terça-feira, 13 de julho de 2021

Preço de monopólio: tendência e contratendências

O texto abaixo foi escrito para uso pessoal, como esboço. É uma pré-pesquisa, antes de qualquer debruçamento nas elaborações sobre o tema na história do pensamento econômico. Portanto, por haver aí algum plágio inconsciente. Como veremos, tenta-se superar a tese pobre de que o preço seria indicativo direto do grau de monopólio.


PREÇO DE MONOPÓLIO: TENDÊNCIA E CONTRATENDÊNCIAS

 

Lenin e Trotsky, tal como outros, perceberam a crise sistêmica rumo ao seu fim enquanto falhas e desvios na legalidade, nas leis, do modo de produção capitalista. São, então, sintomas ou manifestações.

Muitos marxistas perceberam o preço de monopólio enquanto desregulação do centro de gravidade do valor e do preço de produção sobre os preços reais, de mercado. Nisto há certo consenso. Mas, logo: o que regula os preços de monopólio? O valor, ainda que de modo mais indireto. Talvez caiba aos marxistas a tarefa longa e difícil de serem detalhistas nos fatores estudados, elencando as interinfluências, tal qual Marx fez sobre alguns temas.

A questão fica mais simples se observarmos do seguinte modo: o monopólio tende, em si, a elevar indefinidamente o preço de mercado de suas mercadorias – inflação constante, crescente; por isso, temos de ver, tomando a teoria do valor por base teórica, quais fatores impedem e constrangem tal medida. Quais as contratendências em geral causadas pela própria tendência? Como a causalidade tem efeitos opostos?

Façamos um esforço. Para isso, abstraiamos os resultados do capitalismo concorrencial ainda presente e tratemos a legalidade monopólio-preço de monopólio. Tanto quanto possível, o trato mais direto, puro e abstrato serve de recurso metodológico para interligar, em seguida, com o conjunto das leis fenomenológicas, no nível aperencial ou da circulação de mercadorias (não confundamos com circulação do capital).

Partamos aos próximos parágrafos, listemos.

1)      Há concorrência de monopólio – entre oligopólios – impedindo a elevação excessiva de preços. Por si, isto impede a elevação, e pode mesmo reduzir. Se uma empresa controla o mercado de um país e eleva demasiadamente seu preço, isto gera problemas econômicos e políticos tendendo a rupturas, ou seja, a facilitar abertura do mercado à concorrência externa.

 

2)      Um preço demasiado elevado gera luta de classes e, isto incluso, luta de classes dentro da burguesia. Certa matéria-prima sob monopólio não pode aumentar seu preço ao ponto de destruir a galinha dos ovos de ouro, as empresas compradoras do produto para transformá-lo. Só pode fazê-lo relativamente, o que reduz a própria demanda – pressão para queda dos preços. Quando isto é feito parcialmente ocorre luta de classes interssetorial, porque há transferência de mais-valor em forma de lucro de um setor para outro, e entre classes antagônicas (a burguesia pode tentar transferir o custo acrescido com capital constante com redução de salários ou a matéria-prima em questão afeta o poder de compra real dos salários, etc.). O aumento artificial do preço da gasolina no Brasil, seguindo paridade com os preços internacionais, tem gerado duras lutas, inda que atrasadas (aqui, vale destacar, a esquerda radical é de tal forma débil que sequer chamou ou chama por uma redução do preço do combustível, como de 6,20 reais o litro para 3,50).

 

3)      Por maior que de fato seja, nenhum monopólio planifica a totalidade da economia, algo puramente socialista, estando, pois, dependente das variações conjunturais do capitalismo, afetando oferta e demanda. Isto força alterações no preço de monopólio, para baixo e para cima.

 

4)      A monopolização, ao planificar produção e preço, pode supor preços diferenciados para ambientes de comércio diferenciados. Por exemplo: a empresa Coca-Cola oferece um preço de, supomos, 1,50 reais para seu produto num mercadinho e 3,00 reais para o mesmo produto num bar ao lado, pois percebe possibilidades de demanda diferentes. Este cálculo, em parte arbitrário, toma a experiência prática e pode regular-se de modo inexato por ela. Isto também pode acontecer na venda em diferentes países.

 

5)      O preço de monopólio elevado eleva as tensões gerais da concorrência entre diferentes setores, afetando a geopolítica, gerando manobras enquanto tentativas de superar o constrangimento do preço elevado. Um exemplo particular do processo geral: certa nação pode bloquear o monopólio de outro país por meio de altas tarifas de importação ao mesmo tempo em que o Estado financia o surgimento de uma empresa monopolista de seu próprio país já que os preços altos estimulam investimento.

 

6)      Se há concorrência entre monopólio e empresas menores, o monopólio pode reduzir seu preço, mesmo afetando enormemente seus lucros, para forçar fusões e falências. Porém, se a empresa, em circunstâncias parecidas, opera a preços visivelmente abusivos e constrangedores, estimula a formação de outras empresas ou crescimento delas, pois a demanda se transfere para estas caso ponham preços compensadores. Isto, porém, exigiria grande erro de medida da parte da empresa dominante.

 

Por isso, supomos um planejamento às avessas, um planejamento de lucro, um plano central pelo mais-valor extra. Há inúmeros constrangimentos a um preço em demasia elevado; por mais que a obitação dos preços em relação aos valores seja de fato parcialmente desregulado, ela ocorre enquanto sintoma de um sistema tendendo a ser superado.

 

7)      A empresa a exercer o monopólio consegue, dentro dos limites postos, limitar sua produção; mas sua oferta máxima não pode acompanhar, de imediato, a demanda ainda mais elevada. Eis uma vantagem, a elevar os preços de mercado, que também pode transformar-se em desvantagem. Agreguemos o fator cultural: a empresa alemã Wolksvagem pôde instalar-se nos EUA porque a demanda por carros não poderia ser atendia em médio prazo pela Ford; e nisto pesa o perfil daquela população, onde seria natural o trabalhador ter um automóvel. O monopólio, ao desestimular investimento, cria uma armadilha para si.

 

8)      Há uma percepção mais abstrata. O preço elevado de monopólio tende a impedir a demanda, reduzindo-a; mas este preço elevado continua, pois mais que compensa a perda parcial de demanda. Há um ponto, porém, ao continuar a elevação dos preços, em que a demanda começa a se reduzir continuamente, afetando o lucro, (ou estimulando os fatores acima expostos, mas estamos abstraindo deles); neste caso, encontrou-se um preço limite, um tanto abaixo daquele a gerar crise. Porém, este não é estável nem natural, estando subordinado à totalidade dos fatores.

 

9)      A mercadoria do monopólio pode ser parcialmente ou totalmente substituída por semelhantes, por renovações, por cópias ou por falsificações. Exemplo da Microsoft, pois seus preços elevadíssimos produziram a cópia ilegal, além do programa alternativo e gratuito Linux (como o Ubuntu).

 

A questão está em perceber o “preço de monopólio” enquanto também não estático e não determinado em absoluto pela empresa monopolista. Nas análises concretas, observamos os fatores que permitem ou impedem a elevação e a queda. Exemplo: o preço da gasolina no Brasil subiu sob justificativa de que a demanda mundial estava elevada e, logo, deveria existir correção dos preços; mas a queda do preço do barril de petróleo abaixo do preço de produção no mercado mundial faz o preço da gasolina… subir. Não só pela privatização da Petrobrás, exigindo funcionar ainda mais sob a lógica do lucro, a elevação dos preços internos permite não falir a empresa diante da crise global no setor. Isto, por outro lado, constrangeu os demais setores internos e tendeu à elevação dos preços finais (custos de transporte, etc.). Se há menor inflação no Brasil ou deflação, dar-se por queda do consumo, da produção, elevadíssimo desemprego, etc. constrangendo os preços.

Extraímos duas questões metodológicas: não avaliamos a questão desde a megaempresa individual mas pela totalidade e consideramos fatores extraeconômicos. A economia “pura” de nada nos serve.

Ao expor a diferença da composição orgânica dos capitais concorrentes, Marx demonstrou, Livro III, a formação do preço de produção desde a taxa média de lucro afastando este do valor produzido em separado nas empresas, acima ou abaixo deste valor; desta variação, pôde demonstrar o valor de mercado enquanto um valor médio, não estável, em torno do qual as condições de oferta e demanda fazem o preços de mercado, preços reais, orbitarem. A relação entre central e orbitante, semelhante em comparação a uma estrela orbitada por planetas com suas luas, passa do valor orbitado para o preço de produção, por sua vez orbitado pelo valor de mercado e, em seguida, preço de mercado.

            O preço de monopólio faz parecer que a tendência real é elevação monopolística constante dos preços de mercado gerando as próprias contratendências.[1] Isto está certo, embora também errado, dentro dos limites do sistema. Porém, o monopólio aponta, em essência, o fim do preço no planejamento geral socialista, preparado pela atual fase do sistema. É uma resistência, um modo inverso, ao fim da manifestação empírica do valor, o valor de troca preço.

 



[1] Estamos abstraindo na análise os elementos do parágrafo anterior, a citação resumida de longos capítulos d’O Capital III.