terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

ABC da Elaboração Política Marxista

ABC DA ELABORAÇÃO POLÍTICA MARXISTA

Teoria para guiar a rebeldia.
Vem para o partido da revolução: organiza a tua revolta.

(Versão preliminar. Apêndice do livro inédito "Teses Para o Fim do Capitalismo".)


Este pequeno texto foi produzido, em 2014, para estudantes secundaristas recém-ganhos ao comunismo. Se o leitor nos acompanhou até aqui, convido-o à leitura desta introdução feita em linguagem direta e dinâmica. Nesta versão, revisamos e acrescentamos algumas partes, mas mantendo o estilo e limites internos do original.

INTRODUÇÃO
A realidade parece caótica na rotina, sem lógica interna. A vida pode aparecer como um furacão onde nós rodopiamos. O método marxista é a ferramenta por onde percebemos o rumo, a lógica, a causa do real e, assim, antecipamos as principais tendências, as probabilidades políticas. Por isso, este material procura iniciar a ciência marxista entre os novos militantes, dar alguma base para o caminho – é o objetivo desejado.
Debateremos "analise, caracterização e política". É um espaço curto, então procuraremos tratar os aspectos gerais e iniciais do tema, ou seja, aqui apresentaremos, longe de esgotar o assunto, ponto por ponto.

MÉTODO E TOTALIDADE
O método marxista busca na totalidade dos fatos a explicação. Precisamos levar em conta a interação das Partes do Todo; vamos aos elementos, pois serão guias do debate e método:

1. Economia, infraestrutura;
As técnicas (meios de produção) para transformar a natureza, para produzir riqueza, produtos e mercadorias; as formas de distribuição; a produção da riqueza social etc. Na pesquisa vemos, de forma distorcida e abstrata, os dados do PIB. O que e como produz também é importante – uma coisa é o país fazer chips de ponta, outra é extrair minério.

2. Relações de produção, estrutura;
Classes sociais, relações sociais, grupos humanos, perfis coletivos etc. Ligado ao primeiro, relações originadas pelas relações de trabalho. De começo, consideremos – em central, pois há outros – três grupos sociais: classe operária, burguesia e pequena-burguesia.

3. Mente humana e suas relações, superestrutura subjetiva;
Ideologias, cultura, hábitos, valores, moral, arte, ciência etc. Percebe-se a relação direta como o ponto quatro – como causa ou consequência – e com os demais.

4. Instituições, organismos ou superestrutura objetiva;
Estado (cujo organismo central é as Forças Armadas), sindicatos, Igrejas, escolas, partidos, meios para gerir pessoas, ideias, coisas e conflitos. Origina-se dos pontos três e dois, relações sociais, e em última análise das formas de produzir (ponto um).

A partir dos quatros elementos temos uma base para analisar a situação mundial ou a pequena fábrica. Percebemos: é essencial, vital, a dedicação ao estudo teórico, por todos os marxistas, de todos os quatro pontos, sem exceção. Já obtemos o primeiro compromisso: estudar a economia, as classes, as instituições e a cultura etc. – compreendê-las. Por exemplo: se temos inflação, talvez seja um erro chamar “congelamento dos preços” se nada sabemos da origem real do problema, pois congelar os preços pode causar desabastecimento e desmoralização de quem propôs e lutou por esta proposta.
Este esquema explica, por exemplo, o motivo de a UESPI e UEMA serem “escolões” e, por outro lado, a USP ser elitizada. Vamos do ponto um (1, a economia) ao quatro (4, superestrutura objetiva). Economia mais industrializada de São Paulo (1) necessita de uma massa de especialistas (2) e, para isso, a universidade deve ser capacitada (3 e 4). O sentimento de elite social (3) da letrada (3) classe média paulistana (2) gera a xenofobia (3). Mas com a crise econômica atual (1) as fábricas fecham (1) e os recursos reduzem (1), o desemprego no meio operário logo aumenta (1 e 2), a burguesia (2) quer sair bem dessa (1), os gerentes e cargos intermediários de empresas (2) têm estabilidade ameaçada (1 e 2) e, também, a USP (4) entra em crise financeira (1 e 4), além de não ser tão socialmente necessário (1) novas gerações de especialistas (2) capazes (4).
A elaboração marxista é muito semelhante à "Arte da Guerra" de Sun Tzu e "Da Guerra" Von Carl Clausewitz: calcular a técnica, recursos, organização e tamanho de cada tropa, o terreno, a moral interna do seu lado etc.: tudo era – é – reunido para elaborar as melhores táticas para o engajamento. A criação do método que apresentamos parece ter influência decisiva de Engels, além da dialética (falaremos mais sobre isto). O "General da I Internacional" era referência máxima sobre os assuntos militares.
Podemos, daí, chegar a algumas conclusões, evitar enganos:

1. O marxismo considera a cultura, o indivíduo, os hábitos e o pensamento na elaboração – não apenas a economia;
2. O marxismo rejeita o "determinismo econômico", apelido recebido nas universidades. Enfim: o centro do marxismo é homem e sua capacidade de criar através do trabalho; a economia existe por causa das ações e relações humanas.
3. O método marxista necessita (expressar o) interagir todos os elementos da realidade.

ANÁLISE
Dados, estatísticas, relatos, pesquisas, matérias, experiência pessoal, vídeos no youtube (caso seja fato distante) etc.: toda fonte é útil. O marxismo é amplo, aberto para procurar entender a realidade, contanto que verifiquemos a validade do material, confrontemo-lo (em especial, o jornalístico).
"Esquematizaremos" – nome complicado, já que o marxismo rejeita esquemas – de acordo com o que vimos até o momento. Exemplos de questionário para a análise:

1. Economia
Como anda os estoques na fábrica? Como anda o orçamento da universidade? O comércio está em expansão ou recuo?

2. Relações sociais
Qual o nível de estabilidade dos funcionários? Qual o perfil de classe dos alunos? Unidos ou fragmentados? Há outras fabricas ou categorias grevando? O pessoal intermediário, como está? A fábrica pode fechar, a baixa gerência radicalizou também? E a situação da patronal? Como anda a qualidade salarial?
Por exemplo, na UESPI a organização dos "campus" fragmentados, distantes no longo espaço geográfico da cidade, reduz a força dos movimentos sociais internos, desconcentra-os, descentraliza-os, e reduz a interação social.

3. Superestrutura subjetiva, mente humana
A categoria está unida e radicalizada? Existe alguma vitória que está forte na lembrança ou derrota que os deixam pensativos? E a direção do sindicato parece firme ou vacilante? Quais os discursos e propostas? Como a sociedade vê o processo? Existe uma cultura de passividade ou são brutalizados?

4. Instituições
O sindicato é pelego ou de luta? É forte ou frágil? Se pelego, interessa à direção grevar para desgastar o governo com o qual discorda? E a Cipa é militante? Qual a situação do setor administrativo e RH? O governo é forte para, em algum caso, tentar reprimir? Ou está em ampla defensiva, a beira de cair, rejeitado pela ampla maioria? E os partidos com trabalho sindical, o que opinam e como estão? Com que organização a patronal pode contar para ganhar de nós?

Por que, então, não se prender a este esquema? Porque cada situação nos coloca perguntas particulares sobre estes quatro elementos. As questões da análise numa escola são diferentes da na revolução síria.
Vamos construindo o processo. Mais à frente haverá exemplos práticos, de acertos e erros.

ANÁLISE, CARACTERIZAÇÃO E DIALÉTICA
Até agora falamos sobre o materialismo histórico. Muitos marxistas param aí – facilitando erros por mecanicismo, impressionismo e questões outras. Surge um marxismo formal. Trotsky, por exemplo, costumava aprofundar o debate das diferenças políticas na esquerda com a questão da dialética, ou seja, qual o método para elaborar.
É preciso entender o movimento e unir os quatro elementos sobre os quais falamos. Digamos que é diferente da matemática: na realidade concreta “as somas multiplicam ou dividem”, ou seja, o Todo, a Totalidade, é muito mais do que a mera soma das partes, é qualitativamente superior.
A teoria e dialética fazem diferença na caracterização. Por conta do espaço, ilustraremos com um exemplo resumido; vamos à análise e caracterização – muito resumida – atual do Brasil (o leitor pode discordar, sinta como um exemplo):

1. Situação mundial (se é Totalidade, não se pode separar o país do mundo).
Crise mundial. Capacidade produtiva muito acima do consumo real. Demissões e aumento do desemprego em quase todo o mundo. Tendência à redução do consumo geral. Recuo progressivo do crescimento Chinês, centro de nossas exportações. Guerras civis (como consequência da luta de classes) no Oriente Médio paralisam nações e economias inteiras. Situação pré-revolucionária mundial e na Europa.

2. Economia nacional
O país cresceu facilitando o endividamento para consumo interno. Mas as dívidas dos trabalhadores está no limite tendenciando a reduzir o consumo. Com o recuo da China, as exportações tendem a cair. A burguesia não pode investir e a dívidas públicas são fonte de lucros mais estáveis. Governo aumenta os juros, o que reduz o investimento, o consumo e o dinheiro orçamentário vai para a dívida pública. Há crescimento negativo da economia e contrarreformas anti-operárias e anti-populares (privatização, ataque aos diretos etc.).

3. Relações sociais
As greves se multiplicam. Maiores, mais participação, mais duração, maior quantidade, maior radicalidade. Há uma nova classe trabalhadora, menos iludida com o PT e com a democracia, mais letrada, também urbanizada.
As classes médias empobrecidas se esquerdizam e são numerosas. As mais enriquecidas, vão para a direita e extrema direita eleitoral.
A burguesia ataca a classe unificada. Mas está insegura sobre a governabilidade e lucratividade do PT, o que a divide.
A juventude é uma força instável, numerosa e explosiva.

4. Mente humana
O nível cultural da classe trabalhadora aumentou, além de existir uma nova e jovem geração. A desconfiança contra a democracia burguesa é maior (aumento do voto nulo, por exemplo). É mais fácil debater política no cotidiano. Há uma visão positiva das lutas sociais e greves. Não há, ainda, uma visão clara de classismo ou socialismo. Digamos que a massa trabalhadora está indo da direita para a centro-esquerda, por enquanto. Há um divórcio com o PT, desmoralizado e em crise.
A classe média se divide. O setor empobrecido não vê na classe operária, na luta e partidos operários, uma liderança natural, mas também avança. O setor privilegiado, fragmentado, apoia ideias radicais de direita. Esta está insegura com os movimentos “na base” da sociedade e com as consequências pessoais da crise; se apoia na figura do herói, em figuras públicas autoritárias.
A burguesia não sabe se o PT consegue usar o Estado, na crise, de forma positiva. Avalia e testa o governo permanentemente.

5. Instituições
Todos os governos e parlamentos sofrem rachaduras internas. O parlamento trava o executivo. O mesmo ocorre com partidos de direta e esquerda. Há uma crise do funcionamento e representatividade do Estado.
Os sindicatos pelegos sofrem pressão da base e rebeliões. Crescem as oposições e correntes sindicais democráticas. No entanto, os sindicatos burocráticos são fortíssimos e maioria ampla. PT está em crise e governo sem apoio popular (7%, quando o autor escreveu este texto).
As oposições de esquerda, minoritárias, podem pressionar, mas não determinar diretamente o fluxo da realidade.
As organizações neonazistas ainda são minoritárias e discretas – ainda.

Proposta: para derrotar o inimigo é preciso entendê-lo; desse modo, estudar os mecanismos do Estado burguês (leis, ritos internos, dispositivos, como aloca recursos etc.) nos permite ver melhor como “os do lado de lá” operam para gerir esta ferramenta contra nós e, também, nos permite perceber meios auxiliares para agirmos dentro da legalidade. E sempre lembremos o seguinte: 1) a lei é uma validação da política, não tem autonomia, e a esta está subordinada; 2) a burguesia, quando precisa, burla sem rodeios a própria lei, porque esta é feita contra a maioria.

Caracterização:
Situação pré-revolucionária. Crise, luta de classes cada vez mais aguda, princípio de esquerdização nas classes desprovidas de privilégios, divisão inter-burguesa cada vez maior, as classes médias iniciam um racha interno, o Estado está mais frágil, partidos de esquerda têm mais audiência. Expressão da esquerdização centrista das massas, o PSOL tende a crescer num primeiro momento. A esquerda tradicional se desmoraliza, exemplo do PT (CUT, UNE,etc.). O Governo está fraco. Tudo mediado pelo recuo lento e constante da economia. É o começo de um processo que levará à revolução ou à contrarrevolução.

Mais à frente debateremos uma possível saída política pelo método. Por agora, preferimos um debate determinante apresentado, em resumo, no próximo tópico.

DIALÉTICA
Vamos tratar um pouco sobre o tema. Importantíssimo estudar, pois aqui vamos apenas apontar caminhos; tentaremos rechear as categorias e leis com exemplos práticos.

Aparência e Essência

Nada se explica por si, mas pela realidade que a gerou. Parece que o Sol gira em torno da Terra (aparência) e apenas quando vemos a realidade total é que descobrimos que é o contrário (essência). A Terra parece plana (aparência) e a investigação ampla permite ver que é o inverso (essência). Normalmente o que os olhos demonstram no imediato é, em verdade, a negação daquilo que de fato é, o contrário.
Quantos viram no PT algo progressivo e depois perceberam a verdade? Quantas vezes nos impressionamos com um discurso e descobrimos, depois, que o discursante é uma farsa? Acontece porque, no imediato, pegamos apenas um pedaço da realidade, uma parte e achamos que é expressão do Total.
O tempo e, precisamente, a dialética permitem descobrir a essência daquela aparência. Um clichê de Marx: “Se a aparência das coisas revelasse suas essências, a ciência seria desnecessária”.  Importante, por isso, sempre, evitar o impressionismo com um fato, com algo impactante, com uma notícia boa ou ruim. É preciso calcular e medir.
Quando a mente elabora sob o forte impacto da aparência chamamos “impressionismo”. Uma política que se justifica a partir da aparência – sem estudo prévio – chamamos "análise-justificativa", ou seja, tira a política e só depois a “teoriza”.
A aparência é fluida (sempre há uma novidade em destaque); a essência muda-se mais lenta. A aparência é “algo”, um pedaço da realidade que – inevitavelmente – causará um primeiro impacto, sensações e sentimentos; a essência – união/superação de todas as aparências –  é a descoberta das origens dos fenômenos, da realidade.
Há dois tipos de relação aparência e essência:
1.      De um objeto: a aparência é uma manifestação inexata da essência;
2.      De totalidade, grande escala: a aparência é o inverso da essência;
Como parte e manifestação do real, a aparência também exerce alguma influência sobre a essência. Exemplo: o aumento qualitativo de luta no Brasil, desde 2013, gerou maior desmoralização e crise no Estado e aumento dos votos nulos/abstenções; porém, isso tomou a aparência de muito mais deputados da direita – menor quantidade de petistas etc, pois o voto da esquerdização inicial foi nulo e PSOL (a esquerda mais leve cresce no início dos processos e manifestam o início desse processo de crise). Assim, a aparência, mais parlamentares de direita, gerou uma bancada mais reacionária com mais facilidade de aprovar seus projetos antiesquerda.


Forma e Conteúdo

Forma é algo gerado por outro algo (conteúdo). As relações sociais (conteúdo) geram o Estado (forma) e os sindicatos (forma). A palavra falada (conteúdo) gera a palavra escrita (forma). A interação entre três ou quatro oposições sindicais (conteúdo) gera uma corrente sindical com um núcleo de direção da articulação comum (forma).
Interessante é que são interligados ,mas não dependentes totais um em relação ao outro. Um gera o outro e se influenciam mutuamente, mas adquirem certa autonomia. A relação de classes pode influenciar, mudar ou até destruir o Estado e, também, o último pode influenciar enormemente o primeiro. Relação mecânica é inexistente. Exemplo: uma luta de classes (conteúdo) muito aguda no final da década de 1970. A ditadura sente o peso e decide abrir lentamente o regime (forma). A democracia burguesa (forma) veio graças à pressão dos trabalhadores (conteúdo).
O conteúdo é ativo; a forma é conservadora. Por isso, em essência, o primeiro é determinante. Por quê? A fluidez, o movimentar-se constantemente, a instabilidade real ou potencial necessita criar "algo" estável, seguro, que possua padrão. Exemplo: o português falado muda-se sempre e continuamente; precisamos, portanto, de uma forma firme (gramática, regras etc.) que controle a mudança e permita a estabilidade.
O conteúdo é ativo; a forma é conservadora.
A forma deriva das contradições do conteúdo.
Exemplo: as Jornadas de Junho de 2013 (conteúdo) foram fortíssimas. A consciência dos oprimidos (forma) avançou com este fato, mas em menor medida em relação à própria força real da manifestação. A repressão e conflito em São Paulo (conteúdo) geraram um choque de realidade nas massas (forma, salto de qualidade) e a luta multiplicou-se (conteúdo) afetando a ainda mais a consciência com o "é possível" (forma). As ações foram avançadíssimas e as mentalidades mudaram demaneira menos radicalizada (mais lenta) que a luta prática. Acontecem, em todo o mundo, ocupações de fábricas violentas por um simples aumento salarial.

Necessário e Desnecessário

Por que os partidos de esquerda hoje têm mais audiência? Porque são socialmente "cada vez mais necessários", por causa da crise. Por que a democracia burguesa se fragiliza? Porque se torna um instrumento "cada vez menos necessário e mais desnecessário" quando à utilidade para a manutenção da harmonia social.
Veja que há um processo entre o necessário e o desnecessário.
Os sindicatos existem porque há conflitos de classe. Deixarão de existir no comunismo por causa da qualidade de vida e do fim das classes sociais.

Causa e Consequência, Realidade, Possibilidade, Inevitabilidade. Casualidade

Tudo que é real é racional – existe um motivo para tal. Uma causa pode ter várias consequências. Exemplo: a crise brasileira (causa) pode gerar o socialismo ou a ditadura (fascismo etc.) ou democracia degenerada. A crise mundial pode gerar socialismo planetário, ou a extinção da espécie humana, ou uma nova sociedade escravista (ou um capitalismo inédito).
Causa e consequência podem se inverterem – é dialético! Uma forte industrialização pode gerar urbanização assim como uma forte urbanização pode gerar industrialização. O capitalismo industrial pode originar o estado burguês (Inglaterra, França etc.); também o Estado burguês pode gerar a industrialização (Brasil, inicio do século XX).

Uma situação revolucionária, por exemplo, pode gerar a POSSIBILIDADE de uma revolução socialista, pois toda a realidade amadurece para isto. Mas depende de decisões humanas e se, na "Hora H", a direção das massas trair? Pode colocar tudo a perder (e muito disso ocorreu na história)…
A inevitabilidade são elementos objetivos, como a certeza que a crise chegaria ao Brasil. Ou seja: todos os condicionantes permitem que algo, de fato, ocorra – deixa de ser probabilidade ou possibilidade.
Casualidade são os elementos não previsíveis. O terremoto no Haiti, imprevisível, atrapalhou a frágil luta social. No Chile, com as escolas sucateadas e rachadas, o terremoto acelerou a luta de classes.

Relativo e Absoluto

Se um dirigente, ao entrar no sindicato, trabalha com menos peso em relação ao chão da empresa, há um privilégio, uma "burocratização relativa" – continua sendo quem é. Se começa a acumular pequenos privilégios, aqui e ali, facilidades, uma hora sua qualidade de vida dependerá de estar ou não na direção do aparelho: surge o burocrata, o pelego, a "burocratização absoluta". Cristalizou-se uma característica e o lutador vira um cínico (a matéria determina a ideia).
O Mensalão gerou uma crise relativa no Estado, crise no governo sem afetar o regime, algo que se podia administrar. Caminhamos agora de uma crise relativa (gerada pelas Jornadas de Junho) para uma absoluta (crise do PT, crise de corrupção, governo perde a base social e parlamentar, o parlamento está forte como fonte de chantagem etc.). No segundo caso, a crise de governo tende a gerar uma crise no regime se com o impulso de duas forças, a crise econômica e elevação da luta de classes.
Medir o peso dos elementos da realidade faz diferença na elaboração política.


Do Simples ao Complexo

É a natureza da realidade. A vida surgiu de material não vivo (inorgânico) ou o orgânico veio do inorgânico. O capitalismo é mais complexo do que todas as formas de sociedade que o antecedeu – os mais simples eram e são as tribos nômades. O militante social começa sem muitas habilidades (é natural) e vai acumulando teoria e prática. Uma ideia gera outra ideia, e mais outra, e outra, e formam algo superior. As primeiras formas de vida eram rudimentares e tornaram-se complexas. O capitalismo é um bicho com cada vez mais tentáculos.
O estágio superior acumula características do estágio inferior – não apenas nega ou reforma; também agrega.

Negação da Negação

Tudo muda. O novo surge negando o velho. E o próximo novo surge negando o que era novidade. Vai além – tem uma sofisticação interessante: resgata, de certa forma, o primeiro a ser negado, só que de forma superior. Exemplo: as atrasadas sociedades primitivas (comunismo da miséria, igualdade por falta de riquezas) foram negadas por sociedades superiores, de classe. Virá a Negação da negação: o comunismo da abundância – como a primeira: não haverá classes, Estado, repressão, família monogâmica etc.
A dialética dos antigos gregos (afirmação) foi negada pela lógica formal de Arstóteles (negação). O retorno da dialética por Hegel (superior, negação da negação) marca uma nova dialética. Marx opera outra negação com a dialética concreta. A negação da negação, em Marx, é um processo sem fim, sempre haverá negação, ou seja, é possível que a própria dialética seja, um dia, superada.
Um grupo reformista honesto (afirmação) pode tornar-se um pequeno agrupamento revolucionário (negação) e ganhar influência de massas construindo o socialismo – negação da negação: promovendo reformas na sociedade socialista. Pode dissolver-se na sociedade comunista, ajudando a promover as reformas sociais, ou degenerar e ser parte da ditadura totalitária de um partido único (duas possibilidades de negação da negação).

Quantidade para Qualidade

Qualidade é um estado da realidade. O estado líquido da água é uma qualidade; o estado gasoso é outra qualidade. Entre o líquido e gasoso, o aquecimento da água é a causa das mudanças de qualidade. Cada vez mais as partículas da água ficam aceleradas (quantidade, mudanças de quantidade), movimentadas, dispersas, instáveis até ocorrer o que chamamos salto de qualidade (evaporação).

Há dois tipos de mudança, de salto de qualidade:
1. Por acumulação de mudanças e gradual;
2. Por acumulação de contradições, ruptura, por salto-ruptura.

Há mudanças sociais por reformas (caso 1). Quando é preciso reformas mas não ocorrem – porque o sistema não tem condições de aplicá-las –, surgem as revoluções (caso 2).
Um partido revolucionário pode viver pequenas mudanças (quantidade) e, quando menos percebemos, degenera; caso do Partido Social-democrata Alemão. A industrialização na antiga URSS foi por saltos: crescia 20% ao ano (!) com os planos quinquenais.
A luta entre a burguesia e o proletariado pode gerar reformas ou contrarreformas. Também – e principalmente – saltos-rupturas, pois as contradições de classe precisam ser resolvidas com violência direta.

As Partes e o Todo

Para entender a realidade, e uma realidade específica, é preciso ver sua conexão com toda a realidade, com as outras partes e com a totalidade. Há uma interdependência, uma interrelação, mútua influência e ligação entre as partes constitutivas do Todo. Como dissemos antes: o todo é mais que a mera soma das partes, é superior –  há somas que multiplicam ou dividem.

Abstrato, Concreto e Abstrato. Geral, Particular, Singular

O que e um governo de Frente Popular? É um governo que em sua composição há organizações operárias e burguesas, de esquerda e de direita (geral). A abstração na mente vem de outra relação e outra fraca abstração. Vem de uma compressão falha, simples e imediata do governo (concreto, sem profundidade, parece um governo progressivo) até o entendimento do que o gerou e sua natureza (abstração, a materialidade daquilo) e voltou-se com um conceito explicativo geral (concreto pensado, leis, compreensões etc.). Entenderemos, por isso sigamos.
Temos também que ver cada caso concreto e cada situação concreta, particular – além do Geral. Há governos de Frente Popular onde o partido operário é a liderança (particular no geral; PT no Brasil) e há governos de Frente Popular em que a organização de esquerda é minoria e o partido burguês é maioria no executivo (particular no geral). Cada caso tem sua singularidade, o que forma casos particulares de uma abstração geral (Frente Popular). Isso é importante, pois as diferenças exigem adaptações ou mudanças na política.
Exemplo: O partido de esquerda (PT) é maioria na frente popular? Podemos combinar exigências ao governo e denúncias de suas traições e desrespeito às vontades das massas. O partido de esquerda é minoria na frente popular? Denunciamos o partido e exigirmos, especificamente, sua ruptura com o governo inimigo da classe. Isso fragiliza o partido traidor e/ou fragiliza o governo se a pressão da base social sobre o partido de esquerda forçá-lo a ir para a oposição.
O abstrato também é “algo” além-mente, uma expressão generalizante: a floresta amazônica (abstrato) é um conjunto de árvores que juntas, independente dos tipos específicos, produzem chuva no sudeste, biomassa, oxigênio, absorvem carbono e etc. Nesse sentido, o abstrato, árvores em geral, é “algo”, algo real e importantíssimo. Individualmente, cada árvore produz frutos diferentes (concreto) e possuem características próprias que as diferem umas das outras e das de sua própria espécie (concreto). Vemos que na relação abstrato-concreto existe intimidade, sendo diferentes. O trabalho concreto produz valor-de-uso; o trabalho abstrato, valor.
O concreto refere-se a algo em si, sua materialidade específica; já o abstrato foca no que há de generalizante. Exemplo 1: os critérios de preços de uma mercadoria é um valor além da própria mercadoria (algo material, seu valor material de uso). Exemplo 2: O trabalho específico dos operários sobre um produto (trabalha concreto) relaciona-se com o trabalho abstrato (tempo geral de trabalho para produzir mercadorias). Exemplo 3: O Homem é um uma visão abstrata, generalizante, mas, ao olha os homens específicos, percebemo-los de forma concreta com seus valores, características, habilidades, membro de uma classe social etc.

Contradição, Movimento

Dizemos, por causa da educação escolar positivista: "isso não faz sentido; é contraditório!". A dialética materialista apresenta, num sentido geral, o inverso, que "só é lógico o que é contraditório!".
Quando percebemos a Totalidade, percebemos que a contradição é uma lei. A luta entre partidos da ordem nas eleições é uma contradição relativa, não-determinante e não essencial, parcial e que não muda a essência. A luta de classes é a contradição absoluta, ou melhor, pode ir do conflito relativo, luta sindical, ao absoluto, a luta pelo poder.
A contradição é uma chave. Quando o capitalismo industrial surgiu (conteúdo) veio o estado burguês (forma). Foi positivo, progressivo e não-contraditório. Mas quando, no fim do século XIX, veio a fase imperialista da economia (conteúdo) o Estado (forma) precisou – e precisa – ser destruído (contradição) para surgir uma forma melhor, o Estado Operário (superação da contradição).
A interação e a contradição das partes de um Todo geram movimento dialético.

A fórmula: Tese, antítese, síntese.
Burguesia (tese) contra o proletariado (antítese) produz a revolução e fim das classes (síntese). O Brasil surge para o capitalismo (tese), mas – e mais – tem de usar relações de produção de outro sistema, o escravista (antítese), o que gera uma formação social particular (síntese).

Assim, podemos concluir:
1. A mudança é permanente;
2. Tudo tem em si uma semente de sua própria destruição;
3. Temos de ver a realidade como um filme, em movimento, não tal uma foto;
4. Podemos chegar o mais próximo possível da Essência da realidade e afastar-nos da Aparência, mas sempre escapará algo;
5. Podemos medir e precisar de uma forma muito estável, com pouquíssima margem de erro, apreendendo todos os elementos centrais e determinantes;
6. É preciso ver a dialética dialeticamente, na relação entre as categorias;
7. Aqui está o resumo do resumo;
8. É preciso um treinamento consciente para aprender a pensar dialeticamente. Não é questão de decorar conceitos mas de esforço.

Matéria e Ideia

"A matéria determina a ideia" é um clichê marxista. Uma frase parecida é "a cabeça segue o chão que os pés pisam, mas em atraso". Os hábitos, as rotinas, o modo de vida, as experiências e o meio influenciam a ideia; geram até características comuns aos membros da mesma classe social. Porém, lembremos, não podemos ser mecanicistas. Os homens movem o mundo e podem movê-lo de tal ou qual forma se forem ganhos para esta ou aquela ideia. Caminho natural deixa de existir. Marx disse: “quando as ideias revolucionárias penetram a mente das massas ganham força material” (tradução livre). Ou seja: o marxismo unifica e funde materialismo e idealismo, sob superioridade do primeiro – além de, ao mesmo tempo, superar as duas tendências filosóficas. Então, explica-se “por que pobre vota na direita”.
Exemplo: hiperinflação, os trabalhadores estão enraivecidos. Com qual tática lutar e pelo quê? Sentir é diferente de entender. Pode ser que sejam ganhos para a ideia de uma greve geral ou, ao observar exemplos pelo país, ocupação de fábricas e locais de trabalho/estudo. Pode ser que lutem pelo aumento salarial e congelamento de preços ou, com boa agitação marxista, o “gatilho salarial” (aumentar o salário automaticamente sempre que os preços aumentarem 3%). Pode ser que não lutem. E pode ser que o governo os convença de “esperar com esperança”.

Desenvolvimento Desigual e Combinado

A realidade não se desenvolve de maneira articulada, mas desigualmente. Uma parte é mais madura; outra, menos. A desigualdade do desenvolvimento gera combinações particulares, cria realidades próprias. Resolvê-las é um desafio.
Exemplos:
1. A desigualdade do desenvolvimento social do país leva a esta pluralidade de desenvolvimento econômico-social, características próprias. Hoje puxar uma greve geral nacional é um desafio, pois a maturidade da luta é desigual em cada estado, cidade e categoria.
2. Certo dia se falou que o desenvolvimento desigual das pernas do jogador Garrincha (coxo) transformou-o – por combinação das pernas – em um gênio.
3. Uma greve com ocupação de fábrica não é necessariamente igual a uma direção sindical de luta. Pode acontecer de a direção pelega ser pressionada para a luta por força da base, que ameaçava cortar o pescoço dos dirigentes – literalmente ou não – em caso de traição.

A dialética do desenvolvimento desigual combinado mostra, além do mais: o novo deriva da combinação de elementos diferentes. Exemplo: duas ideias distintas formam uma terceira inteiramente nova e superior quando fundidas.

Transições, Mudança, Lógica Formal

Um bom exemplo de dialética é a sexualidade humana e da maioria dos animais. Alguém pode ser do sexo masculino (com pênis), sentir-se mulher (transexual) e ser lésbica (atrair-se por mulheres). Nem sempre ter pênis é = a sentir-se homem e = ser heterossexual.
Podemos pensar em classe operária para elaborar política. Uma política mais precisa avalia as diferenças internas da classe (os que ganham mais e menos, os mais letrados e menos, a aristocracia e os terceirizados, a nova geração e a velha etc.).
Outro ponto é a mudança. Entre uma realidade e outra, entre uma qualidade e outra, podem ocorrer estados transitórios, duplos, híbridos. Engels fala que "entre o branco e o preto existe o cinza" e "entre o sim e o não existe o sim-não". No Brasil dizemos "ou é 8 ou é 80" como forma de dizer que ocorrem também "meio-termos" ou 40. Entre crescimento econômico e crise pode haver uma queda brusca, de repente, no susto ou uma desaceleração gradual como forma de sintoma.
Percebemos, também, que uma coisa pode tornar-se outra. A dialética movimenta suas categorias (do relativo ao absoluto e do absoluto ao relativo; do simples para o complexo e vice-versa; do necessário ao desnecessário e ao necessário e no sentido oposto etc.). Nada "é" em permanência: tudo está e por algum motivo. Exemplo: um sindicato de luta pode torna-se um Estado, caso da COB da Bolívia em 1952, hoje uma central pelega.

Na língua portuguesa:
O temporal vem aí. (substantivo e núcleo do sujeito na sintaxe)
A existência é temporal. (adjetivo e predicativo do sujeito)

É lógica dialética. A palavra "temporal" é algo a depender da composição da frase – do entorno e contexto. Assim, as “receitas de bolo” e fetiches são desfeitos: uma proposta é boa? Depende da situação. O método da ocupação é bom ou ruim? Depende da situação. Chamar greve geral durante crescimento econômico é inútil, reformista ou reacionário; chamá-la quando a situação abre a possibilidade é revolucionário; chamá-la quando a situação exige já a tomada do poder é contrarrevolucionário, pois dá uma tarefa inferior e fora da possibilidade nova. Outro exemplo: o exército é a principal instituição burguesa, mas, se ocorrem dolorosos deslizamentos de terra na periferia, deveremos fazer unidade com as Forças Armadas, lado a lado, para fins de resgate, auxílio aos sobreviventes e reconstrução.
O cientista Einstein tem bons casos dialéticos. Massa e energia são um só – ou em repouso ou na velocidade da luz a quadrado –; o tempo é algo (material) e o espaço, em si, é algo, e são interligados ou espaço-tempo, que é – inclusive – um tecido dobrável pela massa de objetos, como de um planeta.




ELABORAR POLÍTICA

Comecemos por dizer o que é:

1. Vem da caracterização, mas não é o resultado direto e natural desta;
2. Comete-se erros quando se faz soma mecânica caracterização-política;
2. Elaborar política é uma verdadeira arte;
3. Os marxistas chamam a elaboração política de “a arte de antecipar", “arte de prever”;
4. Ao elaborar, as pergunta centrais a serem feitas são:
"Como, a partir da caracterização, deixar minha classe alguns passos – curtos ou longos – mais perto de sua vitória?"
"Qual manobra (política, no melhor sentido) mais arriscada podemos fazer sem sermos aventureiros?"
5. Deve-se partir das necessidades e dores da classe trabalhadora. Exemplo, de fato, simplista: inflação? Aumento salarial! Corte no salário? Contra o corte!

Exemplo:
As eleições são uma farsa e o parlamento é um instrumento da burguesia (caracterização).
A política ligada diretamente à caracterização (mecanicismo): boicote total a toda e qualquer eleição, voto nulo!

A política marxista: 1. Se as massas tem ilusões, vamos participar para apresentar propostas que eles possam abraçar, ganhar simpatia e denunciar as eleições de forma didática;  um voto de trabalhador não é o ideal, mas é um passo a mais; 2. Pode ser, em caso de desmoralização geral, participar da eleição para chamar não o voto no partido mas o voto nulo e greve geral; 3. Em caso de desmoralização total, chamar o boicote e colocar os próprios deputados para renunciar aos seus mandatos com um discurso inflamado.

A Arte da Guerra não possui táticas fixas – a realidade é que manda. O mesmo vale para a elaboração marxista: chamemos, digamos, "manobras do bem" ou "malandragem honesta". A situação pode exigir esta ou aquela política.

Proposta: ao fazer caracterização e política, é importante um segundo passo. Necessário refinar, precisar, detalhar ainda mais a caracterização e a política. A situação é de crise? Vamos detalhar mais o estágio real da crise para elaborar uma política correta. Podemos evitar exageros (impressionismos) ou atrasos em relação à realidade (este problema é mais comum do que se imagina, pois a rotina pode viciar a percepção). Acontece isso porque a realidade própria é permeada por momentos transitórios, duplos, preparatórios, pré-saltos, quando o velho AINDA se desfaz e o novo AINDA está surgindo.
Trata-se de resolver a contradição a favor de um lado. Exemplo:
A greve dos rodoviários não tem apoio popular? Desafiar a prefeitura (superestrutura objetiva) e a patronal (relação de classes) a liberar as catracas para população enquanto os rodoviários trabalham com Tarifa Zero (questão econômica e política). Assim se coloca o governo e a patronal na defensiva (superestrutura subjetiva e objetiva), a greve ganha força nas massas (atua sobre a mentalidade, superestrutura subjetiva) e eleva a moral da categoria (superestrutura subjetiva).
A contradição relativa entre irmãos explorados (rodoviários e usuários) pode ser positivamente, neste caso, resolvida assim.
Como se percebe, exige criatividade.
Exemplo: falei no inicio que a UESPI tem sua base social fragmentada em campus distantes. Como resolver isto? Que tal exigir uma linha de ônibus estatal específica que interligue os três Campus e o centro da cidade para que os alunos e cidadãos se locomovam melhor? Gerará integração (relação social), interação entre os campus (relação social e superestrutural) e, no imediato, melhorará o transporte dos alunos (economia e relação social).
Dica, proposta: Necessário medir a política, mas também as consequências desta – o após. Vitórias podem tornar-se derrotas. Vamos conseguir segurar as pontas, consolidar as vitórias e manter a dinâmica progressiva? Sim ou não? Exemplos:
1. Os bolchevique poderiam chamar o "Fora o governo provisório" em Março/Abril de 1917. Evitou. Por quê? Se o governo caísse, o partido ainda era minoria e, por consequência, a reação contrarrevolucionária tomaria o poder. Mediou-se com políticas, como: "crítica paciente ao governo", "que reconheçam o poder dos soviets", "exigimos que os mencheviques tomem o poder" etc.
2. A classe operária e os bolcheviques estavam maduros, em Agosto, para a revolução na Rússia. Porém, o partido adiou até outubro. Motivo? Era preciso adiar ao máximo para ganhar os camponeses; sem eles, a vitória seria difícil.
3. O autor do artigo avalia que não é hora de chamar o "Fora Dilma", pois a esquerda não tem maturidade –  ainda – para gerenciar o pós-queda. Uma frente única de luta da esquerda pode ajudar, preparar.  governo Dilma tem menos de 10% de apoio, cheio de escândalos e ataques contra a classe trabalhadora. O "Fora", em si, não é um erro. Problema: a oposição socialista têm condições de impulsionar o impedimento e promover a "rede de consequências" positiva? Pensamos que não. Claro, o leitor talvez discorde.
Enfim, queremos dizer: cabe ao marxista calcular a principal e/ou as principais probabilidades do futuro e, a partir disso, elaborar políticas. Inclui: pensar no "plano B", pelo menos esboçá-lo, caso a política dê errado ou caso a segunda possibilidade confirme-se. Na situação limite, em1917, Lenin sabia que a revolução poderia ser derrotada tal como em 1905, então fez uma conta secreta na Suíça para preservar os membros e o partido em caso de derrota, perseguição e exílios.
Recordo de quando li “Revolução e contrarrevolução na Alemanha”. Para mim, era evidente a superioridade da política de Trotsky contra a religiosidade dos líderes infalíveis do PC alemão; só que um ponto muito específico mexeu comigo: o fundador do Exército Vermelho propôs a formação de milícias operárias antifascistas numa frente única da esquerda e logo pensei “é isso que fez falta contra Hitler!” – em seguida, Leon faz um subcapítulo: “Na defensiva ou na ofensiva?” O debate nesse momento foi educativíssimo e inesperado: mesmo aceitando esta política, muitos quadros hoje numa situação parecida com a alemã diriam “vamos pra cima deles!”, “avançar!”, “guerra de classe!”, “ofensiva permanente!”, “é preciso ser ousado e ousado!” etc. Aquele a propor tal tática, proposta minoritária à época, explicou porque a defensiva: a classe estava insegura e desmoralizada, desconfiada das próprias forças e não tinha a classe média ao seu lado; os organismos de autodefesa deveriam proteger as greves e passeatas, os sindicatos, os partidos operários, ajuda mútua entre milícias do PC e do PS para defender-se e frustrar os bandos nazistas – assim, por essa postura, ficaria cada vez mais claro quem é quem no jogo político, o PC e o PS aglutinariam mais e mais jovens voluntários e amadureceria a capacidade militar da esquerda, a classe operária ver-se-ia com apoio real, prático e unificado, e ganharia mais confiança em si, a classe média se frustraria (incluso moralmente) com as milícias fascistas etc. Ou seja, era preciso um primeiro momento defensivo, no processo inicial de organização e articulação das forças, para ir dar o duro e final golpe, ir para ofensiva, no movimento inimigo.

MÉTODOS ERRADOS

1.      Determinismo econômico.
Considerar a situação econômica como determinante absoluto. A economia é vital, mas sozinha não explica a vida social e seus rumos. A psicologia coletiva, por exemplo, medo ou raiva, faz diferença sobre como agir.

2.      Análise sindicalista.
Considera a luta social e a luta entre as correntes por espaço. Esquece a totalidade e não elabora política verdadeiramente de classe.

3.      Análise superestrutural.
Colocar o conflito entre Estados ou partidos como medida maior. O centro é sempre a luta de classes, os conflitos entre Estados são, em geral, parciais e sempre inferiores às questões de classe.
É comum na geografia e entre os que defendem "governos progressivos". Votar em um partido para evitar a direita é um caso atual ao supor reduzir todo o processo social a duas organizações (superestrutura objetiva e eleitoral).

4.      Elaborar considerando "o nível de consciência das massas".
Como vimos, também é importante. Mas a questão é convencer as massas de políticas elaboradas cientificamente. Os trabalhadores não chegam sozinhos a muitas ideias, por isso é preciso apresentá-las e convencê-los. O reformismo e o centrismo podem usar argumentos como "esta proposta não dá, pois não dialoga com a consciência da classe" ou “a consciência da base ainda está recuada”. Os marxistas elaboram e – pela criatividade – adaptam as propostas para deixá-las comestíveis.

Todos estes métodos são parciais, sem totalidade. Pegam pedaços enquanto o marxismo considera todos estes elementos em uma Totalidade, integrando-os. E podemos acrescentar outro meio errado:

5.
Elaborar no improviso, ou para impactar a vanguarda, ou desconsiderando a dialética.

EXEMPLO ATUAL DE ELABORAÇÃO

O leitor pode ter discordâncias, são exemplos. Basearemos na caracterização que já fizemos:

"Situação pré-revolucionária. Crise. luta de classes cada vez mais aguda, princípio de esquerdização nas classes desprovidas de privilégios, divisão inter-burguesa cada vez maior, as classes médias iniciam um racha interno, o Estado está mais frágil, partidos de esquerda têm mais audiência. PT entra em crise, e seu aperelho sindical está sob pressão. É o começo de um processo que levará revolução ou à contrarrevolução."

Caracterização-Politica:

1. As lutas se multiplicam, mas ainda estão dispersas.
Política: Propor a unificação das greves, dias de luta, pressionar as burocracias pela base.

2. Os pelegos são grande maioria e a esquerda é minoritária e precisa de mais audiência e força.
Política: Impulsionar uma frente de luta da esquerda anti-PT. Denunciar às categorias a ligação irrevogável dos pelegos com o governo, o Estado e a patronal. Propor, pela base, que puxem as lutas. Chamar os setores minoritários a romper com as centrais vendidas.

3. Há ataques contra os trabalhadores.
Política: Contra o PL da terceirização. Luta nacional.

4. O Estado está se desmoralizando.
Política: Campanha pelo "Fim de todos os privilégios políticos!". Chamar dia de luta nacional. Elaborar um panfleto especial.

5. O PT entra em crise.
Política: aumentar as denúncias para enfraquecer esta importante trava. Não deixar a luta contra o PT como bandeira da direita.

DETALHES:

1. Está em formato resumido e esquemático. No último subtexto, ofereceremos exemplo;
2. Quando uma política ganha vida na realidade, gera uma "rede de consequências". Vamos supor que é hora para uma "greve geral por tempo indeterminado". Se esta política ocorrer, o país se paralisará e a guerra civil será uma possibilidade real. Sabemos que ainda não é o caso;
3. O marxismo permite compreender a realidade e antecipar as principais tendências do futuro, as probabilidades. A habilidade de conhecer a principal (ou principais) possibilidade é o diferencial.

Marx previu a fase imperialista do capitalismo. Engels, a I Guerra Mundial, sua duração, sua natureza, seus recursos e as consequências com uma exatidão espantosa. Trotsky percebeu que a revolução democrática na Rússia (Fevereiro) tenderia a tornar-se socialista (Outubro), avisou que Hitler invadiria a URSS se este tomasse o poder na Alemanha, disse que a III Internacional fecharia por uma concessão ao Imperialismo. São alguns dos inúmeros exemplos.

4. Da realidade, precisamos elaborar duas ou três palavras de ordem centrais para propor aos trabalhadores e às classes oprimidas, ganhá-los e mobilizá-los. Em muitos casos, entre estas precisa contar umo proposta de método de combate – “Contra o Euro, referendo já!”, “Greve geral contra a Troika!”, “Três dias nacionais de luta e paralizações contra a reforma da previdência!”. Como se vê, podemos, incluso, combiná-las. Encontrar as melhores palavras de ordem; encontrar as melhores formas de expô-las.

Exemplos possíveis:
1. Ataque aos direitos: "Abaixo a lei da terceirização! Lutar para barrar!";
2. Resposta aos escândalos de corrupção: "Fim de todos os privilégios políticos!";
3. Para atrair as classes médias empobrecidas e os operários unificando-os e educando-os no classismo: "Imposto progressivo! Que os ricos paguem mais!".

Evitando a lógica de "manual" ou "receita", estudar a historia da luta teórico-política do movimento comunista e o Programa de Transição, de Leon Trotsky, dará inúmeros exemplos para a elaboração correta da política – além do acúmulo longo de propostas e palavras de ordem.
Vejamos na conjuntura. Situações de crescimento econômico exigem palavras de ordem econômicas (salariais etc.), democráticas (direitos LGBTTs etc.) e reformistas; situações de crise econômica e social (pré-revolucionárias) exigem de nós maior peso para as palavras de ordem chamadas transicionais (redução da jornada de modo a garantir desemprego zero, banco único do Estado, gatilho salarial, milícias operárias, abertura das cantas das empresas, comitês de fábrica, controle operário da produção, gestão operária da fábrica etc.); situações revolucionárias e de crise revolucionária exigem a aplicação do programa de transição com o programa máximo (todo poder aos comitês de empresa e bairro, poder operário e popular, todos armados contra a contrarrevolução etc.) No entanto, esses exemplos são limitados. Se temos uma situação de crise social e econômica (economia e relação de classe) durante uma ditadura (superestrutura objetiva), então temos de combinar (dialética) as palavra de ordem transicionais ou econômicas com as democráticas (Assembleia constituinte já! Etc.) como forma de potencializar a luta (estrutura) e a consciência dos setores não burgueses (classes e superestrutura subjetiva – ganhar os setores médios por meio da proposta democrática).
Continuando o parágrafo anterior. Se a classe média está pra a direita e unida, dividimo-la com propostas concretas para atrair seu setor mais pobre para o lado da classe trabalhadora. Se a burguesia não está dividida – e isso também é vital na análise –, dividimo-la por meio da luta. Neste segundo caso, por exemplo, a luta contra a ditadura faz com que parte da classe dominante e seus políticos também queiram a mudança do regime e podemos fazer “unidade de ação” sem nos misturarmos com eles, mantendo a independência e autonomia de nossos organismos.
Enfim, as propostas devem ser viáveis? Não, apenas potencialmente mobilizáveis:

“Em contrapartida, e em determinadas condições, é totalmente progressivo e justo exigir o controle operário sobre os trustes, mesmo que seja duvidoso que se possa chegar a isso no marco do Estado Burguês. O fato de que tal reivindicação não seja satisfeita enquanto a burguesia domina deve impulsionar os operários à derrubada revolucionária da burguesia. Dessa forma, a impossibilidade política de levar a cabo uma palavra de ordem pode ser mais frutífera que a possibilidade relativa de realiza-la" (Leon Trotsky – Stalin, o Grande Organizador de Derrotas.).

Existem palavras de ordem corretas para o momento a nos permitir apenas vitórias parciais e avanços lentos; existem outras a gerarem saltos imensos na realidade quando ganham as massas. Darei o exemplo de uma corrente com a qual tenho pouco acordo e muita crítica, o MRT (“MRT? Centrismo ultraesquerdista!” – Pode ser, mas evitemos a postura de igreja, de seita política…), onde apresenta uma consigna que me parece boa. Vejamos. A terceirização avança em todos os locais de trabalho, reduz salários e aumenta a intensidade laboral, enfraquece os sindicatos e divide os trabalhadores em formais e informais ou concursados e não concursados. Agora o governo federal deseja terceirização das “atividades fins” (!), ou seja, além das agregadas! A corrente citada propôs, então, “fim da terceirização! Que todos os terceirizados tornem-se por lei funcionários públicos e das empresas!”, algo assim. É uma proposta de luta por um salto qualitativo; e assim deve ser, pois apenas com luta geral e unificada é possível regredir esta tendência em cada local e trabalho.

PRÁTICA E EXEMPLOS DE ERRO

Marx, Engels, Lenin e Trotsky erraram por toda a vida – nós também podemos nos permitir. Saber como se faz é diferente de saber fazer. A prática é a forma de aperfeiçoar, aprender, e exige tempo. É importante fazer balanço sempre após colocar uma política em prática: foi correto? Por quê? O que deu errado? O que faltou na análise? Alguma falha contra a dialética? Assim, na próxima elaboração, se fará de uma forma aperfeiçoada, do simples ao complexo.
Na eleição de 2014, disse ao meu antigo agrupamento político, em plenária:
“Compas. Vivemos a transição entre uma situação de estabilidade não revolucionária e a crise social da pré-revolucionária. A burguesia quer um governo forte, especialmente após junho de 2013. A frente popular que foi encabeçada pelo Weglinton Dias do PT (2003 a 2010) está firme na memória dos trabalhadores e o atual governo do PSB está desgastado. A burguesia vai querer esta fórmula de novo, o PT na cabeça de chapa, será uma boa pra eles suportarem a crise de tal forma que ele (candidato) pode ganhar no primeiro turno. A ligação com a presidência ajuda.”

Acertei a caracterização quase toda. Quase. Sobre senador disse:
“O do PT/PTB para o senado, Elmano Ferrer, é mal visto em Teresina (grande colégio eleitoral) e pouco conhecido nas cidades menores. E candidato do PTB, o que gera. 1. desgasta a imagem ao ser associado com a burguesia dos Claudino, altamente rejeitada nas massas; 2. Por outro lado, há muita finança para campanha. E mais: o outro candidato é conhecido em todo o estado, ex-governador e tem apoio dos latifundiários.”

Errei: Elmano foi eleito. Fiz o balanço: o erro veio por separar as Partes do Todo.

1. Era largamente apoiado pelo único candidato forte ao governo e com confiança majoritária nas massas (Dias do PT);
2. Financiado pelo principal setor da burguesia;
3. O outro se desgastou no interior e na cidade – não apenas na cidade;
4. Apoiado por Lula e PT;
5. Só havia duas opções visíveis e viáveis eleitoralmente.

Ou seja, desconsiderei as ligações, as interrelações que influenciavam as candidaturas e o voto. Abstrai, tratei os candidatos como coisas à parte, isoladas, sem a totalidade. Neste erro parcial, acertei a política: como eram candidatos tradicionais e oligárquico, valeria a pena dar peso maior no candidato a senador do partido onde, diferente do candidato a governador, poderia ganhar mais votos, propagandear a “alternativa”, expor com facilidade o caráter atrasado dos majoritários por meio do desejo da população de modernizar-se e ganhar simpatia mesmo que sem que esta se transforme em voto.
Outro caso. O aumento da passagem de 2011 foi barrada e só aconteceu em 2012 (ou seja, defasado o preço para a burguesia). Houve anúncio do aumento em 2013, mas as Jornadas de Junho encerraram a conversa sem luta direta alguma (foi efeito colateral da luta generalizada e sequer precisou de luta direta!). Percebi que o aumento estava três anos atrasado e que burguesia/prefeitura queria evitar a luta social. Nessa situação, tentei calcular a manobra deles, que seria: aumentar nas férias para esvaziar a luta.
Errei: não teve aumento. O que aconteceu? Falta de um cálculo mais profundo e menos sindicalista:
1. A forma de aumentar o lucro foi reduzindo a quantidade de ônibus. Diminui os custos com funcionários, máquinas, combustível, manutenção e concentrar usuários nos ônibus, ou seja, reduzir a frota e liberá-la nos horários de pico, após acúmulo de gente à espera. Aqui entra a economia, outras formas de aumentar o lucro;
2. Houve um conflito, relativo, entre o prefeito e o empresariado do setor. O primeiro queria evitar desmoralização e o segundo queria aumentar o preço. A ruptura parcial gerou um ensaio de licitação fajuta… Tratei a burguesia e seu representante como necessariamente e sempre não conflitantes, não contraditórios (mecanicismo e lógica formal);
3. Esperar para entender a situação pode ser positivo à burguesia, pois não é onipotente e onipresente (a parte difícil: entender como anda a psicologia e o pensamento da classe inimiga);

Vale destacar que a política pode nos dar um exemplo da importância do cálculo e criatividade:

Propus a amigos de militância um trabalho preventivo e preparatório para o aumento (que não aconteceu): produzir de 200 a 300 cartazes como “2 e 10 já é um salto. Abaixo a Máfia do SETUT. ANEL". Isso criaria referência, aglutinaria vanguarda e alertaria a consciência dos trabalhadores. Era preciso criar palavras de ordem capazes de impactar a consciência.
Mas como passar o recado com poucos recursos e pouca gente? Solução:
1. Aproveitar o espaço;
2. Focar a colagem de cartazes nas principais praças do centro e suas paradas de ônibus;
3. Focar nas Paradas da UESPI e UFPI, e dentro delas, e nos IFPIs e escolas centrais (Liceu, etc.)
4. Deixar alguns reservas, caso retirem.

Com esta tática, unindo análise e política-criatividade, era possível passar a mensagem a toda cidade e rapidamente.

INDIVIDUAL E COLETIVO

O processo é um ato solitário, concentrado e dedicado. A segunda etapa será dividir as conclusões com o grupo para debatê-las, criticá-las no todo ou em parte, ou aceitá-las no todo ou em parte. Após um debate fraterno e coletivo, a elaboração ficará ainda mais refinada, correta. E pode-se perceber erros. Pode-se adotá-la com ou sem algumas mudanças. Pode o debate levantar novas questões que faz necessário, de novo, um trabalho individual. É importante que todos saibam fazer análise, caracterização e política para não criar um guru, uma dependência ou elite pensante. Pode ser útil iniciar o debate, um tema ou polêmica. São apresentados inúmeros apontamentos, caminhos, propostas, discordâncias, dúvidas nos diálogos e intervenções. Depois, individualmente, o(s) militante(s) deve(m) refletir sobre as informações e iniciar o processo de compreensão da realidade que debatemos aqui. O mais importante é que apenas com debate coletivo, decisão coletiva e ação coletiva as propostas podem ganhar vida e serem ferramentas úteis para a realidade e aos trabalhadores. É melhor perder um debate ou votação que ter razão sozinho.
Unir teoria forte e prática firme é a única saída. O Marx que disse "os filósofos se limitaram a interpretar a realidade, mas a questão é transformá-la" é o mesmo de "nunca a ignorância foi útil para qualquer coisa" e "uma ideia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas" ou "de nada valem as ideias sem homens que possam pô-las em prática". Lenin tem um recado ótimo: "não há prática revolucionária sem teoria revolucionária".

APLICAÇÃO PRÁTICA E ALIENAÇÃO
Imaginemos: presidente de um sindicato, combativo e simpático ao socialismo. Na greve, consegue um aumento salarial de 50%! acima da inflação (!). Vitória? Depende. Se garante, como sindicalista, a conquista na greve, mas sem assembleias soberanas, sem controle da base sobre a direção, sem ir além do debate salarial (ou seja, sem falar de política), sem ajudar na sua autoeducação e na reeducação da classe quanto à fé em si própria e na sua dominação sobre os dirigentes, se atrapalha ou impede aquela oposição de direita de falar ao microfone etc. Qual o nome disso? Do ponto de vista comunista: derrota. O balanço, portanto, é negativo.
Ter boa vontade é limitado. Ter boa política, também. Ter boa política prática (greve geral, unificação, ocupação, protesto de rua, mecanismos legais etc.), idem. Tudo isso é bom, mas incompleto. Isso é assim na medida de que há um fenômeno no capitalismo: a alienação. Podemos dizer que é a humanização das coisas por meio da coisificação dos homens. E mais: é o controle do homem sobre o homem, a coisificação das relações humanas. Se numa reunião do partido, elevamos a voz demasiadamente e manobramos para garantir a nossa proposta – por melhor e necessária ela seja –, então estamos derrotados; porque a política é tática em relação ao processo de amadurecimento do partido, estratégia. É uma derrota.
No início de minha militância, eu pensava que fazer festas, eventos acadêmicos, cinema, dias esportivos etc. eram algo desnecessário e que me subordinaria apenas porque facilitaria ganhar moral e influenciar a base. A ação era correta (ainda bem), mas errado o meu raciocínio. O capitalismo não oferece lazer, arte, formação intelectual e integração humana como se deveria! É preciso, portanto, nos humanizarmos – esta é a verdadeira luta marxista. Isto significa autoeducação, educação e reeducação: assembleia de base dos CAs, DCEs e sindicatos onde se vê e se aprende uma democracia superior à burguesa, clareza pública do que se passa nos organismos dos trabalhadores e estudantes, divulgar a arte do alunado na escola. É positivíssimo o jornal do sindicato ou grêmio a tratar de política de forma a explicar e propor, mas também trate de arte e eventos do interesse etc.
Existe a possibilidade de os líderes honestos e aguerridos, e ativos no trabalho de base, terem tanta moral que as pessoas confiam sem tanto filtro ou tenham discordância mantendo o respeito acumulado. Isso não é de todo ruim, contanto que nunca se perca os métodos e o projeto real – o fim da alienação.
Em uma conversa com um grupo de simpatizantes, alguém me perguntou: mas vocês lutam para a educação mudar o mundo? Queria muito aqueles ativistas no partido, e teria de ganhá-los do modo correto; respondi: “para nós, quanto melhor, melhor. A gente luta por reformas para melhorar qualidade de vida e para provar que é impossível mudar este mundo por reformas. Se a maioria tiver maior nível cultural, isso facilita tanto a tomada de consciência quanto as habilidades das pessoas para construírem o socialismo na prática. Mas é preciso antes fazer uma revolução para poder revolucionar o ensino.” “A verdade é revolucionária”, diz Trotsky. Dizer as coisas como são, mesmo sendo chatos ou rejeitados, é um critério para ser militante bolchevique, para lutar pela desalienação sua e dos demais. Se nós declaramos apoio a ideias e propostas erradas das massas ou das vanguardas para poder “nos aproximarmos delas” e “evitar o isolamento”, então, por o caminho proposto ser errado, vamos ser derrotados e toda a ilusão de influência social transforma-se em desmoralização, perda de audiência e dificuldades; se apresentamos uma proposta que consideremos correta – suponhamos estar –, então pode acontecer de ficarmos em minoria e isolados por um período e, por isso, termos de ser firmes e, ao mesmo tempo, não sectários, tentando agregar o máximo possível, explicar, dialogar, já que somente assim abrimos a possibilidade de crescermos de fato, aplicarmos as propostas, sermos visto como aqueles a “dizer aquilo mesmo quando ninguém apoiava” e aglutinar em torno de si as massas e o melhor da vanguarda – ou parte dela – numa luta por nós influenciada ou liderada. Daqui não podemos supor sermos “os guias das massas” ou “orientadores” e a “consciência da inconsciência”, pois essa arrogância esconde 1) nossa inexperiência e 2) o muito que ela tem para nos ensinar. Tentar ser liderança da classe e fazer com que nossos militantes sejam mais capazes em relação ao trabalhador médio, nada pode ter haver com o perfil professoral e populista. Estamos longe de romantizarmos a classe trabalhadora e suas limitações, mas ainda nos falta muito para sermos dignos dela.
“E se a proposta que elaborei for derrotada no debate de minha célula?” Calma. É preciso sabermos errar e acertar juntos, mesmo. Às vezes, estamos errados; às vezes, podemos dizer no balanço que tal derrota foi por falta de tal política (sem arrogância do “eu avisei”); às vezes, a realidade é tão forte que nossa política derrotada acaba sendo posta em prática, pela própria dinâmica das coisas (ex: “não temos como ocupar agora”, mas a política é “ocupar” – e não vai um número satisfatório ao protesto, impedindo o ato radicalizado); às vezes, as duas políticas estão erradas; às vezes, por terem elementos da verdade, duas políticas podem ser fundidas ou adaptadas; e às vezes, a política está correta com a realidade, mas foi mal aplicada.
Então, fazemos algumas observações:
1.      Uma proposta pode ser boa em si e agradável, mas aplicá-las não valer a pena.
Exemplo: Atividades culturais! Pega-se o calendário do semestre letivo e preenche-se de um projeto aqui, outro noutra semana etc. No final das contas muito trabalho e muita frustração, porque tempo e recursos são poucos – melhor fazer poucas atividades de grande impacto e importância que  “ir longe demais” ou “andar mais do que as pernas”.
Toda ideia é realizável na mente e até seus resultados práticos hipotéticos são “medíveis”. Mas isso é engano: temos de ver como a vida é para direcionar a imaginação e criatividade para boas propostas e soluções – a materialidade guia-nos.

2.      Tudo o que é central deve ser votado, tarefas divididas, todos devem debater e praticar (teoria e prática).  As células são “grupos de debate e trabalho” e, portanto, devem ser o oposto da fábrica e sala de aula – o que inclui não existir no dirigente político a encarnação do “pequeno poder”, como no professor ou gerente.

3.      Pessoas honestas cometem erros oportunistas. Cometemos erros oportunistas sem percebermos. Reconhecer nossos erros e aprender com eles é importante e dignificador.

4.      Estratégia e tática: se a realidade muda, a política muda – mesmo.

É preciso, antes de tudo, medir. Qual a relação social de forças? Estamos na ofensiva ou na defensiva? A classe média pende para o lado dos trabalhadores ou da burguesia? Isto é importantíssimo, central.

5.      Sempre que for elaborar política, considerar a condição real da célula e do partido. Quando em vez, analisamos como se fossem máquinas, ao ponto de ação, 100% disciplina e capacidade, “basta votar” etc. Numa guerra, avaliamos o perfil total dos soldados e suboficiais.

Exemplo: Cannon percebeu que o PC dos EUA, então clandestino, estava numa conjuntura onde poderia agir publicamente. Mas sofreu dura resistência a essa proposta… Os militantes acabaram fazendo fetiche de sua própria dor, amavam a ilegalidade de forma absoluta. O dirigente viu-se obrigado a mediar – naquela circunstância, pouco valia ter toda a razão do mundo e perder o partido numa crise interna – e propôs uma “colateral”, um “partido operário” legal, ligado ao partido ilegal, que ressonava a política comunista e, ao mesmo tempo, mostrava que agir de modo aberto era possível e necessário. Segundo exemplo, no limite: Lenin ensaiou romper com o próprio partido em 1917, em Abril, caso este capitulasse de vez ao governo provisório da Duma (parlamento) – e discordava em público de seu próprio partido, pois a situação limite justificava esse tipo de ação, não parecia algo “de gente sem noção” ou até parecia, mas com o tempo ele foi provando que estava correto e agregou.

6.      Aprender a se maioria e minoria: defender com firmeza a sua proposta mesmo quando amplamente rejeitada – se a considera correta, a saída correta para a contradição posta, então é errado “fundir propostas”, “ambos têm razão”, “vamos fazer um acordo” etc. No máximo adaptamos a forma de apresentar nossa política. Na reunião de partido: “vamos aplicar a proposta vencedora, democracia operária e partidária, mas continuo mantendo esta visão; agora é verificar na realidade.” Sendo maioria, nunca “tratorar”, analisar se o outro oferece elementos positivos, tentar agregar evitando degenerar a unidade em acordismos ou afastamento da proposta política.

7.      Às vezes, a proposta aprovada estava errada ou, diferente, foi aplicada de modo ruim. E no balanço: “mas valeu a pena”, “mas o bom é que…”. É o medo de dizer que o resultado foi negativo, de chamar as coisas pelo nome, de reconhecer que militar é um processo de evoluir e aprender, além do interesse em manter aquele sentimento de “somos revolucionários” e “a melhor organização” como método falso de disciplina interna. Isto é comum no centrismo.

8.      Se uma política se demonstra errada, deve-se tentar corrigi-la a tempo, elaborar outra mais exata – melhor a evitar o dano real, objetivo, na psicologia do “se nos negarmos a ver o erro, este deixa de existir”. O autoengano deve ser desarcado.


9.      Balanço está longe de ser “dedo na cara”, desmoralizar o outro ou apontar apenas os erros. Avalia-se primeiro a política e, como fato agregado, as pessoas; apenas em casos mais graves temos de puxar advertências e debates mais duros sobre indivíduos (ex: roubou dinheiro do sindicato? Propor expulsão do militante.).

10.  Na análise: qual a correlação de forças na sociedade? Qual setor está na ofensiva e qual na defensiva? Por quê? O principal modo de medir é pela quantidade e intensidade das lutas, greves e protestos, se numerosos ou em dispersão.


Esta é a intenção: vamos além da ideia de socialismo abstrato e criamos embriões e pontes para o amanhã – hoje e já; defende-se mais que a humanidade abstrata, o homem abstrato, e procuramos aplicar nossas ideias e valores à humanidade concreta e aos homens concretos.


COMUNICAÇÃO, A “CHAVE” DA REVOLUÇÃO

Sempre destacamos vários elementos importantes para que o partido sirva para alguma coisa na futura revolução: ciência militar, dirigir sindicatos, ter simpatia, saber elaborar política de maneira científica. Tudo isso é verdadeiro. E é verdadeiro pelo objetivo central e mais importante: temos de ganhar a consciência das massas para o nosso projeto. Em real, podemos dizer que construímos um partido de combate com esse objetivo: travar uma guerra para ganhar simpatia, ser ouvidos e, com o tempo, ser a liderança honesta das massas. Essa é a hierarquia das hierarquias, pois o partido atua na chamada “superestrutura subjetiva”, ou seja, elevar a consciência, que os trabalhadores nos apoiem, de modo ativo, ou tenha simpatia pela gente e nossas propostas.
É a razão desse texto e é por isso que sempre teremos de nos aperfeiçoar e atualizar. Sabemos que a mesma coisa pode ser dita de inúmeras formas e que, por mais que seja o mesmo conteúdo, a forma como se diz faz toda a diferença! De um jeito ganha simpatia; de outro, desconfiança. De uma forma facilita a audiência; de outra, parece coisa de organização maluca ou desleixada. É claro que isso sempre é mediado – e determinado – pela maturidade política da organização e da conjuntura, pois não há talento individual que passe por cima disso. E o mais importante é sempre melhorar, fazer balanço, ter paciência de se aperfeiçoar e aprender.

COMUNICAÇÃO E CENTRISMO: SUPERVALORIZAÇÃO DA ORATÓRIA, DA LIDERANÇA E DA FIGURA PÚBLICA

Acho que vale a pena citar um trecho de um artigo sobre esse tipo de organização:

“Nos partidos centristas a liderança tem um valor especial pela oratória. Qual a essência disso? Para ter cargos parlamentares e sindicais é importantíssimo ter ótimos oradores, líderes infalíveis. Priorizar como “liderança” os melhores organizadores, aqueles que sabem organizar politicamente as finanças, os melhores teóricos, os melhores em “vender jornal e fazer propaganda”, os melhores em captação de militantes, os mais talentosos na ciência militar é coisa de… bolchevique. Como o objetivo é o tático, não o estratégico, o orador é valorizado e em geral possui muito talento. Vive-se uma relação de admiração forte pelo candidato, figura pública, transforma-o numa espécie de herói, um socialista pop.”
“Daí vem hábitos de propor, por exemplo, “fóruns de debate permanente do movimento”, a prioridade dada às CPI etc. Para um comunista interessa um fórum quando este organismo faz avançar a luta. É este o critério. Por outro, o centrismo (especialmente as lideranças) puxa polêmicas encarniçadas apenas se lhe couber uma audiência positiva ou precisa defender métodos que mantêm seus privilégios; do contrário, evitam. É claro que uma organização revolucionária precisa de bons oradores, são importantes, mas não são o que envolve o partido. Já entre centristas podemos ouvir conversas do tipo: “Aquele camarada é um bom organizador de finanças, mas aquele outro é um quadro, uma liderança nata, você tem que ver ele na assembleia discursando”, ou: “o camarada fala bem, viu, domina a política, sabe convencer, esse aí vai pra direção da organização, com certeza”.(Características do Centrismo.)

A base social de classe média influencia, nesse sentido, partidos centristas e até a nossa própria organização. Podemos dizer mais: o centrismo se preocupa mais em falar aquilo que lhe faz ter simpatia. Nós, ao contrário, não paramos de dizer uma verdade que tem de ser dita, mesmo que não dê simpatia. Ou seja: o centrismo não disputa a consciência das massas, apenas se dobra a essa consciência atrasada.
Quantas vezes vimos membros de partidos de esquerda defendendo o apartidarismo apenas para ganhar simpatia ou alguma votação em assembleia? Eles escondem seus objetivos. Já para nós a comunicação é – ou deve ser – para ganhar simpatia e disputar o pensamento dos trabalhadores. Para o centrismo e o reformismo a comunicação é uma forma de enganar para ganhar cargos no parlamento ou no sindicato.
Não podemos julgar um militante, se é bom ou não, se é quadro ou não, pela – ou somente pela – oratória ou, pior, pelo prestígio. Precisamos unir prática e teoria, fazer e falar, trabalho manual e intelectual. Temos militantes que focam na importância pública e só desejam pegar tarefas que dão “moral”, onde se fala muito e dá ordens; querem aquele cargo, e, por isso, acham que é “tarefa de segunda mão” colar cartazes de madrugada na greve, pegar no pesado ou deixar a sede linda para simpatizantes.

CLASSE OPERÁRIA E BURGUESIA
A classe dominante tem os meios de comunicação centrais em suas mãos e alta escolaridade. Possuem essas vantagens, além de outras: muito dinheiro e o Estado Burguês, ou seja, a capacidade alta de formar, atrair ou “comprar” (corromper) comunicadores de outras classes. Um bom é exemplo é Lula, um dos maiores oradores de origem operária e serviçal dos ricos.
Uma das vantagens de nossa classe é o número. Somos milhões. Assim como tem mais operários que burgueses com dor de cabeça ou gripe, também há mais operários com talentos natos que podem ser usados e aperfeiçoados. A luta de classes revela vários do tipo, quando explode.
O domínio do Estado, dos meios de comunicação e da escola nos ensina a obedecer, a “não-sei-falar”, somos educados a ter medo de dizer algo em público. Na escola, o professor fala e fala; no trabalho tem muito assunto que não pode ser tocado e pode atrapalhar o ritmo da produção; a educação familiar reproduz a lógica do capitalismo para nossa classe. Portanto, é uma tarefa socialista a reeducação e autoeducação de nossa classe e seus militantes.

COMUNICAÇÃO E CONCEITOS

No partido adotamos dois conceitos de comunicação: agitação e propaganda.
Agitação: “poucas ideias para muitos”.
Propaganda: “Muitas ideias para poucos”.

Uma panfletagem, um vídeo eleitoral, uma pichação etc. é agitação – quando nos dirigimos às massas ou categoria.
Propaganda é destina à vanguarda, aos mais conscientes, aos ativistas; exemplo: um jornal do partido, palestra, livro, cartilha etc.
Em agitação fazemos debate ideológico, mas costumamos focar em propostas, em denúncias, no imediato – a função é mover e/ou ganhar simpatia dos trabalhadores comuns.
Em propaganda vamos além: debatemos também o mediato, a estratégia, somos mais profundos – o objetivo é ganhar simpatia, audiência, entre os lutadores e captá-los. É tentar convencer a vanguarda que o melhor caminho para a sociedade é o que estamos propondo.
Coisas simples como usar a camisa ou boné do partido, começar a fala já se identificando como da organização etc. podem ser ótimas formas de agitação e propaganda.

PANFLETO:
- É importante ter capacidade de dizer muito com poucas palavras;
- É uma linguagem mais ágil, simples e direta, descomplicada. Podemos dizer coisas profundas de forma totalmente comestível e aceitável;
- Escreva pela positiva. Coisas simples, como evitar o excesso da palavra “não” ou reorganizar a frase, estimula muito a leitura;
- Evitar ser professoral com a base, “ensinador” ou dar lições de moral;
- Imagens devem ter o poder de sintetizar o conteúdo;
- O tamanho das palavras deve exigir pouco esforço dos olhos;
- Sempre bom ter alguém com domínio da gramática por perto;
- A diagramação deve ser leve, limpa, sem muitas cores.
Focar em três cores: às vezes, um panfleto “monocolor”, preto e branco, é muito mais agradável de ler. Quando tem excesso de imagens e cores, o panfleto fica pesado e cansativo; além disso, deixar o fundo branco e letras negras é ainda um bom formato.

- Sempre colocar propostas. E deixá-las destacadas e localizadas no panfleto.
Um erro muito comum em nossos panfletos: focar em debate histórico ou ideológico, quando o foco real deve ser o problema imediato e nossas propostas. Chamamos de erro ou desvio propagandista, típico de militantes intelectuais. Podemos até colocar um pouco de “discurso”, mas sempre como apoio do objetivo central, que é apresentar denúncias e propostas. Dessa forma ganhamos a classe tanto para o debate “histórico-ideológico” quanto para a simpatia pelas propostas.

- Sempre se diferenciar dos governos, direções pelegas e correntes.
Se o governo que criticamos por “não tomar nenhuma medida” tiver simpatia das massas, devemos criticá-lo de forma que agregue, que nos faça ser ouvidos e o trabalhador diga: “apoio o governo, mas o pessoal desse panfleto tem razão”.

- Usar o “nós” no lugar de “os trabalhadores”.
É importante que o leitor veja que o panfleto é feito por um igual, por alguém que sente as mesmas necessidades e dores que ele tem e que o panfleto descreve. A voz do material tem de ser de alguém que não “se solidariza de fora” mas que sente na prática o que tem que dizer, pois sofre na pele e se revolta com isso e, por isso, faz o panfleto de sua corrente. A linguagem tem que passar o sentimento do assunto, evitando exageros. Se vamos falar de corrupção, o panfleto terá de ser enérgico como enérgico somos numa conversa de bar sobre a família Sarney e o Collor ou sobre o Senado.

- É preciso ter paixão de tentar fazer o material ser bem acolhido pelo trabalhador e causar revolta.

- Dizer o que não se diz, pois sofrer o mundo e não o entender gera angústia. Se a pauta de economia do Jornal Nacional é puro “economicês” intraduzível, então nosso papel é esclarecer, clarear as mentes; assim, tem que valer a pena o nosso material para que o operário o queria na próxima visita. Outro exemplo: se há uma epidemia, devermos explicar suas causas e efeitos, como combatê-la, dar propostas políticas e denunciar a prefeitura. Além do mais, temos de ser mais que uma colateral da impressa burguesa: as nada falam da revolução curda, nós falamos; se nada falam de uma tragédia ambiental, nós tratamos passa a passo disso etc. Boicotemos os boicotadores da verdade.

CARTAZ:
- Que tenha um tamanho chamativo;
- Que as palavras em destaque passem, já na primeira olhada, noção do conteúdo, despertando curiosidade;
- Que nem todas as palavras fiquem em destaque (caixa alta), só as centrais;
- Que seja direto e a imagem (foto, desenho) ajude a sintetizar o conteúdo;
- Poucas cores, mas com vivas e destacadas (vermelho, por exemplo);
- Palavras e imagens devem estar bem localizadas, sem misturá-las, pois, quando isso deixa de ser respeitado, costuma causar confusão perceptiva.
- Colar os cartazes em “pontos-chave”, onde há muita audiência, circulação humana e fácil visualização. É central não colocá-los nem abaixo nem acima da visão média das pessoas, na altura dos olhos é a melhor tática.

DETALHES:
- Algumas cores atraem mais que outras – vale a pena pesquisar um pouco.
- Desenhos e logos com formatos “circulares”, mais arredondados, tendem a ser mais atraentes.

FLYER E INTERNET:
- Na internet, a imagem de impacto é a que ganha simpatia. Todos “lemos” primeiro a imagem e depois o texto. Por isso, é importante ter foco nesse tipo de agitação.
- É importante se perguntar: “esse texto ou imagem é agitação ou propaganda? É para as pessoas em geral ou para os ativistas?” Exemplo: talvez nem precisemos divulgar em nosso perfil pessoal um texto teórico sobre feminismo, já que nos basta publicar nos “grupos feministas” on line, público alvo.
- É importante evitar falar apenas de política na internet. Falemos de animais, humor e poesia também, como qualquer ser humano. Assim escapamos de passarmos por chatos e estranhos.
- O fato de se estar longe do olho a olho pode levar à elevação do tom na linguagem, ser sectário. Importante evitar isso.

VÍDEOS:
- O pecado dos pecados na linguagem é a qualidade, que deve ser minimamente satisfatória. O áudio e organização das imagens devem passar organização e facilitar o entendimento. É muito comum querer “renovar”, fazer diferente, sem ter experiência ou recursos. Quase sempre fica “forçado”. Algo simples, como gravar numa sala isolada com a figura pública falando, pode agregar muito.
- Se possível, fazer mais de uma gravação, às vezes permitindo certo improviso nas falas. Depois escolhe qual fica melhor para publicação.
- É importante passar certa espontaneidade, mas sem enfeites ou forçar. Criar um clima humano no ambiente de gravação ajuda.

COMUNICAÇÃO E UNIDADE DE AÇÃO – UNIDADE-DIFERENCIAÇÃO
Muitas vezes vamos protestar junto com outras correntes. E quase sempre aparece a tentação: fazer um panfleto e/ou cartaz unificado. Mas vejamos: nossa diferença com outras correntes é política. Então, como fazer um panfleto unificado “em defesa da mulher” com PT/PCdoB se para nós o partido deles é culpado pelo crescente machismo? Podemos até fazer o panfleto unificado, mas teremos de ter também o nosso por onde apresentamos nossas propostas, criticamos a irresponsabilidade do governo, apresentamos nossa organização como alternativa, chamamos as pessoas a aderirem ao nosso projeto organizativo etc.
Unidade de ação é unidade na ação. Ter nossos próprios panfletos, nossas próprias palavras de ordem e batuques, falas próprias etc. é parte da agitação e de nossa construção (captar e ganhar simpatia).
Nos protestos feministas tivemos muita audiência popular, pois espalhamos nas partes do centro, onde o protesto passava, o panfleto da nossa organização. As pessoas liam e gostavam: éramos a única corrente com material próprio.
Em várias cidades, nas jornadas de junho, dirigimos protestos espontâneos porque tínhamos uns “batedores de lata” bem ritmados e palavras de ordem muito agradáveis.

BANDEIRA E PROTESTOS
É importantíssimo ter nossas bandeiras altas, especialmente se estivermos em bloco concentrado e fechado no protesto (para criar referência e para os militantes se localizarem). Mas não é princípio. Se temos panfletos, propostas, camisas, falas pela nossa organização e palavras de ordem, se atuamos organizados, por que não recuar a bandeira em caso de rejeição do movimento? Evitamos conflito físico e mantemos o trabalho.

[Em diante, o texto continua no final do livro cujo link está no início da postagem.]