quarta-feira, 25 de março de 2015

Não é Onda Conservadora | é Luta de Classes




Desde o forte protesto nacional de direita no dia 15 de Março, a caracterização de que há uma "onda conservadora" ganhou maior espaço e fôlego. Mais uma expressão para o repertório da esquerda. Não há, porém, como exporemos, base para tal afirmação. O texto, ponto a ponto, visa demonstrar o contrário.

O que, então, explicaria a ação ofensiva das classes médias mais ricas? A resposta encontramos sem dificuldade, a olhos vistos: as lutas em todo o país da classe operária, da juventude e dos setores populares empobrecidos. Tanto em 2013 quanto em 2014 ocorreram milhares de greves. Não só: multiplicaram-se as ocupações urbanas, os protestos estudantis, tivemos as famosas Jornadas de Junho de 2013, as periferias estão mais ousadas. Era de se esperar que, diante de tal instabilidade social, a pequena-burguesia, muito nervosa e temerosa, fosse à ação. 

A greve geral da educação no Paraná, as vitórias do metalúrgicos no ABC paulista, a garra e a firmeza dos garis do Rio e dos operários do Comperj, as rebeliões nos call centers são mais do que sintomas ou casualidades. A situação política mudou,  alterou-se a nosso favor. A relação social de forças entre as classes é progressiva, mesmo apresentando novos difíceis desafios.

Como sabemos, a contradição e o movimento são leis da realidade. Os últimos anos de unidade pela passividade acabaram em nosso país. Se caminhamos para uma futura revolução, caminhamos, igualmente, para uma contrarrevolução.

Década de 1990 e a atual esquerdização

A queda do muro de Berlim, o fim dos ex-estados socialistas e a ofensiva neoliberal fizeram surgir, em todo o mundo, uma situação reacionária dentro de uma etapa revolucionária.

Fazer greve era uma enorme dificuldade. Falar sobre socialismo e revolução era considerado, de novo, uma utopia. A saída individual se tornou ainda mais valorizada do que a saída coletiva. A vanguarda agora era anti-corrupção e não anti-capitalista. Nesse exato momento havia, de fato, uma onda conservadora.

A principal consequência disso foi a degeneração final do PT naquela época. Tornou-se um partido de esquerda parlamentar, substituiu o classismo pela "ética na política", valorizou alianças com partidos burgueses. O PT, seguindo a onda, se "endireitou".

Isso desemborcou, para além da famosa carta ao povo brasileiro, na primeira eleição de Lula em 2002 e atrasou a consciência das massas, pois viram no voto e no PT uma saída contra suas dores e uma resposta aos primeiros sinais da esquerdização dos assalariados (naquele momento havia elementos de desconforto nas massas expressos no "Fora FHC", no "Não à Alca",  contra a guerra de Bush e na rejeição ao caos econômico).

Agora que a luta de classes retorna, que o PT (importante freio) se desmoraliza, que o Estado está mais instável, que se inicia uma reação à crise, etc. estaríamos, logo agora, diante de uma onda conservadora? Não. É ação e reação, luta dos contrários. 

E além. O petismo se desmoraliza por suas ações de direita, de austeridade, à favor da burguesia e contra a classe trabalhadora. A base da pirâmide finalmente está se esquerdizando. 

Quais as bases desse erro?

As bases da tese da Onda Conservadora são:

1.    A necessidade de proteger o PT;

2.    Uma parte da classe média, especialmente a melhor de vida, vai para a direita;

3.    Em toda realidade mais instável, como sempre, setores reacionários também se movem;

4.    A esquerdização da classe trabalhadora ainda é confusa;

5.    Via de regra, os governos de Frente Popular (PT) desmoralizam a imagem da esquerda;

6.    A esquerda anti-PT ainda está fragmentada, não apresenta uma terceira via.

Daqui faremos um segundo debate:

Boa parte dos militantes e dirigentes da esquerda está acostumada à rotina, ao não-conflito, aos longos anos de crescimento econômico. Formaram-se enquanto quadros em uma situação de refluxo (da verdadeira onda conservadora existente na década de 1990 e no governo Lula).

Boa parte dos militantes pertence à classe média. Respiram o ar dessa classe. Mesmo sem desejar. Ouvem o que sua classe diz e, especialmente, tem a psicologia dessa classe.

Normalmente possui, a pequena-burguesia, incluindo os intelectuais, pouca tolerância a situações aguçadas, de conflitos e alta tensão. É uma classe que fantasia a vida burguesa, sem pertencê-la, sem ter os mesmos recursos. E giram suas vidas para uma paz constante. Isso lhes tira a força para momentos de crise social.

A classe trabalhadora, sem que queira, convive com conflitos familiares, violência, tensões enormes no trabalho, dificuldades, etc. Isso “treina”, “adestra” a mente para saber ter tolerância e racionalidade em situações instáveis.

Ora, se estamos em uma onda conservadora, como explicar os discursos mais à esquerda de todos os centrais candidatos burgueses à presidência? Como explicar milhares de greves em 2013 e 2014? Como explicar o retorno das rebeliões de base e as inúmeras ocupações dos sem-tetos?  E o aumento do voto nulo e das abstenções? E a facilidade maior para expor ideias antes tidas como radicais? Como explicar o prestígio aumentado de alguns dirigentes sindicais combativos? Esquerdização não é apenas ideia, é prática, é ação e organização.

 O que sustentou o PT?

1. Controle dos Movimentos Sociais;

2. Aliança estável com partidos burgueses e maioria no parlamento;

3. Crescimento econômico.

Isso começou a ser perdido em 2013, em junho:

1. as greves eram poucas (de 200 a 400). Agora são milhares e com rebeliões de base, participação ativa das categorias. E temos MTST, CSP e outros movimentos, em crescimento, por fora do controle petista;

2. Partidos de direita rompem com o PT. A maior parte do PTB, do PSB e boa parte do PMDB. Os aliados do PT são instáveis.

3. A economia, central, depois de uma década de crescimento e 2 anos de timidez (2013 e 2014), entra em crise. Há um desconforto de massas sobre a qualidade de vida;

A isso somamos:

1. Uma nova geração de trabalhadores jovens que acordam pra vida política sem ter sido educados a se iludir com o PT como seus pais na década de 1980 e 1990.

2. O tempo de governo, os escândalos e erros já tiraram boa parte do messianismo em torno do PT;

3. A base social do PT mudou das grandes cidades para as pequenas e o campo. Das classes médias empobrecidas e operárias para os que recebem bolsa família e os mais pobres entre os mais pobres.

Tudo isso é inédito nesse governo. Porém, dizer o ritmo e como acontecerá a "grande queda do PT" não é marxismo, mas misticismo.

Mas os elementos da realidade apontam nisso e isso já ocorre. Vai depender também das atitudes da esquerda. Esse processo está vivo. E por isso é um "processo de queda", não será um fato ou colapso. Mas um processo (que não tem como a gente medir todo o ritmo). Podemos intervir na realidade para aproveitá-la e acelerar esse processo.

Podemos forjar alternativas?

Se a chamada "'esquerda socialista" está na defensiva é porque ainda não se permitiu a ousadia; não se armou com políticas que movam e chamem a atenção da classe trabalhadora; é porque, na prática, se evita uma unidade de ação prolonga rumo a uma verdadeira Terceira Via. É pelas suas fragilidades que se derrota um exército. Esperamos conseguir resolver essa lacuna, pois o futuro, como o presente, nos reserva oportunidades e riscos.



João Paulo (da Síria)

terça-feira, 17 de março de 2015

Por que - ainda - não é hora para uma Greve Geral? Um Pouco de Dialética.

Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? A Greve Geral.


No primeiro importante sinal de lutas, greve geral! Na primeira revolta parcial, revolução! Nas primeiras camadas reacionárias, onda conservadora! Na primeira importante dificuldade, crise geral! Nos primeiros sinais, todos os elementos! Só depois são feitos os balanços, as autocríticas, as acusações mútuas.
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Esperamos encontrar a revolução ou o medo já na outra esquina, empolgar-se é preciso. Avaliações vem e vão. 
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No entanto o questionamento é exatamente o mesmo do título deste artigo: e o método? Onde está a tal da dialética marxista? O materialismo dialético parece ser algo sobre o qual todos falam, mas, curiosamente, ninguém entende. Pode ser usada numa roda de debate, para travar o adversário com frases de efeito. No entanto, a questão das questões, a política, precisa de norte, de uma mão canhota.
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"Entre o preto e o branco exite o cinza". Vamos sob os feitos de exclamações: ou é não-revolucionária ou é pré-revolucionária (quem sabe tirar o pré!), ou é estabilidade ou é chamar a greve geral (que sabe insurrecional!), ou estabilidade do Estado ou Impedimento da Presidenta de plantão (quem sabe golpe!).
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E é assim, exatamente, onde a esquerda desconhece as transições, os fenômenos híbridos, os ritos de passagem, os processos pré-saltos. 
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Nada de 40,ou é 8 ou é 80!
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O cinza pode ser uma transição entre a situação não e a pré-revolucionária? Pode ser as greves unificadas, dias regionais de lutas, greves gerais por categoria como amadurecimento até uma futura greve geral ainda não aplicável? Pode ser estimular, com a luta, o desgaste do governo para amadurecer sua queda diante das massas? É claro (ou cinza) que sim!
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Lembro-me bem quando, entre 2010 e 2012,ouvi, na rotina, um fenômeno diferente, duplo, entre as pessoas comuns, não militantes. Ainda apoiavam o governo do PT, com muita firmeza, mas já tinham, diferente dos anos antecedentes, esta ou aquela importante crítica. Isso é importante: iniciou-se um desgaste, um período transitório que saltou, e muito, em 2013. 
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Os estágios transicionais são uma lei da matéria. Entre o aumento da inflação e o gatilho salarial há um caminho a percorrer: exigir um "simples" aumento de salário ou, quem sabe, um congelamento dos preços. Entre detestáveis demissões e a ocupação da fábrica sob controle operário com escala móvel de trabalho(!) pode haver um estado de preparação, de amadurecimento: lutar pela reintegração, contra a demissão ou, talvez, criar comitês de fábrica e exigir estabilidade. Aí está, em síntese, na agitação, a diferença entre uma política de extrema-esquerda e a de ultra-esquerda.

Na prática, tudo o que existe é uma transição, veio de uma causa e terá uma consequência. O socialismo é, sabemos, uma transição (fluida) entre o capitalismo maduro e o comunismo. Os próprios antigos estados operários eram uma transição entre o capitalismo e o socialismo (sendo este último, também, uma transição)... Do sim para o não, o sim-não.
:: 
Ouvimos, entre os vermelhos, por estes dias, as vozes da greve geral. Isto é bom, e é decente. Mas qualquer anarquista, no alto de sua emoção e revolta juvenil, pode pensá-la.
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O marxismo exige ciência, exige método. Claro, erramos. Mas nunca se deve facilitar o caminho do erro. A responsabilidade é enorme. O improviso, o empirismo, o mecanicismo, o impressionismo e o sindicalismo não são de muita serventia enquanto totalidade.
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O marxismo antecipa as tendências futuras. E não só. Permite elaborar os próximos passos, puxar a corda para a nossa ponta.
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Greve geral? Por acaso, a CUT, a CTB e a Força Sindical dirigem, ainda, o grosso dos sindicatos e categorias? Sim, é óbvio. A - também ainda! - frágil esquerda consegue puxar por si uma verdadeira greve geral digna desse nome? Não, infelizmente. Conseguiria,ao menos, pressionar uma greve geral pela base forçando os burocratas a grevar em todo o país? Também não, mas pode - e deve! - preparar o caminho, o rumo, o norte. Tornar o impossível uma possibilidade, e a possibilidade em realidade.
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Então como? 1. Chamando greves unificadas nos estados; 2. unificando as que ocorrem paralelamente, 3 preparando greves gerais das categorias (correios, bancários, servidores estaduais, metalúrgicos do ABC, etc.), 4. puxando greves; 5. chamando dias de luta regionais (o país é continental, não dá para unir todo o território hoje); 6. elaborar frente únicas com organizações de esquerda contra os problemas da crise e contra o governo.
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Assim, com uma cor de cinza cada vez mais forte, fruto do acúmulo de contradições, podemos preparar as tensões para o salto-ruptura dialético, as condições básicas para uma greve geral, a primeira de outras. 
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Iremos, assim, aumentar a força na esquerda, crescer as rebeliões de base e oposições democráticas, aumentar a autoconfiança dos trabalhadores, educar para luta, consolidar organismos de combate por direitos.
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Chamar greve geral ou mesmo uma Luta Nacional, nos formatos propostos, desconsidera, no imediato, o desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, desconsidera a realidade. É extremamente variável a maturidade e a forma da luta de classes de um estado para outro estado, de uma cidade para outra cidade, de uma categoria para outra categoria.
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Na hora em que a burocracia ver que ou se move ou perde o aparelho, que o mal-estar popular tem sentimento de revolta, ela se moverá. Sua movimentação será para trair na primeira oportunidade, para evitar maior crescimento dos revolucionários. Mas se moverá. E como dialéticos, devemos ter em conta, o caminho não é mecânico, são decisões humanas: pode, mesmo, ao contrário, não se mover, e, nesse caso, a desmoralização será enorme entre os oportunistas quando se enfrentarem com as revoltas dos assalariados.
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Quando as tão difíceis tarefas primeiras se tornarem realidade, as condições para exigir uma greve geral estarão dadas.
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Pode-se argumentar que a dialética dialoga com o "saltar das etapas". É fato. Não se trata apenas de evolução, mas de contradição, conflito, combinações, saltos, rupturas. Só que estamos no reino da materialidade (o único reino existente). A crise se aguça; a luta de classes acelera-se desde 2013; uma parte dos "brasileiros" se esquerdiza (trabalhadores e classe média) e outra caminha para a direita (pequena-burguesia); quase todas as superestruturas, em medida maior ou menor, sofrem rachaduras internas. Passo a passo, estamos caminhando para a beira do abismo, porém, não chegamos ainda nessa beira ou mesmo em um abismo.
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Artigos acadêmicos, cansativos, sobre dialética temos e muito. Compreendê-la, usá-la é uma outra orientação. Querer dominar o marxismo e o materialismo histórico sem o uso do materialismo dialético como ferramenta, para além dos debates, é tão inútil quanto perigoso. Todo quadro desleixado com os estudos deve ser visto como um irresponsável.
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A experiência partidária/sindical empurra a militância para uma realidade paralela, alienada da rotina geral, orientada para o clubismo, para diálogos típicos de tribos (marxistas). É preciso misturar-se com a vida dos trabalhadores, negar o carinho pelo elemento químico puro. No chão do mundo a vida é contraditória, a matéria é totalmente suja.

ATUALIZAÇÃO (17/03/2015):
A proposta de greve geral tem por um lado,a influência do economicismo (sindicalismo) e, por outro, uma tentativa de mostrar garra e firmeza e radicalidade.
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É possível - e até urgente! - unir as pautas econômicas e políticas para conseguir mover a classe trabalhadora. 
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São quatro palavras de ordem políticas que a esquerda precisa levantar imediatamente:

- Fim de todos os privilégios políticos!
- Revogabilidade dos mandados a qualquer momento se os eleitores desejarem!
- Fim do financiamento privado de campanha eleitoral!
- Fim do voto obrigatório!

E:
- Dia nacional de luta contra a corrupção e por direitos!
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Ou seja, em síntese: regatar o papel das jornadas de junho. Um dia nacional pode ser antecipado com regionais. Mas antes de tudo é preciso agitação, panfletagem, divulgação, colar cartazes pela cidade, conversar, dialogar. Enfim: ganhar a classe para as propostas. Puxar um "Dia" desde um ponto de vista superestrutural, sem trabalho prévio, de base, de nada servirá. 
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Não é hora para atos de vanguarda. Necessitamos incidir pesado e diretamente (e há a oportunidade) sobre a consciência das massas. Assim não seremos algumas dezenas ou centenas nas ruas, mas dezenas e centenas de milhares.
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J. P. da Síria

domingo, 15 de março de 2015

A ESQUERDA ANTI-PT PRECISA SER OUSADA E LOGO




A transição inciada em 2010 tornou-se uma situação pré-revolucionária. Os ataques aos poucos diretos vieram com tudo. O PT se desmoraliza, os burocratas sindicais perderam a paz. Os recentes escândalos de corrupção desacreditam (ainda mais) o regime e alimenta a desconfiança das massas. As disputas dentro do Estado, dos governos e parlamento é maior e mais instável. As greves e lutas continuam a se multiplicar. Na lembrança dos trabalhadores está a memória da poderosa jornadas de junho e as lutas dos últimos anos.

Toda esta crise gera oportunidade. A esquerda pode dar um salto. Mas é preciso correr e ousar pegar impulso. Os trabalhadores precisam ouvir suas dores representadas em ousadia, em iniciativa, em denúncias, em alternativas e uma terceira via. Ela suplica por isso. Quer ver uma saída, está insegura. Precisa dos sentimentos de esperança e força.

É preciso agitação agressiva de propostas socialistas. Colar cartazes pela cidade, pinchar, agitar, tornar públicas as propostas da esquerda. Sair da zona de conforto urgentemente.

Nesse ponto entram as questões das palavras de ordem. Os protestos da direita foram povoados por propostas reacionárias e contrarrevolucionárias - a classe média mais rica estava devidamente representada. Hoje por hoje, nas "classes baixas", a maioria desconfia, uma parte minoritária sente empatia. Mas se não houver uma alternativa, os trabalhadores quererão mudar com as únicas cartas que se lhes mostra a realidade. Ou ela acha seu próprio ponto de apoio, dos oprimidos, ou será dirigida, no desespero, na busca de uma saída, pelos seus próprios inimigos.

São quatro palavras de ordem políticas que a esquerda precisa levantar imediatamente:

- Fim de todos os privilégios políticos!
- Revogabilidade dos mandados a qualquer momento se os eleitores desejarem!
- Fim do financiamento privado de campanha eleitoral!
- Fim do voto obrigatório!

E:
- Dia nacional de luta contra a corrupção e por direitos!

Assim uniremos as lutas (e as pautas) econômicas e políticas, preparando uma futura greve geral ainda não aplicável. 

 Assim ganharemos simpatia e apoio.

Permitirá lutar ao mesmo tempo contra o governo e a oposição burguesa e será uma alternativa ao ainda precipitado Fora DilmaTambém combaterá, pela própria natureza classista das propostas, o modelo de (contra)reforma política defendido pelo governismo.

Ou a esquerda anti-PT faz isso ou, diante da crise, o oportunismo da direita vai procurar desviar a raiva para armadilhas.

Dizer que PT e PSDB são igualmente inimigos é verdade e deve ser dito. Mas a classe quer saída, quer solução, quer respirar e descansar seus nervos. Podemos transformar cansaço em revolta e revolta em luta de classes.

Os que vivem do salário não precisam ter como caminho apenas o PT ou o PSDB, o braço esquerdo ou direto do inimigo. Isso seria terrível. É preciso dar uma terceira avenida. Essa outra estrada deve aparecer, de cabeça erguida, firme, gritando, deve mostrar para onde ela leva, que é muito bem asfaltada e nela cabe toda classe trabalhadora e setores populares empobrecidos.

Uma frente única dos trabalhadores por direitos e contra a crise é urgente. PSOL, PSTU e PCB devem formá-la a partir de acordos mínimos e com as seguintes regras invioláveis: 

1. total liberdade de opinião, cada um poderá produzir seus próprios materiais;

2. nenhuma participação burguesa; 

3. nenhuma trégua ao PT ou à direita, que não devem, logicamente, participar da frente;

4. aos partidos da frente única deve ser garantido suas autonomias;

Precisamos de ousadia, ousadia e ousadia!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? A Greve Geral.


No primeiro importante sinal de lutas, greve geral! Na primeira revolta parcial, revolução! Nas primeiras camadas reacionárias, onda conservadora! Na primeira importante dificuldade, crise geral! Nos primeiros sinais, todos os elementos! Só depois são feitos os balanços, as autocríticas, as acusações mútuas.
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Esperamos encontrar a revolução ou o medo já na outra esquina, empolgar-se é preciso. Avaliações vem e vão. 
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No entanto o questionamento é exatamente o mesmo do título deste artigo: e o método? Onde está a tal da dialética marxista? O materialismo dialético parece ser algo sobre o qual todos falam, mas, curiosamente, ninguém entende. Pode ser usada numa roda de debate, para travar o adversário com frases de efeito. No entanto, a questão das questões, a política, precisa de norte, de uma mão canhota.
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"Entre o preto e o branco exite o cinza". Vamos sob os feitos de exclamações: ou é não-revolucionária ou é pré-revolucionária (quem sabe tirar o pré!), ou é estabilidade ou é chamar a greve geral (que sabe insurrecional!), ou estabilidade do Estado ou Impedimento da Presidenta de plantão (quem sabe golpe!).
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E é assim, exatamente, onde a esquerda desconhece as transições, os fenômenos híbridos, os ritos de passagem, os processos pré-saltos. 
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Nada de 40,ou é 8 ou é 80!
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O cinza pode ser uma transição entre a situação não e a pré-revolucionária? Pode ser as greves unificadas, dias regionais de lutas, greves gerais por categoria como amadurecimento até uma futura greve geral ainda não aplicável? Pode ser estimular, com a luta, o desgaste do governo para amadurecer sua queda diante das massas? É claro (ou cinza) que sim!
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Lembro-me bem quando, entre 2010 e 2012,ouvi, na rotina, um fenômeno diferente, duplo, entre as pessoas comuns, não militantes. Ainda apoiavam o governo do PT, com muita firmeza, mas já tinham, diferente dos anos antecedentes, esta ou aquela importante crítica. Isso é importante: iniciou-se um desgaste, um período transitório que saltou, e muito, em 2013. 
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Os estágios transicionais são uma lei da matéria. Entre o aumento da inflação e o gatilho salarial há um caminho a percorrer: exigir um "simples" aumento de salário ou, quem sabe, um congelamento dos preços. Entre detestáveis demissões e a ocupação da fábrica sob controle operário com escala móvel de trabalho(!) pode haver um estado de preparação, de amadurecimento: lutar pela reintegração, contra a demissão ou, talvez, criar comitês de fábrica e exigir estabilidade. Aí está, em síntese, na agitação, a diferença entre uma política de extrema-esquerda e a de ultra-esquerda.

Na prática, tudo o que existe é uma transição, veio de uma causa e terá uma consequência. O socialismo é, sabemos, uma transição (fluida) entre o capitalismo maduro e o comunismo. Os próprios antigos estados operários eram uma transição entre o capitalismo e o socialismo (sendo este último, também, uma transição)... Do sim para o não, o sim-não.
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Ouvimos, entre os vermelhos, por estes dias, as vozes da greve geral. Isto é bom, e é decente. Mas qualquer anarquista, no alto de sua emoção e revolta juvenil, pode pensá-la.
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O marxismo exige ciência, exige método. Claro, erramos. Mas nunca se deve facilitar o caminho do erro. A responsabilidade é enorme. O improviso, o empirismo, o mecanicismo, o impressionismo e o sindicalismo não são de muita serventia enquanto totalidade.
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O marxismo antecipa as tendências futuras. E não só. Permite elaborar os próximos passos, puxar a corda para a nossa ponta.
::
Greve geral? Por acaso, a CUT, a CTB e a Força Sindical dirigem, ainda, o grosso dos sindicatos e categorias? Sim, é óbvio. A - também ainda! - frágil esquerda consegue puxar por si uma verdadeira greve geral digna desse nome? Não, infelizmente. Conseguiria,ao menos, pressionar uma greve geral pela base forçando os burocratas a grevar em todo o país? Também não, mas pode - e deve! - preparar o caminho, o rumo, o norte. Tornar o impossível uma possibilidade, e a possibilidade em realidade.
::
Então como? 1. Chamando greves unificadas nos estados; 2. unificando as que ocorrem paralelamente, 3 preparando greves gerais das categorias (correios, bancários, servidores estaduais, metalúrgicos do ABC, etc.), 4. puxando greves; 5. chamando dias de luta regionais (o país é continental, não dá para unir todo o território hoje); 6. elaborar frente únicas com organizações de esquerda contra os problemas da crise e contra o governo.
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Assim, com uma cor de cinza cada vez mais forte, podemos preparar as tensões para o salto-ruptura dialético, as condições básicas para uma greve geral, a primeira de outras. 
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Iremos, assim, aumentar a força na esquerda, crescer as rebeliões de base e oposições democráticas, aumentar a autoconfiança dos trabalhadores, educar para luta, consolidar organismos de combate por direitos.
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Chamar greve geral ou mesmo uma Luta Nacional, nos formatos propostos, desconsidera, no imediato, o desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, desconsidera a realidade. É extremamente variável a maturidade e a forma da luta de classes de um estado para outro estado, de uma cidade para outra cidade, de uma categoria para outra categoria.
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Na hora em que a burocracia ver que ou se move ou perde o aparelho, que o mal-estar popular tem sentimento de revolta, ela se moverá. Sua movimentação será para trair na primeira oportunidade, para evitar maior crescimento dos revolucionários. Mas se moverá. E como dialéticos, devemos ter em conta, o caminho não é mecânico, são decisões humanas: pode, mesmo, ao contrário, não se mover, e, nesse caso, a desmoralização será enorme entre os oportunistas quando se enfrentarem com as revoltas dos assalariados.
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Quando as tão difíceis tarefas primeiras se tornarem realidade, as condições para exigir uma greve geral estarão dadas.
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Pode-se argumentar que a dialética dialoga com o "saltar das etapas". É fato. Não se trata apenas de evolução, mas de contradição, conflito, combinações, saltos, rupturas. Só que estamos no reino da materialidade (o único reino existente). A crise se aguça; a luta de classes acelera-se desde 2013; uma parte dos "brasileiros" se esquerdiza (trabalhadores e classe média) e outra caminha para a direita (pequena-burguesia); quase todas as superestruturas, em medida maior ou menor, sofrem rachaduras internas. Passo a passo, estamos caminhando para a beira do abismo, porém, não chegamos ainda nessa beira ou mesmo em um abismo.
::
Artigos acadêmicos, cansativos, sobre dialética temos e muito. Compreendê-la, usá-la é uma outra orientação. Querer dominar o marxismo e o materialismo histórico sem o uso do materialismo dialético como ferramenta, para além dos debates, é tão inútil quanto perigoso. Todo quadro desleixado com os estudos deve ser visto como um irresponsável.
::
A experiência partidária/sindical empurra a militância para uma realidade paralela, alienada da rotina geral, orientada para o clubismo, para diálogos típicos de tribos (marxistas). É preciso misturar-se com a vida dos trabalhadores, negar o carinho pelo elemento químico puro. No chão do mundo a vida é contraditória, a matéria é totalmente suja.

ATUALIZAÇÃO (17/03/2015):
A proposta de greve geral tem por um lado,a influência do economicismo (sindicalismo) e, por outro, uma tentativa de mostrar garra e firmeza e radicalidade.
_
É possível - e até urgente! - unir as pautas econômicas e políticas para conseguir mover a classe trabalhadora. 
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São quatro palavras de ordem políticas que a esquerda precisa levantar imediatamente:

- Fim de todos os privilégios políticos!
- Revogabilidade dos mandados a qualquer momento se os eleitores desejarem!
- Fim do financiamento privado de campanha eleitoral!
- Fim do voto obrigatório!

E:
- Dia nacional de luta contra a corrupção e por direitos!
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Ou seja, em síntese: regatar o papel das jornadas de junho. Um dia nacional pode ser antecipado com regionais. Mas antes de tudo é preciso agitação, panfletagem, divulgação, colar cartazes pela cidade, conversar, dialogar. Enfim: ganhar a classe para as propostas. Puxar um "Dia" desde um ponto de vista superestrutural, sem trabalho prévio, de base, de nada servirá. 
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Não é hora para atos de vanguarda. Necessitamos incidir pesado e diretamente (e há a oportunidade) sobre a consciência das massas. Assim não seremos algumas dezenas ou centenas nas ruas, mas dezenas e centenas de milhares.
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J. P. da Síria