UMA
VISÃO MARXISTA DO DINHEIRO MUNDIAL
Em outro esboço neste
blog, “Três capitais, três eras, três ciclos”, afirmamos:
“A mudança de lastro
(chamemos assim), ou seja, de centralidade-guia em cada uma de suas fases, do
desenvolvimento capitalista, parece oferecer-nos respostas a inúmeras
perguntas; uma delas: a atual potência do capital-dinheiro revela-se base e
origem oculta, na essência, do fim da equivalência dólar-ouro.”
Cabe-nos aqui
aprofundar esta percepção a partir deste abstraimento. A fase nomeada comercial
do capitalismo (século XVI ao XVIII) tendia a realizar-se, mercantilização
absoluta, somente no ciclo ou era seguinte; a fase industrial (século XVIII ao
final do XIX) desenvolveu-se e também tendia a realizar sua própria tarefa com
o auxílio da próxima era, a do capital financeiro (final do século XIX até os
nossos dias). Este último ciclo foi que consolidou as tendências das duas
anteriores, consolidou a hipertrofia da indústria e do comércio mundiais. Em
nosso entender, o final da década de 1970 foi o ápice da última fase do capital
que, diante de sua barreia interna, impossibilitado de deslocar-se para um
próximo ciclo, limitou-se a desenvolver os três capitais em alta potência (o
que explica o desenvolvimento dos capitais especulativo e parasitário); este
momento histórico é como um avião supersônico que, ao aumentar continuamente
sua velocidade, atravessa a barreira do som, gerando um estrondo[i] -- um "salto para si" que simboliza o ciclo de era do capital portador de juros, o último desse sistema econômico-social.
A partir disso, com
esta exposição geral, do altíssimo desenvolvimento capitalista, dialogaremos
agora sobre o dinheiro. Debateremos, em sequência: a) a relação
mercadoria-dinheiro; 2) o lastro em nosso ciclo-era; 3) o dinheiro mundial; 4)
os elementos conjunturais do tema; 5) o socialismo; 6) um resumo da crise do
aparato de repressão; 7) conclusão.
Em diante, as citações
de Karl Marx são extraídas de O Capital, livro I, edição da Boitempo, 2013.
FORMA-CONTEÚDO
A característica física
do dinheiro mundial segue o mesmo caminho do dinheiro nacional, mas em um ritmo
mais lento. A afirmação anterior será a tese defendida neste artigo. Quando a
equivalente geral nacional supera o escambo e a mercadoria-moeda (um produto,
como sal ou aguardente) e passa a adotar o ouro em especifico, o comércio
internacional ainda adota o primeiro suporte, o escambo. Assim, a lei mantém-se
enquanto tendência: quando o dinheiro nacional começa a expressar-se por meio
do papel-moeda lastreado em ouro (séx. XVIII, XIX), o dinheiro mundial segue
atrasado, ou seja, é o próprio ouro enquanto dinheiro mundial; quando a moeda nacional
deixa de lastrear-se em ouro, a sua versão internacional – a libra inglesa,
primeiro; o dólar, depois e até 1971 –, ao contrário e correndo atrás, continua
ainda lastreada em ouro, em equivalência. Depois, o padrão dólar-ouro é
rompido, mas continua a correr atrás da moeda nacional, pois a última começa um
passo novo: a digitalização por meio, em especial, dos cartões de crédito.
O dinheiro tende à
desmaterialização, embora esta tendência seja irrealizável de fato (explicamos
este processo nota de fim a seguir: [ii]);
ao mesmo tempo, o dinheiro mundial segue o mesmo caminho do nacional, mas em
atraso. A que se deve isto? A questão que se nos apresenta é: porque destas
duas leis? Ora, o capítulo I d’O Capital I demonstra o Valor e a construção da
“mercadoria das mercadorias” por um caminho: a relação conteúdo-forma: quanto
mais tipos, mais fluxo e mais troca de mercadorias (conteúdo) existentes – ou
seja, quanto mais complexo e ativo o movimento delas – cada vez faz mais necessário
destacar um elemento específico do conteúdo, elevá-lo, para que sirva de
equivalente geral (forma). Assim surge o sal como meio de troca; depois, ouro;
depois, o dinheiro-papel. O conteúdo – percebe a dialética –, neste caso, o mundo
das mercadorias, possui características inerentes, quais sejam, tendência ao
movimento, à instabilidade, à mudança, ao novo, à não-conservação. Por outro
lado, fruto da contradição interna do conteúdo, a forma também possui
singularidades: tende a conservar, à estabilidade, à constância. Como o
conteúdo, a forma tem duplo caráter: progressivo na media em que conserva
conquistas, consolida etapas; regressivo na medida em que tende ao conservadorismo,
à estabilidade, a entrar em importante contradição com as necessidades novas do
conteúdo. Portanto, pode haver contradição ente o conteúdo e a forma, que é
superada – cedo ou tarde – a favor conteúdo, fazendo surgir uma forma nova.
Por isso, o ouro foi necessário
como equivalente geral, expressão do valor, por suas características físicas em
uma etapa específica de complexidade, do fluxo de mercadorias. Mas pela mesma
razão – as características físicas – tornou-se uma forma atrasada, lenta, para
poder seguir o conteúdo, a evolução do capitalismo, ou seja, o cada vez mais
intensivo e extensivo mercado. Esta é a explicação geral para a lei da
tendência à desmaterialização do dinheiro. O valor-capital domina cada poro do
mundo, progressivamente, como se assim, dominador protagonista, cada vez mais
fácil fosse expressar seu quase-ser na forma-equivalente geral.
Karl Marx, embora não tenha
percebido isto com clareza, presenteia-nos ele mesmo com a tese:
“Título de ouro e
substância de ouro, conteúdo nominal e conteúdo real iniciam seu processo de
separação. (…) Se o próprio curso do
dinheiro separa o conteúdo real da moeda de seu conteúdo nominal, sua
existência metálica de sua existência funcional, ele traz consigo, de modo
latente, a possibilidade de substituir o dinheiro metálico por moedas de outro
material ou por símbolos. A dificuldades de cunhagem de moedas muito pequenas
de ouro ou prata e a circunstância de que metais inferiores foram originalmente
usados como medida de valor no lugar dos metais de maior valor – prata em vez
de ouro, cobre em vez de prata – e desse modo, circulam até ser destronados
pelos metais mais preciosos, esclarecem historicamente o papel das moedas de
prata e cobre como substituta das moedas de ouro. Tais metais substituem ouro naquelas esferas da circulação das
mercadorias em que a moeda circula com mais rapidez e, por isso, inutiliza-se
de modo mais rápido, isto é, onde as compras e as vendas se dão continuamente
de modo mais rápido, isto é, onde as compras e as vendas se dão continuamente
numa escala muito pequena.” (p. 199, grifo nosso.)
E completa:
“Para impedir que estes metais satélites tomem definitivamente (! –
exclamação nossa) o lugar do ouro,
determinam-se por lei as proporções muito ínfimas em que eles podem ser usados
no lugar desse metal.” (Idem, grifo nosso.)
Percebemos que o Estado
intervinha contra a tendência ao desprendimento do equivalente geral do ouro. O
ritmo poderia – e conjunturalmente deveria – ser mediado pela equivalência,
porém, mais dia ou menos dia, o dinheiro estava destinado a abrir mão do lastro
em metal precioso; a causa é a fluidez das mercadorias e, por consequência, do
equivalente geral.
Quem sabe valha pousarmos
um pouco mais sobre o assunto; por outro modo de abstração, entre o ouro como
dinheiro e o papel-moeda sem lastro tivemos uma secular transição por meio do
dinheiro lastreado em ouro. Na prática e pela extensa duração, fora muito mais
que uma mera forma transitória, pois o lastro era necessário para o nível de
complexidade da circulação mercantil naquele e daquele momento histórico,
sendo, se vermos a dialética dialeticamente, “cada vez menos necessário” a
equivalência do ponto de vista do conteúdo-mercadoria (breve nota: a
forma-mercadoria é conteúdo na medida em que o equivalente geral se ergue, é
conteúdo quando referente ao dinheiro).
O suporte e a
forma-equivalente geral precisam, portanto, ser matéria capaz de acompanhar a
velocidade e o fluxo das mercadorias no tempo e… no espaço. Essa é uma das
razões da necessidade de expressar o valor cada vez mais tendencialmente
desmaterializado – embora esta lei nunca se realize em plena forma-pura –
durante o desenvolvimento do reino das mercadorias cada vez maior e cada vez mais
intenso, onipotente e onipresente. O capital procura,
portanto, um suporte para expressar valor que negue em si o duplo caráter da
mercadoria (ou seja, ter valor de uso e valor) e passe a expressar apenas o
valor das mercadorias sem, no entanto, ter um valor de uso próprio (ao
contrário do ouro ou prata); deve expressar a supremacia do valor sobre o valor
de uso; seu valor de uso é unicamente expressar valor e valor de troca.
Sigamos a velocidade
capitalista; as revoluções na produção produzem mais mercadorias, mais tipos e
vende-se em maior quantidade de espaços, distâncias e em menor tempo; logo, o
dinheiro deverá expressar esta agitação festiva do conteúdo. Estas mudanças
incluem a mercadoria dinheiro. Quando as revoluções do valor fazem surgir novas
tecnologias – máquina a vapor, eletricidade, a digitalização, a automação, etc.
– as técnicas novas fazem surgir, portanto, mercadorias novas e,
principalmente, quantidade nova de mercadorias no comércio. Logo, as inovações
técnicas renovadoras das mercadorias têm de renovar, também, a mercadoria-mor, o
equivalente geral, o dinheiro; mais uma vez, o dinheiro – mesmo considerando o
suporte – expressa a própria realidade em sua forma física, isto é, expressa o
desenvolver das forças de produção em forma corpórea.
Todavia, ainda possui
lastro.
LASTRO
HOJE
O dinheiro em geral,
seja qual for sua forma física, ainda possui lastro, que não é mais a mercadoria-ouro,
mas o conjunto das mercadorias*. Assim, o dinheiro recebido representa
idealmente o possível acesso a outras mercadorias, e mede-se assim; o valor
expresso no dinheiro é determinado por sua capacidade de prover acesso a
valores de uso[iii],
pois “todo linho no mercado vale como se fosse um artigo único, sendo cada peça
apenas uma parte alíquota desse todo. E, de fato, também o valor de cada braça
individual é apenas a materialidade da mesma quantidade socialmente determinada
de trabalho humano de mesmo tipo” (Marx, p. 181). Ou seja, mede-se o lastro[iv]
por sua proporção com essa substância geral, com o conjunto do valor por meio
da possibilidade de acesso a outros valores de uso – o valor expresso no
dinheiro é relativo ao valor geral, na manifestação fenomênica M-D-M
(mercadoria-dinheiro-mercadoria).
Um importante e
simbólico representante do capital e da burguesia, Adolf Hitler, demonstrou
intuir o lastro-valor ou lastro-mercadoria nesta citação a ele atribuída:
“Nós não éramos imbecis
ao ponto de tentar fazer uma moeda [lastreada em] ouro, do qual nada possuímos,
mas para cada marco que era emitido nós exigíamos um marco de valor de trabalho
feito ou de bens produzidos… nós ríamos das ocasiões em que nossos financistas
nacionais apregoavam que o valor de uma moeda é regulado pelo ouro e pelos
títulos do tesouro jazendo nos cofres do Banco Central.”[v]
O dinheiro virtual –
matéria expressadora do atual intenso fluxo mercantil globalizado – é lastreado
no… papel-moeda. Quando se paga no cartão de crédito supõe-se que esse
pagamento é substituível por papel pintado, que os bits são transformáveis em
dinheiro tão logo o suporte-cartão entre em contato com o banco, com o
caixa-eletrônico. De acordo com o debatido, o dinheiro virtualizado também
tende a perder seu lastro, tende a desprender-se do dinheiro-papel. Neste
sentido aponta a matéria a seguir, sobre a moeda da Suécia (junto a países como
a Suíça, é um histórico laboratório experimental da burguesia):
“Dinheiro [em papel] pode
sair de circulação na Suécia até 2030”
“O fim do dinheiro de
papel já é uma morte anunciada na Suécia: até 2030, as cédulas e moedas deverão
virtualmente desaparecer no país, que lidera a tendência global em direção à
chamada “sociedade sem dinheiro”. A projeção é do Banco Central Sueco.”
“É o prenuncio de uma
nova era, dizem especialistas. A previsão é de que, no futuro, as economias
modernas serão dominadas pelo uso do cartão e da moeda eletrônica em escala
mundial.”
“Na Suécia a
transformação é visível (…)”
“Novos dados do Banco Central indicam que as transações em dinheiro
representam, atualmente, apenas 2% do valor de todos os pagamentos realizados
na Suécia – contra a média de 7% no restante da Europa.”
(…)
“’A Suécia continua à
frente do resto da Europa em relação à redução do uso do dinheiro do papel. E
principalmente dos Estados Unidos, onde cerca de 47% dos pagamentos ainda são
feitos em dinheiro”, acrescenta Nilervail, que destaca os avanços dos vizinhos
nórdicos, Noruega e Dinamarca, na mesma direção.”
(…)
“Até nos quiosque de
flores do bairro de Odenplan, no centro da capital, um aviso foi colado:
“Preferência para pagamentos em cartão”. Feirantes e ambulantes também se
adaptam à tendência e trabalham equipados com leitores portáteis de cartões.’”[vi]
(Grifo nosso.)
Para que inexistam
dúvidas:
“Os principais bancos da Suécia vêm simplesmente parando de lidar com
cédulas e moedas: cerca de 75% de suas agências já operam sem dinheiro – com a
única exceção do Svenska Handelsbanken.”[vii]
(Grifo nosso.)
Como repetição
histórica, sabe-se que o dinheiro em ouro era constantemente roubado, e por
isso passou a ser guardado e substituído por um papel que o representava; assim
hoje, a atividade econômica “roubo” estimula e acelera o processo de
desmaterialização do dinheiro, como aponta também a matéria:
“Ladrões de banco vão
se tornado, assim, personagens do passado. O número de roubos em agências
bancárias vem atingindo o índice mais baixo dos últimos 30 anos, segundo a
Associação de Bancos Sueca.”
(…)
“Em 1661, as primeiras
cédulas de papel da Europa foram introduzidas pelo Stockholms Banco, o embrião
do Banco Central da Suécia. Agora, ironicamente, os suecos vão se tornando os
primeiros do mundo a desprezar o dinheiro vivo.”[viii]
No entanto, as
formas-suportes passadas do dinheiro não podem ser superadas em absoluto –
guardam alguma utilidade, alguma função. Quando o capitalismo emperra e sofre
por gastrite da superprodução, da crise, o ouro e prata passam a ter um papel
um pouco mais relevante (transferência de investimentos em ações para estas commoditys,
comércios específicos, custeio em conflitos miliares derivados – aliás – da
crise, etc.); mas nunca passará de um papel auxiliar, pois não representam em
absoluto as necessidades do valor e da intensa circulação de mercadorias. É
como quando, ao trocar de marcha para o necessário avanço do carro, o motorista
ver-se forçado a desacelerar um pouco, mas apenas para preparar um avanço novo;
a lei da tendência à desmaterialização do dinheiro é irrealizável, mas
irresistível – quando o capitalismo adoece por seu próprio câncer, ver-se
obrigado a praticar alguns hábitos já superados, da infância, mas apenas
enquanto novos aparelhos não resolvem seus problemas. Não apenas o ouro mas
também o escambo e outras mediações superadas pela história apresentam-se mais
fortes em momentos de crise, mas apenas comprovam seus papéis secundários,
velhos demais para representarem Romeu e Julieta. Enfim, em linguagem
dialética, o superior traz consigo elementos do inferior, o salto de qualidade
carrega dentro de si algumas características da qualidade superada.
Enquanto expressão,
quanto ao dinheiro digitalizado e aos cartões de crédito (para além de forma ímpar
para a maior importância atual do meio de pagamento relativo ao meio de
circulação), como explicamos em outro texto – Três capitais, três eras, três
ciclos –, “o equivalente geral dinheiro caminha-se para a “moeda única”: cartão
de crédito como suporte central e – expressão-do-valor/valor-de-uso! – bytes.”
Porém, sendo a moeda única mundial irrealizável, esta tendência ao suporte
único deve-se a outra tendência, a do conteúdo-mercadoria, também expressa no
texto citado:
“Em nossa época, a
relação valor-de-uso e valor tem produzido um novo fenômeno: ao dominar o duplo
caráter da mercadoria, o valor consegue uma façanha nova, qual seja: os
valores-de-uso tendem a desprender-se do suporte. Ilustremos: quantos objetos
das décadas de 1980 e 1990 cabem hoje em um único e pequeno aparelho? Quantas
utilidades, por meio de aplicativos, pode haver em um celular? Mesmo simples
produtos naturais como fruta transformável em suco pode ser substituído por um
pó químico que simula o sabor e o cheiro do produto – valor-de-uso – original.”
(…)
“Sob a óptica dialética
concreto-abstrato-concreto e concentração-centralização-central-orbitante; 1)
no princípio da relação mercantil, o produto-mercadoria era simples e
concentrado; 2) com o capitalismo amadurecido, surgiu cada vez mais novas,
variadas e especializadas formas de mercadoria disponíveis, vendáveis; 3) fase
imperialista, desenvolvimento e produção de mercadorias atinge o auge –
intensiva e extensivamente – e, por isso, agora tende à fusão, fim da relação
“alienada”, dos valores-de-uso e, por causa e consequência, da extração de
valor. E qual será o resultado final deste processo? Ao destruir o comércio, o
socialismo apresentará caminhos novos aos produtos; no momento, esta não é uma
preocupação nossa.”
(Disponibilizamos uma
nota de fim breve sobre a relação concreto-abstrato-concreto[ix].)
O dinheiro, como
principal mercadoria, expressa naturalmente este processo; expressa em sua
característica física. Os cartões de crédito surgem na década de 1950 e ganham
força em 1970, nos EUA, correspondendo – como veremos – a uma influência
dialética sobre equivalente geral mundial, que perderá de vez o lastro em ouro[x].
Como relação social e
fruto de uma relação social, o valor torna-se, continua-se crisálida e
cristalizado nas formas atuais de equivalente durante a troca, a compra-venda;
porque surge em relações de produção mercantis, porque este é o reino das
mercadorias, porque gera-se e afirma-se em relações sociais específicas e
atuantes, porque ainda há – e ainda mais há – a humanização das coisas e a
coisificação dos homens. O ouro é um objeto; os modos humanos de sociedade são,
por outro lado, estes sim, modos que dão sentido aos objetos, mesmo quando
estes últimos tornam-se encarnados por uma alma-substância estranha, por um
Deus do Tempo, por um Kronos abstrato e materialista[xi].
Assim igual, o
desprendimento do equivalente do lastro em ouro, ou seja, da produção nas
minas, da extração de ouro, é um sintoma do atual ciclo de era do capital: o
desenvolvimento da indústria e do comércio guiado pelo capital bancário, pelo
capital financeiro, pela fase imperialista, pela inflação dos capitais fictício
e parasitário, pelo crescimento do meio de pagamento (grosso modo, o pagar
parcelado) e pela essência capital-dinheiro; é uma inversão de motor central,
do guia. Dependente do capital-produtivo mesmo quando ver-se fictício, a fim de
não só dominar a indústria mas também desenvolvê-la, a essência
capital-dinheiro demonstra sua autonomia relativa[xii]
e em aparência por meio do fim da conversibilidade; por isso, precisa de um
pouco mais do que muita liberdade para cumprir sua missão, seu desejo, sua
tara, seu valor que se valoriza e seu dinheiro em busca de mais dinheiro.
Do mesmo modo,
percebemos: dinheiro = ouro representa e é típico do mercantilismo, do
capitalismo mercantil (século XVI ao XVIII); dinheiro = moeda com lastro em
ouro ou prata deriva do ciclo de era industrial do capitalismo, da revolução
industrial (século XVIII ao final o XIX); dinheiro = lastro no conjunto das
mercadorias representa a atual fase, o capitalismo imperialista, financeiro.
Basta-nos observar alguns fatos: o lastro em ouro fora rompido nas moedas nacionais
com a I Guerra Mundial, que é o anjo anunciador da fase imperialista; desde
então, o lastro foi descartado e as tentativas de retorná-lo foram teórico e
empiricamente abandonados. No mesmo sentido, por dificuldade em manter quantias
de metais em circulação (guerras, escassez do metal, alta circulação de
mercadorias), em meados do século XVIII, Estados e bancos utilizaram moedas em
papel ou em metal não-nobre para representar quantias em estoque possíveis de
acumular – antes, estas formas conversíveis eram embrionárias[xiii].
Percebe-se; a fase ou o
ciclo de era, e tudo quanto esta abstração conceitual representa, determina o
modo como o dinheiro encarna-se no mundo; claro também está que não é uma
determinação mecânica, mas é uma determinação ainda sim; a desigualdade evolutiva
e certos zigue-zagues acidentais apenas demonstram o quanto cada um desses três
momentos históricos do capital acaba impondo-se, fazendo valer a sua vontade.
Aqui está, na questão
do lastro atual, o problema-síntese do capital fictício.
DINHEIRO
MUNDIAL
Por ter um fluxo de
mercadorias menor e mais homogêneo em comparação ao nacional, o comércio
internacional segue o caminho do outro (escambo, ouro, dinheiro lastreado[xiv],
dinheiro não lastreado, etc.), mas o faz atrasado, ou seja, expressa a
intensidade de seu próprio conteúdo, o fluxo internacional de mercadorias.
O dinheiro mundial
também é lastreado pelo conjunto das mercadorias ou, mais exatamente, pelo conjunto
do valor. O fato de o dinheiro mundial ser o dólar[xv]
expressa um fator histórico: os EUA produzem e consomem parte significativa das
mercadorias de todo o mundo; natural, por conseguinte, que o lastro-valor
agarre-se a esta moeda – o domínio militar garantidor desta ordem é
consequência. O controle da Alemanha sobre o Euro possui o mesmo motivo. A
industrialização e urbanização da China (Imperialismo Sui Generis), pela mesma razão, coloca em decadência esta realidade[xvi].
Mais uma vez, percebemos como o equivalente geral expressa a realidade em sua
forma física. O melhor exemplo do lastro é a mercadoria mais importante e
cobiçada do mundo, o petróleo, na medida em que o império americano há muito
garante na diplomacia e na ameaça a compra internacional de ouro negro apenas
por meio de sua moeda, processo batizado “petrodólares”.
Outro modo de demonstrar o lastro do dólar percebe-se quando os EUA emitem moeda para "compensar" seu deficit na balança comercial, mantendo o nível de consumo interno. Assim, ao emitir de maneira "artificial" a moeda, o Banco Central força, de fato, o lastro-mercadoria; essa manobra gera inflação nos países exportadores para aquela, ou seja, a desvalorização da moeda nacional, um acréscimo relativo de fragilidade no lastro. Surge, por isso, da contradição inter-moedas, uma série de contradições sociais e políticas.
Outro modo de demonstrar o lastro do dólar percebe-se quando os EUA emitem moeda para "compensar" seu deficit na balança comercial, mantendo o nível de consumo interno. Assim, ao emitir de maneira "artificial" a moeda, o Banco Central força, de fato, o lastro-mercadoria; essa manobra gera inflação nos países exportadores para aquela, ou seja, a desvalorização da moeda nacional, um acréscimo relativo de fragilidade no lastro. Surge, por isso, da contradição inter-moedas, uma série de contradições sociais e políticas.
No futuro, o dinheiro
mundial virtualizado perderá seu lastro em papel-moeda; porém, apenas se a
normalidade anormal do capital permanecer. Há a possibilidade de uma revolução internacionalista
tornar as leis do capitalismo lembranças e História; também há outra hipótese:
se estamos no período de decadência do modelo imperialista, então o dinheiro
mundial em bits poderá ser lastreado em mais de uma moeda a depender das
circunstâncias da produção-comércio e dos próximos conflitos interestados e
seus resultados (não necessariamente um conflito mundial, embora exista esta possibilidade).
O dinheiro mundial, seguindo o caminho já trilhado pelo dinheiro nacional,
expressa e expressará ainda mais não apenas o capitalismo, mas também sua
própria decadência; a crise sistêmica coloca em crise suas próprias leis e
elementos sistêmicos. O dinheiro é uma expressão fetichista da
realidade onde circula-se; se o ouro e a prata, ambos, serviam ao comércio
mundial no século XIX, possível, a depender da luta de classes, incluso a
interburguesa, que o dinheiro virtualizado mundial lastrei-se em mais de uma
moeda nacional ou de blocos.
Os grandes fatos
positivos da História acontecem primeiro como ensaio, fato em si; depois, como
fato propriamente ou fato para si[xvii].
O dólar como dinheiro mundial expressa a necessidade de uma economia mundial
integrada, desprovida de fronteiras nacionais; mas expressa isso de modo
deformado pelo capital, pela dominação do homem pelo homem, de países sobre
países, do império. Alfa e ômega, consequência que age como causa, razão desumana,
o dinheiro pode e deve ser superado por meio de uma revolução mundial.
ELEMENTOS
CONJUNTURAIS DA CRISE SISTÊMICA
Cada uma com mais de um
bilhão de habitantes, a maioria no campo, Índia e China são as últimas
fronteiras do capital. Esta crise sistêmica pode ser mais longa e, por isso, mais
agonizante se o processo de urbanização – em uma quantidade enorme de pequenas
e médias urbanidades – fazer surgir uma nova geração de assalariados, ou seja, de
consumidores para a indústria e os bancos naqueles países. Ao que parece, a
crise arrasta-se desde a década de 1970 e tem por base a dificuldade de
valorização do valor por um meio todo especial: a automação, a robótica, a
microeletrônica e o desemprego estrutural; há – baseada na concorrência
monopolista, na crônica superprodução e na tendência à queda da taxa de lucro –
transferência de capitais dos países ricos para os pobres. A China, como exemplo-síntese,
agrada aos investidores pela matéria-prima disponível, funcionários mal pagos,
incrível mercado consumidor em potencial, ditadura não velada e desdém para com
os custos ambientais. Como causa, a decadência interna da fase imperialista
representa a decadência do capital, que necessita ir para estes países a fim de
sobreviver.
Líderes chineses
chegaram a propor a própria moeda como substituto do dólar ou um maior peso da
China nesta necessidade ou, mesmo, como propôs Soros, protagonismo Chinês em uma
solução em moeda substituta do dólar em um possível novo Bretton-Woods. Por
quê? Porque, como o dinheiro é lastreado no conjunto das mercadorias, o dólar é
o dinheiro mundial na medida em que os EUA produziam e consumiam a maior parte
das mercadorias mundiais; hoje, porém, a China tende a produzir e consumir
parte significativa das mercadorias e, logo, tende a ter protagonismo no lastro
e, por conseguinte, na futura solução da questão.
Neste sentido, uma III
Guerra Mundial é uma hipótese provável, embora um permanente conflito sem
confronto possa também ser uma mediação possível ou, às partes, desejável. No
caso Chinês, seu projeto pode desmoronar por falta de tempo em caso de
revolução em seu país ou em alguns países imperialistas. Por outro lado, não é
o império americano que está em decadência, mas a lógica do império e o próprio
capitalismo mundial; o imperialismo-mor apenas expressa isso como o ponto mais
alto de uma torre trêmula, a ponto de desabar. Estamos ainda na fase
imperialista, mas no período de
decadência, não de ascensão, dessa fase[xviii].
Nesse momento da
história a fórmula de Gramsci sofre uma inversão: o pessimismo da vontade como
polo oposto ao otimismo da razão. Do ponto de vista teórico, alcançamos o
momento ápice da substituição de sistema econômico-social, mas uma sociedade
decadente coloca em decadência o humor em geral. Em sua fase de declínio, o
império romano romantizou o suicídio e aderiu à filosofia do apocalipse; como a
humanidade desesperançada e depressiva, hoje, sacudirá o mundo?
SOCIALISMO
O socialismo será a
superação do paradigma-fábrica. Em outros esboços falamos sobre a necessidade
de um sistema mundial de saúde, sobre o espaço pós-capitalista como fusão
superante do melhor da urbanidade com o melhor do campo, sobre a tendência das
características dos produtos; agora adentraremos na questão da produção em si. Os
marxistas do século XXI precisam recuperar a paixão e a curiosidade por
entender a ciência e a técnica. Em última instância, o futuro depende disso, em
especial após resolvermos as pendências imediatas da luta de classes; um
marxismo focado apenas nas dinâmicas dialéticas das classes e dos Estados é um
marxismo amputado, desprovido de um dos braços.
No socialismo, A era do
maquinário-ciclope, do maquinário-titã será vista não como a glória do
progresso, e sim como passado e suas excentricidades curiosas. Em todos os
modos de produção a casse dominante afirmava-se a si própria por dominar o
trabalho intelectual contra o trabalho manual da ferramenta falante; se
alcançarmos o igualitarismo, toda a humanidade será a “classe” dominante, pois
divisões serão inexistes, pois todos os indivíduos serão senhores do trabalho
intelectual, que será a forma de trabalho dominante em geral. Quem, por isso,
“pegará no pesado”? As máquinas, o maquinário automatizado, os robôs e outras
invenções da sociedade pós-industrial. Em nossa época, isso se mostra em modo
embrionário, larval nas impressoras 3D:
“Desde peças de avião
até sapatos, passando por automóveis, agora tudo pode ser impresso. É uma
revolução que terá efeito sore toda a cadeia industrial, desde a concepção até
o pós-venda.”
“’Esta técnica de
fabricação não necessita de ferramentas. A matéria é molda de por um feixe de
laser ou de elétrons comandados digitalmente. Basta ter material e um projeto.
O processo de fabricação é superflexível, e a máquina pode ser instalada em
qualquer lugar’, justifica Jean-Camille Uring, membro do diretório da fabricante
de máquinas industriais 3D.”[xix]
Como a seguir a matéria
retrata, mais impressionantes são os sintomas – ainda sintomas – representados
na construção civil:
“As impressoras 3D
começaram pequenas, mas hoje é possível construir casas inteiras com elas. Uma
empresa chinesa acaba de construir uma casa de 400 metros quadros em apenas 45
dias. O melhor de tudo é que ela aguenta terremotos de até 8.0 na escala
Richter.”
“A empresa Hua Shang
Tengda pode não ter sido a primeira a construir uma casa com impresso 3D, mas
foi a primeira a construi-la toda de uma só vez, sem dividir a tarefa e partes.”
“(Impressora 3D faz dez
casas por dia)”
“Primeiro a companhia
construiu a estrutura da casa, incluindo os canos para água e esgoto. Depois, usou
uma impressora gigante que foi criada especialmente para esse projeto, depois
de anos de estudo. O processo todo foi controlado pelo computador.”
“O software usado tem
quatro sistemas: um para formular ingredientes, outro para misturar o concreto,
outro para transmissão e o último para imprimir a estrutura.”
“A casa foi feita com
vinte toneladas de concreto, que é resistente e barato. Os engenheiros
afirmaram que cimento também poderia ter sido utilizado no processo.”
“’Essa tecnologia vai
trazer benefícios sociais imensuráveis. Por causa da velocidade, baixo custo e
materiais simples e ambientalmente amigáveis, ela pode melhorar a qualidade de
vida das pessoas’, diz a empresa.”
“A Hua Shang Tengda
quer ver sua tecnologia aplicada a construções de todos os tipos, de casas na
zona rural até prédios altos em países em desenvolvimento. Eles acreditam que a
tecnologia pode originar uma revolução na indústria da construção.”[xx]
Isto representa uma
possibilidade de revolução produtiva e na construção civil. No caso da China,
este maquinário permitiria acelerar o poderoso processo de urbanização naquele
país, como planeja o PCC. Porém, evitemos fetiches: é um embrião e uma
possibilidade, e um dos tantos meios de produção, distribuição e comunicação a
serem desenvolvidos. A técnica fala-nos o seu desejo, uma nova sociedade para
poder desenvolver-se plenamente e sem contradições, mas apenas a organização
para fins revolucionários pode cumprir esta tarefa – a técnica amadureceu
plenamente para a próxima etapa humana. Temos um desenvolvimento tecnológico
agressivo em duplo sentido: de um lado, o avanço técnico incrível permite
iniciar a transição ao socialismo com segurança muito superior ao do início do
século XX; e de outro, apresenta no capitalismo um caráter destrutivo, de
desenvolvimento das forças destrutivas, um avanço técnico regressor do homem e
da natureza.
Assim, a fábrica está
para o capitalismo como o feudo está para o feudalismo. A próxima revolução
produtiva – do socialismo – parece apontar os objetivos seguintes: a) os
produtos dispensarão o excesso de parafernália interna para funcionarem como
devem; b) unir-se-á vários valores de uso em poucos suportes; c) pouca e poucos
tipos de matéria-prima na produção; d) velocidade de criação; e) capacidade automatizada
de corrigir falhas e promover consertos, além de reciclagem; f) produzir
materiais com autosustentação energética – utilizando algum elemento abundante
no ar, por exemplo, como o hidrogênio; g) facilidade de objetivar no produto a
criatividade, as particularidades e os desejos dos indivíduos.
Como Leon Trotsky
antecipara, guiados pela questão técnica, intuirmos o socialismo como uma
evolução de três etapas – e não duas tal como Marx supôs (socialismo inferior e
socialismo superior ou comunismo) –:
1. Sociedade de transição ao
socialismo;
A revolução mundial
terá um inicio destrutivo, pois se tratará de guerras civis por todo o mundo;
ao mesmo tempo, erguer-se-á a partir das bases econômicas e culturais herdadas
do capitalismo. Assim, essa fase de transição terá como tarefa consolidar a
nova sociedade em nível planetário rumo ao avanço estável. Aqui, elementos do
sistema anterior estarão temporariamente em presença, definhantes; o Estado operário
revolucionário e a quantidade de organizações, por exemplo, aumentar-se-ão. Já
que corresponde uma luta interfronteiras, tratar-se de um processo que pode
durar anos ou décadas, mas não séculos.
2. Socialismo, de transição ao
comunismo;
Aqui, todos os
elementos e “leis” desta sociedade estarão consolidados; embora ainda persista
o Estado, este definha. Neste momento, o trabalho intelectual torna o trabalho
manual auxiliar/lúdico e imagens de museus, junto ao dinheiro e bancos e
fábricas; são processos que devem ser iniciados ainda na fase de transição.
Apresentar-se-á como a consolidação do primeiro ciclo transitório, da evolução
estável.
3.
Comunismo.
Algo como um comitê
geral, “nacional” e mundial, existirá apenas para poucas e claras questões:
algumas formais, outras para distribuição, outras para melhor integração
internacionalista, científica e social; pois o nível de autonomia do indivíduo,
das localidades e mesmo dos produtos será altíssimo, sem necessidade de gestão
centralizada planejada-democrática ou controle na quase totalidade dos assuntos.
Exemplo: a maioria dos produtos será energeticamente autossuficiente, bastando
poucos e simples movimentos para que se recarreguem; as impressoras 3D e outros
meios de produção do futuro, muito melhores que os atuais, precisarão de pouca
e abundante matéria-prima para fabricar os produtos de que o indivíduo e a comunidade
necessitarão. O altíssimo nível cultural e a valorização geral da
ciência-filosofia e das artes e desporto, elevará a integração humana e o
progresso técnico. Algo como uma “complexidade simples” ou “sofisticação
simples” será rotina, embora não tenhamos condições de detalhar este possível futuro
mais do que em seus aspectos mais gerais. Neste momento, os conflitos serão
não-essenciais, acidentais, parciais, secundários e não-destrutivos.
O capitalismo também
teve sua tríade-eras inescapável[xxi]:
1.
Do século XVI ao XVIII, o “capitalismo
mercantil” teve de conviver com o feudalismo;
2.
Do século XVIII ao final do XIX o
capitalismo maduro, industrial;
3.
Do final do século XIX aos nossos dias,
quando há a hipertrofia de sua existência.
Há, todavia, duas
outras possibilidades para o homo sapiens sapiens: 1) a barbárie, um sistema de
dominação oligárquico baseado, entre outros aspectos, na tecnologia voltada ao
controle humano; 2) a extinção de nossa espécie. A continuidade do capitalismo,
pós-crise orgânica-estrutural-de era, aparece como a hipótese mais improvável
em médio prazo, apesar de não parecer assim.
CRISE
ESTRUTURAL DO APARATO DE REPRESSÃO
Este seria tema para
outro esboço ao blog, porém, ao que me parece, será devidamente tratado apenas
no futuro livro. Por esta razão, disponho uma primeira amostra sobre o núcleo
central do Estado (burguês), as forças de repressão:
1. Substituição do trabalho vivo por
trabalho morto.
Assim como nas fábricas
(automação, robótica), o maquinário tem ganhado peso significativo nos exército
burguês. Isto gera, em realidade, uma série de problemas insolúveis:
A)
Custos altos de construção e manutenção
dos aparatos (tanques, aviões, navios, etc.);
B)
Máquinas caras e pesadas, de alta
tecnologia, podem tonar-se inválidas, inúteis, por explosivos e armamentos
artesanais ou de baixo custo;
C)
A formação de gente capacitada demora –
trabalho complexo –, e as baixas, as mortes desses especialistas, podem ter um
peso prático significativo.
A Guerra entre URSS e
Afeganistão parece-nos um bom exemplo, pois o primeiro investiu em uma numerosa
invasão de tanques (trabalho morto) fracassada diante da resistência
guerrilheira (burguesa) da Al-Kaeda e dos camponeses.
2.
O fator humano.
A infantaria é a
essência do exército. Porém, na guerra e na fábrica o homem é uma ferramenta
falha, difícil de adestrar:
A)
Os exércitos oficiais, principalmente os
imperialistas, procuram oferecer aos subordinados alguma qualidade de vida (a
mais próxima possível da dos seus países ricos); estes, desacostumados com a
dificuldade e com o stress, tornam-se um problema em si nos momentos mais
difíceis do conflito. Outra em vez, ocorrem motins internos. Guerrilhas,
movimentos revolucionários e mesmo exércitos de países atrasados possuem um
material humano acostumado com a escassez, com o stress, com o risco, com o
limite;
B)
Ao mesmo tempo, os exércitos oficiais,
dos Estados, têm dificuldade de dar aos seus a causa, o sentido da luta, a
percepção de “nobreza no ato”. Do outro lado, exércitos religiosos (ISIS, etc.)
ou subversivos e revolucionários possuem este fator ideológico-disciplinador
apurado;
C)
Os de baixo, os filhos dos assalariados, são a geração mais letrada, mais culta da história humana. Como se sabe, a
inteligência somada à moral pode ser um empecilho quando se deveria – apenas! –
apertar o gatilho e obedecer;
D)
A tentativa de distanciar o operador do
combate – aviões não-tripulados (drones) no Iraque manuseados por gente nos EUA
– não impediu o impacto psíquico sobre o soldado. Muitos pediram demissão ou a
troca de cargos, já que se sentiam angustiados com as consequências de seus
atos. Nem todos são sádicos; ainda mais se, não estando na zona de guerra,
sofrem com a opinião pública de seu país. Em verdade, estar em combate, em suas tensões, facilita a mudança moral do soldado.
3.
Hierarquia e velocidade.
A) A
gestão do tempo e das consequências ganha importância maior. Assim sendo, o
exército burguês tem uma dura desvantagem ao adotar uma hierarquia de comando
vertical, complexa, cheia de subdivisões e centralizada. Isto tonra as forças
armadas lentas para ordenar, receber e executar ordens. Hierarquias como a do
Exército vermelho de Leon Trotsky, onde cada divisão respondia apenas a um
oficial, possuíam decisão, ação-reação, e mobilidade superiores. Assim também
se organizam os fascistas – definição de caráter científico – do ISIS, além de
permitirem autonomia de ação de suas células;
B) Os
oficiais e o alto comando das forças armadas são formados por gente
“bem-de-vida”, acostumados ao trabalho intelectual, à vida de poucos círculos
sociais. Os grupos militares subversivos, por outro lado, costumam ter no comando
gente prática, conhecedora dos aspectos prático da vida, com ligação orgânica
com sua base social, que entende a vida comum e a psicologia coletiva e estão
acostumados a ter pouco. Esta diferença do material humano – acentuada neste
momento histórico –, que é uma diferença de classe, determina perfis
decisórios;
C) Em
nossa época, os exércitos burgueses procuram profissionalizar seus membros em
todos os níveis de hierarquia; o recrutamento militar obrigatório é um hábito
mantido em poucos países, como no Brasil. Isto tem algumas consequências:
afasta seus membros da vida real e da noção de como ela é para a maioria, a
rotatividade de moradia dos oficiais faz com que sofram solidão ou depressão ou
problemas semelhantes por não construírem identidade e dá-lhe uma qualidade
formal e financeira de vida que os “desadestram” para situações de colapso;
D) A
demora de um conflito aumenta progressivamente, como nunca antes, as despesas
dos exércitos burgueses oficiais por conta do que temos debatido – maquinário e
baixas, além do fator político.
4.
Os problemas latentes.
A) Por
os pontos acima levantados, o ISIS pode fundar a “guerrilha ofensiva”; aproveita
a lentidão do comando e do maquinário oficiais para substituir a tática
“atacar-recuar” por “atacar-desarticular” usando o mesmo princípio da
guerrilha: armas leves, mobilidade, hierarquia simples, autonomia das ações, sabotagem, propaganda e guerra psicológica; porém, com caráter ofensivo e não o defensivo
do fraco em relação ao forte. Golias é tão robusto e grande e alto que mal pode
mover-se, lento e fácil de ferir, e – distantes estão os olhos e o cérebro – pensa um pouco mais
devagar. Os exércitos burgueses estatais incharam-se para o enfrentamento inter-Estados, mas os coloca em dificuldades para a luta entre classes;
B) A
altíssima urbanização – concentração alta de assalariados precários e
desempregados – torna a rebelião, a revolta e a revolução mais explosivas e
potencialmente mais fortes;
C) As
milícias na polícia e nos exércitos, as máfias, as empresas de combate privadas
(mercenários), os salários baixos e a vida em si difícil para o chão da
hierarquia – em especial, na polícia – colocam a possibilidade de rachaduras
internas nestes aparelhos;
D) A
urbanidade elevada fez surgir uma ampla categoria de assalariados armados nos
setores públicos e privados, porém precários;
E) Por
outro lado, a tradição, o conhecimento da arte da guerra e o poderosíssimo
aparato de espionagem – de drones do tamanho de uma mosca, passando pela
internet, até satélites-espiões – dão uma vantagem burguesa qualitativa neste
ponto. A “guerra de quarta geração” (disputa ideológica, manipulação informativa,
ataque indireto ou “terceirizado”, ameaças por meio de manobras militares,
propaganda, vigília por meio da informática, guerras virtuais, etc.) está
incluída, mas dá-se um peso imaginativo demasiado sobre na medida em que, em real,
corresponde às guerras reais ou em estado de latência – é um recurso auxiliar e
importante em uma época de meios de informação/entretenimento poderosos;
F) O
preço dos armamentos e munições, a exigência de especialização para o uso de
certas armas, a dificuldade de achar armas e calibres homogêneos para uso em
massa: estas dificuldades não são menores. Portanto, não é verdade que o
proletariado “está com a faca e o queijo na mão”; revoluções sociais geram
guerras civis, que são partos dolorosos. O resultado do futuro ainda não está definido.**
CONCLUSÃO
Este é possivelmente o
último dos esboços ao blog Canhoto. A pesquisa até aqui me levou a caminhos
inesperados; tornou-se um processo extensivo de contribuição, muito mais
profundo do que eu imaginava. Agora, talvez o projeto torne-se intensivo,
focado no desenvolvimento interno das teses apresentadas; mesmo assim, há a
possibilidade de a pesquisa apontar caminhos novos, surpresas empolgantes.
A proposta teórica
talvez dure alguns longos anos até a conclusão real. Fica, por isso, o convite
à leitura dos primeiros textos propositivos neste espaço e também um chamado à
pesquisa. Se algum marxista ou acadêmico desejar fazer um trabalho consistente
sobre estes textos, contará com meu apoio e com minha disposição de auxílio,
bastando apenas fazer a devida referência à origem das teses.
Como temos proposto,
convido-o a ler as contribuições nas notas de fim.
João Paulo da
Síria.
[i] Há quem confunda centralidade da produção com
centralidade-guia. Embora use palavras iguais para o mesmo tema, são
significados diferentes, pontos separados, para um mesmo significante. A
produção de mercadorias é o centro, permite o mercado e gera o mais-valor. Isto
considerado, as circunstâncias conjunturais do desenvolvimento capitalista, seu
arranjo interno, gera aquilo a que chamamos centralidade ou centralidade-guia,
que é o setor mais dinâmico, mais ativo, em pleno desenvolvimento e inflação
relativo à tríade-capital (bancário, produtivo, comercial), puxando os outros
dois elementos “para frente”, para o desenvolvimento totalizante do sistema
focado na produção de mercadorias e mais-valor. Karl Max esclarece que “O uso
dos mesmos termini technici (termos
técnicos) em sentidos diferentes é inconveniente, porém impossível de ser
evitado em qualquer ciência. Compare, por exemplo, as áreas mais elevadas com
as mais baixas da matemática.” (p. 293, nota de rodapé 29.)
[ii] Reinado A. Carcanholo desenvolve com maestria a
“tendência à desmaterialização do dinheiro”. Disponibilizamos trechos de seu
artigo-réplica “Sobre a Natureza do Dinheiro em Marx”:
(…)
“Esse
processo progressivo de domínio do valor sobre o valor-de-uso, no interior da
unidade contraditória chamada mercadoria, constitui o que chamamos “desmaterialização progressista da riqueza
capitalista”. Isso, por uma razão muito simples. O valor-de-uso é o
conteúdo material das mercadorias e fica determinado pelas características
(conteúdo e forma) materiais de cada uma delas. O valor é sua dimensão social.
O domínio deste sobre aquele implica a desmaterialização
do conceito riqueza capitalista, desmaterialização da mercadoria.
(…)
Mas, por que a mercadoria jamais pode lograr a destruição do valor-de-uso, por
mais que se aproxime disso? Isso é impossível, pois a destruição do
valor-de-uso implica a destruição do próprio ser humano e, assim, do próprio
valor, por ser ele uma relação social entre seres humanos.
(…)
É justamente no dinheiro, e posteriormente no capital, em que se manifesta de
maneira mais aguda e evidente o processo de desmaterialização, (…) o dinheiro
apresenta-se desprovido completamente desprovido de todo valor-de-uso. (…) Mas,
desde muito antes, desde a sua gênese, nos princípios da forma de equivalente,
já se apresenta o processo de desmaterialização.
Por exemplo, já na forma geral do valor, Marx afirma que o valor da mercadoria
distingue-se não só do seu próprio valor-de-uso, mas de todo valor-de-uso,
inclusive naquele próprio da mercadoria, ao aceitar o equivalente em troca da
sua, não está interessado no valor-de-uso deste.”
A
desmaterialização continua no dinheiro (ouro), mas ainda a materialidade-ouro
continua ali. O processo fica muito mais evidente quando mais avançado, no
dinheiro de curso forçoso e no dinheiro de crédito (que são as formas que
conhecemos atualmente e que são estudadas por mais no livro III d’O Capital).
(…)
Por
mais Impressionante que seja a desmaterialização já alcançada do dinheiro, ela
ainda não chegou ao fim. Ela prossegue seu curso e, com certeza, a
desmaterialização total, embora ansiosamente buscada pela lógica do capital,
jamais poderá ser alcançada.
(…)
[nota
4] As agudas crises financeiras dos nossos dias são a manifestação mais cabal
dessa contradição do sistema: o desejo incontido do capital pela
desmaterialização e sua impossibilidade completa.”
[iii] Sua própria forma física, expressante do valor como
relação social, diz “de onde venho, para o que sirvo e o que desejo”.
[iv] Neste sentido, “moeda fiduciária”, a exceção do
capital fictício, é uma expressão teórica inválida. O “lastro no conjunto das
mercadorias” é uma necessidade objetiva, e não mera farsa governamental.
[vi] Fonte: BBC Brasil.
[vii] Idem o iii.
[viii] Idem ao iii.
[ix] Na Idade Média a Europa desconhecia fronteiras, nações,
nacionalidades, etc. Os habitantes desse continente viam-se como “o mundo
cristão”, tinham em comum a história, o Latim, a Igreja Romana, o sistema
feudal. De fato, era uma massa única, homogênea e de particularidades internas
pouco definidas; a isso chamaremos concreto ou concreto simples. Imediatamente
após, a burguesia inicia sua tarefa de formar países, Estados-nacionais,
exércitos, fronteiras definidas, nacionalismo, identidade, impostos unificados,
e etc. – aqui, a Europa continua Europa, entretanto suas partes separam-se em
uma “relação alienada” ou “relação, porém alienada” e isto foi vital para
desenvolvimento das partes e do todo; chamaremos abstrato. Este processo
desenvolveu as partes, os países do mundo europeu a tal ponto que amadureceram e
agora (!) pedem a fusão, a integração, a união, a superação dos limites
nacionais; este é o concreto complexo em
latência – ou seja, o desenvolvimento econômico-social avisa-nos que deseja
voltar ao começo, ao negado, ao antes do abstrato, ao concreto, só que de modo
diferente, superior, superante. Isso aponta a revolução socialista europeia e
os Estados Unidos Socialistas da Europa (concreto complexo); o Euro e a União
Europeia são mediações, deformantes, propostas pelo capital e pelo imperialismo
a esta necessidade objetiva.
Em
“Três capitais, três eras, três ciclos”, exemplificamos: “(…) partimos de uma
realidade dada, observável, total, concreta para – a partir daí – estudar e
compreender as partes constituintes deste objeto estudado; logo após, unimos-lhes,
conectando-os, percebendo suas interinfluências e interrelações; ou seja,
voltamos ao concreto, mas em uma dimensão superior. Isto nada mais é que seguir
o fluxo da própria dinâmica da matéria; um exemplo: todas as ciências eram, em
estado inferior, resumidas na filosofia; depois, foi necessário separá-las e
desenvolvê-las individualmente; agora, a tendência é reuni-las na
físico-química, na psicologia (ciências sociais somadas à biologia), no
marxismo (fusão de todas as ciências humanas em uma única ciência social,
incluindo certa influência da biologia, etc.).” A desintegração deriva da
necessidade de integração.
[x] A tendência, enquanto lei, a perder o lastro
apresenta-se, em um primeiro momento, nas mais variadas experiências, numa
proporção cada vez menor de equivalência entre a quantidade de dinheiro real em
circulação e a quantidade de metal em estoque.
[xi] Uma reflexão breve. As teorias marxistas da
alienação, do valor e a dialética marxista causam uma espécie de impacto do
absurdo; isso ocorre porque são contribuições que enfrentam a intuição
simplória, revelam processo ocultos mas dominantes, contrariam o status quo em si e são contrários ao
adestramento positivista da mente. O mesmo choque de realidade, subjetividade,
intuição e conceitual ocorre com as teorias de Einstein, na física, e nas de
Freud, sobre a psique. Por isso, mais que natural as novas propostas teóricas
essencialmente válidas causarem a inesperável energia do "bizarro"
ou, às vezes, do desconforto, tal qual uma pintura surreal ou cubista.
[xii] Como apontou Lenin, “Imperialismo – fase superior do
capitalismo”, há a fusão, maior integração, entre os capitais bancários e
produtivos (e comercial) formando o capital financeiro, onde os primeiros
tornam-se dominadores naturais. Ao mesmo tempo, o capital fictício
desenvolveu-se nas últimas décadas sem relação direta com a produção de valor;
esta autonomia relativa tem um exemplo absurdo nas dívidas públicas
estruturais.
[xiii] Elementos de um ciclo de era do capital começam a
desenvolver-se de modo embrionário e acidental no ciclo de era anterior;
natural, portanto, que isso se expresse de algum modo no equivalente geral.
[xiv] O início da fase imperialista, final o século XIX,
marca a substituição do ouro e da prata pela Libra inglesa lastrada em ouro.
Este processo encerra-se com a consolidação do imperialismo, a I grande guerra,
e desde então o dinheiro mundial tornou-se um problema instável – derivado por
outro problema: qual imperialismo comandará o mundo… -; assim, no final da II Guerra
Mundial esta lei tendencial macroeconômica pode se relocalizar primeiro com o
dólar lastreado em ouro e, depois, com Nixon, com o dólar desprovido deste
lastro. Porque há fronteiras nacionais, heterogeneidade, por sofrer mais com as
dolorosas contradições do capitalismo, o equivalente mundial encontra mais
barreiras no seu caminho.
[xv] A condição ímpar de ser uma moeda nacional-mundial
produz vantagens e, para além, uma dinâmica toda especial para esta lei, a do
acompanhamento mundial em atraso das formas pátrias; existe a influência mútua
das duas dimensões espaciais para a manifestação da lei tendencial à
desmaterialização. Por isso – importe reforçar –, a relação dinheiro
nacional-mundial, as causas e ritmos evolutivos desiguais, são tendências, leis
tendenciais, que tendem à.
[xvi] Como abstração transitória para fins teóricos, chamo
países como China e Rússia “imperialismo sui
generis”: países cuja superestrutura, em especial o aparelho de Estado, não
disputam em defesa de seus próprios capitais exatamente, e sim disputam o
destino dos capitais e do capital como um todo, querem-lhes para si
independente do país de onde venham; pois já há certa necessidade do capital
de, por sua decadência, transferir-se a estes países. Assim, desenvolvendo-se,
formam-se as condições de criar grandes empresas originais desses mesmos países
“fora da norma” que, em nosso período de alta oligopolização, tentam achar
espaços novos formando, também, grandes empresas na área de serviços. Porém, a
expressão “imperialismo sui generis” precisa ainda ser observada para
verificação científica de que seu sentido corresponde, ou não, à realidade
viva. Assim, ao menos momentaneamente, no decorrer da pesquisa, escanteio as
teses-fórmulas “sub-imperialismo”, “potencialmente imperialista”, “semicolônias
(muito) privilegiadas”, pois que estes países já vivenciaram algum salto de
qualidade na relação mundial de Estados e na questão econômica em si, que
precisa ser melhor medido, precisado.
[xvii] A revolução russa de 1905 foi o “ensaio geral” da de
1917; as revoluções do século XX foram o “ensaio geral” das do XXI.
[xviii] Os marxistas, em geral, salvo importantes exceções,
necessitam dar a este aspecto atual da fase imperialista uma consideração
maior.
[xix] Site UOL Notícias.
[xxi] Percebemos que o tempo das fases pós-capitalistas
tende ir da curta à longa duração – transição, socialismo, comunismo. O
capitalismo, ao contrário, vai tendencialmente
de ciclos de eras longas à curtas – comercial, industrial, imperialismo; como
dizemos no texto “Três capitais, três eras, três ciclos”: “Em um ponto de vista
imensamente artificial – advertimos –, abstraindo fenômenos como a luta de
classes ou a ciência; este modelo, centro de gravidade do capital, altera-se a
cada um ou dois séculos, mais ou menos, com o fluxo temporal encurtado a cada
deslocamento.” A causa é que cada ciclo de era evolui-se aproveitando os
progressos anteriores, facilitando o alcançar de seu ápice.
* Teoria de Hilferding, quem desenvolve este tema com profundidade. Aqui, partimos do fator geral para desenvolvermos o tema.
** Entre outros, essas teses estão pavimentadas neste artigo: http://www.defesanet.com.br/terror/noticia/20847/ESTADO-ISLAMICO---ASPECTOS-OPERACIONAIS--Revolucao-Tatica-ou-Infantaria-Leve-na-Era-Global/
* Teoria de Hilferding, quem desenvolve este tema com profundidade. Aqui, partimos do fator geral para desenvolvermos o tema.
** Entre outros, essas teses estão pavimentadas neste artigo: http://www.defesanet.com.br/terror/noticia/20847/ESTADO-ISLAMICO---ASPECTOS-OPERACIONAIS--Revolucao-Tatica-ou-Infantaria-Leve-na-Era-Global/