas e ambas unilaterais, parciais, erradas e
certas ao mesmo tempo; isso nos dá a oportunidade de resolver a polêmica e
encontrar uma terceira resposta que explica porque erraram e também acertaram
os teóricos anteriores. Levamos ideias de outros ao máximo desenvolvimento até
que são superadas por elas mesmas, transcendem ou são por si mesmas
extrapoladas. Assim é a refutação dialética de outra tese: mostrar sua
incompletude, desenvolvê-la ao máximo e corrigi-la.
Ideologia
Toda grande
teoria tem sua versão vulgar. Entre alguns cientistas, afirma-se que é preciso
separar a informação objetiva de ideologias. Mas ideologização é, apenas, uma
concepção de mundo; se uma descoberta científica altera nosso modo de ver a
realidade, ele gera uma nova ideologia como um dos produtos seus. Se o Sol
passa a estar no centro do universo, não mais a Terra – tudo muda. Nossa
sensibilidade, nossa capacidade de ver o mundo, é, assim, histórica, avança na
história.
Podemos
separar a verdadeira ideologia da falsa ideologia. A primeira está revelando
com o mundo tal como ele é – por aproximação da verdade; a segunda, ao inverso,
mistifica ou deforma a realidade, produz um engano.
Filosofia
Desde Kant e
Hegel, a filosofia separada da ciência tornou-se uma fraqueza. O
desenvolvimento de uma pesquisa é tanto mais filosófica quanto mais profunda,
por isso o método dialético funde ciência e filosofia na exposição de suas
pesquisas.
O perfil do
cientista
Nas ciências
humanas, a posição do cientista perante a realidade – se é conservador ou revolucionário,
se é religioso ou ateu etc. – e sua própria realidade – se é ligado aos
trabalhadores ou aos ricos, se sua vida é ativa e contraditória ou extremamente
estável – afeta a capacidade de ver o mundo tal como ele é de fato. Em geral, a
posição verdadeiramente crítica é superior.
Nas ciências
exatas e biológicas, isto não é uma verdade em si. Mas é de se supor que o
estilo de vida do cientista, no sentido amplo, ajuda ou atrapalha indiretamente
seus avanços.
Na
psicologia, percebe-se que certos estudantes limitados sexualmente têm
dificuldades com a teoria freudiana (estando tal teoria correta ou não). Outros
negam as demais teorias e refugiam-se em Jung para evitar a crise de lidar com
a crítica irreligiosa, para fugir de conclusões ateístas.
Nas áreas
como história, economia e sociologia, os pensadores têm mais ou menos
dificuldade – e mesmo capacidade – de ir a fundo no objeto de pesquisa, de
acessar a realidade, segundo o projeto social que reivindicam, a classe ao qual
pertencem etc. por mais que sejam muito esforçados. Nunca os economistas
ligados aos patrões chegariam às conclusões tão profundas de Marx em O Capital.
A moderna
ciência da mente reforça isso. Certo grau de estresse, ao menos sob o
capitalismo, é necessário para a criatividade como a árvore dá flor e fruto
quando se sente ameaçada. A vida dos militantes socialistas é sem rotina, com
novidade constante, com desafios, com ameaças – por isso, também, o movimento
comunista produziu tantos gênios.
Além disso,
como sujeito-ferramenta, o cientista tem que ser capaz de ver, deve ser culto,
como conhecimento do melhor na filosofia. Indicamos os seguintes filósofos: os
pré-socráticos, Platão, Aristóteles, Epicuro, Hegel, Marx e Engels.
O critério
da verdade
A teoria das
cordas na física, por exemplo, quer “provar” sua validade por ser matematizada,
elegante, única disponível etc. – já que faltam provas empíricas. São maus
critérios. A ideia de que a Terra era o centro do universo justificava-se por
seus cálculos, que davam conta de movimentos e previsões… A teoria
heliocêntrica, ao contrário, foi defendida por ter cálculos mais simples. Ora,
o critério não pode ser de tal tipo. Marx afirma que, ao contrário, a prática é
o critério da verdade – não simplicidade de cálculos, elegância da teoria etc.
Uma teoria
deve ser, antes de mais, verificável. Mas a falha de uma construção teórica não
deve necessariamente indicar a negação de toda a sua teorização; pode ser que
aspectos tenham de ser modificados, alterados, acrescentados – mantendo firme
boa parte daquilo teorizado. Assim, a "falseabilidade" é relativa,
não é o melhor critério.
SEÇÃO QUATRO
A FILOSOFIA
E A CIÊNCIA
A FILOSOFIA
CIENTÍFICA, DA CIÊNCIA
Muitos
filósofos demitem-se da arte de pensar com a seguinte justificativa: a
filosofia formula perguntas, não respostas… Assim, a filosofia científica
apenas expõe os problemas de certa ciência, apresenta de modo organizado as
diferentes propostas. E só. Na verdade, se quer alguma relevância, deve
apresentar soluções e hipóteses, além de boas indagações.
Uma
filosofia baseada em evidências e na ciência chamo filosofia objetiva, quando a
realidade guia o pensamento. Isso é o que está exposto neste ensaio. Em geral,
os cientistas têm baixa formação filosófica, logo fazem má ciência; por isso,
precisamos de filósofos dignos do nome e das tarefas modernas do pensamento.
A filosofia
válida é de Hegel para frente… A Ciência da lógica de Hegel e a filosofia de
Marx, sua cientificidade, são as mais importantes para alguém ligado à ciência.
As descobertas modernas afirmam os dois filósofos como os grandes e mais
avançados paradigmas ainda não reconhecidos. Questões ideológicas e classistas,
no entanto, atrapalham tal avanço.
REVOLUÇÕES
CIENTÍFICAS
Nossa
concepção de ciência é evolucionária e revolucionária. Thomas Kuhn teorizou “A
estrutura das revoluções científicas”, como o seguinte movimento: ciência
normal – resolução de quebra-cabeças – paradigma – anomalia – crise –
revolução. Mas para ele não há evolução e saltos ontológicos na ciência. Se bem
observado, a ciência vai de teorias de aparência para teorias de essência.
Newton tomou o espaço desde a empiria imediata, como imóvel e independente.
Depois, chegamos mais perto da essência, o espaço enquanto móvel e ligado à
matéria. É natural que a história da ciência avance assim, rumo ao mundo
essencial que se demonstra oposto e inverso do mundo que aparece.
Em resumo
Kuhn erra nos seguintes aspectos; sobre a ciência, não observa:
1) que vai da
aparência à essência;
2) que
chega-se ao ponto em que pode haver reformas, não rupturas;
Chegaremos
muito próximo da verdade absoluta, algo entre o relativo e o absoluto. O
conhecimento geral, não nas firulas e detalhes, poderá ser alcançado coma
devida sociabilidade. Assim como o socialismo é fim da época de revoluções, a
ciência fará apenas reformas, ainda que revolucionárias – apenas atualizações,
correções etc.
2)
que o
próprio método científico segue tal roteiro de desenvolvimento e crise;
Ele toma o
método científico como único, inteiro, sem evolução – apenas os resultados e as
teorias prontas mudam, entrem em crise e se revolucionam. Mas há uma história
do método científico que se conclui na dialética contemporânea, exposta nesse
livro. Tal desenvolvimento por saltos do método ocorre como se pelas costas dos
cientistas, em geral sem domínio da filosofia. Os métodos científicos até agora
operantes estagnaram, não alcançam mais tantas conclusões de essência.
3) que a
ciência tem valor ontológico, que chega-se à verdade ela mesma.
4) A teoria
escolhida entre as opções deriva da realidade.
Realidade,
aqui, em dois sentidos: a) a teoria deve corresponder bem com o real, 2) a
realidade social tende a aceitar mais uma teoria e menos outra. O marxismo é a
melhor teoria social, a correta, mas a sociedade capitalista não é incapaz de
aceita-la, por isso a verdade torna-se marginal. A (meta)física aristotélica
servia à sociedade escravista, por exemplo.
Curioso que
Kuhn descreveu as revoluções científicas do mesmo modo que as crises
periódicas, cíclicas, do capitalismo. A realidade parece ter produzido uma boa
influência sobre seu cérebro, abstraindo o concreto em teoria. Sua obra é
genial, incluso supera muitos dos limites grosseiros de Popper, mas não é
materialista o suficiente, como demonstramos com nossas propostas e críticas.
SISTEMA
FILOSÓFICO
A decadência
da filosofia moderna leva a negar, a priori, a possibilidade de um pensamento
sistemático. Assim, o contemporâneo filósofo justifica sua falta de esforço e
competência declarando uma limitação final à reflexão. Ao contrário, este livro
expõe de modo acabado a base de um sistema científico-filosófico completo o
bastante, que corresponde a uma concepção de natureza, de natureza humana, de
estética, de arte militar, de teoria da história e da crise dos sistemas
sociais etc. (expostos na obra A crise sistêmica). Pode parecer, visto assim,
que se partiu de um princípio e de uma premissa para derivar, em dedução, toda
uma rede de conclusões. Não é meu método, que é o oposto, o dialético.
Primeiro, percebi a essência humana, a natureza comum das crises sistêmicas
etc. para, a partir daí, perceber que há uma sistemismo por detrás, como
conclusão, nunca enquanto começo da pesquisa. Assim, posições como movimento=
energia = tempo = etc. e tudo como integração relacional em movimento são bases
de um pretendido definitivo sistema de pensamento, ainda que relativamente
aberto.
Hegel afirma
que uma premissa ou postulado é verdadeiro e ao mesmo tempo é falso, porque, de
um lado, expressa uma parte da realidade, mas, de outro, expressa apenas uma
parte da realidade. A verdade, diz ele, é o todo. Pois bem; com construções
como nossa fórmula categorial movimento = energia = tempo = espaço = matéria
etc. chegamos à totalidade, a todos os elementos de base
FORÇA, ÁTOMO
E CAMPO
Na busca da
unidade de tudo, os cientistas procuram tal unicidade em algo por demais
concreto ou por demais abstrato. Assim, tornou-se mania nomear este e aquele
fenômeno como “força”, até tal categoria vulgar entrar em crise. Depois, tudo
era átomo, nem sequer onda, supondo-se, por exemplo, uma partícula calorífica,
responsável pelo calor. Por fim, tudo seria campo, um vício de nosso tempo.
Para Einstein, toda a realidade física poderia ser reduzida a um conjunto de
campos universais. Há unidade por debaixo, mas há diversidade externa. A
pluralidade deve ser afirmada junto com a unidade de fundamento, de fundo,
oculta.
FORMA E
ESPAÇO
Dizer que o
espaço é a possibilidade de forma tem um significado maior agora, em nossa
teoria – mais do que o “aonde”. Alguns físicos afirmam que as partículas são,
como em Platão, puras formas, sem matéria, sem conteúdo. As partículas-ondas
têm, na verdade, conteúdo, forma e grandeza – como pensavam os antigos
atomistas. O conteúdo da forma é o espaço, o conteúdo “material” das matérias.
A matéria é espaço condensado, apesar da matéria vir antes do espaço no tempo
de nosso universo, aquele tornando-se este. O espaço é matéria-luz que decai.
MATEMÁTICA
A matemática
é uma invenção ou existe na realidade? Sobre, a resposta correta deve revelar a
causa da longa polêmica. Um e outro e, ao mesmo tempo, nem um nem outro. A
matemática é uma construção humana feita para corresponder à realidade. Parece
existir no real porque quer ser retrato dele, ao menos no quantitativo. Mas aí
há um nó. A matemática não surgiu de dentro para fora do sujeito apenas ou
primeiro; antes, "veio" de fora, do mundo, para dentro do pensamento.
Quando se fala em matemática como invenção parece algo como na arte, uma pura
inspiração, algo quase arbitrário, um raio em céu azul. Nada disso. A
quantidade existe na própria matéria. Dito isso, fica clara, além de resolvida,
a oposição, o ou-ou, de longa data.
De modo
lateral, incluímos que o limite matemático trata de indeterminações com
resultados infinitos (indeterminação) ou zero sobre zero, o vazio infinito.
Isso é uma expressão matemática indireta da nossa tese sobre o início do
universo, o vazio infinito. No chamado limite, torna-se preciso certa manobra
para evitar tais resultados e, enfim, cair na finitude numérica.
Nosso
terceiro comentário sobre a matemática beira o delírio, mas prefiro sua
exposição. Os números positivos são os números naturais, logo os números
negativos são artificiais, inaturais, formais. Não há -2, há ausência una de
dois, ou seu retirar. Uma prova disso é que, além da engenharia fazer seu uso,
para fins concretos, somos obrigados a produzir a raiz de menos 1, para tornar
positivo o cálculo, a operação. A subtração, a divisão, a raiz, de um lado, e a
soma, multiplicação e a potência, de outro, são apenas formas de adição, ainda
que negativa. Daí a inexistência, também, na matemática comum do uso de raízes
negativas. A ausência quantificada em número é muito própria do mundo social,
artificial, como a dívida monetária. Nesse sentido, os números negativos são
imaginários. Então, quatro provas do imaginário e da artificialidade útil dos
números de fato negativos: 1) ausência de raiz de números negativos; 2) os
artifícios para trabalhar com potências de números negativos (se com ou sem
parênteses); 3) o uso do número “i”, raiz de menos um, para manobrar um
cálculo, torná-lo viável; 4) a soma, a multiplicação e, de certo modo, a
potência têm propriedades (permutabilidade etc.) que seus opostos não têm, são
mais limitados. O número negativo: há e não há, ser-nada, real-ficção.
Uma
consciência não arbitrária ainda merece ser destacada. No limite matemático,
tende-se à, por exemplo, zero ou três sem nunca alcançar eles, tais números. Na
lógica formal, A = x ou não-x, nunca uma terceira reposta. Já a dialética
aposta justos no terceiro excluído, que não costuma ser o meio-termo entre x e
não-x. Na nossa dialética, em “A”, x tende, também, até não-x, sem alcançar
absolutamente este último. O conhecimento (A) vai de relativo (x) até mais do
que relativo (…) sem nunca conseguir alcançar absolutamente o absoluto (não-x).
A = A e… não-A. A matemática avançada aproxima-se da dialética, em especial de
sua renovação. A nova dialética merece, portanto, formalização maior.
INFINITO
Hegel
demonstrou, num toque de genialidade, que o infinito é qualitativo, não
quantitativo. O mau infinito é o infinito da progressão, que algo pode ser cada
vez maior ou menor, pois encontra uma barreira e supera, então encontra outra e
etc. O bom infinito, ele diz, apresenta-se à semelhança de um círculo, sem
começo nem fim, não como certa linha sempre esticável. Nisso, ele deu a
resposta geral correta para o problema da infinitude, mas foi ignorado pelos
filósofos, matemáticos e físicos posteriores. Assim, surgiu a ideia absurda,
embora apaixonante, por Cantor, de que há infinitos maiores do que outros;
assim, surgiu o Hotel de Hilbert, aonde sempre se pode colocar mais um
visitante num dos infinitos quartos, bastando passar os demais para o quarto
seguinte da infinitude liberando a vaga do primeiro quarto.
Hegel foi
crítico duro da matemática e da redução quantitativa, mas a topologia e os nós,
como qualitativos, têm feito escola. Assim, pode-se supor que um nó não possível
de desfazer em 3 dimensões pode-se desfazer em quatro, mais uma espacial. A
fita de Moebius, com todas as suas derivações como, juntando duas de tais
fitas, que só têm um lado, forma-se a garrafa de Klein, quadridimensional. Em
tal garrafa não tem externo e interno! Em sua lógica, Hegel já afirma que o
externo e interno são o mesmo, são um, uma unidade. Enfim, o infinito real é
como a quarta dimensão, sem borda, que transborda para fora e para dentro do
nosso universo finito. É o vazio infinito e caótico que desaba no nosso
universo preenchido, finito e com ordem-lei.
Devo
acrescentar, aqui, a ideia de relação infinita. Por exemplo: a partir de poucos
átomos, podemos formar milhões, talvez bilhões, de novas combinações, compostos
cada vez mais complexos (por sua vez, tais compostos entram em relações). A
relação do homem com a natureza é uma relação infinita, um alterando o outro e
vice-versa, por meio do trabalho e da produção. Na matemática, 7/3, sete divido
por três, tem o resultado inexato e sem fim, 2,333333333333…Uma relação
infinita do ponto de vista matemático.
TEORIA DO
CAOS
A concepção
determinista e mecanicista entra em crise por vários caminhos, uma revolução do
pensamento ainda incompleta. Nesse sentido, a teoria do caos reforça ou rejeita
a dialética? Vejamos as premissas:
1.
Há ordem no
caos, caos na ordem.
Isso é unidade dos opostos,
dialética pura! Além disso, há sistemas que passam do caos para ordem, para
novo caos, para nova ordem regular, e assim por diante. O próprio caos pode ter
regularidade – a própria ordem pode ser irregular.
2.
As leis
interagem para produzir o oposto da lei, caos, não repetição.
Uma
legalidade pode dar em caminhos diferentes! Isso reforça a dialética unidade de
necessidade (lei) e contingência ou acaso.
3.
O todo não
pode ser analisando separando as partes e tomando-as de modo apenas individual.
A dialética afirma que o todo
possui propriedades que as partes individuais suas não possuem, mas que é
necessário analisar também as partes, suas relações recíprocas e sua história –
para entender o todo (o todo “espacial”, estrutura, mas também processo, no
tempo). Assim, vemos outra concordância, em que não basta o empirismo de
separar as partes e juntá-las apenas externamente.
4.
A
sensibilidade do processo às suas condições iniciais.
Aí
encontramos a historicidade, que o passado é a causa do futuro.
5.
O caos não
se desaba na ordem.
Aqui, parece haver uma
contradição aparente com nossa dialética. Mas o caos é sistemático, tem e
desenvolve própria dinâmica e regularidade-irregular. Além disso, a permanência
do caos é típico de sistemas mecânicos, não dialéticos. Em processos, o caos, por
exemplo, a atmosfera complexa e intratável, produz o furacão, algo regular.
6.
Pode-se
fazer previsões curtas, mas não de longo prazo, pois pequenas variáveis ocultas
no início ganham importância tal que modificam o destino do processo.
7.
Um todo
ordenado tem caos dentro de si.
O marxismo
sabe que uma crise vem a cada 10 anos – mas “mais ou menos”. Se passarmos 10
anos sem crise alguma, podemos dizer que ocorre uma probabilidade crescente de
quebra econômica nos anos seguintes; mas não podemos dizer exato quando e onde
a bolha vai estourar. Uma análise de conjuntura nunca é perfeita simplesmente
porque é impossível saber e medir todas variáveis em jogo – e tal análise deve
ser de “conjuntura”, com possibilidade de caminho do real logo à frente, não
capaz de medir ou antecipar em longo prazo. O processo estrutural é
antecipável; mas o “como” e os detalhes, não. No mais, há marxistas tentando,
genialmente, aplicar a matemática moderna para atualizar O Capital de Marx.
O cosmo
escreve certo por linhas tortas.
TEMPO
Desde
Einstein, há a coisificação do tempo, que é relação e abstração real, além de
manifestação (da energia, do infinito, do espaço, da quarta dimensão, do
movimento). Não se vê uma cor andando por aí. Por isso, há um tempo geral – não
se avança ou recua no tempo, ambos impossíveis, embora o primeiro seja
considerado real. Quando se discorda de uma concepção científica tão vitoriosa,
tão correta e que dá tantos resultados, costuma-se cair em desmoralização e
ostracismo. A teoria de Einstein está correta, mas incompleta. Porque a Lua
gira em torno da Terra, pensa-se que o Sol também gira desse modo; porque o
espaço existe, pensa-se que também o tempo enquanto “coisa”. Em velocidades muito maiores que há média, o
“tempo” passa mais devagar porque diminui a entropia, o objeto torna-se mais
espaço concentrado.
Com sua
poderosa lógica abstrata – o ser é, o nada não é –, Parmênides “provou” que o
movimento não existe, uma ilusão. Com sua poderosa lógica matemática, Einstein,
entre os maiores gênios da história universal, “provou” que o tempo é relativo,
além de existir. Ora, o fóton mover-se e não se mover, o tempo passar, mas não
passar nele é uma, em lógica, redução ao absurdo – logo o tempo não é.
Vale notar
que o verbo “durar” trata tanto do tempo quanto do aspecto físico, da
resistência. Um objeto (satélite, relógio, luz etc.) em velocidade maior, por
concentração, dura mais durando aparentemente menos.
Adotamos, ao
mesmo tempo em que superamos, mantemos em pé, toda a teoria de Einstein –
atualizada para produzir uma teoria de tudo. O único aspecto deixado de lado é
a relatividade real do tempo, como se fosse um em si. Contra a resistência
conservadora natural de toda superestrutura, não dogmatizamos a autoridade. As
matemáticas físicas de Newton são úteis para nossa escala, são funcionais –
massa a teoria estava errada. Já nossa teoria de que não só se curva o
espaço-tempo, como diz o alemão, mas matéria é próprio espaço-tempo curvado,
para dentro de si, não anula a teoria einsteana como acontece com a teoria de
Newton. O velho já nasce novo.
Talvez, a
premissa errada de Einstein é afirmar que as leis da física são as mesmas – na
forma – se parado ou em velocidade constante, sem aceleração. Mas velocidade e
aceleração são o mesmo, apesar de ainda diferentes (v=at). Assim como na
química a lei falha relativamente em diferentes pressões atmosféricas, em
diferentes velocidades também, com certo desvio da norma, do cenário comum.
UMA HIPÓTESE
INCÔMODA
É difícil
resumir a enorme contribuição revolucionária de Einstein, que tem sido
confirmada pelas atuais e rigorosas medições. Sua teoria, ademais, permitiu
prever o Big Bang, teoria contra a qual ele protestou por algum tempo, e os
buracos negros, que ele pensava ser impossível na prática existir. No entanto,
deve-se lançar a questão: e se parte das conclusões de Einstein são, na
verdade, paradoxos científicos-lógicos abertos, não propriamente conclusões?
Por exemplo, para a luz, o objeto mais rápido, o tempo não passa nem o espaço
(isso reforça que movimento = espaço = tempo = etc. com um tornando-se o
outro); isso é um paradoxo a ser resolvido, pois é claro que o fóton de luz
vai-se do Sol para a Terra – mas, do ponto de vista da luz, isso não ocorre! Na
antiguidade grega, dizia-se que o movimento de uma flecha, como todo movimento,
seria uma ilusão ou que Aquiles nunca alcançaria a tartaruga porque sempre
teria um caminho a vencer antes dela. Nesse caso, a ideia moderna de
velocidade, espaço sobre o tempo, resolveu a questão. Talvez tenhamos de pensar
uma nova e agregada teoria do movimento; por exemplo, uma pessoa que gira na
terra sobre a linha do equador tem velocidade diferente de alguém que faz o
mesmo giro no polo norte, pois eles percorrem o mesmo tempo, 24 horas, mas um
espaço diferente na mesma temporalidade. Mas deve existir alguma medida de
movimento que os iguale.
A solução
seria um novo conceito ainda oculto? Talvez. Os homens antigos rejeitaram a
ideia de que a Terra estava girando, pois, se fosse o caso, os pássaros estriam
em apuros com dada rotação – logo o Sol é que estariam em movimento. Eles não
conheciam o conceito de inércia, ou que tudo terrestre está a girar junto, tão
importante para ciência moderna.
TEMPO E
ENTROPIA
A ideia de
entropia está correta, mas é incompleta e relativa – pois é, na essência,
energia em busca de mais energia. Que o tempo e a entropia tenham a mesma
direção leva à intuição de que são o mesmo e ligados. Ora; a maçã decai,
degenera; mas, antes, ela teve de acumular energia, teve de se desenvolver e se
complexificar. O caminho inverso da entropia não faz o tempo andar no sentido
oposto. A entropia não é igual ao tempo, mas à energia e, de modo mais direto,
ao movimento. Há movimento, não em si o tempo. Reforçamos, portanto: entropia
foca na energia, não na matéria, logo não é sinal de complexidade ou desordem-confusão
maior.
CAUSALIDADE
Bunge
defende que a causalidade é base da ciência e deve ser, portanto, defendida.
Tudo bem: mas qual causalidade? Hegel suprassume a ideia de causa e efeito por
efeito e contra-efeito, por causalidade recíproca – enfim, por interação!
Assim, a economia influencia a cultura e esta, a economia (Bunge, que não
entende bem de marxismo, mas se pôs a falar sobre, não percebe isso em sua
crítica a Marx e sua tradição). O processo de ida e volta é movente,
desenvolvedor, além de contraditório como contradição enquanto causa do
movimento em geral. Além disso, aquilo que está dentro da causa passa a estar,
depois, dentro do efeito.
A ideia de
acausalidade de Jung é revolucionária apenas no sentido de ser uma nova e
original contribuição – errada… Coincidências acontecem, influências
inconscientes do ambiente acontecem. Nem tudo se mede por probabilidade rara de
acontecer ao mesmo tempo: um astronauta não pode confiar na probabilidade
baixíssima de um lixo espacial acertá-lo dado o grande tamanho do espaço
sideral, pois o aleatório não se limita à matemática com sua exatidão numérica.
No mais, se consideramos os relatos de Jung sobre as muitas coincidências
enquanto corretas, verdadeiras, elas podem esconder apenas que os diferentes
fatos têm uma origem comum, uma base, uma circunstância, um padrão, uma só
condição comum – além dos acasos muito prováveis, mas na aparência improváveis.
A causa
mecânica existe, afinal, máquinas existem… Mas em sistemas orgânicos a
causalidade é muito mais complexa, como a mesma causa produzindo efeitos
contrários aqui e ali; causas opostas produzindo o mesmo efeito, aqui e ali.
Aliás, a
causalidade vulgar de uma causa que tem uma causa, que tem uma causa, que em
uma causa – deve explicar a causa primeira. Como dissemos, ela foi, uma
totalidade “causal”, o caos da relação do vazio com o seu infinito interno, um
acidente, uma causa acidental, uma concessão da probabilidade.
Kant também
foi outro ousado equivocado: insistiu na ideia já existente que a causalidade é
uma forma subjetiva, humana, cerebral para dar ordem ao que não a tem, o mundo…
Seria apenas método, gnosiológico. A ciência refuta-o todos os dias, no seu
cotidiano.
Einstein e
Born, dois dialéticos e socialistas, os melhores de suas gerações de gênios,
militaram contra o positivismo da interpretação “correta” de Bohr, que apenas
via o externo, as regularidade empíricas, dava forma de cálculo às
manifestações; pois, supostamente, assim é se assim (a)parece. Por isso, caíram
no acaso (que nada mais é que o outro lado, oculto, da causalidade, este como
se por detrás), ou seja, na probabilidade incerta e inconstante. Mas o caos
apenas expressa a lei e a ordem subterrâneas. A crise da física é uma crise
científica geral ainda não devidamente reconhecida – crise da cientificidade
burguesa, que se esgotou. Para fins industriais, as interpretações positivistas
são úteis ao se limitarem à manipulação do real, sem compreendê-lo. Mas a
essência é a causa da aparência – ir ao invisível e ao não empírico já! Se com
sorte, nossa formulação anterior de teoria de tudo pode, com correções, ser a
base do fim de tal crise, que ainda precisa de uma revolução social…
Há uma
causa, que interage externamente com diferentes causas – que se anulam, que se
impulsionam, que se contradizem, que se combinam. Enfim, comum haver, entre
elas, uma causa única comum.
O todo é a
causa das partes – as partes, e suas relações, são a causa do todo.
Alguns
afirmam que a relatividade de Einstein permite que o efeito venha antes da
causa. Confundem manifestação e essência. Na essência, ocorre causa antes e
efeito depois; mas a coisa pode aparecer invertida, na aparência. Isso
acontece, por exemplo, em economia, quando a subida de juros, consequência da
crise iniciando no subterrâneo oculto, aparece na economia vulgar, positivista
e que vê apenas o nexo externo, enquanto causa da crise mesma.
Born
demonstrou que, se vemos numa perspectiva mais ampla, o acaso é uma expressão
da causalidade. Lukács demonstrou que as muitas partes de uma totalidade
interagindo em causalidade recíproca pode gerar relações ao acaso, acidentes de
relação. Desde a teoria do caos, podemos incluir, demonstrar: as leis causais,
necessárias, produzem o caos, e as contingências, o acaso como totalidade. As leis inerentes ao capitalismo produz um
sistema irracional.
Dado tal
conteúdo pesado, vejamos um caso comum, de valor popular: quem veio antes, o
ovo ou a galinha? O raciocínio semifixo pula de um para o outro, sem conseguir
se decidir. Falamos de um ovo de galinha e de uma galinha de ovo de galinha.
Pois bem, resposta: o processo de formação da espécie galinha é, também, o
processo de formação de um ovo para si, de galinha, que “produz” e comporta a
espécie… Tudo parece melhor, mesmo na vulgaridade, quando treinamos o
raciocínio dialético, em movimento. Na verdade, tal caso popular guarda em si
uma grande questão abstrata.
SIMULTANEIDADE
A gravidade
move-se na velocidade da luz. No social, as crises sistêmicas diferentes, do
ponto de vista externo, amadurecem juntas, porque suas bases, a economia, a
produção em principal, amadurecem. Se todas as partículas são espaço
condensado, logo o surgir de uma altera instantaneamente, simultaneamente todo
o universo, que é um só tecido. Assim como concentrar parte de um lençol
esticado altera todo o objeto, ao mesmo tempo. Linhas de espaço ou de campo
específico unem dois ou mais fótons, emaranhados quanticamente, alterando um ao
mesmo tempo em que se muda o outro.
O FIM DO
PARADIGMA ARISTOTÉLICO
As ideias de
Aristóteles tiveram sucesso milenar, passando por toda a Idade média como
teoria majoritária sobre o mundo. Mas a ciência moderna e contemporânea
significa a superação de tal paradigma, que é baseado no inocente “basta olhar”
ou “se assim aparece, assim é”.
Dante inicia
o enfrentamento ao aristotelismo afirmando que uma obra aonde o conteúdo não é
comédia tem a estrutura, a forma, de comédia. Assim, subverte a estética de
Aristóteles. Depois, Cervantes tornou o conteúdo da comédia alta literatura,
nada vulgar, diferente do que pensava o antigo.
Segundo, o
grego afirmava que o estado natural das coisas e do mundo é o repouso. Mas
Galileu demonstrou que o repouso é forçado e o movimento é natural.
Terceiro,
afirmou que a física excluía a matemática e, assim, o quantitativo. Newton
consolidou a revolução de Galileu e Copérnico com sua obra Principia, que
matematizou o mundo. Ainda hoje temos o erro oposto, isto é, considerar o
quantitativo sem o qualitativo e suas mudanças. Além disso, provou, contra
Aristóteles, que as leis da Terra e do Céu são as mesmas, não diferentes no
fundamental.
Para
Aristóteles, cada coisa tinha seu lugar natural por seu peso, por isso o ar
ficava acima da terra. Mas os conceitos abstratos desenvolvidos de líquido,
sólido e gasoso, além de plasma, superaram a visão de líquido igual à água.
Kant disse
que ao menos a lógica formal, aristotélica, A=A, o princípio da não
contradição, estava preservada no seu tempo e para sempre. E eis que entra em
cena Hegel ao, ao guardar e manter o passado, descobrir a lógica dialética, A=A
e não-A, e a ideia de que o mundo objetivo é autocontraditório, em movimento e
em contexto. Ademais, superou a separação aristotélica de ontologia
(metafísica) em um canto e dialética em outro.
Outra
concepção resiliente foi a ideia do mundo enquanto mecanismo ou máquina. Assim,
passamos das esferas cristalinas universais, que governavam o mundo para os
medievais e antigos, para uma concepção coisal do universo. Apenas o
hegelianismo e o marxismo fizeram um combate de frente contra tal visão,
defendendo o “todo orgânico” em desenvolvimento e em processo mais do que
circular repetitivo. A física e a química desde o século XX também têm dado
grandes aportes novos sobre.
Para
Aristóteles não existia o “espaço”, havia apenas o “lugar” concreto. Porém,
Einstein demonstrou a concretude espacial.
A concepção classificatória dos seres, por
características comuns, elevada por Aristóteles foi substituída pela
cladística, que organiza os seres biológicos segundo a teoria da evolução, ou
seja, segundo sua história evolutiva.
Até o fim da
primeira metade do século 20, até anteontem, continuou em pé a hipótese
aristotélica do éter, meio por onde a luz fluiria. Mas, sabemos hoje, há pouco
tempo, que tal substância não existe, descartada. Nesta obra, incluímos o
espaço, não o campo, enquanto meio e meio da luz.
Em resumo, a
ciência atual é a refutação da construção aristotélica, baseada nas aparências.
As ideias de Aristóteles pareciam, assim, autoevidentes. Por exemplo, um corpo
pesado cai naturalmente mais rápido que um corpo leve – no entanto, sabemos que
isso se deve ao atrito e resistência do ar; no vácuo, caem quase exato ao mesmo
tempo, com desprezível diferença.
TRABALHO,
LINGUAGEM E SOCIABILIDADE
Demonstramos
antes, em nossa metafísica, que trabalho é uma categoria central de todo o Ser,
não apenas no ser social, não apenas trabalho humano. Assim, o ser
imediatamente anterior ao o primeiro humano já trabalhava, como trabalho
biológico, como animal. Lukács afirmou que o trabalho (humano, social) é
fundante do ser social. Mas como surgiria aquilo que dele depende e de que ele
também tem dependência – a linguagem e a sociabilidade? A resposta dele foi
esta: os três sugiram juntos, ao mesmo tempo, mas todos de modo leve, inicial,
primário – e foram, então desenvolvendo-se reciprocamente, com o trabalho como
“centro”, ou primeiro motor na prática. Pois bem; essa forte hipótese pode ser
contraposta por outra, que aqui apresento: de modo leve e inicial, a sociabilidade
e a linguagem humanas sugiram antes de trabalho (humano), dando condições,
então, para este último surgir. Depois de iniciado o trabalho humano, apenas
depois disso, ele passou a ser de fato o centro e o centro desenvolvedor
principal da linguagem e da sociabilidade, cada vez mais complexos por seus
lastros no trabalho social (além, é claro, da ação recíproca entre eles,
deles). Para clarear, vejamos outro caso. Se não tivéssemos dados empíricos
sobre a origem do capitalismo, naturalmente teorizaríamos que o comércio, o
dinheiro e a produção de mercadorias surgiram ao mesmo tempo e juntos de modo
leve, de modo primário… Mas não foi o caso: o comércio e, depois, o dinheiro
surgiram antes, dando base material para surgir, apenas daí, o centro, ou seja,
o trabalho produtor de mercadorias e assalariado e a produção capitalista.
Dialética: os pressupostos tornaram-se, então, postos – o posto torna-se, logo,
pressuposto. O trabalho é de fato o “centro” e o fundante, mas sua história tem
uma pré-história mais complexa.
O processo
concreto apenas pode ser descrito pela pesquisa arqueológica e antropológica –
se for possível. Todo início tem sua dificuldade de compreensão: como surgiu o
universo? Como surgiu a vida? Como surgiu o ser social? A distância, a
simplicidade e a falta de dados empíricos complicam toda a pesquisa. Deduções,
argumentos e generalizações passam a ter importância vital. O simples é, assim,
o complexo. A religião baseia-se em tal ignorância parcial para afirmar-se, até
mais uma vez ser superada. Sabe-se que as condições para a vida, por exemplo,
exige muita energia, um meio solvente (água) e compostos moleculares ricos,
possivelmente baseado necessariamente em carbono, que é capaz de fazer as
corretas ligações atômicas. O resto são hipóteses baste corretas,
correspondentes: energias termais do fundo do oceano, atmosfera ativa e com
raios, raios cósmicos etc. Não temo como, de início, o início não ser confuso.
METÁFORA E
COISA
Muitos
cientistas apelam para a metáfora como meio de explicar, mas logo o exemplo
imaginativo torna-se exemplo supostamente real, exemplar – eis o fetichismo na
ciência. Na outra ponta, Kant e Hegel são contra exemplos, pois, dizem, deve-se
acessar a ideia pura, mas ambos acabaram por exemplificar inúmeras vezes. São
duas armadilhas. Vi um ótimo divulgador científico afirmar que a entropia é
aumento de desordem (não é, na verdade, pois o foco é na energia, não na
matéria) com o exemplo de um prédio explodir e ser impossível reunir seus
pedaços. Outro caso é o da maçã que degenera, apodrece. Ora, se o universo se
reúne novamente e reinicia-se, se a maçã teve antes de surgir, desenvolver-se e
amadurece; logo a entropia é e segue válida, mas também à, acima, energia em
busca de mais energia. Temos o paradigma da coisa, ou melhor, da mercadoria,
quando se quer usar um objeto, como máquina ou computador, como paradigma, ou
mesmo algo sensível e direto. Um dado, porque não conhecemos e não temos a
medida de todos os fatores, é apenas um jogo aleatório, de acaso, não
probabilístico. Para nós, reina o acaso, mas há uma causalidade complexa oculta
no seu jogo (o acaso é a causalidade por acidente, acidental – o abstrato é o
concreto em processo). Por outro lado, a probabilidade é como conseguimos
acessar a realidade, que é determinística de modo oculto, no fundo, difícil de
acessar. Peguemos o caso dos pedaços do prédio e transformemos cada parte, por
salto, em pedados de universo, em galáxias ou aglomerados de galáxias; ora,
esses “pedaços” serão atraídos uns pelos outros e formarão, de novo, algo uno,
reiniciarão o universo em nova geração universo, por repulsão nova após a
atração.
No mais, há
um desafio que pode, talvez, mesmo renovar ainda mais a dialética, para além do
que este livro fez. Olhando nossa geração universal, vemos que o mundo vai do
simples ao complexo. Mas pode ser que ele vá, também e depois, do complexo ao
simples (diz-se que um buraco negro é bastante simples). Vemos, assim, apenas a
aparência e metade da verdade, pois a entropia, correta, também tem energia em
busca de mais de si.
MECANICISMO
E TRABALHO
A realidade
é um sistema orgânico: tem causalidade recíproca, mudanças qualitativas,
contradição, desenvolvimento etc. Mas a ciência moderna caiu no mecanicismo
determinado, ou seja, a realidade seria como certa máquina repetitiva, sem
mudanças qualitativas, sem contradição, apenas ordem, fixa etc. O erro tem
origem no nível da ciência naquele, daquele, tempo. Segundo Born, caiu-se,
termo dele, no mecanicismo indeterminado, ao a física quântica negar a
causalidade dentro do acaso (a identidade dos opostos, acaso é, visto no mais
amplo, algo causal), ao não considerar o qualitativo e seus saltos etc.
O
mecanicismo fez escola. Aristóteles adotou o trabalho artesão como seu modelo,
algo próprio do mecanismo. Assim, um deus artesão formou o universo, um
primeiro motor imóvel. Daí que ele tenha pensado, desde o mecanicismo do
trabalho, as suas quatro causas (matéria, forma, causa, teleologia ou finalidade).
O trabalho também afetou Hegel com sua versão de unidade e identidade
sujeito-objeto (nesse formato, válido apenas à arte e à psicologia –
apresentamos outro “modelo” em capítulo anterior); daí, também, pensar que a
razão, a planejadora do trabalho, é o que move a realidade, o Espírito absoluto
hegeliano.
Lukács cai
no mesmo erro mecanicista do trabalho, reduzindo-o ao social, por isso pensando
a teleologia como apenas subjetiva, algo da pré-ação humana. Não viu a
teleologia objetiva e inconsciente. O marxismo cai nesse erro quando deixa de
ver que a causalidade é recíproca, colocando a economia ou a produção como
centro absoluto de tudo sem mais.
CRÍTICAS
CONTEMPORÂNEAS À METAFÍSICA
Mostramos
que a metafísica materialista supera bem as objeções kantianas. Mas cabe algum
espaço à crítica comum. Vejamos, então, os principais autores.
Friedrich
Nietzsche. Sua crítica era contra o mundo duplicado metafísico (mundo das
ideias e formas contra o mundo da matéria etc.). Ele e o marxismo[22],
afirmam a unidade do mundo. Mas a unidade, na dialética, não nega a diferença e
a duplicidade dentro de si, ao mesmo tempo. O outro lado é, dissemos, à maneira
de uma quarta dimensão.
Não por
acaso, ele é o pai do irracionalismo filosófico.
Martin
Heidegger. Denunciou que a filosofia afastou-se do Ser, mas, ao focar nele, o
separa do ente. Depois, de modo arbitrário, coloca o homem, o ser-aí, como a
expressão direta de todo o Ser. Na dificuldade, apostou na quebra da linguagem.
Ele não entende quase nada da ciência de sua época, não viu na cientificidade a
pista para uma nova metafísica, correta em seus aspectos gerais.
Analíticos.
Tal escola atua para, na prática, destruir a filosofia. Negam as questões de
ontologia, ou seja, de metafísica, e afirmam que a tarefa do filósofo é
meramente esclarecer conceitos… Em vez de darem um passo à frente, logo quando
a metafísica pode concluir sua história universal, dão passos atrás.
Positivismo.
O mau cientificismo acusa a metafísica porque confiam apenas naquilo
diretamente verificável, empírico. Não veem que do empírico partimos para o não
empírico, que da física chegamos à metafísica, que o argumento sustentável
também faz parte da verdade na ciência (neste caso, por exemplo, se o Ser é
possibilidade de ordem e finito, o Nada anterior é, ao contrário, vazio
infinito e caótico). O positivismo mereceu sua crise, pois nem tudo são as
aparências com suas leis apenas externas.
Como vemos,
os críticos atuais da metafísica não são boa companhia, atrasam o
desenvolvimento científico e filosófico.
AS DUAS
OPOSIÇÕES CIENTÍFICAS
Desde a
vitória do retumbante materialismo sobre o idealismo; duas oposições surgiram,
ganharam relevo maior: 1) reducionismo contra dialética; 2) substancialismo
contra relacionalismo.
O
reducionismo diz que o todo nada mais é que a mera soma de suas partes, que
algo pode ser reduzido aos seus elementos básicos constituintes, que as partes
são iguais, que não há mudanças de qualidade. Já a dialética afirma que as
partes são elas mesmas e suas interrelações recíprocas, que o todo tem
propriedades que as partes isoladas não têm, que as partes são qualitativamente
diferentes umas das outras e operam saltos qualitativos, que as partes ganham
novas funções no todo quando deixadas de ser observadas isoladamente. A
realidade é como um organismo vivo, orgânico, incluso com história, não como
certa máquina ou qualquer objeto.
O
reducionismo, enquanto premissa errada, pode fazer avançar a ciência – mas só
até certo ponto, quando encontra uma parede intransponível. A genética cresceu
muito de modo reducionista, por exemplo.
Bunge fala
em “sistemismo”, sua suposta descoberta. Ele funde, de maneira dialética, mesmo
sem reconhecer isso, o holismo, que foca no todo, e o reducionismo, que foca
nas partes, nos elementos individuais, no atomismo. Usa ambos. Pois bem; ele,
sem o querer, plagiou Hegel… Até o nome é o mesmo: o alemão nomeia “método
sistemático” ir das partes até o todo, do abstrato (isolado, individual) até o
concreto (totalidade rica, integrada). É como aprender vogais primeiro,
consoantes depois, sílabas em seguida, palavras após, frases logo, texto
completo posteriormente… Do abstrato ao concreto. No Mais, Bunge deixa de ver a
história tanto das partes como do todo, que deve ser vista, além das leis
históricas como as gerais. Como poucos leem A Lógica de Hegel, menos ainda
entendem, menos ainda devoram os três livros até o final; poucos sabem que o
método do abstrato ao concreto, sistêmico, tratado por Marx como seu método já
está exposto ao mundo pelo outro alemão, no final de sua grande obra.
Quanto à
oposição unilateral entre relacionalismo e substancialismo, este livro supera
ambos em quase todas as suas páginas. Assim, o espaço e a massa seriam ou
relacional ou substâncias; a essência humana seria ou relacional ou
natural-substância; seríamos determinados pela biologia e genética ou pela
construção social; a realidade humana seria materialista ou idealista; a
psicologia seria relação homem-homem ou homem-objeto; a crise sistêmica seria econômica
ou baseada na urbanidade elevada; o centro seria as forças produtivas ou as
relações de produção; etc.
Vale notar
que as oposições científicas costumam estar acompanhadas por posições políticas
e visões de mundo opostas, mesmo nas ciências naturais. Daí que Margaret
Thatcher tenha dito, ao modo reducionista, que não há sociedade, apenas
indivíduos. Daí que a classe trabalhadora inglesa, ao modo dialético, tenha se
reunido para comemorar sua morte nas ruas.
SUBSTANCIALISMO
E RELACIONAISMO
A ciência e
sua filosofia caíram em duas teses unilaterais e opostas, a de substância e a
de relação. Assim, a massa ou é substância ou relacional, o espaço existe de
modo absoluto ou é apenas expressão de relações, a evolução das espécies é ou
relaciona (lamakismo) ou genético. O substancialismo chegou a pensar que o
calor seria uma partícula calorífera.
Em
Aristóteles, em sua metafísica, tal oposição limitante já existia:
Mas, é absurdo dizer que são os mesmos para tudo:
de fato, dos mesmos elementos derivam tanto as relações como a substância. E
qual poderia ser esse elemento comum? Além da substância e das outras
categorias não existe elemento comum; o elemento existe anteriormente àquele de
que é elemento. Na realidade, nem substância é elemento das relações, nem
qualquer uma das relações é elemento da substância.
Pode-se
perguntar se são diferentes ou idênticos os princípios e as causas das
substâncias e das relações e do mesmo modo para cada uma das outras categorias.
A teoria
substanciaista do espaço de Newton imperou por muito tempo, mas começou a ser
superado por Einstein ao se descobrir, a partir de suas teorias, que o espaço
curva-se em relação com a matéria e movimenta-se. Neste livro, a ideia de que a
matéria e a luz decaem em espaço visa superar também a oposição limitante entre
substancialismo e relacionalismo.
A verdade
está no terceiro “excluído”. É verdade que somos, por exemplo, determinados
pela genética, mas também é verdade que o ambiente nos altera reativamente. Os
descendentes de um povo que passou fome tende a ter mais capacidade de acumular
gordura.
PLATÃO E
NIETZCHE
O leitor
acostumado percebe os dois filósofos como inspiração interna, oculta, de outra
obra, A crise sistêmica. De certo modo, reescrevemos a República de Platão. Por
exemplo, há referência às três ondas plantonistas (os macrociclos do capital),
o fim da família e da propriedade privada, os “filósofos” no poder etc. Sendo
Platão uma inspiração oculta e culta de Marx; na obra citada, A República, o
grego fala em “pessoas acorrentadas” numa caverna, a alegoria da caverna, o que
estimulou o alemão, milênios depois, dizer aos trabalhadores: “Vós não tendes
nada a perder a não ser vossos grilhões!”. Eis a metafísica materialista por
detrás do marxismo!
Vale uma
digressão: na versão inicial, pomos Cronos, deus do tempo, o valor, contra
Zeus, deus do raio, da energia, a classe operária – relacionando as eras, com
Hera. A mitologia e a realidade casaram-se.
Quanto a
Nietzsche, façamos uma digressão própria.
Pluralismo
O sistemismo
de uma obra é um sinal de sua verdade e de sua qualidade, de um esforço e de um
nexo real expresso no nexo textual, conceitual. Tal modo de expor pode agregar
dentro de si o pluralismo das formas de exposição.
Dinamismo
Mas qual
dinamismo? O marxismo afirma que o movimento é desenvolvimento, movimento
contraditório. O irracionalista reconhece a contradição, mas concebe o
movimento como puro caos e apenas.
A vida
individual de fato é caótica. A vida social, o todo, tem ordem em seu caos. Uma
alternativa é o indivíduo ligar-se mais ao todo para dar rumo e ordem, sentido
– o socialismo ordenado.
Perspectivismo
No lugar de
ir ao argumento dedicado, ele analisa os diferentes pontos de vista e ângulos.
Ora, ambos podem ir juntos. Aqui, também, usamos o estilo contrito e direto.
Experimentalismo
Ele arrisca,
diz. Aqui, nesta obra, o experimentalismo é uma forma científica de ser
filosófico. Damos, então, rumo ao seu instinto.
Além-do-homem,
super-homem
Para ele,
tal ser surge por alguém sofrer muito e viver a arte. Outro modo de ver: o
homem fazendo a si mesmo, criatura e criador de si. Oferecemos outro caminho,
pois ainda sequer somos homens e, além disso, no futuro superaremos nossa
condição de espécie (programação genética etc.).
Apolíneo e
Dionisíaco
Afirma que
focamos, desde Sócrates, na razão, esquecendo a paixão e a emoção, o gozo.
Logo, defende a posição última. Se formos rigorosos, devemos fundir ambos, um
ajudando o outro e vice-versa.
Moral
Sua moral
busca a origem da moral na divisão de classes. Mas ele foi, de fato, elitista.
Isso se prova na sua campanha contra a Comuna de Paris. Ao menos, ele busca a
reflexão do valor dos valores, historiciza-os também.
A vontade de
potência
Ele me
inspira, junto com Clóvis de Barros, a pensar todo o Ser como energia em busca
de mais energia, não apenas a vida. Ele pensou em termos cosmológicos, o que é
incrível. Mas, para nós, a energia (para ele, força), vê como central sua
expansividade, não sua concentração.
Forças
Para ele,
tudo era um jogo de forças, no plural. Aqui, demonstramos que a categoria força
é superada por espaço, campo e energia. Para ele, as forças fazem o espaço;
para nós, a matéria decai-se em espaço. Se mantemos a categoria, para nós, há
apenas uma “força”.
O eterno
retorno
Como
metáfora, seríamos felizes se nossa vida repetisse igual a igual para sempre?
Trataríamos como sorte ou azar? Parece que ele considerava como algo também
cosmológico. Neste ensaio, atualizamos sua intuição física para a ideia de que
o universo reinicia-se para o ponto inicial, retrai-se após expandir-se.
Além do
mais, além do universo ter gerações ciclos, também houve de fato um início de
tudo e do tempo, depois do vazio infinito. Em Nietzsche, porém, não há começo
real.
Amor fati
A ideia de,
de modo ativo, aceitar o mundo, ser alegre com ele tal como é, de modo,
repetimos ativo. Isso casa com o marxismo: ser ativo e buscar a felicidade
hoje, e já, não amanhã. Se todos buscassem uma vida que vale a pena, o
capitalismo cairia.
Fusão arte e
vida
Diz do
futuro como fusão de ambos. Adapto isso no uso constante do conceito de ficção.
Além do mais, o realismo diz que o socialismo será a poesia concreta.
Uma obra
digna tem de estar pousada no ombro de antigos gigantes. A refutação dialética
não é apenas negar uma teoria ou filosofia, com porcos adjetivos, mas
aproveitá-la no que ela tem de verdade, desenvolvê-la, levar a tese adversária
até as últimas consequências, modificá-la e adaptá-la. Eis o ensinamento de
Hegel e Adorno.
DIALÉTICA
DIFERENÇA NA
UNIDADE
A unidade e
identidade dos opostos na lógica de Hegel é uma conquista de toda a
civilização. Mas erros acontecem por se confundir forma com conteúdo, aparência
com essência, conjuntura com estrutura etc. É preciso ver a diferença também.
Nesse sentido, estamos com Adorno e Althusser, unindo ambos. A aparência nem
sempre releva de todo a essência, pois o mudo que aparece pode ser, por
exemplo, o oposto do mundo essencial, mesmo aquele estando dentro deste. A
mesma forma pode servir a conteúdos diferentes, até opostos. O mesmo conteúdo
pode ter diferentes formas.
O MAIS
ABSTRATO
O mais geral
é o mais simples e o mais abstrato, serve de base – a célula na biologia, a
mercadoria no capitalismo, o átomo na química. Em método, devemos pegar o todo,
ver suas partes em seguida, decompor, decompor – até alcançar o conceito real
mais abstrato, mais puro, mais geral e invisível. Assim, temos o valor na
economia; assim, temos a energia-espaço na física e na química (e na biologia,
e o valor é energia); assim, o Bem em Platão. É outra forma de abstração, que
não se reduz a isolar, a separar; também vê tal unidade interna oculta de tudo,
do todo. Portanto, chegamos ao espaço, pobre em características (determinações
etc.) e à energia apenas indiretamente observável. Levamos o limite mecanicista
– decompor o todo em partes iguais, reduzir o todo às partes etc. – do método
de Descartes até as últimas consequências, superando-o.
Vejamos. O
método cartesiano propõe dividir um problema, uma totalidade, em partes, tantas
quantas forem necessárias – isolá-las e, então, sendo mais simples, logo
compreensíveis, tratar com elas como modo de saber do todo. Do que isso se
diferencia do método abstrato-concreto de Hegel e Marx? Curioso notar que os
marxistas que afirma ser o método de Marx o “abstrato-concreto” não leram ou
não entenderam a Lógica de Hegel até o final do último, terceiro, livro. O método é, antes, de Hegel, o sintético, não
de Marx ou dos economistas políticos… Ademias, n’O Capital, Marx corrige seu
caminho, mostrando, de modo relativo, que o abstrato faz, sim, o concreto e a
totalidade num processo lógico-histórico, mais aquele do que esse, claro. A
questão é que a dialética volta a reunir as partes, a integração, o todo
“síntese de múltiplas determinações”. A dialética sabe que as partes dependem
do todo; que o todo tem propriedades inexistentes nas partes; que o todo e as
partes são contraditórios, com saltos de qualidade e em desenvolvimento.
MÉTODO DE
EXPOSIÇÃO CRÍTICA
O método
pode ir do simples ao complexo, do passado ao futuro, do abstrato ao concreto.
Ademais, um método possível é o crítico: exponha-se a ideia do adversário de
maneira honesta, ponto a ponto, então se faz o comentário crítico. A própria
ideia é apresentada na maneira de uma crítica, passo a passo. Pode-se, por
exemplo, expor todas as teorias relevantes sobre Ética, dos antigos até os
contemporâneos, ao mesmo tempo em que a própria ideia é exposta por contraste e
por refutação. Todas as teorias quânticas podem ser expostas, discordando
delas, demonstrando seus limites, rumo à solução. O precursor disso foi Marx
com suas “teorias da mais-valia” e outros manuscritos.
MODELOS
Parte da
ciência foi ao racionalismo, unilateral. Alguns, o dedutivo a partir de
postulados e leis intuídas, uma aposta. Depois, o hipotético-dedutivo, uma
hipótese quase arbitrária a ser testada. Depois, os modelos hipotéticos para
explicar, melhor, encaixar, o conjunto de fenômenos. Todos são úteis e científicos,
mas limitados. O melhor método é ter o “modelo” como conclusão, no final, como
consequência necessária da empiria com a teoria. A ideia de modelo teórico
parte do sujeito para o objeto quando se deveria partir do objeto ao sujeito.
FALÁCIAS
Em geral,
grosso modo, as falácias ocorrem porque se quer focar na estrutura abstrata,
numa lógica a priori, na gnosiologia, de uma argumentação – no lugar de focar
na realidade, em seus nexos reais, na ontologia. Por exemplo, a falácia do
apelo à tradição foca na “mente” ou na cultura no lugar de no próprio objeto;
do mesmo modo, o apelo à novidade tenta dar um critério externo ao objeto; o
apelo ao erro de, contra, focar em algo antigo, também é um critério externo,
como se a verdade não estivesse na coisa e no real, pois o fato de ser uma
ideia antiga nada diz se está errada ou certa em si.
Vejamos a
falácia quanto à correspondência temporal, à coincidência como causalidade: se
algo vem antes de outro algo, fato, logo aquele é a causa deste, pois a causa vem
antes do efeito. Veja-se que, em vez de fazer uma pesquisa direta e
disciplinada, fez-se uma dedução abstrata, não concreta, querendo supor nexos
pela externalidade, no lugar de descrever o processo como – se há. Isso parte
de uma premissa falsa de que a coisa em si, logo o nexo causal, é
incognoscível, inalcançável. É um erro substituir a ontologia por gnosiologia,
aquela deve dominar esta.
Tentar fazer
ciência apenas com formas lógicas é um erro comum, que desdenha a empiria. Sob
tal base frágil ergue-se a ciência burguesa, em especial na economia. Uma
teoria pode estar logicamente bem estruturada, mas completamente, ou quase de
todo, errada, equivocada, unilateral etc. É um erro, por exemplo, escolher
premissas maiores não empíricas nas ciências concretas.
A DIALÉTICA
NAS CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
O marxismo
é, de longe, o melhor que há nas ciências humanas, apesar de inevitavelmente
minoritário sob o capitalismo (as ideias dominantes de uma época são as ideias
de sua classe dominante). Na psicologia, o freudismo agrega também os mais
eruditos, junto com a psicologia marxista. Por que tal sucesso, embora minoria?
Porque está numa posição social que necessita da verdade, saber como o mundo de
fato funciona e suas razões. Por outro, a pobreza material e espiritual comove
a muitos talentos; daí, por exemplo, a força do marxismo e do marxismo
acadêmico na América Latina, em especial no Brasil e na Argentina. O
capitalismo não é capaz, hoje, de provar que é um sistema merecedor de
permanência. Mas a dialética é forte também porque 1) o objeto social é o mais
complexo, incluindo aí a ciência da psique; 2) temos uma riqueza enorme de
dados empíricos nesse objeto. Tais características não existem com tanta força
nas ciências da natureza. De todo modo, o século XX teve muitos influenciados,
de modo direto ou indireto, pelo marxismo e pela dialética, Born e Einstein em
destaque. Isso levou ao ponto de conservadores acusarem a teria da evolução, a
quântica e a relatividade de “ciências marxistas”. Vale recordar que o método
não é o critério da verdade, embora a dialética prove-se um meio superior.
AS FERIDAS
NARCÍSICAS DA HUMANIDADE
Freud erra
ao levantar quais são as feridas que tiraram a humanidade de seu posto especial
nas ideologias e nas ciências. Vejamos como deve ser.
O homem, a
Terra, deixa de ser o centro do universo com a revolução copernicana: o Sol o é
central. Assim, o ser humano foi retirado de um dos seus postos divinos. Tal
ataque consolidou-se com Newton, depois, com Einstein. Até hoje, há ditadoras
religiosas que negam tal revolução.
O segundo
ataque ao narcisismo é a teoria da evolução de Darwin. O homem foi reduzido a
animal, à parte da evolução da vida. Mais uma vez, a religião perdeu chão ao
divinizar o homem. Por isso, tal teoria ainda sofre ataques. Vale lembrar, no
entanto, que Marx antecipou – contra a filosofia e a religião de seu tempo –
que o homem é, primeiro, um animal, que precisa primeiro satisfazer
necessidades.
Isso
leva-nos ao terceiro ataque ao narcisismo da humanidade, não reconhecido por
Freud: o marxismo. Marx demonstrou que, de modo inconsciente, somos frutos de
nosso tempo, de nosso modo de viver – que nossas ideias expressam nossas
materialidades reais (como pertencimento a classes, ao sistema em vigor etc.).
A moral, a filosofia etc. não são frutos puros do cérebro, mas em primeiro
lugar da realidade em que vivemos. Somos, enfim, frutos inevitáveis da
história. No mais, o capitalismo, o modo de vida que parece natural, passou a
ser visto como instável, transitório e efêmero. Por isso, o marxismo sempre
será caluniado e perseguido em todo o mundo, enquanto tal modo de produção
baseado no dinheiro existir. Curioso que Freud foi incapaz de reconhecer tal
revolução, sendo vítima da própria censura.
A quarta,
não terceira, ferida contra o narcisismo da humanidade foi, é claro, a
psicanálise. O homem é em grande parte governado pelo inconsciente, não pela
razão pura, e seus instintos, em especial o sexual, tem força enorme sobre o
indivíduo. Tal revolução teve como preparo direto o marxismo e o darwinismo,
indiretamente a revolução da física. Por isso, nunca será perdoado, será
caluniado e acusado de todo tipo de mal.
Veja-se que
as quatro revoluções do pensamento humano causaram tensões, crises e
perseguições (todas até hoje negadas por algumas ditaduras e por religiões).
Nem todos conseguem aceitar tais teorias, tanto mais no grau necessário. O
socialismo, se vitorioso for, trará a paz e o prestigio geral-popular a tais
descobertas, ainda que de modo superante como no caso da psicanálise, que ao
menos acertou o miolo da questão.
Mais
associado ao marxismo, a moderna dialética, desde sua forma avançada em Hegel,
também causa constrangimentos, desconfortos e resistências semi-inconscientes
sobre cientistas e não. Para muitos, inaceitável que a contradição deva ser
aceita e que ela é, ademais, produtiva, não apenas destrutiva; que a realidade
é movimento e desenvolvimento, ainda que contraditório. Difícil sair da apenas
individualidade para a integração, para o contexto, para a ideia de que o todo
é mais do que a mera soma das partes. Mas a unidade e identidade dinâmica dos
opostos, respeitando a diferença, torna-se o caminho inevitável. A vida é luta,
não o conforto da alta classe média. Nem todos são capazes, material e mentalmente,
de aceitar a dialética da matéria e da ideia. Mesmo que de maneira inconsciente
e cambaleante; Einstein, Darwin, Freud e Marx usaram o método
empírico-dedutivo, dialético, ou seja, colher criticamente os dados e, então
fazer as devidas interpretações, ir para debaixo da empiria, para o oculto nos
fatos.
Vale
destacar que nenhuma filosofia, nenhum modo de ver o mundo, sofreu tanta
perseguição quanto a marxista. Também raro causar tanta paixão entre vanguardas
e simpatia geral entre as massas. Nos EUA e na Inglaterra, países aonde o
estalinismo com seus partidos não fez grandes e tantos estragos, as novas
gerações, mais precárias, declaram simpatia pelo socialismo, pela ideia difusa
e instintiva que tal palavra levanta.
Tais
resistências narcísicas costumam estar lastrada na religiosidade. Para a
maioria, impensável uma vida sem religião, sem fé. A igreja garante vida
social, emoção, casamento, fuga da solidão, apoio etc. Aceitar a verdade, que
liberta, seria insuportável, tornaria suas vidas mais difíceis, material e
subjetivamente. Eles precisam de um compensador numa sociedade descompensada,
desequilibrada, precisam de uma droga simbólica. Por isso, resistem contra
Marx, Darwin, Freud etc.
A TEORIA DE
TUDO
Há mais de
uma dúzia de teorias quânticas, todas de acordo com os fatos observados. O erro
delas, em seus acertos parciais, está em não criticar os fatos – menos ainda
suas premissas. Contra fato há, sim, argumentos. O fato é ele mesmo e um falso.
É aparência. A ideia de descrição pura – dos fenômenos quânticos, da economia
etc. – esquece que descrever é enganar, enganar-se. O suposto apenas descrever
já parte de premissas, já parte de “obviedades”. Quem apenas descreve, ao
iludir-se que apenas isso faz, erra e erra-se. Nisso caiu o positivismo
quântico, a MMT na economia etc. Além do mais, o descritor parte de conceitos e
preconceitos. É preciso criticar as próprias premissas, por mais evidentes que
pareçam. A ideia de que a realidade é feita, primariamente, de partículas (ou
ondas), gerou inúmeros erros. Nossa ideia de que a partícula é espaço
condensado, condensação de linhas de espaço ou de linhas de campo supera a
concepção paradigmática anterior. No nível atômico, segue válido tomar a
realidade como atômica; mas a coisa se desfaz no nível subquântico, no
espaço-campo. A linha metafórica que liga as partículas emaranhadas são linhas
reais; as cordas que formam as partículas são cordas reais amplas, não apenas
discretas; as correntes do espaço-tempo são de fato algo continuo etc.
A tentativa
de unir o micro e o macro (e o meso) numa teoria de tudo teria de lidar com a
incompatibilidade em relação à teoria da relatividade. Veja-se. A teoria de
Einstein estava correta, mas, deixou-se de perceber, precisava ser desenvolvida
ao máximo, aprofundada, ir-se até seu limite. A matéria, o átomo, até a onda,
nada mais é – nada mais é! – que espaço condensado, concentrado, para dentro de
si. A gravidade é produzida pela concentração de espaço que é a partícula. Por
isso, a luz, que não tem massa, mas tem energia (energia é igual à massa),
também curva o tecido, pois é o próprio tecido de modo em linha em ondulação,
tecido condensado, ou linha condensada.
Deveria ser
obrigação de todo físico passar por um ano de formação filosófica intensiva, em
especial na dialética. Isso alarga o pensamento, produz criticidade, oferece
alternativas.
A ideia de
que tudo = tudo já povoa a humanidade desde os gregos, por milênios. Antes,
faltaram condições sociais, matemáticas, físicas e, enfim e o fim, ousadia. São
tempos covardes. Nossa teoria, porém, tem caráter qualitativo, faltante da
exigência quantitativa de nossa época – em que tudo deve ser abstrato, frio e
medido pela quantidade. Papel para o matemático ou para o físico com outras qualidades
que não a criatividade primeira.
Coisas
ficaram por exemplificar, talvez com a ajuda da futura matematização. Porque a
linha de espaço-campo tem preferência natural para a direita? Resolver
problemas geram novos desafios, novas perguntas. Explicamos, de modo geral, a
preferência dos elétrons pela via direita, contra a simetria tão endeusada
pelos físicos, e correta (a dialética trabalha, também, com opostos).
Finalmente: a fenda dupla, o positivo e o negativo, o emaranhamento quântico, o
desvio para a direita, o spin, a descontinuidade do movimento etc. estão
explicados em sua base. Assim, recuperamos a unidade lógica – o mecanismo
básico – da física clássica, de nosso nível, com a física quântica. Até agora,
marabalismos justificavam a diferença com jogos de linguagem, com pedidos de fé
etc.
Como
criador, descobridor, de tal interpretação física, tenho a esperança de que
intelectuais especializados consigam, daqui em diante, revisar, pela base,
quase todos os fenômenos estudados nos manuais universitários. Por exemplo: e
se o espalhamento do gás quando aquecido se dá – ou menos também – por que cada
“partícula” acumula, assim, mais energia, ou seja, mais espaço para si, com sua
autofronteira maior, afastando as demais? A megalomania parece não ser de todo
delirante.
As últimas
gerações de filósofos puros e de formação têm fugido do conhecimento geral,
universal, refugiando-se na ética etc. Se fossem sérios, teriam interesse
genuíno por questões científicas, em principal suas polêmicas centrais.
Filosofia nada mais é do que uma forma de ciência. Nossos doutores em filosofia
são, via de regra, inúteis, parasitas do dinheiro público. Pensam, aliás, que
todos os seus méritos e salários devem-se apenas ao esforço próprio e isolado –
o capitalismo esconde o nexo e a interdependência dos homens entre si assim
como das partículas exige-se muito para perceber o nexo interno entre elas, a
teia, numa teoria geral, do todo, de tudo. O critério da realidade é a própria
realidade.
A palavra maldita, ideologia, com a qual
uns acusam os outros, e vice-versa, de a praticarem em suas afirmações talvez
ou supostamente interessadas. Como veremos, todo este capítulo tem como centro
tal objeto. Para nós, a mentalidade não é epifenômeno, como até Marx deixou
quase entender em alguns momentos. Mas, mesmo assim, doloroso à consciência a
ideia de que não decidimos quando decidimos ou que não temos livre arbítrio. Às
vezes, somos até capazes de ver nos outros que eles e seus pensamentos são frutos
do meio, de sua experiência não escolhida, mas “esquecemos” de olhar com o olho
de dentro para fazer a autoanálise. Em geral, apenas quem está numa posição
social que necessita da verdade, a posição comunista e proletária, torna-se
capaz do julgamento muito pleno de si e dos demais, de saber a base concreta do
pensamento ou sentimento abstratos. Vejamos, agora, o resumo de alguns de
nossos mestres e uma conclusão específica sobre.
MARX E ENGELS
Eles começam a concepção marxista de
ideologia enquanto sinônimo de falsa consciência, como oposto à ciência.
Depois, Marx avança para um conjunto de ideias como forma de tomar consciência
prática das tarefas e problemas de seu tempo.
Eles elaboraram, então, a famosa máxima:
as ideias dominantes de uma época são as ideias de sua classe dominante.
LENIN
O teórico russo contrapõe ideologia como
visão de mundo classista, das diferentes classes. Há, assim, a ideologia
operária e, oposta e inimiga, a ideologia burguesa.
LUKÁCS
O húngaro nomeia ideologia toda a
superestrutura subjetiva: ciência, política, moral etc. Para ele, ideologia é
ontológica, ou seja, tem função prática na realidade para 1) convencer uns aos
outros a trabalhar de tal ou qual modo, 2) convencer os outros homens a
organizar a vida social de certa ou daquela maneira.
ALTHUSSER
O autor francês retomou a ideologia como
falsa consciência, como uma versão ou visão invertida, de cabeça para baixo, do
mundo real. Na prática, ele apenas retomou o senso comum e preconceitos de seu
meio ambiente, a universidade burguesa. Sua meta foi adaptar o marxismo à
academia e suas concepções de classe média.
OUTRA CONTRIBUIÇÃO
Como no tema da liberdade humana, todas
as concepções acima estão certas em algum nível. As diferentes ideologias –
filosofia, arte etc. – subjetivam a objetividade, ou seja, desenvolvem,
unilateralizam e aprimoram o que já existe na realidade. Por isso, muitas vezes
apenas organizam e sistematizam o senso comum, o cotidiano.
Engels afirma:
Vimos
como os filósofos franceses do século XVIII que abriram o caminho à revolução,
apelaram para a razão como o juiz único de tudo o que existe. Pretendia-se
instaurar um Estado racional, uma sociedade ajustada à razão, e tudo quanto
contradissesse a razão eterna deveria ser rechaçado sem nenhuma piedade. Vimos
também que, em realidade, essa razão não era mais que o SENSO COMUM do homem
idealizado da classe média que, precisamente então, se convertia em burguês. (Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo
Cientifico, 2003, detaque meu)
Ele repete, na mesma obra:
Para o
metafísico, as coisas e suas Imagens no pensamento, os conceitos, são objetos
de Investigação Isolados, fixos, rígidos, focalizados um após o outro, de per
si, como algo dado e perene. Pensa só em antíteses, sem meio-termo possível;
para ele, das duas uma: sim, sim; não, não; o que for além disso, sobra. Para
ele, uma coisa existe ou não existe; um objeto não pode ser ao mesmo tempo o
que é e outro diferente. O positivo e o negativo se excluem em absoluto. A
causa e o efeito revestem também, a seus olhos, a forma de uma rígida antítese.
À primeira vista, esse método discursivo parece-nos extremamente razoável,
porque é o do chamado SENSO COMUM. Mas o próprio SENSO COMUM - personagem muito
respeitável dentro de casa, entre quatro paredes - vive peripécias
verdadeiramente maravilhosas quando se aventura pelos caminhos amplos da
investigação; e o método metafísico de pensar, pois muito justificado e até
necessário que seja em muitas zonas do pensamento, mais ou menos extensas
segundo a natureza do objeto de que se trate, tropeça sempre, cedo ou tarde,
com uma barreira, ultrapassada a qual converte-se num método unilateral,
limitado, abstrato, e se perde em Insolúveis contradições, pois, absorvido
pelos objetos concretos, não consegue perceber sua concatenação; preocupado com
sua existência, não atenta em sua origem nem em sua caducidade; obcecado pelas
árvores, não consegue ver o bosque. (Idem, destaque meu)
Lukács fala que a ciência costuma
derivar do cotidiano como a criação de pombos observada por Darwin, mas não
teve tanta clareza sobre isso quanto à ideologia.
Marx diz n’O Capital:
O
segredo da expressão do valor, a igualdade e a equivalência de todos os
trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral, só pode ser
decifrado QUANDO O CONCEITO DE IGUALDADE HUMANA JÁ POSSUI A FIXIDEZ DE UM
PRECONCEITO POPULAR. Mas isso só é possível numa sociedade em que a forma
mercadoria é a forma universal do produto do trabalho e, portanto, também a
relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a relação social
dominante.
Em seguida à citação, ele faz a famosa
afirmação: por estar no mundo antigo e ser senhor de escravos, Aristóteles era
incapaz de perceber a substância do valor.
A realidade é traduzida pelo pensamento,
não criada neste nível. Uma obra de moral expressa a moral objetiva da
realidade, por assim dizer. Quando pós-modernos falam de “Multidão” no lugar
das classes em luta, eles estão intuindo o fim das classes no comunismo de modo
impressionista e imediatista, pois as classes estão de fato em crise
categorial. Quando outros pós-modernos falam de fim do trabalho e besteiras
semelhantes, de fato sentem com exagero a crise do valor, a automação etc.
O filósofo ou o artista está na
vanguarda do novo, ainda que algo seja de curta vida. Adorno percebeu já e
ainda no começo que a música se tornaria apenas o fundo de um cenário, logo
fato comum hoje desde o walkman, o MP3, o celular, a internet etc. Claro, muitas
vezes erram os ideólogos.
Se a realidade humana, pessoal, está
fragmentada, logo surgirá uma filosofia fragmentada. Passamos para a linguagem
humana aquilo que não a é. O espírito do tempo hegeliano, Zeitgeist, na verdade
é a objetividade do tempo, ou melhor, do meio, a carne e a coisa de uma época,
corpo social e dinâmico – espírito, mas espírito concreto.
Isso produz uma nova conclusão, teorema:
se uma teoria parcial pode surgir, ela surgirá. Vejamos dois exemplos. A
artificialidade atual do dinheiro, na artificialidade do sistema mantido pelo
Estado, sua criação fácil, leva a membros da classe média a pensarem como
solução para tudo a criação maior de moeda. A nova classe média e a
aristocracia operária europeia fizeram a cabeça de Sartre e seu existencialismo.
O materialismo parte, também, do senso
comum: a realidade existe. Para um cidadão médio é óbvio que a objetividade há,
e é, pois Deus a criou. O idealista apressado acusa tal ideia por ser vulgar,
cotidiana, e eleva a voz para duvidar da existência autônoma do real. Na
verdade, sequer dá dois passos à frente na sua elaboração.
A realidade é um inconsciente objetivo
para além do inconsciente individual, subjetivo. Assim, este é influenciado por
aquele; então ocorre a racionalização, no duplo sentido, psicanalista e não
psicanalista. Lukács, por isso, erra quando diz que o artista, similar ao
Espírito hegeliano, vai para o mundo e, enriquecido por ele, produz algo,
retoma-se; não; o poeta já está na realidade e sua inspiração vem de repente, tantas
vezes do inconsciente duplo para a consciência; depois, uma ideia leva à outra,
e outra, e assim por diante. Se o romancista pesquisa, parte da ideia inicial,
age a posteriori, e suas investigações são muito específicas, como estudar arte
militar para melhor descrever e narrar uma batalha.
Veja-se que os reformistas enrustidos no
meio marxista insistem em negar a validade teórica de três aspectos do
socialismo científico: a dialética, a queda da taxa de lucro rumo a crises e ao
fim do sistema e a necessidade de um partido democrático centralista. Fazem
isso de modo, em geral, inconsciente, mas o fazem. Em geral, expressam a classe
média em suas entranhas cerebrais, por isso, por exemplo, a maior dificuldade
de ir além da lógica formal.
Enfim, a subjetividade dominante de uma
época é a subjetividade de sua objetividade dominante. O subjetivo é um espelho
ampliador. A classe dominante não cria ideologia em uma sala secreta de
reuniões, caso contrário seria pura falsificação, não ideologia; assim como não
controla o próprio sistema, a burguesia não controla a criação ideológica de
modo direto e inteiro; “nós criamos, mas criamos apesar de nós”. A realidade
entra na cabeça da própria classe dominante, que traduz o real de seu ponto de
vista, e tenta ganhar a sociedade para suas próprias posições, que têm origem
primeira no objeto, ainda que unilateral.
Uma ideologia, por mais força social
potencial que tenha por si, costuma precisar de uma superestrutura objetiva,
uma instituição, para prosperar em muitas cabeças. As teorias de Lenin e
Trotsky somente deixaram de ser marginais porque lideraram uma revolução, um
partido e um Estado. Na França, a escola de Annales apenas cresceu porque tomou
espaços universitários. Para muitos filósofos, cargos como o de reitor de
universidade tiveram um efeito brutal na popularidade de suas ideias. Fora de
tais meios, costuma-se cair na marginalidade.
O externo se internaliza. Os marxistas
afirmam que apenas (re)conhecemos o objeto quando ele está maduro; antes,
conhecemos imperfeitamente o objeto porque o objeto também ainda é imperfeito.
Os mercantilistas na economia pertencem à época mercantilista; a teoria da
evolução de Darwin, a seleção do mais apto, pôde surgir e ser corretamente
aceita porque a revolução industrial impôs o império da livre concorrência,
permitiu surgir tal avanço científico por sua estrutura-avanço social e tais
ideias eram úteis para o desenvolvimento das forças produtivas. Eis uma forma
diferente de identidade e unidade objeto-sujeito. Em duplo sentido, o objeto
que se reconhece no sujeito. Além do mais, a realidade tende a produzir homens
e mulheres para si, que veem tanto quanto podem ver.
A ideologia traduz e expressa as
contradições e as dinâmicas do real, ainda que seja para negar tais
contradições e tais dinâmicas. A ideia de tradição medieval vem de uma
objetividade que pouco muda, em que o passado dava respostas suportáveis – até
não mais dar.
Temos, portanto, uma concepção
ideológica de ideologia. A consciência avança se sua base material avança; e
recua se esta recua. Mas a consciência também é matéria, então tem força na
própria materialidade, e resistência à mudança, para frente ou para trás, além
de influenciar também o meio. Há aprendizado, há tradição. De tal modo, damos
um novo significado para a dinâmica unidade e identidade sujeito-objeto; tal
objeto como objetividade, realidade. A ideia é matéria – a ideia é matéria em
processo.
Platão
contrapõe filosofia (ciência, dialética) e senso comum. Nós fazemos diferente,
mais do que o oposto: o senso comum torna-se base tanto para o avançar quanto
parta o limite do pensamento de uma época.
A DUPLICAÇÃO
DOS MUNDOS MODERNA
A ideia de
dois mundos é antiga, desde a religiosidade dos primeiros homens. Sua
popularidade atual vem do filme Matrix, que tanto influenciou a filosofia –
normalmente, o caminho é inverso, a filosofia afetar a arte.
Ainda há
dualismos e idealismos disfarçados por aí. O cérebro de Boltzmann diz que, num
tempo muito longo mais a entropia, há a possibilidade alta de fazer surgir um
cérebro vagando no vazio do universo, vivendo por alguns poucos segundos ou
minutos – e alucinando a nossa realidade. A imagem é maravilhosa, percebe-se.
Outra versão
é esta: estamos dentro de um programa de computador. Do ponto de vista
probabilístico, isso é o mais provável – o que reforça nossa crítica aos
limites da probabilidade na ciência. No mais, uma simulação gera outra
simulação, que gera outra etc.; isso tão logo a civilização virtual tenha
condições para isso, tecnologia.
A caverna de
Platão (mundo das ideias), a cidade de Deus etc. estão atualizadas. Há físicos
que afirmam que a realidade não existe, que a coisa só há se a medimos, se a
olharmos etc. É um erro crasso tratado como ciência séria. Outra ilusão é a
concepção de muitos mundos, de universos paralelos; assim, ao fazermos a medida
e o objeto colapsar numa de suas possibilidades, estados, outro universo é
criado, aonde a outra possibilidade também se realiza… Bom; a matéria e a
energia do universo são limitadas, não finitas, logo impossível que uma simples
ação de medida crie algo novo e paralelo completo.
A mais
sofisticada diz que o universo é um holograma de buracos negros. Ainda que a
matemática apresente alguma justificativa, a lógica numérica não é a própria
realidade total.
Uma
concepção real de mundo duplicado, mas ao mesmo tempo uno, deveria surgir –
este livro parece acertar em tal tentativa de expor sua natureza.
EXTRA: OS PARADOXOS
A solução
dos problemas dos famosos paradoxos é que tais contradições deverão produzir ou
mudança ou colapso, movimento. Vejamos três casos de destaque:
1)
Se um barco
tiver toda a sua madeira restaurada, ele continuará sendo o mesmo barco?
E se a
madeira velha, retirada, for usada para produzir um barco, será um novo ou o
antigo? Ora, do ponto de vista hegeliano: ambos os barcos são novos e os
mesmos. Mas em nossa dialética diacrônica, a coisa é um pouco diferente. Um vai
tornando-se o outro. No quantitativo, um barco com 100 tábuas, se tira e
substitui 2, então ele é 98% antigo, 2% novo.
Mas ainda
cabe outra resposta: todo, a realidade,
do qual os dois barcos participam é outro ao mesmo tempo o mesmo, todo único. O
erro seria focar na coisa, nos objetos.
Outra
resposta; a coisa é , em primeiro, sua forma, que pode mudar de matéria, não a
própria matéria.
2) Quem
barbeia o barbeiro na cidade aonde ninguém barbeia a si próprio?
Como
resolver? Colapsando ou movendo. Vejamos: 1) o barbeiro pode barbear-se em
outra cidade, 2) ele colapsa a lei barbeando-se, 3) um não barbeiro o barbeia
etc.
Cria-se um
carinho pela contradição apaixonante, quer mantê-la em pé.
3)O paradoxo
de Ferrmi
Esse é um
paradoxo mais científico do que filosófico. Toda a probabilidade diz que há
civilizações extraterrestres, mas elas não aparecem – por quê? Porque o mesmo
Sol, estrelas, que dá vida e permite surgir uma espécie inteligente, destrói a
tecnologia avançada com suas explosões, com seus ventos solares especiais e
intensos. Civilizações, ademais, têm um ponto nodal, como no fim do
capitalismo, quando se extinguem, a si próprio, ou prosperam. Talvez, nossa
biologia tenha sido a mais rápida em produzir uma espécie especial. As
civilizações inteligentes e avançadas, se existem, estão em demasia distantes
umas das outras. Nem toda civilização inteligente é, de imediato, avançada. Por
fim, evita-se o contato direto.
O COLAPSO
AMBIENTAL
O Marx
marxista começa a sua produção expondo que uma das alienações de nossa
sociedade é que o homem não se vê como parte da natureza, põe-se enquanto
externo a ela. Pouco depois, levanta a questão da defesa do meio ambiente
contra a sua destruição, mas de modo muito limitado. Em O Capital, expõe que
rompemos metabolismo da natureza ao transferirmos material do campo para a
cidade, rompendo um ciclo natural. Observou também que a divisão da terra em
propriedades separadas e privadas não permite um manejo bom do solo. Mas suas
fortes observações param aí já que não percebeu que a crise ambiental é parte
vital das crises de um sistema, como o capitalista.
O homem
sempre agredirá o planeta. Mesmo o homem tribal levou à extinção de espécies. A
questão é que tanto podemos fazer isso hoje de modo profundo quanto temos
condições, por outro lado, de agredir o mínimo possível, de modo sustentável.
Uma hidrelétrica é necessária à sociedade, mesmo que agrida o natural, mas pode
ser reduzida e compensada a sua ação social sobre o meio ambiente.
Desde a
famosa década de 1970, quando tudo mudou, passamos a extrair mais da natureza
durante um ano do que ela é capaz de repor por si própria no mesmo período. A
pulsão infinita do capital, a má infinitude da progressão, ao tentar agredir o
infinito verdadeiro, na verdade agride sua própria base, o que pode nos levar à
extinção.
A vida –
tanto mais a de grande porte – se reerguerá nos próximos milhões de anos, com
ou sem a humanidade. Nossa tarefa é humanizar a natureza produzindo novos
elementos químicos e mudando os animais. Podemos criar sementes mais fortes,
mas, ao mesmo tempo, em nome do lucro, as tornamos estéreis na segunda
germinação para forçar a compra de novos insumos.
Torna-se uma
necessidade reaproveitar e reciclar quase todo o lixo ora descartado, mas isso
fere poderosos interesses. Além disso, o lucro não tem limites, quer sempre
mais, por isso o desmatamento avança apesar da ameaça ao ecossistema.
Ou
socialismo ou extinção! O atual modo de vida precisa passar para outro mais
organizado, planejado, sem lucratividade – mas não é algo inevitável. A produção
romana escravista levava a esgotar o solo, algo resolvido com o método de
descanso da terra praticado pelos medievais. Mas o feudalismo, em sua fase
final, também criou uma crise ambiental ao aumentar a quantidade de feudos e
destruir matas de nascentes etc. Cada fim de sistema classista tem sua crise do
meio ambiente, mas apenas a atual ameaça a espécie humana total.
ENERGIA
A
civilização pode ser medida por sua capacidade energética. Por exemplo,
impossível ergue uma civilização baseada em alfaces, logo precisamos plantar
aquilo que oferece mais energia. Nesse sentido, temos a escala de Kardashev,
aonde há civilizações de tipo 1, que domina a energia de seu planeta, de tipo
2, que domina a energia de seu sistema solar, e tipo 3, que domina a energia da
galáxia. Ainda somos a civilização de tipo 0, mais precisamente, 0,75 – ainda
não somos uma civilização.
Para ao
menos tocar o tema, destacamos que cada era do capital tende a uma própria
relação na produção de energia. Vejamos. Era mercantil: força humana, animais,
moinhos de água e vento; era industrial: máquina a vapor; era financeira:
eletricidade, hidrelétricas, petróleo, etc.; era fictícia: o mesmo da anterior,
como um salto para si, com a consolidação, após os anos 1950, da fissão
nuclear, e o uso recente de energias solar, eólica e maremotriz cada vez mais
aperfeiçoadas (nesta era, prepara-se o caminho técnico-científico da próxima
revolução energética, que inclui a fusão nuclear).
A fusão
nuclear, método que estamos tentando dominar, gerará energia global abundante e
limpa, além de sem grandes riscos. Ela é própria para a sociedade socialista,
por isso esta deve investir nela com máxima força. Isso nada mais é que imitar
a fusão nuclear da nossa estrela em escala menor.
Tal
revolução energética por vir facilitará com que nos tornemos uma civilização
interplanetária. Faremos, tanto quanto possível, mineração em outros planetas,
principalmente no próximo e estável Marte. Uma sociedade desse tipo exige uma
tecnologia mais avançada e tal mesma tecnologia mais avançada exige relações
sociais mais avançadas também, ou seja, socialistas. A revolução comunista
levará nossa espécie para além da atmosfera. É uma lei social que forças
produtivas mais elevadas exigem relações de produção e sociais também mais elevadas.
Tudo isso
está de acordo com a necessidade drástica de redução do uso de petróleo. A
poluição está causando um efeito estufa, está aquecendo e desregulando o clima.
Mas o capital não demonstra o menor sinal de que combaterá o problema na sua medida,
pois a lucratividade não conhece limites. Faz algum tempo, a escola americana
MIT fez uma postagem na internet afirmando que o grande problema da captação de
energia solar é que é muito eficiente, então a energia torna-se muito barata.
Eis um problema capitalista!
A afirmação
de que o capital é incapaz de resolver tal problema não é um dizer por fé. Se
tal sistema for capaz de impedir a catástrofe, tanto melhor aos socialistas,
pois eles terão muito mais tempo histórico para mudar a realidade, com menor
risco de extinção. O fato de podermos ser extintos em algumas décadas é um peso
enorme, que reduz a margem de manobra da luta por outra sociedade.
MARXISMO E
METAFÍSICA
É muito
difícil enfrentar as tendências de seu tempo. No século XIX, a luta de Kant e
dos positivistas contra a metafísica tornou-se popular, digamos assim,
tornou-se uma obviedade científica, filosófica. Para que saber sobre o nada e o
ser? O iluminismo associou metafísica com metafísica medieval, aonde a
religiosidade impera – até nosso tempo, ser metafísico é considerado, no meio
marxista, algo religioso. Para que saber “o porquê” realidade, seus aspectos
centrais e universais, se podemos fazer bom uso do “como”? Assim, ficou para a
Igreja saber os fundamentos primeiros do mundo.
Marx e
Engels contrapuseram a dialética com a metafísica, sem atentarem que são o
mesmo, ainda que opostos. A dialética é uma forma de metafísica, contra o que
pensava, veja só, Aristóteles. O materialismo com história é uma concepção
geral de mundo, de cosmos, de como é a realidade.
Seguindo tal
tradição, Lenin e Trotsky também abominavam qualquer associação coma palavra
metafísica. Lukács corrigiu nosso caminho, usando um nome mais aceitável para a
academia universitária burguesa – ontologia, um aspecto e área da metafísica.
Como o
marxismo tornou-se, em grande medida, acadêmico, teve de ceder à antimetafísica
e burguesa concepção de ciência. Mas, entre não marxistas, aqui e ali, surgiam
sinais de renascimento da filosofia primeira, como em Heidegger, Ser e tempo;
como em Sartre, Ser e nada.
Diz-se que o
bibliotecário que organizou a obra de Aristóteles colocou os textos para além
dos textos da física por uma questão apenas de ordem. Mas ordem nas prateleiras
tinha, no fundo, uma correspondência coma ordem real. É a partir da física e
das demais ciências que podemos chegar a certa e correta metafísica. Tal meta deve
explicar e superar não só as ciências particulares, mas também soar como a
evolução natural de toda a filosofia, sua conclusão inicial.
O marxismo é
uma concepção geral de natureza, de sociedade, de ética etc. de realidade
primeira, de mundo. Não é a filosofia de nosso tempo; antes, filosofia do
tempo. Assim, consegue transcender de maneira imanente a época de sua
elaboração.
Nas minhas
pesquisas e elaborações, fui chamado a tomar as conclusões às quais alcancei
como algo de todo novo, uma revolução imensa de ineditismos. Sou marxista como
Marx era hegeliano ferrenho e, ao mesmo tempo, crítico. Nomeio minha metafísica
marxista porque pertenço a uma tradição filosófica bastante clara. A ruptura
permanece na continuidade.
VALOR
Apenas com
Postone a questão da importância central do valor fez-se presente, para além e
por debaixo da categoria capital. No entanto, o marxismo continua considerando
tal conceito como não existente em si, como apenas relação. No posfácio de
Engels ao livro III d’O Capital, ele cita economistas que afirmaram ser o valor
algo inexistente, uma ficção, mas extremamente útil ao trabalho científico. O
comunista rico, ao contrário, afirmou a existência de tal “coisa” ou
“propriedade”.
Vejamos
citações que reforçam nossa tese:
Uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma
coisa óbvia, trivial. Mas sua análise a revela como uma coisa muito intricada,
plena de sutilezas metafísicas e caprichos teológicos.
(Marx, O
capital I, 2013, p. 146)
No entanto, a mesa continua sendo mesa, uma coisa
sensível e banal. Mas tão logo aparece como mercadoria, ela se transforma numa
coisa sensível-suprassensível.
(Idem, ibidem)
O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar
de invisível, existe nessas próprias coisas…
(Idem, p. 170)
Aqueles que acham que atribuir ao valor existência
independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é
essa abstração como realidade operante (in actu).
(Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)
Mais-valia e taxa de mais-valia são, em termos
relativos, o invisível e o essencial a ser pesquisado, enquanto a taxa de lucro
e, portanto, a forma da mais-valia como lucro se mostram na superfície do
fenômeno.
(Marx, O capital 3, 2008, p. 34)
Metodologicamente,
Hegel dá a pista:
Tem que se deixar de lado a opinião de que a
verdade tem que ser algo palpável.
(Hegel G. W., 2016, p. 53)
O valor é
uma entidade não empírica, invisível, metafísica – não apenas relacional. É
nesse sentido que o dinheiro torna-se o deus real do mundo real, a medida de
todas as coisas.
No começo de
suas pesquisas, Engels e Marx negaram a categoria valor, talvez por seu lado metafísico.
Mas logo tiveram de recuperá-la, único modo de, no real, entender o
capitalismo.
O valor,
sejamos ousados, nada mais é que nada, energia, aspecto da quarta dimensão.
Hegel diz que o que está na causa passa para o efeito, como a água da chuva
estará no solo molhado; ora, a energia corporal do trabalhador passa para a
coisa, o objeto, a mercadoria física.
TECNOLOGIA
MODERNA
O marxismo
parou de estudar as novas ciências e tecnologias, permanece vítima do mundo
acadêmico e da especialização. Talvez, cremos certa máquina de produzir novos
compostos químicos, o que revolucionaria tudo – mas disso nada sabemos. A
química tem vasto uso industrial; nesse sentido, de modo inconsciente, uma
ciência socialista por excelência.
As máquinas
estão substituindo de vez o homem na produção – seja por imitação da mão
humana, seja pela imitação de seu cérebro e sensibilidade (programas,
robótica). Em muitos aspectos, a máquina nos supera. O tempo do tempo livre
está por chegar, mas ele se manifesta hoje como desemprego desesperador. A
culpa, claro, nunca é dos físicos e engenheiros. Se há certa culpa dos
cientistas e técnicos é o fato de que os produtos estão sendo fragilizados,
feitos para quebraram, o que gera lixo maior, mais consumir a natureza, lucro
acrescido e consumidores insatisfeitos. O socialismo acabará com essa palhaçada
que nos leva à extinção.
Programas
como o ChatGPT são capazes de fazer música – ainda não muito bem –, matérias de
jornais etc. É um recurso útil e inevitável em certo sentido. O desemprego
crônico e a precarização é um tendência inevitável sob o capital.
A verdade
também está sob risco. Vídeos perfeitos poderão ser produzidos, com voz
correta, com pessoas fazendo atrocidades que não cometeram em verdade. Mas a
tecnologia não é a causa única, polo substancialista, pois se estivéssemos numa
sociedade organizada e socialista, sem grandes lutas de classes, tais meios não
teriam base relacionalista para degenerarem em falsificação criminosa ou
caluniadora.
O mais
notável são os computadores e supercomputadores, incluso a emergente
hipercomputação quântica, que permitem – finalmente! – o planejamento geral,
central, técnico e democrático da produção, da distribuição e da economia.
Atrapalham,
no entanto, o desenvolvimento técnico o controle privado de patentes, o segredo
industrial e os monopólios e oligopólios. A solução, evidente, não é
propriedade em si estatal, mas social, o Estado e as empresas controladas pelos
trabalhadores e pelo povo.
Há uma
tendência efetiva em investir em ciência de aplicada, para fins lucrativos,
contra a ciência de base, que estagnou em certo sentido. Isso prepara a queda
da burguesia ao criar as bases para o revolucionamento total da sociedade.
EDUCAÇÃO
Os
professores foram capaz de tornar o estudo da realidade algo tedioso,
insuportável, angustiante. A educação científica da humanidade é deplorável, e
o capital tem cada vez menos necessidade de gente com alta especialização (as
coisas ganham cognição).
Como tudo é
contraditório, a internet permite uma educação superior. Posso dizer que ela
mudou minha vida, permitindo-me ter cultura para escrever livros como este. De
modo que parte do currículo pode ser cumprido coma autoeducação, via canais de
vídeos etc.
Porém o QI
tende a cair por causa do pouco movimento e da pouca vivência prática das novas
gerações, vidradas na tela de celular desde o nascimento. Não é exagero dizer
que estamos destruindo o cérebro das novas gerações, e não teremos o direito de
reclamar depois. Alguns infantes apresentam sinais de autismo sem serem
geneticamente autistas.
Apenas
países dominantes investem na educação – e olhe lá! –, pois precisam de
especialistas na concorrência global de empresas. Os EUA têm um povo, no geral,
inculto, bom para controlar a classe trabalhadora; mas atrai para si os
melhores cérebros, que surgem com dificuldade em todo o mundo.
A educação
não muda o mundo; por isso temos, no meio da crise econômica brasileira,
engenheiros dirigindo taxi uber. È a economia, estupido! Apena s o socialismo é
capaz de garantir a humanidade intelectualizada, ativa e senhora de si –
reforçando o indivíduo e seus talentos.
Temos uma
educação do século 19 na era do conhecimento subatômico. Deve-se garantir a
internet como meio prazeroso de aprendizado e paixão científica. Professores
excepcionais, por didática e personalidade, precisam dispor cursos e aulas
completos sobre temas de suas especialidades.
Logo teremos
óculos que permitirão entrar no mundo paralelo virtual ou, melhor, ou melhor,
ampliar a nossa realidade. Isso permitirá, por exemplo, “ver” a célula em tamanho amplo, seu funcionamento,
suas partes e explicações. Mas isso depende, em grande medida, de construirmos
uma sociedade justa, que necessite de um povo culto.
TEORIA
MARXISTA DA ALIENAÇÃO
É da cultura
comum afirmar que alguém sem interesse por política é um alienado. Tal
significado de alienação até está correta, mas é muito limitada. Comecemos com
uma reflexão. Se o trabalho é central para a espécie humana, porque só nos
sentimos humanos quando terminamos de trabalhar? Bem observado, sentimos os
prazeres mais básicos e animalescos de dormir, comer, praticar sexo, etc. Isso
ocorre porque vivemos em uma forma de sociedade que nega nossa humanidade.
Para nos
aproximarmos do conceito completo, o primeiro significado de alienação é
separação. E é ainda mais correto dizer “separação daquilo que deveria estar
integrado, unido”. Veremos: tal concepção é insuficiente ao mesmo tempo em que
permite uma aproximação bastante correta da teoria.
O CAMINHO DA
TEORIA DA ALIENAÇÃO
Hegel,
pensador anterior a Marx, elaborou: nosso pensamento, o subjetivo, cria o
objetivo, como, por exemplo, o Estado. Aquilo criado a partir de nosso
“espírito” separa-se de nós: é a subjetividade objetivada. A partir da ideia de
Estado, nosso exemplo, cria-se uma instituição que ganha vida própria, que
ganha independência. Aqui vale uma atenção: o processo de formação de algo
separado é, para Hegel, inteiramente positivo.
Outro
filósofo, desta vez da época de Marx, chamado Feuerbach, criticou Hegel com imensa
dureza. Elaborou uma teoria ateísta e materialista da realidade, contra a
religiosidade mais ou menos presente em Hegel. Feuerbach afirma: Deus não criou
o homem – foi o homem quem criou Deus! Porém: a ideia de Deus passou a dominar
o próprio homem, ou seja, a criatura passou a dominar o criador! Deus, esse
pensador diz, é a representação do próprio homem, de sua própria essência, para
o homem infeliz com sua realidade. Aqui vale outra atenção: para ele, a
alienação é inteiramente negativa.
Marx combina
as duas formulações, de Hegel e Feuerbach, para formar algo novo. O homem – ou
melhor, os trabalhadores – cria a realidade, mas essa mesma realidade volta-se
contra o criador e o domina. O Estado, por exemplo, só pode existir porque há
trabalhadores, porém o Estado existe para reprimir e controlar a classe
trabalhadora.
O mundo das
coisas criado pelo trabalhador ganha autonomia e independência, então a
criatura, como as mercadorias, controla o criador. Aquilo que chamamos
“capital”, que é um processo social, é também um processo cego, que impõe
regras sobre os homens. Porque os homens estão desorganizados como sociedade,
separados uns dos outros, surge uma série de leis sociais que não são decididas
por ninguém, pois surge uma lógica das coisas que passa a controlar a
humanidade.
Nas
fábricas, o fruto do trabalho, o resultado do esforço, é uma mercadoria que não
pertence ao trabalhador, ou seja, ao criador – pertence ao capitalista. Ele, o
operário, é separado do fruto de seu próprio trabalho e nada tem de identidade
com seu produto final. É muito comum o operário passar oito horas seguidas
apenas colocando uma única peça num aparelho, no entanto ele nada sabe da
função de seu ato de trabalho, para que serve aquele componente que ele instala
no produto.
O trabalhador
serve ao processo produtivo, não é o processo produtivo que serve ao
trabalhador. O operário torna-se uma ferramenta de carne e osso da máquina – o
maquinário passa a dominar os trabalhadores. Assim, a máquina é sujeito e o
operário é objeto – o trabalhador é coisificado, o maquinário é humanizado. Há,
portanto, coisificação dos homens com a humanização das coisas.
Vale a pena
oferecer relatos sobre não alienação no trabalho. Certa vez, fui vigia de
dependentes químicos; numa dessas vigilâncias, sentou perto de mim um paciente
que pintou as paredes e colocou grama no pátio da instituição; pois bem: ele
conversava com um colega e disse: fazer todo o trabalho é puxado, mas quando
vemos o resultado, dá um prazer enorme. Esse “prazer”, um sentimento, é muito
valorizado pelo marxismo; o trabalho escravo, feudal e assalariado negam esse
prazer sentimental do animal humano. Tenho um amigo que, por improviso, sem
formação oficial, produz, por exemplo, a própria mesa de sua casa; ele diz que,
quando vê o fruto do seu trabalho, lhe dá um prazer enorme – o cérebro premia a
criatividade, a criação ativa. No meu caso, a primeira vez em que tive tal
sentimento foi quando ensaiava com minha banda nossas próprias músicas; nós não
repetíamos as músicas como robôs musicais, ao contrário, experimentávamos,
dávamos propostas para as canções, e uns aos outros, tentávamos, corrigíamos
etc. – depois, era quase uma hora inteira sentido aquele sentimento sem nome,
agradável, do qual comentávamos. Também senti isso quando as reuniões
partidárias da qual participava eram dinâmicas, com observações, propostas,
votações etc. É um sentimento fortíssimo porque é raro hoje; mas será natural
no socialismo, pois, por exemplo, saberemos que nosso esforço é útil para a
comunidade, que ajuda tanto a nós quanto aos outros.
A alienação
também é a separação dos seres humanos com a dominação de uns sobre os outros.
A dominação de uma classe sobre outra, o machismo, o racismo, a homofobia, a
xenofobia são formas de separação daqueles que deveriam estar integrados,
unidos. Os que dominam a relação – o patrão, o homem machista, etc. – recebem
muitas vantagens por sua vida alienada enquanto o outro polo, o negativo – o
operário, a esposa, etc. –, tem uma série de prejuízos nessa forma de
alienar-se. A prática machista ou domínio do patrão sobre o empregado são
formas de coisificar o outro, de diminuir sua humanidade, de subordiná-lo.
A separação
dos homens é ainda mais profunda. Vemos o outro como inimigo, como adversário.
Os capitalistas lutam entre si por lucro e os trabalhadores entre si por
emprego. Por isso, a missão do socialismo é superar essa animosidade, colocando,
finalmente, fim à divisão da humanidade entre possuidores e despossuídos, entre
classes sociais.
A alienação
inclui a transformação do dinheiro em um Deus. Hoje, o dinheiro é apenas um
pedaço de papel pintado, mas guia nossa rotina e nossos pensamentos. A coisa
domina os homens, a criatura domina o criador. Se alguém nos mostra um bolo
enorme de notas de dinheiro, logo esticamos os olhos e ficamos afetados – e um
desejo estranho de ter aquilo nos possui. Pense-se que sempre nos sentimos mal
quando gastamos dinheiro, sentimento que nos pressiona a poupar, a guardar
nossas notas.
A humanidade
aliena-se em seu desenvolvimento e tal alienação desenvolve-se até que existam
condições para o reino da liberdade real. Em sua evolução, a humanidade nega-se
a si própria – coisifica-se, etc. – para, depois, afirmar-se de modo pleno. Ou
seja: o caminho da liberdade é feito por meio de seu oposto, de seu contrário,
de sua negação. Os modos de vida escravocrata, feudal e capitalista são etapas
necessárias para que o homem, no futuro, torne-se livre de fato. No escravismo
antigo, os trabalhadores eram como coisas, nenhum pouco livres. No feudalismo,
o homem na forma de servos medievais torna-se um tanto mais livre, preso ainda
à terra, e um pecador. No capitalismo, somos formalmente, juridicamente, livres
e iguais – apenas formalmente; ou trabalhamos como as condições difíceis nos
impõe ou fracassamos. No socialismo, seremos de fato e finalmente –
substancialmente – livres. A história da humanidade é a história por onde ela
se torna cada vez mais livre, liberta.
Em relação
às coisas, hoje, a alienação aparece assim:
1) Humanização das coisas na proporção da
coisificação dos homens;
2) Valorização das coisas na proporção da
desvalorização dos homens;
3) Integração das coisas – a internet! – na
proporção da fragmentação dos homens;
4) Ganho de características das coisas na
proporção da unilateralização dos homens;
5) Poetização, estetização, das coisas na proporção
da brutalização dos homens;
6) Ganho de cognição das coisas na proporção da
perda cognitiva dos homens.
Isso tem
consequências no perfil das mercadorias, além de tanto outros aspectos, como a
crise sistêmica.
A ESFERA COISAL
Lukács
afirmou que nem a psicologia nem o lado coisal seriam esferas ontológicas
próprias. Em acordo com ele, penso que a o mundo das coisas é, ao menos, um
colateral, uma falsa modalidade de ser – um é que, ao mesmo tempo, não é.
Quando Marx diz em sua grande obra que uma relação entre homens mostra-se como
uma relação entre coisas, não trata de apenas um engano; na verdade, as coisas
impõe uma lógica de si, uma relação entre elas mesmas tendo o homem como o
suporte.
O máximo
desenvolvimento do ser inorgânico levou ao ser orgânico, ao biológico; o máximo
desenvolvimento deste último levou ao ser social, o homem humano; o auge do
desenvolvimento deste, o capitalismo, levou ao ser coisal. O anterior é sempre
base e suporte do próximo, como na relação homem-coisa em nosso atual modo de
vida.
A esfera
coisal, seu poder, inclui coisificar o homem. Como diz Marx, há humanização das
coisas e, em relação direta, coisificação dos homens; a máquina é o sujeito
enquanto o homem é um objeto, uma ferramenta de carne daquela. Assim como o
homem, em seu desenvolvimento, humaniza a natureza, que veio antes e de onde
veio, a coisa, em seu desenvolvimento, coisifica o homem, que veio antes e de
onde veio.
O ser coisal
consolida-se com a imitação de movimentos humanos na produção, substituindo
braços e cérebros. Mas não para aí: a robótica visa imitar a sensibilidade do
homem, até mesmo superá-la. Em nosso tempo, temos vírus de computador que se
multiplica, como um ser vivo, e recentemente criamos robôs com a pulsão, a
programação, de multiplicar-se a si próprios. A concorrência capitalista, que é
uma lei cega imposta pelas coisas tal como estão, leva a que surjam várias
tentativas de produzir a melhor inteligência artificial – poderá surgir uma
inteligência similar à humana, mas sem emoção?
A integração
das coisas tem vindo acompanhada do isolamento dos homens. Tal integração é
condição da integração humana no socialismo, mas não condição absoluta – é,
hoje, uma aposta social.
O dinheiro é
a coisa central, a Coisa das coisas; o valor é a alma objetiva delas, um verbo
que se quer fazer carne. Segundo Carcanholo, o valor era apenas um adjetivo da
coisa, do objeto, do produto como mercadoria; para ele, tornou-se, como
capital, um adjetivo substantivado[23].
Complementamos: tornou-se, depois, substantivo concreto, com a maquinaria e
suas consequências humana e coisais, para tender a ir ao substantivo abstrato
e, por outro lado, ao mesmo tempo, verbo que se faz carne (isto se relaciona
com as quatro eras do capital: a era do capital mercantil, a era do capital
industrial, a era do capital financeiro e a era do capital fictício). Com o
devido jogo de palavras, o valor é um sujeito oculto, que exige teoria por
detrás do preço, e um sujeito indeterminado, sem determinações. Como o
espaço-matéria e energia-massa; o valor é um sujeito simples que se torna
sujeito composto, valor e capital, valor-capital, que podem, como vimos, entrar
em contradição.
A esfera
coisal tem sua grande história já no início do ser social, como ferramenta e
produto. Marx diz que temos a coisa, o objeto, mas, por outro lado, a coisa nos
tem – isto é ontológico. Relacionamo-nos pessoalmente com as coisas, nós as
afetamos assim como elas nos afetam. Hoje, elas ganham poesia, estética,
enquanto nosso mundo perde arte. O mundo das coisas, embora misturado conosco,
opõe-se ao mundo dos homens. O valor, o capital, o coisal faz de nós um meio,
encarnações e representantes deles.
Os objetos
não são neutros. O dinheiro é típico do capital e do capitalismo, incompatível
com o socialismo. O mero microfone, usado por líderes autoritários, é condição
para a vida socialista com suas assembleias de bairros e fábricas. Ademais,
temos a concepção correta da lei geral da história humana “produtividade
crescente”, mas ela é apenas quantitativa. Temos ainda a produtividade
qualitativa. Quando o socialismo cumprir, em poucos anos ou décadas, todas as
necessidades humanas em quantidade, com a ajuda de mudanças qualitativas, terá
ainda mais condições de garantir maior qualidade aos objetos.
A alienação,
em resumo, apresenta-se assim:
O sujeito é
o objeto
O objeto é o
sujeito
De tal modo:
o sujeito é o sujeito por seus predicados – o objeto é o objeto por seus
predicados.
A verdadeira
unidade-identidade de sujeito e objeto, sem alienação, estará posta como tarefa
socialista.
Bibliografia
Aristóteles.
(2002). Metafísica. São Paulo: Loyola.
Bohm. (2015). Causalidade e acaso na física
moderna. Rio de Janeiro: Contraponto.
Darwin, C. (1974). A origem do homem a seleção
sexual. São Paulo: Hemus.
Feynman. (2012). Sobre as leis da física. Rio
de Janeiro: Contraponto.
Hegel. (1992, 2002). Fenomenologia do espírito.
Petrópolis: Vozes.
Hegel, G. W. (2016). Ciência da Lógica 1. A
doutrina do Ser. Petrópolis: Vozes.
Levins, R., & Lewontin, R. (2015). El biólogo
dialéctico. Buenos Aires: RyR.
Marx, K. (2008). O capital 3. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira.
Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo:
Boitempo.
[1]
O ideal é ir do mais abstrato ao mais concreto, do mais imaterial ao mais
material – como campo antes de matéria, este antes de massa etc.
[2]
Este é um esforço de condensação e seleção da teoria, na relação homem-homem. A
alienação em Marx se expressa em: “1) alienação dos seres humanos em relação à
natureza; 2) à sua própria atividade produtiva; 3) à sua espécie, como espécie
humana; e 4) de uns em relação aos outros.”
[3]
Nosso ancestral evolutivo já vivia abaixo das árvores, no solo, porque sua
morfologia fazia-o habilidoso para andar e correr; por isso, adaptou-se ao
ambiente de savana.
[4] No
mais, vale observar, o paleontólogo Nacho Martínez Mendizábal teorizou que o gênero
homo, diferente de nossos primos primatas, perdeu o tamanho dos caninos, pois,
ele diz, tais dentes elevados serviam para disputas internas, contra membros da
própria espécie, e, entre nossos antepassados, a cooperação superou tal tipo de conflito, moldando a morfologia
dentária.
[5] A
grande dádiva do marxismo não é apenas, nem no seu começo, afirmar que o homem
é diferente e especial como dizem a religião e boa parte da filosofia. Ao
contrário, descobre, pouco antes de Darwin dar a forma teórica ímpar, que o
homem é um ser natural, biológico, antes de ser de fato social. Isso é parte do
significado de que o homem precisa comer e de abrigo antes de poder fazer
filosofia. Sobre isso trata Mészáros no capítulo sobre moral em seu “Teoria da
alienação em Marx”.
[6]
Quem vem antes, a essência ou a existência? O processo de formação da
existência é, também, o processo de formação da essência (Sartre pensa que a
existência precede a essência porque ele vê o indivíduo, não a humanidade – por
outro lado, na formação do indivíduo humano, sua maturação existencial avança
para consolidação da essência humana em geral; uma criança têm uma fase
egoística, pois ainda é um homem em formação). Além da formação de nossa
espécie, o longuíssimo período de comunismo primitivo, igualdade e comunidade
da escassez, operou uma seleção social com seleção natural, facilitando a
reprodução e perfil daqueles que têm a essência humana em geral.
[7] O
trabalho sobre a noção, até aqui mistificada, de essência humana pode receber a
crítica de que usamos o método dedutivo para percebê-la. Marx também usa tal
metodologia para expor um novo
objeto, o valor, no Capítulo I d’O Capital.
[8] Os
psicólogos evolutivos (Robert Trivers) chamam altruísmo recíproco,
reciprocidade. A expressão mutualismo, tomado emprestado da biologia, a
associação de populações diferentes de modo vantajoso a ambos, é limitado, mas
o mais próximo que consideramos para corresponder ao objeto.
[9]
Vale a pena comentar em nota a questão, famosa hoje, do gene egoísta. O egoísmo
do gene é base de nosso egoísmo natural, pois os genes focam em reproduzir a si
mesmos? Ora, isso fica muito mais claro e correto se incluímos a categoria
suprassumir; esta expressão, o suprassumir, é, ao mesmo tempo, concentrados
dentro de si, misturados, os significados diferentes e opostos destruir,
superar, guardar (conservar) e elevar. O lado egoísta do gene não é totalmente
negado na realidade, nem totalmente afirmado nela, pois é suprassumido, como no
fato de as espécies, como nível acima, que apareceu antes – do “ponto de vista
do gene egoísta” – como mero nada ou instrumento, procurarem a perpetuação das
próprias espécies; permanece, então, a possibilidade do altruísmo, da
solidariedade, da comunidade, da comunhão, do mutualismo. No lado humano, acrescenta-se
que o homem é a afirmação da natureza e, mas, ao mesmo tempo, sua
transcendência.
[10] A
concepção aqui exposta pode dar base a outras observações e pesquisas. Exemplo:
abstraindo o uso como ração, incomum hoje no ocidente; nós adestramos os lobos para
que servissem de companhia (integração), fossem capazes de guarda (relações
mutualistas) e auxiliares na caça (ser ativo).
Desenvolvemos raças de cães para satisfazer diferentes necessidades. A
demonstração dos tipos caninos é um tanto unilateral, pois os três elementos,
abstraídos, estão como se misturados dentro da realidade; porém serve de
primeira aproximação clara ao tema.
[11]
Freud está em relação a uma nova teoria da psique como Ricardo em relação a
Marx. Considerar o aspecto natural do homem é uma das forças da psicanálise,
embora seja uma ciência social, mesmo que seja negada esta localização pelo seu
fundador, que a considerava parte dos estudos biológicos (possivelmente para
dar ares mais científicos ao seu legado contra os ataques que sofria). Dito de
outra forma, dar-se, com a psicanalística, primeira base materialista para a
psicologia, embora deva ser superada.
O Behaviorismo, por sua
vez, também avança certos aspectos, mas de maneira unilateral. É tão ciência
quanto o freudismo. Nega-se os avanços de Skinner porque se tem, entre os seus
críticos, uma concepção burguesa de homem, como se livre e autônomo, longe de
quase determinismos do ambiente, o que é falso. No mais, tal concepção percebeu
que a repressão sobre os jovens não é um método válido como em animais, pois
gera reações, manobras, problemas, etc. Mais um pouco e seria percebido que
isso se deve a uma essência humana.
[12]
Para curiosidade, basta observar que nossa mente torna-se mais ativa –
consciência estimulada – quando percorremos um caminho novo, mas, quando
refazemos o mesmo caminho ou voltamos, a mente sente até o tempo passar com
mais velocidade, como se a jornada fosse encurtada, pois está acostumada ao
ambiente, repetição.
[13]
Uma hipótese lateral: nas tentativas de provar a teoria de Einstein por eclipse
solar ocorreu céu nublado atrapalhando. Talvez, não foi por acaso: o
alinhamento gravitacional da Lua e do Sol pode ter afetado partículas da
atmosfera, atraindo-as, concentrando-as, fazendo o céu nublado em alguns
pontos. Mas, mesmo se correto, isso faz parte das mil e uma leis possíveis no
universo, que não falam diretamente dos fundamentos das tantas legalidades.
[14] Uma
pista para pesquisa da história da ciência é ver tais fatores, dinamismo e
stress, como estímulos. Einstein produziu seus milagres quando numa posição não
favorável; Platão e Aristóteles surgem na decadência grega; Darwin e Wallace
viajaram pelo mundo, tendo este último “sacado” a teoria da evolução enquanto evolução
enquanto estava com uma doença tropical; Newton fez seu grande trabalho isolado
por uma pandemia; Marx viveu uma vida militante (dinâmica) e precária, como
Lenin e Trotsky.
[15]
Vale repetir. A expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia
para o vermelho. O espaço não é barreira para luz, é "transparente",
porque a luz é o próprio espaço em movimento, de modo concentrado. O oposto da
luz não é a sombra e a escuridão, mas a transparência; porém, logo vemos que
são o mesmo, um identidade interna.
[16]
Para Gleiser, apenas a matéria escura é “bolhas de espaço” enquanto considero
tudo, matéria e luz, como formas de espaço, espaço condensado.
[17]
Veja-se que, para nossa cosmologia sustentar-se, reiniciando o universo, mesmo
se os maiores buracos negros “suam” espaço, a taxa relativa é pequena relativamente,
o que faz com que a atração seja, no futuro, maior, superante, consumindo
espaço e matéria para dentro de tais titãs, o que reunirá tudo de novo em um
pequeno ponto, na singularidade, ou próximo disso, podendo, por exemplo, por
tal salto, a partir de certo nível de concentração, ricochetear, ao desabar
para dentro de si, criar um impulso para fora, na direção oposto, para
expansão, semelhante a um buraco branco.
[18]
As hipóteses que apresentamos aqui são suficientes, têm uma visão de mundo, de
cosmos. Podemos agregar, ademais, uma especulação extra. O espaço (energia
escura) e água são muito parecidos. A água aumenta o volume quando esfriada,
congelada, por a estrutura molecular fazer espaços vazios entre os átomos. Pois
bem; por esfriar, por reduzir energia, esta mesma transforma-se, o espaço decai
em energia escura, ou melhor, a energia escura, que é o espaço, expande-se com
o esfriamento do universo, torna-se menos condensado nesse sentido. Isso pode
ser apenas uma das causas da expansão cósmica.
[19]
Em sua dialética ontológica “inferior” à nossa, Hegel já demonstrava que o
contínuo dava-se pela reunião de discretos, ou seja, mesmo sendo discreto uma
direção ou sentido, por ser linha, o espaço, ao reunir linhas de espaço,
torna-se contínuo em todas as direções.
[20]
Como se não bastassem os riscos de desmoralização pela concretude das propostas
neste capítulo, apresento nesta nota uma outra. Os fótons não são partículas,
mas modo de manifestação de campos de luz… Diria Sagan: valorizemos as
especulações, mas não as confundamos com fatos científicos. Num dos lares nos
quais habitei nos últimos anos, havia uma janela de vidro (ou plástico) que
recebia muita luz solar e que era, também, coberta por uma camada de película
(penso, bases do fenômeno a seguir). À noite, quando eu apagava todas as luzes
internas, da casa, e olhava pelo vidro, via a luz das lâmpadas das demais
casas. O que acontecia? Não “via” a luz, mas um campo, de derivação
eletromagnética, por evidente, que tinha formas de linhas redondas, formando
formas como cilindros de linhas etc. Pois bem; percebi que a luz intensa na
parede de um quintal, e de outros, não era luz, mas a fenomenologia de um campo
até ali, antes, invisível que batia naquela parede… Assim, por generalização, a
luz mais longe é mais fraca porque sua linha de campo é mais larga e, por isso,
fraca com o passar da distância. A luz do Sol é seu campo, já está aqui, caso a
linha não se expanda; vem até nós, caso a linha se expanda (por isso a luz não
passa no tempo? Eis uma hipótese). O fóton é espaço condensado na forma de
linhas de campo, linhas de espaço (ainda que concentrado). A luz, na verdade,
torna-se uma sombra clara, cristalina, e visível de uma entidade invisível,
ligado ao espaço e ao eletromagnetismo, mas de modo ainda mais profundo que o
já considerado pela ciência; pois ele não é em si, torna-se mera manifestação
de algo, isto sim, real, mais real, essencial. O fóton é e não é uma partícula,
embora não seja. A aura ao redor da lâmpada é a forma de aparecer, aos nossos limitados
olhos, um campo, com suas linhas, que ali está, ali está mais concentrado.
[21]
Hegel disse que a língua alemã facilitou perceber a dialética. Martin Heidegger
exagera essa conclusão ao dizer, de modo nazista, que apenas é possível
filosofar em Alemão. Resposta melhor: além de facilitar conhecer e adquirir
culturas, saber várias línguas facilita pensar, embora não seja algo absoluto.
Isso a neurociência já quase sabe.
[22] O
socialismo é a imanente transcendência imanente deste mundo em outro. Duplicação
do mundo no tempo e na previsão teórica.
[23]
Como o adjetivo “plástico” realizou, no grande desenvolvimento das coisas, sua
substantivação por meio do material chamado “plástico”, com variadas
possibilidades de uso, derivado do petróleo.
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