terça-feira, 11 de outubro de 2016

Contribuições Para Um Programa de Transição no Século XXI

Apresentamos abaixo uma atualização ao programa de transição. Tema sensível ao marxismo, desde o lançamento, 1938, o manifesto comunista de nossa época pode ser acrescentado e/ou adaptado a nossa realidade, ao capitalismo no século XXI. Aqui, não focaremos em todos os pontos: quatro consignas transicionais serão prioridade, junto à busca do ineditismo, quer dizer, resolver as lacunas no programa dos revolucionários. Para isso, levamos em conta a necessidade de amplo debate democrático e contributivo, desprovido de dogmas, e de elaboração teórica e programática necessariamente coletiva.

O OPERARIADO DO CAMPO E O CONTROLE DAS TERRAS

O programa socialista para o campo, diante da proletarização do camponês e o agronegócio, pode e necessita ir além da tradicional luta por reforma e revolução agrária. Para isso, propomos:

Que o proletariado do campo, junto aos demais trabalhadores, lute para exigir dos patrões e do Estado que uma parte obrigatória e proporcional das terras seja destinada somente à produção de alimentos da cesta básica, como arroz e feijão. O maquinário e esse trecho de terra deverão estar à disposição do trabalho coletivo dos funcionários e terão total autonomia no destino da colheita, quanto consumirá e quanto destinará aos mercados populares das cidades.

Com isso, espera-se:

1. Gerar luta de classes;
2. Diminuir o peso inflacionário da soja e dos produtos de exportação que desestimulam a produção de alimentos;
3. Unir cidade e campo numa luta comum;
4. Educar os operários de origem camponesa – pequena burguesia – em métodos coletivistas, com suas vantagens produtivas, permitindo a percepção de que poderia cuidar da produção sem o latifundiário;
5. Gerar a semente de uma luta de classes por controle proporcional maior da terra e de toda ela;
6. Se a luta por essa pauta for possível mas a proposta não for aplicável sob relações capitalistas, então teremos uma palavra de ordem transicional, ou seja, parece reformista, porém força a classe à novas conclusões e a empurra para a revolução.

No decorrer dessa luta ou após a vitória, os trabalhadores devem formar “comissões de produção” subordinadas à base para coordenar a luta e para cuidar, em caso de vitória, da parte administrativa. Estas comissões deverão ser autônomas em relação aos sindicatos, que, quando combativos, devem dar suporte à luta e, após, inspecionar a patronal.

CORRUPÇÃO E CONTROLE OPERÁRIO

A corrupção em empresas estatais e privadas tem gerado, de um lado, revolta e, de outro, insegurança aos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a burguesia costuma usar de casos específicos para desmoralizar a concorrência, para privatizar uma estatal, etc. Sendo esta pauta importantíssima, propomos comissões operárias para averiguar as contas da patronal, avaliar o problema e propor soluções.

Esses organismos dos trabalhadores podem concluir e exigir:

– Contra a imunda corrupção dos dirigentes da estatal, gestão operária e democrática! – Não à privatização!
– Diante da crise das contas da empresa e do caso de corrupção em que se envolveu com o Estado, estatização sob administração operária!
– Diante do fato de a empresa ter crescido com isenções de impostos, contratos com o Estado e corrupção, estatização sob gestão dos trabalhadores!

Assim, poderemos oferecer alternativa proletária para a luta contra a corrupção – a gestão operária e democrática das empresas.

COMITÊS DE BAIRRO E EMPREGO

Quando uma crise econômica se aprofunda, com atraso ou não, os trabalhadores precários tenderão à luta. A alta urbanidade é um dos sintomas do fim desse sistema, aglutinando uma massa enorme de escravos assalariados e daqueles que sequer conseguem ser escravos! É preciso oferecer um suporte: comitês de bairro poderão ser fundados para a luta dos desempregados, além de ligar as lutas parciais e locais da comunidade com a nacional. E, em caso de luta generalizada, serão embriões de poder socialista fora dos locais de trabalho.

Portanto, irão além das “associações”, pois terão como causa as questões do trabalho, ou seja, a falta dele. Paralelo a isso, na medida em que aglutinam e lutam, podem adquirir moral e direito de tratar de todas as questões localizadas e nacionais. Os comitês “por emprego e contra crise” podem organizar aqueles inacessíveis aos sindicatos.   

SEGURANÇA E AUTODEFESA

Como demonstram os casos mexicano e brasileiro, as principais vítimas da violência urbana são os trabalhadores. Traficantes, tropas do Estado, milícias policiais e a bandidagem agem com a violência típica dos mercenários. Em situações de crise mais aguda, quando este problema já não pode ser tolerado durante a rotina, faz-se necessário a formação de grupos voluntários de autodefesa operária nos bairros.

Entre as primeiras preocupações entre os trabalhadores, a crise da civilização expressa na violência cotidiana tem gerado traumas, perdas materiais, mortes evitáveis e stress contínuo. Em situações limites, como diante de uma depressão econômica, onde a violência se prolifera, surgem surtos de revolta popular que tendem a surgir de repente e a se generalizar. São nestes momentos quando se abre a possibilidade e a necessidade de uma alternativa de segurança por fora do Estado burguês – e contra ele.

Que os pacifistas envergonhados e disfarçados se assustem e a pequena burguesia clame pela paz capitalista; quando a situação se degenera, necessita ação firme: a luta por milícias operárias de segurança pública pode ser, se associada a outras pautas, a antessala da revolução.

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (1)

– Financiar os serviços públicos, como educação e saúde, com um imposto especial e progressivo sobre o lucro das empresas privadas do mesmo tipo. Exemplo: parte do lucro no ensino privado deve ser automaticamente destinada às verbas do ensino público.

– Universidade pública deve abrir vagas apenas para aqueles sem condições financeiras de pagar por ensino privado. Enquanto não universalizar o acesso, vagas apenas aos filhos dos trabalhadores que ganham até quatro salários mínimos!

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (2): OCUPAÇÕES URBANAS

Uma questão vez ou outra levantada pós-vitória de uma ocupação é a dissolução da cultura da coletividade e luta. Acontece com frequência. Com a conquista, a necessidade de lutar diminui; a associação de bairro não se dissolve, mas também não agrega, mesmo com muita moral. Do ponto de vista socialista, no entanto, manter algum nível de integração organizada entre os moradores é vital para a estratégia. Aqui apresentaremos algumas indicações, propostas e apontamentos. E, é claro, só aqueles que vivem a prática ocupante, o dia a dia, podem dar o veredito final.

Nas ocupações rurais vemos o mesmo fenômeno das urbanas: coletividade para a conquista; depois, individualização para a divisão das terras por fim conquistadas. É uma diferença importante com o movimento operário. Uma ocupação de fábrica é necessariamente coletiva e coletivizante, antes e após. Não dá para dividir a empresa ocupada ou suas máquinas em pedaços, um pouco para cada. Só pode haver produção e consolidação da luta com o uso coletivo dos meios de produção e com o trabalho organizado, unido, de milhares de operários.

Espaço é poder. A forma de organizá-lo tem consequência prática-ideológica. Para resolver ou amenizar a contradição levantada, do ponto de vista dos sem-tetos, ao final do processo: garantir a construção de prédios (ou a ocupação de um) otimiza o espaço, ou seja, facilita a continuidade da integração social e política. Podemos apresentar duas vantagens dos condomínios:

1. Após a vitória, moradias entregues, a eleição dos síndicos, dos representantes por andar, da equipe de segurança, as assembleias para decidir a gerência e os conflitos permitem perpetuar a coletividade interna;

2. Pode-se usar o espaço excedente para construir outros prédios (já que aproveita a verticalização), trabalhar hortas coletivas, clubes do bairro, etc. Ou seja: com a tática desse formato pode-se agregar mais trabalhadores (concentrado pessoas e força) e criar meios de coletividade.

Pela concepção estratégica, acreditamos que este modelo vertical de moradia, de conquista, é o mais adequado. Deve ser encarado programaticamente como prioridade; é claro, isso deve vir de um comum acordo com as decisões coletivas da base, pois é soberana se deseja uma casa com próprio quintal e criar a própria horta.

Assim, aqui, propomos uma adaptação e atualização da proposta de Engels (Princípios Básicos do Comunismo):

"[defendemos a] Construção de grandes palácios nas herdades nacionais para habitações coletivas das comunidades de cidadãos que se dedicam tanto à indústria como à agricultura, e que reúnam em si tanto as vantagens da vida citadina como as da rural, sem partilhar da unilateralidade e dos defeitos de ambos os modos de vida."

A prioridade aos prédios e apartamentos será combinada com uma segunda luta: exigir boa infraestrutura para o novo bairro. Isso passa pela citação acima: unir as vantagens do campo e da cidade. A reforma e a revolução urbanas incluem permitir transporte público, creches; também qualidade ambiental: arborização, hortas coletivas, fim das ruas empoeiradas, etc.


Educar a base e educar-se na democracia operária, na coletividade, na cooperação, no espírito de luta e na confiança nas próprias forças; assim se resume a tarefa dos socialistas neste trabalho popular específico: lutar por reformas hoje e, ao mesmo tempo, pavimentar o caminho do amanhã.


Contribuições Para Um Programa de Transição no Século XXI

Apresentamos abaixo uma atualização ao programa de transição. Tema sensível ao marxismo, desde o lançamento, 1938, o manifesto comunista de nossa época pode ser acrescentado e/ou adaptado a nossa realidade, ao capitalismo no século XXI. Aqui, não focaremos em todos os pontos: quatro consignas transicionais serão prioridade, junto à busca do ineditismo, quer dizer, resolver as lacunas no programa dos revolucionários. Para isso, levamos em conta a necessidade de amplo debate democrático e contributivo, desprovido de dogmas, e de elaboração teórica e programática necessariamente coletiva.

O OPERARIADO DO CAMPO E O CONTROLE DAS TERRAS

O programa socialista para o campo, diante da proletarização do camponês e o agronegócio, pode e necessita ir além da tradicional luta por reforma e revolução agrária. Para isso, propomos:

Que o proletariado do campo, junto aos demais trabalhadores, lute para exigir dos patrões e do Estado que uma parte obrigatória e proporcional das terras seja destinada somente à produção de alimentos da cesta básica, como arroz e feijão. O maquinário e esse trecho de terra deverão estar à disposição do trabalho coletivo dos funcionários e terão total autonomia no destino da colheita, quanto consumirá e quanto destinará aos mercados populares das cidades.

Com isso, espera-se:

1. Gerar luta de classes;
2. Diminuir o peso inflacionário da soja e dos produtos de exportação que desestimulam a produção de alimentos;
3. Unir cidade e campo numa luta comum;
4. Educar os operários de origem camponesa – pequena burguesia – em métodos coletivistas, com suas vantagens produtivas, permitindo a percepção de que poderia cuidar da produção sem o latifundiário;
5. Gerar a semente de uma luta de classes por controle proporcional maior da terra e de toda ela;
6. Se a luta por essa pauta for possível mas a proposta não for aplicável sob relações capitalistas, então teremos uma palavra de ordem transicional, ou seja, parece reformista, porém força a classe à novas conclusões e a empurra para a revolução.

No decorrer dessa luta ou após a vitória, os trabalhadores devem formar “comissões de produção” subordinados à base para coordenar a luta e para cuidar, em caso de vitória, da parte administrativa. Estas comissões deverão ser autônomas em relação aos sindicatos, que, quando combativos, devem dar suporte à luta e, após, inspecionar a patronal.

CORRUPÇÃO E CONTROLE OPERÁRIO

A corrupção em empresas estatais e privadas tem gerado, de um lado, revolta e, de outro, insegurança aos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a burguesia costuma usar de casos específicos para desmoralizar a concorrência, para privatizar uma estatal, etc. Sendo esta pauta importantíssima, propomos comissões operárias para averiguar as contas da patronal, avaliar o problema e propor soluções.

Esses organismos dos trabalhadores podem concluir e exigir:

– Contra a imunda corrupção dos dirigentes da estatal, gestão operária e democrática! – Não à privatização!
– Diante da crise das contas da empresa e do caso de corrupção em que se envolveu com o Estado, estatização sob administração operária!
– Diante do fato de a empresa ter crescido com isenções de impostos, contratos com o Estado e corrupção, estatização sob gestão dos trabalhadores!

Assim, poderemos oferecer alternativa proletária para a luta contra a corrupção – a gestão operária e democrática das empresas.

COMITÊS DE BAIRRO E EMPREGO

Quando uma crise econômica se aprofunda, com atraso ou não, os trabalhadores precários tenderão à luta. A alta urbanidade é um dos sintomas do fim desse sistema, aglutinando uma massa enorme de escravos assalariados e daqueles que sequer conseguem ser escravos! É preciso oferecer um suporte: comitês de bairro poderão ser fundados para a luta dos desempregados, além de ligar as lutas parciais e locais da comunidade com a nacional. E, em caso de luta generalizada, serão embriões de poder socialista fora dos locais de trabalho.

Portanto, irão além das “associações”, pois terão como causa as questões do trabalho, ou seja, a falta dele. Paralelo a isso, na medida em que aglutinam e lutam, podem adquirir moral e direito de tratar de todas as questões localizadas e nacionais. Os comitês “por emprego e contra crise” podem organizar aqueles inacessíveis aos sindicatos.   

SEGURANÇA E AUTODEFESA

Como demonstram os casos mexicano e brasileiro, as principais vítimas da violência urbana são os trabalhadores. Traficantes, tropas do Estado, milícias policiais e a bandidagem agem com a violência típica dos mercenários. Em situações de crise mais aguda, quando este problema já não pode ser tolerado durante a rotina, faz-se necessário a formação de grupos voluntários de autodefesa operária nos bairros.

Entre as primeiras preocupações entre os trabalhadores, a crise da civilização expressa na violência cotidiana tem gerado traumas, perdas materiais, mortes evitáveis e stress contínuo. Em situações limites, como diante de uma depressão econômica, onde a violência se prolifera, surgem surtos de revolta popular que tendem a surgir de repente e a se generalizar. São nestes momentos quando se abre a possibilidade e a necessidade de uma alternativa de segurança por fora do Estado burguês – e contra ele.

Que os pacifistas envergonhados e disfarçados se assustem e a pequena burguesia clame pela paz capitalista; quando a situação se degenera, necessita ação firme: a luta por milícias operárias de segurança pública pode ser, se associada a outras pautas, a antessala da revolução.

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (1)

– Financiar os serviços públicos, como educação e saúde, com um imposto especial sobre o lucro das empresas privadas do mesmo tipo. Exemplo: parte do lucro no ensino privado deve ser automaticamente destinada às verbas do ensino público.

– Universidade pública deve abrir vagas apenas para aqueles sem condições financeiras de pagar por ensino privado. Enquanto não universalizar o acesso, vagas apenas aos filhos dos trabalhadores que ganham até quatro salários mínimos!

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (2): OCUPAÇÕES URBANAS

Uma questão vez ou outra levantada pós-vitória de uma ocupação é a dissolução da cultura da coletividade e luta. Acontece com frequência. Com a conquista a necessidade de lutar diminui; a associação de bairro não se dissolve, mas também não agrega, mesmo com muita moral. Do ponto de vista socialista, no entanto, manter algum nível de integração organizada entre os moradores é vital para a estratégia. Aqui apresentaremos algumas indicações, propostas e apontamentos. E, é claro, só aqueles que vivem a prática ocupante, o dia a dia, podem dar o veredito final.

Nas ocupações rurais vemos o mesmo fenômeno das urbanas: coletividade para a conquista; depois, individualização para a divisão das terras por fim conquistadas. É uma diferença importante com o movimento operário. Uma ocupação de fábrica é necessariamente coletiva e coletivizante, antes e após. Não dá para dividir a empresa ocupada ou suas máquinas em pedaços, um pouco para cada. Só pode haver produção e consolidação da luta com o uso coletivo dos meios de produção e com o trabalho organizado, unido de milhares de operários.

Espaço é poder. A forma de organizá-lo tem consequência prática-ideológica. Para resolver ou amenizar a contradição levantada, ao ponto de vista dos sem-tetos, ao final do processo, garantir a construção de prédios (ou a ocupação de um) otimiza o espaço, ou seja, facilita a continuidade da integração social e política. Podemos apresentar duas vantagens dos condomínios:

1. Após a vitória, moradias entregues, a eleição dos síndicos, dos representantes por andar, da equipe de segurança, as assembleias para decidir a gerência e os conflitos permitem perpetuar a coletividade interna;

2. Pode-se usar o espaço excedente para construir outros prédios (já que aproveita a verticalização), trabalhar hortas coletivas, clubes do bairro, etc. Ou seja: com a tática desse formato pode-se agregar mais trabalhadores (concentrado pessoas e força) e criar meios de coletividade.

Pela concepção estratégica, acreditamos que este modelo vertical de moradia, de conquista, é o mais adequado. Deve ser encarado programaticamente como prioridade; é claro, isso deve vir de um comum acordo com as decisões coletiva da base, pois são soberanos se desejam uma casa com próprio quintal e criar a própria horta.

Assim, aqui, propomos uma adaptação e atualização da proposta de Engels (Princípios Básicos do Comunismo):

"[defendemos a] Construção de grandes palácios nas herdades nacionais para habitações coletivas das comunidades de cidadãos que se dedicam tanto à indústria como à agricultura, e que reúnam em si tanto as vantagens da vida citadina como as da rural, sem partilhar da unilateralidade e dos defeitos de ambos os modos de vida."

A prioridade aos prédios e apartamentos será combinada com uma segunda luta: exigir boa infraestrutura para o novo bairro. Isso passa pela citação acima: unir as vantagens do campo e da cidade. A reforma e a revolução urbanas incluem permitir transporte público, creches; também qualidade ambiental: arborização, hortas coletivas, fim das ruas empoeiradas, etc.


Educar a base e educar-se na democracia operária, na coletividade, na cooperação, no espírito de luta e na confiança nas próprias forças; assim se resume a tarefa dos socialistas neste trabalho popular específico: lutar por reformas hoje e, ao mesmo tempo, pavimentar o caminho do amanhã.


domingo, 9 de outubro de 2016

“Onda Conservadora”, Uma Falácia Petista

“Onda Conservadora”, Uma Falácia Petista


Para iniciarmos o diálogo com o leitor; no começo, apresentamos os dados de uma onda, porém não conservadora:



A última coluna do gráfico é a quantidade de greves em 2013 (!), quando se impulsionou a tese da “onda”, segundo os ideólogos que aqui criticamos. Em miúdos: os dados apresentam a maior onda grevista desde o fim da ditadura (! – isso merece uma exclamação) mediada pelo fato de termos hoje uma população maior e mais urbana.  Vejamos outro:


Mais uma vez ao focar a última coluna, em 2013, estes dados acima revelam o número de horas paradas; e percebemos uma acentuação que tendeu a alcançar o pico de 1989 (!), um ano de hiperinflação (!). Esses dados do Dieese[i] revelam-nos que, se há uma onda, é uma onda de greves, protestos, ocupações e paralisações; esse tsunami continuou em 2014, 2015 e, com alguma desigualdade, em 2016 – o instituto citado precisa demonstrar os dados oficiais daquilo que percebemos com alguma facilidade.

Como se sabe, o grande salto foi junho de 2013. De acordo com a percepção marxista, lutas econômicas transformam-se em lutas políticas que, por sua vez, impulsionam novas lutas econômicas; as “jornadas de junho” – uma batalha com pautas políticas! – foram nada mais que este motor, este estalo, como base da nova conjuntura nacional[ii].

Então, como pode gente de esquerda ignorar, por exemplo, a luta dos professores no Paraná, o crescimento da CSP-Conlutas e do MTST, a greve dos garis no carnaval e as ocupações de escolas secundaristas por todo o país? Esses fatos deveriam significar algo importante para uma análise séria da realidade. Na verdade, como relação matéria-ideia, é um fenômeno simples de explicar aos ideólogos do PT; em linguagem dinâmica, desprovida de artifícios, apresentamos um breve resumo: após 10 anos de estabilidade, a crise aqui instalada deteriora  as condições de vida dos trabalhadores, que se veem forçados a grevar e se espelham nos vitoriosos exemplos estudantis; isso, por sua vez, acelera a desmoralização do PT e impulsiona uma crise do regime. Explicamos desse modo porque é difícil a um burocrata encastelado no sindicato ou a um erudito excêntrico acessar, ou reconhecer, esta verdade. Digamos de outro modo: se os trabalhadores grevam muito mais que antes, então, como demonstram os dados, sua consciência se esquerdizou, passou a sentir a luta direta como caminho e necessidade – não há sofisma que consiga esconder isso!

Portanto, a situação brasileira é ou uma transição entre uma situação não revolucionária (de estabilidade) para uma pré-revolucionária ou é já diretamente pré-revolucionária. Para medirmos, unimos estes fatores:  crise econômica + maior luta social + crise do regime + politização das classes medias + crescimento sindical e eleitoral da esquerda (não do PT!). Se, por acaso, ao contrário, tivéssemos crise + passividade dos trabalhadores + regime estável então = situação reacionária ou contrarrevolucionária, como a década de 1990 no primeiro caso e a ditadura militar em 1968 no segundo.

Mas como é preciso um álibi, vejamos o que nos diz Leon Trotsky. O texto a frente chama-se “O Que É Uma Situação ´Revolucionária”; adiantamos que uma situação pré ou de transição ocorre quando uma situação como a citada ainda não existe de todo, mas começa a amadurecer, a dar seus sinais:

(…) quando se alteram radicalmente as condições econômicas, a resposta psicológica, já demorada, pode aparecer muito rápido. E, assim, sucedendo rápida ou lentamente, essas mudanças inevitavelmente devem alterar o estado de ânimo das classes. Somente então temos uma situação revolucionária.

Em termos políticos, isto significa:

Que o proletariado deve perder sua confiança não apenas nos conservadores e nos liberais mas também no Partido Trabalhista. Deve concentrar sua vontade e sua coragem nos objetivos e métodos revolucionários.

Que a classe média deve perder sua confiança na grande burguesia, nos senhores, e voltar seus olhos ao proletariado revolucionário.

Que as classes possuidoras, as camarilhas governantes, rechaçadas pelas massas, perdem a confiança em si mesmas.

Essas atitudes se desenvolverão inevitavelmente, porém ainda não existem. Podem desenvolver-se num breve lapso devido à gravidade da crise. Este processo pode durar dois ou três anos, inclusive um ano. Porém, hoje é uma perspectiva, não um fato. Temos que assentar nossa política nos fatos de hoje, não nos de amanhã.

Por enquanto, partiremos de uma, apenas uma, obviedade: há uma crise econômica; esta  é a base material de toda -  toda, mesmo – a situação.[iii](Grifo nosso.)

O GOLPE REACIONÁRIO E A DIALÉTICA

Para muitos, a maior prova da hipotética “onda” é a queda do PT. Nada mais falso. Para contrapormos, basta-nos uma exemplo simples: é típico de uma situação pré-revolucionária,  como no Brasil em 1964 ou na Alemanha pouco antes do golpe de Hitler, abrir apenas possibilidades… Exemplo brasileiro: poderia desemborcar em uma revolução ou em um golpe militar. Hoje, o PT poderia cair pela via parlamentar, ou seja, burguesa, ou pela luta dos trabalhadores; afinal, Dilma atingiu míseros 7% de apoio popular, um record sequer alcançado por Collor de Melo. Mas, como sabemos, ocorreu o que Lenin chamou “Via Prussiana” e Gramsci chamou “Revolução Passiva”; a burguesia antecipou-se a algo inevitável, em caso de novo mergulho na crise, pois se o PT caísse pela luta dos assalariados poderia ocorrer, quem sabe, que horror, uma revolução... Esta é a história do país: para evitar o perigo de uma revolta geral, a classe dominante adianta-se e abole escravidão, implementa a república, faz leis trabalhistas, acaba com o semifascismo de Getúlio de modo controlado, redemocratiza o regime de modo lento nos anos 1980 etc. – mudar para não mudar, antes que o povo a faça.

O golpe tem como pano de fundo a crise econômica, a esquerdização das massas e a direitização das classes médias aristocráticas e da reação burguesa à crise. Essa realidade – que nem de longe se parece com uma onda abstrata nevoando as cabeças! – abre possibilidades, que são, apenas, possibilidades.

ELEIÇÕES: MAIS UMA VEZ A DIALÉTICA

Em seu começo, antes de 1916, em especial, Lenin tinha uma visão semikantiana da contradição; colocava sinal de oposto total entre luta econômica e política, dizia que as eleições era um “espelho”, que já mostra tudo invertido, “distorcido”. Aqui, usaremos a dialética: os votos (aparência) nas eleições são a manifestação real mais ou menos distorcida da realidade, da essência, da consciência. Por isso, em primeiro lugar consideremos um fato que por si é uma vitória:

Em São Paulo, João Doria teve uma vitória avassaladora, uma conquista sem precedentes com mais de três milhões de votos. Mas também aqui, os que não votaram em nenhum dos candidatos superaram os eleitores do empresário. Em uma tendência similar à do Rio, os votos brancos e nulos aumentaram 30% de 2012 para cá até 16,64%, enquanto a abstenção cresceu 18% se situando em 21,84% (a média nacional foi de 17,58%). São percentuais que não se viam desde 1996. (…)[iv]

Talvez seja bom lembrar: as eleições burguesas são a grande flauta da ludibriação, da mentira e da farsa; o descrédito maior desse regime é uma força latente para os revolucionários, do contrário, se a democracia dos ricos se fortalecesse ao olhos dos trabalhadores, tudo ficaria mais difícil e “conservador” para os honestos – assim, a crise do regime apontará para duas saídas ou, na dialética, duas possibilidades: ou a democracia socialista, operária e direta, ou… o fascismo. Por a classe dominante perceber isso, as atuais leis repressivas, como a anti"terrorista" aprovada por Dilma, são uma antecipação e preparação burguesa contra uma inevitável guerra social; nada menos ou mais.

E como avaliar o crescimento da direita? Ora, se o PT, que fez um governo de direita na prática, se desmoraliza e, ao mesmo tempo, as massas não encontram uma alternativa, os votos deslocam-se uma parte ao nulo/PSOL e outra para a direita; isso ocorre na Espanha, em Portugal e em qualquer outro país. Ou seja: pela crise econômica e pela traição do PT, além da debilidade da oposição de esquerda, a esquerdização inicial e centrista das massas é manifestada (dialética!) de modo distorcido, mediado, como um crescimento formal da direita.

Mais uma vez, para demonstra isso (situação pré-revolucionária e esquerdização das massas pode ser igual, também, a acréscimo de votos na direita), terei de citar o melhor exemplo, de Leon Trotsky, quando da Alemanha sob ameaça do nazismo. O trecho é um pouco longo; destacamos a relação entre conjuntura favorável, enfraquecimento do reformismo e, contraditoriamente, crescimento do voto nazista, da extrema-direita:

A imprensa oficial do Comintern interpreta agora os resultados das eleiçons da Alemanha [Setembro de 1930] como umha prodigiosa vitória do comunismo, que situaria na ordem do dia a palavra-de-ordem da "Alemanha soviética".

Os burocratas optimistas recusam reflectir sobre o significado da relaçom de forças revelada polas estatísticas eleitorais. Examinam o incremento de votos comunistas independentemente das tarefas revolucionárias criadas pola situaçom e os obstáculos estabelecidos. O partido comunista recebeu por volta de 4.600.000 votos, face aos 3.300.000 em 1928. Do ponto de vista dos mecanismos "normais" do palamentarismo, o ganho de 1.300.000 votos é considerável, mesmo levando em conta o aumento no número total de votantes. Mas o ganho do partido fica ensombrado completamente se comparado com o progresso do fascismo, que passa de 800.000 a 6.400.000 votos. De nom menor importáncia para a avaliaçom das eleiçons é o facto de a social democracia, apesar das perdas substanciais, reter os seus quadros principais e ainda receber um maior número de votos operários [8.600.000] do que o Partido Comunista.

No entanto, se nos perguntarmos que combinaçom de circunstáncias internas e externas poderiam fazer virar a classe operária do lado do comunismo com maior velocidade, nom acharíamos um exemplo de melhores circunstáncias para um giro tal do que a actual situaçom na Alemanha: A soga do Young (1*), a crise económica, a decadência dos dirigentes, a crise do parlamentarismo, o incrível auto-desmascaramento da social democracia no poder. Do ponto de vista destas cirscunstáncias históricas concretas, a influência do Partido Comunista na vida social do país, apesar do ganho de 1.300.000 votos, devém proporcionalmente pequena.

A fraqueza da posiçom do comunismo, totalmente ligada à política e funcionamento interno do Comintern, revela-se mais claramente se compararmos o peso social actual do Partido Comunista com estas concretas e inadiáveis tarefas que as actuais circunstáncias históricas colocárom na sua frente.

(…)

Para além do mais, a primeira qualidade de um autêntico partido revolucionário é a de ser capaz de olhar a realidade cara a cara.[v]

Para que o leitor veja isso com maior profundidade, a corrente Esquerda Marxista, refutou a tese da “onda” nas eleições (2014) com um texto obrigatório, disponível na nota de fim[vi]. Reforço a atenção do possível leitor, pois reforçar os dados é uma forma de combater esta ideologia antimarxista. Vejamos uma parte singular do texto:

“De um total de mais de 142 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 43.267.668 votos (30,29%). Em segundo lugar ficou NDA com 38.798.244 votos (27,17%)! Só em terceiro lugar é que aparece o candidato do PSDB, Aécio Neves, com 34.897.211 (24,43%), quase 4 milhões de votos atrás de NDA! E Marina Silva fez 22.176.619 votos (15,53%), terminando em 4º lugar, quase 17 milhões de votos atrás de NDA!”

“Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições anteriores. Em 2010, havia 7 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 135 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 47.651.434 votos (35,09%). Em segundo lugar ficou novamente NDA com 34.213.890 votos (25,19%)! Só em terceiro lugar novamente é que aparece o candidato do PSDB, José Serra, com 33.132.283 votos (24,4%), desta vez pouco mais de 1 milhão de votos atrás de NDA! E Marina Silva, então pelo PV, fez 19.636.359 votos (14,46%).”

“Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições de 2006, quando havia quase 17 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 125 milhões de eleitores no Brasil, Lula ficou em primeiro lugar, com 46.662.365 votos (37,06%). Em segundo lugar ficou Geraldo Alckmin, do PSDB, com 39.968.369 votos (31,74%)! Há 8 anos, só em terceiro lugar é que aparecia o NDA, com 29.916.401 votos (23,76%), daquela vez pouco mais de 10 milhões de votos atrás do candidato tucano!”

Mas, para o petismo oficial, contra argumentos não há fatos! Ou dados!

MATÉRIA E IDEIA

Um governo de frente popular, burguês com participação de organismos de esquerda na gestão do Estado, é um governo anormal, anômalo. Bom; os governos Lula e Dilma foram a anormalidade dentro da anormalidade, pois governaram não diante de uma grande crise – como Allende –, e sim como método preventivo, antecipador e “prussiano” por parte da burguesia. Por isso, com crescimento econômico, pôde promover reformas com armadilhas. Alguns casos:

1.      Luz para todos. Uma reforma, uma melhoria de vida, cujo objetivo era permitir o aumento do consumo, do comércio, para inflar a economia capitalista;
2.      Bolsa família. Idem ao 1 e, ao mesmo tempo, evitar motins sociais;
3.      Reuni, Prouni, fies etc. Também “reformas com armadilhas” porque objetivava, ao mesmo tempo em que dava acesso ao ensino superior, enriquecer empresas de educação e aumentar a oferta de profissionais qualificados com baixos salários;
4.      Mais Médicos. Uma das poucas reformas sem armadilhas, pois, em verdade, é uma vitória colateral das jornadas de junho e da necessidade de ganhar as eleições com votos não urbanos.

Vemos que o reformismo fraco do PT, acompanhado pelo aumento da dívida pública e contrarreformas, se dissolveu com a crise, já que este partido tentou provar sua lealdade à burguesia “esquecendo-se” que só estava no poder formal na medida em que poderia controlar a luta de classes, quer dizer, enganar e pacificar os trabalhadores.  Mas já não mais consegue. Agora, a CUT e o PT estão mais frágeis, mais suscetíveis a pressões sociais (por exemplo: por que não grevar contra Temer se vocês não mais estão no governo?, Poderá perguntar um carteiro ao presidente do sindicato…). Essas duas organizações são um dos pilares do regime, dessa farsa, e portanto suas quedas são a antessala necessária para a revolução brasileira. Por si só, o balanço do petismo nas eleições é uma alegria vermelha.

OS INTELECTUAIS

Por último, duas sílabas.

Programas como o Reuni transformaram filhos de camponeses e trabalhadores precarizados em professores universitários, com seus mestrados e doutorados. Queiramos ou não, isso tem consequências: os partidos de esquerda são muito mais correntes universitárias que de operários, precários e da periferia; essa gente honesta e inteligente da academia absorve e subjetiva a personalidade objetiva da superestrutura, onde trabalham: os eruditos pendulam entre posições, seguem modas intelectuais, possuem uma gratidão constrangida e contraída para com o governo Lula e, como aristocracia entre os assalariados, têm dificuldade de entender as lutas sociais na media em que é ruim sair da paz na sua escrivaninha enquanto outros tantos comem mal e se locomovem de ônibus. Como aprendem e apreendem a vida por meio das palavras e a dor da vida material é menor entre eles, o peso da subjetividade é maior entre os intelectuais, são mais suscetíveis aos impactos das notícias e aos fatos imediatos, ora pendem ao otimismo e ora ao pessimismo, confundem discurso e a aparência dos fenômenos com a essência. Daqui não supomos um “anti-intelectualismo”, longe disso: a força dos operários e de um país também se mede pelo nível de atração que estes exercem sobre os artistas, pensadores e, às vezes, sobre os filhos mais inteligentes da burguesia.

É inevitável; neste momento, a esquerda precisa ser pequeno burguesa para, ao aglutinar gente, poder torna-se uma organização firme dos que “não tem nada a perder, a não ser seus grilhões”. Para isso pesa os acertos ou erros políticos; mesmo organizações revolucionárias, neste momento de tensão social, cometerão erros típicos do idealismo, como a tese petista “onda conservadora” – por enquanto, há tempo para falhar, aprender e corrigir.

Para cada onda conservadora da burguesia e da classe média aristocrática, com suas passeatas vestidos de CBF, existe uma onda contrária de greves, ocupações, protestos e diálogos revoltados em paradas de coletivos públicos. Isto se chama luta de classes. Por outro lado, nosso país sempre foi conservador quanto à moral; apenas nas décadas de 1970 e 1980 as mentalidades foram mais liberais por influência da pílula do dia seguinte, do rock, das revoluções e da redemocratização do país influenciando a consciência, a filosofia, os valores, a TV (a nudez, por exemplo) etc. Portanto, falar em conservadorismo é um péssimo argumento; de fato, o fanatismo religioso cresce como sintoma e consequência – não causa! – da decadência social. No futuro, uma ditadura fascista de base teocrática será uma hipótese, mas só ocorrerá se a tendência, oposta, de essa crise desemborcar em revolução for derrotada, for impedida pelos ricos e traída pelos pelegos. Isso passa por entender que a onda é progressista, além de perigosa; sejamos mais inteligentes que a burguesia.






Análise da corrente MRT desses dados:  http://www.esquerdadiario.com.br/Maior-numero-de-greves-na-historia-recente-primeiras-hipoteses-lendo-os-dados-do-DIEESE
[ii] A burguesia, inteligente e assustada, ao ver falhar a tentativa de derrotar o movimento para a uma ova manobra, apoiar cinicamente a luta, que apenas ao final se degenerou em ato cívico. De qualquer odo, o sino bateu e a classe dominante sobe do que se tratava, que s tratava de algo novo e perigoso a ela.
[iv] http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/politica/1475522954_666169.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
[v]  https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/09/perigo.htm
[vi] http://www.marxismo.org.br/content/nao-existe-onda-conservadora-no-brasil-nem-em-sp