ABC
DA ELABORAÇÃO POLÍTICA MARXISTA
Teoria para
guiar a rebeldia.
Vem para o
partido da revolução: organiza a tua revolta.
(Versão preliminar. Apêndice do livro inédito "Teses Para o Fim do Capitalismo".)
Este pequeno texto foi produzido, em 2014, para estudantes secundaristas recém-ganhos ao comunismo. Se
o leitor nos acompanhou até aqui, convido-o à leitura desta introdução feita em
linguagem direta e dinâmica. Nesta versão, revisamos e acrescentamos algumas
partes, mas mantendo o estilo e limites internos do original.
INTRODUÇÃO
A realidade parece
caótica na rotina, sem lógica interna. A vida pode aparecer como um furacão
onde nós rodopiamos. O método marxista é a ferramenta por onde percebemos o
rumo, a lógica, a causa do real e, assim, antecipamos as principais tendências,
as probabilidades políticas. Por isso, este material procura iniciar a ciência
marxista entre os novos militantes, dar alguma base para o caminho – é o
objetivo desejado.
Debateremos
"analise, caracterização e política". É um espaço curto, então
procuraremos tratar os aspectos gerais e iniciais do tema, ou seja, aqui
apresentaremos, longe de esgotar o assunto, ponto por ponto.
MÉTODO E TOTALIDADE
O método marxista busca
na totalidade dos fatos a explicação. Precisamos levar em conta a interação das
Partes do Todo; vamos aos elementos, pois serão guias do debate e método:
1. Economia,
infraestrutura;
As técnicas (meios de
produção) para transformar a natureza, para produzir riqueza, produtos e
mercadorias; as formas de distribuição; a produção da riqueza social etc. Na
pesquisa vemos, de forma distorcida e abstrata, os dados do PIB. O que e como
produz também é importante – uma coisa é o país fazer chips de ponta, outra é
extrair minério.
2. Relações de produção, estrutura;
Classes sociais,
relações sociais, grupos humanos, perfis coletivos etc. Ligado ao primeiro,
relações originadas pelas relações de trabalho. De começo, consideremos – em
central, pois há outros – três grupos sociais: classe operária, burguesia e
pequena-burguesia.
3. Mente humana e suas
relações, superestrutura subjetiva;
Ideologias, cultura,
hábitos, valores, moral, arte, ciência etc. Percebe-se a relação direta como o
ponto quatro – como causa ou consequência – e com os demais.
4. Instituições,
organismos ou superestrutura objetiva;
Estado (cujo organismo
central é as Forças Armadas), sindicatos, Igrejas, escolas, partidos, meios
para gerir pessoas, ideias, coisas e conflitos. Origina-se dos pontos três e
dois, relações sociais, e em última análise das formas de produzir (ponto um).
A partir dos quatros
elementos temos uma base para analisar a situação mundial ou a pequena fábrica.
Percebemos: é essencial, vital, a dedicação ao estudo teórico, por todos os
marxistas, de todos os quatro pontos, sem exceção. Já obtemos o primeiro
compromisso: estudar a economia, as classes, as instituições e a cultura etc. –
compreendê-las. Por exemplo: se temos inflação, talvez seja um erro chamar
“congelamento dos preços” se nada sabemos da origem real do problema, pois
congelar os preços pode causar desabastecimento e desmoralização de quem propôs
e lutou por esta proposta.
Este esquema explica,
por exemplo, o motivo de a UESPI e UEMA serem “escolões” e, por outro lado, a
USP ser elitizada. Vamos do ponto um (1, a economia) ao quatro (4,
superestrutura objetiva). Economia mais industrializada de São Paulo (1)
necessita de uma massa de especialistas (2) e, para isso, a universidade deve
ser capacitada (3 e 4). O sentimento de elite social (3) da letrada (3) classe
média paulistana (2) gera a xenofobia (3). Mas com a crise econômica atual (1)
as fábricas fecham (1) e os recursos reduzem (1), o desemprego no meio operário
logo aumenta (1 e 2), a burguesia (2) quer sair bem dessa (1), os gerentes e
cargos intermediários de empresas (2) têm estabilidade ameaçada (1 e 2) e,
também, a USP (4) entra em crise financeira (1 e 4), além de não ser tão
socialmente necessário (1) novas gerações de especialistas (2) capazes (4).
A elaboração marxista é
muito semelhante à "Arte da Guerra" de Sun Tzu e "Da
Guerra" Von Carl Clausewitz: calcular a técnica, recursos, organização e tamanho
de cada tropa, o terreno, a moral interna do seu lado etc.: tudo era – é –
reunido para elaborar as melhores táticas para o engajamento. A criação do
método que apresentamos parece ter influência decisiva de Engels, além da
dialética (falaremos mais sobre isto). O "General da I Internacional"
era referência máxima sobre os assuntos militares.
Podemos, daí, chegar a
algumas conclusões, evitar enganos:
1. O marxismo considera
a cultura, o indivíduo, os hábitos e o pensamento na elaboração – não apenas a
economia;
2. O marxismo rejeita o
"determinismo econômico", apelido recebido nas universidades. Enfim:
o centro do marxismo é homem e sua capacidade de criar através do trabalho; a
economia existe por causa das ações e relações humanas.
3. O método marxista
necessita (expressar o) interagir todos os elementos da realidade.
ANÁLISE
Dados, estatísticas, relatos,
pesquisas, matérias, experiência pessoal, vídeos no youtube (caso seja fato
distante) etc.: toda fonte é útil. O marxismo é amplo, aberto para procurar
entender a realidade, contanto que verifiquemos a validade do material,
confrontemo-lo (em especial, o jornalístico).
"Esquematizaremos"
– nome complicado, já que o marxismo rejeita esquemas – de acordo com o que
vimos até o momento. Exemplos de questionário para a análise:
1. Economia
Como anda os estoques
na fábrica? Como anda o orçamento da universidade? O comércio está em expansão
ou recuo?
2. Relações sociais
Qual o nível de
estabilidade dos funcionários? Qual o perfil de classe dos alunos? Unidos ou
fragmentados? Há outras fabricas ou categorias grevando? O pessoal
intermediário, como está? A fábrica pode fechar, a baixa gerência radicalizou
também? E a situação da patronal? Como anda a qualidade salarial?
Por exemplo, na UESPI a
organização dos "campus" fragmentados, distantes no longo espaço
geográfico da cidade, reduz a força dos movimentos sociais internos, desconcentra-os,
descentraliza-os, e reduz a interação social.
3. Superestrutura
subjetiva, mente humana
A categoria está unida
e radicalizada? Existe alguma vitória que está forte na lembrança ou derrota
que os deixam pensativos? E a direção do sindicato parece firme ou vacilante?
Quais os discursos e propostas? Como a sociedade vê o processo? Existe uma
cultura de passividade ou são brutalizados?
4. Instituições
O sindicato é pelego ou
de luta? É forte ou frágil? Se pelego, interessa à direção grevar para
desgastar o governo com o qual discorda? E a Cipa é militante? Qual a situação
do setor administrativo e RH? O governo é forte para, em algum caso, tentar
reprimir? Ou está em ampla defensiva, a beira de cair, rejeitado pela ampla
maioria? E os partidos com trabalho sindical, o que opinam e como estão? Com que
organização a patronal pode contar para ganhar de nós?
Por que, então, não se
prender a este esquema? Porque cada situação nos coloca perguntas particulares
sobre estes quatro elementos. As questões da análise numa escola são diferentes
da na revolução síria.
Vamos construindo o
processo. Mais à frente haverá exemplos práticos, de acertos e erros.
ANÁLISE, CARACTERIZAÇÃO
E DIALÉTICA
Até agora falamos sobre
o materialismo histórico. Muitos marxistas param aí – facilitando erros por
mecanicismo, impressionismo e questões outras. Surge um marxismo formal.
Trotsky, por exemplo, costumava aprofundar o debate das diferenças políticas na
esquerda com a questão da dialética, ou seja, qual o método para elaborar.
É preciso entender o
movimento e unir os quatro elementos sobre os quais falamos. Digamos que é
diferente da matemática: na realidade concreta “as somas multiplicam ou
dividem”, ou seja, o Todo, a Totalidade, é muito mais do que a mera soma das
partes, é qualitativamente superior.
A teoria e dialética fazem
diferença na caracterização. Por conta do espaço, ilustraremos com um exemplo
resumido; vamos à análise e caracterização – muito resumida – atual do Brasil
(o leitor pode discordar, sinta como um exemplo):
1. Situação mundial (se
é Totalidade, não se pode separar o país do mundo).
Crise mundial.
Capacidade produtiva muito acima do consumo real. Demissões e aumento do
desemprego em quase todo o mundo. Tendência à redução do consumo geral. Recuo
progressivo do crescimento Chinês, centro de nossas exportações. Guerras civis
(como consequência da luta de classes) no Oriente Médio paralisam nações e
economias inteiras. Situação pré-revolucionária mundial e na Europa.
2. Economia nacional
O país cresceu
facilitando o endividamento para consumo interno. Mas as dívidas dos
trabalhadores está no limite tendenciando a reduzir o consumo. Com o recuo da
China, as exportações tendem a cair. A burguesia não pode investir e a dívidas
públicas são fonte de lucros mais estáveis. Governo aumenta os juros, o que
reduz o investimento, o consumo e o dinheiro orçamentário vai para a dívida
pública. Há crescimento negativo da economia e contrarreformas anti-operárias e
anti-populares (privatização, ataque aos diretos etc.).
3. Relações sociais
As greves se
multiplicam. Maiores, mais participação, mais duração, maior quantidade, maior
radicalidade. Há uma nova classe trabalhadora, menos iludida com o PT e com a
democracia, mais letrada, também urbanizada.
As classes médias
empobrecidas se esquerdizam e são numerosas. As mais enriquecidas, vão para a
direita e extrema direita eleitoral.
A burguesia ataca a
classe unificada. Mas está insegura sobre a governabilidade e lucratividade do
PT, o que a divide.
A juventude é uma força
instável, numerosa e explosiva.
4. Mente humana
O nível cultural da
classe trabalhadora aumentou, além de existir uma nova e jovem geração. A desconfiança
contra a democracia burguesa é maior (aumento do voto nulo, por exemplo). É
mais fácil debater política no cotidiano. Há uma visão positiva das lutas sociais
e greves. Não há, ainda, uma visão clara de classismo ou socialismo. Digamos
que a massa trabalhadora está indo da direita para a centro-esquerda, por
enquanto. Há um divórcio com o PT, desmoralizado e em crise.
A classe média se
divide. O setor empobrecido não vê na classe operária, na luta e partidos
operários, uma liderança natural, mas também avança. O setor privilegiado,
fragmentado, apoia ideias radicais de direita. Esta está insegura com os
movimentos “na base” da sociedade e com as consequências pessoais da crise; se
apoia na figura do herói, em figuras públicas autoritárias.
A burguesia não sabe se
o PT consegue usar o Estado, na crise, de forma positiva. Avalia e testa o
governo permanentemente.
5. Instituições
Todos os governos e
parlamentos sofrem rachaduras internas. O parlamento trava o executivo. O mesmo
ocorre com partidos de direta e esquerda. Há uma crise do funcionamento e
representatividade do Estado.
Os sindicatos pelegos
sofrem pressão da base e rebeliões. Crescem as oposições e correntes sindicais
democráticas. No entanto, os sindicatos burocráticos são fortíssimos e maioria
ampla. PT está em crise e governo sem apoio popular (7%, quando o autor
escreveu este texto).
As oposições de
esquerda, minoritárias, podem pressionar, mas não determinar diretamente o
fluxo da realidade.
As organizações
neonazistas ainda são minoritárias e discretas – ainda.
Proposta: para derrotar
o inimigo é preciso entendê-lo; desse modo, estudar os mecanismos do Estado
burguês (leis, ritos internos, dispositivos, como aloca recursos etc.) nos
permite ver melhor como “os do lado de lá” operam para gerir esta ferramenta
contra nós e, também, nos permite perceber meios auxiliares para agirmos dentro
da legalidade. E sempre lembremos o seguinte: 1) a lei é uma validação da
política, não tem autonomia, e a esta está subordinada; 2) a burguesia, quando
precisa, burla sem rodeios a própria lei, porque esta é feita contra a maioria.
Caracterização:
Situação
pré-revolucionária. Crise, luta de classes cada vez mais aguda, princípio de
esquerdização nas classes desprovidas de privilégios, divisão inter-burguesa
cada vez maior, as classes médias iniciam um racha interno, o Estado está mais
frágil, partidos de esquerda têm mais audiência. Expressão da esquerdização centrista
das massas, o PSOL tende a crescer num primeiro momento. A esquerda tradicional
se desmoraliza, exemplo do PT (CUT, UNE,etc.). O Governo está fraco. Tudo
mediado pelo recuo lento e constante da economia. É o começo de um processo que
levará à revolução ou à contrarrevolução.
Mais à frente
debateremos uma possível saída política pelo método. Por agora, preferimos um
debate determinante apresentado, em resumo, no próximo tópico.
DIALÉTICA
Vamos tratar um pouco
sobre o tema. Importantíssimo estudar, pois aqui vamos apenas apontar caminhos;
tentaremos rechear as categorias e leis com exemplos práticos.
Aparência e Essência
Nada se explica por si,
mas pela realidade que a gerou. Parece que o Sol gira em torno da Terra
(aparência) e apenas quando vemos a realidade total é que descobrimos que é o
contrário (essência). A Terra parece plana (aparência) e a investigação ampla
permite ver que é o inverso (essência). Normalmente o que os olhos demonstram
no imediato é, em verdade, a negação daquilo que de fato é, o contrário.
Quantos viram no PT
algo progressivo e depois perceberam a verdade? Quantas vezes nos
impressionamos com um discurso e descobrimos, depois, que o discursante é uma
farsa? Acontece porque, no imediato, pegamos apenas um pedaço da realidade, uma
parte e achamos que é expressão do Total.
O tempo e,
precisamente, a dialética permitem descobrir a essência daquela aparência. Um
clichê de Marx: “Se a aparência das coisas revelasse suas essências, a ciência
seria desnecessária”. Importante, por
isso, sempre, evitar o impressionismo com um fato, com algo impactante, com uma
notícia boa ou ruim. É preciso calcular e medir.
Quando a mente elabora
sob o forte impacto da aparência chamamos “impressionismo”. Uma política que se
justifica a partir da aparência – sem estudo prévio – chamamos
"análise-justificativa", ou seja, tira a política e só depois a
“teoriza”.
A aparência é fluida
(sempre há uma novidade em destaque); a essência muda-se mais lenta. A
aparência é “algo”, um pedaço da realidade que – inevitavelmente – causará um
primeiro impacto, sensações e sentimentos; a essência – união/superação de
todas as aparências – é a descoberta das
origens dos fenômenos, da realidade.
Há dois tipos de
relação aparência e essência:
1.
De um objeto: a aparência é uma
manifestação inexata da essência;
2.
De totalidade, grande escala: a
aparência é o inverso da essência;
Como parte e
manifestação do real, a aparência também exerce alguma influência sobre a
essência. Exemplo: o aumento qualitativo de luta no Brasil, desde 2013, gerou
maior desmoralização e crise no Estado e aumento dos votos nulos/abstenções;
porém, isso tomou a aparência de muito mais deputados da direita – menor
quantidade de petistas etc, pois o voto da esquerdização inicial foi nulo e
PSOL (a esquerda mais leve cresce no início dos processos e manifestam o início
desse processo de crise). Assim, a aparência, mais parlamentares de direita,
gerou uma bancada mais reacionária com mais facilidade de aprovar seus projetos
antiesquerda.
Forma e Conteúdo
Forma é algo gerado por
outro algo (conteúdo). As relações sociais (conteúdo) geram o Estado (forma) e
os sindicatos (forma). A palavra falada (conteúdo) gera a palavra escrita
(forma). A interação entre três ou quatro oposições sindicais (conteúdo) gera
uma corrente sindical com um núcleo de direção da articulação comum (forma).
Interessante é que são
interligados ,mas não dependentes totais um em relação ao outro. Um gera o outro
e se influenciam mutuamente, mas adquirem certa autonomia. A relação de classes
pode influenciar, mudar ou até destruir o Estado e, também, o último pode
influenciar enormemente o primeiro. Relação mecânica é inexistente. Exemplo:
uma luta de classes (conteúdo) muito aguda no final da década de 1970. A
ditadura sente o peso e decide abrir lentamente o regime (forma). A democracia
burguesa (forma) veio graças à pressão dos trabalhadores (conteúdo).
O conteúdo é ativo; a
forma é conservadora. Por isso, em essência, o primeiro é determinante. Por
quê? A fluidez, o movimentar-se constantemente, a instabilidade real ou
potencial necessita criar "algo" estável, seguro, que possua padrão. Exemplo:
o português falado muda-se sempre e continuamente; precisamos, portanto, de uma
forma firme (gramática, regras etc.) que controle a mudança e permita a
estabilidade.
O conteúdo é ativo; a
forma é conservadora.
A forma deriva das
contradições do conteúdo.
Exemplo: as Jornadas de
Junho de 2013 (conteúdo) foram fortíssimas. A consciência dos oprimidos (forma)
avançou com este fato, mas em menor medida em relação à própria força real da
manifestação. A repressão e conflito em São Paulo (conteúdo) geraram um choque
de realidade nas massas (forma, salto de qualidade) e a luta multiplicou-se
(conteúdo) afetando a ainda mais a consciência com o "é possível"
(forma). As ações foram avançadíssimas e as mentalidades mudaram demaneira
menos radicalizada (mais lenta) que a luta prática. Acontecem, em todo o mundo,
ocupações de fábricas violentas por um simples aumento salarial.
Necessário e
Desnecessário
Por que os partidos de
esquerda hoje têm mais audiência? Porque são socialmente "cada vez mais
necessários", por causa da crise. Por que a democracia burguesa se
fragiliza? Porque se torna um instrumento "cada vez menos necessário e
mais desnecessário" quando à utilidade para a manutenção da harmonia
social.
Veja que há um processo
entre o necessário e o desnecessário.
Os sindicatos existem
porque há conflitos de classe. Deixarão de existir no comunismo por causa da
qualidade de vida e do fim das classes sociais.
Causa e Consequência,
Realidade, Possibilidade, Inevitabilidade. Casualidade
Tudo que é real é
racional – existe um motivo para tal. Uma causa pode ter várias consequências.
Exemplo: a crise brasileira (causa) pode gerar o socialismo ou a ditadura
(fascismo etc.) ou democracia degenerada. A crise mundial pode gerar socialismo
planetário, ou a extinção da espécie humana, ou uma nova sociedade escravista
(ou um capitalismo inédito).
Causa e consequência
podem se inverterem – é dialético! Uma forte industrialização pode gerar
urbanização assim como uma forte urbanização pode gerar industrialização. O
capitalismo industrial pode originar o estado burguês (Inglaterra, França etc.);
também o Estado burguês pode gerar a industrialização (Brasil, inicio do século
XX).
Uma situação
revolucionária, por exemplo, pode gerar a POSSIBILIDADE de uma revolução
socialista, pois toda a realidade amadurece para isto. Mas depende de decisões
humanas e se, na "Hora H", a direção das massas trair? Pode colocar
tudo a perder (e muito disso ocorreu na história)…
A inevitabilidade são
elementos objetivos, como a certeza que a crise chegaria ao Brasil. Ou seja:
todos os condicionantes permitem que algo, de fato, ocorra – deixa de ser probabilidade
ou possibilidade.
Casualidade são os
elementos não previsíveis. O terremoto no Haiti, imprevisível, atrapalhou a
frágil luta social. No Chile, com as escolas sucateadas e rachadas, o terremoto
acelerou a luta de classes.
Relativo e Absoluto
Se um dirigente, ao
entrar no sindicato, trabalha com menos peso em relação ao chão da empresa, há
um privilégio, uma "burocratização relativa" – continua sendo quem é.
Se começa a acumular pequenos privilégios, aqui e ali, facilidades, uma hora
sua qualidade de vida dependerá de estar ou não na direção do aparelho: surge o
burocrata, o pelego, a "burocratização absoluta". Cristalizou-se uma
característica e o lutador vira um cínico (a matéria determina a ideia).
O Mensalão gerou uma
crise relativa no Estado, crise no governo sem afetar o regime, algo que se
podia administrar. Caminhamos agora de uma crise relativa (gerada pelas
Jornadas de Junho) para uma absoluta (crise do PT, crise de corrupção, governo
perde a base social e parlamentar, o parlamento está forte como fonte de
chantagem etc.). No segundo caso, a crise de governo tende a gerar uma crise no
regime se com o impulso de duas forças, a crise econômica e elevação da luta de
classes.
Medir o peso dos elementos
da realidade faz diferença na elaboração política.
Do Simples ao Complexo
É a natureza da
realidade. A vida surgiu de material não vivo (inorgânico) ou o orgânico veio
do inorgânico. O capitalismo é mais complexo do que todas as formas de sociedade
que o antecedeu – os mais simples eram e são as tribos nômades. O militante
social começa sem muitas habilidades (é natural) e vai acumulando teoria e
prática. Uma ideia gera outra ideia, e mais outra, e outra, e formam algo
superior. As primeiras formas de vida eram rudimentares e tornaram-se
complexas. O capitalismo é um bicho com cada vez mais tentáculos.
O estágio superior
acumula características do estágio inferior – não apenas nega ou reforma;
também agrega.
Negação da Negação
Tudo muda. O novo surge
negando o velho. E o próximo novo surge negando o que era novidade. Vai além – tem
uma sofisticação interessante: resgata, de certa forma, o primeiro a ser negado,
só que de forma superior. Exemplo: as atrasadas sociedades primitivas
(comunismo da miséria, igualdade por falta de riquezas) foram negadas por
sociedades superiores, de classe. Virá a Negação da negação: o comunismo da
abundância – como a primeira: não haverá classes, Estado, repressão, família
monogâmica etc.
A dialética dos antigos
gregos (afirmação) foi negada pela lógica formal de Arstóteles (negação). O
retorno da dialética por Hegel (superior, negação da negação) marca uma nova
dialética. Marx opera outra negação com a dialética concreta. A negação da
negação, em Marx, é um processo sem fim, sempre haverá negação, ou seja, é
possível que a própria dialética seja, um dia, superada.
Um grupo reformista
honesto (afirmação) pode tornar-se um pequeno agrupamento revolucionário
(negação) e ganhar influência de massas construindo o socialismo – negação da
negação: promovendo reformas na sociedade socialista. Pode dissolver-se na
sociedade comunista, ajudando a promover as reformas sociais, ou degenerar e
ser parte da ditadura totalitária de um partido único (duas possibilidades de
negação da negação).
Quantidade para
Qualidade
Qualidade é um estado
da realidade. O estado líquido da água é uma qualidade; o estado gasoso é outra
qualidade. Entre o líquido e gasoso, o aquecimento da água é a causa das
mudanças de qualidade. Cada vez mais as partículas da água ficam aceleradas
(quantidade, mudanças de quantidade), movimentadas, dispersas, instáveis até
ocorrer o que chamamos salto de qualidade (evaporação).
Há dois tipos de
mudança, de salto de qualidade:
1. Por acumulação de
mudanças e gradual;
2. Por acumulação de
contradições, ruptura, por salto-ruptura.
Há mudanças sociais por
reformas (caso 1). Quando é preciso reformas mas não ocorrem – porque o sistema
não tem condições de aplicá-las –, surgem as revoluções (caso 2).
Um partido
revolucionário pode viver pequenas mudanças (quantidade) e, quando menos
percebemos, degenera; caso do Partido Social-democrata Alemão. A
industrialização na antiga URSS foi por saltos: crescia 20% ao ano (!) com os
planos quinquenais.
A luta entre a
burguesia e o proletariado pode gerar reformas ou contrarreformas. Também – e
principalmente – saltos-rupturas, pois as contradições de classe precisam ser
resolvidas com violência direta.
As Partes e o Todo
Para entender a
realidade, e uma realidade específica, é preciso ver sua conexão com toda a
realidade, com as outras partes e com a totalidade. Há uma interdependência,
uma interrelação, mútua influência e ligação entre as partes constitutivas do
Todo. Como dissemos antes: o todo é mais que a mera soma das partes, é superior
– há somas que multiplicam ou dividem.
Abstrato, Concreto e
Abstrato. Geral, Particular, Singular
O que e um governo de
Frente Popular? É um governo que em sua composição há organizações operárias e
burguesas, de esquerda e de direita (geral). A abstração na mente vem de outra
relação e outra fraca abstração. Vem de uma compressão falha, simples e
imediata do governo (concreto, sem profundidade, parece um governo progressivo)
até o entendimento do que o gerou e sua natureza (abstração, a materialidade
daquilo) e voltou-se com um conceito explicativo geral (concreto pensado, leis,
compreensões etc.). Entenderemos, por isso sigamos.
Temos também que ver
cada caso concreto e cada situação concreta, particular – além do Geral. Há
governos de Frente Popular onde o partido operário é a liderança (particular no
geral; PT no Brasil) e há governos de Frente Popular em que a organização de
esquerda é minoria e o partido burguês é maioria no executivo (particular no
geral). Cada caso tem sua singularidade, o que forma casos particulares de uma
abstração geral (Frente Popular). Isso é importante, pois as diferenças exigem
adaptações ou mudanças na política.
Exemplo: O partido de
esquerda (PT) é maioria na frente popular? Podemos combinar exigências ao
governo e denúncias de suas traições e desrespeito às vontades das massas. O
partido de esquerda é minoria na frente popular? Denunciamos o partido e
exigirmos, especificamente, sua ruptura com o governo inimigo da classe. Isso
fragiliza o partido traidor e/ou fragiliza o governo se a pressão da base
social sobre o partido de esquerda forçá-lo a ir para a oposição.
O abstrato também é
“algo” além-mente, uma expressão generalizante: a floresta amazônica (abstrato)
é um conjunto de árvores que juntas, independente dos tipos específicos,
produzem chuva no sudeste, biomassa, oxigênio, absorvem carbono e etc. Nesse
sentido, o abstrato, árvores em geral, é “algo”, algo real e importantíssimo.
Individualmente, cada árvore produz frutos diferentes (concreto) e possuem
características próprias que as diferem umas das outras e das de sua própria
espécie (concreto). Vemos que na relação abstrato-concreto existe intimidade, sendo
diferentes. O trabalho concreto produz valor-de-uso; o trabalho abstrato,
valor.
O concreto refere-se a
algo em si, sua materialidade específica; já o abstrato foca no que há de
generalizante. Exemplo 1: os critérios de preços de uma mercadoria é um valor
além da própria mercadoria (algo material, seu valor material de uso). Exemplo
2: O trabalho específico dos operários sobre um produto (trabalha concreto)
relaciona-se com o trabalho abstrato (tempo geral de trabalho para produzir
mercadorias). Exemplo 3: O Homem é um uma visão abstrata, generalizante, mas,
ao olha os homens específicos, percebemo-los de forma concreta com seus
valores, características, habilidades, membro de uma classe social etc.
Contradição, Movimento
Dizemos, por causa da
educação escolar positivista: "isso não faz sentido; é
contraditório!". A dialética materialista apresenta, num sentido geral, o
inverso, que "só é lógico o que é contraditório!".
Quando percebemos a
Totalidade, percebemos que a contradição é uma lei. A luta entre partidos da
ordem nas eleições é uma contradição relativa, não-determinante e não
essencial, parcial e que não muda a essência. A luta de classes é a contradição
absoluta, ou melhor, pode ir do conflito relativo, luta sindical, ao absoluto,
a luta pelo poder.
A contradição é uma
chave. Quando o capitalismo industrial surgiu (conteúdo) veio o estado burguês
(forma). Foi positivo, progressivo e não-contraditório. Mas quando, no fim do
século XIX, veio a fase imperialista da economia (conteúdo) o Estado (forma) precisou
– e precisa – ser destruído (contradição) para surgir uma forma melhor, o
Estado Operário (superação da contradição).
A interação e a
contradição das partes de um Todo geram movimento dialético.
A fórmula: Tese,
antítese, síntese.
Burguesia (tese) contra
o proletariado (antítese) produz a revolução e fim das classes (síntese). O
Brasil surge para o capitalismo (tese), mas – e mais – tem de usar relações de
produção de outro sistema, o escravista (antítese), o que gera uma formação
social particular (síntese).
Assim, podemos
concluir:
1. A mudança é
permanente;
2. Tudo tem em si uma
semente de sua própria destruição;
3. Temos de ver a
realidade como um filme, em movimento, não tal uma foto;
4. Podemos chegar o
mais próximo possível da Essência da realidade e afastar-nos da Aparência, mas
sempre escapará algo;
5. Podemos medir e
precisar de uma forma muito estável, com pouquíssima margem de erro,
apreendendo todos os elementos centrais e determinantes;
6. É preciso ver a
dialética dialeticamente, na relação entre as categorias;
7. Aqui está o resumo
do resumo;
8. É preciso um treinamento
consciente para aprender a pensar dialeticamente. Não é questão de decorar
conceitos mas de esforço.
Matéria e Ideia
"A matéria determina
a ideia" é um clichê marxista. Uma frase parecida é "a cabeça segue o
chão que os pés pisam, mas em atraso". Os hábitos, as rotinas, o modo de
vida, as experiências e o meio influenciam a ideia; geram até características
comuns aos membros da mesma classe social. Porém, lembremos, não podemos ser
mecanicistas. Os homens movem o mundo e podem movê-lo de tal ou qual forma se
forem ganhos para esta ou aquela ideia. Caminho natural deixa de existir. Marx
disse: “quando as ideias revolucionárias penetram a mente das massas ganham
força material” (tradução livre). Ou seja: o marxismo unifica e funde
materialismo e idealismo, sob superioridade do primeiro – além de, ao mesmo
tempo, superar as duas tendências filosóficas. Então, explica-se “por que pobre
vota na direita”.
Exemplo: hiperinflação,
os trabalhadores estão enraivecidos. Com qual tática lutar e pelo quê? Sentir é
diferente de entender. Pode ser que sejam ganhos para a ideia de uma greve
geral ou, ao observar exemplos pelo país, ocupação de fábricas e locais de
trabalho/estudo. Pode ser que lutem pelo aumento salarial e congelamento de
preços ou, com boa agitação marxista, o “gatilho salarial” (aumentar o salário
automaticamente sempre que os preços aumentarem 3%). Pode ser que não lutem. E
pode ser que o governo os convença de “esperar com esperança”.
Desenvolvimento
Desigual e Combinado
A realidade não se
desenvolve de maneira articulada, mas desigualmente. Uma parte é mais madura;
outra, menos. A desigualdade do desenvolvimento gera combinações particulares,
cria realidades próprias. Resolvê-las é um desafio.
Exemplos:
1. A desigualdade do
desenvolvimento social do país leva a esta pluralidade de desenvolvimento
econômico-social, características próprias. Hoje puxar uma greve geral nacional
é um desafio, pois a maturidade da luta é desigual em cada estado, cidade e
categoria.
2. Certo dia se falou
que o desenvolvimento desigual das pernas do jogador Garrincha (coxo)
transformou-o – por combinação das pernas – em um gênio.
3. Uma greve com ocupação
de fábrica não é necessariamente igual a uma direção sindical de luta. Pode
acontecer de a direção pelega ser pressionada para a luta por força da base,
que ameaçava cortar o pescoço dos dirigentes – literalmente ou não – em caso de
traição.
A dialética do
desenvolvimento desigual combinado mostra, além do mais: o novo deriva da
combinação de elementos diferentes. Exemplo: duas ideias distintas formam uma
terceira inteiramente nova e superior quando fundidas.
Transições, Mudança,
Lógica Formal
Um bom exemplo de
dialética é a sexualidade humana e da maioria dos animais. Alguém pode ser do
sexo masculino (com pênis), sentir-se mulher (transexual) e ser lésbica
(atrair-se por mulheres). Nem sempre ter pênis é = a sentir-se homem e = ser
heterossexual.
Podemos pensar em
classe operária para elaborar política. Uma política mais precisa avalia as diferenças
internas da classe (os que ganham mais e menos, os mais letrados e menos, a
aristocracia e os terceirizados, a nova geração e a velha etc.).
Outro ponto é a
mudança. Entre uma realidade e outra, entre uma qualidade e outra, podem
ocorrer estados transitórios, duplos, híbridos. Engels fala que "entre o
branco e o preto existe o cinza" e "entre o sim e o não existe o
sim-não". No Brasil dizemos "ou é 8 ou é 80" como forma de dizer
que ocorrem também "meio-termos" ou 40. Entre crescimento econômico e
crise pode haver uma queda brusca, de repente, no susto ou uma desaceleração
gradual como forma de sintoma.
Percebemos, também, que
uma coisa pode tornar-se outra. A dialética movimenta suas categorias (do
relativo ao absoluto e do absoluto ao relativo; do simples para o complexo e
vice-versa; do necessário ao desnecessário e ao necessário e no sentido oposto
etc.). Nada "é" em permanência: tudo está e por algum motivo.
Exemplo: um sindicato de luta pode torna-se um Estado, caso da COB da Bolívia
em 1952, hoje uma central pelega.
Na língua portuguesa:
O temporal vem aí.
(substantivo e núcleo do sujeito na sintaxe)
A existência é temporal.
(adjetivo e predicativo do sujeito)
É lógica dialética. A
palavra "temporal" é algo a depender da composição da frase – do
entorno e contexto. Assim, as “receitas de bolo” e fetiches são desfeitos: uma
proposta é boa? Depende da situação. O método da ocupação é bom ou ruim?
Depende da situação. Chamar greve geral durante crescimento econômico é inútil,
reformista ou reacionário; chamá-la quando a situação abre a possibilidade é
revolucionário; chamá-la quando a situação exige já a tomada do poder é
contrarrevolucionário, pois dá uma tarefa inferior e fora da possibilidade
nova. Outro exemplo: o exército é a principal instituição burguesa, mas, se
ocorrem dolorosos deslizamentos de terra na periferia, deveremos fazer unidade
com as Forças Armadas, lado a lado, para fins de resgate, auxílio aos
sobreviventes e reconstrução.
O cientista Einstein
tem bons casos dialéticos. Massa e energia são um só – ou em repouso ou na
velocidade da luz a quadrado –; o tempo é algo (material) e o espaço, em si, é
algo, e são interligados ou espaço-tempo, que é – inclusive – um tecido
dobrável pela massa de objetos, como de um planeta.
ELABORAR POLÍTICA
Comecemos por dizer o
que é:
1. Vem da
caracterização, mas não é o resultado direto e natural desta;
2. Comete-se erros
quando se faz soma mecânica caracterização-política;
2. Elaborar política é
uma verdadeira arte;
3. Os marxistas chamam a
elaboração política de “a arte de antecipar", “arte de prever”;
4. Ao elaborar, as
pergunta centrais a serem feitas são:
"Como, a partir da
caracterização, deixar minha classe alguns passos – curtos ou longos – mais
perto de sua vitória?"
"Qual manobra
(política, no melhor sentido) mais arriscada podemos fazer sem sermos
aventureiros?"
5. Deve-se partir das
necessidades e dores da classe trabalhadora. Exemplo, de fato, simplista:
inflação? Aumento salarial! Corte no salário? Contra o corte!
Exemplo:
As eleições são uma
farsa e o parlamento é um instrumento da burguesia (caracterização).
A política ligada
diretamente à caracterização (mecanicismo): boicote total a toda e qualquer
eleição, voto nulo!
A política marxista: 1.
Se as massas tem ilusões, vamos participar para apresentar propostas que eles
possam abraçar, ganhar simpatia e denunciar as eleições de forma didática; um voto de trabalhador não é o ideal, mas é
um passo a mais; 2. Pode ser, em caso de desmoralização geral, participar da
eleição para chamar não o voto no partido mas o voto nulo e greve geral; 3. Em
caso de desmoralização total, chamar o boicote e colocar os próprios deputados
para renunciar aos seus mandatos com um discurso inflamado.
A Arte da Guerra não
possui táticas fixas – a realidade é que manda. O mesmo vale para a elaboração
marxista: chamemos, digamos, "manobras do bem" ou "malandragem
honesta". A situação pode exigir esta ou aquela política.
Proposta: ao fazer
caracterização e política, é importante um segundo passo. Necessário refinar,
precisar, detalhar ainda mais a caracterização e a política. A situação é de
crise? Vamos detalhar mais o estágio real da crise para elaborar uma política
correta. Podemos evitar exageros (impressionismos) ou atrasos em relação à
realidade (este problema é mais comum do que se imagina, pois a rotina pode
viciar a percepção). Acontece isso porque a realidade própria é permeada por
momentos transitórios, duplos, preparatórios, pré-saltos, quando o velho AINDA
se desfaz e o novo AINDA está surgindo.
Trata-se de resolver a
contradição a favor de um lado. Exemplo:
A greve dos rodoviários
não tem apoio popular? Desafiar a prefeitura (superestrutura objetiva) e a
patronal (relação de classes) a liberar as catracas para população enquanto os
rodoviários trabalham com Tarifa Zero (questão econômica e política). Assim se
coloca o governo e a patronal na defensiva (superestrutura subjetiva e
objetiva), a greve ganha força nas massas (atua sobre a mentalidade,
superestrutura subjetiva) e eleva a moral da categoria (superestrutura
subjetiva).
A contradição relativa
entre irmãos explorados (rodoviários e usuários) pode ser positivamente, neste
caso, resolvida assim.
Como se percebe, exige
criatividade.
Exemplo: falei no
inicio que a UESPI tem sua base social fragmentada em campus distantes. Como
resolver isto? Que tal exigir uma linha de ônibus estatal específica que
interligue os três Campus e o centro da cidade para que os alunos e cidadãos se
locomovam melhor? Gerará integração (relação social), interação entre os campus
(relação social e superestrutural) e, no imediato, melhorará o transporte dos
alunos (economia e relação social).
Dica, proposta: Necessário
medir a política, mas também as consequências desta – o após. Vitórias podem
tornar-se derrotas. Vamos conseguir segurar as pontas, consolidar as vitórias e
manter a dinâmica progressiva? Sim ou não? Exemplos:
1. Os bolchevique
poderiam chamar o "Fora o governo provisório" em Março/Abril de 1917.
Evitou. Por quê? Se o governo caísse, o partido ainda era minoria e, por
consequência, a reação contrarrevolucionária tomaria o poder. Mediou-se com
políticas, como: "crítica paciente ao governo", "que reconheçam
o poder dos soviets", "exigimos que os mencheviques tomem o
poder" etc.
2. A classe operária e
os bolcheviques estavam maduros, em Agosto, para a revolução na Rússia. Porém,
o partido adiou até outubro. Motivo? Era preciso adiar ao máximo para ganhar os
camponeses; sem eles, a vitória seria difícil.
3. O autor do artigo
avalia que não é hora de chamar o "Fora Dilma", pois a esquerda não
tem maturidade – ainda – para gerenciar
o pós-queda. Uma frente única de luta da esquerda pode ajudar, preparar. governo Dilma tem menos de 10% de apoio,
cheio de escândalos e ataques contra a classe trabalhadora. O "Fora",
em si, não é um erro. Problema: a oposição socialista têm condições de
impulsionar o impedimento e promover a "rede de consequências"
positiva? Pensamos que não. Claro, o leitor talvez discorde.
Enfim, queremos dizer:
cabe ao marxista calcular a principal e/ou as principais probabilidades do
futuro e, a partir disso, elaborar políticas. Inclui: pensar no "plano
B", pelo menos esboçá-lo, caso a política dê errado ou caso a segunda
possibilidade confirme-se. Na situação limite, em1917, Lenin sabia que a
revolução poderia ser derrotada tal como em 1905, então fez uma conta secreta
na Suíça para preservar os membros e o partido em caso de derrota, perseguição
e exílios.
Recordo de quando li
“Revolução e contrarrevolução na Alemanha”. Para mim, era evidente a
superioridade da política de Trotsky contra a religiosidade dos líderes
infalíveis do PC alemão; só que um ponto muito específico mexeu comigo: o
fundador do Exército Vermelho propôs a formação de milícias operárias antifascistas
numa frente única da esquerda e logo pensei “é isso que fez falta contra
Hitler!” – em seguida, Leon faz um subcapítulo: “Na defensiva ou na ofensiva?”
O debate nesse momento foi educativíssimo e inesperado: mesmo aceitando esta política,
muitos quadros hoje numa situação parecida com a alemã diriam “vamos pra cima
deles!”, “avançar!”, “guerra de classe!”, “ofensiva permanente!”, “é preciso
ser ousado e ousado!” etc. Aquele a propor tal tática, proposta minoritária à
época, explicou porque a defensiva: a classe estava insegura e desmoralizada,
desconfiada das próprias forças e não tinha a classe média ao seu lado; os
organismos de autodefesa deveriam proteger as greves e passeatas, os
sindicatos, os partidos operários, ajuda mútua entre milícias do PC e do PS
para defender-se e frustrar os bandos nazistas – assim, por essa postura,
ficaria cada vez mais claro quem é quem no jogo político, o PC e o PS
aglutinariam mais e mais jovens voluntários e amadureceria a capacidade militar
da esquerda, a classe operária ver-se-ia com apoio real, prático e unificado, e
ganharia mais confiança em si, a classe média se frustraria (incluso
moralmente) com as milícias fascistas etc. Ou seja, era preciso um primeiro
momento defensivo, no processo inicial de organização e articulação das forças,
para ir dar o duro e final golpe, ir para ofensiva, no movimento inimigo.
MÉTODOS ERRADOS
1.
Determinismo econômico.
Considerar a situação
econômica como determinante absoluto. A economia é vital, mas sozinha não
explica a vida social e seus rumos. A psicologia coletiva, por exemplo, medo ou
raiva, faz diferença sobre como agir.
2.
Análise sindicalista.
Considera a luta social
e a luta entre as correntes por espaço. Esquece a totalidade e não elabora
política verdadeiramente de classe.
3.
Análise superestrutural.
Colocar o conflito
entre Estados ou partidos como medida maior. O centro é sempre a luta de
classes, os conflitos entre Estados são, em geral, parciais e sempre inferiores
às questões de classe.
É comum na geografia e
entre os que defendem "governos progressivos". Votar em um partido
para evitar a direita é um caso atual ao supor reduzir todo o processo social a
duas organizações (superestrutura objetiva e eleitoral).
4.
Elaborar considerando "o nível de
consciência das massas".
Como vimos, também é
importante. Mas a questão é convencer as massas de políticas elaboradas
cientificamente. Os trabalhadores não chegam sozinhos a muitas ideias, por isso
é preciso apresentá-las e convencê-los. O reformismo e o centrismo podem usar
argumentos como "esta proposta não dá, pois não dialoga com a consciência
da classe" ou “a consciência da base ainda está recuada”. Os marxistas
elaboram e – pela criatividade – adaptam as propostas para deixá-las
comestíveis.
Todos estes métodos são
parciais, sem totalidade. Pegam pedaços enquanto o marxismo considera todos
estes elementos em uma Totalidade, integrando-os. E podemos acrescentar outro
meio errado:
5.
Elaborar no improviso,
ou para impactar a vanguarda, ou desconsiderando a dialética.
EXEMPLO ATUAL DE ELABORAÇÃO
O leitor pode ter
discordâncias, são exemplos. Basearemos na caracterização que já fizemos:
"Situação
pré-revolucionária. Crise. luta de classes cada vez mais aguda, princípio de
esquerdização nas classes desprovidas de privilégios, divisão inter-burguesa
cada vez maior, as classes médias iniciam um racha interno, o Estado está mais
frágil, partidos de esquerda têm mais audiência. PT entra em crise, e seu
aperelho sindical está sob pressão. É o começo de um processo que levará
revolução ou à contrarrevolução."
Caracterização-Politica:
1. As lutas se
multiplicam, mas ainda estão dispersas.
Política: Propor a
unificação das greves, dias de luta, pressionar as burocracias pela base.
2. Os pelegos são
grande maioria e a esquerda é minoritária e precisa de mais audiência e força.
Política: Impulsionar
uma frente de luta da esquerda anti-PT. Denunciar às categorias a ligação
irrevogável dos pelegos com o governo, o Estado e a patronal. Propor, pela
base, que puxem as lutas. Chamar os setores minoritários a romper com as
centrais vendidas.
3. Há ataques contra os
trabalhadores.
Política: Contra o PL
da terceirização. Luta nacional.
4. O Estado está se
desmoralizando.
Política: Campanha pelo
"Fim de todos os privilégios políticos!". Chamar dia de luta
nacional. Elaborar um panfleto especial.
5. O PT entra em crise.
Política: aumentar as
denúncias para enfraquecer esta importante trava. Não deixar a luta contra o PT
como bandeira da direita.
DETALHES:
1. Está em formato
resumido e esquemático. No último subtexto, ofereceremos exemplo;
2. Quando uma política
ganha vida na realidade, gera uma "rede de consequências". Vamos
supor que é hora para uma "greve geral por tempo indeterminado". Se
esta política ocorrer, o país se paralisará e a guerra civil será uma
possibilidade real. Sabemos que ainda não é o caso;
3. O marxismo permite
compreender a realidade e antecipar as principais tendências do futuro, as probabilidades.
A habilidade de conhecer a principal (ou principais) possibilidade é o
diferencial.
Marx previu a fase
imperialista do capitalismo. Engels, a I Guerra Mundial, sua duração, sua
natureza, seus recursos e as consequências com uma exatidão espantosa. Trotsky
percebeu que a revolução democrática na Rússia (Fevereiro) tenderia a tornar-se
socialista (Outubro), avisou que Hitler invadiria a URSS se este tomasse o
poder na Alemanha, disse que a III Internacional fecharia por uma concessão ao
Imperialismo. São alguns dos inúmeros exemplos.
4. Da realidade,
precisamos elaborar duas ou três palavras de ordem centrais para propor aos
trabalhadores e às classes oprimidas, ganhá-los e mobilizá-los. Em muitos
casos, entre estas precisa contar umo proposta de método de combate – “Contra o
Euro, referendo já!”, “Greve geral contra a Troika!”, “Três dias nacionais de
luta e paralizações contra a reforma da previdência!”. Como se vê, podemos,
incluso, combiná-las. Encontrar as melhores palavras de ordem; encontrar as
melhores formas de expô-las.
Exemplos possíveis:
1. Ataque aos direitos:
"Abaixo a lei da terceirização! Lutar para barrar!";
2. Resposta aos
escândalos de corrupção: "Fim de todos os privilégios políticos!";
3. Para atrair as
classes médias empobrecidas e os operários unificando-os e educando-os no
classismo: "Imposto progressivo! Que os ricos paguem mais!".
Evitando a lógica de
"manual" ou "receita", estudar a historia da luta
teórico-política do movimento comunista e o Programa de Transição, de Leon
Trotsky, dará inúmeros exemplos para a elaboração correta da política – além do
acúmulo longo de propostas e palavras de ordem.
Vejamos na conjuntura. Situações
de crescimento econômico exigem palavras de ordem econômicas (salariais etc.),
democráticas (direitos LGBTTs etc.) e reformistas; situações de crise econômica
e social (pré-revolucionárias) exigem de nós maior peso para as palavras de
ordem chamadas transicionais (redução da jornada de modo a garantir desemprego
zero, banco único do Estado, gatilho salarial, milícias operárias, abertura das
cantas das empresas, comitês de fábrica, controle operário da produção, gestão
operária da fábrica etc.); situações revolucionárias e de crise revolucionária
exigem a aplicação do programa de transição com o programa máximo (todo poder
aos comitês de empresa e bairro, poder operário e popular, todos armados contra
a contrarrevolução etc.) No entanto, esses exemplos são limitados. Se temos uma
situação de crise social e econômica (economia e relação de classe) durante uma
ditadura (superestrutura objetiva), então temos de combinar (dialética) as
palavra de ordem transicionais ou econômicas com as democráticas (Assembleia
constituinte já! Etc.) como forma de potencializar a luta (estrutura) e a
consciência dos setores não burgueses (classes e superestrutura subjetiva –
ganhar os setores médios por meio da proposta democrática).
Continuando o parágrafo
anterior. Se a classe média está pra a direita e unida, dividimo-la com
propostas concretas para atrair seu setor mais pobre para o lado da classe
trabalhadora. Se a burguesia não está dividida – e isso também é vital na
análise –, dividimo-la por meio da luta. Neste segundo caso, por exemplo, a
luta contra a ditadura faz com que parte da classe dominante e seus políticos
também queiram a mudança do regime e podemos fazer “unidade de ação” sem nos
misturarmos com eles, mantendo a independência e autonomia de nossos
organismos.
Enfim, as propostas
devem ser viáveis? Não, apenas potencialmente mobilizáveis:
“Em contrapartida, e em
determinadas condições, é totalmente progressivo e justo exigir o controle
operário sobre os trustes, mesmo que seja duvidoso que se possa chegar a isso
no marco do Estado Burguês. O fato de que tal reivindicação não seja satisfeita
enquanto a burguesia domina deve impulsionar os operários à derrubada
revolucionária da burguesia. Dessa forma, a impossibilidade política de levar a
cabo uma palavra de ordem pode ser mais frutífera que a possibilidade relativa
de realiza-la" (Leon Trotsky – Stalin, o Grande Organizador de Derrotas.).
Existem palavras de
ordem corretas para o momento a nos permitir apenas vitórias parciais e avanços
lentos; existem outras a gerarem saltos imensos na realidade quando ganham as
massas. Darei o exemplo de uma corrente com a qual tenho pouco acordo e muita
crítica, o MRT (“MRT? Centrismo ultraesquerdista!” – Pode ser, mas evitemos a
postura de igreja, de seita política…), onde apresenta uma consigna que me
parece boa. Vejamos. A terceirização avança em todos os locais de trabalho, reduz
salários e aumenta a intensidade laboral, enfraquece os sindicatos e divide os
trabalhadores em formais e informais ou concursados e não concursados. Agora o
governo federal deseja terceirização das “atividades fins” (!), ou seja, além
das agregadas! A corrente citada propôs, então, “fim da terceirização! Que todos
os terceirizados tornem-se por lei funcionários públicos e das empresas!”, algo
assim. É uma proposta de luta por um salto qualitativo; e assim deve ser, pois
apenas com luta geral e unificada é possível regredir esta tendência em cada
local e trabalho.
PRÁTICA E EXEMPLOS DE
ERRO
Marx, Engels, Lenin e
Trotsky erraram por toda a vida – nós também podemos nos permitir. Saber como
se faz é diferente de saber fazer. A prática é a forma de aperfeiçoar,
aprender, e exige tempo. É importante fazer balanço sempre após colocar uma
política em prática: foi correto? Por quê? O que deu errado? O que faltou na
análise? Alguma falha contra a dialética? Assim, na próxima elaboração, se fará
de uma forma aperfeiçoada, do simples ao complexo.
Na eleição de 2014,
disse ao meu antigo agrupamento político, em plenária:
“Compas. Vivemos a
transição entre uma situação de estabilidade não revolucionária e a crise
social da pré-revolucionária. A burguesia quer um governo forte, especialmente
após junho de 2013. A frente popular que foi encabeçada pelo Weglinton Dias do
PT (2003 a 2010) está firme na memória dos trabalhadores e o atual governo do
PSB está desgastado. A burguesia vai querer esta fórmula de novo, o PT na
cabeça de chapa, será uma boa pra eles suportarem a crise de tal forma que ele
(candidato) pode ganhar no primeiro turno. A ligação com a presidência ajuda.”
Acertei a
caracterização quase toda. Quase. Sobre senador disse:
“O do PT/PTB para o
senado, Elmano Ferrer, é mal visto em Teresina (grande colégio eleitoral) e
pouco conhecido nas cidades menores. E candidato do PTB, o que gera. 1.
desgasta a imagem ao ser associado com a burguesia dos Claudino, altamente
rejeitada nas massas; 2. Por outro lado, há muita finança para campanha. E
mais: o outro candidato é conhecido em todo o estado, ex-governador e tem apoio
dos latifundiários.”
Errei: Elmano foi
eleito. Fiz o balanço: o erro veio por separar as Partes do Todo.
1. Era largamente
apoiado pelo único candidato forte ao governo e com confiança majoritária nas
massas (Dias do PT);
2. Financiado pelo
principal setor da burguesia;
3. O outro se desgastou
no interior e na cidade – não apenas na cidade;
4. Apoiado por Lula e
PT;
5. Só havia duas opções
visíveis e viáveis eleitoralmente.
Ou seja, desconsiderei
as ligações, as interrelações que influenciavam as candidaturas e o voto.
Abstrai, tratei os candidatos como coisas à parte, isoladas, sem a totalidade.
Neste erro parcial, acertei a política: como eram candidatos tradicionais e
oligárquico, valeria a pena dar peso maior no candidato a senador do partido
onde, diferente do candidato a governador, poderia ganhar mais votos, propagandear
a “alternativa”, expor com facilidade o caráter atrasado dos majoritários por
meio do desejo da população de modernizar-se e ganhar simpatia mesmo que sem
que esta se transforme em voto.
Outro caso. O aumento
da passagem de 2011 foi barrada e só aconteceu em 2012 (ou seja, defasado o
preço para a burguesia). Houve anúncio do aumento em 2013, mas as Jornadas de
Junho encerraram a conversa sem luta direta alguma (foi efeito colateral da
luta generalizada e sequer precisou de luta direta!). Percebi que o aumento
estava três anos atrasado e que burguesia/prefeitura queria evitar a luta
social. Nessa situação, tentei calcular a manobra deles, que seria: aumentar nas
férias para esvaziar a luta.
Errei: não teve
aumento. O que aconteceu? Falta de um cálculo mais profundo e menos
sindicalista:
1. A forma de aumentar
o lucro foi reduzindo a quantidade de ônibus. Diminui os custos com funcionários,
máquinas, combustível, manutenção e concentrar usuários nos ônibus, ou seja,
reduzir a frota e liberá-la nos horários de pico, após acúmulo de gente à
espera. Aqui entra a economia, outras formas de aumentar o lucro;
2. Houve um conflito,
relativo, entre o prefeito e o empresariado do setor. O primeiro queria evitar
desmoralização e o segundo queria aumentar o preço. A ruptura parcial gerou um
ensaio de licitação fajuta… Tratei a burguesia e seu representante como
necessariamente e sempre não conflitantes, não contraditórios (mecanicismo e
lógica formal);
3. Esperar para
entender a situação pode ser positivo à burguesia, pois não é onipotente e
onipresente (a parte difícil: entender como anda a psicologia e o pensamento da
classe inimiga);
Vale destacar que a
política pode nos dar um exemplo da importância do cálculo e criatividade:
Propus a amigos de
militância um trabalho preventivo e preparatório para o aumento (que não
aconteceu): produzir de 200 a 300 cartazes como “2 e 10 já é um salto. Abaixo a
Máfia do SETUT. ANEL". Isso criaria referência, aglutinaria vanguarda e
alertaria a consciência dos trabalhadores. Era preciso criar palavras de ordem
capazes de impactar a consciência.
Mas como passar o
recado com poucos recursos e pouca gente? Solução:
1. Aproveitar o espaço;
2. Focar a colagem de
cartazes nas principais praças do centro e suas paradas de ônibus;
3. Focar nas Paradas da
UESPI e UFPI, e dentro delas, e nos IFPIs e escolas centrais (Liceu, etc.)
4. Deixar alguns
reservas, caso retirem.
Com esta tática, unindo
análise e política-criatividade, era possível passar a mensagem a toda cidade e
rapidamente.
INDIVIDUAL E COLETIVO
O processo é um ato
solitário, concentrado e dedicado. A segunda etapa será dividir as conclusões
com o grupo para debatê-las, criticá-las no todo ou em parte, ou aceitá-las no
todo ou em parte. Após um debate fraterno e coletivo, a elaboração ficará ainda
mais refinada, correta. E pode-se perceber erros. Pode-se adotá-la com ou sem
algumas mudanças. Pode o debate levantar novas questões que faz necessário, de
novo, um trabalho individual. É importante que todos saibam fazer análise,
caracterização e política para não criar um guru, uma dependência ou elite
pensante. Pode ser útil iniciar o debate, um tema ou polêmica. São apresentados
inúmeros apontamentos, caminhos, propostas, discordâncias, dúvidas nos diálogos
e intervenções. Depois, individualmente, o(s) militante(s) deve(m) refletir
sobre as informações e iniciar o processo de compreensão da realidade que debatemos
aqui. O mais importante é que apenas com debate coletivo, decisão coletiva e
ação coletiva as propostas podem ganhar vida e serem ferramentas úteis para a
realidade e aos trabalhadores. É melhor perder um debate ou votação que ter
razão sozinho.
Unir teoria forte e
prática firme é a única saída. O Marx que disse "os filósofos se limitaram
a interpretar a realidade, mas a questão é transformá-la" é o mesmo de
"nunca a ignorância foi útil para qualquer coisa" e "uma ideia
torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas" ou
"de nada valem as ideias sem homens que possam pô-las em prática".
Lenin tem um recado ótimo: "não há prática revolucionária sem teoria
revolucionária".
APLICAÇÃO PRÁTICA E
ALIENAÇÃO
Imaginemos: presidente
de um sindicato, combativo e simpático ao socialismo. Na greve, consegue um
aumento salarial de 50%! acima da inflação (!). Vitória? Depende. Se garante,
como sindicalista, a conquista na greve, mas sem assembleias soberanas, sem
controle da base sobre a direção, sem ir além do debate salarial (ou seja, sem
falar de política), sem ajudar na sua autoeducação e na reeducação da classe
quanto à fé em si própria e na sua dominação sobre os dirigentes, se atrapalha
ou impede aquela oposição de direita de falar ao microfone etc. Qual o nome
disso? Do ponto de vista comunista: derrota. O balanço, portanto, é negativo.
Ter boa vontade é
limitado. Ter boa política, também. Ter boa política prática (greve geral,
unificação, ocupação, protesto de rua, mecanismos legais etc.), idem. Tudo isso
é bom, mas incompleto. Isso é assim na medida de que há um fenômeno no
capitalismo: a alienação. Podemos dizer que é a humanização das coisas por meio
da coisificação dos homens. E mais: é o controle do homem sobre o homem, a
coisificação das relações humanas. Se numa reunião do partido, elevamos a voz
demasiadamente e manobramos para garantir a nossa proposta – por melhor e
necessária ela seja –, então estamos derrotados; porque a política é tática em
relação ao processo de amadurecimento do partido, estratégia. É uma derrota.
No início de minha
militância, eu pensava que fazer festas, eventos acadêmicos, cinema, dias esportivos
etc. eram algo desnecessário e que me subordinaria apenas porque facilitaria
ganhar moral e influenciar a base. A ação era correta (ainda bem), mas errado o
meu raciocínio. O capitalismo não oferece lazer, arte, formação intelectual e
integração humana como se deveria! É preciso, portanto, nos humanizarmos – esta
é a verdadeira luta marxista. Isto significa autoeducação, educação e
reeducação: assembleia de base dos CAs, DCEs e sindicatos onde se vê e se
aprende uma democracia superior à burguesa, clareza pública do que se passa nos
organismos dos trabalhadores e estudantes, divulgar a arte do alunado na
escola. É positivíssimo o jornal do sindicato ou grêmio a tratar de política de
forma a explicar e propor, mas também trate de arte e eventos do interesse etc.
Existe a possibilidade
de os líderes honestos e aguerridos, e ativos no trabalho de base, terem tanta
moral que as pessoas confiam sem tanto filtro ou tenham discordância mantendo o
respeito acumulado. Isso não é de todo ruim, contanto que nunca se perca os
métodos e o projeto real – o fim da alienação.
Em uma conversa com um
grupo de simpatizantes, alguém me perguntou: mas vocês lutam para a educação
mudar o mundo? Queria muito aqueles ativistas no partido, e teria de ganhá-los
do modo correto; respondi: “para nós, quanto melhor, melhor. A gente luta por
reformas para melhorar qualidade de vida e para provar que é impossível mudar
este mundo por reformas. Se a maioria tiver maior nível cultural, isso facilita
tanto a tomada de consciência quanto as habilidades das pessoas para
construírem o socialismo na prática. Mas é preciso antes fazer uma revolução
para poder revolucionar o ensino.” “A verdade é revolucionária”, diz Trotsky.
Dizer as coisas como são, mesmo sendo chatos ou rejeitados, é um critério para
ser militante bolchevique, para lutar pela desalienação sua e dos demais. Se
nós declaramos apoio a ideias e propostas erradas das massas ou das vanguardas
para poder “nos aproximarmos delas” e “evitar o isolamento”, então, por o
caminho proposto ser errado, vamos ser derrotados e toda a ilusão de influência
social transforma-se em desmoralização, perda de audiência e dificuldades; se
apresentamos uma proposta que consideremos correta – suponhamos estar –, então
pode acontecer de ficarmos em minoria e isolados por um período e, por isso, termos
de ser firmes e, ao mesmo tempo, não sectários, tentando agregar o máximo
possível, explicar, dialogar, já que somente assim abrimos a possibilidade de
crescermos de fato, aplicarmos as propostas, sermos visto como aqueles a “dizer
aquilo mesmo quando ninguém apoiava” e aglutinar em torno de si as massas e o
melhor da vanguarda – ou parte dela – numa luta por nós influenciada ou
liderada. Daqui não podemos supor sermos “os guias das massas” ou
“orientadores” e a “consciência da inconsciência”, pois essa arrogância esconde
1) nossa inexperiência e 2) o muito que ela tem para nos ensinar. Tentar ser
liderança da classe e fazer com que nossos militantes sejam mais capazes em
relação ao trabalhador médio, nada pode ter haver com o perfil professoral e
populista. Estamos longe de romantizarmos a classe trabalhadora e suas
limitações, mas ainda nos falta muito para sermos dignos dela.
“E se a proposta que
elaborei for derrotada no debate de minha célula?” Calma. É preciso sabermos
errar e acertar juntos, mesmo. Às vezes, estamos errados; às vezes, podemos
dizer no balanço que tal derrota foi por falta de tal política (sem arrogância
do “eu avisei”); às vezes, a realidade é tão forte que nossa política derrotada
acaba sendo posta em prática, pela própria dinâmica das coisas (ex: “não temos
como ocupar agora”, mas a política é “ocupar” – e não vai um número
satisfatório ao protesto, impedindo o ato radicalizado); às vezes, as duas
políticas estão erradas; às vezes, por terem elementos da verdade, duas
políticas podem ser fundidas ou adaptadas; e às vezes, a política está correta
com a realidade, mas foi mal aplicada.
Então, fazemos algumas
observações:
1.
Uma proposta pode ser boa em si e
agradável, mas aplicá-las não valer a pena.
Exemplo:
Atividades culturais! Pega-se o calendário do semestre letivo e preenche-se de
um projeto aqui, outro noutra semana etc. No final das contas muito trabalho e
muita frustração, porque tempo e recursos são poucos – melhor fazer poucas
atividades de grande impacto e importância que “ir longe demais” ou “andar mais do que as
pernas”.
Toda
ideia é realizável na mente e até seus resultados práticos hipotéticos são
“medíveis”. Mas isso é engano: temos de ver como a vida é para direcionar a
imaginação e criatividade para boas propostas e soluções – a materialidade
guia-nos.
2.
Tudo o que é central deve ser votado,
tarefas divididas, todos devem debater e praticar (teoria e prática). As células são “grupos de debate e trabalho”
e, portanto, devem ser o oposto da fábrica e sala de aula – o que inclui não
existir no dirigente político a encarnação do “pequeno poder”, como no
professor ou gerente.
3.
Pessoas honestas cometem erros
oportunistas. Cometemos erros oportunistas sem percebermos. Reconhecer nossos
erros e aprender com eles é importante e dignificador.
4.
Estratégia e tática: se a realidade
muda, a política muda – mesmo.
É
preciso, antes de tudo, medir. Qual a relação social de forças? Estamos na
ofensiva ou na defensiva? A classe média pende para o lado dos trabalhadores ou
da burguesia? Isto é importantíssimo, central.
5.
Sempre que for elaborar política,
considerar a condição real da célula e do partido. Quando em vez, analisamos
como se fossem máquinas, ao ponto de ação, 100% disciplina e capacidade, “basta
votar” etc. Numa guerra, avaliamos o perfil total dos soldados e suboficiais.
Exemplo:
Cannon percebeu que o PC dos EUA, então clandestino, estava numa conjuntura
onde poderia agir publicamente. Mas sofreu dura resistência a essa proposta… Os
militantes acabaram fazendo fetiche de sua própria dor, amavam a ilegalidade de
forma absoluta. O dirigente viu-se obrigado a mediar – naquela circunstância,
pouco valia ter toda a razão do mundo e perder o partido numa crise interna – e
propôs uma “colateral”, um “partido operário” legal, ligado ao partido ilegal,
que ressonava a política comunista e, ao mesmo tempo, mostrava que agir de modo
aberto era possível e necessário. Segundo exemplo, no limite: Lenin ensaiou
romper com o próprio partido em 1917, em Abril, caso este capitulasse de vez ao
governo provisório da Duma (parlamento) – e discordava em público de seu
próprio partido, pois a situação limite justificava esse tipo de ação, não
parecia algo “de gente sem noção” ou até parecia, mas com o tempo ele foi provando
que estava correto e agregou.
6.
Aprender a se maioria e minoria:
defender com firmeza a sua proposta mesmo quando amplamente rejeitada – se a
considera correta, a saída correta para a contradição posta, então é errado
“fundir propostas”, “ambos têm razão”, “vamos fazer um acordo” etc. No máximo
adaptamos a forma de apresentar nossa política. Na reunião de partido: “vamos
aplicar a proposta vencedora, democracia operária e partidária, mas continuo
mantendo esta visão; agora é verificar na realidade.” Sendo maioria, nunca
“tratorar”, analisar se o outro oferece elementos positivos, tentar agregar
evitando degenerar a unidade em acordismos ou afastamento da proposta política.
7.
Às vezes, a proposta aprovada estava
errada ou, diferente, foi aplicada de modo ruim. E no balanço: “mas valeu a
pena”, “mas o bom é que…”. É o medo de dizer que o resultado foi negativo, de
chamar as coisas pelo nome, de reconhecer que militar é um processo de evoluir
e aprender, além do interesse em manter aquele sentimento de “somos
revolucionários” e “a melhor organização” como método falso de disciplina
interna. Isto é comum no centrismo.
8.
Se uma política se demonstra errada,
deve-se tentar corrigi-la a tempo, elaborar outra mais exata – melhor a evitar
o dano real, objetivo, na psicologia do “se nos negarmos a ver o erro, este
deixa de existir”. O autoengano deve ser desarcado.
9.
Balanço está longe de ser “dedo na
cara”, desmoralizar o outro ou apontar apenas os erros. Avalia-se primeiro a
política e, como fato agregado, as pessoas; apenas em casos mais graves temos
de puxar advertências e debates mais duros sobre indivíduos (ex: roubou
dinheiro do sindicato? Propor expulsão do militante.).
10.
Na análise: qual a correlação de forças
na sociedade? Qual setor está na ofensiva e qual na defensiva? Por quê? O
principal modo de medir é pela quantidade e intensidade das lutas, greves e
protestos, se numerosos ou em dispersão.
Esta é a intenção:
vamos além da ideia de socialismo abstrato e criamos embriões e pontes para o
amanhã – hoje e já; defende-se mais que a humanidade abstrata, o homem
abstrato, e procuramos aplicar nossas ideias e valores à humanidade concreta e
aos homens concretos.
COMUNICAÇÃO, A “CHAVE” DA REVOLUÇÃO
Sempre destacamos vários elementos importantes para
que o partido sirva para alguma coisa na futura revolução: ciência militar,
dirigir sindicatos, ter simpatia, saber elaborar política de maneira científica.
Tudo isso é verdadeiro. E é verdadeiro pelo objetivo central e mais importante:
temos de ganhar a consciência das massas para o nosso projeto. Em real, podemos
dizer que construímos um partido de combate com esse objetivo: travar uma
guerra para ganhar simpatia, ser ouvidos e, com o tempo, ser a liderança honesta
das massas. Essa é a hierarquia das hierarquias, pois o partido atua na chamada
“superestrutura subjetiva”, ou seja, elevar a consciência, que os trabalhadores
nos apoiem, de modo ativo, ou tenha simpatia pela gente e nossas propostas.
É a razão desse texto e é por isso que sempre teremos
de nos aperfeiçoar e atualizar. Sabemos que a mesma coisa pode ser dita de
inúmeras formas e que, por mais que seja o mesmo conteúdo, a forma como se diz
faz toda a diferença! De um jeito ganha simpatia; de outro, desconfiança. De
uma forma facilita a audiência; de outra, parece coisa de organização maluca ou
desleixada. É claro que isso sempre é mediado – e determinado – pela maturidade
política da organização e da conjuntura, pois não há talento individual que
passe por cima disso. E o mais importante é sempre melhorar, fazer balanço, ter
paciência de se aperfeiçoar e aprender.
COMUNICAÇÃO E CENTRISMO: SUPERVALORIZAÇÃO DA
ORATÓRIA, DA LIDERANÇA E DA FIGURA PÚBLICA
Acho que vale a pena citar um trecho de um artigo
sobre esse tipo de organização:
“Nos partidos centristas a liderança tem um valor
especial pela oratória. Qual a essência disso? Para ter cargos parlamentares e
sindicais é importantíssimo ter ótimos oradores, líderes infalíveis. Priorizar
como “liderança” os melhores organizadores, aqueles que sabem organizar
politicamente as finanças, os melhores teóricos, os melhores em “vender jornal
e fazer propaganda”, os melhores em captação de militantes, os mais talentosos
na ciência militar é coisa de… bolchevique. Como o objetivo é o tático, não o
estratégico, o orador é valorizado e em geral possui muito talento. Vive-se uma
relação de admiração forte pelo candidato, figura pública, transforma-o numa
espécie de herói, um socialista pop.”
“Daí vem hábitos de propor, por exemplo, “fóruns de
debate permanente do movimento”, a prioridade dada às CPI etc. Para um
comunista interessa um fórum quando este organismo faz avançar a luta. É este o
critério. Por outro, o centrismo (especialmente as lideranças) puxa polêmicas
encarniçadas apenas se lhe couber uma audiência positiva ou precisa defender
métodos que mantêm seus privilégios; do contrário, evitam. É claro que uma
organização revolucionária precisa de bons oradores, são importantes, mas não
são o que envolve o partido. Já entre centristas podemos ouvir conversas do
tipo: “Aquele camarada é um bom organizador de finanças, mas aquele outro é um
quadro, uma liderança nata, você tem que ver ele na assembleia discursando”,
ou: “o camarada fala bem, viu, domina a política, sabe convencer, esse aí vai
pra direção da organização, com certeza”.(Características do Centrismo.)
A base social de classe média influencia, nesse
sentido, partidos centristas e até a nossa própria organização. Podemos dizer
mais: o centrismo se preocupa mais em falar aquilo que lhe faz ter simpatia.
Nós, ao contrário, não paramos de dizer uma verdade que tem de ser dita, mesmo
que não dê simpatia. Ou seja: o centrismo não disputa a consciência das massas,
apenas se dobra a essa consciência atrasada.
Quantas vezes vimos membros de partidos de esquerda
defendendo o apartidarismo apenas para ganhar simpatia ou alguma votação em
assembleia? Eles escondem seus objetivos. Já para nós a comunicação é – ou deve
ser – para ganhar simpatia e disputar o pensamento dos trabalhadores. Para o
centrismo e o reformismo a comunicação é uma forma de enganar para ganhar
cargos no parlamento ou no sindicato.
Não podemos julgar um militante, se é bom ou não, se
é quadro ou não, pela – ou somente pela – oratória ou, pior, pelo prestígio.
Precisamos unir prática e teoria, fazer e falar, trabalho manual e intelectual.
Temos militantes que focam na importância pública e só desejam pegar tarefas
que dão “moral”, onde se fala muito e dá ordens; querem aquele cargo, e, por
isso, acham que é “tarefa de segunda mão” colar cartazes de madrugada na greve,
pegar no pesado ou deixar a sede linda para simpatizantes.
CLASSE OPERÁRIA E BURGUESIA
A classe dominante tem os meios de comunicação
centrais em suas mãos e alta escolaridade. Possuem essas vantagens, além de
outras: muito dinheiro e o Estado Burguês, ou seja, a capacidade alta de
formar, atrair ou “comprar” (corromper) comunicadores de outras classes. Um bom
é exemplo é Lula, um dos maiores oradores de origem operária e serviçal dos
ricos.
Uma das vantagens de nossa classe é o número. Somos
milhões. Assim como tem mais operários que burgueses com dor de cabeça ou
gripe, também há mais operários com talentos natos que podem ser usados e
aperfeiçoados. A luta de classes revela vários do tipo, quando explode.
O domínio do Estado, dos meios de comunicação e da
escola nos ensina a obedecer, a “não-sei-falar”, somos educados a ter medo de
dizer algo em público. Na escola, o professor fala e fala; no trabalho tem
muito assunto que não pode ser tocado e pode atrapalhar o ritmo da produção; a
educação familiar reproduz a lógica do capitalismo para nossa classe. Portanto,
é uma tarefa socialista a reeducação e autoeducação de nossa classe e seus
militantes.
COMUNICAÇÃO E CONCEITOS
No partido adotamos dois conceitos de comunicação:
agitação e propaganda.
Agitação: “poucas ideias para muitos”.
Propaganda: “Muitas ideias para poucos”.
Uma panfletagem, um vídeo eleitoral, uma pichação
etc. é agitação – quando nos dirigimos às massas ou categoria.
Propaganda é destina à vanguarda, aos mais
conscientes, aos ativistas; exemplo: um jornal do partido, palestra, livro,
cartilha etc.
Em agitação fazemos debate ideológico, mas
costumamos focar em propostas, em denúncias, no imediato – a função é mover
e/ou ganhar simpatia dos trabalhadores comuns.
Em propaganda vamos além: debatemos também o
mediato, a estratégia, somos mais profundos – o objetivo é ganhar simpatia,
audiência, entre os lutadores e captá-los. É tentar convencer a vanguarda que o
melhor caminho para a sociedade é o que estamos propondo.
Coisas simples como usar a camisa ou boné do
partido, começar a fala já se identificando como da organização etc. podem ser
ótimas formas de agitação e propaganda.
PANFLETO:
- É importante ter capacidade de dizer muito com
poucas palavras;
- É uma linguagem mais ágil, simples e direta,
descomplicada. Podemos dizer coisas profundas de forma totalmente comestível e
aceitável;
- Escreva pela positiva. Coisas simples, como evitar
o excesso da palavra “não” ou reorganizar a frase, estimula muito a leitura;
- Evitar ser professoral com a base, “ensinador” ou
dar lições de moral;
- Imagens devem ter o poder de sintetizar o
conteúdo;
- O tamanho das palavras deve exigir pouco esforço
dos olhos;
- Sempre bom ter alguém com domínio da gramática por
perto;
- A diagramação deve ser leve, limpa, sem muitas
cores.
Focar em três cores: às vezes, um panfleto “monocolor”,
preto e branco, é muito mais agradável de ler. Quando tem excesso de imagens e cores,
o panfleto fica pesado e cansativo; além disso, deixar o fundo branco e letras
negras é ainda um bom formato.
- Sempre colocar propostas. E deixá-las destacadas e
localizadas no panfleto.
Um erro muito comum em nossos panfletos: focar em
debate histórico ou ideológico, quando o foco real deve ser o problema imediato
e nossas propostas. Chamamos de erro ou desvio propagandista, típico de
militantes intelectuais. Podemos até colocar um pouco de “discurso”, mas sempre
como apoio do objetivo central, que é apresentar denúncias e propostas. Dessa
forma ganhamos a classe tanto para o debate “histórico-ideológico” quanto para
a simpatia pelas propostas.
- Sempre se diferenciar dos governos, direções
pelegas e correntes.
Se o governo que criticamos por “não tomar nenhuma
medida” tiver simpatia das massas, devemos criticá-lo de forma que agregue, que
nos faça ser ouvidos e o trabalhador diga: “apoio o governo, mas o pessoal
desse panfleto tem razão”.
- Usar o “nós” no lugar de “os trabalhadores”.
É importante que o leitor veja que o panfleto é
feito por um igual, por alguém que sente as mesmas necessidades e dores que ele
tem e que o panfleto descreve. A voz do material tem de ser de alguém que não
“se solidariza de fora” mas que sente na prática o que tem que dizer, pois
sofre na pele e se revolta com isso e, por isso, faz o panfleto de sua
corrente. A linguagem tem que passar o sentimento do assunto, evitando exageros.
Se vamos falar de corrupção, o panfleto terá de ser enérgico como enérgico
somos numa conversa de bar sobre a família Sarney e o Collor ou sobre o Senado.
- É preciso ter paixão de tentar fazer o material
ser bem acolhido pelo trabalhador e causar revolta.
- Dizer o que não se diz, pois sofrer o mundo e não
o entender gera angústia. Se a pauta de economia do Jornal Nacional é puro
“economicês” intraduzível, então nosso papel é esclarecer, clarear as mentes;
assim, tem que valer a pena o nosso material para que o operário o queria na
próxima visita. Outro exemplo: se há uma epidemia, devermos explicar suas
causas e efeitos, como combatê-la, dar propostas políticas e denunciar a
prefeitura. Além do mais, temos de ser mais que uma colateral da impressa
burguesa: as nada falam da revolução curda, nós falamos; se nada falam de uma
tragédia ambiental, nós tratamos passa a passo disso etc. Boicotemos os
boicotadores da verdade.
CARTAZ:
- Que tenha um tamanho chamativo;
- Que as palavras em destaque passem, já na primeira
olhada, noção do conteúdo, despertando curiosidade;
- Que nem todas as palavras fiquem em destaque
(caixa alta), só as centrais;
- Que seja direto e a imagem (foto, desenho) ajude a
sintetizar o conteúdo;
- Poucas cores, mas com vivas e destacadas
(vermelho, por exemplo);
- Palavras e imagens devem estar bem localizadas, sem
misturá-las, pois, quando isso deixa de ser respeitado, costuma causar confusão
perceptiva.
- Colar os cartazes em “pontos-chave”, onde há muita
audiência, circulação humana e fácil visualização. É central não colocá-los nem
abaixo nem acima da visão média das pessoas, na altura dos olhos é a melhor
tática.
DETALHES:
- Algumas cores atraem mais que outras – vale a pena
pesquisar um pouco.
- Desenhos e logos com formatos “circulares”, mais
arredondados, tendem a ser mais atraentes.
FLYER E INTERNET:
- Na internet, a imagem de impacto é a que ganha
simpatia. Todos “lemos” primeiro a imagem e depois o texto. Por isso, é
importante ter foco nesse tipo de agitação.
- É importante se perguntar: “esse texto ou imagem é
agitação ou propaganda? É para as pessoas em geral ou para os ativistas?”
Exemplo: talvez nem precisemos divulgar em nosso perfil pessoal um texto
teórico sobre feminismo, já que nos basta publicar nos “grupos feministas” on
line, público alvo.
- É importante evitar falar apenas de política na
internet. Falemos de animais, humor e poesia também, como qualquer ser humano.
Assim escapamos de passarmos por chatos e estranhos.
- O fato de se estar longe do olho a olho pode levar
à elevação do tom na linguagem, ser sectário. Importante evitar isso.
VÍDEOS:
- O pecado dos pecados na linguagem é a qualidade,
que deve ser minimamente satisfatória. O áudio e organização das imagens devem
passar organização e facilitar o entendimento. É muito comum querer “renovar”,
fazer diferente, sem ter experiência ou recursos. Quase sempre fica “forçado”.
Algo simples, como gravar numa sala isolada com a figura pública falando, pode
agregar muito.
- Se possível, fazer mais de uma gravação, às vezes
permitindo certo improviso nas falas. Depois escolhe qual fica melhor para
publicação.
- É importante passar certa espontaneidade, mas sem
enfeites ou forçar. Criar um clima humano no ambiente de gravação ajuda.
COMUNICAÇÃO E UNIDADE DE AÇÃO –
UNIDADE-DIFERENCIAÇÃO
Muitas vezes vamos protestar junto com outras
correntes. E quase sempre aparece a tentação: fazer um panfleto e/ou cartaz
unificado. Mas vejamos: nossa diferença com outras correntes é política. Então,
como fazer um panfleto unificado “em defesa da mulher” com PT/PCdoB se para nós
o partido deles é culpado pelo crescente machismo? Podemos até fazer o panfleto
unificado, mas teremos de ter também o nosso por onde apresentamos nossas
propostas, criticamos a irresponsabilidade do governo, apresentamos nossa
organização como alternativa, chamamos as pessoas a aderirem ao nosso projeto
organizativo etc.
Unidade de ação é unidade na ação. Ter nossos
próprios panfletos, nossas próprias palavras de ordem e batuques, falas próprias
etc. é parte da agitação e de nossa construção (captar e ganhar simpatia).
Nos protestos feministas tivemos muita audiência
popular, pois espalhamos nas partes do centro, onde o protesto passava, o
panfleto da nossa organização. As pessoas liam e gostavam: éramos a única
corrente com material próprio.
Em várias cidades, nas jornadas de junho, dirigimos
protestos espontâneos porque tínhamos uns “batedores de lata” bem ritmados e
palavras de ordem muito agradáveis.
BANDEIRA E PROTESTOS
É importantíssimo ter nossas bandeiras altas,
especialmente se estivermos em bloco concentrado e fechado no protesto (para
criar referência e para os militantes se localizarem). Mas não é princípio. Se
temos panfletos, propostas, camisas, falas pela nossa organização e palavras de
ordem, se atuamos organizados, por que não recuar a bandeira em caso de
rejeição do movimento? Evitamos conflito físico e mantemos o trabalho.
[Em diante, o texto continua no final do livro cujo link está no início da postagem.]
[Em diante, o texto continua no final do livro cujo link está no início da postagem.]