No primeiro importante sinal de lutas, greve geral! Na primeira revolta parcial, revolução! Nas primeiras camadas reacionárias, onda conservadora! Na primeira importante dificuldade, crise geral! Nos primeiros sinais, todos os elementos! Só depois são feitos os balanços, as autocríticas, as acusações mútuas.
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Esperamos encontrar a revolução ou o medo já na outra esquina, empolgar-se é preciso. Avaliações vem e vão.
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No entanto o questionamento é exatamente o mesmo do título deste artigo: e o método? Onde está a tal da dialética marxista? O materialismo dialético parece ser algo sobre o qual todos falam, mas, curiosamente, ninguém entende. Pode ser usada numa roda de debate, para travar o adversário com frases de efeito. No entanto, a questão das questões, a política, precisa de norte, de uma mão canhota.
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"Entre o preto e o branco exite o cinza". Vamos sob os feitos de exclamações: ou é não-revolucionária ou é pré-revolucionária (quem sabe tirar o pré!), ou é estabilidade ou é chamar a greve geral (que sabe insurrecional!), ou estabilidade do Estado ou Impedimento da Presidenta de plantão (quem sabe golpe!).
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E é assim, exatamente, onde a esquerda desconhece as transições, os fenômenos híbridos, os ritos de passagem, os processos pré-saltos.
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Nada de 40,ou é 8 ou é 80!
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O cinza pode ser uma transição entre a situação não e a pré-revolucionária? Pode ser as greves unificadas, dias regionais de lutas, greves gerais por categoria como amadurecimento até uma futura greve geral ainda não aplicável? Pode ser estimular, com a luta, o desgaste do governo para amadurecer sua queda diante das massas? É claro (ou cinza) que sim!
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Lembro-me bem quando, entre 2010 e 2012,ouvi, na rotina, um fenômeno diferente, duplo, entre as pessoas comuns, não militantes. Ainda apoiavam o governo do PT, com muita firmeza, mas já tinham, diferente dos anos antecedentes, esta ou aquela importante crítica. Isso é importante: iniciou-se um desgaste, um período transitório que saltou, e muito, em 2013.
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Os estágios transicionais são uma lei da matéria. Entre o aumento da inflação e o gatilho salarial há um caminho a percorrer: exigir um "simples" aumento de salário ou, quem sabe, um congelamento dos preços. Entre detestáveis demissões e a ocupação da fábrica sob controle operário com escala móvel de trabalho(!) pode haver um estado de preparação, de amadurecimento: lutar pela reintegração, contra a demissão ou, talvez, criar comitês de fábrica e exigir estabilidade. Aí está, em síntese, na agitação, a diferença entre uma política de extrema-esquerda e a de ultra-esquerda.
Os estágios transicionais são uma lei da matéria. Entre o aumento da inflação e o gatilho salarial há um caminho a percorrer: exigir um "simples" aumento de salário ou, quem sabe, um congelamento dos preços. Entre detestáveis demissões e a ocupação da fábrica sob controle operário com escala móvel de trabalho(!) pode haver um estado de preparação, de amadurecimento: lutar pela reintegração, contra a demissão ou, talvez, criar comitês de fábrica e exigir estabilidade. Aí está, em síntese, na agitação, a diferença entre uma política de extrema-esquerda e a de ultra-esquerda.
Na prática, tudo o que existe é uma transição, veio de uma causa e terá uma consequência. O socialismo é, sabemos, uma transição (fluida) entre o capitalismo maduro e o comunismo. Os próprios antigos estados operários eram uma transição entre o capitalismo e o socialismo (sendo este último, também, uma transição)... Do sim para o não, o sim-não.
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Ouvimos, entre os vermelhos, por estes dias, as vozes da greve geral. Isto é bom, e é decente. Mas qualquer anarquista, no alto de sua emoção e revolta juvenil, pode pensá-la.
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O marxismo exige ciência, exige método. Claro, erramos. Mas nunca se deve facilitar o caminho do erro. A responsabilidade é enorme. O improviso, o empirismo, o mecanicismo, o impressionismo e o sindicalismo não são de muita serventia enquanto totalidade.
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O marxismo antecipa as tendências futuras. E não só. Permite elaborar os próximos passos, puxar a corda para a nossa ponta.
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Greve geral? Por acaso, a CUT, a CTB e a Força Sindical dirigem, ainda, o grosso dos sindicatos e categorias? Sim, é óbvio. A - também ainda! - frágil esquerda consegue puxar por si uma verdadeira greve geral digna desse nome? Não, infelizmente. Conseguiria,ao menos, pressionar uma greve geral pela base forçando os burocratas a grevar em todo o país? Também não, mas pode - e deve! - preparar o caminho, o rumo, o norte. Tornar o impossível uma possibilidade, e a possibilidade em realidade.
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Então como? 1. Chamando greves unificadas nos estados; 2. unificando as que ocorrem paralelamente, 3 preparando greves gerais das categorias (correios, bancários, servidores estaduais, metalúrgicos do ABC, etc.), 4. puxando greves; 5. chamando dias de luta regionais (o país é continental, não dá para unir todo o território hoje); 6. elaborar frente únicas com organizações de esquerda contra os problemas da crise e contra o governo.
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Assim, com uma cor de cinza cada vez mais forte, podemos preparar as tensões para o salto-ruptura dialético, as condições básicas para uma greve geral, a primeira de outras.
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Iremos, assim, aumentar a força na esquerda, crescer as rebeliões de base e oposições democráticas, aumentar a autoconfiança dos trabalhadores, educar para luta, consolidar organismos de combate por direitos.
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Chamar greve geral ou mesmo uma Luta Nacional, nos formatos propostos, desconsidera, no imediato, o desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, desconsidera a realidade. É extremamente variável a maturidade e a forma da luta de classes de um estado para outro estado, de uma cidade para outra cidade, de uma categoria para outra categoria.
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Chamar greve geral ou mesmo uma Luta Nacional, nos formatos propostos, desconsidera, no imediato, o desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, desconsidera a realidade. É extremamente variável a maturidade e a forma da luta de classes de um estado para outro estado, de uma cidade para outra cidade, de uma categoria para outra categoria.
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Na hora em que a burocracia ver que ou se move ou perde o aparelho, que o mal-estar popular tem sentimento de revolta, ela se moverá. Sua movimentação será para trair na primeira oportunidade, para evitar maior crescimento dos revolucionários. Mas se moverá. E como dialéticos, devemos ter em conta, o caminho não é mecânico, são decisões humanas: pode, mesmo, ao contrário, não se mover, e, nesse caso, a desmoralização será enorme entre os oportunistas quando se enfrentarem com as revoltas dos assalariados.
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Quando as tão difíceis tarefas primeiras se tornarem realidade, as condições para exigir uma greve geral estarão dadas.
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Pode-se argumentar que a dialética dialoga com o "saltar das etapas". É fato. Não se trata apenas de evolução, mas de contradição, conflito, combinações, saltos, rupturas. Só que estamos no reino da materialidade (o único reino existente). A crise se aguça; a luta de classes acelera-se desde 2013; uma parte dos "brasileiros" se esquerdiza (trabalhadores e classe média) e outra caminha para a direita (pequena-burguesia); quase todas as superestruturas, em medida maior ou menor, sofrem rachaduras internas. Passo a passo, estamos caminhando para a beira do abismo, porém, não chegamos ainda nessa beira ou mesmo em um abismo.
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Artigos acadêmicos, cansativos, sobre dialética temos e muito. Compreendê-la, usá-la é uma outra orientação. Querer dominar o marxismo e o materialismo histórico sem o uso do materialismo dialético como ferramenta, para além dos debates, é tão inútil quanto perigoso. Todo quadro desleixado com os estudos deve ser visto como um irresponsável.
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A experiência partidária/sindical empurra a militância para uma realidade paralela, alienada da rotina geral, orientada para o clubismo, para diálogos típicos de tribos (marxistas). É preciso misturar-se com a vida dos trabalhadores, negar o carinho pelo elemento químico puro. No chão do mundo a vida é contraditória, a matéria é totalmente suja.
ATUALIZAÇÃO (17/03/2015):
A proposta de greve geral tem por um lado,a influência do economicismo (sindicalismo) e, por outro, uma tentativa de mostrar garra e firmeza e radicalidade.
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É possível - e até urgente! - unir as pautas econômicas e políticas para conseguir mover a classe trabalhadora.
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São quatro palavras de ordem políticas que a esquerda precisa levantar imediatamente:
- Fim de todos os privilégios políticos!
- Revogabilidade dos mandados a qualquer momento se os eleitores desejarem!
- Fim do financiamento privado de campanha eleitoral!
- Fim do voto obrigatório!
E:
- Dia nacional de luta contra a corrupção e por direitos!
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Ou seja, em síntese: regatar o papel das jornadas de junho. Um dia nacional pode ser antecipado com regionais. Mas antes de tudo é preciso agitação, panfletagem, divulgação, colar cartazes pela cidade, conversar, dialogar. Enfim: ganhar a classe para as propostas. Puxar um "Dia" desde um ponto de vista superestrutural, sem trabalho prévio, de base, de nada servirá.
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Não é hora para atos de vanguarda. Necessitamos incidir pesado e diretamente (e há a oportunidade) sobre a consciência das massas. Assim não seremos algumas dezenas ou centenas nas ruas, mas dezenas e centenas de milhares.
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J. P. da Síria
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