segunda-feira, 6 de abril de 2020

Por que ainda não é hora de chamar “Fora Bolsonaro"


A análise marxista alcança caracterizações e elabora políticas a partir do empírico. O “abaixo o governo” é convocado quando a queda deste está latente na realidade, quando é possibilidade pronta para ser necessidade. Qual o critério, então, para o “fora”? A condição é a baixa popularidade do executivo. Vejamos se é o caso:


Fonte: XP Investimentos[1]

Percebemos que há mais aceitação do governo, acima de 50%, que sua rejeição, 42%. Por si, tal estatística anula a palavra de ordem contra Bolsonaro. Segundo o Instituto Datafolha, 59% dos brasileiros rejeitam o impedimento do presidente.

Precisamos, antes, desmoralizar o governo reacionário para, em seguida, exigir sua derrubada. E a melhor forma de fazer isso, talvez a única, é forçar medidas cada vez mais radicais em defensa da vida e dos trabalhadores contra a crise sanitária.

Enquanto o apoio de massas existir, o governo apenas cai, se cair, por golpe.  Para sua derrubada por meio da luta, sequer é preciso que a classe média aristocrática e a burguesia tenham rompido com o governo federal; basta que a maioria da classe trabalhadora e setores populares estejam decepcionados e raivosos. Mas tal momento ainda não chegou.

Há ainda dois fatores que precisam entrar no cálculo. De um lado, se os protestos forem precipitados, os militares podem, aproveitando o momento, destituir o presidente – por diferentes meios – e iniciar um governo militar “puro”. Isso seria um golpe como antessala de um possível fechamento qualitativo do regime. Lembremos que no Egito os militares destituíram o governo, aparecendo como aqueles que fizeram a vontade dos protestos de massas. De outro, Mourão aguarda o mandato concluir os dois primeiros anos para avaliar a possibilidade de ser presidente, tal como fez Michel Temer.

Quando formos lançar de modo correto o “Fora Bolsonaro”, no momento em que o governo perder a maior parte do apoio social, muito provavelmente teremos de chamar por eleições gerais no lugar da simples queda da figura pública ou da junta governamental.

O erro da correntes de esquerda em precipitar a palavra de ordem tem duas origens. A primeira é a ansiedade política, a tensão de saber estar diante de um governo muito perigoso, a pressa em resolver a conjuntura. A segunda é o oportunismo de querer parecer os mais revolucionários e radicais perante a vanguarda militante e os ativistas, atraindo-os para si, e desejar se diferenciar a qualquer custo de outras correntes.

Enquanto tiver apoio popular e capacidade de implementar os ataques contra os trabalhadores, o governo não cairá nem pelas ruas nem por golpe. O chamado recente à renúncia é sintoma, nada mais que isso, de uma condição que ainda está, de modo embrionário, se gestando na realidade. Os comunistas, que devem ser ousados, devem também ter paciência histórica.





[1] Retirado de: https://www.cartacapital.com.br/Politica/popularidade-de-bolsonaro-cai-e-do-congresso-aumenta-revela-pesquisa/