domingo, 20 de novembro de 2022

Sobre a metafísica marxista (manuscrito)

 

ANEXO I

NOVA DIALÉTICA DA NATUREZA

CRÍTICA DA METAFÍSICA

 

A HISTÓRIA DA E NA CIÊNCIA

 

A grande preocupação dos idealistas gregos era saber daquilo imóvel, sem mudança e movimento. Assim, a antiga metafísica supôs um mundo das Ideias e das formas (Platão), um Ser absoluto (Parmênides), o primeiro motor imóvel (Aristóteles). O que lhes faltou é saber que há as leis da mudança, além das leis da regularidade, algo apenas resolvido na moderna dialética. Até o gigante Heráclito orientava descartar os sentidos, pois no empírico reinava apenas o caos e o acaso – tema que aprofundaremos em outro capítulo. Para o filósofo escravista grego, era necessário negar a historicidade do mundo, pois queria a estabilidade e a perpetuação do seu modo de vida. A filosofia medieval, desde Agostinho, tratou de manter o império da rotina, da tradição, como com a cidade de Deus perfeita e estática e a cidade dos homens imperfeita e alterável.

Então, veio o capitalismo e sua necessidade de saber como, não o porquê, o mundo funciona. O princípio da tradição cai por terra, a novidade ocorre sempre, nada é estável. O objetivo é econômico: saber navegar bem, produzir novas ferramentas. Assim, toda a filosofia antiga, a aristotélica em principal, é atingida de morte: as leis da terra são as leis do céu!

Mas para Newton o espaço era absoluto, independente e imóvel como o palco de um teatro. Também o tempo era inalterado em seu movimento. E esse foi o paradigma por séculos. O universo, criado por Deus, ainda era eterno e imóvel, além de sem limites, como pensavam já os gregos.

Newton foi, após seu grande sucesso teórico, desafiado: se sua fórmula estava correta, logo o universo deveria colapsar! Por que isso não acontecia? Ele pensou: porque o universo é infinito e as gravidades, no geral, em ampla escala, assim, se anulam de um ponto para outros. Mais uma vez, a história saiu do caminho!

Os químicos, por sua vez, pensavam que os elementos sempre existiram e sempre existirão – sem criação, sem destruição. O papel seria, assim, descobri-los, isolá-los, classificá-los e dar-lhes bom uso industrial. E pronto.

Algo análogo tinha-se na biologia. Os materialistas sempre ensaiavam formas de fazer alguns animais surgirem de outros, mas falhavam. Os idealistas, por sua vez, diziam que os serem sempre existiram e sempre existirão.

 A primeira etapa da ciência é conhecer, reconhecer e classificar os seres; isso é o seu começo. Mas logo sente sinais de que há um filme sendo contado ali, pistas surgem, especulações ainda tímidas ocorrem aqui e acolá.

Hegel inicia a ideia de que o homem tem uma história, que o passado é a causa do futuro, que há um caminho a percorrer. Antes, a história de Roma era tratada como indiferente à história atual, sem progressão e progresso. Mas foi em Marx que a história humana foi materialisticamente explicada: com a necessidade de satisfazer necessidades materiais, os homens produzem objetos e relações sociais novos; assim, a produtividade crescente muda as coisas, o ambiente e os próprios homens. Então, Marx generalizou: o inorgânico, a biologia e a sociedade são históricos, possuem um processo! Ele o fez de modo filosófico, resolvendo a charada apenas na história humana. Depois, Darwin deu forma científica à conclusão marxista: a vida e as espécies têm uma origem e um desenvolvimento, como dos seres simples aos mais complexos, menos diferenciados aos mais diferenciados. Algumas espécies e indivíduos prosperam se bem se adaptam e outros definham se mal sobrevivem.

Apesar de ser o mais simples, o inorgânico e o cosmos foi o mais difícil de saber de sua historicidade. Nossa geração já cresce tendo contato com a teoria do Big Bang, logo perdemos a noção de quã recentíssima é tal concepção de mundo. Mas o próprio Einstein demonstrou resistência à ideia, com sua concepção estática – a constante cosmológica! – de universo. Ele teve de lidar com a mesma contradição de Newton, ou seja, por que o universo não colapsava para dentro de si ou, ao contrário, não se expandia?

Descobrimos que o nosso universo teve um início, uma expansão rápida (não explosão) quando o “átomo primordial”, imensamente concentrado em si mesmo, decaiu em partículas cada vez menores, fundamentais. Tal teoria leva à concepção termodinâmica de Engels; o universo acabar-se-á frio, morto e estático. Mas a teoria nunca poderá parar aí. Para uns, o universo “esquecerá” que se expandiu ao máximo e fará um novo big bang. Para outros, ele é como um pulmão, expanda-se para depois contrair-se, sabe-se lá como – embora isso seja muito mais dialético, tal como veremos. Outros tantos defendem que há muitos universos depois deste, infinitos. Em geral, temos duas teorias: o multiverso no tempo, que se expande e se contrai; o multiverso no espaço, uns ao lado dos outros. Aqui, proponho o universo no espaço-tempo: a expansão ou contração de um universo de dá junto e porque outros expandem-se ou contraem-se. Mas suponhamos que exista apenas o nosso universo, não o cosmos como união de todos os universos existentes – qual a solução? Alguns físicos defendem que a próxima era, a dos buracos negros, gerará a fusão e atração destes, reiniciando o universo inteiro. Tudo bem, mas como? Há aí apenas descrição, não explicação. Na verdade, ao que me parece, apresento a hipótese, os buracos negros sugam espaço (que, debateremos, torna-se provavelmente matéria e luz), são produtivos, por isso não há buracos negros intermediários, nem observados no número necessário. Outro problema: se o espaço expande-se mais rápido do que a luz, o que ele é? Ora, matéria e espaço – nossa terceira hipótese – são o mesmo, sendo ainda diferentes, a matéria inicial em parte decaiu e decai em espaço. O próprio espaço tem história, modifica-se e nasce! Ainda outros, dizem que até o tempo tem uma história, que teve um início.

Há uma versão científica e pouco ortodoxa que diz: as leis da física são históricas, não permanentes, segundo a fase e configuração do universo. A dialética nem rejeita nem corrobora esta tese, penso. Vejamos: a história humana tem leis universais e tem leis que pertencem somente e tão somente àquela época específica, capitalismo ou feudalismo etc., ao modo de vida de um determinado tempo e sistema. Mas isso não significa, mecanicamente, que é assim também na biologia e na física, pois ambos são mais simples e menos dinâmicos que o sistema social humano. Para a dialética, no entanto, importa o contexto; por exemplo, um material não condutor em temperatura ambiente torna-se condutor em temperatura elevada.

Agora, entramos de novo na química. Apenas hoje, há pouco tempo, soubemos que os elementos mais pesados surgem da fusão dos elementos químicos mais leves nas estrelas, como o Sol. Há fusão nuclear. Os elementos ainda mais pesados, por outro lado, exigem ainda mais energia para seus surgimentos, frutos das explosões estelares. A mera descrição da tabela periódica teve de dar espaço para uma narração épica!

A revolução espácio-historicista da ciência ainda está incompleta, mas avançou de maneira qualitativa, contra a mentalidade estática dos próprios cientistas, que cederam à realidade. Os gregos, como os iniciadores dessa história, tinham o direito de errar – nós temos o dever de acertar.

 

 


A IGUALDADE DE TUDO

 

O início da filosofia grega foi a intuição da igualdade universal. Assim, buscavam apenas o geral e o único, esqueciam o papel da diversidade. Tales, o primeiro físico, afirmou, pela primeira vez na história, que tudo é um porque tudo é, vem da, água. A dedução tem sua lógica, pois todos os seres vivos precisam beber, precisam retornar às suas origens. Seu primeiro passo permitiu ao discípulo Anaximandro ir ainda mais longe: o princípio de todas as coisa não é algo específico, mas alguma coisa não empírica, no fundo do fundo, sem qualidades ou limites, que ele nomeou Apeíron. Também Heráclito algo propôs, o fogo como origem e causa de transformação de tudo. Anaxímenes, o ar. Logo surgiria a ideia natural de que o terra, o fogo, a água e o ar mudam-se uns para os outros, além de combinação e separação. Mas eles, em geral, ficaram muito presos ao sensível. Um dos pontos alto é o atomismo de Demócrito, de que o mundo é feito de átomos e vazio, muito depois seguido por Epicuro.

A física clássica, além de outras ciência, tratou, primeiro, de separar, clarear e destacar a diferença no mundo e nos conceitos. Mas logo, com a ajuda da matematização, ensaiou a unidade ou identidade dos diversos, como v = s/t, velocidade é igual ao espaço dividido pelo tempo; dirá Hegel, o movimento é a unidade de espaço e tempo.

Maxwell deu um gigantesco passo ao perceber que seus 4 cálculos poderiam ser unificados, formando a união do magnetismo e da eletricidade em eletromagnetismo – logo percebeu que a luz caberia dentro de tal descrição.

Mas foi Einstein quem deu o passo imenso na unidade de tudo. Ele disse que massa e energia são um, são diferentes manifestações de algo comum (já debateremos o que é, para nós, este objeto comum). E foi ainda mais longe ao perceber que espaço e tempo são espaço-tempo, pois tempo é espaço! 

Hegel diz, inspirado no começo da filosofia:

 

Entretanto, por meio do conceito de diferença interior, esse desigual e indiferente, espaço e tempo etc. são uma diferença que não é diferença nenhuma, ou somente uma diferença de homônimo. E sua essência é a unidade. Em sua relação recíproca são animados como o positivo e o negativo; mas seu ser consiste antes em pôr-se como não ser, em suprassumir-se na unidade. Subsistem ambos [os termos] diferentes, são em si como opostos; isto é, cada qual é o oposto de si mesmo, tem o seu outro nele, e os dois são apenas uma unidade. (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 127)

 

Veja-se que Hegel antecipou o princípio da ciência moderna! Não foi algo vago, mera intuição, mas afirmado com clareza como espaço e tempo enquanto apenas em unidade.

E se levarmos unidade até as últimas consequências, por generalização? Surge esta fórmula qualitativa:

 

Movimento = energia = tempo = espaço = matéria  (= massa = luz = campo)

 

Chegamos à teoria de tudo! Ao leitor especializado, pedimos que avance neste e nos próximos capítulos, que daremos as provas necessárias de nossa formulação. A busca de uma teoria do todo, como fórmula que unifique o micro e, por meio do meso, o macro, a relatividade e a quântica, tem uma proposta clara nesta obra.

Isso passa por unificar as 4 forças fundamentais: a nuclear forte, que mantém o núcleo do átomo unido; a nuclear fraca, que é responsável pelo decaimento do átomo; a eletromagnética, que trata da relação de elétrons; a gravidade, que cuida da atração da matéria. Mas o conceito “força”, com seu quase misticismo, entra em crise, não corresponde a um objeto real. A gravidade não é uma força, mas uma curvatura do espaço-tempo. Podemos deduzir, por generalização, que as demais 3 “forças” também não são forças de modo nenhum. Os físicos unificaram as três forças, menos a gravidade – meio caminho andado, portanto. Mas talvez trata-se de olhar por outro ângulo. Tudo é energia (em busca de mais de si), a matéria-luz decai em espaço; por outro ângulo, tudo é espaço condensado, concentrado, para dentro de si! Assim, a mesma “força” que mantém o núcleo do átomo unido, por exemplo, é a energia produzindo uma gravidade, uma queda para adentro de si no espaço. Nossa formulação, junto com a equação acima, reduzir tudo a espaço, formas de espaço, resolverá em outro capítulo todas as polêmicas científicas da física.

 

ENERGIA

Na Lógica de Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia, mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social. Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo – massa é energia, a energia-massa (ou a “matéria” sem massa que tem energia, como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.

O Ser é energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições, veremos no decorrer do texto.

A ciência oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da energia-valor na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do valor-energia e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).

Cada modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que a anterior na captação energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social suprassume aquele. Mas energia é insuficiente, pois, como o movimento, seu igual, não se sustenta sozinha.

 

ESPAÇO-TEMPO: O ELEMENTO PRIMEIRO

Vários filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade. Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter etc. Com o desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor, embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.

Raciocinemos juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado, condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de espaço e tempo faz-se necessária).

É possível supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto, este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se demonstrem falsos.

A tendência de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo menos lógico-ontologicamente .

Diz o princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se, digamos, condensado.

Demócrito afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda: há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se expressa também na matéria, com ou sem massa.

Tal modo de ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive, contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica). Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.

O espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são dois.

O Ser, enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia em busca de mais energia aparece como para si.

Espaço-tempo e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma identidade.

Espaço-tempo, este sendo aquele, apenas um, equivalem ao sincrônico-diacrônico, processo-estrutura e o Ser como histórico, mas, derivado, Ser é histórico-geográfico.

Quando se diz “a verdade está no meio” (na realidade, no todo contraditório em evolver), diz-se mais do que se pretendia: a verdade está, de fato, no – Meio, no espaço. Nossa Arkhé.

Como se verá, porque tudo = tudo, o primeiro não necessariamente é primeiro no tempo.

Descobrimos que espaço é matéria, incluso luz e campo, assim como a matéria, incluso luz e campo, é equivalente ao espaço. São diferentes e opostos que são também apenas um. Uma parte do fato de isso ser descoberto apenas agora deve-se da maturidade social e científica; outra parte, porque eruditos, doutores, sempre têm de discordar, nunca concordar, dos demais ao mesmo tempo em que evitam a qualquer custo qualquer risco real na teoria. Assim, quase se descobriu este fato novo por várias vezes, faltando a ousadia. Vejamos Aristóteles na sua Metafísica que fez longa escola:

 

E comprimento, largura e profundidade, não substâncias: a quantidade não é substância, mas é substância o substrato primeiro ao qual inerem todas as determinações. Mas se excluímos cumprimento, largura e profundidade, vemos que não resta nada, a não ser aquele algo que é determinado por eles. (Aristóteles, 2002, p. 293)

 

Nem todo olho, mesmo um bom, consegue sempre ver o que está diante de si. O salto exige ousadia, portanto. É preciso explicar de modo correto, dizer que o aparente flogisto é, na verdade, gás oxigênio, por exemplo.

 

SER, MATÉRIA, MATERIALISMO

Ser, puro ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação, sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque cai dentro de si mesmo (o espaço é, na verdade, o sem qualidades, a transparência transparente).

Aqui, por força negativa da abstração, nenhum movimento.

A matéria, aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da energia. A própria energia é matéria, pois é material. Ademais, Hegel demosntrou que a substância (matéria, espaço condensado) é igual, está presente, nos acidentes, nas propriedades (massa), são apenas um como dois.

 

MOVIMENTO

Movimento, puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.

O movimento é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar, movimento. O movimento e a estabilidade estão, no sincrônico, em unidade, A=A e não-A, mas também é claro que o movimento antecede o estável, A=A… e não-A, no diacrônico.

A contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.

Qual é, então, a causa central do movimento? Se, além das três dimensões, finitas, temos a quarta dimensão espacial, ponto do infinito, base da energia, a matéria e a luz caem em tal dimensão como em si mesmas. Eis a explicação metafísica científica, materialista, do mover.

 

DEVIR

A verdade da matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o devir.

O devir é mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.

De imediato, a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o outro, são apenas um.

Ao movimento corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.

 

 

 

O COSMO, O SER

 

É necessário uma concepção geral de mundo, do Ser. Como diz Aristóteles, o Ser se diz de vários modos: Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si, Ser é espaço condensado (concentrado, formas de espaço), Ser é espaço-matéria, Ser é trabalho, Ser é produção, Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico, Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório. De modo geral: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= luz = campo = massa), (no nível físico, há em principal identidade sobre a unidade dos diversos; nos níveis acima, ganha algum relevo, ainda subordinado, a unidade dos diversos). Se tudo é igual a tudo, logo tudo é um, ainda sendo também diverso dentro de si.

 

1.  Ser (tudo) é energia em busca de mais energia ou mais de si.

O senso comum orientalista diz que tudo é energia. Tendo algum fundamento, o mais correto é afirma que é energia em busca de mais de si. Um corpo com energia-massa atrai outros para si com a curvatura do espaço. Muitos animais começam a reprodução na primavera, quando aumenta a incidência de luz solar. É muito claro que a vida singular é energia em busca de mais energia; isso foi considerado no homem enquanto animal e enquanto indivíduo – mas também vale para a história de toda a sociedade. Assim, somos ainda a civilização nível zero, ou melhor, 0,75, na escala de Kardashev, porque sequer dominamos a energia no nosso planeta.

A ciência primeiro descobriu formas de energia, depois as unificou com o conceito apropriado. Os físicos e químicos dizem que a energia não existe, apenas um conceito útil; mas o conceito necessário é, também, real. Contra o empirismo, há a energia, em geral, que podemos deduzir de suas formas aparentes.

Graças a Einstein podemos deduzir que o Ser, o cosmos, tem por pulsão ser energia em busca de mais de si mesma, algo difícil de descobrir na cosmologia. Já o que energia, no fundo, de fato é, sua verdade, será exposto no próximo ponto.

Para paladares marxistas, afirmamos que energia em busca de mais de si revela-se no capitalismo como valor em busca de mais valor, dinheiro em busca de mais dinheiro.

 

2.  Ser é espaço condensado (concentrado, formas de espaço).

O mais simples no universo, o mais sem determinações e qualidades, o mais abstrato – o espaço. Ele é o primeiro lógica e ontologicamente, além de talvez no tempo. O espaço é a transparência transparente e, ao mesmo tempo, com as maiores características como infinito (debateremos qual infinito), o puro, o indivisível etc. O átomo é o maior, o espaço, não o menor. Além disso, energia é espaço. Curioso que uma xícara, o café nela, o bebedor da substância etc. são todos espaço condensado, concentrado, para dentro de si.

 

3.  Ser é espaço-matéria.

Espaço e matéria são vistos como diferentes e opostos. Este é ativo; aquele, passivo. Mas isso está prestes a mudar: matéria é espaço, embora não seja; espaço é matéria, embora não seja. A união de ambos permite o movimento. A matéria, ou a luz, decai em espaço; e este tem propriedades semelhantes à matéria, como a ter energia.

 

4.  Ser é trabalho e produção.

Lukács em sua metafísica disfarçada apenas de ontologia, certa matéria interna àquela, diz que o diferencial do homem é o trabalho, a categoria fundante do ser social, mais do que biológico. Mas é necessário generalizar, pois há trabalho no reino da vida e da não vida. Os animais necessitam de um esforço coordenado para adquirir mais-energia do que o gasto na sua aquisição (caça etc.). As células produzem mais-energia do que exigido para produzi-la. Uma estrela, como o Sol, funde átomos por meio da gravidade, produzindo elementos mais pesados, perdendo energia no processo. Temos a entropia e energia enquanto “capacidade de trabalho”.

Em sua metafísica, Aristóteles toma o artesão, tão comum em sua sociedade, enquanto modelo para suas conclusões. Assim, alcança as quatro causas e a ideia do primeiro motor, o artesão que move o mundo. Influenciado pela forte propaganda pela disciplina do trabalho no socialismo “real”, Lukács faz algo semelhante em sua metafísica ao colocar o trabalho como a categoria fundante do complexo ser social. Por as duas concepções serem mecânicas, são limitadas também, erradas e certas, não orgânicas. Ambos generalizaram de modo parcial ou de modo equivocado. De qualquer maneira, o trabalho-produção é algo próprio de todo o Ser, para além do trabalho humano social. Veremos que, por exemplo, também ambos confundem, por exemplo, teleologia orgânica com o modelo mecanicista do trabalho humano.

Façamos, agora, em complemento, uma digressão sobre o ouro, o dinheiro por excelência. Ele tem altíssimo valor porque para tê-lo exige-se muito trabalho humano e muito tempo de trabalho. Ora, o ouro exige muito trabalho por ser relativamente raro, pois exige muito também trabalho-energia-tempo para o processo estelar criá-lo, produzi-lo.

 

5.  Ser é histórico em desenvolvimento e geográfico.

Entre as mais importantes bases científicas jamais criadas é a descoberta de que tudo é feito de história, em processo e desenvolvimento. Mas os fatos e o evolver nunca ocorrem no completo vácuo, por isso o cenário importa. O ambiente, o lugar, o espaço etc. também tem dinâmica, movimento e história.

 

6.  Ser é totalidade integrada em automovimento contraditório.

Ser é totalidade; este, em movimento, não apenas repetitivo, circular, pois também como se uma espiral e um evolver. Ademais, tudo está cheio de contradição; equilibra-se nesse paradoxo real, concreto.

No fundo, no fundamento, o Ser é integração (auto)relacionada em processo.

 

 

AS LEIS GERAIS DA METAFÍSICA MATERIALISTA

 

Há três leis gerais do Ser:

I.  Toma-se como energia em busca de mais de si.

Isso considerado o espaço-matéria; este em sentido amplo, como centro. No social, vale a seguinte máxima: não se faz civilização plantando alfaces. Nesse sentido, até o café e o açúcar do Brasil e a batata americana cumpriram papéis importantes no avanço da humanidade. Os senhores de escravos brasileiros davam feijão aos escravizados para que tivessem energia de trabalho.

Bem observado, esta é a lei primeira.

 

II. Ir-se do simples ao complexo.

Hegel e Engels demonstram que o simples é tanto simples quanto complexo, como uma célula viva, A=A e não-A. Ora, também, ao mesmo tempo, vai-se do simples ao complexo, A=A e… não-A, como do ente unicelular para um pluricelular. Tal é movimento geral, lembrando, no entanto, que a entropia, se considerado como universal, não é medida de desordem, uma confusão comum.

 

III.           Encaminha-se à interconexão universal.

Tanto Hegel quanto, séculos depois, Mario Bunge afirmaram que toda a realidade é um sistema orgânico, em que as partes apenas têm sentido em suas relações, integrados – exceção, dizem ambos, no aspecto físico ou no mecanismo. Para eles, a partir do aspecto químico já há conexão sistemática. Se assim é, vai-se da desconexão rumo à interconexão universal. Mesmo assim, mesmo isso sendo aprofundado com o aumento da complexidade do Ser, fruto da energia em busca de mais de si, talvez o mundo físico puro tenha uma conexão interna oculta e “leve”, com as partes independentes entre si apenas de modo aparencial – ou, ainda, isso se desenvolve como evolver cósmico.

Os átomos individuais são instáveis por suas energias e matérias, logo necessitam fazer ligações químicas com outros. Compostos cada vez mais complexos surgem até fundar-se a vida. Esta integra-se e desenvolve-se até fundar o ser social, a humanidade. Na física, a gravidade toma tal tarefa para si.

O erro dos marxistas que intuíram a conexão global de tudo é não ver isso como lei de movimento, como processo, como evolver. A coisa já seria dada e fixa.

 

Os três aspectos – as três leis do movimento – estão mais do que ao lado um do outro ou juntos, pois um está dentro dos demais, derivando-os. A energia em busca de mais de si faz o material cada vez mais complexo que exige novas interdependências, interconexões.

As três leis são, no nosso universo, absolutas, mas seus entes falham muitas vezes em cumprir tais metas; logo o absoluto é também relativo.

O Ser, a matéria, tem três modalidades internas, cada uma mais complexa do que a outra anterior – inorgânico, orgânico ou vida (biologia) e social ou humano. Os mais avançados são dependentes do nível ontológico precedente, como a biologia depende da não vida. O inorgânico, o pôr do outro, tem como suas as três leis gerais acima postas e expostas; o biológico, o pôr do mesmo, tem leis específicas ditas abaixo, em seguida; e Lukács sistematizou as da sociedade, o pôr do novo, como demonstramos. Em síntese, tornar-se assim as leis de movimento:

O inorgânico e o Ser em geral:

 

1.  Energia em busca de mais energia;

2.  Do simples ao complexo;

3.  Ruma-se para maior interconexão.

 

O alto desenvolvimento deste, de tais leis materiais, leva ao salto para a vida. Na biologia, em específico:

 

1.  Processo de diversificação das espécies;

2.  Afastamento das barreiras do inorgânico;

3.  Cada vez mais capaz de lidar com externo.

 

A segunda lei de desenvolvimento foi já descoberta por Lukács enquanto as demais estão de alguma forma ou de outra existentes desde Darwin. O alto evolver da vida leva ao salto para o ser social. Em resumo, uma vez mais, no homem:

 

1.  Produtividade crescente;

2.  Afastamento das barreiras naturais;

3.  Tendência à unificação global como espécie.

 

O alto desenvolvimento do inorgânico realiza-se em parte e tendencialmente no biológico; em relação ao inorgânico, o biológico é ativo como energia em busca de mais energia, enquanto aquele é, de modo relativo, passivo. O biológico realiza-se em parte e tendencialmente no social, pois este é mais capaz de lidar com o ambiente e com o externo.

Tais aspectos gerais do Ser ligam-se bem com os três aspectos gerais do ser social em Lukács; as leis da humanidade são: 1) produtividade crescente – energia em busca de mais de si; 2) afastamento das barreiras naturais – do simples ao complexo; 3) unificação da espécie global – aumento das interconexões. Ou, outro aspecto: 1) produção, trabalho – energia em busca de si; 2) sociabilidade – do simples ao complexo; 3) linguagem – interconexão. A ontologia de Lukács está, portanto, subordinada, em sentido positivo, à nossa ontologia geral e metafísica. Suprassumimos – suprimimos, elevamos e conservamos – o lukacsianismo, elevamos a teoria a um nível superior.

Vejamos agora a ontologia geral, e do inorgânico, e sua expressão no biológico. A energia em busca de mais de si relaciona-se com a capacidade cada vez maior dos seres vivos de lidar com o externo, como passar a controlar a própria temperatura, obter novas habilidades de caça etc. O caminho do simples a complexo ocorre por meio do aumento de diversificação das espécies, por exemplo. O aumento da interconexão é revelado na lei descoberta por Lukács, o afastamento das barreiras do inorgânico, como animais que se alimentam de outros animais, estes herbívoros, que por sua vez se alimentam de plantas, estas últimas mais próximas e ligadas à inorganicidade. Claro é que expomos de modo simples e quase esquemático; vejamos um exemplo menos abstrato; o olho surgiu de modo independente por 6 vezes, talvez mais, na história da vida, pois era necessário que surgisse com algo do tipo no desenvolvimento e na diversificação das espécies; isso é energia em busca de mais de si, ou, no concreto, maior capacidade de lidar com o externo; mas também é uma forma de aumentar as ligações, interconexões.

 

O “OUTRO LADO” METAFÍSICO

Parmênides dividiu o mundo em Ser permanente, perceptível apenas à razão, e não-Ser móvel, empírico; depois, Platão separou o mundo entre o mundo da Ideia, das Formas, e o mundo sensível, impermanente; em seguida, Agostinho separa a cidade de Deus, fixa, e o mundo instável, a cidade dos homens. Apenas separam, sem unidade, ao modo idealista. Nossa metafísica científica vê um colateral, um aspecto dentro do próprio mundo, necessário se observamos o infinito (similar a um círculo sem começo nem fim) no finito universo, a origem do movimento e do tempo, o valor real invisível na economia e a energia em geral abaixo de suas formas particulares – chegamos à quarta dimensão, não empírica, do espaço, dimensão para dentro, para dentro de si. Assim, o “outro lado” típico do idealismo é, de fato, um outro lado, a quarta dimensão espacial, responsável pela energia, pelo tempo e pela infinitude. A teoria moderna exige e até intui a dimensão extra, perceptível pelo trabalho teórico-filosófico. Talvez uma causa do movimento eterno seja que a matéria, que aparenta possuir três dimensões, cai o tempo todo na quarta dimensão como em si mesma, assim como a Lua está caindo sempre na Terra por sua energia-massa-gravidade. Resolve-se o metafísico problema do movimento e sua origem. Até aqui, a existência do “outro lado”, em duplo sentido, sempre foi uma proposta do idealismo, não do então passivo materialismo.

Um dos momentos que facilitaram tal dedução, a quarta dimensão “espacial”, ocorreu ao ler O Capital livro I, pois, após afirmar que podemos virar e desvirar a mercadoria, mas nenhum átomo de valor encontraremos nela, Marx afirma: “O valor do ferro, do linho, do trigo etc., apesar de invisível, existe nessas próprias coisas...” (Marx, O capital I, Boitempo, 2013, p. 170) Eis uma pista metafísica, ao mesmo tempo sensível e suprassensível, como afirma o próprio alemão.

 

METAFÍSICA OU DIALÉTICA?

Engels contrapõe a dialética à metafísica. Para ele, aquele foca no movimento e este no estático; aquele vê o processo enquanto este a coisa. Mas a metafísica de Aristóteles quer saber a origem e a natureza do movimento. Ora, a dialética é o exato oposto da metafísica, mas os opostos têm uma identidade interna, logo são também o mesmo; identidade da identidade e da não identidade. Por outro ângulo, elas são iguais porque possuem os mesmos objetos de estudo – o mundo, o Ser e as suas categorias.

Metafísica é ir além, ou por debaixo, da física, das formas, ver o essencial da existência. Associar tal matéria à religião é crítica vulgar do iluminismo ao mundo medieval. De qualquer modo, devemos saber a natureza do movimento, algo ainda não respondido dentro dos limites da ciência.

Temos, aqui, a metafísica científica, projeto abandonado por Kant. Evitar a metafísica é ceder lugar ao atraso religioso, que deseja ser a única visão geral de mundo. Engels, um dos maiores gênios da humanidade, cedeu, sem perceber, ao kantismo, contra a dialética, ao negar a metafísica materialista, dialética e objetiva.

 

O ABSTRATO É O CONCRETO EM PROCESSO

A investigação do movimento continua para reforçarmos nossas teses. A equação categorial, ou qualitativa, acima, diz que o abstrato é o concreto em processo, em movimento, em evolver, em devir. Na metafísica, o abstrato domina o concreto. Aqui, isso é revelado pelo fator de igualdade e conversão, o movimento. O concreto cai no abstrato, movimentando-se, como na quarta dimensão, como queda em si próprio.

Tal fórmula tem expressões mais diretas, em nível abaixo, como F=ma, força é igual à massa vezes a sua aceleração, ou, também, E=mc2, energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Nos dois casos o movimento, para nós, tem importância ainda maior do que dada pelos físicos, nada tem de passivo. Pois a “força” e a energia, típicas da quarta dimensão, em reação ao concreto, como a massa-espaço, dão origem ao movimento. Na quântica, temos E=hv, energia do fóton é igual à constante de Planck vezes a frequência da onda. O cálculo clássico v=s/T pode ser expresso como T=s/v, tempo é igual ao espaço sobre a velocidade. O momento linear é igual à massa vezes a sua velocidade, p=mv. Os exemplos são muitos. Assim, demonstram tais casos, o abstrato, além de igual ao concreto, também é equivalente ao processo; pois, por exemplo, o decaimento de átomos gera partículas com massa (concreto) menor já que esta se tornou energia (abstrato) em forma de maior velocidade (processo) – vemos aí também que movimento = energia = massa-matéria etc.

A quarta dimensão espacial, por ser a casa do infinito, não tem borda, limite, fronteira ou outro. Está, assim, ao mesmo tempo dentro e fora desta realidade. Eis a falha dos filósofos gregos ao saberem a origem do real e do seu movimento.

Quando Hegel diz que o movimento é a unidade de espaço e tempo, deixa de perceber que o tempo é o outro de si do espaço, a manifestação da quarta dimensão espacial.

No processo caótico da pesquisa e do estudo, algo próprio do método dialético, que não tem passo a passo, lidei com os vários fatores singulares, como as equações acima, até que, por “acaso” tive a “sacada” ou “insight” quando reli um trecho de Marx em O Capital, livro 2. Ei-lo:

 

O capital, como valor que acresce, implica relações de classe, determinado caráter social que se baseia na existência do trabalho assalariado. Mas, além disso, é movimento, processo com diferentes estádios, o qual abrange três formas diferentes do processo cíclico. Só pode ser apreendido como movimento, e não como algo estático. Aqueles que acham que atribuir ao valor existência independente é mera abstração esquecem que o movimento do capital industrial é essa abstração como realidade operante (in actu). (Marx, O Capital - livro 2, 2014, pp. 119, 120)

 

O valor (abstrato) é o capital (concreto) em movimento (processo). Assim, pretendo convencer os marxistas da veracidade desta ideia – de seu ortodoxismo, além do seu valor para todo o Ser – e do conjunto de nossa metafísica marxiana.

Vale como nota notar que a mente, o ideal, a ideia ou a consciência (abstratos) não são coisas, pois são, na verdade, resultado do cerebral e do meio (concretos) em atividade (processos). É a busca do permanente, querer a repetição, na mudança.

 

O ABSOLUTO

Aqui, pretendemos fundir os opostos eleatas e jônicos. Hegel, idealista, pensou o absoluto como o Espírito, que sai para fora de si mesmo como natureza; na economia, Marx, materialista, pensou a substância valor. Nós pensamos em energia, ou melhor, no espaço-matéria. Os antigos pensavam do que o mundo é feito como, por exemplo, água ou ar, pois são simples, transparentes e abundantes. O que é mais simples, mais vazio, com menos determinações? Ora, o espaço é isso. E, com a quarta dimensão, ele põe categorias-determinações em si próprio como o da infinitude. Vejamos como o espaço tem os atributos dados a algum Deus:

 

Esta extensão infinita e imóvel (que é percebida tão seguramente na natureza das coisas) não tem só a aparência de algo real (que comentaremos adiante), mas também de algo divino, quando enumeramos os Nomes divinos ou atributos que lhes convém exatamente, os quais darão ainda mais razões para crer que ela, com tantos atributos notáveis, não pode ser nada. Tantos são os que pensam assim, que os Metafísicos a assimilam ao Primeiro Ser: Uno, Simples, Imóvel, Eterno, Completo, Independente, Existente por Si, Subsistente por Si, Incorruptível, Onipresente, Incorpóreo, Aquele que Penetra e Envolve Tudo, Ser por Essência, Ser em Ato, Ato Puro. Pelo menos vinte atributos existem para designar habitualmente a Potência Divina, e todos convêm perfeitamente a esse Lugar infinito interior que demostramos existir na natureza das coisas; sem esquecer que ela, a Potência Divina, é chamada pelos cabalistas de “makom”, ou seja, lugar. (More apud Jammer, Conceitos de espaço, 2009, p. 73)

 

Ele, assim, ESTÁ no MEIO de nós… – E a verdade ESTÁ no MEIO.

Pelo menos em nosso universo; o princípio, o absoluto, a essência não é o primeiro no tempo, mas primeiro ontologicamente, ou seja, a matéria-luz decai em espaço. Tudo é espaço concentrado. O espaço é a transparência transparente. O absoluto, dito de modo hegeliano, é resultado.

O meio é o meio – também. A física moderna diz que a luz enquanto onda precisa de um meio que seria um campo próximo; cada tipo de partícula e matéria com seu próprio campo. Nesta obra, colocamo-nos contra a posição majoritária, pois, como matéria, luz e espaço são o mesmo, sendo ainda diferentes, a luz, por exemplo, se propaga no espaço, não num campo. O chamado campo nada mais é que espaço condensado, a partícula ou a onda faz o campo correspondente e próximo por ser espaço concentrado, para dentro de si.

Bohm, o físico dialético, afirma:

 

Ainda não se pode dizer que tenha sido exaurido o problema de qual meio material, se há algum, transporta o campo eletromagnético. (…) Em vez disso, simplesmente se supôs a existência de campos, sem referência direta à questão de se o éter existia ou não. (…) levado adiante por Einstein e hoje sustentado pela maioria dos físicos (Bohm, 2015, pp. 118, 119)

 

Para Einstein, tudo poderia ser reduzido a campos que permeiam todo o universo. Para nós, tudo é reduzível ao espaço ou espaço-tempo. Quando a ideia de éter enquanto meio caiu, criou-se a gambiarra teórica do campo; mas, se usarmos a velha navalha, o conceito de espaço pode cumprir tal função. Por exemplo: a expansão do espaço leva à expansão da onda de luz, que desvia para o vermelho.

 

 

 

A VITÓRIA DO MATERIALISMO

 

A filosofia grega já se inicia materialista, rompendo como a mitologia enquanto explicação válida. Mas o idealismo de Platão e Aristóteles, com muitos outros como os pitagóricos, tomaram o papel mais ativo e criativo – o idealismo vencia todas as disputas. Platão propôs que os escritos do materialista Demócrito fossem destruídos; logo vemos que a corrente concreta contra a ideal sempre passou por marginalidade como ocorre hoje com o materialismo marxista. Hoje, na física quântica, surgiu a hipótese absurda de que a realidade não em existe por si, mas para nós. Para nossa alegria, tal hipótese não é majoritária.

Em resumo extremo, o idealismo diz que as ideias fazem a realidade, incluindo um mundo das ideias ou um céu místico etc.; o materialismo, ao contrário, diz que a matéria faz a ideia, e esta é uma forma bastante desenvolvida da matéria, ou seja, a cabeça segue o chão que os pés pisam. Para Marx, o campo das ideias, por ser material para ele, não é passivo, pois a criatividade, a decisão, a disputa de consciências também importam.

O início da ciência atual teve de afirmar-se perante a visão de mundo medieval, da Igreja. Para isso, para atender a demanda por novos conhecimentos, formaram-se duas teses de mediação: 1) conhecemos Deus por suas obras, logo conhecer a natureza agrada a Ele (Aquino); 2) o “como” funciona o mundo deve ser interesse da ciência, mas o “porquê” ele assim opera deve ser obra da religião (Belarmino). Para sobreviver e prosperar, os cientistas absorveram como parte de suas personalidades tais resoluções. Por outro lado, muitíssimo mais fácil ver as regularidades, as repetições, o “como” do que o “porquê” tudo é de fato tal como é.

Até o gênio Feynman, no século XX, coloca-se contra a filosofia e a busca da razão de ser das tantas leis descobertas:

 

Outra coisa que pode acontecer é que, afinal, caso tudo venha a ser conhecido ou se torne muito sem graça, desapareça gradualmente as atenção que se dá a essas coisas sobre as quais falei. Os filósofos, que estão sempre de fora fazendo observações estúpidas, poderão se aproximar, porque não poderemos empurrá-los, dizendo: “Se vocês estiverem certos, poderíamos encontrar leis ainda desconhecidas.” Quando todas as leis forem conhecidas eles terão uma explicação para elas. Por exemplo, há explicações sobre a razão de o mundo ser tridimensional. (…) Se tudo for conhecido, haverá alguma explicação de por que essas leis são certas. Mas essa explicação estará num contexto que não poderemos criticá-las, argumentando que este tipo de raciocínio não nos permite avançar. Haverá uma degeneração das ideias, do mesmo tipo que os grandes exploradores sentem que ocorre quando turistas começam a chegar a uma região. (Feynman, 2012, p. 179)

 

Ele, sem saber, estava sendo colonizado pela religião, que manda a ciência evitar os assuntos de maior profundidade, da razão de ser do mundo.

Daí vem, também, a tradição de igualar a metafísica e o misticismo, a religião, ao anticientífico; até marxistas caem nesse engano. Para Martin Heidegger, metafísica é saber porque há algo (e o Ser) em vez de nada; para Aristóteles, o estudo metafísico é a filosofia primeira, por que o mundo é assim, qual e se há a causa do movimento, qual a natureza essencial da realidade. Quem é contra tais metas científicas e, ou seja, metafísicas? Toda escola de ciência adota alguma variante metafísica, mesmo que não tenha consciência disso.

A segunda grande vitória do materialismo é a descoberta de que os átomos são partes vitais da existência, que há partículas fundamentais. Para os atomistas, as partículas tinham apenas substância, forma e grandeza; depois, Platão supôs, com algum exagero, que cada elemento básico – fogo, terra, ar e água – tinha uma forma peculiar de esfera, como a esfera do fogo ser formada por triângulos, figura mais semelhante a uma chama. Hoje, teoriza-se as pequeníssimas cordas vibrantes e de modo variado articuladas, fechadas ou abertas etc., com 11 dimensões, como hipótese (teoria das cordas) para a forma real das partículas. Tanto ontem como hoje, faz-se ao mesmo tempo ciência e filosofia; a diferença é que hoje temos mais ferramentas, como a complexa matemática moderna. De qualquer modo, acrescentamos, os átomos são acompanhados por ondas. O atomista Demócrito disse que apenas há o ser (átomo) e o vazio (não ser); além disso, afirmou que o ser vem do não ser! Hoje, sabemos que fótons e partículas virtuais surgem do “nada”. Mas, para nós, o não ser, ou nada, ou vazio é o próprio espaço, com existência ontológica.

A terceira vitória do materialismo ainda está incompleta. O Big Bang foi o começo de tudo? Então, Deus pode ser a sua causa primeira, o primeiro motor. De qualquer modo, discordamos, o que teria criado Deus já que tudo tem uma origem? É chegada a hora de substituir tal teoria por uma que a mantenha viva, mas superada, como a concepção de que o universo ora expande-se e ora contrai-se. Sobre a primeira vez que isso aconteceu no passado, veremos em outro momento; antecipamos que a quarta dimensão põe o finito universo nosso.

A quarta vitória é a teoria da evolução e a genética. Antes, Platão e Aristóteles pensavam haver um conceito por detrás da realidade, uma ideia. Parece evidente: um filho é como seus pais, logo deve haver um texto fixo, mas ideal, dando forma àquela matéria. A genética pousou tal concepção no chão da realidade; temos os genes, o DNA e o RNA. A vida, de fato, possui informações básicas e faz cópia delas; mas isso de modo materialista, não idealista. Além disso, as cópias podem ser imperfeitas, levando a diversificação de espécies por seleção dos mais aptos a sobreviver.

A quinta vitória é o marxismo, a concepção materialista da história. Por não ser o foco, apenas indicamos o grande acerto. O homem precisa produzir para se reproduzir, logo trabalha de certo modo e com certa organização social.

A psicologia moderna, como Freud, Wallon, Piaget etc., além da neurociência e da psiquiatria, reforçam o aspecto psíquico como material, como ligado ao meio e à experiência, ademais também ativo. A busca do prazer e, em especial, do sexo, move a psique humana de modo singular. Nenhuma alma, separada, existe para além da complexa organização cerebral.

Toda anticiência, ligada à religião, procura atacar tais vitórias. Os religiosos dizem que a Terra é plana, que a descoberta dos dinossauros é uma farsa, que Darwin e Marx são satanistas, que há um Design inteligente na natureza, que Freud faz pseudociência ou é um tarado, que é absurdo o universo surgir de uma “explosão”. No fundo, estão negando a história universal.

Uma ciência correta causa espanto, muitas vezes positivo, e também uma negação desesperada contra suas ideias. Isso é próprio quando alcançamos um grande nível de verdade. A teoria de Darwin e a moderna biologia foram atacadas porque feriam de morte a religião. A teoria marxista foi negada com violência por religiosos, pelos ricos e pela classe média desejante de ser burguesa numa sociedade que não é a forma eterna, mas transitória. A teoria de Freud foi negada pela prisão mental de muitos, incapazes de aceitar sua própria mentalidade, além de ir contra a religião ao afirmar o sexo com sua grande importância. A teoria de Einstein derivou a teoria do Big Bang, além das modernas teorias do universo, para desespero de cientistas e professores ligados à física clássica e da religião com sua noção de mundo teísta, com um criador.

O socialismo, se vencer, ao dar razão a Marx e Engels, colocará o materialismo no seu devido lugar, no auge da cientificidade.

 

ANTINOMIAS DE KANT CONTRA O MATERIALISMO

Kant, o organizador e o desenvolvedor do senso comum, apresentou ataques contra o materialismo, suas famosas antinomias, que são teses opostas que parecem ambas verdadeiras. Vejamos como nossa concepção, espaço = matéria etc., resolve isso nas questões físicas.


1.  O universo é finito ou infinito no espaço e no tempo?

Ora, a quarta dimensão, responsável pelo infinito do finito é para dentro, para dentro de si – o finito é uma parte de dentro do infinito (Hegel), o infinito é como um círculo (Hegel) sem começo e sem fim – não como uma linha reta que pode ser sempre maior – no espaço e no tempo, sem borda. O infinito “circular” exige quarta dimensão.

O próprio espaço e talvez o tempo são finitos porque têm origem e desenvolvimento, história. Em três dimensões mais o tempo o universo é finito, mas a infinitude real, qualitativa e intensiva no lugar de quantitativa e extensiva, não tem começo nem fim.

 

2.  A matéria é ou não divisível ao infinito?

A matéria apenas é estável sob certas proporções, do contrário, decai em outras partículas. Se dividirmos as partículas ao “infinito”, logo as dissolveremos em espaço, pois este é o mesmo que a matéria, pois esta é espaço condensado.

 

3.  Há ou não uma causa primeira?

O espaço é causa sui, causa de si mesmo, automovente, logo substância, contanto que mantenhamos a pluralidade (energia, movimento, tempo, matéria etc.). Junto disso, temos a quarta dimensão espacial, provável causa do movimento. Hegel disse que a causalidade é recíproca, causa torna-se efeito e vice-versa, o que apenas encaminha a solução.

No vazio infinito inexiste tempo e espaço em si, por isso nem causalidade. Kant afirmou nossa impossibilidade de pensar o absoluto, por nossa limitação mental. De fato, nossa mente é feita para lidar com nossa realidade, nosso universo. A noção de espaço e tempo de modo algum é a priori, mas uma adaptação ao real que tem o próprio espaço-tempo. Mas podemos entender o absoluto de modo indireto, com metáforas e analogias – e por conceitos, categorias sem a imagem limitada. Assim, o infinito hegeliano é simplesmente o infinito, mas podemos facilitar sua compreensão por meio da imagem do ciclo sem início nem fim, envolto em si próprio – produzindo o finito de si, dentro de si, desabando-se em si mesmo.

O problema de se existe ou não uma causa primeira falha porque pensa que uma coisa ou fato produz outra coisa ou outro fato apenas. Em verdade, a ideia de causa primeira leva a que a primeira causa e o primeiro efeito não vêm da parte, de uma coisa que passa para outra particular, mas da totalidade vazia. Toda a causa no todo. É o infinito vazio como totalidade que produz o início, a primeira causa.

O infinito, quarta dimensão, desaba para dentro de si no finito, mas a causalidade parcial aparece como um movimento para fora, não para dentro, expansivo e não intensivo.

A ideia de fato ou causa singular originar outro fato ou causa singular é espaço-temporal. Digamos de outro modo: a totalidade vazia do infinito antes do universo era puro caos, sem causalidade; e não tendo lei alguma, teve a lei do caos, de si, de passar a si mesma para a ordem, o nosso cosmos com espaço-tempo e matéria-luz – por não se suportar, por se autoanular. Assim, a primeira causa ao mesmo tempo não é uma causa, mas fruto de um sistema não sistemático, puro de acasos e aleatoriedade caso possamos expressar o antes de tudo de tal modo por aproximação. O acidente ou o acaso é uma causa acidental, uma concessão da probabilidade.

 

4.  Há liberdade humana ou apenas leis rígidas, causais, do universo?

Com a física quântica, redescobrimos o que já Marx sabia, a existência é a fusão de ordem e caos, de necessidade (determinismo) e, dentro de si, acaso ou contingente – na, afirmamos, probabilidade. Para Hegel, liberdade é reconhecer as necessidades, como as necessidades históricas. Marx diz que o trabalho é o reino da necessidade no socialismo que sustentará e dará base para o reino da liberdade no cotidiano. A necessidade é a base da liberdade parcial ou plena. Tal antinomia é mais própria do homem, da humanidade; mas dá oportunidade para debatermos de modo mais amplo.

Lukács afirma que liberdade é uma categoria apenas social, humana. Com o avançar da história da humanidade, com o aumento da produtividade do trabalho, o homem é cada vez mais livre, mais individual, com mais opções.

Vejamos uma nova conclusão, própria. Em primeiro lugar, a liberdade é objetiva, não subjetiva. A realidade dá opções, tem opções para si própria. A liberdade subjetiva é tomar a decisão para a qual já tem uma inclinação natural – a liberdade de fazer valer sua necessidade. Se o mundo não oferece a opção típica, de acordo com a personalidade, ou perfil natural, logo se pode escolher entre as opções que melhor expressam o determinismo no ser livre. Aí está o núcleo das soluções dessa polêmica, pois a liberdade é objetiva, do próprio real, antes de ser subjetiva e a confusão se dá por pensar o contrário ou desaperceber um dos polos. Mesmo quando há apenas uma opção, um “o quê”, então “o como” irá se efetivar está em jogo. Assim também, fundindo de fato liberdade e necessidade, superamos visões substancialistas e relacionalistas unilaterais sobre a liberdade. Temos a liberdade dialética.

 

Nem Hegel nem Marx e Engels atacaram de modo completo e de frente a parte física, não social, do problema das antinomias. Com imensa dificuldade poderiam fazê-lo, caso fosse possível, pois a ciência ainda não havia dado as pistas necessárias. Percebemos que as perguntas de Kant, antinomias, estavam erradas, escondiam armadilhas na aparente obviedade, então exigiram esforço histórico e trabalho para desembaraçar os problemas. Por exemplo, se há apenas causalidade ou também liberdade humana oculta que a liberdade pode ser objetiva, não “humana”, do real; se há ou não primeira causa oculta que a causa primeira não é coisa ou fato primeiro, mas uma totalidade, o vazio infinito, quarta dimensão, que desaba sobre si – indo para dentro como se para fora.

Em resumo, primeiro, a dialética é considerar que uma afirmação e sua oposta são ambas verdadeiras, como a primeira causa ser também um acaso, como termos o determinismo da liberdade, como o universo ser finito no espaço mais o tempo estando por dentro do infinito; em segundo, se a verdade está também na afirmação oposta, as duas afirmações são ao mesmo tempo verdadeiras e falsas, pois elas são parciais e unilaterais ao excluir a outra e o todo; isso significa, terceiro, que são, também, nem verdadeiras nem falsas.

 

Em complemento, segundo aspecto, Kant ainda afirma: há três conhecimentos impossíveis – a alma (psicologia), o mundo (cosmologia) e Deus (teologia). Vejamos um por um.

 

1.  Alma (psicologia)

A alma enquanto psique era uma ciência quase nula na época de Kant, mas o século 20 operou uma verdadeira revolução, desde Freud, nessa matéria. Nós temos, hoje, altíssimo conhecimento do espírito humano, faltando apenas uma teoria unificada, mais fácil de produzir.

 

2.  Mundo (cosmologia)

Com Newton, soubemos como atua a gravidade, mas não o seu motivo. Ele disse, sobre isso, que “não elaboro hipóteses”. Assim, usou o conceito de força, mas de maneira parcial, para dar lógica às suas descobertas; mas também considerava duvidosa a gambiarra teórica da força como conceito. Desse tipo de situação, Kant pensava que apenas podemos saber do fenômeno do mundo, não do mundo ele mesmo ou seu “númeno”. Mas Einstein, além de tantas contribuições, chegou à coisa em si da gravidade, que ela é uma curvatura do espaço-tempo, não uma força, causada pela massa-energia. Mais uma vez, o kantismo cai por terra.

 

3.  Deus (teologia)

É impossível conhecer Deus porque ele não existe. O mais próximo disso é o infinito como quarta dimensão espacial, sem começo nem fim, em automovimento, sem imite nem borda, fundante do nosso universo finito e de seu movimentar primeiro; mas que não é separado de nosso mundo, pois está como se dentro dele, apenas relativamente separado.

O Deus real, material, de nossa época, o dinheiro, foi devidamente exposto e conhecido, além de reconhecido, por Marx, em O Capital. O valor invisível, que busca mais de si, causa de si mesmo, substância, tornou-se visível por meio da teoria.

 

Kant ainda apresenta um terceiro aspecto contra o materialismo: as categorias são mentais, para dar sentido à realidade, não reais. Mais uma vez, Einstein deu uma contribuição enorme; pois, para o kantismo, espaço e tempo são ideias do pensamento, mas o físico moderno demonstra que o tecido espaço-tempo existe, há. O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física.

Até hoje, os físicos e os químicos consideram que energia é um conceito necessário, mas que ela não existe, porque não diretamente observável. Os conceitos necessários são o que são por serem objetivos, por existirem no real. Idealistas como Hegel pensavam o átomo não existia, embora fosse um conceito, porque era impossível de ver um. Ora, Einstein – de novo! – demonstra que o movimento aleatório de um pólen sobre uma poça de água, movimento browniano, somente é explicável se a realidade for constituída por átomos. O mundo atómico é, considerado aí a onda, muito mais que apenas ideal.

Devemos considerar a “crise categorial”, que pode ocorrer no campo das ideias ou a crise daquilo que uma categoria expressa. No caso primeiro, a categoria “força”, usada de modo amplo e absurdo como criticou Engels, entra em crise e desuso, de início por meio de Einstein ao demonstrar que a gravidade não é força e sim uma curvatura do espaço-tempo por razão da energia-massa. Energia e campo aposentaram e ainda aposentam a força como conceito; e este livro reforça isso demonstrando que as “forças” fundamentais são campos do espaço condensado.

 

GNOSIOLOGIA OU ONTOLOGIA?

Kant afirma que devemos antes refletir sobre nossa capacidade de conhecer para determinar os limites dele. Ora, Hegel reponde: aprendemos a nadar nadando, sabemos se somos capazes de aprender a nadar tentando, ou seja, sabemos os limites de nosso conhecimento tentando conhecer a realidade, não com reflexões abstratas.

Pelo menos maior parte dos limites do conhecimento são históricos, não cerebrais. Ideias e provas viváveis hoje na ciência eram inviáveis aos gregos antigos. Até certas teses apenas podem surgir hoje, não na antiguidade.

Há, no entanto, dois candidatos a limites de nosso conhecimento. Primeiro, na física quântica, nós podemos saber ou a posição da partícula ou sua velocidade, ou um ou outro, o princípio da incerteza. Segundo, buracos negros não permitem sequer à luz escapar de si, assim não temos seu externo do interno, não temos dados. No segundo caso, talvez simulações de supercomputadores nos salvem.

Há ainda outro fator histórico que impede o conhecer – a posição de classe do cientista ou sua posição diante do mundo. Nunca um economista defensor do capitalismo chegaria às conclusões profundas de Marx em O Capital, mesmo se honesto e rigoroso. Isso tem um reforço estrutural da psique, pois uma vida mais dinâmica e com stress relativo leva a ser mais produtivo intelectualmente, como a macieira produz maçã quando sente-se ameaçada[1].

Enfim, a ontologia é a prioridade do objeto, não a prioridade do sujeito do conhecer, pois é ir até o mundo. A prova de que podemos conhecer o real é que podemos lidar com ele na prática. A ontologia tem uma gnosiologia sua, derivada e, por assim dizer, instável, móvel.

 

 

AS QUESTÕES ABERTAS NA FÍSICA MODERNA

 

Em sua Dialética da natureza, Engels apenas levanta várias questões ainda não resolvidas pela ciência. Muitos pontos foram resolvidos, mas a ciência moderna trouxe novos enigmas. Aqui, iremos um tanto mais longe, pois apresentaremos uma proposta de resolução das lacunas teóricas. A base é nossa equação qualitativa antes exposta resumida em matéria como espaço concentrado. Uma proposta teórica no geral correta deve apresentar soluções para quase todas as lacunas da ciência.

 

1.  Efeito Casimir

Comecemos por uma questão apenas na aparência resolvida, que reforçará na empiria nossa tese. O experimento é este: põe-se duas placas especiais próximas dentro de uma caixa a vácuo. Ocorre que tais placas aproximam-se, revelando uma pressão maior do lado de fora delas, forçando rumo ao encontro de ambas. Seria a prova de uma energia de ponto zero! Partículas virtuais surgem e deixam de surgir do “nada”! Mas o vácuo não exclui o espaço e, teorizamos, espaço é energia – logo flutuações do espaço faz ele se concentrar produzindo as tais partículas. Eis a prova de que espaço é matéria e energia (e luz etc.).

Veja ao autolimite posta pelos físicos e seus filósofos ao focarem na diferença entre espaço e todo o resto no lugar de ver sua unidade, e identidade de fundo, real:

 

Notamos já que na relatividade geral o próprio espaço-tempo tem massa-energia. Mas a massa-energia é o aspecto básico característico da matéria, tal como a entendemos habitualmente. Se até a distinção entre a matéria e o próprio espaço-tempo é problemática, podemos ainda falar de “relações entre coisas materiais” em oposição ao “próprio espaço-tempo”? (Sklar, 2020, p. 60)

 

Há consequências totais de nossa reinterpretação de um experimento. Bohm critica a aleatoriedade da física quântica afirmando que existe um nível ainda mais abaixo, fundamental, subquântico; são, para ele, as variáveis ocultas da causalidade oculta na probabilidade. Neste reino, haveria uma substância e suas entidades, partículas etc. Mas há um grande problema: um nível micro tem um nível ainda mais abaixo, que tem outro mais abaixo, que tem outro etc. – ao infinito, má infinitude. Aqui, para nós, o nível mais fundamental é o espaço, talvez com partículas espaciais (a matéria escura como espaço discreto, particular etc.). Assim, concluímos, flutuações do meio, do espaço, afetam as partículas fundamentais. Um grande problema teórico aparece como com solução óbvia apenas depois de resolvido.

 

2.  Positivo e negativo nas partículas

A ciência da natureza, em geral, foca no como, o caminho mais fácil, e esquece de saber o motivo. O que é positivo ou negativo? Não sabemos, sequer fazemos a pergunta. Na verdade ocorre algo do tipo: algo inteiro, nem negativo nem positivo em si, decai em pedaços, inteiros por si mesmos, que são também partes. O nêutron decai em dois, próton e elétron; um desliza para dentro do outro porque são, no fundo e na origem, apenas um, um algo de fato completo. Assim, são opostos no externo, mas atraem-se porque são o mesmo e semelhantes no interno. Isso vale para vários tipos de decaimento, de opostos que já foram juntos e um, como o elétron e o antineutrino, além dos famosos elétron com próton.

Por que, então, dois prótons se repelem? Ou por que o elétron não cai no próton? Parecem duis perguntas, mas têm o mesmo princípio e resposta. O senso comum pensa o campo como certa camada protetora, o que os cientistas negam; mas o próton é mais do que sua parte “visível”, pois tem um “campo próximo” e, portanto, uma fronteira, um limite. Dois prótons se repelem porque são excessos, desencaixe um relativo ao outro; o mesmo para dois elétrons. Um elétron e um antielétron, pósitron, atraem-se porque são antes, ontologicamente, o mesmo, como se pedaços inteiros de um inteiro. Também assim, o elétron não cai naturalmente no próton porque ambos, sendo pedaços, são ainda inteiros por si, com fronteira própria.

Na química e na física, o próton é tomado como carga +1 e o elétron, -1. Como que dois objetos tão diferentes têm exato a mesma carga com sinais opostos? Que sorte do próton! Em verdade, tal matematização apenas expressa a aparência, enquanto pomos a essência de tal fenômeno.

Isso nos leva à próxima questão.

 

3.  A matéria e a antimatéria no início do universo

A física atual postula que o decaimento do universo em sua expansão original deveria formar a mesma quantidade de matéria e antimatéria, logo elas se atrairiam mutualmente, aniquilando-se em forma energia, de luz – mas isso não aconteceu, pois temos ainda a matéria comum no nosso universo, bariônica. Por quê? Uma resposta é que o universo se contrai e se expande para sempre sem cair nesse estágio inicial. Os físicos tratam de afirmar como evidente que não existiu tal “explosão” ou que há uma pequena diferença, até hoje não encontrada, entre os opostos. Outra resolução, propomos, é que de fato houve mesmo o grande encontro de matéria e antimatéria, destruindo ambos, e a energia resultante disso decaiu rapidamente em espaço, este expandindo-se salvando um pequena parte da matéria e, talvez e longe, da antimatéria do universo.

 

4.  O segredo da matéria escura e da energia escura.

A gravidade extra nas partes mais distantes da galáxia não corresponde com a massa-matéria existente, logo há alguma matéria transparente, invisível, criando a gravidade extra encontrada, uma espécie de cola. Como resolver tal quebra-cabeça? Matéria é espaço condensado, logo matéria escura é uma forma leve de matéria, de espaço (o que está de acordo com a tese semelhante de Marcelo Gleiser[2]). Segunda hipótese, talvez – ou também –, por a matéria ser espaço concentrado para dentro de si, a matéria bariônica e/ou os buracos negros sugam para si mesmos uma parte do espaço, esticando-o, tornando-o tenso, logo com mais energia, logo com gravidade extra.

E a energia escura? O universo está se expandindo, o que sugere uma energia escura, transparente, de repulsão. Se formos logicistas: matéria é energia e espaço; logo energia e matéria escuras são o mesmo, além de opostos, este decaindo naquele. A matéria e a luz do universo decaem em espaço, o que expande o cosmos. Talvez outras causas incluem como o contrair dos universos vizinhos, por ação de seus buracos negros, esticando o nosso.

Pode ser que a diferença de matéria escura e energia escura é que um seja espaço contínuo e o outro como espaço discreto, granulado.

A matéria escura, extra, entre galáxias pode ocorrer porque os buracos negros e a matéria sugam e esticam parte do espaço, gerando nele tensão, logo energia, logo gravidade.

É possível observar também, de modo matemático, se os buracos negros servem de trituradores da matéria, produzindo espaço, que tem velocidade de escape o bastante, ao menos não nos grandes buracos negros, o que exigiria adaptação de nossa formulação universal aqui, como o fato de por isso produzir matéria escura que decai em energia escura (espaço).

 

5.  Entrelaçamento quântico

Descobriu-se, primeiro no cálculo e depois na empiria, que dois fótons que juntos surgem e são separados estão “ligados” mesmo se distantes um do outro, ou seja, se medirmos um aqui e descobrimos que ele está com o spin para cima, logo o outro ali estará com o spin para baixo (antes, ambos estavam no estado de sobreposição, nem para cima nem para baixo em exato). O assunto irritava Einstein, então ele supôs que a teoria quântica estava incompleta. Ora, basta aceitar, de modo materialista, que eles estão de fato em uma “ação fantasmagórica à distância”, instantânea, pois estão ligados por um fio de espaço, por um fio de linha de campo comum.

 

6.  Enigma da fenda dupla

Imaginemos uma placa com duas fendas, duas entradas; se um elétron ou fóton passa por um, logo não deveria passar por outro, agindo como uma partícula que de fato é. Mas, ao passar, vez por vez, várias partículas, elas batem na última placa e forma um padrão de onda, não de partícula! No lugar de baterem em apenas dois lugares, por serem duas fendas, elas batem em vários, como se ondas fossem ainda sendo particular! Às vezes, os físicos se apaixonam demais pela magia de seus mistérios no lugar de resolvê-los. Talvez, algumas partículas não rompam totalmente, apenas de modo relativo, com o espaço ao redor; ou, ao menos, eles têm um “campo próximo” que se afeta pela outra fenda (a partícula passar por uma fenda, mas sofre interferência como se passasse pelas duas).

 

7.  Salto quântico

Um elétron “orbitando” o núcleo está aqui e desaparece, reaparecendo quase ao mesmo tempo ali, em ouro ponto. Como ele saltou, como desparecer e reaparecer “longe” e não percorrer um caminho até o outro local? A posição do elétron depende de si (nível de energia), do núcleo e do seu contexto. Pense-se no lençol esticado; pois bem; ele, sendo o espaço, é concentrado um pouco num canto por uma mão, formando um pequeno “morro”, nossa partícula; se, então, fazemos outro “morro” em outro canto do lençol, aquele primeiro se desfaz, pois houve novo esticamento. Assim, o elétron desaparece aqui e reaparece ali. Outras formas de dizer isso, são estes: 1) o elétron decai, colapsa, em espaço que se reconcentra em outro ponto segundo seu contexto; ou 2) o elétron desaba em neutrinos que se reconcentram em outro local, reformando o elétron mais uma vez.

 

8.  A escassez de buracos negros intermediários

Ainda não encontramos buracos negros de tamanho intermediário nem sequer na quantidade esperada; eis o mistério. Ao que parece, tais entidades cósmicas são produtivas, sugam matéria e… espaço. Por isso, são maiores do que deveriam ser se passivas ou semipassivas.

 

9.  Unificação de campos

Para a teoria quântica de campos, cada partícula é a “ponta”, a expressão de um campo específico e amplo. No real, todos os campos são um porque são apenas o espaço, já que cada partícula é espaço condensado, ou o campo é a forma mais leve do próprio espaço, mas um tanto condensado. É, antes, a partícula que faz o campo; não o campo, a partícula. O fato de ela ser espaço condensado, ser algo com “peso”, a gravidade em nível superior (força forte etc.), forma o campo correspondente ou o campo próximo.

 

1.      As dimensões

A teoria das cordas diz que as partículas são, na verdade, cordas de uma só dimensão, unidimensionais, que vibram cada qual de modo diferente e são de formas diferentes. Até o momento, provou-se impossível comprová-la. Tal hipótese trabalhava com 11 dimensões, agora reduzida para 6. Para nós, há quatro, incluso uma espacial oculta, que se manifesta como tempo. A fita de moebius tem apenas um lado, mas parece ter dois quando vista por apenas um pedaço dela. Algo semelhante temos na garrafa de Klein, com seu dentro-fora unitário. Penso que as três dimensões são também, assim, há apenas uma dimensão, o infinito, o todo, que por isso é dimensão nenhuma, mas tem quatro dimensões quando visto por seus pedaços, suas partes.

 

2.           Dualidade onda-partícula

A física dividiu-se por séculos entre aqueles que diziam a luz ser partícula ou, ao contrário, onda. A dialética pede a substituição possível do “isto ou aquilo” por “isto e aquilo” em inúmeros casos. Se houvesse uma boa formação filosófica, os cientistas teriam ao menos levado em conta a hipótese de que ambas as posições acertam e erram ao mesmo tempo, bem antes do século XX. Luz não é apenas onda “e” partícula, mas propriamente uma sobreposição dos dois estados opostos – o dialético em ato! Mantendo nossa posição de que, em resumo da fórmula, tudo é espaço, ainda que concentrado, a parte ondular das partículas ocorre porque elas não rompem totalmente com sua base, o ambiente primeiro, o espaço, mas flui assim mesmo por ele, nele, sendo ele.

 

12.            Excesso de raios cósmicos

Sabe-se que a maior parte dos raios cósmicos que encontramos no espaço interplanetário não vem do Sol. De onde viriam? Uma parte pode ter origem nas flutuações do espaço, produzindo tal matéria-luz.

 

13.            Spin do elétron

O spin do elétron é uma “rotação” muitas vezes maior que o permitida pelas leis da física. Na falta de explicação, os físicos dizem “é assim mesmo, um mundo diferente” e ponto, e pronto. Isso não ajuda, apenas esconde uma ignorância. Como demonstramos em nossa equação qualitativa, movimento = energia = tempo = etc. Assim, o que medimos como apenas movimento de rotação é na verdade mistura com seus diferentes, outros de si, que são também idênticos, iguais.

 

14.            A origem do movimento

O movimento é, sempre foi e será. Mas qual a sua causa primeira? A matéria e a luz caem na quarta dimensão espacial, no infinito, como a si mesmas. É possível, também, que o vazio infinito cai sempre em si próprio e, sob tensão, desabe no “´átomo prrimordial”, dando origem ao primeiro Big Bang.

 

15.            Multiverso no tempo e no espaço

Retomemos o assunto acima: há o multiverso no tempo, com o nosso universo crescendo e, depois, reduzindo de modo cíclico, para crescer novamente; e o multiverso no espaço, com vários universos separados. Mas podemos fundir no universo no espaço-tempo. Porque o universo se expande? Uma das causas, além das internas, é que outros universos estão contraindo, sugando espaço em alto nível por fusão de seus buracos negros, que sugam o tecido espacial (ainda que lentamente). O problema de os universos separados no espaço não serem empiricamente observável está resolvido porque eles interagem por meio do espaço único deles, caso existam.

Deriva-se, então, outra hipótese. Se 1) todo o destino do universo está determinado desde o Big Bang e se 2) o universo contrai-se e expande-se ciclicamente – então o mesmo universo, exatamente igual, surge e ressurge, repetindo tudo num “eterno retorno”; temos, neste caso, a “reencarnação”, pois reapareceremos no próximo universo fazendo sempre o mesmo. Mas se há processo, além de circular, pode ser que o próximo início, do próximo universo, tenha pequenas variações de começo que mudam todo o destino, as condições iniciais determinam as condições finais). Eis uma questão em aberto, mas que aterroriza o pensamento, logo o meio científico evita tais tipos de questões.

 

16.            As quatro forças unificadas

Em minha filosofia, temos a tríade, algo hegeliano, e o colateral, nossa atualização, algo que está ao mesmo tempo dentro e fora. Isso parece se confirmar com a unificação das três forças fundamentais (a nuclear forte, a nuclear fraca e a eletromagnética) sem conseguir incluir a gravidade, a quarta. Mas isso é logica, não ciência concreta. Ao que me parece, por tudo ser espaço concentrado para dentro de si chegamos à unificação das quatro “forças”, que não são, na verdade, força alguma. Assim, a força nuclear forte é a mesma da gravidade, pois é o núcleo atômico concentrado, para dentro de si, caindo em si próprio, mantendo-se unido. A força repulsiva nuclear fraca deriva pela mesma causa, com efeitos opostos, pois a gravidade é também espaço condensado, para dentro de si, na coisa, o que causa repulsão das partes no núcleo, por exemplo.

 

17. A teoria de tudo

No ponto anterior, além dos demais, vemos uma teoria de tudo. Em resumo, tudo é espaço condensado, para dentro de si – o que não significa que este é sempre o primeiro no tempo, embora seja primeiro por sua simplicidade. Temos a igualdade e identidade na diferença de tudo: movimento = energia = tempo = espaço = matéria (= massa = luz = campo). Exigirá um trabalho específico para quantificar tal equação qualitativa. Tudo é espaço-matéria (e luz), tudo = tudo. Conseguimos, assim, colocar a gravidade, a relatividade, no micro, fundindo com o macro, pois tudo é espaço concentrado.

 

Ao que parece, se não for um absurdo a formulação, que deriva os 17 pontos acima, conseguimos unificar as soluções e os fenômenos do micro e do macro. Uma teoria de tudo. A dificuldade é se tratar de um caminho feito de modo filosófico, não matemático, por um físico amador. Se está correta, a crise da física, crise esta quase nunca reconhecida pelos seus profissionais, está resolvida no geral. Temos em torno de 100 anos de questões misteriosas pedindo solução, mas sem respostas. Confiou-se no “sucesso” da mera descrição e do uso prático apenas. O defeito era, em parte, confiar em demasia nos dados empíricos, nas aparências, limitando-se a eles e, em parte, a baixa formação dialética dos cientistas.

 

 

 

LEIS E CATEGORIAS DA DIALÉTICA

 

Antes de debatermos os métodos científicos, vamos à logica das categorias opostas. Falaremos das três lógicas – formal, velha dialética, nova dialética – com demonstrações da realidade e, quando necessário, a diferença entre minha dialética e a de Hegel.

LÓGICA FORMAL

Vejamos as leis desta lógica simples:

1.  A=A, lei da identidade

Algo é igual a si mesmo, um elefante é um elefante. Ele é o começo da ciência: distinguir e classificar os seres. Assim, o finito é finito; o infinito, infinito.

Um dos problemas desta fórmula é pensar o objeto de modo isolado, sem seu contexto, e de modo estático, sem seu processo. A dialética vê a estrutura e o movimento de que depende o objeto.

 

2.  A=A ou não-A, lei da não contradição

Ou algo é finito ou é infinito; não pode o infinito, nesta lógica, ser finito. A fórmula é apenas um consequência natural da anterior.

 

3.  A=x ou não-x, sem terceira resposta, lei do terceiro excluído

Algo é ou relativo ou absoluto. E ponto, e pronto. Não há meio-termo, caminho do meio ou um “terceiro excluído”.

Vejamos nossos exemplos. Hegel descobre que o finito é apenas um pedaço do infinito, aquele está dentro deste, eles são um, não externos um do outro; finito = infinito, ou melhor, igual a si mesmo e ao seu oposto. Mais: a ciência é relativa, ou seja, parcial, incompleta, temporária ou, ao contrário, é absoluta, chega à verdade ela mesma? Ora, há o caminho do meio, a ciência vai rumo à verdade, está cada vez mais correta, por aproximação – entre o relativo e o absoluto, ou seja, um absoluto relativo ou um relativo ele mesmo relativo.

Refutemos a falsidade, embora também correta, da formulação aristotélica. Diz-se: ou a luz (A) é onda (x) ou partícula (não-x), não havendo, portanto, meio-termo ou o terceiro excluído. Ou um ou outro. Mas a física moderna descobre que a luz é uma sobreposição dos dois estados opostos, tanto onda quanto partícula, podendo também ser ora um e ora outro. Curioso que universitários insistam na clássica lógica quando a realidade já a superou.

 

A VELHA DIALÉTICA

A dialética de Hegel diz que

A=A e não-A

identidade da identidade e da não identidade. Ou seja, o finito é ele mesmo e o infinito, o interno é ele mesmo e o externo, energia é ela mesma e a massa, tempo é ele mesmo e o espaço etc. Preserva-se a diferença dos opostos e, ao mesmo tempo, a mesmidade deles, que são iguais, ou em unidade, ou em identidade. Repitamos o caso anterior, pois é paradigmático. Antes, dizia-se que luz (A) é ou partícula (x) ou onda (não-x), sem permitir uma terceira resposta, o terceiro excluído. Mas hoje sabemos que a luz é um sobreposição de dois estados opostos, partícula-onda.

Pensar dialeticamente é, em parte, pensar assim: algo é ele mesmo e seu oposto; ou, senão, pelo menos em unidade com o seu contrário. O repouso é uma forma de movimento, por exemplo.

 

A NOVA DIALÉTICA

Hegel preserva a lógica formal dentro de si e, ao mesmo tempo, a supera. Aqui, preservamos quase toda a dialética de Hegel, além da lógica formal, numa nova dialética, com peso ainda maior ao movimento (diacrônico). A fórmula é esta:

A=A e… não-A.

O infinito põe o finito, o universo; o caos passa, a si mesmo, por não se suportar, para a ordem; o relativo desenvolve-se, tanto quanto pode, para o absoluto (o caminho do conhecimento – A=x e… não-x). Demonstraremos melhor a seguir, perpassando a Lógica hegeliana e a nossa.

 

CATEGORIAS CENTRAIS DA DIALÉTICA

1.  Totalidade (integração).

Direto ao ponto: a totalidade é mais do que a mera soma de suas partes, pois ela é a síntese das partes e suas inter-relações. Além disso, a relação da parte com o todo. O exemplo clássico na natureza é este: a água (totalidade) apaga o fogo, mas ela é formada por átomos de hidrogênio, que causam combustão, e de oxigênio, que permite a combustão. Assim, a totalidade tem características que suas partes não têm.

Para saber o que é um próton não basta saber quis são suas partes num colisor de partículas. É preciso teorizar com e para debaixo dos dados.

Mario Bunge redescobriu, sem saber, de modo incompleto, Hegel, ao dizer que não é nem holístico, coma visão apenas do todo, nem individualista, reducionista, que foca no individual e na parte. Chama o foco em ambos como sistemático. Ele acerta, embora não seja o primeiro, mas esquece que a totalidade forma-se, desenvolve-se, movimenta-se. Aliás, a totalidade não é apenas “espacial”, estrutura e sincrônico, pois também é “temporal” processual, diacrônico e com história.

A teoria da complexidade não dá crédito a Hegel. Ela diz que há níveis ontológicos em que um nível apresenta leis e características que não existem no nível anterior, de onde veio. Ora, isso já é conhecimento na dialética! A complexidade é assunto desde o início do século XIX, de modo algum é uma grande novidade.

A categoria totalidade exige, antes, a categoria de integração – numa totalidade. Sem isso totalidade não haveria.

Lembramos que para Hegel e, mais uma vez, para Bunge, séculos depois, o mundo físico (mecânico) não apresenta um caráter de interdependência geral das partes, estas são separáveis e divisíveis. Não dependem umas das outras, não existem apenas por união. Já no nível de imediato seguinte, a química, já existe essa integração necessária. Assim, vamos do não interconectado à conexão universal – ou a internconexão física é demasiadamente leve, difícil de teorizar. Bunge poderia ter poupado neurônios para outras lacunas intelectuais se tivesse lido Hegel com atenção.

Destacamos, ainda, dois aspectos. Um bioma é um sistema que funciona por si, como totalidade. Mas se o homem põe, por exemplo, um animal novo sem predador natural naquela região, todo o sistema se desequilibra. Em um lago organizado e dinâmico, se pescamos e retiramos muitos peixes, o fluxo de matéria e energia se desregula podendo leva ao colapso do sistema inteiro. Na física, com características de química, os 3 quarks que formam o próton apenas podem existir se juntos, unidos, colados pelo mediador, o gluon. Quando se exerce uma energia para retirar uma das partículas, isso gera tensão, logo energia maior naquele local; assim, a energia de arranque gera logo a energia necessária para surgir de imediato outro quarks, mantendo a tríade e a “cola que se estica” (gluon, ou, para minha pesquisa, espaço no mais fundamental). 

Enfim, uma parte, ao ganhar energia, desenvolve-se num todo. Uma parte pode entrar em contradição com o todo ou com este por meio de outra parte, como na disputa energética – o que pode fundar nova totalidade. Um todo, ao acumular energia, torna-se outro todo.

 

2.  Contradição (relação).

Para Hegel, a base do movimento é, em geral, a contradição. Em dialética, apenas é logico o que é contraditório. Mas a contradição está na própria realidade, na própria coisa, não em primeiro no pensamento ou no argumento. Uma estrela como o Sol tende a colapsar para dentro de si mesma por causa de sua gravidade, mas tal pressão gravitacional é produtiva, produz novos átomos mais pesados, logo liberando fótons na direção aposta à da gravidade, empurrando para a expansão estelar; uma estrela dura bilhões de anos em equilíbrio dinâmico, na contradição, entre as tendências de contração e as de expansão. Na biologia, temos o exemplo da “corrida armamentista”: um leopardo corre em busca de um cervo, logo apenas sobrevivem os cervos mais rápidos; porque estes aumentaram sua velocidade média, as novas gerações de leopardos têm de ficar também mais velozes; assim, um e outro se tornam cada vez mais rápidos, geração após geração, por causa do conflito entre ambos.

Os críticos de Hegel e Engels, dizem que o mundo natural tem identidade, diferença, diversidade, até oposição, mas nunca a contradição. Em geral, os pensadores de humanas do século XX foram, ao que parece, péssimos alunos de ciências da natureza. Na biologia, temos a seleção natural, do meio, e a seleção sexual; o cervo macho luta com outro cervo macho pela fêmea, logo quem tem galhas maiores tende a vencer as lutas; mas galhas cada vez maiores por seleção sexual gera peso extra, logo torna-se mais fácil de ser vítima de um predador por causa da dificuldade de correr – eis a contradição. Refutar a contradição como apenas social ou apenas capitalista é fácil, basta evitar a hiperespecialização de nossa época.

Para Hegel, porém, a contradição é externa perante a unidade interna; para Marx, a contradição também é essencial.

Para haver contradição, deve existir, antes, a relação ou a autorrelação. Por exemplo, os biólogos passaram da cooperação na natureza para a lei da luta de modo absoluto e unilateral, mas ambos existem na realidade biológica.

 

3.  Movimento (espaço-matéria).

Os antigos pensavam o movimento como circular, caótico ou ilusório. Hoje, sabemos que apenas permanece aquilo que muda – e só a mudança é permanente. Trata-se de, além de saber as leis regulares do mundo, saber também as leis de mudança, de modificação – e até as leis mudam!

Movimento tem dois significados válidos: 1) deslocamento; 2) mudança. Adicionamos o terceiro: 3) mudança por deslocamento. Quando um objeto é muito acelerado, ganha massa e diminui seu volume.

Movimento é processo, desenvolvimento; mais do que mero movimentar; mais do que circular; também em espiral ascendente.

Por outro lado, para haver movimento deve haver o espaço e a matéria (aqui, em sentido amplo), o espaço-matéria.

 

 

LEIS DA DIALÉTICA

1.  Mudança de quantidade para qualidade;

Hegel usa o exemplo da água: ele torna-se gelo de repente, no salto -  não de modo gradual, aos poucos. A água torna-se cada vez mais gelada, mudanças apenas quantitativas, então salta de qualidade, torna-se gelo, sólida. O marxismo vê também a mudança de qualidade sem salto como a criança que se torna adulta de modo gradual.

 

2.  Unidade, contradição e interpenetração dos opostos;

O átomo é formado por prótons, positivo, e elétrons, negativo. Os sexos opostos devem se unir. A adrenalina serve tanto para lutar quanto, oposto, para fugir. Mais a frente desenvolveremos melhor tal aspecto.

 

3.  Negação da negação;

Hegel usa tal exemplo: a fruta nega a flor, o broto nega a fruta e assim o ciclo continua.

 

4.  Desenvolvimento desigual e combinado.

As partes de uma totalidade se desenvolvem de modo desigual, em ritmo desigual, não sincrônico, formando uma combinação. Uma estrela, por exemplo, produz elementos pesados no seu centro, mas suas camadas mais externas ainda são feitas de elementos leves. Um feto inicia com desenvolvimento desigual de suas partes.

 

Como dissemos, mantemos de pé a dialética de Hegel, além da lógica formal, mas pesamos a mão no movimento, no diacrônico. Além disso, damos a base que falta à lógica de Hegel com nossa equação qualitativa, em especial aqui, a energia.

 

SER, NADA, DEVIR

O puro ser é como o puro nada. Vejamos: se o ser não tem qualidade, nem características, nem determinações – ele, enquanto puro, é nada! Já o nada é, logo ele é como o ser! A coisa se mostra assim, numa anedota: tem cara de jacaré, tem olho de jacaré, tem focinho de jacaré – não pode ser um coelho. Assim o puro ser é como o puro nada; são diferentes e opostos, mas estão em unidade. Já o materialismo afirma que o nada amplo não pode existir, que ser não pode vir do nada. Eis que há teses na física que afirmam ir-se do vazio ao cosmos. Em minha elaboração, tal vazio total seria o espaço, o mais próximo do chamado puro ser por ser mais simples, o transparente. Para os físicos, o vazio teria campos e nessa autorelação surgiriam fótons que decaiam em elétrons e pósitrons que, de novo, tornar-se-iam fótons, num ciclo repetitivo até tudo mudar; mas demonstrei em outro local que a energia de ponto zero é, na verdade, autoflutuações do próprio espaço.

É o ser quem põe o nada como nada de um ente. Em nossa equação qualitativa, categorial: nada é ser no devir. O devir do ser, ele em movimento, põe o nada. Ou, se correto, o início do ser é tão simples que ele, sendo como nada, é um nada.

Na matemática, torna-se assim, desde Husserl: o zero é o vazio e o infinito, o infinito e o vazio; um, porém o outro; a relação do zero do conjunto infinito com o zero do conjunto vazio – põe o um. O que é uma lógica da matemática pode ser sintoma da própria realidade, da origem do universo. Talvez, acomode-se na quarta dimensão.

Ir do nada ao ser é nascer; ir do ser ao nada, perecer, processo de morrer. Mas as coisas e vidas, os entes, não surgem do nada, mas de outro ente. O nada no ente é apenas ausência e falta; o que pode ser diferente no nível, do Ser, do cosmos.

A unidade, não identidade, do Ser e do Nada é, para Hegel, o devir, o vir-a-ser, o tornar-se. Nesta obra, o devir é a unidade de matéria e movimento; estes, separados não tem verdade alguma. Destacamos que matéria, aqui, inclui não apenas a matéria na física, pois tudo é matéria – nada existe divino.

Em Hegel, ser não é nada, nada são de idênticos, mas estão em unidade. Para nós, o nada é substituído por energia e sua base, a quarta dimensão espacial, fora e dentro da coisa ou ente.

O vazio infinito, quarta dimensão espacial, não tem porque não se movimentar dentro de si próprio. Ao menos ele tem uma tensão que desaba no finito, funda nosso universo finito.

 

DETERMINAÇÃO, CONSTITUIÇÃO

A determinação é, por exemplo, o fato de uma bolsa ter a determinidade, para dentro, de guardar objetos; ele é um só com a sua constituição, que são o mesmo. O que nos interessa é que se põe na determinação a ideia de núcleo. O átomo é determinado pelo seu centro, formado de prótons e nêutrons, sendo a quantidade do primeiro o que determina a natureza primeira de uma partícula atômica. O núcleo preserva-se enquanto os elétrons em volta dele sofrem as ações do meio externo, ao menos de modo mais direto. O núcleo desenvolvido da vida complexa é o cérebro; na célula, evoluiu-se dos seres procariontes, sem núcleo, para seres eucariontes, com o código genético determinante protegido.

A constituição pode revelar-se como tal ao fundar a determinação, e este último torna-se a si mesmo com a construção da constituição.

 

LIMITE, MAU INFINITO, O INFINITO QUALITATIVO

O infinito qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia. O infinito está já aí sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito está diante de nós, no meio de nós, não avançamos até ele. O bom infinito produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão. Este infinito ruim se expressa na natureza como com a altíssima reprodução de gafanhotos, formando uma nuvem, comendo tudo em sua volta, logo faltando depois comida (energia) para sua própria sobrevivência, passando assim por algum tempo do nível de equilíbrio de sua população.

Aqui vermos o erro de Hegel ao esquecer o conteúdo. O que é infinito, o infinito, senão o espaço? Ele abarca o finito dentro de si, além de o formar. Quando a Lógica diz que o Ser passa a ter a determinação da infinitude, diz apenas que o espaço, como o vazio, está no centro da ontologia. Finalmente, resolvemos a questão, encontramos o fundo.

Se o infinito produz o tempo, manifestar-se como, a hipótese insistente de muitos sobre o tempo produzir o espaço, não o inverso, ganha novo significado: o infinito produz as três dimensões, ou melhor, as quatro. Curioso notar que a garrafa de Klein, sem externo nem interno, tal como a fita de Möbius, tem uma dimensão a mais; e, nestes casos, os “lados” são uma quase ilusão ao se focar na parte, no pedaço, não no todo – o que aponta para as três ou quatro dimensões como pedaços do infinito, parcialidades relativas.

Nossa teoria atual e os dados dizem que nosso universo é finito. Mas se ele tem fim, há algo depois de si e este também tem algo, como outro universo, depois de si – ao infinito. O problema é a concepção de infinito como uma linha reta cada vez maior, sempre podendo avançar mais, ou seja, o mau infinito, da progressão contínua, pois encontra um limite-barreira e o supera, encontra outro e o supera, e assim por diante. Como dissemos, o infinito como um círculo sem começo nem fim hegeliano tem por resposta prática a quarta dimensão espacial-temporal. Nosso universo é finito, mas infinito quando visto “para dentro”, além da possibilidade de haver outros universos irmãos.

A ideia de que há infinitos maiores do que outros também cai na má infinitude do progresso. Mesmo uma teoria errada pode ser desenvolvida ao limite, como é o caso.

  

UNO E VAZIO – ATRAÇÃO E REPULSÃO

Para Hegel, o infinito real desaba no uno, no ser para si. Ou seja, ele é um dos precursores da teoria do Big Bang e da concussão de que uma estrela expande-se e contrai-se num ciclo de repetição.

É provável que o infinito, aqui exposto como quarta dimensão espacial, forme nosso universo, como o núcleo pequeno e denso do primeiro Big Bang.

O que é vazio para Demócrito e Hegel, para nós é espaço. O uno, para ambos, é o mesmo que o vazio; para nós, o mesmo que o espaço, só que concentrado, como partícula e onda. O universo expandiu-se porque a matéria e a luz decaíram em espaço, facilitando a expansão, repulsão. Para Hegel, a relação do vazio com o uno (átomo etc.) é a causa da transformação do único uno em muitos unos, no múltiplo. O movimento, ao menos, está correto. O Big Bang foi uma expansão, as estrelas como exemplo de unos explodem em uma nuvem cósmica de partículas (os muitos, o múltiplo, os muitos unos). Mas Hegel foi além: a repulsão do uno único dá lugar à atração dos novos muitos unos; ou seja, o universo voltará a unificar-se como no seu começo e a nebulosa que surge da explosão da estrela reúne-se mais uma vez, e de novo, numa nova geração de estrela.

Aqui, Hegel antecipa a teoria das estrelas e a do Big Bang, assim como a crítica superante desta última. Kant primeiro considera as partículas estáticas e apenas depois adiciona a repulsão e a atração nelas, teorizando a origem do Sol e de seu sistema. Hegel, de modo lógico, foi mais longe, pois havia antes outra estrela, outro Sol, que se expandiu, explodiu-se, e formou as tais partículas das quais começa Kant.

Entre outras genialidades, duas se destacam neste ponto, entre elas: o Uno é produtivo. O animal é produção de energia, a estrela produz novos elementos químicos, a fábrica produz etc. Minha tese é a de que os buracos negros também são produtivos sob suas condições extremas como, talvez, transformando espaço em matéria ou elementos químicos excessivamente pesados estranhos.

As descobertas e as teorias modernas reforçam Hegel, mas ainda há outro ponto: o isolamento do para si do uno na repulsão parece como sua afirmação, ao isolar-se dos demais, mas é sua negação, exato por seu isolamento. Por excesso ou fata de energia, como um átomo isolado, precisa ligar-se com os demais para de fato afirmar-se, em comunidade. Na biologia, uma árvore cresce melhor na floresta do que se isolada, pois a presença de outras espécies torna seu ambiente mais saudável, como maior disponibilidade de energia na terra.

Para fazer jus, o primeiro filósofo a pensar algo como um Big Bang, onde algo concentrado dispersa-se no cosmos foi o grego Melisso de Samos:

 

Com efeito, quando o Todo se dissolve em seus elementos sob a ação do Ódio, o fogo se une em um todo e cada um dos outros elementos. Inversamente, quando de novo sob a ação do Amor, há redução ao um, e as partes são forçadas a se separarem outra vez em cada (elemento). (pré-socráticos, p. 203)

 

São palavras de Aristóteles sobre Melisso que demonstram a poderosa intuição científica, recuperada em nosso tempo.

 

SIMPLES E COMPLEXO

Engels, em sua Dialética da Natureza, tenta demonstrar que o simples é, ao mesmo tempo ele mesmo e o seu oposto, o complexo, A=A e não-A. Assim, uma célula viva é simples, mas muito complexa quando observada por outro ângulo, dentro de si, pois é todo um grande sistema interno. Nossa nova dialética, além disso, inclui o momento do simples rumo ao complexo, A=A e… não-A. Assim, o ser vivo simples, unicelular passa para um ser composto, complexo, pluricelular, como a água viva e um elefante.

 

INTENSIVO E EXTENSIVO

Hegel diz da identidade de ambos, intensivo e extensivo. Um grito mais intenso, por exemplo, torna-se ouvido numa extensão maior. O que unifica os dois opostos é a energia, mas esta sendo limitada para o uso gera uma contradição, a afirmação energética do intensivo reduz a extensividade e vice-versa.

Uma estrela com mais intensidade de energia poder ser muito menor que uma com menos energia, pois produz mais gravidade, maior curvatura do espaço.

As quatro “forças” fundamentais da física são apenas um, similares à gravidade, talvez excluída apenas a nuclear fraca, responsável pelo decaimento do átomo. A gravidade é a força mais extensa, logo a mais fraca em intensidade; a nuclear forte, que mantém o núcleo do átomo unido, é a mais curta, logo a mais intensa – além de ser a mesma da gravidade em proporções de intensidade e extensividade diferentes e opostas, como espaço condensado, para dentro de si.

Para Hegel, o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro, energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade. Mas a intensidade é, também, espaço-tempo condensado; mas a extensividade é, também, energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.

 

CONTÍNUO E DISCRETO

A realidade é fluido ou feito de partículas? Ambos. A união de partículas, uns, unos, forma algo contínuo, como a água contínua é formada por moléculas discretas. A energia permite a separação ou a união dos unos, dos discretos, formando algo contínuo. O espaço é tanto contínuo quanto discreto, o que pode ser visto, uma solução, pela teoria da gravidade quântica em loop, que defende o espaço ser como correntes cujas partes estão ligadas umas às outras.

Como o contínuo tem fim, tem borda, ele é ao mesmo tempo discreto.

 

SALTO DE QUALIDADE

Engels diz que a natureza não tem salto porque ela já opera por saltos. Como dissemos, a água não se torna gelo aos poucos, mas salta para tal estado após esfriar-se muito. Mas há saltos por sobre etapas na natureza? Porque há etapas necessárias é que pode haver saltos por sobre elas. Primeiro, surgem as estrelas, ao juntar a matéria por gravidade, e depois, os buracos negros. Mas a computação moderna demonstrou que no início do universo partes dele colapsaram diretamente em pequenos buracos negros. Na biologia, dados empíricos de salto por cima de etapas é dificílimo de conseguir, mas deve haver.

O salto de qualidade ocorre por ganhar ou perder energia, de modo absoluto ou relativo.

 

SALTO PARA SI

Na física, temos três tipos de neutrino, cada um mais elevado, mais pesado (com mais energia), em relação ao outro, mas ainda neutrinos, três sabores: neutrinos do Elétron, neutrinos do Múon e neutrinos do Tau. Como se o geral fosse o mesmo, ainda que diferentes e “maior” em certos aspectos e no particular.

 

CAOS E ORDEM

O caos não suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos, por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto, o caos, dentro de si.

Na coisa, a ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo. Isso se vê na previsão do tempo, que deve ser sempre curta.

O caos absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade de caos e ordem cai-se na probabilidade.

O socialismo é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.

O caos é mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.

Com o tempo, a Lua e a Terra se sincronizaram para que a rotação da Lua em torno de si esteja com o mesmo lado sempre direcionado para o nosso planeta. Na biologia, nos estágios iniciais de uma comunidade, formada por várias espécies em determinado espaço, há instabilidade; depois, com o seu avanço, adquire estabilidade, como população constante, e tudo o que a comunidade consome é por ela mesma produzido.

Dentro da ordem como a totalidade, reina o caos relativo.

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SOBRE A PROBABILIDADE

A probabilidade revela a contradição de ordem e caos no mesmo. Há que separar o resultado geral do resultado particular. Em 2014, percebi que o governo Dilma, por causa das circunstâncias, iria cair, isso é o geral como resultado. O modo como iria cair poderia ser vários: 1) golpe, 2) renúncia, 3) impedimento, 4) protestos dos trabalhadores, não da classe média. São formas de cair. Há uma quinta forma de derrubar o governo, embora o mais improvável, o governo mudar radicalmente a politica e mobilizar nas ruas para impedir o processo; conhecendo-se a tradição pelega do PT, era pouco viável. O capitalismo cairá, isso é determinístico, mas a modo de cair, se vai ao socialismo ou à barbárie, ou à extinção, é algo em jogo.

O erro do paradigma do mundo como certa máquina, ou computador, ou relógio, não como sistema orgânico, leva ao foco na coisa, como um dado ou moeda. Ora, no dado perfeito ou moeda ideal, o que acontece é acaso, aleatoriedade, além de possibilidade, não probabilidade como algo de ½ de ser cara ou coroa. Já no sistemático há, de fato, probabilidade ou possibilidade crescente.

 

MEDIDA

O que os qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).

Na medida, Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste, limita a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele, limitando a energia. No social, o inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu deslocamento de espaço-tempo condensado e energia de sua base necessária, por exemplo. Vejamos um exemplo mais próximo. A Coreia do Norte não produz alimentos e materiais como petróleo com suficiência, o que dá base para o regime autoritário, ou seja, não produz energia suficiente para homens, outros seres vivos e para as coisas; por isso, por salto, teve de compensar produzindo energia nuclear para bomba atômica, assim atraindo recursos para si em forma de chantagem internacional.

Outro ponto é que, para muitos, por suas naturezas concretas muito diversas, maçã, por exemplo, não é igualável à xícara. Ora, ambas têm energia, logo certa quantidade de maçãs têm tanta energia quanto certa quantidade de xícaras. Em nível inferior, a quantidade de elementos atômicos também são iguais sob certas proporções de uma e outra.

 

POSITIVO E NEGATIVO

Vejamos. 1) o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo. Eis o movimento puro e uma pista para o pensar científico.

Para Hegel, o nem positivo nem negativo estava apenas ao mesmo tempo com o positivo e o negativo. Uma estrada vai, ao mesmo tempo, para o leste, positivo, e o oeste, negativo; mas estrada mesma é nem positivo nem negativo, abarcando os opostos dentro de si; o átomo neutro tem dentro de si o positivo e o negativo. Nós vamos mais longe, mantendo a contribuição estática hegeliana.

No início do universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”, diferente do elétron e do próton. Um fóton, sem carga, de alta energia divide-se em elétron, negativo, e anti-elétron ou pósitron, positivo, e, atraindo-se, colidem e tornam-se um novo fóton, também sem carga, nem positivo nem negativo.

 O próton e o elétron atraem-se porque são opostos, no nível externo, mas porque são o mesmo, no nível interno. Ambos são completos incompletos, pedaços de algo antes uno (nêutron). Já que são partes, além de proporções gerais diferentes, um cai no outro com facilidade; mas como cada um, sendo parte, é também um inteiro, o elétron e o próton afirmam-se, têm fronteira, um não cai no outro como deveria. A fronteira também se dá pelo motivo de ambos serem espaço condensado, com campo próximo próprio. O mesmo fato da atração, ser espaço concentrado, causa a repulsão, ser algo em si como espaço condensado.

A contradição entre o positivo e o negativo revela-se no exemplo da contradição entre proletariado e burguesia. A contradição de elétron e antielétron se dá porque, na atração, cada um afirma-se diante do outro – mas exato isso aproxima.

Na biologia, os primeiros seres reproduziam-se por si, assexuadamente, e, por intermédio do herrmafrodismo, surgem seres mais complexos com sexos opostos. Nestes, os opostos, que podem disputar, por exemplo, espaço e energia, unem-se num nem positivo nem negativo para a reprodução dos genes e da espécie.

Os opostos externos atraem-se porque são, no fundo, semelhantes, pois semelhante atrai semelhante.

 

 

 

OPOSTOS

Já vimos isso no inorgânico antes. Na biologia, além de tudo evidente, como a luta entre os seres e os sexos, vemos que o corpo humano possui sistemas opostos, simpático e para simpático.

 

 


 

Os opostos estão assim, em unidade, ainda que contraditória.

Na física quântica, Dirac percebeu que os resultados dos seus cálculos poderiam ser tanto com sinal positivo quanto negativo, prevendo a existência da antimatéria, isto é, a matéria com sinal oposto, como neutrino e antineutrino, elétron (-) e antielétron (+). Nesta obra, expomos que os opostos em carga são, no fundo, o mesmo, o que antes era unido e dividiu-se, explicando a atração e a repulsão. Na química, temos a quiralidade, a produção de moléculas quase idênticas, mas opostas, uma canhota e outra destra.

 

IDENTIDADE, DIFERENÇA ETC.

Para a dialética de Hegel, as categorias passam apenas logicamente umas para as outras, pois são sincrônicas, não diacrônicas: a identidade, a diferença, a diversidade etc. já estão todas aí, ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum. Em minha dialética, além de tal sincronia, existe também a diacronia das categorias: a identidade passa, a si própria, para a diferença, para a diversidade etc. Na biologia, com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a diversidade: diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se depois, começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito. Passou-se no processo, no diacrônico, da identidade, para a diferença, para a diversidade etc.

 

(DES)MATERIALIZAÇÃO

Em minha pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para, depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade, aumenta o tempo de vida.

Se há retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao empírico. Isso está relacionado com a energia disponível. A falta de energia pode diminuir o tamanho de uma espécie.

 

FORMA E CONTEÚDO

Dentro do próton há quarks que têm menos massa, mas seu movimento-energia (conteúdo) aparece como massa extra (forma) de sua totalidade, o próton.

 

DO MENOS PARA O MAIS FORMAL

A realidade vai do informe, do menos formal, à forma. Uma nuvem informe, nebulosa cósmica, torna-se uma estrela com seus planetas “redondos”. Do organismo ameba quase informe até células mais formais como neurônios e seres complexos formatados.

 

TODO E PARTES

Hegel afirma que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna (Jammer, Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica, 2011), substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.

Mas essa energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo, seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.

Vale destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade. O todo é um reunir atrativo de partes, pela “força” (na verdade, pela energia); um todo vem, também, de outro todo que se suprassume, que entra em contradição consigo, ou com parte(s) de si, pela missão, do todo e da parte, de acumular energia. Uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o crescimento e desenvolvimento de um todo dá-se, por isso, pela energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.

Provável, Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.

No capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso. Mais à frente, veremos o papel do circulante, do mediador, na manutenção do todo sistemático.

Aqui, vemos o limite de Hegel; ele: 1) tomou as partes; 2) derivou o todo; 3) disse que as partes formam um todo pela força. Ora, se ele é o filósofo da unidade dos opostos, dos diferentes e diversos, qual a unidade da parte ou das partes e da força? Ele não responde, sequer levanta a questão. Se substituímos força por energia, se energia é massa e espaço, e matéria etc., logo a parte, como matéria, é um só com a “força”, ou seja, com a energia, são diversos e, ao mesmo tempo, o mesmo, um dentro do outro, um sendo o outro. Logo vemos que nossa elaboração, embora direta, é superior à hegeliana em estado puro.

Uma parte, afirmando-se como todo em si, entra em contradição com o todo ou com outra parte por meio do qual entra em contradição também com todo com que qual este é alinhado.

 

CONCRETO E ABSTRATO

O concreto inicial, junto de si, passa para a abstração, a separação, que volta ao concreto. Padrão da geologia: do concreto amorfo, surgiram progressivamente os continentes iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após processo longo, fundiram-se no Pangeia; este, então, separou-se nos atuais continentes do planeta. O atual afastar aproxima. O nosso universo, provável, sai de um ponto comum (concreto), expande-se com o afastar das partes (abstrato) para possivelmente unir-se de novo (concreto).

 

TRÍADE E COLATERAL

A lógica dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a) infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c) inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios, burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo, indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc. Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.

Nessa obra, essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em especial na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor de serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema capitalista.

Na física, podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças consideradas.

Continuemos com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural (abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar – método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80; Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou raros (colateral).

Utilizando tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio, muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens), onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é: colateral.

 

REAL E FICTÍCIO

O movimento do real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este desenvolve aquele em si – ocorre na materialidade.

O real produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a unidade de nada e ser.

A categoria fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e irreal.

Em matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros, racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.

O real encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui, portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.

A unidade do real e do fictício é o real efetivo ou completo.

 


CENTRAL E ORBITANTE

Lucáks critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács, Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante, e vice-versa; daí a unidade deles.

Quando o leigo pergunta a algum físico sobre a semelhança entre a orbitação do elétron em torno do núcleo e dos planetas em torno do Sol, logo explicam que esta visão atômica é antiga e, portanto, forçada. Percebamos que usa-se a comparação visual no lugar do conceito. Em nível de categoria, a relação próton e elétron é a mesma natureza de Sol-planetas. Entre os seres vivos isso também ocorre, como um macho forte agregando em torno de si outros de sua espécie ou fêmeas.

 

GERAL, PARTICULAR, SINGULAR

Para Hegel, o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido; logo comentaremos o motivo de seu erro.

Hegel deixa de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.

O que se reproduz, o gene individual ou a espécie geral? Ora, a oposição é desnecessária e unilateral. Quando, por exemplo, um animal quer se reproduzir normalmente, ele deve encontrar outro semelhante do sexo oposto, logo não pode ser algo de todo individual, singular.

Há contradição temporária entre o geral e o singular. Quando uma fêmea chimpanzé mata seu filho albino, ela afirma o singular-geral dominante. A singularidade de um indivíduo destoa do geral, da espécie, até formar espécie nova. O coletivo pode oprimir, não afirmar, o individual.

 

GÊNERO

Na Doutrina do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.

Os erros de Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a Teoria da Evolução das Espécies, que dirá a do Big Bang. Mesmo para um gênio isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele, valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente, valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da física de sua época.

 

POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CRESCENTES

Piaget atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.

Penso que, ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não retorno).

Além disso, é possível que a possibilidade, em seu evolver, teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas fracassadas.

A contradição aí se dá de duas formas: 1) a necessidade constrange a possibilidade, a subordina a si; 2) a possibilidade tenta afirmar-se antes da necessidade madura.

A necessidade nem sempre encontra a possibilidade de realizar-se. Vejamos a biologia. 1. Folhas verdes – mas absorveriam mais luz se fossem negras; 2. reprodução sexuada dominante –  mas a assexuada seria mais simples, rápida e fácil; 3. dormir –  isso faz perder muito tempo e há duros riscos, melhor seria "desligar" parte do cérebro por vez. São limites a partir dos quais os seres devem se adaptar, pois lhes é impossível uma adaptação máxima, perfeita, como folhas negras.

 

CAUSALIDADE

D’O Capital, de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar insumos e máquinas do exterior. No inorgânico: a explosão de uma estrela produz onda de choque que impulsiona a formação de novas estrelas. Na biologia: 1) a hipólise estimula uma glândula no corpo humano, mas esse aumento passa a inibir o hormônio hipofisário.

Há duas formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez, produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente, aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.

Um efeito pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Os olhos do polvo e dos animais terrestres têm origens diferentes. Para a economia vulgar, a inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai, por exemplo.

Uma causa pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois, revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em circunstâncias diferentes).

Os teóricos da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências. Vejamos a contradição. A condição, ao redor, se opõe à causa, mas se torna assim, também, causa. Na década de 1930, a França viveu uma greve geral revolucionária com ocupação massiva de fábricas; os trabalhadores, com esta imensa ousadia, poderiam ter tomado o poder, mas exigiram, depois de tanto esforço e sacrifício, apenas aumento salarial, que logo foi consumido pela inflação. É uma contradição, por exemplo, que uma grande causa cause um pequeno efeito ou que o efeito seja o oposto da natureza e intenção da causa.

Além disso, a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.

Isso permite rápido comentário. Einstein, nosso gênio, ao que parece, igualou aceleração e gravidade, pois ambos produzem o mesmo efeito. Ora, efeito igual pode ter causas completamente diferentes, não necessariamente iguais de imediato, apenas no fundo como em movimento = massa = energia etc.

As diversas causas, muitas vezes simultâneas, possuem, elas mesmas, juntas, uma causa comum. As várias causas simultâneas de uma crise cíclica têm a mesma causa, mesmo núcleo comum, as questões de produtividade.

Para registro, Lukács, afirma que as partes de um todo interagem entre si reciprocamente, causando-se umas às outras – e isso permite que ocorram acasos.

De modo resumido, a causalidade é recíproca, a causa torna-se efeito e o efeito torna-se causa, em processo de construção. A economia afeta a cultura, mas a cultura afeta a economia. Além disso, o que está na causa continua-se no efeito como a bola de sinuca transfere seu movimento-energia para a outra bola com a qual se choca.

A causa reciproca ocorre em desenvolvimento porque as partes em relação estão em mudança, como energia em busca de mais de si.

A contradição entre efeito e causa, é que aquele contraria a base deste, como um oposto. O crescimento do Estado é a causa da destruição do próprio estado, consequência. Ademais, como produz efeitos opostos, o avanço se dá pela passagem da causalidade para a tendência.

 

TENDÊNCIA E CONTRATENDÊNCIA

A tendência produz, de si mesma, a própria contratendência relativa. Eis a contradição em movimento. Uma estrela tende a colapsar dentro de si, mas, além da resistência natural dos átomos, estes se fundem e produzem fótons que empurram para fora. Novas formas de vida que passaram a produzir oxigênio abriram o caminho para maior diversificação biológica, mas, pouco depois de surgirem, tal elemento químico atuou como veneno contra as formas viventes então existentes.

 

COISA EM SI E MATERIAIS

Para nosso trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas materiais, matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).

Destaco que, para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado, elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo, tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto, em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a interpenetração.

Mais uma observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas sabemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando, tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia, impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.

 

FIM E MEIO

Em Hegel, na Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado objetivo.

Há outra consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de unidade de fim e meio.

Existe ainda o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si mesmo. Esta contradição com o fim real deve ser resolvida. O fim continua afirmando-se como necessidade contra a autonomia do meio.

Para evitar interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria, na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa confusão, entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se das mais variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir seres cada vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a própria temperatura, teleologia relativamente realizada no homem.

Enfim, Hegel e outros, como Lukács e Aristóteles, colocam o trabalho como centro e caem no maquinismo, separando meio e fim adotando o modelo escolhido como universal, ou metáfora. É uma forma indireta de mecanicismo.

 

DUPLO CARÁTER

Algo tem duplo caráter: a religião é um alívio humanizante, mas fonte de alienação; a luz é uma sobreposição de estados, partícula-onda; a mercadoria é valor de uso e valor. Nesse duplo, um domina o outro, o oposto, uma contradição que é resolvida no evolver. Além disso, um é, na coisa, um em si enquanto o outro é um em contexto (e no processo). Em si, a religião é alienação; no contexto, tem algo oposto, humanitário. Talvez a física descubra o que é “em si” e “em contexto” na dualidade partícula-onda da luz e do elétron. Por exemplo: diz-se que a partícula não é partícula, mas onda e campo, que colapsa em partícula porque a medimos, ou seja, lançamos um fóton nela.

Mario Bunge, que nada entendeu de marxismo para além de erros acadêmicos, tentou refutar o “duplo caráter” em Hegel. Vejamos, de novo, um exemplo da natureza: segundo a seleção sexual, o cervo ter grandes galhas é positivo, uma vantagem, pois vence adversários de espécie em batalhas pela fêmea; mas, segundo a seleção natural, isso é negativo, uma desvantagem, pois dificulta correr para longe de seus predadores – positivo e negativo, vantagem e desvantagem, duplo caráter!


PROCESSO E CRISE

A lógica deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia, no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo, desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou, antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio, mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande cérebro formular algo do tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na verdade, sua condição de autoelevação.

A crise, desde o processo, é uma questão, em resumo, em igualdade com os demais, energética, como crise de produção. Uma estrela como Sol entra em crise quando a fusão nuclear, sua produção, gera muito ferro, um elemento muito estável, que impede que a gravidade produza novos elementos, interrompe-se o trabalho – a estrela explode, o que produz elementos mais pesados. A crise dos modos de produção – contradição entre forças de produção e relações de produção – começa com problemas de produção e a destinação da energia social-natural, como o Estado sugando muito da sociedade para sustentar o mundo, a própria sociedade, tal como ele é (mas acaba realimentando a crise). Os ciclos planetários, talvez também cósmicos, crises, na nossa Terra geram problemas como a falta de alimento-energia para os seres vivos.

Em geral, amplos processos e crises, que são o mesmo, produzem eras (eras do capital, eras biológicas, eras cósmicas, eras sistêmicas da sociedade etc.).

Kunh informa que as crises científicas levam ao foco em filosofia e novas teorias. Em semelhança, as crises sociais também produzem uma pressão pelo pensamento, por novos guias mentais. As crises biológicas podem levar animais com alguma complexidade a algum traço de pensamento um pouco mais complexo ou protoconciência, como nas abelhas antigas.

 

CONDIÇÃO

Hegel diz: 1) o todo é absolutamente incondicionado; 2) a condição é relativamente incondicionado em relação ao fundamento; 3) algo somente surge quando todas as condições de seu surgir estão presentes – as condições colapsam para dentro do resultado novo, logo as condições estão no seu condicionado. Algo mais deve ser dito, complementado sobre: algo surge apenas quando as condições de seu surgir e de seu consolidar estão maduros – pois pode surgir sem se consolidar; e isso pode tornar até um tanto mais difícil seu ressurgir. A vida deve ter surgido várias vezes de modo independente, e talvez até hoje surja, mas apenas uma das oportunidades deu certo. E ela surge e ressurge porque há condições para tal como compostos complexos, o meio solvente água e energia alta.

 

NECESSIDADE E ACASO

O acaso ocorre dentro da necessidade, que é o geral. Pode haver contradição entre ambos: o acaso pode adiar a realização da necessidade; por outro lado, o acaso que entra em oposição com a necessidade, definha-se e destrói-se. O fluxo geral da água pode ser determinado, mas, ao ir ao fundo dela, às suas pequenas partes, impera o acaso, um paradoxo real, que aparece como intelectual sem o ser de fato. O acaso de uma mutação prospera se está de acordo com as leis da vida ou definha se dificulta a sobrevivência da espécie por meio do indivíduo.

 

ENTRE O JUÍZO E O SILOGISMO

Hegel diz que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer dizer “A = BC” ou “A é BC”; esta é a fórmula básica, como nas equações quantitativas, por exemplo, o abstrato é o concreto em processo. Quando Lenin diz “política é economia concentrada” chega ao nosso formato, sendo a palavra “concentrada” ou fator de igualdade e conversão.

Na fórmula de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes interpretações ), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.

No mais, tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.

Segundo Ruy Fausto, Marx descobriu novo juízo em que o sujeito passa por diferentes predicados sem se confundir com um deles. Dinheiro é – medida dos valores – padrão de preços – capital – meio de pagamento – meio de entesouramento – expressão ímpar do valor. Na verdade, já está como primeiro caso criado de equação qualitativa, entre o juízo e o silogismo.

Para concluir este ponto, valerá a pena esforço teórico para sistematizar modos como “se, então”, “todos, exceto”, “tanto quanto”, “tende à” etc. Um trabalho que não cabe nesta obra.

 

CONCEITO

Para Hegel, como para Aristóteles, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a antecipação lógica, idealista, da realidade do DNA, materialista, o bloco de informação da vida, que se reproduz.

Com a unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo, que se condensa em matéria, espaço-matéria, temos a Arkhé, o absoluto, ou seja, uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega, inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas científicas, não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da Ciência da Lógica de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação completa, que tem a dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter avançado – mas base ainda limitada, sem correto fundamento.

Hegel pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo, conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí (na física atual, tanto espaço quanto o próprio tempo estão apenas do lado de fora da coisa, não se sabe como). Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser – ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia de Freud do sexo como pulsão elementar da psique , tem dentro de si o conceito puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo dialético.

 

SISTEMÁTICO

Hegel diz do método sistemático, para pesquisa e para exposição, com a analogia do aprendizado da escrita, em sequência: começamos com as vogais, as consoantes, as sílabas, as palavras, as frases e, enfim, o todo do texto. Ora, isso também é diacrônico, no tempo: o homem primitivo teve de evoluir sua fala nesta mesma sequência, assim como a fala da criança. As duas formas de serem sistemáticas são juntos e apenas um, mesmo que ocorram, aqui e ali, certas incorrespondências. Hegel diz que o mais simples e abstrato é o mais geral (hidrogênio, mercadoria, células etc.), logo o começo da exposição, mas também é isso porque é o primeiro na história.

Inspirado na química, completamos: temos: o analítico, que desenvolve a coisa sem nada nela acrescentar, o sintético, que adiciona algo como o oposto na coisa – e o combinatório, simples ou composto.

Exemplo: A - BC para AB - C.

Exemplo: máquina (construção etc.) e matéria-prima como capital constante e força de trabalho como capital variável.

Passa para

Máquina, construção etc. como capital fixo e matéria-prima junto com força de trabalho como capital circulante.

Vejamos outro caso. A combinação de capital comercial e produtivo produziu o domínio do primeiro sobre a produção e as finanças. O domínio do capital produtivo, produziu subordinação do capital comercial e das finanças. O domínio das finanças, combinado com o industrial, produziu dominação do capital industrial e do comercial. Hoje, temos a hiperinflação e domínio do capital fictício. Se limitássemos a combinatória aos maquinário, insumos e força de trabalho; diríamos que tivemos 300 anos de domínio dos “insumos”, 300 de domínio da “máquina”, 300 da força de trabalho, socialismo antes do comunismo. Mas isso logo se demonstra limitado.

A unidade do analítico e do sintético, ambos válidos por si, é o combinatório. Este tanto põe (sintético) quanto, por outro lado, não põe (analítico). Hegel apenas apresenta os opostos e, como dissemos, não viu o movimento, desenvolvimento, do sintético no sistemático; para ele, passamos do analítico para o sintético e vice-versa, como apenas dialética negativa, não positivamente dialético.

 

UNIDADE DE PRODUÇÃO – FIXO E CIRCULANTE

Hoje sabemos que o Ser é produção. As estrelas, por gravidade, produzem elementos novos, cada vez mais pesados, perdendo energia em forma de fótons e neutrinos. A célula é uma unidade produtiva que produz mais energia do que aquela exigida em sua produção. O homem teve, por exemplo, o campo de trabalho escravo, o feudo, a fábrica com trabalho manual e, agora, a fábrica sem trabalho manual. Temos, então, três fatores universais: a produção-consumo e a distribuição. Ser, não apenas o social, é trabalho também.

Assim, as três modalidades de ser têm o fixo e o circulante. Mas o fixo é, também, circulante, apenas relativamente fixo. No sistema solar, nível inferior de sistema orgânico, a luz é exemplo de circulante. Os elétrons compartilham fótons. Na biologia, o sistema circulatório bombeia o sangue. No capitalismo, temos o capital fixo (máquina, instalações etc.) e o capital circulante (matéria-prima, força de trabalho etc.). O circulante costuma servir de cola adicional que mantém o sistema como sistema; assim, o dinheiro unifica o mundo do capital. Assim, o próton é formado por 3 quarks que se unificam em sistema com o auxílio da partícula glúon, compartilhada entre eles, em movimento. No partido de tipo leninista, revolucionário, o jornal une a militância. Até onde se sabe, aquilo circulante é, em termos absolutos e quantitativos, menor em matéria do que aquilo relativamente fixo.

Em primeiro lugar, o circulante distribui energia, embora possa fazer mais do que isso. As abelhas são o circulante na biologia, em busca de energia, mas também polinizam as flores.

 

SUJEITO E OBJETO

Adorno opõe a dialética fechada de Hegel à dialética aberta (Adorno, 2013, p. 65). Mas há o caminho do meio, o terceiro “excluído”. Pode-se chegar ao todo estável, amplo e correto no geral, sem esgotar, sem domar tudo. Isso permite reformas apenas, atualizações, mesmo que reformas revolucionárias. Veremos neste livro e neste capítulo uma dialética nova, que preserva completamente Hegel, e põe, desta vez, o todo, ainda que não tudo.

A ciência conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias etc.

Entre as condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da ciência e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo, de suas possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova revolução científica, para sua realização socialista.

 


OS MÉTODOS CIENTÍFICOS

 

É muito comum em meios universitários e entre militantes de esquerda dizer “isso é dialético” para afirma que algo é complicado, confuso, misturado. A dialética é algo sobre o qual muitos falam, mas poucos sabem exatamente do que se trata. Os textos a seguir pretendem oferecer uma introdução de fato completa e clara.

A dialética é 1) um método científico, 2) uma lógica da realidade e do pensamento (logo, uma concepção de mundo, como afirmar que o real é necessariamente contraditório) e 3) uma forma de exposição da pesquisa científica concluída. No nosso dia a dia, comum ouvir alguém reclamar “isso não tem lógica, é contraditório!”; ao contrário, o dialético é o contraditório – apenas há lógica na contradição! Na Grécia antiga, a dialética era vista como parte da arte do diálogo, como Sócrates fazendo os adversários com os quais debatia cair em uma posição contraditória, a corrigir seus argumentos. Muitos séculos depois, o alemão Hegel escreveu uma obra chamada Ciência da Lógica, que toma para si toda a história do pensamento, e chega a conclusões inteiramente novas. Por exemplo: a história da filosofia caiu numa oposição: ou o universo era formado pelo acaso ou, ao contrário, por leis necessárias, então Hegel resolveu com a conclusão de que o acaso atua junto e em base à lei, à necessidade (a necessidade é aquilo que, de fato, é); a lei dá as condições para o acaso, seu oposto, acontecer, o acaso é o acontecer da própria necessidade (lei) – demonstra uma unidade, ainda que contraditória, dos opostos, acaso e necessidade (lei). Mas, se pareceu difícil, não adiantemos demais os assuntos: avancemos aos poucos e progressivamente.

 

A HISTÓRIA DO MÉTODO CIENTÍFICO

 

RELIGIÃO

O primeiro método é o mais distante de si próprio, seu oposto e negação – ou seja, um método não científico. Os homens percebiam padrões tantas vezes reais, então davam uma explicação mística àquela regularidade, à repetição. Assim os antigos sacerdotes judeus diziam que Deus desejava que lavássemos as mãos antes das refeições.

 

FILOSOFIA

Separando-se e derivando da mitologia, a filosofia antiga tinha de lidar com a falta de dados empíricos. Para isso, contava com o pensamento, com a busca de bons raciocínios e argumentos para tentar explicar o mundo.

Os filósofos negavam o empírico como algo sem permanência, incerto, perecível. Buscavam – aí está o lado forte – a essência da realidade, porém consideravam esta mesma essência como imutável, imóvel (diferente do que considera a dialética moderna). Um dos lados fortes de tal postura é querer saber das coisas nas próprias coisas, “deixar a pedra falar por ela mesma”.

 

EMPIRISMO

O empirismo afirma que o cientista deve limitar-se a colher e organizar os dados empíricos. Apenas, e talvez um ou outro comentário lateral entre os gráficos. Para Bacon, por exemplo, os sentidos revelavam a realidade, por isso devemos usar o seguinte procedimento: colher dados e, depois, generalizá-los – chamamos método indutivo. Segundo esse pensador, o erro seria colocar nossos pensamentos, nossos valores, nossos pontos de vista enganadores sobre os dados. O lado positivo é seu apresso pelo empírico, mas seu lado negativo é limitar-se aí.

Hegel usa a seguinte metáfora para sua crítica: afirma que o empirismo separa as camadas da cebola, que, na verdade, crescem conjuntamente, e esquece-se de reunir o que foi separado (abstraído). Eles veem as pates do todo, mas esquecem da interação delas e que o todo tem características próprias, que as parte não têm.

O empirismo toma dados empíricos e generaliza aquilo que é repetido. O problema é que deixa de tomar a realidade em seu movimento, em seu desenvolvimento.

Um exemplo desse método é seu uso por Freud. Ele observou que várias pessoas tinham esta ou aquela característica central, logo ele pensou: existem três tipos de personalidade – 1) a psicótica, que é rígida nas ideias, 2) a neurótica, que reformula as ideias, 3) a perversa, que adota esta ou, depois, ao contrário, aquela ideia se causará prazer para si, se lhe dá alguma vantagem. É uma generalização, uma indução.

Hoje, quando temos computadores que percebem vários padrões ocultos, o trabalho apenas empirista tornou-se desnecessário, a máquina faz o trabalho melhor, cabendo ao cientista a interpretação dos dados.

 

RACIONALISMO

O racionalismo defende que se deve ir de conclusões racionais encaminhando novas conclusões racionais. É o método dedutivo. O cientista faz uma afirmação que considera verdadeira, então deduz daí as consequências de tal proposta.

O lado positivo da visão é que colocar tudo sob dúvida, como as supostas premissas obrigatórias. O lado negativo, segundo Hegel, é que não propõe verdadeiramente um método.

Os racionalistas pensavam que os dados poderiam nos enganar com muita frequência, logo é a razão que deveria guiar o trabalho do cientista – o oposto da ideia dos empiristas.

Einstein usou e defendeu o método dedutivo, embora, no fundo, sem saber, seu método fosse outro, como demonstraremos. Ele partia, por exemplo, das premissas “arbitrárias” 1) as leis do universo são as mesmas se o observador não está em aceleração; 2) a velocidade da luz é a maior possível no universo. Daí ele derivava conclusões, que poderiam se provadas.

 

A EVOLUÇÃO DAS TENTATIVAS DE UNIFICAÇÃO

A história da filosofia caiu-se em uma oposição entre empirismo e racionalismo. Veremos agora dois outros métodos científicos que procuram, cada um depois e mais avançado que o outro, resolver a questão – os métodos hipotético-dedutivo e dialético em pricipal.

 

KANTISMO

Kant tentou unir empirismo e racionalismo com a seguinte proposta: temos conceitos feitos pelo homem (racionalismo) que organizam a empiria, os dados confusos (empirismo). A crítica dialética é a de que os conceitos devem mudar se os dados empíricos mudam, se a realidade muda, ou seja, os conceitos devem se adaptar aos dados, não é os dados que devem caber dentro dos conceitos – os conceitos nada têm de fixos, eternos, imóveis, diferente do que defendia o kantismo.

A ideia de Kant entrou em decadência por muitos fatores. Entre eles: ele pensava o espaço e o tempo como categorias apenas mentais, para organizar o pensamento “por fora”, mas a física einsteana provou que o espaço-tempo existe.

 

HIPOTÉTICO-DEDUTIVO

Sobre o método hipotético-dedutivo de Popper, dito em resumo: diante de um problema científico, delimita-se uma hipótese (ideia, racionalismo, subjetividade) e o cientista escolhe, ele mesmo, o método de verificação empírica (empirismo). A hipótese é, assim, testada – verificada. Como os demais, esse método rendeu muitos frutos, mas tem seus limites: um deles é que muitas vezes descobrimos o “como” da realidade, porém também temos de descobrir o “motivo”, o “porque”. Além disso, pensar hipóteses é quase um tiro no escuro, mesmo com critérios que limitam tais hipóteses. O mesmo fato pode ter vários e vários fundamentos, razões diferentes, causas diferentes.

A crítica conclui:

1)  Nem sempre se parte de hipóteses, pois podemos simplesmente ir colher dados como primeira ação.

2)  Uma hipótese não precisa ser falsificada, como quer Popper, mas, antes, comprovada.

3)  Uma teoria errar uma previsão não significa que ela seja descartável, mas que deve ser apenas adaptada, em parte alterada, mantendo seu núcleo central de pé.

4)  Há casos na ciência em que uma teoria erra a previsão, não acerta o fato, mas depois, por insistência nela, descobre-se que é, na verdade, correta. Por exemplo: a teoria da gravidade levava à previsão de novos planetas no sistema solar, mas não eles foram encontrados; mesmo assim, a teimosia de defender a teoria “errada”, fez depois descobrir tais planetas ocultos.

Portanto, a concepção científica de Popper demonstrou-se limitada. Para ele, tanto o marxismo quanto a teoria da evolução não são ciências. Diante do prestígio da segunda teoria, atacado por isso, recuou, no início apenas de modo parcial, afirmando que a teoria de Darwin era certa metafísica bem sucedida, mas não em exato ciência. A questão é que o método defendido por Popper não é capaz de lidar com ciências que levam em conta a história do objeto de estudo, como a história humana, a história biológica, a geologia, a cosmologia etc.

 

DIALÉTICA (EMPÍRICO-DEDUTIVO)

Indo direto ao ponto, muito resumido: a dialética é o ir aos dados empíricos, colhê-los, depois, ou quase depois, passar a fazer intepretações, conclusões (não somente comentários) deles – e critica-se os limites e enganos dos dados empíricos. Do objeto em pesquisa, ver-se a estrutura e o processo, o sistemático e o histórico, o genético, a aparência e a essência, o externo e o interno, o diverso e a unidade interna e oculta. 

Leiamos o próprio Marx sobre seu método:

 

A investigação deve se apropriar da matéria (…) em seus detalhes, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno. Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real. (Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo. P. 90; grifo nosso.)

 

Ao longo deste livro, evito colocar citações, porém é impossível fazer um resumo tão claro quanto. Vejamos, agora, um comentador de O Capital elogiado por Marx:

 

Para Marx, apenas uma coisa é importante: descobrir a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa. E importa-lhe não só a lei que os rege, uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem numa inter-relação que se pode observar num período determinado. Para ele, importa sobretudo a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transformação de uma forma a outra, de uma ordem de inter-relação a outra. Tão logo tenha descoberto essa lei, ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se manifesta na vida social. (Idem)

 

Lembramos o leitor que o método não é o critério da verdade. Com os demais métodos, ao menos uma parte importante da realidade foi compreendida pelos cientistas. O método dialético é apenas o mais profundo – também o mais difícil, por isso merece mais de um capítulo nesta obra.

Vejamos o que diz Hegel:

 

Mas a filosofia não deve ser uma narração daquilo que acontece, e sim um conhecimento daquilo que é verdadeiro no acontecimento e, além disso, a partir do verdadeiro, ela deve compreender aquilo que, na narração, aparece como um mero acontecer. (Hegel, Ciência da Lógica, Doutrina do Conceito, Ed. Vozes, p. 50.)

 

Para esta citação, vale um exemplo. A mera descrição da história da humanidade dirá que tivemos o escravismo; depois, a servidão (feudalismo); depois, o trabalho assalariado (capitalismo); depois, o trabalho associado (socialismo). Mas o que isso diz, embora sem dizer? Veja que a passagem de um sistema de trabalho para outro, com o aumento da produtividade, torna o homem cada vez mais livre: o servo é mais livre que o escravo; o assalariado moderno, formalmente livre, é mais livre que o servo; o trabalhador associado, verdadeiramente livre, é mais livre que o assalariado – há uma tendência para a liberdade. Isso, a conclusão, não é algo palpável, sensível ou tocável, mas descobre-se que é verdadeiro a partir do empírico.

O método dialético evita de todo elaborar hipóteses, fazer especulações, histórias metafóricas etc. O cientista colhe o conjunto dos dados empíricos (empirismo, o papel necessário das informações) e busca descobrir, a partir daí, o não empírico (racionalismo, o papel ativo do pensamento, do sujeito). Em linguagem de Hegel: descobrir o suprassensível, o não sensível, por meio do sensível.

A dialética funde racionalismo e empirismo. É verdade que os dados empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro daquilo empírico.

Vejamos o método dialético. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles, mas neles mesmos. É possível perceber, mas não é possível tocar a verdade, pois ela não é uma coisa.

Chamo tal método, aqui exposto e desenvolvido enfim, método empírico-dedutivo (dialético). A conclusão, o não empírico, vem dos dados, mas os dados não dizem, ou melhor, escondem e revelam ao mesmo tempo. Reforçamos, portanto: 1) do empírico podemos chegar, também, a algo real, mas não diretamente observável, como o valor econômico, ou o elétron, ou a energia; 2) Os dados e a aparência podem enganar, não basta colher pistas ou provas.

Bem ou mal, cientes ou não; Darwin, Einstein, Marx e Freud usaram o método empírico-dedutivo (dialético). As premissas das quais partia Einstein eram razoáveis no sentido de já terem sido observadas, não eram arbitrárias e criativas, daí derivava conclusões. Darwin percorreu o mundo para conhecer a natureza viva em sua empiria para, daí, alcançar concussões – Wallace fez o mesmo. Freud ouvia sonhos dos pacientes e suas falas aparentemente soltas e desconexas para, aí então, perceber uma unidade interna oculta.

Hegel explica que devemos começar pelos dados empíricos, sem impor conceitos:

 

O saber que, de início, ou imediatamente, é nosso objeto, não pode ser nenhuma outro senão o saber que é imediato: - saber do imediato ou do essente. Devemos proceder também, de forma imediata ou receptiva, nada mudando assim na maneira como e se oferece e afastando de nosso apreender o conceituar. (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 83)

 

E critica o começo dedutivo do racionalismo:

 

Quando se apresenta à ciência, como pedra de toque – diante da qual não poderia de modo algum sustentar-se –, a exigência de deduzir, construir, encontrar a priori (ou seja como for) o que se chama esta coisa ou um este homem, então seria justo que a exigência dissesse que é esta coisa, o qual é este Eu que ela “visa”; porém, é impossível dizer isso. (Idem, p. 87)

 

No procedimento dialético, partimos do Ser, ou seja, vemos o qualitativo, o quantitativo e medimos; em seguida, chegamos, assim, no não empírico, na essência; a partir disso, no fim, alcançamos os conceitos necessários.

A seguir, comparamos a metodologia comum nas universidades com o procedimento dialético.

 

 

COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS

No geral, veremos que, na relação sujeito-objeto ou objeto-sujeito, a prioridade, o mais correto, é adaptar-se ao objeto de pesquisa. 

 

Paradigmas

A ciência anterior procurou objetos físicos como exemplares do funcionamento da realidade. O mundo, a sociedade, o universo seriam como um relógio, uma máquina, um computador. Um erudito sociólogo pode, assim, reclamar da existência de greves, pois os operários dessa forma negam seu papel no relógio social, isto é, rompem com um modelo artificial, posto de fora…

A realidade é sistemática ou orgânica. Veja que tais palavras são mais abstratas, intocáveis. A concepção de sistema orgânico – ou complexo dinâmico – é, na verdade, mais concreto porque permite antever o objeto de estudo como complexo, composto de partes interligadas e mutualmente causais, em desenvolvimento, mutável, contraditório etc. Vejamos em psicologia: aspectos específicos do cérebro podem ser semelhantes a circuitos mecânicos, mas o todo é irredutível a tal concepção, se bem observada, muito pobre. A realidade também não é como o corpo humano, pois, além da estrutura orgânica, temos de ver, também, o processo, a história do objeto de estudo.

A concepção de mecanicista de mundo tem origem histórica e efeito até mesmo no inconsciente dos cientistas. A cientificidade no capitalismo estava ligada à necessidade de produzir novas ferramentas, produtos-mercadorias e máquinas. Daí que a visão mecânica teve uma pesada base para impor. O maquinário, não a visão orgânica sistemática, tornou-se majoritária. Mas se a ciência que alçar voos mais altos ou menores, no macro e no micro, terá de considerar a realidade de outro modo, tal como ela é.

 

Escolha de premissas

Segundo o procedimento comum, o cientista precisa escolher entre duas premissas opostas: ou o homem é o lobo do homem ou o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Ora, escolher qualquer um dos caminhos é limitar a visão da realidade já na partida. O correto é escolher a realidade empírica como sua base; uma antecipação filosófica, uma concepção, deve ser resultado de pesquisa – não o começo. De igual maneira, um postulado ou princípio deve ser a solução final, o resultado que resolve, no lugar de ser o começo da pesquisa.

 

Com quais conceitos?

Em projetos de pesquisa é comum perguntar com quais categorias o estudioso contará para alcançar conclusões. É o método científico anterior, inspirado em Kant. O método dialético tem, primeiro, de pesquisar a fundo para descobrir as categorias: elas são resultados, não o começo. Os conceitos não são inventados, fazendo a realidade caber neles; são descobertos e devem corresponder a um objeto real. Tem-se um conjunto categorial após a pesquisa. Enquanto o objeto é histórico, ele tem início com desenvolvimento e um fim. O trabalho surge num momento específico da história. Desde sua origem, modifica-se: trabalho primitivo, trabalho escravo, trabalho servil, trabalho assalariado, trabalho associado.

Parte do esforço científico é a crítica das categorias. Há categorias de essência e de aparência. Por exemplo: dividir partidos em direita e esquerda é usual e correto em seu nível, mas é limitado na ciência mais profunda; partidos e líderes políticos representam com seus programas interesses de classes e frações de classes sociais; há partidos cujo programa representa os bancos, os industriais, a classe média servidora pública, os operários, etc. As categorias de aparência avançam em certos aspectos e limitam em outros, por isso a tarefa é descobrir as categorias de essência. As categorias de aparência são, também, em certo sentido, o ponto de partida, mas ao mesmo tempo em que são criticados.

Kant considera que os conceitos são anteriores, algo puramente mental, principalmente o espaço e o tempo. Assim, tenta guardar para si o lado racionalista. No parágrafo anterior demonstrados que se pode ser mais sofisticado.

É mais fácil ao esforço científico alcançar conceitos de aparência da realidade, que tanto avançam quanto impedem o avançar da compreensão do real. Ir à essência, compreender a essência da realidade, é o salto necessário à resolução dos mais profundos problemas científicos, que não cabem nos limites do aparencial. Valor de troca e valor de troca preço são categorias importantes, porém a realidade social capitalista apenas pode ser explicada pela categoria interna a elas, que elas expressam e ao mesmo tempo ocultam, como o valor-trabalho. Daí que o projeto inicial de Marx e Engels levava o nome de "crítica das categorias da economia política".

Vejamos um caso de atualização categorial. Marx percebeu que, diferente de outros tipos de sociedade, o desemprego é uma lei social no capitalismo, chamou “exército industrial de reserva”. Com o desemprego crônico, Leon Trotsky necessitou atualizar o conceito para “subclasse de desempregados”.

Em psicologia é cobrado em doutorado sobre os conceitos com os quais contará. Se escolhesse, por exemplo, os da psicanálise – pulsão de morte, complexo de Édipo etc. –, começaria limitando sua pesquisa a categorias arbitrariamente eleitas.

No mais, o método dialético evita trabalhar com definições: o conceito é cada vez mais preenchido. Exemplo: o conceito de consciência não cabe numa simples definição única, ao contrário, vai sendo “encharcado”; aparece como “a consciência é sempre consciência de algo”, depois como “imaginação determinada”, depois é “alucinação relativa” etc. Exemplo de Marx: o capital é, no decorrer de seu livro, dinheiro e mercadoria, valor que se autovaloriza, trabalho morto que suga trabalho vivo, uma relação social e não uma coisa, etc. Na física, energia como conceito tem inúmeros significados, todos corretos e limitados.

Os conceitos de positivo e negativo na físico-química são de aparência. Como o próton e o elétron, tão diferentes e desproporcionais, seriam de carga +1 e -1? Descobrimos que os opostos são, antes, partes, embora também inteiros em si, de algo antes uno, por isso um encaixa-se e desliza-se no outro.

 

Fontes

Toda fonte é útil e, em certa medida, obrigatória: estatísticas, entrevistas, relatos,etc. A história positivista considerava válido apenas o material empírico das fontes oficiais do Estado… É uma concepção limitada. Os pós-modernos caem no erro oposto, qual seja, desconsideram dados estatísticos, quantitativos.

Em geral, é o objeto de pesquisa que determina como ele será descoberto, logo nossa pesquisadora evita escolher por si como avaliar o real e tenta esgotar todas as fontes possíveis rumo à verdade.

A pesquisa dialética é como estar em um labirinto. É preciso andar, aprender, percorrer, testar até entender o ambiente inteiro e, somente depois disso, encontrar o caminho correto.

 

Espaço e tempo

A orientadora de uma psicóloga pede que, para simplificar a pesquisa, limite em um determinado espaço, como um bairro da cidade, e em um determinado tempo, talvez uma década. Ora, mais uma vez é o objeto da pesquisa que deve delimitar o tempo e o espaço necessários para compreender de fato, por exemplo, o fenômeno do suicídio em Teresina/PI.

 

Interdisciplinaridade

Hoje, não é clara a fronteira da química e da física na física quântica. A ciência hiperespecializada não alcança a verdade.

O caso acima é hipotético, mas indica como é o trabalho científico: a especialização deve ser acompanhada com uma cultura mais geral. Em parte, no decorrer da pesquisa, que costuma demorar anos, o cientista modifica-se, adquire tais conhecimentos. A verdadeira pesquisa costuma unir várias áreas de conhecimento, antes separadas e especializadas.

 

A hipótese

O método hipotético-dedutivo começa com a hipótese diante de um problema. O método dialético, ao contrário, termina com hipóteses, previsões e tendências. Foi a partir da avaliação da realidade que Marx percebeu que a livre concorrência de sua época desemborcaria no seu oposto, na sua negação, nos monopólios e oligopólios; concluiu que a tendência seria a redução do número de operários nas fábricas, substituídos pelo maquinário, o que corresponde hoje à automação/robótica; expôs que a taxa de lucro tende à queda no longo prazo (na sua época, foi mais uma demonstração lógico-matemática enquanto hoje é empiricamente observado, pois temos dados de duração secular). Por fim, destacamos que nem tudo permite previsão exata apenas porque foi explicado; Marx explicou as crises cíclicas do capitalismo, mas é impossível daí fazer previsões de quando e onde será exatamente a próxima quebra econômica (porque o objeto, a realidade, é muito complexo).

 

Historicidade

A realidade deve ser vista no espaço e no tempo. Interessa mais as leis da mudança da realidade, além das leis regulares e “permanentes”. É preciso ver, portanto a estrutura e a mudança, o que é próprio de cada época.

 

Como organizar o material

Na ciência comum, cabe ao pesquisador organizar como deseja os dados empíricos, tecer alguns comentários, aqui e ali, entre uma estatística e outra, e talvez encerrar seu livro com alguma proposta. A dialética descobre, ao contrário, que a organização de um livro, de uma sequência de capítulos, deve surgir do próprio objeto de pesquisa – nunca é uma junção arbitrária. Um capítulo, por exemplo, deve derivar o próximo, que deriva o outro, que deriva o seguinte, e assim por diante. O que é tratado no primeiro capítulo é condição para entender o segundo capítulo e todos os demais. Em minha pesquisa, A crise sistêmica, tive de tratar primeiro da economia, depois das classes, depois da subjetividade, depois das organizações – em sequência. Fiz isso não por um “modelo” artificial, mas porque a própria realidade tem essa hierarquia, exigindo uma hierarquia semelhante também no avançar do livro. Se fizesse diferente, quase a todo momento teria de remeter a assuntos ainda não tratados.

 

O que pesquisar

De imediato, a liberdade de tema para pesquisa deve ser completa, pois o pesquisador vai ao rumo daquele assunto que lhe interessa. Mas, se o pesquisador tem responsabilidade, ele pesquisa o que a realidade ou a teoria estão de fato necessitando. Pode-se, por exemplo, listar uma série de temas centrais, urgentes, e escolher entre eles qual tem mais afinidade. No fundo, o objeto, o real, determina qual vai ser o tema da pesquisa – se se quer fazer algo relevante, útil. No Brasil, pesquisa-se bem menos sobre violência urbana do que a importância do tema, do problema.

 

Prioridade do objeto

Nos tópicos anteriores, fomos demonstrando a “prioridade ou centralidade do objeto” na pesquisa. Isso é o dialético. Kant colocava, ao contrário, o sujeito como central, pois ele escolheria o espaço e o tempo, os conceitos, como organizar a pesquisa etc. Esse é método inferior, anterior a Hegel e Marx. Tomar para si a prioridade do objeto é a grande conquista científica.

 

Bibliografia

Devemos revisar o que já foi dito sobre o nosso objeto de pesquisa. É preciso ver, em outros autores, seus acertos nos seus erros e seus erros nos seus acertos, além de criticar as categorias usadas por eles. Em geral, uma área de pesquisa cai em teorias ou teses opostas inimigas e ambas unilaterais, parciais, erradas e certas ao mesmo tempo; isso nos dá a oportunidade de resolver a polêmica e encontrar uma terceira resposta que explica porque erraram e também acertaram os teóricos anteriores. Levamos ideias de outros ao máximo desenvolvimento até que são superadas por elas mesmas, transcendem ou são por si mesmas extrapoladas. Assim é a refutação dialética de outra tese: mostrar sua incompletude, desenvolvê-la ao máximo e corrigi-la.

 

Ideologia

Toda grande teoria tem sua versão vulgar. Entre alguns cientistas, afirma-se que é preciso separar a informação objetiva de ideologias. Mas ideologização é, apenas, uma concepção de mundo; se uma descoberta científica altera nosso modo de ver a realidade, ele gera uma nova ideologia como um dos produtos seus. Se o Sol passa a estar no centro do universo, não mais a Terra – tudo muda. Nossa sensibilidade, nossa capacidade de ver o mundo, é, assim, histórica, avança na história.

Podemos separar a verdadeira ideologia da falsa ideologia. A primeira está revelando com o mundo tal como ele é – por aproximação da verdade; a segunda, ao inverso, mistifica ou deforma a realidade, produz um engano.

 

Filosofia

Desde Kant e Hegel, a filosofia separada da ciência tornou-se uma fraqueza. O desenvolvimento de uma pesquisa é tanto mais filosófica quanto mais profunda, por isso o método dialético funde ciência e filosofia na exposição de suas pesquisas.

 

O perfil do cientista

Nas ciências humanas, a posição do cientista perante a realidade – se é conservador ou revolucionário, se é religioso ou ateu etc. – e sua própria realidade – se é ligado aos trabalhadores ou aos ricos, se sua vida é ativa e contraditória ou extremamente estável – afeta a capacidade de ver o mundo tal como ele é de fato. Em geral, a posição verdadeiramente crítica é superior.

Nas ciências exatas e biológicas, isto não é uma verdade em si. Mas é de se supor que o estilo de vida do cientista, no sentido amplo, ajuda ou atrapalha indiretamente seus avanços.

Na psicologia, percebe-se que certos estudantes limitados sexualmente têm dificuldades com a teoria freudiana (estando tal teoria correta ou não). Outros negam as demais teorias e refugiam-se em Jung para evitar a crise de lidar com a crítica irreligiosa, para fugir de conclusões ateístas.

Nas áreas como história, economia e sociologia, os pensadores têm mais ou menos dificuldade – e mesmo capacidade – de ir a fundo no objeto de pesquisa, de acessar a realidade, segundo o projeto social que reivindicam, a classe ao qual pertencem etc. por mais que sejam muito esforçados. Nunca os economistas ligados aos patrões chegariam às conclusões tão profundas de Marx em O Capital.

A moderna ciência da mente reforça isso. Certo grau de estresse, ao menos sob o capitalismo, é necessário para a criatividade como a árvore dá flor e fruto quando se sente ameaçada. A vida dos militantes socialistas é sem rotina, com novidade constante, com desafios, com ameaças – por isso, também, o movimento comunista produziu tantos gênios.

Além disso, como sujeito-ferramenta, o cientista tem que ser capaz de ver, deve ser culto, como conhecimento do melhor na filosofia. Indicamos os seguintes filósofos: os pré-socráticos, Platão, Aristóteles, Epicuro, Hegel, Marx e Engels.

  

O critério da verdade

A teoria das cordas na física, por exemplo, quer “provar” sua validade por ser matematizada, elegante, única disponível etc. – já que faltam provas empíricas. São maus critérios. A ideia de que a Terra era o centro do universo justificava-se por seus cálculos, que davam conta de movimentos e previsões… A teoria heliocêntrica, ao contrário, foi defendida por ter cálculos mais simples. Ora, o critério não pode ser de tal tipo. Marx afirma que, ao contrário, a prática é o critério da verdade – não simplicidade de cálculos, elegância da teoria etc.

Uma teoria deve ser, antes de mais, verificável. Mas a falha de uma construção teórica não deve necessariamente indicar a negação de toda a sua teorização; pode ser que aspectos tenham de ser modificados, alterados, acrescentados – mantendo firme boa parte daquilo teorizado. Assim, a "falseabilidade" é relativa, não é o melhor critério.

 

 

 

A FILOSOFIA E A CIÊNCIA

 

A FILOSOFIA CIENTÍFICA

Muitos filósofos demitem-se da arte de pensar com a seguinte justificativa: a filosofia formula perguntas, não respostas… Assim, a filosofia científica apenas expõe os problemas de certa ciência, apresenta de modo organizado as diferentes propostas. E só. Na verdade, se quer alguma relevância, deve apresentar soluções e hipóteses, além de boas indagações.

Uma filosofia baseada em evidências e na ciência chamo filosofia objetiva, quando a realidade guia o pensamento. Isso é o que está exposto neste ensaio. Em geral, os cientistas têm baixa formação filosófica, logo fazem má ciência; por isso, precisamos de filósofos dignos do nome e das tarefas modernas do pensamento.

A filosofia válida é de Hegel para frente… A Ciência da lógica de Hegel e a filosofia de Marx, sua cientificidade, são as mais importantes para alguém ligado à ciência. As descobertas modernas afirmam os dois filósofos como os grandes e mais avançados paradigmas ainda não reconhecidos. Questões ideológicas e classistas, no entanto, atrapalham tal avanço.

 

REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

Nossa concepção de ciência é evolucionária e revolucionária. Thomas Kuhn teorizou “A estrutura das revoluções científicas”, como o seguinte movimento: ciência normal – resolução de quebra-cabeças – paradigma – anomalia – crise – revolução. Mas para ele não há evolução e saltos ontológicos na ciência. Se bem observado, a ciência vai de teorias de aparência para teorias de essência. Newton tomou o espaço desde a empiria imediata, como imóvel e independente. Depois, chegamos mais perto da essência, o espaço enquanto móvel e ligado à matéria. É natural que a história da ciência avance assim, rumo ao mundo essencial que se demonstra oposto e inverso do mundo que aparece.

 

SUBSTANCIALISMO E RELACIONAISMO

A ciência e sua filosofia caíram em duas teses unilaterais e opostas, a de substância e a de reLação. Assim, a massa ou é substância ou relacional, o espaço existe de modo absoluto ou é apenas expressão de relações, a evolução das espécies é ou relaciona (lamakismo) ou genético. O substancialismo chegou a pensar que o calor seria uma partícula calorífera.

Em Aristóteles, em sua metafísica, tal oposição limitante já existia:

 

Mas, é absurdo dizer que são os mesmos para tudo: de fato, dos mesmos elementos derivam tanto as relações como a substância. E qual poderia ser esse elemento comum? Além da substância e das outras categorias não existe elemento comum; o elemento existe anteriormente àquele de que é elemento. Na realidade, nem substância é elemento das relações, nem qualquer uma das relações é elemento da substância. (Aristóteles, 2002, p. 551)

 

Pode-se perguntar se são diferentes ou idênticos os princípios e as causas das substâncias e das relações e do mesmo modo para cada uma das outras categorias.

A teoria substanciaista do espaço de Newton imperou por muito tempo, mas começou a ser superado por Einstein ao se descobrir, a partir de suas teorias, que o espaço curva-se em relação com a matéria e movimenta-se. Neste livro, a ideia de que a matéria e a luz decaem em espaço visa superar também a oposição limitante entre substancialismo e relacionalismo.

A verdade está no terceiro “excluído”. É verdade que somos, por exemplo, determinados pela genética, mas também é verdade que o ambiente nos altera reativamente. Os descendentes de um povo que passou fome tende a ter mais capacidade de acumular gordura.

 

SISTEMA FILOSÓFICO

A decadência da filosofia moderna leva a negar, a priori, a possibilidade de um pensamento sistemático. Assim, o contemporâneo filósofo justifica sua falta de esforço e competência declarando uma limitação final à reflexão. Ao contrário, este livro expõe de modo acabado a base de um sistema científico-filosófico completo o bastante, que corresponde a uma concepção de natureza, de natureza humana, de estética, de arte militar, de teoria da história e da crise dos sistemas sociais etc. (expostos na obra A crise sistêmica). Pode parecer, visto assim, que se partiu de um princípio e de uma premissa para derivar, em dedução, toda uma rede de conclusões. Não é meu método, que é o oposto, o dialético. Primeiro, percebi a essência humana, a natureza comum das crises sistêmicas etc. para, a partir daí, perceber que há uma sistemismo por detrás, como conclusão, nunca enquanto começo da pesquisa. Assim, posições como movimento= energia = tempo = etc. e tudo como integração relacional em movimento são bases de um pretendido definitivo sistema de pensamento, ainda que relativamente aberto.

Hegel afirma que uma premissa ou postulado é verdadeiro e ao mesmo tempo é falso, porque, de um lado, expressa uma parte da realidade, mas, de outro, expressa apenas uma parte da realidade. A verdade, diz ele, é o todo. Pois bem; com construções como nossa fórmula categorial movimento = energia = tempo = espaço = matéria etc. chegamos à totalidade, a todos os elementos de base.

 

 

MATEMÁTICA

A matemática é uma invenção ou existe na realidade? Sobre, a resposta correta deve revelar a causa da longa polêmica. Um e outro e, ao mesmo tempo, nem um nem outro. A matemática é uma construção humana feita para corresponder à realidade. Parece existir no real porque quer ser retrato dele, ao menos no quantitativo. Mas aí há um nó. A matemática não surgiu de dentro para fora do sujeito apenas ou primeiro; antes, "veio" de fora, do mundo, para dentro do pensamento. Quando se fala em matemática como invenção parece algo como na arte, uma pura inspiração, algo quase arbitrário, um raio em céu azul. Nada disso. A quantidade existe na própria matéria. Dito isso, fica clara, além de resolvida, a oposição, o ou-ou, de longa data.

 

UMA HIPÓTESE INCÔMODA

É difícil resumir a enorme contribuição revolucionária de Einstein, que tem sido confirmada pelas atuais e rigorosas medições. Sua teoria, ademais, permitiu prever o Big Bang, teoria contra a qual ele protestou por algum tempo, e os buracos negros, que ele pensava ser impossível na prática existir. No entanto, deve-se lançar a questão: e se parte das conclusões de Einstein são, na verdade, paradoxos científicos-lógicos abertos, não propriamente conclusões? Por exemplo, para a luz, o objeto mais rápido, o tempo não passa nem o espaço (isso reforça que movimento = espaço = tempo = etc. com um tornando-se o outro); isso é um paradoxo a ser resolvido, pois é claro que o fóton de luz vai-se do Sol para a Terra – mas, do ponto de vista da luz, isso não ocorre! Na antiguidade grega, dizia-se que o movimento de uma flecha, como todo movimento, seria uma ilusão ou que Aquiles nunca alcançaria a tartaruga porque sempre teria um caminho a vencer antes dela. Nesse caso, a ideia moderna de velocidade, espaço sobre o tempo, resolveu a questão. Talvez tenhamos de pensar uma nova e agregada teoria do movimento; por exemplo, uma pessoa que gira na terra sobre a linha do equador tem velocidade diferente de alguém que faz o mesmo giro no polo norte, pois eles percorrem o mesmo tempo, 24 horas, mas um espaço diferente na mesma temporalidade. Mas deve existir alguma medida de movimento que os iguale.

 

A DIALÉTICA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

O marxismo é, de longe, o melhor que há nas ciências humanas, apesar de inevitavelmente minoritário sob o capitalismo (as ideias dominantes de uma época são as ideias de sua classe dominante). Na psicologia, o freudismo agrega também os mais eruditos, junto com a psicologia marxista. Por que tal sucesso, embora minoria? Porque está numa posição social que necessita da verdade, saber como o mundo de fato funciona e suas razões. Por outro, a pobreza material e espiritual comove a muitos talentos; daí, por exemplo, a força do marxismo e do marxismo acadêmico na América Latina, em especial no Brasil e na Argentina. O capitalismo não é capaz, hoje, de provar que é um sistema merecedor de permanência. Mas a dialética é forte também porque 1) o objeto social é o mais complexo, incluindo aí a ciência da psique; 2) temos uma riqueza enorme de dados empíricos nesse objeto. Tais características não existem com tanta força nas ciências da natureza. De todo modo, o século XX teve muitos influenciados, de modo direto ou indireto, pelo marxismo e pela dialética, Born e Einstein em destaque. Isso levou ao ponto de conservadores acusarem a teria da evolução, a quântica e a relatividade de “ciências marxistas”. Vale recordar que o método não é o critério da verdade, embora a dialética prove-se um meio superior.

 

O FIM DO PARADIGMA ARISTOTÉLICO

As ideias de Aristóteles tiveram sucesso milenar, passando por toda a Idade média como teoria majoritária sobre o mundo. Mas a ciência moderna e contemporânea significa a superação de tal paradigma, que é baseado no inocente “basta olhar” ou “se assim aparece, assim é”.

Dante inicia o enfrentamento ao aristotelismo afirmando que uma obra aonde o conteúdo não é comédia tem a estrutura, a forma, de comédia. Assim, subverte a estética de Aristóteles. Depois, Cervantes tornou o conteúdo da comédia alta literatura, nada vulgar, diferente do que pensava o antigo.

Segundo, o grego afirmava que o estado natural das coisas e do mundo é o repouso. Mas Galileu demonstrou que o repouso é forçado e o movimento é natural.

Terceiro, afirmou que a física excluía a matemática e, assim, o quantitativo. Newton consolidou a revolução de Galileu e Copérnico com sua obra Principia, que matematizou o mundo. Ainda hoje temos o erro oposto, isto é, considerar o quantitativo sem o qualitativo e suas mudanças. Além disso, provou, contra Aristóteles, que as leis da Terra e do Céu são as mesmas, não diferentes no funcamental.

Para Aristóteles, cada coisa tinha seu lugar natural por seu peso, por isso o ar ficava acima da terra. Mas os conceitos abstratos desenvolvidos de líquido, sólido e gasoso, além de plasma, superaram a visão de líquido igual à água.

Kant disse que ao menos a lógica formal, A=A, o princípio da não contradição, estava preservada no seu tempo e para sempre. E eis que entra em cena Hegel ao, ao guardar e manter o passado, descobrir a lógica dialética, A=A e não-A, e a ideia de que o mundo objetivo é autocontraditório, em movimento e em contexto. Ademais, superou a separação aristotélica de ontologia (metafísica) em um canto e dialética em outro.

Outra concepção resiliente foi a ideia do mundo enquanto mecanismo ou máquina. Assim, passamos das esferas cristalinas universais, que governavam o mundo para os medievais e antigos, para uma concepção coisal do universo. Apenas o hegelianismo e o marxismo fizeram um combate de frente contra tal visão, defendendo o “todo orgânico” em desenvolvimento e em processo mais do que circular repetitivo. A física e a química desde o século XX também têm dado grandes aportes novos sobre.

Para Aristóteles não existia o “espaço”, havia apenas o “lugar” concreto. Porém, Einstein demonstrou a concretude espacial.

 A concepção classificatória dos seres, por características comuns, elevada por Aristóteles foi substituída pela cladística, que organiza os seres biológicos segundo a teoria da evolução, ou seja, segundo sua história evolutiva.

Em resumo, a ciência atual é a refutação da construção aristotélica, baseada nas aparências. As ideias de Aristóteles pareciam, assim, autoevidentes. Por exemplo, um corpo pesado cai naturalmente mais rápido que um corpo leve – no entanto, sabemos que isso se deve ao atrito e resistência do ar; no vácuo, caem quase exato ao mesmo tempo, com desprezível diferença.

 

 

O COLAPSO AMBIENTAL

 

O Marx marxista começa a sua produção expondo que uma das alienações de nossa sociedade é que o homem não se vê como parte da natureza, põe-se enquanto externo a ela. Pouco depois, levanta a questão da defesa do meio ambiente contra a sua destruição, mas de modo muito limitado. Em O Capital, expõe que rompemos metabolismo da natureza ao transferirmos material do campo para a cidade, rompendo um ciclo natural. Observou também que a divisão da terra em propriedades separadas e privadas não permite um manejo bom do solo. Mas suas fortes observações param aí já que não percebeu que a crise ambiental é parte vital das crises de um sistema, como o capitalista.

O homem sempre agredirá o planeta. Mesmo o homem tribal levou à extinção de espécies. A questão é que tanto podemos fazer isso hoje de modo profundo quanto temos condições, por outro lado, de agredir o mínimo possível, de modo sustentável. Uma hidrelétrica é necessária à sociedade, mesmo que agrida o natural, mas pode ser reduzida e compensada a sua ação social sobre o meio ambiente.

Desde a famosa década de 1970, quando tudo mudou, passamos a extrair mais da natureza durante um ano do que ela é capaz de repor por si própria no mesmo período. A pulsão infinita do capital, a má infinitude da progressão, ao tentar agredir o infinito verdadeiro, na verdade agride sua própria base, o que pode nos levar à extinção.

A vida – tanto mais a de grande porte – se reerguerá nos próximos milhões de anos, com ou sem a humanidade. Nossa tarefa é humanizar a natureza produzindo novos elementos químicos e mudando os animais. Podemos criar sementes mais fortes, mas, ao mesmo tempo, em nome do lucro, as tornamos estéreis na segunda germinação para forçar a compra de novos insumos.

Torna-se uma necessidade reaproveitar e reciclar quase todo o lixo ora descartado, mas isso fere poderosos interesses. Além disso, o lucro não tem limites, quer sempre mais, por isso o desmatamento avança apesar da ameaça ao ecossistema.

Ou socialismo ou extinção! O atual modo de vida precisa passar para outro mais organizado, planejado, sem lucratividade – mas não é algo inevitável. A produção romana escravista levava a esgotar o solo, algo resolvido com o método de descanso da terra praticado pelos medievais. Mas o feudalismo, em sua fase final, também criou uma crise ambiental ao aumentar a quantidade de feudos e destruir matas de nascentes etc. Cada fim de sistema classista tem sua crise do meio ambiente, mas apenas a atual ameaça a espécie humana total.

 

 

ENERGIA

A civilização pode ser medida por sua capacidade energética. Por exemplo, impossível ergue uma civilização baseada em alfaces, logo precisamos plantar aquilo que oferece mais energia. Nesse sentido, temos a escala de Kardashev, aonde há civilizações de tipo 1, que domina a energia de seu paneta, de tipo 2, que domina a energia de seu sistema solar, e tipo 3, que domina a energia da galáxia. Ainda somos a civilização de tipo 0, mais precisamente, 0,75 – ainda não somos uma civilização.

Para ao menos tocar o tema, destacamos que cada era do capital tende a uma própria relação na produção de energia. Vejamos. Era mercantil: força humana, animais, moinhos de água e vento; era industrial: máquina a vapor; era financeira: eletricidade, hidrelétricas, petróleo, etc.; era fictícia: o mesmo da anterior, como um salto para si, com a consolidação, após os anos 1950, da fissão nuclear, e o uso recente de energias solar, eólica e maremotriz cada vez mais aperfeiçoadas (nesta era, prepara-se o caminho técnico-científico da próxima revolução energética, que inclui a fusão nuclear).

A fusão nuclear, método que estamos tentando dominar, gerará energia global abundante e limpa, além de sem grandes riscos. Ela é própria para a sociedade socialista, por isso esta deve investir nela com máxima força. Isso nada mais é que imitar a fusão nuclear da nossa estrela em escala menor.

Tal revolução energética por vir facilitará com que nos tornemos uma civilização interplanetária. Faremos, tanto quanto possível, mineração em outros planetas, principalmente no próximo e estável Marte. Uma sociedade desse tipo exige uma tecnologia mais avançada e tal mesma tecnologia mais avançada exige relações sociais mais avançadas também, ou seja, socialistas. A revolução comunista levará nossa espécie para além da atmosfera. É uma lei social que forças produtivas mais elevadas exigem relações de produção e sociais também mais elevadas.

Tudo isso está de acordo com a necessidade drástica de redução do uso de petróleo. A poluição está causando um efeito estufa, está aquecendo e desregulando o clima. Mas o capital não demonstra o menor sinal de que combaterá o problema na sua medida, pois a lucratividade não conhece limites. Faz algum tempo, a escola americana MIT fez uma postagem na internet afirmando que o grande problema da captação de energia solar é que é muito eficiente, então a energia torna-se muito barata. Eis um problema capitalista!

A afirmação de que o capital é incapaz de resolver tal problema não é um dizer por fé. Se tal sistema for capaz de impedir a catástrofe, tanto melhor aos socialistas, pois eles terão muito mais tempo histórico para mudar a realidade, com menor risco de extinção. O fato de podermos ser extintos em algumas décadas é um peso enorme, que reduz a margem de manobra da luta por outra sociedade.

  



[1] Uma pista para pesquisa da história da ciência é ver tais fatores, dinamismo e stress, como estímulos. Einstein produziu seus milagres quando numa posição não favorável; Platão e Aristóteles surgem na decadência grega; Darwin e Wallace viajaram pelo mundo, tendo este último “sacado” a teoria da evolução enquanto evolução enquanto estava com uma doença tropical; Newton fez seu grande trabalho isolado por uma pandemia; Marx viveu uma vida militante (dinâmica) e precária, como Lenin e Trotsky.

[2] Para Gleiser, apenas a matéria escura é “bolhas de espaço” enquanto considero tudo, matéria e luz, como formas de espaço, espaço condensado.