O PERIGO DAS PAUTAS DEMOCRÁTICAS (OU O ERRO DOS PARTIDOS MARXISTAS)
Descobrir quais exigências são
necessárias em cada conjuntura é das tarefas mais importantes dos marxistas. É
o que separa a teoria ligada à prática da consideração apenas academicista da
realidade. Neste pequeno texto, debateremos as pautas democráticas com suas duas
encarnações opostas diante da realidade, como força revolucionária e como
armadilha.
A revolução russa desenvolveu-se,
em permanência, de burguesa à socialista, onde as pautas centrais incluíam propostas
em si capitalistas, a paz e a terra, isto é, pautas democráticas. Aí observamos
o primeiro sentido de perigo das consignas por mais direitos: principalmente se
combinadas às propostas em si transicionais, podem ter força revolucionária. É,
portanto, um erro desprezar tal tipo de exigência como se fosse menor,
apesar de em si e isolado não levar para além dos limites do capital.
O segundo significado, o inverso,
acorre quando as correntes focam de modo demasiado nas pautas democráticas,
esquecendo-se daquelas em si transicionais. Pode-se chamar, diante de contínuas
crises, sempre o “fora governo” do memento; o governo cai e é substituído, chama-se
outro “fora”; queda do novo governo e outro “fora”, etc. Percebemos que é uma
armadilha que leva a lugar nenhum, que de qualquer forma enquadra as
mobilizações populares nos limites do sistema e de seu Estado. Se o
apartidarismo ganha força, vem daí o “Fora Todos”, que, na prática e na consciência
da maioria, inclui os partidos comunistas entre os inimigos das massas. O
partido que levanta tais propostas pode sentir-se revolucionário, mas, na
prática, pode estar agindo de maneira centrista.
Na Europa, onde propostas de
transição ao socialismo (controle operário, etc.) são ainda mais necessárias,
os partidos trotskystas levantaram propostas democráticas diante da crise, como
o não pagamento da dívida estatal, não ao Euro, etc. Foram elaborações
recuadas, relativo às possibilidades do momento histórico, o que produz balanço político negativo de tais correntes europeias. Na
Espanha, por exemplo, um país imperialista, o desemprego crônico deveria ter
por solução comunista a “escala móvel de tempo de trabalho” ou a redução da
jornada, com mesmo salário, na proporção que produza pleno emprego. Mas ninguém
soube fazer tal exigência absolutamente urgente naquela nação.
O caso brasileiro exemplifica o
lado negativo das pautas democráticas. Desde
2014, a crise exige propostas transicionais, porém nenhuma corrente ou partido
tem priorizado martelar tal tipo de formulação. E mais: deseducam sua militância,
que sequer sabe o que é de fato o programa de transição e sua importância em
épocas de duras crises como a que vivemos mundialmente desde 2008.
As pautas democráticas são muitas
vezes negativas no sentido de negação de algo (Fora o governo, Não ao Euro).
Apenas com propostas positivas, que avançam, em especial as transicionais, o
socialismo pode tornar-se uma saída real no horizonte. Nós estamos nas décadas
de duros desafios, que permitem colocar a revolução social como caminho efetivo.
Ter partidos cientes disso e de fato dispostos fará diferença, talvez toda a
diferença.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirErro logo no início do texto:
ResponderExcluira Rússia não saiu da Burguesia para o socialismo. Pois o sistema burguês nunca existiu nesse país. Foi direto da monarquia czarista para o socialismo.
Falar em socialismo e citar partidos trotskistas europeus como exemplo, é de uma incoerência política ímpar!
ResponderExcluirBrilhante reflexão, nunca concordei com a máxima adotada pela maioria de que é apenas a pessoa que importa e não o partido. É importantíssimo que se conheça as diretrizes do partido e saber se há consonância de seu candidato com elas, aí passaram Jânio Quadros, Collor e o nosso honesto atual para confirmar o que digo.sempre achei inadmissível esse personalismo no qual se abre mão das convenções para entregar nas mãos dos que se adonam dos partidos. Não há milagres a evolução é um processo continuo, as ropturas que aconteceram não produziram efeitos imediatos, quando não apenas mudaram o poder de mãos. Assim como a religião é algo que o religioso é quem menos a conhece, o militante é o mesmo quanto a aquilo que milita. Quando uma pauta democrática passa a ser usada como base para conquistar o poder passa a se tornar aquilo que está tentando derrubar. Um cuidado muito grande também é preciso tomar com aqueles que apontam os inimigos a serem derrotados, a história nos mostra que isso serve mais para disfarçar a falta de propostas e proteger seus próprios interesses. A revolução francesa na verdade levou noventa anos para se completar. Não culpo o atual presidente pela sua demência, mas sim exatamente a falta disso que seu texto propõe. A falta de estruturação partidária séria e clara quanto ao que propõe e sempre aberta a discussão com seus filiados acaba gerando esses profetas que nem duvido que acreditem em suas próprias falaceas e seus asceclas o sigam por falta de opção. Abraço.
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