quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O TROTSKYSMO PRECISA RETOMAR O PROGRAMA DE TRANSIÇÃO!


O TROTSKYSMO PRECISA RETOMAR O PROGRAMA DE TRANSIÇÃO!

           
Desde que a crise começou, o Brasil tem vivido sob o programa neoliberal que visa precarizar as relações de trabalho para melhor explorar a classe trabalhadora. Os representantes do capital – de Levy a Guedes – cumprem suas funções de modo disciplinado. Os comunistas, por outro, ainda não apresentaram, em contraposição, seu próprio programa. No entanto a crise exige a apresentação de um programa de transição típico para tais momentos históricos. A pergunta militante deve ser feita: quais as palavras de ordem necessárias para esta conjuntura?

O MÉTODO DO PROGRAMA DE TRANSIÇÃO

O programa de transição parte de uma contradição vital: a realidade pede socialismo, o capitalismo está em crise, mas a consciência dos trabalhadores é reformista. Assim, um programa transicional pega as características totais da primeira etapa do socialismo e as transforma em palavras de ordem práticas, que parecem reformas viáveis diante do desespero social.
As propostas transicionais enfrentam as leis inerentes do capital. Demonstremos com a proposta deste artigo. Desde 2015, o desemprego, o subemprego e o trabalho de “bico” são maiores que o número de empregados formais no Brasil. O capitalismo precisou repor o “exército industrial de reserva”, uma superpopulação relativa artificial, para jogar a crise sobre os trabalhadores – eis o programa da FIESP! Uma massa de desempregados lutando por emprego, aceitando salários baixos e condições precárias, é uma lei do sistema. Qual solução os socialistas podem propor? Esta: “Desemprego Zero! Redução da jornada de trabalho, com o mesmo salário, de modo a empregar toda a mão de obra disponível!” Tal “reforma” em si apenas pode ser implementada desde a crise por meio de uma revolução, logo a luta pela pauta, se abraçada pela maioria dos trabalhadores, conduzirá a uma situação revolucionária…
A “escala móvel de horas de trabalho” é a principal proposta para esta conjuntura uma vez que o desemprego crônico é um problema desesperador e imediato. Ela tende a unir o trabalhador, que está sofrendo duras pressões nas empresas, e o desempregado, que precisa de uma perspectiva.
Levemos em conta o progredir dos fatos. O baixo crescimento econômico até 2014 foi acompanhado pelo pleno emprego, que levou a uma onda de greves com muitas vitórias parciais. O desemprego baixo deu confiança aos trabalhadores para lutar. Por isso a burguesia pediu mudança na política econômica, dando a forma típica da crise, pois havia pressão salarial sobre os lucros e os trabalhadores ganhavam força.
Se queremos novas lutas gerais, temos de responder com certa radicalidade aos problemas radicais. O trotskismo e demais correntes de esquerda não petistas podem unir-se em torno da pauta de redução da jornada a níveis de pleno emprego em forma de campanhas e um encontro nacional (que pode acontecer ao mesmo tempo em vários estados). Podemos tornar popular a palavra de ordem por meio de cartazes, panfletos, etc. nas principais fábricas e bairros populares. De início, pode haver certo ceticismo dos trabalhadores, mas, na medida em que a situação não muda drasticamente, ela se converterá em motor de ação e será aceita por amplas camadas entre os assalariados.

TER ALGO A PERDER

Marx disse que os trabalhadores não tem nada a perder. No entanto conseguimos alguns poucos direitos, certos aspectos do passado nos interessam. O movimento comunista pode somar duas ou três palavras de ordem centrais, que guiarão a ação. Propomos:

1. Programa Desemprego Zero. Redução da jornada para XX horas (a ser calculado)!;
2. Cancelamento total e irrestrito das dívidas dos trabalhadores e pequenos empresários!


A terceira proposta será contra a contrarreforma em questão “contra a reforma trabalhista!”, “contra a reforma da previdência!”, etc. São os direitos retirados.
A proposta 2 merece algum esclarecimento. O endividamento geral é altíssimo graças ao método de agiotagem dos bancos. O ódio ao sistema bancário é geral entre os trabalhadores, então devemos apresentar uma proposta própria dos socialistas. Se os setores explorados se movem por ela em grandes batalhas de rua e encontram ampla resistência da burguesia, poderemos avançar para “Banco único do Estado!”.  Ademais, a elaboração atrai para a esquerda setores da classe média.


O FUTURO SOCIALISTA ESTÁ LATENTE

Até aqui, os marxistas ou reagem aos ataques ou adotam propostas keynesianas – dois métodos errados. É preciso compreender que o Brasil está tão maduro para o socialismo quanto pode estar uma nação subordinada na divisão internacional do trabalho. O capital vai cumprindo função contracivilizatório e é preciso um outro projeto de sociedade, ainda que seja apresentado de modo fragmentado e aparentemente reformista. Portanto precisamos de um programa de transição para ter uma ponte entre o programa mínimo e o programa máximo.
A crise que vem de 2008 e toma a forma destrutiva em terras brasileiras em 2015 é o sino da revolução mundial batendo. Se a revolução não vir, passaremos por algumas poucas décadas decisivas com crescimento curto ou anêmico e crises longas ou profundas. De imediato, o fraco crescimento do PIB por 3 ou 4 anos pode reaquecer a luta de classes, pois os desempregados não têm tempo a perder enquanto o nível de emprego cresce apenas de modo raquítico. As palavras de ordem aqui propostas – a de escala móvel de trabalho em especial – podem ter força revolucionária se são, em primeiro, assumidas pela vanguarda militante e, em segundo, pelas massas.
Precisamos de ousadia e retorno ao programa de transição!