sexta-feira, 5 de junho de 2020

Se os militares tomarem o poder

SE OS MILITARES TOMAREM O PODER


Há um cheiro de golpe no ar... Mas o que a esquerda comunista até agora não percebeu é, se há ameaça fascista, é porque há de modo latente a ameaça comunista. Sofremos ainda os efeitos da dura crise de 2015 e caímos direto em uma outra crise mundial. A situação de marasmo das lutas pode mudar rapidamente. Daí porque, diante do desemprego crônico, a pauta econômica central deve ser reduzir a jornada de trabalho na proporção que produza pleno emprego, ou seja, repartir todo o trabalho disponível entre toda a força de trabalho à disposição.

O momento do confronto físico contra bandos fascistas parece que ainda não chegou, mas gesta-se em grupos clandestinos e milicianos. Como toda guerra, algo do tipo será decidido antes no terreno da política, por isso é necessário um programa (de transição) comunista contra os efeitos da crise econômica. Se nada de efetivo e tão radical quanto exige a conjuntura, nem mais nem menos, for proposto pelos socialistas então boa parte dos assalariados, os sem emprego e os "autônomos" por falta de alternativa, serão jogados nos braços dos fascistas.

A democracia burguesa desmorona e merece desmoralização. O parlamento pode ser fechado com a abertura correspondente de uma assembleia dos trabalhadores ou com a força dos militares e grupos neonazistas (incluso aí milícias) fechando o regime e salvando o Estado. Uma luta contra o golpe, quando este ocorrer, levará naturalmente a sociedade à profunda divisão e à possibilidade de uma saída comunista para o conflito. Neste sentido, de preparar a democracia socialista, é que os de bandeira vermelha devem ver a defesa momentânea desta forma democrática degenerada.

Se a esquerda precisar fazer uma frente única, não ampla, para autodefesa, formando seus agrupamentos de combate, estes deverão ser de caráter defensivo, não ofensivo, por algum tempo até ganhar a devida experiência, formação e disciplina.

Uma das faltas do cenário é que a esquerda de conjunto não caracterizou as milícias, que se espalham informalmente por todo o país, como organizações fascistas. Depois da derrota histórica de Hitler, a necessidade do capital de batalhões não formais de combate teve de adquirir novas formas e contornos, mas o conteúdo é o mesmo. Deve ficar claro ao mundo e aos dirigentes comunistas: milícia é fascismo.

Enfim, perguntemo-nos sobre o título deste texto: e se os militares tomarem o poder? Se, então o programa neoliberal será implementado sem as "dificuldades democráticas". Será uma derrota histórica, mas, para manter o novo governo em pé, o próprio regime precisa ganhar uma base social maior para se sustentar diante dos ataques aos direitos sociais. O regime de Estado degenerará em um apoio entre milícias legalizadas e o novo poder sustentado entre líderes religiosos neopentecostais. Veremos, se o golpe vencer, processos semelhantes à degeneração do Oriente Médio.

Se formos derrotados, recuaremos pelo menos algo mais que por uma década a organização política dos comunistas. Sairemos quase de todo destruídos. Mas há uma única esperança na derrota profunda e evitável. O Estado burguês, porque degenerará, retirará todas as mediações sociais da democracia burguesa. Logo apenas será possível reformas por meio da revolução. Quando o novo regime ditatorial e teocrático cair, ainda que demore, deverá cair junto o capitalismo.

As próximas três ou quatro décadas serão as mais decisivas da história da humanidade. Há uma crise final em todos os sentidos: taxa de lucro, meio ambiente, o Estado, etc. Desde 2008, são tempos de crises duras e longas com crescimentos fracos ou curtos e não há ditadura que resolva isso por dentro do capital. Se vencermos, se nos próximos anos -- e pode estar mais perto do que pensamos a possibilidade -- consolidarmos um Estado socialista no Brasil, então o sofrimento mundial poderá ser reduzido por novas revoluções e novas esperanças. Para isso, os líderes partidários devem, além da prática, voltar ao B-A-BÁ do marxismo e reavivar o programa de transição.

O odor do golpe pode ser substituído pelo perfume da revolução social, da guerra civil.


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