domingo, 13 de setembro de 2015

BRASIL E PT: PAÍS DA "VIA PRUSSIANA"

Getúlio Vargas

"Façamos a revolução antes que o povo a faça"
- Antônio Carlos de Andrada 
(defensor do Estado Novo, ex-governador de Minas Gerais)


O PAÍS E O QUE DIZ A HISTÓRIA 

Há quem considere o Brasil uma experiência anormal - Sui Generis - na história do capitalismo, um verdadeiro ornitorrinco onde o "desenvolvimento desigual e combinado" é a grande lei. Ou seja, um incrível acúmulo e fusão de contradições entre o moderno e o arcaico prospera por aqui.

A pobreza, a vida favelada e o atraso convivem com a tecnologia de ponta, a indústria, uma importante economia mundial e a "vocação romana" para absorver cultura internacional. A partir disso, podemos perguntar: como o país nunca teve uma revolução - nacional ou socialista - vitoriosa? Como sequer uma greve geral nacional participa de nosso histórico?

A burguesia sabe da poderosa bomba chamada revolução brasileira. Por isso, alia violência de Estado com mudanças pelo alto - para, na prática, nada mudar. Chamamos Revolução Passiva ou Via Prussiana. O incrível acúmulo de contradições fez e faz do Brasil um dos países do mundo potencialmente mais explosivos. Ao somarmos, a isso, sua localização não-marginal no Sistema Internacional do Trabalho, percebemos a permanente delicadeza da estabilidade verde-amarela e - ao mesmo tempo - a enorme inteligência dos "de cima". Precisamos, logo vemos, (re)olhar a história:

1. Autonomia nacional em relação à Portugal;
Foi possível graças, primeiro, à fuga da Coroa Portuguesa para cá. Depois, com a declaração de independência.

Por toda a América Latina existiram revoluções de libertação nacional, guerras. No território tupiniquim, no entanto, - mesmo considerando a heroica batalha do Jenipapo - deu-se a mudança pelas alturas, por ação da classe dominante, sem riscos, via mecanismos formais.

2. Fim da escravidão;
A onda de fugas e boicotes nas lavouras - preparadas por organizações clandestinas - foram a causa central, embora não reconhecida oficialmente. Porém, a Princesa Isabel e a o governo souberam manobrar a situação para que a mudança fosse controlada e não-revolucionária.

Os EUA e Haiti, para citar dois países, necessitaram do método da guerra civil.

3. Fim da ditadura semifascista de Vargas;
O próprio governo adotou medidas liberalizantes. A ditadura caiu por medidas de decreto dispensando qualquer revolução popular - o mal-estar ainda ensaiava. Deu-se, então, margem para que Getúlio fosse eleito presidente por mecanismos da democracia representativa.

4. Fim da ditadura militar;
As Diretas Já foram derrotadas. Os militares negaram-se a ceder, a aceitar vias populares de mudança. Porém, com a insatisfação social acumulada, permitiram a mudança do regime de Estado por via segura, pacífica, controlada, oficial.

Enquanto boa parte da América Latina e do mundo derrotaram os regimes policiais através de revoluções, o Brasil - ao contrário - mediou.

MEDIAÇÃO E SOCIALISMO

Quando a classe trabalhadora do país for, de forma autônoma, às ruas será praticamente impossível detê-la. A escassez de mudanças reais, de base, por baixo gerou um país com enormes e pendentes demandas históricas. O fim da escravidão, por exemplo, fora pensada para evitar a integração real dos negros à sociedade - o racismo com elementos de classe permanece fortíssimo.

Portanto, socialismo é a única ação e mudança reais sem qualquer tipo de mediação ou espaço para manobras por parte da burguesia nacional e mundial. A máxima burguesa "façamos a revolução antes que o povo a faça" encontra um limite histórico intransponível.

O PT: hipótese sobre o começo do fim
À burguesia, entrando em nossa conjuntura, derrubar o PT exige não-participação das massas (vale lembrar que foram contra o Fora Collor até o último segundo). Uma mobilização popular - além-classe média - contra o governo petista é uma hipótese provável (e, para os ricos, incômoda): 9% de apoio, fragilização de seus aparatos sindicais, dificuldade para manter a base parlamentar sob controle, medidas de austeridade estão causando enorme desconforto aos "de baixo". Dessa forma, os ricos tendem a derrubar Dilma para evitar que o mesmo ocorra nas/pelas ruas.

Possível, concluímos, que o governo caia, por protagonismo burguês, como ação preventiva, via "golpe parlamentar" (à la Paraguai) ou judiciária ou "por consenso de renúncia" logo após as eleições municipais. A datação tem cinco motivos:

1. Poderá convocar, como previsto na lei, novas eleições;
Canalizará, após dois anos de mandado, dessa forma, o desconforto social para caminhos legais/passivos e, também, permitirá ao PSDB apresentar-se como alternativa.

2. Evitará uma queda antecipada, permitindo estabilidade às eleições locais;
Além disso, outras organizações políticas poderão ganhar cargos a partir da fragilidade do petismo.

3. O PT terá acumulado maior desgaste;
Assim, tornará o "impedimento" óbvio e natural, apoiando-se na raiva popular.

4. Permitirá a justificativa subjetiva "o governo teve tempo de gerir o seu novo mandato para o bem do país".

5. Evitará - importantíssimo - ação popular nas ruas.
Colocaria a classe trabalhadora na ofensiva se o governo de Frente Popular caísse por obra dos setores não-privilegiados da sociedade. 

Será, caso se confirme a hipótese do Impedimento pela via passiva, a causa central da ação da classe dominante.

Uma queda antecipada, porém, não é impossível. Caso a instabilidade continue crescendo de modo acelerado, o vice - Michel Temer (PMDB) - poderá assumir para convocar novas eleições no prazo legal, após dois anos mínimos de mandato. O ritmo, e a confirmação destas hipóteses, será determinada pela luta de classes ou - com o conceito Via Prussiana - a necessidade de evitá-la. 
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Como a oposição de esquerda irá agir ajudará a determinar a capacidade de manobra burguesa e o futuro.


J. P. da Síria