quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A (atual) reorganização dos blocos de rua e o lucro



Ano passado, fevereiro, em 2 carros, eu e uns amigos rodamos pela cidade numa busca bêbada por locais onde pular o carnaval. Valeria a pena. Há cada vez mais espaços. No entanto, em um deles, vimos uma tristeza anti-carnavalesca: não era mais um evento de entrada gratuita (15 reais por pessoa!).

É desnecessário que eu diga “o carnaval foi mercantilizado e elitizado”? A Ala dos Cotonetes (patrocinado pela Johnson &  Johnson) no desfile da Tom Maior de São Paulo (2010) é um caso tão bizarro quanto simbólico. Ou mais bizarro que simbólico.

Imagine um monte de fantasias de cotonetes – isso mesmo – em um carro alegórico (quase)pulando... (quase)pulando... O pior mesmo: os abadás caros pra c*cete, a exclusão dos “pipocas”, as entradas previamente pagas, é caríssimo ver sua escola de samba (um preço, literalmente, para inglês ver!).

Mas carnaval sem festa  e bacanais seria um pecado de morte. Então o povo sempre dá seu jeito. O dinheiro tem que sobrar pra bebida, comida e outras coisitas más, não é?

É assim – exatamente assim! – que o carnaval volta para as ruas!

Há um verdadeiro processo de reorganização do carnaval. Dinheiro não cai do céu, macho... Os blocos de rua voltam com tudo nos bairros, no centro, entre os vizinhos. É uma novidade já plenamente iniciada e em crescimento.

Pague sua cerveja, sua caipirinha e seu arrumadinho. Chega mais. O resto é entrar de graça, 0800.

Na legítima festa da carne podemos nos fantasiar como queremos, podemos circular na avenida; somos atores e atrizes ativos, não ficamos na arquibancada vendo a festa passar (somos a própria festa!). Podemos integrar, agregar, esquecer. É a hora da coletividade desorganizada! A anarquia festiva! Marx tinha razão:

Contra os absurdos do capitalismo, viva e viva o carnaval de rua!

FONTES (para os mais formais):
1.       Vá para a rua e VEJA (não me refiro àquela revista);

3.       http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2015/01/1581683-carnaval-de-rua-cresce-no-pais-veja-selecao-de-33-blocos-em-cinco-estados.shtml

Fonte da foto:
http://www.meliuz.com.br/blog/5-dicas-carnaval-de-rua-2014/

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O “Mais Médicos” e o que faltou na esquerda




 Esse tema, ainda polêmico, dividiu – e ainda divide – a esquerda. Basicamente, entre os defensores (a maioria do PSOL, o governismo e o PCB) e críticos (PSTU centralmente). Vamos aqui, o mais brevemente possível, levantar uma terceira avaliação/posição.

Como definir (e isso é central) se uma política “em si” é progressiva? 
A resposta mais simples e, por isso, parcialmente errada, é se leva melhorias aos trabalhadores.

Daí arranjamos 2 problemas:
O governo é progressivo em sua totalidade? Sim ou não?
Os assalariados são de vários tipos, categorias e setores. A classe trabalhadora é heterogênea. Qual classe social e qual setor de classe se beneficia?

Método
Esse artigo se localiza na oposição de esquerda ao governo do PT/DILMA. Caracteriza-o como uma governo de frente popular, oportunista e à serviço dos ricos contra os trabalhadores. Devemos, portanto, jugar o governo pela sua totalidade.

Mas, mesmo o mais fascista dos governos pode promover reformas. E, logicamente, chamamos algo pelo nome. A “cartilha” marxiana reza: sempre que um governo inimigo promover uma reforma, dizemos que é boa, mas não o bastante e dizemos/exigimos mais.

E aqui voltamos à questão central: o “Mais Médico” é reforma ou, ao contrário, uma contrarreforma?

Para os médicos nacionais é, de fato, contrarreforma, tira-lhes vagas e tende a reduzir o salário. Aos trabalhadores precarizados das pequenas cidades, por motivos óbvios, é uma reforma. Aos médicos cubanos, idem (salário, emprego e alguma limitada liberdade política).

O que vemos é a contradição, uma disputa interna entre os assalariados. Esses conflitos internos ocorrem em todas as classes sociais e entre as classes oprimidas. Naturalmente, como comunistas, ficamos do lado dos menos privilegiado nessa relação. Os médicos brasileiros são, visivelmente, uma aristocracia entre os assalariados de classe média.

Dessa relação percebemos os erros nas esquerdas:

A estalinista/governista faz uma defesa acrítica seja por subordinação ao governo seja por intolerância a qualquer denuncia contra a ditadura cubana. É, pois, uma posição oportunista e parcialmente correta.

Algumas correntes trotyskitas e o PSTU erram ao supor uma ligação mecânica entre “governo das contrarreformas” e essa atitude específica na saúde.

Ambos os casos representam uma posição não operária e uma  certa influência (não necessariamente negativa) dos servidores públicos entre os quadros.


“Exigir além disso” e as Jornadas de Junho
Esse método (exigir sempre mais reformas) supõe que digamos: 
1.  “Não basta o Mais Médicos é preciso mais verbas para o SUS Já”; 
2. “Direitos aos médicos cubanos e salário igual à média de um brasileiro na mesma profissão”. 
De uma reforma, sem defender o governo, exigimos outra(s) reforma(s).

Esse programa federal ajudou a consolidar a reeleição de Dilma. Os votos nas pequenas cidades e no interior foram vitais ao petismo. Mas a razão de fundo é a mobilização popular, foi uma reforma, uma reação do governo do PT à pressão juvenil de Junho de 2013.

Aquela luta nacional obteve várias vitórias colaterais (a mais curiosa, provavelmente, é o enfraquecimento da família Sarney).

Essas contradições promovem erros por necessitarem respostas aceleradas para agir na realidade. Ao que parece, essas reformas (entre contrarreformas) podem retornar, especialmente, enquanto durar essa transição entre uma situação não-revolucionária e pré-revolucionária no Brasil. Transição esta que parece estar chegando ao fim, tirando a margem de manobra governista.


PS: esse artigo breve também sintetiza observações de outros companheiros, todos do PSTU, com quem conversei sobre o tema quando do lançamento. Como se sabe o partido adota o centralismo publicamente. Longe de ser crítica, é um reconhecimento informal da contribuição coletiva.


João Paulo da Síria.