sexta-feira, 5 de agosto de 2022

ENSAIO: POR UMA DIALÉTICA MARXISTA (COSMOLOGIA)

 

ENSAIO: POR UMA DIALÉTICA MARXISTA (COSMOLOGIA)

 


CONCLUSÃO

 

A união das reflexões derivará, portanto, em simplificado, isto:

 

Movimento = tempo = energia = espaço = matéria (= massa)

Ou

Energia = espaço = matéria(-massa[1])

Mv = t = e =s = Mt = m = c = C*

Sendo “Mt” matéria, “c” luz e “C*” campo.

Tal é nossa proposta de teoria de tudo, do todo – simples e elegante equação unificada. Espaço = matéria. A equação encontrará logo caminhos e provas, por exemplo, deixando de lado a quarta dimensão espacial que se expressa também como tempo, 1) espaço é tempo para Einstein; 2) sabemos que a aceleração (movimento) altera a massa-matéria, além do tempo; 3) Dizemos E=m, energia é igual à massa-matéria, mas E (energia) também é igual àquela constante, velocidade da luz ao quadrado, ou seja, ao movimento. Os 6 elementos[2] de base, se incluímos a massa, da física são, portanto, o mesmo e unidade na sua diversidade. Resolvemos, assim a oposição entre as escolas físicas e filosóficas relacionista e substancialista.

Tudo é igual a tudo. Dizê-lo, tudo = tudo, preserva tanto a unidade quanto a diversidade, juntos. A premissa de que tudo é um, típico da filosofia antiga, esconde a diversidade, mas dá uma pista aos cientistas naturais até agora ignorada.

A ciência opera em duas tendências: 1) ir da aparência, como o universo e o espaço estáticos, para a essência (Hegel, Fenomenologia do espírito, 1992, 2002, p. 71), como o universo-espaço em expansão e contração; 2) ir da diversidade para a unidade ou identidade interna. Maxwell descobre que a eletricidade e o magnetismo foramam o eletromagnetismo, além de incluir a luz; Einstein descobre que o espaço e o tempo são espaço-tempo e que a energia e a massa são expressões do mesmo. Tudo é um. Isso deve ser agora afirmado e demonstrado.

 

OBSERVAÇÃO PRELIMINAR

Como consolidação de minha pesquisa, percebi: A=A e… não-A. Aristóteles pensou o óbvio A=A. Para Hegel, A=A e não-A. A formulação aristotélica serve à época quando ainda é preciso conhecer e classificar o mundo. A formulação hegeliana ainda tem algo estático, ao mesmo tempo, próprio de sua época. Mas, hoje, até o espaço, antes absoluto, está em movimento, em devir. O que faz A e não-A serem uma identidade na diferença é que, também, um passa, a si mesmo, para o outro. É necessário mudar para não mudar, para permanecer. O finito e o infinito são o mesmo, mas este se passa para aquele, e aquele, então, deseja realizar-se como este. Todo este livro resolve as polêmicas percebendo, em linguagem abstrata: A=A e… não-A. Revolução socialista = direção operária e… popular. É uma fórmula menos elegante, mas elegância não é um verdadeiro critério cientifico, algo de poesia. Adicionamos o movimento, a mudança, o desenvolvimento. As duas formas anteriores – a lógica formal e a velha dialética – permanecem corretas e válidas de todo, mas abaixo.

 

MÉTODO DIALÉTICO

No início do século 19, Hegel tornou-se imortal por sua grande Lógica, o moderno método dialético. Suas contribuições, ainda hoje, em permanência ao que parece, são insuperáveis; uma dialética superior soa impossível. Além disso, deu-se-nos uma dialética materialista, embora de cabeça para baixo. A força hegeliana é o fato, entre o outros, de ser não unilateral, de suprassumir as grandes oposições da filosofia. Este ensaio, portanto, toma a Ciência da Lógica como sua base correta e primeira, mas incompleta. Por isso, também, trata-se de um ensaio.

Quando perguntamos a um hegeliano ou marxista “O que é ou como procede o método dialético?”, logo gaguejam, ficam desconfortáveis, improvisam. De um lado, de fato inexiste um procedimento investigativo fixo, o que perdoa tais intelectuais – na dialética, pesquisar é estar dentro de um labirinto, tentando descobrir o caminho correto; de outro, como disse Hartmann, o método dialético é irmão do fazer artístico, criativo e associativo, que “saca” a realidade até ali invisível.

O método dialético é, em resumo grosseiro, o inverso do método hipotético-dedutivo, ou seja, em linguagem inferior e falha, um método empírico-dedutivo. Parte-se sempre da empiria para alcançar a verdade do mundo, mas, como os dados mentem e escondem, além de revelarem, usa-se a razão para perceber aquilo oculto ou deformado. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles, mas neles mesmos. Assim, o empírico faz parecer que há apenas custos de produção somados a um cálculo do patrão para ter um preço de produção de suas mercadorias, mas Marx vai para além ou para dentro da empiria e descobre que há, na verdade, trabalho necessário com trabalho gratuito do operário ou mais-trabalho, valor e mais-valor, exploração e roubo. É verdade que os dados empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro daquilo empírico.

Eis o método dialético.

Em minha pesquisa, além de procurar nos dados a verdade, evitando a mera descrição, percebi que o marxismo caiu em teorias opostas, em oposições. Minha tarefa, portanto, foi listar as principais polêmicas e, colocando-as em movimento, resolvê-las – com o raciocínio, claro, mas em base à empiria. Eis, de outro modo, o método dialético.

A verdade é não empírica. Descobrimos na pesquisa empírica aquilo que não é palpável, tocável, mas que se revela ao pensamento desde a própria empiria. A dialética é a verdadeira fusão – mais do que mera aglutinação, como é o caso do hipotético-dedutivo – de empirismo e racionalismo; pois ao pensamento deve-se dois lados ativos, após colher o material necessário: 1) perceber os enganos dos dados; 2) perceber a verdade daquilo pesquisado.

Daqui para frente, teceremos comentários e propostas críticas de atualizações da obra Ciência da Lógica de Hegel. Uma crítica possível, mesmo que parcial, tem, de um lado, de agregar o melhor daquilo criticado para si, de outro, acertar o outro exato no seu ponto mais forte, de base – o ser e o nada.

 

ENERGIA

Na Lógica de Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia, mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social. Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo – massa é energia, a energia-massa (ou a matéria sem massa que tem energia, como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.

O Ser é energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições, veremos no decorrer do texto.

A ciência oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da energia-valor na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do valor-energia e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).

Cada modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que o anterior na captação energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social suprassume aquele. Mas energia é insuficiente, pois, como o movimento, seu igual, não se sustenta sozinha.

 

ESPAÇO-TEMPO: O ELEMENTO PRIMEIRO

Vários filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade. Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter etc. Com o desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor, embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.

Raciocinemos juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado, condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de espaço e tempo faz-se necessária).

É possível supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto, este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se demonstrem falsos.

A tendência de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo menos lógico-ontologicamente .

Diz o princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se, digamos, condensado.

Demócrito afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda: há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se expressa também na matéria, com ou sem massa.

Tal modo de ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive, contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica). Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.

O espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são dois.

O Ser, enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia em busca de mais energia aparece como para si.

Espaço-tempo e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma identidade.

Espaço-tempo, este sendo aquele, apenas um, equivalem ao sincrônico-diacrônico, processo-estrutura e o Ser como histórico, mas, derivado, Ser é histórico-geográfico.

Quando se diz “a verdade está no meio” (na realidade, no todo contraditório em evolver), diz-se mais do que se pretendia: a verdade está, de fato, no – Meio, no espaço. Nossa Arkhé.

Como se verá, porque tudo = tudo, o primeiro não necessariamente é primeiro no tempo.

 

SER, MATÉRIA, MATERIALISMO

Ser, puro ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação, sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque cai dentro de si mesmo (o espaço é, na verdade, o sem qualidades, a transparência transparente).

Aqui, por força negativa da abstração, nenhum movimento.

A matéria, aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da energia. A própria energia é matéria, pois é material.

 

MOVIMENTO

Movimento, puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.

O movimento é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar, movimento. O movimento e a estabilidade estão, no sincrônico, em unidade, A=A e não-A, mas também é claro que o movimento antecede o estável, A=A… e não-A, no diacrônico.

A contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.

 

DEVIR

A verdade da matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o devir.

O devir é mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.

De imediato, a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o outro, são apenas um.

Ao movimento corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.

 

SOBRE O NADA

O nada – nada é. É uma palavra esperando tradução, diria o poeta. Melhor dito, o ser, que vai de ente em ente, põe o nada. É no ente em que a perecibilidade, unidade com o nada, ocorre, não no ser. Mas o ente pertence ao ser, logo o nada está junto com o ser, mas no ente – o ser, como o geral, não degenera nem sucumbe em razão do nada, a não ser externamente, como externo de si próprio. O que há, portanto, é ser em movimento – ser é movimento! O Ser pode ter uma fase simples ao máximo onde é como o nada e, sendo como si, com as determinações ou qualidades de, logo já o é, o nada, embora também não o seja, sendo apenas o próprio Ser.

Como veremos, energia é a categoria que aposenta as funções de lastro do nada.

 

 

DETERMINAÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

Para tentar chegar a uma dialética hegeliana pós-hegeliana, talvez devamos perceber que há uma forma de organização das categorias não percebida por Hegel: aquelas que passam uma para as outras não somente no campo lógico, mas também no concreto. Assim, já é o caso do Um e dos Muitos, onde o Um repele a si mesmo, desde o vazio, tornando-se Muitos, os muitos Uns. Mas há outros. Em Hegel, passa-se logicamente da 1) relação de duas medias; 2) relação com várias medidas; 3) afinidade eletiva. Pois bem; Marx mostra o avanço tanto lógico como histórico da relação entre duas mercadorias (1), porque entre tribos diferentes que trocam casualmente, para troca entre várias mercadorias (2); depois, para prioridade em trocar por ouro, o dinheiro (3). Hegel ainda diz da identidade que passa a ter a diferença dentro de si, tornando-os externos, logo diversidade; então esta torna-se oposição, que cai na contradição. Esse movimento lógico tem similar também no movimento concreto, histórico, temporal, processual: 1) a relação entre operário e burguês é entre idênticos, livres e no comércio; mas são, tornam-se, diferentes, um comprador e um vendedor; também tornam-se diversos, um operário e outro o seu burguês; na produção, entram em oposição e, como com a luta de classes, em contradição. 2) o movimento lógico é o perfeito e o completo, o puro, sendo expressos imperfeitamente no processo real: com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a diversidade: diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se depois, começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito, ou no homem como animal altamente desenvolvido que está levando os demais à extinção; 3) a língua romana espalha o latim por boa parte da Europa – identidade; logo começam a ter sotaques em cada local, em cada região – diferença; estes sotaques evoluem para novas línguas latinas que entram em oposição – diversidade. Tal tipo de determinação também se revela quando o nem positivo nem negativo passa-se para o positivo e o negativo, que, pela reação do negativo, passa para um novo nem positivo nem negativo. Assim o caos (em outro nível, o acaso) passa-se para a ordem; o concreto passa-se ao abstrato, que se passa para o novo concreto; o primeiro elemento desenvolve-se em tríade e colateral; o real funda a ficção em seu próprio desenvolvimento. Há um desenvolvimento desigual e combinado. O simples desenvolve-se no complexo. O mero processo de agregar externamente os materiais ou matérias passa para a interpenetração delas, umas nas outras. A lógica de Hegel, no Conceito, passa, sem movimento real e apenas “mental”, do universal para o particular e, desse, para o singular (na realidade, ocorre o inverso “mentalmente”); há, no entanto, objetos reais que vão, em concreto, do “exemplar” singular, individual, para o particular e geral-universal – teve de existir o primeiro urso branco, apenas singular contritamente universal em si, para, por reprodução, por seleção natural, surgir uma grande quantidade de ursos brancos, uma espécie com possíveis particulares. A matéria vai-se do processo de materialização para a desmaterialização. Mas permanecem relações categoriais que não são, e não são transformáveis em, determinações de desenvolvimento. A passagem do finito para o infinito, por exemplo, não é passar algum, pois o infinito já está ali; a passagem, por separação, do ser ao nada, e vice-versa, não tem verdade alguma, verdade esta que apenas existe no devir (mas podemos supor que do nada veio o ser; ou, ao contrário, o ser funda o nada dentro de si mesmo, algo, creio, ainda não pensado).

Este resumo, no anterior parágrafo, é aquilo quer vamos expor a seguir. As categorias da Lógica de Hegel passam umas para as outras. Nas determinações de desenvolvimento, vale a ironia, o passar não é passar algum, pois é como se o objeto fosse visto por diferentes ângulos.

Quem deu o primeiro passo real rumo à atualização da dialética de Hegel, rumo às determinações de desenvolvimento, foi Trotsky com a lei do desenvolvimento desigual e combinado.

 

ALGO E OUTRO

Algo e outro, em Hegel, confunde-se com as palavras, como o jogo de palavras. Para ele, algo e outro são o mesmo. Mas ele são isso porque ambos são energia, espaço-tempo concentrado.

Nisso, a determinação é a constituição para dentro, desenvolvido em si, ou seja, este passa para aquele, não só logicamente, mas também no tempo, no desenvolvimento. A razão é a determinação do homem por sua constituição física. A determinação de uma bolsa é servir para guardar algo. A determinação leva ao núcleo, seu desenvolvimento ou sua afirmação: os núcleos do átomo e da célula, os cérebros desenvolvidos.

Para Hegel, a unidade de constituição e determinação se dá apenas assim: a determinação tem, ela mesma, uma constituição, além de receber influências externas, e a constituição, por outro lado, tem uma determinação própria, além de preservar-se na relação com o externo. Ora, a unidade dos opostos também ocorre porque a constituição produz em si mesma a determinação, ou, o que é o mesmo, torna-se determinação.

 

CONTRADIÇÃO ENTRE DETERMINAÇÃO E CONSTITUIÇÃO

Mesmo sendo o mesmo, a constituição sofre mais os efeitos do meio ou degenera. Tal diferença-desigualdade entre um e outro, entre ela e a determinação, produz a contradição, que deve ser resolvida ou mediada.

 

SOBRE A CONTRADIÇÃO

Em sua Lógica, Hegel trata com rapidez sobre a contradição ao afirmar que os objetos e o real, não só o pensamento, sucumbem ao contraditório. É no livro dois, Doutrina da Essência, em que a contradição e de fato tratada.

Os críticos de Hegel e Engels, dizem que o mundo natural tem identidade, diferença, diversidade, até oposição, mas nunca a contradição. Em geral, os pensadores de humanas do século XX foram, ao que parece, péssimos alunos de ciências da natureza. Vejamos dois casos, no inorgânico e na vida. As estrelas, como nosso Sol, são a contradição entre a gravidade, que empurra a matéria para dentro de si, e consequências que empurram para fora, como a produção de fótons – e equilibra-se por muito tempo neste estado contraditório. Na biologia, temos a seleção natural, do meio, e a seleção sexual; o cervo macho luta com outro cervo macho pela fêmea, logo quem tem galhas maiores tende a vencer as lutas; mas galhas cada vez maiores por seleção sexual gera peso extra, logo torna-se mais fácil de ser vítima de um predador por causa da dificuldade de correr – eis a contradição. Refutar a contradição como apenas social ou apenas capitalista é fácil, basta evitar a hiperespecialização de nossa época.

Os modos de resolver a contradição são muitos e empíricos, escapam da lógica, por isso afirmamos apenas que a contradição se resolve, mesmo que não de modo absoluto.

 

FINITO E INFINITO

O infinito qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia[3]. O infinito está já aí sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito está diante de nós, no meio de nós, não avançamos até ele. O bom infinito produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão.

Aqui vermos o erro de Hegel ao esquecer o conteúdo. O que é infinito, o infinito, senão o espaço? Ele abarca o finito dentro de si, além de o formar. Quando a Lógica diz que o Ser passa a ter a determinação da infinitude, diz apenas que o espaço, como o vazio, está no centro da ontologia. Finalmente, resolvemos a questão, encontramos o fundo.

 

 

 

CONTRADIÇÃO FINITO-INFINITO

O finito tem o impulso rumo ao infinito, o infinito da progressão, a má infinitude. Nesse impulso, suga o infinito bom, mas, ao fazê-lo, destrói sua obra, o finito do infinito ao redor. Ameaça a si mesmo na ilusão de dominar o seu oposto e idêntico.

 

UNO E MÚLTIPLOS (UM E MUITOS)

O uno cósmico, em seu momento completo, é o expandir (muitos) e contrair (um) eterno do nosso universo, o multiverso no tempo, gerações de universo, um opôs o outro. Isso deve ser esclarecido: para Hegel, após a repulsão do Uno em vários unos, dividindo-se, há apenas a atração relativa dos novos unos, dos muitos; mas há, no cosmos, a atração absoluta que “reinicia” o universo. Dentro dele, há, em processo similar e imperfeito, o uno que passa a si próprio para o múltiplo por autorrepulsão, que depois passa para a atração dos muitos unos num único uno produtivo de unos (a fábrica produz mercadorias, o Sol produz átomos novos etc.). Pois bem; o começo cósmico pode ser do uno e do vazio, este empurrando para aquele decair em muitos unos; mas, nas demais realidades, ocorre energia de atração e de repulsão, além de espaço-tempo curvo. De outro modo: a matéria concentrada não tem estabilidade energética, logo expande-se, fragmenta-se. Há contradição entre energia e matéria dentro da identidade uma com a outra. No cosmos, no multiverso, é provável que alguns universos expandam-se enquanto e exato porque alguns contraem-se, e/ou vice-versa, estando necessariamente conectados entre si. Assim, fundimos as hipóteses do multiverso no tempo e, oposto, no espaço – um multiverso, em outro sentido, no espaço-tempo.

Há mais. Para Hegel, a união dos muitos unos por meio da atração, que ele não explica, é, como dissemos, produtivo. Mas para ele, produz algo que vai do nada ao ser… Na verdade, a energia acumulada e o espaço-tempo, como matéria em geral, são a base para a produção e a reprodução. No concreto, a fábrica reúne os unos (mercadoria matéria-prima, mercadoria máquina, mercadoria força de trabalho etc.) que produzem de si novos unos, novas mercadorias; um organismo pluricelular alimenta-se, adquirindo material e energia, logo produzindo novas células.

O uno isolado – indivíduo, átomo, vida –, isolado no espaço-tempo em geral, é instável quando isolado por falta ou por excesso de energia.

A realidade costuma ser a contradição entre a repulsão e a contradição, que são, também, um. Para Hegel a repulsão passa para a atração apenas; mas há resistência de repulsão na atração, há resistência de atração na repulsão. Para resolver a questão do um e dos muitos, Hegel foi obrigado a passar de um para o outro, superando a própria dialética sem perceber; mas esqueceu a contradição, que a atração e a repulsão lutam entre si como na coisa mesma. Além disso, esqueceu a produção ou concentração do meio onde há a produção do uno e dos muitos, como se fosse algo fora do tema.

 

INTENSIVO E EXTENSIVO

Para Hegel, o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro, energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade. Mas a intensidade é, também, espaço tempo condensado; mas a extensividade é, também, energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.

Hegel focou na identidade do intensivo e do extensivo, como o grito mais intenso propagar-se por um espaço mais extenso. Aí vemos a unidade e identidade de energia e espaço-tempo.

Mas há ainda a oposição e a contradição entre intensivo e extensivo, exposto empiricamente por Marx. Uma jornada de trabalho mais extensa, para explorar mais a energia de trabalho, reduz a intensidade, a capacidade do operário de pôr energia na produção. Uma jornada mais intensiva empurra para jornada menos extensiva, concentrando maior gasto energético num tempo menor. Um opõe-se e contradiz o outro na unidade de ambos como um, pois há uma energia limitada para ambos. Uma estrela com mais intensidade de energia poder ser muito menor que uma com menos energia, pois produz mais gravidade, maior curvatura do espaço.

 

DIVISIBILIDADE

Hegel trata do problema kantiano, antinomia, de se a matéria é ou não é divisível até o infinito. Os dois argumentos são poderosos, este e seu oposto – qual tem razão? Primeiro, a divisão não é arbitrária em qualquer tamanho, mas é estável apenas em proporções dadas. Segundo, a última dissolução é o espaço-tempo ou energia. O espaço-tempo é, portanto, tanto contínuo quanto, ao mesmo tempo, discreto. Hegel apenas cita o problema, alertando o erro de raciocínio do adversário, sem, se bem observado, oferecer uma resposta (mesmo limite ao tratar da parte e do todo, na parte que é todo divisível ao infinito).

 

MATEMÁTICA

A matemática é uma invenção ou existe na realidade? Sobre, a resposta correta deve revelar a causa da longa polêmica. Um e outro e, ao mesmo tempo, nem um nem outro. A matemática é uma construção humana feita para corresponder à realidade. Parece existir no real porque quer ser retrato dele, ao menos no quantitativo. Mas aí há um nó. A matemática não surgiu de dentro para fora do sujeito apenas ou primeiro; antes, "veio" de fora, do mundo, para dentro do pensamento. Quando se fala em matemática como invenção parece algo como na arte, uma pura inspiração, algo quase arbitrário, um raio em céu azul. Nada disso. A quantidade existe na própria matéria. Dito isso, fica clara, além de resolvida, a oposição, o ou-ou, de longa data.

Vamos a outro ponto.

O zero é e, ao mesmo tempo, não é. Ele é o vazio infinito, mas infinito vazio – como já sabe a filosofia da matemática. Ele é o nada. Mas, por outro ângulo, ele pode bem não ser o começo real, como não foi no histórico dessa ciência. Os números pediam algo determinado, um nada determinado, na sua ausência, numa quantidade que não é quantidade alguma. Logo, o ser poe o nada da ausência do seu ente. Qual, então, o ser, o número, mais próximo de zero? O zero negativo, -0, e o zero, positivo, +0. Na prática matemática, suamos tanto o -7 quanto o -0, mas damos existência, mesmo se negativa, apenas àquele. A união do zero negativo e do zero positivo é o zero absoluto, os nulos anulam-se. Isso tem alguma função prática? Talvez. O nêutron é neutro em si, mas, sob certas circunstancias, é relativamente positivo, embora não seja, logo um zero positivo, +0.

 

CONTRADIÇÃO DA QUANTIDADE E DA QUALIDADE

O marxismo percebeu que quantidade e qualidade podem entrar em contradição. Vejamos dois casos. Para vender mais quantidade de mercadorias, os patrões fragilizaram a qualidade das mesmas mercadorias para forçar o consumidor a logo comprar um novo exemplar. Hoje, a produção científica se mede pela quantidade de artigos publicados, mas isso diminui a qualidade de tais artigos, pois produzir algo relevante leva tempo. Como a quantidade vem da qualidade como sua base, ao deteriorar a qualidade, a quantidade acaba, por fim, a deteriorar a si mesma – embora de início a medida tome partido da quantidade, tal contradição tem de ser resolvida por causa da deterioração do seu oposto, logo de si mesma. Ou a destruição de ambos. Do ponto de justa da qualidade, já que a energia é limitada na prática, não no infinito, o foco no qualitativo exige menos foco no quantitativo.

 

MEDIDA

1.                  O que os qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).

2.                 Na medida, Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste, limita a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele. No social, este livro é exemplo, embora apenas oculto e implícito. O inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu deslocamento de espaço-tempo condensado e energia de sua base necessária, por exemplo. Vejamos um exemplo mais próximo. A Coreia do Norte não produz alimentos e materiais como petróleo com suficiência, o que dá base para o regime autoritário, ou seja, não produz energia suficiente para homens, outros seres vivos e para as coisas; por isso, por salto, teve de compensar produzindo energia nuclear para bomba atômica, assim atraindo recursos para si em forma de chantagem internacional.

 

CAOS E ORDEM

O caos não suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos, por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto, o caos, dentro de si.

Na coisa, a ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo.

O caos absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade de caos e ordem cai-se na probabilidade.

O socialismo é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.

O caos é mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.

A ditadura brasileira demitiu-se de dar suporte para a periferia das grandes cidades, logo surgiu um caos que foi em parte resolvido pelas milícias ou tráfico que colocaram ordem parcial, a ordem do silêncio forçado, como a proibição de roubar no morro. Com o tempo, a Lua e a Terra se sincronizaram para que a rotação da Lua em torno de si esteja com o mesmo lado sempre direcionado para o nosso planeta.

 

SOBRE A PROBABILIDADE

A probabilidade revela a contradição de ordem e caos no mesmo. Há que separa o resultado geral do resultado particular. Em 2014, percebi que o governo Dilma, por causa das circunstâncias iria cair, isso é o geral como resultado. O modo como iria cair poderia ser vários: 1) golpe, 2) renúncia, 3) impedimento, 4) protestos dos trabalhadores, não da classe média. São formas de cair. Há uma quinta forma de derrubar o governo, embora o mais improvável, o governo mudar radicalmente a politica e mobilizar nas ruas para impedir o processo; conhecendo-se a tradição pelega do PT, era pouco viável. O capitalismo cairá, isso é determinístico, mas a modo de cair, se vai ao socialismo ou à barbárie, ou à extinção, é algo em jogo.

 

POSITIVO E NEGATIVO

Neste ensaio, somos obrigados a repetir temas tratados, adiantados ou esboçados ao longo da obra – vale como revisita. Foi assim que antecipamos: 1) o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo. Eis o movimento puro e uma pista para a pensar científico.

Para Hegel, o nem positivo nem negativo estava apenas ao mesmo tempo com o positivo e o negativo. Uma estrada vai, ao mesmo tempo, para o leste, positivo, e o oeste, negativo; mas estrada mesma é nem positivo nem negativo, abarcando os opostos dentro de si. Nós vamos mais longe, mantendo a contribuição estática hegeliana.

No início do universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”, diferente do elétron e do próton. Um fóton, sem carga, de alta energia divide-se em elétron, negativo, e anti-elétron ou pósitron, positivo, e, atraindo-se, colidem e tornam-se um novo fóton, também sem carga, nem positivo nem negativo.

A contradição entre o positivo e o negativo revela-se no exemplo da contradição entre proletariado e burguesia.

 

(DES)MATERIALIZAÇÃO

Em minha pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para, depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade, aumenta o tempo de vida.

Se há retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao empírico. Isso está relacionado coma energia disponível.

 

FORMA E CONTEÚDO

A união da forma e da matéria – é o conteúdo. Vejamos um caso. Se eu tenho uma pintura retratando um jogo de futebol, esta mesma pintura tem a forma (da bola, dos jogadores, do campo, etc.) e também, junto, a matéria, a tinta principalmente, com diferentes cores. Ora, esta forma e esta matéria, unidas, passam uma mensagem fictícia, artística, um conteúdo. Elas têm um conteúdo.

Vejamos outro caso. Marx diz que a relação de contrato entre trabalhador e patrão, quando aquele está no mercado trabalho procurando emprego, tem a forma de uma relação entre iguais – ambos, operário e patrão, são livres, estão no mercado, estão fazendo um contrato livremente aceito. Mas o conteúdo é outro, de exploração, em que ou o operário vende sua força de trabalho para ser explorado por outro ou morrerá de fome.

Vamos para a terceira visão, comum no marxismo. Vale o alerta: neste parágrafo temos uma dedução marxista entre base e superestrutura enquanto conteúdo e forma; o que farei aqui é formalizar a ideia, adicionando o duplo caráter. Vejamos. A economia e a luta de classes, as classes sociais, são o conteúdo – já o Estado, os partidos, as organizações são a forma. Nesse modo de ver, tanto o conteúdo quanto a forma têm, cada qual, dupla natureza, duplo caráter. O conteúdo (economia, classes) é 1) muito mais dinâmica, mas 2) também mais instável, inconstante; por outro lado, a forma é 1) conservadora, lenta, paralisadora, mas também 2) conservadora no sentido de conservar, de preservar (as conquistas etc.). Assim, os conflitos e as instabilidades do conteúdo fazem surgir, de si mesmo, uma forma para “compensar”. Mas, na sucção de energia, o conteúdo se desenvolve a tal ponto em que a forma conservadora torna-se um fardo, algo muito atrasado – o conteúdo renovado supera aquela forma e funda uma forma nova, para suas novas necessidades de desenvolvimento.

Uma forma pode estar em contradição com seu conteúdo: um partido comunista pode estar organizado de forma incompatível com seu conteúdo, com o perfil dos membros e com seu programa. A forma pode exigir muito do conteúdo para si.

É lógico, também, que se vai do menos formal para o mais formal, da arte pré-história à nossa sublime, do organismo ameba quase informe até células mais formais como neurônios e seres complexos formatados.

 

TODO E PARTES

Hegel afirma que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna (Jammer, Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica, 2011), substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.

Mas essa energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo, seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.

Vale destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade. O todo é um reunir atrativo de partes, pela “força” (na verdade, pela energia); um todo vem, também, de outro todo que se suprassume; uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o crescimento e desenvolvimento de um todo dar-se, por isso, pela energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.

Provável, Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.

No capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso.

 

 

GERAL, PARTICULAR, SINGULAR

Para Hegel, o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido; logo comentaremos o motivo de seu erro.

Hegel deixa de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.

 

GÊNERO

Na Doutrina do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.

Os erros de Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a Teoria da Evolução das Espécies, que dirá a do Big Bang. Mesmo para um gênio isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele, valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente, valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da física de sua época.

 

POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CRESCENTES

Piaget atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.

Penso que, ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não retorno).

Além disso, é possível que a possibilidade, em sei evolver, teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas fracassadas.

A contradição aí se dá de duas formas: 1) a necessidade constrange a possibilidade, a subordina a si; 2) a possibilidade tenta afirmar-se antes da necessidade madura.

A necessidade nem sempre encontra a possibilidade de realizar-se. Vejamos a biologia. 1. Folhas verdes – mas absorveriam mais luz se fossem negras; 2. reprodução sexuada dominante –  mas a assexuada seria mais simples, rápida e fácil; 3. dormir –  isso faz perder muito tempo e há duros riscos, melhor seria "desligar" parte do cérebro por vez. São limites a partir dos quais os seres devem se adaptar, pois lhes é impossível uma adaptação máxima, perfeita, como folhas negras.

 

CAUSALIDADE

D’O Capital, de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar insumos e máquinas do exterior.

Há duas formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez, produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente, aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.

Um efeito pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Os olhos do polvo e dos animais terrestres têm origens diferentes. Para a economia vulgar, a inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai, por exemplo.

Uma causa pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois, revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em circunstâncias diferentes).

Os teóricos da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências. Vejamos a contradição. A condição, ao redor, se opõe à causa, mas se torna assim, também, causa. Na década de 1930, a França viveu uma greve geral revolucionária com ocupação massiva de fábricas; os trabalhadores, com esta imensa ousadia, poderiam ter tomado o poder, mas exigiram, depois de tanto esforço e sacrifício, apenas aumento salarial, que logo foi consumido pela inflação. É uma contradição, por exemplo, que uma grande causa cause um pequeno efeito ou que o efeito seja o oposto da natureza e intenção da causa.

Além disso, a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.

Isso permite rápido comentário. Einstein, nosso gênio, ao que parece, igualou aceleração e gravidade, pois ambos produzem o mesmo efeito. Ora, efeito igual pode ter causas completamente diferentes, não necessariamente iguais de imediato, apenas no fundo como em movimento = massa = energia etc.

As diversas causas, muitas vezes simultâneas, possuem, elas mesmas, juntas, uma causa comum. As várias causas simultâneas de uma crise cíclica têm a mesma causa, mesmo núcleo comum, as questões de produtividade.

Para registro, Lukács, afirma que as partes de um todo interagem entre si reciprocamente, causando-se umas às outras – e isso permite que ocorram acasos.

De modo resumido, a causalidade é recíproca, a causa torna-se efeito e o efeito torna-se causa, em processo de construção. A economia afeta a cultura, mas a cultura afeta a economia.

A causa reciproca ocorre em desenvolvimento porque as partes em relação estão em mudança, como energia em busca de mais de si.

A contradição entre efeito e causa, é que aquele contraria a base deste, como um oposto. O crescimento do Estado é a causa da destruição do próprio estado, consequência. Ademais, como produz efeitos opostos, o avanço se dá pela passagem da causalidade para a tendência.

 

TENDÊNCIA E CONTRATENDÊNCIA

A tendência produz, de si mesma, a própria contratendência relativa. Eis a contradição em movimento. Uma estrela tende a colapsar dentro de si, mas, além da resistência natural dos átomos, estes se fundem e produzem fótons que empurram para fora. Novas formas de vida que passaram a produzir oxigênio abriram o caminho para maior diversificação biológica, mas, pouco depois de surgirem, tal elemento químico atuou como veneno contra as formas viventes então existentes. No contexto da verdadeira causa, as relações de produção existentes e atrasadas, a automação impede a própria automação porque, ao produzir desemprego, reduz o preço e o valor da força de trabalho, o que faz compensar manter o trabalho manual.

 

 

 

COISA EM SI E MATERIAIS

Para nosso trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas materiais, matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).

Destaco que, para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado, elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo, tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto, em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a interpenetração.

Mais uma observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas sabemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando, tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia, impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.

 

FIM E MEIO

Em Hegel, na Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado objetivo.

Há outra consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de unidade de fim e meio.

Existe ainda o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si mesmo. Esta contradição com o fim real deve ser resolvida.

Para evitar interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria, na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa confusão, entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se das mais variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir seres cada vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a própria temperatura, teleologia relativamente realizada no homem.

 

INTERNO E EXTERNO

Hegel demonstra que os opostos tem certa mesmidade. Um poeta faz um poema na qualidade externa de sua qualidade interna como poeta. O externo expressa o interno; este, por sua pulsão, passa para aquele. O próprio Hegel diz do fato de que, no começo, o objeto é apenas externo, logo apenas interno – então desenvolve-se para algo interno-externo. 

 

POTÊNCIA

A relação de potência é o quantitativo que retorna ao qualitativo, na medida. Se bem observado, a potência na matemática revela a relação consigo mesmo, ou melhor, a realidade é relação consigo própria.

A realidade relaciona-se consigo como com um outro, como dois ou mais (ou dimensões espaciais em jogo) dentro de si. Vejamos um possível caminho, correndo risco de errar num tema tão difícil: na fenda dupla da física, um fóton passa por apenas uma das duas fendas, mas, no final, elevou-se ao quadrado o seu peso, por dois vales ou dois picos de onda que se unem. Pois bem, como é partícula-onda, por estar no espaço, que é parte de si, ele interage consigo como com um outro, produz ondulação por ação nas duas fendas. Não corre apenas soma, mas eleva-se ao quadrado, relação consigo.

 

DUPLO CARÁTER

Algo tem duplo caráter: a religião é um alívio humanizante, mas fonte de alienação; a luz é uma sobreposição de estados, partícula-onda; a mercadoria é valor de uso e valor. Nesse duplo, um domina o outro, o oposto, uma contradição que é resolvida no evolver. Além disso, um é, na coisa, um em si enquanto o outro é um em contexto. Em si, a religião é alienação; no contexto, tem algo oposto, humanitário. Talvez a física descubra o que é “em si” e “em contexto” na dualidade partícula-onda da luz e do elétron.

 

PROCESSO E CRISE

A lógica deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia, no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo, desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou, antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio, mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande cérebro formular algo do tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na verdade, sua condição de autoelevação.

 

CONDIÇÃO

Hegel diz: 1) o todo é absolutamente incondicionado; 2) a condição é relativamente incondicionado em relação ao fundamento; 3) algo somente surge quando todas as condições de seu surgir estão presentes – as condições colapsam para dentro do resultado novo, logo as condições estão no seu condicionado. Algo mais deve ser dito, complementado sobre: algo surge apenas quando as condições de seu surgir e de seu consolidar estão maduros – pois pode surgir sem se consolidar; e isso pode tornar até um tanto mais difícil seu ressurgir.

 

NECESSIDADE E ACASO

O acaso ocorre dentro da necessidade, que é o geral. Pode haver contradição entre ambos: o acaso pode adiar a realização da necessidade; por outro lado, o acaso que entra em oposição com a necessidade, definha-se e destrói-se. O fluxo geral da água pode ser determinado, mas, ao ir aos fundo dela, ás suas pequenas partes, impera o acaso, um paradoxo real, que aparece como intelectual sem o ser de fato. O acaso de uma mutação prospera se está de acordo com as leis da vida ou definha se dificulta a sobrevivência da espécie por meio do indivíduo.

 

ENTRE O JUÍZO E O SILOGISMO

Hegel diz que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer dizer “A = BC” ou “A é BC”; esta é a fórmula básica, como nas equações quantitativas.

Na fórmula de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes interpretações[4]), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.

No mais, tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.

Segundo Ruy Fausto, Marx descobriu novo juízo em que o sujeito passa por diferentes predicados sem se confundir com um deles. Dinheiro é – medida dos valores – padrão de preços – capital – meio de pagamento – meio de entesouramento – expressão ímpar do valor. Na verdade, já está como primeiro caso criado de equação qualitativa, entre o juízo e o silogismo.

 

 

SILOGISMO CONTRADITÓRIO

Entre os possíveis silogismos não tratados por Hegel, talvez figure o silogismo da contradição, que é em si contraditório. A segunda afirmação, com sinal adversativo, nega primeira, produzindo uma terceira afirmação. Vejamos:

 

O senhor de escravo grego queria aumentar a massa de mais-produto,

Mas o trabalho escravo impedia aumento intensivo de produtividade;

Logo: o produto cresce amentando a quantidade de terras e de escravos.

 

O terceiro não necessariamente resolve a contradição, mas ao menos a encaminha, torna-a movimento.

 

CONCEITO

Para Hegel, como para Aristóteles, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a antecipação lógica, idealista, da realidade do DNA, materialista, o bloco de informação da vida, que se reproduz.

Com a unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo, que se condensa em matéria, espaço-matéria, temos a Arkhé, o absoluto, ou seja, uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega, inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas científicas, não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da Ciência da Lógica de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação completa, que tem a dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter avançado – mas base ainda limitada, sem correto fundamento.

Hegel pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo, conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí (na física atual, tanto espaço quanto o próprio tempo estão apenas do lado de fora da coisa, não se sabe como). Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser – ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia de Freud do sexo como pulsão elementar da psique[5], tem dentro de si o conceito puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo dialético.

 

SISTEMÁTICO

Hegel diz do método sistemático, para pesquisa e para exposição, com a analogia do aprendizado da escrita, em sequência: começamos com as vogais, as consoantes, as sílabas, as palavras, as frases e, enfim, o todo do texto. Ora, isso também é diacrônico, no tempo: o homem primitivo teve de evoluir sua fala nesta mesma sequência, assim como a fala da criança. As duas formas de serem sistemáticas são juntos e apenas um, mesmo que ocorram, aqui e ali, certas incorrespondências. Hegel diz que o mais simples e abstrato é o mais geral (hidrogênio, mercadoria, células etc.), logo o começo da exposição, mas também é isso porque é o primeiro na história.

Inspirado na química, completamos: temos: o analítico, que desenvolve a coisa sem nada nela acrescentar, o sintético, que adicional algo como o oposto na coisa – e o combinatório, simples ou composto.

Exemplo: A - BC para AB C.

Exemplo: máquina (construção etc.) e matéria-prima como capital constante e força de trabalho como capital variável.

Passa para

Máquina, construção etc. como capital fixo e matéria-prima junto com força de trabalho como capital circulante.

 

CIÊNCIAS FETICHISTA E RELACIONALISTA

Numa nota de rodapé anterior, expomos os dois erros impressionistas e unilaterais que parece caírem todas as ciências de todas esferas do ser – inorgânico, biológico e social: a teoria fetichista e a teoria relacionalista. A verdade está em um terceiro que superar tal oposição. Pensa-se a massa como propriedade relacional, o espaço como apenas relacional, o comportamento como apenas relacional (social) ou apenas natural etc. É uma hipótese de trabalho a universalidade de tal confusão, que investigarei mais a fundo nos próximos anos. Lembramos que a palavra fetiche aqui de modo algum tem o significado comum do cotidiano; é prender-se em demasia ao empírico e tomar como natural, propriedade da coisa, algo que tem outra origem; o ouro tem um valor dado socialmente, pelo tanto de trabalho exigido para sua extração, mas parece ser seu valor uma propriedade natural dele, como se brotasse junto da terra; outros pensam, erro oposto, que o valor das mercadorias tem origem relacional, da comparação entre elas. Marx começa o capital exato contra as duas unilateralidades.

 

LEIS DA DIALÉTICA

Engels listou as três leis da dialética:

1)      A lei da conversão da quantidade em qualidade e vice-versa;

2)      A lei da interpenetração dos opostos;

3)      A lei da negação da negação.

O problema é que apenas listou as leis, sem derivar umas das outras. As mudanças qualitativas por mudanças quantitativas produzem a diversidade necessária para haver opostos que se interpenetram (já que há certa mesmidade entre eles); na contradição da relação íntima e dinâmica dos opostos, opera-se a negação da negação com seus saltos qualitativos. Tal processo funda, e é fundado pela, a lei do desenvolvimento desigual e combinado. Essa formulação inspira-se, mas com movimento, à passagem, mais do que lado a lado, da lei da identidade, para a lei da não contradição, para a lei do terceiro excluído feita por Hegel na sua Lógica.

 

A PASSAGEM LÓGICA

Demonstramos o A=A e… não-A. A dialética comum diz que o simples é complexo, pois um simples ser vivo unicelular é complexo em si próprio. Isso é correto, mas apenas sincrônico, não diacrônico (o simples de fato, também, avança para o complexo). Agora, porém, seremos sincrônicos ao já termos pesado a mão nos processos.

A=A já põe o segundo A como diferente, logo A=não-A, ou seja, A=A e não=A. Ora, se isso é uma passagem, mesmo se apenas mental ou lógica, logo A=A e… não-A. Façamos agora o caminho inverso. A=A e… não-A. Logo A tem em si a potência de Não-A, logo A=A e não-A (e A permanece em não-A). Assim, se A e não-A são o mesmo ou em unidade, A=Não-A, por isso A=A! Em nossa dialética, em A=A e… não-A, até o “e” importa como impulso de adição, de acréscimo, pois mais é mas, e, ao mesmo tempo, mas é mais.[6] O “…” demonstra o tempo, o movimento, o processo, o genético, o diacrônico, o evolver, o (auto)desenvolvimento, evolução e revolução.

De certa forma e modo, a fórmula A=A e... Não-A funde, em movimento, a lógica formal, A=A, e velha Dialética, A=A e Não-A. Dizer “A=A e não-A” é transição, lógica e histórica, entre o classificatório “A=A” e o dinâmico “A=A e… não-A”.

Lênin, antes de estudar Dialética, caiu na lógica de Kant, dos opostos fixos. Assim, opôs a luta econômica e a luta política, preferindo esta última. Toda a diferença fica assim:

A=A: luta política aqui, luta econômica ali.

A=A e não-A: luta econômica é, ao mesmo tempo, luta política.

A=A e... não-A: a luta econômica torna-se luta política, e vice-versa.

Após uma luta política grande, em geral surgem lutas econômicas; o aumento das lutas econômicas as unificam numa luta política.

As duas formas anteriores, lógica formal e a velha dialética, estão dentro da terceira forma, não apenas negadas.

 

UNIDADE DE PRODUÇÃO

Hoje sabemos que o Ser é produção. As estrelas, por gravidade, produzem elementos novos, cada vez mais pesados, perdendo energia em forma de fótons e neutrinos. A célula é uma unidade produtiva que produz mais energia do que aquela exigida em sua produção. O homem teve, por exemplo, o campo de trabalho escravo, o feudo, a fábrica com trabalho manual e, agora, a fábrica sem trabalho manual. Temos, então, três fatores universais: a produção-consumo e a distribuição. No próximo capítulo, veremos, em completo, que Ser é trabalho também.

Assim, as três modalidades de ser têm o fixo e o circulante. Mas o fixo é, também, circulante, apenas relativamente fixo. No sistema solar, nível inferior de sistema orgânico, a luz é exemplo de circulante. Os elétrons compartilham fótons. Na biologia, o sistema circulatório bombeia o sangue. No capitalismo, temos o capital fixo (máquina, instalações etc.) e o capital circulante (matéria-prima, força de trabalho etc.). O circulante costuma servir de cola adicional que mantém o sistema como sistema; assim, o dinheiro unifica o mundo do capital. Assim, o próton é formado por 3 quarks que se unificam em sistema com o auxílio da partícula glúon, compartilhada entre eles, em movimento. Até onde se sabe, aquilo circulante é, em termos absolutos e quantitativos, menor em matéria do que aquilo relativamente fixo.

 

SOBRE HIPÓTESES DA FÍSICA

Tal ontologia e lógica têm relação imediata com a não vida, em especial a física. Fugindo de premissas, hipóteses, princípios e postulados como da peste, devemos ao menos esboçar sua relação com tal ciência.

1.    A ideia de sobreposição de estados, de ser partícula e onda como se ao mesmo tempo, parece encontrar boa saída na ideia de espaço-tempo condensado. Talvez, algumas partículas não se rompam com o tecido espaço-temporal, ou apenas relativamente. Assim, o elétron como onda, com o espaço enquanto meio, e como, ao mesmo tempo, o si, carrega-se a si próprio como partícula – explica-se, assim, o experimento da fenda dupla. O meio afeta o comportamento na fenda dupla porque o objeto em movimento é o próprio meio, parte dele.

2.    Tomemos este dado: as galáxias mais distantes afastam-se mais rapidamente – por causa da energia escura. Ora, se a gravidade é o típico do macro, logo tal afastamento pode ser fruto de outros universos, mais condensados, atraindo, fazendo este expandir. Em causalidade recíproca, uns expandem-se ou contraem-se exato porque outros universos locais expandem-se ou contraem-se. O cosmos é união dos universos em quatro dimensões espaciais (a última manifesta-se como tempo – dizemos: ele percorreu certo espaço de tempo –, sendo o infinito, o para dentro, o colateral dentro e fora das demais dimensões). Mas a gravidade é muito fraca, exceção se os universos em contração passaram ao ponto de sugar até o tecido do espaço.

3.    Ao que parece, inexiste resposta sobre o motivo de o elétron não cair, já que é o oposto, dentro do próton. O fato de o espaço curvar, e ser o autocurvar dele cada matéria, causa a atração; mas exato por ser espaço condensado, tem resistência à união, uma fronteira. Ademais a “força” forte é o mesmo que a “força” gravitacional, mas não em relação gradual, e sim por salto de concentração. Os objetos se aproximam, entram nos “poros” ou espaços vazios, pressionam o outro a se aglutinar em si mesmo e, enfim, fundem-se porque são o mesmo no fundo, no fundamento, energia ou espaço-tempo concentrados. É como se o próton e o elétron fossem – nossa hipótese – cada um, algo completo-incompleto, algo que se dividiu e busca reunir-se novamente, cair um no outro; como a matéria e antimatéria que deveria reunir-se e anular-se no passado.

A física atual ainda considera o positivo e o negativo como algo dado, sem qualquer explicação. Sequer trata o problema. Ou seja, ainda não sabemos o que é positivo e negativo. Que o elétron seja negativo e o pósitron, antielétron, antipartícula daquele, seja positivo, nada diz de si. Colocar tal propriedade como algo da quarta dimensão seria uma resposta fácil, sem provas empíricas ou matemáticas. É um desafio gigante nessa simplicidade. Portanto, uma explicação digna disso deve explicar vários fenômenos ao mesmo tempo, como o spin do elétron. Esperamos que a ontologia aqui posta ajude a encontra o caminho exato.

Tratemos por outro ângulo nossa hipótese. Se elétron é -1 e próton é +1, como dois objetos completamente diferentes podem ter a mesma proporção de carga, embora invertida? Absurdo. Somente se, no fundo, são o mesmo. E de fato o são, formas de espaço, mas isso não responde nada. A questão é que os dois são algo em si, com fronteira ou “campo”, por serem espaço condensado, mas ao mesmo tempo são incompletudes – são pedaços, um maior e outo menor, de algo antes unido. Por isso, cada um desliza para dentro do outro. Dois prótons se repelem por serem “demasiados” na proporção, a fronteira é mais forte, além de não serem diretamente, um e outro, unidos, iguais, no passado. Em outro momento, dissemos que o, em si, nem positivo nem negativo, passa para o positivo e negativo, que cai no novo nem positivo nem negativo; o decaimento da matéria no início do universo produz matéria e antimatéria – que, teorizamos, de fato se aniquilaram no passado, produzindo espaço – que por sua vez, pelo menos aquele, decaiu em prótons e elétrons. Um elétron e um anti-elétron “atraem-se” porque já foram, antes, apenas um. Vejamos o decaimento beta. No núcleo do átomo, um nêutron, nem positivo nem negativo, decai em próton, positivo, e libera um elétron, negativo; mas este último sai com menor energia do que o comum, pois uma parte de si tornou-se um antineutrino, em oposição e “pedaço” do elétron de onde veio na prática.

Quem considera tal formulação algo distante, pensemos: encontrar na realidade logo a partícula oposta, de mesma carga, mas inversa, com quem une-se para formal algo neutro – que sorte a do próton! Ou nada há de sorte nem acaso, mas inteiros-partes que se complementam.

Nossa teoria geral, aqui proposta, resolve, uma vez desenvolvida, todas as anormalidades da física. O spin anormal do elétron, muito acima do esperado e possível, é uma medida não só de sua rotação, mas o movimento tem também relação com seus equivalentes (movimento=energia=tempo=etc.), logo tal medida está, na diferença, medindo mais de um elemento, de modo misturado.

A carga do elétron e do próton não geram campo, mas o “campo”, o espaço condensado, manifesta-se idealmente, ao cientista, como carga, assim como o preço da mercadoria não é seu valor. Reforçamos que eles são pedaços inteiros em si, que se encaixam.

Vejamos o Princípio da exclusão de Pauli em nossa interpretação: elétrons que podem conviver na mesma órbita se dá porque, por exemplo, um elétron tem um campo próximo, espaço condensado, que o forma, para baixo, como um cone ou funil, ˇ ou ↓, outro, para cima, ^ ou ↑.  Permitindo certo "encaixe" ou tolerância ao semelhante.

O excesso, sem origem aparente, de raios cósmicos no espaço sideral talvez seja explicada desta forma, pois o espaço, ao se concentrar, na interação com o que há dentro dele, pode produzir novas partículas.

Uma teoria de tudo correta não tem obrigação de explicar ou ser base direta de todos os detalhes cósmicos, mas isso é uma possibilidade. Vejamos uma hipótese, entre outras. Um forte buraco negro, de grande massa, pode ser produtivo como o são as estrelas, as células e as fábricas. Faria isso, também, por sua grande gravidade ao transformar espaço, em que existe, em matéria, seja lá como esta é por dentro dele; assim, tem-se uma explicação do motivo de não encontrarmos buracos negros de certos tamanhos e tipos intermediários.

4.    Mostrei minha ontologia ao físico Marcelo Gleiser por meio da internet, em seu grupo “Ilha do conhecimento”. Algum tempo depois, soube que ele elaborou a tese de que a matéria escura são bolhas transparentes de espaço. Não creio que seja plágio, talvez inspiração. De qualquer forma, para mim, tanto a matéria escura como toda a matéria e a luz são espaço condensado. Vale notar que ele fez um comentário crítico: assim, deveria ser derivado todas as propriedades da matéria do espaço, algo improvável. Ora, a diferença qualitativa dos átomos da tabela periódica tem por debaixo uma diferença apenas quantitativa de prótons e elétrons (e nêutrons); logo a diferença qualitativa do mundo e suas propriedades é por diferentes níveis de energia-espaço-tempo concentrado e suas interrelações.

Vejamos uma hipótese, entre outras, derivada de nossa teorização. A gravidade, ou algo semelhante como na aceleração produzindo mesmo efeito, além de ser gerada pela curvatura do espaço, é gerada por uma pressão de tensão do tecido espacial esticado. Assim, explicaria a gravidade na parte mais externa da galáxia e entre galáxias. A tensão é energia, logo gravidade – e energia é o mesmo que espaço, além de diferente. A gravidade extra, além disso, tem outras origens secundárias.

5.    A teoria do espaço da gravidade quântica em loop, com o tecido do espaço-tempo como uma corrente, bem combina com nossa concepção de que tal objeto é tanto contínuo quanto discreto – mostra que nossa base filosófica pode ter correspondentes científicos. Há alguns anos, soube da teoria de que o universo primordial era formado por partículas que entraram em forte interação, tornando-se interligadas, ou seja, a “ação fantasmagórica à distância” ou entrelaçamento quântico, formando o próprio espaço nessa “liga”. Isso combina com nossa ontologia de que tudo é espaço-tempo condensado. Complementamos que o espaço, podendo ser linhas de campo maleáveis, é o meio de tal ação, como a gravidade é o próprio espaço. Outro caminho, mais intuitivo, mas talvez não novo, é a quarta dimensão enquanto “caminho” da ligação entre partículas.

6.    A gravidade e o magnetismo tornam-se o mesmo não apenas por serem formas de espaço, mas por o magnetismo ser um tanto de espaço condensado, em nível menor, caindo o tempo todo dentro de si, circulando.

Einstein afirmou que a massa e a energia são diferentes formas de manifestação de algo, da mesma coisa. O que tal coisa seria? De imediato, sendo tudo igual a tudo, trata-se de ambos serem espaço.

7.    Os temas mais difíceis, quase insanos, da física quântica são o salto quântico, a fenda dupla, que explicamos com nossa hipótese, e o entrelaçamento quântico. Eles deveriam produzir uma crise completa da física, mas muitos cientistas se conformam no “como” e no instrumental, evitando saber o motivo difícil dos fenômenos. Há pouco tempo, descobrimos que o salto quântico não é instantâneo, como pensávamos, mas quase instantâneo. O salto do elétron de uma órbita para outra, ao absorver ou liberar energia em forma de fótons, deve responder ao próton e ao núcleo de seu átomo com a interação com outros átomos, mais a quantidade de energia em si mesmo. Faz-se certa média, certo equilíbrio desses fatores ou “forças”. Se o elétron ganha energia, deixa de ser o que é, tornando-se ou espaço ou “campo” ou algo neutro indetectável, elétron neutro, ou, outro modo de dizer, dissolve-se para reconcentrar-se em outro ponto, em outro órbita de equilíbrio dinâmico, segundo seu contexto e seu nível de energia. Para ficar mais fácil, imaginemos o espaço como um lençol esticado; se com as mãos concentramos um pedaço de tal espaço, nosso elétron, as outras partes esticam-se, mas se, mantando a concentração, anterior, concentramos outro ponto do lençol, o primeiro conto concentrado, o primeiro elétron, se desfaz quase ao mesmo tempo. Nossa teoriorização filosófica parece ter pleno valor científico, pois dá base para responder todos os grandes problemas da física, embora responda apenas de modo limitado o entrelaçamento quântico.

Reforçamos esta conclusão, repetimos, pois é base de tal possível revolução na física. Deixemos mais claro. Por que há o salto quântico, o elétron “desaparecer” aqui e surgir ali ao absorver ou liberar fótons? A posição do elétron no átomo depende do contexto: 1) o átomo ao qual pertence, com núcleo e outros elétrons; 2) seu nível próprio de energia e 3) o em volta, como outros átomos próximos. Ao absorver um fóton, ele colapsa em espaço, que se reagrupa, quase ao mesmo tempo, em outro ponto, como um salto, formando, de novo, o elétron.

Um físico de mente aberta e experiente pode, com certeza, antes de meu maior amadurecimento, saber quanto acerto e quanto erro, além de poder ampliar e amplificar os acertos. O que interessa é se podemos, mais que isso, derivar toda a física de tais “princípios”, conclusões, além de resolver problemas. Isso incluiria, em possível, derivar um cálculo físico, uma equação, do outro, em progressão, mais do que lado a lado em manuais. Vejamos uma humilde hipótese. Certa matéria vai de líquido para gasoso porque o aquecimento significa acumular energia, logo os átomos ficam mais ativos, excitados, movimentando-se – logo repelindo os demais; mas se, ao menos também, isso se der porque, ao acumular energia, também acumulam espaço? Assim, como se aumentassem a barreira, o limite, a fronteira uns em relação aos outros.

8.    Existem apenas os tempos de cada corpo ou existe um tempo geral? Ambos. Antes de explicarmos isso, façamos alguns debates. É a partícula que faz o campo, não o inverso. Ao ser espaço concentrado, a partícula concentra espaço para si, ou o curva, formando o “campo”, que nada mais é que uma forma do espaço. Isso significa que não existe a partícula gráviton, responsável pela gravidade, porque toda partícula já é isso. Logo não existe, também, um campo responsável pelo tempo.  Tempo é espaço, além de energia etc. Como há o espaço em geral, há o tempo em geral; como há matérias, partículas etc., singulares, que são espaço condensado, então há também o tempo singular. O mesmo tempo se expressa em corpos diferentes em quantidades diferentes. Algo similar na economia: o mesmo valor global, que é apenas um, aparece externamente como vários valores diferentes em diferentes mercadorias.

9.    Como os quarks, partículas subatômicas quase desprovidas de massa, partes constitutivas do próton, façam com que emerja essa partícula, o próton, com massa? Para Wilczek, possível porque, apesar de massa quase zero, quarks se movimentam com enorme velocidade dentro do próton, e a energia expressa essa movimentação. Isso mostra como movimento = energia = etc. = massa.[7]

10.                        Lembremos que, se temos apenas este universo, o espaço surgiu e expandiu-se desde o big ban, o que indica um decaimento progressivo da matéria em espaço, já que são o mesmo. Vejamos de perto. A teoria dominante, a do big bang, tem um defeito imenso que a fragiliza, qual seja, por seu modelo, no começo do universo haveria uma quantidade igual de matéria e antimatéria que se aniquilariam umas às outras, impedindo a existência da matéria bariônica tal como a conhecemos. Mas se matéria = espaço, não precisamos dizer, como fazem os físicos hoje, que milagrosamente não houve tal encontro destrutivo. Na verdade, houve o colapso por encontro de matéria e antimatéria, mas o “material” que resultou disso logo decaiu em espaço, que se expandiu, preservando, ao afastar, uma parte da matéria (talvez, também, muito distante, uma parte da antimatéria). - Talvez estas hipóteses expliquem o motivo de as duas medições sobre a constante de Hubble serem muito diferentes seja porque ambas estão corretas, uma no início e outra hoje no universo, porque é diferente 1) o decaimento da matéria, incluso a luz, em espaço; 2) o quanto outro universo em contração suga no nosso tecido do espaço.

Se espaço = matéria (e energia etc.), logo matéria escura é igual à energia escura, aquele decai neste, que é espaço. Em minhas reflexões cheguei a pensar a hipótese de a matéria escura ser o espaço como partículas, discreto, e a energia escura como espaço enquanto tecido, contínuo, ou o inverso; mas não é uma derivação direta natural da filosofia aqui exposta. Ao menos deixo exposta como pista para o cientista da área.

A esperança é que nossa ontologia permita descobrir a unidade do micro e do macro (e do meso[8]), a grande unificação da física quântica com a física cosmológica – insistimos: tudo como espaço tempo condensado, energia em busca de mais de si. Isso também indica que a pluralidade ou diversidade de campos, se confirmados, são, no fundo, um.

Como ensaio, este texto tem a liberdade necessária para arriscar. Mas, claro, cientistas da área podem avaliar com imensa maior precisão o que está aqui escrito, se há algo de fato útil. Além disso, se estamos corretos em geral, eles podem ir muito mais longe numa pesquisa profunda a qual estou ainda apenas em seu começo.

Todas as vezes em que a filosofia entrou de modo direto na física, bateu a cabeça na parede. Isso tem duas explicações: 1) leva uma vida inteira para dominar a filosofia e outra vida completa para dominar as ciências naturais; 2) tanto as ciências naturais quanto a filosofia amadureceram de fato faz pouco tempo – e apenas agora temos base de uma dialética e ontologia completas. Com algumas décadas de esforço, talvez menos, poderemos consolidar a grande unificação caso este ensaio, sob crítica pública, não tenha conseguido ainda concluir o núcleo central do projeto. Mas esperamos que sim, tenhamos alcançado.

 

CAMPO E ESPAÇO

Decidi destacar este tema do subcapítulo anterior por sua extensão e importância.

Se levarmos nossa formulação até as últimas consequências, tudo é espaço, logo não existe algo como campo, ou melhor, campo é apenas espaço ou modificação deste último. Todos os campos são apenas um, o espaço modificado. Destinar um campo para cada partícula fundamental é, assim, um erro, ainda que em parte correto. Assim como o conceito força foi usado para tudo sem maiores critérios, o conceito campo, seu substituto, também o foi, mas por razão um tanto diferente.

O artigo de base deste comentário-tese observa os significados de campo:

 

Destacam-se as seguintes atribuições de significado, algumas na forma de definições explícitas, outras implicitamente apresentadas: é espaço; é um vetor; propaga-se, é suporte para a propagação de energia; é curvatura do espaço; armazena energia; interage com partículas, media a interação entre partículas; preenche o espaço. (Krapas & Silva, 2008)

 

Ora, isso não é um problema em si. A coisa pode muito bem não caber em apenas uma definição fixa. Veja-se que Marx chama capital por várias definições diferentes e diversas, uma após a outra, e todas estão corretas. A vida nunca se cabe num dicionário. Nem definir nem descrever são suficientes, por isso se passa para várias definições. Vejamos o caso da energia:

 

Em ciência, refere-se a uma das duas grandezas físicas necessárias à correta descrição do inter-relacionamento – sempre mútuo – entre dois entes ou sistemas físicos. A segunda grandeza é o momento. Os entes ou sistemas em interação trocam energia e momento, mas o fazem de forma que ambas as grandezas sempre obedeçam à respectiva lei de conservação.

Energia é a grandeza física capaz de alterar a matéria, independente de sua propriedade física ou posição espacial.

Energia é tudo aquilo que realiza trabalho ou realizar uma ação

Energia é a quantidade de movimento molecular ou atômico.

Energia é uma medida do nível de aleatoriedade da orientação dos vetores coordenado e momento de um sistema em equilíbrio termodinâmico. (Trevisan, 2015)

 

Todos corretos, mas insuficientes – eis a dialética.

Mesmo assim, a defesa do campo deve ser substituída por espaço. Dizer “campo é espaço” está de todo de acordo com nossa formulação, espaço é campo. Campo é somente a fenomenologia de um espaço alterado, que é a coisa-em-si.  Dizer que é um vetor ou propaga-se vai no mesmo sentido, reafirmando o espaço. Mas se dizemos “campo é suporte para a propagação de energia”, dizemos, na verdade, a nossa formulação, espaço = energia (movimento = energia = tempo = espaço = etc.). Dizer que é “curvatura do espaço”, também afirma. Se campo armazena energia, o faz como espaço condensado. Dizer que o campo interage com partículas, media a interação entre partículas – o que seria isso senão espaço, o meio como meio? Por fim, diz-se que o campo “preenche o espaço”.

Assim como ocorreu a crise do conceito força, ocorre a crise do conceito campo, embora tenha maior validade ontológica em relação àquele. Talvez, uma de nossas hipóteses, o conceito espaço reduza até mesmo o conceito energia diante de si.

Os atributos dados ao conceito de campo cambem, assim, com perfeição, à nossa concepção fundamental de espaço. No lugar da multiplicidade diversa de campos, a unidade real da categoria espaço. Os campos existem, mas são, ainda que não no tempo, derivados. Ou seja, o campo coincide tanto como espaço por ser o mais perto dele, nele. Os campos que de fato exsitem nada mais são que espaço condensado, mesmo.

Ademais, devemos concluir: muitos dos atributos antes destinados ao éter agora pertencem ao espaço. Vejamos: para a luz, enquanto onda, se mover no universo, imaginou-se um meio, o éter, que não existe; com a expansão do espaço, a luz desvia para o vermelho, decai digamos; logo vemos daí: 1) o espaço como meio real, o meio enquanto meio; 2) a unidade de luz e espaço.

 

ALGO SOBRE O ESPAÇO

Nossa lógica e ontologia, nossa física metafísica, guarda dentro de si a dialética de Hegel, mas não para nela. O espaço é o mais vazio, o sem determinações, sem qualidades, o puro, a transparência transparente. Ao mesmo tempo, trata-se do exato oposto disso, e isso leva a mistificações:

 

Esta extensão infinita e imóvel (que é percebida tão seguramente na natureza das coisas) não tem só a aparência de algo real (que comentaremos adiante), mas também de algo divino, quando enumeramos os Nomes divinos ou atributos que lhes convém exatamente, os quais darão ainda mais razões para crer que ela, com tantos atributos notáveis, não pode ser nada. Tantos são os que pensam assim, que os Metafísicos a assimilam ao Primeiro Ser: Uno, Simples, Imóvel, Eterno, Completo, Independente, Existente por Si, Subsistente por Si, Incorruptível, Onipresente, Incorpóreo, Aquele que Penetra e Envolve Tudo, Ser por Essência, Ser em Ato, Ato Puro. Pelo menos vinte atributos existem para designar habitualmente a Potência Divina, e todos convêm perfeitamente a esse Lugar infinito interior que demostramos existir na natureza das coisas; sem esquecer que ela, a Potência Divina, é chamada pelos cabalistas de “makom”, ou seja, lugar. (More apud Jammer, Conceitos de espaço, 2009, p. 73)

 

Tal citação erra e acerta ao mesmo tempo, pois mistifica. Além disso, o movimento, incluso do espaço, é eterno, nada de imóvel – Ser é movimento, em geral, contraditório. Também notamos que há uma interdependência e unidade íntima de matéria e espaço, embora este, por ser o mais simples, além das demais características, seja como a verdadeira base.

 

DESAFIOS DO MARXISMO

Apenas podemos dedicar tempo e esforço[9] para assuntos secundários se os centrais estão resolvidos, mas não é assim que os intelectuais marxistas têm operado. Vejamos as urgentes demandas teóricas e práticas de nossa ciência:

1)   Teoria da crise sistêmica.

É o mais importante. Penso que este livro cumpriu tal tarefa ao menos nos seus aspectos centrais.

2)   Sistematizar a dialética materialista, marxista.

Aqui, também temos a base de tal construção. Mas é necessário um trabalho crítico sobre as modernas lógicas de modo a ter uma formulação quase inteira do tema. Minha formulação do método “empírico-dedutivo”, onde se deduz o não empírico, incluso conclusões, do – e da crítica do – empírico, é uma das contribuições concretas, entre outras, desta obra sobre. Em meu livro de introdução ao marxismo – 50 ideias sobre marxismo – também exponho uma concepção de método dialético ao qual indico leitura.

O debate é difícil. O marxismo acadêmico da classe média nega a dialética, às vezes põe “Marx contra a dialética”. Assim, falsificam a história. Em público e cartas pessoais, Marx  sempre deixou cristalino que seu método era o dialético. Os falsificadores agem como os professores medievais, que, diante da lógica da tradição, sempre diziam que suas próprias ideias eram, na verdade, de algum pensador antigo com prestígio. Sem qualquer conhecimento geral das ciências, dizem também que a dialética é apenas algo sobre o capitalismo; ora, o próprio Marx diz em O Capital que é uma contradição um planeta ao redor de sua estrela tender, ao mesmo tempo, a se afastar e a se aproximar dela – a contradição dialética está em toda parte, em cada coisa. O próprio Marx apoiou o Anti-Dühring de Engels e seu projeto de dialética da natureza.

Para Hegel, a contradição era externa, com a unidade interna. Para o marxismo, a contradição também é essencial, interna. Por isso, formulei há pouco que quantidade e qualidade, intensidade e extensidade, forma e conteúdo, energia e espaço são transitoriamente contraditórios, não só opostos em unidade ou identidade.

As categorias centrais são, reforçamos: 1) totalidade; 2) contradição; 3) movimento (mudança, desenvolvimento). Elas pressupõem: 1) integração; 2) (auto)relação; 3) pulsão ou movimento (ou melhor, movimento, desenvolvimento, pressupõe o espaço-matéria).

Minha dialética difere-se da de Hegel, além de ser materialista de fato, no seguinte: 1) Hegel, em geral, pensa apenas a passagem de umas categorias para as outras, mas não o movimento e evolver interno delas – em muitos casos, bastou colocar as determinações de sua Lógica em evolver, em passagem interna; 2) ele põe a oposição e a unidade das categorias, mas não foca na contradição delas; 3) na sua concepção de fim da história, pensa ter esgotado as determinações, as categorias, mas, como vimos, havia – e há – muito a desenvolver ainda (ordem e caos etc.); 4) ele foca no “isto e aquilo” enquanto acrescento, junto, dentro um do outro, o “nem isto nem aquilo” (a URSS era socialista e capitalista, mas também, por isso, nem socialista nem capitalista – verdadeiro e falso com, no, nem verdadeiro nem falso); 5) dou um conteúdo à dialética, o espaço-matéria ou energia; 6) elevo o movimento ao seu caráter absoluto, como fez Engels; 7) demonstro e desenvolvo o “procedimento” dialético com precisa clareza, o empírico-dedutivo, ao apresentar a fusão de empirismo e racionalismo, como o caminho do Ser para a Essência, do externo para o interno, da diversidade para a unidade, da aparência para a essência etc.

Vejamos um exemplo. Segundo muitos intérpretes de Hegel, como Safatle, o que parece ser correto sobre como o alemão pensava, a passagem da identidade para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para a contradição – é lógica, não temporal. São ao mesmo tempo, ou melhor, sem tempo algum. Ao ver o idêntico, A=A, logo percebemos que há a diferença aí, a diversidade etc. Mas demostrei antes, com exemplos da ciência, que essa passagem, mesmo se imperfeita e incompleta, é movimento de fato, no tempo. Quando há a fecundação, por exemplo, a célula única, igual a si própria, multiplica-se em células iguais a si, mas que vão se diversificando, se especializando, se diferenciando… rumo ao feto maduro. Isso, o movimento, ocorre por energia-matéria-espaço em busca de mais de si. Portanto, pensar que a última palavra foi dada sobre o assunto é render-se, erro, castração ou preguiça intelectual. A tarefa não está em negar a dialética de Hegel, mas em suprassumir suas formulações.

Aqui, foram resolvidos, enfim, as antinomias de Kant contra o materialismo. O universo é infinito ou finito? A matéria é divisível ao infinito ou indivisível? Há uma causa primeira ou não? Apenas uma dentre elas não resolvi, pois Hegel e Marx já ofereceram as respostas necessárias: há determinismo da necessidade e das leis ou também liberdade humana?[10] A causalidade foi bem resolvida por Hegel, complementada por nós aqui, mais a concepção de substância, de causa sui, causa de si mesma, para o espaço, o espaço-matéria – a energia.

Em capítulo anterior, apresentei uma alternativa à dialética de Hegel, onde uma categoria é real enquanto sua oposta é fictícia, como o vazio ou o nada, ou Deus e seu reino em oposição ao mundo. Assim, existe a constituição, não a determinação; existe o infinito, não o finito; existe a essência, não a aparência; existem as propriedades ou matérias, não a coisa em si etc. Mas, embora interessante, descartamos tal formulação, pois ela é menos, não mais.

O método dialético é ontológico, não gnosiológico, por isso as provas da teoria estão na própria realidade; mas permite alguma gnosiologia possível. Primeiro, uma teoria correta deve ser sistemática, ou seja, cada conclusão deve deriva as outras, e vice-versa, formando um todo artístico; segundo, de modo algum deve estar ao lado das demais teorias e explicações, pois deve ser capaz de dizer porque elas estão erradas, porque parecem corretas. Reforçamos que tais critérios continuam secundários e subordinados.   

Hegel coloca o Espírito, a Ideia, como a fonte do mundo, em sua autorrealização; Marx, ao contrário, coloca o valor no social. Nós complementamos com a energia, em busca de mais de si, do espaço-matéria, rumo a si mesmo. O valor é uma forma, social, de tal energia, que só pode ser por meio de coisas, ainda que pareçam homens.

Esta nova dialética, que, mantendo o sincrônico, pesa a mão no diacrônico, A=A e …não-A, de modo algum veio do nada, há uma história que a funda. O primeiro aspecto são as revoluções científicas: a vida passa a ter uma história desde Darwin; a teoria de Einstein deriva o Big Bang; a química tem um desenvolvimento de seus elementos, e assim por diante. O jovem Marx observou que, se o mundo vai do simples ao complexo, logo a vida, o orgânico, veio do inorgânico… Depois, Engels coloca a categoria movimento como central em sua Dialética da Natureza. Mas o primeiro passo real é a lei do desenvolvimento desigual e combinado descoberto por Trotsky. Adorno aumenta o peso da contradição com sua dialética negativa, mas recua em relação a Hegel e Marx. De muita importância para minhas descobertas, Moreno resgata a “possibilidade crescente” de Piaget. Depois, Carcanholo trata o dinheiro em sua desmaterialização. Tais pistas permitiram-me pensar as categorias em movimento completo e interno, suprassumindo, mantendo de todo e superando, a dialética de Hegel. Enfim, derivou-se uma lógica com conteúdo, junto a uma ontologia, ao pensar em conjunto sobre o material fragmentado das diferentes ciências modernas. O método empírico-dedutivo, usado de modo irrefletido e instintivo-inconsciente, por ex., por Darwin e Freud, nada mais é que o dialético. Colhem-se os dados, da natureza ou da fala do paciente, então, sem hipóteses ou premissas ou conceitos externos, percebe o nexo interno do externo desconexo, o desenvolvimento etc.

A filosofia marxista, enfim, passa da filosofia especulativa de Hegel para a filosofia objetiva. Por evidente, materialista e dinâmica. A Ciência da lógica passa para a Lógica da ciência; portanto, não é a o real que cabe na lógica, mas a lógica que cabe no real. Além disso, o desenvolvimento é recíproco. O materialismo de Marx é histórico, mas pouco se aprofunda no tipo de materialismo – é atomista, tem substância? Em sua Fenomenologia, Hegel nega o espaço, põe-no na matemática, como algo morto, sem movimento. Mas vemos que há movimento nele e dele, que tudo é igual a tudo, que há espaço e uno, espaço-matéria, que o átomo está junto com o “vazio” como um só. A filosofia objetiva arranca da ciência suas conclusões gerais.

3)   Refundar a ontologia e a metafísica.

Para acusar alguma ideia, basta nomeá-la metafísica. Mas: quem é contra saber a natureza essencial da realidade? Ninguém são seria adversário de tal meta. Tal eixo está junto ao ponto 2, inseparáveis. A concepção energia em busca de mais de si e espaço-tempo condensado permite tal unificação e desenvolvimento. A ontologia do ser social de Lukács abriu o caminho, mas ainda há estrada por percorrer, incluso nos seres inorgânico e biológico, além do Ser em geral.

Kant afirmou que 3 objetos são incompreensíveis: 1) a alma, 2) Deus e 3) o mundo. Ora, a alma enquanto psique tem sido compreendida em alto grau, faltando apenas a tarefa mais fácil de uma teoria unificada. Deus não existe, por isso nenhuma compreensão há dele; mas, veja só, o deus material de nosso tempo, o dinheiro-valor, foi compreendido em sua inteireza pelo marxismo. O mundo foi compreendido como leis, de fato; mas, tendo as alcançado, podemos ir agora mais longe, nos motivos da realidade, nas causas e fundamentos das leis consolidadas; ademais, Hegel demonstrou que do e com o empírico podemos ir ao não empírico.

4)   Teoria unificada da psicologia.

Wallon, Vigotsky e Freud devem ser a principal base de uma teoria segura da psique. De modo algum é admissível uma pluralidade teórica, um apenas ao lado do outro. A ciência dialética tem a prova de sua teoria na realidade, ontologicamente, mas há possíveis critérios gnosiológicos secundários, como a capacidade de mostrar porque outras teorias, ao mesmo tempo, acertam e erram. O caminho é facilitado porque as construções teóricas caíram em duras oposições, em geral unilaterais, abrindo espaço para, ao mesmo tempo, o “nem isto nem aquilo”, como com o nem verdadeiro nem falso, e o “isto e aquilo”, como com o verdadeiro-falso – a crítica movente.

5)   Ética ou Moral marxista.

Como dissemos, Trotsky e Lukács esboçaram o assunto. A contribuição trotskista é suficiente para a prática militante, mas incompleta. Dialética e teoria da alienação, como na contribuição esboçada por mim antes, são a base de tal trabalho.

6)   Balanço crítico da história das revoluções e contrarrevoluções.

É necessário um trabalho profundo, que alcance leis e padrões, lições, da história de situações revolucionárias no mundo. Isso se une, por exemplo, com a lei, aqui exposta, de que a história opera por ensaios gerais antes da consolidação plena das condições para o novo.

7)   Manual militar completo.

Trotsky propôs que os militares do Exército Vermelho elaborassem um manual inteiro, com todos os cenários e situações possíveis, para que os comunistas soubessem liderar. O projeto nunca veio à prática. Com as muitas mudanças no mundo militar hoje, com as dificuldades imensas atuais, precisamos, para ontem, de um manual completo e didático.

8)   A dialética da natureza.

A ciência moderna é um mar de revoluções e de incompletudes. Engels, por outro lado, deixou inacabado seu projeto de uma dialética natural. É tarefa urgente; por isso, tendo já dado pelo menos a base aos demais, será alvo de meu foco nas próximas décadas. A física, em especial, pôde ampliar-se por muito tempo focada quase apenas no “como”, próprio do uso industrial de tal conhecimento, mas é chegada a hora de saber o motivo, o “porquê”.

 

 

 

 

A NOVA DIALÉTICA

 

O método dialético de Marx ainda falta a uma sistematização rigorosa em uma obra. Tal projeto exigirá, para fins de atualização, estudo crítico de toda a ciência moderna. Ademais, a última grande contribuição categorial foi feita no início do século XX com a lei do desenvolvimento desigual e combinado descoberta por Leon Trotsky. Aqui, iremos oferecer alguns possíveis aportes ao sistema lógico; para este objetivo, tentaremos dispor exemplos de como a dialética das categorias propostas está na própria realidade.

 

 

CONCRETO E ABSTRATO

Temos quatro definições comuns sobre as categorias concreto e abstrato:

1.

Abstrato: elevar em conceitos mentais a realidade, fazendo uso de generalizações, de modo a reproduzir a natureza deste último no pensamento.

Concreto: a realidade mesma, independente de uma reflexão, e sua dinâmica.

2.

Abstrato: um elemento separado de sua totalidade.

Concreto: síntese de múltiplas determinações.

3.

Abstrato: descrever a realidade, o objeto, em sua generalidade, em seus aspectos gerais, retirado as particularidades, as irregularidades acidentais e fatores externos.

Concreto: descrever a realidade, o objeto, em seus aspectos específicos, particulares e conjunturais, agregando fatores externos e irregulares.

4.

Abstrato: geral, indiferenciado. O trabalho abstrato, ligado ao tempo é exemplo do abstrato existente na realidade.

Concreto: específico. O trabalho concreto, que produz valor de uso, é exemplo.

 

No entanto parece existir outra interpretação, outra forma de tratar duas categorias íntimas e próprias da realidade. Antes de expressá-la, convido o leitor a ler este trecho de Marx, Introdução Para a Crítica da Economia Política (1857):

 

“Os economistas do século XVII [que], por exemplo, começam sempre pelo todo vivo: a população, a nação, o Estado, vários Estados etc.; mas terminam sempre por descobrir, por meio da análise, certo número de relações gerais abstratas que são determinantes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor etc. Esses elementos isolados, uma vez mais ou menos fixados e abstraídos, dão origem aos sistemas econômicos, que se elevam do simples, tal como trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca, até o Estado, a troca entre as nações e o mercado mundial. O último método é manifestamente o método cientificamente exato. O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação.” (Marx, O Método da Economia Política, 2019, grifos nossos.)

 

Como observamos, está de acordo com os quatro critérios acima apontados. Porém, Marx trata aí de um método do pensamento, de fazer ciência, não da realidade por si mesma; digamos que, de maneira indireta, trata-se apenas de uma dialética do pensamento ao reconstruir a estrutura dialética do real. Muito mais que isso, temos percebido que esse processo de pesquisa, “mental”, também ocorre como lei geral do próprio movimento da matéria, como fenômeno material em si. Observemos: a citação segue a seguinte sequência: 1) concreto “amorfo”; 2) abstrato, as partes, o adentrar cada vez mais nas partes de um todo; 3) reconexão das partes, retorno ao concreto de modo superior.

Demonstraremos que este movimento é o próprio movimento da realidade. Vejamos esse movimento por meio de uma citação de outro dos meus textos:

 

Os Estados Unidos Socialistas da Europa são mais necessários do que nunca. Na Idade Média a Europa desconhecia fronteiras, nações, nacionalidades, etc. Os habitantes desse continente viam-se como “o mundo cristão” e tinham em comum a história, o Latim, a Igreja Romana, o sistema feudal, etc. De fato, era uma massa única, homogênea e de particularidades internas pouco definidas – chamemos concreto ou concreto simples (ou podemos tomar por referência o grande Império romano). Imediatamente após, a burguesia inicia sua tarefa de formar países, Estados-nacionais, exércitos, fronteiras definidas, nacionalismo, identidade, impostos unificados, etc.: a Europa continua Europa, entretanto suas partes separam-se em uma “relação alienada” ou “relação, porém alienada” e isto foi vital para desenvolvimento das partes e do todo; chamemos abstrato. Este processo desenvolveu as partes, os países do mundo europeu, assim como suas interconexões, a tal ponto que amadureceram e agora (!) pedem fusão, integração, união e superação dos limites nacionais; este é o concreto complexo em latência, ou seja, o desenvolvimento econômico-social avisa-nos que deseja voltar ao começo, ao negado, ao antes do abstrato, ao concreto só que de modo diferente, superior, superante. Isso aponta a revolução socialista europeia: o Euro e a União Europeia são mediações, deformantes, propostas pelo capital e pelo imperialismo, para essa necessidade objetiva.

 

Na história das ciências essa tendência também se revela: todas as ciências eram, em estado inferior, reunidas na filosofia; depois, foi necessário separá-las e desenvolvê-las individualmente; agora, a tendência é reuni-las na físico-química, na psicologia (ciências sociais somadas à biologia), no marxismo (fusão de todas as chamadas ciências humanas em uma única ciência – a ciência humana –, incluindo influência de base da biologia, etc.). A atual fragmentação das ciências sociais em áreas particulares, com muito peso pós-moderno, excluídas umas das outras será reconciliada com a renovação marxista das universidades no socialismo.

O movimento concreto-abstrato-concreto revela-se em um novo significado; temos, então, um suporte categorial a mais para auxiliar o trabalho científico e o treinamento dialético do raciocínio.

Agora, vejamos um trecho de O Capital I onde observamos um exemplo específico do concreto-abstrato-concreto tal como destacamos:

 

 O que é válido para a divisão manufatureira do trabalho na oficina vale também para a divisão do trabalho na sociedade. Enquanto artesanato e manufatura constituem a base geral da produção social, a subsunção do produtor a um ramo exclusivo da produção, a supressão da diversidade original de suas ocupações é um momento necessário do desenvolvimento. Sobre essa base, cada ramo particular da produção encontra empiricamente a configuração técnica que lhe corresponde, aperfeiçoa-a lentamente e, num certo grau de maturidade, cristaliza-a rapidamente. Além dos novos materiais de trabalho fornecidos pelo comércio, a única coisa que provoca modificações aqui e ali é a variação gradual do meio de trabalho. Uma vez alcançada a forma adequada à experiência, também ela se ossifica, como o comprova sua transmissão, muitas vezes milenar, de uma geração a outra. É característico que, no século XVIII, ainda se denominassem mysteries (mystères) [mistérios] os diversos ofícios em cujos arcanos só podia penetrar o iniciado por experiência e por profissão. A grande indústria rasgou o véu que ocultava aos homens seu próprio processo social de produção e que convertia os diversos ramos da produção, que se haviam particularizado de modo natural-espontâneo, em enigmas uns em relação aos outros, e inclusive para o iniciado em cada um desses ramos. O princípio da grande indústria, a saber, o de dissolver cada processo de produção propriamente dito em seus elementos constitutivos, e, antes de tudo, fazê-lo sem nenhuma consideração para com a mão humana, criou a mais moderna ciência da tecnologia. As formas variegadas, aparentemente desconexas e ossificadas do processo social de produção se dissolveram, de acordo com o efeito útil almejado, nas aplicações conscientemente planificadas e sistematicamente particularizadas das ciências naturais.

[Nota de rodapé 304] Segundo o Statistical Account, em algumas partes montanhosas da Escócia [...] havia muitos pastores de ovelhas e cotters [Camponeses parceleiros nas terras altas escocesas], com suas mulheres e seus filhos, calçando sapatos feitos por eles mesmos, de couro curtido por eles mesmos, com roupas que não haviam sido tocadas exceto por suas próprias mãos e cuja matéria-prima era a lã e o linho que eles mesmos haviam respectivamente tosquiado e plantado. Na confecção de suas vestimentas dificilmente entrava algum artigo comprado, exceto a sovela, a agulha, o dedal e algumas peças de ferro utilizadas para tecer. As tinturas eram obtidas, pelas próprias mulheres, de árvores, arbustos e ervas”, Dugal Stewart, em Works, cit., v. VIII, p. 327-8. (Marx, O capital I, 2013, p. 556)

 

Na primeira citação de Marx, o concreto-abstrato está expresso numa relação sincrônica do objeto. Por exemplo: o corpo humano (totalidade), complexo de complexos, é dissecado pelo anatomista; este estuda a natureza e função de cada órgão, nervo, osso e pedaço do corpo (abstrato); com isso, procura e percebe as ligações, as interconexões e interdependências de cada parte, umas com as outras; daí, cada vez mais ele vai construindo uma compreensão profunda do todo, do corpo (concreto) (exemplo bastante parcial, pois o marxismo teoriza o sistema orgânico e vivo, em devir). Já a segunda citação do mouro demonstra uma relação também temporal, do objeto no tempo, diacrônico. Por exemplo: primeiro, produção artesanal ou primitiva (concreto); depois, cooperação e manufatura (abstrato); em seguida, grande indústria (cada vez mais concreto). Quando Marx afirma que o abstrato não forma o concreto, ao contrário do que pensava Hegel, ele acerta quanto aos modos sincrônicos, as estruturas, porém deixa de observar que a relação categorial ainda assim é útil no diacrônico, como um processo.

As diferentes formas de arte encontravam-se misturadas em seus inícios. Depois, ocorreu o desenvolvimento das artes particulares, a especialização, a separação (a poesia da música, o romance da poesia, etc.). Hoje, o cinema e os jogos de vídeo game fundem artes separadas na mesma obra.

Padrão da geologia. Do concreto amorfo, surgiram progressivamente os continentes iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após processo longo, fundiram-se no Pangeia; este, por suas vez, separou-se nos atuais continentes do planeta. O atual afastar aproxima.

Com o desenvolvimento do mundo das mercadorias, desenvolveu-se o comércio de dinheiro e a produção de mercadorias. Na época do capital, novas empresas comerciais, industriais, bancárias, de serviços surgiram, cresceram, ampliaram-se. Ainda hoje surgem novas empresas, porém a tendência geral é a fusão de setores produtivos, da indústria com os bancos, do comércio com os demais setores, a formação de oligopólios que tratam desde a extração da matéria-prima necessária até a venda final, a formação de conglomerados, etc. Se vencer, o socialismo conclui tal tendência à fusão e centralização unificando todas as grandes fábricas, os comércios e os bancos em um só corpo a partir de um planejamento centralizado e democrático geral; surgirá o banco único do Estado, por exemplo, antes da extinção ou quase extinção do dinheiro (após certa maior unificação deste); o socialismo, assim, supera o próprio capital no processo de sua unificação.

Sem confundir especulação com ciência propriamente dita, podemos fazer algumas observações, sob risco de dizer absurdos. Primeiro, após expandir-se, o universo passará a contrair-se, as partes unindo-se após o desenvolvimento dos abstratos, como teorizam alguns físicos, com os buracos negros cumprindo papel central. Em segundo, lembremos que o bom infinito é o infinito qualitativo, não quantitativo, que funciona como se um círculo, sem começo nem fim – considerado isso, podemos pensar que há uma quantidade finita de universos que estão conectados, mais do que apenas um ao lado do outro, com autonomia apenas relativa em relação aos demais, como um hipercubo em automovimento, em que a expansão de alguns universos corresponde, por interação, por influência recíproca, à contração de outros, e (ou) vice-versa, a contração de uns expande outros. Desse modo, fundimos as hipóteses, opostas, do multiverso no tempo e no espaço.[11][12]

No movimento concreto-abstrato-concreto é importante ter em conta que o abstrato é por si próprio a formação processual do concreto, interno, na parte, e externo, no todo. Também destacamos o processo de transição a partir do concreto em latência, quando o desenvolvimento do abstrato, que também é o da inter-relações, tem alto avanço sob suas bases; exemplo é a concorrência de monopólio atual entre a concorrência capitalista, cada vez mais superada, e o monopólio social no socialismo, cada vez mais latente.

O primeiro concreto é o mais relativo de modo que o abstrato, rumo ao concreto, aparece como início e base do movimento.

Hegel quase alcançou tal conclusão ao afirmar que o entendimento, separar e fixar conceitos, e a razão, ver a unidade dos conceitos, estão também na própria realidade; mas ficou apenas aí como um ótimo idealista. Expomos em primeira forma acaba o que é intuição no hegelianismo. Tal modo de ver o abstrato-concreto está, também, intimamente ligado à dialética da repulsão-atração.

 

TRÍADE E COLATERAL

A lógica dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a) infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c) inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios, burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo, indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc. Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.

Nessa obra, essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em especial na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor de serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema capitalista.

Na física, podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças consideradas.

Continuemos com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural (abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar – método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80; Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou raros (colateral).

Utilizando tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio, muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens), onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é: colateral.

Relativo aos anteriores sistemas – o primitivo, o escravista ou o asiático e o feudal –, o capitalismo cumpre a função histórica de colateral. Abre transição para o fim das classes no lugar de novas formas, baseia-se nas crises de superprodução substituta das de subprodução, sistema social de dominação disfarçado por uma liberdade geral formal, a mais laica das formas de controle, o lado mais dinâmico da economia ocorre na grande produção não rural, as fontes “paralelas” e secundárias de riqueza em outros sistemas – artesanato, comércio e comércio de dinheiro – tornam-se centrais (e, para reforçar o argumento da próxima nota de rodapé, são elementos de dissolução de sociedades), apenas pode existir generalizando-se e destruindo as antigas atividades, recruta para as forças armadas do Estado membros das classes subordinadas, necessitou de uma classe à época revolucionária para consolidar-se, expulsa o princípio da tradição e da rotina, a produção de riqueza em valores de uso é secundário em relação à produção de valor e sua acumulação na forma de dinheiro. Por esse ponto de vista, ainda sendo um modo de vida, uma época inteira, ao mesmo tempo, o capitalismo nada mais é do que a forma de transição e transitória entre as sociedades classistas e a sociedade comunista[13].

No capitalismo, os capitais a juros, industrial e comercial, inflando-se, dão suporte ao setor de serviços e ao capital fictício.

Temos três modalidades do Ser: inorgânico, orgânico e social – e objetal (falso ser correspondente à alienação).

O desenvolvimento de uma tríade forma também o colateral e, em conjunto, são parte de um todo que se forma.

Hegel apreciava exemplos da mitologia cristã para tratar das categorias. Tomemos tal metáfora: a Santíssima Trindade é trina e una ao mesmo tempo; mas, e mais, saiu de si o externo, o anjo Lúcifer, cuja existência reforça seu oposto.

Para encerramos as observações e os exemplos, faremos um último destaque. É comum na tríade que aquilo “entre” seja o “menos igual a si próprio” em sua variedade ao ser transição entre um e outro. Ex.: entre o proletariado e a burguesia há uma miríade de setores médios – a subclasse de desempregados e o lupemproletariado (mendigos, ladrões, prostitutas, etc.) são colaterais.

 

REAL E FICTÍCIO[14]

O movimento do real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este desenvolve aquele em si – ocorre na materialidade. Exemplo: o desenvolvimento do valor-capital, realização, desenvolve o capital fictício. Veja-se que em sua própria origem o capital já se estimula, no capital mobiliário, à concentração e ao desenvolver do capital imobiliário, a terra, que tem preço, mas não valor. Na economia vulgar, há o instinto de contrapor a superestrutura financeira, incluso o capital fictício, à nomeada economia real. Um lucro especulativo, por exemplo, é em si e em aparência real, mas fictício visto na totalidade e na essência (Carcanholo & Sabadini, 2011).

O real produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a unidade de nada e ser.

A categoria fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e irreal.

Em matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros, racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.

Marx trata de grandes fatos da história que se repetem acontecendo primeiro como tragédia e depois como farsa. A palavra – e o evento – farsa tem duplo sentido, duplo caráter: significa uma comédia e, além disso, o teatralismo ao imitar símbolos históricos passados.

Em psicologia, Lacan, inspirado em Hegel, trata do real, do simbólico e do imaginário. Além do Eu ou Self, Winnicott descobre a existência do falso Eu ou falso Self. Podemos arriscar ao dizer que o pensamento é uma ficção, uma alucinação relativa (a esquizofrenia seria, assim, sua inflação desregulada como luta contra a realidade estressante[15]).

O atual desenvolvimento técnico-científico, precisando de novas relações de produção, produz, nesta forma de sociedade, fenômenos sociais fictícios. É o caso do capital fictício produtivo, valorização do capital sem exploração direta do trabalhador, na automação, que nada terá de ficção no modo de vida próximo; e da onda de falsas notícias, as fake news, permitidas tecnologicamente e sob – por razão das – atuais bases das relações sociais. Numa sociedade cooperada, a falsificação da informação será algo raro e marginal, sendo hoje consequência da luta de classes com sua forma de luta política mais os meios para falsificar (que não são causa, apenas meios e possibilidades).

O real encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui, portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.

A unidade do real e do fictício é o real efetivo ou completo.

Notemos que é preciso evitar a vulgarização do uso da categoria ficção[16]. É o caso de Karl Polanyi ao afirmar que o dinheiro, o trabalho (a força de trabalho) e a terra (natureza) são mercadorias fictícias[17]. Marx demonstrou que o dinheiro é a mercadoria por excelência, que o capitalismo surge transformando a força de trabalho em importante mercadoria por ser capaz de produzir um valor maior do que custa ao capitalista, que a natureza é a fonte de toda riqueza junto ao trabalho em qualquer sistema econômico. Há aí, em Polanyi, apenas um erro teórico e um erro categorial. Outro exemplo: dizer que teorias são ficções esquece que a verdade é aproximativa, por aproximações, que a ciência evolui, chegando a verdades estáveis o bastante. Mas vamos, agora, ao extremo: “atualizando” Hume e Kant, um filósofo vulgar e apressado nas generalizações pode criticar Hegel, preso ao entendimento, usando a navalha de Ockham como um açougueiro, dizendo isto: o nada é a ficção do ser[18], a negação é a ficção da determinação, o outro é a ficção do algo, o finito é a ficção do infinito (ou o inverso), a determinação é a ficção da constituição, a barreira é a ficção do dever ser, a aparência é a ficção da essência (ou o contrário), o contínuo é a ficção do discreto, a identidade é a ficção da diferença, a coisa em si é a ficção da matéria ou propriedade, a causa é a ficção da consequência, o fundamento é a ficção do fundamentado, o acaso é a ficção da necessidade (ou o inverso), o universal é a ficção do singular (ou o inverso). Esse mau raciocínio, do uso indiscriminado do conceito ficcional, uma filosofia fácil de fazer sem muito esforço, ocorre por não perceber que a ciência vai fundo, percebe aquilo que não se revela ao cientista imediatamente, aquilo que tem de ser descoberto (a causa, o fundamento, a essência, o geral, a determinação, etc.) – daí a dialética, a Ciência da Lógica.

***

O leitor acostumado com a dialética pode observar que, desde caos-ordem, a relação categorial abstrato-concreto passa-se para a tríade-colateral e, em sequência, passa-se este para real-fictício. O desenvolvimento de si do abstrato dá a base para a tríade-colateral e, por outro ângulo, para real-fictício; além disso, da abstração, na medida em que há concentração e centralização,  tem-se o central-orbitante (que trataremos a seguir).  Há, assim, uma passagem lógica dos conceitos, uns para os outros, em uma sequência não arbitrária (que quebraremos propositadamente). No entanto, concordamos com Engels e Lukács sobre que tais passagens, tais derivações, são artificiais na Ciência da Lógica de Hegel e, complementamos, também aqui. Dito isso, avancemos.

 

CONCEITOS NECESSÁRIOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS

A dialética trata dos aspectos gerais do movimento da realidade. Nesta concepção, expõe o desenvolvimento do saber científico. O método dialético afirma que os conceitos necessários são objetivos, reais, em oposição ao idealismo, como o de Kant, que os considera subjetivos, externos ao objeto, para fins de organização mental.

O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física. Algo semelhante acontece, ainda sob larga resistência, com o conceito de energia em física e química. Nas ciências humanas, o conceito de valor ganha sua validade plena com Marx[19].

Percebemos o movimento do pensamento científico. O conceito subjetivo necessário revela-se, no segundo momento, objetivo. Na objetividade do conceito necessário está a sua verdade. O conceito necessário subjetivo só se realiza quando se torna seu outro, quando se demonstra completamente necessário porque real. O conceito ainda subjetivo é necessário porque em verdade é objetivo.

O exemplo mais destacável é a do espaço-tempo, isto é, quando Einstein deu forma à concepção do materialismo dialético. O espaço e o tempo existem, são objetivos, diferente do que afirmava a anterior concepção subjetiva, idealista.

Há, porém, uma consideração minoritária. O tempo existe ou é a medida do movimento? O conceito filosófico de movimento estende-se em 1) deslocamento, 2) mudança e 3) mudança por deslocamento. Se levamos a concepção anterior a Einstein às últimas consequências, o que altera é a massa, o volume, o tamanho do objeto segundo sua velocidade, ou seja, reduz ou aumenta, altera-se, a perecibilidade e as dimensões. Assim, as provas práticas da objetividade do tempo seriam demonstrações da alteração do corpo (satélite, relógio atômico, etc.) captadas pela medida. Nessa concepção, o espaço-tempo seria substituído pelo espaço-movimento. Mas a medida, para Hegel, tem presença no mundo objetivo; “o movimento” é “unidade do espaço e do tempo” (Hegel F. G., 1995, p. 339). 

 

ETAPISMO E SUBLIMAÇÃO

 Ser contra o etapismo é diferente de desconhecer a existência de etapas de desenvolvimento. O processo é mais dinâmico, pelo grau das contradições, que a visão linear de evolução. A consideração unilateral dos opostos, etapismo e sublimação, encontra unidade interna no condicionamento recíproco de um no outro.

A crítica ao etapismo na política, existente entre os antigos partidos social-democratas e os estalinistas, também criou a posição oposta ao negar etapas necessárias, a que chamamos, nessa vulgarização da negação do etapismo, concepção de sublimação. É evidente que muitas sociedades passaram direta e violentamente do primitivismo ao capitalismo comercial, que há saltos, que há não evolução linear, há recuos que resguardam parte do avanço, etc. Também evidente que no todo a humanidade seguiu etapas: primitivismo, escravismo, feudalismo, capitalismo, no desenvolver histórico geral da produtividade social do trabalho, no evoluir contraditório dos modos de produção.

Na cosmologia, a aparente contradição de surgir buracos negros primordiais na fase inicial do cosmos foi resolvida considerando tanto o processo da dinâmica de formação quanto, por meio da simulação computacional, descobrir que o próprio processo geral obrigou a formação direta, por salto, de buracos negros. Ainda assim, o universo tem eras próprias e o caminho comum foi da concentração de hidrogênio e de hélio por meio da gravidade, formação posterior de estrelas e, apenas aí, formação de buracos negros.

É preciso considerar a existência real de etapas necessárias para então considerar os saltos. Porque há etapas é que pode haver negação – ou combinação – delas. Enfim, a totalidade segue etapas ainda que as partes, por razão das interinfluências, operem saltos. 

 

CENTRAL E ORBITANTE

Lucáks critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács, Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante, e vice-versa; daí a unidade deles.

Em minha experiência política, o uso de tais conceitos foi-me bastante útil para traduzir a realidade e saber como agir. Assim, pode ser positivo a uma corrente política orbitar ao redor de outra por algum tempo para crescer e posteriormente adquirir mais autonomia. Marx trata da “mudança do centro de gravidade” da economia internacional com a descoberta do ouro na Califórnia, o que sugere naturalmente nações orbitantes.

 

A DIALÉTICA DA DIALÉTICA

Se pudermos definir qual a categoria central da dialética, digamos quais, no plural: totalidade, contradição e movimento[20][21]. Então, por que não uma somente? Porque uma apenas é incapaz de expressar o objeto[22]. O capitalismo, por exemplo, é uma totalidade real – não falsa ou formal[23] – autocontraditória (logo, a luta de classes pode passar de reformista para revolucionária) em movimento (constrói as contradições e é, também, ao mesmo tempo, construída por estas – além disso, por superação, formam-se novas totalidades[24]).

Como a realidade, social ou cósmica, temos de observar as categorias e leis dialéticas, expressões abstratas, tal como os processos que estas representam – interligadas. As categorias possuem, assim, vasos comunicantes e interdependência. Quando se desconsidera essa multiplicidade, ao se eleger um subordinador conceito-síntese, surgem premissas a atuar como ferramentas falhas para o estudo.

Terceiro aspecto a destacar; na medida em que temos de procurar no próprio objeto de pesquisa a natureza empírica de seu processo, o próprio raciocínio dialético tende-nos a um método de escrita teórica circular, polêmico e reconstrutor do  processo estudado .

A quarta observação destina-se ao sujeito, cientista ou político. Leon Trotsky melhor desenvolve:

 

 Exigir que todo membro do partido esteja familiarizado com a filosofia da dialética, seria, naturalmente, inerte pedantismo. Porém um operário que tenha passado pela escola da luta de classes, obtém a partir de sua própria experiência uma inclinação para o pensamento dialético[25]. Ainda que não conheça esta palavra, está pronto a aceitar o próprio método e suas conclusões. Com um pequeno-burguês é pior. Naturalmente, existem elementos pequeno-burgueses ligados organicamente aos operários, que passam para o ponto de vista proletário sem uma revolução interior. Porém, constituem uma insignificante minoria. A coisa é muito diferente com a pequena-burguesia educada academicamente. Seus preconceitos teóricos já tomaram uma forma acabada, desde os bancos da escola. Por conseguirem aprender uma grande quantidade de conhecimentos, tanto úteis como inúteis, sem ajuda da dialética, acreditam que podem continuar, sem problemas, a viver sem ela. Na verdade, prescindem da dialética somente à medida que não conseguem afiar, polir ou agudizar teoricamente seus instrumentos de pensamento, e na medida em que não conseguem romper com o estreito círculo de suas relações diárias. Quando se vêm confrontados com grandes acontecimentos, perdem-se facilmente e reincidem em seus hábitos pequeno-burgueses de pensamento. (Trotsky, Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party, 2019)

 

 

Em resumo, a dialética materialista é potencialmente mais ou menos acessível a depender do modo material de vida dos indivíduos. O triunfo do comunismo, dando razão histórica a Marx e Engels, permitirá a superação do platonismo e da lógica aristotélica tão comuns de maneira menos ou mais inconsciente entre nós; e fará erguer-se de modo natural uma saudável dialética materialista vulgar  e cotidiana acompanhada pela elevadíssima educação científica da humanidade.

 

 

SOBRE A LÓGICA PARACONSISTENTE

A lógica paraconsistente afirma, em geral, que duas afirmações podem ser opostas e ambas igualmente verdadeiras (quase-verdades). De imediato, soa um raciocínio muito dialético. Mas ambas são verdadeiras e igualmente falsas porque unilaterais. O erro e o acerto estão em ambos os lados, cabendo a correção numa terceira resposta que suprassuma as duas afirmações. Exemplo: Marx descobre as unilateralidades na ciência econômica sobre o dinheiro; este ser não é, como afirmavam alguns economistas, os metalistas, sua forma material (ouro), embora a sua matéria seja a necessária; por outro lado, concepção oposta, os cartalistas, o dinheiro é uma “convenção” social, mas não é uma escolha arbitrária, uma decisão livre das pessoas ou do governante – o dinheiro é expressão autônoma do valor (Marx). Outro caso: a luz é partícula ou onda? É uma sobreposição de estados. A polêmica sobre se a obra O Capital é “uma crítica ao capitalismo do ponto de vista do trabalho” (Marxismo clássico) ou “uma crítica ao caráter historicamente determinado do trabalho no capitalismo” (Postone, 2014, p. 62) é resolvida com a afirmação de que é uma “crítica do (ponto de vista do) trabalho ao trabalho no capitalismo”.

A resposta está, portanto, numa terceira visão, que supera as duas anteriores, quando estas têm algum grau de acerto, e são devidamente medidas, criticadas e corrigidas.  Por um típico jogo hegeliano, se “uma sentença e sua negação são ambas verdadeiras”, então o oposto, a negação, também é verdadeiro, ou seja, que “a mesma sentença e sua negação são falsas”. A inconsistência resolve-se na dialética, na superação da oposição.

Vejamos um último caso. Conta-se que o grande lógico Newton da Costa, um dos fundadores da lógica paraconsistente, procurou hegelianos para saber se há relação de sua concepção com a dialética de Hegel, e obteve duas respostas opostas, sim e não. Aqui, procuramos demonstrar por qual motivo um sim e ao mesmo tempo um não, ou seja, que as duas afirmações estão tanto corretas quanto erradas.

O trabalho científico inclui, portanto, revisar toda a produção sobre o tema em questão e descobrir as posições opostas e unilaterais em que caem as elaborações teóricas e filosóficas[26]. Pode-se, assim, dar um passo para solucionar os conflitos em que cai o pensamento. Esta obra desenvolveu-se resolvendo “inconscientemente”, por meio da própria pesquisa, sem trato lógico a priori, as diferentes oposições em que caiu o marxismo[27]: se o socialismo é o caminho histórico inevitável ou o capitalismo só pode ser derrubado por ação consciente, se há crise crônica ou as crises regulares, se há fim do trabalho ou sua manutenção, se o centro é crise do valor ou a queda da taxa de lucro, se a revolução socialista será de base operária ou popular, se as sociedades revolucionadas eram (transição ao) socialismo ou capitalismo de Estado, se situações revolucionárias têm presente consciência socialista ou burguesa entre as massas, se a essência humana é histórica ou natural, etc.

A verdade, que pode estar no meio, frequentemente está na fusão, mais precisamente na fusão superante, que suprassume.

 

SUJEITO E OBJETO

A ciência conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias, etc.

Entre as condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da ciência e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo, de suas possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova revolução científica, para sua realização socialista.

 

 

 

 

Bibliografia

Carcanholo, R. A., & Sabadini, M. d. (08 de 02 de 2011). Capital fictício e lucros fictícios. Acesso em 27 de 09 de 2020, disponível em Calameo: https://pt.calameo.com/read/0001407496d6f221bb9b0

Cunha, E. (2002). Os Sertões (Campanha de Canudos). São Paulo: Martin Claret Ltda.

Hegel. (1992, 2002). Fenomenologia do espírito. Petrópolis: Vozes.

Hegel, F. G. (1995). Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio. São Paulo: Loyola.

Jammer, M. (2011). Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica. Rio de Janeiro: Contraponto : Ed. PUC Rio.

Krapas, S., & Silva, M. C. (2008). O conceito de campo: polissemia nos manuais, significados na física do passado e da atualidade. scielo, 21.

Lukács, G. (2018). Prolegômenos e para ontologia do ser social. Maceió: Coletivo Veredas.

Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo.

Postone, M. (2014). Tempo, trabalho e dominação social: uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. São Paulo: Boitempo.

Trevisan, A. (09 de 11 de 2015). Conceitos Termodinâmicos. Acesso em 18 de 06 de 2022, disponível em Universo Racionalista: https://universoracionalista.org/conceitos-termodinamicos/

Trotsky, L. (15 de 05 de 2019). Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party. Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em Mia - arquivo marxista na internet: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1939/12/15_01.htm

 

 

 

 



[1] Aqui, o conceito matéria abarca em si massa, campo e luz. Em extenso: movimento = tempo = energia = espaço = matéria = massa = luz = campo, caso luz e matéria sejam postos como opostos.

[2] Talvez, seja dispensável o movimento por ser derivado, não base; logo: tempo = energia = espaço = matéria. Vale uma reflexão. Se a curva do espaço-tempo move um corpo orbitante, o que ocorreria se houvesse apenas uma única partícula em todo o cosmos? Ele também se moveria porque estaria caindo não em outro, mas em si mesmo como em outro, preservando o princípio do movimento e da inércia, ou cairia em constância na quarta dimensão como em si próprio, ou o movimento é inerente.

Outra hipótese: na e por igualdade de espaço e matéria-massa, talvez se aposentem as categorias energia e tempo, no nível essencial, como espaço-tempo aposentou a força; mas, no nível de minha pesquisa e no decorrer deste ensaio, não levaremos isso em conta.

[3] Se o infinito produz o tempo, manifestar-se como, a hipótese insistente de muitos sobre o tempo produzir o espaço, não o inverso, ganha novo significado: o infinito produz as três dimensões, ou melhor, as quatro. Curioso notar que a garrafa de Klein, sem externo nem interno, tal como a fita de Möbius, tem uma dimensão a mais; e, nestes casos, os “lados” são uma quase ilusão ao se focar na parte, no pedaço, não no todo – o que aponta para as três ou quatro dimensões como pedaços do infinito, parcialidades relativas.

[4] Se mantemos analogia com a matemática, podemos nomear formulações como “o finito é o infinito no devir” como equações qualitativas ou equações categoriais, não quantitativas em si. Vale lembrar: em Hegel, o juízo-silogismo não se confundem de todo com fórmulas como A = A e não-A.

[5] O marxismo sociológico e dogmático, ao que parece, terá dificuldade de ver nossa ontologia, incluso o fato de o ser social ser a realização, por transcendência, da teleologia do ser biológico. Vejamos um aspecto central. Para se reproduzir, os animais têm cio, mas os homens e os golfinhos copulam por prazer, não apenas para reprodução – e ambos são excepcionalmente inteligentes. A diferença é que o homem tem a mão enquanto primeira ferramenta, o que permite maior desenvolvimento, embora seu cérebro seja menor relativo àquele; a função do ser biológico é pôr o mesmo, enquanto nós transcendemos isso por meio disso próprio; mais do que isso: a pulsão sexual, ou a pura pulsão, que é energia, é, como diz Freud, sublimada, incluso por meio da inteligência e do trabalho; quando Marx diz que o materialismo afirma que o homem primeiro deve satisfazer suas necessidades práticas, isso inclui as necessidades sexuais, que são mediadas ou sofrem sublimação – eis a unidade de ambos os autores.

[6] Hegel disse que a língua alemã facilitou perceber a dialética. Martin Heidegger exagera essa conclusão ao dizer, de modo nazista, que apenas é possível filosofar em Alemão. Resposta melhor: além de facilitar conhecer e adquirir culturas, saber várias línguas facilita pensar, embora não seja algo absoluto. Isso a neurociência já quase sabe.

[7] A ideia deste ponto 9 vem do camarada Santiago Maribondo; porém lhe faltou uma ontologia para perceber a profundidade de tais afirmações, que geram derivações teóricas-filosóficas novas.

[8] Parece que o mecanicismo duro do meso é o meio-termo entre o micro e o macro de fato, como se anulassem um ao outro como opostos nesse nível, daí suas características.

[9] É o tipo de construção que nos faz supor que tempo e “esforço”, ou tempo e energia, são o mesmo, uma igualdade. A união das reflexões deriva, portanto, em simplificado, isto:

Movimento = tempo = energia = espaço = matéria Ou Energia = espaço = matéria(-massa)

Tal é nossa proposta de teoria de tudo, do todo – simples e elegante equação unificada. Espaço = matéria. A equação encontrará logo caminhos e provas, por exemplo, deixando de lado a quarta dimensão espacial que se expressa também como tempo, 1) espaço é tempo para Einstein; 2) sabemos que a aceleração (movimento) altera a massa-matéria, além do tempo; 3) Dizemos E=m, energia é igual à massa-matéria, mas E (energia) também é igual àquela constante, velocidade da luz ao quadrado, ou seja, ao movimento. Os 5 elementos de base da física são, portanto, o mesmo e unidade na sua diversidade.

[10] No mais, há necessidade com e na liberdade, como com sempre havendo alternativas – nem que seja prejudicar-se ao ir contra as tendências da realidade.

[11] O método hipotético-dedutivo parte de um problema para elaborar uma hipótese e, enfim, testá-la. O método dialético, ao contrário, caminha-se direto para a totalidade dos dados do real até encontrar seu nexo interno. A dialética evita princípios a priori, hipóteses antecessoras, premissas ou postulados na pesquisa. De qualquer modo, porque busca apreender e expressar a lógica própria da realidade, as categorias do dialético ajudam a secundária intuição científica – tendo-se claro que nunca impomos um modelo logicista ao objeto, ao contrário, extraímos as próprias leis concretas do movimento, da contradição e da totalidade dele e nele.

[12] Se a hipótese demonstrar-se, no fundamental, correta, então outra hipótese poderá ser considerada: alguns universos que influenciam a expansão do nosso podem ser formados por antimatéria (talvez até a antimatéria que não se aniquilou após o big bang), atraindo nossa matéria.

[13] Isso aponta uma resolução do mau uso da dialética e uma possível solução. Proudhon pensou a tese e a antítese, sem chegar ao menos na síntese, como se tudo tivesse dois lados, o bom e o mau; Marx refuta tal método pobre (Marx, Miséria da Filosofia - Método, 2013) com o exemplo da escravidão, que nada tem de positivo (mas, destacamos para nosso argumento, a escravatura é típica de um sistema anterior). Algo mais sofisticado fez Della Volpe ao afirmar que as contradições são resolvidas tirando o negativo (no sentido de qualidade) e livrando o positivo; por exemplo: há contradição entre produção social e apropriação privada – o que fazer?: Manter o primeiro e encerrar o segundo – uma vez que seriam apenas externos um ao outro. Moreno critica este último autor por não ver que toda contradição está em uma unidade necessária, relação e totalidade (Moreno, Lógica marxista e ciências modernas, 2007, pp. 46, 47, 48). O instinto de Proudhon e a elaboração parcial de Della Volpe ocorrem porque, como dissemos acima, o capitalismo é rebaixado à condição de mera transição entre as sociedades classistas e a sociedade socialista. O atual modo de vida, dessa forma, tem em si aspectos do futuro, embora preso ao passado. Assim: a internacionalização das forças produtivas entram em contradição com os limites nacionais, sendo estes últimos superados; a contradição entre proletariado e burguesia resolve-se suprimindo esta enquanto aquela gradualmente deixa de ser classe; as forças produtivas são preservadas e desenvolvidas com a supressão das antigas relações de produção; sem supor o grau de automação hoje, Marx afirma em O Capital que a mesma maquinaria que serve ao domínio capitalista e produz o “necessário” exército industrial de reserva também serve por excelência para acabar com o desemprego reduzindo a jornada de trabalho no socialismo (neste sentido, não há desemprego tecnológico propriamente); o capitalismo precisa desenvolver a ciência ao mesmo tempo em que busca limitar a erudição das massas e ligá-las à religião; o sistema capitalista maduro produz momentos de pleno emprego como sintoma de possibilidade socialista, mas precisa da crise posterior para “normalizar” o sistema, para mantê-lo; afirmar que o comunismo já existe, ao menos em modo larval, no movimento operário é uma forma de demonstrar isso, etc. Os países atrasados que quase foram rumo ao socialismo no século XX, de fato quase foram porque o capitalismo é uma transição, o que permitiu ocorrer tais fenômenos, tais acidentes, mas mesmo o transicional precisa de um tempo e uma maturação para pôr o novo, daí o recuo posterior do socialismo “real”.

Para que evitemos confusão com as categorias, destacamos que a dialética hegeliana e marxista parte do “nem positivo nem negativo” que avança a si mesmo para uma relação de positivo (não no sentido de qualidade, mas no sentido de afirmar-se na realidade) e negativo; logo depois essa oposição é superada em um novo ”nem positivo nem negativo”, pois também o próprio negativo, que está em “desvantagem”, é superado. Por exemplo: do artesão, nem positivo nem negativo, avançou-se para o positivo, burguesia, e o negativo, proletariado, e o socialismo superará tanto o positivo quanto o negativo, o fim da existência de classes sociais.

[14] Embora não tenham desenvolvido, Reinaldo Carcanholo e Maurício Sabadini perceberam que há dialética real-fictício antes do autor destas palavras. Ver: (Carcanholo & Sabadini, 2011). Chegamos ao mesmo peso das categorias por vias independentes, embora apenas agora haja “formalização”.

[15] Por problema de autoestima, o esquizofrênico pensa estar vivendo uma grande história, que compensa sua pequenez. Mas ele também vê padrões em todo canto, o que costuma acompanhar a inteligência do tipo. Isso produz uma consequência: pensa que os padrões referem-se a ele mesmo, não à realidade. Exemplo: tanto ele quanto o apresentador da TV tocam por exato no mesmo tema. A razão disso é que a mesma realidade, mesma base, estimulou em ambos uma temática. Porém o esquizofrênico, ao ver a repetição, não credita isso ao real como fonte, mas a uma "ligação direta" oculta, já que ele sofre com a baixa autoestima. Ainda que o conteúdo concreto seja diferente, a mente inflada pelo sofrimento percebe uma lógica comum, que é verdadeira, mas erra sua causalidade. Considerado isso, somam-se os acasos. Tanto a lógica concreta quanto a lógica abstrata, mal percebidas pelo psicótico, são interesses da ciência e da filosofia.

[16] a dialética nunca escolher categorias para aplicá-las na realidade, a pesquisa descobre as categorias necessárias.

[17] Ele afirma que os três elementos degeneram se são transformados em mercadorias. O argumento é sofisticado, mas errado. Eles entram em decadência porque já são mercadorias reais – porque, como dissemos em nota de rodapé anterior, o capitalismo é uma transição.

[18] Lukács nega o nada da ontologia lógica de Hegel, afirmando apenas o ser; o nada seria um idealismo enquanto o ser, um materialismo. Se a ciência e a filosofia deixarem definitivamente de lado a nadidade, apenas se, então a oposição torna-se entre ser e movimento; mas a verdade deles não está neles nem nesta afirmação de cada qual separados, mas na identidade e unidade de ambos, no vir-a-ser, no tornar-se, no devir. Dito de modo cru: Ser é movimento. Nossa língua expressa isso: os verbos Ser e Ir têm as mesmas palavras no passado – eu fui, ele foi –, expressão de tal unidade.

[19] Para Aristóteles, era um artifício para fins práticos. Ricardo chega a considerar a objetividade do valor, mas também acaba por cair no valor subjetivo. A economia vulgar retomou a ideia com o valor como subjetivo.

[20] Movimento é equivalente filosófico de mudança, deslocamento e, complementamos, mudança por deslocamento. Movimento é mais do que eterna repetição – é transformação, é desenvolvimento. Apenas permanece aquilo que muda.

[21] Em O Capital, o livro I prioriza – logo não exclui os demais em si – na tríade a contradição, como com a luta de classes (lembremos, porém, que contradição dialética não é igual a conflito, como pensa-se vulgarmente, embora possa também sê-lo em alguns casos); o livro II prioriza o movimento como sua categoria base primeira; o livro III, a totalidade, logo a totalidade que inclui contradição e movimento de modo pleno, total. A seção VII, O processo de acumulação do capital, última do tomo, do Livro I, marca a transição para o Livro II ao aumentar o relevo da categoria movimento; já no livro II, a seção III, A reprodução e a circulação de todo o capital social, também última do tomo, marca a entrada da totalidade como transição para o livro III. Esta é uma linha de pesquisa que ofereço a quem se interessar por desenvolvê-la.

[22] Por sua vez, cada uma das categorias, como tríade una, responde a uma “estrutura”: a totalidade exige, antes, integração; a contradição deriva de interação, incluso autointeração; movimento pressupõe pulsão. Esta observação merece um estudo próprio, ainda inexistente. Quando dizemos totalidade, dizemos a integração numa totalidade; quando dizemos contradição, dizemos relação contraditória; apenas movimento permanece nos dois “níveis”, sem sugerir pulsão (ou melhor, como primeiro, o movimento sugere, o espaço-matéria, que são um sendo dois).*

A relação de contradição e totalidade produz movimento. De totalidade e movimento, contradição. De movimento e contradição, totalidade.

 

*Se nos for permitido alguma digressão, ver-se relação direta com a natureza humana: integração – ser integrado; relação – ser mutualista; movimento – ser ativo, ativismo. Uma reflexão rápida dirá que isso demonstra que o homem é a realização dialética da dialética da matéria; nós dizemos, com a devida dubiedade, que se trata de uma coincidência total. Suprassume-se Heidegger.

[23] A ideia de totalidade falsa adquire um significado novo e totalmente diferente nesta obra, onde o fictício ou imaginário desenvolve-se no ocaso do sistema. Suprassumimos a concepção de Adorno.

[24] Diga-se de passagem, confundir totalidade com totalitarismo é um erro primário.

[25] Há um adicional. Pessoas que passam, desde a juventude em especial, por tensões psicológicas constantes, frutos de problemas familiares etc., têm mais necessidade de entender o mundo, logo mais instinto dialético.

[26] Mesmo em muitos casos atípicos aos temas preferidos por eruditos, a visão acima aparece.  O sistema de combate Wing Chun oferece um exemplo: a oposição entre a postura do arqueiro (boxe, karatê, capoeira, etc.) – base mais firme com menor capacidade de manobra, peso maior sobre a perna dianteira, etc. – e a do gato (Muay Thai, etc.) – base mais móvel com menor capacidade de sustentação, maior peso sobre a perna traseira, etc. –, boas e ruins segundo suas características e qualidades-limites, são nesse aspecto melhoradas pela base do Wing Chun, que distribui o peso corporal 50-50, igual para as duas pernas, numa postura a mais próxima da natural humana (os joelhos para dentro de algumas escolas é exotismo e erro), permitindo uso máximo tanto da mobilidade e das possibilidades de golpes e defesas com as pernas quanto de firmeza, sustentação, etc. As concepções opostas acabam por ser melhor compreendidas e, considerando-as, superadas por uma terceira concepção.

[27] Dito der outra maneira. O procedimento é a pesquisa, não apenas o trato lógico, para resolver as oposições.