sábado, 24 de dezembro de 2016

É Possível Uma Solução Comunista Para o Brasil

É POSSÍVEL UMA SOLUÇÃO COMUNISTA PARA O BRASIL

 
O país está diante de uma normalidade anormal, uma duríssima crise do capitalismo. A quebra mundial, 2008, revelou uma superprodução crônica e uma hiperinflação do capital fictício, que não encontra água para beber no chão do mundo. As austeridades europeia e norteamericana reduziram drasticamente a capacidade de consumo, levando a tendência à recessão na China – principal fonte de exportação do país – e, com algum atraso, colocou o Brasil nesta órbita. A crise é nacional e, ao mesmo tempo, mundial; se a quebra das economias centrais gerou uma fuga inicial de capitais para nosso país, permitindo adiar a crise (redução de juros; minha casa, minha vida; aumento real dos salários; etc.); isto encerrou-se. Para manter e elevar a taxa de lucro e vencer concorrência, a burguesia está tentando aplicar duras medidas antitrabalhistas, ou seja, destruindo tanto quanto possível toda a dignidade dos assalariados. Considerado o todo, crise pode ser também oportunidade se – e somente se – soubermos como sair dela e qual a melhor forma de dela sair. Sobre este tema debateremos.

UMA MUDANÇA DE REGIME

Desde o momento em que Dilma aprovou a lei “antiterrorista” até o golpe jurídico-parlamentar, verificamos uma alteração, uma mudança no regime político brasileiro: de democracia burguesa presidencialista para semibonapartismo. Todos os ritos de legalidade foram quebrados: a justiça passa a legislar e criar “lei em movimento”, como a condução coercitiva, por fora da letra morta constitucional; os parlamentos sustentam-se nas mais cínicas manobras; vez ou outra, explodem tensões entre instituições; novas regras eleitorais fragilizam a esquerda; e o caráter repressor do Estado foi, enfim, fortalecido – tudo isso ocorre no mesmo momento em que as instituições estão desmoralizadas perante os trabalhadores. Trata-se de um regime de transição para uma ditadura ou para a democracia socialista.

Ao contrário do que supõe o raciocínio formal e das aparências, a causa desta mudança é mais do que as conspirações por poder. A causa das causas é a crise econômica: uma vez aqui instalada, estimula as mais variadas formas de luta de classes – greves, ocupações, protestos, “paneladas” da classe média aristocrática, voto nulo, etc. – o que tende, com algum atraso, a alterar a superestrutura, o regime político do Estado burguês ao mesmo tempo em que gera rachaduras internas neste e noutros organismos. Enfim, um cheiro incerto de guerra civil paira no ar, aqui e ali. Todas as manobras e bizarrices governamentais – todo golpe precisa de algum nível de conspiração – são a fumaça tóxica do pavio, do barriu de pólvora nacional e internacional.

Por isso, o golpe reacionário assim como junho de 2013 são nossos balizadores; são fatos centrais, manifestações de um mesmo processo. Com a demissão de Levy, a burguesia percebeu a incapacidade do governo Dilma de continuar a implementação do programa de ataques contra os trabalhadores, para aumentar os lucros patronais; mal o governo, à beira da queda e desprovido de apoio das massas, tentou um giro semi-keynesiano para agregar alguma moral e, então, começou o processo de sua derrubada. A classe trabalhadora viu-se confusa, o instinto classista pediu para aguardar: a maioria estava insatisfeita com o governo, mas tinha gratidão para com o lulismo por razão do período anterior, e desconfiou desde o início do processo de “impedimento”; se deixou de ir às ruas, foi por falta de direção decidida e firme. Assim, o golpe reacionário é uma transição, um ensaio geral para um futuro golpe contrarrevolucionário ao consolidar uma mudança “parcial” do regime (iniciada, reforçamos, pelo petismo).

Esta questão abriu, a partir dos protestos de classe média em 2015, um momento defensivo dentro de uma mesma situação. Estamos acuados. A burguesia brasileira mostra-se ao mesmo tempo inteligente e violenta: ora antecipa-se aos movimentos da classe trabalhadora por meio de algumas concessões e ora prioriza a repressão. Uma fração golpista e, no começo, minoritária surgirá nas Forças Amadas (já há oficiais de reserva falando disso publicamente em matérias jornalísticas); porém, é muito difícil aplicar um regime do tipo em países muito urbanos como Brasil – o fascismo revela-se melhor nessa tarefa. Caso não surja um partido do tipo nazista com alguma influência de massas; talvez surja uma mediação, um semifascismo apoiado no fanatismo evangélico, dando ares fundamentalistas ao próximo regime. Aos mais iludidos com a falácia “Estado Democrático de Direito”, alertamos que os fascismo – ainda – parlamentar de Bolsonaro tem já influência de massas entre a classe média, a pequena burguesia e pequenos comerciantes, em especial; por outro lado, a ditadura brasileira caiu por mediação, de modo prussiano ou “revolução passiva”, gradual, fazendo com que muitos trabalhadores pensem “quem sabe, um governo militar resolveria essa bagunça” – assim, o golpe contra o proletariado apareceria como um golpe contra a corrupção desmedida dos políticos. Como evitar isso? Movendo os trabalhadores por suas reivindicações de modo cada vez mais qualificado, colocando o aparato de repressão e sua baixa patente numa importante e vital contradição: seguir as ordem da burguesia e reprimir com sangue ou passar para o lado da maioria, dos irmãos de classe dos soldados e suboficiais.

Na mesma medida, a PT e o petismo desmoralizam-se numa velocidade maior que o lulismo, que também tende a encerrar-se; mas estas desmoralizações, embora desiguais, nada mais são que a desmoralização do próprio regime democrático burguês[1] expresso no oportunismo petista, serviçal dos patrões. Por outro lado, perderam também boa parte do apoio na burguesia; quer dizer, uma futura e necessária desmoralização de Lula é vital seja para uma ditadura burguesa, seja para mover a classe por sua revolução socialista. A realidade exige de nós máxima atenção e trabalho coletivo: esta instabilidade econômica, social e política tem seu limite, impossível alargá-la indefinidamente no tempo e deverá ser resolvida de um modo ou de outro.

POR QUAL CAMINHO?

O aumento expressivo do desemprego tem minado a força e a dignidade da classe trabalhadora; por outro lado, cada vez mais impaciente e estressada, ela espera a situação econômica melhorar. Mas mesmo os economistas burgueses falam em “crise secular”, em longa duração, em uma crise diferente, etc. Poderá haver apenas crescimentos econômicos anêmicos e de curta duração, pois, em realidade, a tendência constante é de crise e recuo civilizacional. Precisamos impedir este processo.
Em primeiro lugar lutando pelas pautas imediatas (contra a PEC 55, o negociado versus legislado, reforma da previdência, etc.); por generalização – origem comum – dos principais problemas sociais, propomos três palavras de ordem:

1.      Redução da jornada de trabalho, com os mesmos salários, na proporção a permitir “Desemprego Zero”;
2.      Boicote ao pagamento das dívidas públicas;
3.      Imposto progressivo: pagar mais quem ganha mais.

A primeira atrai os operários e os trabalhadores do setor privado – principalmente; a segunda, em principal o conjunto dos servidores públicos; a terceira, centralmente as classes médias. Ao mesmo tempo, estas palavras de ordem são palatáveis e boas para os três setores e tendem à confluência. Neste sentido, tendem a tirar nossa classe da situação defensiva em que se encontra – expressas no decair das lutas a partir de 2015 e nas lutas “apenas” por não perder diretos – e a colocar numa postura ofensiva, positiva.

O programa transicional procura revolver uma desigualdade, uma contradição entre consciência atrasada dos trabalhadores e a realidade necessitante de um novo sistema econômico-social. As propostas acima, quando articuladas – em principal, a primeira[2] –, parecem em si reformistas, porém são impraticáveis sob o capitalismo, ainda mais se este está em crise. O operário precário pensará: “o socialismo é uma proposta exageradas, mesmo sendo uma ideia bonita; já esta proposta daquele partido, de reduzir a jornada, é boa: os patrões não vão entregar os pontos com facilidade, então se tiver briga por essa ideia, que é mais realista e viável, se for brigar para vencer, não para fazer média, estou dentro.” O argumento do maior tempo livre e descanso e o aumento do consumo por aumento do número de empregados têm força: promoverá a união de empregados e desempregados numa luta comum – e nacional. No mesmo sentido, as consignas acima tendem a unir os setores não-capitalistas: por exemplo, a luta por imposto progressivo ensina à classe média e à pequena burguesia a ver e perceber o grande empresariado como seus inimigos, ou seja, tem classismo embutido. É de Trotsky de onde tiramos a afirmação de que é mais fácil o capitalismo cair a estas propostas serem, nesta sociedade, implementadas: o fim do desemprego, por exemplo, significará o fim da força de trabalho como mercadoria e, também, a redução do mais-valor, do trabalho não pago, do tempo em que o trabalhador trabalha de graça ao patrão, a tal ponto que o conflito distributivo gerará guerra civil[3].

Aqui, precisamos evitar alguns possíveis erros. Em primeiro, pouco agrega pensar o programa como uma longa receita de bolo onde há propostas sobre absolutamente tudo; em segundo, importante fugir da tendência a elaborar política para nos diferenciarmos uns dos outros, umas correstes das outras; em terceiro, condenar o desvio ultraesquerdista de propor palavras de ordem as mais radicais possíveis para a situação; em quarto, evitar o erro de caracterizar a conjuntura como marxista, mas propor saídas como reformista ou centrista. É a realidade quem nos diz o que fazer e elaborar; entre o real e o ideal, a política deve ser a ponte, a transição; por isso, por exemplo, se amanhã aparecer diante de nós uma hiperinflação, tentaremos unificar as lutas parciais por salários em uma única luta por “gatilho salarial” ou “aumento automático dos salários na mesma proporção ao aumento dos preços”. Duas ou três palavras de ordem devem guiar as ações: em todas as lutas parciais cabe à esquerda esclarecer exaustivamente e com a melhor linguagem possível que seus problemas e as do conjunto de sua classe têm origem na falta de redução da jornada, na dívida e no problema dos impostos. Enchamos o país de cartazes. Assim como num certo momento a ideia de “eleições gerais” começou a espalhar-se naturalmente, boca a boca; devemos dar o máximo impulso inicial e constante às propostas até que se tornem populares. Dito de outro modo e mais profundo, o país tem apenas duas alternativas: a burguesa, fascismo e deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores; ou o socialismo.

COM QUAIS MEIOS?

Parece ser consenso entre a esquerda antipetista a necessidade de chamar uma greve geral. Assim como a burguesia chama reformas suas contrarreformas, a burocracia sindical europeia batizou “greve geral” suas paralizações nacionais de um dia. Esta Novi língua tem por objetivo confundir, dar alguma moral aos oportunistas e afirmar que “pelo menos fizemos algo”. Por consequência, este método de luta se desmoraliza, pois esvazia parte da tensão social sem obter alguma importante vitória. No mesmo sentido, a CUT tem ensaiado paralizações gerais ou dias de luta que enganam e empolgam apenas... a esquerda. A burocracia grita para si em grandes carros de som, canta músicas de protesto e faz ameaças verbais contra a patronal para depois, na calmaria dos escritórios, trair nossa classe. É um teatro “invisível” no sentido estrito. As caravanas à Brasília, reunindo apenas a vanguarda e afastando-a da base, vão no mesmo sentido performático e exigem muito esforço militante pouco produtivo.

Por isso, é importante evitar o mecanicismo. França e Itália são pequenos países, do tamanho ou menores que os estados da federação brasileira; podem organizar com alguma facilidade uma greve geral ou paralização, de fato, geral. Algo do tipo no Brasil teria consequências, boas ou ruins, mais intensas. Necessitamos preparar uma greve geral por tempo indeterminado, por propostas corretas, como as levantadas acima. Suponhamos que surja uma greve geral, mas ocorra por pautas não centrais para a conjuntura, que não empurrem a classe para a revolução; então, por consequência, a vitória se transformará em derrota, em reação burguesa assustada e redobrada logo depois deste evento. Evitemos o fetiche; a greve geral não é um fim em si mesmo e não traz qualquer vitória mecânica. Exemplo: na década de 1930, os operários franceses organizaram uma greve geral, com ocupações nacionais de fábricas, contra a hiperinflação, por aumento geral de salários; conseguiram esta importante vitória parcial, mas, logo depois, os capitalistas aproveitaram o recuo da classe para corroer os salários com mais inflação e com um aumento da repressão policial-militar – incluso bandos fascistas – sobre os trabalhadores e a sua vanguarda; naquele momento a palavra de ordem correta não era exigir aumento dos salários, e sim gatilho salarial. Dito isso, não é hora para puxarmos uma greve geral como método de luta: paralizações estaduais, greves gerais por setor, unificação de greves, três dias nacionais de luta por pautas concretas, protestos de rua, etc. são a transição necessária.

Suponhamos, no entanto, que o autor esteja errado, que é possível e necessário uma greve geral imediata. Mesmo assim, devemos recuar… Mais uma vez, um exemplo: em agosto de 1917, as condições eram maduras para a revolução socialista, porém o partido bolchevique evitou-a, incluso paralisando as greves que tendiam à guerra civil. Por quê? Porque era preciso antes ganhar os camponeses, pois apenas com o campesinato seria possível tomar o poder e, após isso, sustentar este poder, as consequências e a vitória; assim foi em outubro de 1917, pois apenderam com a derrota da revolução de 1905. Caso houvesse greve geral amanhã, a esquerda seria incapaz de absorver positivamente as consequências: somos muito minoritários, quase marginais em relação ao tamanho do país e das tarefas.

Para prepararmos esta greve geral revolucionária é preciso unidade de ação com todas as correntes possíveis e frente única da esquerda não petista. Os revolucionários buscam a unidade da classe, mas esta mesma unidade não se dará em abstrato, por fora das mais variadas organizações: enquanto não houver um partido revolucionário majoritário no Brasil, a unidade será a mediação necessária. No mais, vale lembrar que os bolcheviques puderam protagonizar a revolução russa porque contaram com uma frente única com os Socialistas Revolucionários de Esquerda, um partido centrista majoritário entre os camponeses pobres.

Assim também, não precisamos esperar que todos setores estejam ou estejam na mesma medida maduros para grandes batalhas preparatórias: basta-nos movermos grandes setores importantes, de vanguarda do proletariado, em torno das propostas e da esquerda para arrastar junto consigo e empolgar todos os demais setores da retaguarda prejudicados pela crise. Não se trata, portanto, de negar a greve geral – que deve ser desde já divulgada entre os ativistas como propaganda –, mas de prepará-la, de acionar exaustivamente esta palavra de ordem tão logo as demais se popularizem e na medida em que as lutas começarem a se generalizar[4].

Se conseguirmos; a partir do programa transicional, ao enfim puxarmos a proposta “greve geral até que nossas reivindicações sejam atendidas!”, ou a burocracia se moverá forçada pela base ou trairá e se desmoralizará, o que, nos dois casos, colocará a oposição de esquerda na possibilidade real de ser a nova direção majoritária das massas. Uma vez popularizadas as palavras de ordem transicionais e uma vez que, na medida em que movem a classe, estas propostas tomarão ares de greve geral e conflitos físicos acentuados[5]; então, depois e provavelmente apenas depois disso, estará colocada na ordem do dia a revolução social e a necessidade de organizar “comitês dos trabalhadores contra a crise” nos locais de trabalho e bairros e “autodefesa operária e popular” enquanto embriões de poder revolucionário[6] propostas pelos comunistas caso não surjam ou se generalizem de modo espontâneo; e serão organismos da greve geral ou consequências de sua aplicação. A realidade poderá sair, menos ou mais, do esquema geral? Poderá. Esquemas não são marxismo: neste parágrafo, aqui, oferecemos a tendência em geral[7] e adaptável para caso saibamos vencer, para caso as propostas – uma vez corretas – consigam ser implementadas. Se depois de amanhã a conjuntura mudar – em principal, sem que nela tenhamos intervido de modo decisivo –, deveremos mudar ou adaptar as consignas usando o mesmo método e buscando o mesmo objetivo (ver nota 4). Pois nossa época começa a ser marcada por mudanças bruscas e repentinas, exigindo teoria, apreensão da natureza geral e essencial dos fatos, antecipar as tendências (“dirigir é prever”, diz Trotsky), intuição, adaptabilidade, acúmulo de experiência prática, intimidade com o modo de vida dos trabalhadores, criatividade e, às vezes, improvisos; além de lideranças firmes, de iniciativa e ousadas. De qualquer modo, cedo ou tarde (ou tarde demais), haverá rebeliões dos assalariados; se serão espontâneas ou organizadas de maneira democrática junto aos comunistas significará toda a diferença entre derrota ou vitória, entre desmoralização ou resultado positivo – mesmo. Esta é uma lei histórica, até o momento, inquebrável, demonstrada por todo o século XX.

A SEMENTE NECESSÁRIA

Adiantamos que, além de ter razão, os comunistas e os trabalhadores precisam de seu próprio partido, condição sine qua non; daqui para frente, por vários meios poderemos dar um duplo mergulho nesta dura retração econômica: se China entrar em recessão, se houver alguma importante guerra, se os altos juros criarem uma crise financeira, se o excesso de capital-dinheiro gerar hiperinflação, se algum país imperialista quebrar na próxima manifestação da crise mundial, etc. Portanto, debatemos a conjuntura pensando o futuro: de um lado, a estratégia socialista; de outro, maior aprofundamento da crise em médio prazo. Neste momento, realidade e a classe operária precisam de gente dura mais que de mediadores, combatentes mais que diplomatas, radicais mais que moderados, coragem mais que estabilidade, “dizer na cara” mais que se fazer ouvido por troianos e gregos, ousadia mais que “mais do mesmo”, esclarecimento mais que fuga dos problemas, análises e discursos com propostas práticas acima dos debates como fim em si próprios, etc. Enfim, precisamos de rebeldes disciplinados, inteligentes, de verdade democráticos e responsáveis.

Acabou-se o tempo da pequena política, da manobra, dos jogos parlamentares, dos conflitos nucleares, das picuinhas, do girar-se sempre para dentro. A esquerda revolucionária conviveu com mais ou menos 20 anos de refluxo, de relativa calmaria; perdeu o adestramento, o brio e a ambição – basta ser revolucionário e “tocar a vida”. “Meu partido é bolchevique, mas não tem pretensões de ser o grande partido de massas” – pensa o militante ou o dirigente, embora sem perceber que assim pensa. Podemos e devemos pensar alto. Para vencermos é importante ter foco, evitar abraçar o mundo antes de, de fato, abraçá-lo: aqueles que “nada têm a perder” serão a vanguarda e precisam encontrar boas ideias. Aquela ou aquelas organizações que nos próximos três ou quatro anos estejam íntimas da classe operária não aristocrática, dos principais e maiores batalhões de assalariados, da juventude trabalhadora precária e da periferia serão lembradas por todo o sempre como os mais belos amantes da humanidade e da dignidade humana.









[1] Seja qual for sua forma – grega, burguesa ou socialista –, a democracia apenas prospera e se mantém a médio e longo prazos se há paz social, ou seja, qualidade de vida; além de correspondente concentração
humana, em especial, na urbanidade.
[2] A primeira proposta, digamos, contamina as demais, tornando-as transicionais. Portanto, esta hierarquiza as outras, é a principal; mas não, nesta conjuntura, a única necessária a ser levantada.
[3] Talvez, a oposição de esquerda ainda não tomou nota da importância dessa palavra de ordem porque é formada majoritariamente por estudantes e servidores públicos com – ainda – alguma estabilidade.
[4] Pode haver uma ou outra exceção a mudar a regra. Por exemplo: se o “negociado sobre o legislado” for devidamente denunciado entre os trabalhadores (antes de uma possível mudança de regime), poderá gerar revolta social plena, mais ou menos espontânea. Mas apenas poderá… Pois podemos prever apenas a tendência geral do rumo da realidade e suas possibilidades abertas, na medida em que as nem sempre previsíveis decisões humanas empurram para este ou aquele caminho. Da mesma forma, um golpe contrarrevolucionário no Brasil exigiria amplíssima unidade de ação – incluso greve geral – contra o golpe com setores petistas, burgueses democráticos, etc. A falta disso ou a implementação disso de modo por demasiado falho acarretará uma derrota histórica garantida. Este artigo, aberto este parênteses, foca na análise da conjuntura e política atuais e a tendência geral caso consigamos intervir de modo decisivo na luta de classes; portanto, amanhã decidiremos o amanhã – meios fixos para a estratégia é formalismo, antimarxismo. Em intervalos relativamente curtos, ano a ano ou a cada dois anos, ou diante de alguma mudança expressiva na realidade (golpe, etc.), os marxistas devem reforçar a análise e caracterização para avaliar se mantém ou mudam os aspectos gerais e os detalhes de sua política aprovada; em transições para situações revolucionárias, por outro lado, onde toda a história se acelera, e aceleram-se também suas contradições, a elaboração política multiplica sua centralidade – neste instante, o fator subjetivo, o partido, faz toda a diferença (para a vitória ou derrota).
[5] Incluso dos trabalhadores contra os pelegos, e vice-versa.
[6] Nossa tarefa é, então, ganhar o máximo de sindicados e, na primeira oportunidade, enfrentá-los e destruí-los. Pouco provável que esquerda se torne maioria nestes organismos burocratizados, conservadores e estatais. Vale lembrar que os mencheviques dirigiam a maioria dos sindicados em outubro de 1917; e os bolcheviques eram maioria nos organismo de luta e poder, nos soviets. No momento, mais importante do que dirigir organismos sindicais – tarefa que tem sua perigosa importância – é estar entrelaçados com os trabalhadores no cotidiano, nas lutas, nos organismos de luta que porventura surjam (comitês de fabrica, etc.) e, central, na disputa de consciência.
[7] Por exemplo: certo e claro que uma greve geral do tipo acarretará na tentativa de traição e capitulação desesperada por parte burocracia sindical de esquerda, sim ou sim.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Contribuições Para Um Programa de Transição no Século XXI

Apresentamos abaixo uma atualização ao programa de transição. Tema sensível ao marxismo, desde o lançamento, 1938, o manifesto comunista de nossa época pode ser acrescentado e/ou adaptado a nossa realidade, ao capitalismo no século XXI. Aqui, não focaremos em todos os pontos: quatro consignas transicionais serão prioridade, junto à busca do ineditismo, quer dizer, resolver as lacunas no programa dos revolucionários. Para isso, levamos em conta a necessidade de amplo debate democrático e contributivo, desprovido de dogmas, e de elaboração teórica e programática necessariamente coletiva.

O OPERARIADO DO CAMPO E O CONTROLE DAS TERRAS

O programa socialista para o campo, diante da proletarização do camponês e o agronegócio, pode e necessita ir além da tradicional luta por reforma e revolução agrária. Para isso, propomos:

Que o proletariado do campo, junto aos demais trabalhadores, lute para exigir dos patrões e do Estado que uma parte obrigatória e proporcional das terras seja destinada somente à produção de alimentos da cesta básica, como arroz e feijão. O maquinário e esse trecho de terra deverão estar à disposição do trabalho coletivo dos funcionários e terão total autonomia no destino da colheita, quanto consumirá e quanto destinará aos mercados populares das cidades.

Com isso, espera-se:

1. Gerar luta de classes;
2. Diminuir o peso inflacionário da soja e dos produtos de exportação que desestimulam a produção de alimentos;
3. Unir cidade e campo numa luta comum;
4. Educar os operários de origem camponesa – pequena burguesia – em métodos coletivistas, com suas vantagens produtivas, permitindo a percepção de que poderia cuidar da produção sem o latifundiário;
5. Gerar a semente de uma luta de classes por controle proporcional maior da terra e de toda ela;
6. Se a luta por essa pauta for possível mas a proposta não for aplicável sob relações capitalistas, então teremos uma palavra de ordem transicional, ou seja, parece reformista, porém força a classe à novas conclusões e a empurra para a revolução.

No decorrer dessa luta ou após a vitória, os trabalhadores devem formar “comissões de produção” subordinadas à base para coordenar a luta e para cuidar, em caso de vitória, da parte administrativa. Estas comissões deverão ser autônomas em relação aos sindicatos, que, quando combativos, devem dar suporte à luta e, após, inspecionar a patronal.

CORRUPÇÃO E CONTROLE OPERÁRIO

A corrupção em empresas estatais e privadas tem gerado, de um lado, revolta e, de outro, insegurança aos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a burguesia costuma usar de casos específicos para desmoralizar a concorrência, para privatizar uma estatal, etc. Sendo esta pauta importantíssima, propomos comissões operárias para averiguar as contas da patronal, avaliar o problema e propor soluções.

Esses organismos dos trabalhadores podem concluir e exigir:

– Contra a imunda corrupção dos dirigentes da estatal, gestão operária e democrática! – Não à privatização!
– Diante da crise das contas da empresa e do caso de corrupção em que se envolveu com o Estado, estatização sob administração operária!
– Diante do fato de a empresa ter crescido com isenções de impostos, contratos com o Estado e corrupção, estatização sob gestão dos trabalhadores!

Assim, poderemos oferecer alternativa proletária para a luta contra a corrupção – a gestão operária e democrática das empresas.

COMITÊS DE BAIRRO E EMPREGO

Quando uma crise econômica se aprofunda, com atraso ou não, os trabalhadores precários tenderão à luta. A alta urbanidade é um dos sintomas do fim desse sistema, aglutinando uma massa enorme de escravos assalariados e daqueles que sequer conseguem ser escravos! É preciso oferecer um suporte: comitês de bairro poderão ser fundados para a luta dos desempregados, além de ligar as lutas parciais e locais da comunidade com a nacional. E, em caso de luta generalizada, serão embriões de poder socialista fora dos locais de trabalho.

Portanto, irão além das “associações”, pois terão como causa as questões do trabalho, ou seja, a falta dele. Paralelo a isso, na medida em que aglutinam e lutam, podem adquirir moral e direito de tratar de todas as questões localizadas e nacionais. Os comitês “por emprego e contra crise” podem organizar aqueles inacessíveis aos sindicatos.   

SEGURANÇA E AUTODEFESA

Como demonstram os casos mexicano e brasileiro, as principais vítimas da violência urbana são os trabalhadores. Traficantes, tropas do Estado, milícias policiais e a bandidagem agem com a violência típica dos mercenários. Em situações de crise mais aguda, quando este problema já não pode ser tolerado durante a rotina, faz-se necessário a formação de grupos voluntários de autodefesa operária nos bairros.

Entre as primeiras preocupações entre os trabalhadores, a crise da civilização expressa na violência cotidiana tem gerado traumas, perdas materiais, mortes evitáveis e stress contínuo. Em situações limites, como diante de uma depressão econômica, onde a violência se prolifera, surgem surtos de revolta popular que tendem a surgir de repente e a se generalizar. São nestes momentos quando se abre a possibilidade e a necessidade de uma alternativa de segurança por fora do Estado burguês – e contra ele.

Que os pacifistas envergonhados e disfarçados se assustem e a pequena burguesia clame pela paz capitalista; quando a situação se degenera, necessita ação firme: a luta por milícias operárias de segurança pública pode ser, se associada a outras pautas, a antessala da revolução.

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (1)

– Financiar os serviços públicos, como educação e saúde, com um imposto especial e progressivo sobre o lucro das empresas privadas do mesmo tipo. Exemplo: parte do lucro no ensino privado deve ser automaticamente destinada às verbas do ensino público.

– Universidade pública deve abrir vagas apenas para aqueles sem condições financeiras de pagar por ensino privado. Enquanto não universalizar o acesso, vagas apenas aos filhos dos trabalhadores que ganham até quatro salários mínimos!

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (2): OCUPAÇÕES URBANAS

Uma questão vez ou outra levantada pós-vitória de uma ocupação é a dissolução da cultura da coletividade e luta. Acontece com frequência. Com a conquista, a necessidade de lutar diminui; a associação de bairro não se dissolve, mas também não agrega, mesmo com muita moral. Do ponto de vista socialista, no entanto, manter algum nível de integração organizada entre os moradores é vital para a estratégia. Aqui apresentaremos algumas indicações, propostas e apontamentos. E, é claro, só aqueles que vivem a prática ocupante, o dia a dia, podem dar o veredito final.

Nas ocupações rurais vemos o mesmo fenômeno das urbanas: coletividade para a conquista; depois, individualização para a divisão das terras por fim conquistadas. É uma diferença importante com o movimento operário. Uma ocupação de fábrica é necessariamente coletiva e coletivizante, antes e após. Não dá para dividir a empresa ocupada ou suas máquinas em pedaços, um pouco para cada. Só pode haver produção e consolidação da luta com o uso coletivo dos meios de produção e com o trabalho organizado, unido, de milhares de operários.

Espaço é poder. A forma de organizá-lo tem consequência prática-ideológica. Para resolver ou amenizar a contradição levantada, do ponto de vista dos sem-tetos, ao final do processo: garantir a construção de prédios (ou a ocupação de um) otimiza o espaço, ou seja, facilita a continuidade da integração social e política. Podemos apresentar duas vantagens dos condomínios:

1. Após a vitória, moradias entregues, a eleição dos síndicos, dos representantes por andar, da equipe de segurança, as assembleias para decidir a gerência e os conflitos permitem perpetuar a coletividade interna;

2. Pode-se usar o espaço excedente para construir outros prédios (já que aproveita a verticalização), trabalhar hortas coletivas, clubes do bairro, etc. Ou seja: com a tática desse formato pode-se agregar mais trabalhadores (concentrado pessoas e força) e criar meios de coletividade.

Pela concepção estratégica, acreditamos que este modelo vertical de moradia, de conquista, é o mais adequado. Deve ser encarado programaticamente como prioridade; é claro, isso deve vir de um comum acordo com as decisões coletivas da base, pois é soberana se deseja uma casa com próprio quintal e criar a própria horta.

Assim, aqui, propomos uma adaptação e atualização da proposta de Engels (Princípios Básicos do Comunismo):

"[defendemos a] Construção de grandes palácios nas herdades nacionais para habitações coletivas das comunidades de cidadãos que se dedicam tanto à indústria como à agricultura, e que reúnam em si tanto as vantagens da vida citadina como as da rural, sem partilhar da unilateralidade e dos defeitos de ambos os modos de vida."

A prioridade aos prédios e apartamentos será combinada com uma segunda luta: exigir boa infraestrutura para o novo bairro. Isso passa pela citação acima: unir as vantagens do campo e da cidade. A reforma e a revolução urbanas incluem permitir transporte público, creches; também qualidade ambiental: arborização, hortas coletivas, fim das ruas empoeiradas, etc.


Educar a base e educar-se na democracia operária, na coletividade, na cooperação, no espírito de luta e na confiança nas próprias forças; assim se resume a tarefa dos socialistas neste trabalho popular específico: lutar por reformas hoje e, ao mesmo tempo, pavimentar o caminho do amanhã.


Contribuições Para Um Programa de Transição no Século XXI

Apresentamos abaixo uma atualização ao programa de transição. Tema sensível ao marxismo, desde o lançamento, 1938, o manifesto comunista de nossa época pode ser acrescentado e/ou adaptado a nossa realidade, ao capitalismo no século XXI. Aqui, não focaremos em todos os pontos: quatro consignas transicionais serão prioridade, junto à busca do ineditismo, quer dizer, resolver as lacunas no programa dos revolucionários. Para isso, levamos em conta a necessidade de amplo debate democrático e contributivo, desprovido de dogmas, e de elaboração teórica e programática necessariamente coletiva.

O OPERARIADO DO CAMPO E O CONTROLE DAS TERRAS

O programa socialista para o campo, diante da proletarização do camponês e o agronegócio, pode e necessita ir além da tradicional luta por reforma e revolução agrária. Para isso, propomos:

Que o proletariado do campo, junto aos demais trabalhadores, lute para exigir dos patrões e do Estado que uma parte obrigatória e proporcional das terras seja destinada somente à produção de alimentos da cesta básica, como arroz e feijão. O maquinário e esse trecho de terra deverão estar à disposição do trabalho coletivo dos funcionários e terão total autonomia no destino da colheita, quanto consumirá e quanto destinará aos mercados populares das cidades.

Com isso, espera-se:

1. Gerar luta de classes;
2. Diminuir o peso inflacionário da soja e dos produtos de exportação que desestimulam a produção de alimentos;
3. Unir cidade e campo numa luta comum;
4. Educar os operários de origem camponesa – pequena burguesia – em métodos coletivistas, com suas vantagens produtivas, permitindo a percepção de que poderia cuidar da produção sem o latifundiário;
5. Gerar a semente de uma luta de classes por controle proporcional maior da terra e de toda ela;
6. Se a luta por essa pauta for possível mas a proposta não for aplicável sob relações capitalistas, então teremos uma palavra de ordem transicional, ou seja, parece reformista, porém força a classe à novas conclusões e a empurra para a revolução.

No decorrer dessa luta ou após a vitória, os trabalhadores devem formar “comissões de produção” subordinados à base para coordenar a luta e para cuidar, em caso de vitória, da parte administrativa. Estas comissões deverão ser autônomas em relação aos sindicatos, que, quando combativos, devem dar suporte à luta e, após, inspecionar a patronal.

CORRUPÇÃO E CONTROLE OPERÁRIO

A corrupção em empresas estatais e privadas tem gerado, de um lado, revolta e, de outro, insegurança aos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a burguesia costuma usar de casos específicos para desmoralizar a concorrência, para privatizar uma estatal, etc. Sendo esta pauta importantíssima, propomos comissões operárias para averiguar as contas da patronal, avaliar o problema e propor soluções.

Esses organismos dos trabalhadores podem concluir e exigir:

– Contra a imunda corrupção dos dirigentes da estatal, gestão operária e democrática! – Não à privatização!
– Diante da crise das contas da empresa e do caso de corrupção em que se envolveu com o Estado, estatização sob administração operária!
– Diante do fato de a empresa ter crescido com isenções de impostos, contratos com o Estado e corrupção, estatização sob gestão dos trabalhadores!

Assim, poderemos oferecer alternativa proletária para a luta contra a corrupção – a gestão operária e democrática das empresas.

COMITÊS DE BAIRRO E EMPREGO

Quando uma crise econômica se aprofunda, com atraso ou não, os trabalhadores precários tenderão à luta. A alta urbanidade é um dos sintomas do fim desse sistema, aglutinando uma massa enorme de escravos assalariados e daqueles que sequer conseguem ser escravos! É preciso oferecer um suporte: comitês de bairro poderão ser fundados para a luta dos desempregados, além de ligar as lutas parciais e locais da comunidade com a nacional. E, em caso de luta generalizada, serão embriões de poder socialista fora dos locais de trabalho.

Portanto, irão além das “associações”, pois terão como causa as questões do trabalho, ou seja, a falta dele. Paralelo a isso, na medida em que aglutinam e lutam, podem adquirir moral e direito de tratar de todas as questões localizadas e nacionais. Os comitês “por emprego e contra crise” podem organizar aqueles inacessíveis aos sindicatos.   

SEGURANÇA E AUTODEFESA

Como demonstram os casos mexicano e brasileiro, as principais vítimas da violência urbana são os trabalhadores. Traficantes, tropas do Estado, milícias policiais e a bandidagem agem com a violência típica dos mercenários. Em situações de crise mais aguda, quando este problema já não pode ser tolerado durante a rotina, faz-se necessário a formação de grupos voluntários de autodefesa operária nos bairros.

Entre as primeiras preocupações entre os trabalhadores, a crise da civilização expressa na violência cotidiana tem gerado traumas, perdas materiais, mortes evitáveis e stress contínuo. Em situações limites, como diante de uma depressão econômica, onde a violência se prolifera, surgem surtos de revolta popular que tendem a surgir de repente e a se generalizar. São nestes momentos quando se abre a possibilidade e a necessidade de uma alternativa de segurança por fora do Estado burguês – e contra ele.

Que os pacifistas envergonhados e disfarçados se assustem e a pequena burguesia clame pela paz capitalista; quando a situação se degenera, necessita ação firme: a luta por milícias operárias de segurança pública pode ser, se associada a outras pautas, a antessala da revolução.

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (1)

– Financiar os serviços públicos, como educação e saúde, com um imposto especial sobre o lucro das empresas privadas do mesmo tipo. Exemplo: parte do lucro no ensino privado deve ser automaticamente destinada às verbas do ensino público.

– Universidade pública deve abrir vagas apenas para aqueles sem condições financeiras de pagar por ensino privado. Enquanto não universalizar o acesso, vagas apenas aos filhos dos trabalhadores que ganham até quatro salários mínimos!

PAUTAS DEMOCRÁTICAS (2): OCUPAÇÕES URBANAS

Uma questão vez ou outra levantada pós-vitória de uma ocupação é a dissolução da cultura da coletividade e luta. Acontece com frequência. Com a conquista a necessidade de lutar diminui; a associação de bairro não se dissolve, mas também não agrega, mesmo com muita moral. Do ponto de vista socialista, no entanto, manter algum nível de integração organizada entre os moradores é vital para a estratégia. Aqui apresentaremos algumas indicações, propostas e apontamentos. E, é claro, só aqueles que vivem a prática ocupante, o dia a dia, podem dar o veredito final.

Nas ocupações rurais vemos o mesmo fenômeno das urbanas: coletividade para a conquista; depois, individualização para a divisão das terras por fim conquistadas. É uma diferença importante com o movimento operário. Uma ocupação de fábrica é necessariamente coletiva e coletivizante, antes e após. Não dá para dividir a empresa ocupada ou suas máquinas em pedaços, um pouco para cada. Só pode haver produção e consolidação da luta com o uso coletivo dos meios de produção e com o trabalho organizado, unido de milhares de operários.

Espaço é poder. A forma de organizá-lo tem consequência prática-ideológica. Para resolver ou amenizar a contradição levantada, ao ponto de vista dos sem-tetos, ao final do processo, garantir a construção de prédios (ou a ocupação de um) otimiza o espaço, ou seja, facilita a continuidade da integração social e política. Podemos apresentar duas vantagens dos condomínios:

1. Após a vitória, moradias entregues, a eleição dos síndicos, dos representantes por andar, da equipe de segurança, as assembleias para decidir a gerência e os conflitos permitem perpetuar a coletividade interna;

2. Pode-se usar o espaço excedente para construir outros prédios (já que aproveita a verticalização), trabalhar hortas coletivas, clubes do bairro, etc. Ou seja: com a tática desse formato pode-se agregar mais trabalhadores (concentrado pessoas e força) e criar meios de coletividade.

Pela concepção estratégica, acreditamos que este modelo vertical de moradia, de conquista, é o mais adequado. Deve ser encarado programaticamente como prioridade; é claro, isso deve vir de um comum acordo com as decisões coletiva da base, pois são soberanos se desejam uma casa com próprio quintal e criar a própria horta.

Assim, aqui, propomos uma adaptação e atualização da proposta de Engels (Princípios Básicos do Comunismo):

"[defendemos a] Construção de grandes palácios nas herdades nacionais para habitações coletivas das comunidades de cidadãos que se dedicam tanto à indústria como à agricultura, e que reúnam em si tanto as vantagens da vida citadina como as da rural, sem partilhar da unilateralidade e dos defeitos de ambos os modos de vida."

A prioridade aos prédios e apartamentos será combinada com uma segunda luta: exigir boa infraestrutura para o novo bairro. Isso passa pela citação acima: unir as vantagens do campo e da cidade. A reforma e a revolução urbanas incluem permitir transporte público, creches; também qualidade ambiental: arborização, hortas coletivas, fim das ruas empoeiradas, etc.


Educar a base e educar-se na democracia operária, na coletividade, na cooperação, no espírito de luta e na confiança nas próprias forças; assim se resume a tarefa dos socialistas neste trabalho popular específico: lutar por reformas hoje e, ao mesmo tempo, pavimentar o caminho do amanhã.


domingo, 9 de outubro de 2016

“Onda Conservadora”, Uma Falácia Petista

“Onda Conservadora”, Uma Falácia Petista


Para iniciarmos o diálogo com o leitor; no começo, apresentamos os dados de uma onda, porém não conservadora:



A última coluna do gráfico é a quantidade de greves em 2013 (!), quando se impulsionou a tese da “onda”, segundo os ideólogos que aqui criticamos. Em miúdos: os dados apresentam a maior onda grevista desde o fim da ditadura (! – isso merece uma exclamação) mediada pelo fato de termos hoje uma população maior e mais urbana.  Vejamos outro:


Mais uma vez ao focar a última coluna, em 2013, estes dados acima revelam o número de horas paradas; e percebemos uma acentuação que tendeu a alcançar o pico de 1989 (!), um ano de hiperinflação (!). Esses dados do Dieese[i] revelam-nos que, se há uma onda, é uma onda de greves, protestos, ocupações e paralisações; esse tsunami continuou em 2014, 2015 e, com alguma desigualdade, em 2016 – o instituto citado precisa demonstrar os dados oficiais daquilo que percebemos com alguma facilidade.

Como se sabe, o grande salto foi junho de 2013. De acordo com a percepção marxista, lutas econômicas transformam-se em lutas políticas que, por sua vez, impulsionam novas lutas econômicas; as “jornadas de junho” – uma batalha com pautas políticas! – foram nada mais que este motor, este estalo, como base da nova conjuntura nacional[ii].

Então, como pode gente de esquerda ignorar, por exemplo, a luta dos professores no Paraná, o crescimento da CSP-Conlutas e do MTST, a greve dos garis no carnaval e as ocupações de escolas secundaristas por todo o país? Esses fatos deveriam significar algo importante para uma análise séria da realidade. Na verdade, como relação matéria-ideia, é um fenômeno simples de explicar aos ideólogos do PT; em linguagem dinâmica, desprovida de artifícios, apresentamos um breve resumo: após 10 anos de estabilidade, a crise aqui instalada deteriora  as condições de vida dos trabalhadores, que se veem forçados a grevar e se espelham nos vitoriosos exemplos estudantis; isso, por sua vez, acelera a desmoralização do PT e impulsiona uma crise do regime. Explicamos desse modo porque é difícil a um burocrata encastelado no sindicato ou a um erudito excêntrico acessar, ou reconhecer, esta verdade. Digamos de outro modo: se os trabalhadores grevam muito mais que antes, então, como demonstram os dados, sua consciência se esquerdizou, passou a sentir a luta direta como caminho e necessidade – não há sofisma que consiga esconder isso!

Portanto, a situação brasileira é ou uma transição entre uma situação não revolucionária (de estabilidade) para uma pré-revolucionária ou é já diretamente pré-revolucionária. Para medirmos, unimos estes fatores:  crise econômica + maior luta social + crise do regime + politização das classes medias + crescimento sindical e eleitoral da esquerda (não do PT!). Se, por acaso, ao contrário, tivéssemos crise + passividade dos trabalhadores + regime estável então = situação reacionária ou contrarrevolucionária, como a década de 1990 no primeiro caso e a ditadura militar em 1968 no segundo.

Mas como é preciso um álibi, vejamos o que nos diz Leon Trotsky. O texto a frente chama-se “O Que É Uma Situação ´Revolucionária”; adiantamos que uma situação pré ou de transição ocorre quando uma situação como a citada ainda não existe de todo, mas começa a amadurecer, a dar seus sinais:

(…) quando se alteram radicalmente as condições econômicas, a resposta psicológica, já demorada, pode aparecer muito rápido. E, assim, sucedendo rápida ou lentamente, essas mudanças inevitavelmente devem alterar o estado de ânimo das classes. Somente então temos uma situação revolucionária.

Em termos políticos, isto significa:

Que o proletariado deve perder sua confiança não apenas nos conservadores e nos liberais mas também no Partido Trabalhista. Deve concentrar sua vontade e sua coragem nos objetivos e métodos revolucionários.

Que a classe média deve perder sua confiança na grande burguesia, nos senhores, e voltar seus olhos ao proletariado revolucionário.

Que as classes possuidoras, as camarilhas governantes, rechaçadas pelas massas, perdem a confiança em si mesmas.

Essas atitudes se desenvolverão inevitavelmente, porém ainda não existem. Podem desenvolver-se num breve lapso devido à gravidade da crise. Este processo pode durar dois ou três anos, inclusive um ano. Porém, hoje é uma perspectiva, não um fato. Temos que assentar nossa política nos fatos de hoje, não nos de amanhã.

Por enquanto, partiremos de uma, apenas uma, obviedade: há uma crise econômica; esta  é a base material de toda -  toda, mesmo – a situação.[iii](Grifo nosso.)

O GOLPE REACIONÁRIO E A DIALÉTICA

Para muitos, a maior prova da hipotética “onda” é a queda do PT. Nada mais falso. Para contrapormos, basta-nos uma exemplo simples: é típico de uma situação pré-revolucionária,  como no Brasil em 1964 ou na Alemanha pouco antes do golpe de Hitler, abrir apenas possibilidades… Exemplo brasileiro: poderia desemborcar em uma revolução ou em um golpe militar. Hoje, o PT poderia cair pela via parlamentar, ou seja, burguesa, ou pela luta dos trabalhadores; afinal, Dilma atingiu míseros 7% de apoio popular, um record sequer alcançado por Collor de Melo. Mas, como sabemos, ocorreu o que Lenin chamou “Via Prussiana” e Gramsci chamou “Revolução Passiva”; a burguesia antecipou-se a algo inevitável, em caso de novo mergulho na crise, pois se o PT caísse pela luta dos assalariados poderia ocorrer, quem sabe, que horror, uma revolução... Esta é a história do país: para evitar o perigo de uma revolta geral, a classe dominante adianta-se e abole escravidão, implementa a república, faz leis trabalhistas, acaba com o semifascismo de Getúlio de modo controlado, redemocratiza o regime de modo lento nos anos 1980 etc. – mudar para não mudar, antes que o povo a faça.

O golpe tem como pano de fundo a crise econômica, a esquerdização das massas e a direitização das classes médias aristocráticas e da reação burguesa à crise. Essa realidade – que nem de longe se parece com uma onda abstrata nevoando as cabeças! – abre possibilidades, que são, apenas, possibilidades.

ELEIÇÕES: MAIS UMA VEZ A DIALÉTICA

Em seu começo, antes de 1916, em especial, Lenin tinha uma visão semikantiana da contradição; colocava sinal de oposto total entre luta econômica e política, dizia que as eleições era um “espelho”, que já mostra tudo invertido, “distorcido”. Aqui, usaremos a dialética: os votos (aparência) nas eleições são a manifestação real mais ou menos distorcida da realidade, da essência, da consciência. Por isso, em primeiro lugar consideremos um fato que por si é uma vitória:

Em São Paulo, João Doria teve uma vitória avassaladora, uma conquista sem precedentes com mais de três milhões de votos. Mas também aqui, os que não votaram em nenhum dos candidatos superaram os eleitores do empresário. Em uma tendência similar à do Rio, os votos brancos e nulos aumentaram 30% de 2012 para cá até 16,64%, enquanto a abstenção cresceu 18% se situando em 21,84% (a média nacional foi de 17,58%). São percentuais que não se viam desde 1996. (…)[iv]

Talvez seja bom lembrar: as eleições burguesas são a grande flauta da ludibriação, da mentira e da farsa; o descrédito maior desse regime é uma força latente para os revolucionários, do contrário, se a democracia dos ricos se fortalecesse ao olhos dos trabalhadores, tudo ficaria mais difícil e “conservador” para os honestos – assim, a crise do regime apontará para duas saídas ou, na dialética, duas possibilidades: ou a democracia socialista, operária e direta, ou… o fascismo. Por a classe dominante perceber isso, as atuais leis repressivas, como a anti"terrorista" aprovada por Dilma, são uma antecipação e preparação burguesa contra uma inevitável guerra social; nada menos ou mais.

E como avaliar o crescimento da direita? Ora, se o PT, que fez um governo de direita na prática, se desmoraliza e, ao mesmo tempo, as massas não encontram uma alternativa, os votos deslocam-se uma parte ao nulo/PSOL e outra para a direita; isso ocorre na Espanha, em Portugal e em qualquer outro país. Ou seja: pela crise econômica e pela traição do PT, além da debilidade da oposição de esquerda, a esquerdização inicial e centrista das massas é manifestada (dialética!) de modo distorcido, mediado, como um crescimento formal da direita.

Mais uma vez, para demonstra isso (situação pré-revolucionária e esquerdização das massas pode ser igual, também, a acréscimo de votos na direita), terei de citar o melhor exemplo, de Leon Trotsky, quando da Alemanha sob ameaça do nazismo. O trecho é um pouco longo; destacamos a relação entre conjuntura favorável, enfraquecimento do reformismo e, contraditoriamente, crescimento do voto nazista, da extrema-direita:

A imprensa oficial do Comintern interpreta agora os resultados das eleiçons da Alemanha [Setembro de 1930] como umha prodigiosa vitória do comunismo, que situaria na ordem do dia a palavra-de-ordem da "Alemanha soviética".

Os burocratas optimistas recusam reflectir sobre o significado da relaçom de forças revelada polas estatísticas eleitorais. Examinam o incremento de votos comunistas independentemente das tarefas revolucionárias criadas pola situaçom e os obstáculos estabelecidos. O partido comunista recebeu por volta de 4.600.000 votos, face aos 3.300.000 em 1928. Do ponto de vista dos mecanismos "normais" do palamentarismo, o ganho de 1.300.000 votos é considerável, mesmo levando em conta o aumento no número total de votantes. Mas o ganho do partido fica ensombrado completamente se comparado com o progresso do fascismo, que passa de 800.000 a 6.400.000 votos. De nom menor importáncia para a avaliaçom das eleiçons é o facto de a social democracia, apesar das perdas substanciais, reter os seus quadros principais e ainda receber um maior número de votos operários [8.600.000] do que o Partido Comunista.

No entanto, se nos perguntarmos que combinaçom de circunstáncias internas e externas poderiam fazer virar a classe operária do lado do comunismo com maior velocidade, nom acharíamos um exemplo de melhores circunstáncias para um giro tal do que a actual situaçom na Alemanha: A soga do Young (1*), a crise económica, a decadência dos dirigentes, a crise do parlamentarismo, o incrível auto-desmascaramento da social democracia no poder. Do ponto de vista destas cirscunstáncias históricas concretas, a influência do Partido Comunista na vida social do país, apesar do ganho de 1.300.000 votos, devém proporcionalmente pequena.

A fraqueza da posiçom do comunismo, totalmente ligada à política e funcionamento interno do Comintern, revela-se mais claramente se compararmos o peso social actual do Partido Comunista com estas concretas e inadiáveis tarefas que as actuais circunstáncias históricas colocárom na sua frente.

(…)

Para além do mais, a primeira qualidade de um autêntico partido revolucionário é a de ser capaz de olhar a realidade cara a cara.[v]

Para que o leitor veja isso com maior profundidade, a corrente Esquerda Marxista, refutou a tese da “onda” nas eleições (2014) com um texto obrigatório, disponível na nota de fim[vi]. Reforço a atenção do possível leitor, pois reforçar os dados é uma forma de combater esta ideologia antimarxista. Vejamos uma parte singular do texto:

“De um total de mais de 142 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 43.267.668 votos (30,29%). Em segundo lugar ficou NDA com 38.798.244 votos (27,17%)! Só em terceiro lugar é que aparece o candidato do PSDB, Aécio Neves, com 34.897.211 (24,43%), quase 4 milhões de votos atrás de NDA! E Marina Silva fez 22.176.619 votos (15,53%), terminando em 4º lugar, quase 17 milhões de votos atrás de NDA!”

“Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições anteriores. Em 2010, havia 7 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 135 milhões de eleitores no Brasil, Dilma ficou em primeiro lugar, com 47.651.434 votos (35,09%). Em segundo lugar ficou novamente NDA com 34.213.890 votos (25,19%)! Só em terceiro lugar novamente é que aparece o candidato do PSDB, José Serra, com 33.132.283 votos (24,4%), desta vez pouco mais de 1 milhão de votos atrás de NDA! E Marina Silva, então pelo PV, fez 19.636.359 votos (14,46%).”

“Agora, vamos comparar com o 1º turno das eleições de 2006, quando havia quase 17 milhões de eleitores a menos que hoje. De um total de mais de 125 milhões de eleitores no Brasil, Lula ficou em primeiro lugar, com 46.662.365 votos (37,06%). Em segundo lugar ficou Geraldo Alckmin, do PSDB, com 39.968.369 votos (31,74%)! Há 8 anos, só em terceiro lugar é que aparecia o NDA, com 29.916.401 votos (23,76%), daquela vez pouco mais de 10 milhões de votos atrás do candidato tucano!”

Mas, para o petismo oficial, contra argumentos não há fatos! Ou dados!

MATÉRIA E IDEIA

Um governo de frente popular, burguês com participação de organismos de esquerda na gestão do Estado, é um governo anormal, anômalo. Bom; os governos Lula e Dilma foram a anormalidade dentro da anormalidade, pois governaram não diante de uma grande crise – como Allende –, e sim como método preventivo, antecipador e “prussiano” por parte da burguesia. Por isso, com crescimento econômico, pôde promover reformas com armadilhas. Alguns casos:

1.      Luz para todos. Uma reforma, uma melhoria de vida, cujo objetivo era permitir o aumento do consumo, do comércio, para inflar a economia capitalista;
2.      Bolsa família. Idem ao 1 e, ao mesmo tempo, evitar motins sociais;
3.      Reuni, Prouni, fies etc. Também “reformas com armadilhas” porque objetivava, ao mesmo tempo em que dava acesso ao ensino superior, enriquecer empresas de educação e aumentar a oferta de profissionais qualificados com baixos salários;
4.      Mais Médicos. Uma das poucas reformas sem armadilhas, pois, em verdade, é uma vitória colateral das jornadas de junho e da necessidade de ganhar as eleições com votos não urbanos.

Vemos que o reformismo fraco do PT, acompanhado pelo aumento da dívida pública e contrarreformas, se dissolveu com a crise, já que este partido tentou provar sua lealdade à burguesia “esquecendo-se” que só estava no poder formal na medida em que poderia controlar a luta de classes, quer dizer, enganar e pacificar os trabalhadores.  Mas já não mais consegue. Agora, a CUT e o PT estão mais frágeis, mais suscetíveis a pressões sociais (por exemplo: por que não grevar contra Temer se vocês não mais estão no governo?, Poderá perguntar um carteiro ao presidente do sindicato…). Essas duas organizações são um dos pilares do regime, dessa farsa, e portanto suas quedas são a antessala necessária para a revolução brasileira. Por si só, o balanço do petismo nas eleições é uma alegria vermelha.

OS INTELECTUAIS

Por último, duas sílabas.

Programas como o Reuni transformaram filhos de camponeses e trabalhadores precarizados em professores universitários, com seus mestrados e doutorados. Queiramos ou não, isso tem consequências: os partidos de esquerda são muito mais correntes universitárias que de operários, precários e da periferia; essa gente honesta e inteligente da academia absorve e subjetiva a personalidade objetiva da superestrutura, onde trabalham: os eruditos pendulam entre posições, seguem modas intelectuais, possuem uma gratidão constrangida e contraída para com o governo Lula e, como aristocracia entre os assalariados, têm dificuldade de entender as lutas sociais na media em que é ruim sair da paz na sua escrivaninha enquanto outros tantos comem mal e se locomovem de ônibus. Como aprendem e apreendem a vida por meio das palavras e a dor da vida material é menor entre eles, o peso da subjetividade é maior entre os intelectuais, são mais suscetíveis aos impactos das notícias e aos fatos imediatos, ora pendem ao otimismo e ora ao pessimismo, confundem discurso e a aparência dos fenômenos com a essência. Daqui não supomos um “anti-intelectualismo”, longe disso: a força dos operários e de um país também se mede pelo nível de atração que estes exercem sobre os artistas, pensadores e, às vezes, sobre os filhos mais inteligentes da burguesia.

É inevitável; neste momento, a esquerda precisa ser pequeno burguesa para, ao aglutinar gente, poder torna-se uma organização firme dos que “não tem nada a perder, a não ser seus grilhões”. Para isso pesa os acertos ou erros políticos; mesmo organizações revolucionárias, neste momento de tensão social, cometerão erros típicos do idealismo, como a tese petista “onda conservadora” – por enquanto, há tempo para falhar, aprender e corrigir.

Para cada onda conservadora da burguesia e da classe média aristocrática, com suas passeatas vestidos de CBF, existe uma onda contrária de greves, ocupações, protestos e diálogos revoltados em paradas de coletivos públicos. Isto se chama luta de classes. Por outro lado, nosso país sempre foi conservador quanto à moral; apenas nas décadas de 1970 e 1980 as mentalidades foram mais liberais por influência da pílula do dia seguinte, do rock, das revoluções e da redemocratização do país influenciando a consciência, a filosofia, os valores, a TV (a nudez, por exemplo) etc. Portanto, falar em conservadorismo é um péssimo argumento; de fato, o fanatismo religioso cresce como sintoma e consequência – não causa! – da decadência social. No futuro, uma ditadura fascista de base teocrática será uma hipótese, mas só ocorrerá se a tendência, oposta, de essa crise desemborcar em revolução for derrotada, for impedida pelos ricos e traída pelos pelegos. Isso passa por entender que a onda é progressista, além de perigosa; sejamos mais inteligentes que a burguesia.






Análise da corrente MRT desses dados:  http://www.esquerdadiario.com.br/Maior-numero-de-greves-na-historia-recente-primeiras-hipoteses-lendo-os-dados-do-DIEESE
[ii] A burguesia, inteligente e assustada, ao ver falhar a tentativa de derrotar o movimento para a uma ova manobra, apoiar cinicamente a luta, que apenas ao final se degenerou em ato cívico. De qualquer odo, o sino bateu e a classe dominante sobe do que se tratava, que s tratava de algo novo e perigoso a ela.
[iv] http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/politica/1475522954_666169.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
[v]  https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/09/perigo.htm
[vi] http://www.marxismo.org.br/content/nao-existe-onda-conservadora-no-brasil-nem-em-sp