domingo, 13 de setembro de 2015

BRASIL E PT: PAÍS DA "VIA PRUSSIANA"

Getúlio Vargas

"Façamos a revolução antes que o povo a faça"
- Antônio Carlos de Andrada 
(defensor do Estado Novo, ex-governador de Minas Gerais)


O PAÍS E O QUE DIZ A HISTÓRIA 

Há quem considere o Brasil uma experiência anormal - Sui Generis - na história do capitalismo, um verdadeiro ornitorrinco onde o "desenvolvimento desigual e combinado" é a grande lei. Ou seja, um incrível acúmulo e fusão de contradições entre o moderno e o arcaico prospera por aqui.

A pobreza, a vida favelada e o atraso convivem com a tecnologia de ponta, a indústria, uma importante economia mundial e a "vocação romana" para absorver cultura internacional. A partir disso, podemos perguntar: como o país nunca teve uma revolução - nacional ou socialista - vitoriosa? Como sequer uma greve geral nacional participa de nosso histórico?

A burguesia sabe da poderosa bomba chamada revolução brasileira. Por isso, alia violência de Estado com mudanças pelo alto - para, na prática, nada mudar. Chamamos Revolução Passiva ou Via Prussiana. O incrível acúmulo de contradições fez e faz do Brasil um dos países do mundo potencialmente mais explosivos. Ao somarmos, a isso, sua localização não-marginal no Sistema Internacional do Trabalho, percebemos a permanente delicadeza da estabilidade verde-amarela e - ao mesmo tempo - a enorme inteligência dos "de cima". Precisamos, logo vemos, (re)olhar a história:

1. Autonomia nacional em relação à Portugal;
Foi possível graças, primeiro, à fuga da Coroa Portuguesa para cá. Depois, com a declaração de independência.

Por toda a América Latina existiram revoluções de libertação nacional, guerras. No território tupiniquim, no entanto, - mesmo considerando a heroica batalha do Jenipapo - deu-se a mudança pelas alturas, por ação da classe dominante, sem riscos, via mecanismos formais.

2. Fim da escravidão;
A onda de fugas e boicotes nas lavouras - preparadas por organizações clandestinas - foram a causa central, embora não reconhecida oficialmente. Porém, a Princesa Isabel e a o governo souberam manobrar a situação para que a mudança fosse controlada e não-revolucionária.

Os EUA e Haiti, para citar dois países, necessitaram do método da guerra civil.

3. Fim da ditadura semifascista de Vargas;
O próprio governo adotou medidas liberalizantes. A ditadura caiu por medidas de decreto dispensando qualquer revolução popular - o mal-estar ainda ensaiava. Deu-se, então, margem para que Getúlio fosse eleito presidente por mecanismos da democracia representativa.

4. Fim da ditadura militar;
As Diretas Já foram derrotadas. Os militares negaram-se a ceder, a aceitar vias populares de mudança. Porém, com a insatisfação social acumulada, permitiram a mudança do regime de Estado por via segura, pacífica, controlada, oficial.

Enquanto boa parte da América Latina e do mundo derrotaram os regimes policiais através de revoluções, o Brasil - ao contrário - mediou.

MEDIAÇÃO E SOCIALISMO

Quando a classe trabalhadora do país for, de forma autônoma, às ruas será praticamente impossível detê-la. A escassez de mudanças reais, de base, por baixo gerou um país com enormes e pendentes demandas históricas. O fim da escravidão, por exemplo, fora pensada para evitar a integração real dos negros à sociedade - o racismo com elementos de classe permanece fortíssimo.

Portanto, socialismo é a única ação e mudança reais sem qualquer tipo de mediação ou espaço para manobras por parte da burguesia nacional e mundial. A máxima burguesa "façamos a revolução antes que o povo a faça" encontra um limite histórico intransponível.

O PT: hipótese sobre o começo do fim
À burguesia, entrando em nossa conjuntura, derrubar o PT exige não-participação das massas (vale lembrar que foram contra o Fora Collor até o último segundo). Uma mobilização popular - além-classe média - contra o governo petista é uma hipótese provável (e, para os ricos, incômoda): 9% de apoio, fragilização de seus aparatos sindicais, dificuldade para manter a base parlamentar sob controle, medidas de austeridade estão causando enorme desconforto aos "de baixo". Dessa forma, os ricos tendem a derrubar Dilma para evitar que o mesmo ocorra nas/pelas ruas.

Possível, concluímos, que o governo caia, por protagonismo burguês, como ação preventiva, via "golpe parlamentar" (à la Paraguai) ou judiciária ou "por consenso de renúncia" logo após as eleições municipais. A datação tem cinco motivos:

1. Poderá convocar, como previsto na lei, novas eleições;
Canalizará, após dois anos de mandado, dessa forma, o desconforto social para caminhos legais/passivos e, também, permitirá ao PSDB apresentar-se como alternativa.

2. Evitará uma queda antecipada, permitindo estabilidade às eleições locais;
Além disso, outras organizações políticas poderão ganhar cargos a partir da fragilidade do petismo.

3. O PT terá acumulado maior desgaste;
Assim, tornará o "impedimento" óbvio e natural, apoiando-se na raiva popular.

4. Permitirá a justificativa subjetiva "o governo teve tempo de gerir o seu novo mandato para o bem do país".

5. Evitará - importantíssimo - ação popular nas ruas.
Colocaria a classe trabalhadora na ofensiva se o governo de Frente Popular caísse por obra dos setores não-privilegiados da sociedade. 

Será, caso se confirme a hipótese do Impedimento pela via passiva, a causa central da ação da classe dominante.

Uma queda antecipada, porém, não é impossível. Caso a instabilidade continue crescendo de modo acelerado, o vice - Michel Temer (PMDB) - poderá assumir para convocar novas eleições no prazo legal, após dois anos mínimos de mandato. O ritmo, e a confirmação destas hipóteses, será determinada pela luta de classes ou - com o conceito Via Prussiana - a necessidade de evitá-la. 
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Como a oposição de esquerda irá agir ajudará a determinar a capacidade de manobra burguesa e o futuro.


J. P. da Síria

quinta-feira, 16 de julho de 2015

PETROBRAS: Gestão Operária Como Proposta Anticorrupção




O escândalo da Petrobras arrasta-se a meses. O mega-esquema - um entre outros - influenciou o salto no desgaste do governo Dilma, do PT e do próprio regime. Afeta, em geral, todos os grandes partidos da ordem, mas o petismo é o centro do ataque da direita e da imprensa dos ricos. 

Agora o escândalo chega na segunda fase, a "Operação Politeia", onde a Polícia Federal procura antecipar provas contra políticos tradicionais, entre eles: Collor, Ciro Nogueira e Cunha. O poço é mais fundo, como era previsível.

Cada uma das alas da burguesia contam verdades pela metade e, por isso, também mentem. É fato que usarão o escândalo para fins privatistas - desgastando a imagem da empresa -, contra a soberania energética nacional; mas o PT usa o argumento para evitar denúncia reais. É fato igualmente, como diz as diferentes expressões da direita, que é um absurdo; esconde, no entanto, sua pouca santidade sobre o assunto. Garantiram, inclusive, em uma votação apressada, a legalidade do financiamento privado de campanhas eleitorais. É uma derrota da classe trabalhadora que as revelações não encerrem esta forma especialmente imoral de corrupção, a base do "lava-jato".

Por isso, qual saída a esquerda poderá apresentar? Politiza as greves na estatal, esclarecer a população sobre a natureza capitalista do "lava-jato" e denunciar o avanço da privatização parecem caminhos naturais, necessários. Mas qual será a proposta prática, pela positiva, de solução? Exigir investigação isenta, com a participação dos movimentos, pode ser positivo; porém é limitado.

A gestão estatal ou privada da Petrobras será sempre uma gestão burguesa, portanto, corrupta. Há uma clara intensão oportunista da burguesia. A empresa é parte central do folclore político dos trabalhadores. É o orgulho, a potência, a esperança, a esperada ação nacional rumo ao futuro. Esta identidade é um problema real aos empresários nacionais e estrangeiros. Trata-se, inclusive, conjuntamente, para eles, de uma ofensiva ideológica.

Esta relação permitiu sempre uma larga facilidade para defender - independente da conjuntura - que a Petrobras seja 100% estatal. Agora o dilema vai além. É uma questão do modelo de gestão. 

Propomos:

Que os funcionários elejam os dirigentes da empresa; 
Que os eleitos tenham, a qualquer instante, os mandatos revogáveis; 
Que aconteça assembleias de base quinzenais e mensais para o controle coletivo dos rumos da empesa;
Que exista um congresso bi-anual para decidir os rumos da empresa; 
Que esta seja 100% estatal e os trabalhadores possam escolher parte dos representantes dos seus fóruns congressuais.

Em Síntese: 

- Contra a Corrupção/Privatização, por uma gestão operária e democrática da Petrobras!

É visível, também, que a classe média - a pequena-burguesia - está insatisfeita. Com razão. Para resolver preconceitos ou desconfianças, explicaremos como a proposta gerará empregos e reduzirá o preço final do combustível e dos produtos. Estratos visivelmente prejudicados/precarizados, por razão da crise, tenderão à simpatia pela proposta.

Podemos abandonar a visão mecânica do programa de transição e adaptá-lo. A pauta da corrupção está na ordem do dia e podemos propor pela positiva, com propaganda e agitação.

Desde os sindicatos do setor e a esquerda, a proposta pode ganhar alta simpatia nesta conjuntura de crise e incertezas. No mais, independente do resultado final, fermentará a consciência dos trabalhadores para uma saída de poder alternativa.

Os acontecimentos atuais - a reação a eles - determinarão o futuro e a natureza da oposição de esquerda. Os terceirizados do setor petroquímico, por isso, podem fazer toda a diferença. A precarização é a antessala da radicalização. 

Foto: http://rondoniamanchete.com.br/economia/nao-ha-decisao-sobre-reajuste-da-gasolina-diz-petrobras/

quarta-feira, 20 de maio de 2015

MINHA SAÍDA DO PSTU, DEGENERAÇÃO E FRAÇÕES SECRETAS

J. P. da Síria


É com muita dificuldade que escrevo esta “carta”. Um forte patriotismo partidário sempre me ligou ao partido, como todos os amigos e colegas sabem. Com o PSTU tive fortes batalhas e emoções, de ocupações de câmera de vereadores a enfrentamentos físicos em defesa de meus camaradas.


Acreditei ter achado o mais importante projeto de vida que um ser humano poderia encontrar. Infelizmente, esta carta vem demonstrar o contrário, por isso peço paciência caso também ganhe contornos de desabafo; me recusei a publicitar as informações por meses, mas os problemas e perseguições são nacionais e continuam. Não posso me calar.

Quero este material como ponto de apoio a quem permanece na luta interna. Peço também que se evite uma visão religiosa do partido, pecado que eu mesmo muito cometi. A primeira vez em que revelaram os problemas internos fique com raiva, mas de quem revelou. Evitemos mecanismos de defesa.

Quem sabe esta citação tranquilize, desarme e justifique aos militantes:

"Encarar a realidade de frente. Não buscar a linha de menor resistência. Chamar as coisas pelo seu nome. Dizer tão-só a verdade às massas, por amarga que seja. Não temer obstáculos. Ser rigoroso, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. Ousar quando for chegada a hora de agir. Tais são os mandamentos da Quarta Internacional. Ela demonstrou já que sabe nadar contra a corrente. A próxima onda histórica irá conduzi-la à crista." - Leon Trotsky


Várias vezes falarei do que ocorreu em minha regional, como sintoma direto do que ocorre em todo o país.

ORIGEM, APARATOS E CLUBISMO

O PSTU está á beira de torna-se um partido centrista, do tipo semi-revolucionário (ou quase-revolucionário), como explicarei mais à frente. É um partido pequeno, de vanguarda, que vive uma degeneração muito parecida com a do Partido Social democrata Alemão.

A organização está saturada de intelectuais universitários e pequeno-burgueses (uma aristocracia entre os assalariados, geralmente funcionários públicos) e –importantíssimo - funcionários de sindicatos. Estes últimos DEPENDEM dos cargos sindicais para manter seu estilo de vida. São advogados, economistas, jornalistas, administradores, etc. E, assim, temos diretamente uma das bases da degeneração do partido: a dependência, em vários sentidos, do sindicalismo e dos aparatos sindicais.

Em todo o país há uma luta fracional séria que unem os militantes funcionários e os grupos de classe média mais alta que atuam na organização. Os pequeno-burgueses simplesmente não querem ter trabalho, militar, especialmente agora que o país está borbulhando. A vida ficou tensa. Daí, nacionalmente e nas regionais, surge frações (semi)secretas pela disputa mesquinha do controle do aparato e da direção do partido (sem qualquer vital diferença política).

No momento o partido está travado, dividido e subdividido em 3 agrupamentos. De um lado os oportunistas, 1) as frações intelectuais e 2) as dos funcionários dos sindicatos + sindicalistas. E uma terceira 3) a honesta, militantes que respeitam a teoria e a prática, intelectuais ou não, sem dependências materiais.

O PSTU viveu 20 longos anos de refluxo nas lutas sociais e muito distante da classe operária. É um partido com integrantes das classes médias. A proletarização não andou e regrediu. E mais: os quadros boicotam indiretamente a proletarização, pois exige esforço e uma mudança radical nos hábitos e no partido.

Os jovens que rompem com a família e vão para as fábricas não são acompanhados. A disciplina para tarefas no meio operário é rara. Eu mesmo sofri isso ao dizer que iniciaria um curso técnico para me tornar operário. A direção de juventude redobrou a perseguição contra mim.

Temos outros fenômenos curiosos. Todo clube precisa de um perfil. Todo novo militante precarizado ou proletário se sente isolado no PSTU. Nas suas festas senta-se só, alguns militantes fazem “cara feia”, sequer dão bom dia. É um ambiente cheio de dondocas e professores universitários que tiram férias na Argentina. Por que iriam se misturar com alguém que parece sua empregada doméstica? Por que ser futuramente dirigido por pessoas com cara de empregadas domésticas? Situações bizarras acontecem como, por exemplo, jovens militantes bem-de-vida chamar ativistas da periferia pra comer sushi em algum lugar caro da zona rica da cidade...

Os intelectuais aproveitam as reuniões para falar bonito, mas sem nenhuma questão prática. Diletantes: ficam verbalizando os princípios, as concepções e citações, energizam o ambiente. Aqueles que usam a teoria para esclarecer e elaborar política são mal vistos. Pois propõe, discordam, mostram os erros e chama à ação e podem mexer a rede dos pequenos privilégios.

Dão-se situações muito erradas. Alguns administram, dão ordens, são oradores, etc. Outros, eu inclusive, pegávamos também no pesado. Lavávamos a sede para receber bem os amigos, cuidávamos da cozinha nas festas do partido, valorizávamos as questões práticas sindicais, colávamos cartazes madrugada adentro nas greves, observávamos a segurança dos camaradas, panfletávamos nas portas das garagens de ônibus, limpávamos os carros dos sindicatos (de graça), cuidávamos das questões práticas. Mas para eles eram e são tarefas menores, manuais, da ralé.

O partido é hoje um clube. E a situação política empurra para a prática. Isso irrita parte da militância. O que é motivo de esperança a um revolucionário, a uma pessoa que tem carinho pela estabilidade é um desgosto. Por isso os mais abnegados e capazes do partido estão sendo perseguidos. Mentiras, expulsões veladas, jogos psicológicos, isolamento, chegar nas reuniões com propostas combinadas, etc. Toda tática é válida a eles.

Nacionalmente, Lucas (Ceará), Cacau (SP) e André Freire (BA, SP) organizaram um fracionamento semi-secreto pelo... aparato, a direção nacional. Contam com a maleabilidade do Zé Maria. Cacau já foi sancionado 2 vezes por usar o aparato do partido e sua posição para formar verdadeiros clubes sexuais. Mesmo assim, passou, pós-congresso, a ser figura pública sindical do partido por ação de sua fração.
Ao que parece, os intelectuais estão, a maioria, não todos, no mesmo barco.

POLÍTICA: MORENISMO E MANDELISMO

O PSTU abandonou o morenismo. Fez, em parte, sem perceber, pois a falta de base social correta degenerou o partido de forma também inconsciente.
Do ponto de vista político é mandelista; já o regime partidário é estalinista (peço de novo, paciência aos militantes. Sei que é duro ler isso). Os documentos que envie ao congresso nacional (BDI número 15), à internacional (BDI 20 0u 21, não me recordo) e o que enviei à nacional pós-congresso tiveram um eixo claro: uma parte dos erros do partido estão citados por MORENO em o “Partido e a Revolução”. Não entrarei em todas as questões, seria longo para uma carta, proponho o estudo da obra.

Exemplo. A 13 anos o partido levanta as mesmas palavras de ordem (estatização, expropriação, ocupação, greve geral, fora todos, etc.). Palavras de ordem sempre radicalizadas independente do momento político real, prático. Cada situação política pede uma política específica. Mas os militantes se esquecem porque ainda somos vistos como anormais e lunáticos pelas massas. Claro, como em um país que cresce 7% ao ano (2007) se levanta a palavra de ordem de estatização de tudo?

Isso se deve, basicamente, porque o partido não quer ter influência de massas, mas dirigir sindicatos, “influência sindical”. Cresce fere o sentido clubista e preguiçoso. Por outro é uma forma de provar aos militantes e à vanguarda que é um partido radical, diferente, que vale apena. Ou seja: se produz política para impactar a vanguarda e não para mover as massas. Faz isso hoje com a proposta de greve geral (ou o “chega de PT, PSDB, PMDB”, etc.). Por causa da crise interna a direção elabora para manter a unidade de sua base e um orgulho quase religioso pelo partido. Mistura agitação e propaganda. Esquece as transições, é sempre uma proposta mais radical do que a realidade pede. Chamamos impressionismo, e tem mais de uma origem no PSTU.



ESTALINIZAÇÃO DO REGIME


Aui entrarei em inúmeros exemplos de minha realidade. Vejam como sinais, sintomas do que ocorre em todo o país e, talvez, em nivel internacional.

Após o congresso nacional (2014) elaborei um documento de 40 páginas com propostas e avaliações. Pedi que descesse à base, como está em estatuto e quase ninguém sabe (BDIs individuais). Canary me afirmou que existe sim em estatuto, mas em desuso... Logo, em qualquer congresso poderia ser retirado aquilo, pois era feita “para o começo da existência da organização”. Não polemizei sobre este direito garantido em congresso, pois queria resolver e não brigar. Confiei nele e ele disse que entregaria a todo o CC. Mas isto é só um sintoma e pequeno de toda a degeneração.
Um militante inexperiente pode não perceber. A luta fracional é algo natural. Mas quem o faz de forma honesta é visto como aquele que quer dividir o partido.

Aqui, Agora, terei de alternar entre exemplos práticos e explicações gerais. Peço a maior atenção, pois são sinuosidades, manobras. Espero poder usar bem o poder de síntese.

Alguns exemplos pessoais:
  1. Gervásio recebeu as BDIs (Boletins de discussão internas) internacionais. Logo a que eu escrevi – só ela – não desceu à nossa regional...
  2. Clesiana, Letícia e Rebeca temendo mau balanço de suas atividades no congresso do MML, antes da reunião da secretaria de mulheres, se reúnem com a militante mais crítica aos erros e dizem: “se você falar algo lá, nós te destruímos”. No fim a direção garantiu que s núcleos de base não recebessem o balanço por questão de "segurança".
  3. Não era repassado o e-mail da comissão de moral (que pune militantes) e muitos tinham medo de denunciar;
  4. A BDI número 15 do congresso nacional (com um documento meu) foi boicotado dos debates internos;
  5.  Homens que discordavam era acusados de machismo;
Sinésio (Délio), militante com influência de massas em Teresina, foi acusado abertamente de machismo. Motivo? Perseguição. Seria candidato a vereador em 2012. Recou para a acusadora ser candidata. E, de novo, acusado injustamente, por Clesiana e Letícia, porque queriam os cargos do sindicato Sindserm onde ele era presidente (elas são hoje as “líderes”).
  1. Mentiras, meia-verdades e balanços parciais para tirar a moral dos militantes mais honestos. Os mais práticos/teóricos, por agir, erravam, é claro. Os outros tinham balanço positivo, já que não erravam...;

As reuniões são sempre formais. No fundo, apenas os dirigentes tiram e elaboram politica. A base pode até debater, mas fica sempre na questão da melhor forma de aplicar a política do dirigente. Quem discorda com qualidade e elabora é perseguido de forma velada. Na minha região alguns militantes chegavam a pedir para que outros militantes defendessem suas próprias propostas. Motivo? A depender de quem propunha, seria automaticamente negado.

Isso aconteceu, por exemplo, quando em uma plenária de juventude uma proposta minha (a de formar um coletivo na UFPI) sequer foi colocada em votação. Ainda sofri pequenos deboches por parte dos dirigentes (logo o representante nacional presente tentou mediar corretamente de forma discreta).

            Os militantes que defendem sem nenhuma crítica as políticas da direção nacional são mecanicamente valorizados, não cometeram um pecado. O pensamento e os debates abertos são desvalorizados, com caras duras ou por perseguição.

            Para controlar a situação a democracia partidária não serve. Formaram-se frações secretas, clubismo, centralização por relações pessoais. Aqueles que denunciam são vítimas da raiva até dos militantes honestos, pois, claro, é um absurdo dizer isto de um partido revolucionário.

Por isso, o blog Convergência é usado como arma em manobras linguísticas-teóricas. Com o site, idem.

No Piauí se deu um dos exemplos.

Gervásio, Letícia, Clesiana, Rebeca (juventude) e Daniel Solon formaram – ligados ao grupo de Cacau – uma fração secreta, um núcleo duro (apelidamos Triunvirato). Os motivos foram vários. Um deles é porque o partido estava crescendo e isso exige mais trabalho, disciplina, controle coletivo dos cargos.

Ou seja: ameaçou-se um importante desvio interno do PSTU, o clubismo. A militância é uma desculpa para socializar, sexualizar, criar uma tribo urbana, desenvolver pequenos prestígios, sentir-se revolucionário e alternativo, etc. O partido virou uma grife. É o espírito da classe média com tempo livre e algum dinheiro sobrando.

Basicamente Délio (Sinésio), também da direção regional, estava ganhando influência de massas por seu trabalho partidário, a regional saiu de 13 militantes para 80... Mas o Comitê Regional odiou isto.

Isso se expressou quanto Iara (milita hoje em Natal) numa reunião do CR “propôs” que Clesiana fosse da direção. Mas a maioria se absteve depois de uma grande polêmica. Por regra, se reiniciaria o debate para uma segunda votação. Mas não. Ela foi aprovada (por abstenção) para a direção e Iara apontou logo o dedo ao Delio: “você está proibido de falar o resultado desta votação para a base”. Meses depois, Daniel soltou a pérola: “trouxemos a Clesiana ao CR para ajudar a combater o machismo do Délio, mas não deu certo”. Delio, então, perguntou: “onde foi decidido isso camarada, em que reunião, em que organismo?”. Todos se calaram, recuaram. Foi o primeiro importante sinal de que havia um organismo secreto (o segundo, eram os carros deles na casa do Gervásio antes das reuniões do CR).

Uma vez, Délio faltou uma reunião da direção, adoecido. Foi a oportunidade. Tiraram ele  da direção por maioria... Depois de ele falar com Zé Maria, a fração recuou.

Em 2013 se iniciou um processo de meu isolamento entre o CZ (direção) de juventude. O motivo irritante era um: pensar (elaborar). Militantes inexperientes são fáceis de gerir, manipular, “educar”. Quando passei a elaborar e propor isto irritou a representação da fração interna (clube) na direção da juventude (Rebeca, Rafael, Luan, Mary – a maioria trabalhava nos aparatos do partido). De um lado era pelo medo de perder o prestígio, o pequeno poder, por um militante que poderia “disputar” (como assim ele consegui garantir essa reunião?). De outro eu poderia perceber as manobras internas e denunciar. Todo e qualquer militante que una teoria e prática consegue ser muito mais proveitoso, logo era natural o prestígio que me concentrava e logo era preciso me desmoralizar...

Uma vez eu, verônica e Thiago garantimos uma forte luta numa escola secundarista. Com vitória, pauta, radicalização, assembleia, moral etc. Balanço muito positivo. Porém Gervásio nos encostou: constroem os secundas ou na UESPI? Respondi: - construo o partido, camarada. Respondi com inocência de quem não tinha clareza do que ocorria. Nada poderia sair do controle deles. De resto, achávamos (acho) que um partido que não tenha como prioridade máxima se construir na juventude secundarista degenera em classe média (caso atual).

Espalharam mentiras sobre uma série de militantes em todo o país, em cada viagem que faziam. Internamente, mentiam sobre fatos, boicotavam as propostas. Cheguei a ser expulso (informalmente) 3 vezes do grupo da ANEL-PI no facebook simplesmente porque era um militante que fazia as coisa e, por isso, era incômodo.

Aqui preciso dar um tom pessoal. Tal bizarrice fez eles desrespeitarem as resoluções da reunião da ANEL-PI onde eu ficaria como um dos responsáveis pela página da ANEL (ninguém sabia quem era o responsável para adicionar novo moderador… a questão era não dar espaço…). Fiz o primeiro modelo de cartilha de entidades e nem se debateu sobre isto. Após o CONEUFPI meu nome sequer desceu no balanço da direção (nõ falei em nenhum espaço, solicitei à dirigente Rebeca e ela deixou claro que não era pra eu participar. Centralizei)... Fiquei com uma tarefa sem prestígio que era, “apenas”, panfletar e cuidar da banca de jornais e livros. Na realidade, somente uma minoria de militantes agiam como juventude do PSTU. Pois eles usam a ANEL para facilitar o caminho, a simpatia, faziam dela uma colateral. Toda panfletagem com o material da juventude era boicotada por vergonha de falar do partido (cheguei a fazer 3 panfletagens sozinho e, claro, alguns militante não tinham tempo). Enfim: sempre esconderam o partido e sua militância;

O partido está vetando em todo o país a luta de ideias e propostas. Isola camaradas. Procura preservar a cúpula. No Piauí, assim que a regional implodiu, houve uma fuga. A maior parte da fração secreta regional está hoje em Rio Grande do Norte (Inclui Donyara e Lorena, que não tenho espaço para falar sobre). Rebeca mentiu à juventude. Foi para Rio Grande do Sul sem balanço e não avisou que pegaria lá tarefas de juventude com medo de que chegasse à SNJ (direção nacional de juventude) suas manobras e erros.

Assim como nacionalmente, aqui se formou uma fração (secreta) de intelectuais e professores. Iniciaram com “grupos de estudo” informais. Reuniões no bairro Mocambinho (onde a maioria mora). São os diletantes, organizados por Romildo (este, tenho que dizer, sabe causar empatia e simpatia). Depois de derrotas de seus grupos sindicais, por erros simples, fragilizados, começaram a conspirar.  A principal referência é Geraldo Carvalho. Ex-bancário que muito mudou após tornar-se professor universitário. Internamente ele era “independente”. Mas procurou preparar o caminho até a direção do partido tentando ganhar o sindicato dos professores SINTUFPI sem a ajuda do partido e, inclusive, proibindo que os militantes falassem ou agissem como militantes do partido. Sua derrota eleitoral-sindical atrasou este objetivo. O PSTU é hoje clubista nos hábitos, estalinista no regime, centrista ultra-esquerdista na política, pequeno-burguês na composição social, conservador e desleixado com a teoria, sindicalista na atuação prática.

O agrupamento de Délio é a vanguarda. Porém devo dizer que se tem sempre que desconfiar.

Ele mesmo mentiu mais de uma vez, para facilitar o caminho. Na reunião de nossa fração pré-conferência, disse “João, seu documento nacional está ótimo, infelizmente o prazo de entrega acabou, mas podemos fundir com o da nossa fração”. Desconfiei. E vi que tinha ainda um mês para enviar. Disse isso e pedi ajuda para enviar (e mail), “Dou sim”, em tom de esquiva. Tentou manobrar (sabe que possuo TDAH e posso ser inseguro): “Vi uns erros no teu texto”. – Quais? Perguntei. “Depois a gente vê”.

Antes, nas polêmicas sobre a conjuntura, cheguei a ele e disse: - “Acho que matei a charada, Délio”. Deu um sorriso amarelo, se esquivou. Lá fora do sindicato  ainda o ouvi dizendo a outro: “ele acha que porque lê muito sabe alguma coisa”. Tal é a situação.

Algumas vezes deu tarefas a camaradas exatamente, ao que parece, para que quebrassem, desafios que não estavam prontos a cumprir. Falou dos militantes “rebeldes da juventude” numa reunião do CR (ele mesmo nos disse). Ou seja: procurou multiplicar a luta fracional (na qual ele era perseguido), que tanto nos doeu.

Ser militante é viver tensão, e tensão em ciclos sociais. Com o tempo você aprende a fazer análise psicológica de todos. As reuniões e conversas sempre tinham um momento pra isso. No caso, em nossa nova regional (pós-saída forçada do PSTU) poelmizamos, eu e ele, sobre agir ou não publicamente enquanto partido ou sindical. Eu defendi como corrente política. Para além dos debates, existem coisas sinuosas, sugestivas. Exemplo. Noutro dia me mandou uma foto desinteressada no Watzsap: eu com camisa da CSP na frente de uma bandeira da CSP, numa festa da CSP onde eu era porteiro. Isso, na psicologia, chama-se sugestão. E é uma arte que não só ele domina.

Curioso é que certas críticas (como a de formar núcleos de proletarização, da BDI 15) após ruptura, ele adotou as propostas e programa que elaborei. Era apenas jogo.

SOLUÇÃO?

Ruptura. Cada fração no seu quadrado, partidos independentes, reivindicando a LIT e deixar que a política prática diga quem é quem, com o tempo.
Isso tudo me gerou crise de pânico e depressão pelo longo stress. Escondi essas coisas dos camaradas por um bom tempo, inclusive os de meu núcleo. Meu maior erro foi sempre recuar e deixar na sombra, até por medo dos camaradas sofrerem. Hoje – por mentira – muitos até me odeiam.

Agora que vejo outros fragilizados. Não posso me calar.

Estamos num caos no país. è preciso e urgente uma ferramenta partidária digna do futuro.

Disseram que sai do partido “pra viver a vida”, por lumpemnização, por pelegagem, etc. E acreditam nestas palavras por confiança política e pessoal. A culpa nunca é do partido das centenas de casos isolados de afastamentos por “fraquezas dos ex-militantes”.

Quanto maior o boicote maior o oportunismo.

Talvez me acusem de desleal? Muito me dediquei ao partido. A lealdade é reciproca?

O pecado dos pecados foi e é pensar, elaborar, propor, questionar, enfrentar, sonhar. Pessoas chatas. Que fizeram e fazem do PSTU uma razão de vida e não um estilo de vida. O meio não pode substituir o fim.


Procurei propor soluções de forma indireta, informal, sobre os problemas do partido nestes LINKs:

ANTIBUROCRATISMO EM UM PARTIDO LENINISTA: PROPOSTAS


Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? A Greve Geral.


O QUE É - E COMO AGE - O CENTRISMO?



sexta-feira, 1 de maio de 2015

QUAL O CAMINHO PARA UMA GREVE GERAL?

“A greve geral é um meio de luta muito importante, mas não é um meio universal. Há casos em que a greve geral pode enfraquecer os operários mais do que o seu inimigo direto. A greve deve ser um elemento importante no cálculo estratégico e não um impulso no qual a estratégia é diluída.” ( “E Agora?”, 1932, Trotsky, Revolução e Contra-Revolução na Alemanha)



Em fevereiro/março foi colocado neste blog uma crítica à visão mecânica e idealizada da greve geral (Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? http://umblogamaisnessemundo.blogspot.com.br/2015/03/por-que-ainda-nao-e-hora-para-uma-greve.html). Naquele momento a política revelou-se bastante correta, como demostraremos. Porém, a realidade deu um novo salto qualitativo, muito forte. Sobre isso mostraremos conclusões e propostas.

Agora, na conjuntura imediata, temos uma pauta que pode unificar, através da luta, a maior parte dos trabalhadores assalariados: a rejeição ao projeto de lei da terceirização, o PL 4330/04. As condições para a Greve Geral estão superiores, mais firmes. O erro, na esquerda, pode ser achar que caminhamos já - mecanicamente - para uma luta generalizada nas proporções que vem defendendo. Isso é um grave erro.

E por que um erro? Os trabalhadores não concluem sempre inevitavelmente o que fazer, eles não apreendem de forma tão mecânica as conclusões sobre como lutar ou em quem confiar e/ou para onde ir. Sequer possuem - ainda - consciência clara do retrocesso civilizacional que é esse precarizador projeto. Alguém deve dizer(!). A tarefa de conscientização caberá, inevitavelmente e necessariamente, à esquerda e, neste meio, principalmente aos revolucionários.

É custoso imaginar que é preferível a rotina, manter um instinto de clube, o carinho pela zona de conforto, a propaganda interna da aparência de luta, o desprezo pelo espírito de ousadia. Os desafios políticos são apaixonantes, pode-se sacudir a vida militante muito positivamente. Todo stress compensará diante das possibilidades da revolução brasileira.

É preciso um trabalho firme de agitação sobre as massas, especialmente sobre os operários mais precários. Panfletar de madrugada, pichações, invadir os grupos das redes sociais, não temer o debate, divulgar as propostas, denunciar, ir para as portas das fábricas e construções, usar a linguagem popular para desenvolver o mais puro instinto de revolta entre os trabalhadores. Precisamos de seus corações e mentes borbulhando diante dos grandes ataques.

Tal tarefa só é possível disputando suas consciências, suas conclusões, seus pensamentos, sua simpatia. É impossível abraçar o mundo para cumprir este objetivo, mas deve-se focar nos principais batalhões operários e todo o país. A esquerda não pode perder esta batalha por um amor pela passividade, pelo pouco-esforço e o descanso dos nervos.

A CUT evitará, por inúmeros meios, uma Greve Geral. Tem compromisso com a estabilidade do país e do governo. O único caminho é preparar a estrada. Temos de fazer as bases pressionarem as burocracias de esquerda a se moverem. Por enquanto, é a única forma que a história da luta de classes nos ensina. E aqui de novo repetimos: é preciso, antes de qualquer Greve Geral,  ganhar os trabalhadores para a necessidade imperiosa de agir.

Uma frente única da esquerda anti-PT pode ajudar. Também, junto e paralelo a isso, chamar (a palavra certa é pressionar - pela base) o governismo à ampla unidade de ação.

No artigo a que nos referimos no começo defendemos que entre a realidade e uma grande greve nacional existe e existirá um período transitório, de maturação, de acúmulo de forças e contradições.

A realidade é uma grande professora. Ela se impôs. Na impossibilidade de criar uma luta generalizada, a CSP-CONLUTAS conseguiu puxar no 15 de Abril um dia de lutas e paralisações em unidade com a burocracia. E foi fortíssima. Por isso, podemos insistir novamente: poderia ser ainda mais impactante caso fosse impulsionado por um disciplinado e concentrado trabalho de agitação e divulgação.

Ao mesmo tempo, como propomos, ocorreram "greves gerais setorizadas", unificação de lutas, dias regionais (Paraná). Trata-se de um mecanismo pré-Greve geral que pode ser mais aproveitado.

Com o ataque ao seguro-desemprego podemos agregar a preparação da primeira grande batalha, da possível mais importante medição de forças sociais até o momento. Precisamos, para isso, evitar o fetiche, o mecanicismo, a rotina autocentrada, as palavras de ordem propagandistas. Agitação, agitação e (mais) agitação das propostas e, também, ousadia, ousadia e muito mais ousadia em fazê-la. Só com o rumo apresentado a esquerda pode ser vista, no imediato, pelas massas, como uma possível Terceira Via.

Uma Greve Geral digna do nome precisa de um trabalho preliminar sobre as angústias dos trabalhadores. Podemos, até devemos, esclarecê-los, propor saídas, impulsioná-los, energizá-los. A realidade já fez e faz, o tempo todo, a parte dela. A esquerda fará o trabalho que lhe cabe e que é a sua razão de existir?

Esperamos que sim.

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João Paulo da Síria

quarta-feira, 25 de março de 2015

Não é Onda Conservadora | é Luta de Classes




Desde o forte protesto nacional de direita no dia 15 de Março, a caracterização de que há uma "onda conservadora" ganhou maior espaço e fôlego. Mais uma expressão para o repertório da esquerda. Não há, porém, como exporemos, base para tal afirmação. O texto, ponto a ponto, visa demonstrar o contrário.

O que, então, explicaria a ação ofensiva das classes médias mais ricas? A resposta encontramos sem dificuldade, a olhos vistos: as lutas em todo o país da classe operária, da juventude e dos setores populares empobrecidos. Tanto em 2013 quanto em 2014 ocorreram milhares de greves. Não só: multiplicaram-se as ocupações urbanas, os protestos estudantis, tivemos as famosas Jornadas de Junho de 2013, as periferias estão mais ousadas. Era de se esperar que, diante de tal instabilidade social, a pequena-burguesia, muito nervosa e temerosa, fosse à ação. 

A greve geral da educação no Paraná, as vitórias do metalúrgicos no ABC paulista, a garra e a firmeza dos garis do Rio e dos operários do Comperj, as rebeliões nos call centers são mais do que sintomas ou casualidades. A situação política mudou,  alterou-se a nosso favor. A relação social de forças entre as classes é progressiva, mesmo apresentando novos difíceis desafios.

Como sabemos, a contradição e o movimento são leis da realidade. Os últimos anos de unidade pela passividade acabaram em nosso país. Se caminhamos para uma futura revolução, caminhamos, igualmente, para uma contrarrevolução.

Década de 1990 e a atual esquerdização

A queda do muro de Berlim, o fim dos ex-estados socialistas e a ofensiva neoliberal fizeram surgir, em todo o mundo, uma situação reacionária dentro de uma etapa revolucionária.

Fazer greve era uma enorme dificuldade. Falar sobre socialismo e revolução era considerado, de novo, uma utopia. A saída individual se tornou ainda mais valorizada do que a saída coletiva. A vanguarda agora era anti-corrupção e não anti-capitalista. Nesse exato momento havia, de fato, uma onda conservadora.

A principal consequência disso foi a degeneração final do PT naquela época. Tornou-se um partido de esquerda parlamentar, substituiu o classismo pela "ética na política", valorizou alianças com partidos burgueses. O PT, seguindo a onda, se "endireitou".

Isso desemborcou, para além da famosa carta ao povo brasileiro, na primeira eleição de Lula em 2002 e atrasou a consciência das massas, pois viram no voto e no PT uma saída contra suas dores e uma resposta aos primeiros sinais da esquerdização dos assalariados (naquele momento havia elementos de desconforto nas massas expressos no "Fora FHC", no "Não à Alca",  contra a guerra de Bush e na rejeição ao caos econômico).

Agora que a luta de classes retorna, que o PT (importante freio) se desmoraliza, que o Estado está mais instável, que se inicia uma reação à crise, etc. estaríamos, logo agora, diante de uma onda conservadora? Não. É ação e reação, luta dos contrários. 

E além. O petismo se desmoraliza por suas ações de direita, de austeridade, à favor da burguesia e contra a classe trabalhadora. A base da pirâmide finalmente está se esquerdizando. 

Quais as bases desse erro?

As bases da tese da Onda Conservadora são:

1.    A necessidade de proteger o PT;

2.    Uma parte da classe média, especialmente a melhor de vida, vai para a direita;

3.    Em toda realidade mais instável, como sempre, setores reacionários também se movem;

4.    A esquerdização da classe trabalhadora ainda é confusa;

5.    Via de regra, os governos de Frente Popular (PT) desmoralizam a imagem da esquerda;

6.    A esquerda anti-PT ainda está fragmentada, não apresenta uma terceira via.

Daqui faremos um segundo debate:

Boa parte dos militantes e dirigentes da esquerda está acostumada à rotina, ao não-conflito, aos longos anos de crescimento econômico. Formaram-se enquanto quadros em uma situação de refluxo (da verdadeira onda conservadora existente na década de 1990 e no governo Lula).

Boa parte dos militantes pertence à classe média. Respiram o ar dessa classe. Mesmo sem desejar. Ouvem o que sua classe diz e, especialmente, tem a psicologia dessa classe.

Normalmente possui, a pequena-burguesia, incluindo os intelectuais, pouca tolerância a situações aguçadas, de conflitos e alta tensão. É uma classe que fantasia a vida burguesa, sem pertencê-la, sem ter os mesmos recursos. E giram suas vidas para uma paz constante. Isso lhes tira a força para momentos de crise social.

A classe trabalhadora, sem que queira, convive com conflitos familiares, violência, tensões enormes no trabalho, dificuldades, etc. Isso “treina”, “adestra” a mente para saber ter tolerância e racionalidade em situações instáveis.

Ora, se estamos em uma onda conservadora, como explicar os discursos mais à esquerda de todos os centrais candidatos burgueses à presidência? Como explicar milhares de greves em 2013 e 2014? Como explicar o retorno das rebeliões de base e as inúmeras ocupações dos sem-tetos?  E o aumento do voto nulo e das abstenções? E a facilidade maior para expor ideias antes tidas como radicais? Como explicar o prestígio aumentado de alguns dirigentes sindicais combativos? Esquerdização não é apenas ideia, é prática, é ação e organização.

 O que sustentou o PT?

1. Controle dos Movimentos Sociais;

2. Aliança estável com partidos burgueses e maioria no parlamento;

3. Crescimento econômico.

Isso começou a ser perdido em 2013, em junho:

1. as greves eram poucas (de 200 a 400). Agora são milhares e com rebeliões de base, participação ativa das categorias. E temos MTST, CSP e outros movimentos, em crescimento, por fora do controle petista;

2. Partidos de direita rompem com o PT. A maior parte do PTB, do PSB e boa parte do PMDB. Os aliados do PT são instáveis.

3. A economia, central, depois de uma década de crescimento e 2 anos de timidez (2013 e 2014), entra em crise. Há um desconforto de massas sobre a qualidade de vida;

A isso somamos:

1. Uma nova geração de trabalhadores jovens que acordam pra vida política sem ter sido educados a se iludir com o PT como seus pais na década de 1980 e 1990.

2. O tempo de governo, os escândalos e erros já tiraram boa parte do messianismo em torno do PT;

3. A base social do PT mudou das grandes cidades para as pequenas e o campo. Das classes médias empobrecidas e operárias para os que recebem bolsa família e os mais pobres entre os mais pobres.

Tudo isso é inédito nesse governo. Porém, dizer o ritmo e como acontecerá a "grande queda do PT" não é marxismo, mas misticismo.

Mas os elementos da realidade apontam nisso e isso já ocorre. Vai depender também das atitudes da esquerda. Esse processo está vivo. E por isso é um "processo de queda", não será um fato ou colapso. Mas um processo (que não tem como a gente medir todo o ritmo). Podemos intervir na realidade para aproveitá-la e acelerar esse processo.

Podemos forjar alternativas?

Se a chamada "'esquerda socialista" está na defensiva é porque ainda não se permitiu a ousadia; não se armou com políticas que movam e chamem a atenção da classe trabalhadora; é porque, na prática, se evita uma unidade de ação prolonga rumo a uma verdadeira Terceira Via. É pelas suas fragilidades que se derrota um exército. Esperamos conseguir resolver essa lacuna, pois o futuro, como o presente, nos reserva oportunidades e riscos.



João Paulo (da Síria)

terça-feira, 17 de março de 2015

Por que - ainda - não é hora para uma Greve Geral? Um Pouco de Dialética.

Por que, afinal, a esquerda não usa a dialética? A Greve Geral.


No primeiro importante sinal de lutas, greve geral! Na primeira revolta parcial, revolução! Nas primeiras camadas reacionárias, onda conservadora! Na primeira importante dificuldade, crise geral! Nos primeiros sinais, todos os elementos! Só depois são feitos os balanços, as autocríticas, as acusações mútuas.
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Esperamos encontrar a revolução ou o medo já na outra esquina, empolgar-se é preciso. Avaliações vem e vão. 
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No entanto o questionamento é exatamente o mesmo do título deste artigo: e o método? Onde está a tal da dialética marxista? O materialismo dialético parece ser algo sobre o qual todos falam, mas, curiosamente, ninguém entende. Pode ser usada numa roda de debate, para travar o adversário com frases de efeito. No entanto, a questão das questões, a política, precisa de norte, de uma mão canhota.
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"Entre o preto e o branco exite o cinza". Vamos sob os feitos de exclamações: ou é não-revolucionária ou é pré-revolucionária (quem sabe tirar o pré!), ou é estabilidade ou é chamar a greve geral (que sabe insurrecional!), ou estabilidade do Estado ou Impedimento da Presidenta de plantão (quem sabe golpe!).
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E é assim, exatamente, onde a esquerda desconhece as transições, os fenômenos híbridos, os ritos de passagem, os processos pré-saltos. 
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Nada de 40,ou é 8 ou é 80!
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O cinza pode ser uma transição entre a situação não e a pré-revolucionária? Pode ser as greves unificadas, dias regionais de lutas, greves gerais por categoria como amadurecimento até uma futura greve geral ainda não aplicável? Pode ser estimular, com a luta, o desgaste do governo para amadurecer sua queda diante das massas? É claro (ou cinza) que sim!
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Lembro-me bem quando, entre 2010 e 2012,ouvi, na rotina, um fenômeno diferente, duplo, entre as pessoas comuns, não militantes. Ainda apoiavam o governo do PT, com muita firmeza, mas já tinham, diferente dos anos antecedentes, esta ou aquela importante crítica. Isso é importante: iniciou-se um desgaste, um período transitório que saltou, e muito, em 2013. 
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Os estágios transicionais são uma lei da matéria. Entre o aumento da inflação e o gatilho salarial há um caminho a percorrer: exigir um "simples" aumento de salário ou, quem sabe, um congelamento dos preços. Entre detestáveis demissões e a ocupação da fábrica sob controle operário com escala móvel de trabalho(!) pode haver um estado de preparação, de amadurecimento: lutar pela reintegração, contra a demissão ou, talvez, criar comitês de fábrica e exigir estabilidade. Aí está, em síntese, na agitação, a diferença entre uma política de extrema-esquerda e a de ultra-esquerda.

Na prática, tudo o que existe é uma transição, veio de uma causa e terá uma consequência. O socialismo é, sabemos, uma transição (fluida) entre o capitalismo maduro e o comunismo. Os próprios antigos estados operários eram uma transição entre o capitalismo e o socialismo (sendo este último, também, uma transição)... Do sim para o não, o sim-não.
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Ouvimos, entre os vermelhos, por estes dias, as vozes da greve geral. Isto é bom, e é decente. Mas qualquer anarquista, no alto de sua emoção e revolta juvenil, pode pensá-la.
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O marxismo exige ciência, exige método. Claro, erramos. Mas nunca se deve facilitar o caminho do erro. A responsabilidade é enorme. O improviso, o empirismo, o mecanicismo, o impressionismo e o sindicalismo não são de muita serventia enquanto totalidade.
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O marxismo antecipa as tendências futuras. E não só. Permite elaborar os próximos passos, puxar a corda para a nossa ponta.
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Greve geral? Por acaso, a CUT, a CTB e a Força Sindical dirigem, ainda, o grosso dos sindicatos e categorias? Sim, é óbvio. A - também ainda! - frágil esquerda consegue puxar por si uma verdadeira greve geral digna desse nome? Não, infelizmente. Conseguiria,ao menos, pressionar uma greve geral pela base forçando os burocratas a grevar em todo o país? Também não, mas pode - e deve! - preparar o caminho, o rumo, o norte. Tornar o impossível uma possibilidade, e a possibilidade em realidade.
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Então como? 1. Chamando greves unificadas nos estados; 2. unificando as que ocorrem paralelamente, 3 preparando greves gerais das categorias (correios, bancários, servidores estaduais, metalúrgicos do ABC, etc.), 4. puxando greves; 5. chamando dias de luta regionais (o país é continental, não dá para unir todo o território hoje); 6. elaborar frente únicas com organizações de esquerda contra os problemas da crise e contra o governo.
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Assim, com uma cor de cinza cada vez mais forte, fruto do acúmulo de contradições, podemos preparar as tensões para o salto-ruptura dialético, as condições básicas para uma greve geral, a primeira de outras. 
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Iremos, assim, aumentar a força na esquerda, crescer as rebeliões de base e oposições democráticas, aumentar a autoconfiança dos trabalhadores, educar para luta, consolidar organismos de combate por direitos.
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Chamar greve geral ou mesmo uma Luta Nacional, nos formatos propostos, desconsidera, no imediato, o desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, desconsidera a realidade. É extremamente variável a maturidade e a forma da luta de classes de um estado para outro estado, de uma cidade para outra cidade, de uma categoria para outra categoria.
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Na hora em que a burocracia ver que ou se move ou perde o aparelho, que o mal-estar popular tem sentimento de revolta, ela se moverá. Sua movimentação será para trair na primeira oportunidade, para evitar maior crescimento dos revolucionários. Mas se moverá. E como dialéticos, devemos ter em conta, o caminho não é mecânico, são decisões humanas: pode, mesmo, ao contrário, não se mover, e, nesse caso, a desmoralização será enorme entre os oportunistas quando se enfrentarem com as revoltas dos assalariados.
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Quando as tão difíceis tarefas primeiras se tornarem realidade, as condições para exigir uma greve geral estarão dadas.
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Pode-se argumentar que a dialética dialoga com o "saltar das etapas". É fato. Não se trata apenas de evolução, mas de contradição, conflito, combinações, saltos, rupturas. Só que estamos no reino da materialidade (o único reino existente). A crise se aguça; a luta de classes acelera-se desde 2013; uma parte dos "brasileiros" se esquerdiza (trabalhadores e classe média) e outra caminha para a direita (pequena-burguesia); quase todas as superestruturas, em medida maior ou menor, sofrem rachaduras internas. Passo a passo, estamos caminhando para a beira do abismo, porém, não chegamos ainda nessa beira ou mesmo em um abismo.
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Artigos acadêmicos, cansativos, sobre dialética temos e muito. Compreendê-la, usá-la é uma outra orientação. Querer dominar o marxismo e o materialismo histórico sem o uso do materialismo dialético como ferramenta, para além dos debates, é tão inútil quanto perigoso. Todo quadro desleixado com os estudos deve ser visto como um irresponsável.
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A experiência partidária/sindical empurra a militância para uma realidade paralela, alienada da rotina geral, orientada para o clubismo, para diálogos típicos de tribos (marxistas). É preciso misturar-se com a vida dos trabalhadores, negar o carinho pelo elemento químico puro. No chão do mundo a vida é contraditória, a matéria é totalmente suja.

ATUALIZAÇÃO (17/03/2015):
A proposta de greve geral tem por um lado,a influência do economicismo (sindicalismo) e, por outro, uma tentativa de mostrar garra e firmeza e radicalidade.
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É possível - e até urgente! - unir as pautas econômicas e políticas para conseguir mover a classe trabalhadora. 
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São quatro palavras de ordem políticas que a esquerda precisa levantar imediatamente:

- Fim de todos os privilégios políticos!
- Revogabilidade dos mandados a qualquer momento se os eleitores desejarem!
- Fim do financiamento privado de campanha eleitoral!
- Fim do voto obrigatório!

E:
- Dia nacional de luta contra a corrupção e por direitos!
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Ou seja, em síntese: regatar o papel das jornadas de junho. Um dia nacional pode ser antecipado com regionais. Mas antes de tudo é preciso agitação, panfletagem, divulgação, colar cartazes pela cidade, conversar, dialogar. Enfim: ganhar a classe para as propostas. Puxar um "Dia" desde um ponto de vista superestrutural, sem trabalho prévio, de base, de nada servirá. 
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Não é hora para atos de vanguarda. Necessitamos incidir pesado e diretamente (e há a oportunidade) sobre a consciência das massas. Assim não seremos algumas dezenas ou centenas nas ruas, mas dezenas e centenas de milhares.
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J. P. da Síria