A análise marxista alcança caracterizações
e elabora políticas a partir do empírico. O “abaixo o governo” é convocado
quando a queda deste está latente na realidade, quando é possibilidade pronta
para ser necessidade. Qual o critério, então, para o “fora”? A condição é a
baixa popularidade do executivo. Vejamos se é o caso:
Fonte: XP Investimentos[1]
Percebemos que há mais aceitação
do governo, acima de 50%, que sua rejeição, 42%. Por si, tal estatística anula
a palavra de ordem contra Bolsonaro. Segundo o Instituto Datafolha, 59% dos
brasileiros rejeitam o impedimento do presidente.
Precisamos, antes, desmoralizar o
governo reacionário para, em seguida, exigir sua derrubada. E a melhor forma de
fazer isso, talvez a única, é forçar medidas cada vez mais radicais em defensa
da vida e dos trabalhadores contra a crise sanitária.
Enquanto o apoio de massas
existir, o governo apenas cai, se cair, por golpe. Para sua derrubada por meio da luta, sequer é
preciso que a classe média aristocrática e a burguesia tenham rompido com o
governo federal; basta que a maioria da classe trabalhadora e setores populares
estejam decepcionados e raivosos. Mas tal momento ainda não chegou.
Há ainda dois fatores que precisam
entrar no cálculo. De um lado, se os protestos forem precipitados, os militares
podem, aproveitando o momento, destituir o presidente – por diferentes meios –
e iniciar um governo militar “puro”. Isso seria um golpe como antessala de um
possível fechamento qualitativo do regime. Lembremos que no Egito os militares
destituíram o governo, aparecendo como aqueles que fizeram a vontade dos
protestos de massas. De outro, Mourão aguarda o mandato concluir os dois
primeiros anos para avaliar a possibilidade de ser presidente, tal como fez Michel
Temer.
Quando formos lançar de modo
correto o “Fora Bolsonaro”, no momento em que o governo perder a maior parte do
apoio social, muito provavelmente teremos de chamar por eleições gerais no
lugar da simples queda da figura pública ou da junta governamental.
O erro da correntes de esquerda
em precipitar a palavra de ordem tem duas origens. A primeira é a ansiedade
política, a tensão de saber estar diante de um governo muito perigoso, a pressa
em resolver a conjuntura. A segunda é o oportunismo de querer parecer os mais
revolucionários e radicais perante a vanguarda militante e os ativistas, atraindo-os
para si, e desejar se diferenciar a qualquer custo de outras correntes.
Enquanto tiver apoio popular e
capacidade de implementar os ataques contra os trabalhadores, o governo não
cairá nem pelas ruas nem por golpe. O chamado recente à renúncia é sintoma,
nada mais que isso, de uma condição que ainda está, de modo embrionário, se
gestando na realidade. Os comunistas, que devem ser ousados, devem também ter
paciência histórica.
[1] Retirado
de: https://www.cartacapital.com.br/Politica/popularidade-de-bolsonaro-cai-e-do-congresso-aumenta-revela-pesquisa/