sexta-feira, 1 de maio de 2015

QUAL O CAMINHO PARA UMA GREVE GERAL?

“A greve geral é um meio de luta muito importante, mas não é um meio universal. Há casos em que a greve geral pode enfraquecer os operários mais do que o seu inimigo direto. A greve deve ser um elemento importante no cálculo estratégico e não um impulso no qual a estratégia é diluída.” ( “E Agora?”, 1932, Trotsky, Revolução e Contra-Revolução na Alemanha)



Em fevereiro/março foi colocado neste blog uma crítica à visão mecânica e idealizada da greve geral (Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? http://umblogamaisnessemundo.blogspot.com.br/2015/03/por-que-ainda-nao-e-hora-para-uma-greve.html). Naquele momento a política revelou-se bastante correta, como demostraremos. Porém, a realidade deu um novo salto qualitativo, muito forte. Sobre isso mostraremos conclusões e propostas.

Agora, na conjuntura imediata, temos uma pauta que pode unificar, através da luta, a maior parte dos trabalhadores assalariados: a rejeição ao projeto de lei da terceirização, o PL 4330/04. As condições para a Greve Geral estão superiores, mais firmes. O erro, na esquerda, pode ser achar que caminhamos já - mecanicamente - para uma luta generalizada nas proporções que vem defendendo. Isso é um grave erro.

E por que um erro? Os trabalhadores não concluem sempre inevitavelmente o que fazer, eles não apreendem de forma tão mecânica as conclusões sobre como lutar ou em quem confiar e/ou para onde ir. Sequer possuem - ainda - consciência clara do retrocesso civilizacional que é esse precarizador projeto. Alguém deve dizer(!). A tarefa de conscientização caberá, inevitavelmente e necessariamente, à esquerda e, neste meio, principalmente aos revolucionários.

É custoso imaginar que é preferível a rotina, manter um instinto de clube, o carinho pela zona de conforto, a propaganda interna da aparência de luta, o desprezo pelo espírito de ousadia. Os desafios políticos são apaixonantes, pode-se sacudir a vida militante muito positivamente. Todo stress compensará diante das possibilidades da revolução brasileira.

É preciso um trabalho firme de agitação sobre as massas, especialmente sobre os operários mais precários. Panfletar de madrugada, pichações, invadir os grupos das redes sociais, não temer o debate, divulgar as propostas, denunciar, ir para as portas das fábricas e construções, usar a linguagem popular para desenvolver o mais puro instinto de revolta entre os trabalhadores. Precisamos de seus corações e mentes borbulhando diante dos grandes ataques.

Tal tarefa só é possível disputando suas consciências, suas conclusões, seus pensamentos, sua simpatia. É impossível abraçar o mundo para cumprir este objetivo, mas deve-se focar nos principais batalhões operários e todo o país. A esquerda não pode perder esta batalha por um amor pela passividade, pelo pouco-esforço e o descanso dos nervos.

A CUT evitará, por inúmeros meios, uma Greve Geral. Tem compromisso com a estabilidade do país e do governo. O único caminho é preparar a estrada. Temos de fazer as bases pressionarem as burocracias de esquerda a se moverem. Por enquanto, é a única forma que a história da luta de classes nos ensina. E aqui de novo repetimos: é preciso, antes de qualquer Greve Geral,  ganhar os trabalhadores para a necessidade imperiosa de agir.

Uma frente única da esquerda anti-PT pode ajudar. Também, junto e paralelo a isso, chamar (a palavra certa é pressionar - pela base) o governismo à ampla unidade de ação.

No artigo a que nos referimos no começo defendemos que entre a realidade e uma grande greve nacional existe e existirá um período transitório, de maturação, de acúmulo de forças e contradições.

A realidade é uma grande professora. Ela se impôs. Na impossibilidade de criar uma luta generalizada, a CSP-CONLUTAS conseguiu puxar no 15 de Abril um dia de lutas e paralisações em unidade com a burocracia. E foi fortíssima. Por isso, podemos insistir novamente: poderia ser ainda mais impactante caso fosse impulsionado por um disciplinado e concentrado trabalho de agitação e divulgação.

Ao mesmo tempo, como propomos, ocorreram "greves gerais setorizadas", unificação de lutas, dias regionais (Paraná). Trata-se de um mecanismo pré-Greve geral que pode ser mais aproveitado.

Com o ataque ao seguro-desemprego podemos agregar a preparação da primeira grande batalha, da possível mais importante medição de forças sociais até o momento. Precisamos, para isso, evitar o fetiche, o mecanicismo, a rotina autocentrada, as palavras de ordem propagandistas. Agitação, agitação e (mais) agitação das propostas e, também, ousadia, ousadia e muito mais ousadia em fazê-la. Só com o rumo apresentado a esquerda pode ser vista, no imediato, pelas massas, como uma possível Terceira Via.

Uma Greve Geral digna do nome precisa de um trabalho preliminar sobre as angústias dos trabalhadores. Podemos, até devemos, esclarecê-los, propor saídas, impulsioná-los, energizá-los. A realidade já fez e faz, o tempo todo, a parte dela. A esquerda fará o trabalho que lhe cabe e que é a sua razão de existir?

Esperamos que sim.

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João Paulo da Síria

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