FIM
DO CAPITALISMO: TRÊS CAPITAIS, TRÊS ERAS, TRÊS CICLOS
Neste
blog, tenho colocado as primeiras versões-betas de um futuro livro, “Marxismo e
Capitalismo Hoje – a Revolução Permanente no século XXI”. Diante da crise e do
tempo até a conclusão do projeto, disponho as versões iniciais; a seguir, um
dos debates introdutórios.
FIM DO CAPITALISMO:
DIALÉTICA DO VALOR-CAPITAL
O
tema sobre limites históricos do sistema mercantil é alvo de inúmeros debates e
polêmicas; vamos, a partir de outras contribuições e tentando superá-las,
adentrar na questão, na sua dinâmica. Para isso, convido ao leitor a observarmos
três elementos do capital e do capitalismo:
1.
Capital bancário, comércio de dinheiro
ou portador de juros;
2.
Capital produtivo;
3.
Capital comercial.
Ou,
em real e em essência:
1.
Capital-dinheiro;
2.
Capital-produtivo;
3.
Capital-mercadoria.
Os
três objetos acima apontados serão nossos guias; adentraremos na história da
humanidade, do capitalismo e do capital. Para anteciparmos, será a seguinte a pergunta
deste artigo: como os capitais organizam-se, interagem, rumo à própria
destruição, para o desenvolvimento da totalidade econômica? Observaremos,
portanto, o amadurecimento do corpo vivo; vejamos:
a)
Fase I. Com as navegações, século XVI,
iniciamos o comércio mundial. Neste momento, a produção e o setor bancário são
secundários, frágeis, orbitantes; seus
próprios desenvolvimentos seguem o lastro direto da compra-venda;
b)
Fase II. Com a máquina a vapor, século
XVIII, desloca-se o centro de gravidade do
capital: a produção revoluciona-se, primeira revolução industrial. Surge então,
da união nova capitais bancário-produtivo-comercial, o chamado capital industrial. Os próprios setores
de comércio e de juros evoluem ao surgir a tendência, impulsionada pela
centralidade produtiva, à mercantilização total do mundo e, pela primeira vez
na história humana, à superprodução;
c)
Fase III. Com a crise orgânica no final
do século XIX (por excesso de capital produtivo nos países centrais e
mundialização da relação mercantil), a eletricidade e as renovações técnicas; a
relação central-orbitante altera-se novamente:
o setor bancário ou essência capital-dinheiro adquire força necessária para dirigir,
submeter e desenvolver os outros dois capitais. Temos, na fase imperialista, de
monopólios e oligopólios, o capital
financeiro (e assim, a produção e a distribuição também evoluem). Este
modelo, na falta de uma revolução mundial, junto à especulação, atingiu a
máxima potência com o capital fictício/capital parasitário (em síntese: busca
de rendimento, de “juros” ou lucro, desligada da e subordinando a produção, diferente
do típico ao capital bancário, ao investir, por exemplo, em dívidas públicas –
a nosso ver, o desenvolvimento do chamado capital especulativo ocorre como
consequência da fase/modelo imperialista, uma intensificação)[i].
A
mudança de lastro (chamemos assim),
ou seja, de centralidade-guia em cada uma de suas fases do
desenvolvimento capitalista, parece oferecer-nos respostas a inúmeras perguntas;
uma delas: a atual potência do capital-dinheiro
revela-se base e origem oculta, na essência, do fim da equivalência dólar-ouro.
Harvey (1992) dá-nos uma pista nesse sentido, mesmo não intencional, por meio
de sua suspeita:
“Estou,
portanto, tentado a ver a flexibilidade conseguida na produção, nos mercado de
trabalho e no consumo antes como um resultado da busca de soluções financeiras
para as tendências de crise do capitalismo do que o contrário. Isso implicaria
que o sistema financeiro alcançou um grau de autonomia diante da produção real
sem precedentes na história do capitalismo, levando este último a uma era de
riscos financeiros igualmente inéditos.”[ii]
(p. 181)
Continuemos
a construção.
Peço
espaço ao leitor para falarmos sobre dialética, o abstrato-concreto. A
dialética marxista difere-se, por exemplo, dos métodos indutivo e dedutivo;
partimos de uma realidade dada, observável, total, concreta para – a partir daí
– estudar e compreender as partes constituintes deste objeto estudado; logo
após, unimos-lhes, conectando-os, percebendo suas interinfluências e
interrelações; ou seja, voltamos ao concreto, mas em uma dimensão superior.
Isto nada mais é que seguir o fluxo da própria dinâmica da matéria; um exemplo:
todas as ciências eram, em estado inferior, resumidas na filosofia; depois, foi
necessário separá-las e desenvolvê-las individualmente; agora, a tendência é
reuni-las na físico-química, na psicologia (ciências sociais somadas à
biologia), no marxismo (fusão de todas as ciências sociais em uma única ciência
social, incluindo certa influência da biologia, etc.).
O
mesmo ocorre, em sua permanente inter-relação, com o capital. Tivemos três centros de gravidade (dialética
central-orbitante) durante seu desenvolvimento interno, que agora caminha para
a fase final de decadência, sua senilidade. As três partes constitutivas de uma
única totalidade/capital, em nossa época, evoluíram imensamente, como de suas
tendências naturais. Sempre que um centro
de gravidade beirava certo ápice-crise, ocorria o deslocamento, graças as
suas interinfluências e interdependências.
A
dialética, por esta análise, aponta para a fusão: fim da relação alienada entre os capitais e de suas autonomizações
relativas. Quando Lenin insiste, em “Imperialismo – Fase Superior do
Capitalismo”, em levantar a tendência à fusão dos capitais bancário e
produtivo, observa, em verdade, o futuro e a lei do capitalismo. Os setores
bancário, produtivo e comercial tendem – permanentemente, hoje – à união,
confluência e integração; ou seja: concentração e centralização[iii]
(ver nota de fim sobre dialética). Basicamente, o valor faz este chamado. E a
este mesmo chamado respondemos e percebemos: a fusão total de capitais – fim da
relação e domínio alienados entre eles – só será possível com a destruição do
capital, com a revolução socialista planetária, com o fim do comércio, com a extinção
do trabalho manual e assalariado, com democracia operária e socialista, com economia
planejada e propriedade coletiva[iv].
Então:
de um concreto simples, do central capital-mercadoria, avançou-se para a
relação alienada, o capital industrial ou centralidade do capital-produtivo, e
hoje pretende a integração não-alienada ou, dito de outra forma, fase
imperialista que alcançará seu objetivo pela negação, pela revolução mundial.
Neste
sentido, parece-nos, o desenvolvimento do valor-capital finalmente encontrou um
limite. Não cairá, porém, por velhice avançada: há a possibilidade de ainda
mais concentração e centralização, incluindo maior controle sobre o capital comercial
e da área de serviços e maior independência da produção em relação à
matéria-prima[v].
Tal hipótese só será possível após duríssima luta de classes, com derrota do
proletariado, com instauração de relações semi-escravistas; por outro lado,
assim como a fase final do império-economia romana, para fins de comparação, o mundo
e as relações entre estados-nacionais serão cada vez mais instáveis e sob
dificuldade de estabelecer um centro de gravidade do poder (em profundidade,
isso ocorre pela necessidade de superação da contradição economia
mundial/fronteiras nacionais). Enfim, apesar da aparência[vi]
pós-Muro de Berlim, na essência a realidade – na etapa revolucionária – amadureceu
para o socialismo.
Em
suma, na centralidade do comércio (fase I) o valor era uma qualidade, um
adjetivo da mercadoria; quando há o deslocamento para a produção (fase II),
revolução industrial, o valor torna-se/consolida-se adjetivo substantivado, um
substantivo, o capital ou valor-capital; em nossa época (fase III),
imperialista e de decadência do imperialismo, onde o setor bancário – em
verdade: capital-dinheiro – torna-se centralizante, o valor deseja ser um substantivo abstrato (o capital
especulativo e a digitalização do dinheiro, por ex.) ou um verbo que se faz carne (a robótica, por ex.) – embora impossível,
parte de sua crise.
Se
compreender é superar (Hegel), resolver é transformar.
CONTRADIÇÃO
APARÊNCIA-ESSÊNCIA/CAPITAL-VALOR
Este
livro pretende ser acessível tanto ao leitor iniciado ao marxismo quando ao
não; agora, para uma leitura agradável, precisamos redobrar a vigilância, que
dialogaremos a partir de certos processos de abstração. Por isso, espero oferecer
clareza e concisão; seguiremos ao próximo parágrafo.
Em
nossa época, a relação valor-de-uso e valor tem produzido um novo fenômeno: ao
dominar o duplo caráter da mercadoria, o valor consegue uma façanha nova, qual
seja: os valores-de-uso tendem a desprender-se do suporte. Ilustremos: quantos
objetos das décadas de 1980 e 1990 cabem hoje em um único e pequeno aparelho?
Quantas utilidades, por meio de aplicativos, pode haver em um celular? Mesmo
simples produtos naturais como fruta transformável em suco pode ser substituído
por um pó químico que simula o sabor e o cheiro do produto – valor-de-uso –
original. Isto ocorre pelo que explicamos, a supremacia do valor(-capital), mas
não somente.
O
que descrevemos anteriormente manifesta uma necessidade de valorização do valor,
que tende a desaparecer; este substantivado protagonista da sociedade gera a
aparência, ou seja, o capital. Como explicamos em uma das notas de fim, pode
haver contradição nessa relação: neste caso: o desenvolvimento dos capitais tende a encerrar a relação “valor
gerado pelo trabalho abstrato[vii],
geral, medido pelo tempo de trabalho (socialmente necessário para a reprodução
de uma mercadoria)”. Ou seja: o capital caminha para a) diminuição constante do
tempo necessário para criar um produto; b) substituição do trabalhador ou
trabalho vivo, que agrega/gera valor na produção, pelo maquinário (e
matéria-prima) ou trabalho morto, que não se pode explorar e por isso apenas
transfere valor. Do ponto de vista das consequências: tendência a mais
valores-de-uso, a menores valores (de troca, mediado pela monopolização) e
principalmente menor mais-valor ou lucro. Revelou-se então uma contradição
importantíssima: a relação valor-capital, essência-aparência, resolvida com
mais contradição, com concentração/centralização de capitais, com mais
tecnologia, com fragilização do valor-de-uso ou tempo útil das mercadorias
(obsolescência programada), com desprendimento dos valores-de-uso do suporte e,
ao mesmo tempo, tendência a reuni-los em um só; no subterrâneo: extração cada
vez mais concentrada do trabalho não pago, o mais-valor.
Voltemos ao exemplo do suco de laranja artificial. A
preferência de um burguês por um valor-de-uso deslocado do suporte não tem
origem subjetiva ou imaginativa mas sim no fato de que, de um lado, exige menor
trabalho socialmente necessário (no caso: melhores condições para apropriar-se
do valor total, baixar o valor-de-troca, vencer concorrência), e de outro,
diminui sua dependência das variações conjunturais doutro setor, o
agroindustrial. Pode inclusive mudar o sabor-cor-cheiro (valor-de-uso) do
produto com poucos movimentos, em minutos. Percebemos um processo objetivo.
Do
observado, formulamos: um único trabalho abstrato para múltiplos valores-de-uso.
Em longo prazo, a contradição prejudica o essencial ou valor em favor do
aparencial ou capital como consequência do duplo caráter positivo/negativo.
Assim, a tendência à concentração e centralização de vários valores-de-uso
apresenta-se como necessidade e afirmação do valor, embora desemborque em uma
negação, qual seja, a inflação da aparência-capital coloca em crise a essência-valor.
Nesse sentido, a monopolização contratendencia para contradição valor-de-troca
elevado / valor em crise.
Sob
a óptica dialética concreto-abstrato-concreto e
concentração-centralização-central-orbitante; 1) no princípio da relação
mercantil, o produto-mercadoria era simples e concentrado; 2) com o capitalismo
amadurecido, surgiu cada vez mais novas, variadas e especializadas formas de
mercadoria disponíveis, vendáveis; 3) fase imperialista, desenvolvimento e
produção de mercadorias atinge o auge – intensiva e extensivamente – e, por
isso, agora tende à fusão, fim da relação “alienada”, dos valores-de-uso e, por
causa e consequência, da extração de valor. E qual será o resultado final deste
processo? Ao destruir o comércio, o socialismo apresentará caminhos novos aos
produtos; no momento, esta não é uma preocupação nossa.
Para
irmos ao subcapítulo seguinte, comentaremos em velocidade outras duas
tendências. Primeira: relativa fusão mercadoria-arte, mercadoria-estética,
valor-de-uso como um valor também poético: dos tipos de carro aos tipos de lâmina
de barbear, quem mais paga (valor-de-troca) possui acesso a um valor-de-uso
mais belo (na relação concreto-abstrato, mais trabalho concreto exige mais
tempo, ou seja, maior valor)[viii].
Segunda: o equivalente geral dinheiro caminha-se para a “moeda única”: cartão
de crédito como suporte central e – expressão-do-valor/valor-de-uso! – bytes[ix].
Finalmente,
voltamos à questão-bússola do capítulo:
A CRISE SISTÊMICA
Podemos
enumerar quatro tipos principais de crises do capitalismo:
1.
As cíclicas, de superprodução;
2.
As orgânicas, de superprodução crônica,
quando o capital encontra barreiras internas;
3.
As estruturais, quando os elementos que
constituem e permitem o capital entram em crise (Estado, Valor, família
monogâmica, ciência, natureza, etc.);
Em
um ponto de vista imensamente artificial – advertimos –, abstraindo fenômenos
como a luta de classes ou a ciência; este modelo, centro de gravidade do capital, altera-se a cada um ou dois
séculos, mais ou menos, com o fluxo temporal encurtado a cada deslocamento.
A
dialética observa que o simples torna-se, superado, o complexo e este último
tem dentro de si os elementos daquele, do simples. A crise orgânica é como a
crise cíclica evoluída, complexa; e assim por diante. A atual crise mundial é
ao mesmo tempo cíclica, orgânica, estrutural e – também e por isso – a última
de uma era (capital financeiro/especulativo, centralidade bancária, capital-dinheiro),
que esperamos encerrar-se em seu último ciclo.
Para concluir, como
síntese-fim dos três ciclos confluídos, observamos:
1.
Essência
capital-mercadoria. Foco da economia capitalista, o
comércio expandiu-se extensiva e intensivamente por todo o mundo – alcançou o
ápice;
2.
Essência
capital-produtivo. A produção-capacidade produtiva – com
o avanço técnico (especialmente, a automação e a robótica) e presença em todos
os continentes junto a sua altíssima monopolização e
oligopolização – tende à superprodução crônica mais crise do valor-trabalho
(manual) – alcançou o ápice;
3.
Essência
capital-dinheiro. O setor bancário inchou-se absurdamente,
com domínio sobre a economia e impulsionando esta (incluindo por parte dos
capitais fictícios e parasitários), sendo componente essencial da crise –
alcançou, também, o ápice.
Convido-o, caso não o
tenha feito, a ler as notas de fim do artigo.
João Paulo da Síria[xi]
[i] Podemos, por conclusão, retomar as avaliações:
1. Do século XII, renascimento do
comércio, até o século XVI houve a fase embrionária do valor-capital;
2. A partir das navegações (século XVI),
salto na relação comercial, o valor-capital adquire juventude;
3. Com o século XVIII, primeira revolução
industrial, o capitalismo amadurece, chega à fase adulta;
4. Com o imperialismo, final do século
XIX, começa sua velhice;
5. Agora, agoniza cheio de medicamentos e
aparelhos artificiais.
Cada
alteração centralidade-orbitação estimula/guia o desenvolvimento dos outros
dois aspectos da tríade-capital.
[ii] HAVEY, David (1992). Condição pós-moderna. São Paulo : Edições Loyola. (1.ed., 1989).
Tradução de Carcanholo e nakatani para o artigo (1999) “O capital especulativo
parasitário: uma precisão teórica sobre o capital financeiro, característico da
globalização”.
[iii] Há algum tempo, avalio a possibilidade interpretativa seguinte: diferente do que se costuma
observar, apesar das raízes linguísticas;
a lógica formal, aristotélica, é uma relação duo, duplo-estática – embora o
terceiro excluído – e em linha reta. O “Terceiro”, na verdade, apresenta-se
como o segundo, o não igual, o outro, o não-é.
A
lógica dialética materialista, marxista, por outro lado, apresenta uma relação triangular,
tríade, onde dois elementos são centrais e outro não raro apresenta-se
intermédio ou liga – embora a dualidade não estática exista (duplo caráter, por
exemplo) –, em um movimento circular na totalidade e em espiral quanto à
evolução. Para breve esboço: duplo-caráter interno, triangular nas
inter-relações, circular nos movimentos de totalidade e espiral quanto à
evolução dialética (saltos, saltos por ruptura, negação da negação, desigual e
combinado, etc.).
Para
abstrairmos, algumas inter-relações tríade
dialética: a) infraestrutura, estrutura, superestrutura; b) ID, ego, superego;
c) inconsciente, subconsciente, consciente; d) proletariado, setores médios,
burguesia; e) acorde Dó formado por dó, mi, sol; f) indústria de matéria-prima,
indústria de bens de produção, indústria de bens de consumo; g) prótons,
elétrons, nêutrons; h) relação edipiana filho, mãe, pai; i) forças produtivas
natureza, técnica, homem ou matéria-prima, maquinário, trabalhador; etc. – quando
e se há, um quarto elemento ou o que destoa chamemos colateral.
Quanto
à reta (formal) e ao circular (dialética); sobre o primeiro, na matemática
grega, a menor distância entre um ponto e
outro é uma reta; sobre o segundo, nos cálculos físicos de Einstein: no
cosmos, a menor distância entre um ponto
e outro é uma curva. Vale dizer; a dialética, além de negá-la, utiliza a
lógica formal como ferramenta auxiliar.
[iv] Podemos considerar além. Toda a história humana e das
sociedades de classes são a busca – por mediações e desigualdades – da concentração
e centralização máxima de todos os aspectos da vida social, qual seja, o
comunismo, cuja expressão desta lógica é a desalienação, integração (os termos
dialéticos citados, concentração e centralização, podem causar alguma
confusão subjetiva/conceitual ao serem associados erroneamente, neste caso, ao
burocratismo ou ditaduras ou imperialismos). Rápida amostra: no primitivismo, o
pajé ou líder ou ancião era a expressão frágil do poder; no escravismo, surge o
Estado, que é superior à relação tribal – incluso territorialmente; depois,
Idade média produz um novo Estado, absolutista ou feudal – melhor preparado, em
geral, que seu antecessor; em sequência, o Estado burguês aparenta-se como
grande evolução deste tipo de superestrutura; porém, o Estado operário, com sua
própria democracia e economia estatal/coletiva/planejada/mundial – ou seja:
maior concentração e centralização –, será o máximo exemplo; só superado pelo
comunismo, onde o aparelho definhará e administrará somente as coisas, não os
homens. Outro, na natureza: o Sol, daqui há alguns bilhões de anos, expandirá
sua massa, engolindo os planetas e luas de seu sistema. Conclui-se: o máximo de
algo é também a sua superação.
[v] O avanço tecnológico pode fazer surgir, por exemplo,
algo como um “suporte maleável e universal”, multiuso, holográfico, que ora
sirva como celular, ora como computador, ora como TV, ora como game, etc. Será
uma solução ao capital na medida em que diminuirá sua dependência dos países
atrasados e da matéria-prima, aumentará a concentração-centralização,
relativizará a crise ambiental e permitirá maior controle do fluxo de dados e
informações. Como fonte de energia auxiliar, sem abandonar as de origem
fósseis, relativizando a inevitável crise do meio ambiente, talvez aprendam a
processar, para combustão, algum elemento abundante no ar, como hidrogênio ou
carbono. Estas tendências são uma lei: os valores de uso tendem a desprender-se
do suporte (e/ou concentrar-se em apenas um), atrapalhando o valor e, ao mesmo
tempo, ajudam a concentrar e centralizar capitais. Mais sobre, ver: “14 teses
sobre a alienação hoje; uma hipótese perigosa” deste blog.
[vi] Na dialética, a essência gera a aparência, que é a
manifestação daquela. Aparência é um fenômeno real, um “algo”; a essência
determina e influencia o aparencial, que pode ser mais ou menos contraditório
com o essencial. Porém, a aparência, como manifestação e algo em si, também
influencia sua “fonte”, digamos dessa forma. Exemplo: se o valor de troca
(aparência) de uma mercadoria, o preço, fica muito abaixo ou muito acima do seu
valor (essência, medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário para
[re]produzir uma mercadoria) gera ou crise na economia ou, no segundo caso,
inflação, sintoma de monopólios, etc. Dessa forma, as revoluções nos ex-Estados
operários degenerados (após a restauração do capitalismo por ação dos
dirigentes estatais), foram derrotadas (boa parte) pela “reação democrática”,
pelo uso do voto; isso deu origem a uma situação reacionária mundial dentro de
uma nova etapa revolucionária. No início dos anos 2000, com as guerras do
Iraque e Afeganistão, crise de 2001, Torres Gêmeas, revoluções na América
Latina, etc. entramos numa transição
entre um situação não-revolucionária (fim da década de 1990) e uma
pré-revolucionária. Agora, a partir da
crise mundial, de 2008, entramos numa situação pré-revolucionária mundial rumo
a uma situação revolucionária ou contrarrevolucionária (possivelmente também
mediada por uma transição).
[vii] Para esclarecer: a floresta amazônica (abstrato) é um
conjunto de árvores que juntas, independente dos tipos específicos, produzem
chuva no sudeste, biomassa, oxigênio, absorvem carbono e etc. Nesse sentido o
abstrato, árvores em geral, é “algo”,
algo real e importantíssimo. Individualmente, cada árvore produz frutos
diferentes (concreto) e possuem características próprias que as diferem das
outras e das de sua própria espécie (concreto). Vemos que na relação
abstrato-concreto existe intimidade, sendo diferentes. O trabalho concreto
produz valor-de-uso; o trabalho abstrato, valor.
[viii] Na produção, a flexibilidade e a microeletrônica
facilitam – muito, como causa – este processo. O método “dedicado” de produzir, inflexível e rígido, ver-se em uma
desvantagem relativa.
[ix] Pergunta ao leitor: os bancos centrais tendem, no
futuro, a perder o monopólio da moeda? No momento, opino que sim. Nos próximos
anos – caso não ocorra! –, pretendo apresentar um material estável e conclusivo
sobre. No mais: Interessante que, ao contrário do papel-moeda, a expressão do
valor – os dados computacionais – salta de suporte em suporte.
[x] Talvez, mais exato seja chamá-la crise-revolução.
[xi] Não encontrei esta observação, os centros de
gravidade do capital, em outro trabalho teórico ou nos clássicos; porém, se
algum dos leitores conhecer, peço que publique nos comentários link, fonte ou
autor que, por acaso, já tenha desenvolvido estas teses; desde já, agradeço.