COMO SERÁ O SOCIALISMO?
MANIFESTO DE
TRANSIÇÃO AO SOCIALISMO
Por um novo
manifesto comunista
J.P.
PARTE I
A VELHA E A
NOVA SOCEDADES - 09
PARTE II
O PARTIDO
REVOLUCIONÁRIO - 29
PARTE III
O PROGRAMA REVOLUCIONÁRIO
- 35
APÊNDICE I
OS DOIS
CAMINHOS DA HUMANIDADE – 43
APÊNDICE II
- 53
O BRASIL
ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO
“Estou
convencido de que existe apenas um caminho para eliminar esses graves males, e
esse é o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema
educacional orientado para objetivos sociais. Em uma economia tal, os meios de
produção são propriedade da própria sociedade, e utilizados de modo planejado.
Uma economia planejada, que ajusta a produção às necessidades da comunidade,
distribuiria o trabalho a ser feito entre todos os capazes de trabalhar, e
garantiria o sustento de cada homem, mulher e criança. A educação do indivíduo,
além de desenvolver suas próprias habilidades inatas, se empenharia em
desenvolver nele um senso de responsabilidade por seus companheiros de
humanidade, em lugar da glorificação do poder e do sucesso, como temos na
sociedade atual.”
ALBERT
EINSTEIN
“Devemos
temer o capitalismo, não os robôs. Se, no futuro, as máquinas produzirem tudo o
que precisamos, o resultado vai depender de como as coisas são distribuídas.
Todos podem desfrutar de uma vida de luxuoso lazer se a riqueza produzida for
compartilhada. Ou a maioria das pessoas pode acabar miseravelmente pobre se os
donos das máquinas continuarem se posicionando contra a distribuição de
riqueza. Até agora, a tendência parece apontar para esta segunda opção, com a
tecnologia conduzindo para uma desigualdade cada vez maior.”
STEPHEN
HAWKING
“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por
que eles são pobres, chamam-me de comunista.”
Dom Hélder Câmara
Vivemos uma
coleção interminável de crises: crise ambiental, crise moral, crise das
classes, crise econômica, crise de suicídio – todas se unem em uma crise
sistêmica cuja base comum é o avanço, ou falta de, na produção. Finalmente, um
colapso! Este colapsar, no lugar de ocorrer como explosão ou susto único,
avança como um processo de decadência. Diante do possível fim da humanidade, o
cinema, por exemplo, foca nas distopias decadentes pós-apocalípticas. Todos nós
sabemos que amanhã será pior do que hoje, exceção caso façamos algo juntos para
impedir a queda no abismo. Por isso, chegou a hora dos socialistas
democráticos, os verdadeiros comunistas, exporem a natureza do estágio final do
capitalismo. Diz-se que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do
sistema do dinheiro, do capital; devemos, portanto, ensaiar na forma de um
manifesto a natureza do futuro imediato se vencermos, se a humanidade vencer,
se o mundo dos homens dominar o mundo das coisas, se Mamon enfim cair.
Portanto, uma palavra de ordem impera: Socialismo ou extinção!
Sob o
capital, o hoje difícil desenvolvimento das forças produtivas tornou-se
desenvolvimento das forças destrutivas. Contra a decadência, é necessário puxar
o freio para evitar o abismo. O objetivo revolucionário do socialismo é impor
uma nova era de reformas, incapazes de acontecer no capitalismo atual. Se o
sistema capitalista é incompetente para resolver suas próprias contradições e
melhorar a vida da maioria, então que morra! Tomaremos para nós todas as
conquistas civilizacionais do atual modo de vida e as combinaremos com o melhor
do futuro, do socialismo. O fantasma do comunismo causa arrepios inconfessáveis
entre os arrogantes bilionários. O mundo necessita de emprego, saúde, educação
e segurança – não de superricos parasitas e inúteis! Portanto, ainda estamos na
pré-história da humanidade, quando a barbárie é a base da civilização. Ainda
não somos humanos. Ninguém deve ser tão rico ao ponto de poder comprar outros
cidadãos – ninguém deve ser tão pobre ao ponto de ter que se vender para
outros.
Até aqui, a
maioria das rebeliões e revoluções focaram em geral apenas em derrubar o
governo e o regime político vigente; no entanto, de nada adianta derrubar o
príncipe e manter o seu princípio – chegou a hora de desafinar o coro dos
contentes! Liberdade, igualdade e fraternidade! Que a classe dominante e seus
políticos tremam diante do futuro digno – pois força não há capaz de enfrentar
uma ideia cujo tempo tenha chegado!
PARTE I
A VELHA E A NOVA SOCIEDADES
A PRODUÇÃO –
CRISE DO VALOR
Pela
primeira vez na história da espécie humana, produzimos tudo necessário e na
quantidade necessária para satisfazer todas as necessidades da humanidade – e,
ainda, fazer sobrar recursos para investir no desenvolvimento da economia
social. O tempo da falta e da escassez pede para ficar no passado, mas o mundo
do capital mantém a fome e o desemprego! Embora seja imoral a exploração do
homem pelo homem, ela tinha um sentido histórico, pois a abundância antes nunca
era suficiente para todos no escravismo, ou no feudalismo, ou no capitalismo
até há poucas décadas. Agora, tudo mudou. Temos uma superprodução crônica
latente, crises cada vez mais duras de superprodução de capital e de
mercadorias, todos os poros e cantos do mundo estão possuídos pelo mercado.
Que as
máquinas trabalhem no nosso lugar! A última revolução industrial empurra para
encerrar a era de produção de valor por meio do trabalho manual explorado; os
robôs e as máquinas automatizadas podem trabalhar duro para nós, por nós; mas,
sob o capitalismo, a introdução da moderna tecnologia produz desemprego
crônico, expulsão de operários das empresas. De um lado, muito mais produtos
por causa da produção alta permitida pelas máquinas, e, de outro, muito mais
desempregados sem condições de consumir – a conta não fecha!
A internet e
a informática, juntas com a robótica e a automação, permitem uma produção
organizada, planificada, planejada – evitando tanto o desperdício e o excesso
fontes de duras crises quanto a falta, ou seja, a demanda será igual à oferta.
Com a computação, a produção automatizada produzirá exato de acordo com a
demanda, um pouco a mais para ter estoques em caso de aumento repentino da
procura. Assim, teremos uma economia científica e estável, baseada em
protocolos e dados.
As empresas
ainda com trabalho manual serão estatais, geridas pelos próprios operários em
democracia direta – e de acordo com um plano geral da economia. Serão eleitos
em assembleia os poucos representantes de direção da fábrica, com salários
limitados e mandatos perdíveis a qualquer instante se assim os funcionários em
assembleia decidirem.
Para haver
democracia operária e popular, sempre é necessário tempo livre e energia aos
cidadãos, nunca esgotamento por longo trabalho. Por isso, desemprego zero! A
jornada de trabalho, que será reduzida de imediato – por exemplo, para 30 ou 20
horas semanais –, será móvel, com o mesmo salário; isto é, se o desemprego
aumenta, logo reduzimos a jornada para todos trabalharem; se a demanda da
produção por trabalho aumenta, logo aumenta um tanto e pouco a jornada para a
sociedade manter o equilíbrio.
Apenas com o
início da automação e da informática o socialismo, sua democracia e sua
economia racional, tornou-se possível. Em resumo, o comunismo avançado e
consolidado será, grosso modo, isto: as máquinas trabalham – nós cuidamos da
comunidade já que temos imenso tempo livre.
O socialismo
acelerará a substituição do trabalhador pela máquina, dando mais produtos e
mais tempo livre ao ser humano. Já o capitalismo impede a plena robotização da
produção, pois prefere manter o trabalhador ativo para lhe pagar salários
baixíssimos com jornadas extensas ou intensas. Sob o capital, a automação
impede a automação – pois a introdução da moderna maquinaria demite operários,
que, desempregados, fazem aumentar a oferta de força de trabalho, logo seu
preço – o salário – cai, compensando manter o trabalho manual barato no lugar
de implementar de vez a nova tecnologia.
Afastando-se
cada vez mais do trabalho manual na produção material, os cidadãos dedicarão
mais tempo livre para a família, para a arte, para o ócio, para cuidar do
Estado, para o setor de serviços como educação e saúde.
O
crescimento da produção primitiva foi a base do surgimento do escravismo
antigo. Depois, os problemas de produção no escravismo foram a base para a
então nova produção feudalista, mais ainda produtiva. Em seguida, o avanço da
produtividade feudal foi a base para a produção capitalista. A altíssima
produção no capitalismo põe, por sua vez, em crise a sociedade do mercado, como
veremos.
DISTRIBUIÇÃO
E A CRISE DO DINHEIRO
O dinheiro é
o verdadeiro Deus de nossa sociedade, domina todas as nossas vontades e
valores. Parece, portanto, impensável uma sociedade sem ele, sem esse demônio.
O escravismo e o feudalismo, porém, baseavam-se na distribuição somente de
produtos, não de mercadorias. Por outro lado, o sistema de preço, o mercado,
faz todo sentido apenas em sociedades de baixa abundância, quando existe falta
real; mas, quando surgiu a altíssima produtividade em nossa época, o preço e o
comércio deixam de ser uma força social positiva – o preço, o valor, não se
realiza!
No
socialismo, os atuais grandes supermercados, estatizados, sob gestão popular, serão
a primeira forma social de distribuição gratuita dos produtos – que no começo,
apenas no início, serão ainda mercadorias já que ainda precificadas.
O que for
produzido de maneira científica com a ajuda da alta tecnologia, será
distribuído de modo científico, como trens e caminhões de direção automática.
Todo cidadão terá um cartão magnético ou dados em aplicativo de celular
comprovando que foi útil para com sua comunidade, ao trabalhar ou ao estudar,
assim tendo acesso gratuito aos produtos nos depósitos sociais presentes em
cada bairro. Os produtos não serão mercadorias, pois não terão preço. Ou
melhor: os dados magnéticos e eletrônicos entregues nos depósitos, de modo
algum serão dinheiro, pois não circularão nem se acumularão em poucas mãos –
apenas dirão ao centro de comando virtual que um tipo específico de produto saiu
dos estoques sociais, logo sendo reposto. O dinheiro, este inimigo da
humanidade, que nos torna escravos das coisas, é tanto ele mesmo quanto sua
própria acumulação. O dinheiro tem por natureza sua acumular-se, dinheiro em
busca de mais de si; por isso ele deve deixar de existir no socialismo – o
dinheiro desconhece limites. O mundo dos homens deve dominar, de modo planejado
e unificado, o mundo das coisas.
Na medida em
que aumentam a produtividade e a quantidade de trocas, a história do dinheiro
aponta para seu próprio fim. Tornou-se cada vez mais material: primeiro, ferro;
depois, bronze; depois, prata; depois, ouro – para, em seguida, ir para a
desmaterialização: de ouro para prata, para bronze, para papel, para bits
(elétrons) quase imateriais. Em nosso tempo, o dinheiro é fictício, mantido de
modo artificial pelo Estado capitalista, um papel pintado, ou menos que isso,
quase nada. O dinheiro, hoje, é um nada que é, porém, tudo. O moeda em papel e
tanto mais, hoje, quando eletrônico não tem medida, pode ser criado, e
destruído, com imensa facilidade, sem limites aparentes, o que é o mais
poderoso sintoma de seu futuro fim. Como o sistema anterior dá base para o
sistema posterior e superior, o dinheiro virtual de nossa época com internet
permite o controle científico do consumo e dos estoques sociais no comunismo.
Mudanças
radicais no modo de vida ou mesmo a crise do escravismo romano e da servidão
feudal foram acompanhadas do alto endividamento, uma das bases de crises
sistêmicas. No capitalismo, ocorre do seguinte modo: temos a constante ameaça
de uma superprodução crônica, por isso o capital e os governos apostam no
endividamento para estimular o consumo, para escoar as mercadorias. Temos,
portanto, assalariados, governos e empresas muito endividados, sem condições de
pagar aos agiotas. Então, exigimos a anulação total e irrestrita da dívida dos
trabalhadores e pequenos empresários nem que seja necessário para isso
estatizar todo o sistema financeiro. A dívida do Estado também deve, por isso,
ser boicotada.
O grande
endividamento capitalista tem um segredo socialista. Como dissemos, graças à
grande abundância, não haverá no futuro o dinheiro entre o cidadão trabalhador
e o produto estocado. Hoje, a superprodução crônica latente de capitais e de
mercadorias leva ao estímulo de consumo por meio da dívida, por meio de
pagamento, ou seja, recebe-se o produto sem dar de imediato o dinheiro ou todo
o dinheiro do preço daquela mercadoria. Ora, a grande ausência do dinheiro nas
trocas imediatas, hoje, na forma de dívida, de promessa de pagamento apenas no
futuro, torna-se o sintoma oculto da completa ausência futura do dinheiro na
sociedade. Em ambos o casos, no socialismo e no endividamento capitalista, por
causa da alta produtividade, base do fim dos preços.
OS PRODUTOS
Em sua
última era, o capital fragiliza os produtos, diminui suas qualidades e
resistências em nome da quantidade maior para venda. Mercadorias cujo uso
poderia durar longos anos, são feitos para quebrarem logo e forçar nova compra
similar. Para preservar a renda dos trabalhadores e o meio ambiente, o
socialismo tomará medidas sobre a qualidade das coisas produzidas como aumento
da durabilidade, virtualização do que for possível, redução de tamanho e da
materialidade naquilo onde for viável de modo positivo.
Hoje, há
humanização das coisas na proporção da desumanização dos homens. Há valorização
das coisas na proporção da desvalorização dos homens. Há integração das coisas
– a internet! – na proporção da fragmentação dos homens. Há ganho de características
das coisas na proporção da unilateralização dos homens e de seus pensamentos. Há
ganho de cognição das coisas (inteligência artificial etc.) na proporção da
perda cognitiva dos homens. Há ganho de poesia e estética das coisas na
proporção da brutalização dos homens. É
necessário desvirar o mundo!
O socialismo
passa longe de ser um voto de pobreza: queremos que todo o povo tenha acesso a
uma vida digna, com os produtos comuns da sociedade – sempre respeitando os
limites dos ciclos da natureza.
CRISE DOS
CUSTOS IMPRODUTIVOS
A
concentração de humanos em grandes cidades com baixa qualidade de vida leva a
sociedade e o Estado a elevarem os custos de manutenção do modo de vida atual.
Assim, por exemplo, diante da desigualdade, o aparato da polícia deve crescer,
o que é um custo parasitário. Mas, no socialismo, com o fim da pobreza e o povo
armado, um grande aparato de segurança será desnecessário socialmente.
Apenas na
produção material se faz o valor de uso, a coisa, e o valor, a riqueza de nosso
tempo, como energia invisível nos objetos. Em nossa época, pelas causas acima,
serviços que não produzem nem objetos nem valor sugam de modo parasita parte do
valor global e disputam lucro sem dar, em troca, mais da riqueza econômica de
nossa época. O setor de serviços, superinflado, disputa lucro, e dinheiro,
contra a origem da riqueza, a produção. Apenas no socialismo muitas formas de
serviços deixarão de existir, como segurança privada, ou serão mais baratas.
A luta e a
concorrência entre poderosas empresas de monopólio forçam umas às outras, e
vice-versa, a aumentar muito os falsos custos de produção, custos improdutivos,
como capatazes, mais gerentes, setor de propaganda, espionagem e
contraespionagem industrial etc. O socialismo encerrará ou diminuirá tais custos
ao colocar a cooperação acima da disputa. Por exemplo, a vigilância sobre o
trabalhador será desnecessária porque será ele mesmo disciplinado por si, ao
ganhar salário por peça produzida, e por seus colegas; o custo com propaganda
será quase nulo, se existir; a espionagem empresarial será algo do passado já
que as empresas concorrentes estarão unificadas.
No
escravismo romano, a ampliação dos campos de trabalho forçado exigia também
aumento dos custos improdutivos com o controle prático da vida; mais capatazes,
mais soldados, mais burocratas etc. eram necessários para vigiar a quantidade
maior de escravos e a extensão acrescida da propriedade. No capitalismo com
concorrência de monopólio, as empresas em luta encarniçada forçam umas às
outras a acrescentar falsos custos de produção para vencer suas guerras
mercantis. No caso escravagista, a solução foi encontrada em outro modo de
vida, superior, o feudalismo, pois o antigo escravo passa a ser um servo, mais
livre, dono de suas próprias ferramentas e direito a plantar uma parte da terra
para si; a então nova sociedade superou custos improdutivos da sociedade
anterior, pois, por exemplo, tornou-se desnecessário uma vigilância tão direta
sobre a classe dominada, sobre o trabalhador. Do mesmo modo, o socialismo
reduzirá ou encerrará muitos dos custos improdutivos, capitalistas, nas
empresas e na sociedade.
URBANIZAÇÃO
A crise
sistêmica do império escravista romano teve como um dentre seus eixos a alta
urbanização. O fim do feudalismo na Europa também conheceu aumento da
urbanidade. As grandes cidades unem uma quantidade enorme de explorados e
oprimidos, logo temos cenário que facilita rebeliões e revoluções. No
capitalismo recente, pela primeira vez na história, temos mais pessoas na
cidade que no campo, e mundo urbano é a casa da democracia socialista, direta e
participativa. As revoltas tornam-se mais fortes e com as muitas exigências
“urbanas”, de salários ao saneamento passando por transporte.
No
socialismo, a urbanidade será organizada, planejada. É muito provável que em
cada bairro teremos um centro, de caráter social, onde estarão restaurantes,
lavanderias, creches, escolas, postos de saúde, praça, locais de esporte,
cinema, palco, espaço de assembleia do bairro, depósitos de produtos e assim
por diante – todos públicos, gratuitos e de qualidade. Em muitos casos, ao
redor de tal centro; as casas serão, de modo voluntário, substituídas por
espaçosos apartamentos dotados de varanda, paredes grossas, personalizados, com
todos os serviços residenciais necessários, semelhante ao que hoje é apenas
luxo.
De imediato,
há muitas casas sem gente – e muita gente sem casa. Prédios e moradias estão
sem função social alguma, nas mãos dos bancos e dos especuladores. Logo em seu
início, o governo comunista garantirá a distribuição de todas as habitações
disponíveis, antes nas mãos de poderosos, para os seus cidadãos. O problema da
habitação terá fim imediato.
CRISE DAS
CLASSES SOCIAIS
Um dos
objetivos do socialismo é o fim da divisão da humanidade em classes sociais, em
ricos e pobres, em patrões e assalariados. Queremos o fim da exploração do
homem pelo homem! Isso é antecipado sob o capitalismo de duas formas: 1) o
desenvolvimento das empresas afasta o investidor da administração real do
negócio, tornando-o mero acionista, sem relação prática real com a fonte de
riqueza, tornando-se parasita social; por outro lado, 2) a classe operária é
afastada da produção por máquinas automatizadas e robotizadas, gerando duro
desemprego e dificuldade de realizar-se enquanto classe. As duas classes
principais da sociedade, a burguesia e o proletariado, afastam-se da produção e
dos demais setores (comércio virtual, transporte automático etc.). Assim,
estamos mais pertos de tratarmos uns aos outros como indivíduos, sem distinção
de classe, sem sermos julgados pelo que temos no bolso.
Por ser
concentrado e por estar na produção, as revoluções socialistas tendem a ter, no
começo, liderança do operariado. Mas, depois, poderão acorrer revoluções
sociais de liderança popular pela reunião urbana de grandes setores populares,
pela fragilização parcial do operariado em nosso tempo e porque revoluções
vitoriosas facilitam outras revoluções.
No
escravismo antigo, o trabalhador escravizado era tratado como coisa. No
feudalismo, o trabalhador era considerado mais humano, um pouco mais livre, mas
formalmente preso à terra. No capitalismo, somos formalmente – apenas
formalmente livres, um tanto mais livres. No socialismo, seremos
substancialmente livres, de fato libertos; para além da sempre ameaça de
trabalhar ou morrer de fome, de viver para trabalhar no lugar de trabalhar para
viver. Com o aumento da produtividade, na história de nossa espécie, o homem
social é cada vez mais individual, mais pessoal, com mais opções, mais livre. A
divisão da humanidade entre senhor e escravo, senhor feudal e servo, patrão e
assalariado, credor e devedor será algo do passado remoto, um passado de
barbárie, nada natural ou tolerável.
UM PLANETA
SEM FRONTEIRAS
Na
antiguidade europeia, todos os caminhos levavam à Roma escravista; mas o
crescimento enorme de seu território exigiu mais do Estado e do exército,
levando à instabilidade, um dos fatores de sua crise sistêmica. Na crise
sistêmica do feudalismo, os feudos e os pequenos principados feudais foram
atacados pela pulsão da então nova sociabilidade, a capitalista, levando à
formação de estados nacionais unificados.
O capital
não tem pátria. As condições para a humanidade unificar-se como espécie, como
indivíduos iguais na diferença e livres, estão dadas. O mercado está em todo
canto, as fronteiras mal resistem à integração internacional. Assim, o
capitalismo antecipa dentro de si o caráter planetário da próxima sociedade.
Bastará, então, o poder operário e popular mundial, radicalmente democrático,
para concluir tal tarefa.
Por
enquanto, vivemos tempos de conflito armado. A guerra é a continuação da
economia por outros meios. Portanto, a luta entre os países por mercados e por
qual nação será a casa prioritária do capital, levará a guerras cada vez mais
duras, talvez uma guerra mundial. Deveremos boicotar este crime tanto do lado
dos velhos imperialistas quanto dos novos candidatos à nação dominante. Não há
motivos para que um trabalhador mate outro trabalhador em nome dos desejos de
lucro dos patrões de seu país.
A revolução
tende a começar em um país apenas, um relativamente atrasado em geral, e vai-se
espalhando por todo o globo terrestre em poucas décadas. Mas a vitória nunca
está garantida: para facilitar o sucesso da humanidade, os trabalhadores
conscientes de todos os países devem se unir num partido mundial da revolução.
O socialismo
apenas poderá existir se se consolidar em todo o mundo em poucas décadas, pois
recua aquilo que deixa de avançar. Uma dentre as vantagens do capitalismo sobre
os sistemas anteriores é seu caráter mundial; junto disso, a matéria-prima, a
tecnologia e o conhecimento são desigualmente distribuídos em todo o mundo. A
integração internacional completa é urgente para um modo de vida que tem de ser
superior ao mundo do capital. O socialismo será planetário, ou não conseguirá
existir isolado.
Neste campo,
seguimos o seguinte princípio: 1) queremos unidade humana, logo militamos
contra a separação dos povos; mas, 1) se um povo decide livremente por
separar-se, logo defendemos com unhas e dentes seu direito de independência.
A guerra
entre candidatos a império deve ser boicotada. Outro caso, exceção clara se for
uma luta de países socialistas contra países capitalistas, pois sempre
defendemos a sociedade com traços socialistas. Se os países nazistas
imperialistas se unem contra os imperialismos “democráticos”, cabe analisar se
tomamos os lados contra as nações fascistas ou o boicote total ao conflito. Se
um país dominante entra em guerra contra um país atrasado, sempre apoiamos este
contra aquele. Se dois países fracos e dominados entram em guerra, tomamos o
lado do invadido contra o invasor, contra o atacante.
A pátria dos
trabalhadores é o mundo!
O COLAPSO
AMBIENTAL
No Egito
antigo, em seu auge, a forma crescente e em monocultura de plantar à beira do
rio Nilo gerou uma sequência de crises ambientais importantes. Na Roma
escravista antiga, em seu auge, a forma de exploração da terra levava ao seu
esgotamento e à perda da produtividade. Isso foi resolvido apenas com o próximo
sistema, o feudal, que colocava uma parte da terra para descansar no ano
enquanto usava outras. No entanto, o aumento da quantidade de feudos, no auge
de tal sistema, destruiu florestas e nascentes de rios, o que produziu nova
crise ambiental. Do mesmo modo, mas muito mais intenso, o capitalismo em seu
auge também produz dura crise do meio ambiente. Apenas podemos salvar a
natureza e a espécie humana se destruirmos a causa do problema, o capital: o
dinheiro, além de não ter pátria, não conhece limite algum – a concorrência e a
atração pelo lucro forçam a desconsiderar os custos ambientais necessários na
sociedade. Por isso, socialismo ou extinção! Se a sociedade obriga grandes
empresas privadas a tomarem todas as medidas necessárias, muitas delas
faliriam, gerando dura crise econômica. Ou defende-se o meio ambiente ou
defende-se a propriedade privada. A crise do capital e o socialismo lembrarão
ao homem que a natureza não está fora dele, mas é ele mesmo parte dela.
A economia
planejada, sem concorrência, do socialismo tomará medidas como: medidas
ambientais obrigatórias, reciclar e reutilizar a maior parte do material que
hoje torna-se lixo, aumentar muito a resistência dos produtos, investir com
prioridade máxima em fontes limpas de energia. Tais medidas, se tomadas hoje
sob capital, gerariam duras contradições, falências, conflitos, desemprego etc.
Ou muda-se tudo ou nada muda. O capitalismo é como um canibal faminto que
devora o próprio braço. Se, por exemplo, a lâmpada que dura hoje 3 meses
passar, por mudanças em sua forma, a durar 15 anos ou mais, as empresas
produtoras da mercadoria faliriam por falta de procura, o que geraria
desemprego e crise. Apenas a economia planejada típica do socialismo pode
garantir tal resistência alta do produto, levando os trabalhadores, que seriam desempregados,
para empregos ainda melhores e com bons salários. Se reutilizarmos e
reciclarmos a maior parte do que hoje é perigoso lixo, várias empresas
produtoras de matéria-prima, insumos, faliriam, o que geraria desemprego e
crise. De novo, apenas o socialismo pode organizar sociedade de modo a reduzir
ainda mais a jornada de trabalho, impedindo o desemprego. Apenas uma sociedade
superior pode respeitar os ciclos e os metabolismos da natureza.
RISCO DE
EPIDEMIAS E PANDEMIAS
O auge-crise
do escravismo romano produziu suas epidemias. Depois, o auge do feudalismo
produziu pandemias violentas. Agora, o auge do capitalismo produz pandemias
mais uma vez, como repetição das crises sistêmicas em todas as épocas. A causa
geral é a urbanização e a integração combinada com desigualdade social, com
pobreza. No capitalismo, temos fatores adicionais como armas biológicas, os
transportes avançados (veja-se que a aviação comercial é recentíssima), a
alimentação artificial, o descongelamento de calotas polares fazendo ressurgir
antigos riscos microbianos etc. A mudança revolucionária da sociedade, como a
elevação geral da qualidade de vida e da educação de higiene, diminuirá muito o
risco de pandemias, junto com um a sistema unificado e mundial de saúde
pública, gratuita e de qualidade.
CRISE DAS
MENTALIDADES
Uma onda de
depressão e suicídio cobre o mundo. O declínio geral da psique revela-se no
salto para a morte de operários na China, na depressão e isolamento no Japão,
nos muitos problemas mentais na caótica São Paulo. Isso demonstra como a cabeça
segue o chão que os pés pisam: as duras crises econômicas e sistêmicas geram
dificuldades que deterioram a saúde mental da maioria.
A essência
humana sob o capitalismo é guiado pelo dinheiro; somos, portanto, egoístas, concorrenciais
e acumuladores de bens para sobreviver na selva de concreto. Mas tal natureza
social entra em contradição com nossa natureza real, natural; pois somos, no
fundo, seres integrados, seres mutualistas, nem egoístas nem altruístas, e
seres ativos, ou seja, criativos e afirmadores de si próprios. O inferno é
falta do outro, mas nunca estivemos tão isolados.
O
capitalismo promete alta felicidade caso acessemos as mercadorias, mas frustra
o tempo todo nossas tentativas de acessá-las – eis a contradição. A sociedade
socialista garantirá a paz psicológica ao garantir emprego, baixa jornada de
trabalho, espaço de lazer e esportes, bela urbanização, estabilidade, convívio,
serviços públicos amplos e eficientes. Mudando o modo de vida, mudamos a
psicologia, pois a matéria determina a ideia.
O Dinheiro é
a fixação mental da nossa época, nossa tara monotemática. Assim, diante da
decadência social, hoje temos uma luta ainda mais forte de todos contra todos –
mas nenhuma sociedade pode se manter por muito tempo sem uma boa ética. A
disputa moral, ética, faz parte da luta socialista.
A decadência
do modo de vida escravista na Roma antiga produziu declínio da mentalidade na
época, junto com uso amplo do chumbo. No final do feudalismo, a decadência
sistêmica também gerou decadência mental, junto com a contradição entre
impulsos novos ou maiores e a dura repressão religiosa conservadora. O declínio
da mente sob o mundo do dinheiro, hoje, consegue ser ainda mais degenerativo.
Vivemos tempos de forma sem conteúdo, café descafeinado, mercadoria sem valor,
arte sem mensagem, trabalho sem sentido, suco artificial, indivíduo sem pulsão.
É o jarro vazio de nossa época, que deve ser combatida e revolucionada por um
modo de vida pleno de sentido. Por enquanto, insistimos, o fracasso pessoal
quase nunca é culpa do indivíduo isolado.
CRISE DA
ARTE
Com a arte
múltipla do cinema, da TV e dos jogos de videogame, além da internet, que funde
diferentes artes, que é fruto do desenvolvimento técnico, as outras formas
artísticas entram em decadência, tornaram-se menos necessárias. Os artistas
oficiais compensam isso com o bizarro, com a forma pela forma, matéria pela
matéria, novidade pela novidade, e, ao mesmo tempo, podem fazer algo ruim e sem
esforço real e finalista porque, afinal, ninguém consome seus produtos. Temos a
falsa arte, a ficção da ficção; se, ao sair de dentro de um museu de arte
contemporânea, o visitante tem a sensação de que não entendeu muito bem o
exposto, na verdade nada havia a entender, nenhum conteúdo havia. A solução
para a crise artística é elevar a cultura geral do povo, aumentando a
quantidade de artistas e a quantidade de gente sensível para os diferentes
modos de arte. Somente o socialismo pode garantir educação e tempo livre para
tal avanço. Não haverá poesia na vida enquanto houver burguesia!
Para os
marxistas, a arte deve ser livre tanto de imposições financeiras quanto de
políticas. Valorizamos os artistas esforçados que fazem denúncias sociais, mas
nunca impomos nossos valores aos poetas, pintores, cineastas etc. Propomos aos
artistas independentes e revolucionários a formação de uma associação
internacional própria. Liberdade da arte – para a revolução! O socialismo trará
a todos o direito não só ao pão, mas também à poesia!
CRISE DA
FAMÍLIA MONOGÂMICA
No
capitalismo, a família é uma ficção, uma fraude, uma fonte de traumas e
conflitos constantes. Por exemplo, os pais mal acompanham o desenvolvimento dos
filhos, pois guiam todo tempo ao trabalho ou a algo relacionado a manter a casa
em pé. O socialismo não acabará com a família, antes fundará uma nova e mais
saudável, que respeite as mulheres e os filhos. A crise da família monogâmica
burguesa já trouxe algumas vantagens: sexo causal, relacionamentos com duração
somente enquanto haja amor recíproco, mais diretos às mulheres, mais liberdade
aos homens quanto aos seus perfis pessoais etc. Entre as causas dessa crise
estão a entrada da mulher no mercado de trabalho, a altíssima urbanização
reduzindo o controle social dos perfis, a existência de ferramentas como
pílulas anticoncepcionais etc. O nome político do amor chama-se socialismo. Ao
garantir qualidade de vida aos indivíduos, os casamentos serão apenas por amor
e durarão apenas enquanto este durar.
A LUTA
CONTRA AS OPRESSÕES
Os
capitalistas precisam dividir os trabalhadores para conquistar o lucro. As
mulheres, os negros, os jovens, os estrangeiros e os homossexuais da classe que
carrega o futuro nas mãos serão os mais beneficiados pelo socialismo, por isso
tendem a ser os mais dedicados à causa revolucionária. O desenvolvimento
técnico – como a entrada da mulher no mercado de trabalho e a criação de
anticoncepcionais – e a urbanização alta – facilitando rebeliões ao reunir
grande número absoluto de oprimidos e diminuindo o controle coletivo sobre as
individualidades – colocam em crise a imposição das opressões.
Não há
capitalismo sem machismo. A opressão do homem sobre o homem começou com a
opressão do homem sobre a mulher, pois a propriedade privada levou a que os
homens da classe dominante soubessem quem era seus descendentes, que herdariam
a riqueza.
Não há
capitalismo sem racismo. Enquanto o machismo inicia com a fundação das classes
sociais no mundo antigo, o racismo é fruto maldito do capitalismo, pois era
preciso justificar a escravização de homens e mulheres africanos com o
argumento da pele inferior. O trabalhador branco apenas será livre quando o
negro também o for.
Não há
capitalismo sem homofobia. O preconceito contra outras formas de sexualidade
inicia quando as classes dominantes antigas necessitaram do crescimento
populacional de seu povo.
Não há
capitalismo sem xenofobia, rejeição ao estrangeiro. O capitalismo precisa da má
condição de vida ao trabalhador vindo de outro país, imigrante, para pagar
baixos salários, reduzir os salários gerais e colocar os assalariados uns
contra os outros. Paz entre nós, guerras contra os senhores! O ódio contra
membros de outra nacionalidade também justifica idelogicamente a guerra por
lucro de uma contra outra nação.
O feminismo
marxista, por exemplo, operário e popular, difere-se radicalmente do feminismo
de classe média. Este foca na linguagem e no individual, nos cargos. O
feminismo comunista é mais responsável e maduro, próprio da mulher
trabalhadora, que precisa, além da liberdade de vestimentas, de creches, de
lavanderias e de restaurantes públicos, gratuitos e de qualidade.
O feminismo
burguês foca em dar cargos e poder às mulheres. Para o feminismo marxista, além
de destaque feminino, é urgente destruir o próprio poder, o cargo,
inevitavelmente machista, racista e homofóbico – mesmo se liderado por uma
mulher, por um negro, por um homossexual. Por exemplo: quase impossível que a
maioria das grandes patroas ofereçam creches gratuitas às suas funcionárias,
pois isso lhes tira lucro e vantagens sobre os concorrentes.
Apenas o
socialismo pode consolidar diretos aos setores oprimidos.
DESPOTISMO
ESCLARECIDO BURGUÊS
Quando o
sistema escravista romano entrou em crise, o poder estatal estatizou a
religiosidade dos escravos, a fé cristã, como forma de evitar as inevitáveis
revoltas dos trabalhadores. Quando o feudalismo estava decadente, ao parir o
capitalismo por dentro de si, o absolutismo tornou-se “esclarecido”: unificou
impostos e o território, aprovou leis comerciais, criou um parlamento limitado
– isso para agradar a nova classe ainda não dominante, a burguesia. Do mesmo
modo, o capitalismo decadente em seu auge produz um despotismo esclarecido.
O despotismo
esclarecido de nossa época serve para 1) aumentar a produtividade dos
trabalhadores; 2) aumentar a passividade destes. É caso da eleição de um negro
para a presidência dos EUA, a vitória de partidos de esquerda nas eleições a
partir do século 20, a legalização e estatização dos sindicatos, a
esquerdização recente da Igreja Católica, o operário ter direito a pequenas
ações da empresa em que trabalha e participação nos lucros e resultados, além
de eleger um diretor da corporação, ou o uso atual da falsa e corrupta
democracia dos ricos para substituir a luta social pelo voto passivo. Porque as
bases do socialismo provável estão maduras, porque há crise em todo canto; a
classe dominante, os grandes patrões e os governos, usam da falsificação e do
teatro para atrair os trabalhadores e o povo. Governos “socialistas”,
“operários”, “anti-imperialistas”, “de esquerda”, “progressivos” enganam a
nação para evitar a mudança socialista do país, para manter de pé o Estado dos
patrões.
CRISE DO
ESTADO BURGUÊS
No
escravismo romano, o crescimento do número de terras e de escravos, exigia mais
impostos, exigia retirar mais dos frutos do trabalho manual para sustentar
funcionários e soldados, além de guerras e lutas contra as revoltas
antiescravistas. O sistema todo começou a entrar em colapso. Também no fim do
feudalismo, o crescimento da urbanidade e das revoltas, exigiu mais do Estado,
que ruiu, dando lugar ao estado capitalista. Agora, o Estado burguês é corroído
pela própria lógica de lucro, na medida em que a taxa de lucratividade tende a
zero nas próximas décadas; pois: o problema de lucro exige 1) reduzir impostos
sobre os ricos e aumentar sobre os pobres, 2) privatizar empresas estatais, 3)
os custos de manter a sociedade em funcionamento (os serviços) aumentam com a
urbanização elevada, 4) as empresas de guerra tornaram-se poderosas e por isso
influenciam o governo rumo ao conflito, 5) a dívida pública tende a aumentar
continuamente para o Estado enfrentar as crises e a urbanidade, 6) o
desenvolvimento das comunicações e transportes facilita o capital não ter
pátria e fluir com facilidade de um pais a outro, 7) a integração planetária
sob o capitalismo transforma uns países
subordinados a outros como com a perda da emissão de moeda própria.
Com a
destruição e substituição do aparelho burguês, o Estado socialista será
radicalmente democrático: assembleias, conselhos, existirão em todos os bairros
e locais de trabalho. Os cidadãos votarão tudo o necessário em tais reuniões
periódicas; depois de decidido o central, elegerão membros para cuidar do
cotidiano dos conselhos e garantir a aplicação daquilo aprovado. Tais representantes
1) poderão perder o mandato a qualquer momento se assim a próxima assembleia
obrigatória decidir; 2) não ganharão um salário muito mais alto em relação aos
seus representados; 3) em alguns casos, a eleição será por sorteio regular, não
por voto. Tais conselhos serão criados também na cidade, no país e na esfera
internacional. Votações por internet serão comuns; também no mundo virtual,
além da TV, todas as correntes e partidos terão liberdade de defender suas
ideias, de tentar ser maioria. Isso substitui a farsa da democracia atual,
degenerada e serviçal dos ricos, quando o povo até vota, mas não decide. A pior
democracia é mil vezes melhor que a mais branda ditadura; mas não é suficiente
– apenas com liberdade real, sem ricos e pobres, haverá democracia real.
Como no
socialismo ainda haverá classes sociais e muitos setores de classe, será
impossível um governo de todo técnico – porém podemos antecipar isso. Ao lado
de um parlamento eleito e com mandatos perdíveis a qualquer momento, sem
privilégios salariais; deve-se formar um parlamento científico com cargos
assumidos por eleição, por concurso e por votação desta mesma instituição que
reunirá cientistas, engenheiros, especialistas, estatísticos etc., ou seja, a
nata intelectual e criativa do país. Eles cuidarão dos planejamos de longo
prazo – 5, 10, 30 anos –, além de pensarem leis e medidas que serão aprovadas
ou negadas pelo outro parlamento.
Ao
concentrar o grosso das grandes empresas nas mãos do Estado, este poderá se
financiar com imensa facilidade (além de criar dinheiro virtual com facilidade,
enquanto esta coisa existir, o que deve ser breve). Além disso, muitos custos
estatais para manter a sociedade serão reduzidos, como a força policial muito
menor ou mesmo inexistente diante da qualidade de vida geral e do povo armado.
De imediato,
nos primeiros anos da revolução, os impostos – que serão, em geral, sobre renda
e lucro, não sobre consumo (dos artigos básicos) – serão reduzidos sobre os
trabalhadores e a classe média, e será crescente sobre os ricos. Artigos de
luxo serão pesadamente taxados para financiar a moderna indústria socialista de
consumo popular; haverá proibição de herdar riquezas, além de pesados impostos
sobre grandes heranças; imposto alto sobre lucros e dividendos empresariais;
impostos sobre a exportação de certos produtos vitais e sobre importação de
certos concorrentes; imposto altíssimo sobre remessas de dinheiro para o exterior;
importante e progressivo imposto sobre grandes empresas privadas de serviços e
seus lucros – saúde, educação, alimentação etc. – para financiar serviços
gratuitos e públicos do mesmo tipo, enfrentado de frente a tendência de
privatização desse setor; o fim do pagamento da dívida pública, que pertence
apenas ao Estado anterior, que faliu. Temos vários exemplos de como tirar dos
ricos e melhorar a vida da classe trabalhadora, do povo e do novo Estado nos
primeiro anos do novo modo de vida. Mas tais soluções, que devem ser exigidas
já no capitalismo, ainda assim, são temporárias, pois o processo
aprofundar-se-á, por exemplo, com a estatização das maiores empresas e com o
fim do dinheiro.
Não é
possível haver democracia real aonde a sociedade está fraturada entre ricos e
pobres, dominantes e dominados. Mais: os trabalhadores passam quase o dia
inteiro dentro das empresas cujos destinos afetam toda sua vida, logo deve
existir máxima democracia nos locais de trabalho e nas fábricas; os operários
têm o direito, por seu esforço disciplinado e diário, de votar os rumos da
economia onde trabalham. A falsa democracia atual é apenas uma forma de os
pobres não matarem os ricos. A democracia escravista antiga, fundada na Grécia,
excluía os escravos. O feudalismo, por ser rural, não dava espaço às formas
democráticas; mas, no seu fim, viu-se obrigada a abrir um parlamento apenas
parcial. O objetivo da burguesia era similar à democracia dos ricos antigos,
apenas homens endinheirados votarem. A luta dos trabalhadores permitiu que eles
mesmos e as mulheres votassem, além de conseguir com muita luta formar seus
próprios partidos operários e sindicatos. A democracia socialista será a forma
mais profunda e completa de democracia existente, a democracia de fato, por
onde o povo governará.
CRISE DO
APARATO MILITAR
O aparato e
o modo militar romano, causa de sua glória escravista, foi também um fardo de
modelo que o levou às derrotas e ao seu fim. O feudalismo resolve isso com
muralhas de castelos e grupos de defesa locais. No fim da era feudal, os
defensores do então novo sistema, o capitalismo, fundaram modos de guerra
novos: o novo exército na Inglaterra, que se baseou no mérito no lugar do
medieval posto de comando por sangue; Bonaparte inaugurou o serviço militar
obrigatório, o abastecimento de tropas nas cidades por onde passavam etc. Mas o
sistema militar burguês também encontra sua crise, seu limite, após largo
desenvolvimento. A luta entre Estados força investir na artilharia e em
máquinas; mas, na história humana, aqueles que investiram mais em outros
setores do que na infantaria, nos soldados, conheceram quase sempre a desgraça
– ao fortalecerem-se para enfrentar uns aos outros, facilitam um tanto a
vitória de exércitos revolucionários e das revoluções. Máquinas caras e
modernas podem ser danificadas por armas e munições baratas ou semicaseiras,
além do alto custo de manutenção, abastecimento e especialização de operadores.
Em nossa época, depois de duas grandes guerras mundiais, o conflito armado não
revolucionário ou não anti-império perde sentido na cabeça dos cidadãos. Um
sistema de milícias operárias e populares, com todo o povo trabalhador armado
com leves e pesados calibres, substituindo os aparatos militares, surgirá após
a dissolução do exército revolucionário e ao mesmo tempo deste.
Na
revolução, os trabalhadores lutam apenas por reformas, para melhorar suas
condições, para levar dignidade ao país de modo sempre pacífico. Quando a
burguesia vê que vai perder a luta geral sem sangue algum, toma a decisão de usar
o exército e os bandos fascistas para derrotar o movimento dos trabalhadores
com métodos de guerra civil. Sempre são os grandes patrões e seu Estado que
cruzam a linha, passam do limite, iniciam a violência contra os assalariados
desarmados. Assim, eles obrigam os operários e setores populares a se
defenderem para manter-se vivos e melhorar de vez sua nação. O exército racha
ao meio, uma parte da baixa patente vai para o lado da revolução. Nessas
condições, ou muda tudo ou nada muda. Toda revolução é impossível – até que se
torne inevitável.
CRISE
CIENTÍFICA
A filosofia
antiga quase estagnou nas obras de Aristóteles e Platão. Depois, o pensamento
medieval entrou em crise com as descobertas vindas do desenvolvimento inicial
do capitalismo. Nos últimos 500 anos, experimentamos verdadeiras revoluções
científicas, que agora estagnaram mais uma vez. A etapa burguesa da ciência,
que foi progressiva em geral, escolheu o caminho do menor esforço, qual seja,
saber o “como” funciona o mundo, mas não o motivo, o “porquê”. Agora que
sabemos a maior parte das leis gerais, chega a hora de saber a razão de tais
leis.
Nunca
tivemos tantos doutores em filosofia, e nunca eles foram tão inúteis! A maioria
dos artigos, teses e dissertações “científicas” são descartáveis, imprestáveis,
enquanto uma cientificidade que foge das questões gerais e centrais surge. Isso
começa com a educação de base. O desenvolvimento tecnológico permite elevar a
educação, como a autoeducação parcial do aluno via internet, mas torna
desnecessário ao capital o trabalho qualificado, o que desestimula investimento
educacional. Os países dominantes oferecem educação melhor ou atraem para si as
poucas grandes mentes da humanidade, ao mesmo tempo, a maioria tem cultura
limitada em meio à sociedade tecnológica. Eis outra contradição.
Um das bases
do socialismo é termos a condição de percebermos isto: somos um modo de o
cosmos conhecer a si mesmo. Para haver socialismo, devemos saber as leis gerais
e a história do universo, pois isso tem repercussões técnicas e filosóficas.
Para a
ciência de base sair da estagnação, precisaremos de um novo paradigma científico,
o dialético, que nomeamos empírico-dedutivo. Nós devemos ir direto aos dados,
aos fatos, possíveis e disponíveis para o objeto de estudo – sem elaborar
premissas, postulados, técnicas, conceitos ou hipóteses artificiais. Mas os
dados, além de revelarem, enganam e escondem – as aparências enganam! Dito
isso, usamos a razão para ver o não empírico do empírico, a unidade interna na
diversidade externa, o conteúdo na forma, a essência no aparencial, para ver o
falso nos fatos; pois o essencial é invisível aos olhos.
A
cientificidade antiga, cujo auge foi Aristóteles, dizia: A=A, algo é igual a si
próprio. Esta formulação simples é necessária para conhecer e classificar os
seres, uma lógica de museu. É própria ao começo da ciência. No século 19,
consolidando uma revolução científica, Hegel disse: A=A e não-A. Isso significa
que o infinito e o finito, sendo diferentes, são também o mesmo; forma e
conteúdo são o mesmo; o interno e o externo são o mesmo; massa e energia são o
mesmo (o abstrato é o concreto em processo); espaço e tempo são o mesmo; a luz
é tanto onda quanto partícula. Hoje, podemos preservar as duas fórmulas, uma
dentro da outra, com uma terceira: A=A e… não-A. Na primeira lógica, a formal,
temos, por exemplo, a luta política aqui e a luta econômica ali, separados. Na
velha dialética, sabemos que a luta política é, ao mesmo tempo, luta econômica
e a luta econômica é, também, luta política. Mantendo as duas fórmulas
anteriores, descobrimos com a nova dialética que uma onda de greves econômicas
tornar-se política e, vice-versa, uma grande luta política passa para uma série
de greves econômicas.
É necessário
uma concepção geral de mundo. Tudo (o Ser) é energia em busca de mais energia
ou mais de si, tudo é espaço condensado (concentrado, formas de espaço), tudo é
espaço-matéria, tudo é trabalho, tudo é produção, tudo é histórico em
desenvolvimento e geográfico, tudo é totalidade integrada em automovimento
contraditório. De modo geral: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (=
luz = campo = massa). Se tudo é igual a tudo, logo tudo é um, ainda sendo
também diverso. Assim, o cosmo, o Ser, tem três movimentos gerais: 1) toma-se
como energia (espaço) em busca de mais de si, 2) ir-se do simples ao complexo,
3) desenvolve-se em novas interconexões. Junto disso, as categorias centrais do
mundo e, logo, do trabalho científico são totalidade (integração), contradição
(relação) e movimento (espaço-matéria).
As ciências
gerais caíram em erros unilaterais e opostos, o fetichismo (substancialismo
absoluto) e, na outra ponta, o relacionalismo. Para uns, por exemplo, o homem é
determinado pela sua biologia; para outros, os pós-modernos, tudo é construção
social. A verdade está em uma terceira formulação, terceira fórmula, que supera
ambos os erros contrários e extremos.
A verdade é
revolucionária.
PARTE II
O PARTIDO
REVOLUCIONÁRIO
O partido
marxista difere-se de todos os demais por ser o único honesto, além de ser um
partido que já não é partido algum. A organização marxista é um embrião da
democracia socialista, por isso permite liberdade de discussão, de proposta, de
organização interna; a qualquer momento, de modo temporário, como até o próximo
congresso interno, os militantes podem formar partidos dentro do partido para
disputar a política da organização e seus cargos dirigentes. Uma vez aprovada
uma decisão, toda a organização e seus membros agem como um só homem, todos
irão à prática com a mesma ideia – isso é a democracia centralista, liberdade
máxima de discussão com máxima ação conjunta unificada de acordo com aquilo
votado, aprovado.
O organismo
central do partido são suas células de base, por onde os militantes reúnem-se,
debatem e votam quais ações centrais dos próximos dias. Em tais organismos,
apenas militantes dedicados serão aceitos como membros.
O partido
revolucionário tem um jornal para orientar os militantes e tentar ganhar para
nossas posições os melhores lutadores sociais. Queremos ganhar consciências. Quando
o partido cresce muito, surge a urgência de criar um grande jornal popular, com
linguagem própria para isso.
Se o
operário passa quase o dia inteiro fazendo o mesmo movimento na fábrica, ele
nunca poderá desenvolver seus talentos para a causa comunista. É necessário que
os operários e os militantes de origem popular mais capazes sejam
profissionalizados, tornem-se profissionais da revolução, recebam básicos
salários do partido para organizar a luta de modo eficaz, nunca improvisado.
O partido
marxista apenas aceita membros que estejam no dia a dia da organização, além de
origem popular (assalariados, quem vive do próprio trabalho) e operária em
principal; de modo algum donos de empresas grandes ou pequenas, ou possuidores
de ações financeiras. Também rejeitamos, via de regra, para evitar corrupção,
dinheiro de empresas, empresários, sindicatos e do Estado. O aparato partidário
mantém-se de pé por contribuição voluntária de seus membros e por trabalho
voluntário.
Todo
militante experiente deve ter domínio estável da teoria revolucionária; deve
ser responsável com a capacidade de compreender o mundo, condição para
transformá-lo. Elevar o nível cultural dos seus membros é a obrigação do
partido comunista – teoria para guiar a rebeldia! Com humildade e democracia
real, nossos militantes devem se preparar para serem estadistas, líderes de
fato, líderes estatais, grandes políticos – nunca apenas meros sindicalistas.
O PARTIDO E
AS ELEIÇÕES
A democracia
dos ricos é uma farsa, constante fonte de corrupção e traições. Em certos casos
participamos com candidatos; em outros, defendemos voto nulo; em outros,
chamamos nossos deputados a renunciarem aos cargos; em outros, pedimos votos
para candidatos de outros partidos. Vamos às eleições porque é a hora em que os
trabalhadores mais dão atenção às questões de poder, para denunciar a própria
farsa “democrática”, para apoiar lutas, para demonstrar ao povo que somos os
mais capazes de governar e levamos a política a sério.
As seitas ou
negam a participação eleitoral ou participam de modo radicalista, passando-se
por desequilibrados e folclóricos para a maioria. Participamos da disputa nas
eleições porque aí também ocorre luta de classes, e queremos aumentar o apoio
popular para nós, para as ideias comunistas.
Se elegemos
parlamentares, eles não terão grandes salários. Se elegemos um governo regional
comunista, abrimos em todo o território conselhos populares por onde a
população trabalhadora decidirá os rumos de todo o orçamento e do governo.
Apresentamo-nos
nas eleições como os mais sérios e preparados, com um plano detalhado de
governo, com projeto debatido e desenvolvido feito de diferentes camadas de
profundidade. Na falta de orçamento para propaganda, usamos a linguagem direta
e simples, como o candidato olho a olho com a câmera. Apresentamos propostas
tão radicais quanto a situação política exige, nem mais nem menos. Propomos
reformas, melhorias na democracia e reformas revolucionárias.
ANTIBUROCRATIZAÇÃO
Ao acumular
pequenos e grandes privilégios, os partidos marxistas degeneram, fazem do
passado revolucionário um teatro. Alguns, tornam-se meros clubes de convívio e
seitas. Nossos parlamentares e dirigentes sindicais estão proibidos de acumular
vantagens de qualquer tipo; ao mesmo tempo, os militantes nossos que são
funcionários nos sindicatos e parlamentos (vigia, segurança, advogados,
jornalistas, administradores etc.) serão proibidos de votar ou ser votados para
conferências, congressos e cargos de direção política, ou cargos acima dos
intermediários, além de vetada participação em tendências e frações internas,
partidos dentro do partido. Se a qualidade de vida de um militante depende de o
partido ter aquele sindicato ou cargo de parlamentar, ele irá tencionar o
partido para degenerar-se, tornar-se centrista ou um reformismo apenas na
aparência revolucionário.
No
socialismo, será obsessão do partido comunista garantir e propor melhorias na
democracia socialista, de base. Impedir privilégios políticos e
administrativos, eleições regulares obrigatórias ao lado da revogabilidade
permanente dos mandatos, estímulos ao maior número de administradores capazes,
limitar a quantidade de dirigentes e intermediários nas empresas, o povo
devidamente armado tirando o privilégio do Estado de ter armamento, votos via
internet, eleição por sorteio, cota de membros “sem partido” no poder,
simplificação científica da administração, tempo máximo no cargo e tempo mínimo
ausente nele, baixa jornada de trabalho gerando tempo livre para a política (esta,
condição vital) – eis exemplos de medidas para manter e aperfeiçoar a
democracia real.
MORAL
COMUNISTA
Os
militantes estão unidos pela causa mais nobre, a liberdade humana. Por isso,
deve haver respeito, cuidado e sinceridade entre os companheiros de luta.
Mentiras e manobras são intoleráveis, ainda que sejamos sempre imperfeitos. Já
os conflitos honestos devem ser tolerados o máximo possível. Os comunistas
nunca mentem aos trabalhadores, sempre os convocam a confiar em suas próprias
forças. Na moral, quase nada é certo ou errado por si mesmo, pois depende do
contexto. No entanto, a disciplina e o respeito, além de pensar sempre com a
própria cabeça, além aprender a pensar, são valores gerais que devem guiar o
bom militante. Disciplina é liberdade! A militância comunista é rebeldia, nunca
cega obediência aos chefes partidários; o primeiro dever de um militante é
discordar de seus dirigentes. Defendemos uma ação ou proposta, mesmo quando
discordamos dela, porque confiamos nos nossos camaradas, porque confiamos no
projeto, porque o individual apenas pode afirmar-se de modo completo no
coletivo.
Mesmo por
mediações, o objetivo de todo militante socialista é o fim da alienação. Quando
fazemos assembleia para que os trabalhadores decidam os rumos das ações dos
sindicatos ou quando promovemos uma festa gratuita, isso ocorre mais do que
para dar prestígio aos nossos membros e organização – fazemos isso porque
queremos o desalienar da maioria, que os trabalhadores decidam seus próprios
rumos e relaxem-se, algo negado pelo capital à maioria. Os fins justificam os
meios e, ao mesmo tempo, os meios justificam os fins. O fenecimento do sistema
alienante exige ações desalienantes.
O REFORMISMO
E AS SEITAS
O reformismo
e o centrismo, como as correntes estalinistas e os chavistas, tentam liderar os
trabalhadores para provar à burguesia que são capazes de manter a paz social,
ou seja, a paz sem voz, a do medo. Toda grande mobilização, eles procuram
desviar apenas para o voto regular, para assembleias constituintes etc. Do
outro lado, erro oposto e irmão, o ultraesquerdismo e as seitas desconhecem a
mediação política, o meio-termo e elaboram proposta sempre radical para se
sentirem revolucionários, para o autoelogio, para atrair ativistas
radicalizados no lugar de mobilizar a nossa classe segundo as circunstâncias
concretas.
Em nossa
época, com o inchaço do Estado e o aumento da classe média, surgiu o
“socialismo” do servidor público. Tal setor, reformista ou centrista, defende a
estatização de tudo, o fortalecimento do Estado burguês, o fim da dívida
pública, a impressão de dinheiro etc. Intuem que o Estado capitalista entrou em
crise, mas querem, conscientes ou não disso, regenerar tal instituição no lugar
de pôr outra melhor, ou seja, olham apenas para o passado na tentativa de
resgatá-lo. Mas o futuro, se não for o colapso, será o socialismo.
O único
governo que os verdadeiros comunistas apoiam é aquele baseado na democracia
socialista, direta e operária-popular. O centrismo faz diferente; por estar no
meio do caminho entre o reformismo e a revolução, como a classe média entre a
burguesia e o operariado, defende governos de esquerda traidores dentro do
Estado capitalista. Os governos “socialistas” na atual forma de Estado surgem,
em geral, para impedir que a revolta social derrube o aparelho de poder
existente, para preservar o regime e a economia do capital. Diante de rebeliões
e revoluções contra os governos os quais apoiam, os centristas se colocam ao
lado dos governos burgueses “vermelhos”, “anti-imperialistas”, “nacionalistas”,
“progressistas”, “de esquerda” etc., e caluniam a revolta da maioria com
teorias conspiracionistas. Eles nunca levam o marxismo até as últimas
consequências; no limite, costumam trair a luta dos trabalhadores. São formal e
teatralmente como revolucionários, porém não tanto e quanto. O partido marxista
deve lutar contra tais inimigos ocultos da luta socialista, reduzir a confiança
do povo em tais correntes oscilantes. Fora do poder de fato democrático,
baseado em conselhos operários e populares, tudo é ilusão. Por isso, o partido
marxista é necessário, porque a vitória socialista nunca será inevitável.
PARTE III
O PROGRAMA REVOLUCIONÁRIO
Momentos
radicais exigem propostas radicais; momentos de paz social, propostas mais
leves e reformistas. É um absurdo levantar palavras de ordem de poder ou
profundas quando fora de uma crise econômica e social maduras. Nas lutas e nas
eleições, apresentamos duas ou três propostas gerais que estão de acordo com o
momento do país, além de um programa de governo completo com planos de médio e
longo prazos, o que fazer e sua fonte de financiamento.
Em resumo,
nos momentos de crise, nosso programa é este:
1) Caso de alto desemprego. Plano de obras
públicas para gerar empregos; redução drástica da jornada de trabalho como de
44 para 30 horas semanais; escala móvel de tempo de trabalho, ou seja, a
jornada durar o tanto, como entre 30 e 44 horas, que faça com que todos tenham
emprego e atendamos a demanda por força de trabalho na sociedade.
2) Caso de alta inflação. O limitado congelamento
de alguns preços, útil em certas circunstâncias, deve dar lugar ao gatilho
salarial ou escala móvel de salário, isto é, aumentar o salário automaticamente
com o aumento dos preços.
3) Empresa em crise. Os trabalhadores devem fazer
uma “inspeção operária da empresa”, para saber como andam as finanças e a
produção na fábrica – e exigir o “fim do segredo comercial”, saber das contas empresariais
para análise rigorosa. Nessa luta, devem consolidar um “comitê de fábrica” para
cuidar dos interesses dos funcionários. Caso os donos da fábrica queiram
demitir ou fechar a empresa, os trabalhadores devem exigir o “controle operário
da produção”, a “gestão operária da produção” – e a estatização da empresa sem
indenizações.
4) Máfia dos Bancos. O capitalismo endividou os
trabalhadores para poder escoar as mercadorias; portanto, exigimos a anulação
total e irrestrita da dívida dos trabalhadores e pequenos empresários. Se
preciso, estatizaremos os bancos e o capital financeiro para garantir a
qualidade de vida da maioria – um banco único do Estado.
5) Economia. As empresas centrais do país,
aquelas que determinam os ciclos do capital, devem ser estatizadas, sem
indenização, sob gestão dos operários.
6) Deve-se formar uma rede única e estatal de
grande comércio de atacado e de varejo, incluso estoques sociais contra a
oferta baixa e a especulação. Nessa empresa, os grandes transportes também
estarão sob sua gestão. Tal medida não deve mexer no pequeno comércio, antes
irá oferecer produtos mais baratos para sua revenda.
7) Combate ao fascismo. Os trabalhadores
defendem-se com piquetes de greve, quando usam da força para impedir a produção
e a repressão; para enfrentar o fascismo e suas milícias, organizamos os
destacamentos de combate defensivos; à beira da revolução, surge a necessidade
de as armas deixarem de ser um privilégio de poucos, por isso o povo armado
deve formar milícias operárias.
8) Poder operário e popular. Apenas em situações
de grave crise, próximo de ou durante uma situação revolucionária, surgem
organismos de poder paralelos, as assembleias ou os conselhos que aparecem nos
locais de trabalho e nos bairros populares. Em alguns casos, o partido marxista
chama pela criação de tais organismos ou os amplia por todo o país. Todo poder
aos conselhos! Todo poder aos comitês de fábrica!
Exigências
como maiores impostos sobre lucros e heranças com redução dos impostos sobre os
trabalhadores e a classe média são importantes, devem ser defendidas; porém não
resolvem o problema global.
As propostas
acima são nomeadas “transicionais”, ou seja, soam como reformas viáveis, ainda
que difíceis, mas empurram para o revolucionamento total do modo de vida já que
enfrentam as leis do atual sistema. Por exemplo: o capitalismo precisa de
desemprego para reduzir os salários e a luta social, em especial em momentos de
crise, logo, impor o pleno emprego permanente com a escala móvel de tempo de
trabalho é inaceitável para a burguesia, necessária e urgente aos
trabalhadores.
Duas
considerações ainda precisam ser feitas.
Os partidos
centristas, por serem formados por militantes de classe média servidora
pública, defendem, sem perceber, o fortalecimento do Estado burguês como com o
fim do pagamento da dívida estatal, ruptura com o Euro/EU, “fora governo” de
plantão, estatização indiscriminada etc. São propostas em si corretas, mas
apenas terão toda força se combinadas com propostas de transição prioritárias
para o momento político.
Outro ponto,
as grandes empresas de agronegócio e do campo serão estatizadas pelo governo
socialista. A pauta da reforma agrária é da revolução burguesa, não da
socialista, contra a poder agrário feudal. Os comunistas tiveram de defender
tal exigência porque no século 20 o campesinato ainda era muito forte, porque o
tempo da revolução socialista ainda faltava chegar. A situação agora é outra. O
Estado operário e popular fará uma reforma agrária secundária, mas manterá,
agora unificada e estatizada sob gestão de seus funcionários, a grande terra, a
grande propriedade. Isso tem pelo menos dois motivos: 1) por escala de produção
superior, a fome será apenas lembrança de um passado bárbaro, 2) a exportação
de grãos e outros derivados ajudará na manutenção das necessárias importações.
AS TRÊS
FASES DO COMUNISMO
Tudo novo
precisa de uma transição anterior, precisa de um processo de desenvolvimento ou
fases. Apenas quando todas as condições para uma coisa surgir estão presentes,
ela surge e consolida-se.
O socialismo
terá três etapas: a transição, que durará alguns poucos anos ou poucas décadas;
o socialismo, que durará muitas décadas, talvez secular; o comunismo, fase
madura máxima da humanidade.
A transição
ocorre porque a revolução socialista inicia, antes de espalhar-se, em um único
país primeiro, muito mais provável em um em parte atrasado por ser mais
contraditório. O poder operário e popular colocará as principais empresas do
país sob seu controle, mas não, de imediato, toda a economia nacional. As
reformas revolucionárias serão aprofundadas de modo progressivo, antes dos
saltos. O aparelho estatal, recém-fundado, crescerá em tamanho-extensão e
democracia.
O
socialismo, fase posterior, ocorrerá porque ainda existirão classes sociais
(camponeses, classe média, pequenos empresários etc.) e setores de mesma classe
muito diversos. Os salários serão, em geral, segundo a produtividade do
indivíduo, salário por peça (isso tem vantagens: diminui a necessidade de
inspetores de fábrica, estimula a produção do operário, o funcionário quererá
saber das contas da empresa etc.). Ganharemos segundo nosso esforço de
trabalho: quem trabalha mais, mais ganha. Aqui, o Estado começa a definhar,
deixar de existir, passo a passo. O dinheiro, em tal fase, e na anterior se
possível, deixará de existir ou será quase inexistente.
O comunismo,
auge da humanidade, será: 1) o fim das classes, quando seremos somente
indivíduos diferentes e cidadãos; 2) o fim da propriedade privada, com o
controle social e democrático da riqueza material; 3) o fim do Estado, pois
todas as instituições (sindicatos, conselhos etc.) serão unificadas para
administrar apenas as coisas, não mais as pessoas; 4) o fim da família
monogâmica, com formas mais saudáveis de família e relacionamentos amorosos.
Como observamos, a última fase do capitalismo já põe em crise estrutural tais
elementos, o que prepara o caminho do futuro. Neste nível social, cada um
ganhará segundo suas necessidades – e cada um contribuirá no trabalho social
segundo suas capacidades.
O
capitalismo também teve fases necessárias, etapas de desenvolvimento. Vejamos;
temos quatro tipos de capital: 1) capital comercial (capital mercadoria), 2)
capital industrial (capital produtivo), 3) capital financeiro (capital
dinheiro), 4) capital fictício (ações e títulos financeiros, serviços
lucrativos, empresas sem trabalho manual). Cada um forma uma das quatros
épocas: 1) era do capital mercantil, comercial, do século 16 até o final do
século 18; 2) era do capital industrial, do final do século 18 até o final do
19; 3) era do capital financeiro, imperialismo, do final do século 19 até a
década de 1970; 4) em diante, era do capital fictício, com a hiperinflação dos
papeis financeiros e dos serviços. Assim, percebemos, pela quantidade de tipos de
capital, que estamos na última era do sistema capitalista. O comércio, a
indústria e o mundo financeiro atingiram o ápice, o desenvolvimento máximo.
Ademais, cada uma das três revoluções industriais tendem a durar, em média, 100
anos, de seu início à consolidação.
O PROBLEMA
DO SOCIALISMO “REAL”
O chamado
socialismo real era, na verdade, socialismo fictício. Bem observado, as
condições internacionais e nacionais ainda eram imaturas para transformar o
capitalismo em socialismo com democracia direta, operária e popular. Vejamos
este exemplo: apenas agora, em nossa época, a taxa de lucro das economias
centrais, que era de quarenta por cento no século 19, tende a zero por cento
até a década de 2050 – e também zero em 2070 nos países atrasados; porém, bem
antes, com taxas como próximo de três ou cinco por cento da taxa de
lucratividade, o mundo do dinheiro já será insustentável. Se perguntássemos a
algum comunista de inteligência excepcional no início do século 20 quais as
provas de que o sistema capitalista chegou ao limite, diria: as duras crises e
a ameaça de guerras mundiais imediatas. E só, meros fatos importantes. Hoje,
seja por qual ângulo observamos, há crise de todo tipo, em todo canto, como
demonstramos – uma crise completa, sistêmica. O fato de os países com
características socialistas no século passado caírem com tanta rapidez em
ditaduras e em poucas décadas voltarem ao mundo do capital, prova que foram
ousadias prematuras, antes da hora marcada, antes do século 21. O anterior
século, 20, foi, assim, nosso ensaio geral – prepararam o terreno! Finalmente,
chegamos ao momento mais importante do destino da humanidade!
Poder operário, camponês e popular!
Socialismo ou extinção!
Organiza a tua revolta!
Economia democrática e centralmente planejada já!
É preciso lutar! É possível vencer!
A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores!
Construamos um partido mundial da revolução socialista!
Trabalhar menos – trabalhar todos!
Desemprego zero já!
A revolução socialista será feminista, antirracista e LGBT!
Trabalhadores de todos os países, uni-vos!
Ousadia! Ousadia! Ousadia!
POSFÁCIO
Na produção
deste material, fiz uso amplo de frases e reflexões de diversos pensadores
comunistas ou de esquerda. Eis que uma obra do tipo é, ainda que de modo
indireto, algo sempre coletivo. Mas um manifesto programático é diferente de um
texto científico puro, ainda que derive todas as suas conclusões de um
disciplinado trabalho científico-filosófico. Se o leitor deseja aprofundar as
ideias manifestadas aqui, convido a ler a obra “A crise sistêmica – Teses para
a atualização do marxismo” (J. P.), que expõe uma teoria unificada do marxismo.
O tipo de texto aqui presente deve resumir conclusões e energizar o espírito
humano, por isso a sua agilidade. Enfim, nossa época exige união de boa teoria
e correta prática, ambas necessárias, juntas, para mudar o mundo.
APÊNDICE I
OS DOIS
CAMINHOS DA HUMANIDADE
O marxismo
estuda o passado e o presente também para saber o futuro, os futuros possíveis.
Vemos, escapando da mera empiria externa, a tendência geral da realidade. É uma
historiografia do amanhã, também
marxista. Isso é possível quando se evita o detalhismo.
Sob o
capital, voltaremos às condições gerais análogas aos do sistema entre os
séculos 16 e 19, tal como descritas por Marx n’O Capital. Caminharemos para
frente como se para trás, mas com maior base tecnológica para a distopia. É uma
forma de má negação da negação. Como reforçaremos a seguir, a decadência
chegará a um ponto de não retorno, onde, se não acontecer antes, o socialismo
passará a ser impossível. Por isso, socialismo ou extinção! Antes deste último,
teremos uma forma de decadência da sociabilidade. Com sorte, alguns membros de
nossa espécie sobrarão.
Em diante,
ponho a disposição um resumo de outro livro sobre as possibilidades opostas,
ambas amadurecendo no real, logo de modo algum imaginativas do tipo artificial
ou sem critérios.
ECONOMIA
POSITIVA
A economia
planeja democrática e centralmente superará a anarquia da produção capitalista,
que produz duríssimas crises periódicas. Com o auxílio de inteligência
artificial e da informática, como a internet, a sociedade saberá como, quando e
quanto produzir de modo a oferecer igualdade entre oferta e procura, nem
desperdício nem carência. Todas as empresas estarão sob controle dos cidadãos,
em especial dos seus funcionários.
Com o tempo,
as máquinas trabalharão por nós, em nosso lugar, em todos os serviços possíveis
– todas as fábricas, nos transportes públicos etc. A verdade: o trabalho é para
as máquinas. Os cidadãos focarão no importante, isto é, educação dos jovens,
arte, filosofia, administração do Estado etc.
Com o tempo,
com a robotização e automação das empresas, o dinheiro deixará de existir. Isso
mesmo – o fim da precificação dos produtos. Todos os membros da comunidade
tirarão dos depósitos sociais públicos e gratuitos, que apenas de longe lembram
os atuais supermercados em cada bairro, os objetos necessários à sua
sobrevivência e vivência com plena saúde física e social. Para isso, um cartão
eletrônico ou um aplicativo de celular, dirá que o indivíduo foi, de alguma
forma, útil à sociedade, trabalhando ou estudando; depois, em estágio mais
avançado, nem tal comprovante será necessário, nenhum controle direto será
feito ao consumo.
ECONOMIA
NEGATIVA
A automação
e a robótica produzirão, sob tais condições, desemprego crônico, grande massa
de miseráveis sem nenhuma perspectiva de, algum dia, ter um emprego, que dirá
se digno. A indústria terá baixíssimo investimento em pesquisa e inovação.
Monopólios privados serão a regra por grandes regiões do planeta; com isso,
preços elevados. A crise econômica será permanente, sem grandes crescimentos,
pois o cenário de debilidade será bom para muitos negócios, como o baixíssimo
preço da força de trabalho ainda não escravizada.
A jornada de
trabalho será de, no mínimo, 12 horas diárias em todo mundo, algo mais em casos
de escravidão aberta e legalizada. Direitos trabalhistas serão proibidos;
haverá salário máximo a ser recebido, por lei, não mais salário mínimo como
garantia.
Os
supermercados serão hipervigiados pela tecnologia moderna da informação e da
vigilância para evitar, com bastante sucesso, roubos e invasões populares
contra a fome. Tais espaços privados terão até armas automáticas com
inteligência artificial precisa para controlar os consumidores.
Haverá uma
escassez artificial garantida pelo Estado, contra a possibilidade de
abundância. Neste cenário, em certos lugares, quem mendigar será condenado à
morte instantânea por lei que a proíbe em certos bairros.
Tudo será
privado, privatizado – tudo. Tudo custará, terá um preço. Como o Estado anulará
os impostos dos ricos e pagará pesada dívida constante aos agiotas oficiais,
liberar-se-á das despesas que em outras épocas seriam mesmo obrigatórias; não
haverá, em exato, serviços públicos.
Campos de
concentração hipertecnológicos serão também campos de trabalho escravo. Neles,
estarão desde comunistas até meros adversários oportunistas derrotados, como
pastores de outras religiões.
RELAÇÕES
SOCIAIS POSITIVAS
Com o tempo,
as classes sociais deixarão de existir. Assim como é absurdo o racismo, o
machismo; será considerado parte de um passado bárbaro a humanidade dividida em
ricos e pobres, em castas, em dominantes e dominados. Todos serão parte da
“classe dominante”, pois todos terão tempo livre para dedicar-se ao trabalho
intelectual, e ao manual de modo lúdico. Haverá apenas indivíduos em
comunidade, juntos em sua individualidade completa. A afirmação do individual,
o pleno desenvolvimento do indivíduo, será, ao mesmo tempo, o pleno
desenvolvimento da sociedade, ambos evoluindo unidos. Como será uma sociedade
da abundância organizada, a inveja será muito menor e, quando houver, terá, em
geral, forma construtiva, de ir para frente, de ser como aquele outro – não
destrutiva.
O desemprego
será proibido por uma escala móvel de tempo de trabalho – jornada curta, menor
ou maior, como de 2 a 4 horas por dia de segunda à sexta, de modo que todo o
trabalho disponível será dividido por todos os postos de trabalho disponíveis;
pleno emprego constante; trabalhar menos, trabalhar todos.
RELAÇÕES
SOCIAIS NEGATIVAS
Os humanos
serão divididos em castas fixas, imóveis. Como veremos, sequer terão contatos
visuais entre eles, os diversos e opostos. A parte dominante será, de todo,
parasita, sem contato pessoal real com as empresas e investimentos; e, vale
dizer logo, não pagarão impostos enquanto a maioria, ao contrário, pagará
impostos pesadíssimos. Um sistema pesado de dívida estatal, que drenará a
receita, garantirá a renda parasitária. O cinismo e a guerra de todos contra
todos, em meio à miséria, será normalidade, parte do cotidiano. Ter escravos
sequer será uma questão social importante, pois é melhor estar desumanizado,
coisificado, a morrer de fome. O desemprego crônico será regra, não exceção, a
maioria.
A CIDADE
POSITIVA
Os muros
serão algo do passado, uma relíquia da quase barbárie. Em cada bairro, haverá
um centro – neste, haverá creche, lavanderia e restaurante públicos e
gratuitos; haverá o cinema, o palco para shows, o clube, o posto de saúde e
demais serviços públicos, a área dos mais variados esportes e exercícios, o
jardim, a área de artes etc. Ao redor de tal centro público, as belas casas ou,
muito provável, os prédios existirão. No caso de morada em apartamentos, estes
serão espaçosos, com varanda, paredes grossas, belos, com mobília completa –
semelhante e melhor ao que hoje é o luxo do luxo.
O transporte
será automático e gratuito, além de rápido.
A CIDADE
NEGATIVA
Muros altos,
grossos, vigiados e perigosos por toda parte. A cidade é dividida em muitas
camadas por tais muralhas, às vezes segundo a casta, como o inferno de Dante. A
maioria morará nas ruas, em casas abandonadas distantes, em improvisos de lar,
dentro de carros velhos etc. A casta dominante terá área de golfe no quintal de
casa… A tecnologia vigiará cada canto 24 horas por dia com inteligência
artificial programada para controlar os cidadãos, lendo até seus pensamentos e
emoções.
O transporte
avançará pouco, além de caro e ruim, pois pouco interessará mudança radical aos
monopólios e governos. Ruas e estradas também serão privadas, cobrando taxas de
travessia.
MEIO
AMBIENTE POSITIVO
As espécies
que sobreviverão ao capitalismo serão multiplicadas com a ajuda da moderna
genética; e mais, novas espécies ressurgirão e surgirão com a ajuda da
tecnologia. Desde a economia planejada, também o homem encontrará novo equilíbrio
com a natureza: produtos tóxicos proibidos, obrigatoriedade de grande gasto com
o custo ambiental nas empresas, energia de fusão nuclear abundante em total
gratuita e limpa, reciclagem e reuso de materiais quase 100% evitando extrair
matéria-prima da natureza, reflorestamento rápido de início por meio dos
corredores ecológicos, administração avançada do clima a do tempo, colheitas
com aproveitamento máximo possível, abelhas salvas e abundantes.
MEIO
AMBIENTE NEGATIVO
Extinção em
massa dos animais de médio e grande porte, caça de todo liberada, epidemias e
pandemias com alta regularidade, fim de florestas, desertificação, maior
desregulamentação do clima com chuvas em falta ou em demasia, desastres
causados por negligência de empresas – por anarquia social, por luta de todos
contra todos da concorrência entre monopólios, porque a busca por mais dinheiro
não tem limites. Escassez artificial de energia, para dar lucro, e escassez de
produtos alimentícios como fonte de maior lucratividade, demanda sobre a
oferta.
ESTADO
POSITIVO
O Estado
será gerido diretamente pelos trabalhadores e setores populares. Substituindo a
corrupta democracia dos ricos, tudo central será decidido nos bairros e locais
de trabalho por meio de assembleias de base abertas. Após decidir o importante,
cada reunião geral elegerá os responsáveis pela gestão, pela implementação dos
projetos aprovados, para cuidar da rotina do comitê de fábrica ou bairro. Para
evitar corrupção, tais representantes terão: 1) salários limitados, evitando dependência
pelo cargo e 2) mandatos perdíveis a qualquer momento se assim a próxima
assembleia obrigatória regular decidir. Além disso, muitas votações serão por
internet. Será parte da rotina social os debates gerais, onde todas as
correntes políticas emitirão suas posições e opiniões por meio da internet e TV
etc. Os representantes nacionais e
internacionais serão eleitos por voto direto dos representados, também com
mandatos perdíveis e renda limitada, ademais de tempo máximo num cargo e tempo
mínimo fora do mesmo de representantes gerais.
Na segunda
fase, mais avançada, partidos deixarão de existir porque a humanidade já
superará a divisão dos homens em classes sociais, em grupos diversos com
interesses particulares. Um parlamento científico, ao lado de uma gestão de
todo técnica, ajudará a gerir a sociedade de modo correto, ainda com
inevitáveis polêmicas.
ESTADO
NEGATIVO
Uma ditadura
religiosa teocrática privatizará o Estado. O governo usará a tecnologia para
impedir qualquer tipo, mesmo se moderado, de oposição. Ainda assim, elegerá
gente “sem partido”, como representantes supostamente populares, logo
corrompidos e controlados pelo poder oficial. Os serviços públicos serão
escassos, quase inexistentes e nulos. O poder policial e militar será privado, com
milícias bem ou mal servindo à família e à casta dirigente. Dados estatísticos
serão proibidos ou, se necessários, secretos.
PODER
POSITIVO
De início,
todo o povo terá direito à formação com armas leves e pesadas, além de haver
milícias operárias e populares nos bairros e locais de trabalho subordinados às
assembleias populares – o exército será dissolvido no povo armado,
auto-organizado e pacífico por razão da qualidade de vida e do autogoverno.
Mesmo assim, no começo, um exército regular será necessário para vigiar
fronteiras e evitar invasões; depois, o mundo unido e socialista dispensará de
todo exércitos. O uso de armas entrará, pouco a pouco, em desuso, pois serão
desnecessárias, usadas aqui e ali, vez ou outra, cada vez menos, para caça
legal e limitada ou em disputas esportivas.
PODER
NEGATIVO
Proibido
qualquer armamento popular. Milícias privadas antidemocráticas dominarão
bairros e favelas, cobrando um “imposto de segurança”. Servirão ao Estado
teocrático e militar. Guerras serão travadas por lucro e para reduzir o número
de desempregados incomodando, além de mobilizar mercenários ociosos e
perigosos. Robôs de guerra avançados, na forma semelhante a humanos e animais
quadrúpedes, serão a nova infantaria – sem compaixão, sem humanidade, por meio
de inteligência artificial. Satélites de guerra com alta capacidade destrutiva
serão usados antes do fim da civilização.
EDUCAÇÃO
POSITIVA
Com a ajuda
da internet, a educação será fonte de prazer e impulso. Haverá esforço máximo
da sociedade para o aprendizado ativo, qualitativo e rápido. A autonomia do
indivíduo será estimulada, e sua capacidade de cuidar de si próprio, e seus
interesses e talentos inatos. O respeito à autoridade será ensinada, mas de modo
crítico e respeitoso aos mais velhos e aos sábios, nunca uma subordinação ou
desestímulo ao pensamento próprio. A maior parte da humanidade será erudita,
muitos cientistas, haverá partidos de teorias químicas ou de teses sobre o
mundo quântico; e todos terão, pelo menos, uma formação filosófica, científica,
artística, prática e humana séria, básica. A constituição mundial do futuro
dirá: Todo cidadão tem o direito e o dever de conhecer as conquistas
científicas, racionais e emocionais da história de sua espécie.
EDUCAÇÃO
NEGATIVA
As escolas
militares serão regra, dominarão. A educação terá por base decorar, repetir,
tornar a alma dos jovens como certa máquina. Trabalho qualificado será
desnecessário. Proibido história, geografia, filosofia e sociologia reais, tal
como devem ou deveriam ser. As poucas escolas serão particulares, para poucos,
da casta dominante – a absoluta maioria será analfabeta ou semi. Como dito,
será proibido mera menção a Einstein, Darwin, Freud, Marx, Engels, Hegel,
Lenin, Trotsky, além de tantos outros. E a ciência ainda existente será quase
de todo aplicada, nunca de base (ou seja, conhecer o como, nunca o motivo
interno dos fenômenos). Apenas a arte religiosa será permitida.
PSICOLOGIA
POSITIVA
Como o
trabalho duro será de pouco tempo, quando for inevitável; como o tempo livre
para a criatividade e para o ócio será alto; como a qualidade de vida e o
acesso aos produtos serão plenos; como a vida em grupo será comum e natural;
como os tabus e preconceitos serão superados, como a relação com a sexualidade;
a essência humana será realizada, a vida psicológica será de boa qualidade,
apesar de ainda imperfeita.
PSICOLOGIA
NEGATIVA
Onda de
suicídio por miséria material e espiritual; uso desregulado, não apenas
recreativo, de drogas; alta solidão; luta de todos contra todos, desconfiança e
paranoia constantes; banalização do absurdo; epidemia de estupros e
assassinatos; terrorismo desprovido de objetivo, por pura revolta sem projeto.
CORPOREIDADE
POSITIVA
Os corpos
humanos serão belos e proporcionais. Do nosso ponto de vista, serão como os
elfos da mitologia de Tolkien. Serão fortes, mas não de músculos inchados de
modo desproporcional. A estrutura óssea será grande e larga, e as pessoas serão
muito altas. Algo raro encontrar alguém feio, pois a pobreza é, muitas vezes, a
mãe da feiura. O envelhecimento será saudável, adiado por muito tempo, e digno;
porque, entre outros motivos, haverá demora para envelhecer. Mudanças genéticas
responsáveis e não racistas ajudarão no desenvolvimento admirável e saudável
dos cidadãos. Talvez, remédios simples para obter imortalidade prática serão
possíveis. O cérebro será cada vez maior e mais complexo.
CORPOREIDADE
NEGATIVA
Será comum
gente com membros amputados por razão de acidentes de trabalho, além de
cicatrizes das torturas na escravidão. Os corpos serão ainda mais
desproporcionais do que já hoje são. A obesidade sem nutrientes de uns
acompanhará a magreza excessiva de muitos. Assim, desagradável olhar um ser
humano se poderemos falar em tal espécie ainda. Além das doenças comuns nos
órgãos internos, doenças de pele serão fartas. Por fome e trabalho duro desde a
infância, o tamanho médio dos “cidadãos” cairá geração após geração. O tempo de
vida médio também será reduzido com o passar dos anos. O cérebro será, em
geral, cada vez menor e frágil em sua complexidade.
A tendência
ao negativo empurrará para a possibilidade da revolução vitoriosa, que forçará
o positivo; a partir de certo ponto, porém, se o negativo consolidar suas
bases, será impossível o revolucionamento total da sociedade. Ao que parece, temos
poucas décadas para decidir nosso futuro. Olhando assim, a escolha é óbvia e
clara – porém exige esforço.
J.P.
(se desejas
a exposição profunda destas ideias, proponho a leitura do livro A crise sistêmica.)
APÊNDICE II
O BRASIL ESTÁ
MADURO PARA O SOCIALISMO
O BRASIL
ESTÁ MADURO PARA O SOCIALISMO
Apesar da
força interna do marxismo brasileiro, poucos marxistas concluem o que já está
quase óbvio: o Brasil beira o socialismo, não apenas a barbárie evidente. Para
isso, deixamos claro: apenas em situações muito específicas, em duras crises ou
logo após elas, a revolução é conjunturalmente possível e viável. Mas, aqui,
tratamos da estrutura social; faremos, neste ensaio, uma breve análise de
estrutura, madura para a próxima sociedade, não de conjuntura específica.
Vejamos o estrutural da economia (infraestrutura), as classes (estrutura), as
mentalidades (superestrutura subjetiva) e as instituições (superestrutura
objetiva). Não será necessário cansar o leitor com dados, gráficos e tabelas;
pois todos os fatos que servem de base são amplamente conhecidos e
reconhecidos, embora raramente interpretados, quanto mais de maneira correta.
Veremos a mudança radical em, em média, 100 anos brasileiros. A inspiração
bibliográfica é o artigo público de mesmo título produzido por Edmilson Costa.
Deixamos apenas um aviso prévio: países africanos, por exemplo, rurais e sem
base para o socialismo podem fazer a revolução socialista se saem em seu
socorro outras revoluções ou nações socialistas de países importantes. A
revolução é mundial. Mas é necessário que países determinantes alcancem certos
“máximos” relativos como alto nível de urbanização.
Economia
(Des)industrialização
Como
sabemos, o socialismo apenas é possível após um alto desenvolvimento do sistema
anterior, o capitalismo. É o caso do Brasil: tão maduro para a próxima
sociedade quanto pode ser um país dominado. Portanto, algo verificável.
Há 100 anos,
éramos um país rural, que exportava café, sem indústria. Em um século,
tornamo-nos um dentre os países mais industrializados do planeta. Em termos
relativos, no período recente, nossa indústria tem perdido espaço para os
serviços (algo “natural” e geral após toda alta industrialização); em termos
absolutos, há uma desindustrialização relativa e continuada. Temos, então, dois
fatores opostos, ambos estimulando a revolução social: alta industrialização,
base para a próxima sociabilidade, e perda de indústria, decadência industrial,
o que empurra os trabalhadores a mudar o país.
Estamos na
segunda revolução industrial e, ainda que de modo tímido, acessamos a terceira.
A revolução socialista atuará para ampliar a automação e a robótica, algo
difícil ao capitalismo de um país dominado, aonde opera baixos salários e
condições de vida.
Matéria-prima
Produzimos,
hoje, boa parte da matéria-prima necessária à produção. Tal fator, não central,
dará mais estabilidade e resistência a uma sociedade socialista recém-fundada,
embora necessite que a revolução seja mundial. “Temos” uma das maiores
mineradoras do mundo, o melhor regime de energia por queda de água do planeta,
facilidade de produzir energia eólia e solar, petróleo abundante com a
tecnologia de extração necessária, domínio da produção de energia nuclear etc.
Agroindústria
Somos um dos
celeiros do mundo. Com a estatização das grandes propriedades do campo,
formando uma só empresa rural, poderemos manter e aumentar a escala, defender o
meio ambiente e tornar os produtos agrícolas centrais de consumo popular muito
baratos, tornando a fome algo do passado bárbaro.
Faz pouco
tempo, os canaviais eram o local do trabalho humilhante, quase escravo; mas
agora máquinas modernas, de tratores até drones, substituem o trabalho manual.
Bancos
A altíssima
concentração bancária tem vantagens e desvantagens. Nos EUA, há mais de 5 mil
fragmentados bancos enquanto no Brasil, 6 dominantes, 3 estatais. Nosso sistema
bancário é moderno, mas degenerou em máfia, em oligopólio, que impõe duras
taxas de juros, sugando de modo parasita a economia. Nosso sistema bancário
impede o desenvolvimento das forças de produção. Eles são poderosos, forçando uma
revolução socialista para impor um banco único do Estado, com empréstimos
baratíssimos, reanimando a produção e a economia, além de cancelar, contra a
escravidão bancária, a dívida enorme e crônica dos trabalhadores e pequenos
empresários.
Comércio
O pequeno
comerciante existirá por um bom tempo, pois é fácil criar um pequeno comércio.
Mas já é regra haver supermercados e hipermercados em quase todos os bairros
das cidades brasileiras. A rede comercial está interligada pelo mercado
financeiro e pela internet. Assim, temos a base para as primeiras formas de
depósitos públicos de produtos no socialismo. Uma rede única estatal de
distribuição e grande comércio pode surgir. A concentração e centralização do
capital comercial atingiram níveis altos nesta nação.
Dívida
pública
O Estado é
imensamente sugado para o pagamento da dívida estatal. Nesse sentido, veio o
absurdo de aumentar como nunca os impostos sobre os trabalhadores e a classe
média, reduzindo sobre os ricos (o imposto sobre lucros e dividendos foi
retirado etc.). A dívida impede um investimento correto nos serviços público,
levando a tensões sociais. O sistema de impostos impede a criação de novas
empresas, mantendo o domínio das maiores.
Integração
mundial
O Brasil não
pode ser simplesmente “desligado” no mundo – somos um continente, não uma ilha.
Assim, continuaremos juntos ao mercado mundial em caso de socialismo. Nossas
exportações e importações são igualmente vitais ao sistema global. Uma
revolução socialista no Brasil provavelmente levará consigo toda a América
Latina.
Classes
sociais
Urbano
Há 100 anos,
o Brasil era 90% rural; agora, 90% urbano. Pequenas, médias e grandes cidades
produzem concentração humana, risco de revoltas, greves, luta de ideias – a
cidade é a casa da democracia socialista. As demandas sociais da urbanidade –
caótica neste país – empurram para a luta de classes mais intensa. Dito isso,
vale observar: o enorme tamanho absoluto de explorados e oprimidos, uma das
maiores populações do mundo, é a força imensa da revolução brasileira.
Burguesia
parasita
A burguesia
tornou-se parasitária. Em vez de investir na produção e na circulação, investe
em dívida pública, na renda passiva da terra, no mundo financeiro e bancário
etc. Os superricos moram nos EUA, adquirem até sotaque estadunidense, perdem
noção da realidade brasileira.
Surgiu
também uma burguesia comercial poderosa, que vive de juros no cartão da
empresa, na dívida dos trabalhadores, cuja origem social em parte é a
hiperinflação por décadas até os anos 1990.
Outra parte
da burguesia é dependente de contratos com o grande Estado brasileiro, que é um
capitalista impessoal (o Estado capitalista é um capitalista impessoal).
Nossa
burguesia aceitou, contra sua classe operária, ser sócia menor da burguesia
imperialista. Ela é bruta, de origem escravista, mas sabe contratar as mentes
mais inteligentes do país para gerir o caos nacional.
Operariado
Temos uma
das maiores classes operárias do mundo. Ademais, sua nova geração é
culturalmente superior. Criou-se, aqui, uma tradição de greve e de luta nas
categorias. Tendemos a reduzir numericamente o número de seus membros, mas eles
continuam a ter força, pois podem parar a produção vital, além da circulação no
caso do setor de transportes.
Classes
médias
Há altíssima
concentração de setores populares precários nas cidades, que costumam ganhar
menos que boa parte dos operários. A tendência a salários menores nas classes
médias faz com que se esquerdizem, como com greves, e tendendo à aliança
operário-popular.
Superestrutura
Marxismos
É difícil
encontrar um país aonde o pensamento marxista não seja marginal, dentro e fora
das universidades. O Brasil é uma das exceções. Temos os mais variados tipos de
marxismos, criando um bom caldo cultural. Temos o maior partido trotskista do
mundo, o PSTU (o trotskismo tem força na América Latina inteira – são inúmeras
as correntes inspiradas em Trotsky no Brasil – todos os fatores aqui tratados
cabem, grosso modo, à Argentina). O PCB, embora centrista, hoje é muito
diferente do antigo e pelego PCB. O PSOL tem revolucionários que não
degeneraram, mesmo que oscilem bastante.
Erguemos
movimentos incríveis como o MST, no campo, e o MTST, na cidade, além de uma
central sindical e popular revolucionária, CSP-Conlutas, que possui força nos
principais batalhões da classe operária (embora, muitas vezes, aristocrático).
Os
pesquisadores marxistas ou de esquerda costumam ser os melhores, mais
responsáveis e mais originais do país. Somos minoria na universidade, às vezes
perseguidos, mas com posições que são difíceis de ignorar ou boicotar. Isso é
incomum.
A
diversidade do país mais sua pobreza fazem com que a dialética seja um caminho
natural para o pensamento. Por exemplo, difícil para um escritor de ficção não
falar da pobreza nacional.
Além disso,
temos uma natural vocação internacionalista como com a marginalidade do
pensamento xenofóbico entre as camadas populares.
Letrados
Há 100 anos,
especialistas como economistas, advogados, engenheiros, arquitetos,
administradores etc. eram raros, sem universidades no país. Hoje, temos uber,
taxista, formado em engenharia… Temos uma elite intelectual. Além disso, apesar
dos pesares, a alfabetização das massas é o maior da história, com poucos
analfabetos totais.
Esquerda na
economia, direita nos costumes
Os
trabalhadores têm instinto de classe, desconfiam de medidas capitalistas. Mas
são conservadores em pautas de costumes. Mesmo assim, as novas gerações são
mais abertas ou tolerantes relativo aos seus pais e avós.
Correntes e
partidos
Os partidos
burgueses degeneraram, deixam de ser um celeiro de quadros para gerir um país
tão complexo. A corrupção é regra. A causa imediata disso é a decadência do
capitalismo brasileiro.
Risco do
fascismo neopentecostal e miliciano
O socialismo
não é inevitável, podemos ser derrotados. Antes da extinção do Brasil como
civilização ou talvez da humanidade como espécie, pode ocorrer um período
transitório muito duro. Uma ditadura militar não é capaz de se manter em pé com
as “necessárias” políticas de aumento da pobreza somadas à urbanidade. Logo, o
regime fechado, feito para evitar o socialismo, degenerará em liderança
miliciana, em máfia, e regime “religioso”, teocrático, das igrejas evangélicas
oportunistas. O país cairá no fascismo aberto. A democracia burguesa, ao ser incapaz
de melhorar a vida da maioria, pode fechar o corrupto parlamento de duas
formas, opostas: ou substituída por uma democracia superior e direta, ou grupos
armados fascistas encerrando as duas câmaras. É necessário, portanto, disputar
a consciência dos trabalhadores e das classes médias precárias para o projeto
de outro Estado, o operário com apoio popular. Apenas quem tem medo pode ter
coragem.
Temos a
oportunidade de ser, finalmente, o país do futuro no presente; e erguer, com o
mundo, a bandeira mundial do comunismo, talvez entre os primeiros a mudar tudo.
Um povo tão resistente e tão criativo pode servir de inspiração feliz às outras
nações irmãs, aos trabalhadores sedentos por alternativa.