domingo, 21 de dezembro de 2014

O QUE É - E COMO AGE - O CENTRISMO?

ATUALIZAÇÃO: quando escrito, ainda militante do PSTU, percebi a tendência à cristalização deste partido como um centrismo burocrático ultraesquerdista. Infelizmente, esta tese se confirmou; o texto pretendia ser uma ajuda indireta contra este caminho. De qualquer modo, necessitante de uma revisão textual, o artigo segue útil do ponte de vista teórico-prático ou pelo menos assim espero.

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No movimento alguns  ativistas dizem que “é preciso unir a esquerda”, “por que estamos divididos?”, “se PSTU, PSOL e PCB querem o socialismo, qual a diferença?”. Sempre que for necessário e possível, devemos buscar a união da esquerda numa luta, numa frente eleitoral e sindical, num confronto contra fascistas, etc. Pra nós, no entanto, unir a esquerda não é princípio: está subordinada às necessidades da classe trabalhadora para alcançar a vitória, o socialismo. Isso se dá porque existem esquerdas, no plural. A esquerda reformista (eleitoral e sindical) e a revolucionária são as mais comuns. Esses conceitos são claros, mas podemos nos observar ouvindo militantes dizendo: “aquela organização é centrista”, “o camarada está centrizando” (uma gíria militante), “centrismo atua dessa forma recuada mesmo”, etc. Aos companheiros mais novos, normalmente, fica a paciência de dominar esse conceito. Por isso, longe de esgotar o tema, faremos um breve debate sobre ele e como se manifesta no cotidiano.



Reformismo numa época revolucionária

O reformismo clássico da esquerda (e também o centreismo) é fruto da época progressiva do capitalismo. O desenvolvimento contínuo do capitalismo permitia aos trabalhadores, com muita luta, arrancarem inúmeras conquistas, algumas delas: o direito ao voto, a ter sindicatos reconhecidos, 8 horas de trabalho, educação infantil, melhores salários, etc. A burguesia tinha condições de dar várias concessões aos trabalhadores, ao ponto de haver algum adestramento,um instinto reformista. Mas veio o imperialismo, grandes empresas monopolistas e com elas a primeira e a segunda guerras mundiais. O capitalismo entra numa nova fase: a de decadência. O desenvolvimento da tecnologia chega ao ponto de criar uma sub-classe de desempregados; a guerra por lucro é uma constante (Iraque, Afeganistão, etc.); as crises econômicas são maiores e mais internacionalizadas; as grandes dívidas internas e externas impedem que haja novos direitos para a classe trabalhadora, é mais comum a radicalização da classe operária (se populariza, no princípio do século XX, um novo método: a ocupação de fábrica), a classe média inclina-se mais comumente para a esquerda. Não bastasse, surge a revolução russa e inúmeras revoluções (como na Líbia, Egito e Síria) que dão a ideia da “possibilidade”. Fica a pergunta: como a esquerda reformista pode ser reformista numa sociedade aonde não se pode consolidar reformas? Como ser reformista numa época de revoluções? Assim surge o centrismo.

Centrismo, resumidamente, são organizações reformistas que adotam, por necessidade e/ou pela radicalização das classes médias, alguns elementos dos revolucionários, mas nunca de forma consequente.

Como a realidade é mais conflituosa, a classe trabalhadora e a sua vanguarda são mais à esquerda (este dois elementos, em cada conjuntura, se desenvolvem de forma desigual, é claro), puxam as organizações, incluso, as deliberadamente oportunistas (ou inexperientes e frágeis), para este caminho, mas de forma limitada por seu caráter social.

O centrismo não tem nervos parar ser marginal ou minoritário. Tem dificuldade de conviver sem reconhecimento. Boa parte de suas ações, como veremos, busca uma forma de se acomodar ao meio. Defender abertamente uma postura que cause rejeição (como criticar continuamente um governo que tenha apoio geral), por mais justa e necessária que seja à luta, não é sua prática no trabalho de base.

Mas isso só não basta para explicar o fenômeno. Os partidos com estas tendências políticas têm algumas características sociais que lhes são próprias. Uma delas, bastante comum, é que, pela forma como atuam, nenhuma das classes sociais que constroem a sua organização exerce uma liderança estável, além de que a classe operária não é a base social e política dominante no seio dessas organizações (na direção, programaticamente e/ou numericamente). A classe média moderna (incluindo a burocracia sindical de esquerda), a pequena-burguesia radicalizada, intelectuais, etc. exercem uma força importante nestas organizações e, especialmente, nos seus organismos de direção. Isso, a base social extremamente heterogênea, explica, em boa parte, porque uma hora suas políticas são mais reformistas (ou até de direita) ou revolucionárias (ou mesmo ultra-esquerdistas).


Falemos de dois tipos de centrismo de esquerda:

1. A oportunista, burocrática ou regressiva: são partidos de esquerda, com direções burocráticas, cuja função de seus dirigentes não é a revolução socialista, mas parasitar nos sindicatos e no parlamento. Adotam, para isso, algumas características do bolchevismo, políticas mais radicais, mas para enganar melhor a classe trabalhadora e seus militantes. Por isso, as lideranças centristas podem elogiar-se como “socialistas” ao mesmo tempo em que recebem dinheiro de empresas em sua campanha eleitoral. Podem defender o fim do Estado de Israel enquanto vivem de privilégios sindicais. Podem num ponto político serem progressivos e reacionários em outra matéria política, de acordo com aquilo que lhe acomoda politicamente;

2. A honesta, progressiva: adota algumas características do bolchevismo, oscila, por inexperiência geral e outros problemas que debateremos, de posições reformistas e de direita até revolucionárias e ultra-esquerdista – como a sua versão oportunista. Sua inexperiência, falta de educação revolucionária teórica e prática, sua suscetibilidade a pressões e impressionismos, etc. leva-os a cometer inúmeros erros. Caso não sejam ganhos para o projeto da revolução, tendem a tornar-se centrismo oportunista.


Pela combinação desses dois fatores, é comum acontecer de a direção desses partidos serem centristas oportunistas e boa parte da base ser a versão honesta, mas profundamente ligadas à sua direção. É uma importante contradição. O maior exemplo no Brasil é o PSOL (especialmente a sua ala esquerda) – cuja direção é formada pela burocracia sindical de esquerda e parlamentares que vivem bem com o salário advindo do Estado.

Outro elemento importantíssimo é a de ter uma certa fragilidade maior a pressões sociais. Como não possuem base social estável, a classe operária não exerce uma liderança sólida, tem uma relação débil com a teoria, sem um programa claro, etc. Sua política varia constantemente sob pressão. Iremos dar exemplos, mais adiante, mostrando que, por estas características, o centrismo raramente é principista e dificilmente chegam a ter influência majoritária de massas.

Vale fazer três esclarecimentos: a) uma tática não revela em si a natureza de uma organização: um partido revolucionário pode e deve propor reformas - um partido reformista ou centrista pode, em determinados momentos, elaborar políticas mais radicais; b) o que define a natureza de uma organização é a sua estratégia, o caráter de sua direção, a relação com um programa e a base social que a compõe e representa; c) reformismo e centrismo são irmãos diferentes: o centrismo soma, instável, elementos reformistas e bolcheviques. 

Este artigo não focará em abstrações teóricas, daremos exemplos do cotidiano militante dos partidos centristas. Acreditamos ser mais educativo assim. No mais, ao final elencaremos textos marxistas sobre o tema que tratará de vários aspectos do assunto.


Supervalorização da oratória, da liderança e da figura pública


Nos partidos centristas a liderança tem um valor especial pela oratória. Qual a essência disso? Para ter cargos parlamentares e sindicais é importantíssimo ter ótimos oradores, líderes infalíveis. Priorizar como “liderança” os melhores organizadores, aqueles que sabem organizar politicamente as finanças, os melhores teóricos, os melhores em “vender jornal e fazer propaganda”, os melhores em captação de militantes, os mais talentosos organizadores é coisa de...  bolchevique. Como o objetivo é o tático e não o estratégico, o orador é valorizado e normalmente possuem muito talento. Vive-se uma relação de admiração forte pelo candidato, figura pública, transforma-o numa espécie de herói, um socialista pop.

Daí vem hábitos de propor, por exemplo, “fóruns de debate permanente do movimento”, a prioridade dada às CPI’s. Para um comunista interessa um fórum quando este organismo faz avançar a luta. É este o critério. Por outro, o centrismo (especialmente as lideranças) puxa polêmicas encarniçadas apenas se lhes couber um audiência positiva ou se precisa defender métodos que mantêm seus privilégios; do contrário, evitam. É claro que uma organização revolucionária precisa de bons oradores, são importantes, mas não são o que envolve o partido. Entre centristas podemos ouvir conversas do tipo: “Aquele camarada é um bom organizador de finanças, mas aquele outro é um quadro, uma liderança nata, você tem que ver ele na assembleia discursando”, ou: “o camarada fala bem, viu, domina a política, sabe convencer, esse aí vai pra direção da organização, com certeza”.

Balanço sempre positivo


Os comunistas procuram falar a verdade para a vanguarda, as massas e a si mesmos. Educa e se auto-educa dessa forma. Quando erra, diz que erra; quando acerta, diz em que acerta. Separa o que é vitória e derrota. Corrige, muda, adequa, aprende com os erros. É muito comum o centrismo fazer diferente. É verdade que é direto e sem rodeio em muitas situações – especialmente para fazer balanço de outras organizações -, mas procura "evitar crises" chegando em suas reuniões dizendo que “o balanço foi positivo”, “apesar dos erros, o balanço foi positivo” quando boa parte ou tudo deu errado na tarefa em que se propôs. É a negação do conflito. Por que motivo estragar o clima de que é a esquerda que vale a pena? Mais incomum é um militante falar de seus próprios erros, uma prática que deve ser rotineira. As lideranças, normalmente, são protegidos e ainda mais protegidos quando cometem erros graves, não fazem autocríticas, não vivem a mesma disciplina e regras da base, etc. ela é, por demais, importante.


A busca do consenso

Comecemos direto ao ponto: o consenso é, em si, uma prática ruim? Sim e não. Depende do momento. É consenso naquilo onde pode haver acordo; no que não há, deve-se votar e resolver democraticamente.

Tanto a classe média, a pequena burguesia e a burocracia de esquerda estão adaptados ou tentando criar uma vida não conflituosa economicamente e psicologicamente. São hábitos diferentes da classe trabalhadora e não gostam quando isso é desfeito ou ameaçado. Estes setores, enquanto classe, procuraram viver uma vida burguesa com uma renda e possibilidades bem menores que a burguesia. Isto, comum na base social muito presente no centrismo, leva a hábitos políticos.

Os socialistas propõem aos movimentos e a sua classe as políticas que observou, cuidadosamente, serem as melhores pois aproximam os trabalhadores da vitória. Se uma corrente propõe uma política de consenso entre os grupos políticos que é negativa para a vitória, então não pode haver acordo. E defendemos nossa política mesmo sendo minoria. É muito comum o centrismo buscar consenso quando vê que será minoritária: com medo da marginalização e da tensão, corre para criar uma falsa maioria, abre mão de sua política. É preciso, ao contrário, amargar, ser minoritário, deixar a classe fazer suas experiências com suas decisões erradas e com todos os partidos e saber com quem contar quando precisar mudar suas decisões.



Capitular à consciência das massas


Nos debates com o centrismo frases como “a proposta não dá porque a consciência das massas é atrasada”, “não vão entender nossa proposta”, “é muito radical pro nível de consciência”, “o governo tem apoio, não vamos criticar diretamente”. Ou seja: o mais importante é não perder a influência, não ser minoria, etc. Os comunistas devem se importar muito com o nível de consciência dos trabalhadores. Na verdade, podemos dizer que a razão de construirmos partidos de combate é pra disputar suas consciências através da experiência, é nossa razão de existir. Agitamos, se necessário, uma proposta política até que os trabalhadores se cansem de ouvir. Elaboramos propostas para que a consciência do povo trabalhador se desenvolva e dê saltos progressivos. Mas a consciência é o relativo na hora da avaliar cientificamente qual a política a se adotar. O absoluto são as condições materiais. Ou seja: o que determina a política que adotaremos são os fatores objetivos (situação econômica, situação das classes sociais, situação do Estado e dos diferentes tipos de organizações, etc.) e não apenas um - importante - elemento subjetivo (no caso: o nível de consciência). Vale lembrar que a cultura, hábitos, educação, a consciência etc. são partes vitais da análise marxista para elaborar uma política. Se estamos numa ditadura fascista, com crescimento econômico e sem lutas temos um tipo de política; se estamos numa situação pré-revolucionária, numa democracia burguesa, com greves gerais e fechamento de fábricas, temos outra política. Levando o último caso: mesmo numa situação pré-revolucionária a consciência das massa pode estar atrasada. Podemos, neste caso, adaptar a linguagem das nossas propostas - e como divulgá-las - e escolher qual delas são as mais adequadas pro nível de consciência. Mas, via de regra, não recuamos na política, mesmo quando ficamos minoritários conjunturalmente. O motivo é que algumas propostas que os trabalhadores aceitam (por ter a consciência atrasada) tendem levá-los a derrotas sérias. Eles não chegam naturalmente à necessidade de que devem governar: temos que convencê-los a partir de sua experiência com a realidade e conosco.

No dia a dia é muito comum chapas para DCE’s organizadas pela esquerda fazendo campanhas em defesa do “apartidarismo” nas salas de aula quando pedem votos. Raciocinam: “a juventude é apartidária, a outra chapa tem PSTU e outros grupos. Vamos pedir votos para nossa chapa dizendo que a outra chapa é partidária”. Temos clareza apartidarismo é uma ideologia burguesa para a classe trabalhadora, ensina aos escravos assalariados que eles não devem ter sua própria política e seu próprio partido. Mas, os centristas, não priorizam a disputa da consciência das massas e, assim, aliar uma ação tática – eleição – a um objetivo estratégico – socialismo –, mas: ganhar o aparato, o DCE. Acaba que o militante do PSTU, que não se esconde, tem que explicar aos estudantes que tem partido na chapa e que a chapa que se disse “apartidária” é organizada - veja só - por outro partido... Perdemos, numa situação dessas, muitos votos, mas não rompemos com o princípio. Da mesma forma o PSTU faz uma campanha pesada, mesmo tendo poucas forças, contra as tropas brasileiras no Haiti mesmo sendo uma posição marginal no país. Os centristas se negam a falar, não dão hierarquia ou apenas apoiam verbalmente o caso daquele país.


Capitular aos erros da vanguarda


Tanto os revolucionários como os centristas querem captar lutadores, a vanguarda. Aqui se apresenta as diferenças no método. Dizemos abertamente, evitando o sectarismo, quando a vanguarda de conjunto - e um lutador em particular - está, para nós, cometendo algum erro. Fazemos isso porque não queremos que este setor vá para a derrota, para um beco sem saída, porque nos importamos com seus rumos, pois os lutadores mais abnegados podem muito com uma política e com métodos corretos. O centrismo, via de regra, é mais diplomático e negociador. É comum dizer que apoia métodos, políticas e erros dos ativistas mesmo sendo nocivos para a vitória. A intenção é ganha simpatia, amizade e facilitar o diálogo.

Como a moda não é o poder operário, bolchevismo, a esquerda centrista defende a “radicalização da democracia”, “democracia real”, “horizontalismo”. Ou seja: abrem mão da estratégia já que a nova vanguarda não é socialista, é vagamente de esquerda e tem por preocupação a corrupção. Capitulam, hoje, aos Black Block (e – ufa! – como bom é não estar nesta boca de sinuca que está agora os sectários do PSTU!). Adotam a moda militante da época, não tencionam (é verdade que dá muito trabalho). Agora, por exemplo, que o apoio aos "BBs" pode gerar rejeição eleitoral a Marcelo Freio no Rio de Janeiro, o PSOL muda a política (e participa da escandalosa CPI do vandalismo).



A rejeição à teoria


A valorização da prática absoluta, da ideia tática rápida, do improviso, do experimento, das análises rasteiras. A desvalorização, na outra ponta, da teoria e do estudo. Por esse hábito acaba-se, artesanalmente, por ser mecanicista, empirista ou formal na elaboração política. Fala-se que “prefiro mil vezes a prática que a teoria”, “aquele partido fica usando textos que não valem mais”, “são bons na teoria, mas na prática...”, “ se prendem à teoria, métodos velhos e não veem o novo”, etc. Há no centrismo a rejeição à teoria ou mesmo desprezo; em alguns caso, se tem teoria mas é uma relação à parte e exótica da militância, sem relação com a prática ou necessidade de elaborar política cientificamente. neste caso,a função da teoria é oral, teatral, literária e de debate.

Para Lênin a formação teórica servia para preparar, pacientemente, homens e mulheres mais capazes que a burguesia e seus servos. Só assim poderemos derrotar o inimigo.


Dois erros centristas do PSTU


Os revolucionários erram e errarão. Sem autoproclamação, para fins educativos, vamos a alguns exemplos.

Quando do processo de surgimento do PT, nosso partido, inexperiente e ousado - chamava-se Convergência Socialista -, concluiu que o grupo ligado a Lula era um centrismo honesto, logo era necessário disputar seu grupo pra revolução brasileira. Lula liderava várias greves fortes, dizia que trabalhador defende trabalhador e patrão defende patrão, que a diferença dele e dos líderes eleitorais era uma diferença de classe, que o PT era a ferramenta política dos trabalhadores... Era um político esperto: percebeu que a situação brasileira era pré-revolucionária (havia ocupações de fábricas, as greves se multiplicavam a cada mês, etc.) e decidiu alinhar seus discursos e algumas ações mais à esquerda para ganhar seu espaço eleitoral. Graças à LIT – Liga Internacional dos Trabalhadores (devemos tudo à Internacional!) a Convergência pôde ver seus erros e corrigi-los. A maioria das correntes do PT tinham a mesma análise errada: hoje são pequenas, ou degeneradas, ou desapareceram. Quanto à convergência: foi expulsa do PT, pois a direção lulista determinou a proibição de lançarmos a campanha “Fora Collor”. Logicamente, nosso compromisso era com a classe operária, não com a burocracia petista.

Outro erro importante aconteceu nas eleições para presidente em 1998. No processo eleitoral, o PSTU fez uma grande campanha contra FHC e as privatizações. Foi um trabalho muito importante. Mas a LIT mostrou que erramos ao não enfrentar o PT como enfrentamos o FHC no campo eleitoral. Lula era mais nocivo que Fernando Henrique Cardoso porque despertava ilusões profundas na classe trabalhadora e deveria ser combatido. Foi um desvio centrista que corrigimos devidamente nas eleições de 2002.

Inúmeros elementos pressionaram estes erros centristas que cometeu o PSTU. A inexperiência e a radicalização (oportunista) da direção majoritária do PT, no primeiro caso; a pesada influência de massas no campo de esquerda e de vanguarda do PT, por exemplo, nos dois casos. Estes exemplos nem de longe explicam a totalidade da razão dos erros, mas servem de exemplos dos elementos que pressionam fortemente desvios até mesmo em organizações revolucionárias.


A relação com o centrismo


Ao centrismo honesto procuramos a unidade e sempre deixamos claro nossas posições. O objetivo é ter tanta unidade quanto os pontos em comum permitirem. queremos a base e a direção. Na Espanha o partido da LIT (PRT) fez parte de um partido centrista honesto chamado Corriente Roja. Militamos juntos, debatemos, polemizamos com a base e a direção. Fizemos um trabalho de tentar ganhá-los ao projeto do comunismo. Hoje Corriente Roja é a LIT naquele país. Adotaram o programa e a forma organizativa de nossa internacional.

Ao centrismo oportunista dizemos à sua base e à sua direção qual política achamos melhor para a classe trabalhadora e propomos que eles também a assumam. É uma relação diferente em comparação ao centrismo honesto (e há uma certa medição de forças). Se aceitam, a luta se fortalece; se não, que se desmoralizem. Evitando o sectarismo, fazemos unidade sempre que for bom para nossa classe. Ao mesmo tempo,  não abrimos mão de um projeto e proposta (não consensual) em nome da unidade, que é algo tático. O debate é sempre aberto. Dizemos à sua base, com a devida paciência, o que significa a direção de seus partidos.

A unidade é algo tático, não principista. Devemos ser os primeiro a propor unidade quando necessária e os primeiros a romper quando há traição. Podemos sintetizar alguns critérios sobre unidade: 1. Trará vitórias e fortalecerá a luta pela consciência das massas? Sim ou não? 2. Fortalecerá o nível de organização sindical e/ou político das massas e da vanguarda? 3. Aproximará a tática da estratégia ou temos condições amplas de levar esta tarefa sozinhos? 4. Há algo que realmente pressione objetivamente a necessidade de uma unidade imediata que faz possível o centrismo (sob pressãodo fetor subjetivo, o partido), mesmos que a sua direção não queira, ceder a esta pressão? 5. Nos garantirá autonomia de ação, organização e de opinião?


Uma reflexão e convite

Precisamos de partidos cujas as suas lideranças e  dirigentes darão a vida pela revolução brasileira; que se neguem a ficar encastelados nos sindicatos, parlamento, na rotina sindical; Abram mão do sucesso e dos privilégios para arriscar a vida em enfrentamentos num processo revolucionário (uma revolução infelizmente não é algo bonito e romântico). Que partido nos prepara pra isso? Que partido representa melhor este projeto?


Pequena nota: não citei quais as correntes por uma questão didática: não são poucas as correntes políticas que tem estas práticas, muitas adotam o mesmo desvio de organizações adversárias. Boa parte delas consolidaram seu perfil centrista na década de 90, uma época difícil para a esquerda mundial (ver material do PSTU e da LIT sobre o “Vendaval Oportunista”).



Por: João paulo da Síria. Teresina/Piauí. 
OBS: na época era militante do PSTU. Esse texto está reduzido e optei por manter a referência à organização por ser simpatizante e pra manter a coerência textual.

Indicações de leitura:
O que é centrismo (Trotsky):
http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/05/28.htm
Programa de Transição: Contra o oportunismo e o revisionismo sem princípios (Trotsky):
http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/programa/cap02.htm#18
Em espanhol: O Centrismo e a Quarta Internacional (Trotsky):
http://www.marxists.org/espanol/trotsky/ceip/escritos/libro3/T05V211.htm
Em espanhol: Uma vez mais sobre o centrismo (Trotsky):
http://www.marxists.org/espanol/trotsky/ceip/escritos/libro3/T05V216.htm
Em espanhol: Sectarismo, centrismo e a Quarta Internacional:
http://www.marxists.org/espanol/trotsky/ceip/escritos/libro4/T07V131.htm
Kautsky e as origens históricas do centrismo na esquerda (Valério Arcary):
http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/07/out7_07.pdf
Princípios, estratégia e tática na política revolucionária (Henrique Canary):
http://www.pstu.org.br/conteudo/princ%C3%ADpios-estrat%C3%A9gia-e-t
Trotsky e a Itália de 1920 (Francesco Ricci):
http://www.litci.org/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2077%3Atrostky-e-a-italia-de-1920