sexta-feira, 22 de abril de 2022

Espaço-tempo: nova ontologia-lógica marxista! (Uma teoria de tudo, da unificação)

 

ESPAÇO-TEMPO: NOVA ONTOLOGIA - E DIALÉTICA - MARXISTA! (Uma teoria de tudo)

 

 

RESUMO:

 

“É o tipo de construção que nos faz supor que tempo e “esforço”, ou tempo e energia, são o mesmo, uma igualdade. A união das reflexões deriva, portanto, em simplificado, isto:

 

Movimento = tempo = energia = espaço = matéria

Ou

Energia = espaço = matéria(-massa)

 

Tal é nossa proposta de teoria de tudo, do todo – simples e elegante equação unificada. Espaço = matéria. A equação encontrará logo caminhos e provas, por exemplo, deixando de lado a quarta dimensão espacial que se expressa também como tempo, 1) espaço é tempo para Einstein; 2) sabemos que a aceleração (movimento) altera a massa-matéria, além do tempo; 3) Dizemos E=m, energia é igual à massa-matéria, mas E (energia) também é igual àquela constante, velocidade da luz ao quadrado, ou seja, ao movimento. Os 5 elementos de base da física são, portanto, o mesmo e unidade na sua diversidade.”

 




ENSAIO: POR UMA DIALÉTICA MARXISTA

 

No início do século 19, Hegel tornou-se imortal por sua grande Lógica, o moderno método dialético. Suas contribuições, ainda hoje, em permanência ao que parece, são insuperáveis; uma dialética superior soa impossível. Além disso, deu-se-nos uma dialética materialista, embora de cabeça para baixo. A força hegeliana é o fato, entre o outros, de ser não unilateral, de suprassumir as grandes oposições da filosofia. Este ensaio, portanto, toma a Ciência da Lógica como sua base correta e primeira, mas incompleta. Por isso, também, trata-se de um ensaio.

Quando perguntamos a um hegeliano ou marxista “O que é ou como procede o método dialético?”, logo gaguejam, ficam desconfortáveis, improvisam. De um lado, de fato inexiste um procedimento investigativo fixo, o que perdoa tais intelectuais – na dialética, pesquisar é estar dentro de um labirinto, tentando descobrir o caminho correto; de outro, como disse Hartmann, o método dialético é irmão do fazer artístico, criativo e associativo, que “saca” a realidade até ali invisível.

O método dialético é, em resumo grosseiro, o inverso do método hipotético-dedutivo, ou seja, em linguagem inferior e falha, um método empírico-dedutivo. Parte-se sempre da empiria para alcançar a verdade do mundo, mas, como os dados mentem e escondem, além de revelarem, usa-se a razão para perceber aquilo oculto ou deformado. A partir da e na aparência saber a essência, da e na forma saber o conteúdo, da e na externalidade saber a internalidade, da e na diversidade saber sua unidade, do e no fundamentado saber o fundamento – nunca fora deles, mas neles mesmos. Assim, o empírico faz parecer que há apenas custos de produção somados a um cálculo do patrão para ter um preço de produção de suas mercadorias, mas Marx vai para além ou para dentro da empiria e descobre que há, na verdade, trabalho necessário com trabalho gratuito do operário ou mais-trabalho, valor e mais-valor, exploração e roubo. É verdade que os dados empíricos são vitais e são o começo da pesquisa, como diz o empirismo, mas também é verdade que os dados empíricos, ao mesmo tempo, escondem a verdade e enganam, como diz o racionalismo, logo usamos a razão para ver a conexão interna da realidade, para perceber os enganos da aparência dos dados, para ir além e abaixo ou dentro daquilo empírico.

Eis o método dialético.

Em minha pesquisa, além de procurar nos dados a verdade, evitando a mera descrição, percebi que o marxismo caiu em teorias opostas, em oposições. Minha tarefa, portanto, foi listar as principais polêmicas e, colocando-as em movimento, resolvê-las – com o raciocínio, claro, mas em base à empiria. Eis, de outro modo, o método dialético.

A verdade é não empírica. Descobrimos na pesquisa empírica aquilo que não é palpável, tocável, mas que se revela ao pensamento desde a própria empiria. A dialética é a verdadeira fusão – mais do que mera aglutinação, como é o caso do hipotético-dedutivo –  de empirismo e racionalismo; pois ao pensamento deve-se dois lados ativos, após colher o material necessário: 1) perceber os enganos dos dados; 2) perceber a verdade daquilo pesquisado.

Daqui para frente, teceremos comentários e propostas críticas de atualizações da obra Ciência da Lógica de Hegel. Uma crítica possível, mesmo que parcial, tem, de um lado, de agregar o melhor daquilo criticado para si, de outro, acertar o outro exato no seu ponto mais forte, de base – o ser e o nada.

 

ENERGIA

Na Lógica de Hegel, pouco há, se algo há, sobre energia. Portanto, sua lógica ontológica não cabe aí. Em nossa ontologia lógica, ontologia da lógica, a realidade é energia, mais precisamente, energia em busca de mais energia. Isso é óbvio na filosofia para o mundo do ser vivo, mas também vale para o inorgânico e para o social. Naquele, como na gravidade enquanto atração por curvatura do espaço-tempo – massa é energia, a energia-massa (ou a matéria sem massa que tem energia, como a luz) curva o tecido espaço-temporal; neste, no mundo humano, como com colheitas cada vez melhores, com busca de melhor energia, pela exploração da força (energia) de trabalho do operário. Em geral, quando se considera que o homem também é energia em busca de mais de si, ocorre apenas reduzindo este ser ao biológico, à vida, à sua condição animal; mas ele é mais do que isso.

O Ser é energia em busca de mais energia, logo relação consigo, relação consigo como com um outro. Que tal relação seja instável, que há falha e contradições, veremos no decorrer do texto.

A ciência oficial ainda considera energia apenas um conceito. Mas as diferentes formas de energia, mesmo se as supomos como conceituais, apontam a energia em geral, uma categoria real da realidade, embora não empírica, como é o caso da energia-valor na economia capitalista (vale destacar: a mercadoria é unidade do valor-energia e valor de uso-matéria-espaço-tempo condensado).

Cada modalidade do Ser é, por assim dizer, melhor que o anterior na captação energética; em relação ao biológico, o inorgânico é passivo – o social suprassume aquele. Mas energia é insuficiente.


ESPAÇO-TEMPO: O ELEMENTO PRIMEIRO

Vários filósofos indagaram-se qual a composição primeira, central, da realidade. Chegaram a algumas respostas: o ar, a terra, o fogo, a água, o éter. Com o desenvolvimento da física e da química, parece que o assunto saiu do campo amplo da filosofia. Mas o raciocínio especulativo ainda pode ter seu valor, embora os riscos e a boa mão calibradora da ciência.

Raciocinemos juntos. Se pudéssemos dissolver as partículas subatômicas e seus possíveis campos, o que teríamos? O conceito real, a categoria irredutível, mais simples é – o espaço. Assim: tudo, portanto, são formas de espaço; espaço concentrado, condensado. Ou seja: mais do que curvar o tecido do espaço-tempo, toda matéria é o autocurvar do espaço-tempo para dentro de si (desde Einstein, a ligação de espaço e tempo faz-se necessária).

É possível supor, a partir desta conclusão, que o átomo, o indivisível, é o maior, ou seja, o espaço, não o menor. Se correto, há unidade do contínuo e do discreto, este vindo daquele. Porém, diferente dos demais temas deste capítulo, tais pensamentos, filosóficos, carecem de base científica e empírica próprias, logo podem ser negados sem maiores esforços pelos cientistas naturais caso se demonstrem falsos.

A tendência de uma totalidade, em geral, é ir-se do simples ao complexo. Isso no seu histórico, no seu evolver. O espaço(-tempo) é o que há de mais simples no cosmos, logo, se não veio antes na temporalidade, vem antes – é primeiro – pelo menos lógico-ontologicamente .

Diz o princípio do impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por qual motivo? Porque, respondemos, dois corpos são, em si mesmos, cada um, espaço-tempo. É a tautologia de que dois espaços-tempos não poderem ocupar o mesmo espaço-tempo; porém o espaço-tempo pode revelar-se, digamos, condensado.

Demócrito afirmou que existem apenas o átomo (ser) e o vazio (não ser). Ele intuiu ainda: há, de fato, unidade de ambos, o átomo é o vazio, o átomo vem do vazio, embora diferentes e opostos; em nossa linguagem e atualização, o espaço-tempo que se expressa também na matéria, com ou sem massa.

Tal modo de ver o mundo pode gerar uma ontologia geral, além de no inorgânico, além do também geral proposto aqui. Na geografia, Milton Santos afirma que “O espaço é acumulação desigual de tempo” (Santos, 2004). Podemos extrapolar para observações biológicas como, quanto maior o animal é, mais tempo vive, contrariando os problemas de reprodução celular (maior possibilidade de câncer), pois são seres com mais espaço-tempo concentrado em si (embora ainda seja necessária uma explicação propriamente científica, não apenas filosófica). Porém, apesar dessa elaboração-especulação, pensamos que a ontologia extraída de Marx, o Ser é histórico, como suficiente e insuperável para a ciência e a filosofia, sendo esta caracterização possível do espaço-tempo apenas uma expressão, também hipotética, particular da ontologia marxista.

O espaço-tempo e a matéria ou as partículas são apenas um, mas que de fato são dois.

O Ser, enquanto ente, como espaço-tempo condensado aparece como em si – e como energia em busca de mais energia aparece como para si.

Espaço-tempo e energia são, na verdade, não apenas em unidade, mas propriamente o mesmo, uma identidade.

 

SER

Ser, puro ser. Tudo existente, enquanto tudo, é matéria, abstraída de suas formas. Apenas há a realidade material, pura matéria – nada para seu além sobra. No seu começo, se podemos falar de começo, o ser é o máximo simples, sem determinação, sem qualidades, sem características – beira ser o nada, mas não cai nele porque cai dentro de si mesmo.

Aqui, por força negativa da abstração, nenhum movimento.

A matéria, aqui, é mais do que a matéria empírica da física, diferenciada da massa e da energia. A própria energia é matéria, pois é material.

 

MOVIMENTO

Movimento, puro movimento. Ele é o fluir absoluto, sem começo nem fim, sem causa primeira.

O movimento é absoluto se tomado em isolado. Até mesmo ficar parado é ato de assim estar, movimento.

A contradição certamente faz o movimento, mas o movimento, ao contrário, também faz a contradição. No concreto, vai-se da identidade para a diferença, para a diversidade, para a oposição, para, enfim, a contradição; e, supõe-se, de volta à afirmação da unidade agora interna dos opostos contraditórios.

 

DEVIR

A verdade da matéria e do movimento é sua unidade necessária – o tornar-se, o vir-a-ser, o devir.

O devir é mudança, movimento, deslocamento, desenvolvimento.

De imediato, a matéria parece se sustentar sozinha, enquanto o movimento precisa dela – mas tanto o pensar filosófico quanto o empírico logo vê que um somente há com o outro, são apenas um.

Ao movimento corresponde a energia; à matéria, o espaço-tempo.

 

SOBRE O NADA

O nada – nada é. Melhor dito, o ser, que vai de ente em ente, põe o nada. É no ente em que a perecibilidade, unidade com o nada, ocorre, não no ser. Mas o ente pertence ao ser, logo o nada está junto com o ser, mas no ente – o ser, como o geral, não degenera nem sucumbe em razão do nada, a não ser externamente, como externo de si próprio. O que há, portanto, é ser em movimento – ser é movimento!

Como veremos, energia é a categoria que aposenta as funções de lastro do nada.

 

DETERMINAÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

Para tentar chegar a uma dialética hegeliana pós-hegeliana, talvez devamos perceber que há uma forma de organização das categorias não percebida por Hegel: aquelas que passam uma para as outras não somente no campo lógico, mas também no concreto. Assim, já é o caso do Um e dos Muitos, onde o Um repele a si mesmo, desde o vazio, tornando-se Muitos, os muitos Uns. Mas há outros. Em Hegel, passa-se logicamente da 1) relação de duas medias; 2) relação com várias medidas; 3) afinidade eletiva. Pois bem; Marx mostra o avanço tanto lógico como histórico da relação entre duas mercadorias (1), porque entre tribos diferentes que trocam casualmente, para troca entre várias mercadorias (2); depois, para prioridade em trocar por ouro, o dinheiro (3). Hegel ainda diz da identidade que passa a ter a diferença dentro de si, tornando-os externos, logo diversidade; então esta torna-se oposição, que cai na contradição. Esse movimento lógico tem similar também no movimento concreto, histórico, temporal, processual: 1) a relação entre operário e burguês é entre idênticos, livres e no comércio; mas são, tornam-se, diferentes, um comprador e um vendedor; também tornam-se diversos, um operário e outro o seu burguês; na produção, entram em oposição e, como com a luta de classes, em contradição. 2) o movimento lógico é o perfeito e o completo, o puro, sendo expressos imperfeitamente no processo real: com um ancestral comum, idêntico a si mesmo, seus descendentes são cada vez mais diferentes do inicial – depois, começa a diversidade: diferentes raças e diferentes espécies novas por mutação – como se depois, começa a oposição entre eles – que cai na contradição, no conflito, ou no homem como animal altamente desenvolvido que está levando os demais à extinção; 3) a língua romana espalha o latim por boa parte da Europa – identidade; logo começam a ter sotaques em cada local, em cada região – diferença; estes sotaques evoluem para novas línguas latinas que entram em oposição – diversidade. Tal tipo de determinação também se revela quando o nem positivo nem negativo passa-se para o positivo e o negativo, que, pela reação do negativo, passa para um novo nem positivo nem negativo. Assim o caos (em outro nível, o acaso) passa-se para a ordem; o concreto passa-se ao abstrato, que se passa para o novo concreto; o primeiro elemento desenvolve-se em tríade e colateral; o real funda a ficção em seu próprio desenvolvimento. Há um desenvolvimento desigual e combinado. O simples desenvolve-se no complexo. O mero processo de agregar externamente os materiais ou matérias passa para a interpenetração delas, umas nas outras. A lógica de Hegel, no Conceito, passa, sem movimento real e apenas “mental”, do universal para o particular e, desse, para o singular (na realidade, ocorre o inverso “mentalmente”); há, no entanto, objetos reais que vão, em concreto, do “exemplar” singular, individual, para o particular e geral-universal – teve de existir o primeiro urso branco, apenas singular contritamente universal em si, para, por reprodução, por seleção natural, surgir uma grande quantidade de ursos brancos, uma espécie com possíveis particulares. A matéria vai-se do processo de materialização para a desmaterialização. Mas permanecem relações categoriais que não são, e não são transformáveis em, determinações de desenvolvimento. A passagem do finito para o infinito, por exemplo, não é passar algum, pois o infinito já está ali; a passagem, por separação, do ser ao nada, e vice-versa, não tem verdade alguma, verdade esta que apenas existe no devir (mas podemos supor que do nada veio o ser; ou, ao contrário, o ser funda o nada dentro de si mesmo, algo, creio, ainda não pensado).

Este resumo, no anterior parágrafo, é aquilo quer vamos expor a seguir. As categorias da Lógica de Hegel passam umas para as outras. Nas determinações de desenvolvimento, vale a ironia, o passar não é passar algum, pois é como se o objeto fosse visto por diferentes ângulos.

Quem deu o primeiro passo real rumo à atualização da dialética de Hegel, rumo às determinações de desenvolvimento, foi Trotsky com a lei do desenvolvimento desigual e combinado.

 

ALGO E OUTRO

Algo e outro, em Hegel, confunde-se com as palavras, como o jogo de palavras. Para ele, algo e outro são o mesmo. Mas ele são isso porque ambos são energia, espaço-tempo concentrado.

Nisso, a determinação é a constituição para dentro, desenvolvido em si. A razão é a determinação do homem por sua constituição física.

 

FINITO E INFINITO

O infinito qualitativo exige uma dimensão, digamos, para dentro, uma quarta dimensão espacial. Tal dimensão, se existir, manifesta-se como tempo e como energia. O infinito está já aí, sendo o finito apenas seu exemplar cósmico – o infinito está diante de nós, não avançamos até ele. O bom infinito produz o mau infinito dentro de si, o infinito da progressão.

 

UNO E MÚLTIPLOS (UM E MUITOS)

O uno cósmico, em seu momento completo, é o expandir (muitos) e contrair (um) eterno do nosso universo, o multiverso no tempo, gerações de universo, um opôs o outro. Isso deve ser esclarecido: para Hegel, após a repulsão do Uno em vários unos, dividindo-se, há apenas a atração relativa dos novos unos, dos muitos; mas há, no cosmos, a atração absoluta quer “reinicia” o universo. Dentro dele, há, em processo similar e imperfeito, o uno que passa a si próprio para o múltiplo por autorrepulsão, que depois passa para a atração dos muitos unos num único uno produtivo de unos (a fábrica produz mercadorias, o Sol produz átomos novos etc.). Pois bem; o começo cósmico pode ser do uno e do vazio, este empurrando para aquele decair em muitos unos; mas, nas demais realidades, ocorre energia de atração e de repulsão, além de espaço-tempo curvo. De outro modo: a matéria concentrada não tem estabilidade energética, logo expande-se, fragmenta-se. Há contradição entre energia e matéria dentro da identidade uma com a outra. No cosmos, no multiverso, é provável que alguns universos expandam-se enquanto e exato porque alguns contraem-se, e/ou vice-versa, estando necessariamente conectados entre si. Assim, fundimos as hipóteses do multiverso no tempo e, oposto, no espaço – um multiverso, em outro sentido, no espaço-tempo.

Há mais. Para Hegel, a união dos muitos unos por meio da atração, que ele não explica, é, como dissemos, produtivo. Mas para ele, produz algo que vai do nada ao ser… Na verdade, a energia acumulada e o espaço-tempo, como matéria em geral, são a base para a produção e a reprodução. No concreto, a fábrica reúne os unos (mercadoria matéria-prima, mercadoria máquina, mercadoria força de trabalho etc.) que produzem de si novos unos, novas mercadorias; um organismo pluricelular alimenta-se, adquirindo material e energia, logo produzindo novas células.

O uno isolado – indivíduo, átomo, vida –, isolado no espaço-tempo em geral, é instável quando isolado por falta ou por excesso de energia.

 

INTENSIVO E EXTENSIVO

Para Hegel, o intensivo corresponde ao nada – para nós, a intensidade é, em primeiro, energia. Logo, o espaço-tempo, como matéria em principal, é a extensividade. Mas a intensidade é, também, espaço tempo condensado; mas a extensividade é, também, energia que se propaga. Temos a unidade do intensivo e do extensivo.

Hegel focou na identidade do intensivo e do extensivo, como o grito mais intenso propagar-se por um espaço mais extenso. Aí vemos a unidade e identidade de energia e espaço-tempo.

Mas há ainda a oposição e a contradição entre intensivo e extensivo, exposto empiricamente por Marx. Uma jornada de trabalho mais extensa, para explorar mais a energia de trabalho, reduz a intensidade, a capacidade do operário de pôr energia na produção. Uma jornada mais intensiva empurra para jornada menos extensiva, concentrando maior gasto energético num tempo menor. Um opõe-se e contradiz o outro na unidade de ambos como um.

 

DIVISIBILIDADE

Hegel trata do problema kantiano, antinomia, de se a matéria é ou não é divisível até o infinito. Os dois argumentos são poderosos, este e seu oposto – qual tem razão? Primeiro, a divisão não é arbitrária em qualquer tamanho, mas é estável apenas em proporções dadas. Segundo, a última dissolução é o espaço-tempo ou energia. O espaço-tempo é, portanto, tanto contínuo quanto, ao mesmo tempo, discreto. Hegel apenas cita o problema, alertando o erro de raciocínio do adversário, sem, se bem observado, oferecer uma resposta (mesmo limite ao tratar da parte e do todo, na parte que é todo divisível ao infinito).

 

CONTRADIÇÃO DA QUANTIDADE E DA QUALIDADE

O marxismo percebeu que quantidade e qualidade podem entrar em contradição. Vejamos dois casos. Para vender mais quantidade de mercadorias, os patrões fragilizaram a qualidade das mesmas mercadorias para forçar o consumidor a logo comprar um novo exemplar. Hoje, a produção científica se mede pela quantidade de artigos publicados, mas isso diminui a qualidade de tais artigos, pois produzir algo relevante leva tempo. Como a quantidade vem da qualidade como sua base, ao deteriorar a qualidade, a quantidade acaba, por fim, a deteriorar a si mesma – embora de início a medida tome partido da quantidade, tal contradição tem de ser resolvida por causa da deterioração do seu oposto, logo de si mesma. Ou a destruição de ambos.

 

MEDIDA

1.                  O que os qualitativamente diferentes têm em comum enquanto diferença apenas quantitativa por debaixo que faz a diferença qualitativa é a energia/espaço-tempo de cada um. O que torna as mercadorias iguais é a quantidade de trabalho nelas, de elas serem fruto do trabalho humano (lembremos que energia é capacidade trabalho).

2.                 Na medida, Hegel diz que tudo tem a medida necessária, não arbitrária – e uma alteração importante na medida, destrói ou muda o ser aí. Pois bem; isso está relacionado com energia (em busca de mais de si) e espaço-tempo (condensado). As coisas inorgânicas têm sua proporção dada pela quantidade de energia concentrada. Na biologia, os animais não podem ser grandes em demasia, pois o calor gerado seria imenso, inadministrável; além disso, outro exemplo, as células não podem crescer tanto porque a relação de volume e superfície, aquele acima deste, limita a relação com o ambiente, dificultando trocas para com ele. No social, este livro é exemplo, embora apenas oculto e implícito. O inchaço do Estado nas crises sistêmicas exigiu deslocamento de espaço-tempo e energia de sua base necessária, por exemplo.

 

CAOS E ORDEM

O caos não suporta a si próprio e, nessa autointeração e autorrelação caótica, não tendo lei alguma, tem a lei de passar a si mesmo para seu oposto – a ordem. O caos, por ter uma lei que não é lei, tem como se a ordem dentro de si. A ordem, que veio do caos, por outro lado, ainda é dinâmica, por isso tem como se o oposto, o caos, dentro de si.

Na coisa, a ordem é preenchida pelo caos; mas não há separação por uma parede entre caos e ordem dentro dela, logo a coisa é unidade de ambas ao mesmo tempo.

O caos absoluto é liberdade negativa; e é um sistema, porém não sistemático. A unidade de caos e ordem cai-se na probabilidade.

O socialismo é a ordem, como liberdade positiva, ou seja, é de um lado uma economia central e democraticamente planejada e, por outro, uma livre associação dos produtores.

O caos é mais do que mero acaso, pois é acaso enquanto totalidade.

 

POSITIVO E NEGATIVO

Neste ensaio, somos obrigados a repetir temas tratados, adiantados ou esboçados ao longo da obra – vale como revisita. Foi assim que antecipamos: 1) o nem positivo nem negativo 2) passa para a oposição contraditória do positivo e negativo; 3) então, dessa dialética, surge um novo nem positivo nem negativo. Eis o movimento puro e uma pista para a pensar científico.

No início do universo, a matéria decaiu do nem positivo nem negativo para uma sopa quente de prótons, positivos, separados dos elétrons, negativo. Com o esfriamento do universo, a atração dos opostos permitiu a união do positivo com o negativo, do próton com o elétron, formando átomos completos neutros (nem positivo nem negativo). Veja-se que o átomo neutro tem dentro de si os opostos, o positivo e o negativo. Também os opostos, elétron e próton, podem se fundir formando o nêutron. Existe na física a polêmica sobre se o neutrino, uma partícula pequeníssima, tem um antineutrino, um oposto, ou se, outra hipótese, ele é a antipartícula de si mesmo; talvez seja melhor afirmar que ele é “nem positivo nem negativo”, diferente do elétron e do próton.

 

(DES)MATERIALIZAÇÃO

Em minha pesquisa, percebi que a matéria da forma vai da materialização para a desmaterialização (claro é que se faz preciso, antes, materializar para, depois, desmaterializar). A forma-dinheiro foi do menos material ao mais material – do cobre para a prata, para o ouro – para então, em seguida, ir rumo ao menos material como mais perecível – do ouro para a prata, para o cobre, para o papel, para o bits. Na vida, surgiram animais cada vez mais materiais até surgir os gigantes (como dinossauros e outros seres), então começou a desmaterialização, a diminuição do tamanho das novas espécies. A quantidade maior de trocas e de dinheiro está ligada à desmaterialização deste; o menor tamanho de certos animais está ligado à possibilidade de maior quantidade deles. A maior materialização, nos dois exemplos, diminui a perecibilidade, aumenta o tempo de vida.

Se há retorno à materialização, após desmaterialização, é algo pertencente ao empírico.

 

FORMA E CONTEÚDO

A união da forma e da matéria – é o conteúdo. Vejamos um caso. Se eu tenho uma pintura retratando um jogo de futebol, esta mesma pintura tem a forma (da bola, dos jogadores, do campo, etc.) e também, junto, a matéria, a tinta principalmente, com diferentes cores. Ora, esta forma e esta matéria, unidas, passam uma mensagem fictícia, artística, um conteúdo. Elas têm um conteúdo.

Vejamos outro caso. Marx diz que a relação de contrato entre trabalhador e patrão, quando aquele está no mercado trabalho procurando emprego, tem a forma de uma relação entre iguais – ambos, operário e patrão, são livres, estão no mercado, estão fazendo um contrato livremente aceito. Mas o conteúdo é outro, de exploração, em que ou o operário vende sua força de trabalho para ser explorado por outro ou morrerá de fome.

Vamos para a terceira visão, comum no marxismo. Vale o alerta: neste parágrafo temos uma dedução marxista entre base e superestrutura enquanto conteúdo e forma; o que farei aqui é formalizar a ideia, adicionando o duplo caráter. Vejamos. A economia e a luta de classes, as classes sociais, são o conteúdo – já o Estado, os partidos, as organizações são a forma. Nesse modo de ver, tanto o conteúdo quanto a forma têm, cada qual, dupla natureza, duplo caráter. O conteúdo (economia, classes) é 1) muito mais dinâmica, mas 2) também mais instável, inconstante; por outro lado, a forma é 1) conservadora, lenta, paralisadora, mas também 2) conservadora no sentido de conservar, de preservar (as conquistas etc.). Assim, os conflitos e as instabilidades do conteúdo fazem surgir, de si mesmo, uma forma para “compensar”. Mas o conteúdo se desenvolve a tal ponto em que a forma conservadora torna-se um fardo, algo muito atrasado – o conteúdo renovado supera aquela forma e funda uma forma nova, para suas novas necessidades de desenvolvimento.

Uma forma pode estar em contradição com seu conteúdo: um partido comunista pode estar organizado de forma incompatível com seu conteúdo, com o perfil dos membros e com seu programa.

 

TODO E PARTES

Hegel afirma que a força mantém a unidade das partes e do todo, as partes juntas como um todo. Mas a categoria força entrou em crise categorial na ciência moderna (Jammer, 2011), substituída por campo (para nós, espaço-tempo) e, dizemos, energia.

Mas essa energia-força não apenas mantém a unidade do todo, mas forma o próprio todo, seja reunindo as partes, seja desenvolvendo uma parte em várias partes. No segundo caso, uma parte não suporta a quantidade de energia em si, então desenvolve-se em multiplicidade integrada, em várias partes com interrelações.

Vale destacar que Hegel trata do todo e das partes, mas sem dizer como o todo forma-se, além do fundamento e das condições tratados bem antes em sua obra. O todo e a parte já estão aí, além de reciprocamente relacionados em sua unidade. O todo é um reunir atrativo de partes, pela força; um todo vem, também, de outro todo que se suprassume; uma parte do desenvolver do todo, sendo uma parte que é também em si um todo, embora não realizado, desenvolve-se e pluraliza-se, então, se era apenas um antes, igualmente é um depois. Em especial, da parte rumo ao todo: o crescimento e desenvolvimento de um todo dar-se, por isso, pela força ou energia que concentra em si, causa e consequência de seu evolver, como espaço-tempo condensado, em que uma parte torna-se um todo de partes unitário.

Provável, Hegel inspirou-se no fato de a força gravitacional manter unido o todo do sistema solar, de suas partes. Ora, hoje sabemos que a gravidade não é uma força, mas curvatura do espaço-tempo causado pela massa-energia. E mais. A gravidade (a energia, o espaço-tempo curvado) transformou a poeira estelar, por meio desse próprio material, em Sol e seus planetas, em central e orbitantes.

No capitalismo, a energia-valor vinda da energia-força de trabalho mantém o todo como todo, um modo de vida, o capital como autoprocesso.

 

GERAL, PARTICULAR, SINGULAR

Para Hegel, o movimento dialético é de o universal que, diferenciando-se, vai, dentro de si, à particularidade, que se singulariza. Observou tudo de modo invertido; logo comentaremos o motivo de seu erro.

Hegel deixa de ver que o singular evolui, evolve-se, para o particular e o universal. A descoberta disso deve ser creditada, primeiro, a Marx: o pequeno mundo singular do mercado na Idade Média desenvolve-se até ser a totalidade universal capitalista hoje. O singular já é o universal, mas não realizado.

 

GÊNERO

Na Doutrina do conceito, Hegel pensa o gênero apenas como o comum no sincrônico na estrutura das espécies. Mas também é assim no diacrônico, no processo. Por exemplo: na verdade, não existe peixe, pois para existir algo assim comum a tantos seres, eles deveriam ter um ancestral único comum, mas não o há.

Os erros de Hegel nessas matérias devem-se ao fato de ele não ter ainda diante de si a Teoria da Evolução das Espécies, que dirá da do Big Bang. Mesmo para um gênio isso pesa, o fator histórico e o nível de desenvolvimento da ciência; para ele, valia a grande classificação, um ao lado do outro, das espécies; igualmente, valia ao movimento repetitivo e tedioso, aparentemente estático, do cosmos, da física de sua época.

 

POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CRESCENTES

Piaget atualizou a dialética ao afirmar que há a POSSIBILIDADE CRESCENTE. Algo é cada vez mais possível. Segundo Nahuel Moreno, ele fundiu os opostos, a possibilidade e a necessidade, nesta formulação, da crescente possibilidade. Assim, apenas ao final a necessidade é imposta na realidade. O socialismo é cada vez mais possível dentro do capitalismo, mas somente poderá surgir quando o capitalismo estiver muito maduro, no final, com a alta possibilidade que se desenvolveu.

Penso que, ao mesmo tempo, ocorre a necessidade crescente. Mas ela é mais firme quando a necessidade se realiza após o caminho da possibilidade crescente; pois, a partir daí, a necessidade é cada vez mais necessária (até o ponto de não retorno).

Além disso, é possível que a possibilidade teste-se a si mesma antes de se tornar necessidade plena. Assim, antes de surgir o capitalismo, tentou-se revoluções burguesas fracassadas. Antes de surgir o socialismo, tentou-se revoluções socialistas fracassadas.

 

CAUSALIDADE

D’O Capital, de Marx extraio a ideia de que há causa com efeitos opostos. Uma desvalorização da moeda brasileira no câmbio produz industrialização, pois compensa comprar dentro do país no lugar de importar, mas também produz, ao mesmo tempo, o oposto, desindustrialização, pois algumas indústrias nacionais necessitam importar insumos e máquinas do exterior.

Há duas formas de tal causalidade: 1) a causa produz um efeito, que, por sua vez, produz um efeito oposto (instalar um novo maquinário derruba a taxa de lucro numa empresa, mas, por produzir matéria-prima mais barata individualmente, aumenta a taxa de lucro de outras empresas, pois reduziram o custo com capital); 2) a causa produz efeitos opostos ao mesmo tempo ou quase.

Um efeito pode vir de diferentes, opostas ou combinadas causas. Para a economia vulgar, a inflação sempre vem do excesso de dinheiro – mas pode ter, na verdade, várias origens, como desvalorização do câmbio, monopólios etc. E mais dinheiro circulando pode mesmo não gerar nenhuma inflação se a velocidade de circulação da moeda cai, por exemplo.

Uma causa pode gerar um efeito ou seu oposto. Novack observou que a industrialização alta produziu um império capitalista nos EUA enquanto produziu miséria e, depois, revolução socialista na Rússia. Mesma causa, efeitos opostos (porque em circunstâncias diferentes).

Os teóricos da complexidade observam que uma grande causa pode produzir um pequeno efeito enquanto uma pequena causa pode produzir um grande efeito. Por quê? Por causa das condições, das circunstâncias em que ocorrem. São as condições ao redor que fazem, por exemplo, uma pequena causa ter grandes consequências.

Além disso, a causalidade não mecânica pressupõe a possibilidade do atraso da causa sobre o efeito. Isso se dá porque há a inércia e um passado ou estrutura. Uma crise econômica afeta a consciência dos trabalhadores, mas com atraso.

 

COISA EM SI E MATERIAIS

Para nosso trabalho, existe a coisa, não a coisa em si. Hegel descobre que a coisa em si nada é de fato, apenas é suas propriedades reunidas. Estas, então, são apenas materiais, matérias. A coisa se dissolve. As matérias entram e saem dela, e ela não é sequer um limite ou uma barreira para estes materiais. A coisa é um “isto” (em que as matérias estão reunidas) e um “também” (menos ou mais matérias).

Destaco que, para Hegel, os materiais fluem como querem na coisa; mas, se bem observado, elas estão em conexões necessárias uma com as outras, na interpenetração, logo não fluem tanto; ao mesmo tempo, a coisa, e em estado superior como o ser vivo, tende a ser unidade tanto de matérias com interpenetração quase estável quanto, em agregado, os apenas juntos e externos uns aos outros. Por exemplo, diz-se que grande parte do corpo humano são bactérias e vírus em nós; mas o que permite que elas sejam conosco é a interconexão daquilo que permite sermos o que somos, para além ou por debaixo de nossos necessários agregados. Enfim, o mero agregado, onde as matérias são separadas uns dos outras, passa para a interpenetração.

Mais uma observação importa. Kant diz que há limites ao conhecimento – que apenas abemos do fenômeno, nunca da coisa em si mesma; já Hegel afirma que não sabemos se tais limitações existem ou não, apenas saberemos pesquisando, tentando (e sabemos da coisa em si por meio de suas determinações, de suas propriedades). Muito conhecimento antes impossível agora é claro e possível por causa do desenvolvimento histórico, especialmente o técnico. Pois bem; parece provável que os buracos negros são, enfim, a coisa em si incognoscível, do qual mal podemos saber apenas dos fenômenos (têm apenas três características destacáveis: massa, spin e carga). Na Lógica de Hegel, a coisa em si vai para fora, expõe-se, o interno vai para o externo. Mas o alto evolver do cosmos levou a que a curvatura do espaço-tempo, a energia em busca de mais energia, impedisse que até a luz, o objeto mais rápido existente, escapasse de si.

 

FIM E MEIO

Em Hegel, na Lógica, a teleologia é apenas subjetiva, que usa o objetivo, o objeto, como meio e tem-se na realização da finalidade, do fim, o subjetivo dentro do novo objeto, uma unidade do subjetivo e do objetivo. Exemplo: o escultor usa ferramentas, ou objetos, para agir sobre outros objetos e assim realizar um fim, a sua ideia de escultura - o resultado final tem o subjetivo no resultado objetivo.

Há outra consideração: o fim não está apenas no fim, mas no próprio meio. O fim vai-se realizando no meio, no seu processo, rumo a si mesmo. Esta é uma forma de unidade de fim e meio.

Existe ainda o fato de o meio, que deve ser apenas meio, que, por suas propriedades e circunstâncias, torna-se fim – a degeneração do meio em fim, em fim em si mesmo.

Para evitar interpretações racistas, a ciência comum afirma que a teoria da evolução seria, na verdade, teoria da diversificação apenas. Uma galinha é “inferior” aos antigos e poderosos dinossauros, mas bem adaptada ao meio. Há aí certa confusão, entre parte e todo. Os animais individuais ou espécies podem mutar-se das mais variadas formas, porém o todo, a biologia, caminha-se para produzir seres cada vez mais capazes, como dos incapazes para os capazes de regular a própria temperatura, teleologia relativamente realizada no homem. 

 

POTÊNCIA

A relação de potência é o quantitativo que retorna ao qualitativo, na medida. Se bem observado, a potência na matemática revela a relação consigo mesmo, ou melhor, a realidade é relação consigo própria.

 

PROCESSO E CRISE

A lógica deve elevar ao pensamento puro a lógica real dos ciclos empíricos na biologia, no cosmos, no ser social. No capitalismo, temos crises de 10 em 10 anos, mais ou menos, cíclicos – porém não apenas circular ou repetição, mas processo, desenvolvimento contraditório. A Terra também com ciclos regulares de, mais ou menos, 27 milhões de anos. Os ciclos são, portanto, periódicos. São espiral ou desenvolvimento embora apareçam apenas como repetição circular, regular; ou, antes, o circular faz, dentro de si, o processual. Aqui, entra o conceito central de crise; a crise, como destruição ou risco e oportunidade na sabedoria comum, abre caminho para o desenvolvimento posterior, como novas espécies vivas após uma grande extinção. O capitalismo não vai de equilíbrio em equilíbrio, mas de crise em crise, como afirmou Elias Jabbour; talvez por Hegel ver apenas o início de tal sistema, não tenha encontrado base material para seu grande cérebro formular algo tipo, mais profundo do que este esboço em ensaio, além de as ciências naturais estarem ainda engatinhando relativo ao que virá no século XX. Assim, todo modo de produção entra em crise terminal após grande desenvolvimento; assim, a psicologia tem suas fases e ciclos. A crise aparece externamente como interrupção do processo, como apenas seu oposto, mas é, na verdade, sua condição de autoelevação.

 

ENTRE O JUÍZO E O SILOGISMO

Hegel diz que afirmações do tipo “ser é nada” ou “forma é conteúdo” são proposições impróprias, imperfeitas, falhas e deformadoras. Pois bem; ao que parece, a formulação está, apenas, em muitos casos, incompleta. Podemos dizer “nada é ser no devir” ou “conteúdo é forma com matéria”; assim, mais do que apenas o simples “sujeito é predicado”. Tal fórmula nem cai no juízo puro nem no silogismo completo, mas se aproxima bastante da verdade. De modo cru, quer dizer “A = BC” ou “A é BC”.

Na fórmula de fundo e de começo, temos “nada é ser no devir”. Isso permite várias interpretações (assim como certas equações na física permitem diferentes interpretações[1]), mas reforçamos o inicial de que o ser, em seu movimento, põe o nada relativo no ente de si. Bem observado, rima com F=ma, ou seja, força é igual massa vezes a aceleração; como força foi suprassumida pelo conceito energia, temos, no nível superior, E=mc², energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Serve bem para expor a substituição proposta de nada e força por energia, além da referência ao espaço-tempo.

No mais, tema lateral, elaboramos que nas determinações de desenvolvimento ainda temos A=A e não-A com o acréscimo proposto de A=A e… não-A, pois incluímos o movimento, ou seja, o tempo, este que está na própria coisa, na forma.

 

CONCEITO

Para Hegel, a vida tem seu impulso no conceito. Ele, assim, erra ao acertar pela metade. O que há na ideia de vida, no interior, é energia – em busca de mais energia. Sua escolha do conceito acerta apenas ao ser a antecipação lógica da realidade do DNA, o bloco de informação da vida, que se reproduz.

Com a unidade e a identidade de energia, em busca de mais de si, com o espaço-tempo, que se condensa, temos a Arké, o absoluto, ou seja, uma nova dialética, uma nova ontologia, uma nova metafísica. A ciência chega, inevitavelmente, a um estágio em que é possível apenas grandes reformas científicas, não mais revoluções do pensamento. Tal parece ser o caso da Ciência da Lógica de Hegel; porém, torna-se possível uma reinterpretação completa, que tem a dialética hegeliana como sua base inevitável por tanto ter avançado – mas base ainda limitada, sem correto fundamento.

Hegel pensou, por limite de seu tempo, que a Ciência da Lógica poderia sustentar-se apenas, em seu início, na forma. Mas demostramos aqui que há um conteúdo, conteúdo lógico-ontológico, fundamental. Quando ele diz, por exemplo, que o devir, como unidade de ser e nada, desaba no ser aí, nunca oferece a base desse desabamento, que nós oferecemos. Afirma ainda que no ser aí, ainda nada há do espaço e do tempo, quando demonstramos que existem no próprio ser aí. Assim, acolhemos a forma da dialética hegeliana como nossa, como nosso início e base, embora incompleta e sem base própria. A categoria energia, por exemplo, perpassa e pervade as três modalidades do Ser – ser inorgânico, ser biológico, ser social; além disso, na psicologia, a ideia de Freud do sexo como pulsão elementar da psique[2], tem dentro de si o conceito puro energia. O quase-materialismo de Hegel agora é de fato materialismo dialético.

 

SOBRE HIPÓTESES DA FÍSICA

Tal ontologia e lógica têm relação imediata com a não vida, em especial a física. Fugindo de premissas, hipóteses, princípios e postulados como da peste, devemos ao menos esboçar sua relação com tal ciência.

1.    A ideia de sobreposição de estados, de ser partícula e onda como se ao mesmo tempo, parece encontrar boa saída na ideia de espaço-tempo condensado. Talvez, algumas partículas não se rompam com o tecido espaço-temporal, ou apenas relativamente. Assim, o elétron como onda, com o espaço enquanto meio, e como o si, carrega-se a si mesmo como partícula – explica-se, assim, o experimento da fenda dupla.

2.    Tomemos este dado: as galáxias mais distantes afastam-se mais rapidamente – por causa da energia escura. Ora, se a gravidade é o típico do macro, logo tal afastamento pode ser fruto de outros universos, mais condensados, atraindo, fazendo este expandir. Em causalidade recíproca, uns expandem-se ou contraem-se exato porque outros universos locais expandem-se ou contraem-se. O cosmos é união dos universos em quatro dimensões espaciais (a última manifesta-se como tempo – dizemos: ele percorreu certo espaço de tempo –, sendo o infinito, o para dentro, o colateral dentro e fora das demais dimensões).

3.    Ao que parece, inexiste resposta sobre o motivo de o elétron não cair, já que é o oposto, dentro do próton. O fato de o espaço curvar, e ser o autocurvar dele cada matéria, causa a atração; mas exato por ser espaço condensado, tem resistência à união. Ademais a “força” forte é o mesmo que a “força” gravitacional, mas não em relação gradual, e sim por salto de concentração. Os objetos se aproximam, entram nos “poros” ou espaços vazios, pressionam o outro a se aglutinar em si mesmo e, enfim, fundem-se porque são o mesmo no fundo, no fundamento, energia ou espaço-tempo concentrados.

A física atual ainda considera o positivo e o negativo como algo dado, sem qualquer explicação. Sequer trata o problema. Ou seja, ainda não sabemos o que é positivo e negativo. Que o elétron seja negativo e o pósitron, antielétron, antipartícula daquele, seja positivo, nada diz de si. Colocar tal propriedade como algo da quarta dimensão seria uma resposta fácil, sem provas empíricas ou matemáticas. É um desafio gigante nessa simplicidade. Portanto, uma explicação digna disso deve explicar vários fenômenos ao mesmo tempo, como o spin do elétron. Esperamos que a ontologia aqui posta ajude a encontra o caminho exato.

4.    Mostrei minha ontologia ao físico Marcelo Gleiser por meio da internet, em seu grupo “Ilha do conhecimento”. Algum tempo depois, soube que ele elaborou a tese de que a matéria escura são bolhas transparentes de espaço. Não creio que seja plágio, talvez inspiração. De qualquer forma, para mim, tanto a matéria escura como toda a matéria e a luz são espaço condensado. Vale notar que ele fez um comentário crítico: assim, deveria ser derivado todas as propriedades da matéria do espaço, algo improvável. Ora, a diferença qualitativa dos átomos da tabela periódica tem por debaixo uma diferença apenas quantitativa de prótons e elétrons (e nêutrons); logo a diferença qualitativa do mundo e suas propriedades é por diferentes níveis de energia-espaço-tempo concentrado e suas interrelações.

5.    A teoria do espaço da gravidade quântica em loop, com o tecido do espaço-tempo como uma corrente, bem combina com nossa concepção de que tal objeto é tanto contínuo quanto discreto – mostra que nossa base filosófica pode ter correspondentes científicos. Há alguns anos, soube da teoria de que o universo primordial era formado por partículas que entraram em forte interação, tornando-se interligadas, ou seja, a “ação fantasmagórica à distância” ou entrelaçamento quântico, formando o próprio espaço nessa “liga”. Isso combina com nossa ontologia de que tudo é espaço-tempo condensado. Complementamos que o espaço, podendo ser linhas de campo maleáveis, é o meio de tal ação, como a gravidade é o próprio espaço. Outro caminho, mais intuitivo, mas talvez não novo, é a quarta dimensão enquanto “caminho” da ligação entre partículas.

A esperança é que nossa ontologia permita descobrir a unidade do micro e do macro (e do meso), a grande unificação da física quântica com a física cosmológica – insistimos: tudo como espaço tempo condensado, energia em busca de mais de si. Isso também indica que a pluralidade ou diversidade de campos, se confirmados, são, no fundo, um.

Como ensaio, este texto tem a liberdade necessária para arriscar. Mas, claro, cientistas da área podem avaliar com imensa maior precisão o que está aqui escrito, se há algo de fato útil. Além disso, se estamos corretos em geral, eles podem ir muito mais longe numa pesquisa profunda a qual estou ainda apenas em seu começo.

 

DESAFIOS DO MARXISMO

Apenas podemos dedicar tempo e esforço[3] para assuntos secundários se os centrais estão resolvidos, mas não é assim que os intelectuais marxistas têm operado. Vejamos as urgentes demandas teóricas e práticas de nossa ciência:

1)   Teoria da crise sistêmica.

É o mais importante. Penso que este livro cumpriu tal tarefa ao menos nos seus aspectos centrais.

2)   Sistematizar a dialética materialista, marxista.

Aqui, também temos a base de tal construção. Mas é necessário um trabalho crítico sobre as modernas lógicas de modo a ter uma formulação quase inteira do tema. Minha formulação do método “empírico-dedutivo”, onde se deduz o não empírico do empírico, é uma das contribuições concretas, entre outras, desta obra sobre. Em meu livro de introdução ao marxismo também exponho uma concepção de método dialético o qual indico leitura.

O debate é difícil. O marxismo acadêmico da classe média nega a dialética, às vezes põe “Marx contra a dialética”. Assim, falsificam a história. Em público e cartas pessoais, Marx  sempre deixou cristalino que seu método era o dialético. Os falsificadores agem como os professores medievais, que, diante da lógica da tradição, sempre diziam que suas próprias ideias eram, na verdade, de algum pensador antigo com prestígio. Sem qualquer conhecimento geral das ciências, dizem também que a dialética é apenas algo sobre o capitalismo; ora, o próprio Marx diz em O Capital que é uma contradição um planeta ao redor de sua estrela tender, ao mesmo tempo, a se afastar e a se aproximar dela – a contradição dialética está em toda parte, em cada coisa. O próprio Marx apoiou o Anti-Dühring de Engels e seu projeto de dialética da natureza.

Para Hegel, a contradição era externa, com a unidade interna. Para o marxismo, a contradição também é essencial, interna. Por isso, formulei há pouco que quantidade e qualidade, intensidade e extensidade, forma e conteúdo, energia e espaço são transitoriamente contraditórios, não só opostos em unidade ou identidade.

3)   Refundar a ontologia e a metafísica.

Para acusar alguma ideia, basta nomeá-la metafísica. Mas: quem é contra saber a natureza essencial da realidade? Ninguém são seria adversário de tal meta. Tal eixo está junto ao ponto 2, inseparáveis. A concepção energia em busca de mais de si e espaço-tempo condensado permite tal unificação e desenvolvimento. A ontologia do ser social de Lukács abriu o caminho, mas ainda há estrada por percorrer, incluso nos seres inorgânico e biológico, além do Ser em geral.

4)   Teoria unificada da psicologia.

Wallon, Vigotsky e Freud devem ser a principal base de uma teoria segura da psique. De modo algum é admissível uma pluralidade teórica, um apenas ao lado do outro. A ciência dialética tem a prova de sua teoria na realidade, ontologicamente, mas há possíveis critérios gnosiológicos secundários, como a capacidade de mostrar porque outras teorias, ao mesmo tempo, acertam e erram. O caminho é facilitado porque as construções teóricas caíram em duras oposições, em geral unilaterais, abrindo espaço para, ao mesmo tempo, o “nem isto nem aquilo”, como com o nem verdadeiro nem falso, e o “isto e aquilo”, como com o verdadeiro-falso – a crítica movente.

5)   Ética ou Moral marxista.

Como dissemos, Trotsky e Lukács esboçaram o assunto. A contribuição trotskista é suficiente para a prática militante, mas incompleta. Dialética e teoria da alienação, como na contribuição esboçada por mim antes, são a base de tal trabalho.

6)   Balanço crítico da história das revoluções e contrarrevoluções.

É necessário um trabalho profundo, que alcance leis e padrões, lições, da história de situações revolucionárias no mundo. Isso se une, por exemplo, com a lei, aqui exposta, de que a história opera por ensaios gerais antes da consolidação plena das condições para o novo.

7)   Manual militar completo.

Trotsky propôs que os militares do Exército Vermelho elaborassem um manual inteiro, com todos os cenários e situações possíveis, para que os comunistas soubessem liderar. O projeto nunca veio à prática. Com as muitas mudanças no mundo militar hoje, com as dificuldades imensas atuais, precisamos, para ontem, de um manual completo e didático.

8)   A dialética da natureza.

A ciência moderna é um mar de revoluções e de incompletudes. Engels, por outro lado, deixou inacabado seu projeto de uma dialética natural. É tarefa urgente; por isso, tendo já dado pelo menos a base aos demais, será alvo de meu foco nas próximas décadas. A física, em especial, pôde ampliar-se por muito tempo focada quase apenas no “como”, próprio do uso industrial de tal conhecimento, mas é chegada a hora de saber o motivo, o “porquê”.

 


A NOVA DIALÉTICA

 

O método dialético de Marx ainda falta a uma sistematização rigorosa em uma obra. Tal projeto exigirá, para fins de atualização, estudo crítico de toda a ciência moderna. Ademais, a última grande contribuição categorial foi feita no início do século XX com a lei do desenvolvimento desigual e combinado descoberta por Leon Trotsky. Aqui, iremos oferecer alguns possíveis aportes ao sistema lógico; para este objetivo, tentaremos dispor exemplos de como a dialética das categorias propostas está na própria realidade.

 

 

CONCRETO E ABSTRATO

Temos quatro definições comuns sobre as categorias concreto e abstrato:

1.

Abstrato: elevar em conceitos mentais a realidade, fazendo uso de generalizações, de modo a reproduzir a natureza deste último no pensamento.

Concreto: a realidade mesma, independente de uma reflexão, e sua dinâmica.

2.

Abstrato: um elemento separado de sua totalidade.

Concreto: síntese de múltiplas determinações.

3.

Abstrato: descrever a realidade, o objeto, em sua generalidade, em seus aspectos gerais, retirado as particularidades, as irregularidades acidentais e fatores externos.

Concreto: descrever a realidade, o objeto, em seus aspectos específicos, particulares e conjunturais, agregando fatores externos e irregulares.

4.

Abstrato: geral, indiferenciado. O trabalho abstrato, ligado ao tempo é exemplo do abstrato existente na realidade.

Concreto: específico. O trabalho concreto, que produz valor de uso, é exemplo.

 

No entanto parece existir outra interpretação, outra forma de tratar duas categorias íntimas e próprias da realidade. Antes de expressá-la, convido o leitor a ler este trecho de Marx, Introdução Para a Crítica da Economia Política (1857):

 

“Os economistas do século XVII [que], por exemplo, começam sempre pelo todo vivo: a população, a nação, o Estado, vários Estados etc.; mas terminam sempre por descobrir, por meio da análise, certo número de relações gerais abstratas que são determinantes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor etc. Esses elementos isolados, uma vez mais ou menos fixados e abstraídos, dão origem aos sistemas econômicos, que se elevam do simples, tal como trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca, até o Estado, a troca entre as nações e o mercado mundial. O último método é manifestamente o método cientificamente exato. O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação.” (Marx, O Método da Economia Política, 2019, grifos nossos.)

 

Como observamos, está de acordo com os quatro critérios acima apontados. Porém, Marx trata aí de um método do pensamento, de fazer ciência, não da realidade por si mesma; digamos que, de maneira indireta, trata-se apenas de uma dialética do pensamento ao reconstruir a estrutura dialética do real. Muito mais que isso, temos percebido que esse processo de pesquisa, “mental”, também ocorre como lei geral do próprio movimento da matéria, como fenômeno material em si. Observemos: a citação segue a seguinte sequência: 1) concreto “amorfo”; 2) abstrato, as partes, o adentrar cada vez mais nas partes de um todo; 3) reconexão das partes, retorno ao concreto de modo superior.

Demonstraremos que este movimento é o próprio movimento da realidade. Vejamos esse movimento por meio de uma citação de outro dos meus textos:

 

Os Estados Unidos Socialistas da Europa são mais necessários do que nunca. Na Idade Média a Europa desconhecia fronteiras, nações, nacionalidades, etc. Os habitantes desse continente viam-se como “o mundo cristão” e tinham em comum a história, o Latim, a Igreja Romana, o sistema feudal, etc. De fato, era uma massa única, homogênea e de particularidades internas pouco definidas – chamemos concreto ou concreto simples (ou podemos tomar por referência o grande Império romano). Imediatamente após, a burguesia inicia sua tarefa de formar países, Estados-nacionais, exércitos, fronteiras definidas, nacionalismo, identidade, impostos unificados, etc.: a Europa continua Europa, entretanto suas partes separam-se em uma “relação alienada” ou “relação, porém alienada” e isto foi vital para desenvolvimento das partes e do todo; chamemos abstrato. Este processo desenvolveu as partes, os países do mundo europeu, assim como suas interconexões, a tal ponto que amadureceram e agora (!) pedem fusão, integração, união e superação dos limites nacionais; este é o concreto complexo em latência, ou seja, o desenvolvimento econômico-social avisa-nos que deseja voltar ao começo, ao negado, ao antes do abstrato, ao concreto só que de modo diferente, superior, superante. Isso aponta a revolução socialista europeia: o Euro e a União Europeia são mediações, deformantes, propostas pelo capital e pelo imperialismo, para essa necessidade objetiva.

 

Na história das ciências essa tendência também se revela: todas as ciências eram, em estado inferior, reunidas na filosofia; depois, foi necessário separá-las e desenvolvê-las individualmente; agora, a tendência é reuni-las na físico-química, na psicologia (ciências sociais somadas à biologia), no marxismo (fusão de todas as chamadas ciências humanas em uma única ciência – a ciência humana –, incluindo influência de base da biologia, etc.). A atual fragmentação das ciências sociais em áreas particulares, com muito peso pós-moderno, excluídas umas das outras será reconciliada com a renovação marxista das universidades no socialismo.

O movimento concreto-abstrato-concreto revela-se em um novo significado; temos, então, um suporte categorial a mais para auxiliar o trabalho científico e o treinamento dialético do raciocínio.

Agora, vejamos um trecho de O Capital I onde observamos um exemplo específico do concreto-abstrato-concreto tal como destacamos:

 

 O que é válido para a divisão manufatureira do trabalho na oficina vale também para a divisão do trabalho na sociedade. Enquanto artesanato e manufatura constituem a base geral da produção social, a subsunção do produtor a um ramo exclusivo da produção, a supressão da diversidade original de suas ocupações é um momento necessário do desenvolvimento. Sobre essa base, cada ramo particular da produção encontra empiricamente a configuração técnica que lhe corresponde, aperfeiçoa-a lentamente e, num certo grau de maturidade, cristaliza-a rapidamente. Além dos novos materiais de trabalho fornecidos pelo comércio, a única coisa que provoca modificações aqui e ali é a variação gradual do meio de trabalho. Uma vez alcançada a forma adequada à experiência, também ela se ossifica, como o comprova sua transmissão, muitas vezes milenar, de uma geração a outra. É característico que, no século XVIII, ainda se denominassem mysteries (mystères) [mistérios] os diversos ofícios em cujos arcanos só podia penetrar o iniciado por experiência e por profissão. A grande indústria rasgou o véu que ocultava aos homens seu próprio processo social de produção e que convertia os diversos ramos da produção, que se haviam particularizado de modo natural-espontâneo, em enigmas uns em relação aos outros, e inclusive para o iniciado em cada um desses ramos. O princípio da grande indústria, a saber, o de dissolver cada processo de produção propriamente dito em seus elementos constitutivos, e, antes de tudo, fazê-lo sem nenhuma consideração para com a mão humana, criou a mais moderna ciência da tecnologia. As formas variegadas, aparentemente desconexas e ossificadas do processo social de produção se dissolveram, de acordo com o efeito útil almejado, nas aplicações conscientemente planificadas e sistematicamente particularizadas das ciências naturais.

[Nota de rodapé 304] Segundo o Statistical Account, em algumas partes montanhosas da Escócia [...] havia muitos pastores de ovelhas e cotters [Camponeses parceleiros nas terras altas escocesas], com suas mulheres e seus filhos, calçando sapatos feitos por eles mesmos, de couro curtido por eles mesmos, com roupas que não haviam sido tocadas exceto por suas próprias mãos e cuja matéria-prima era a lã e o linho que eles mesmos haviam respectivamente tosquiado e plantado. Na confecção de suas vestimentas dificilmente entrava algum artigo comprado, exceto a sovela, a agulha, o dedal e algumas peças de ferro utilizadas para tecer. As tinturas eram obtidas, pelas próprias mulheres, de árvores, arbustos e ervas”, Dugal Stewart, em Works, cit., v. VIII, p. 327-8. (Marx, O capital I, 2013, p. 556)

 

Na primeira citação de Marx, o concreto-abstrato está expresso numa relação sincrônica do objeto. Por exemplo: o corpo humano (totalidade), complexo de complexos, é dissecado pelo anatomista; este estuda a natureza e função de cada órgão, nervo, osso e pedaço do corpo (abstrato); com isso, procura e percebe as ligações, as interconexões e interdependências de cada parte, umas com as outras; daí, cada vez mais ele vai construindo uma compreensão profunda do todo, do corpo (concreto) (exemplo bastante parcial, pois o marxismo teoriza o sistema orgânico e vivo, em devir). Já a segunda citação do mouro demonstra uma relação também temporal, do objeto no tempo, diacrônico. Por exemplo: primeiro, produção artesanal ou primitiva (concreto); depois, cooperação e manufatura (abstrato); em seguida, grande indústria (cada vez mais concreto). Quando Marx afirma que o abstrato não forma o concreto, ao contrário do que pensava Hegel, ele acerta quanto aos modos sincrônicos, as estruturas, porém deixa de observar que a relação categorial ainda assim é útil no diacrônico, como um processo.

As diferentes formas de arte encontravam-se misturadas em seus inícios. Depois, ocorreu o desenvolvimento das artes particulares, a especialização, a separação (a poesia da música, o romance da poesia, etc.). Hoje, o cinema e os jogos de vídeo game fundem artes separadas na mesma obra.

Padrão da geologia. Do concreto amorfo, surgiram progressivamente os continentes iniciais, proto-continentes elevados no período Arqueano, que, após processo longo, fundiram-se no Pangeia; este, por suas vez, separou-se nos atuais continentes do planeta. O atual afastar aproxima.

Com o desenvolvimento do mundo das mercadorias, desenvolveu-se o comércio de dinheiro e a produção de mercadorias. Na época do capital, novas empresas comerciais, industriais, bancárias, de serviços surgiram, cresceram, ampliaram-se. Ainda hoje surgem novas empresas, porém a tendência geral é a fusão de setores produtivos, da indústria com os bancos, do comércio com os demais setores, a formação de oligopólios que tratam desde a extração da matéria-prima necessária até a venda final, a formação de conglomerados, etc. Se vencer, o socialismo conclui tal tendência à fusão e centralização unificando todas as grandes fábricas, os comércios e os bancos em um só corpo a partir de um planejamento centralizado e democrático geral; surgirá o banco único do Estado, por exemplo, antes da extinção ou quase extinção do dinheiro (após certa maior unificação deste); o socialismo, assim, supera o próprio capital no processo de sua unificação.

Sem confundir especulação com ciência propriamente dita, podemos fazer algumas observações, sob risco de dizer absurdos. Primeiro, após expandir-se, o universo passará a contrair-se, as partes unindo-se após o desenvolvimento dos abstratos, como teorizam alguns físicos, com os buracos negros cumprindo papel central. Em segundo, lembremos que o bom infinito é o infinito qualitativo, não quantitativo, que funciona como se um círculo, sem começo nem fim – considerado isso, podemos pensar que há uma quantidade finita de universos que estão conectados, mais do que apenas um ao lado do outro, com autonomia apenas relativa em relação aos demais, como um hipercubo em automovimento, em que a expansão de alguns universos corresponde, por interação, por influência recíproca, à contração de outros, e (ou) vice-versa, a contração de uns expande outros. Desse modo, fundimos as hipóteses, opostas, do multiverso no tempo e no espaço.[4][5]

No movimento concreto-abstrato-concreto é importante ter em conta que o abstrato é por si próprio a formação processual do concreto, interno, na parte, e externo, no todo. Também destacamos o processo de transição a partir do concreto em latência, quando o desenvolvimento do abstrato, que também é o da inter-relações, tem alto avanço sob suas bases; exemplo é a concorrência de monopólio atual entre a concorrência capitalista, cada vez mais superada, e o monopólio social no socialismo, cada vez mais latente.

O primeiro concreto é o mais relativo de modo que o abstrato, rumo ao concreto, aparece como início e base do movimento.

Hegel quase alcançou tal conclusão ao afirmar que o entendimento, separar e fixar conceitos, e a razão, ver a unidade dos conceitos, estão também na própria realidade; mas ficou apenas aí como um ótimo idealista. Expomos em primeira forma acaba o que é intuição no hegelianismo. Tal modo de ver o abstrato-concreto está, também, intimamente ligado à dialética da repulsão-atração.

 

TRÍADE E COLATERAL

A lógica dialética de Hegel e, de modo materialista, de Marx apresenta a relação de tríade. Tais relações em trio, que são relações categoriais, também ocorrem no real. Para exemplificarmos, algumas inter-relações de tríade: a) infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego; c) inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios, burguesia; f) indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo, indústria bélica; g) prótons, elétrons, nêutrons; i) forças produtivas natureza, técnica, homem; j) matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc. Quando e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral, o que está ao mesmo tempo dentro e fora, separado e integrado.

Nessa obra, essa dialética, manifestada no inchaço do colateral, se apresenta em especial na hiperinflação do capital fictício, no alto desenvolvimento do setor de serviços e aumento da subclasse dos desempregados. Esses inchaços colaterais são expressões e consequências do alto amadurecimento e definhar do sistema capitalista.

Na física, podemos expressar nos quatro estados típicos da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Também observamos nas forças fundamentais: força nuclear forte, força nuclear fraca, eletromagnetismo – e a gravidade. Mas a gravidade está “dentro e fora”, pois desde Einstein sabe-se que esta não é uma força mas curvatura do espaço-tempo. Dai a dificuldade dos cientistas de, após unificar as três primeiras, fazer a unificação matemática das quatro forças consideradas.

Continuemos com exemplo de tríade na química, em forma de organização estrutural (abstraído, na formulação retirada, o movimento). Ao tentar classificar – método aristotélico, lógica formal – os elementos químicos, agrupando-os de modo lógico, o químico alemão Johann Wolfgang Dobereiner, em 1817, percebeu que no agrupar de elementos de propriedades semelhantes, tomando a forma de grupos de três, um deles tinha a massa atômica (MA) como média aritmética dos outros dois… Chamou “lei das tríades”. Exemplo: Cloro (Cl), Z 25,5; Bromo (Br), Z 80; Iodo (I), Z 137. Seu modelo foi rejeitado por considerem limitado para classificação simples dos elementos em geral, reunindo-os. Em versão hoje aceita, na tabela periódica, onde há o avanço do mais simples ao mais complexo na formação de elementos: entre metais e não metais, há os semimetais ou metaloides, de características parciais de um e outro – e os gases nobres ou raros (colateral).

Utilizando tal ferramenta, Hegel afirmou existir três macroclimas: muito úmido e frio, muito seco e quente e o rico intermediário entre ambos (tríade). Leitor disciplinado da produção hegeliana, Euclides da Cunha, afirmou na obra Os Sertões (Cunha, 2002) que o filósofo alemão deixou de notar o perfil de alguns climas brasileiros – cap. V, em A Terra, subcap. “Uma Categoria Geográfica que Hegel não Citou” –, em especial o sertão (no livro citado, faz comentários sobre este fator sui generis de norte a sul da nação, em diferentes paisagens), onde as chuvas em excesso por meses ocorrem após secas por maior período, onde o calor violento do dia contrasta com o frio agressivo da noite, etc. Isto é: colateral.

Relativo aos anteriores sistemas – o primitivo, o escravista ou o asiático e o feudal –, o capitalismo cumpre a função histórica de colateral. Abre transição para o fim das classes no lugar de novas formas, baseia-se nas crises de superprodução substituta das de subprodução, sistema social de dominação disfarçado por uma liberdade geral formal, a mais laica das formas de controle, o lado mais dinâmico da economia ocorre na grande produção não rural, as fontes “paralelas” e secundárias de riqueza em outros sistemas – artesanato, comércio e comércio de dinheiro – tornam-se centrais (e, para reforçar o argumento da próxima nota de rodapé, são elementos de dissolução de sociedades), apenas pode existir generalizando-se e destruindo as antigas atividades, recruta para as forças armadas do Estado membros das classes subordinadas, necessitou de uma classe à época revolucionária para consolidar-se, expulsa o princípio da tradição e da rotina, a produção de riqueza em valores de uso é secundário em relação à produção de valor e sua acumulação na forma de dinheiro. Por esse ponto de vista, ainda sendo um modo de vida, uma época inteira, ao mesmo tempo, o capitalismo nada mais é do que a forma de transição e transitória entre as sociedades classistas e a sociedade comunista[6].

No capitalismo, os capitais a juros, industrial e comercial, inflando-se, dão suporte ao setor de serviços e ao capital fictício.

Temos três modalidades do Ser: inorgânico, orgânico e social – e objetal (falso ser correspondente à alienação).

O desenvolvimento de uma tríade forma também o colateral e, em conjunto, são parte de um todo que se forma.

Hegel apreciava exemplos da mitologia cristã para tratar das categorias. Tomemos tal metáfora: a Santíssima Trindade é trina e una ao mesmo tempo; mas, e mais, saiu de si o externo, o anjo Lúcifer, cuja existência reforça seu oposto.

Para encerramos as observações e os exemplos, faremos um último destaque. É comum na tríade que aquilo “entre” seja o “menos igual a si próprio” em sua variedade ao ser transição entre um e outro. Ex.: entre o proletariado e a burguesia há uma miríade de setores médios – a subclasse de desempregados e o lupemproletariado (mendigos, ladrões, prostitutas, etc.) são colaterais.

 

REAL E FICTÍCIO[7]

O movimento do real ou verdadeiro rumo ao fictício ou falso e o inverso – pois este desenvolve aquele em si – ocorre na materialidade. Exemplo: o desenvolvimento do valor-capital, realização, desenvolve o capital fictício. Veja-se que em sua própria origem o capital já se estimula, no capital mobiliário, à concentração e ao desenvolver do capital imobiliário, a terra, que tem preço, mas não valor. Na economia vulgar, há o instinto de contrapor a superestrutura financeira, incluso o capital fictício, à nomeada economia real. Um lucro especulativo, por exemplo, é em si e em aparência real, mas fictício visto na totalidade e na essência (Carcanholo & Sabadini, 2011).

O real produz dentro de si sua própria ficção. Este é meio que tem em si o próprio processo de realização. A própria formação humana, sua realização, produziu o fictício: a arte, ficção do e dentro do real. O fictício, existente, aparece como simulação do real. A ficção é e não é; por ser vazio dentro de si, opõe-se ao seu não ser, o real. No lastro lógico, o real corresponde ao ser enquanto o fictício corresponde ao nada; neste último, a ficção, fica mais evidente a unidade de nada e ser.

A categoria fictício deve ser afastada da pura palavra falso no sentido puro de erro, sendo diferentes; o fictício está dentro do real e é autodesenvolvimento deste. A relação entre verdadeiro e falso na lógica formal é correta em seu nível, trata de especificidades externas, parciais e estáticas. Na dialética, o falso, o fictício, o pseudo, o imaginário, o artificial ou o virtual tem a realidade desenvolvendo-se dentro de si. Também se diferencia da relação dialética real e irreal.

Em matemática, a teoria dos conjuntos numéricos, por meio da evolução social da humanidade, desenvolveu o conjunto dos números reais (naturais, inteiros, racionais e irracionais) até alcançar os números imaginários, fictícios.

Marx trata de grandes fatos da história que se repetem acontecendo primeiro como tragédia e depois como farsa. A palavra – e o evento – farsa tem duplo sentido, duplo caráter: significa uma comédia e, além disso, o teatralismo ao imitar símbolos históricos passados.

Em psicologia, Lacan, inspirado em Hegel, trata do real, do simbólico e do imaginário. Além do Eu ou Self, Winnicott descobre a existência do falso Eu ou falso Self. Podemos arriscar ao dizer que o pensamento é uma ficção, uma alucinação relativa (a esquizofrenia seria, assim, sua inflação desregulada como luta contra a realidade estressante).

O atual desenvolvimento técnico-científico, precisando de novas relações de produção, produz, nesta forma de sociedade, fenômenos sociais fictícios. É o caso do capital fictício produtivo, valorização do capital sem exploração direta do trabalhador, na automação, que nada terá de ficção no modo de vida próximo; e da onda de falsas notícias, as fake news, permitidas tecnologicamente e sob – por razão das – atuais bases das relações sociais. Numa sociedade cooperada, a falsificação da informação será algo raro e marginal, sendo hoje consequência da luta de classes com sua forma de luta política mais os meios para falsificar (que não são causa, apenas meios e possibilidades).

O real encaminha-se ao fictício; e este é, por isso, ficção real. É o caso das partículas fictícias ou quasipartículas em física. Em biologia, os pseudofrutos são bons exemplos. Outros casos, mais abstratos, são a força centrífuga como pseudoforça e as falsas espirais na matemática. Em geral, a própria nomeação científica, embora partindo do sujeito, revela a natureza; nosso trabalho aqui, portanto, é perceber e destacar sua unidade interna.

A unidade do real e do fictício é o real efetivo ou completo.

Notemos que é preciso evitar a vulgarização do uso da categoria ficção[8]. É o caso de Karl Polanyi ao afirmar que o dinheiro, o trabalho (a força de trabalho) e a terra (natureza) são mercadorias fictícias[9]. Marx demonstrou que o dinheiro é a mercadoria por excelência, que o capitalismo surge transformando a força de trabalho em importante mercadoria por ser capaz de produzir um valor maior do que custa ao capitalista, que a natureza é a fonte de toda riqueza junto ao trabalho em qualquer sistema econômico. Há aí, em Polanyi, apenas um erro teórico e um erro categorial. Outro exemplo: dizer que teorias são ficções esquece que a verdade é aproximativa, por aproximações, que a ciência evolui, chegando a verdades estáveis o bastante. Mas vamos, agora, ao extremo: “atualizando” Hume e Kant, um filósofo vulgar e apressado nas generalizações pode criticar Hegel, preso ao entendimento, usando a navalha de Ockham como um açougueiro, dizendo isto: o nada é a ficção do ser[10], a negação é a ficção da determinação, o outro é a ficção do algo, o finito é a ficção do infinito (ou o inverso), a determinação é a ficção da constituição, a barreira é a ficção do dever ser, a aparência é a ficção da essência (ou o contrário), o contínuo é a ficção do discreto, a identidade é a ficção da diferença, a coisa em si é a ficção da matéria ou propriedade, a causa é a ficção da consequência, o fundamento é a ficção do fundamentado, o acaso é a ficção da necessidade (ou o inverso), o universal é a ficção do singular (ou o inverso). Esse mau raciocínio, do uso indiscriminado do conceito ficcional, uma filosofia fácil de fazer sem muito esforço, ocorre por não perceber que a ciência vai fundo, percebe aquilo que não se revela ao cientista imediatamente, aquilo que tem de ser descoberto (a causa, o fundamento, a essência, o geral, a determinação, etc.) – daí a dialética, a Ciência da Lógica.

***

O leitor acostumado com a dialética pode observar que, desde caos-ordem, a relação categorial abstrato-concreto passa-se para a tríade-colateral e, em sequência, passa-se este para real-fictício. O desenvolvimento de si do abstrato dá a base para a tríade-colateral e, por outro ângulo, para real-fictício; além disso, da abstração, na medida em que há concentração e centralização,  tem-se o central-orbitante (que trataremos a seguir).  Há, assim, uma passagem lógica dos conceitos, uns para os outros, em uma sequência não arbitrária (que quebraremos propositadamente). No entanto, concordamos com Engels e Lukács sobre que tais passagens, tais derivações, são artificiais na Ciência da Lógica de Hegel e, complementamos, também aqui. Dito isso, avancemos.

 

CONCEITOS NECESSÁRIOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS

A dialética trata dos aspectos gerais do movimento da realidade. Nesta concepção, expõe o desenvolvimento do saber científico. O método dialético afirma que os conceitos necessários são objetivos, reais, em oposição ao idealismo, como o de Kant, que os considera subjetivos, externos ao objeto, para fins de organização mental.

O conceito de campo avançou de uma consideração “metafórica” para uma verdade objetiva. O mesmo ocorre na biologia com o conceito gene quando Morgan demonstrou em 1910 que a conceituação tinha uma forma física. Algo semelhante acontece, ainda sob larga resistência, com o conceito de energia em física e química. Nas ciências humanas, o conceito de valor ganha sua validade plena com Marx[11].

Percebemos o movimento do pensamento científico. O conceito subjetivo necessário revela-se, no segundo momento, objetivo. Na objetividade do conceito necessário está a sua verdade. O conceito necessário subjetivo só se realiza quando se torna seu outro, quando se demonstra completamente necessário porque real. O conceito ainda subjetivo é necessário porque em verdade é objetivo.

O exemplo mais destacável é a do espaço-tempo, isto é, quando Einstein deu forma à concepção do materialismo dialético. O espaço e o tempo existem, são objetivos, diferente do que afirmava a anterior concepção subjetiva, idealista.

Há, porém, uma consideração minoritária. O tempo existe ou é a medida do movimento? O conceito filosófico de movimento estende-se em 1) deslocamento, 2) mudança e 3) mudança por deslocamento. Se levamos a concepção anterior a Einstein às últimas consequências, o que altera é a massa, o volume, o tamanho do objeto segundo sua velocidade, ou seja, reduz ou aumenta, altera-se, a perecibilidade e as dimensões. Assim, as provas práticas da objetividade do tempo seriam demonstrações da alteração do corpo (satélite, relógio atômico, etc.) captadas pela medida. Nessa concepção, o espaço-tempo seria substituído pelo espaço-movimento. Mas a medida, para Hegel, tem presença no mundo objetivo; “o movimento” é “unidade do espaço e do tempo” (Hegel F. G., 1995, p. 339). 

 

ETAPISMO E SUBLIMAÇÃO

 Ser contra o etapismo é diferente de desconhecer a existência de etapas de desenvolvimento. O processo é mais dinâmico, pelo grau das contradições, que a visão linear de evolução. A consideração unilateral dos opostos, etapismo e sublimação, encontra unidade interna no condicionamento recíproco de um no outro.

A crítica ao etapismo na política, existente entre os antigos partidos social-democratas e os estalinistas, também criou a posição oposta ao negar etapas necessárias, a que chamamos, nessa vulgarização da negação do etapismo, concepção de sublimação. É evidente que muitas sociedades passaram direta e violentamente do primitivismo ao capitalismo comercial, que há saltos, que há não evolução linear, há recuos que resguardam parte do avanço, etc. Também evidente que no todo a humanidade seguiu etapas: primitivismo, escravismo, feudalismo, capitalismo, no desenvolver histórico geral da produtividade social do trabalho, no evoluir contraditório dos modos de produção.

Na cosmologia, a aparente contradição de surgir buracos negros primordiais na fase inicial do cosmos foi resolvida considerando tanto o processo da dinâmica de formação quanto, por meio da simulação computacional, descobrir que o próprio processo geral obrigou a formação direta, por salto, de buracos negros. Ainda assim, o universo tem eras próprias e o caminho comum foi da concentração de hidrogênio e de hélio por meio da gravidade, formação posterior de estrelas e, apenas aí, formação de buracos negros.

É preciso considerar a existência real de etapas necessárias para então considerar os saltos. Porque há etapas é que pode haver negação – ou combinação – delas. Enfim, a totalidade segue etapas ainda que as partes, por razão das interinfluências, operem saltos. 

 

CENTRAL E ORBITANTE

Lucáks critica Hegel por este deixar de perceber que as categorias de A Ciência da Lógica nos livros Doutrina do Ser e Doutrina do Conceito deveriam seguir a forma de determinações de reflexão do livro A Doutrina da Essência (Lukács, Prolegômenos e para ontologia do ser social, 2018). Assim, por exemplo, pôr o qualitativo põe o quantitativo. Pois bem; a obra de Hegel trata do centro apenas, sem colocar aí seu oposto com o qual “mistura-se”. Propomos, então, a relação central e orbitante. O centro é “mais”, naquilo que é central, do que aquilo que o orbita. O central apenas é central com e em relação ao orbitante, e vice-versa; daí a unidade deles.

Em minha experiência política, o uso de tais conceitos foi-me bastante útil para traduzir a realidade e saber como agir. Assim, pode ser positivo a uma corrente política orbitar ao redor de outra por algum tempo para crescer e posteriormente adquirir mais autonomia. Marx trata da “mudança do centro de gravidade” da economia internacional com a descoberta do ouro na Califórnia, o que sugere naturalmente nações orbitantes.

 

A DIALÉTICA DA DIALÉTICA

Se pudermos definir qual a categoria central da dialética, digamos quais, no plural: totalidade, contradição e movimento[12][13]. Então, por que não uma somente? Porque uma apenas é incapaz de expressar o objeto[14]. O capitalismo, por exemplo, é uma totalidade real – não falsa ou formal[15] – autocontraditória (logo, a luta de classes pode passar de reformista para revolucionária) em movimento (constrói as contradições e é, também, ao mesmo tempo, construída por estas – além disso, por superação, formam-se novas totalidades[16]).

Como a realidade, social ou cósmica, temos de observar as categorias e leis dialéticas, expressões abstratas, tal como os processos que estas representam – interligadas. As categorias possuem, assim, vasos comunicantes e interdependência. Quando se desconsidera essa multiplicidade, ao se eleger um subordinador conceito-síntese, surgem premissas a atuar como ferramentas falhas para o estudo.

Terceiro aspecto a destacar; na medida em que temos de procurar no próprio objeto de pesquisa a natureza empírica de seu processo, o próprio raciocínio dialético tende-nos a um método de escrita teórica circular, polêmico e reconstrutor do  processo estudado .

A quarta observação destina-se ao sujeito, cientista ou político. Leon Trotsky melhor desenvolve:

 

 Exigir que todo membro do partido esteja familiarizado com a filosofia da dialética, seria, naturalmente, inerte pedantismo. Porém um operário que tenha passado pela escola da luta de classes, obtém a partir de sua própria experiência uma inclinação para o pensamento dialético[17]. Ainda que não conheça esta palavra, está pronto a aceitar o próprio método e suas conclusões. Com um pequeno-burguês é pior. Naturalmente, existem elementos pequeno-burgueses ligados organicamente aos operários, que passam para o ponto de vista proletário sem uma revolução interior. Porém, constituem uma insignificante minoria. A coisa é muito diferente com a pequena-burguesia educada academicamente. Seus preconceitos teóricos já tomaram uma forma acabada, desde os bancos da escola. Por conseguirem aprender uma grande quantidade de conhecimentos, tanto úteis como inúteis, sem ajuda da dialética, acreditam que podem continuar, sem problemas, a viver sem ela. Na verdade, prescindem da dialética somente à medida que não conseguem afiar, polir ou agudizar teoricamente seus instrumentos de pensamento, e na medida em que não conseguem romper com o estreito círculo de suas relações diárias. Quando se vêm confrontados com grandes acontecimentos, perdem-se facilmente e reincidem em seus hábitos pequeno-burgueses de pensamento. (Trotsky, Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party, 2019)

 

 

Em resumo, a dialética materialista é potencialmente mais ou menos acessível a depender do modo material de vida dos indivíduos. O triunfo do comunismo, dando razão histórica a Marx e Engels, permitirá a superação do platonismo e da lógica aristotélica tão comuns de maneira menos ou mais inconsciente entre nós; e fará erguer-se de modo natural uma saudável dialética materialista vulgar  e cotidiana acompanhada pela elevadíssima educação científica da humanidade.

 

SOBRE A LÓGICA PARACONSISTENTE

A lógica paraconsistente afirma, em geral, que duas afirmações podem ser opostas e ambas igualmente verdadeiras (quase-verdades). De imediato, soa um raciocínio muito dialético. Mas ambas são verdadeiras e igualmente falsas porque unilaterais. O erro e o acerto estão em ambos os lados, cabendo a correção numa terceira resposta que suprassuma as duas afirmações. Exemplo: Marx descobre as unilateralidades na ciência econômica sobre o dinheiro; este ser não é, como afirmavam alguns economistas, os metalistas, sua forma material (ouro), embora a sua matéria seja a necessária; por outro lado, concepção oposta, os cartalistas, o dinheiro é uma “convenção” social, mas não é uma escolha arbitrária, uma decisão livre das pessoas ou do governante – o dinheiro é expressão autônoma do valor (Marx). Outro caso: a luz é partícula ou onda? É uma sobreposição de estados. A polêmica sobre se a obra O Capital é “uma crítica ao capitalismo do ponto de vista do trabalho” (Marxismo clássico) ou “uma crítica ao caráter historicamente determinado do trabalho no capitalismo” (Postone, 2014, p. 62) é resolvida com a afirmação de que é uma “crítica do (ponto de vista do) trabalho ao trabalho no capitalismo”.

A resposta está, portanto, numa terceira visão, que supera as duas anteriores, quando estas têm algum grau de acerto, e são devidamente medidas, criticadas e corrigidas.  Por um típico jogo hegeliano, se “uma sentença e sua negação são ambas verdadeiras”, então o oposto, a negação, também é verdadeiro, ou seja, que “a mesma sentença e sua negação são falsas”. A inconsistência resolve-se na dialética, na superação da oposição.

Vejamos um último caso. Conta-se que o grande lógico Newton da Costa, um dos fundadores da lógica paraconsistente, procurou hegelianos para saber se há relação de sua concepção com a dialética de Hegel, e obteve duas respostas opostas, sim e não. Aqui, procuramos demonstrar por qual motivo um sim e ao mesmo tempo um não, ou seja, que as duas afirmações estão tanto corretas quanto erradas.

O trabalho científico inclui, portanto, revisar toda a produção sobre o tema em questão e descobrir as posições opostas e unilaterais em que caem as elaborações teóricas e filosóficas[18]. Pode-se, assim, dar um passo para solucionar os conflitos em que cai o pensamento. Esta obra desenvolveu-se resolvendo “inconscientemente”, por meio da própria pesquisa, sem trato lógico a priori, as diferentes oposições em que caiu o marxismo[19]: se o socialismo é o caminho histórico inevitável ou o capitalismo só pode ser derrubado por ação consciente, se há crise crônica ou as crises regulares, se há fim do trabalho ou sua manutenção, se o centro é crise do valor ou a queda da taxa de lucro, se a revolução socialista será de base operária ou popular, se as sociedades revolucionadas eram (transição ao) socialismo ou capitalismo de Estado, se situações revolucionárias têm presente consciência socialista ou burguesa entre as massas, se a essência humana é histórica ou natural, etc.

A verdade, que pode estar no meio, frequentemente está na fusão, mais precisamente na fusão superante, que suprassume.

 

SUJEITO E OBJETO

A ciência conheceu toda uma etapa burguesa, que foi progressiva para a humanidade em essência, pois ofereceu bases ao socialismo. A ciência será socialista – mais do que de forma latente ou oculta como com a III Revolução Industrial – quando der base ao desenvolvimento da nova forma social, suas tecnologias, etc.

Entre as condições para a revolução mundial encontra-se um alto desenvolvimento da ciência e da técnica. É preciso grande conhecimento das propriedades do mundo, de suas possibilidades, de sua natureza e de sua história para revolucionar a sociedade. Enfim, é preciso que o homem tenha produzido as condições para perceber que “somos uma forma do cosmos conhecer a si mesmo” (Sagan). Tal identidade entre sujeito e objeto deve estar latente, ainda exigindo uma nova revolução científica, para sua realização socialista.

 

 

Bibliografia

Carcanholo, R. A., & Sabadini, M. d. (08 de 02 de 2011). Capital fictício e lucros fictícios. Acesso em 27 de 09 de 2020, disponível em Calameo: https://pt.calameo.com/read/0001407496d6f221bb9b0

Cunha, E. (2002). Os Sertões (Campanha de Canudos). São Paulo: Martin Claret Ltda.

Hegel, F. G. (1995). Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio. São Paulo: Loyola.

Jammer, M. (2011). Conceitos de Força - Estudo sobre os fundamentos da dinâmica. Rio de Janeiro: Contraponto : Ed. PUC Rio.

Lukács, G. (2018). Prolegômenos e para ontologia do ser social. Maceió: Coletivo Veredas.

Marx, K. (2013). O capital I. São Paulo: Boitempo.

Postone, M. (2014). Tempo, trabalho e dominação social: uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. São Paulo: Boitempo.

Trotsky, L. (15 de 05 de 2019). Uma Oposição Pequeno-Burguesa no Socialist Workers Party. Acesso em 11 de 02 de 2020, disponível em Mia - arquivo marxista na internet: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1939/12/15_01.htm

 



[1] Se mantemos analogia com a matemática, podemos nomear formulações como “o finito é o infinito no devir” como equações qualitativas ou equações categoriais, não quantitativas em si. Vale lembrar: em Hegel, o juízo-silogismo não se confundem de todo com fórmulas como A = A e não-A.

[2] O marxismo sociológico e dogmático, ao que parece, terá dificuldade de ver nossa ontologia, incluso o fato de o ser social ser a realização, por transcendência, da teleologia do ser biológico. Vejamos um aspecto central. Para se reproduzir, os animais têm cio, mas os homens e os golfinhos copulam por prazer, não apenas para reprodução – e ambos são excepcionalmente inteligentes. A diferença é que o homem tem a mão enquanto primeira ferramenta, o que permite maior desenvolvimento, embora seu cérebro seja menor relativo àquele; a função do ser biológico é pôr o mesmo, enquanto nós transcendemos isso por meio disso próprio; mais do que isso: a pulsão sexual, ou a pura pulsão, que é energia, é, como diz Freud, sublimada, incluso por meio da inteligência e do trabalho; quando Marx diz que o materialismo afirma que o homem primeiro deve satisfazer suas necessidades práticas, isso inclui as necessidades sexuais, que são mediadas ou sofrem sublimação – eis a unidade de ambos os autores.

[3] É o tipo de construção que nos faz supor que tempo e “esforço”, ou tempo e energia, são o mesmo, uma igualdade. A união das reflexões deriva, portanto, em simplificado, isto:

Movimento = tempo = energia = espaço = matéria

Ou

Energia = espaço = matéria(-massa)

Tal é nossa proposta de teoria de tudo, do todo – simples e elegante equação unificada. Espaço = matéria. A equação encontrará logo caminhos e provas, por exemplo, deixando de lado a quarta dimensão espacial que se expressa também como tempo, 1) espaço é tempo para Einstein; 2) sabemos que a aceleração (movimento) altera a massa-matéria, além do tempo; 3) Dizemos E=m, energia é igual à massa-matéria, mas E (energia) também é igual àquela constante, velocidade da luz ao quadrado, ou seja, ao movimento. Os 5 elementos de base da física são, portanto, o mesmo e unidade na sua diversidade.

[4] O método hipotético-dedutivo parte de um problema para elaborar uma hipótese e, enfim, testá-la. O método dialético, ao contrário, caminha-se direto para a totalidade dos dados do real até encontrar seu nexo interno. A dialética evita princípios a priori, hipóteses antecessoras, premissas ou postulados na pesquisa. De qualquer modo, porque busca apreender e expressar a lógica própria da realidade, as categorias do dialético ajudam a secundária intuição científica – tendo-se claro que nunca impomos um modelo logicista ao objeto, ao contrário, extraímos as próprias leis concretas do movimento, da contradição e da totalidade dele e nele.

[5] Se a hipótese demonstrar-se, no fundamental, correta, então outra hipótese poderá ser considerada: alguns universos que influenciam a expansão do nosso podem ser formados por antimatéria (talvez até a antimatéria que não se aniquilou após o big bang), atraindo nossa matéria.

[6] Isso aponta uma resolução do mau uso da dialética e uma possível solução. Proudhon pensou a tese e a antítese, sem chegar ao menos na síntese, como se tudo tivesse dois lados, o bom e o mau; Marx refuta tal método pobre (Marx, Miséria da Filosofia - Método, 2013) com o exemplo da escravidão, que nada tem de positivo (mas, destacamos para nosso argumento, a escravatura é típica de um sistema anterior). Algo mais sofisticado fez Della Volpe ao afirmar que as contradições são resolvidas tirando o negativo (no sentido de qualidade) e livrando o positivo; por exemplo: há contradição entre produção social e apropriação privada – o que fazer?: Manter o primeiro e encerrar o segundo – uma vez que seriam apenas externos um ao outro. Moreno critica este último autor por não ver que toda contradição está em uma unidade necessária, relação e totalidade (Moreno, Lógica marxista e ciências modernas, 2007, pp. 46, 47, 48). O instinto de Proudhon e a elaboração parcial de Della Volpe ocorrem porque, como dissemos acima, o capitalismo é rebaixado à condição de mera transição entre as sociedades classistas e a sociedade socialista. O atual modo de vida, dessa forma, tem em si aspectos do futuro, embora preso ao passado. Assim: a internacionalização das forças produtivas entram em contradição com os limites nacionais, sendo estes últimos superados; a contradição entre proletariado e burguesia resolve-se suprimindo esta enquanto aquela gradualmente deixa de ser classe; as forças produtivas são preservadas e desenvolvidas com a supressão das antigas relações de produção; sem supor o grau de automação hoje, Marx afirma em O Capital que a mesma maquinaria que serve ao domínio capitalista e produz o “necessário” exército industrial de reserva também serve por excelência para acabar com o desemprego reduzindo a jornada de trabalho no socialismo (neste sentido, não há desemprego tecnológico propriamente); o capitalismo precisa desenvolver a ciência ao mesmo tempo em que busca limitar a erudição das massas e ligá-las à religião; o sistema capitalista maduro produz momentos de pleno emprego como sintoma de possibilidade socialista, mas precisa da crise posterior para “normalizar” o sistema, para mantê-lo; afirmar que o comunismo já existe, ao menos em modo larval, no movimento operário é uma forma de demonstrar isso, etc.

Para que evitemos confusão com as categorias, destacamos que a dialética hegeliana e marxista parte do “nem positivo nem negativo” que avança a si mesmo para uma relação de positivo (não no sentido de qualidade, mas no sentido de afirmar-se na realidade) e negativo; logo depois essa oposição é superada em um novo ”nem positivo nem negativo”, pois também o próprio negativo, que está em “desvantagem”, é superado. Por exemplo: do artesão, nem positivo nem negativo, avançou-se para o positivo, burguesia, e o negativo, proletariado, e o socialismo superará tanto o positivo quanto o negativo, o fim da existência de classes sociais.

[7] Embora não tenham desenvolvido, Reinaldo Carcanholo e Maurício Sabadini perceberam que há dialética real-fictício antes do autor destas palavras. Ver: (Carcanholo & Sabadini, 2011). Chegamos ao mesmo peso das categorias por vias independentes, embora apenas agora haja “formalização”.

[8] a dialética nunca escolher categorias para aplicá-las na realidade, a pesquisa descobre as categorias necessárias.

[9] Ele afirma que os três elementos degeneram se são transformados em mercadorias. O argumento é sofisticado, mas errado. Eles entram em decadência porque já são mercadorias reais – porque, como dissemos em nota de rodapé anterior, o capitalismo é uma transição.

[10] Lukács nega o nada da ontologia lógica de Hegel, afirmando apenas o ser; o nada seria um idealismo enquanto o ser, um materialismo. Se a ciência e a filosofia deixarem definitivamente de lado a nadidade, apenas se, então a oposição torna-se entre ser e movimento; mas a verdade deles não está neles nem nesta afirmação de cada qual separados, mas na identidade e unidade de ambos, no vir-a-ser, no tornar-se, no devir. Dito de modo cru: Ser é movimento. Nossa língua expressa isso: os verbos Ser e Ir têm as mesmas palavras no passado – eu fui, ele foi –, expressão de tal unidade.

[11] Para Aristóteles, era um artifício para fins práticos. Ricardo chega a considerar a objetividade do valor, mas também acaba por cair no valor subjetivo. A economia vulgar retomou a ideia com o valor como subjetivo.

[12] Movimento é equivalente filosófico de mudança, deslocamento e, complementamos, mudança por deslocamento. Movimento é mais do que eterna repetição – é transformação, é desenvolvimento. Apenas permanece aquilo que muda.

[13] Em O Capital, o livro I prioriza – logo não exclui os demais em si – na tríade a contradição, como com a luta de classes (lembremos, porém, que contradição dialética não é igual a conflito, como pensa-se vulgarmente, embora possa também sê-lo em alguns casos); o livro II prioriza o movimento como sua categoria base primeira; o livro III, a totalidade, logo a totalidade que inclui contradição e movimento de modo pleno, total. A seção VII, O processo de acumulação do capital, última do tomo, do Livro I, marca a transição para o Livro II ao aumentar o relevo da categoria movimento; já no livro II, a seção III, A reprodução e a circulação de todo o capital social, também última do tomo, marca a entrada da totalidade como transição para o livro III. Esta é uma linha de pesquisa que ofereço a quem se interessar por desenvolvê-la.

[14] Por sua vez, cada uma das categorias, como tríade una, responde a uma “estrutura”: a totalidade exige, antes, integração; a contradição deriva de interação, incluso autointeração; movimento pressupõe pulsão. Esta observação merece um estudo próprio, ainda inexistente. Quando dizemos totalidade, dizemos a integração numa totalidade; quando dizemos contradição, dizemos relação contraditória; apenas movimento permanece nos dois “níveis”, sem sugerir pulsão.*

 

*Se nos for permitido alguma digressão, ver-se relação direta com a natureza humana: integração – ser integrado; relação – ser mutualista; movimento – ser ativo, ativismo. Uma reflexão rápida dirá que isso demonstra que o homem é a realização dialética da dialética da matéria; nós dizemos, com a devida dubiedade, que se trata de uma coincidência total. Suprassume-se Heidegger.

[15] A ideia de totalidade falsa adquire um significado novo e totalmente diferente nesta obra, onde o fictício ou imaginário desenvolve-se no ocaso do sistema. Suprassumimos a concepção de Adorno.

[16] Diga-se de passagem, confundir totalidade com totalitarismo é um erro primário.

[17] Há um adicional. Pessoas que passam, desde a juventude em especial, por tensões psicológicas constantes, frutos de problemas familiares etc., têm mais necessidade de entender o mundo, logo mais instinto dialético.

[18] Mesmo em muitos casos atípicos aos temas preferidos por eruditos, a visão acima aparece.  O sistema de combate Wing Chun oferece um exemplo: a oposição entre a postura do arqueiro (boxe, karatê, capoeira, etc.) – base mais firme com menor capacidade de manobra, peso maior sobre a perna dianteira, etc. – e a do gato (Muay Thai, etc.) – base mais móvel com menor capacidade de sustentação, maior peso sobre a perna traseira, etc. –, boas e ruins segundo suas características e qualidades-limites, são nesse aspecto melhoradas pela base do Wing Chun, que distribui o peso corporal 50-50, igual para as duas pernas, numa postura a mais próxima da natural humana (os joelhos para dentro de algumas escolas é exotismo e erro), permitindo uso máximo tanto da mobilidade e das possibilidades de golpes e defesas com as pernas quanto de firmeza, sustentação, etc. As concepções opostas acabam por ser melhor compreendidas e, considerando-as, superadas por uma terceira concepção.

[19] Dito der outra maneira. O procedimento é a pesquisa, não apenas o trato lógico, para resolver as oposições.